Edição Novembro 2013 Edição na íntegra. 12/12/2013

Transcrição

Edição Novembro 2013 Edição na íntegra. 12/12/2013
DO
S I ND
HO
S
SP
JORNAL
Ano XXX | ed. 344 | Nov | 2013
AN
O
COMO PREPARAR
O HOSPITAL PARA ENFRENTAR
ACIDENTES E CATÁSTROFES
Seminário realizado pelo SINDHOSP e pela FEHOESP,
com organização do IEPAS, alerta para a importância
do treinamento da equipe e da elaboração de um
plano de contingência em caso de catástrofe.
Páginas centrais
Especialista afirma que
hospitais brasileiros
precisam inovar.
págs. 8 e 9
Projeto Bússola
promove seminários
sobre acreditação.
pág. 3
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Editorial
A SAÚDE QUE TEMOS, A SAÚDE QUE
QUEREMOS E A QUE PODEMOS TER
Foto: NEUZA NAKAHARA
A FEHOESP e o SINDHOSP estão lançando, neste mês de dezembro, o Anuário Brasileiro da Saúde,
que tem como tema central “A Saúde que temos, a saúde que queremos e a que podemos ter”. Após
quatro edições de sucesso do Anuário SINDHOSP, a FEHOESP, entidade de segundo grau de representação no sistema confederativo, se une ao Sindicato no projeto, o que agrega ainda mais valor à publicação.
2013 foi um ano emblemático. Milhares foram às ruas pedir por transporte coletivo de qualidade, educação e saúde. Paralelamente, o ano foi marcado por datas importantes, como os 25 anos do SUS e os 15
anos da lei 9.656/98, que regulamentou os planos de saúde. Médicos e governo federal travam até hoje uma
batalha graças ao eleitoreiro programa Mais Médicos, anunciado como a solução dos problemas da saúde.
Essas datas e fatos servem de pano de fundo para a discussão do tema central proposto pelo Anuário.
Prestadores de serviços e população sofrem com o subfinanciamento, que compromete a saúde financeira
de muitos hospitais e a qualidade da assistência. No setor suplementar o atual modelo de financiamento é
insustentável. Como se não bastasse, ainda há o maior de todos os desafios: o envelhecimento populacional. Todas essas questões são abordadas no Anuário Brasileiro da Saúde, além de pautas como as instituições de longa permanência, que já estão consolidadas em várias partes do mundo; o custo da burocracia
no Brasil; o papel das tecnologias da informação; uma análise sobre as manifestações de junho de 2.013, feita
pelo economista do Banco Mundial, André Medici; e, por fim, um exercício de “futurologia” sobre a saúde
que queremos e a que podemos ter com três grandes pensadores: Gonzalo Vecina Neto, Rubens Belfort Jr e Januário Montone.
O Anuário Brasileiro da Saúde será enviado gratuitamente a
todos os sócios e contribuintes do SINDHOSP e da FEHOESP a
partir do mês de janeiro. Temos certeza que a publicação poderá
ajudar os gestores na tomada de decisões ou no planejamento
estratégico das empresas. Acreditamos no espírito empreendedor e altruísta dos empresários e profissionais do setor privado
de saúde. Por isso, a FEHOESP e o SINDHOSP atuam para que
cada estabelecimento de saúde tenha condições de inovar e oferecer serviços com mais qualidade. Que todos apreciem a leitura!
