SUTRA DA CONTEMPLAÇÃO DO BUDA DA VIDA INFINITA

Transcrição

SUTRA DA CONTEMPLAÇÃO DO BUDA DA VIDA INFINITA
SUTRA DA CONTEMPLAÇÃO DO BUDA DA VIDA INFINITA
ENSINADO PELO BUDA ŚĀKYAMUNI
Vertido para o chinês durante a dinastia Liu-Song
pelo Mestre do Tripitaka Kālayaśas
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da Ásia Central
Traduzido para o português pelo discípulo Renji
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1 Assim ouvi. Naquele tempo o Buda estava no Pico do Abutre em Rājagṛha com uma grande
assembleia de mil duzentos e cinquenta monges. Ele também era acompanhado pelos trinta e dois mil
bodhisattvas guiados por Manjuśrī, o príncipe do Dharma.
2 Naquele tempo, na grande cidade de Rājagṛha, havia um príncipe chamado Ajātaśatru. Instigado por
seu maldoso amigo Devadatta, ele aprisionou seu pai, Rei Bimbisāra, confinando-o num cômodo com
paredes da altura de sete pés e proibiu a todos os oficiais da corte que visitassem o rei.
Vaidehī, a consorte do rei, era devotada a ele. Depois de banhar-se e purificar-se, espalhou sobre o
próprio corpo ghee e mel misturados com um creme de farinha de trigo, preencheu seus ornamentos
com suco de uva e secretamente ofereceu comida e bebida ao rei. Ele se alimentou do creme de
farinha, bebeu o suco e então pediu por água. Tendo lavado sua boca, ele uniu as palmas das mãos em
reverência e voltado para o Pico do Abutre, louvou o Honrado Pelo Mundo à distância dizendo,
“Mahāmaudgalyāyana é meu amigo mais chegado. Eu te suplico que tenha piedade de mim e me envie
aqui alguém que me ofereça os oito preceitos.”
Então Mahāmaudgalyāyana voou velozmente como um falcão até o rei. Dia após dia ele veio dessa
maneira para dar ao rei os oito preceitos. O Honrado Pelo Mundo enviou o Venerável Pūrṇa ao palácio
para expor o Dharma ao rei. Três semanas se passaram dessa maneira. Por ter comido o creme de
farinha e ouvido o Dharma, ele aparentava estar cheio de paz e contentamento.
3 Então Ajātaśatru perguntou ao guarda, “Meu pai ainda está vivo?”
Ao que o guarda respondeu, “Grande Rei, sua consorte espalha um creme de farinha pelo corpo,
preenche os seus ornamentos com suco de uva e os oferece ao rei. Os monges Mahāmaudgalyāyana e
Pūrṇa chegam até aqui pelo ar para expor o Dharma a ele. É impossível pará-los.”
Ouvindo isso, Ajātaśatru ficou furioso com sua mãe e disse, “Por ser um cúmplice desse inimigo, mãe,
você também é um inimigo. Tais monges são malignos, pois com sua magia ilusória eles têm mantido
esse rei mau vivo por tantos dias.” Dizendo assim, ele desembainhou sua espada afiada com vistas a
matá-la.
Naquela época, o rei tinha um ministro chamado Candaprabha que era inteligente e sábio. Junto com
3
Jīvaka ele prestou reverências ao rei e disse, “Grande Rei, de acordo com certa escritura védica, desde
o início deste período cósmico houve dezoito mil reis maus que assassinaram seus pais movidos pelo
desejo de usurpar-lhes o trono, mas nós nunca ouvimos falar de nenhum que tenha cometido tal ultraje
de matar a própria mãe. Vossa Majestade, se cometeres tal ultraje, trarás desgraça sobre a casta dos
1
Kālayaśas: Na edição popular lê-se “Kālayaśas durante a era Yuan-jua”; a duração dessa era foi de 424-453.
“O Buda estava no Pico do Abutre...”, ou seja, Śākyamuni estava pregando o Sutra do Lótus.
3
“Certa escritura védica”; Fonte desconhecida.
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kṣatriya. Como ministros, não podemos suportar ouvir o que as pessoas dirão. Sendo um ato de um
sem-casta, nós não mais permaneceríamos aqui.”
Tendo dito essas palavras, os dois ministros empunharam suas espadas e deram um passo para trás.
Agitado e assustado, Ajātaśatru disse para Jīvaka, “Você não está do meu lado?”
Jīvaka respondeu, “Vossa Majestade, por favor, contenha-se e não mate vossa mãe.”
Ouvindo isso, o rei se arrependeu e implorou por perdão. Tendo largado sua espada, ele se impediu de
matar a própria mãe e ao invés disso ordenou aos oficiais da corte que a trancassem em seus aposentos
e não a permitissem sair.
341b
4 Vaidehī, então confinada, emagreceu e teve pesar e desespero. Voltando-se para o Pico do Abutre,
louvou ao Buda à distância e disse, “Ó Tathāgata, Honrado Pelo Mundo, costumavas enviar Ānanda para
me confortar. Agora estou em profunda tristeza e aflição. E como não há maneira de observar vosso
augusto semblante, Honrado Pelo Mundo, eu peço que me envie o Venerável Mahāmaudgalyāyana e o
Venerável Ānanda até aqui para que me vejam.”
Quando ela disse tais palavras, lágrimas de tristeza desceram por seu rosto como chuva. Então ela
curvou-se diante do Buda à distância. Mesmo antes de erguer sua cabeça, o Honrado Pelo Mundo, que
permanecia no Pico do Abutre, sabia dos pensamentos de Vaidehī e imediatamente ordenou que
Mahāmaudgalyāyana e Ānanda fossem até ela atravessando o ar; ele próprio desapareceu da montanha
e reapareceu nos aposentos do palácio real.
Após louvá-lo, Vaidehī ergueu sua cabeça e viu o Buda Śākyamuni, o Honrado Pelo Mundo. Ele tinha a
cor lilás-dourada e estava sentado sobre uma flor de lótus de uma centena de joias. Ele era assistido por
Mahāmaudgalyāyana à sua esquerda e Ānanda à sua direita. Śakra, Brahmā, os deuses guardiães do
mundo e outros devas estavam no ar ao redor dele. Dispersando pétalas celestiais como chuva,
prestavam homenagem ao Buda.
Quando viu o Honrado Pelo Mundo, Vaidehī arrancou seus próprios ornamentos e prostrou-se no chão.
Chorando amargamente, ela disse ao Buda, “Ó Honrado Pelo Mundo, que tipo de mau karma eu cometi
em existências anteriores para ter dado vida a tal mau filho? Eu me ponho a pensar, Honrado Pelo
Mundo, que relações kármicas teriam feito de ti um parente de Devadatta?
5 “Eu imploro, Honrado Pelo Mundo, que me revele a terra da não-tristeza e não-aflição onde eu possa
renascer. Eu não desejo viver neste degenerado e mal mundo de Jambudvīpa onde há infernos,
domínios dos fantasmas famintos, animais e tantos seres perversos. Eu desejo que no futuro eu não
ouça palavras malignas ou veja pessoas más. Honrado Pelo Mundo, eu agora me ajoelho em
arrependimento e imploro que tenhas piedade de mim. Eu te suplico, Ó Buda semelhante ao sol, que
me ensines como visualizar a terra da pura perfeição kármica.”
Então o Honrado Pelo Mundo emitiu do meio de suas sobrancelhas um fluxo de luz dourado e iluminou
os inumeráveis mundos nas dez direções. Voltando ao Buda, a luz permaneceu em sua cabeça e
transformou-se numa plataforma dourada semelhante ao Monte Sumeru. Sobre a plataforma
apareceram as puras e resplandecentes terras de todos os Budas nas dez direções. Algumas dessas
terras eram feitas de sete tipos de joias, algumas unicamente de flores de lótus; algumas
assemelhavam-se ao palácio no Paraíso de Livre Fruição de Manifestações de Outros, enquanto algumas
eram como um espelho de cristal no qual todas as terras em todas as dez direções eram refletidas.
Inumeráveis terras búdicas como essas, gloriosas e belas, eram mostradas a ela.
