Volume 4, Número 1

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Volume 4, Número 1
PESQUISA AGROPECUÁRIA GAÚCHA
ISSN 0104- 9070
Volume 4
Número 1
CONTEÚDO
1998
Página
SEÇÃO: VETERINÁRIA
- Nefrose Iatrogênica em leitões. BARCELLOS, D.E.S.N. de; BOROWSKI, S.M.;
RODRIGUES, N.C.; FALLAVENA, L.C.B.; MADRUGA, G
- Epidermite exsudativa cm reprodutoras signas. BARCELLOS, D.E.S.N. de;
BOROWSKI, S.M.; STEPAN, A.L.; RODRIGUES, N.C.
- Sensibilidade a antimicrobianos de amostras de Pasteurella multocida isoladas de suínos com pleurite. STEPAN, A.L., BARCELLOS, D.E.S.N. de ; BOROWSKI, S.M.
- Influência do uso de aspersões com desinfetante sobre a ocorrência de tosse e espirros
em suínos de terminação. BARCELLOS, D.E.S.N. de, BOROWSKI, S.M.,WALD,
V.
- Ocorrência de anticorpos contra Toxoplasma gondii em ovinos no município de Livramento, RS: prevalência e implicações epidemiológicas. MARTINS, I.R.; HANCOCK,
R.; LIMA CORRÊA, B.; CERESÉR, V.H.
- Hiperostose congênita em leitões no Rio Grande do Sul. FALLAVENA, L.C.B.;
BARCELLOS, D.E.S.N. de; RODRIGUES, N.C.; BOROWSKI, S.M.
- Papilomatose cutânea em suínos no Rio Grande do Sul. FALLAVENA, L.C.B ;
RODRIGUES, N.C.; BARCELLOS, D.E.S.N. de
- Anticorpos contra o vírus da Lcucose Bovina em animais da raça leiteira importados do
Uruguai. BRAGA, A. de C.; ROSA, J.C. de A.; OLIVEIRA, L.G.; RECKZIEGEL,
P.E.; TEIXEIRA, J.C.F.; LISBOA, C.S.
- Persistência de reações sorológicas em búfalas (Bubalus bubalis) vacinadas com Brucella
abortus amostra 19. POESTER, F.P.; RECKZIEGEL, P.E.
- Influência do polimorfismo da hemoglobina na resistência natural à verminose em ovinos da raça Corriedale. CHIMINAZZO, C.; RIBEIRO, L.A.O.; WEIMER, T. de A.
- Correlação entre os tipos de hemoglobina e a performance produtiva em ovinos
Corriedale. CHIMINAZZO, C.; RIBEIRO, L.A.O.; WEIMER, T. de A
- A erradicação da Febre Aftosa no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. PRADO, J.A.P ;
PETZHOLD, S.A.; RECKZIEGEL, P.E.; TEIXEIRA, J.C.F.
- Diferenças em níveis de anticorpos neutralizantes contra Herpesvírus Bovinos tipos 1
(BHV-1) e 5 (BHV-5). TEIXEIRA, M.F.B.; ESTEVES, P.A.; COELHO, C.S.S.;
SILVA, T.C. da ; OLIVEIRA, L.G.; ROEHE, P.M.
- Anticorpos monoclonais contra o Herpesvírus Bovino tipo 5 (BHV-5). ALMEIDA,
R.S. de; MELO, S.V. de; SILVA, T.C. da ; OLIVEIRA, L.G.; LEMOS, R.A.A.;
ROEHE, P.M.
- Avaliação da relação antigênica e imunogênica entre amostras de campo e amostras
vacinais do vírus da doença infecciosa bursal, através do "Westem Blotting".
MORAES, H.L. de S.; SALLE, C.T.P.; NASCIMENTO, V.P. do
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PESQUISA AGROPECUÁRIA GAÚCHA
ISSN 0104 - 9070
Volume 4
1998
CONTENTS
Number 1
Page
SECTION: VETERINARY
- Iatrogenic Nephrosis in piglets. BARCELLOS, D.E.S.N. de; BOROWSKI, S.M.;
RODRIGUES, N.C.; FALLAVENA, L.C.B.; MADRUGA, G
11
- Clinicai characteristics of exsudative epidermitis in sows. BARCELLOS, D.E. S.N. de;
BOROWSKI, S.M.; STEPAN, A.L.; RODRIGUES, N.C.
15
- Antimicrobial sensitivity of Pasteurella multocida strains isolated from pleuritis in pigs.
STEPAN, A.L., BARCELLOS, D.E.S.N. de; BOROWSKI, S.M.
19
- Influence of spraying with disinfectants on some clinical indexes in pig production.
BARCELLOS, D.E.S.N. de, BOROWSKI, S.M., WALD, V.
23
- Occurence of antibodies to Toxoplasma gondü in flocks of sheep in the district of Livramento, RS: prevalence and epidemiological implication. MARTINS, J.R.; HANCOCK,
R.; LIMA CORRÊA, B.; CERESÉR, V.H
27
- Congenital hyperostosis in piglets in the State of Rio Grande do Sul. FALLAVENA,
L.C.B.; BARCELLOS, D.E.S.N. de; RODRIGUES, N.C.; BOROWSKI, S.M
31
- Cutaneous papillomatosis in pigs. FALLAVENA, L.C.B.; RODRIGUES, N.C ;
BARCELLOS, D.E.S.N. de
33
- Presence of antibodies against bovine leukemia vírus in dairy cattle imported from
Uruguay. BRAGA, A. de C.; ROSA, J.C. de A.; OLIVEIRA, L.G.; RECKZIEGEL,
RE.; TEIXEIRA, J.C.F.; LISBOA, C.S.
35
- Persistent serological reactions in buffalo heifers (Bubalus bubalis) vaccinated with
Brucella abortus strain 19. POESTER, F.P.; RECKZIEGEL, P.E
39
- Relationships between hemoglobin types and natural resistence to nematode parasites in
Corriedale sheep. CHIMINAZZO C • RIBEIRO, L.A.O.; WEIMER, T. de A.
43
- The relationship between hemoglobin types and productive performance in Corriedale
sheep. CHIMINAZZO, C.; RIBEIRO, L.A.O.; WEIMER, T. de A
49
- Foot-and-Mouth disease erradication in the State of Rio Grande do Sul, Brazil. PRADO,
J.A.P.; PETZHOLD, S.A.; RECKZIEGEL, P.E.; TEIXEIRA, J.C.F.
55
- Differences in neutralizing antibody leveis to Bovine Herpesviruses types 1 (BHV-1)
and 5 (BHV-5). TEIXEIRA, M.F.B.; ESTEVES, P.A.; COELHO, C.S.S.; SILVA, T.C.
da ; OLIVEIRA, L.G.; ROEHE, P.M.
61
- Monoclonal antibodies to Bovine Herpesvirus type 5 (BHV-5). ALMEIDA, R.S. de;
MELO, S.V. de; SILVA, T.C. de; OLIVEIRA, L.G.; LEMOS, R.A.A.; ROEHE, P.M.
67
- Antigenic and immunogenic relationship between field and vaccinal samples of the
infectious bursal disease: a comparative study. MORAES, H.L. de S.; SALLE, C.T.P.;
NASCIMENTO, V.P. do
73
SEÇÃO: VETERINÁRIA
NEFROSE IATROGÊNICA EM LEITÕES
DAVID E.S.N. de BARCELLOS', SANDRA M. BOROWSKP, NORMA C. RODRIGUES', LUIZ C.B. FALLAVENA 3,
GERSON MADRUGA'
RESUMO — O presente relato apresenta as principais características clínicas e patológicas de um surto de doença cursando
com alta mortalidade, afetando leitões submetidos ao regime de desmame precoce, ocorrido no período imediatamente posterior
ao desmame. Os sintomas presentes foram de diarréia, com sintomatologia nervosa antecedendo a morte. Na necropsia, as
lesões mais marcantes foram no intestino (enterite) e rins (se apresentavam pálidos e aumentados de volume). O resultado dos
exames histopatológicos e o histórico do uso de injeções de um produto aminoglicosídeo (sulfato de gentamicina) numa
dosagem aproximadamente três vezes superior à recomendada, permitiu o diagnóstico de nefrose iatrogênica. A idadeprecoce
dos animais afetados e a desidratação provocada pela diarréia seriam fatores predisponentes ao problema.
Palavras-chave: Suíno, intoxicação,
nefrosc, gcntamicina.
IATROGENIC NEPHROSIS IN PIGLETS
ABSTRACT — In the present report, we describe the main clinicai and pathological characteristics of a disease with high
mortality, affecting early-weaned piglets. The symptoms were diarrhoca and nervous symptoms preceding death. At post
=tilem examination, the main lesions were observed in the intestinal tract (enteritis) and kidneys (pale and swollen). The
resulta of histopathological examination and the use of injections of an arninoglycoside product (gentamicin) in a dosage
about three times above recommended leveis suggested a diagnosis of iatrogenic nephrosis. The early age of affected animais
and the sevem debydration caused by diarrhoea could be interpreted as predisposing factos.
Key words:
Pigs, Intoxication, Nephrosis, Gentamicin.
INTRODUÇÃO
O uso de antibióticos aminoglicosídeos na terapêutica em suinocultora deve ser efetuado com cautela. Se de
um lado as drogas desse grupo apreseatam potente ação
terapêutica e atividade bactericida de amplo espectro, de
outro possuem um potencial tóxico muito significativo.
Esse manifesta-se .por três síndromes primários:
nefrotoxicose, danos ao 8 ° par de nervos cranianos e bloqueio neuromuscular (THOMSON, 1990). Entre esses efeitos, o dano ao parênquima renal é o mais comum e severo
e a gentamicina é a que apresenta maior neftutoxicidade
entre as drogas do grupo (CONZELMAN, 1980).
A gentamicina danifica os tríbulos proximais, reversível ou irreversivelmente, dependendo de fatores como
dose e duração da exposição. A idade do animal também
exerce influência, pois em algumas espécies (cães e
eqüinos), a sensibilidade é maior nos jovens. Outros fatores capazes de aumentar a suscetibilidade à intoxicação
incluem a desidratação (como se verifica nos casos de diarréia) e a insuficiência cardíaca congestiva (BENITZ,
1984).
1. MM. Vet., M.Sc. Professor da Faculdade de Veterintirla da UFRGS e FFFCMPA, Av. Bento Gonçalves 9090, 95140-000 Porto Alegre — RS/BRASIL.
2. Méd. Vet., M.Sc. FEPAGRO/Centro de Pesquisas Veterintlxia Desidério Plasmar, e FFFCMPA, Caixa Postal 2076, 90001-970 Porto Alegre — RS/BRASIL.
3. MM. Vet., M.Sc. — FEPAGRO/Centro de Pesquisas Vetai doia Desidério Ft namor, e ULBRA, Porto Alegre — RSIBRASIL
4. MM. Ver. — Pelotas — RS/BRASIL
Recebido para publicaçâo em 25/11/1997.
PESQ. ACROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 11-13, 1998
11
DAVID E.S.N. de BARCELLOS, SANDRA M. BOROWSKL NORMA C. RODRIGUES, LUIZ C.D. FALLAVENA, GERSON MADRUGA
Em ratos, efeitos clínicos evidentes podem ser observados por exposição a doses moderadas da droga
(20,0 mg/kg) por sete a dez dias (RIVIERE e COPPOC,
1981). O quadro de intoxicação inicia-se com o acúmulo
da droga no parênquima renal, isso sendo facilitado pelo
fato de que 90% da mesma é eliminada por filtração
renal. A partir daí, ocorre dano aos túbulos contorcidos
proximais e, secundariamente, lesão intersticial. Os locais de ligação do antibiótico são os fosfolipídeos da
membrana celular do epitélio dos túbulos contorcidtis
proximais. O mecanismo exato da lesão é pouco claro,
aparentemente envolvendo alterações na estabilidade das
membranas dos lisosomas e inibição intracelular de
fosfolipídeos (THOMSON, 1990).
Em uma revisão da bibliografia disponível sobre
a farmacoterapêutica da gentamicina, não foram encontradas referências relativas à suscetibilidade ou doses
tóxicas para suínos.
O presente relato apresenta as características de
caso clínico de nefrose consecutiva à injeção de doses
anormalmente elevadas de um produto aminoglicosídeo
(gentamicina), usada para tratar leitões com diarréia em
granja no Estado do Rio Grande do Sul.
DESCRIÇÃO DO CASO
O problema ocorreu numa creche de sistema de
criação de desmame precoce. Os animais foam recebidos nesse local após o desmame, sendo esse último realizado entre oito a dez dias de idade. As creches eram
de piso compacto, com presença de estrutura semifechada (escamoteador) na área frontal.
A mortalidade dos leitões •lhavia aumentado na época fria do ano (julho). Os sintomas- mais relevantes foram de diarréia e, pelo exame de materiais remetidos ao
• laboratório nessa ocasião, foi obtido um diagnóstico de
colibacilose. A amostra isolada foi sensível à combinação sulfa/trimetoprim. A medicação dos leitões no início da apresentação dos sintomas com esse
antibacteriano mostrou-se eficiente por um período curto
de tempo. A partir daí, progressivamente, notou-se um
recrudescimento da mortalidade. Suspeitou-se da influência do frio em predispor às infecções intestinais que
estavam ocorrendo na granja, sendo providenciado reforço de aquecimento e colocação de camada espessa
de maravalha na área frontal das baias. Apesar dessas
medidas, o problema continuou se agravando. Passouse então à medicação com injeções de sulfato de
gentamicina (aproximadamente 20,0 mg/kg, por via
subcutânea, por três dias); a situação continuou piorando. Na semana da coleta dos materiais para os exames
laboratoriais, o quadro havia atingido particular gravidade. Dos 52 leitões pertencentes ao último lote chegado às creches, 51 morreram. Os sinais clínicos iniciavam entre o 2 ° ou 3° dias após a transferência dos lei12
Iões e consistiam de diarréia aquosa, em alguns casos
com características hemorrágicas. Nos dias subseqüentes ao início da diarréia, os leitões mostravam-se apáticos, recusando-se ou apresentando dificuldades em se
alimentar, sendo freqüente o aparecimento de vômito.
Na fase terminal, alguns leitões apresentavam sintomas
de incoordenação motora e, com menor freqüência,
outros sinais nervosos. Não foi possível relacionar a
alimentação (leite em pó diluído) com as diarréias. Numa
consulta ao fabricante do leite em pó em uso, não constava que o produto estivesse causando problemas, pois
foi vendido também para o consumo humano.
Foram remetidos ao laboratório cinco leitões para
a realização de necropsia e coleta de materiais para exames bacteriológico e histopatológico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As lesões mais consistentes observadas à necropsia
foram de desidratação, gastrite, enterite catarral e presença de conteúdo líquido nos intestinos delgado e grosso. Em alguns casos constatou-se áreas hemorrágicas
no jejuno. Os rins estavam discretamente aumentados
de volume e exibiam a superfície pálida .
O exame bacteriológico do conteúdo intestinal
mostrou, em todos os casos, crescimento significativo
de Esclzerichia
enterotoxigênica. O antibiograma revelou resistência à gentamicina, danofloxacina,
ácido oxolínico, apramicina e cloranfenicol, e sensibilidade à colistina.
O exame histopatológico mostrou nos rins, hemorragias focais, áreas de fibroplasia intersticial, presença
de cilindros hialinos, dilatação dos túbulos contorcidos
distais e alterações nos túbulos contorcidos proximais,
que variavam de lesões degenerativas a necróticas. O
epitélio dos túbulos contorcidos proximais mostrava
aspecto granular e intensa eosinofilia. Foram observadas também lesões de enterite, gastrite e congestão cerebral.
O quadro descrito parece indicar que o problema
central tenha sido uma infecção por E. coli, responsável pelos sinais de diarréia que ocorriam a partir do 2°
dia após a chegada na granja. O frio prevalente nessa
época do ano, aliado ao estresse do transporte e à perda
de anticorpos que foram veiculados passivamente pelo
leite da porca seriam fatores predisponentes. A amostra
batteriana isolada seria extremamente virulenta, além
das alterações secretárias comuns à colibacilose nessa
idade, seria provável que estivesse ocorrendo um ataque às vilosidades intestinais (mecanismo
entoropatogênico). Isso explicaria a grande congestão e
hemorragia presentes em alguns casos. Alternativamente, as lesões de gastrite e hemorragia intestinal poderiam ser explicadas pela uremia, conseqüente à disfunção
renal grave (como a presente no caso atual). A amostra
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 11-13, 1998
NEFROSE IATROCÊNI CA EM LEITÕES
era resistente à gentamicina, daí a falta de resposta ao
tratamento. A dose de gentamicina usada (20,0 mg/kg)
era aproximadamente três vezes superior à recomendada para a terapêutica usual de leitões (que se situa entre
5,0 a 8,0 mg/kg) (3). A desidratação dos mesmos poderia estar contribuindo ao quadro de intoxicação.
Pela inexistência de dados sobre os níveis capazes
de intoxicar suínos, a hipótese de intoxicação não pode
ser totalmente comprovada, embora as lesões
histopatológicas tenham sido semelhantes às descritas
na literatura em casos de intoxicação por gentamicina
em outras espécies (RIVIERE e COPPOC, 1981;
THOMSON, 1990). Cabe também ressaltar as condições
especiais em que ocorreu o problema, em leitões desmamados em idade muito precoce, injeção da droga em doses aproximadamente 3 vezes superiores à preconizada e
ocorrência simultáiwa de desidratação. Estudos de intoxicação experimental em leitões poderiam contribuir para
uma melhor compreensão desse tipo de patologia.
CONCLUSÕES
da a possibilidade da intoxicação por aminoglicosídeos. Esse tipo de suspeita merece especial consideração,
no caso de serem detectadas lesões renais macroscópicas e microscópicas, associadas a quadro de desidratação.
BIBLIOGRAFIA CITADA
BENITZ, A.M. Future dcvclopments in the aminoglycosidc
group of antimicrobial drugs. Journal iaf the American
Veterinary Medical Association, Schaumburg, v.185,
n.10, p.1118-1123, 1984.
Pharmacotherapeutics of
CONZELMAN, G.M.
Aminoglycoside antibiotics. Journal of the American
Veterinary Medical Association, Schaumburg, v. 176,
n.10, p. 1078-1080,1980.
RIVIERE,
COPPOC, G .L. Selected aspects of
aminoglycoside antibiotic ncphrotoxicosis. Journal of
the American Veterinary Medical Association,
Schaumburg, v.178, n.5, p. 508- 509,1981.
No diagnóstico diferencial das causas de mortalidade em leitões recém- desmamados deve ser considera-
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p 11-13, 1998
THOMSON, R. Patologia Veterinária Especial. São Paulo:
Manole, 1990. 753 p.
13
EPIDERMITE EXSUDATIVA EM REPRODUTORAS SUÍNAS
DAVID E. S. N. de BARCELLOS', SANDRA M. BOROWSKI2, ANA LÚCIA STEPAN', NORMA C. RODRIGUES'
RESUMO — No presente relato, são descritas as características clínicas e patológicas de caso de epidermite exsudativa em
porcas adultas. A apresentação da doença em animais dessa idade é muito rara, existindo poucos relatos de condições
semelhantes na literatura. As características lesionais encontradas diferiram significativamente de alguns registros anteriores.
Palavras- chave: Suíno, doença, pele, epidermite exsudativa, Staphylococcus hyicus.
CLINICAL CHARACTERISTICS OF EXSUDATIVE EPIDERMITIS IN SOWS
ABSTRACT — In the present report, we describe the clinical and pathological characteristics of exsudative epidermitis in
sows. Reports of this disease in adult pigs are rare; there are very few publications of similar cases. The lesions observed in
the affected animais were substantially different from previous reporta
Key words: Skin diseases of pigs, exsudative epidermitis, Staphylococcus hyicus.
INTRODUÇÃO
Uma forma de dermatite seborréica generalizada
de leitões de maternidade é conhecida como Epidermite
Exsudativa ou Eczema Úmido. Ocorre com maior freqüência em animais com 2 a 4 semanas de idade, numa
forma clínica que se caracteriza por lesões cutâneas generalizadas e com menor freqüência, por lesões renais.
No Brasil, a primeira descrição foi de WENTZ e
MEINCKE (1975). Posteriormente, BARCELLOS et
al. (1975) isolaram o agente (Staphylococcus hyicus) e
reproduziram pela primeira vez a doença no nosso meio.
O agente é um coco Gram positivo que faz parte da
flora normal da pele dos suínos, e são considerados como
fatores importantes ao desencadeamento do quadro clínico•a presença de ambiente contaminado com a bactéria e uma solução de continuidade na pele do leitão
(PENNY,1981).
Além dessa forma generalizada em leitões
lactentes, um outro tipo de apresentação menos freqüente é uma infecção que ocorre nas primeiras semanas que se seguem ao desmame. As lesões presentes são crostosas e circulares, localizadas predominantemente na cabeça e flancos. Um fator
predisponente importante nessa forma de apresentação são os ferimentos conseqüentes às brigas entre os leitões, na fase de adaptação à creche. As características detalhadas de um surto desse tipo no
nosso meio foram descritas por BARCELLOS et al.
(1989).
Um terceiro tipo de apresentação da epidermite
exsudativa é a infecção em animais adultos. Registros
desse tipo de infecção são muito raros. TAYLOR (1993)
afirma que nessa idade a doença varia em severidade,
ocorrendo como lesões localizadas na parte externa dos
membros posteriores ou no flanco. As lesões presentes
são áreas de epidermite exsudativa amarronzadas, em
alguns casos com presença de ulcerações. Numa outra
descrição desse tipo de infecção (PENNY,1981), as lesões presentes foram caracterizadas por crostas escuras
iniciando na parte posterior do pescoço, disseminado
para cima na direção da coluna vertebral e, em casos
severos, cobrindo todo o corpo .
O presente relato apresenta as características de
caso clínico de epidermite exsudativa afetando porcas
adultas no Rio Grande do Sul.
DESCRIÇÃO DO CASO
O problema foi apresentado em granja de porte
industrial de área criatória do Rio Grande do Sul, afetando três matrizes. Nas instalações, foi observado que
o pisadas celas parideiras era Compacto de concreto e
as Condições higiênicis do mesmo não eram boas, com
muita umidade e'actlinulo de detritos déterminadOs
loCais. Os primeiros dois casb's iottam óbservadès Simultaneamente em duas fêmeas de 3' e 4' gestacõeS, etc,
teitéiró caso'numa fêmea de Tigeslação. „
Clinicamente, o achado foi a presença de crostas,
mais evidentes na área inguinal. Essas se espalhavam
1.
2.
3.
4.
MM. Vet., M.Sc. — Prof. da Faculdade de Veterinária da UFRGS e FFFCMPA, Av. Bento Gonçalves 9090, 95140-000 Porto Alegre — RS/BRASIL.
MM. Vet., M.Sc. —FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desiderio Fioamor e FFFCMPA. Caixa Postal 2076, 90001-970 Porto Alegre — RS/BRASIL.
MM. Vet., M.Sc. — Bolsista FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, Caixa Postal 2076, 90001-970 Porto Alegre — RS/BRASIL.
MM. Vet., M.Sc. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, Caixa Postal 2076;90001-970 Porto Alegre — RS/BRASIL e Professora
do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.
Recebido para publicaçâo em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 15-17, 1998
15
DAVID E. S. N. dc BARCELLOS, SANDRA M. BOROWSKI. ANA LÚCIA STEPAN, NORMA C. RODRIGUES
bilateralmente, desde o nível do último par de tetos
inguinais até o 4° par de tetos peitorais no caso mais
grave; nos outros dois, até o 2° par de tetos. As lesões
tendiam a ser confluentes, na forma de uma crosta única com grande extensão e apresença de algumas crostas secundárias pequenas em áreas periféricas, Figura
1. A base dos mamilos se encontrava recoberta por crostas, mas as pontas se apresentavam livres, Figura 2. O
aspecto era seco e duro e a coloração marrom-escura.
Não foi verificado prurido ou quaisquer outras manifestações de doença sistêmica. A lactação parecia ser
normal, com os leitões mostrando bom estado. Não foram registrados casos da doença nos leitões, com exceção de uma leitegada, onde três leitões com 15 dias de
idade, de um lote de dez, apresentavam lesões cutâneas
típicas de epidermite exsudativa.
FIGURA 1 — Lesões confluentes, em forma de crostas
FIGURA 2 — Lesões crostosas na base dos mamilos
Foram coletados fragmentos de crostas para exame bacteriológico conforme técnicas de isolamento e
classificação descritas por COWAN (1975). O antibiograma foi realizado com o uso da técnica de difusão em
disco conforme STOKES e WATERWOTH (1972), com
as seguintes discos e concentrações: penicilina, 10 Ul ;
16
furazolidona, 300mg; gentamicina, 10 mg; ácido
oxolínico, 30 mg; tetraciclina, 30 mg; cloranfenicol, 30
mg.
Foi realizada biópsia na periferia das áreas afetadas, sendo o material fixado em formol a 10%, processado segundo técnicas rotineiras e corado pela
Hematoxilina-Eosina (PENNY,1981) e examinado ao
microscópio óptico .
•
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A semeadura por impressão da parte inferior das
crostas em placa de ágar-sangue (com sangue
desfibrinado de ovino) demonstrou crescimento puro
de colônias esbranquiçadas, não hemolíticas. Os testes
bioquímicos das mesmas permitiu a classificação como
Staphylococcus hyicus. Os antibiogramas de cinco cultivos bacterianos isolados de diferentes coletas mostraram que todas as cepas eram sensíveis à penicilina,
gentamicina e furazolidona.
As lesões observadas no exame histopatológico
foram de erosões, pústulas, espongiose, acantone e presença de células inflamatórias na derme.
As fêmeas afetadas foram tratadas com produto à
base de penicilina na dose de 20.000 Ul/kg durante 5
dias. A partir do 6° dia após o início do tratamento iniciou o desprendimento das lesões, com cura completa
num período médio de 15 dias.
Com base nos achados clínicos, bacteriológicos e
histopatológicos e a resposta à medicação usada, foi
concluído o diagnóstico de epidermite exsudativa.
No diagnóstico diferencial dessa patologia, as lesões que mais se assemelham a esse quadro seriam aquelas causadas por queimadura com cal ou as dermatites
cáusticas provocadas por desinfetantes. Não havia evidência desse tipo de associação no presente caso. O
ambiente úmido e contaminado, bem como a presença
simultânea de casos clínicos em leitões de uma leitegada,
sugere a presença, na granja, de cepas toxigênicas do
Staphylococcus hyicus, causador da doença. É possível
que a porta de entrada para a infecção das fêmeas tenha
sido ferimentos produzidos pelo leitão durante a estimulação pará a mamada, pois esse tipo de ferimento
tende a ser mais freqüente exatamente na área dos tetos
Posteriores, que em geral apresentam uma produção
menos abundante de leite do que os tetos anteriores.
As lesões encontrad$ diferiram em localização
daquelas diagnosticadas nos poucos registros encontrados na literatura (PENNY,1981; TAYLOR,1993 ).
