praticas-que-inspiram - Associação Imagem Comunitária
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PRÁTICAS QUE INSPIRAM PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PÚBLICO EM ARTE E TECNOLOGIA DO MUSEU DAS TELECOMUNICAÇÕES 1 oi futuro associação imagem comunitária publicação diretoria executiva presidência do conselho gestor apuração e fotografia otávio marques de azevedo elias pereira dos santos cristiano soares pedro jereissati vice-presidência do conselho gestor giovânia monique pablo abranches valéria cristina de paula martins presidência josé augusto da gama figueira vice-presidência sistematização secretária-tesoureira clênia carvalho juliana rodrigues de almeida débora amaral mozelli roberto terziani emanuela são pedro diretoria de cultura diretoria institucional marina andalécio rafaela pereira lima pablo abranches roberto guimarães rafaela pereira lima curadoria de artes visuais diretoria de metodologia e pesquisa stéphanie bollmann paulo emílio de castro andrade thaiane rezende alberto saraiva vanessa costa diretoria de projetos aléxia costa melo museologia capa e diagramação délio faleiro maria helena cardoso diretoria de projetos educacionais coordenação belo horizonte ana tereza melo brandão relatos de experiência sergio ricardo pereira programa de formação de público equipe cultura em arte e tecnologia no museu das bruno singh telecomunicações claudia leite - oi futuro karina duarte maria beatriz sathler bretas estagiários luana campos luanna grammont produção executiva isabelle teíssa margareth aplinária débora amaral mozelli sarah gonçalves gustavo gulart (bh) ricardo velloso sheila castro educadores assessoria de imprensa |press liaison / valdir vasconcelos tônia kelley botas marcos josé catarina mayra de barros frederico augusto pessoa frederico silva perpétuo produção karina aparecida lopes PATROCÍNIO: REALIZAÇÃO: APOIO: fabiano barros joara maria menezes coordenação pedagógica pedro gomes (bh) dóris fonseca harley winter belo horizonte zélia peixoto letícia duque andré ramanery débora martins INCENTIVO: EDUCAÇÃO INQUIETA E MOBILIZADORA No segundo semestre de 2012, 45 professores participaram do curso Formação de Educadores: Arte e Comunicação, que integra o Programa de formação de público em arte e tecnologia no Museu das Telecomunicações – Oi Futuro. Durante a formação, a equipe envolvida ouviu diversos relatos positivos dos educadores – tanto a respeito dos conteúdos propostos, que foram importantes para que eles pudessem ter acesso a referências contemporâneas nos campos da arte, tecnologia e educação; quanto relacionados à aplicação dos aprendizados no cotidiano de trabalho, culminando em novas práticas educativas e permitindo o aprimoramento de atividades que já eram desenvolvidas. Em virtude desse retorno e da identificação de importantes iniciativas, elaboramos esta publicação: um banco de boas práticas que reúne relatos de experiências exitosas de arte-educação comunitária realizadas pelos participantes do curso. Embora esses professores venham de diferentes áreas de formação – português, filosofia, geografia, artes –, têm muito em comum. Em seus relatos sobre o cotidiano de ensino-aprendizagem, percebemos que o saber do educando é tomado como ponto de partida para a construção do conhecimento, que os planejamentos são elaborados e reelaborados de acordo com cada contexto, que a sala de aula não é o limite para o saber, que há uma grande preocupação em interagir com a comunidade e com a cidade, que não há modelos pré-definidos de ensino, que a avaliação pode ser um momento de aprendizagem. Não para por aí a lista de princípios que orientam as ações desenvolvidas por André, Débora, Dóris, Joara, Karina, Luana Campos, Luanna Grammont, Margareth, Ricardo, Sheila e Tônia. Conheça cada uma delas nas próximas páginas. O nosso desejo é que elas consigam desencadear um efeito multiplicador e que outros educadores sejam instigados a desenvolver práticas semelhantes, tanto por meio da poesia, do grafite, do cinema, do documentário e do circo, como fizeram alguns desses professores, ou fazendo uso de quaisquer outras linguagens artísticas como forma de tornar a educação mais rica e acessível. Esperamos que estas práticas sirvam de inspiração para você. 4 CONHECIMENTO CO N STRUÍDO A PARTIR DO DIÁLOGO PARA TÔNIA KELLY, PARTICIPAÇÃO E INTERAÇÃO COM ALUNOS E COMUNIDADES SÃO ELEMENTOS CENTRAIS EM AÇÕES EDUCATIVAS QUE TRABALHAM A ARTE E A CIDADANIA A TRAJETÓRIA de Tônia Kelley de Souza Botas na educação começou cedo, aos quinze anos de idade. Seu primeiro contato foi com turmas da Educação Infantil, atividade que exerceu enquanto cursava o magistério e também depois, durante o curso técnico em contabilidade, e a graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). De lá para cá, Tônia fez parte da equipe de coordenação da escola em que começou a trabalhar, assumiu grupos de intervenção em leitura, escrita e matemática, foi regente em turmas de ciclos de formação em escolas e tem empreendido diversas atividades, na escola e na comunidade, que trabalham questões como a sustentabilidade e a criação artística. Dança, teatro, artesanato e moda são algumas das oficinas realizadas. Em todas as atividades que desenvolve, um elemento ocupa lugar central: a preocupação em ouvir e criar espaços de participação para os alunos. A passagem de Tônia por experiências tão diversas na área da educação foi importante para o êxito dos processos formativos que a pedagoga realiza atualmente. Hoje, aos 37 anos, ela é articuladora comunitária do Programa Mais Educação da Escola Municipal Sônia Braga Cruz Ribeiro Silva, em Contagem, no ano de 2012. O Programa Mais Educação é uma iniciativa do Ministério da Educação, coordenada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC) em parceria com a Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) e as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Por meio deste programa, são oferecidas aos alunos das escolas públicas atividades optativas realizadas dentro e fora da escola, no contraturno dos estudantes. 6 Na instituição onde Tônia trabalha, as atividades do Mais Educação são realizadas desde 2010 e contam com a presença de 150 crianças na faixa etária de 06 a 11 anos, que participam de cinco oficinas: letramento, canto, dança, horta e futebol. O papel da professora enquanto articuladora comunitária é ampliar os espaços onde são realizadas as atividades do programa para além dos muros da escola. INTEGRAÇÃO Em seu dia a dia, ela procura estreitar os laços entre a instituição de ensino e as pessoas que moram na região, no intuito de encontrar espaços para a realização das atividades e voluntários para desenvolver oficinas junto aos estudantes. É também papel de Tônia a participação em outros grupos de trabalho voltados para a promoção de ações educativas que acontecem no bairro. Além disso, ela acompanha as principais ações da equipe envolvida, de forma a promover uma integração entre as diferentes áreas da instituição e entre a escola e a comunidade. “Estou sempre próxima aos estudantes e aos monitores. Acompanho, oriento, organizo, dou auxílio e, principalmente, aprendo com todas as pessoas envolvidas. É fundamental estar em consonância com os demais projetos e trabalhos da escola para poder contar com a ajuda dos outros profissionais que também colaboram com o Programa”, afirma Tônia. OUVIR OS JOVENS É A MELHOR FORMA DE INCENTIVÁ-LOS Desde o início de 2012, quando assumiu o trabalho como articuladora comunitária, Tônia procurou envolver toda a equipe no planejamento das atividades do Programa, inclusive os alunos. Dar voz às crianças e aos jovens foi a maior preocupação da pedagoga durante o processo formativo. Para ela, ouvir é a principal estratégia para incentivar o engajamento dos alunos nas oficinas. 7 Fazer com que os jovens percebessem que a própria participação era de fato importante para o planejamento e execução das ações culminou em resultados satisfatórios, relata Tônia. Ela conta que também foram percebidas transformações significativas no comportamento, postura e capacidade crítica dos alunos, que passaram a demonstrar consciência de seus direitos e deveres. “Esse tipo de ação requer que profissionais e demais adultos envolvidos estejam abertos para compreender as especificidades da infância e da pré-adolescência, enxergando os estudantes como sujeitos pensantes, que têm opiniões, que sabem questionar, que querem aprender e que, principalmente, devem ser ouvidos e incluídos em todo o processo. Afinal, a escola existe para eles”, afirma Tônia. INOVAÇÕES A PARTIR DO DIÁLOGO Depois de muito diálogo e planejamento das ações, a educadora e a equipe puderam perceber que os alunos da turma de 2012 demonstravam um enorme interesse por atividades manuais. “A oficina de canto aconteceu como previsto, mas nos encontros que envolveram atividades de pintura, os alunos deslancharam”, orgulha-se Tônia. A partir da percepção, os educadores decidiram propor uma atividade extra, feita no horário do almoço, que envolvesse pintura em vitrais. O resultado foi uma série de intervenções dos alunos nas janelas da sala de aula, fazendo uma releitura da obra do artista brasileiro Romero Britto e um painel externo com releituras de Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Romero Britto e Yara Tupinambá. Após realização da oficina, a equipe do Programa decidiu registrar as pinturas dos alunos em fotografias para fazer uma exposição no blog criado pela equipe, e em várias outras ocasiões. “Nosso objetivo foi incentivar a participação de toda a comunidade escolar por meio das atividades propostas. 