presidente
Yussif Ali Mere Jr
SINDHOSP - Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas e Demais Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de São Paulo • Diretoria
| Efetivos • Yussif Ali Mere Jr (presidente) • Luiz Fernando Ferrari Neto (1o vice-presidente) • George Schahin (2o vice-presidente) • José Carlos Barbério (1o tesoureiro) • Antonio Carlos de Carvalho (2o tesoureiro)
• Luiza Watanabe Dal Bem (1a secretária) • Ricardo Nascimento Teixeira Mendes (2o secretário) / Suplentes • Sergio Paes de Melo • Carlos Henrique Assef • Danilo Ther Vieira das Neves • Simão Raskin
• Marcelo Luis Gratão • Irineu Francisco Debastiani • Conselho Fiscal | Efetivos • Roberto Nascimento Teixeira Mendes • Gilberto Ulson Pizarro • Marina do Nascimento Teixeira Mendes / Suplentes
• Maria Jandira Loconto • Paulo Roberto Rogich • Lucinda do Rosário Trigo • Delegados representantes | Efetivos • Yussif Ali Mere Jr • Luiz Fernando Ferrari Neto | Suplentes • José Carlos Barbério
• Antonio Carlos de Carvalho • Escritórios regionais • BAURU (14) 3223-4747, [email protected] | CAMPINAS (19) 3233-2655, [email protected] | RIBEIRÃO PRETO (16) 3610-6529,
[email protected] | SANTO ANDRÉ (11) 4427-7047, [email protected] | SANTOS (13) 3233-3218, [email protected] | SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (17) 3232-3030,
[email protected] | SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (12) 3922-5777, [email protected] | SOROCABA (15) 3211-6660, [email protected] | BRASÍLIA (61) 3037-8919 /
JORNAL DO SINDHOSP | Editora – Ana Paula Barbulho (MTB 22170) | Reportagens – Ana Paula Barbulho • Aline Moura • Fabiane de Sá • Rebeca Salgado | Produção gráfica – Ergon Ediitora (11) 2676-3211
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refletem necessariamente a opinião do jornal | Correspondência para Assessoria de Imprensa SINDHOSP R. 24 de Maio, 208, 9o andar, São Paulo, SP, CEP 01041-000 • Fone (11) 3331-1555, ramais 245 e 255
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Em dia
PROJETO BÚSSOLA REALIZA
SEMINÁRIOS DE SENSIBILIZAÇÃO
Fotos: DIVULGAÇÃO
De 29 de outubro até final de
jurídicas legalmente constituídas
novembro, foram realizados dez
há mais de um ano, com CNPJ,
seminários de sensibilização que
CNES, alvará sanitário e licença
integram a primeira etapa do Prode funcionamento; atuarem nas
jeto Bússola, iniciativa da FEHOESP
especialidades de clínica médica
e do SINDHOSP que visa facilitar
geral, alergologia, angiologia,
a obtenção da acreditação por
cardiologia, vascular, cirúrgica,
parte das clínicas médicas. Eles
dermatologia, endocrinologia,
ocorreram na Capital paulista,
gastroenterologia, ginecologia, inBauru, Ribeirão Preto, Campinas,
fectologia, oncologia, ortopedia,
Presidente Prudente, Santo André,
otorrinolaringologia, pediatria,
Maria Carolina Moreno, da ONA
Sorocaba, Santos, São José do Rio
pneumologia, urologia e vacinaPreto e São José dos Campos.
ção; a estrutura da clínica não
Ministrados pela Relações
ser classificada como consultório;
Institucionais da Organização Nacional de Acrediterem máximo de 45 a 50 funcionários; e preentação (ONA), Maria Carolina Moreno, os eventos
cherem e enviarem o “Questionário Preliminar do
levaram aos participantes os conceitos de qualiPerfil da Clínica”, com a ficha de inscrição, que foi
dade, por que ela é importante, as diferenças dos
entregue durante os seminários. Informações pelo
processos de qualidade nos ambientes industrial e
tel (11) 3331-1555, ramal 258.
de serviços, o que é necessário para uma boa gestão
assistencial, os fatores que interferem na qualidade, o
A QUALIDADE EM SAÚDE
que é acreditação, o papel da ONA e das instituições
Maria Carolina Moreno, da ONA, lembra
acreditadoras credenciadas, aspectos do manual de
que a percepção da qualidade muda de pessoa
acreditação, entre outros tópicos. “O Projeto Bússola
para pessoa. “Ela não é um conceito objetivo. E,
é muito importante para a FEHOESP e o SINDHOSP,
no setor de serviços, como a saúde, a qualidade
pois acreditamos que a qualidade pode ser a solução
está exatamente na prestação, ela depende de
para os inúmeros desafios do setor de saúde hoje.
pessoas, se dá na interação entre o cliente e o
Ela é o caminho para a sustentabilidade”, afirmou na
colaborador”, frisa Maria Carolina. Portanto, se o
abertura do evento na Capital paulista o presidente
profissional não estiver comprometido dificilmente
da FEHOESP e do SINDHOSP, Yussif Ali Mere Jr.
a qualidade do serviço será percebida pelo cliente.