CONCLUSÕES
No grupo de doenças a serem consideradas para o
diagnóstico diferencial de lesões cutâneas crostosas localizadas na área inguinal em porcas adultas, deve ser
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 15-17, 1998
EPIDERMITE EXSUDATIVA EM REPRODUTORAS SUNAS
considerada a possibilidade de infecção por Staphylococcus hyicus (epidermite exsudativa).
BIBLIOGRAFIA CITADA
BARCELLOS, D.E.S.N.; BOROWSia
'F'ALLAVENA,
L.C.B.; OLIVEIRA, L.C.B. Epidermite exsudativz suína:
características clínicas e epidemiológicas de surto da
doença em leitões desmamados. CONGRESSO DA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE VETERINÁRIOS
ESPECIALISTAS EM SUÍNOS, 4., 1989, Itapema.
Anais..., Itapema: Comissão Científica do Congresso ,
1989. p. 70.
BARCELLOS, D.E.S.N.; PIFFER, IA.; SÁ e SILVA, A.
Epidermite exsudativa dos suínos: isolamento do
Staphylococcus hyicus e reprodução experimental da
doença. Boletim do IPVDF, v. 3, p. 133-38, 1975.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 15-17,1998
COWAN, S.T. Cowan and Steel's manual for the
identification of medicai bacteria. 2.ed. Cambridge:
Cambridge University Press, 1975. 238p.
PENNY, R.D. Qreasy- Pig epidemics more common.
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17
SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS DE AMOSTRAS DE Pasteurella multocida
ISOLADAS DE SUÍNOS COM PLEURITE
ANAL. STEPAN', DAVID E. S. N. de BARCELLOS2, SANDRA M. BOROWSKP
RESUMO - São apresentados os resultados de sensibilidade "in vitro" a 8 antimicrobianos testados de 98 amostras de
Pasteurella multocida, isoladas de pulmões de suínos com pleurite, abatidos em 4 frigoríficos do Estado do Rio Grande do
Sul. O objetivo é o de auxiliar na escolha de princípios ativos a serem usados no controle dessas enfermidades respiratórias.
Os menores índic-es de resistência ocorreram frente ao ácido oxolínico (2,1%) e ciprofloxacina (4,2%), sendo que os maiores
percentuais de resistência foram observados frente a sulfazotrim (84,7%) e gentamicina (81,7%). Todas as cepas foram
sensíveis pelo menos a dois entre os antimicrobianos testados. É discutida a importância terapêutica dos resultados obtidos.
Palavras-chave: Pasteurella multocida,controle, antimicrobiano, suíno.
ANTIMICROBIAL SENSITIVITY OF Pasteurella multocida
STRAINS ISOLATED FROM PLEURITIS IN PIGS
ABSTRACT - We present the results of sensitivity tests of 98 strains of Pasteurella multocida against 8 antimicrobiaLs. The
bacteria derived from pig lungs with pleuritic lesions, collected in 4 slaughterhouses in the State of Rio Grande do Sul, Brazil.
The objective of the present report was to assist in the choice of antimicrobial products to control respiratory diseases in pigs.
The lowest resistance rates were observed with oxolinic acid (2.1%) and ciprofloxacyn (4.2%), and the highest resistance
rates with sulfazotrin (84.7%) and gentaMycin (81.7%). MI strains were sensitive at least against two drugs. We discuss the
therapeutic relevante of the present resulta.
Key words: Pasteurella multocida, control, antimicrobials, pig.
INTRODUÇÃO
A Pasteurella monociclo (Pm) é o agente etiológico
de uma série de doenças em várias espécies animais de
interesse econômico. Nos suínos é um habitante normal da cavidade nasal e um dos agentes enológicos da
Rinite Atrófica, em associação com a Bordetella
bronchiseptica (DE JONG et al., 1984). A Pm também
pode produzir pleurite fibrinosa e broncopneumonia
purulenta (FARRINGTON, 1986). Nos últimos anos,
muitos autores têm reportado isolamentos dessa bactéria de pulmões de suínos em vários países (PUOAN et
al.,1984; FALK et al., 1991). A doença afeta principalmente animais nas fases de crescimento e engorda e além
dos prejuízos causados pelas condenações, interfere na
produtividade, pois reduz o ganho de peso e piora a
conversão alimentar. Segundo TAKOV et al. (1984) para
cada 1% de comprometimento do parênquima pulmonar do suíno observado ao abate, perde-se 1 a 2 dias
para atingir o peso final.
No controle das doenças respiratórias dos suínos,
além das medidas profiláticas que envolvem correções
ambientais e de manejo, a terapia antimicrobiana tem
se apresentado como uma medida complementar essencial. No entanto, para a sua realização, é preciso que se
determine o espectro de sensibilidade do agente frente
aos diferentes antibióticos e quimioterápicos disponíveis no mercado. Como existem deficiências de acesso
à assistência laboratorial na maioria das áreas de criação do país, esse recurso muitas vezes é inexistente.
Nesses casos, o conhecimento da atividade de diferentes antimicrobianos contra amostras isoladas de surtos
ocorridos na região onde se pretende realizar o tratamento, pode servir como um indicador, auxiliando na
seleção.
A sensibilidade "in vitro" da Pasteurella monociclo
tem sido determinada em diversos países, os resultados
sugerem uma ampla variação regional, mas com padrões
coincidentes para alguns princípios ativos. Por exemplo, trabalhando com 80 amostras de Pm isoladas de
pulmões com pneumonia de suínos na Tailândia, AHN
e KIM (1994) observaram que todas foram sensíveis à
ciprofloxacina e a maioria foi resistente à sulfametoxina.
AWAD-MASALMEH et al. (1994), analisando 160
amostras de Pm isoladas de pulmões pneumônicos de
suínos na Áustria, observaram baixa resistência ao
I. Méd. Vet., M.Sc. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, Caixa Postal 2076, 90001-970 Porto Alegre — RS/BRASIL. Bolsista do
CNPq.
2. Méd. Vet., M.Sc.- Professor da Faculdade de Veterinária da UFRGS e FFFCMPA, Av. Bento Gonçalves 9090, 91540-000 Porto Alegre — RS/BRASII3. MM. Vet., M.Sc.- FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamos e FFFCMPA. Caixa Postal 2076, 90001-970 Porto Alegre— RS/BRASIL.
Recebido para publicação em 25/11/1997.
PESQ. ACROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 19-22, 1998
19
ANA L. STEPAN, DAVID E. S. N. de BARCELLOS, SANDRA M. BOROWSKI
cloranfenicol, tetraciclina e sulfametoxazol + tri metoprim. Não foram encontrados na literatura consultada registros sobre padrões de sensibilidade "in vitro"
de amostras de Pasteurella multocida isoladas em nosso meio.
No presente trabalho, foi avaliada pela técnica da difusão em disco a sensibilidade "in vitro" de amostras de
Pm, isoladas de pulmões com lesões de pleurite, amostrados
em frigoríficos no Rio Grande do Sul, frente a vários princípios ativos de antibióticos e quimioterápicos.
gentamicina, 10 mg; canamicina, 30 mg; sulfazotrim,
25 mg; ácido oxolínico, 30 mg; tetraciclina, 30 mg;
cloranfenicol, 30 mg; ciprofloxacina, 5mg;
danofloxacina, 5mg.
A seleção dos discos foi baseada no critério da
disponibilidade comercial em nosso meio dos princípios ativos, como produtos em forma compatível para o
controle das infecções respiratórias causadas pela Pm.
MATERIAL E MÉTODOS
Os resultados do teste de sensibilidade das amostras de Pm frente aos 8 princípios ativos testados são
apresentados na Tabela 1 e Figura 1. Nenhuma das cepas se mostrou resistente a 100% dos antimicrobianos
testados. Apenas uma cepa (1,03%) foi sensível a todos
os antimicrobianos. Todas as cepas (100%) foram sensíveis a no mínimo duas drogas. Nos antibiogramas realizados, observou-se alta resistência das cepas frente à
canamicina (72,45%), gentamicina (81,63%) e sulfazotrim (84,69%). Frente ao ácido oxolínico, ciprofloxacina, cloranfenicol, tetraciclina e danofloxacina foram
observadas taxas de resistência inferiores a 30,0%. Os
resultados diferiram parcialmente dos obtidos por
CORBOZ et al. (1992), que obtiveram os melhores resultados em termos de sensibilidade para o cloranfenicol
e gentamicina.
É importante salientar que fatores adicionais à sensibilidade no laboratório irão determinar o sucesso ou
falha da antibinticoterapia. LARSEN e SOGARD
(1981) citam como exemplo a solubilidade, absorção,
toxicidade, distribuição e excreção dos antimicrobianos
no corpo do animal.
A explicação para o alto grau de resistência a determinadas drogas (como sulfazotrim, gentamicina e
canamicina) não pode ser obtida pela análise dos dados
obtidos. Entretanto, pode-se especular que haja relação
com o uso freqüente destas drogas na prevenção e/ou
tratamento das darréias em nosso meio.
Foram utilizadas 98 amostras de Pm isoladas a
partir de 230 pulmões coletados em 4 frigoríficos localizados em 3 diferentes zonas criatórias do Rio Grande
do Sul (Alto Uruguai, Serra e Vale do Taquari).
O isolamento da bactéria foi efetuado conforme
PIJOAN et al. (1984). Uma pequena porção de aproximadamente 1 cm 3 de pulmão com lesão típica foi
flambada com álcool, cortada e após foi feita uma impressão em meio de ágar com 5% de sangue ovino, em
meio de Rutter, ( RUTTER et al., 1984) e em ágar Mac
Conkey e incubadas por 18 horas a 37 °C. Também 0,5
ml de suspensões desses fragmentos de pulmão em meio
BHI foram inoculadas em camundongos de 21 dias de
idade por via intraperitoneal. Foram analisadas as colônias obtidas nos cultivos diretos em placa e a partir da
semeadura do fígado dos camundongos mortos em meio
contendo sangue ovino a 5%. As colônias suspeitas, isto
é, circulares, com 1 a 2 mm de diâmetro , sem hemólise,
sem crescimento em ágar Mac Conkey, e que à coloração de Gram se apresentaram como 'cocobacilos Gram
negativos foram submetidas a provas bioquímicas, conforme descrito em COWAN (1975).
O antibiograma foi realizado em ágar MuellerHinton com o uso da técnica de Kirby-Bauer, modificada por STOKES e WATWERWOTH (1972). Os seguintes discos foram usados, nas concentrações indicadas:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
TABELA 1— Número e percentagem de cepas de Pasteurella multocida resistentes e sensíveis aos
antimicrobianos testados
TIPOS DE
ANTIMICROBIANOS
AC. OXOLINICO
CIPROFLOXACINA
CLORANFENICOL
TETRACICLINA
DANOFLOXACINA
CANAMICINA
GENTAMICINA
SULFAZOTRIN
20
N° AMOSTRAS
TESTADAS
97
96
98
97
97
98
98
98
N° AMOSTRAS
RESISTENTES (%)
02 (02,06)
04 (04,17)
15 (15,31)
28 (28,87)
29 (29,90)
71 (72,45)
80 (81,63)
83 (84,69)
14° AMOSTRAS
SENSÍVEIS (%)
95 (97,94)
92 (95,83)
83 (84,69)
69 (71,13)
68 (70,10)
27 (27,55)
18 (18,37)
15 (15,31)
PFSQ. AGROP. GAÚCHA; vA, n.1, p. 19-22, 1998
SENSIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS DE AMOSTRAS DE Pasteurella multocida ISOLADAS DE SUÍNOS COM PLEURITE
SULFAZOTRIN
15,31
GENTAMICINA
18,37
27,55
CANAMICINA
70,1
DANOFLOXACINA
TETRACICLINA
71,13
CLORANFENICOL
84,6 9
CIPROFLOXACINA
95,83
97,94
ÁCIDO OXOLÍNICO
o
20
so
so
8o
1oo
% DE AMOSTRAS SENSÍVEIS
FIGURA 1 — Percentagem de amostras de Pastearella multocida sensíveis aos antimicrobianos testados
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos no presente trabalho podem
servir como uma amostragem da resistência da Pm nas
cepas estudadas, uma vez que as amplas variações encontradas não permitem a sua generalização. Dessa forma, seria recomendável a coleta de materiais e análise
da resistência a partir das bactérias isoladas de cada surto, para permitir uma decisão correta sobre qual a melhor estratégia de tratamento a ser adotada.
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 19-22, 1998
INFLUÊNCIA DO USO DE ASPERSÕES COM DESINFETANTE SOBRE A OCORRÊNCIA
DE TOSSE E ESPIRROS EM SUÍNOS DE TERMINAÇÃO
DAVID E.S.N. de BARCELLOS', SANDRA M. BOROWSKr , VERA WALD I
RESUMO — A criação de suínos confinados gera um aumento na ocorrência de doenças respiratórias, principalmente pelo
aumento da exposição dos animais a agentes patogênicos e pela deterioração das condições ambientais. Entre as medidas
preventivas para o problema, tem sido descrito como eficiente o uso de aspersão com desinfetantes, visando a precipitação da
poeira e a inativação da flora microbiana em suspensão no ar. No presente trabalho, foram realizados 7 experimentos com
lotes de suínos na fase de terminação com o uso da aspersão de diferentes diluições do desinfetante Digluconato de Clorhexidina
em dois regimes de aplicação (a cada 24 ou cada 48 h). Para estimar a eficiência dos tratamentos, foram medidos dois índices
clínicos (freqüência de tosse e de espirros). Através da análise estatística dos resultados, realizado pela análise da variância,
se concluiu que: a) com relação à contagem de espirros, as aspersões a cada 24 h causaram em 6 dos 7 experimentos uma
redução significativa dos sinais clínicos. lá com a aplicação a cada 48 h, o tratamento foi eficiente apenas com o produto mais
concentrado pois, com exceção de um teste na diluição de 1:500, a redução só apareceu com o uso das menores diluições,
1:250. b) com relação à contagem de tosses, o uso de uma diluição muito alta (1:1800) não funcionou nem com intervalo de
24 ou de 48 h. Com exceção de um experimento (diluição 1:250 a cada 24 h), todas as outras diluições nos 2 esquemas de
aplicação foram eficientes. Com base nesses dados, pode ser concluído que para o controle da sintomatologia de espirros,
poderiam ser usadas diluições até 1:500 a cada 24 ou 48 h. Para o controle da sintomatologia de tosses os melhores resultados
poderiam ser esperados com o uso da diluição de 1:500 a cada 24 ou 1:250 a cada 48 h.
Palavras-chave:
Suíno, doença respiratória, controle, aspersão, desinfetante.
INFLUENCE OF SPRAYING WITH DISINFECTANTS ON SOME CLINICAL INDEXES
IN PIG PRODUCTION
A BSTRA CT — The use of intensivo pig production systems tends to increase prevalence and severity of respiratory diseases,
directly correlated with increased exposure to infectious agents and worsening of environmental conditions. Among suggested
control measures, the use of aerosols of disinfectants was shown to be effective. Its use objectives dust precipitation and
bacterial flora inactivation. In the present work, 7 experimento were carried out using finishing pigs subjected to spraying
with different dilution of a disinfectant (Clorhcxidine), at 24 or 48 hour intervals. To assess the efficiency of the treatments,
two clinica) indexes were measured: sneeze and cough counts. Through statistical analysis, the main conclusions drawn from
the resulta were: a) regarding cough counts, aspersion at 24 hour intervals resulted in a significant reduction in symptoms in
6 out of 7 groups. In the 48 hour groups, only the concentrated solution was efficient. In this case, excepting one treatment
with 1:500 dilution, a decrease in symptoms was only observed at the lowest dilution, 1:250. b) Regarding sneeze counts, the
use of the highest dilution (1:1800) didn't work at 24 or 48 hour intervals. Excepting one group (1:250 at 24 hour interval), all
dilution in the 2 regimes of use (24 or 48 h) were efficient to reduce symptoms. Based in these data, it is concluded that
symptoms of sneeze could be reduced using dilution up to 1:500 every 24 or 48 hours. To cough control, the best resulta
could be expected using a 1:500 dilution every 24 hours or 1:250 every 48 hours.
Key words•
respiratory diseases, control, disinfectant sprays, pigs.
INTRODUÇÃO
A criação de suínos em sistemas intensivos implica, em muitas ocasiões, numa superpopulação das instalações e em movimentação restrita do ar, gerando condições favoráveis à difusão de agentes patogênicos. Ao
serem criados animais nessas condições, as perdas produtivas por mortalidadé ou redução na taxa de crescimento são consideráveis, (DERBISHIRE,1971).
Quando existe uma densidade animal excessiva
numa instalação ou no caso de movimentação insuficiente de ar, criam-se condições favoráveis para a transmissão de agentes patogênicos entre animais doentes e
sadios. É geralmente aceito que os microorganismos se
movimentam através do ar, no núcleo de partículas líquidas (na forma de aerossóis) ou na poeira,
(DONALDSON, 1978). Nas granjas de suínos, esse tipo
de transmissão assume importância em determinadas
1. Méd. Vet., M.Sc. — Prof. da Faculdade de Veterinária da UFRGS e FFFCMPA, Av. Bento Gonçalves 9090, 95140-000 Porto Alegre — RS/BRASIL.
2. Méd. Vet., M.Sc.- FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária DesIdério Finamos. Estrada do Conde 6000, Caixa Postal 47, 92990-000 Eldorado do Sul —RS/
BRASIL e FFFCMPA
Recebido para publicaçâo em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 23-26, 1998
23
DAVID E.S.N. de BARCELLOS, SANDRA M. BOROWSKI, VERA WALD
infecções respiratórias como, por exemplo, a pneumonia micoplásmica, pasteurelose pulmonar e pleuropneumonja causada por Actinobacillus pleuropneumoniae.
Nas infecções com origem aerógena, a dose
infectante na maioria dos casos determinará a ocorrência ou não da doença e a sua gravidade. Dessa forma, as
perdas determinadas, pelas mesmas, podem ser
minimizadas, se for mantida baixa a exposição dos animais aos patógenos presentes no ar. Entre as medidas
que podem ser usadas, são citadas as seguintes: subdivisão das instalações em calas menores, o isolamento
dos animais doentes, a correção da ventilação e o uso
de métodos que visam a precipitação da poeira e a inativação da flora microbiana em suspensão no ar. Para
conseguir esse último intento, pode-se usar aspersões
com água com a adição de produtos com ação desinfetante ou antimicrobiana. As vantagens obtidas são:
a) Redução na concentração de poeira das instalações:
Segundo AENGST (1984), os elementos integrantes da poeira em granjas de suínos são a água (13,1%) e
matéria seca (86,9%). Na mesma, encontra-se cinzas
(14,6%), proteína bruta (23,9%), gorduras (4,3%) e fibra (3,4%). Medindo gravimetricatnente o nível de poeira nas instalações, encontrou níveis diários médios
2,61W m2. RYHR- ANDERSSON (1990) estudou o efeito da aspersão com água como meio de reduzir a concentração de poeira em instalações ocupadas com leitões na fase de crescimento. O volume testado foi de
0,3 litros/m2, usando 6, 9 e 36 aplicações diárias. As
diminuições nos níveis de poeira foram respectivamente 15, 48 e 73%. Observou-se uma queda na ocorrência
de pleurite nos grupos de animais alojados nas instalações tratadas.
b) Redução na concentração de microorganismos nas instalações:
THIEMANN e WILLINGER (1977) testaram o
uso de aspersões com desinfetantes iodados em instalações de engorda ocupadas em relação ao conteúdo quantitativo e qualitativo da flora bacteriana presente nas
mesmas. As concentrações utilizadas foram 0,6%, 1%,
2%, 3% e 6% e o número de bactérias, por volume de
ar, presente, nas instalações, antes da aplicação do produto variava entre 200 a 500 UFC/l (Unidades formadoras de colônia/ litro), consistindo principalmente de
Micrococcus sp., Bacillus sp., Flavobacterium sp.,
Pseudomonas sp., Escherichia (E.) coli e fungos. Não
foram registrados efeitos significativos com o uso das
concentrações 0,6 e 1%, mas as soluções a 2 e 3% causaram uma redução de até 71% nos títulos bacterianos. A
solução a 6% se apresentou irritante aos animais. Ocorreu
também uma significativa mudança na composição da flora
microbiana, com o desaparecimento da E. coli e fungos.
24
Num trabalho similar, BERNER e JAC10EL (1976)
testaram o uso de aspersão profilática com desinfetante
à base de fenóis e cresóis em relação à flora microbiana
de maternidades. O processo foi considerado útil, apenas nas áreas com baixa presença de matéria orgânica
(fezes). Um outro tipo de possibilidade foi testada, através da aspersão com diferentes produtos antimicrobianos (oxitetraciclina, neomicina e sulfatiazol), dissolvidos a 1% em solução de glicerina e água em 8 a 10
aplicações com 40 a 60 minutos de duração
(GLADENKO et al., 1976). O tratamento implicou
numa penetração direta dos princípios ativos em áreas
pulmonares inflamadas, sendo particularmente efetivo
na presença de doença pulmonar crônica.
O objetivo do presente trabalho foi o de avaliar o
efeito do uso de aspersões com um desinfetante com
amplo espectro bactericida e fungicida e de baixa
toxicidade para animais e seres humanos, sobre a ocorrência de tosse e espirros em animais na fase de terminação
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado em granja de porte
industrial de ciclo completo, situada na região das Missões, RS. Havia na mesma diagnóstico clínico e laboratorial de Rinite Atrófica Progressiva, Pneumonia
Enzoótica, Pleuropneumonia e Pasteurelose Pulmonar.
Os prédios possuíam 22 boxes a cada lado de um corredor central, com telhado de telhas de barro. O piso era
do tipo misto (sólido na frente com ripado de concreto
no terço posterior). Em cada box foram alojados 10 animais (das raças Landrace, Large White, Duroc ou seus
cruzamentos). No início do teste os leitões tinham aproximadamente 75/90 dias de idade (25 a 35 kg) e foram
examinados até a saída para o abate aos 165-180 dias
de idade (95 a 105 kg). Foram realizados 7 testes, cada
um contando com 2 grupos testemunhos e 2 grupos
como tratamentos (usando aspersões com 80 ml/m 2 de
Digluconato de Clorhexidina*, um com aspersão diária
e o outro com a aplicação a cada dois dias). As diluições usadas nos tratamentos foram as seguintes: Tratamento 1- 1:1800; 2- 1:500; 3- 1:500; 4- 1:400; 5- 1:300;
6- 1:250; 7- 1:250. Em cada um dos tratamentos foram
usados 2 x 12 boxes (controles) e 2 x 10 boxes (aspersões). Em cada box foram alojados 10 leitões, de forma
que para cada um dos 7 experimentos foram utilizados
440 leitões (num total geral de 3080 leitões). A área
média disponível era de 0,8 m 2 por leitão. Cada galpão
media 81 x 10 m, sendo pois a área total do galpão de
810 m2. Cada box media 4,5 x 4,5 m2 (área interna total
de 20,25 m2).
A pulverização foi realizada em cada box, usando*Stailen-FtDM
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, 6.1, p. 23-26,1998
INFLUENCIA DO USO DE ASPERSÕES COM DESINFETANTE SOBRE A OCORRENCIA DE TOSSE E ESPIRROS EM SUÍNOS DE TERMINAÇÃO
se 0,081 x 20,25 m2 = 1,62 litros em cada box por aplicação. O volume de produto utilizado foi de 80 ml por
m2 de piso (considerando a metragem interna total do
piso das instalações). A aspersão foi realizada na altura
dos animais, a aproximadamente 50 cm de altura. Durante os experimentos, os animais receberam ração sem
adição de produtos antimicrobianos. Para avaliação dos
resultados dos testes foram medidos diariamente os escores de tosses e de espirros, de acordo com os critérios
sugeridos por DOUGLAS e RIPLEY (1984). Foram
contadas tosses e espirros três vezes ao dia, expressando os resultados como média de tosses ou espirros por
lote de 100 animais por três minutos. Os animais foram
examinados, no mínimo, 4 vezes por semana durante o
experimento. A análise estatística dos dados foi realizada com o usa da análise da variância, através do teste
F. Quando registradas diferenças entre os tratamentos,
a comparação das médias foi realizada com o uso do
teste Bonferroni.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos na análise clínica e na avaliação estatística constam da Tabela 1.
TABELA 1 — Resultado do uso da aspersão com Digluconato de Clorhexidina em diferentes diluições sobre
a ocorrência de tosse e espirros em animais na fase de terminação
Experimento
Diluição do
Na
desinfetante
24/24 h
48/48 h
Controle
1
1:1800
6,03°
5,68
4,23
2
1:500
2,32°
2,96
3
1:500
2,01'
4
1:400
5
a =
b =
ab =
Resultados para tosses
Resu tados para espirros
48/48 h
Controle
1,63
1,46
1,87
3,97
0,95°°
1,54°
2,24
1,8'
2,96
1,61°
1,43°
3,59
0,56'
0,72
1,02
4,18'
3,97°
4,9
1:300
1,83°
1,92
2,61
2,97'
3,75'
7,52
6
1:250
3,25
2,18'
3,95
1,71'
1,03a
2,15
7
1:250
2,65'
2,55°
6,05
0,83'
0,81°
1,55
24/24 h
diferença estatisticamente significativa entre os tratamentos e os controles;
diferença estatisticamente significativa entre os tratamentos entre si;
diferença estatisticamente significativa entre os tratamentos e os controles e entre os tratamentos entre si
(24/24 e 48/48 h).
Pela análise da tabela se pode observar:
a) com relação à contagem de espirros, as aspersões a cada 24 h causaram em 6 dos 7 experimentos
uma redução significativa dos sintomas. Já com a aplicação a cada 48 h, aparentemente a pulverização foi
eficiente apenas com o produto mais concentrado (pois
com exceção de um teste na diluição de 1:500, a redução só apareceu com o uso das menores diluições,
1:250).
b) com relação à contagem de tosses, o uso da diluição 1:1800 não funcionou nem com intervalo de 24
ou de 48 h. Com exceção de um experimento (diluição
1:250 a cada 24 h), as demais diluições (1:250, 1:300,
1:400 e 1:500) se mostraram eficientes nos 2 esquemas
de aplicação.
De forma geral, os índices encontrados não diferiram muito daqueles descritos por DOUGLAS e
RIPLEY, (1984). Nesse trabalho, valores de tosse e de
espirros abaixo de 1% por minuto para um lote de 100
animais foram considerados como 'normais", entre 1 a
3% de "média gravidade" e acima de 3% considerados
"graves". Os nossos resultados foram expressos numa
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, ai, p. 23 26, 1998
-
base de 3 minutos, sendo necessária uma correção para
a comparação dos dados. De acordo com esses critérios, os tratamentos que resultaram numa redução estatisticamente significativa dos sintomas em análise tenderam a deslocar os quadros clínicos da faixa de "média gravidade" para a faixa considerada como "normal".
A maneira como teria agido a aspersão e o desinfetante no sentido de determinar a redução dos sintomas, não pode ser definida com os dados atuais. Podese especular que a queda nos níveis de poeira do ambiente e de patógenos no ar tenha resultado numa redução
da agressão respiratória, com reflexo nos sintomas.