8 Vitrais à moda Romero Britto Esperávamos, assim, fomentar o sentimento de pertencer e, como consequência, inspirar atitudes positivas como o cuidar, o opinar, o proteger, o aprender e o ensinar”, relata a professora. Para Tônia, processos educativos que priorizam o diálogo também se constituem como uma boa estratégia para melhorar o relacionamento entre alunos e professores. “Percebi que, depois da exposição das pinturas, os professores passaram a observar mais as qualidades do que as dificuldades dessas crianças e desses jovens. Nós deixamos de ouvir alguns dos professores dizendo olha como esse aluno está ruim nisso e passamos a escutar veja como ele está bom naquilo”, conta orgulhosa.. Alunos da EM Sônia Braga Cruz Ribeiro Silva em atividades do programa Mais Educação. 10 Conheça a experiência Tônia e sua equipe decidiram criar um blog para relatar as principais atividades do Programa Mais Educação na Escola Municipal Sônia Braga Cruz Ribeiro Silva. Na página, você encontra fotos dos trabalhos realizados, poesias dos alunos, além de depoimentos e outras informações. Acesse www.maiseducacaosoniabraga.blogspot.com Faça contato! Para saber ainda mais sobre o trabalho da professora Tônia Kelley, escreva uma mensagem para o e-mail [email protected] ou ligue para a Escola Municipal Sônia Braga Cruz Ribeiro Silva: (31) 3913-9772. 11 12 VOZ DA JUVENTUDE ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA PROFESSORA DÉBORA SANTOS ESTIMULAM A INTERAÇÃO E O USO MAIS CRÍTICO E CONSCIENTE DA INTERNET 13 DESDE 2012, a professora Débora Barbosa Santos, de 36 anos, desenvolve uma série de atividades junto a estudantes para impulsionar a prática da comunicação entre eles e promover um posicionamento mais crítico e consciente no exercício deste que é um direito de todos. Tudo começou com a chegada do Reinventando o Ensino Médio, projeto do Governo de Minas Gerais que busca desenvolver diversas habilidades de alunos de escolas públicas relacionadas a algumas áreas de empregabilidade, dentre elas a de Comunicação Aplicada. Débora leciona a disciplina de Língua Portuguesa e Literatura e, com a chegada do projeto, passou a ser uma das orientadoras dessa área na Escola Estadual Presidente Tancredo Neves , Regional Norte de Belo Horizonte, sendo responsável pela disciplina “Redes Comunicativas”. Formada em literatura e com mestrado em linguística, a professora busca desenvolver atividades em que, a partir da liberdade de expressão, os alunos possam exercer seu direito de fala, utilizando tecnologias que perpassam suas vidas, mas que, às vezes, têm seu uso atrelado a atividades mais superficiais. O processo formativo desenvolvido por ela foi baseado na criação e uso de blogs, sendo a escolha dos títulos, endereços eletrônicos, templates e etc. decisões dos próprios alunos. “Acredito que a liberdade de criar seu próprio perfil deu aos alunos uma nova dimensão sobre a oportunidade e a responsabilidade de se posicionar e, ao mesmo tempo, expor essa opinião. A ideia dos blogs, sobretudo, foi a de impulsionar a prática da comunicação, promover nos estudantes a consciência de que eles têm voz e que podem e devem utilizá-la para expor suas impressões sobre o mundo”, comenta a professora. 14 O estímulo injetado nos alunos de criarem seus próprios espaços de expressão na internet trouxe euforia, mas, também, um pouco de intimidação. Débora conta que muitos deles são se imaginavam desenvolvendo as atividades propostas e, em alguns casos, não tinham intimidade com computadores, e ainda menos com ambientes virtuais. Mas o que se pôde perceber é que, mesmo com este primeiro momento, o processo foi muito enriquecedor. O projeto, já no seu primeiro ano, ajudou a revelar grandes comunicadores e habilidosos argumentadores, ampliando perspectivas do fazer comunicativo, tanto pelo lado profissional como pessoal. As discussões realizadas em sala permitiram um uso mais crítico e criativo dos meios de comunicação pelos alunos. Em uma sociedade na qual a comunicação cada dia mais é realizada por meio virtual, a professora pôde identificar que estar em redes virtuais não significa obrigatoriamente saber utilizá-las e fazer seu uso de forma mais crítica. Mesmo possuindo perfis em redes sociais ou outros tipos de espaço, os alunos não se apropriavam deles como ambientes de expressão. Com os trabalhos desenvolvidos, eles puderam construir um novo olhar sobre suas relações com as pessoas e com os meios de comunicação. A formação colaborou para que eles pudessem vislumbrar o uso das tecnologias de uma nova maneira, como um meio de expressão de anseios, opiniões e posicionamentos. Os alunos puderam refletir sobre usos e potencialidades dos meios de comunicação, principalmente o espaço virtual, ampliando suas possiblidades de uso. 15 Para fechar as atividades de 2012 com chave de ouro, no final do ano foi organizada uma mostra com trabalhos dos alunos, baseados nos conteúdos estudados e debatidos por eles. Para não fugir da proposta metodológica, também neste momento foram os estudantes os responsáveis pelas escolhas dos temas e das formas de apresentação, tais como painéis, música, teatro e outros. “Os professores devem acreditar mais nos alunos. As tecnologias podem impulsioná-los e permite que eles gostem mais de estar na escola. Possibilitar a eles a escolha do assunto no qual serão posteriormente avaliados e a forma de exposição de seus trabalhos é uma forma de valorizá-los e motivá-los, o que se exacerba ao perceberem o interesse de seus colegas pelo que desenvolveram. Práticas assim devem ser multiplicadas”, afirma a professora. REORIENTANDO O OLHAR O processo também foi um aprendizado para Débora, que vem de um percurso no qual, apesar de trabalhar com linguagem, fundamental na comunicação, não tinha contato com questões mais específicas do fazer comunicativo aplicado. Assim, a partir de sua experiência em 2012, viu que é importante se debruçar mais sobre conceitos básicos relacionados ao contexto da web, ao qual ela vem dando maior foco. A professora acredita na importância de monitorar os processos e adequar a proposta desenvolvida. Nesse sentido, foram muito importantes as percepções advindas do acompanhamento contínuo dos alunos e de seus produtos e, ainda, das diversas avaliações realizadas utilizando, principalmente, o espaço virtual. 16 Conheça a experiência Para reunir os diversos blogs criados pelos alunos e ser um espaço de troca de ideias, foi criado o blog Comunica Tancredo: http://comunicatancredo.blogspot.com.br/ Que tal dar uma conferida no que rolou? Faça contato! Quer saber mais sobre o projeto e as atividades desenvolvidas na Escola Estadual Presidente Tancredo Neves? É só entrar em contato com a professora Débora por e-mail [email protected], ou por telefone 31 3433-1520. 17 PRONTO PARA MUDAR QUANDO O ASSUNTO É EDUCAÇÃO, ANDRÉ RAMANERY NÃO TEM MEDO DE RECOMEÇAR E PLANEJAR DE NOVO 19 PARA O PROFESSOR André Anderson Pereira Ramanery, o essencial na hora de planejar as aulas é estar aberto para modificar todos e quaisquer pontos do programa dependendo das especificidades de cada um dos alunos e da turma como um todo. “Eu não tenho um plano de aula completamente pronto. Tenho um roteiro que vou modificando e vendo onde é necessário fazer acréscimos”, conta André, que atualmente é professor de arte na Escola Estadual Melo Viana, Regional Noroeste de Belo Horizonte. Ele conta que, em uma determinada turma, foi dar aula sobre arte contemporânea, mas percebeu que os alunos não sabiam nada sobre vanguarda, conteúdo essencial para entender a arte contemporânea. Por isso resolveu, primeiro, fazer uma introdução sobre vanguarda. “Começo as aulas. Se vejo que eles não estão dando retorno, trabalho em cima dessas dificuldades”, exemplifica o professor. Outro ponto importante, segundo ele, é estar atento ao comportamento dos alunos e observar as características deles relacionadas à idade. Hoje, André dá aula para alunos do segundo ano do ensino médio, mas já trabalhou também com crianças, quando foi monitor no Programa Escola Integrada (PEI). “Cada faixa etária tem suas particularidades. Crianças, por exemplo, de modo geral, fazem tudo que é proposto em sala, mas não questionam nada. Já os adolescentes às vezes não querem fazer nada, mas questionam tudo! E com os alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos) é ainda de outra maneira”, brinca o professor. Achar o equilíbrio é sempre um desafio, até mesmo quando a questão é: privilegiar as aulas práticas ou teóricas? Normalmente, André gosta de combinar as aulas expositivas, nas quais aborda determinados movimentos artísticos e seus artistas mais expoentes, com as aulas práticas, nas quais incentiva 20 seus alunos a produzirem suas próprias obras. O professor dá o contexto histórico, da vanguarda, por exemplo, assim como os conceitos básicos de determinado movimento, e deixa os alunos livres para desenvolverem seus trabalhos. “Eu apresento artistas da época, as obras mais famosas. Falo do que foi feito no período estudado para que eles tenham uma referência, mas não é para copiar”, diz ele. A ideia é que tenham um repertório de referências e, a partir disso, criem e inventem seus trabalhos. Um incentivo a mais para os alunos criarem é a exposição que o professor começou a organizar quando ainda trabalhava na Escola Estadual Zilda Arns Neumann, ao final do bimestre: “Os trabalhos são exibidos na escola e todos são convidados a prestigiarem a exibição. Os pais, a comunidade do bairro, alunos de outras turmas. É um convite aberto. E isso faz com que eles se sintam importantes e valorizados. É um trabalho deles que está ali exposto”, conta. AVALIAR É PRECISO Uma parte às vezes não muita agradável para professores é avaliar e dar nota aos trabalhos dos alunos. Principalmente no caso das aulas de arte. Como transformar em números as obras feitas pelos alunos? Por isso André evita as avaliações tradicionais, como provas e apresentações. “Utilizo cada momento em sala para avaliá-los. Não existe uma forma específica. No caso da exposição que organizo, por exemplo, às vezes o aluno não consegue produzir nenhuma peça, mas ajuda a carregar as mesas e a organizar a exposição. Toda forma de participação do aluno é válida. Se ele só consegue ajudar na manutenção, ok”, afirma o professor. Faça contato! O e-mail do professor André é [email protected]. Telefone da Escola Estadual Melo Viana: (31) 3462-1088. 