Enquetes realizadas durante o último Con“Na saúde, o paciente está presente ao logo do
gresso Brasileiro de Gestão em Clínicas de Serviços
processo produtivo, ele dá um feedback imediato
de Saúde, em maio, durante a feira Hospitalar,
e estabelece as dimensões da qualidade. Por ela
sinalizaram que as clínicas gostariam de participar
exigir uma mudança de cultura é imprescindível
de um projeto de qualidade, como a acreditação,
que a liderança da organização conduza o processo,
mas que o custo e as dificuldades do processo
caso contrário ele não terá êxito”, adianta a
eram os principais obstáculos. “Quando tomamos
representante da ONA.
conhecimento desses resultados resolvemos agir
A demora do setor de saúde em incorjustamente nesses dois pontos, para facilitar o
porar práticas de qualidade se dá, segundo
processo e reduzir o custo”, frisou Luiz Fernando
Maria Carolina, pela baixa competitividade
Ferrari Neto, vice-presidente do SINDHOSP e
existente na área, alta variabilidade dos
guardião do Bússola.
serviços, pelos colaboradores possuírem
Por se tratar de um projeto-piloto, a ideia é anmotivações e interesses conflitantes e pelos
gariar pelo menos dez clínicas que estejam dispostas
usuários desconhecerem referências técnicas
a participar do processo e embarcar nesse “camique permitem a escolha. A gestão da qualidanho sem volta”, que é a gestão da qualidade. Alguns
de assistencial está sustentada nas melhores
critérios deverão ser obedecidos pelas empresas
práticas, na avaliação permanente (é preciso
que desejam participar do Projeto Bússola. São eles:
medir o que se faz e se produz), transparência
serem sócias e/ou contribuintes do ­SINDHOSP e
da informação e no compromisso de todos.
“A grande dificuldade do processo é trabalhar
dos demais sindicatos da FEHOESP; serem pessoas
a gestão da qualidade com profissionais formados
há 20, 30 anos e que não tiveram essas noções durante a sua formação. Este é, talvez, o maior desafio”.
A acreditação é um método de avaliação
voluntário, periódico e reservado, que busca a
qualidade da assistência por meio de padrões
previamente definidos. “Trata-se de um programa
de educação continuada e, jamais, de uma forma
de fiscalização. O sistema de acreditação serve
para demonstrar que na empresa existe menos
probabilidade de ocorrência de erros e resultados
adversos, que ela se encontra em conformidade
com determinados padrões e que é referência de
garantia de qualidade assistencial para a sociedade
como um todo”, ressalta Maria Carolina Moreno.
A implementação da acreditação exige a
prévia definição de papéis e responsabilidades, que
a empresa tenha visão de médio e longo prazo e
compromisso com resultados. A certificação se
dá em três níveis. No primeiro – acreditado – são
analisados aspectos relacionados à segurança. No
segundo – pleno – mostra que a organização dispõe de uma gestão integrada e, por fim, o terceiro –
com excelência – atesta o total comprometimento
da instituição com a qualidade. “Uma empresa que
está no nível 2, por exemplo, e não se preparou
para chegar ao 3 pode cair de posição na próxima
avaliação ou até perder a certificação. Por isso
dizemos que se trata de um processo de melhoria
contínua”, diz Maria Carolina. Mesmo com todos
os desafios ela garante que investir em qualidade
vale a pena. Entre os benefícios que o processo traz
para a organização ela cita o aumento da receita, a
redução de custos, o aumento da competitividade
e a fidelização dos clientes.
O vice-presidente do SINDHOSP, Luiz Fernando
Ferrari, apresenta os benefícios do Projeto
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Em dia
PRONTO-ATENDIMENTO É MAIOR QUEIXA D
SEGUNDO PESQUISA APM/DATAFOLHA, DIVULGADA EM OUTUBRO
Pelo segundo ano consecutivo, a Associação Paulista de Medicina (APM) divulga pesquisa tem plano de saúde. A demora na marcação de consultas foi
realizada junto ao Instituto Datafolha, revelando a insatisfação dos usuários em relação aos planos
relatada por 55% dos pesquisados. Entre os que precisaram
de saúde. Espera e lotação nas unidades de pronto-atendimento foram as maiores queixas dos de exames diagnósticos, 47% afirmaram enfrentar algum
usuários na edição 2013 da pesquisa, apresentada em coletiva de imprensa, na sede da APM, em
problema, como demora para marcar ou poucas opções
17 de outubro. Entre os pesquisados, 80% afirmaram encontrar o local de espera lotado nos de locais. Para Florisval Meinão, o problema persiste mesmo
prontos-socorros, e consequente demora no atendimento (citada por 55% das
pessoas). Em comparação com os resultados de 2012, a espera só aumentou:
Ocorrência de problemas nos serviços do plano de saúde
Estimulada, em %
naquele ano, 77% haviam reclamado da demora em PS.