CONCLUSÕES
Os testes demonstraram a utilidade das aspersões
em reduzir a freqüência de tosse e espirros, indicando a
conveniência do uso desse tipo de metodologia como
um método de apoio no controle das doenças respiratórias dos suínos.
Com base nos dados obtidos, pode ser concluído que para o controle da sintomatologia de espirros,
25
DAVID E.S.N. de BARCELLOS, SANDRA M. BOROWSKI, VERA WALD
poderia ser usada uma diluição a partir de 1:500 a
cada 24 h ou 1:250 a cada 24 h. Para o controle da
sintomatologia de tosses os melhores resultados são
atingidos com o uso da diluição de 1:500 a cada 24
ou 1:250 a cada 48 h.
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\
26
PESQ. AGROP. GAGCHA;v.4,11.1, p. 23-26, 1998
OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS CONTRA TOXOPL4SMA GONDII EM OVINOS NO MUNICÍPIO DE
LIVRAMENTO, RS: PREVALÊNCIA E IMPLICAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS
JOÃO RICARDO MARTINS', ROGER HANCOCIQ,BARTOLOMEU LIMA CORRÊA', VICTOR HERMES CERESÉR'
Realizou-se um levantamento sorológico visando a detecção de anticorpos contra Toxoplasma gondii em cinco
rebanhos ovinos no município de Livramento, RS, utilizando-se o teste de aglutinação em látex. Foram detectados anticorpos
que variaram em um percentual entre 21 e 61% das amostras examinadas. A presença de gatos foi confirmada em todas as
propriedades. Não-houve registro de abortos pelos proprietários nos últimos anos, embora houvesse relato de natimortos em
todas as propriedades. As possíveis causas para este fato são discutidas, bem como alguns aspectos da epidemiologia da
enfermidade.
RESUMO —
Palavras-chave:
ovino, toxoplasmose, anticorpo.
OCCURENCE OF ANTIBODIES TO TOXOPLASMA GONDII IN FLOCKS OF SHEEP IN THE DISTRICT OF
LIVRAMENTO, RS:PREVALENCE AND EPIDEMIOLOGICAL IMPLICATION
ABSTRACT — A survey aiming to detect antibodies to Toxoplasma gondii
in five flocks of sheep in the district of Livramento, State of Rio Grande do Sul, was performed using the Latex Agglutination Test. Antibodies were detected ranging from 21
to 61% in the examined samples. Presence of cats was confirmed in alI the properties. Cases of abortion were not observed
although stillbirths were notified in all the farras. Possible causes of these observations are discussed as well as some aspects
of the illness.
Key words:
sheep, toxoplasmosis, antibody.
INTRODUÇÃO
A toxoplasmose é uma infecção causada pelo
Toxoplasma gondii, um protozoário cosmopolita que
ocorre em mamíferos na fase intermediária e tem nos
felídeos, especialmente no gato doméstico, o seu hospedeiro definitivo. É uma zoonose, sendo responsável
por até um terço das causas de aborto em ovelhas na
Grã-Bretanha (VIDA II, 1984). No Estado do Rio Grande do Sul, sua importância em abortos de ovinos ainda
não foi determinada, não havendo relatos de surtos da
enfermidade em ovinos, embora SILVA et al. (1980),
SILVA et al. (1981) e ZONTA et al. (1987/8) tenham
relatado a presença de anticorpos contra Toxoplasma
em 4 municípios do Rio Grande do Sul e FILHA et al.
(1992) tenham isolado o parasita a partir de músculos
diafragmáticos de ovinos abatidos em matadouros de
São Paulo e procedentes do Rio Grande do Sul. Na GrãBretanha, a epidemiologia da toxoplasmose pode ser
melhor compreendida, pois o manejo dos ovinos envolve um relacionamento estreito com as habitações, estoques de feno e forragens, os quais podem ser facilmente
contaminados por oocistos oriundos de gatos domésticos. A única fonte aceitável de infecção para os herbí-
voros são os oocistos infectantes eliminados pelos felinos. Entretanto, o modo de aquisição da infecção e o
período em que as ovelhas se infectam, são fatores
epidemiológicos que podem determinar esquemas específicos de controle para contornar cada situação em
particular (FAULL et al., 1986).
A presente investigação consistiu na realização de
um levantamento sorológico realizado em cinco propriedades a fim de identificar ovelhas portadoras de
anticorpos contra T gondii, e de um inquérito epidemiológico nas mesmas propriedades para se determinar,
ou não, evidências de perdas reprodutivas que pudessem levar à suspeita da enfermidade nos rebanhos examinados. Neste caso, a presença de fatores
epidemiológicos associados a surtos de toxoplasmose,
em outras localidades, foi também investigada.
MATERIAIS E MÉTODOS
Propriedades: as cinco propriedades são produtoras de lã e carne, com os rebanhos estabelecidos há
vários anos no município de Livramento, RS. Detalhes
dos números de ovinos em cada rebanho são apresentados na Tabela 1. A substituição do rebanho em repro-
1. Méd. Vet., M.Sc. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desiderio Finamor, Estrada do Conde 6000, Caixa Postal 47,92990-000 Eldorado do 5u1 —
RS/BRASIL.
2. Méd. Vet. — Ovassem Development Adnanistration,Eland House, Stac Place, Landim, SW 1 E 5DH, Gr &Bretanha.
Recebido para publicaçao em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 27-29, 1998
27
JOÃO RICARDO MARTINS, ROGER HANCOCK, BARTOLOMEU LIMA CORREA,VICTOR HERMES CERESER
dução é realizada com ovinos nascidos nas mesmas propriedades, com exceção dos carneiros, os quais são adquiridos ocasionalmente de outros criadores locais. Nas
propriedades A e R, os ovinos pertenciam à raça
Corriedale, na C, Corriedale e Ideal, enquanto que na
D e E, Ideal.
TABELA 1 — Resultados do inquérito sorológico para pesquisa de anticorpos contra Toxoplasma gondii em
ovinos no município de Livramento, RS
PROPRIEDADE
A
B
C
D
E
TOTAL
OVINOS
(TOTAL)
32
132
1100
820
300
2384
AMOSTRAS
COLETADAS
21
29
32
34
28
144
POSITIVAS
(no)
13
9
7
9
6
(%)
(61,9%)
(31%)
(21,8%)
(26,4%)
(21,4%)
44
GATOS
(n)
2
?*
3
30
* Proprietário admite a presença de gatos mas não soube quantificá-los.
Seleção das ovelhas e amostragem dos animais:
as ovelhas foram selecionadas por acaso, utilizando-se
a tabela de THRUSFIELD (1986). O número de amostras foi suficiente para assegurar que, pelo menos, uma
amostra positiva fosse detectada se a soroprevalência fosse igual ou maior que 10%, com uma confiança de 95%.
Colheita das amostras e exame laboratorial: os
soros foram coletados em tubos "vacutainer", 5 ml, devidamente identificados, onde após a separação do coágulo, foram transportados ao laboratório e armazenados a -20 °C até a realização dos testes. O método de
diagnóstico empregado foi o teste de aglutinação em
látex, seguindo-se as instruções do laboratório fabricante
(EIKEN Chemical Co., Ltda, Japan). Utilizou-se
microplacas Nunc, 96 orifícios, fundo em U (Flow lab.,
USA) para a execução dos testes. Foram considerados
positivos os soros com títulos igual ou acima de 1:64
(TREES et al., 1989).
Inquérito epidemiológico: inquiriu-se os proprietários sobre a ocorrência de casos de abortos em anos
recentes. No ano de 1990, nas propriedades C e D, foram coletados dados detalhados de perdas reprodutivas
durante o período de parição como parte de uma outra
investigação. Os proprietários também foram indagados sobre a presença de gatos nas propriedades, fornecimento de alimentação concentrada ou feno com suplementação alimentar em algum período do ano e se os ovinos eram estabulados para atender algum tipo de manejo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Resultados sorológicos: animais soropositivos
foram detectados nos cinco rebanhos (Tabela 1), indi28
cando uma soroprevalência superior a 10%. A percentagem de positividade em cada grupo selecionado ao
acaso, variou entre 21 e 61%.
Resultados epidemiológicos: em nenhuma das
propriedades foi reportado aborto pelo proprietário, ao
contrário de registro de natimortos, situação relatada em
todas as propriedades. A presença de gatos foi constante (Tabela 1) sugerindo as possíveis fontes de infecção.
O manejo aplicado é tipicamente extensivo, sendo que
nenhum proprietário relatou suplementar os ovinos com
concentrado ou feno em qualquer época do ano. O período de convívio doméstico com os ovinos limitou-se a
períodos de evemfinações, tosquia, desmame, castração e vacinações, onde o tempo de permanência próximo a residência nunca é superior a 24 horas.
O teste de aglutinação pelo látex, é descrito como
uma prova confiável quando aplicado sobre soros de
ovinos infectados por oocistos (TREES et al., 1989).
Os resultados mostraram que nos cinco rebanhos
examinados, mais de 10% das ovelhas haviam sido expostas ao T gondii. Este achado concorda com o encontrado por outros trabalhos no RS (ZONTA et al.,
1987/88; SILVA et al., 1981; LARSON 'et al., 1979),
embora prevalências mais baixas tenham sido detectadas em algumas áreas (SILVA et al., 1980; SILVA et al.,
1984) . Os resultados também são similares a dados de
levantamentos em outros países. Inquéritos sorológicos
realizados na Escócia, Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália, evidenciaram uma soroprevalência entre 10 e 30%
(BLEWEIT e WATSON, 1984). Embora não tenha sido
possível calcular a prevalência exata dos rebanhos ovinos nesta investigação, a alta percentagem de soros positivos observados sugere que anticorpos podem estar
presentes nos rebanhos com prevalências superiores a
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 27-29, 1998
OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS CONTRA TOXOPLASMA GONDII EM OVINOS NO MUNICIPIO DE LIVRAMENTO, RS: PREVALÊNCIA E
IMPLICAÇÕES EPIDEMIOLÓGICAS
10%. O exame sorológico de ovinos é útil em excluir a
toxoplasmose como causa de aborto, tendo em vista que
os anticorpos apresentam sempre um pico antes de ocorrer o aborto (DUBEY et al., 1987). Nenhum dos rebanhos teve histórico de surtos isolados de abortos.
BLEWETT e WATSON (1984) sugeriram que um típico surto isolado de toxoplasmose clínica causando aborto, mal-formação fetal e morte neonatal, afetando ovelhas de todos os grupos de idade, está associado a uma
exposição descontínua das ovelhas ao organismo. Este
fato ocorre quando alimentos contaminados com fezes
de gatos são fornecidos às ovelhas entre o terço inicial e
final da gestação ou quando camas de ovinos
entabulados, igualmente contaminadas com oocistos são
pulverizadas sobre pastagens utilizadas por ovelhas prenhes suscetíveis (FAULL et al., 1986). Os resultados
do inquérito epidemiológico mostraram que, nestas propriedades, nenhuma destas condições estava presente.
É possível que os rebanhos estivessem sujeitos a uma
contínua exposição a baixo número de organismos em
conseqüência da defecação de gatos sobre as pastagens
e nos potreiros e mangueiras usados pelos ovinos. Isto
resultaria em toxoplasmose clínica e afetaria somente
as borregas suscetíveis ou qualquer ovino adquirido e
não exposto anteriormente à infecção . Em razão de que
somente uma pequena proporção precisa necessariamente adquirir a infecção durante a gestação, o número de
casos clínicos é pequeno e poderia não ser detectado
nestas propriedades onde a criação é extensiva. Alternativamente, uma infecção com um pequeno número
de oocistos (entre o período de nascimento e o
reprodutivo) imunizaria as borregas. Para explorar esta
possibilidade, trabalho adicional é necessário a fim de
se estabelecer a prevalência da infecção em diferentes
grupos de idade dentro dos rebanhos. Se a hipótese for
verdadeira, a soroprevalência aumentaria com a idade
dos animais expostos dentro dos rebanhos. Neste caso,
a possibilidade da ocorrência de surtos de toxoplasmose
clínica nestes rebanhos é pequena. Por outro lado, nas
cinco propriedades examinadas, para melhor compreender a epidemiologia da infecção, seria interessante
observar a prevalência de anticorpos em outras espécies animais presentes nas propriedades, embora os ovinos revelem mais anticorpos do que outras espécies.
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29
HIPEROSTOSE CONGÊNITA EM LEITÕES NO RIO GRANDE DO SUL
LUIZ CESAR B. FALLAVENA'a, DAVID E. S. N. de BARCELLOS3, NORMA C. RODRIGUESL2 , SANDRA M.
BOROWSKI'
RESUMO —O presente relato registra a ocorrência de hiperostose congênita em leitões, no Rio Grande do Sul. São apresentados dados relativos à história clínica e às lesões macroscópicas e microscópicas em dois animais recém-nascidos recebidos
no Laboratório de Patologia Suína do Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, em Eldorado do Sul.
Palavras chave:
-
Doença animal; suínos; hiperostose congênita; distúrbio genético.
CONGENITAL HYPEROSTOSIS IN PIGLETS IN THE STATE OF RIO GRANDE DO SUL
ABSTRACT — The occurrence of congenital hyperostosis in piglets in the State of Rio Grande do Sul, Brazil, is described.
The clinicai history and macroscopic and núcroscopic changes in two newbom pigs submitted to the Laboratory of Swine
Pathology of the Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor are presented.
Key words:
Congenital diseases in pigs; Congenital hyperostosis.
INTRODUÇÃO
A hiperostose congênita ou "pernas engrossadas"
("thick legs") é uma anormalidade anatômica caracterizada por aumento no diâmetro dos membros
locomotores anteriores envolvendo especialmente a região rádio-ulnar, a qual pode atingir o dobro da sua espessura normal (KAYE, 1962). A pele na região afetada apresenta-se lustrosa e hiperêmica, havendo edema
no tecido subcutâneo. À necropsia, observa-se um aumento pronunciado na espessúra dos tecidos moles
periosteais, principalmente na superfície cranial dos
membrós anteriores. A gênese e a evolução das lesões parecem resultar de um defeito inicial no local de inserção do periósteo à epífise óssea, ocorrendo uma separação que resultaria no aparecimento de trabéculas
supranumerárias de osso imaturo (DOIZÉ e
MARTINEAU, 1984).
A afecção é de origem genética, estando implicado um gene autossômico recessivo, o qual atuaria como
letal quando no estado homozigótico (MORILL, 1947;
DOIZÉ e MARTINEAU, 1984). Na grande maioria dos
casos, a alteração leva à morte em poucos dias após o
nascimento, presumivelmente por inanição ou insuficiência cardíaca (DOIZÉ e MARTINEAU, 1984).
De acordo com DOIZÉ e MARTINEAU (1984),
pesquisadores europeus conseguiram criar uma fêmea
afetada da doença até a fase adulta Entretanto, embora
as lesões tivessem regredido, esse animal era estéril e
apresentava aderências uterinas e mal-formações ovarianas.
O presente relato objetiva o registro da ocorrência
dessa anormalidade em leitões no Rio Grande do Sul.
DESCRIÇÃO DO CASO
O problema ocorreu em granja suinícola de porte
industrial com aproximadamente 1.300 matrizes situada na região criatória do Alto Uruguai, RS. Em um período de 18 meses, dez leitegarlàs apresentaram entre
um e três leitões afetados, a maioria dos casos evoluindo para a morte em dois a seis dias após o nascimento.
Entretanto, às custá.s de um manejo extremamente intensivo, foi possível criar dois animais até a idade de
abate. Os animais eram oriundos de cruzamentos aleatórios que eram realizados há vários anos, entre
reprodutores das raças Duroc, Landrace e Large White,
não havendo controle de filiação ou de genealogia.
Dois leitões recém-nascidos foram recebidos no
laboratório; um havia morrido 24 horas após o parto e o
outro, 36 horas após o nascimento. À exceção da anormalidade nos membros locomotores anteriores, não
apresentavam outras alterações.
Em ambos os animais, a região rádio-ulnar apresentava-se bilateralmente aumentada em diâmetro, exibia consistência firme e a pele, na área afetada, estava
hiperêmica e aderida ao tecido subcutâneo. Os membros locomotores foram seccionados longitudinalmente por meio de serra para ossos; a seguir, as secções
foram fixadas em solução de formalina a 10% por um
período de 15 dias, descalcificadas em solução de
formol-ácido fórmico, processadas segundo as técnicas
1. Méd. Vet., M.Sc. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor-CPVDF, Caixa Postal 2076,90001-970 Porto Magra — RS/BRASIL
2. Méd. Vet.. M.Sc. — Prof. Adjunto do Curso de Medicina Veterinária da ULBR A, Caixa Postal 124,92420-280 Canoas — RS/BRASIL
3. Méd. Vet., M.Sc. — Prof. Adjunto da Faculdade de Veterinária da UFRGS, Av. Bento Gonçalves 9090,95140-000 Porto Alegre — RS/BRASIL
Recebido para publicação em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.0, n.1, p. 31-32, 1998
31
,
LUIZ CESAR B. FALLAVENA, DAVID E. S. N. de BARCELLOS, NORMA C. RODRIGUES, SANDRA M. BOROWSKI
histológicas rotineiras, coradas pela técnica de
hematoxilina e eosina (LUNA, 1968) e examinadas ao
microscópio óptico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O exame de necropsia não evidenciou alterações
significativas, à exceção daquelas presentes nos membros locomotores anteriores.
Macroscopicamente, após a secção longitudinal,
os membros locomotores revelaram a presença de um
tecido de coloração brancacenta aparentemente
avascularizado e de aspecto semelhante ao do tecido
conjuntivo fibroso, disposto de forma a contornar os
ossos da região afetada. A alteração era mais pronunciada na face anterior dos membros, atingindo desde a
epífise proximal do rádio até a distai do metacarpo e
invadindo os músculos adjacentes.
Histologicamente, externamente à camada cortical
normal, haviam numerosas trabéculas de osso imaturo
neoformado e adicional, orientadas radialmente a partir
do periósteo, o qual continha numerosos osteoblastos
de aspecto degenerado e estava circundado por uma
espessa camada de fibroblastos que infiltrava os tecidos muscular e subcutâneo adjacentes.Secções longitudinais mostraram que as alterações não se estendiam
proximalmente além das placas epifisárias dos ossos
afetados, estando o anel pericondral espesso e exibindo
forma triangular devido ao acúmulo de trabéculas ósseas delgadas de origem periosteal. As secções transversais obtidas através da diáfise do rádio e da ulna não
mostraram alterações na cavidade medular ou no córtex
original.
,
32
Os sinais clínicos observados, assim como as alterações macroscópicas e microscópicas, são compatíveis
com as descritas por KAYE (1962) e por DOIZÉ e
MARTINEAU (1984), permitindo diagnosticar a anormalidade descrita no presente relato como hiperostose
congênita. Como na granja de origem dos leitões os cruzamentos eram realizados sem nenhum controle de
filiação ou de genealogia, a hipótese de etiologia genética da doença parece provável. No relato presente, a
causa da morte dos leitões afetados da anormalidade
pareceu dever-se à inanição, já que os animais eram fracos
c apresentavam dificuldade em mamar normalmente.
CONCLUSÕES
As alterações macroscópicas e microscópicas, associadas ao histórico da propriedade, permitiram o diagnóstico de hiperostose congênita em dois leitões provenientes de granja no Rio Grande do Sul.
BIBLIOGRAFIA CITADA
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PAPILOMATOSE CUTÂNEA EM SUÍNOS NO RIO GRANDE DO SUL
LUIZ CESAR B. FALLAVENA' 4, NORMA CENTENO RODRIGUES 'a, DAVID E.S.N. de BARCELLOS
RESUMO —O presente relato registra a ocorrência de quatro casos de neoplasia cutânea com características de papiloma em
suínos. São descritos os achados macroscópicoS e histopatológicos.
Palavras-chave:
Neoplasia suína; Papilomatose cutânea
CUTANEOUS PAPILLOMATOSIS IN PIGS
ABS1•RACT — The occurrence of neoplastic changes diagnosed as cutaneous papillomas in four pigs is described. The
macroscopic and histological lesions are presented.
Key words:
Swine neoplasia; Cutaneous papillomatosis
INTRODUÇÃO
A ocorrência de neoplasias em suínos é rara.
COTCH1N (1962), analisando dados de inspeção em
frigoríficos nos Estados Unidos da América, relativos à
aproximadamente 57 milhões de carcaças, encontrou
uma prevalência de 0,00035%. Uma possível explicação para essa baixa ocorrência é o abate dos animais em
idade precoce (inferior a seis meses) e o descarte de
matrizes e reprodutores antes que estes atinjam a senilidade (CIRIO et al.,1991). De acordo com MOULTON
(1978), os linfossarcomas e os nefroblastomas são as
neoplasias mais comuns nessa espécie animal,
correspondendo aproximadamente a 40% dos diagnósticos.
No Brasil, CIRIO et al.(1991) analisaram a ocorrência de neoplasias em suínos, no Estado do Paraná,
encontrando 11 casos entre os anos de 1973 e 1988.
Desses, os mais frequentes foram os melanomas, seguidos
pelos fibromas e pelos carcinomas espino-celulares.
Não foram encontrados, na literatura consultada,
relatos sobre a ocorrência de neoplasias em suínos, no
Estado do Rio Grande do Sul.
DESCRIÇÃO DO CASO
Os primeiros casos de tumores foram identificados em dois animais de uma granja de porte industrial
com 1.300 matrizes, situada na região das Missões, Rio
Grande do Sul. Desses casos, o primeiro foi observado
em um leitão de 25 dias de idade e o segundo em uma
fêmea de terceira gestação. Os dois registros foram feitos com intervalo de três meses e os animais não possuíam parentesco aparente.
Posteriormente, na mesma granja, dois novos casos foram registrados. O primeiro ocorreu oito meses
após o último caso e envolveu uma fêmea de segunda
cria; o segundo, em uma fêmea de quarta cria, apareceu
nove meses depois.
Fragmentos dos tumores dos dois primeiros animais foram retirados para a realização de exame
histopatológico. Os materiais foram fixados em solução de formalina a 10%, processados pelas técnicas rotineiras da inclusão em parafina, seccionados a cinco
micrômetros, corados pela técnica de hematoxilina e
eosina (LUNA, 1968) e examinados ao microscópio
óptico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Macroscopicamente, o primeiro tumor, presente no
leitão, media em tomo de 10cm de comprimento por
3,0 cm de largura e por 0,6 cm de altura, apresentava
uma coloração vermelho-acastanhada, superfície irregular e rugosa e localizava-se entre a base da orelha
esquerda e parte da face. O segundo situava-se acima
da narina esquerda da porca e media cerca de 8,0 X 1,5
X 0,4 cm, exibia coloração rosada e sua superfície era
rugosa e irregular.
Oa dois casos posteriores se apresentaram na região superior da cabeça, próximo às orelhas, com características semelhantes às observadas na da primeira
porca.
Microscopicamente, as neoplasias exibiram características de papilomas, traduzidas por projeções de
epiderme hiperplásica suportadas por delgados
pedúnculos démticos; a maioria das células hiperpLIsicas
pertenciam ao estrato espinhoso e exibiam degenera-
I. Med. Vet., M.Sc. — FEPAGRO/Centro de Pesquisas Veterinária Desidério Finamor-CPVDF-, Caixa Postal 2076, 90001-970 Porto Alegre — RS/BRASIL.
2 Méd. Vet., M.Sc. —Prof. Adjunto do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA, Caixa Postal 124, 92420-2130 Canoas — RS/BRASIL.
3. Med. Vet., M.Sc. — Prof. Adjunto da Faculdade de Veterinária da UFRGS, Av, Bento Gonçalves 9090, 95140-000 Porto Alegre — RS/BRASIL.
Recebido para publicaçto em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 33-34, 199S
33
LUIZ CESAR B. FALLAVENA, NORMA CENTENO RODRIGUES, DAVID E.S.N. de BARCELLOS
ção baloniforme. As alterações macroscópicas e os achados histopatológicos observados são semelhantes à descrição realizada por YAGER e scorr (1993).
A ocorrência de papilomas em suínos é infreqüente.
HERES (1978) diagnosticou, histologicamente, oito
casos de papilomas entre 27 tumores de suínos na
Romênia.
Conforme YAGER e SCOTT (1993), os papilomas
cutâneos são neoplasias benignas que apresentam
etiologia e patogenia complexas. Para esses autores, os
papilomavírus estão associados com a produção de
papilomas em todas as espécies, exceto nos gatos. Entretanto; na literatura consultada, não se encontrou referência específica à etiologia dessas neoplasias em suínos. PARISH (1961) refere-se à uma forma específica
de papiloma genital em suínos, semelhante ao condiloma
acuminatum humano. Desse, foi isolado um agente
til travel através de uma membrana de 300 micrômetros,
capaz de reproduzir a doença quando inoculado experimentalmente. No presente caso não foram observadas
lesões na área genital em nenhum dos animais da granja.
CONCLUSÕES
Papilomatose cutânea foi diagnosticada em quatro
suínos no RGS. Os achados macroscópicos e microsc6-
34
picos foram característicos da doença, a qual ocorreu
na região da cabeça tanto em animais jovens como em
adultos.
BIBLIOGRAFIA CITADA
CIRIO, S.M.; DINIZ, LM.; LEITE, L.C. Incidência de
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 33-34, 1998
ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA LEUCOSE BOVINA EM ANIMAIS DA RAÇA LEITEIRA
IMPORTADOS DO URUGUAI
ALEXANDRE de CARVALHO BRAGA', JÚLIO CÉSAR de ALMEIDA ROSA', LILIANE GUIMARÃES OLIVEIRA',
PAULO ESTANISLAO RECKZIEGEL', JOÃO CARLOS FREITAS TEIXEIRA', CLÁUDIA SANTOS LISBOA'
RESUMO — O Vírus da Leucose Bovina (VLB) é o agente etiológico de infecção persistente em bovinos causando perdas
econômicas para a pecuária. Estima-se que na pecuária leiteira as perdas podem atingir 10% da produção de leite. Bovinos
infectados pelo VLB são fontes de disseminação da enfermidade no rebanho. A identificação de animais soropositivos é
fundamental para programas de controle e erradicação desta doença. O objetivo do trabalho foi verificar a presença de
anticorpos contra o VLB em bovinos da raça leiteira importados do Uruguai para propriedades do Rio Grande do Sul. Foram
examinadas 692 amostras de soro bovino, utilizando-se a prova de imunodifusão em gel de ágar (IOGA), sendo de 15,60%
o índice de positividade. Este resultado mostra que apesar do alerta feito pelos pesquisadores, as importações continuam
desconsiderando, no caso da Leucose Bovina, o aspecto sanitário dos animais.
Palavras chave: anticorpo, vírus, leucose, bovino, gado leiteiro.