21 22 SOMOS HISTÓRIA A IMPORTÂNCIA SOCIAL DE CADA UM É EVIDENCIADA EM PROJETO DESENVOLVIDO PELO PROFESSOR RICARDO VELLOSO 23 MAIS DO QUE UM OFÍCIO, foi o amor por ensinar que guiou o percurso de Ricardo Viana Velloso, 49 anos, pelo mundo da educação. Filho de professora, desde que se formou em Letras, em 1986, Ricardo leciona em escolas públicas e privadas, focando, principalmente, em disciplinas relacionadas à língua portuguesa e à literatura. No entanto, sua ânsia por conhecimento e reflexão não deixou seu lado discente desaparecer e o professor cursou, ainda, pós-licenciatura em letras, especialização em Ensino de Língua Portuguesa e Psicopedagia e Mestrado em Educação. Esse amor pelo ensino tem gerado diversos frutos, como o projeto Entre memória e história, as identidades, desenvolvido na Escola Estadual Maria Coutinho, Regional Norte de Belo Horizonte, em 2012. Nele, Ricardo instigou alunos do terceiro ano da disciplina de língua portuguesa a, a partir da narração de suas próprias vidas, refletirem sobre aspectos de memória e história. A ideia era que, com isso, os alunos pudessem perceber que, uma vez que fazem parte do meio social, são também construtores da história; que ela não é formada apenas por fatos grandiosos destacados em livros, mas pelas relações construídas por todos. “Os alunos, assim como nós, são sujeitos sociais fazedores de história; possuem repertório cultural próprio, condições e trajetórias de vida múltiplas, assim como expectativas para com a escola e a sociedade que integram”, comenta o professor. “Os sujeitos sociais são, antes de tudo, históricos, e as atividades ajudaram a desenvolver essa percepção”, complementa. O projeto tentou, também, abrir um espaço para que, a partir do (re)conhecimento de suas próprias histórias e importância social, os estudantes pudessem refletir sobre suas vidas e, assim, construir e reconstruir suas identidades e seus posicionamentos no mundo. 24 MÃO NA MASSA No início, Ricardo encontrou alguma resistência, já que propunha que os alunos falassem de si mesmos e muitas vezes isso é considerado constrangedor pelos adolescentes, mas isso foi revertido ao longo das atividades. Conheça algumas delas: • Pedir aos alunos que levem um objeto pessoal (brinquedo antigo, roupa da infância, foto, cartão etc.) e que façam um breve relato de sua relação com ele para os colegas. Essa pode ser uma boa atividade para ajudar os alunos a se soltarem se a timidez der as caras. • Incentivar que os alunos utilizem suas experiências nas redes sociais para construir um olhar autocrítico, ou autobiográfico. Utilizar ambientes em que os alunos já transitam pode deixá-los mais confortáveis para desenvolver as atividades. • Refletir sobre formas e conteúdos de textos autobiográficos, em especial aqueles ilustrados. Conhecer referências e entendê-las ajuda muito na hora de desenvolver os próprios trabalhos. • Aguçar percepções multissensoriais a partir da articulação de músicas, imagens e textos impressos. A expressão pode se dar de várias formas e experimentar linguagens por meio dos sentidos amplia as possibilidades. • Instigar que cada aluno investigue a história de seu nome. Esse pode ser um bom começo para que os alunos desenvolvam suas autobiografias. • Levantar dados biográficos (relatos de curiosidades) dos alunos junto a pais, irmãos e amigos. 25 A memória e a história se constroem pelas relações que temos com os outros. Para desenvolver o texto autobiográfico, ouvir, das mais diversas maneiras, é muito importante. Agora, é juntar tudo e estimular que os alunos reconstruam suas histórias de vida. Não há restrição. É hora de utilizar a criatividade e as mais diversas linguagens - vídeos, recortes, textos, fotos e etc. - para registrar as vivências de cada um. VALE LEMBRAR! Os alunos estão inseridos em diversos contextos e possuem repertórios próprios, esses fatores devem balizar o planejamento das atividades, pois é preciso respeitar as especificidades de cada situação e experiência. “O fazer pedagógico não pode se esgotar em um método único, dada a pluralidade de demandas, de desafios e as peculiaridades dos sujeitos e seus contextos”, complementa Ricardo, idealizador do projeto. Outra dica é realizar avaliações do processo de forma contínua, o que pode ajudar a ver o que está funcionando e o que pode ser melhorado. Ricardo também ressalta a importância de se valorizar o protagonismo dos educandos em todo o processo, já que os desdobramentos do projeto só são possíveis a partir das respostas dos alunos às provocações apresentadas nas questões e desafios. POR QUE É LEGAL? “O projeto vai ao encontro das necessidades dos alunos de exercitar a autocritica, e, assim, possibilita a construção e reconstrução de suas identidades e a ampliação de suas visões de mundo, além de evidenciar a grande riqueza 26 que há nas mais diversas comunidades e a importância de cada sujeito na construção de nossa história. Ainda, as atividades são de baixo custo e de fácil execução, o principal recurso é o ser humano”, comenta o professor. CONHEÇA A OPINIÃO DOS ALUNOS* “Gostei muito de participar do projeto, é como se eu estivesse descobrindo que a história não é só dos “grandes” personagens, nós também fazemos parte dela”. “Achei muito interessante perceber quanta coisa já aconteceu na minha vida. Não é que eu me ache outra pessoa, mas eu sou uma pessoa que eu não conhecia tão bem”. “Relembrar minha infância e olhar pra mim hoje, na adolescência, me fez ver quanta coisa já aconteceu na minha vida”. “Sei que não sou a pessoa mais importante do mundo, mas quem será? No fundo, somos todos importantes. É como diz a música que vimos no projeto: ‘Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz e ser feliz’. Tudo de bom”. * Comentários selecionados a partir de anotações do professor, realizadas durante um dos processos avaliativos do projeto. Faça contato! Quer conhecer mais sobre o trabalho desenvolvido por Ricardo? Entre em contato pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone 3454-2603. 27 COMUNICAÇÃO COM CRIATIVIDADE E MUITA EMPOLGAÇÃO COM ÊNFASE NA PARTICIPAÇÃO, SHEILA CASTRO CONVIDA ALUNOS DA ESCOLA INTEGRADA A APRENDER SOBRE AS MÍDIAS COLOCANDO A MÃO NA MASSA 29 VÍDEO, RÁDIO, FANZINE, JORNAL, BLOG... Sheila Castro, monitora do programa Escola Integrada (que oferece atividades educativas em escolas públicas municipais no contraturno do ensino regular) da Escola Municipal Secretário Humberto Almeida (EMSHA), sempre está experimentando vários processos de criação midiática com os alunos. Sheila atua no programa há três anos e, desde a infância, é moradora do bairro Ribeiro de Abreu, Regional Nordeste de Belo Horizonte, onde fica a escola. Em sua prática cotidiana em arte-educação, se destacam a intensa relação com o bairro, a proposta de trabalhar temáticas locais com os alunos de forma participativa, e a grande disposição em criar e inovar, driblando, de forma inventiva, as limitações de recursos: “quando não tenho os instrumentos para realizar uma atividade, uso a criatividade”, conta. OS OLHOS DELES BRILHARAM! De segunda a sexta-feira, todas as tardes, Sheila realiza uma oficina de educomunicação com uma turma de 50 alunos, na faixa etária de 10 a 14 anos, na EMSHA. Ela própria, nos anos 90, quando era aluna do ensino médio, havia participado de uma oficina de educação midiática realizada pelo grupo fundador da AIC na mesma escola. Já naquela época, era fascinada pela comunicação e se envolvia em tudo que tivesse alguma relação com tal universo. Por isso, em 2009, quando teve a oportunidade de retornar à escola em que havia estudado por toda a infância e a adolescência para atuar como arte-educadora, não teve dúvida: elaborou um projeto de trabalho envolvendo a expressão dos alunos nos meios de comunicação. Sheila relata: “eu tinha 30 certeza que daria certo. Uns meses antes, havia realizado uma ação simples, uma montagem em vídeo de algumas fotos, com alunos de outra escola. Ao assistirmos juntos o resultado, foi uma euforia louca, todo mundo muito empolgado ao se ver e ver os amigos na tela. Os olhos deles brilharam! Naquele momento, decidi que o meu trabalho seria dar espaço, em ações e produtos de comunicação, pra essa grande necessidade de expressão e de reconhecimento que eles têm”. BUSCA CURIOSA A educadora destaca que, desde então, a sua meta é possibilitar que os jovens possam, por meio do trabalho com a comunicação, descobrir outras possibilidades de olhar a própria comunidade. “A proposta é que esses jovens – como eu, moradores da periferia – intervenham em sua realidade e expressem seu olhar dentro da comunidade e para fora dela”, explica. Para que isso aconteça, ela acredita que é fundamental que os adolescentes sejam sujeitos ativos em seu processo de apropriação das tecnologias, que explorem os equipamentos e programas tendo em vista sua necessidade de se comunicar: “não ensino nada pronto, quero que eles descubram. No meu processo, por exemplo, precisei ser autodidata. Eu não sabia nada e nem tinha câmera. Aí, resolvi gravar os vídeos na câmera fotográfica mesmo. Depois, não sabia editar, aí fui aprender vendo vídeos no Youtube. Assim, fui descobrindo como fazer as coisas e aprimorando o que eu fazia. Acredito nesse tipo de aprendizagem: é necessário correr atrás, o conhecimento só faz sentido se a gente está envolvido de verdade na busca por ele”. Ela resume os fundamentos de sua prática: “gosto muito das ideias de Paulo Freire e do Tião Rocha. Autonomia e participação são os elementos princi- 31 pais de tudo o que tenho buscado construir na escola. Aposto em processos colaborativos, pois acho que, quando se aprende interagindo com o grupo e fazendo coisas, tudo fica mais interessante. Quando o aluno opina e expõe suas ideias, qualquer atividade fica mais participativa e gostosa de fazer”. Sheila destaca, entretanto, que todo o processo de “busca curiosa” pelos melhores recursos para a expressão deve ser aliado a uma preocupação permanente em acessar oportunidades de formação mais sistemática, incluindo as possibilidades oferecidas pela escola, além de oficinas e cursos que muitas vezes são promovidos gratuitamente por ONGs e por programas públicos. Momentos da oficina na EMSHA. 