Exames Diagnósticos
Para o presidente da APM, Florisval Meinão, a lotação dos prontos-socorros
A demora para marcar e as poucas opções de locais
Média de
é preo­cupante, já que nestes locais é que estão os casos mais urgentes e graves.
2013
são as principais dificuldades mencionadas.
problemas
1,8
(por pessoa)
“As pessoas deixaram o SUS para fugir das dificuldades, agora enfrentam esta
Índice de usuários com problema
Foram estimulados 4 tipos de problemas
realidade com os planos”, criticou. Segundo ele, o problema acontece porque
para marcação de exames
os planos limitam ao máximo sua rede de atendimentos, oferecendo poucas
28 Demora
ou procedimentos
opções aos usuários, mesmo num momento de elevação de carteira. “Os planos
Não teve problema
53
opções de laboratórios ou
27 Poucas
clínicas especializadas
de saúde trabalham com uma rede credenciada extremamente enxuta. Os que
para autorização do
18 Demora
custam mais barato são ainda mais limitados. E a situação tende a se agravar com
exame ou procedimento
Teve problema
47
plano não cobriu algum
o crescente aumento de usuários”. Meinão lembrou alerta recente, feito pela
10 O
exame ou procedimento
Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), que revelou déficit de leitos
2013
hospitalares na iniciativa privada e a engessada capacidade de investimento.
Segundo as estimativas da Anahp, o Brasil precisa investir R$ 5 bilhões nos
Ocorrência de problemas nos serviços do plano de saúde
próximos cinco anos para suprir a carência de 14 mil leitos hospitalares. Se o
Estimulada, em %
número de pessoas com planos de saúde crescer 2,1% ao ano, os hospitais
Pronto-atendimento
precisarão ter até 2016 pelo menos mais 13,7 mil novos leitos com investimento
Local de espera lotado é o principal problema
Média de
apontado pelos usuários do Pronto Atendimento.
2013
de R$ 4,3 bilhões. A projeção da Anahp no estudo é conservadora e leva em conproblemas
Demora para ser atendido também é um aspecto
2,2
(por pessoa)
importante, mencionado por 55% dos usuários.
sideração o desempenho do setor de planos de saúde no ano passado, quando
Índice de usuários com problema
foi registrada a menor taxa de crescimento nos últimos sete anos - de 2,1%. Se
Foram estimulados 6 tipos de problemas
for considerada a média de crescimento dos últimos cinco anos, ou seja, 4,1%,
74 Local de espera lotado
Não teve problema 20
55 Demora muito para ser atendido
a demanda seria de 23,2 mil leitos. O investimento necessário, R$ 7,3 bilhões.
ou negativa para realização
16 Demora
de procedimentos nescessários
Na visão do presidente do SINDHOSP e da Fehoesp, Yussif Ali Mere Jr, o
13 Locais inadequados para receber medicação
Teve problema 80
setor privado sofre com a falta de acesso a recursos financeiros. “Somos um
9 Negativa de atendimento
segmento extremamente regulado, complexo e exigido em relação à qualidade
ou negativa na transferência
5 Demora
para leito hospitalar
do serviço prestado, uma vez que estamos lidando com vida e não com um
2013
produto que pode ser trocado em caso de insatisfação ou defeito. Temos que
acompanhar a evolução da medicina no que diz respeito a equipamentos, meOcorrência de problemas nos serviços do plano de saúde
dicamentos e diagnósticos, ao mesmo tempo em que temos de lidar com uma
Estimulada, em %
enorme insegurança jurídica em relação a contratos, que não preveem reajustes
Média de
Internações Hospitalares
2013
problemas
A falta de opção de hospitais é a principal reclamação.
1,8
periódicos”, afirma. Segundo ele, os reajustes praticados nas mensalidades
(por pessoa)
Índice de usuários com problema
dos planos, justificado pelo aumento de custos da saúde, não é repassado aos
Foram estimulados 8 tipos de problemas
honorários médico-hospitalares pelas operadoras de planos de saúde. Outro
30 Teve poucas opções de hospitais
na liberação de exames dentro do
13 Demora
obstáculo, apontado pelo presidente do SINDHOSP, é a barreira imposta aos
hospital durante o atendimento
Dificuldade ou demora para o plano
12
autorizar a internação
hospitais, que não podem abrir capital em busca de investimentos estrangeiros,
Não teve problema
59
8 Falta de vaga para internação
ao contrário do que acontece com os planos.
ou demora de transferência
5 Negativa
para hospital especializado
Além do pronto atendimento, a internação hospitalar também foi aponpara outro hospital sem
2 Transferência
concordância do paciente
tada como uma dificuldade por 41% dos entrevistados pela pesquisa APM/
Dificuldade ou demora para
Teve problema
2
internação na UTI
41
Datafolha. Destes, 30% alegaram que há poucas opções de hospitais.