-
PRESENCE OF ANTIBODIES AGAINST BOVINE LEUKEMIA VIRUS IN DAIRY CATTLE IMPORTED
FROM URUGUAY
ABSTRACT — The Bovine Leukemia Virus (BLV) is the infectious agent responsible for a persistent infection in cattle
which causes severe losses to the livestock industry. The 'ossos in dairy herds are estimated in 10% of milk yield. Caule
infected with BLV serve as a source of virus transmission to susceptible caule. For control or eradication programs it is
important to identify the seropositive animais. The objective of this study was to evaluate the presence of antibodies against
BLV in dairy cattle imported from Uruguay to farms of the Rio Grande do Sul state. A total of 692 serum samples were tested
through the agar-gel immunodiffusion test. The number of seropositive cattle was 15.60%. The resulta showed in despite of
the warning given by some researchers, many animais are often imported without care regarding to the bovine leukosis
status.
Key words: antibodies, bovine leukemia virus, dairy cattle.
INTRODUÇÃO
O Vírus da Leucose Bovina (VLB) é o agente
etiológico responsável por duas apresentações distintas, em bovinos: a Linfocitose Permanente (LP) e a forma multicêntrica enzoótica de Linfossarcoma de animais adultos.
O VLB possui no seu genoma um RNA de fita simples e está classificado na família Retroviridae
(subfamfiia: Oncovirinae) possuindo formato esférico,
partículas envelopadas e seu tamanho é de 80-120 um.
O vírus pode ser isolado de linfócitos de sangue periférico de bovino infectado (ANDREWES, 1989) e propagado em células renais de feto ovino (FLK).
A infecção pelo VLB está distribuída mundialmente e a sua presença na América do Sul, possivelmente
ocorreu com a importação de bovinos infectados oriundos dos Estados Unidos e da Europa. O primeiro relato
da doença em bovinos foi em 1871 em uma literatura
médica alemã (JOHNSON e KANEENE, 1993). No
Brasil, o linfossarcoma bovino foi descrito pela primeira vez em 1959 (MERKT et al., 1959). Neste mesmo
ano, também foram relatados casos de animais
infectados, importados da Suécia para o Brasil (SANTOS et al., 1959).
A prevalência da infecção varia muito entre os diversos países, bem como entre as regiões de um mesmo
país. Em áreas mais quentes geralmente a prevalência é
maior, sendo também mais frequente em rebanhos de
leite (JOHNSON e KANEENE, 1993). No Brasil, trabalhos realizados mostram que os índices de animais
soropositivos também variam entre as regiões. No Rio
Grande do Sul, alguns índices de soropositividade verificados foram: 32,6% (GOMES et aL,1985); 20,71%
na região central do Estado (FLORES et al., 1990),
prevalência média de 12% no rebanho leiteiro
(MORAES et al., 1996) e 4% das amostras de soro, recebidas para diagnóstico de rotina, pela Equipe de
1. Méd. Vet., M.Sc. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, Caixa Postal 47, 92990-000 Eldorado do Sul — RS/BRASIL.
2. Méd. Vet. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor
3. Bi61. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Moa=
4. Méd. Vet., M.Sc. — Elegt Alimentos
Recebido para publicaçâo em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 35.38, 1998
35
ALEXANDRE de CARVALHO BRAGA, JÚLIO CÉSAR de ALMEIDA ROSA, LILIANE GUIMARÃES OLIVEIRA, PAULO ESTANISLAO
RECKZIEGEL, JOÃO CARLOS FREITAS TEIXEIRA, CLAUDIA SANTOS LISBOA
Virologia do Centro de Pesquisa Veterinária Desidério
Finamor (BRAGA, 1997). Outros estudos epidemiológicos mostraram índices de soropositividade, no estado
de São Paulo, de 36,6% (ALENCAR FILHO et al.,
1979) e de 49,2% em bovinos da raça Jersey (JÚNIOR
et al., 1995). No Paraná, foi obtido um índice de 20,7%
no rebanho leiteiro (KANTEK et al., 1983) e 26,69%
no estado de Minas Gerais (MODENA et ai, 1984). No
Rio de Janeiro, foi verificado em 12 rebanhos leiteiros
uma frequência média de 49,25% de positividade
(ROMERO et al., 1981).
Quanto aos índices de soropositividade em animais
importados os dados de alguns trabalhos são: 70,86%
em bovinos oriundos do Canadá em 1981 e 12,5% em
bovinos do Canadá e Estados Unidos (MODENA et a).,
1983). Em animais de raça leiteira importados do Uruguai os índices foram de 18,3% em 1982 (NAVARRO
et al , 1982) e 12,1% (sendo 21,63% somente em bovinos da raça Holandesa) em 1992 (FLORES et al., 1992).
O Linfossarcoma causado pelo VLB é a forma
neoplásica maligna mais comum em bovinos (FERRER,
1979). Neste tipo de enfermidade os linfócitos B
malignos infiltram-se nos tecidos linfóides do corpo,
principalmente nos linfonodos periféricos e baço, produzindo um linfossarcoma multicêntrico. Os sinais clínicos são variáveis, dependendo da localização dos tumores no organismo animal. A LP ocorre independente
da forma de linfossarcoma multicêntrico, sendo de caráter benigno e havendo uma proliferação dos linfócitos
B em animais infectados pelo VLB (ANDREWES,
1989). Em torno de 33% dos animais infectados desenvolvem a LP (JOHNSON e KANEENE, 1993) e a ocorrência de linfossarcoma raramente ultrapassa o índice
de 5% (FERRER, 1979). Estes dados fortalecem a hipótese de que pode existir uma predisposição genética dos animais para desenvolver as formas clínicas da doença.
A transmissão do VLB ocorre principalmente de
forma horizontal e a forma vertical é considerada de
baixa frequência (04-10%). Uma das principais formas
de transmissão horizontal é através do uso de equipamentos ou materiais contaminados com sangue
infectado, tais como, agulhas hipodérmicas e materiais
cirúrgicos lavados e esterilizados de forma inadequada
(ROMERO et al., 1984). O uso de vacinas para Piroplasmose, preparadas em animais infectados com o VLB,
também são fontes de infecção. Outra forma de contaminação é através de insetos (Tabanídeos). A transmissão da enfermidade utilizando-se material proveniente
de carrapatos que estavam alimentando-se em bovinos
soropositivos foi observada (ROMERO et al, 1984),
porém a forma natural da transmissão não foi comprovada (JOHNSON e KANEENE, 1993).
Os exames laboratoriais mais utilizados para o diagnóstico da infecção pelo VLB são: imunodifusão em
gel de ágar (IDGA) e ELISA. Estas provas sorológicas
36
são fundamentais para avaliações epidemiológicas, pois
elas são mais sensíveis do que a constatação de tumores
ou de um quadro de linfocitose na detecção da infecção
pelo VLB (JOHNSON e KANEENE, 1993).
A identificação dos animais soropositivos em um
rebanho é de fundamental importância em programas
de controle e erradicação do VLB, pois os animais
infectados permanecem portadores por toda a sua vida,
sendo fontes de infecção para o plantei (FERRER,
1979). A atitude a ser tomada, para o controle da doença deverá estar relacionada com o índice de prevalência
de animais soropositivos no rebanho. Quando os índices de prevalência da infecção pelo VLB forem baixos
deverá ser realizado o descarte dos bovinos
soropositivos e corrigir o manejo evitando as formas de
disseminação da doença. Novos testes sorológicos deverão ser realizados para monitorar o plantei, assim
como todos os animais a serem incorporados no plantei
deverão ser soronegativos. Nos rebanhos cuja
prevalência de animais soropositivos for alta, causando
problemas econômicos devido ao elevado número de
animais a serem descartados, uma possível solução poderá ser a separação dos animais sororeagentes dos demais e fazer um manejo duplo na propriedade
(JOHNSON e KANEENE, 1993).
O objetivo do trabalho foi determinar a presença
de animais com anticorpos contra o VLB importados
do Uruguai para propriedades do Rio Grande do Sul,
analisando a situação, após os vários alertas de pesquisadores com relação aos cuidados a serem tomados com
a Leucose Bovina e a importação de animais.
MATERIAL E MÉTODOS
Local
As provas foram executarias no laboratório da Equipe de Virologia do Centro de Pesquisa Veterinária
Desidério Finamor (CPVDF) — Fundação Estadual de
Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO) — Secretaria da
Ciência e Tecnologia — RS/Brasil.
Animais
Foram analisadas 692 amostras de soro bovino da
raça Holandês PPC com idade variando dos 2,5 aos 3,0
anos. Estes animais eram provenientes de 15 propriedades localizadas em três regiões do Uruguai ( Trinta y
Tres; Lascano e Florida).
Prova Sorológica
As amostras de soro foram submetidas à prova de
imunodifusão em gel de ágar (IOGA), de acordo com a
técnica descrita por FLORES et al. (1992) e utilizandose o antígeno glicoprotéico — gp 51, produzido pela
Equipe de Virologia do CPVDF (MILLER e VAN DER
MAATEN, 1977).
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 35-38, 1998
ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA LEUCOSE BOVINA EM ANIMAIS DA RAÇA LEITEIRA IMPORTADOS DO URUGUAI
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 692 amostras submetidas ao teste de IDGA
foi detectada a presença de anticorpos contra o VLB
em 108 amostras (15,60%). Somente as amostras de oito
propriedades foram 100% negativas. Porém deve ser
realçado que destas propriedades foram coletadas um
número muito pequeno de amostras (4,47% das amostras). Os resultados por propriedade estão expressos
abaixo, na Tabela 1.
TABELA 1 - Distribuição dos animais por propriedade e resultado das amostras por IDGA para a presença de anticorpos contra o VLB
IOGA
POSITIVOS (%)
PROPRIEDADE
NÚMERO (%)
(% SOBRE O TOTAL
DE AMOSTRAS)
A
021 (3,03)
120 (17,34)
015 (2,16)
015 (2,16)
005 (0,72)
004 (0,57)
035 (5,05)
005 (0,72)
037 (5,34)
003 (0,43)
005 (0,72)
418 (60,40)
003 (0,43)
003 (0,43)
003 (0,43)
04 (19,04)
16 (13,33)
04 (26,66)
08 (53,33)
692 (100)
108 (15,60)
B
C
D
E
F
G
H
J
N
R
T
V
TOTAL (%)
O atual trabalho vem confirmar os anteriores já
mencionados na introdução e mostrar que, no caso
da Leucose Bovina muito pouco tem sido feito pelas
autoridades sanitárias com relação a importação de
animais. A entrada de animais infectados com o VLB
em um rebanho será responsável por introduzir ou
aumentar os índices de prevalência da enfermidade
dificultando o processo de controle da doença. Por
esta razão, é fundamental adquirir somente animais
soronegativos ou oriundos de propriedades
comprovadamente livres do VLB. A análise
sorológica para a aquisição de animais deve ser realizada no mínimo duas vezes com intervalo de dois
meses, pois títulos baixos de anticorpos, não detectados na primeira prova de IDGA poderão ser evidenciados em uma segunda análise (VAN DER
MAATEN e MILLER, 1979). Caso fosse realizada
uma segunda amostragem com os animais testados
neste trabalho o índice de positividade provavelmente
seria maior.
PESQ. AGROP. GAÚCHA; v.4, n.1, p. 35-38, 1998
NEGATIVOS (%)
18 (51,42)
03 (8,10)
55 (13,15)
017 (80,95)
104 (86,66)
011 (73,33)
007 (46,66)
005 (100)
004 (100)
017 (48,57)
005 (100)
034 (91,89)
003 (100)
005 (100)
363 (86,84)
003 (100)
003 (100)
003 (100)
584 (84,39)
CONCLUSÕES
Apesar das advertências de diversos técnicos o
Brasil não possui um programa sanitário oficial com
relação a Leucose Bovina. A ausência deste programa e do sistema de reciprocidade entre as nações que
compõem o Mercosul impede que as autoridades brasileiras possam exigir restrições na importação de
animais oriundos destes países. O estado do Rio Grande do Sul está iniciando um programa de melhoria
genética do gado Holandês onde pretende importar
3.000 matrizes do Uruguai. Como o governo não pode
exigir o exame sorológico para a detecção da infecção pelo VLB cabe aos produtores pedir a elaboração deste exame, pois eles irão arcar com os custos
da aquisição dos animais, devendo portanto exercer
os seus direitos de adquirir bovinos com excelente
padrão zootécnico sem descuidar do aspecto sanitário. A compra deverá ser feita somente de animais
soronegativos, de preferência após a realização de
37
ALEXANDRE de CARVALHO BRAGA, JÚLIO CÉSAR de ALMEIDA ROSA, LILIANE GUIMARÃES OLIVEIRA, PAULO ESTANISLAO
RECRZIEGEL, JOÃO CARLOS FREITAS TEIXEIRA, CLÁUDIA SANTOS LISBOA
dois testes sorológicos com intervalo mínimo de 30
dias (JOHNSON e KANEENE, 1993) ou oriundos
de propriedades indene.
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 35-38, 1998
PERSISTÊNCIA DE REAÇÕES SOROLÓGICAS EM BÚFALAS (Bubalus bubalis) VACINADAS COM
Brucella abortas AMOSTRA 19
FERNANDO PADILLA POESTEIV , PAULO ESTANISLÁO RECKZIEGEL 1
RESUMO - Foi estudada a evolução dos títulos sorológicos em fêmeas bubalinas (Bubalus bubalis) vacinadas com dose
padrão da amostra 19 de Brucella abortus. Após coletas mensais de sangue por um período de dez meses de observação e
usando-se três provas sorológicas, concluíu-se que as curvas de anticorpos nesta espécie foram similares às produzidas na
espécie bovina. Os animais permaneceram reagentes até 270 dias após a vacinação e aos 300 dias todos foram negativos.
Palavras-chave: brucelose, bubalino, vacina B19, anticorpo.
PERSISTENT SEROLOGICAL REACTIONS IN BUFFALO HEIFERS (Bubalus bubalis) VACCINATED WITH
Brucella abortas STRAIN 19
ABSTRACT - The evolution of serological titers of buffalo heifers (Bubalus bubalis) vaccinated with standard dose of
Brucella abortus strain 19 was studied. Blood samples collected monthly for a period of ten months tested by three serological
tests showed that the antibody curves produced in this species were similar to those of bovinas. The animais reacted for 270
days after vaccination and at 300 days ali were negativos.
Key words: brucellosis, buffalo, strain 19, antibody.
INTRODUÇÃO
A vacina contra a brucelose amostra 19 tem sido
usada ao longo de várias décadas como o imunógeno
preferencial na prevenção da brucelose dos bovinos
(MATYAS e FUJIKURA, 1983). Apesar da boa imunidade conferida, esta vacina apresenta como principal
inconveniente a persistência de anticorpos vacinais que
complicam a interpretação do diagnóstico sorológico
(ACHA e SZYFRES,1989).
Apesar dos poucos trabalhos publicados, alguns
inquéritos sorológicos indicam que a brucelose está disseminada em búfalos da espécie Bubalus bubalis no
Brasil (SANTA ROSA et al., 1961; COSTA et al., 1973;
SANDOVAL et al., 1979). Segundo a Organização
Mundial da Saúde, a brucelose nos búfalos segue um
curso similar ao observado nos bovinos
(ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD,
1986). Como consequência, o controle e a prevenção
da enfermidade nos bubalinos, a exemplo do que ocorre nos bovinos, deverá basear-se entre outras medidas,
no emprego da vacinação com a amostra 19 de Brucella
abortus.
As reações sorológicas produzidas por B. abortus
amostra 19 na espécie bovina têm sido bastante documentadas e mostram que a persistência dos títulos
sorológicos pós-vacinais está diretamente relacionada
com a idade de vacinação (KING e FRANK,1961;
RODRIGUES e GIORGI, 1973; FERNANDES e
MOO] EN, 1974; NICOLETTI, 1990). Em raças
zebufnas vacinadas com a amostra 19, as curvas de
anticorpos pós-vacinais são semelhantes às observadas
nos bovinos (ORNELAS-SANTOS et al., 1975). Em
fêmeas jovens da espécie Bubalus bubalis vacinadas
com dose padrão de B. abortus amostra 19,
DOMINGUES et al. (1992) concluíram que a queda dos
títulos sorológicos deu-se num período relativamente
maior do que em bovinos.
O presente trabalho teve por objetivo o acompanhamento das curvas sorológicas em fêmeas bubalinas
vacinadas com dose padrão da amostra 19 por um período de até 300 dias após a vacinação.
MATERIAL E MÉTODOS
Dezenove fèmas da espécie Bubalus bubalis com
idade compreendida entre 4 e 10 meses foram vacinadas por via subcutânea com dose padrão (6x10 I° bactérias) da amostra 19 de Brucella abortus. Os animais
foram mantidos em sistema de regime extensivo.
Antes da aplicação da vacina e mensalmente por
um período de dez meses, foram colhidas amostras de
sangue por punção da veia jugular.
Após a obtenção do soro, as amostras foram submetidas às provas sorológicas do Antígeno Acidificado
Tamponado (AAT), prova lenta em tubos (SAT) e prova do mercaptoetanol (ME), segundo ALTON et al.
(1988).
1. MM. Vet., M.Sc. - FEPAGRO/Centro de Pesquisa Vetcrinéria Desidério Finamos, Caixa Postal 47,92990-000 Eldorado do Sul - RS/BRASIL.
Recebido para publicação em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p.39-41, 1998
39
FERNANDO PADILLA POESTER, PAULO ESTANISLÁO RECKZIEGEL
parece ter eliminado as reações sorológicas produzidas
por anticorpos da classe IgM (ANDERSON,1964). Por
outro lado, a prova do AAT foi a que se manteve positiva por mais tempo. Em função da sua alta sensibilidade, a prova do AAT tem sido empregada com sucesso
em bovinos como teste de descarte ("screening") havendo a necessidade de confirmação dos soros positivos em outras provas sorológicas (MACMILLAN,
1990). No presente experimento, esta prova demonstrou ser mais sensível que as demais, o que poderia justificar seu uso como prova de descarte também para
bubalinos.
RESULTADOS E DISCU S SÃO
As amostras de soro de todos os animais, antes da
aplicação da vacina, foram negativas a todas as provas
sorológicas. Os resultados obtidos nas provas
sorológicas empregadas ao longo do experimento estão
expostos na Figura 1 e na Tabela 1.
Nas curvas sorológicas delineadas na Figura 1 observa-se que a prova do ME apresentou uma queda no
nível de anticorpos bastante acentuada a partir dos 60
dias após a vacinação. A semelhança do que ocorre nos
bovinos, o tratamento das amostras de soro com ME
20
15
-e-AAT
e 10
-&-SAT
ME
5
120 150 180 210 240 270 300
Mas após vacinação
FIGURA 1 — Distribuição da freqüência de búfalas vacinadas com B19 em diferentes provas sorológicas
Pela análise da Tabela 1, observa-se que até 60 dias
após a vacinação, 100% dos animais ainda apresentavam títulos sorológicos classificados entre suspeitos e
positivos. A partir daí, os títulos foram decrescendo progressivamente, sendo os animais negativos a todas as
provas aos 300 dias de vacinados.
NICOLETTI (1992), comparando diversas provas sorológicas em bubalinos, concluiu que a prova
do AAT apresentou boa sensibilidade e que a prova
de aglutinação em tubos apresentou a menor sensibilidade para esta espécie.
TABELA 1 — Flutuação da resposta sorológica em búfalas vacinadas com B19 em três provas diagnósticas
%
+/-
Dias após vacinação
120
150
180
% +/- % +/- % +/- %
19/0 100
15/4
80 11/8
58
8/11
42
5/14
26
4/15
21
3/16
16
3/16
16
0/19
O
+
, 61‘
+
%
+
%
+
96
+
%
+
%
+
%
+
%
O (0)
O (0)
2 (10)
13 (68)
4 (21)
O (0)
O
4
7
4
4
O
(0)
(21)
(37)
(21)
(21)
(0)
2
8
5
4.
O
O
(10)
(42)
(26)
(21)
(0)
(0)
O (0)
11 (58)
5 (26)
3 (16)
O (0)
O (0)
5 (26)
11 (58)
2 (10)
I (5)
O (0)
O (0)
6 (31)
10 (53)
3 (16)
O (0)
O (0)
O (0)
9
8
2
0
O
O
47)
(42)
(10)
(0)
(0)
(0)
O (0)
O (0)
11 (58)
4 (21)
4 (21)
O (0)
2
11
4
2
O
O
(10)
(58)
(21)
(10)
(0)
(0)
12 (63)
3 (16)
3 (16)
1 (5)
O (0)
O (0)
15 (79)
2 (10)
2 (10)
O (0)
O (0)
O (0)
15 (79)
2 (10)
2 (10)
O (0)
O (0)
O (0)
17 (90)
O (0)
2 (10)
O (0)
O (0)
O (0)
18
1
O
O
O
O
(95)
(5)
(0)
(0)
(0)
(0)
30
+/AAT
Neg
ins
1/50
1/100
1/200
1/400
Neg
Ins
ME
(n=19)
40
%
19/0 100
+
SAT
(n=19)
60
1/50
1/100
1/200
1/400
%
O (0)
O (0)
O (0)
2 (10)
10 (53)
7 (37)
O
O
5
6
6
2
(0)
(0)
(26)
(31)
(31)
(10)
+/-
+
90
%
210
+/- %
240
+/%
270
+/- %
+/-
1
300
%
9 (47)
8 (42)
2 (10)
O (0)
O (0)
O (0)
1
(53)
(47)
(0)
(0)
(0)
(0)
(95)
(5)
(0)
(0)
(0)
(0)
1
(100)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 39-41, 1998
PERSISTÊNCIA DE REAÇÕES SOROLÓGICAS EM BtIFALAS (Embalas bubalis) VACINADAS COM
Brucella abortai AMOSTRA 19
Em função do tipo de imunoglobulina detectado, a
prova do ME apresentou um declínio mais acentuado
no número de reagentes comparado ao da prova lenta e
aos 120 dias apenas um animal apresentou reação 1/
100, o que está de acordo com os resultados encontrados para bovinos por FERNANDES e MOOJEN (1974),
os quais verificaram que os títulos no ME permaneceram em baixos níveis até 105 dias após a vacinação.
No presente estudo, o período para que todos os
animais voltassem a ser negativos sorologicamente foi
de dez meses e pode ser considerado um tanto longo.
Entretanto esta demora pode estar relacionada ao fato
de alguns animais terem sido vacinados com idade entre 9-10 meses o que está de acordo com os resultados
encontrados para bovinos por RODRIGUES e GIORGI
(1973) e ORNELAS-SANTOS et al. (1975), que concluíram ser este período diretamente relacionado com a
idade dos animais no momento da vacinação.
Os resultados encontrados, no presente estudo, são
similares aos encontrados por DOMINGUES et al.
(1992) onde aqueles autores encontraram que bubalinos
vacinados entre 3 e 8 meses idade com dose padrão
mantiveram-se com títulos detectáveis até 240 dias após
a vacinação. Apesar disto, os resultados não permitem
afirmar que os bubalinos apresentem queda nos títulos
sorológicos num período maior do que os bovinos como
concluem DOMINGUES et al. (1992), tendo em vista
que no presente trabalho, alguns animais foram vacinados com dez meses.
CONCLUSÕES
Fêmeas bubalinas vacinadas com dose padrão da
amostra 19 respondem com curvas de anticorpos semelhantes às apresentadas por fêmeas bovinas quando vacinadas na mesma idade. Fêmeas vacinadas entre 4 e 10
meses, permanecem reagentes por um período de até
10 meses depois da vacinação.
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41
CORRELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE HEMOGLOBINA E A PERFORMANCE PRODUTIVA
EM OVINOS CORRIEDALE
CLAUDIO CHIMINAZZO 1 , LUIZ ALBERTO O. RIBEIRO', TANIA ele A. WEIMER 3
RESUMO —Os tipos de hemoglobinas foram estudados em 239 ovelhas da raça Corriedale (24 com HbA, 103 com HbAB e
112 com HbB) expostas às mesmas condições de manejo. Foi verificada uma possível associação entre a distribuição fenotípica
dessa proteína com a performance produtiva (estimada pelas taxas de prenhez, cordeiros assinalados, peso e qualidade do
velo). Os resultados revelaram que as taxas de prenhez e o número de cordeiros assinalados foram maiores nos ovinos com
HbA, porém estas diferenças não foram estatisticamente significativas. Os ovinos com HbA e HbAB apresentaram melhor
peso de velo. A qualidade do velo foi inferior na segunda tosquia e diferenças significativas foram encontradas entre os
ovinos com HbAB e HbB.
Palavras chave: hemoglobina, ovino, performance.
-
THE RELATIONSHIP BETWEEN HEMOGLOBIN TYPES AND PRODUCTIVE PERFORMANCE
IN CORRIEDALE SHEEP
ABSTRACT — Hemoglobin types was studied in 239 Corriedale sheep (24 with HbA, 103 with HbAB and 112 with HbB)
exposed to the saine types of management and natural conditions. The possible associaton of the phenotype distribution of
these protein with the productive performance of the ewes (estimated by pregnancy rate, the number of marked lambs, fleece
weigth and fleece quality) was investigated. Resulta showed that the pregnancy rate and number of marked lambs was higher
in the HbA group but this difference was not significant statistically. Groups HbA and HbAB showed heavier flecte weight
than HbB. 'The fleece quality was inferior on the second shearing and significant statistical differences were encoutered
between the HbAB and HbB groups.
Key words: hemoglobin, sheep, performance.
INTRODUÇÃO
A heterogeneidade da hemoglobina é observada em
diferentes animais e a correlação da estrutura primária
da hemoglobina com sua genética tem resultado em
melhores entendimentos dos mecanismos operantes nos
genes que controlam a mesma (JOHN e JOHN, 1977).
Os trabalhos envolvendo as hemoglobinas de ovinos começaram na década de 50. HARRIS e WARREN (1955)
realizaram as primeiras pesquisas envolvendo os tipos
de hemoglobina em ovinos, utilizando 12 ovelhas prenhes e observaram que três tipos diferentes de
hemoglobina em ovinos podiam ser identificados.
A herança dos tipos de hemoglobina foi determinada por EVANS et al. (1956), sendo caracterizada pela
existência de dois alelos codominantes, cada qual responsável pela formação de um tipo de hemoglobina.
Desde então, uma extensa literatura tem se desenvolvido referente a aspectos genéticos, estruturais, fisiológicos e imunológicos. As freqüências dos alelos A e B
variam tanto entre as raças como entre os rebanhos de
uma mesma raça. Esta variabilidade pode ser observada, no Rio Grande do Sul, em ovinos da raça Corriedale
nos trabalhos de FAN et al. (1981), MOREIRA et al.
(1982) e WEIMER et al. (1984). Na opinião de AGAR
et al. (1972) as distribuições polimórficas teriam, além
da significância adaptativa, influência da seleção para
características produtivas.
As características produtivas dos ovinos são todas
grandemente influenciadas por fatores associados ao ambiente, embora fatores genéticos não possam ser excluídos. Por essas razões, alta correlação entre um único gene
e as características produtivas é difícil de ser espetada.