32 PLANEJAMENTO, MÉTODO E AVALIAÇÃO “Gosto de planejar as aulas partindo de um tema ou um foco. Defino um assunto e vou lançando questionamentos, mostrando exemplos e criando desafios para que os alunos se sintam motivados a correr atrás de informações, a ‘desvendar’ como se dá determinado processo”. É assim que Sheila resume seu método de trabalho com a mídia na escola (ver exemplo prático no box). Ela aponta, ainda, que o elemento fundamental é dialogar e experimentar: “uso muito a conversa e experiências concretas, com o cuidado de trabalhar com referências que sejam do universo cotidiano dos alunos. E, quando não tenho os instrumentos para realizar uma atividade, uso a criatividade. O tempo todo enfrento o desafio de improvisar, pois quero fazer coisas que exigiriam equipamentos e materiais que não tenho, e de criar aulas práticas, que não girem em torno de um papel cheio de receitas prontas. Por exemplo: certa vez, para falar com meus alunos sobre a importância e a riqueza da sonoplastia num vídeo ou filme, vendei os olhos deles e andamos pela escola. Pedi que eles prestassem muita atenção aos sons que iam ouvindo ao longo percurso. Com isso, eles foram percebendo que os sons são fundamentais para a caracterização de um ambiente ou situação”. Em relação à avaliação das atividades, a educadora destaca que, a cada atividade e após a conclusão de cada produto de comunicação, promove uma conversa sobre todo o processo de criação, nas quais todos os participantes são convidados a levantar o que deu certo e os pontos de melhoria. “Os momentos de avaliação sempre foram muito construtivos para mim e para meus alunos. É a partir deles que eu venho aprimorando o meu jeito de trabalhar”, relata. 33 EFERVESCÊNCIA MULTIMÍDIA Sheila fala da diversidade das atividades desenvolvidas. O relato das ações e produtos é extenso: “já fizemos muita coisa: vários curtas sugeridos pelos alunos, como o da “lenda da loira do banheiro da EMSHA”, o do “bullying”; reportagens e documentários na Mata do Isidoro (que é um importante patrimônio natural de nossa região), no Quilombo Mangueiras (quilombo urbano onde vivem um de meus alunos e familiares de alunos da escola) e em outros espaços da comunidade; curtas de animação em stop motion... Temos de documentário sobre o racismo a uma sequencia de propagandas que ‘vendem’ amor, solidariedade etc... Tudo isso com participação efetiva, com atuação total dos alunos”. A educadora conta ainda que ela e seu grupo produzem um blog (http:// emshaescolaintegrada.blogspot.com.br/), “que é o veículo de informação de nosso trabalho e já conta com mais de oito mil visitas”. Eles também criaram uma rádio – a Rádio Mania EMSHA, que acontece no recreio na sexta-feira e fica online na segunda-feira. TALENTO RECONHECIDO O trabalho de educação midiática da EMSHA vem ganhando reconhecimento. Em 2011 e 2012, curtas de animação em stop motion produzidos pelos alunos da escola ficaram com os primeiros lugares (segundo lugar em 2011 e terceiro lugar em 2012) do Festival Escola Integrada de Mini Curtas – FEIMC, promovido pela Secretaria Municipal de Educação de BH. 34 E o grupo fechou 2012 com uma conquista ainda maior: “em dezembro do ano passado, ganhamos um prêmio nacional com um vídeo de ficção gravado na Mata do Isidoro”, conta Sheila. O vídeo, que se chama O Segredo das Tranças, é baseado num conto angolano que conta a história de uma jovem viúva e seu misterioso marido. O festival, promovido pelas editoras Ática e Scipione, foi o Literatura em Vídeo 2012 (para conhecer o festival e o vídeo, é só acessar http://www.literaturaemvideo.com.br/). O prêmio, na avaliação da educadora, foi um marco: “eu e cinco alunos fomos para São Paulo de avião. Os alunos nunca haviam andado de avião ou se hospedado em um hotel. Também saiu um nota no jornal Estado de Minas... Esse evento marcou a vida deles e a minha. O que nos deixou extasiados foi trazer o prêmio de 1º Lugar no Júri popular para Minas Gerais! Fomos a única escola de ensino fundamental de Minas Gerais que chegou às finais!” Sheila arremata: “com esse trabalho, pretendo mostrar o que nossa escola e nossa comunidade têm de melhor, o que os meninos podem fazer. Por exemplo: fiz uma parceria com o posto de saúde para exibir o trabalho dos meninos para Sheila e seus alunos recebem o prêmio Literatura em Vídeo 2012. Gravação de O Segredo das Tranças. 35 a comunidade. Também queremos fazer alguns vídeos em parceria com o posto. Pretendo ainda participar de novos concursos de vídeo, para valorizar nossas produções. Quero que os meninos identifiquem a comunicação como ferramenta que têm para a expressão e que tenham seu talento e sua criatividade reconhecidos e valorizados”. Exemplo de uma atividade: produção de vídeo jornalístico (descrita por Sheila) Para planejar as aulas, busco todo o tipo de fonte: faço um pesquisa geral nos materiais que fui guardando ao longo das formações de que participei, no Google, em livros e na própria TV. Costumo dizer: para fazer TV, temos que ver TV. No caso de uma série de aulas sobre jornalismo em vídeo, deixo como exemplo as seguintes etapas: Aula 1 A turma pesquisa os diversos tipos de jornalismo, a linguagem, os planos de câmera usados. A aula parte de uma conversa com os alunos com as seguintes questões: O que vocês entendem por jornalismo? Que tipo de jornalismo assistem? O que chama a atenção de vocês quando vêem programas jornalísticos? Nesta aula-debate, anoto as percepções de meus alunos e, ao final, buscamos uma síntese sobre o que é jornalismo. 36 Aula 2 Exibição de trechos de jornais televisivos variados, como o Globo Repórter (jornalismo documentário), MG TV (jornalismo de estúdio tradicional), Balanço Geral (jornalismo de estúdio popular), um exemplo de repórter entrevistando alguém na rua. Após assistirmos os vídeos, discutimos as diferenças entres as linguagens adotadas. Aula 3 Momento reservado para o aprendizado dos planos de câmera. Primeiro, distribuo aos alunos cartelas com ilustrações dos planos. Em seguida, cortamos uma cartolina em várias “janelas” de tamanhos diferentes. Colocamos essas molduras de cartolina em janelas de vidro, com toda a visão externa a cada moldura tampada. Aí, vamos utilizando molduras cada vez menores, diminuindo o campo de visão cada vez mais – como se tivéssemos buscando um zoom progressivo na cena. Ao longo do processo, vou perguntando aos alunos o que vêem em cada cena e, a partir disso, vou explicando os planos, do geral para o detalhe. Aula 4 Com câmera fotográfica ou outra, exercitamos na prática os diversos tipos de plano. Aula 5 Momento de assistir novamente os exemplos de jornalismo e analisar os elementos de linguagem. Observamos, comentamos e discutimos aspectos como o posicionamento dos repórteres, da câmera, dos microfones e do entrevistado, a interação entre os participantes, o ritmo da edição. 37 Aula 6 Aula de entrevista de improviso. Os alunos são divididos em grupo. Cada grupo deve ter um câmera, um repórter e um entrevistado. O exercício é produzir uma reportagem, com duração de três minutos, sobre o horário do recreio. Aula 7 Momento de assistirmos juntos os vídeos produzidos pelos alunos, analisando a postura dos participantes, os enquadramentos e movimentos de câmera, a abordagem do tema. Aula 8 A aula começa com um diálogo sobre equipe técnica. Pergunto aos alunos quantas e quais pessoas eles acreditam ser necessário para fazer o jornalismo. Vou anotando no quadro os membros da equipe que eles identificam, como câmera, repórter, roteirista, diretor, entrevistado etc... Ao mesmo tempo, vamos tentando pensar o que seria a função de cada um. Ao final da aula, pergunto que tipo de produção jornalística queremos produzir e quem quer ser o quê na equipe. Aula 9 (supondo que os alunos escolheram fazer, no momento do recreio, uma reportagem sobre um tema importante da escola) Levo um exemplo de roteiro jornalístico e um de pauta. Após analisa-los, partimos para a criação do roteiro e da pauta para a reportagem a ser produzida na hora do recreio. 38 Aula 10 Vamos para o recreio gravar nossa reportagem. Aula 11 Assistimos, analisamos e criticamos a reportagem, tirando conclusões sobre o que aprendemos sobre jornalismo e sobre o tema da reportagem. Conheça a experiência Blog da EMSHA (no qual estão as produções midiáticas dos alunos, notícias e comentários): http://emshaescolaintegrada.blogspot.com. Link das produções no Youtube: http://www.youtube.com/user/emshaintegrada Faça contato! O e-mail de Sheila Castro é [email protected]. Telefone da escola: (31) 3277-8253. 