1 Alta hospitalar antes da hora
As consultas médicas também continuam sendo um problema para quem
2013
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Eventos
EIXA DE USUÁRIOS
BRITCHAM DEBATE
REGULAMENTAÇÃO E VIGILÂNCIA 2.0
REMODELAÇÃO DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA FOI DESTAQUE DE SEMINÁRIO
Devido ao processo de reestruturação de governança e novos modelos de gerência de
diretoria adotados pela Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Britcham - British
Chamber of Commerce and Industry in Brazil realizou, em outubro, o seminário “Vigilância Sanitária
2.0 - discussão sobre a remodelação do sistema brasileiro de vigilância sanitária e seu impacto
no mercado”. O seminário teve como objetivo debater o contexto, profundidade e possíveis
consequências das mudanças para regulados, reguladores e sistema de saúde. O SINDHOSP
foi um dos apoiadores do evento.
Na abertura, Rodrigo Correia da Silva, coordenador do Comitê de Saúde e presidente da
Câmara, destacou a importância da implementação da AIR - Análise de Impacto Regulatório
para desburocratizar o sistema de regulamentação atual, que pode demorar de 2 a 7 anos,
dependendo das atividades propostas. Em seguida, Jadir Proença, assessor da Casa Civil e coordenador técnico do PRO-REG (Política Regulatória e Governança), comentou sobre as ações da
Presidência para avançar nas ações. “Nós ainda somos um país burocrático quando o assunto é
abertura de empresas. Para se ter uma noção, estamos no 179O lugar num ranking mundial de
183 países”, afirmou. Ele apresentou ainda dados da última pesquisa Vox Populi (2012) sobre a
satisfação dos empresários sobre a regulação no Brasil: 36,1% deles estão insatisfeitos e destacam
como ponto negativo do sistema a lentidão/ morosidade nos processos e o excesso de burocracia
que eles apresentam. “É por isso que vamos adotar a AIR e uma unidade de qualidade regulatória
que tenha comunicação direta com o governo federal. Temos excessos de normas no Brasil, seguimos diariamente cerca de
4,6 milhões delas, sendo 200
mil referentes à área tributária.
788 normas são editadas por
dia útil no país”.
Carlos Gouvêa, representante da ABIIS - Aliança
Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde, destacou
a comunicação como fator
chave para a redução do temO coordenador do Comitê
po nos processos regulatórios.
na abertura do evento
“O procedimento poderia ser
mais simples se pelo menos
houvesse interação entre o governo e o público afetado pela regulação, através de consulta
pública. Além disso, com as mudanças surgindo, temos que pensar mais no uso da tecnologia.
A competitividade gera novas tecnologias que consequentemente geram redução de custos”.
O seminário foi encerrado pelo diretor da Anvisa na área de Regulamentação Sanitária
- DIREG, Renato Porto, que apresentou um breve histórico do processo de regulamentação
da Agência desde sua criação até os dias atuais, apresentando um dos projetos novos a serem
implementados nos próximos anos. “Estamos trabalhando com um modelo de consulta pública
que agirá de forma mais rápida, encurtando alguns processos, principalmente os mais burocráticos, que se referem à análise regulatória. Queremos que o despacho inicial para regulação
de novos produtos já venha completo, com todas as informações necessárias, incluindo uma
análise jurídica, e que ele já vá diretamente para consulta pública e deliberação final. Pretendemos
cortar de 12 para 4 etapas”.
Foto: DIVULGAÇÃO
com a resolução normativa da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS), que estipula prazos máximos para que consultas e exames de diagnóstico
sejam marcados. “A grande verdade é que isso não
tem sido observado. Em algumas especialidades a
marcação tem levado de 2 a 3 meses”.