Os primeiros trabalhos envolvendo a seleção de
ovinos produtores de lã foram realizados por TURNER
(1958). Mais adiante, WATSON e KHATTAB (1964),
em seus experimentos, verificaram que ovelhas com
HbA tinham melhor produção de lã do que aquelas com
HbAB ou HbB. KROITER e AITMUHANOV (1969)
verificaram que os animais com HbA apresentavam peso
de velo e peso de lã limpa superior aos animais com
HbAB em 10,7% e 9,3%, respectivamente.
I. Méd. Vet., M.Sc. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária DesIdérioFinamor, Caixa Postal 47, 92990-090 Eldorado do Sul — R5/BRASIL
2. Méd. Vet., M.Sc. — Professor Assistente do Departamento de Medicina Animal da Faculdade de Veterinária da UFRGS, Av. Bento Gonçalves9090, 91540000 Porto Alegre — RS/BRASIL
3. Farm. Bioq.. Ph.D. — Professora Titular do Departamento de Genética da UFRGS, Av. Bento Gonçalves 9500, 91501-970 Porto Alegre — RS/ BRASIL
Recebido para publicaçâo em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 49-54, 1998
49
CLAUDIO CHIMINAZZO, LUIZ ALBERTO O. RIBEIRO, TANIA de A. WEIMER
ARORA e ACHARYA (1972) avaliaram 529 ovinos de rebanhos indianos produtores de lã e observaram que os tipos de hemoglobina e a produção de lã não
apresentavam associações significativas. Verificaram,
entretanto, que na tosquia, aos seis meses de idade, os
ovinos com HbB obtiveram melhor peso médio de velo
do que ovinos com HbAB. KRISHNAMURTHY e
RATHNASABAPATHY (1980) verificaram que ovinos
HbAB apresentaram resultado superior em comparação
com os outros tipos de hemoglobina, porém as diferenças não foram significativas. Em estudos sobre a qualidade da lã no mesmo rebanho, os ovinos com HbA apresentaram resultados superiores em todas as características estudadas. Os tipos de hemoglobina e o peso médio
do velo em ovinos da raça Corriedale da EMBRAPA/
BAGÉ também foram estudados por WEIMER et al.
(1984). Conforme os autores, as diferenças encontradas foram pequenas e estatisticamente não significativas.
A relação entre a percentagem de borregas prenhes
e número de cordeiros assinalados com o polimorfismo
da hemoglobina revela que não existe um ponto de vista comum entre os pesquisadores. Para KING et al.
(1958), MEYER et al. (1968) e OBST e EVANS (1971)
os ovinos com HbA e HbAB são os que apresentam
melhor fertilidade. lá EVANS e TURNER (1965),
WALKER, et al. (1979) e KRISHNAMURTHY e
RATHNASABAPATHY (1980) acreditam que os ovinos com IlbB apresentam vantagens na produção de
cordeiros, considerando o número de animais nascidos
e desmamados. MAYO et al. (1970) e ARORA E
ACHARYA (1972) afirmam que não existem evidências de diferenças significativas para os parâmetros avaliados.
PUSER e HALL (1974) analisaram os dados de
cordeiros nascidos de 2800 ovelhas da raça Scottish
Blackface e concluíram que por um lado as ovelhas com
I-IbB produziram cerca de 10% a mais de cordeiros sobre a média de animais nascidos em relação às ovelhas
com HbA, mas por outro lado, a sobrevivência dos cordeiros nascidos destas ovelhas foi menor quando comparada a dos animais com HbA. Ainda, conforme os
autores, os achados indicam que, sob algumas circunstâncias, a produção de cordeiros poderia ser aumentada
pela seleção de ovinos com HbB.
O estudo do número de cordeiros nascidos, cordeiros desmamados, nascimentos múltiplos e insuficiência reprodutiva em ovinos da raça Corriedale no Rio
Grande do Sul feito por WEIMER et al. (1984) indica
que não existem diferenças significativas para as características estudadas.
Tendo em vista, a inconsistência dos achados, este
trabalht, se propôs avaliar a correlação do polimorfismo
da hemoglobina com a performance produtiva, estima,
.
,
'
J •
assinalados e pelo peso do velo em ovinos da raça
Corriedale no Rio Grande do Sul, mantidos em criação
extensiva. O trabalho também apresenta dados inéditos, até o momento, sobre a correlação dos tipos de
hemoglobina com a qualidade do velo no mesmo rebanho.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no laboratório de
Eletroforese do Departamento de GMética da UFRGS,
no período de dezembro de 1990 a novembro de 1991.
Utilizaram-se 239 borregas de dois dentes da raça
Corriedale, oriundas de uma propriedade localizada no
município de Dom Pedrito. Todos animais foram identificados com brincos plásticos na orelha esquerda e tatuagem na orelha direita. O grupo experimental assim
constituído e identificado, foi mantido em potreiro separado do rebanho geral, obedecendo o mesmo manejo
nutricional e reprodutivo dos ovinos da propriedade.
Amostras de sangue dos animais foram coletadas
mediante punção venosa da veia jugular com agulhas
40x9, usando tubos de Vacutainer de 5 ml, contendo
EDTA como anticoagulante. As amostras de sangue
coletadas foram centrifugadas ( 2.000 rpm — 5') para
separar as hemácias do plasma As hemácias sofreram
três lavagens com solução salina (0,09%). A porção de
eritrócitos resultante dessas lavagens foi adicionada
solução de glicerol (40% de glicerol ; 60% de citrato
trissódico a 5%) na proporção de 1:1 ( WEIMER et al.,
1981).
As hemoglobinas foram tipadas por eletroforese
horizontal em gel de amido e para revelação dos padrões de hemoglobina foi utilizado o corante amido
black 10 B. Deste modo, foram formados os três grupos
experimentais (ovinos com hemoglobina A, AB e B).
As borregas tiveram seus pesos controlados durante
o experimento, mediante duas pesagens. A primeira, foi
realizada em dezembro de 1990 e a segunda ocorreu ao
foral do experimento, em novembro de 1991. Nas mesmas datas, os ovinos do trabalho foram esquiladoS e o
peso do velo bem como a classificação da qualidade
dos mesmos anotados. A classificação da lã seguiu os
padrões estabelecidos pela Federação das Cooperativas
de Lãs do Rio Grande do Sul-FECOLÃ. As comparações entre os tipos de hemoglobina e as características
de peso corporal e peso do velo foram realizadas através de Análise de Variância e as diferenças significativas submetidas ao teste Tukey. Os dados da classificação da qualidade da lã foram analisados pelo teste de
KOLMOGOROV-SMIRNOV.
O diagnóstico de gestação foi realizado por ultrasonografia, 50 dias após a retirada dos carneiros de repasse. Para o diagnóstico foi utilizado um aparelho
• ••-•,•• ti Cl Á 1. 7 , 1
•
CORRELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE HEMOGLOBINA E A PERFORMANCE PRODUTIVA EM OVINOS CORRIEDALE
Mhz, pertencente ao Centro de Pesquisas Veterinárias
Desidério Finamor-CPVDF. A técnica usada foi o exame da ovelha em pé sem jejum prévio. O número de
ovelhas prenhes e o número de cordeiros assinalados
foram analisados pelo teste do Qui-quadrado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O polimorfismo da hemoglobina nas 239 borregas
utilizadas são apresentados na Figura 1. O tipo de
hemoglobina mais encontrado foi o B com 46,86%, seguido do tipo AB com 43,10% e, finalmente o tipo A,
com 10,04%. Os dados indicam que a freqüência gênica
para o alelo Hb B foi de 0.68, aproximadamente o dobro do valor encontrado para o alelo Hb A, que foi de
0,32. Resultados similares aos apresentados na Figura
1 foram encontrados no Japão, por AKAGI et al. (1970)
e em Santa Maria por FAN et al. (1981) e por MOREIRA
et al. (1982) ao pesquisarem fenótipos de hemoglobina
em ovinos da raça Corriedale.
NUMERO DE ANIMAIS
A
AB
B
0 20 40 60 80 100 120 140
FIGURA 1 — Distribuição dos ovinos do grupo experimental, conforme o tipo de hemoglobina
WEIMER et al. (1984) trabalhando com ovinos
Corriedale da EMBRAPA/Bagé, registraram em fêmeas uma freqüência gênica para o alelo Hb A de 0,46 e
para o fenótipo de HbA de 19%, bem maior que as encontradas neste experimento.Os resultados confirmam
que as freqüências fenotfpicas e gênicas apresentam uma
grande variabilidade em diferentes rebanhos ovinos
dentro da mesma raça, podendo representar, além de
uma adaptação as condições do meio, influência da seleção para caracteres produtivos.
A Tabela 1 apresenta os valores encontrados para
o peso do velo dos ovinos na 1' e 2' tosquia . Os ovinos
com HbAB tiveram um peso médio de velo superior
aos ovinos com 11bB (P < 0,05), na segunda tosquia.
TABELA 1 — Resultados do peso médio dos velos sujos de ovinos Corriedale na 1' tosquia, 2" tosquia e 1' +
21 tosquia, conforme o tipo de Hb
PESO MÉDIO DO VELO SUJO
TIPO DE HEMOGLOBINA
11 TOSQ
HEMOGLOBINA A
HEMOGLOBINA AB
HEMOGLOBINA B
< 0,05
2,63
2,65
2,62
Os achados de WATSON e KIIATTAB (1964) e
KROITER e AITMUHANOV (1969), demonstrando
que os ovinos com HbA apresentavam melhor peso de
velo que os outros tipos de hemoglobina, fortalecem os
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 49-54, 1998
2* TOSQ
2,90
2,86'
2,74"
+ 2." TOSQ.
5,53
5,51
5,35
resultados encontrados no presente experimento.
KRISHNAMURTHY e RATHNASABAPATHY
(1980) também verificaram que os ovinos com HbAB
apresentavam resultado superior aos ovinos com HbB,
51
CLAUDIO CHIMINAZZO, LUIZ ALBERTO O. RIBEIRO, TANIA de A. WEIMER
porém as diferenças não eram significativas(P > 0,05).
WEIMER et al. (1984) consideraram que não havia qualquer relação entre os tipos de hemoglobina e o peso do
velo de ovinos da raça Corriedale. Nesse trabalho, os
autores referem que os ovinos com HbA tiveram média
de peso de velo de 3,84 kg contra 3,65 kg e 3,60 kg ,
respectivamente, dos ovinos com HbAB e HbB.
A Tabela 2 apresenta os dados obtidos para a classificação da qualidade dos velos sujos da 1' e 2' tosquia, conforme os tipos de hemoglobina. Foram encontradas diferenças significativas na qualidade dos velos
da 1' tosquia em relação a 2' tosquia dentro dos grupos
com HbAB e HbB. Nesses grupos de hemoglobina,
verificou-se a perda da qualidade do velo na 2° tosquia.
Para os ovinos com HbAB, 81% destes tiveram a lã classificada de Amerinada à Cruza 1 na 1' tosquia, enquanto que na 2' tosquia este valor baixou para 51% (P <
0,05), aumentando consideravelmente a percentagem de
ovinos com lã classificada como Cruza 2. Para os ovinos com HbB, 66% dos animais tiveram a M classificada até Prima B na 1' tosquia, contra 29% na 2' tosquia
(P < 0,05).
TABELA 2 - Classificação da qualidade do velo na P e 2• tosquia, conforme o tipo de hemoglobina
TIPO DE
Hb
CLASSIF.
DO VELO
la TOSQUIA
A
AMERINADA
PRIMA A
PRIMA B
CRUZA 1
CRUZA 2
CRUZA 3
AMERINADA
PRIMA A
PRIMA B
CRUZA 1
CRUZA 2
0,00
AB
B
CRUZA 3
AMERINADA
PRIMA A
PRIMA B
CRUZA 1
CRUZA 2
CRUZA 3
Também foram encontradas diferenças significativas na classificação da qualidade dos velos da 1' tosquia entre os animais com HbAB e HbB. Nessa tosquia
48% dos ovinos com HbAB tiveram o velo classificado
até Prima B, contra 66% dos ovinos com HbB (1' < 0,05),
isto é, os ovinos com hemoglobina B foram aqueles com
melhor qualidade de velo na 1' tosquia. No entanto, essa
tendência de mostrar uma melhor qualidade de velo não
se repetiu na 2' tosquia.
Conforme trabalho apresentado por BLACK
(1988), a taxa de crescimento da lã e várias características do velo mudam substancialmente com a idade dos
ovinos. O diâmetro da fibra tende a aumentar com a
idade do animal, perdendo sua qualidade, e consequentemente, piorando a classificação do velo. A perda de
qualidade do velo também pode ser observada neste trabalho. MAYO et al. (1970) não encontraram evidências
para qualquer real associação do comprimento da fibra
52
4,17
50,00 ,
20,83
16,67
8,33
1,00
5,00
42,00
33,00
17,00
2,00
0,00
16,07
50,00
16,97
12,50
4,6
2a TOSQUIA
0,00
0,00
20,83
29,17
45,83
4,17
0,00
0,00
18,63
32,35
41,18
4,17
0,00
1,80
27,03
34,23
30,63
6,31
de lã, do grau de ondulações, do diâmetro da fibra, da
densidade da lã e espessura da pele com os tipos de
hemoglobina. KRISHNAMURTHY e RATHNASABATHY (1980) observaram que os ovinos com HbA,
apresentaram qualidade superior em todas características estudadas, com diferenças significativas (P < 0,05)
para o comprimento da fibra de lã e para o número de
ondulações por centímetro, resultados divergentes aos
apresentados neste trabalho.
Analisando-se o número de ovelhas prenhes, conforme o tipo de hemoglobina, pudemos verificar que
dos 24 ovinos com HbA, 22 ficaram prenhes (91,67%),
dos 103 ovinos com HbAB, 86 ficaram prenhes
(83,49%) e dos 112 ovinos com HbB, 93 ficaram prenhes (83,04%).Estas diferenças não foram estatisticamente significantes. A percentagem média de prenhez
do rebanho de 84,10%, revelou que houve um grupo de
16% de ovelhas que não mostraram prenhez.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 49-54, 1998
CORRELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE HEMOGLOBINA E A PERFORMANCE PRODUTIVA EM OVINOS CORRIEDALE
A Figura 2 apresenta, além das percentagens de
ovelhas prenhes, os dados sobre a percentagem de cordeiros assinalados em relação ao número de ovelhas
prenhes, conforme o tipo de hemoglobina. Os ovinos
com HbA apresentaram mais cordeiros assinalados
(63,64%) do que as ovelhas com HbAB (62,79%) e HbB
(59,14%). Os dados, mesmo não apontando diferenças
estatisticamente significativas, sugerem que as ovelhas
com HbA apresentam uma melhor eficiência reprodutiva
em relação aos ovinos com HbB.
% CORD. ASSIN. Li % OV.PRENHAS
100
80
60
40
20
0 a
% CORD. ASSIN.
% OV.PRENHAS
a
A
63,64
91,67
62,79
83,49
B
59,14
83,04
FIGURA 2 — Percentagem de cordeiros assianalados em relação ao número de ovelhas prenhes e percentagem de ovelhas prenhes, conforme o tipo de hemoglobina (Dom Pedrito/RS)
Resultados semelhantes aos apresentados nesse trabalho foram descritos por KING et al. (1958), MEYER
et al. (1968), OBST e EVANS (1971) e WEEVIER et al.
(1984). Finalmente, considerando que o erro do diagnóstico com ultra-sonografia é baixo (ao redor de 2%),
pode-se estimar a mortalidade perinatal com base na
percentagem de cordeiros desmamados das ovelhas prenhes. Esses valores foram de 36,36% para ovinos com
IlbA, 37,21% para ovinos com HbAB e 40,86% ovinos
com HbB. As diferenças não foram significativas. Os
dados mostram ainda que a mortalidade perinatal média de cordeiros ficou em 38.14%, mais do que o dobro
daqueles apresentados por RIBEIRO (1997), numa
publicação sobre as perdas reprodutivas em ovinos no Rio
Grande do Sul, onde constatou uma mortalidade perinatal
de cordeiros de 19% num rebanho de ovinos Coniedale.
2. A taxa de prenhez dos ovinos com HbA foi superior em aproximadamente 10% aos ovinos com HbAB
e HbB. Ao mesmo tempo, a taxa de assinalação de cordeiros demonstrou a mesma tendência, ou seja, os ovinos com HbA apresentaram os melhores resultados.
3. O peso de velo sujo dos ovinos dos três grupos
foi praticamente idêntico na 1' tosquia. Na r tosquia, o
peso do velo dos ovinos com HbA e HbAB foi superior ao
grupo de ovinos com HbB. Foi observada diferença significativa (P < 0.05) entre os ovinos com HbAB e HbB.
4. A classificação da qualidade do velo sujo dos
ovinos nos três grupos de hemoglobina decresceu da 1'
para 2' tosquia. Esta diferença foi significativa (P < 0,05)
nos ovinos com HbAB e HbB.
CONCLUSÕES
ROBERTS, 1 Red blood cell
AGAR, N.S.; EVANS,
potassium and haemoglobin polymorphism in sheep: a
review Animal Breding Abstract, Edinburg, v. 40, n. 3,
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Production, Bletchley, v.15, n.1, p. 95-97, 1972.
O alcance dos objetivos propostos para esta pesquisa
pode ser demonstrado com base nos resultados observados, que permitem levar às seguintes conclusões:
1. A tipificação dos padrões de hemoglobina das
239 borregas utilizadas no experimento mostrou que o
tipo de hemoglobina predominante foi oll com 46,86%,
seguido dos tipos AB e A, respectivamente com 43,10%
e 10,04%. A freqüência gênica para o alelo A foi de
0,32.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, /1.1, p. 49-54, 1998
BIBLIOGRAFIA CITADA
53
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.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 49-54, 1998
A ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
JOSE ANTONIO P. PRADO', SYLIO A. PETZHOLDI, PAULO E. RECKZIEGEL', JOÃO CARLOS F. TEIXEIRA'
RESUMO — Neste trabalho é descrita, sob o ponto de vista epidemiólogico e de política de saúde animal, a evolução da
ocorrência da febre aftosa no Rio Grande do Sul, Brasil, e as ações e estratégias utilizadas em 30 anos de campanha de
combate a enfermidade. São analisadas lambem as implicações do processo de erradicação tanto aquelas relacionadas ao
comércio internacional de carnes, quanto as demais exigências complementares que deverão ser aplicadas no Estado de
acordo com o código Zoosanitário do Escritório Internacional de Epizotias OIE.
Palavras-chave:
febre aftosa, epidemiologia, erradicação.
FOOT-AND-MOUTH DISEASE ERRADICATION IN THE STATE OF
RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
ABSTRACT — In Chis paper it is describcd either from the epidemiological point of view and animal health policy the
evolution of foot-and-mouth disease in Rio Grande do Sul State, Brasil regarding the actions and strategies adopted in 30
years of sanitary campaign against the disease. It is also analised the implications of the disease's erradication process related
not only to the international frade but also those additional requirements that must be applied by the State according the
Zoosanitary code issued by the Office International dos Epizooties — OIE.
Key words:
Foot-and-Mouth disease, epidemiology, erradication.
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTO
As ações para o controle e erradicação da febre
aftosa no continente sul americano vem apresentando progressos consideráveis em várias regiões. Se reconhece atualmente que o perfil epidemiológico da
febre aftosa no continente está intimamente ligado
ao modelo de exploração pecuária da região, principalmente aquelas áreas com atividades comerciais
intensas e sistemas produtivos semelhantes
(ASTUDILLO et al., 1986). Este fato por si só determina que as estratégias de combate devem ser tomadas pelos conjuntos da áreas envolvidas e não por
países ou estados separadamente, regionalizando as
ações com o objetivo de se alcançar a erradicação,
com a participação dos vários segmentos sociais que
compõem a atividade agropastoril como os produtores rurais e a agroindústria. Especificamente no caso
do Brasil, o Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina
(SC) fazem parte do programa sub-regional da Bacia
do Prata, que é uma região reconhecida por sua situação sanitária, como passível dc concessão do "status"
de área livre dentro de um mesmo país ou região
obedecendo critérios de identificação de prevalência
e de análise de risco.
Histórico: A Febre Aftosa (FA) há mais de 450
anos ameaça a saúde da pecuária deixando sob risco
todas as áreas do planeta sendo considerada como a
mais importante das afecções transmissíveis dos animais (KITCHING et al., 1990). É uma doença
vesicular, infecto-contagiosa, com grande poder de
difusão, causada por um vírus da família Picornaviridae, gênero Aftovírus que afeta em forma natural
os animais biungulados domésticos e selvagens.É uma
das enfermidades mais devastadoras, temidas e prejudiciais, traz sérios danos à comunidade rural e graves reflexos negativos diretos e indiretos à economia
dos países afetados com conseqüentes e profundas
repercussões nos mercados internacionais devido às
restrições à comercialização nacional e internacional
de animais, seus produtos e subprodutos, impostas
principalmente pelos países livres, importadores de
maior potencial (COHEFA, 1988).
Citam-se, a seguir, alguns fatores que contribuem e justificam tal conceito: alta infecciosidade; extrema contagiosidade; ampla distribuição geográfica; grande variedade de animais suscetíveis e estado
de portador em muitas espécies animais de grande
1. Méd. Vet., M.Sc. — FEPAGRO/Centro Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, Estrada do Conde 6000, Caixa Postal 47, 92990.000 Eldorado do Sul —RS/
BRASIL.
2. Bibl. — FEPAGRO/Centro Pesquisa Veterinária Desiddrio Finamor, Estrada do Conde 6000, Caixa Postal 47, 92990-000 Eldorado do Sul — RS/BRASIL.
Recebido para publicaçâo em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 55-60, 1998
55
•-••• • v■ •• ■.• a. • amj.."..., • •■ ••,
r • La
importância econômica como bovinos, ovinos e caprinos; duração da imunidade ativa por um período relativamente curto; fácil e rápida difusão ou disseminação; alta plasticidade do agente etiológico com conseqüente grande variedade de sorotipos e amostras
antigenicamente distintas sem proteção cruzada entre
si; severidade clínica com deterioração das condições
corporais dos animais biungulados; persistência nas
populações bovinas atingidas; grande concentração de
vírus infeccioso em tecidos de animais infectados, em
exsudatos de lesões e em secreções naturais mesmo antes
do aparecimento de sinais clínicos; prolongada sobrevivência dos vírus no meio ambiente bem como em
objetos contaminados a temperatura ambiente e grande
persistência do vírus em amostras de tecidos dos animais, seus fluidos e subprodutos.
A ocorrência mais antiga da enfermidade (FA) data
de 1514, na Itália. Foi feita por Hieronymus Fracostorius
que relatou o surto de uma enfermidade vesicular altamente contagiosa, afetando bovinos, cuja sintomatologia
era idêntica a da FA (ALONSO FERNANDEZ et al.,
1973). A partir do século XVIII foi reportada em quase
todo o mundo: na Alemanha em 1751 e 1756, na Itália
e França durante os séculos XVII e XVIII, na Inglaterra
a partir de 1839 na Dinamarca em 1841; na África e
Ásia a partir do início do século XIX e na Austrália em
1872.
Nas Américas, a doença foi introduzida entre 18601870, possivelmente através de bovinos oriundos da
Europa, onde, na época, ocorria uma grande epidemia
(ASTUDILLO, 1992), cujos dados da literatura disponível indicam a cronologia que segue: 1860 — detectada
na Argentina; 1865/1866 — novamente reconhecida na
Argentina; 1870 — registros de ocorrências na Argentina, no Canadá, nos Estados Unidos, no Uruguai, no
Chile e no Brasil — Rio Grande do Sul; 1871 — Chile,
Brasil, Uruguai, Argentina e Austrália; 1895 — ocorrência de epidemia no Brasil; 1910 — primeiro registro de
FA no Peru e na Bolívia e provavelmente no Paraguai;
1926 — registro de primeira ocorrência de FA no México; 1950 — na Venezuela e na Colômbia; 1956 — difusão
de FA ao Equador; 1960 — a partir desta data há registros de alguns casos de curta duração, na Guiana e
Guiana Francesa . Assim na América do Sul, a FA teve
uma expansão gradual devido à inconsistência das medidas preventivas e isto ocasionou sua difusão, praticamente, a todos os países, com exceção do Suriname.
Nos Estados Unidos, a FA não ocorre desde 1929, tendo sido eliminada nas nove vezes em que foi introduzida,
por adoção de medidas de quarentena, isolamento, desinfecção e sacrifício dos animais enfermos e dos contatos. O México e o Canadá conseguiram erradicar a
Febre Aftosa e mantêm-se livres da doença desde 1952.
Ainda neste século, o Caribe, a Jamaica, a Martinica, o
Curaçáo e a Aruba, tiveram registros de ocorrência de
56
na nal
lo•
4.444.444,4.444
r.
ColaCial ■
Febre Aftosa, a qual foi eliminada pela adoção de medidas de isolamento e quarentena, que foram facilitadas
pela pequena população animal e características geográficas peculiares.
Para refrear o avanço de uma enfermidade infecciosa é necessário atuar dentro da cadeia epidemiológica
nos seguintes estágios: agente etiológico, hóspede suscetível e meio ambiente. Em zonas endêmicas como a
América do Sul, a atuação sobre a imunidade do hóspede constitui-se num elemento favorável por influir sobre o equilíbrio mantido com o agente.Uma das maiores armas utilizadas no combate a FA foi e continua sendo o estabelecimento de barreiras de imunidade adquirida ativa através da vacinação, que deve ser associada
a outras estratégias de prevenção e contenção do vírus.
O uso sistemático de vacinas pode reduzir marcadamente
a incidência da enfermidade.
Nos primeiros anos de combate à Febre Aftosa na
América do Sul, as vacinas inativadas constituíram-se
quase que no único recurso utilizado. A vacina mais
utilizada foi a hidróxido-saponinada (convencional). A
partir de 1972, o Centro Panamericano de Febre Aftosa
— CPFA — iniciou estudos, a campo, com a vacina composta com adjuvante incompleto de Freund (oleosa), que
mostrou induzir uma imunidade mais duradoura e reduzir a incidência da enfermidade a níveis mais baixos
do que com a vacina convencional. Desde então, a vacina oleosa vem, gradualmente, substituindo a vacina
convencional por conferir um melhor nível imunitário
à população bovina inclusive frente a subtipos, por aumentar seguramente o intervalo inter-vacinações, por
ser vantajosa para o manejo dos rebanhos e para o custo
das operações sanitárias.
A partir de janeiro de 1992, as vacinas aplicadas
no Brasil deveriam ser as de longa duração ou seja, conferir uma imunidade igual ou superior a seis meses.
Ainda em 1992 sugeriu-se a manutenção da estratégia
utilizada na sub-região da Bacia do Prata, utilizando-se
a vacina com adjuvante oleoso, única utilizada nesta
área.
Prejuízos Econômicos: Os prejuízos ecômicos
ocasionados pela FA são conseqüência de muitos fatores associados, complexos e difíceis de quantificar,
sendo apresentados na literatura com uma grande
variação. Segundo a literatura, as perdas são classificadas em diretas (carne, leite, abortos, mortes, etc.) e
indiretas, devido aos problemas que causam na comercialização de carnes ou ainda como sendo de curto, médio e longo prazo de acordo com o período de
pós-infecção.