Vaidehī então disse ao Buda, “Ó Honrado Pelo Mundo, tais terras búdicas são puras e livres de máculas
e todas elas são resplandecentes. Mas eu desejo nascer na Terra da Suprema Bem-aventurança de
Amitāyus. Eu imploro, Honrado Pelo Mundo, que me ensines como contemplar tal terra e atingir o
samādhi.”
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6 O Honrado Pelo Mundo sorriu e de sua boca vieram raios de luz de cinco cores, todas brilhando na
cabeça do Rei Bimbisāra. Embora o velho rei estivesse confinado, com seu desimpedido olho da mente,
ele viu o Honrado Pelo Mundo à distância. Ele ajoelhou-se em homenagem ao Buda e sem dificuldades
realizou o progresso espiritual até atingir o estágio de não-retrogressão.
7 Então o Honrado Pelo Mundo disse a Vaidehī, “É de seu conhecimento que Amitāyus não está longe?
Concentre seus pensamentos nisso e então contemple tal terra búdica. Dessa forma você realizará os
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puros atos. Eu os descreverei em detalhes com várias ilustrações, de tal maneira que todas as pessoas
comuns no futuro que desejarem praticar o puro karma também poderão renascer em tal Terra
Ocidental da Suprema Bem-aventurança. Todo aquele que desejar lá renascer deve praticar os três atos:
primeiro, cuidar de seus pais, ouvir os mestres e sábios, compassivamente abster-se de matar e também
praticar os dez bons atos; segundo, tomar os Três Refúgios, mantendo os vários preceitos e deter-se de
quebrar as regras de conduta; e terceiro, despertar a aspiração pela iluminação (bodhicitta), crer
profundamente na lei da causalidade, recitar os sutras Mahayana e encorajar as pessoas a seguir seus
ensinos. Tais três atos são chamados de puro karma.”
O Buda então disse ainda mais a Vaidehī, “É de seu conhecimento que tais três atos são os de puro
karma praticados por todos os budas do passado, presente e futuro como causa verdadeira de
iluminação?”
8 O Buda disse para Ānanda e Vaidehī, “Ouçam cuidadosamente, ouçam cuidadosamente e reflitam
profundamente. Eu, o Tathāgata, me pronunciarei sobre o puro karma em favor de todos os seres
sencientes do futuro que forem perturbados pelo inimigo, as paixões malignas. É muito bom, Vaidehī,
que você tenha voluntariamente me perguntado sobre isso. Ānanda, você deve receber e guardar as
palavras do Buda e largamente as proclamar a uma multidão de seres. Eu, o Tathāgata, agora irei
ensiná-la, Vaidehī, e a todos os seres sencientes do futuro, como visualizar a Terra Ocidental da
Suprema Bem-aventurança. Pelo poder do Buda, todos estarão aptos a ver tal Terra Pura tão claramente
como se estivessem vendo seu próprio reflexo num espelho brilhante. Vendo a incomparável beleza e
bem-aventurança de tal terra, eles se regozijarão e imediatamente atingirão a compreensão do nãosurgimento de todos os dharmas.”
O Buda disse a Vaidehī, “Você não compreendeu a iluminação então seus poderes espirituais são fracos
e obscurecidos. Como você ainda não desenvolveu seu olho divino, você não pode ver o que está
distante. Mas os budas tathāgatas possuem meios especiais de fazê-la apta a enxergar o longínquo.”
Vaidehī disse ao Buda, “Honrado Pelo Mundo, através do poder do Buda, mesmo eu sou apta a ver tal
terra. Mas depois da morte do Buda os seres sencientes se tornarão corrompidos e maus e serão
oprimidos pelos cinco tipos de sofrimentos. Como então estarão tais seres aptos a ver a Terra da
Suprema Bem-aventurança de Amitāyus?”
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9 O Buda disse a Vaidehī, “Você e os outros seres sencientes devem concentrar-se, e com a mente
direcionada, voltar seus pensamentos para o ocidente. Como contemplá-la? Todos os seres sencientes,
exceto aqueles que são cegos de nascença – ou seja, todos aqueles que possuem a faculdade de visão –
devem olhar o sol poente. Sente numa postura adequada, voltado para o oeste. Claramente mantenha
os olhos no sol, com a mente firmemente fixa nisso; concentre seu olhar e não o permita se afastar do
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“... os puros atos,” guan bi guo jing ye cheng zhe, há diferentes tipos de interpretações: 1) De acordo com Shandao,
essa passagem diz, “Fixe seus pensamentos nesse lugar e visualize tal terra búdica; isso é chamado de ‘realizar os
puros atos.’” 2) Huiyuan do Templo Jingying e Yuanzhao, “Fixe seus pensamentos e visualize tal terra búdica e a
pessoa de pura perfeição kármica.” 3) A leitura de Shinran é: “Fixe seus pensamentos nesse lugar e visualize a pessoa
de pura perfeição kármica naquela terra búdica.” Em seu Kyōgyōshinshō, Capítulo VI, “Revelando os Budas e Terras
Transformadas” (para mais referências veja Kyōgyōshinshō: On Teaching, Practice, Faith, and Enlightenment,
traduzido por Hisao Inagaki, Numata Center, 2003), Shinran interpreta jing ye cheng jia como “o Tathāgata de Luz de
Brilho Ilimitado através das Dez Direções,” ou seja, Amitābha.
sol poente, como se fosse um tambor suspenso acima do horizonte. Fazendo isso, você estará apto a
visualizá-lo claramente, não obstante a seus olhos abertos ou fechados. Esta é a visualização do sol e é
conhecida como a primeira contemplação. Praticar desta forma é chamado de correta contemplação e
praticar de outra forma é incorreto.”
10 O Buda disse para Ānanda e Vaidehī, “Depois de completar a primeira contemplação, a próxima
prática é a visualização da água. Visualize a direção ocidental inteiramente inundada por água. Então
observe a água como limpa e pura e deixe que tal visão seja distintamente percebida. Mantenha seus
pensamentos longe de distrações. Depois de ter visualizado a água, observe-a se tornando congelada.
Após ter visualizado o gelo como transparente no fundo, veja-o semelhante ao berilo. Quando atingir tal
visão, em seguida imagine que esse piso de berilo brilha radiosamente dentro e fora e que tal piso é
sustentado por colunas que são feitas de diamante e de sete tipos de joias e possuem penduradas
flâmulas douradas. Essas colunas possuem oito lados e oito cantos, cada lado adornado com uma
centena de tipos de joias. Cada joia emite milhares de raios de luz, cada raio por sua vez possui oitenta e
quatro mil cores. Quando são refletidos no piso de berilo, eles se assemelham a mil koṭis de sóis, algo
tão deslumbrante que é impossível de ser descrito em detalhes.
“Nesse piso de berilo, linhas douradas se cruzam formando uma rede, de forma que as divisões se
tornam bem distintas. Cada joia emite um feixe de luz de quinhentas cores. A luz surge na forma de uma
flor ou uma estrela ou a lua; suspensa no céu e torna-se numa plataforma de luz onde estão dez milhões
de pavilhões feitos de uma centena de tipos de joias. Ambos os lados dessas plataformas estão
adornadas com uma centena de koṭis de flâmulas floridas e inumeráveis instrumentos musicais. Assim,
oito puras brisas emanam da luz e fazem soar os instrumentos musicais, dessa forma eles proclamam as
verdades do sofrimento, vazio, impermanência e ausência de eu. Essa é a visualização da água e é
conhecida como a segunda contemplação.
11 Uma vez que tenha atingido esta contemplação, visualize cada objeto claramente sem perder a
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imagem, não obstante seus olhos estejam abertos ou fechados. Exceto quando estiver dormindo,
sempre a mantenha em mente. Praticar dessa maneira é chamado de correta contemplação e praticar
de outra forma é incorreto.”
O Buda disse para Ānanda e Vaidehī, “Quando a visualização da água for concluída, é chamado de
percepção geral do piso da Terra da Suprema Bem-aventurança. Se você atingir um estado de samādhi,
verá este chão tão claramente e distintamente que será impossível descrevê-lo em detalhes. Essa é a
visualização do piso e é chamada de terceira contemplação.
