aproveitamento de resíduos da indústria de pisos de
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aproveitamento de resíduos da indústria de pisos de
X Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP – Rio Claro, SP. APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA DE PISOS DE MADEIRA NA FABRICAÇÃO DE INSTRUMENTOS PARA INICIAÇÃO MUSICAL Luiz Fernando Pereira Bispo, Adriana Maria Nolasco. Universidade de São Paulo (USP), Piracicaba (SP). INTRODUÇÃO Entende-se por resíduo o material descartado nas cadeias de produção e consumo que, por limitações tecnológicas, culturais ou de mercado, não apresentam valor de uso ou econômico. Quando manejado de forma inadequada, contribui para a geração de impactos negativos ao ambiente, como poluição do solo, do ar e degradação da paisagem (NOLASCO, 2000). Assim, é fundamental que se desenvolvam projetos de pesquisa que visem valorizar esses materiais, contribuindo para uma maior sustentabilidade nos sistemas produtivos, através do uso racional dos recursos e da redução dos impactos ambientais negativos. Entre os resíduos florestais, aqueles gerados pelo setor de processamento mecânico da madeira apresentam grande potencial de aproveitamento em pequenos objetos, pela facilidade de obtenção de matéria-prima de baixo custo, bem como pelo pequeno investimento em capacitação e melhoria tecnológica. Nas indústrias de esquadrias no município de Tietê-SP, por exemplo, cerca de 46% da matéria-prima resulta em resíduos após o processamento. São peças de dimensões suficientes para produção de uma série de objetos. A valorização dos resíduos madeireiros permite sua transformação em novos produtos, agregando valor à cadeia produtiva. Isso gera, ainda, benefícios sociais pela possibilidade de fomentar novos negócios locais, com geração de postos de trabalho e renda, e benefícios ambientais pela destinação adequada do material. Este estudo trata da avaliação do potencial de aproveitamento de resíduos madeireiros de espécies nativas na produção de instrumentos musicais, no caso, xilofone. Trata-se de um instrumento composto por caixa acústica e barras fixas ou móveis, pertence à classe dos instrumentos de percussão e é utilizado principalmente em formações orquestrais desde o século XIX, no jazz e na música latina. No Brasil, tem sido bastante utilizado no ensino de música em escolas públicas e privadas. Dessa forma, a tecnológica arte de construir instrumentos musicais pode contribuir para o aproveitamento dos resíduos gerados pela indústria madeireira, valorizando o potencial desse resíduo. Poderá também favorecer o acesso dos músicos e estudantes de música do país a bons instrumentos musicais, na medida em que sejam feitos a partir de matéria-prima que seria descartada, tornando reduzido o custo do produto final, se comparado aos produtos presentes no mercado. O estudo do potencial do resíduo madeireiro na construção de instrumentos musicais abre uma nova linha de pesquisa, que pode ter continuidade com o estudo de outros instrumentos. MÉTODOS O estudo está sendo realizado com resíduos madeireiros provenientes de uma indústria de pisos de madeira do município de Tietê – SP. O município está localizado a uma latitude 23º06'07" sul e a uma longitude 47º42'53" oeste, altitude média de 508 m e temperatura média anual de 20 a 25ºC. Caracteriza-se como um pólo industrial madeireiro de fabricação de componentes para a construção civil no estado de São Paulo. Através de levantamento bibliográfico e entrevista com profissionais ligados à construção e execução de xilofones, foi identificado que a espécie tradicionalmente utilizada é o Jacarandá de Honduras (Dalbergia stevensonii), e os requisitos tecnológicos desejados em relação à madeira para construção SemEAr, v.1, n.1, p. 47-49, Set./ 2013. X Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP – Rio Claro, SP. de instrumentos com boa qualidade sonora. Foram selecionadas as espécies com propriedades físicas e mecânicas