Presentemente as perdas foram classificadas em:
1— Perdas Físicas de Curto Prazo: mortalidade;
letalidade, diminuição da produtividade; abortos
(natimortos); perda de peso (carne) e leite; perda total
do sêmen e lesões cardíacas eventuais.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 55-60, 1998
A ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. BRASIL
2 Perdas Físicas de Médio e Longo Prazo: capacidade de trabalho diminuiria; esterilidade; redução
da capacidade reprodutiva dos animais; coadjuvação ou
predisposição a infecções secundárias que são responsáveis por infecções podais, infecções bucais, mastites,
metrites e miíases.
3 — Outras Perdas: proibição ou severas restrições no mercado internacional sobre a importação de
animais, sobre o comércio de carne fresca, produtos de
origem animal, material genético como o sêmen, embriões e óvulos, leite e leite em pó, produtos de origem
animal destinados ao uso farmacêutico e produtos biológicos não estéreis; acarreta ainda limitações no trânsito e comercialização de animais e de seus produtos
entre regiões com diferentes condições sanitárias; restrições ao movimento animal; exigência de tratamento
prévio de elevado custo da carne a ser exportada; menor valoração dos produtos de origem animal; sacrifício dos animais; necessidade de quarentena; aumento
no custo das vacinações; maiores custos com medicamentos e manejo; desestímulo ao criador; custos com
limpeza e desinfecção de locais contaminados; interdição de locais ou propriedades; restrições e supervisão
do movimento dentro e fora de propriedades e cercanias expostas à infecção direta ou indireta; perdas em
ganhos eventuais provenientes do arrendamento de instalações; restrições a produtos agrícolas com risco de
conter o vírus da Febre Aftosa; perdas na classificação
de carcaças; falta de livre acesso a todos os mercados
mundial devido à caracterização dos mesmos em áreas
constituídas por países sem aftosa e áreas constituídas
por países com aftosa; novas restrições sanitárias que
surgem dia a dia; implicações políticas, afetando ainda
a nutrição de seres humanos por reduzir a oferta de proteína animal.
Os reflexos relacionados à ocorrência da FA são
devidos, principalmente, a alta taxa de morbidade, perdas na produtividade, conseqüências internacionais (exportação) e nacionais (comercialização) e implicações
políticas.
Assim a reputação da FA como a mais temida e
danosa enfermidade transmissível dos animais, deve-se
a uma complexa associação de fatores que de uma forma geral causam um profundo comprometimento à economia dos países afetados.
—
Áreas Livres de Febre Aftosa no Continente
Americano: Os países da América do Norte, América
Central e Caribe estão livres da FA, assim como o Chile, Guiana, Guiana Francesa, Uruguai e Suriname, na
América do Sul. A região da Patagônia na Argentina e
região norte do Chocó na Colômbia também estão livres de FA. As ilhas Malvinas também estão livres desta enfermidade.
Antecedentes: O Estado do Rio Grande do Sul foi
pioneiro no Brasil no combate à enfermidade com a
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 55-60, 1998
implantação em 1965 da Campanha Estadual de Combate a Febre Aftosa; organizada pela Unidade de Defesa Sanitária do Departamento de Produção Animal da
Secretaria de Agricultura. A partir de 1970 o plano estadual se integrou ao programa nacional de combate à
febre aftosa — Ministério da Agricultura — que incluía
em uma primeira etapa os Estados do Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais,
Espírito Santo e Bahia. Em 1975 se iniciou a segunda
etapa do programa nacional com a inclusão dos estados
de Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Sergipe
(ASTUDILLO et al., 1986). Os demais estados da federação se integraram ao programa no decorrer dos anos
seguintes. Atualmente todo o país está coberto por estratégias regionais para o controle da enfermidade,
abrangendo os diferentes circuitos pecuários.
Dentre os vários êxitos alcançados pelos programas, devem ser destacados os seguintes:
• Obtenção de um sistema de informação de vigilância epidemiológica desenvolvido com o
apoio do CPFA/OPS que com o decorrer dos anos
foi sendo aperfeiçoado inclusive com a eleição
do Rio Grande do Sul como área piloto para estudo deste sistema e que durante vários anos treinou profissionais nacionais e de outros países sul
americanos com vistas a implantação futura, do
que é hoje em nível continental, o sistema de
informação de vigilância epidemiológica.
• Organização de uma rede de laboratórios regionais de diagnóstico distribuídos por todo o país.
No Rio Grande do Sul foi designado o Instituto
de Pesquisas Veterinárias "Desidério Finamo?'
como laboratório regional de referência para diagnóstico das enfermidades vesiculares.
• Implantação dos testes de controle de vacinas
em bovinos para avaliar a eficiência dos
imunógenos disponíveis no mercado. Esta
metodologia exigiu vários anos de investigação
por parte do CPFA e do laboratório do MA em
Porto Alegre, hoje denominado LARMPOA. Esta
prova em bovinos foi aplicada posteriormente em
vários países sul-americanos como teste oficial
de controle de qualidade para vacinas antiaftosa.
• Introdução da tecnologia industrial para a produção da vacina antiaftosa oleosa, tecnologia
esta desenvolvida durante vários anos de investigação, pelo CPFA em colaboração com o Ministério e Secretaria de Agricultura do Rio Grande
do Sul com a realização de testes de campo no
município de Bagé (Fazenda Cinco Cruzes).
Em 1982, os países sul americanos reunidos no Rio
de Janeiro na Comissión Sud Americana para la Lucha
contra la Fiebre Aftosa— COSALFA — elaboraram, aproveitando os acordos internacionais bilaterais já existen-
tes, o documento:
57
JOSE ANTONIO P. PRADO, SYLIO A. PETZHOLD, PAULO E. RECICZIEGEL , JOÃO CARLOS R TEIXEIRA
• "Política e Estratégias para o Combate da Febre
Aftosa na América do Sul para a década 198190". Este documento previa a erradicação da enfermidade no Sul do Brasil (RS), parte da Argentina e todo o Uruguai.
Em 1986, em Porto Alegre, foi oficialmente instalado o Comitê de Erradicação da Febre Aftosa na Bacia
do Prata e em 1987 foi assinado o Convênio de Cooperação Técnica Internacional entre Argentina, Brasil,
Uruguai e OPS para o Controle e Erradicação da Febre
Aftosa na bacia do Rio da Prata.
A meta principal estimava a erradicação da enfermidade no prazo de 5 anos nas áreas da Mesopotâmia
Argentina (Entre-Rios, Corrientes e Missiones), Brasil
(Rio Grande do Sul) e a totalidade do Uruguai, área esta
com uma extensão de 3,9 milhões de lcm 2, 984 mil produtores e com uma população estimada, de 89 milhões
de bovinos, 45 milhões de ovinos e 10 milhões de suínos. Este convênio também previa o ingresso de outras
regiões e/ou países que tivessem a atividade pecuária
FIGURA 1
—
Ocorrência de focos de Febre Aftosa no Rio Grande do Sul de 1966 a 1996
A partir da década de 80 com a introdução do teste
de controle de vacinas em bovinos, com a produção industrial da vacina oleosa pela indústria privada e oficial
e paralelamente à manutenção das medidas convencionais e estratégicas de defesa sanitária com um eficiente
laboratório de diagnóstico, observou-se que a febre
aftosa modificava gradativamente o seu perfil epidemiológico, culminando, ainda na década de 80, com uma
nova caracterização da doença no RS (PLANO... DPA,
SAA, 1993) com o estabelecimento de 4 áreas epidemiológicamente distintas:
• Área endêmica primária: região da Campanha.
58
relacionada à região do Prata como é o caso da incorporação do Paraguai, Bolívia e também do Estado de Santa Catarina. Hoje a região abrange uma área de 6,3 milhões de km2 , e 140 milhões de cabeças em 1,5 milhões
de rebanhos (COSALFA, 1997).
Situação Epidemiólogica: O Rio Grande do Sul,
desde que foi implantada a campanha estadual em
1965 com o registro oficial das ocorrências de febre
aftosa, contabilizou várias situações epidêmicas para
os 3 tipos de vírus, ou seja, O, A e C. Mais precisamente o RS foi afetado em 30 anos de campanha por
5 epidemias da enfermidade que atingiram um número de 18.600 focos expondo ao risco uma população 5.968.000 bovinos dos quais enfermaram
1.374.000. Nos períodos inter-epidêmicos os números de focos foram obviamente menores assim como
o número de animais doentes. Na Figura 1 se pode
observar a evolução da doença desde 196 até 1996
incluído o ano de 1993 que foi o último ano com registro de casos clínicos no Estado.
• Área endêmica secundária: Depressão Central,
Serra do Sudeste, Campos de Cima da Serra.
• Área Ocasional: Alto Uruguai, Planalto Médio.
• Área especial: Grande Porto Alegre (pela presença
de laboratórios produtores de vacinas e laboratórios oficiais de diagnóstico e controle).
Com a obtenção do controle da enfermidade identificado pela modificação do seu perfil epidemiológico
e acrescido da diminuição progressiva até a ausência
dos casos clínicos, foram adotadas medidas de
biossegurança direcionadas principalmente as áreas
"especial ou de alto risco" que no caso do RS foi a rePESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 55-60, 1998
arvatuanylw
AN •
gião da "Grande Porto Alegre", onde se localizavam os
laboratórios oficiais e privados com a manipulação vírus ativo da febre aftosa. A introdução de medidas de
segurança biológica, eliminando uma fonte de infecção
importante, consolidaram significativamente as estratégias do processo de erradicação (PRADO e
RECKZIEGEL, 1997).
A partir de 1988/89 com os primeiros resultados
do convênio da Bacia do Prata que uniformizou as estratégias para a região, houve um decréscimo contínuo
de casos clínicos de febre aftosa e que hoje se reflete
nos seguintes resultados:
• Argentina: todo o país sem a ocorrência de febre
aftosa desde 1994.
• Uruguai: todo o país sem febre anosa desde 1990.
• Brasil (RS e SC): sem a ocorrência de febre
aftosa desde 1994.
• Paraguai: todo o país sem febre aftosa desde 1994.
Todos estes países e/ou regiões possuem (Uruguai,
Argentina e Paraguai) ou já solicitaram como o Brasil,
a certificação internacional de países livres ou livres com
vacinação. Independentemente do país e/ou região é
importante ressaltar que todo este êxito no processo de
erradicação é devido a inúmeros fatôres mas o principal
deles é o da integração, nas mais variadas ações, das
associações de produtores, da indústria de produtos
de origem animal, da indústria de imunobiológicos veterinários, e da classe veterinária oficial e privada.
Perspectivas Futuras:Todo este trabalho que vem
sendo desenvolvido no Rio Grande do Sul há 32 anos,
que dá ao Estado a oportunidade de certificação de "área
livre com vacinação" e por continuidade a mesma situação para Santa Catarina, exigirá um grande esforço
dos segmentos sociais envolvidos tanto oficiais quanto
privados para a manutenção da atual estrutura dos serviços veterinários e também para implementação de
estratégias complementares para que se possa atingir o
estágio de "área livre" de forma definitiva. Dentre as
ações complementares que são recomendadas pelo
Office International des Epizooties — OIE podem ser
destacadas as seguintes:
• Aumentar o controle e as restrições para o ingresso de animais susceptíveis e/ou subprodutos de
origem animal de acordo com a análise de risco
para a região de origem, a frequência e a quantidade da importação.
• Se possível eliminar a vacinação; se as avaliações feitas não suportarem esta ação as vacinações devem ser feitas seletivamente nas zonas de
alto risco e sempre seguidas de levantamento
sorológico.
• Manter sistema de informação epidemiológica
que seja capaz de detectar sinais de alerta com
base nos estudos de análise de risco relacionados
a uma eventual introdução da doença.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 55 60, 1998
-
Lr/ nn.•
B.•• ■■••■■••••■
• Organizar um sistema de emergência com recursos humanos treinados para a sua execução.
• Ter uma legislação adequada a situação sanitária alcançada que permita a execução das operações.
• Implantar procedimentos relacionados a educação, disseminação da informação e de cuidados relativos a prevenir os riscos de introdução
da enfermidade. O público alvo é composto por
os produtores rurais, indústrias dos produtos de
origem animal, profissionais do setor
agropecuário e de saúde animal e o público em
geral.
• Manter um sistema para controle de entrada de
passageiros, cargas e descargas originários de aviões, navios e veículos que eventualmente possam
introduzir o vírus de febre aftosa no país/região.
• Manter um sistema sentinela de vigilância epidemiológica em áreas de risco potencial.
• Em base a uma reconhecida metodologia de análise de risco administrar as relações de comércio
internacional bem como as situações dos turistas
no país.
O encaminhamento futuro destas ações exigirá
grande eficiência e responsabilidade, uma vez que o
Brasil tendo alcançado para os estados do RS e SC uma
situação diferenciada no aspecto sanitário que lhe permite abertura ao mercado internacional de carnes (circuito não- aftósico), não pode correr os riscos de
reintrodução da febre aftosa nesses estados porque,
além dos prejuízos óbvios, um eventual reingresso
da enfermidade nesta região refletirse-á em toda a
área pioneira do Programa de Erradicação da Bacia
do Prata.
Os Estados do RS e SC atingiram uma situação
extremamente favorável para o seu desenvolvimento
pecuário e provavelmente a curto e médio prazo os estados do Paraná e São Paulo sejam incluídos nesta mesma situação sanitária completando assim uma região
geográfica e economicamente importante do país, à qual
irá adicionar-se a etapa seguinte do Plano Nacional de
Erradicação da Febre Aftosa — PNEFA que inclui a intensificação das medidas de controle da febre aftosa nos
estados do circuito Pecuário Centro-Oeste (REGIONALIZAÇÃO... MA, 1996), com vistas à erradicação, o
que será facilitado pela situação já alcançada nas regiões circunvizinhas.
CONCLUSÕES
1. As medidas de carácter técnico e financeirós ,
implementadas pelos governos estadual, federal e
agências internacionais alcançaram os objetivos previstos e conduziram o Rio Grande do Sul ao estágio
atual de "área livre de febre aftosa com vacinação".
59
JOSE ANTONIO P. PRADO, SYLIO A. PETZHOLD, PAULO E. RECICZJEGEL JOÃO CARLOS F. TEIXEIRA
2. O "status" definitivo de "área livre" somente
será alcançado com a manutenção de uma rigorosa vigilância epidemiológica, atendendo as exigências da
0.I.E, para evitar a re-introdução da enfermidade.
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, v,4, ml, p. 55-60, 1998
DIFERENÇAS EM NÍVEIS DE ANTICORPOS NEUTRALIZANTES CONTRA HERPESVIRUS BOVINOS
TIPOS 1 (BHV-1) E 5 (BHV-5)
MARJORIE E BECK TEIXEIRA', PAULO AUGUSTO ESTEVES2 , CYNTHIA SOFIA SCHMIDT COELHO', TAMIR
CALCAGNOTTO da SILVA', LILIANE GUIMARÃES OLIVEIRA', PAULO MICHEL ROEHE'
RESUMO — Com o objetivo de comparar os anticorpos neutralizantes induzidos por infecções por herpesvírus bovinos, 508
soros bovinos foram testados pela prova de soroneutralização (SN) frente' aos Herpesvfrus Bovinos tipo 1 (511V-1) e tipo 5
(BHV-5). Duzentos e quarenta e nove (49%) foram negativos para ambos os vírus, enquanto que 290 (57%) foram positivos
para BHV-I e 288 (57%) foram positivos para BHV-5. No entanto, 41 (8%) dos soros positivos para BHV-1 foram negativos
para anticorpos anti- BHV-5. Por outro lado, 39 (7,7%) dos soros positivos para BHV-5, foram negativos para BHV-1. Estes
resultados indicam que, se a SN for utilizada com a finalidade de avaliar o status sorológico de infecções por BHV-1 e BHV5, os testes devem ser realizados frente aos dois tipos de vírus, uma vez que eles não induzem reatividade cruzada em todos
os animais.
,
Palavras-chave: bei-pontos, bovino, BHV-1,
DIFFERENCES IN NEUTRALIZING ANTIBODY LEVELS TO BOVINE HERPESVIRUSES
TYPES 1 (BHV-1) AND 5 (BHV-5)
ABSTRACT —In order to compare the neutralizing antibody response after natural bovine herpesvirus infections, 508 cattle
sere were tested by serum neutralization (SN) against bovine herpesvirus type I (BHV-1) and bovine herpesvirus type 5
(BHV-5). Two hundred. and forty-nine (49%) sere were negative for antibodies to both viruses, whereas 290 (57%) were
positive for BHV-I and 288 (57%) were positive for BHV-5 antibodies. However, 41 (8%) of the BHV-1-positive sera were
negative for BHV-5 antibodies. On the other hand, 39 (7.7%) of the BHV-5-positive sere were negative for BHV-1 antibodies.
These resulta indicate that, if SN is to be used to evaluate the serological status of herda to thcse two types of viruses, testa
must be performed against both BHV-1 and BHV-5, since they do not induce fully crossreactive neutralizing antibodics.
Key words : Serum neutralization, Bovine Herpesviruses, BHV-1, BHV-5.
INTRODUÇÃO
Os principais herpesvírus bovinos identificados, no
Brasil, são o Vírus da Rinotraqueíte Infecciosa Bovina
ou Herpesvírus Bovino tipo 1 (BHV-1) e o Vírus da
Encefalite Bovina ou Herpesvfrus Bovino tipo 5 (BlIV5), este último previamente considerado um subtipo de
BHV-1, denominado BHV-1.3 (ROIZMAN et al. 1992).
Ambos são membros da família Herpesviridae,
subfamília Alfaherpesvirinae, sendo responsáveis por
várias enfermidades que afetam os sistemas reprodutivo,
respiratório e nervoso. Estima-se que 30% da população bovina do Brasil (cerca de 50 milhões de animais)
esteja contaminada com o BHV-1, sendo que 50% a
70% das propriedades apresentam animais sorologica-
mente reativos perante o vírus (RAVAZZOLO et
al.,1989; PITUCO et al.,1993; LOVATO et al.,1995;
VIDOR et a1.,1995). Por outro lado, a prevalência de
infecções pelo BHV-5, até há pouco tempo considerado um subtipo do BHV-1, ainda é desconhecida. Igualmente, desconhece-se qual a proporção dentre os animais supostamente infectados com BHV-1 que, de fato,
foram infectados por BHV-5. Isto tem ocorrido, porque
a diferenciação entre BHV-1 e BHV-5 é difícil, tanto
virológica como sorologicamente, devido às extensas
reações sorológicas cruzadas induzidas por ambos.
Como conseqüência, até o momento não existe nenhum
teste sorológico capaz de diferenciar infecções por BHV1 e BHV-5 com a praticidade necessária para sua aplicação em levantamentos epidemiológicos. Embora uma
1. MM. Vet., Mestraoda do Curso de P6s-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da UFRGS.
2. Bi61.- FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, Estrada do Conde 6000, 92990-000 Eldorado do Sul — RS/BRASIL. Bolsista de
Aperfeiçoamento CNPq.
3. Estudante de Biologia — Departamento de Microbiologia do Centro de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (DMICBS/UFRGS), Porto Alegre — RS/BRASIL. Bolsista de Iniciação Científica,
4. MM. Vet., M.Sc.- IRFA Química e Biotecnologia Industrial Ltda.
5. MM. Vet.- FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária DesidMo Finamor, Estrada do Conde 6000, 92990-000 Eldorado do Sul — RS/BRASIL
6. Méd. Vet., Ph.D.- FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, Caixa Postal 2076, 90001-970 Porto Alegre — RS/BRASIL. E-mail:
[email protected], e DM-ICBS/UFRGS. Autor pura correspondência.
Recebido para publicaçáo eni25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 61-65, 1998
61
MARJORIE E RECK TEIXEIRA, PAULO AUGUSTO ESTEVES, CYNTHIA SOFIA SCHMIUT COELHO, TAMIR CALCAUNUCTO da SILVA,
LILIANE GUIMARÃES OLIVEIRA, PAULO MICHEL ROBLE
variedade de ensaios imunoenzimáticos venham sendo
aplicados ao diagnóstico sorológico de BHV-1, na maioria dos laboratórios do País a prova utilizada para este diagnóstico ainda é o teste de soroneutralização (SN), prova
esta usualmente realizada frente a uma amostra de BHV1, e aceita universalmente como prova sorológica padrão
para o diagnóstico sorológico de BHV-1 (BITSCH, 1978).
O objetivo do presente estudo foi avaliar o nível
de anticorpos neutralizantes induzidos por amostras de
BHV-1 e BHV-5 em bovinos naturalmente infectados
e avaliar a extensão das reações cruzadas entre ambos
utilizando a técnica de SN.
SORONEUTRALIZAÇÃO
Os testes de soroneutralização (SN) foram realizados essencialmente como descrito por HOUSE e
BAKER (1971), em placas de microtécnica, frente a 100
DICC5, de cada uma das amostras virais LA (BHV-1) e
EVI 88 (BHV-5), utilizando um período de incubação
da mistura soro/vírus de uma hora a 37°C, antes do acréscimo de células MDBK. A leitura das placas foi feita
48, 60 e 72 horas após o início do teste. Todas as amostras de soros bovinos foram testadas em quadruplicata
frente aos dois vírus. Os títulos dos soros foram determinados pelo método de Reed e Müench (LORENZ e
BOGEL, 1973).
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
CÉLULAS
Foram utilizadas células da linhagem de rim de
bovino "Madin Darby Bovine Kidney" (MDBK) cultivadas em meio mínimo essencial de Eagle (MEM;
INLAB) suplementado com 5% de soro fetal bovino
(SFB; Nutricell). Todos os meios e soros foram previamente testados para assegurar a inexistência de pestivírus
e anticorpos contra herpesvírus bovinos. As células foram tripsinisadas a cada 2 dias e cultivadas seguindo
métodos usuais (PAUL, 1970).
AMOSTRAS DE VÍRUS E MULTIPLICAÇÃO
VIRAL
Foram utilizadas as amostras Los Angeles (LA)
de BHV-1, obtida do Instituto Nacional de Tecnologia
Agropecuária CINTA), Castelar, Argentina, e a amostra
EVI 88 de BHV-5 citada em estudo prévio (ROEHE et
al. 1997). A multiplicação das amostras virais foi realizada em células MDBK, como descrito (ROEHE et al.
1997). As amostras de vírus foram tituladas por métodos usuais (BITSCH, 1978).
SOROS
Quinhentas e oito amostras de soros bovinos foram obtidas do estoque de soros enviados ao CPVDF
para diagnóstico.
Os resultados dos testes de SN das 509 amostras
de soros bovinos frente aos dois herpesvírus bovinos
(BHV-1 e BHV-5) encontram-se nas Tabelas 1 e 2. Na
Tabela 1 observa-se que, das amostras de soros examinadas, 290 (57%) apresentaram anticorpos neutralizantes frente à amostra de BHV-1 e 288 (56,6%) frente à
amostra de BHV-5. Cento e oitenta (35,4%) foram negativas frente a ambos os vírus. Quarenta e um (8%)
soros testados foram positivos somente para BHV-1,
ao passo que 39 (7,7%) foram positivos somente para
BHV-5. A tabela de distribuição de freqüências dos títulos de anticorpos (Tabela 2) revela que a maioria (38/
39) dos soros positivos somente para anticorpos antiBHV-5 apresentaram títulos até 1:8. Por outro lado, 37
dos 41 soros positivos somente para anticorpos antiBHV-1 apresentavam títulos até 1:8. Estes resultados
indicam que os soros que deram margem a reações tipoespecíficas (isto é, somente contra um dos dois vírus
testados) são soros que possuem títulos baixos de
anticorpos. Quando os títulos de anticorpos neutralizantes foram maiores do que 1:8, somente em 5 casos (1
soro positivo para BHV-5 com título 1:16 e 4 soros
positivos para BHV-1 com títulos iguais ou maiores do
que 1:16) dentre os 80 soros com anticorpos tipo-específicos, não houveram reações cruzarias.
TABELA 1 — Resultado dos testes de soroneutralização (SN) frente ao Herpesvírus da Encefalite Bovina
(BHV-5) e ao Vírus da Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (BHV-1); (n=509)
Positivo
Anticorpos
anti-BHV-1
Negativo
TOTAL
Anticorpos anti-BHV-5
Positivo
Negativo
249 *
41
(48,9%)
(8%)
39
180
(7,7%)
(35,4%)
288
221
(43,4%)
(56,6%)
TOTAL
290
(57%)
219
(43%)
.509
(100%)
* Número de soros.
62
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 61.65,19%
DIFERENÇAS FM NIVEIS DE ANTICORPOS NEUTRALTZANTES CONTRA HERPESVIRUS BOVINOS TIPOS 1 (BlIV-1) E 5 (BHV-5)
TABELA 2 — Distribuição de freqüências dos títulos de anticorpos neutralizantes frente ao Herpesvírus da
Encefalite Bovina (BHV-5) e ao Vírus da Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (BHV-1) em 509 soros
ANTICORPOS NEUTRAL1ZANTES ANTI-BHV-5
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(*) Títulos expressos como a recíproca da diluição capaz de neutralizar 100 doses infectantes para cultivos celu
lares (CCIDso) de cada uma das amostras de BHV-1 or BHV-5.
Área com fundo preto salienta soros negativos para anticorpos neutralizamos, para ambos vírus. Arcas com
hachuriado mais intenso salientam soros com anticorpos tipo-específicos somente.
Como, até recentemente, o BHV-5 era considerado um subtipo do BH V-1 (ROIZMAN et al., 1992), não
existia a preocupação c, nem a necessidade de diferenciar estes dois tipos de vírus. Além disso, os níveis de
reações sorológicas cruzadas entre ambos são amplos
(BRATANICH et al., 1991).
Não obstante, existem diferenças importantes entre os dois tipos de vírus, detectáveis não só, através das
características clínico-epidemiológicas das enfermidades por eles provocadas, como também nas respostas
sorológicas induzidas. Foi aqui demonstrado que a SN,
o teste mais freqüentemente utilizado para diagnóstico
sorológico de infecções por herpesvírus bovinos em
nosso meio, e ainda considerada como prova sorológica
padrão, detecta a maioria das reações sorológicas cruzadas Porém, 7,7% dos soros contendo anticorpos tipoespecíficos anti-B H V-5 não foram detectados pela SN
frente ao BHV-1. Por outro lado, a SN frente ao 1311V5 não foi capaz, de detectar 8% dos soros contendo
anticorpos tipo-específicos anti-BHV-1. Estes níveis de
"falsos-negativos" refletem uma população de animais
que não seria identificada em levantamentos sorocpidemiológicos, caso as provas de SN houvessem sido
PESQ. ACROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 61 65, 1998
-
realizadas com apenas um dos tipos de vírus. Estes percentuais seriam mais do que suficientes para manter a
infecção nos rebanhos, a despeito de qualquer outra
medida que viesse a ser tomada buscando sua eliminação. Portanto, em situações onde o objetivo for o controle ou erradicação de herpesvírus bovinos, a SN realizada frente, somente a um desses dois tipos de vírus
não deve ser tomada como parâmetro único, uma vez
que o rebanho pode apresentar animais contaminados
com o outro agente, os quais poderiam não ser detectados. Assim, o controle do BHV-1 poderia levar à manutenção do BHV-5 em determinada população, e viceversa, com conseqüências imprevisíveis.
