Estado de Minas

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Estado de Minas
E STA D O D E M I N A S
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S E G U N D A - F E I R A ,
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CULTURA
❚ VEM QUE TEM
Simoninha honra o nome da família e segue apostando no suingue herdado do pai, Wilson
Simonal. O samba é um dos ritmos mais presentes no novo disco do artista, Alta fidelidade
NO CLUBE DO
EDUARDO TRISTÃO GIRÃO
Wilson Simoninha sempre
andou ocupado. Trabalhou
com o pai, Wilson Simonal, e
Jorge Ben; produziu edições dos
festivais Free Jazz e Hollywood
Rock; foi diretor artístico da gravadora Trama e participou de
vários projetos especiais, o último deles dedicado a Simonal.
Essa última tarefa lhe tomou
nada menos que cinco anos,
atrasando o lançamento de seu
quinto disco, Alta fidelidade,
que acaba de chegar à praça.
“Fiquei aflito com essa demora”, conta Simoninha. “Queria um trabalho autoral e estava
difícil de achar o mote, de achar
o que eu queria dizer. Para mim,
o disco precisa contar uma história. Curto essa coisa de conceituar um álbum, mesmo que as
pessoas o escutem como singles. Quis algo despretensioso,
mas benfeito. Bem alto-astral e
meio Rio de Janeiro, meio São
Paulo, tanto que o disco foi feito entre as duas cidades.”
REENCONTROS Nessas idas e
vindas, Simoninha reencontrou
amigos que ajudaram a construir o repertório, formado por
12 canções, a maioria dele (sozinho ou com parceiros) e uma de
Jair Oliveira (Falso amor) – que
reaparece ao final, remixada.
Com Mu Chebabi, por exemplo,
escreveu Quebra e Nós dois, enquanto Bernardo Vilhena, com
quem não compunha há anos,
assina com ele Pois é, poeira.
“Bernardo me disse que queria
voltar a fazer samba, pois acabou ficando marcado pelo rock
e pop”, explica.
Também são parceiros em
Alta fidelidade João Sabiá (Meninas do Leblon), Edu Krieger
(Morena rara) e João Marcello
Bôscoli (Quando, com Marcelo Lima), além de Carlos Rennó, em Paixão (Meu Time). A
maioria das faixas é inédita
e foi composta recentemente, sendo uma das exceções Distraído, que o artista já havia tentado encaixar em repertórios anteriores e até então mantinha na gaveta. “A unidade
do disco está no fato de serem minhas as canções, e
olha que tive três mixadores
trabalhando sem ouvir um
ao outro”, diz.
O balanço, característica
bem presente neste trabalho, é algo muito
importante na música que compõe,
afirma o artista.
“Eu quis descontração,
que as pessoas sentissem isso ao
ouvir as músicas no carro, no telefone, no computador”, observa. Entre os
artistas que tem
escutado e que
acabam servindo
de referência estão
Adele, Marvin Gaye, o
duo de Kanye West
com Jay-Z e, mais recentemente, o cantor de jazz Gregory Porter, pelo
qual se encantou no
meio das gravações de
Alta fidelidade.
BALANÇO
TUDO CERTINHO
KIKO FERREIRA
Para Simoninha,
todo disco precisa
contar uma história
Assim como o chamado BRock e o
Rock in Rio
deram um
impulso técnico e uma
atualizada de
timbres numa música
brasileira comercial dos anos 1980 que andava
com sonoridades desgastadas e
discursos repetitivos, o grupo Artistas Reunidos e, na sequência, a
gravadora Trama atualizaram os
parâmetros para o século 21.
Lançados em 2000, o Sambararo,deMaxdeCastro,eoVolume 2,
de Simoninha, revelaram garotos
que tratavam estúdios, mesas de
som e programas de computador
com intimidade. Filhos do rei do
suingue,WilsonSimonal,estavam
longe de usar essa tecnologia com
frieza.Eainda,aoladodeJoãoMarceloBôscoli,Jairzinho,LucianaMello, Pedro Mariano e uma turma
que só crescia, traziam um jeito
elegante e desencanado de tratar a
indústria. A turma foi também
pioneiranadisponibilizaçãodefonogramas na internet, chegando a
mais de 200 mil músicas de quase
80 mil artistas, nos 10 anos do site
Trama Virtual, que sai do ar deixando saudades.