Outro dado contundente, revelado pela
pesquisa, é que 30% dos entrevistados afirmaram
recorrer ao SUS ou a consultas particulares quando encontram dificuldades de acesso. Em comparação à última pesquisa APM/Datafolha, realizada
há um ano, houve um aumento de 10 pontos
percentuais neste quesito. Para João Sobreira de
Moura Neto, diretor de Defesa Profissional da
APM, este fenômeno é gravíssimo. “Se os usuários que possuem planos de saúde, que pagam
suas mensalidades, estão recorrendo ao SUS, as
empresas estão lucrando muito, porque deixam
de atender e não ressarcem o sistema público”.
A despeito de tantas queixas, apenas 15%
dos entrevistados afirmaram que realizam algum
tipo de reclamação junto aos órgãos competentes quando enfrentam alguma dessas situações.
Segundo o Datafolha, 11% reclamam diretamente
com o plano, 2% ao Procon e apenas 1% à ANS.
“Chama a atenção o número de dificuldades e o índice tão baixo de reclamações”, comparou Meinão.
Num panorama geral, 79% dos entrevistados
relataram algum tipo de problema. Projetando
este número para os 10,4 milhões de usuários
de planos de saúde existentes no Estado de São
Paulo, chega-se a uma razão de 8,2 milhões de
pacientes enfrentando problemas. Apesar disso,
67% das pessoas que responderam à pesquisa
afirmaram que estão satisfeitas com seu plano. Na
avaliação de Meinão, esta contradição se explica
porque, no final das contas, o usuário recebe
atendimento de qualidade por parte dos médicos,
dos hospitais e dos laboratórios, mesmo depois de
tantos obstáculos. “A qualidade do atendimento é
boa, a questão é o acesso”, definiu.
Foram entrevistadas 861 pessoas, entre homens e mulheres acima de 18 anos que utilizaram
plano de saúde nos últimos 24 meses. A margem
de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou
menos, com nível de confiança de 95%.
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Manchete
PLANEJAMENTO E TREINAMENT
PARA ATENDIMENTO A CATÁSTRO
Fotos: LEANDRO GODOI
Era véspera de Natal, há seis anos,
remos o paciente em risco”, disse. Estiveram presentes ainda a superintendente
quando um incêndio atingiu parte do
Jurídica do SINDHOSP, Eriete Dias Ramos Teixeira, e a advogada Lucineia Nucci,
prédio dos ambulatórios do Hospital das
que coordenou os debates.
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP,
A importância de treinamento constante ficou evidente durante o evento.
zona Oeste de São Paulo. Além do socorro
Todos os especialistas convidados reforçaram a tese de que é preciso preparar as
eficiente de pelo menos 33 equipes do
equipes para o inesperado, tanto as que atuam dentro do hospital e que integram
Corpo de Bombeiros, que se deslocaram
as brigadas de incêndio, quanto os bombeiros, que muitas vezes precisam de
até o hospital, o movimento de pacientes
orientação específica para remover pacientes de UTI, por exemplo. Segundo
era reduzido, por conta da proximidade
Maria Cecília Damasceno, a Secretaria Estadual de Saúde tem feito treinamentos
do Natal. Este conjunto de fatores evitou
constantes, com o Corpo de Bombeiros, para remoção em UTIs. “No caso de um
que o episódio se transformasse numa
incêndio dentro de um hospital, o doente que está na UTI, com ventilação mecâA médica do HC,
tragédia, tendo em vista as condições de
nica, é o último a ser removido. Nessa hora, pode ser que não exista mais equipe
Maria Cecília Damasceno
remoção, socorro e as causa do incêndio
de apoio para ajudar. Por isso os bombeiros têm que treinar e saber como retirar
propriamente dito. A opinião é de quem
um paciente em estado grave, ou com baixa possibilidade de locomoção”, disse.
vive de perto esses incidentes. Gerenciar catástrofes é a
Para o coronel do Corpo de Bombeiros, Valdeir Rodrigues Vasconcelos, o treinamento é
especialidade de Maria Cecília Damasceno, médica do Hosimportante, mas não é tudo. “O Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo não tem todo este
pital das Clínicas e responsável pelo plano de catástrofes dos
contingente para atender emergências e remoção em UTIs. Pode ser que não chegue a tempo.
hospitais públicos do Estado. “Pegou fogo no centro cirúrgico,
Portanto, recomendo que façam o treinamento de seus brigadistas para atuarem em emergência,
que era perto do centro obstétrico. Tivemos que remover as
já que o tempo pode ser fatal. É preciso treinar a mente para situações de emergência e seguir à
gestantes, principalmente por causa da fumaça. Só não foi
risca o plano de contingência”, afirmou.
uma tragédia porque era véspera de Natal”, revela a médica.