A maioria dos soros "falsos-negativos" frente a um
dos tipos de vírus apresentou títulos de anticorpos tipoespecíficos relativamente baixos, raramente ultrapassando 1:8. É provável, pois, que ensaios imunoenzimáticos
que apresentem maior sensibilidade possam dar origem
a um menor número de falsos-negativos. No entanto,
que seja do conhecimento dos autores, até o presente,
nenhum estudo foi feito com ensaios imunoenzimáticos
levando cm consideração a possibilidade de reações cmzadas entre estes dois agentes. O ideal, para determinar
63
MARJORIE E BECK TEIXEIRA, PAULO AUGUSTO ESTEVES, CYNTHIA SOFIA SCHMIDT COELHO, TAMIR CALCAGNOTIO da SILVA,
LILIANE GUIMARÃES OLIVEIRA, PAULO MICHEL ROEHE
a verdadeira prevalência de infecções por BHV-1 e
BHV-5, deveria ser utilizar testes capazes de diferenciar as respostas sorológicas induzidas por estes
dois vírus. Caso estes não se encontrem disponíveis,
os testes a serem utilizados devem ser capazes de
detectar todos os animais soropositivos, tanto para
BHV-1 como BHV-5. Nos casos em que for utilizada a SN como prova sorológica, a mesma deve ser
realizada frente a amostras de BHV-1 e BHV-5, a
fim de diminuir a chance de ocorrência de falsos-negativos.
A prevalência de infecções pelo BHV-5 é desconhecida, em todo o mundo. A maioria dos relatos
de infecções por este vírus referem-se a casos na Argentina (CARRILLO et al., 1983) e Austrália
(FRENCH, 1962; STUDDERT, 1990). Nos Estados
Unidos da América, poucas amostras do BHV-5 foram isoladas (BELKNAP et al. 1994). No entanto,
estudos retrospectivos buscando reavaliar casos antigos têm revelado que, em muitas ocasiões, o vírus
isolado no passado tratava-se de BHV-5, e não BHV1 (d' OFFAY et al., 1993; ELY et al., 1996). No Brasil, casos clínicos de encefalite em bovinos dos quais
são isoladas amostras de BHV-5 vem aumentando
consideravelmente. A infecção tem sido detectada nos
estados do Rio Grande do Sul (RIET-CORREA et
al., 1989; WEIBLEN et al., 1989), Mato Grosso do
Sul (ROEHE et al. 1997), Paraná (ALFIERI, 1997)
e, mais recentemente, no Rio de Janeiro (PITUCO,
1997). A ocorrência nos demais estados do País não
é do conhecimento dos autores. Além disso, a
encefalite pelo BHV-5 se apresenta com uma
morbidade baixa, porém com mortalidade elevada,
podendo freqüentemente ser confundida com outras
causas de encefalite, particularmente a raiva. Em consonância com a patogenia das infecções pelo BHV1, a maioria das infecções com o BHV-5 provavelmente ocorre de forma subclinica ou assintomática.
Portanto, apesar da ausência de informações sobre a
ocorrência da infecção em outros estados, o conjunto
de fatores citados sugere que o BHV-5 seja enzoótico
em nosso País. Estas observações reforçam a necessidade de que os testes de SN, quando utilizados em
apoio a planos de controle ou erradicação, sejam realizados frente a ambos os tipos de vírus.
CONCLUSÕES
Quando testes de soroneutralização forem utilizados com a finalidade de avaliar o status sorológico
de infecções por BHV-1 e BHV-5, os mesmos devem ser realizados frente aos dois tipos de vírus, uma
vez que eles não induzem reatividade cruzada em todos os animais.
64
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65
ANTICORPOS MONOCLONAIS CONTRA O HERPESVÍRUS BOVINO TIPO 5 (BHV-5) '
RENATA SERVAN de ALMEIDA', SILVIA VALIM de MELO', TAMIR CALCAGNOTTO da SILVA', LILIANE GUIMARÃES OLIVEIRA', RICARDO ANTONIO AMARAL LEMOS', PAULO MICHEL ROEHE'
RESUMO — Dez hibridomas secretores de anticorpos monoclonais (AcMs) contra antígenos do Herpesvírus Bovino tipo 5
(BHV-5) foram selecionados por sua capacidade de ligar-se a células infectadas com amostras do Herpesvírus da Encefalite
Bovina (BHV-5), em testes de imunoperoxidase (IPX). Nove dos dez AcMsproduzidos reconheceram antígenos em 10/10
amostras de BHV-5 testadas. Um dos AcMs reconheceu nove entre dez amostras classificadas como BHV-5.
Palavras chave:
-
herpesvírus bovino, encefalite, anticorpo, BHV-5.
MONOCLONAL ANTIBODIES TO BOVINE HERPESVIRUS TYPE 5 (BHV-5)
ABSTRACT — Ten hybridomas secreting monoclonal antibodies (Mabs) were produced to bovino herpesvirus type 5 (BHV5) antigens. The hibridomas were selected with basis on their capacity to bind to cells infected with isolates of bovino
encephalitis herpesvirus (BHV-5), in immunoperoxidase (IPX) tests. Nine of lhe ten Mabs recognized antigens on 10/10
isolates tested. The remainder Mab recognized antigens on nine out of ten BHV-5 samples.
Key words:
bovine herpesvirus, bovino encephalitis virus, monoclonal antibodies, BHV-5.
INTRODUÇÃO
O Herpesvírus Bovino tipo 5 (BHV-5) é um vírus
pertencente à família Herpesviridae, subfamília Alfaherpe svirinae (PORTERFIELD, 1989). Este vírus é responsável por infecções no sistema nervoso central de
bovinos, causando meningoencefalites não-purulentas
(CARRILLO et al., 1983; WEIBLEN et al., 1989). Infecções por BHV-5 vêm despertando grande interesse
devido à sua disseminação aparentemente ampla em
países do hemisfério sul, bem como por sua associação
com baixa morbidade e alta mortalidade (BAGUST e
CLARICE, 1972). No Brasil, encefalites causadas por
BHV-5 têm sido confirmadas de forma crescente nos
rebanhos, principalmente nas regiões Sul e Central do
País (WEIBLEN et al., 1989; RIET-CORREA et al.,
1989; ROEHE et al., 1997).
As amostras hoje classificadas como BHV-5, durante muito tempo, foram consideradas subtipos do
Herpesvírus Bovino tipo 1 (BHV-1) devido ao alto grau
de homologia existente entre os genomas de ambos os
vírus (ENGELS et al., 1987; BULACH e STUDDERT,
1990) e às extensas reações sorológicas cruzadas entre
suas infecções (FRENCH, 1962). Portanto, a prevalência
das infecções por BHV-5 é desconhecida, uma vez que,
até o presente momento, não existem testes sorológicos
capazes de diferenciar estas infecções daquelas causadas por BHV-1 (ROEHE et al., 1997). Em levantamentos sorológicos, é importante a determinação dos níveis
de anticorpos, tanto frente a amostras de BHV-1 quanto
de BHV-5, caso contrário uma significativa proporção
de amostras positivas para um ou outro agente poderá
não ser detectada (TEIXEIRA et al., 1996).
Com base no interesse despertado pela existência
de diferentes amostras de herpesvírus bovino e pela crescente ocorrência de infecções encefalitogênicas causadas pelo BHV-5, este estudo teve como objetivo a produção e caracterização de anticorpos monoclonais
(AcMs) contra antígenos do BHV-5.
MATERIAL E MÉTODOS
Células
As células utilizadas para a produção dos antígenos
virais e triagem dos hibridomas foram da linhagem
MDBK (Madin Darby Bovine Kidney). Estas células
foram cultivadas em meio mínimo essencial de Eagle
(MEM) com 10% de soro fetal bovino (SFB) e 0,2 ml/
1 de enrofloxacina a 5%, seguindo metodologia usual
(PAUL, 1970). As células de mieloma da linhagem Sp2/
I. Trabalho elaborado como parte da Dissertação de mestrado da primeira autora.
2. Méd.Vel.,M.Sc. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidéria Finamor — CPVDF —Caixa Postal 47, 92990-000 Eldorado do Sul — RS/BRASIL
3. Estudante de graduação da Curso de Farmácia — Departamento de Microbiologia, Centro de Ciências Básicas da Saúde — Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (DM-ICBS/UFRGS). Bolsista de Iniciação Científica.
4. Méd. Vet.. M.Sc.- IRFA Química e Biotecnologia Industrial Ltda.
5. Méd. Vet. — FEPAGRO/CPVDF
6. Méd. Vet., M.Sc. — Departamento de Medicina Veterinária, UFMS.
7. Méd. Vet., Ph.D. — FEPAGRO/Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamos, Caixa Postal 2076, 90001-970 Porto Alegre RS/BRASIL DM-ICBS/
UFRGS, E-mail, [email protected] — Autor para correspondência.
Recebido para publicação em 25/11/1997.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, e.1, p. 67-72, 1998
67
RENATA SERVAN de ALMEIDA, SILVIA VALIM de MELO, TAMIR CALCAGNOTTO de SILVA, LILIANE GUIMARÃES OLIVEIRA, RICARDO
ANTONIO AMARAL LEMOS, PAULO MICHEL ROEHE
O-Ag14 foram utilizadas para a produção dos
hibridomas. Estas células foram cultivadas em meio
RPMI 1640 suplementado com 10% de SFB, 0,3 g/1 de
glutamina, 0,11 8/1 de dextrose, 2,3 gõ de HEPES, 2,0
g,/1 de bicarbonato de sódio e 50mg/m1 de gentamicina.
O soro fetal utilizado no crescimento celular foi previamente testado para garantir a inexistência de anticorpos
específicos contra BHV-1 e BHV-5, assim como contaminação por bactérias, fungos, micoplasma e pelo
Vírus da Diarréia Virai Bovina (BVDV).
Amostras virais
As amostras de vírus foram consideradas como
pertencendo ao subtipo 5 com base nas características
clínico-epidemiológicas dos casos dos quais foram isoladas. Estas amostras apresentaram um perfil de
reatividade distinto daquele apresentado por amostras
de 1314V-1 frente a AcMs produzidos contra este último
(ROEHE et al., 1997). A amostra de BHV-5 "EVI 88"
foi utilizada nas imunizações dos camundongos e triagem dos hibridomas. Esta amostra é proveniente de um
caso de encefalite bovina e possui um perfil de
reatividade compatível com BHV-5 quando testada frente a AcMs já disponíveis no laboratório (SILVA, 1995).
A amostra "EVI 88" e as demais amostras utilizadas
neste trabalho foram obtidas dos estoques do Centro de
Pesquisa Veterinária Desidério Finamor (CPVDF) e
estão citadas e referenciadas na Tabela 1.
Produção de antígeno
As células MDBK cultivadas em garrafas de
ROUX receberam 5 ml/garrafa de suspensão virai a uma
multiplicidade de infecção de 0,1 a 1 dose infectantc/
célula para 50% dos cultivos celulares (DICC 20). Quando o efeito citopático (ECP) atingiu aproximadamente
90% , a suspensão foi coletada e centrifugada a 2.000 x
g por 10 minutos, sendo o "pellet" de células desprezado. O sobrenadante obtido centrifugado a 100.000 x g
por 2 horas. O pellet de vírus foi então ressuspenso em
MEM sem SFB, sonicado a 60 microamperes
(Ultrasonics Ltd.) três vezes durante 30 segundos, com
intervalos de 30 segundos.
Produção de anticorpos monoclonais
Camundongos da linhagem endocruzada BALB/c
com 45 a 60 dias de idade foram inoculados
intraperitonealmente com uma emulsão contendo 250m1
de antígeno virai e 250m1 de adjuvante completo de
Freund (ACF). Estes camundongos foram reinoculados
duas vezes com intervalos de 21 dias, com uma emulsão
semelhante, somente substituindo o ACF por adjuvante
incompleto de Freund. Cinco dias antes de cada fusão,
os mesmos foram inoculados via intravenosa com 200m1
de antígeno virai sem adjuvante. O método para a preparação dos hibridomas foi essencialmente descrito por
68
KÓHLER e MILSTEIN (1975) com algumas adaptações sugeridas por HARLOW e LANE (1988): o baço
do camundongo imunizado foi removido, os
esplenócitos foram separados com o auxilio de pinças e
lavados duas vezes com meio RPMI sem SFB. As células de mieloma foram lavadas uma vez igualmente em
meio RPMI sem SFB e misturadas aos esplenócitos
numa proporção de 4 a 8 linfócitos para uma célula de
mieloma. A mistura foi submetida a um processo de
lavagem e a fusão das células foi realizada pela adição
cuidadosa de polietilenoglicol (PEG) fundido a 56°C e
diluído a 30% em meio RPMI sem SFB contendo 15%
de dimetilsulfóxido (DMSO). Após a fusão, a mistura ,
foi centrifugada a 1.000 x g por 10 minutos e o pellet
celular ressuspenso em 60 ml de meio RPMI
suplementado com HAT (Hipoxantina 0,1 mM,
Aminopterina 0,0004 mM, Timidina 0,016 mM) e 20%
de SFB. A suspensão celular foi distribuída em
microplacas de 96 orifícios a uma concentração de lx10 6
células/ml e as placas foram incubadas a 37°C em atmosfera contendo 3% de CO 2. O meio HAT foi trocado
em 50% no terceiro, sétimo, décimo e décimo quarto
dias após a fusão. No décimo sétimo dia, o meio HAT
foi substituído em 50% por meio RPMI contendo HT
(Hipoxantina 0,1mM e Timidina 0,016mM) e 10% de
SFB que, por sua vez, também foi trocado em 50% por
mais quatro vezes. Os hibridomas produtores de
anticorpos para amostra EVI 88 foram tilados pela técnica de irnunoperoxidase (IPX), expandidos e clonados
por, no mínimo, duas vezes através da técnica das diluições limitantes (KOHLER e MILSTEIN, 1975). Os
hibridomas clonados foram testados frente a 25 amostras de herpesvírus em testes de IPX e em sua capacidade de produzir anticorpos neutralizantes em testes de
soroneutralização.
Imunoperoxidase (IPX) sobre cultivos celulares
O teste de IPX permite a seleção dos hibridomas
positivos, através da capacidade de ligação dos AcMs
produzidos por estes, às células infectadas (SILVA,
1995). Células MDBK foram cultivadas em microplacas
de 96 orifícios e infectadas com 100 DICC 20 da amostra
virai EVI 88. Quando evidenciado o início do ECP as
placas foram submetidas à fixação das células com acetona a 20% e secagem a 37°C durante 4 horas. Para a
execução do teste de IPX, as células foram reidratadas
por 5 minutos com PBS T-80 (8,5 g NaCI; 1,55 g
Na2HPO4.2H20; 0,23 g; NaH2PO4.H20; 5 ml Tween 80;
1120 q.s.p. 1 1). Após a remoção do líquido hidratante,
foram adicionados às placas 50 ml de sobrenadante puro
do cultivo dos hibridomas. Soro controle positivo (soro
policlonal anti-EVI 88 produzido em camundongos) e
negativo (soro de camundongos normais) foram incluídos em cada teste As placas foram submetidas a incubação a 37 °C durante 15 minutos e, logo a seguir, a três
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 67-72, 1998
ANTICORPOS MONOCLONAIS CONTRA O HERPESVIRUS BOVINO TIPO 5 (BHV-5)
lavagens com PB S T-80. Foram adicionados, então, 50
ml de conjugado peroxidase/anti imunoglobulina de
camundongo (Sigma), adequadamente diluído em líquido de diluição (29,5 g NaCI; 1,55 g Na2HPO4.2H20;
0,23 g NaH2PO4.H20; 5 ml Tween 80; H 2O q.s.p..1 1;
pH 6,4) e subseqüentemente as placas foram novamente incubadas a 37°C por 15 minutos. Após novo processo de lavagem, a prova foi revelada pela adição do
substrato AEC (15 ml dimetil-formamida; 0,1 g 3amino-9-ctilcarbazol) diluído como recomendado
(HARLOW e LANE, 1988).
Isotipagem dos AcMs
Os isotipos dos AcMs produzidos foram determinados através de um teste imunoenzimático do tipo
ELISA de captura, adquirido comercialmente (Sigma)
e seguindo metodologia recomendada pelo fabricante.
Análise da reatividade dos AcMs por IPX frente
às amostras virais
O teste de IPX também foi utilizado para análise
da atividade dos anticorpos monoclonais produzidos
frente a diferentes amostras de BIIV-1 e BHV-5 listadas
na Tabela 1.0 teste foi realizado como descrito na triagem dos hibridomas e repetido, no mínimo, uma vez.
Teste de soroneutralização (SN)
O teste de SN foi utilizado para a avaliação da capacidade neutraliz.ante dos AcMs produzidos, frente a
amostra "EVI 88", isolada em 1995 a partir de um caso
de encefalite (ROEHE et al., 1997). Para a realização
do teste seguiu-se essencialmente protocolo descrito por
HOUSE e BAKER (1971). Para a avaliação da capacidade neutralizante dependente de complemento, o teste
de SN foi repetido na presença de 10% de soro de cobaio
como fonte de complemento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram selecionados dez hibridomas reativos para
a amostra EVI 88 de BHV-5. Estes hibridomas foram
denominados BBD10, 2B6, 2C3, 2C5, 3A2, 3B 12, 31)2,
31)11, 5E2 e 6A2. A isotipagem dos hibridomas revelou que um dos AcMs (BBD10) era pertencente à classe IgM. Os demais AcMs (2B6, 2C3, 2C5, 3A2, 3B12,
3D2, 31311, 5E2 e 6A2) são pertencentes à classe IgG 3 .
No teste de SN, nenhum dos AcMs produzidos apresentou capacidade neutralizante frente à amostra EVI
88, tanto na presença como na ausência de complemento.
Teste de IPX para análise da reatividade dos AcMs
frente às amostras visais:
Os dez hibridomas positivos foram analisados frente às 10 amostras de BHV-5. O resultado desta análise
encontra-se na Tabela 2. Nove dos AcMs produzidos
reconheceram antígenos em todas as amostras de BHV5. O AcM BB1)10 reconheceu todas as amostras de
BHV-5 testadas, à exceção da amostra EVI 190.
TABELA 1 — Amostras de Herpesvírus Bovino tipo 5 (BHV-5) utilizadas na caracterização dos anticorpos
monoclonais produzidos, de acordo com o quadro clínico associado e procedência
1- Amostras isoladas no Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor; 2- Amostras gentilmente cedidas pelo
Prof. Dr. Teimo Vidor, Universidade Federal de Pelotas (UFPeI); 3- Amostras cedidas pelo Prof. Dr. Rudi Weiblen,
Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM);, 4- Amostras cedidas pelo Prof. Dr.
Amauri Alfieri, Fundação Universidade Estadual de Londrina (FUEL); $$ De acordo com SILVA, (1995)
PESQ. AGROP. GAÚCHA, ..4, n.1, p. 67-72, 1998
69
RENATA SERVAN de ALMEIDA. SILVIA VALIM de MELO, TAMIR CALCAGNOTTO da SILVA, LILIANE GUIMARÃES OLIVEIRA, RICARDO
ANTONIO AMARAL LEMOS, PAULO MICHEL ROEHE
TABELA 2 — Perfil de reatividade dos anticorpos monoclonais (AcMs) produzidos, frente a diferentes amostras de Herpesvfrus Bovino tipo 5 (BHV-S)
Ëvr34.40-w-
C
3,831)11,.
,à4
Cc
Obs: — Reação negativa; 1+ Reação de intensidade baixa; 2+ Reação de intensidade média 3+ Reação de intensi
dade forte; 4+ Reação de intensidade muito forte
Devido ao elevado nível de semelhança antigênica
entre BHV-1 e BHV-5, pouca importância vinha sendo
dada ao BHV-5 como agente de uma enfermidade distinta daquelas causadas por amostras típicas de BHV-1.
No hemisfério norte, mesmo em casos de encefalite associadas a herpesvírus bovinos, a maioria das amostras
de vírus isoladas tem sido BHV-1, e não BH V-5
(d'OFFAY et al., 1993). A similaridade antigênica entre os dois tipos de vírus, associada à pequena ocorrência do BHV-5 naquele hemisfério, certamente vinham
contribuindo para o limitado conhecimento sobre a
epidemiologia de infecções pelo BHV-5, bem como
sobre sua importância para a pecuária mundial., Por esta
razão, com o intuito de fornecer subsídios para a análise de infecções por BHV-5 e das características
antigênicas desse tipo de vírus, o presente estudo foi
realizado visando a produção de anticorpos monoclonais
contra antígenos do BHV-5. A amostra EVI 88 foi escolhida para a produção dos AcMs por ter sido isolada
de um caso clínico típico de encefalite bovina, além de
apresentar um perfil de reatividade comum às demais
amostras de BHV-5 disponíveis no laboratório, quando
testada frente a AcMs preparados com antígenos de
BIEV-1 (SILVA, 1995). Além disso, seu perfil de restrição enzimática é similar ao de outras amostras de BHV5 descritas na literatura (d'OFFAY et al., 1993;
HEINLEIN et al., 1993), e distinto daquele apresentado por amostras de B HV-1 (dados não apresentados).
Para a triagem dos hibridomas, titulação e caracterização dos AcMs produzidos frente às amostras virais,
o teste escolhido foi a IPX. Embora outros autores tenham utilizado ensaios imunoenzimáticos do tipo
70
ELISA com essa finalidade (CHANG et al., 1986;
MARSHALL et al., 1986; SHEN et al., 1981), trabalhos anteriores realizados pelo mesmo grupo (SILVA,
1995) evidenciaram que o teste de ELISA por vezes
não permitia uma diferenciação clara entre resultados
positivos e negativos, gerando um grande número de
resultados inconclusivos por ocasião da seleção dos
hibridomas, o que dificultava em muito o trabalho de
triagem. O teste de IPX, embora menos sensível que os
ensaios imunoenzimáticos (HARLOW e LANE, 1988),
se mostrou bastante eficaz e seguro na diferenciação
dos resultados positivos e negativos, facilitando a operacionalização das triagens. Não obstante, em trabalhos
futuros, seria conveniente utilizar o teste de ELISA como
prova adicional ao IPX na seleção de hibridomas, uma
vez que é possível que alguns anticorpos sejam reagentes
somente cm testes de ELISA, e não à IPX. Assim, alguns AcMs poderiam ser reconhecidos por somente um
dos dois métodos de triagem, os quais, nesse caso, poderiam ser perdidos.
Igualmente, para a caracterização dos AcMs produzidos frente a diferentes amostras de herpesvírus, a
principal ferramenta utilizada também foi o teste de IPX.
Por esta técnica, nove dentre os dez AcMs obtidos reagiram com todas as amostras de BHV-5. Esta constatação revela que os AcMs aqui obtidos apresentam potencial para uso com ferramentas para o diagnóstico de
infecções pelo BHV-5. Em estudo prévio foi demonstrada a possibilidade de diferenciar entre amostras de
BHV-1 e BHV-5, porém, somente através da ausência
de reatividade de AcMs anti-BH V-1 frente a algumas
amostras de BHV-5 (SILVA, 1995; ROEHE et al., 1997).
PESQ. AGROP. 'GAÚCHA, v.4, n.1, p. 67-72, 1998
ANTICORPOS MONOCLONAIS CONTRA O HERPESV/RUS BOVINO TIPO 5 (BHV-5)
Em comparação com aqueles, os AcMs anti-BHV-5 aqui
descritos representam um passo evolutivo, uma vez que
os mesmos reconhecem positivamente epitopos presentes em amostras de BHV-5. No entanto, não foi ainda
avaliada a capacidade de reação dos mesmos frente a
amostras de 311V-1 ou outros herpesvírus. Esta avaliação permanece mandatária, e deverá ser realizada em
estudos futuros, envolvendo um número significativo
de amostras de herpesvírus bovinos e de outras espécies.
Um dos AcMs (BBDIO) reconheceu um epitopo
comum a nove das dez amostras de BHV-5 aqui testadas. Este AcM merece atenção especial, pois foi o único que apresentou perfil de reatividade distinto dentre
todos os dez AcMs obtidos. No entanto, seu perfil de
reatividade distinto já permite antever diferenças entre
as amostras de vírus classificadas como tipo 5. Estas
diferenças, na verdade, tem sido também detectadas em
testes de neutralização cruzada (dados não apresentados).
A maioria dos AcMs aqui produzidos reagiu com
quase todas as amostras de BHV-5 testadas. O perfil
uniforme de reatividade dos AcMs obtidos revela a existência de epitopos imunodominantes na preparação
antigênica utilizada. Isto indica que a obtenção de AcMs
que reconheçam diferenças menores entre amostras provavelmente necessitarão de preparações de antígeno
mais purificadas. A utilização de antígenos preparados
com proteínas purificadas por eletroforese ou por
imunoafinidade poderiam ainda proporcionar preparações contendo epitopos mais raros, aumentando assim
a chance de obtenção de AcMs com maior capacidade
discriminatória (HARLOW e LANE, 1988).
Estudos subseqüentes deverão ser realizados a fim
de determinar com precisão em que proteínas encontram-se os epitopos reconhecidos por estes AcMs. Além
disso, a avaliação dos mesmos frente a outros herpesvírus, particularmente BHV-1, será objeto de estudo futuro.
CONCLUSÕES
1—Os AcMs produzidos foram capazes de reconhecer antígenos em todas as dez amostras de BHV-5
testadas no presente trabalho.
2—Os perfís de reatividade obtidos sugerem que
existem diferenças antigênicas entre amostras de
BHV-5.
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AGRADECIMENTOS
Pelo apoio na realização do trabalho de pesquisa,
agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul — FAPERGS e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
— CNPq.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v4, n.1, p. 67-72, 1998
AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ANTIGÊNICA E IMUNOGÊNICA ENTRE AMOSTRAS DE CAMPO E
AMOSTRAS VACINAIS DO VÍRUS DA DOENÇA INFECCIOSA BURSAL, ATRAVÉS DO
"WESTERN BLOTTING"
HAMILTON LUIZ de SOUZA MORAES', CARLOS TADEU PIPPI SALLE 2, VLADIMIR PINHEIRO do NASCIMENTO'
RESUMO — Foram analisadas cinco amostras de vírus da Doença Infecciosa Bursal (DIB), isoladas de frangos de corte no
Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Patologia Aviária (COPA) e quatro amostras de vírus vacinais utilizados em vacinas
comerciais, quanto às suas características antigênicas e imunonogênicas. Inoculou-se em cobaios, 10 2 DIE (Dose Infecciosa
para embrião)/50 ml de uma suspensão de cada um dos vírus, replicados na membrana cório-alantóide de embrião de galinha
(MCA). As amostras foram submetidas ao Sodium dodecyl sulfato — eletroforese gel de poliacrilamida (SDS-PAGE), o perfil
protéico de cada uma foi avaliado através do "vestem blotting" e cruzadas com todos os anti-soros induzidos por elas,
chegando-se a conclusão de que as proteínas virais encontradas nos antígenos de campo c de vacina eram semelhantes,
mostrando um padrão idêntico ao descrito na literatura para o sorotipo 1 do vírus da DIB, isto é, VPI 86 kDa, VPX 48 kDa,
VP2 37 kDa, VP3 34 kDa e VP4 28 kDa. Assim sendo, chegou-se a conclusão de que os problemas da DIB no sul do Brasil
se devem mais a doenças intercorrentes, programas de vacinação, título e tipo de vacinas utilizados, do que a cepas variantes
do sorotipo 1 do vírus.
patologia aviária, avicultura, sanidade avícola, medicina de aves, doenças infecciosas, aves, doença infecciosa da bursa: relação antigênica e imunogênica, "westem blotting".