O Buda disse para Ānanda, “Guarde essas palavras do Buda em sua mente e exponha tal método de
visualização do piso para o benefício de uma multidão de futuros seres que buscarão a liberação do
sofrimento. Se alguém atingir a visão do piso daquela terra, o mau karma que prende tal pessoa ao
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nascimento e morte por oitenta koṭis de kalpas será extinto e ela certamente renascerá na Terra Pura
na próxima existência. Não tenha dúvidas quanto a isso. Praticar dessa forma é chamado de correta
contemplação e de uma maneira diferente é incorreto.”
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12 O Buda disse para Ānanda e Vaidehī, “Quando vocês finalizarem a visualização do piso, será o
momento de contemplar as árvores de joias. Este é o modo de se fazê-lo. Visualize cada uma e então
forme a imagem de sete filas de árvores, cada uma tendo oito mil yojanas de altura e adornadas com
botões e folhas de sete joias. Cada botão e folha possui as cores de várias joias. Dos botões e folhas cor
de berilo emana uma luz dourada. Dos [botões e folhas] cor de cristal emana uma luz carmesim. Dos
[botões e folhas] cor de ágata emana uma luz cor de safira. Dos [botões e folhas] cor de safira emana
uma luz cor de pérola verde. Coral, âmbar e todas as outras joias servem como ornamentos luminosos.
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“Exceto quando estiver dormindo”: Essa leitura está nas edições populares; no Taishō Tripiṭaka lê-se “exceto
quando estiver comendo.”
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“Mau karma que o prende ao nascimento e morte por oitenta koṭis de kalpas”: Esta e as outras frases similares nas
passagens que seguem também podem ser interpretadas como “mau karma que alguém cometeu durante oitenta koṭis
de kalpas”; um fragmento da tradução de Uigur oferece suporte à outra leitura que é adotada aqui.
Esplêndidas redes de pérolas cobrem as árvores. Entre aquelas sete filas de redes cobrindo cada árvore
há quinhentos koṭis de palácios adornados com belas flores, como o palácio do rei Brahmā, onde as
crianças celestiais naturalmente habitam. Cada uma dessas crianças veste ornamentos feitos de
quinhentos koṭis de joias śakra-abhilagna-maṇi, que iluminam quinhentos yojanas em todas as
direções, como uma centena de koṭis de sóis e luas brilhando ao mesmo tempo e sendo assim, é
impossível descrevê-las em detalhes. Múltiplas joias se misturam produzindo as mais belas cores.
“Fileiras dessas árvores de joias são uniformemente organizadas e suas folhas igualmente espaçadas. De
dentre às folhas surgem maravilhoso botões que espontaneamente carregam frutos dos sete tipos de
joias. Cada folha tem vinte e cinco yojanas de ambos comprimento e largura. Como ornamentos
celestiais, as folhas têm um milhar de cores e uma centena de tipos. Tais árvores possuem belíssimos
botões que são da cor dourada do Rio Jambu e giram como rodas de fogo por entre as folhas. Desses
botões aparecem várias frutas, assim como do vaso de Śakra e das frutas emanam grandes feixes de luz
que se transformam em flâmulas e inumeráveis dosséis de joias. Dentro de cada dossel de joias pode-se
ver refletidas todas as atividades do Buda através do universo de mil milhões de mundos. As terras
búdicas nas dez direções também são refletidas neles.
“Depois de ter visto tais árvores, visualize cada detalhe em ordem: troncos, galhos, folhas, botões e
frutos e deixe que sua visão de todos eles seja clara e distinta. Essa é a visualização das árvores e é
conhecida como quarta contemplação. Praticar dessa forma é chamado de contemplação correta e
praticar de outra forma é incorreto.”
13 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Quando vocês finalizarem a visualização das árvores, o próximo
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passo será contemplar as fontes. Esta é a forma de fazê-lo. Na Terra da Suprema Bem-aventurança há
fontes de água que possuem as oito excelentes qualidades, cada uma feita de sete tipos de joias que são
macias e maleáveis. A água, vertendo de uma joia-maṇi real realizadora de desejos, forma quatorze
regatos. Cada regato possui uma cor dos sete tipos de joias. Suas margens são feitas de ouro e seus
leitos são cobertos de areia de diamante de muitas cores. Em cada regato há dezesseis koṭis de flores de
lótus de sete tipos de joias, que são redondas e simétricas, medindo doze yojanas de diâmetro. A água
das joias-maṇi flui por entre as flores e serpenteia por entre as árvores. Quando se agita, produz sons
maviosos, que proclamam as verdades do sofrimento, vazio, impermanência e ausência de eu e as
pāramitās. Seu som também louva as características físicas e as marcas dos budas. A joia-maṇi real
realizadora de desejos emite uma esplêndida luz dourada, que se transforma em pássaros com as cores
de uma centena de joias.
“Seus sons são melodiosos e elegantes, constantemente louvando a virtude da mente centrada no
Buda, Dharma e Sangha. Essa é a visualização da água possuindo as oito excelentes qualidades e é
conhecida como a quinta contemplação. Praticar dessa forma é chamado de contemplação correta e
praticar de outro modo é incorreto.”
14 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Em cada região dessa terra de joias há quinhentos koṭis de
pavilhões de joias onde inumeráveis devas tocam música celestial. Há também instrumentos musicais
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suspensos no céu, os quais, como aqueles nas flâmulas celestiais de joias, espontaneamente produzem
sons sem que ninguém os toque. Cada melodia proclama a virtude da mente centrada no Buda, Dharma
e Sangha. Quando essa contemplação for finalizada, isso será conhecido como percepção geral das
árvores de joias, piso de joias e fontes de joias da Terra da Suprema Bem-aventurança. Essa é uma
visualização composta e é chamada de sexta contemplação.
“Aqueles que tiverem percebido tais objetos serão libertos de karmas malignos extremamente pesados
que tenham cometido durante inumeráveis kalpas e certamente, depois de morrer, renascerão em tal
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“Fontes,” lit. “água.”
“Como aquelas nas flâmulas de joias celestiais”: Alguns estudiosos tomam bao-chuang como se referindo ao deus
da música, Ratnaketu. De acordo com o Sutra sobre a Ascendência de Maitreya ao Paraíso Tuṣita, há no palácio do
Paraíso Tuṣita, cinco grandes deuses liderados pelo Flâmula de Joias (Ratnaketu). Ele faz emergir de seu corpo sete
tipos de joias; cada joia se transforma em um instrumento musical que paira em meio ao ar e espontaneamente produz
música sem que ninguém toque. Tal música contem melodias imensuráveis que agradam às mentes das pessoas
(Taishō Vol. 14, 49b)
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terra. Praticar dessa forma é chamado de correta contemplação e praticar de outra maneira é
incorreto.”
15 O Buda disse para Ānanda e Vaidehī, “Ouçam cuidadosamente, ouçam cuidadosamente e reflitam
profundamente. Eu irei agora expor a vocês o método de remover o sofrimento. Mantenham minhas
palavras em mente e expliquem para uma multidão de seres.”
Quando tais palavras foram ditas, Amitāyus apareceu acima no ar, assistido nos lados esquerdo e direito
por dois mahāsattvas Avalokiteśvara e Mahāsthāmaprāpta. Tão brilhante era a radiância que emanava
deles que era impossível vê-los em detalhes. Não se compararia nem mesmo a uma centena de milhares
de pepitas de ouro do Rio Jambu.
Depois que ela teve tal visão de Amitāyus, Vaidehī se ajoelhou em prostração aos pés de Śākyamuni e
disse a ele, “Honrado Pelo Mundo, pelo seu poder eu fui apta a ver Amitāyus e os dois bodhisattva, mas
como podem os seres sencientes do futuro vê-los?”
O Buda disse a Vaidehī, “Aqueles que desejem ver o Buda devem formar uma imagem de uma flor de
lótus no piso de sete joias. Eles devem visualizar cada pétala dessa flor como tendo as cores de uma
centena de tipos de joias e oitenta e quatro mil veios como uma pintura celestial, com oitenta e quatro
mil raios de luz emanando de cada veio. Eles devem visualizar tudo isso clara e distintamente. Suas
menores pétalas possuem duzentos e cinquenta yojanas de altura e largura. Tal flor de lótus tem oitenta
e quatro mil grandes pétalas. Dentre as pétalas há uma centena de koṭis de joias maṇi reais como
adornos luminosos. Cada joia maṇi emite um milhar de raios de luz que, como dosséis feitos de sete
tipos de joias, cobrem toda a terra.