39 O CINEMA COMO FACILITADOR DO DISCURSO FILOSÓFICO FILOSOFIA, CINEMA E VIDA SE ENTREMEIAM E COMPLEMENTAM EM PROJETO DESENVOLVIDO PELA PROFESSORA KARINA DUARTE, EM CAETÉ 41 EXIBIR FILMES EM SALA DE AULA é uma atividade bastante comum, mas utilizar o cinema como alternativa para o entendimento da existência humana é uma prática que vem inovando o ensino na Escola Estadual José Brandão, localizada em Caeté (município da RMBH), por meio do projeto Filosofia, Cinema e Vida. Karina Duarte, professora de filosofia nesta escola e idealizadora do projeto, conta que partiu de uma análise da situação do ensino para pensar a proposta: “o contexto que envolve o ensino de filosofia para jovens, na escola, é complexo. Há inúmeros objetivos educacionais que podemos atribuir à filosofia, variados fins filosóficos e possíveis formas de alcançá-los. Esse projeto é uma alternativa de se trabalhar filosofia além dos livros didáticos, do texto acadêmico”. O cinema é utilizado como uma forma auxiliar de esclarecimento de determinadas temáticas e até como ponto de partida para algumas leituras filosóficas. “Mesmo sem a leitura de textos específicos, pode-se fazer deste recurso tecnológico uma ferramenta para o início da discussão filosófica”, explica Karina. De acordo com a professora, os filmes são, ainda, uma oportunidade para o trabalho interdisciplinar: “uma possibilidade de transitar pelas fronteiras que existem entre os saberes”. O Filosofia, Cinema e Vida é desenvolvido desde abril de 2011 com turmas do ensino médio e foi criado para atender aos objetivos do “Jovem de Futuro”, projeto do Instituto Unibanco. 42 O PLANEJAMENTO COMO UM CAMINHO POSSÍVEL A aposta para colocar o projeto em prática foi no planejamento, que, em sentido amplo, funciona como um processo que visa a dar respostas a um problema. “É ele que dá sentido à escola, à aprendizagem, à nossa vida. O planejamento é uma ferramenta e o que vai caracterizá-lo como tal será o seu fim: facilitar ou possibilitar o nosso trabalho”, explica Karina. A professora lembra, contudo, que planejar é uma atividade engajada, intencional, de caráter político e ideológico. Portanto, uma ação isenta de neutralidade. É tendo isso em mente que, na escola em que trabalha, levam-se em conta oito pontos no planejamento das atividades: 1. Saber do aluno como ponto de partida – o interesse manifestado pelo aluno irá orientar as questões a partir das quais serão desenvolvidas as discussões e a programação do estudo. 2. Construção do conhecimento pelo aluno – expondo o que já sabe, o aluno é estimulado a ter uma postura crítica sobre seu próprio saber, a rever seus valores e atitudes e a buscar informações para resolver suas questões. 3. Aprendizagem como processo coletivo – é na relação com o outro que se aprende. Tal compreensão pressupõe o respeito à diversidade de modos de pensar e agir. 4. Valorização da autoestima – busca-se criar condições para que o aluno perceba os outros e a si mesmo em suas potencialidades e limitações, num clima de compreensão, confiança e respeito. 5. A dinâmica na escola – o caráter interdisciplinar do projeto requer a mobilização de toda a comunidade escolar, especialmente do corpo docente, para um planejamento conjunto que assegure harmonia no desenvolvimento das ações, com o máximo aproveitamento das oportunidades de 43 articulação entre conteúdos e atividades. 6. O sentido da avaliação – a avaliação tem caráter formativo. Desse modo, sempre há reuniões para identificar dificuldades, divergências de pontos de vista e para propor alternativas de revisão ou ampliação do trabalho proposto. 7. Reflexão e ação – refletir sobre a prática indica caminhos para a ação. A ação acompanhada de reflexão, por sua vez, remete a novas discussões sobre a base teórica, para buscar explicações e esclarecimentos, podendo mesmo resultar em revisões conceituais. 8. Da teoria à prática – antes de qualquer coisa, é preciso preparar o educador para essa nova forma de ensino. Para tanto, investe-se em ações de capacitação docente e acompanhamento e avaliação durante todo o processo. Há desde um momento de sensibilização para a proposta do trabalho, à formação propriamente dita, que nunca cessa. NA PRÁTICA, COMO FUNCIONA? Dentro do Filosofia, Ciência e Vida, o trabalho é realizado a partir do cruzamento do teórico e do prático. De acordo com Karina, são desenvolvidas oficinas seguindo um planejamento composto por quatro momentos: sensibilização, problematização, investigação e conceituação. No primeiro momento, busca-se sensibilizar os alunos de diferentes formas: vídeos, charges, fotografias, ilustrações, exposição oral de informações histórico-filosóficas, etc. A proposta é aproximá-lo do tema que se pretende abordar. Em seguida, o problema presente (de forma explícita ou implícita) no texto com que se vai trabalhar é abordado, gerando a investigação do mesmo. A 44 partir de uma leitura orientada, frisa-se tanto a análise do que o autor escreveu sobre o tema em questão, quanto aspectos gramaticais do texto. É neste momento de investigação que entra a exibição dos filmes. Eles são experimentados e pensados para o despertar da consciência crítica e para a conceituação do real. O quarto momento é voltado para o estudo dos conceitos abordados anteriormente. O aluno é convidado a apresentar a sua compreensão do problema através da escrita ou da oralidade, em forma de seminários. DESEJOS O objetivo, segundo Karina, é agregar as potencialidades do cinema às especificidades do projeto desenvolvido na Escola Estadual José Brandão para “criar a condição da possibilidade do discurso filosófico”. Parte-se de um recurso especial, o filme, para instigar o aluno a apreender os problemas do contexto em que ele está inserido, desencadear pensamentos e construir conhecimento. A professora conta que, com o projeto, vem junto o desejo de que o aluno entenda “a filosofia como atividade de busca permanente empreendida pelo humano, de compreensão racional de si mesmo e do mundo que o cerca”. Faça contato! O e-mail de Karina Duarte é [email protected]. Telefone da Escola Estadual José Brandão: (31) 3651-1065. 45 46 O CIRCO COMO INSTRUMENTO DE ARTE E EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA ELEMENTOS LÚDICOS E EDUCATIVOS PODEM SER COMBINADOS EM PROJETO DE EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL, COMO NA EXPERIÊNCIA DE LUANA CAMPOS E SILVA NO PROJETO CIRCO, ARTE/EDUCAÇÃO E CIDADANIA 47 A EXPERIÊNCIA do projeto “Circo, Arte/Educação e Cidadania” (CAEC), desenvolvido de 2008 a 2011 pela Organização Cultural e Ambiental (OCA), é um exemplo de prática das artes circenses aliada à formação educativa. O CAEC foi realizado no município de Ouro Preto e no distrito de Antônio Pereira com crianças e jovens em situação de vulnerabilidade econômica e social. A articulação entre formação humana e o desenvolvimento do conteúdo circense com todas suas técnicas, artes e magias é um dos objetivos do projeto segundo Luana Campos e Silva, que atuou como coordenadora, gestora executiva e professora do “Circo, Arte/Educação e Cidadania”. À época, Luana se dividia entre as atividades do projeto e sua formação de pós-graduação em Educação e Práticas Pedagógicas na UFOP e disciplinas isoladas na FAE e EBA/UFMG. A complementariedade entre teoria e prática é presente tanto na trajetória da coordenadora, quanto no dia a dia do projeto. Luana destaca como essas dimensões se complementam: “trabalhamos, por exemplo, as técnicas circenses, a autoestima, a amizade, o protagonismo e a identidade, os quais são potencializados com o espetáculo, que traz à tona a consolidação desses valores”. A dimensão prática ressalta o corpo humano como produtor de cultura e o processo de desenvolvimento de consciência crítica e estética das crianças e jovens participantes das atividades. Do ponto de vista teórico, o processo educativo é visto como uma prática para a liberdade, cooperação e diálogo, a partir de formulações de autores como Paulo Freire. Esta articulação floresce como um trabalho de “valorização do diálogo e da participação de cada jovem e a preocupação com os educandos para além do projeto”, conta Luana. 48 RELAÇÕES EDUCATIVAS E LÚDICAS Por que circo? Alguns profissionais acostumados com formas tradicionais de educação podem estar se perguntando se o circo poderia ser de fato um instrumento de educação. Provavelmente esta questão passou pela cabeça das pessoas que trabalhavam com a educação formal. No início das atividades do CAEC, foi difícil estabelecer a parceria com os professores das escolas, mas aos poucos foi sendo construído um diálogo entre o trabalho desenvolvido no Projeto e a Escola. As modalidades básicas das técnicas circenses trabalhadas no projeto são acrobacia de solo, acrobacia aérea, malabares, equilibrismo e palhaço. Também compõem as atividades do CAEC, as rodas de conversa no final de cada aula, o teatro e brincadeiras, tematização de questões como violência, drogas ou sexo, passeios culturais e oficinas com as mães. As atividades acontecem no contraturno escolar, utilizando as artes circenses como elemento mediador por meio de uma pedagogia alternativa que visa contribuir para a formação e emancipação dos sujeitos. Segundo Luana, o projeto foi costurando parcerias ao demonstrar que “o circo permite construir e partilhar conhecimentos diversos num ambiente diferenciado, buscando uma educação que contemple as competências pessoal, social, produtiva e cognitiva”. Foram parceiros do CAEC: o Centro Educacional, as Escolas, o Centro de Assistência Social e o Projeto Sorria, que oferece tratamento odontológico. As famílias dos participantes do CAEC também foram chamadas a integrar essa corrente. Eram realizadas visitas às casas e atividades com as mães dos jovens e crianças, como a oficina de culinária. 49 “Aula para mães” é uma tentativa de integração do projeto com a família. Atividades lúdicas e técnicas se complementam. 