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Quinto álbum de Simoninha,
Altafidelidademantémoníveltécnico e a postura coerente com o
restante da carreira. A direção segura do artista, a produção que dividecomAlexMoreiraeBrunoBona, a masterização feita em Nova
YorkporTomCoyne,oprojetográfico sóbrio e elegante... Tudo bem
colocado, sem ressalvas.
Mas num tempo de rapidez de
avaliação, em que nem sempre se
ouve um disco inteiro, por mais
bem concatenadas que estejam as
ideias, é fundamental ter um hit,
umamúsicaquepeguelogodecara. Apesar de candidatas com algumfôlego,comoosbonssambas
Pois é, poeira e Morena rara, o remix de Falso amor e de Nós dois,
nenhum tema conquista de imediato,nocalordaprimeiraaudição.
Talvez seja um disco de maturidade, e exija a paciência da repetição,
da busca de detalhes, da conquista
gradativa. Se for essa a proposta,
tudo certo. Alta fidelidade.
NA INTERNET
OUÇA
As faixas do disco
Alta fidelidade
PAULO LACERDA/DIVULGAÇÃO
RAFAEL KENT/DIVULGAÇÃO
INTERCÂMBIO
Trocando experiências
A Big Band Palácio das Artes terá como regente Marcelo Ramos
ANA CLARA BRANT
Pela primeira vez, a Big Band
PaláciodasArtesvaidividiropalco
com outra formação do gênero. O
convidado é um dos principais
grupos universitários de jazz dos
EstadosUnidos,oSynthesis,eoencontroinéditoseráhojeànoite,no
Grande Teatro do Palácio.
Mais do que promover o intercâmbio entre as duas bandas, que
têm vivências distintas de um
mesmo estilo musical, o jazz, a
apresentação vai possibilitar o desenvolvimento técnico dos artistas. “Recebemos aqui a Synthesis
Big Band há algum tempo e desde
entãoqueríamosfazerumconcertocomelaparahaveressatrocade
experiênciasemtodososaspectos.
É extremamente positiva essa vivência e ainda ter contato com
uma sonoridade diferente. Fora
que é a primeira vez que realizamos um intercâmbio assim, que
dividimosopalcocomumabanda
deumauniversidadeestrangeira”,
justificaocubanoNestorLombida,
maestro e arranjador da Big Band
Palácio das Artes.
Ao todo, estarão no palco cerca
de 40 músicos. Quem abre a noite
é o grupo mineiro, que vai execu-
tar sete obras, como Daquilo que
eu sei, de Ivan Lins, com a regência
do maestro titular da Orquestra
SinfônicadeMinasGerais,Marcelo
Ramos. A apresentação também
vaicontarcomaparticipaçãoespecialdacantoraconvidadaChonTai
Yeung, da Happy Feet Jazz Band,
em Don’t get around much anymore /In a sentimental mood, de
Duke Ellington.
Em seguida, a Big Band Synthesisfazareleiturademúsicasconhecidasdograndepúblicocomarranjojazzístico.Omaestroearranjador
norte-americano Ray Smith dirige
ogrupoamericanoemobrascomo
West side story,Can’tbuymelovee
a versão em inglês de Garota de
Ipanema. “O repertório deles tem
canções brasileiras também. E vamos apresentar algumas músicas
em conjunto. Vai ser interessante
essa mistura, e tenho certeza de
queoresultadosonorovaiagradar
a todos”, anseia Lombida, que tem
a intenção ainda de reunir as três
big bands de Belo Horizonte em
um único concerto.
BIG BAND PALÁCIO DAS ARTES
E SYNTHESIS BIG BAND
Hoje, às 20h30, no Grande Teatro do Palácio
das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro).
Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada). Informações: (31) 3236-7400.
OS CONVIDADOS
Criada na Escola de Música da Brigham Young University, em Utah (EUA),
a Synthesis Big Band soma mais de 40 anos e já passou por 17 países.
Em sua primeira visita ao Brasil, vai se apresentar em São Paulo, Rio
de Janeiro, Paraty e Niterói. O maestro Ray Smith é doutor em música
e já gravou com os artistas Kurt Bestor, Johnny Mathis e The Supremes.

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