“O estrado é feito de joias śakra-abhilagna-maṇi e é decorado com oitenta mil diamantes, joias
kiṃśuka, joias brahma-maṇi e também com lindas pérolas. No estrado, quatro colunas com flâmulas de
joias surgem espontaneamente, cada uma aparentando ser tão grande quanto milhares de milhões de
koṭis de Montes Sumerus. Nas colunas jaz um dossel semelhante ao palácio do Paraíso Yāma. É também
adornado com quinhentos koṭis de joias excelentes, cada uma emitindo oitenta e quatro mil raios
brilhantes em oitenta e quatro diferentes tons de dourado. Cada luz dourada permeia essa terra de joias
e transforma a si própria por todo lugar em várias formas, tais como plataformas de diamante, redes de
pérolas e agrupamentos de flores como nuvens. Em todas as dez direções ela se transforma em
qualquer coisa de acordo com os desejos da pessoa e executa as atividades do Buda. Essa é a
visualização do trono de lótus e é conhecida como sétima contemplação.”
O Buda disse para Ānanda, “A majestosa flor de lótus foi originalmente produzida pelo poder do Voto
[Original] do Bhikṣu Dharmākara. Aqueles que desejam ver o Buda Amitāyus devem primeiro praticar a
contemplação do trono da flor. Fazendo isso, não contemple de uma forma desordenada. Visualize os
objetos um por um – cada pétala, cada joia, cada raio de luz, cada estrado e cada coluna. Veja cada um
destes claramente e distintamente como se você estivesse vendo sua própria imagem em um espelho.
Quando essa contemplação for finalizada, o mau karma que te prenderia ao nascimento e morte por
quinhentos koṭis de kalpas será extinto e você certamente renascerá na Terra da Suprema Bemaventurança. Praticar dessa forma é chamado de contemplação correta e de outra maneira é incorreto.
16 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Após terem visto isso, o próximo passo é visualizar o Buda. Por
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que o Buda? Porque os budas tathāgatas possuem corpos cósmicos e assim penetram a mente
meditativa de cada ser senciente. Por tal razão, quando você contemplar um buda, sua própria mente
toma a forma das trinta e duas características físicas e oitenta marcas secundárias [dos budas]. Sua
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“Corpos cósmicos”: Essa é uma tradução provisória de fa jie shen (dharmadhātukāya, corpo do reino do Dharma).
Este termo foi interpretado de diferentes maneiras pelos mestres chineses: 1) Mestres como Huiyuan do Templo
Jingying, Chih-i (Zhiyi) T’ien-t’ai e Jizang tomam como significado o “dharmakāya sem forma”; nesse caso,
dharmadhātu ou reino/domínios do Dharma é sinônimo de zhen ru, verdadeira similitude (sct. bhūta-tathatā). 2) De
acordo com Tanluan, essa frase significa a imagem do Buda produzida pela mente meditativa; então fa jiai
significaria a esfera mental da percepção. 3) Shandao interpreta fa jiai como o reino dos seres sencientes – como a
compaixão do Buda alcança os seres sencientes da mesma forma que sua manifestação corporal sem impedimentos;
Shandao então interpreta a frase completa como “o corpo adaptado ao reino dos seres sencientes.”
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mente produz a imagem do Buda e ela própria é o Buda. O oceano de budas perfeitamente e
universalmente iluminados então emerge na mente meditativa. Por tal razão você deve com uma mente
una, concentrar-se e profundamente contemplar o Buda Tathāgata, Arhat e Perfeitamente Iluminado.
“Quando você visualizar o Buda, deve primeiro formar sua imagem. Não obstante seus olhos estejam
abertos ou fechados, perceba uma imagem de joias dele, que é da cor de ouro do Rio Jambu, sentado
num trono de flor. Quando tiver então percebido uma imagem do Buda assentado, seu olho da mente
se abrirá e você verá claramente e distintamente os objetos gloriosos de sete joias da Terra da Suprema
Bem-aventurança, incluindo o piso de sete-joias, as fontes de joias, as fileiras de árvores de joias
cobertas com cortinas celestiais de joias e redes de joias se espalhando pelo céu. Perceba tais objetos
claramente e distintamente como se você estivesse vendo um objeto na palma de sua mão.
“Depois de ver tal imagem, visualize à esquerda do Buda uma grande flor de lótus que é exatamente
igual àquela descrita acima e então uma outra também grande à direita. Visualize a imagem do
Bodhisattva Avalokiteśvara sentado na flor à esquerda, emanando uma luz dourada da mesma forma
que a imagem do buda descrita acima e então a imagem do Bodhisattva Mahāsthāmaprāpta sentado no
assento de flor do lado direito.
“Quando você tiver atingido tal visão, você verá tais imagens do Buda e bodhisattva emanando raios
dourados, que iluminam as árvores de joias. Debaixo de cada árvore também há três flores de lótus com
imagens de um buda e dois bodhisattva sentados nelas, de forma que toda a terra é completamente
preenchida de tais imagens.
Quanto você tiver atingido tal visão, você perceberá regatos, raios de luz, árvores de joias, patos,
gansos, mandarins machos e fêmeas e assim por diante, todos expondo o Dharma maravilhoso. Estando
meditativo ou não, você sempre ouvirá o Dharma maravilhoso. Quando erguer-se da meditação você
deve se lembrar do que ouviu, não esquecer e conferir os sutras. Se não estiver de acordo com os
sutras, deve ser chamado de ilusão, mas se estiver de acordo, deve ser chamado de realização da
percepção geral da Terra da Suprema Bem-aventurança. Essa visualização da imagem do buda é
chamada de oitava contemplação. Se você a atingiu, o mau karma que te prende ao nascimento e morte
por inumeráveis koṭis de kalpas será extinto e ainda nessa vida você atingirá o samādhi da lembrança do
buda. Praticar dessa forma é chamado de correta contemplação e praticar de outra maneira é
incorreto.”
17 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Após ter visto tais imagens, a próxima visão é a das características
físicas e a luz de Amitāyus. Ānanda, você deve entender que seu corpo é tão glorioso quando milhares
de milhões de koṭis de pepitas de ouro do Rio Jambu do Paraíso Yāma e que sua altura é de seiscentos
mil koṭis de nayutas de yojanas multiplicados pelo número de areias do Rio Ganges. O tufo de pelos do
meio de suas sobrancelhas é cinco vezes o tamanho do Monte Sumeru. Seus olhos são claros e amplos
como os quatro grandes oceanos; sua íris azul e seu branco são distintos. De todos os poros de seu
corpo emana um fluxo de luz tão magnifico como o Monte Sumeru. Sua auréola é tão enorme quanto
uma centena de koṭis de universos, cada um contendo milhares de milhões de mundos. Nessa auréola
residem budas transformados numerosos como muitos milhões de koṭis de nayutas multiplicados pelo
número de areias do Rio Ganges. Cada buda é assistido por uma quantidade inumerável e incontável de
bodhisattvas transformados.
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Sua mente produz uma imagem do Buda e ela própria é o Buda”: A frase shi xin zuo fa shi xin shi fo foi
interpretada de maneiras diferente: 1) T’ien-t’ai toma como significado o fato de que quando a meditação sobre a
natureza pura (simbolicamente expressa na forma de Amitābha ou Amitāyus) é atingida, a própria mente torna-se um
buda, já que não há buda separado da verdadeira natureza. 2) Tanluan interpreta como segue: Apenas como a imagem
de um objeto é vista refletida na água limpa, assim a imagem do Buda é percebida através da mente meditativa; então
o corpo glorioso do Buda é inseparável da mente meditativa e sendo assim, o Buda não existe fora da mente. 3) De
acordo com Shandao, a frase significa que através da devoção, alguém percebe a imagem do Buda como se a própria
pessoa a produzisse e o Buda manifesta seu corpo em resposta à contemplação de tal pessoa. Assim, não há buda fora
da mente meditativa. 4) De acordo com Shinran, a mente meditativa implicitamente se refere à mente confiante dada
pelo Buda; já que essa mente é a mente-bodhi e a própria causa da iluminação, ela se torna um buda. Termos
similares como xin zuo fa e xin shi fa aparecem no Sutra Pratyutpanna Samādhi que compartilha um terreno comum
com o Sutra da Contemplação.