50 Um ambiente que dá asas à imaginação como o circo, ao ser articulado com uma estratégia pedagógica organizada, pode gerar mais disposição à participação. Os jovens, uma vez interessados no projeto, conquistam protagonismo na dinâmica das atividades. Para Luana, “é importante que os alunos sejam sujeitos ativos no processo de criação das regras a serem cumpridas”. Como destaca a coordenadora do CAEC, esse processo precisa ser conduzido com sensibilidade por parte dos educadores, com vocabulário que permita aproximação, além de disciplina e diálogo por parte de toda equipe participante. “Ao compreender o trabalho artístico como promovedor do desenvolvimento humano, é preciso ter a certeza de que o diálogo e o saber ouvir são fundamentais nesse processo, assim como as atitudes de cada envolvido, desde a faxineira, o professor, o monitor ou até mesmo a costureira que se envolve no processo de produção de um espetáculo”, explica ela. A aprendizagem está diretamente relacionada à qualidade da relação estabelecida ao longo das atividades. Luana diz que a equipe do CAEC era composta por professores de circo com bagagem técnica e monitores e professores que se formaram no próprio projeto conseguindo sustentar boa relação com os participantes. Outro aspecto importante é o incentivo à colaboração. A coordenadora afirma que “no aprendizado da prática circense, é preciso que tanto o indivíduo como o grupo se fortaleça mutuamente, eliminando as tensões e exaustões da competitividade”. A equipe precisa estar realmente engajada nas atividades, inclusive compartilhando impressões e experiências. Luana conta que este é um desafio nada fácil, mas muito importante “para que da interlocução entre as informações pessoais, da técnica aplicada e dos objetivos gerais surjam os procedimentos pedagógicos a serem incorporados no cotidiano do projeto”. 51 No CAEC as reuniões pedagógicas eram realizadas quinzenalmente com a participação de toda equipe. “Apesar da dificuldade de se construir uma equipe que esteja realmente engajada e que perceba que essas reuniões podem contribuir para o processo de construção coletiva, aprendemos a compartilhar ideias, experiências e a nos flexibilizarmos na condução das aulas”, declara Luana. As relações devem ser flexíveis, alegres, calorosas, reflexivas, afetuosas, organizadas. A coordenação do projeto acredita que “assim há de propiciar o debate, a criatividade, a confiança e o processo de ensino-aprendizagem”. Participar das reuniões e sistematizar de forma organizada as impressões advindas da experiência de trabalho é importante para a construção e compartilhamento do saber. AVALIAÇÃO E RECONHECIMENTO DO TRABALHO No desenvolvimento do CAEC a avaliação sempre foi um conceito chave, colocado realmente em prática. A equipe buscava identificar mudanças no comportamento das crianças e jovens, além de acompanhar cuidadosamente sua frequência nas atividades. Eles realizavam caracterização socioeconômica e demográfica, avaliação da imagem e da influência do projeto no comportamento e rendimento escolar dos participantes e do grau de satisfação das crianças e de seus pais para com o CAEC. Também levantavam os motivos que levavam ex-participantes a abandonar o projeto. Questionários, entrevistas individuais e depoimentos dos alunos, familiares, instrutores e professores do projeto, diretores e professores das escolas parceiras foram considerados. O reconhecimento do trabalho pode ser notado de diferentes formas, conta Luana. O projeto formulado pela OCA, organização responsável pelo CAEC, foi aprovado nas Leis Federal e Estadual de Incentivo à Cultura e 52 no fundo da Infância e da Adolescência. O projeto foi um dos finalistas do Prêmio Itaú-Unicef e foi indicado como uma das cinco experiências mais significativas do Brasil de Arte/Educação e Cidadania no Congresso Latino-Americano e Caribenho de Arte/Educação em 2009. A experiência também foi apresentada no Encontro Nacional de Arte/Educação, Cultura e Cidadania em conjunto com o 19º CONFAEB – Congresso Nacional de Federação de Arte/Educadores do Brasil e no Encontro Internacional de Paulo Freire 2012 em Los Angeles. Conheça a experiência Acesse o blog: http://circoarteeduca.wordpress.com/ Faça contato! O e-mail de Luciana Campos é [email protected] . Você também pode entrar em contato com a Organização Cultural Ambiental pelos e-mails [email protected] e [email protected] ou pelo telefone (31) 3551 5986. 53 EXPERIMENTAÇÃO! PALAVRA DE ORDEM EM AFRICANIDADES SEM SEGUIR FÓRMULAS, MARGARETH FERREIRA TRABALHA EM PROL DE UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA E QUE TEM O ALUNO COMO PROTAGONISTA DO APRENDIZADO FAZ 20 ANOS que Margareth Ferreira é professora. Atualmente, trabalha na Escola Municipal Senador Levindo Coelho, no bairro Serra, Regional Centro-Sul de Belo Horizonte. Lá, participa do desenvolvimento do projeto Africanidades, voltado à discussão das relações étnico-raciais no país. Apesar da vasta experiência em sala de aula, não desenvolveu nem acredita em modelos e define-se como alguém “experimental”. Para Margareth, cada processo é único, sendo sempre dependente das pessoas envolvidas e da realidade em que elas vivem. Outra crença é no trabalho interdisciplinar: sua formação é em geografia, mas a todo o momento evoca elementos da arte, da comunicação e da tecnologia para atender suas múltiplas demandas. AFRICANIDADES Em 2003, foi aprovada a lei nº 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e particulares do país. Para atender as diretrizes dessa lei e, antes de tudo, trabalhar por uma educação antirracista, foi criado, na Escola Municipal Senador Levindo Coelho, o projeto Africanidades. Durante o ano de 2012, o projeto ganhou impulso com a participação dos alunos na 2ª Jornada Literária da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, cujo tema foi Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil. “Os alunos produziram textos, ilustrações, painéis e peças de teatro relativo ao tema estudado em Geografia, Literatura, Português, História e Artes. Especificamente na minha área, foram trabalhados diversos aspectos geográficos da África, tentando desmistificar este continente e modificar a visão estereotipada da maioria dos alunos sobre o local”, conta a professora Margareth. 56 Sete turmas, com uma média de 30 alunos cada, estão envolvidas no Africanidades, trabalhando essas variadas expressões para discutir questões étnico-raciais. NÃO FAÇA COMO O MODELO. EXPERIMENTE. Margareth deixa claro que cada processo é único. Para ela, “tudo dependerá da turma, do contexto, da localização geográfica e até mesmo da gestão escolar”. Sendo assim, não há uma metodologia pronta para as coisas. Para as aulas, busca referências tanto no início de sua trajetória como estudante quanto em ações corriqueiras do dia a dia. “Percebo que desempenho hoje algumas práticas contrárias à forma como aprendi, por julgar que as metodologias adotadas não foram eficientes. Lembro-me, sobretudo, dos meus livros didáticos que invariavelmente apresentavam a fórmula ‘faça como o modelo’, prática que considero abominável, mas que infelizmente consigo perceber que ainda prevalece”, relata. Para ela, a palavra-chave é experimentação. Margareth envolve-se em vários projetos e gosta de trabalhar de forma mais lúdica, mais independente da sala de aula. Quando pode, foge do tradicional. Já realizou caminhada com os alunos no Parque das Mangabeiras, visitas a museus da cidade, conversas informais sobre o cotidiano dos alunos e alunas (e a professora frisa a diferença de gênero. Na comunidade em que a escola se localizada, meninos e meninas são tratados de forma distinta: “as meninas têm muito mais obrigações que os meninos”, exemplifica). Percebemos, nas falas de Margareth, que experimentar não se restringe a ocupar lugares pra além da escola. Segundo ela, “as aulas se baseiam em di- 57 álogo. Talvez mais escuta de minha parte e reconhecimento do espaço vivido dos meus alunos. Embora esse seja o ponto de partida, essa prática atravessa todo processo formativo de qualquer trabalho a ser desenvolvido”. A ideia com que a professora trabalha é de realmente sair da zona de conforto. O que pode gerar manifestações de todos os tipos. Ela conta que surgem perguntas como “Não vai ter aula? A gente só vai ficar conversando?”, mas acredita que estão avançando muito, “estamos construindo um alicerce para uma aprendizagem mais sólida e significativa. A proposta sempre foi de aproximação para a facilitação da aprendizagem”, declara. PROFESSOR COMO MEDIADOR Durante o percurso, conta a professora, aparecem inúmeros desafios. Ao mesmo tempo em que a existência de diferentes opiniões numa turma potencializa a aprendizagem, exige bastante sensibilidade para ser percebida. Surgem questões relacionadas com o espaço vivido pelos estudantes, como, por exemplo, direito aos bens públicos, a discriminação social e racial, as questões de gênero, o machismo exacerbado, o consumismo, etc. E é aí que entra o educador. Para Margareth, ele “se torna um mediador e deve garantir o direito de expressão de todos, sejam quais forem as opiniões de cada um. Mas deve também promover a reflexão a partir de princípios éticos. O aluno deve ser levado a perceber que nem sempre a sua opinião está afinada com o que é considerado politicamente correto na sociedade em que ele vive”. O que para muitos pode parecer desgastante, para Margareth é um exercício de estímulo: “os desafios não pararão por aí, não foram vencidos e nem 58 serão, não há essa pretensão, o caminho certo a ser trilhado eu não conheço, mas persisto em seguir por um rumo que seja possível nesse labirinto de questões que devem ser debatidas”. A aposta é no debate como meio de construção e reconstrução de significados. SALDO POSITIVO O processo de avaliação deste trabalho foi contínuo e focado na participação dos alunos. De acordo com Margareth, “o inovador desse processo talvez tenha sido sair do papel de professor que discursa sobre a importância do aprendizado para os seus alunos e se colocar no lugar de ouvinte, se aproximar mais do universo deles, saber sobre suas dificuldades, seus medos, seus sentimentos e suas potencialidades, que muitas vezes são entendidas até como defeitos e acabam impedindo o processo de desenvolvimento e aprendizagem”. Faça contato! O e-mail de Margareth Ferreira é [email protected]. Telefone da Escola Municipal Senador Levindo Coelho: (31) 3277-6450. 