Palavras-chave:
ANTIGENIC AND IMMUNOGENIC RELATIONSHIP BETWEEN FIELD AND VACCINAL SAMPLES OF THE
INFECTIOUS BURSAL DISEASE: A COMPARATIVE STUDY
ABSTRACT — Five samples of Infectious Bursal Disease (IBD) virus, isolated from broilers at the Center for Diagnostics
and Research in Avian Pathology (CDPA) and four samples of commercially available vaccinal viruses ware analyzed, regarding
their antigenic and immunogenic characteristics. A suspension of 10 2 IDE/ 50 ml of each CAM- mplicated virus was initially
inoculated in guinea pigs. The samples ivere then subjected to the SDS-PAGE, and the protein profile of each one was
evaluated, by means of a "western blotting" procedere. The samples (field and vaccinal) were crossed against ali antisera
produced by the formar, which allowed the reaching of the following conclusions: there is a similarity among the virai
proteins found in the field samples, which are also identical to the standard described in the literature for IBD serotype 1, i.e.
VPI 86 kDa, VPX 48 kDa, VP2 37 kDa, VP3 34 kDa, and VP4 48 kDa. It can alio be concluded that IBD problem in the south
of Brazil would be due, in a greater extent, to intercurrent diseases, vaccination programrnes and vaccine type and titer used,
rather than by variant strains of virus serotype 1.
avian pathology, poultry, poultry health, medicine, infectious diseases, bircls, infectious bursal disease: antigenic
and immunogenic relationship, westem blotting.
Key wonis:
INTRODUÇÃO
Estudando as propriedades biofísicas e bioquímicas, DOBOS (1979) caracterizou o vírus da DIB como
um membro da família Bimaviridae, que inclui também alguns vírus de peixe, moluscos e de drosófila.
Conforme MÜLLER et al.(1979), o vírus tem entre 55
e 65 nm de diâmetro, não é envelopado e é composto
por um RNA de dupla hélice com um genomá
bissegmentado, designados segmentos A e B. Estes segmentos codificam as proteínas estruturais do vírus que
são denominadas de VPI, VPX, VP2, VP3 e VP4 de
acordo com DOBOS (1979).
SALLE (1989), trabalhando com pintos de 1 dia
de idade, com níveis de anticorpos maternos variáveis e
provenientes de quatro empresas avícolas, observou que
após a agressão com urna amostra clássica do sorotipo
1 do vírus da DIB (52/70), aos 14 e 21 dias, a proteção
por anticorpos maternos, induzidos por vacinas produzidas com amostras virais também do sorotipo 1, variou entre 7% e 100%. O autor chegou à conclusão que
investigar os programas de vacinação, os métodos de
aplicação das vacinas, a cepa vacinai (suave, intermediária ou forte) e ás doenças intercorrentes eram, naquele momento, mais importantes do que a procura de
cepas variantes do vírus da Doença de Gumboro (DG).
I. MM. Vet., M.Sc. - Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Patologia Aviária - CDPA. Convênio Faculdade de Veterinária da UFRGS/CPVDP-FEPAGRO,
Av. Bento Gonçalves 8824, 91540-000 Porto Alegre - RS/BRASIL.
2. Méd. Vet., Ph.D. - Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Patologia Aviária - CDPA. Convênio Faculdade de Veterinária da UFRGS/CPVDF-FEPAGRO, Av.
Bento Gonçalves 8824. 91540-000 Porto Alegre - RS/BRASIL.
Recebido para publicação em 25/11/1997..
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 73-83, 1998
73
HAMILTON LUIZ de SOUZA MORAES. CARLOS TADEU PIPPI SALLE, VLADIMIR PINHEIRO do NASCIMENTO
Mesmo com o uso intensivo de vacinas contra a
DIB em todos os países de avicultura industrial, o problema persiste. Baseados em testes in vivo ou em provas sorológicas, vários autores sugerem o aparecimento de cepas variantes do sorotipo 1 do vírus da DIB,
para explicarem a não resolução do problema.
BECHT et al. (1988), comparando os sorotipos 1
e 2 do vírus da DIB , através de SDS-PAGE e "westem
blotting", concluíram que há diferença entre os
polipeptídeos do segmento A do genoma do vírus, sendo o sorotipo 1 maior que o 2 em tomo de 70 pares de
bases. No segmento B a diferença é menos acentuada,
mas significativa, chegando a 20 pares de bases. Entretanto, 'FURE e SAIF (1992), não conseguiram estabelecer diferença entre amostras clássicas e variantes do
sorotipo 1 e uma amostra do sorotipo 2 do vírus da DIB,
usando o teste de "westem blotting" e ensaio imuno
enzimático (ELISA), com anticorpos monoclonais e
policlonais, na tentativa de relacionar antigenicamente
estas amostras.
As diferenças entre as amostras clássicas e variantes do sorotipo 1 foram estudadas a nível de proteína
virai por vários autores. Para melhor compreensão dos
problemas existentes com as falhas de vacinação e na
tentativa de se chegar as proteínas do vírus indutoras de
proteção, vários experimentos foram realizados. FAHEY
et al. (1991), produziram anticorpos monoclonais para
caracterizar os epítopos envolvidos na neutralização do
vírus da Infecção da Bolsa de Fabricio (IBF), e chegaram à conclusão de que somente os anticorpos
monoclonais que reagiram com a proteína VP2, nas provas de "westem" ou de imunoprecipitação, protegeram
passivamente frangos jovens contra a infecção.
SCHNITZLER et al. (1993), determinaram, através da reação de polimerase em cadeia (PCR) e
"westem", que a proteína viral VP2 possui uma região
central variável, a qual induz a formação de anticorpos
neutralizantes. A troca de quatro aminoácidos desta região pode levar ao aparecimento de um novo sorotipo
do vírus da IBF.
O objetivo do presente trabalho foi verificar se haviam diferenças antigênicas entre amostras de campo e de
vacina do Vírus da Infecção da Bolsa de Fabrício (VIBF),
através da prova de "Western Blotting", utilizando-se
anticorpos policlonais induzidos por estas amostras.
MATERIAIS E MÉTODOS
Amostras de Campo — Foram selecionadas 05 (cinco) bolsas de Fabricio (BF), oriundas de frangos de corte
vacinados e não vacinados contra a DG, que foram remetidos ao Centro de Diagnóstico e Pesquisa em Patologia Aviária (CDPA) e diagnosticados como Doença
de Gumboro (DG). Estes materiais receberam a seguinte numeração: 13, 15, 16, 18 e 20.
74
Amostras. Vacinais — Foram escolhidas 04 (quatro) vacinas comerciais contra a DG, disponíveis no
mercado, que foram codificadas com os números 23,
25, 26 e 27 Todas as amostras foram propagadas em
membrana cório-alantóide (MCA) de embriões livres
de patógenos específicos (SPF), (VILLEGAS, 1981;
LUKERT e SAIF, 1991) e tituladas conforme
ROSENBERGER e CLOUD (1989), antes de serem
inoculadas nos cobaios (Tabela 1). Os materiais utilizados para a inoculação nos cobaios foram inativados com
0,1% de beta propiolactona de acordo com
JACKWOOD e SAIF (1987).
TABELA 1 — Título das amostras, campo e vacina,
em MCA de embriões de galinha SPF
Amostra
Título*
(DIESO/m1 )
13
1x 1 0 "
15
1 x102.8
16
1x102.°
18
1 x1033
20
1 x102.°
23
1x1033
25
1x1037
26
lx103.8
27
lx10's
* Título = maior diluição que expressou as lesões do
vírus da DIB na MCA de embriões SPF.
Adjuvante — Foi utilizado o adjuvante completo
de Freund (ACF), marca Sigma Co., misturado em partes iguais aos antígenos (Ag), JACKWOOD e SAIF
(1982).
Soros Hiperimunes — Foram administrados 4 ml
de inoculo (2 ml de Ag + 2 ml de ACF), intramuscular,
em cada cobaio, e 4 ml intraperitoneal 04 (quatro) semanas depois. Os inóculos continham 102 Dose Infecciosa para o Embrião/50 ml (DIE/50m1) de vírus em
cada amostra, sendo utilizados 05 (cinco) cobaios por
antígeno. Uma semana após a última inoculação, os
animais foram sangrados e os soros guardados de acordo com JACKWOOD e SAIF (1982).
SDS-Page — As proteínas estruturais das amostras
foram separadas em gel de "corrida" 12,5%, e gel
"stacicing" 3,5%, usando um sistema SDS -PAGE conforme LAEMMLI (1970), modificado.
"Western Blot" — As proteínas estruturais dos
antígenos, separadas pelo SDS-PAGE, foram examinadas pela técnica de "Westem blotting", descrita por
BURNETTE (1981). Após a transferência das amostras para as membranas de nitrocelulose, estas foram
cortadas em tiras e incubadas com os anti-soros, proPESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 73-83, 1998
AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ANTIGENICA E LMUNOGENICA ENTRE AMOSTRAS DE CAMPO E AMOSTRAS VACINAIS DO VIRUS DA
DOENÇA INFECCIOSA BURSAL, ATRAVÉS DO 'WESTERN BLOITING"
venicntes de animais inoculados com as amostras de
campo e vacina, diluídos a 1/100. A ligação dos
anticorpos foi identificada com um soro
antiimunoglobulina de cobaio conjugado com
peroxidase, marca Sigma Co., diluído a 1/2000 e incubado durante 2 horas a temperatura ambiente. A
revelação da reação foi feita com diaminobenzidina
e interrompida com a lavagem das tiras em água destilada.
Determinação do peso molecular — Os pesos
moleculares, das proteínas separadas eletroforeticamente, foram determinados utilizando-se a equação
da reta, onde os pesos são calculados por aproximação tendo como base os padreies utilizados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1— Resultados cletroforéticos das amostras de
campo e vacina, e da amostra padrão do VIBF em
SDS-PAGE
Os resultados da corrida em gel de poliacrilamida das
amostras de campo e de vacina do presente trabalho, da
amostra padrão do sorotipo 1 do vírus da 11BF e do marcador
de peso molecular, são mostrados na Figura 1.
PM 13 15 16 16 20 23— 25
26 27 MGA VIBF PM
-
,
29
c>
FIGURA 1— SDS-PAGE das amostras de vírus de campo e de vacina, da mca e do VIBF
2 — Resultados da transferência das reações
antígeno/anticorpos para a membrana de nitrocelulose
"WESTERN BLOTrING".
Na Figura 2, está o resultado da prova onde se
utilizou como antígeno uma amostra purificada de
vírus da Doença Infecciosa Bursal (VDIB), do
100
sorotipo 1, obtida junto ao Central Veterinary
Laboratory, Reino Unido, e como anticorpo os antisoros induzidos pelas amostras de campo e vacina.
Foram caracterizados os antígenos com pesos
moleculares de 100 kDa, 73 kDa, 69 kDa, 63 kDa,
57 kDa, 48 Kda, 30 kDa e 24 kDa.
1•1•1111
—
80 —
MED
.1■1
MMI
60 —
•
MON,
•■
ODSI,
In%
AVIM.
UI«
TN.
*mie
SIM
40 —
.1■1.
1■ 1
el•••
SM*
20 —
o
13
15
16
18
20
23
25
26
27
Anti-soros
FIGURA 2 — Western blot: padrão de reconhecimento das proteínas do VDIB
PFSQ. AGROP. GAÚCHA, ..4, o. 1 , p. 7343, 1998
75
HAMILTON LUIZ de SOUZA MORAES, CARLOS TADEU PIPPI SALLE, VLADIMIR PINHEIRO do NASCIMENTO
Na análise das amostras de campo e vacina as bandas foram reveladas em cada soro, com um
do presente trabalho, com os anti-soros produzi- alto grau de reatividade cruzada entre todas as
dos contra elas, mostrado nas Figuras 3 a 11, vári- amostras.
100 —
Peso molecu lar
80 —
60
e
40 —
e
20 —
0
13
15
16
18
20
23
25
26
27
Amostra
FIGURA 3 — Western blot: padrão de reconhecimento do soro anti-13
100
Peso mo lecu lar
80
Zbir.
MOS
•••
60
—
•
40
e*N.
••••
15
16
*IS
20
o
13
18
20
23
25
26
27
Amostra
FIGURA 4 — Western blot: padrão de reconhecimento do soro anti-15
76
PF,SQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 73-83, 1998
AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ANTIGÊNICA E IMUNOGÊNICA ENTRE AMOSTRAS DE CAMPO E AMOSTRAS VACINAIS DO VÍRUS DA
DOENÇA INFECCIOSA BURSAL, ATRAVÉS DO "WESTERN BLOTTING"
100 —
MIM
Peso mo lecu lar
80 —
VIM
60
1■1
40 —
20
o
13
15
16
18
20
23
25
26
27
Amostra
FIGURA 5 — Western blot: padrão de reconhecimento do soro anti-16
100
'Wh«.
—
1■1.
Peso molecu lar
80 —
1■1
1=I•
1■1
1■1
■■■
1■1
1■1
60 —
ale
1■1
40 —
ei■
«CM
Ia1
20 —
o
13
15
16
18
20
23
25
26
27
Amostra
FIGURA 6 — Western blot: padrão de reconhecimento do soro anti-18
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 73-83, 1998
77
HAMILTON LUIZ de SOUZA MORAES, CARLOS TADEU PIPPI SALTE, VLADIMIR PINHEIRO do NASCIMENTO
100 —
Peso mo lecu lar
80 —
.■ 1
60 —
40 —
20 —
o
13
16
16
18
20
23
26
27
Amostra
FIGURA 7 — Western blot: padrão de reconhecimento do soro anti-20
100 —
.1••••
!NUMMI
=Me.
Peso molecular
80 —
~J.
1■1
60 —
Geme
1■1
lEM
.40 —
11■•
977•1
20 —
13
15
16
18
20
23
25
26
27
Amostra
FIGURA 8 — Western blot: padrão de reconhecimento do soro anti-23
78
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 73-83, 1998
AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ANTIGENICA É IMUNOGÊNICA ENTRE AMOSTRAS DE CAMPO E AMOSTRAS VACINAIS DO VIRUS DA
DOENÇA INFECCIOSA BURSAL, ATRAVÉS DO "WESTERN BLOTTING"
100 -
Peso mo lecu lar
80 1111•1•1
so MEM
111ffiee
40 -
20 -
o
13
15
16
18
20
23
25
26
27
Amostra
FIGURA 9
—
Western blot: padrão de reconhecimento do soro anti-25
100 -
80 -
60 =MB
o
E
MEM
20 -
o
13
15
16
18
20
23
25
26
27
Amostra
FIGURA 10
—
Western blot: padrão de reconhecimento do soro anti-26
PFSQ. AGROP. GAOCHA, v.4, 0.1, p. 7343, 1998
79
HAMILTON LUIZ de SOUZA MORAES, CARLOS TADEU PIPPI SALLE, VLADIMIR PINHEIRO do NASCIMENTO
••••
.„„„,
100 —
••••
me.
Peso mo lecu lar
80 —
07/
60 —
40 —
20 —
o
13
15 .
16
18
20
23
25
26
27
Amostra
FIGURA 11 — Western blot: padrão de reconhecimento do soro anti-27
Na Tabela 2, estão representados os pesos
moleculares das bandas que foram caracterizadas na
prova de "western", das amostras de campo. Verifica-se que os pesos moleculares encontrados para a
VP1 são de 100 kDa, 93 kDa, 86 kDa, 73 kDa e 69
kDa. lá, nas proteínas VPX,VP2, VP3 e VP4, houve
uma constância, aparecendo valores de 48 kDa, 37
kDa, 34 kDa e 28 kDa. Algumas bandas não foram
detectadas nas amostras 13, 16, 18 e 20. A Tabela 3
mostra os pesos moleculares das bandas encontradas
nas amostras de vacinas, onde se verifica um perfil
semelhante ao das amostras de campo, com diferenças apenas na VP1, onde os pesos moleculares encontrados são de 73 kDa, 69 kDa e 63 kDa e na VP4
da amostra 26, onde aparece um peso de 24 kDa. As
demais proteínas são identificadas com os mesmos
pesos moleculares encontrados nas amostras de campo. Nas Figuras de 3 a 11 aparecem, ainda, bandas
com peso molecular de 57 kDa, que poderia ser um
polipeptídeo precursor das VP2, VP3 e VP4.
TABELA 2 — Pesos moleculares das bandas de Proteínas Virais (VP) nas amostras de campo, determina-
das por "Western Blotting"
Proteína viral
13
15
VP1
NA*
73/69**
VPX
NA
48
VP2
37
37
VP3
NA
34
VP4
NA
28
* Não apareceram bandas com este peso molecular
** Valores em kDa •
80
16
100
NA
37
34
NA
18
100/86
48
37
NA
NA
20
100/93
NA
37
34
NA
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 73-83, 1998
AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ANTIGENICA E IMUNOGENICA ENTRE AMOSTRAS DE CAMPO E AMOSTRAS VACINAIS DO VÍRUS DA
DOENÇA INFECCIOSA BURSAL, ATRAVÉS DO ''WES TERN BLOTTING"
TABELA 3 — Pesos moleculares das bandas de Proteínas Virais (VP) nas amostras de vacinas, determinadas por "VVestem Blotting"
Proteína Virai
23
25
VP1
73/69**
73/69
VPX
NA*
NA
VP2
37
NA
VP3
34
NA
VP4
28
28
* Não apareceram bandas com este peso molecular ** Valores em kDa
DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
A análise de cepas variantes do sorotipo 1 do VIBF
tem se tomado mais importante nos últimos anos, devido ao aumento dos prejuízos econômicos causados por
surtos da doença de Gumboro, em lotes de frangos vacinados com vacinas produzidas com a amostra clássica do sorotipo 1 do VIBF. Vários estudos têm sido realizados com este objetivo, empregando diferentes técnicas. Assim, JACKWOOD et al. (1985), utilizando a
prova de vírus-neutralização, chegaram à conclusão de
que 6 das 13 cepas analisadas no trabalho eram subtipos
do sorotipo 1. Em 1988, BECHT et al. relataram diferenças estruturais na proteína viral VP2 entre os
sorotipos 1 e 2 do vírus da DG.
Vários autores têm descrito o perfil das proteínas
virais (VP) no sorotipo 1 do vírus da IBF, encontrando
pesos moleculares diferentes para cada uma das quatro
VP. DOBOS (1979), trabalhando com amostras
purificadas do vírus da IBF encontrou as seguintes proteínas virais com seus respectivos pesos moleculares:
VP1 (90 kDa), VP2 (41 kDa), VP3 (35 kDa), VP4 (28
kDa) e VPX (47 kDa). BECHT (1980), trabalhando com
amostras de vírus altamente purificadas, encontrou pesos moleculares de 86 kDa (VP1), 48 kDa (VPX), 40
kDa (VP2), 32 kDa (VP3) e 28 kDa (VP4). A proteína
virai 1 não foi plenamente identificada no "western" do
sorotipo 1, com o peso molecular referido no trabalho
de TODD e MCNULTY (1979), que encontraram valores de 97, 56 e 53 kDa, diferindorlosamli -éncontradoi;
que foram 100, 73, 69, 63 e 57 kDa. Entretanto, nas'
provas com as amostras de campo e de vacina do presente experimento, aparece uma banda, com peso
molecular de 86 kDa, que é referida no trabalho de
BECHT (1980) como sendo a proteína•virai VP1.
No experimento, foi encontrada uma proteína com
peso molecular de 48 kDa, o que está de acordo com os
resultados de TODD e MCNULTY (1979) e de BECHT
(1980), e muito próximo do relatado por DOBOS (1979),
que designou de VPX a proteína virai precursora da VP2,
com peso molecular de 47 kDa. A proteína denominada
de VP2, principal indutora de proteção ao hospedeiro
PESQ. AGROP. GAÚCHA, v.4, n.1, p. 73 83, 1998
-
26
69
NA
37
NA
24
27
63
NA
37
NA
28
conforme AZAD et al. (1987) e BECHT et al. (1988), é
descrita por vários autores com pesos moleculares entre 37 e 42 kDa. FAHEY et al. (1985) relacionaram o
peso molecular de 37 kDa com a VP2. Já MÜLLER e
BECHT (1982) encontraram para a mesma proteína um
peso de 40 kDa. DOBOS (1979), comparando as proteínas do vírus da Infecção da Bolsa de Fabrício, relatou
que a VP2 tinha um peso molecular de 41 kDa.
JACKWOOD et al. (1985) diferiram dos outros autores, encontrando um peso molecular de 42 kDa para a
proteína VP2. Nenhum dos pesos moleculares relatados acima apareceu no "westem" da amostra padrão do
presente experimento. No entanto, quando se analisam
os "western" das Figuras 4 a 12, aparece uma banda
com 37 kDa, concordando com o trabalho de FAHEY
et al. (1985). O registro de um peso molecular de 30
kDa indicou a presença da proteína virai VP3, que é o
mesmo encontrado por TODD e MCNULTY (1979),
para esta proteína. A VP3 forma junto com a VP2, a
quase totalidade do virion do vírus da doença de
Gumboro, conforme trabalho de DOBOS (1979).
Quando as bandas são analisadas na Tabela 3, observa-se que os números encontrados são identificáveis
com as proteínas virais relatadas por vários pesquisadores, conforme revisão feita por KIBENGE et al.
(1988). Nas bandas detectadas nas amostras de campo
verifica-se que a VP2, que é o polipeptídeo que contém
o sítio responsável pela indução de anticorpos neutralizantes contra o vírus da DIB (AZAD et al., 1987;
BECHT et al., 1988) aparece em todas as amostras de
campo com um peso molecular de 37 kDa, o mesmo
valor referido por FAHEY et al. (1985). A VPX foi caracterizada apenas nas amostras 15 e 18 com um peso
de 48 kDa, o mesmo que é relatado por MÜLLER e
BECHT (1982). Nas amostras 13, 16 e 20 não foi detectada nenhuma banda com este peso molecular. Para
a VP1 foram encontradas bandas com peso de 100 kDa,
93 kDa, 86 kDa, 73 kDa e 69 kDa, confundindo a sua
identificação, mas dentro dos padrões de variação apresentados no trabalho de KIBENGE et al. (1988) onde a
VP1 oscilou entre os valores de 51 kDa e 95 kDa. Apenas na amostra 18 aparece o peso de 86 kDa, relatado
81
HAMILTON LUIZ de SOUZA MORAES, CARLOS TADEU PIPPI SALLE, VLADIMIR PINHEIRO do NASCIMENTO
por BECHT (1980) como sendo da VP1. A VP3, nas
amostras 15,16 e 20 apresentou peso molecular de 34
kDa, igual ao relatado por DOBOS (1979) e
JACKWOOD et al. (1985). Na amostra 18 foi encontrada uma banda com peso de 28 kDa, o que caracteriza
a VP4, de acordo com o trabalho de MÜLLER e BECHT
(1982). Nas demais amostras esta banda não foi caracterizada. Quando se observa a Tabela 4, fica claro que o
perfil das proteínas virais das amostras vacinais é semelhante ao das amostras de campo. Deve ser chamada
a atenção principalmente para a proteína VP2, na qual
se concentram as diferenças genéticas existentes entre
variantes do sorotipo 1 da DIB (HUDSON et al., 1986).
Esta banda aparece com um peso molecular de 37 kDa
em todas as amostras, com exceção da amostra 25 que
não revelou bandas nesta posição:A úniciproteína virai
que não aparece" em nenhuma amostra vacinai é a denominada de VPX (48 kDa). Nestas amostras a VP1 aparece com peso molecular de 73 kDa e 69 kDa, diferindo
dos encontrados nas amostras de campo. A VP3 foi determinada apenas na amostra 23, com peso de 34 kDa.
Já a VP4 aparece nas amostras 23, 25 e 27 com peso de
28 , kDa e foi encontrada na amostra 26 com peso
molecular de 24 kDa que é referido por TODD e
MCNULTY (1979) também como sendo da VP4.
A análise das Figuras de 3 a 11, observa-se uma
banda de 57 kDa que, conforme sugerido por HUDSON
et al. (1986), pode ser um polipeptídeo precursor das
proteínas VP2, VP3 e VP4. As diferençás nos pesos
moleculares estimados podem ser devidas à metodologia
empregada no experimento, de acordo com o trabalho
de KIBENGE et al. (1988). Outra possível razão para
estas variações pode ser a diferença na clivagem dos
sítios das proteínas Precursoras, quando diferentes sistemas são empregados na replicação virai. :Assim,
LANGE et al (1987) e MÜLLER e BECHT (1982), relatam diferenças quando o vírus da DIB é replicado em
cultura dè tecidos ou diretamente ria bolsa de Fabrício.
Os resultados obtidos no presente trabalho reforçam a opinião de SALLE (1989) que, ao avaliar a proteção conferida à progênie de matrizes vacinadas, constatou deficiências que atribuiu a falhas no programa de
vacinação utilizado pelas empresas, bem como a existência de enfermidades intercorrentes. CHANG e HAMILTON (1982) estudaram a interação do vírus da DIB
com a aflatoxina e conclufram'que essa última aumentava significativamente a letalidade do vírus. A importância das conclusões acima referidas fica ainda maior
ao se acrescentarem os dados de SALLE e WENDELSTEIN (1992) nos quais fica registrado que no
período de 1985 a 1991, 15 a 29% das doenças
diagnosticadas no sul do Brasil, eram de afiatoxicose.
Apesar do trabalho de LUNGE et al. (1997). ter
caracterizado, com restrição enzimática (PCR) da proteína virai VP2, diferentes amostras do vírus da DIB no
82
campo, os resultados do presente experimento mostraram que as amostras trabalhadas de vírus da DIB, tanto
de campo, quanto de vacina, diferentes das amostras
trabalhadas por estes autores, não apresentaram variações anúgênicas, quando se utilizou as provas de SDSPAGE e "Western blotting". Com estes dados pode-se
concluir , também, concordando com o trabalho de
SALLE (1989), que as vacinas parecem ter condições
de imunizar satisfatoriamente os animais e que os casos
de DIB, nesta região do Brasil, devam-se mais a falhas
nos programas de vacinação, título e tipo das vacinas
utilizadas, e a doenças intercorrentes, do que a variações na estrutura antigênica do vírus de campo.
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