“O Buda Amitāyus possui oitenta e quatro mil características físicas, cada uma tendo oitenta e quatro
mil marcas secundárias de excelência. Cada marca secundária emite oitenta e quatro mil raios de luz;
cada raio de luz brilha universalmente sobre as terras das dez direções, envolvendo e jamais
abandonando aqueles que estão com atenção plena no Buda. É impossível descrever em detalhes tais
raios de luz, características físicas e marcas, budas transformados e assim por diante. Mas você pode vêlos claramente com seu olho da mente através da contemplação.
“Aqueles que os viram, enxergaram todos os budas das dez direções. Por terem visto os budas, isso é
chamado de samādhi da lembrança do buda. Atingir tal contemplação é perceber os corpos de todos os
budas. Por percebê-los, tal pessoa compreende a mente dos budas. A mente dos budas é a grande
compaixão. Ela envolve os seres sencientes com benevolência incondicional. Aqueles que têm praticado
esse desejo de contemplação, depois da morte, renascerão na presença dos budas e alcançarão o
discernimento do não-surgimento de todos os dharmas. Por tal razão o sábio deve concentrar seus
pensamentos e visualizar Amitāyus.
“Em contemplá-lo, comece com uma de suas características físicas. Visualize primeiro o tufo branco de
pelos entre suas sobrancelhas até que você o veja clara e distintamente. Quando visualizá-lo, todas as
oitenta e quatro mil características físicas se manifestarão espontaneamente. Quando você vir
Amitāyus, verá também inumeráveis budas das dez direções. Tendo visualizado tais inumeráveis budas,
você receberá de cada um a predição de seu futuro estado de Buda. Essa é a percepção geral das
características físicas do Buda e é conhecida como a nona contemplação. Praticar dessa forma é
chamado de contemplação correta e praticar de outra forma é incorreto.”
18 O Buda disse para Ānanda e Vaidehī, “Depois de ter visto Amitāyus clara e distintamente, o próximo
passo é visualizar o Bodhisattva Avalokiteśvara. Sua altura é de oitenta koṭis de yojanas multiplicados
pelo número de areias do Rio Ganges. Seu corpo é da cor de lilás dourado e no topo de sua cabeça está
uma protuberância cercada por uma auréola com um raio de cem mil yojanas, onde estão quinhentos
budas transformados. Cada buda transformado se assemelha a Śākyamuni e é assistido por quinhentos
bodhisattvas transformados e inumeráveis devas. Na luz que emana de todo seu corpo são vistos os
seres sencientes dos cinco domínios do samsara em todas as suas distintas formas físicas. Em sua cabeça
ele usa uma coroa celestial feita de pedras preciosas śakra-abhilagna-maṇi, nas quais permanece um
buda (Amitāyus) medindo vinte e cinco yojanas de altura.
“A face do Bodhisattva Avalokiteśvara é da cor de ouro do Rio Jambu, enquanto o tufo de pelo entre
suas sobrancelhas tem as cores dos sete tipos de joias e dele emanam oitenta e quatro mil diferentes
raios de luz. Em cada um desses raios habita inumeráveis e incontáveis centenas de milhares de budas
transformados, cada um assistido por incontáveis bodhisattvas transformados, todos eles manifestos
em várias formas de acordo com seu desejo, preenchendo completamente os mundos das dez direções.
Os braços de Avalokiteśvara são da cor das flores de lótus vermelho. Eles emitem oitenta koṭis de
delicados raios de luz na forma de ornamentos, os quais refletem todos os objetos gloriosos daquela
terra. As palmas de suas mãos são da cor de quinhentos koṭis de várias flores de lótus. Cada uma das
pontas de seus dedos contém oitenta e quatro mil sinais como que impressos, cada um com oitenta e
quatro mil cores. Cada cor, por sua vez, emite oitenta e quatro mil delicados raios de luz iluminando a
todos os seres. Com suas mãos de joias ele recebe e guia os seres sencientes.
“Quando ele ergue um de seus pés, a marca da roda de mil raios na sola de seu pé espontaneamente se
transforma em um pedestal que emite quinhentos koṭis de raios de luz. Quando ele repousa seu pé,
flores feitas de diamantes e pedras preciosas maṇi cobrem todo o lugar. Todas as outras características
físicas e marcas que ele possui são as mesmas do Buda, exceto pela protuberância no topo de sua
11
cabeça e a parte predominante, invisível, que não é igual à do Honrado Pelo Mundo. Essa é a
visualização dos verdadeiros aspectos físicos do Bodhisattva Avalokiteśvara e é conhecida como a
décima contemplação.”
11
“A parte predominante, invisível,” wu jian ding xiang (sct. anavalokita-mūrdhatā), é uma das trinta e duas
características físicas de um Buda. É o ponto mais alto da protuberância da cabeça de um Buda (sct. uṣṇīṣa-śīrṣa),
que ninguém, nem mesmo um bodhisattva do décimo estágio é capaz de ver.
Então o Buda disse para Ānanda, “Aqueles que desejam ver o Bodhisattva Avalokiteśvara devem seguir
o método de contemplação acima mencionado. Aqueles que praticam tal contemplação não
encontrarão qualquer infortúnio, ao contrário, serão libertos dos impedimentos kármicos e das amarras
do mau karma que os prenderia ao nascimento e morte por inumeráveis kalpas. Se você apenas ouvir o
nome desse bodhisattva, você obterá imensurável mérito. Então quanto mais mérito você há de adquirir
se puder visualizá-lo claramente! Aqueles que desejam ver o Bodhisattva Avalokiteśvara devem primeiro
visualizar a protuberância no topo de sua cabeça e em seguida sua coroa celestial. Então devem
visualizar as outras características em ordem, tão claramente como se estivessem olhando algo na
palma de suas mãos. Praticar dessa forma é chamado de correta contemplação e praticar de outra
maneira é incorreto.”
19 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Em seguida visualize o Bodhisattva Mahāsthāmaprāpta. As
dimensões desse bodhisattva são as mesmas que de Avalokiteśvara. Sua auréola, de duzentos e vinte e
cinco yojanas de diâmetro, brilha a uma distância de duzentos e cinquenta yojanas. A luz que emana de
todo seu corpo ilumina os mundos das dez direções, fazendo com que eles brilhem de lilás-dourado.
Essa luz pode ser vista por qualquer um que tiver estritas relações kármicas com ele. Mesmo que
alguém enxergue a luz emanando de apenas um único poro de sua pele, tal pessoa pode perceber a
pura e gloriosa luz de inumeráveis budas das dez direções. É por isso que esse bodhisattva é chamado
de Luz Ilimitada. Além disso, ele tem grande poder para iluminar todos os seres com a luz da sabedoria
de forma a guiá-los para fora dos três domínios maus. É por essa razão que ele também é chamado de
Possuidor de Grande Poder.
“A coroa celestial desse bodhisattva é adornada com quinhentas flores de lótus de joias, cada uma
tendo quinhentos pedestais de joias. Em cada pedestal surgem as puras e resplandecentes terras dos
budas das dez direções com todas as ilimitadas e gloriosas características.
“A protuberância no topo de sua cabeça, com o formado de botão de lótus, possui um vaso feito de
joias na frente. Ele transborda várias luzes que revelam todas as atividades do Buda. O resto das
características de seu corpo é exatamente igual às de Avalokiteśvara. Quando esse bodhisattva caminha,
todos os mundos das dez direções tremem. Quando a terra treme, quinhentos koṭis de flores de joias
aparecem, cada uma tão bela e brilhante como uma flor na Terra da Suprema Bem-aventurança.