59 UMA PERSPECTIVA TRANSFORMADORA EMANCIPAÇÃO, DIVERSÃO, INVESTIMENTO E POSSIBILIDADE: PILARES DO TRABALHO DE LUANNA GRAMMONT DE CRISTO 61 RECÉM-FORMADA EM ARTES VISUAIS pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), Luanna Grammont de Cristo inicia sua trajetória como educadora inspirada por notórios pensadores da Educação como Paulo Freire, Aníbal Ponce, Lev Vygotsky e Miguel Arroyo. Nomeada como professora de Artes na Rede Municipal de Ensino em Belo Horizonte no início de 2013, Luanna apresenta, aqui, sua visão como educadora, e conta um pouco da sua experiência no Programa Escola Integrada durante o ano de 2011 junto a alunos da Escola Municipal Marconi, Regional Centro-Sul de Belo Horizonte. INSPIRAÇÃO PARA EDUCAR Luanna demostra grande preocupação com a missão do educador. Para isso, estabeleceu quatro eixos que alicerçam sua prática educativa: emancipação, diversão, investimento e possibilidade. EMANCIPAÇÃO – “Esse princípio tem a ver com o meu objetivo enquanto educadora, que não é a preconceituosa ocupação da criança ou jovem em sala de aula (o pensamento segundo o qual é melhor os muros da escola do que a rua), e nem mesmo a promoção da ilusória ascensão social, razão encontrada por alguns professores que se baseiam em casos isolados para dizer que a educação é uma maneira de se dar bem na vida. Eu sou professora com curso superior, e ganho como alguns pedreiros nível médio (ou menos). Sem falar que, para os pobres, a ascensão social é um mito necessário à sociedade exploradora para mantê-los subservientes, como dizia Paulo Freire. Eu trabalho é pela autonomia e emancipação dos meus alunos. Trabalho para que eles se percebam como sujeitos ativos no mundo, numa realidade passível de transformação.” 62 DIVERSÃO – “Busco desenvolver meu trabalho alinhada principalmente com Vygotsky e Miguel Arroyo, levando em conta a necessidade do corpo e da mente humana de socialização e diversão, e tirando o dogma católico de que o conhecimento é fruto do sofrimento e isolamento, como era para os monges da Idade Média. Fundamental é trazer à tona sua dimensão social e lúdica.” INVESTIMENTO – “Pretendo investir nas habilidades e interesses dos alunos, compartilhando com eles técnicas e histórias. Acredito no potencial criativo e ativo de todos os jovens, pois, mesmo os que mais sofrem com a exploração, preconceito e injustiças produzem e vivenciam cultura e arte. A cultura popular deve ser um pilar da escola.” POSSIBILIDADE – Quero ser um professor-aluno, como dizia Paulo Freire. Quero propor a sala de aula como um espaço que possibilite aos alunos trazerem seus conhecimentos, medos, tensões, anseios, criações e compartilhá-los comigo e com os outros, para ensinarmos a todos e aprendermos mais ainda.” 63 CONSTRUÇÃO COTIDIANA Ciente da complexidade do processo educativo e das relações entre aluno, professor e escola, Luanna se propõe o exercício diário de tentar ampliar os espaços e construir circunstâncias mais favoráveis para a consolidação daquilo que compreende como um processo educativo exitoso. “É extremamente difícil fugir ao modelo comum de aula, seus conteúdos e sua formulação física hierarquizada. Fazer a direção e coordenações aceitarem que o papel da professora não é ser uma “vigia” é uma tarefa árdua e perigosa, que coloca em risco sua credibilidade enquanto profissional. As pessoas não entendem que o conhecimento NÃO se produz no silêncio, que o barulho nem sempre é sinal de desordem, e que a autoridade NÃO é a maior característica de um professor. E, principalmente, não entendem que brincar NÃO é sinônimo de ficar à toa, muito pelo contrário, como todos que já brincaram um dia bem o sabem.” Para Luanna, é um enorme desafio derrubar a barreira entre os alunos e o professor, condição facilmente aceita por educadores dentro de sala de aula. E defende que é preciso mexer com os alunos, provocar um deslocamento. “Mas, para isso acontecer, é preciso permitir que eles mexam conosco”, lembra. E conclui que talvez esta seja “a tarefa mais difícil, pois exige generosidade e equilíbrio que nenhum curso é capaz de ensinar”. APRENDER FAZENDO Em 2011, desafiados por uma proposta da Coordenação da Escola Integrada, Luanna desenvolveu um projeto que mobilizou alunos de várias idades. Os alunos do 7º ano do ensino fundamental participaram do concurso de vídeos escolares promovido pela Secretaria Municipal de Educação de BH, o Festival Escola Integrada de Mini Curtas – FEIMC. A professora, então, 64 discutiu com a turma as etapas de produção de um vídeo (roteiro, gravação e edição). A partir daí, os alunos definiram o tema do curta: uma história de terror intitulada “Bloody Mary”, baseada na lenda urbana da “Loira do Banheiro”, bastante popular na escola. Apesar do curto prazo para a produção, o envolvimento da turma foi surpreendente, o que trouxe uma boa qualidade nas cenas propostas e nas imagens produzidas. A montagem do curta ficou a cargo da professora, e foi avaliada pela turma. Após algumas considerações, o vídeo foi finalizado e apresentado no concurso. Numa disputa entre turmas de todas as Escolas Municipais de BH, “Bloody Mary” ganhou o 4º lugar, um resultado bastante significativo. Sobre o desenvolvimento dessa atividade, Luanna comenta: “Fizemos uma ampla campanha na escola e nas casas, divulgando o filme, passando em salas, colando cartazes, etc. Minhas outras turmas se interessaram e quiseram fazer filmes também. E, por isso, fiz filmes nas outras turmas, como o 3º ano, que fez animações tradicionais, pixilation e outro filme de terror.” Luanna relata que a experiência com turmas de diferentes idades trouxe desafios e resultados diferentes, mas não menos importantes para a formação dos alunos: “com a turma do 7º ano, garotos entre 12 e 13 anos, a maioria portando celulares e câmeras, e já íntimos da indústria cultural e seus filmes de terror, o processo foi mais fluido. Mas com os do 5º ano (em média 10 anos de idade), mais habituados a assistir a desenhos animados, e sem muito contato com filmes de terror, foi necessária uma outra abordagem. Os alunos não conseguiram explorar a ideia de planos, ficando focados em plano sequência e câmera aberta e estática (como se fosse um teatro filmado). Com esse grupo tive que intervir mais, mas ao mesmo tempo quis manter a marca deles no filme”. 65 Ela aponta o que houve de inovador nesse processo: “começamos pelo fim, ou pelo que se espera que seja o fim de toda aula de Arte. Produzimos um filme e, somente após o filme pronto, estudamos alguns conceitos do cinema e da animação, fazendo uma animação bem básica (pra entender a ideia), e estudando os planos cinematográficos a partir do próprio filme que fizemos”. Outra consequência positiva foi o fortalecimento da relação entre alunos e professora, baseada no respeito mútuo e na ideia de colaboração. Além disso, a produção do filme se constituiu como um espaço de reflexão para os alunos. A experiência de se ver interpretando personagens na tela da TV, de enxergar-se e ser enxergado pelos colegas, levantou questões sobre visibilidade midiática e subjetividade. AVALIAR PARA APRENDER O trabalho de avaliação do processo foi realizado conjuntamente com os alunos. Para Luanna, “se não for feito junto com os alunos, o processo de avaliação não tem sentido. Para mim, o objetivo desse processo não é fazer uma classificação, taxação e consequente exclusão de ninguém. Nem mesmo um teste de aptidão a avaliação deve ser. A avaliação é reflexão e só faz sentido com autocrítica de todos, inclusive do professor. Foi minha primeira experiência como professora sozinha em sala de aula, e eu tive muitas autocríticas a fazer. Gostaria, por exemplo, de ser mais organizada em meus planejamentos. Mas, enquanto eu lutar para alcançar meus “eixos” acredito que estou no caminho certo.” 66 Conheça a experiência Assista o filme “Blood Mary” – 4º colocado no FEIMC, 2011– pelo link: http://www.youtube.com/watch?v=AvWolDcygo0 Faça contato! O e-mail de Luanna Grammont é [email protected]. 67 68 EDUCAÇÃO INTEGRADA SE FAZ COM ARTE, PLANEJAMENTO E DIÁLOGO USANDO O TEMPO A SEU FAVOR, DÓRIS FONSECA FORTALECE A AÇÃO DA ESCOLA INTEGRADA E ABRE ESPAÇO PARA A PARTICIPAÇÃO “ARTE NA ESCOLA é garantido por lei, abre visão para o futuro, promove autonomia e desenvolve a criatividade”. Dóris Fonseca, autora dessa frase, é professora comunitária há cinco anos, e coordena a equipe de educadores do Programa Escola Integrada (EI) na Escola Municipal Maria Silveira, localizada no Bairro São Bernardo, Regional Norte de Belo Horizonte. Em sua carreira como educadora, Dóris já havia lecionado Arte na mesma escola durante 10 anos, por acreditar na importância de tal linguagem para a aquisição de capacidades e habilidades fundamentais para a formação de indivíduos cidadãos, seja na sala de aula, seja na vida. A FORÇA DO PLANEJAMENTO Na sua experiência como coordenadora da EI na sua escola, a educadora identifica o planejamento como a principal característica do seu trabalho, e enfatiza a importância do cuidado da equipe de professores e monitores na concepção e realização das atividades. Como exemplo, Dóris cita o diagnóstico realizado todo final de ano: “é muito importante oferecer atividades com as quais os alunos se identifiquem. Por isso, realizamos anualmente pesquisas para saber quais são os interesses dos alunos. A partir dessa consulta, a equipe da EI seleciona os temas e áreas de trabalho, além de elaborar as atividades para o ano seguinte.” Na pesquisa, os