A existência deste plano de contingência é fundamental. Carlos Alberto Cassiavillani, coordenador
Ela mesma conta que faltou comando durante a operação,
de Segurança do Trabalho da Superintendência de Recursos Humanos do Hospital Samaritano de São
fazendo com que muitos pacientes fossem removidos sem
Paulo, contou o caso real de incêndio, vivido há quatro anos pela instituição. E mostrou a importância
controle, causando depois um enorme tumulto das famílias
de um plano elaborado previamente. O fogo, iniciado nas obras de expansão, não chegou a atingir o
que buscavam informações.
hospital, mas a fumaça produzida por ele, sim. A fumaça, segundo especialistas, mata quatro vezes
Esse tipo de desencontro pode ser comum em situações
mais do que o fogo. Coincidende desastre. Principalmente quando o problema acontece
temente, o incêndio ocorreu no
dentro de uma instituição hospitalar, ou quando uma enorme
mesmo dia e hora em que uma
quantidade de vítimas precisa ser atendida, por conta de
simulação de incêndio seria
algum acidente de grandes proporções. Esta foi a abordagem
realizada em determinada área
do Seminário “Catástrofes: Prevenção e Gestão de Riscos
assistencial do Samaritano. A
para ao Prestadores de Serviços em Saúde”, realizado pelo
prática da simulação, segundo
SINDHOSP e pela Fehoesp e organizado pelo Instituto de
Cassiavillani, acontece periodiEnsino e Pesquisa na Área da Saúde (IEPAS), no início de
camente em todos os setores.
novembro, em São Paulo.
A coincidência acabou
Para o presidente do IEPAS, José Carlos Barbério, este
atrapalhando a comunicação
assunto é de suma importância para os prestadores de
do incêndio real. “Ninguém
O presidente do IEPAS, José Carlos Barbério; a superintendente
Jurídica do SINDHOSP, Eriete Teixeira, e o diretor da FEHOESP
serviços em saúde, principalmente para os que atuam em
acreditava que estava pegando
e do SINDHOSP, Luiz Fernando Ferrari Neto, abrem o evento
São Paulo. “Para uma cidade dinâmica, pensar em riscos e
fogo. E, para piorar, utilizamos
acidentes deve ser uma obrigação”, afirmou. Ele ressaltou
fumaça cinematográfica em
o trabalho desempenhado pelo departamento Jurídico do
nossos simulados”, ressaltou Cassiavillani. O incêndio se iniciou no pavimento em obra, no subsolo,
SINDHOSP e da Fehoesp, que tem se debruçado sobre as
e se alastrou até o sexto andar do edifício em construção. Embora não tenha feito vítimas - os
questões relacionadas à segurança e saúde há alguns anos,
operários saíram rapidamente do local antes que o fogo se alastrasse - a fumaça entrou pela
trazendo resultados importantes para o segmento. Já o
janela da ala pediátrica do hospital, causando pânico entre pacientes. “Imagine se você está
vice-presidente do SINDHOSP e da Fehoesp, Luiz Fernando
acompanhando seu filho numa internação e recebe a ligação de alguém dizendo que viu, na TV,
Ferrari Neto, lembrou da relação do tema com a segurança
que o hospital está pegando fogo”, indagou. Segundo o especialista, a situação foi controlada
do paciente. “Se não pensarmos em gestão de risco, colocae contornada graças à impecável atuação da equipe de enfermagem, que conseguiu conter o
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Manchete
MENTO SÃO ESSENCIAIS
STROFES
nervosismo das famílias em torno da fumaça e dos boatos. O incêndio propriamente dito foi
cas como centro cirúrgico e UTI deveriam ser construídas em
contido em cerca de vinte e cinco minutos. Os prejuízos contabilizados giraram em torno de R$
andares mais baixos, a fim de facilitar a remoção de pacientes
350 mil, mas não houve feridos.
graves. Segundo explicou Maria Cecília Damasceno, a lógica
Já a engenheira Laureen Panadés, supervisora de Segurança do Trabalho da Rede D’or São Luiz,
do atendimento pré-hospitalar (no caso de um acidente, por
apresentou sua experiência em situações de simulação. Reafirmou a importância do envolvimento
exemplo, em que as vítimas serão socorridas antes de serem
de todos - brigada, equipe assistencial, pessoal administrativo e da diretoria - para o sucesso de um
levadas ao hospital), os pacientes em estado mais crítico são
evento deste porte. Laureen relatou o caso de simulação de incêndio com abandono de local na
atendidos primeiro. “Já num incidente dentro do hospital,
maternidade do hospital, e outro no centro cirúrgico. “Um plano de incêndio precisa existir antes
retiramos os mais graves por último. Quem está em ventilação
do simulado, para que as equipes saibam o que fazer, para onde ir, e que decisões tomar”, destacou.