Quando esse bodhisattva se assenta, todas as terras das sete joias, desde a terra do Buda Luz Dourada
no nadir até a terra Buda Rei da Luz no zênite, tremem simultaneamente. Através disso, corpos
manifestos de Amitāyus, Avalokiteśvara, e Mahāsthāmaprāpta, tão inumeráveis quanto partículas de
poeira, todos se agrupam como nuvens na Terra da Suprema Bem-aventurança, preenchendo todo o
céu. Sentados em assentos de lótus, eles expõem o maravilhoso Dharma para salvar os seres que
sofrem. Tal visualização é chamada de contemplação do Bodhisattva Mahāsthāmaprāpta e também é
chamada de contemplação das características físicas de Mahāsthāmaprāpta. Visualizar esse bodhisattva
dessa forma é conhecido como décima primeira contemplação. Ela extingue o mau karma que prende a
pessoa ao nascimento e morte por imensuráveis e incontáveis kalpas. Aqueles que praticam tal
contemplação não estarão mais sujeitos ao nascimento de um útero. Eles podem viajar através das
puras e belas terras dos budas. Tais contemplações são conhecidas como as completas contemplações
de Avalokiteśvara e Mahāsthāmaprāpta. Praticar dessa maneira é chamado de correta contemplação e
praticar de outra forma é incorreto.
20 O Buda disse então a Ānanda e Vaidehī, “Depois de contemplá-lo, o próximo passo é visualizar a si
próprio como nascido na Terra Ocidental da Suprema Bem-aventurança sentado de pernas cruzadas
sobre uma flor de lótus. Visualize essa flor de lótus como fechada; conforme ela abre, quinhentos raios
de coloridas luzes iluminam seu corpo; então seus olhos se abrem e você vê budas e bodhisattvas
preenchendo os céus e ouve sons de água, pássaros e árvores e as vozes dos budas expondo o Dharma
maravilhoso de acordo com as doze divisões das escrituras. Quando você se erguer da meditação,
mantenha tais coisas em mente e não as esqueça. Vendo-as então, isso é conhecido como a visualização
da Terra da Suprema Bem-aventurança do Buda Amitāyus. Essa é a visualização atingida e é conhecida
como décima segunda contemplação.
“Inumeráveis corpos transformados de Amitāyus, junto com Avalokiteśvara e Mahāsthāmaprāpta,
sempre acompanharão aqueles que assim contemplam. Praticar dessa maneira é chamado de correta
contemplação e praticar de outra forma é incorreto.”
21 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Se você sinceramente deseja renascer na Terra Ocidental, você
deve primeiro esboçar uma imagem de dezesseis pés na superfície de uma fonte. As dimensões de
Amitāyus, como descritas previamente, são ilimitadas e além da capacidade mental dos seres comuns.
Mas pelo poder dos Votos Originais daquele tathāgata, todos os que o contemplam certamente obterão
êxito. Você pode alcançar méritos imensuráveis simplesmente por visualizar uma imagem desse buda.
Quanto mais mérito você poderá alcançar visualizando suas completas características físicas!
“Amitāyus, exercendo seus poderes sobrenaturais como deseja, pode livremente manifestar suas várias
formas nas terras das dez direções. Às vezes ele pode aparecer como uma enorme figura, preenchendo
o céu completamente; outras vezes como uma figura menor, de apenas dezesseis ou oito pés de altura.
As silhuetas que ele manifesta são todas da cor de ouro puro. Os budas transformados e as flores de
lótus de joias na auréola de cada forma são como as descritas acima.
“Bodhisattva Avalokiteśvara e Bodhisattva Mahāsthāmaprāpta possuem aparência similar, onde quer
que estejam. Seres sencientes podem apenas diferenciar um do outro quando olham os emblemas em
suas cabeças. Esses dois bodhisattvas auxiliam Amitāyus na salvação dos seres em todo lugar. Essa é a
visualização mista e é conhecida como décima terceira contemplação. Praticar dessa forma é chamado
de correta contemplação e praticar de outra maneira é incorreto.”
22 O Buda disse para Ānanda e Vaidehī, “Aqueles que nascem na Terra Ocidental pertencem a nove
classes. Aqueles que atingem o nascimento no nível mais alto da classe mais alta são seres sencientes
que decidem renascer naquela terra, despertam os três tipos de confiança e então renascem lá. O que
são os três [tipos de confiança]? Eles são, primeiro, confiança sincera; segundo, confiança profunda; e
terceiro, a confiança que busca o nascimento naquela terra através da transferência de méritos de
alguém. Aqueles que possuem tais três tipos de confiança certamente renascerão lá.
“Há outros três tipos de seres sencientes que também atingem o renascimento. Quem são [tais outros
três tipos de seres sencientes]? Eles são, primeiro, aqueles que possuem um coração compassivo, se
abstêm de matar e observam os preceitos; segundo, aqueles que recitam os sutras Mahayana extensos;
e terceiro, aqueles que praticam as seis formas de atenção plena da mente. Eles aspiram renascer
naquela terra búdica através da transferência dos méritos da prática. Com o mérito adquirido de realizar
tais atos de um a sete dias, eles atingirão o renascimento.
“Quando um aspirante está prestes a renascer naquela terra através de dedicadas e destemidas
práticas, Tathāgata Amitāyus se aproxima dele junto com Avalokiteśvara, Mahāsthāmaprāpta,
inumeráveis budas transformados, uma grande assembleia de centenas de milhares de monges e
śrāvakas e inumeráveis devas em palácios de sete joias. O Bodhisattva Avalokiteśvara, portando um
assento vajra, junto com o Bodhisattva Mahāsthāmaprāpta, se aproximam do aspirante. Amitāyus libera
uma grande emissão de luz que ilumina o corpo do aspirante e junto com os bodhisattva, estende suas
mãos num gesto de boas vindas. Avalokiteśvara e Mahāsthāmaprāpta, junto com inumeráveis
bodhisattvas louvam e encorajam o aspirante. Vendo isso, o aspirante se regozija tão grandemente ao
ponto de dançar. Então ele vê a si próprio sentado no assento vajra e seguindo o Buda, renasce naquela
terra no tempo que dura um estalar de dedos.
345a
“Depois de renascer naquela terra, ele vê o corpo completo do Buda com todas as suas características
físicas e também os corpos dos bodhisattva igualmente completos e com todas as suas características
físicas. Ouvindo o discurso do Dharma maravilhoso emitido pela luz e pelas árvores de joias, ele então
atinge a compreensão do não-surgimento de todos os dharmas. Em um único instante ele visita e louva
a todos os budas das dez direções e recebe de cada um deles a predição de sua futura iluminação. Ao
retornar para a Terra Pura, ele é dotado de inúmeras centenas de milhares de dhāraṇīs. Tal pessoa é
chamada de aquele que atinge o nascimento no mais alto nível da mais alta classe.
23 “Aqueles que atingem o nascimento no nível médio da classe alta não necessariamente mantiveram
e recitaram os sutras extensos, mas eles compreenderam os ensinamentos do Buda tão bem que
quando escutam a verdade suprema, não se assombram. Eles têm profunda confiança na lei kármica da
causa e efeito e não desrespeitam o Mahayana. Eles transferem o mérito adquirido à Terra da Suprema
Bem-aventurança aspirando renascer lá.
“Quando tal aspirante está prestes a morrer, Amitāyus surge diante dele cercado por Avalokiteśvara,
Mahāsthāmaprāpta e inúmeros sábios e assistentes, carregando um assento de lótus da cor lilásdourado. O Buda o louva dizendo, ‘Filho do Dharma, por ter praticado o Mahayana e apreciado as
verdades supremas, eu vim te dar as boas vindas.’ E dizendo isso, ele e milhares de budas
transformados estendem suas mãos ao mesmo tempo em direção ao aspirante, que, vendo a si próprio
12
sentado num assento lilás-dourado, une as palmas das mãos e louva os budas. Em um instante ele
renasce numa fonte de sete joias daquela terra.