correspondentes aos parâmetros estabelecidos para a madeira de referência atualmente para construção de xilofone. No momento, as amostras de resíduos de cada espécie selecionada estão sendo utilizadas na construção dos protótipos; analisadas suas propriedades físicas e mecânicas; e, posteriormente, serão ensaiados quanto a qualidade sonora após construção de todos os protótipos. Os primeiros instrumentos foram construídos com resíduos de roxinho (Peltoggyne ssp) e eucalipto (Eucalyptus grandis). A identificação dos resíduos com potencial de aproveitamento foi realizada através de observação “in loco” e entrevista com os funcionários de cada setor da indústria. Os protótipos estão sendo construídos a partir de especificações técnicas levantadas através de pesquisa bibliográfica e da análise de alguns instrumentos aos quais a equipe teve acesso até o momento. Optou-se, inicialmente, por um modelo bastante simples e a complexidade será aumentada, posteriormente, após seleção das espécies com maior potencial e maior domínio técnico sobre as formas de construção do instrumento. Os instrumentos estão sendo avaliados por músicos percussionistas da Escola de Música de Piracicaba – SP, de nível profissional e superior. RESULTADOS E DISCUSSÃO Das espécies mais utilizadas na fabricação de pisos de madeira a cabreúva, o cumaru, o ipê, o jatobá, o roxinho e a sucupira apresentam propriedades físicas e mecânicas similares ao jacarandá de Honduras e terão seus resíduos utilizados na construção de protótipos. Como base de comparação, também foi construído um protótipo com espécie de densidade um pouco mais baixa, no caso com Eucalyptus grandis. Os resíduos identificados como adequados para o aproveitamento na fabricação de xilofones, em função das suas dimensões, são aqueles provenientes das etapas de pré-preparo da madeira/produção da modulação S4S e do controle de qualidade dos produtos acabados (Figura 1). Quanto às dimensões, os resíduos apresentam bastante variação no comprimento (de 10 cm até cerca de 1 m), largura (de 4 cm até cerca de 20 cm) e espessura (de 2cm até 4 cm). Os testes iniciais da qualidade dos instrumentos ainda são subjetivos, baseados na experiência e parâmetros dos músicos. Os resultados parciais indicam que a espécie de maior densidade e dureza (o roxinho) produz som mais agudo e agradável; enquanto que a de menor densidade e dureza (o eucalipto) produz som mais grave, porém também agradável. O modelo simples, de mesa, foi considerado adequado ao ensino de iniciação musical e confortável para o músico, pois permite sua colocação em alturas diferentes (mesas ou suportes) atendendo diferentes faixas etárias (Figura 2). Figura 1. Resíduos de diferentes dimensões resultantes da fabricação de pisos de madeira SemEAr, v.1, n.1, p. 47-49, Set./ 2013. X Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP – Rio Claro, SP. Figura 2. Xilofone (protótipo) fabricado com resíduo de roxinho CONSIDERAÇÕES FINAIS Músicos profissionais especialistas em percussão, estão realizando os testes iniciais quanto à qualidade sonora dos xilofones, bem como seu conforto de execução, aspectos fundamentais a serem observados na escolha de um bom instrumento. Posteriormente, o projeto prevê a disseminação da tecnologia através de cursos de capacitação para fabricação dos xilofones a partir de resíduos industriais e o incentivo a formação de um grupo instrumental de jovens ou crianças na universidade, com o apoio da Comissão de Cultura e Extensão Universitária, e/ou através de parceria com Escolas de Música, como forma de divulgar a solução. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO S.A. Divisão de Madeiras. Madeiras brasileiras para instrumentos musicais. São Paulo, 1985. NOLASCO, A. M. Resíduos da colheira e beneficiamento da caixeta – Tabebuia cassinoides (Lam.) DC.: caracterização e perspectivas. 2000. 171p. Tese (Doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2000. SemEAr, v.1, n.1, p. 47-49, Set./ 2013.