alunos indicam sua preferência entre temas que vão desde música e teatro a comunicação e capoeira, e também podem se expressar sobre a qualidade do seu vínculo com o Programa Escola Integrada. Merece destaque a estratégia utilizada para despertar o interesse e a participação dos alunos. Segundo Dóris, as atividades se iniciam com uma 70 proposição instigante, sempre apresentando uma prática-relâmpago. Essa atividade é cronometrada pelo professor, respeitando o desenvolvimento dos alunos. O professor pode pedir que os alunos escrevam, desenhem ou pesquisem sobre o tema colocado em estudo. Sempre incentivando e valorizando os alunos. Esses desafios estimulam os alunos, que buscam cumprir as tarefas de forma mais rápida e completa. E servem também de estímulo inicial para um maior aprofundamento no tema trabalhado, o que potencializa os processos educativos e de construção de conhecimento. INTEGRAÇÃO CURRICULAR NA PRÁTICA Como coordenadora da EI, Dóris apoia e participa de projetos que associam o ensino regular a atividades de arte educação, incentivando a integração dos conteúdos do turno e do contraturno. Foi o caso da oficina de poesias, realizada na escola. Durante as aulas de informática, o monitor Genário Banfi buscou dialogar com as aulas de Português e Literatura, e apresentou para os alunos obras literárias de grandes autores nacionais, como Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Clarice Lispector e Cecília Meireles. Esta última foi escolhida como madrinha do livro “Poemas Contos e Prosas”, composto por poemas dos próprios alunos. “Foi uma atividade muito enriquecedora. Isso pode ser visto no produto final, de excelente qualidade”, comenta Dóris. Graças ao trabalho colaborativo desenvolvido pelo corpo escolar, a coletânea de poemas teve impressão em gráfica, com o livro sendo lançado em evento na escola. Naquele dia, os alunos-autores deram autógrafos nos livros, que foram distribuídos gratuitamente para todos os convidados. 71 Lançamento do livro “Poema Contos e Prosas”. Outro exemplo bem-sucedido de planejamento da EI é o projeto Intervenção Artística na Escola, desenvolvido desde o ano de 2010. O projeto foi desenvolvido no Curso de Grafite, área de constante interesse dos alunos. Para incrementar o potencial educativo do curso, o monitor Douglas Ricardo Neves Coelho apresentou aos alunos a história do grafite e proporcionou o contato com as técnicas e materiais específicos daquela arte. O interesse dos alunos pela atividade foi crescendo e culminou com a grafitagem dos muros da escola e postes da rua que levam aos locais das oficinas da EI. Segundo Dóris, “as aulas de história do grafite, estilo, técnica e materiais foram potencializadas pelas pesquisas feitas no laboratório de informática. Isso foi fundamental para que eles se sentissem seguros. Quando eles foram pintar os muros da escola, já sabiam o que estavam fazendo e o que queriam ver representado ali”. Ela ainda completa: “o bonito nesse trabalho foi que os vizinhos da escola elogiaram e pediram para fazer nos muros de suas casas. Assim, demos alguns passos no rumo da integração entre a escola e a comunidade”. DIÁLOGO COMO PRINCÍPIO INTEGRADOR Dóris não se vê como uma professora tradicional. Acredita que o diálogo direto a aproximou dos alunos e estabeleceu um vínculo que pressupõe respeito e cuidado. Mas nem sempre foi assim. Ela relata que, no princípio, o Programa Escola Integrada enfrentou muita resistência na escola. Atualmente, em razão do trabalho feito a partir do diálogo com alunos e colaboradores, o Programa conta com a adesão da comunidade escolar – professores, alunos e suas famílias. Ressalta ainda que, “apesar do cotidiano de violência na região, a participação e interesse foram surpreendentes. Todas as atividades realizadas contribuem para o engajamento da comunidade”. 73 O diálogo também está presente nos processos avaliativos dos projetos desenvolvidos pela EI, sob a coordenação de Dóris. Todos os alunos são incentivados a participar de conversas em que podem falar livremente sobre os aspectos positivos e negativos vivenciados durante a execução das atividades. Esse momento tem grande importância para a equipe, já que nele surgem novas ideias para o trabalho. Dessa forma, avalia Dóris, é possível realizar uma avaliação do trabalho sem fazer uso de métodos coercitivos ou punitivos. “O saldo de todos esses procedimentos baseados no diálogo é que conquistamos a confiança dos alunos. Todo o Programa ganha com isso. E os envolvidos ganham essa experiência para a vida”, conclui. RESULTADOS QUE CONFIRMAM Dóris comemora os resultados da pesquisa realizada pelo Instituto Itaú Cultural, que mostra que o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da Escola Municipal Maria Silveira cresceu e ultrapassou a meta que deveria ser alcançada apenas em 2017. A professora relaciona este desempenho, entre outros fatores, à implementação e ao bom desenvolvimento das atividades do Programa Escola Integrada. Em 2012, a equipe da EI promoveu visitas a espaços como: Grutas da Maquiné e Lapinha, Serra do Cipó e Instituto de Arte Contemporânea e Jardim Botânico Inhotim. Tais visitas foram realizadas considerando as diretrizes do Programa Escola Integrada, que preveem a constituição da cidade como espaço educador e a promoção da intersetorialidade. 74 Alunos em atividade durante a oficina de grafite. Faça contato! Você pode obter mais informações através do e-mail da Dóris: [email protected] ou pelos telefones da Escola Municipal Maria Silveira: (31) 3277-7406 ou 8872-5152. 75 LAZER E CONHECIMENTO REDES SOCIAIS E AS POSSIBILIDADES CRIATIVAS DE PROMOÇÃO DO APRENDIZADO SÃO O FOCO DO TRABALHO DA PROFESSORA JOARA MARIA 77 JOARA MARIA é professora de língua portuguesa na Escola Municipal Padre Henrique Brandão, Regional Oeste de Belo Horizonte, há dez meses. Além do trabalho como educadora, também é jornalista na Rádio Inconfidência, pela Secretaria de Estado de Cultura. Na emissora, possui um quadro, no ar há quase sete anos, chamado “Toponímia, Lugares e Origens”, em que conta histórias dos municípios mineiros. Em 2012, a professora desenvolveu com seus alunos um projeto de valorização da cultura africana. O objetivo foi produzir um dicionário afro-brasileiro com palavras trazidas pelos negros e que são utilizadas em nosso cotidiano. A ideia foi mostrar a interferência da cultura africana na brasileira e sua importância para a criação da identidade cultural do Brasil. DA IDEIA AO PLANEJAMENTO No final do último ano, foi realizada uma gincana olímpica com atividades esportivas e de conteúdo. Preparada por Joara e pela professora de educação física da mesma escola, Luiza dos Anjos, a gincana tinha como proposta ser um encerramento para o ano letivo, com a máxima participação de alunos – que, nos últimos tempos, não iam muito às aulas em tal período do ano. Depois de concebida a ideia, o momento era de colocá-la no papel. A preparação contou com a elaboração de um projeto que envolveu a direção da escola, a qual providenciou todo o material solicitado e mobilizou o restante do corpo docente para participar. O intuito era de que os professores de outras disciplinas elaborassem perguntas sobre o conteúdo escolar para que pudessem ser utilizadas ao longo dos dias da gincana. 78 Iniciou-se, então, o trabalho que Joara denominou como “pré-gincana”: foram sorteadas cores para cada turma da escola, que se tornaram equipes com direito a grito de guerra e mascote. AS SURPRESAS DO PROCESSO: MOBILIZAÇÃO E REDES SOCIAIS “Uma das partes mais interessantes foi presenciar como os alunos que não se interessavam por trabalhos em grupo começaram a se entrosar, desenvolver gritos de guerra criativos e elaborar roupas e acessórios para o mascote. A equipe verde criou frases como ‘Verde pimenta, a equipe que arrebenta!’ e a equipe laranja fantasiou um dos alunos da sala de ‘Super Cenoura’. Esta poderia ser uma atividade como qualquer outra já executada na escola, mas teve um fator inovador para os alunos e professores”, avalia Joara. É importante ressaltar também que, ao final de cada dia da gincana, a professora interagia com os alunos pelo Facebook. Ela conta que, pelo ambiente virtual, parabenizava os alunos pela excelente participação nas provas e já adiantava as atividades do dia seguinte. Para Joara é imprescindível que os professores se atualizem e busquem novas formas de estimular a participação dos alunos, que, no caso dela, foi a partir do uso das redes sociais. A professora conta que os alunos, ao final do ano letivo, se recusavam a entrar em sala porque já tinham realizado as provas finais e de recuperação. No entanto, com a realização da gincana, “tivemos uma semana produtiva, desenvolvemos uma atividade criativa e os interessados participavam das atividades”. Ela atribui o sucesso da ação ao ambiente virtual e lembra que antes os alunos iam para casa e ficavam durante a tarde navegando pelas redes 79 sociais, sem fazer uso consciente desse instrumento. Contudo, durante a semana da atividade, os diálogos e toda a interação foram relacionados ao que estava acontecendo na escola. A partir dessa experiência, Joara passou a entender o quanto é importante utilizar ferramentas que os próprios alunos gostem. “A internet tornou-se algo muito importante para os alunos. Precisamos entrar neste mundo e tentar fazer com eles participem de atividades educativas utilizando a ferramenta que eles tanto apreciam”, relata. Conheça a experiência Os diálogos realizados ao longo da gincana e outras atividades do terceiro trimestre de 2012 estão disponíveis no Facebook da professora: http://www.facebook.com/professorajoara.maria. Faça contato! O e-mail de Joara Maria é [email protected]. O telefone da Escola Municipal Escola Municipal Padre Henrique Brandão é (31) 3277-9161. 80 81 82