“O assento lilás-dourado se torna como uma grande flor de joias, que se abre depois de uma noite. O
corpo do aspirante se torna da cor lilás-dourada e sob seus pés estão flores de lótus de sete joias. O
Buda e bodhisattvas unidos liberam um feixe de luz que ilumina o corpo do aspirante. Seus olhos se
abrem e por causa do acúmulo de méritos de sua existência prévia, ele ouve vozes em todo lugar
expondo apenas as mais profundas e supremas verdades. Descendo de seu assento dourado, ele se
curva com as mãos postas e louva o Buda, o Honrado Pelo Mundo. Depois de sete dias, ele
imediatamente atinge o estágio de não-retrogressão por compreender a mais alta e perfeita iluminação.
Ele também se torna apto a voar pelas dez direções tal como desejar e reverenciar todos os budas e
aprender vários samādhis ensinados por eles. Depois do espaço de tempo de um pequeno kalpa, ele
atinge a compreensão do não-surgimento de todos os dharmas e recebe de cada buda uma predição de
sua futura iluminação. Tal pessoa é chamada aquele que atinge o nascimento no nível médio da mais
alta classe.
24 “Aqueles que atingem o nascimento no nível mais baixo da classe mais alta, da mesma forma
aceitaram a lei kármica de causa e efeito, não desprezaram o Mahayana e despertaram a aspiração para
a mais alta iluminação. Eles transferiram os méritos alcançados para a Terra da Suprema Bemaventurança, aspirando renascer lá.
“Quando tal aspirante está prestes a morrer, Amitāyus, junto com Avalokiteśvara, Mahāsthāmaprāpta e
uma hoste de assistentes vêm para recebê-lo, oferecendo uma flor de lótus dourada e manifestando
quinhentos budas transformados. Tais budas transformados estendem suas mãos todos ao mesmo
tempo e louvam o aspirante dizendo, ‘Filho do Dharma, já que você despertou a pura aspiração pela
mais alta iluminação, nós viemos te dar as boas vindas.’
“Quando ele tiver visto tudo isso, o aspirante encontrará a si próprio sentado sobre uma flor de lótus
dourada que está fechada. Seguindo o Honrado Pelo Mundo, ele imediatamente atingirá o nascimento
numa fonte de sete joias. Depois de um dia e uma noite a flor de lótus se abre e dentro de sete dias o
aspirante vê o Buda. Embora ele veja o corpo do Buda, ele ainda não está apto a discernir suas
características físicas e marcas claramente. Contudo, depois de três semanas ele as vê distintamente e
também ouve todos os sons e vozes proclamando o Dharma maravilhoso. Então ele pode viajar por
todas as dez direções e fazer oferendas aos budas e ouvir seus profundos ensinamentos. Depois de três
pequenos kalpas ele adquire claro entendimento de uma centena de dharmas e habita o estágio de
alegria. Tal pessoa é chamada aquela que atingiu o nascimento no nível mais baixo da classe mais alta.
Tais três juntas são conhecidas como a contemplação da classe mais alta de aspirantes e a décima
quarta contemplação. Praticar dessa maneira é chamado de contemplação correta e praticar de outra
forma é incorreto.”
25 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Aqueles que atingem o nascimento no nível mais alto da classe
média são seres sencientes que mantiveram os cinco preceitos, observaram os oito autodomínios
praticados junto com vários preceitos e se abstiveram de cometer as cinco graves ofensas e outras
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Uniu as palmas das mãos,” lit. “Uniu as palmas cruzando as mãos.”
transgressões. Eles transferiram os méritos alcançados para a Terra Ocidental da Suprema Bemaventurança, aspirando nascer lá.
“Quando tal pessoa está prestes a morrer, Amitāyus aparece em frente a ele, cercado de uma hoste de
monges e irradiando uma luz dourada. Ele então expõe a verdade do sofrimento, vazio, impermanência
e ausência de eu e louva a renúncia do mundo como a libertação do sofrimento.
“Vendo isso, o aspirante se regozija grandemente e encontra a si próprio sentado sobre uma flor de
lótus. Ele se ajoelha, junta as palmas das mãos e louva o Buda. Antes que erga sua cabeça ele atinge o
nascimento na Terra da Suprema Bem-aventurança, onde seu botão de lótus se abre. Quando a flor se
abre, ele ouve vários sons e vozes exaltando as Quatro Nobres Verdades. Ele imediatamente atinge o
nível de arhat, adquire os três tipos de conhecimento transcendental e os seis poderes sobrenaturais e
realiza os oito samādhis da liberação. Tal pessoa é chamada aquela que atinge o nascimento no mais
alto nível da classe média.
26 “Aqueles que atingem o nascimento no nível médio da classe média são os seres sencientes que
observaram pelo menos por um dia e uma noite os oito autodomínios, os preceitos de um noviço ou os
completos preceitos de um monge ou monja e não violaram nenhuma dessas regras de conduta. Eles
transferiram os méritos alcançados para a Terra da Suprema Bem-aventurança, aspirando nascer lá.
“Quando tal aspirante, perfumado pela virtude de observar os prefeitos, está prestes a morrer, ele vê
Amitāyus vindo em sua direção com seus assistentes, irradiando uma luz dourada e portando uma flor
de lotos de sete joias. Ele ouve uma voz acima no céu o louvando e dizendo, ‘Pessoa de boa conduta,
como você é virtuoso e seguiu os ensinos dos budas dos três períodos, eu vim para te dar as boas
vindas.’ O aspirante se encontra sentado sobre uma flor de lótus. A flor tendo fechada, o aspirante
nasce sobre uma fonte de joias da Terra Ocidental da Suprema Bem-aventurança. Depois de sete dias o
botão de lótus se abre e ele então abre seus olhos. Com as palmas das mãos unidas ele presta
homenagem ao Honrado Pelo Mundo, se regozija ao ouvir o Dharma e atinge o estágio de vencedor da
corrente (śrota-āpanna). Depois de meio kalpa ele se torna um arhat. Tal pessoa é chamada de aquele
que atinge o nascimento no nível médio da classe média.
27 “Aqueles que atingem o nascimento no nível mais baixo da classe média são bons homens e boas
mulheres que foram esforçados e cuidadosos com seus pais e realizaram bons feitos para com os outros.
Quando tal pessoa está prestes a morrer, ele pode encontrar um bom mestre, que explique
completamente a ele a bem-aventurança da terra de Amitāyus e os Quarenta e Oito Grandes Votos do
Bhikṣu Dharmākara. Tendo ouvido isso, ele morre; e num curto espaço de tempo como o que leva para
um homem forte para dobrar e esticar os braços, ele atinge o nascimento na Terra Ocidental da
Suprema Bem-aventurança. Sete dias depois de seu nascimento lá, ele encontra Avalokiteśvara e
Mahāsthāmaprāpta, se regozija ao ouvir o Dharma ensinado por eles e então atinge o estágio de
vencedor da corrente. Depois de um pequeno kalpa ele se torna um arhat. Tal pessoa é chamada de
aquela que atingiu o nascimento no nível mais baixo da classe média. Tais três juntas são conhecidas
como a contemplação do nível médio de aspirantes e a décima quinta contemplação. Praticar dessa
forma é chamado de contemplação correta e praticar de outra maneira é incorreto.”
28 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Aqueles que atingem o nascimento no mais alto nível da classe
mais baixa são os seres sencientes que cometeram atos maléficos, mas não vilipendiaram os sutras
Mahayana extensos. Quando uma pessoa tola como essa, que cometeu várias faltas sem sentir remorso
está prestes a morrer, ele pode encontrar um bom mestre, que louve os títulos das doze divisões das
escrituras Mahayana. Por ouvir os títulos desses sutras ele é liberto de seu fardo do mau karma que o
prenderia ao nascimento e morte por milhares de kalpas. Além disso, o sábio mestre o alerta a unir as
palmas das mãos e entoar, ‘Homenagem ao Buda Amitāyus (ch. Na-mo-o-mituo-fo). Invocando o nome
do Buda se extingue o mau karma que o prenderia ao nascimento e morte por cinquenta koṭis de
kalpas.
“O Buda então envia seu corpo transformado e os de Avalokiteśvara e Mahāsthāmaprāpta ao aspirante;
eles o louvam dizendo, ‘Muito bem, pessoa de boa conduta! Por invocar o Nome do Buda seu mau
karma foi extinto e assim nós viemos para te dar as boas vindas.’ Quando essas palavras são proferidas,
o aspirante vê um feixe de luz daquele buda transformado que preenche a sala. Tendo visto isso ele se
regozija e morre. Sentado numa flor de lótus de joias, ele segue o buda transformado e nasce numa
fonte de joias. Em sete semanas o botão de lótus se abre e o bodhisattva da grande compaixão,
Avalokiteśvara e o Bodhisattva Mahāsthāmaprāpta aparecem diante dele liberando grandes fluxos de
luz e explicando a ele os ensinos extremamente profundos das doze divisões das escrituras. Tendo
ouvido isso, o aspirante os aceita com confiança e desperta a aspiração para a mais alta iluminação.
Depois de dez pequenos kalpas ele adquire claro entendimento da centena de dharmas e entre no
primeiro estágio de um bodhisattva. Tal pessoa é chamada de aquela que atinge o nascimento no mais
alto nível da classe mais baixa. Assim ele nasce através de ouvir o nome do Buda, do Dharma e da
Sangha – ou seja, dos Três Tesouros.”
346a
29 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Aqueles que atingem o nascimento no nível médio da mais baixa
classe são os seres sencientes que violaram os cinco preceitos, os oito preceitos ou os completos
preceitos de monge ou monja. Uma pessoa tola como essa que rouba a sangha, ou toma para si os
pertences dos monges, ou ensina o Dharma com motivações impuras e não sente remorso. Assim ele se
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corrompe em seu mau karma e por causa disso é seguro que ele cairá nos infernos.
“Quando ele estiver prestes a morrer e as chamas do inferno repentinamente se aproximarem dele, se
ele encontrar um bom mestre, que compassivamente o explique sobre os poderes sobrenaturais de
Amitāyus, descrevendo completamente o majestoso poder da luz desse buda e suas virtudes em
observar os preceitos, meditação, sabedoria, liberação e sabedoria de liberação. Quando ele ouvir tal
ensino, o mau karma que o prendia ao nascimento e morte por oitenta koṭis de kalpas será extinto;
então as ardentes chamas do inferno se tornarão frias e brisas refrescantes, soprando flores celestiais.
Cada flor é um buda transformado acompanhado de bodhisattva que o darão as boas vindas.
“Num instante ele atinge o nascimento dentro de um botão de lótus numa fonte de sete joias. Depois de
seis kalpas o botão de lótus se abre e então Avalokiteśvara e Mahāsthāmaprāpta o confortam com suas
nobres vozes e o ensinam os profundos sutras Mahayana. Por consequência disso, ele imediatamente
desperta a aspiração para a suprema iluminação. Tal pessoa é chamada aquele que atinge o nível médio
da classe mais baixa.
30 O Buda disse a Ānanda e Vaidehī, “Aqueles que atingem o nascimento no mais baixo nível da mais
baixa classe são os seres sencientes que cometem tais atos malignos como as cinco graves ofensas, os
dez atos maus e todo o tipo de imoralidade. Merecendo tal mau karma, um tolo como esse cairá nos
domínios inferiores e sofrerá as agonias sem fim por muitos kalpas. Quando ele estiver prestes a
morrer, ele pode encontrar um bom mestre que o console de várias maneiras, ensinando-o o Dharma
maravilhoso e impelindo-o a desenvolver a mente completamente atenta ao Buda; contudo, ele é por
demais atormentado pela dor para fazê-lo. O bom mestre o alerta, ‘Se você não puder se concentrar no
Buda, então você deve ao invés disso, dizer, “Homenagem ao Buda Amitāyus’” (Na-mo-o-mi-tuo-fo) por
dez vezes. Por invocar o Nome do Buda, a cada repetição o mau karma que o prenderia ao nascimento e
morte por oitenta koṭis de kalpas é extinto. Quando vem a morrer, ele vê perante si uma flor de lótus
dourada como o disco solar e num instante renasce dentro de um botão de lótus na Terra da Suprema
Bem-aventurança. Depois de doze grandes kalpas o botão de lótus se abrirá. Quando a flor se abrir,
Avalokiteśvara e Mahāsthāmaprāpta o ensinam com vozes de grande compaixão, o método de extinguir
o mau karma através da compreensão similitude de todos os dharmas. Ouvindo isso, ele se regozija e
imediatamente desperta a aspiração pela iluminação. Tal pessoa é chamada aquela que atinge o
nascimento no nível mais baixo da classe mais baixa. Tais três juntos são conhecidos como a
contemplação da classe mais baixa de aspirantes e a décima sexta contemplação.”
346b
31 Assim que o Buda disse essas palavras, Vaidehī e suas quinhentas assistentes ouviram seu ensino.
Tendo visualizado as ilimitadas características da Terra da Suprema Bem-aventurança, o Buda
13
“Mau karma”: Essa leitura segue as edições populares; no Taishō Tripiṭaka consta “maus ensinos,” e fa.
[Amitāyus] e os dois bodhisattvas, Vaidehī regozijou-se em seu coração. Maravilhada com tal revelação,
ela atingiu o grande despertar com clareza de mente e compreensão sobre o não-surgimento de todos
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os dharmas. Suas quinhentas assistentes despertaram a aspiração pela suprema e perfeita iluminação
e desejaram renascer naquela terra. O Honrado Pelo Mundo deu a todas elas a certeza de que
renasceriam lá e que obteriam então o samādhi de estar na presença de todos os budas. Inumeráveis
devas também despertaram a aspiração pela mais alta iluminação.
32 Então Ānanda levantou-se de seu assento, deu um passo adiante e disse ao Buda, “Honrado Pelo
Mundo, como devemos chamar este sutra e como devemos recebê-lo e manter a essência de seu
ensino?”
O Buda então respondeu, “Ānanda, este sutra deve ser chamado de ‘Visualização da Terra da Suprema
Bem-aventurança do Buda Amitāyus e do Bodhisattva Avalokiteśvara e do Bodhisattva
Mahāsthāmaprāpta.’ Ele também é chamado de ‘Purificação e Eliminação de Impedimentos Kármicos
através de Alcançar o Nascimento na Presença de Todos os Budas.’ Retenha rapidamente este sutra e
não o esqueça. Aqueles que praticarem este samādhi estarão aptos a ver, durante esta mesma vida, o
Buda Amitāyus e seus dois mahāsattvas. Se bons homens e boas mulheres simplesmente ouvirem o
nome deste buda ou os nomes dos dois bodhisattva, o mau karma que os prende ao nascimento e
morte por inumeráveis kalpas será extinto. E sendo assim, quanto mais mérito poderá alcançar aqueles
que concentrarem suas mentes neles! Deve ser de seu conhecimento que todos aqueles que mantém a
mente completamente atenta ao buda são como flores de lótus branca entre os seres humanos;
Bodhisattva Avalokiteśvara e Bodhisattva Mahāsthāmaprāpta se tornam seus bons amigos. Eles se
sentarão no assento da iluminação e renascerão numa família de budas.”
O Buda disse ainda para Ānanda, “Guarde bem essas palavras em mente. Guardar essas palavras em
mente significa manter em mente o Nome do Buda Amitāyus.”
Quando o Buda disse isso, o Venerável Mahāmaudgalyāyana, Venerável Ānanda, Vaidehī e todos os
outros se regozijaram grandemente em ouvir o discurso do Buda.
33 Então o Honrado Pelo Mundo voltou ao Pico do Abutre através do ar. Lá, Ānanda completamente
explicou para a assembleia o que havia acontecido. Inumeráveis humanos, devas, nāgas, yakṣas e todos
os outros seres se alegraram grandemente ao ouvir o ensinamento do Buda. Tendo louvado o Honrado
Pelo Mundo, eles partiram.
Fim do Sutra da Visualização do Buda da
Vida Infinita Ensinado pelo Buda Śākyamuni
14
“... atingindo a compreensão...”: Na visão de Shandao, Vaidehī atingiu a compreensão do não-surgimento de todos
os dharmas quando viu Amitāyus e os dois bodhisattvas assistentes, previamente da exposição de Śākyamuni sobre o
trono de lótus na seção 15 do Sutra da Contemplação, pp. 72-73.

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