mecânica, na UTI, vai precisar de ajuda. E quanto mais fácil
A engenheira elegeu, após a experiência, pontos fortes e fracos da simulação. Um problema aponfor o acesso deste local ao andar térreo, melhor”, afirmou.
tado foi a forma de abordagem e comunicação com os pacientes. Um ponto forte foi o alto grau
Esta compatibilização do projeto arquitetônico dos
de envolvimento das equipes.
hospitais, no entanto, nem sempre é possível, já que muitas
Segundo o coronel Valdeir,
instituições funcionam em construções antigas e projetadas
o envolvimento é fundamental,
sem levar em conta um plano de contingência. A Rede D’or
assim como a estreita ligação
São Luiz é um exemplo de inovação em São Paulo, já que
das equipes com seus pacientes,
algumas de suas unidades têm sido adaptadas a estes e
e o conhecimento sobre quanoutros parâmetros, como a possibilidade especial de remover
tas pessoas estão internadas,
os pacientes acamados em seus próprios leitos. “Temos
quantas podem se locomover,
capacidade de fazer o transporte horizontal e praticamos isso
número de acompanhantes,
durante os simulados. Só realmente se houver necessidade
entre outros elementos. “Ano
é que existiria um abondono vertical”, garantiu a engenheira
passado, a cidade de São Paulo
Laureen Panadés.
teve 68 incêndios em favelas.
Fora dos hospitais, o atendimento a tragédias também
Duas pessoas morreram, um
precisa ter um bom comando, planejamento, mas, sobretudo,
O evento reuniu mais de cem pessoas
número extremamente baixo.
preparo para ocorrências impensáveis. O evento pode ser
E sabem o motivo? É que as
traumático, como um grande acidente com muitas vítimas, ou
pessoas das favelas se conhecem. Sabem quem trabalha à noite, quem sai de manhã. Quem tem
epidemiológico, como uma epidemia de dengue. “Sabemos
deficiência, quem tem filho. E os líderes da comunidade, em geral, comandam o plano de abandono”,
que o pico de entrada de pacientes, após um grande acidente,
ensinou. Valdeir defendeu o treinamento do brigadista para que seja capaz de apagar pequenos
é de uma hora depois. Nesse caso a emergência hospitalar
incêndios, “antes que se tornem grandes”. Também falou sobre a importância de se ter uma brigada
mais próxima deve estar preparada”, contou a médica Maria
de incêndio para cada área específica de um hospital, já que a intimidade com o local de trabalho
Cecília Damasceno.
ajuda na hora do pânico.
No trágico acidente da boate Kiss, em Santa Maria (RS), o
O fator humano, portanto, é decisivo em situações emergenciais. De nada adianta um bom
envolvimento das equipes médicas para dar conta dos feridos
plano de contingência sem treinamento árduo. Saber o número do bombeiro é o primeiro
sensibilizou o país. Uma grande falha de comunicação, no
passo. “Pode parecer óbvio, mas eu estava no incêndio do Joelma, e as pessoas
entanto, passou despercebida. “Domingo
ali sequer sabiam para que número discar”, refletiu Valdeir. Para Sérgio Amir
à tarde, o Faustão convocou o país, em rede
Arap, gerente do centro cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês, o fator humano é a
nacional, a doar sangue em prol das vítimas
“ponta da pirâmide”. “E duas coisas interferem no fator humano: a capacitação
do incêndio. Acontece que nenhum banco
do profissional e a sensibilidade. Esta última pode, inclusive, ser o divisor de
de sangue tinha capacidade para armazeáguas na tomada de decisão”, avaliou. O especialista contou uma experiência
nar as doações. E as vítimas não precisavam
que pode ser relativamente corriqueira dentro de um hospital, mas que exige
de sangue, mas de antídoto, de respirador.
um bom plano de contingência: a manutenção do sistema de gases. “O corte
Nessas horas, quem tem que vir a público
iria afetar toda a instituição. Tivemos que traçar um planejamento detalhado
pedir sangue não é o Faustão, é a Fundação
para a execução, sempre considerando os riscos residuais, porque não é possível
Pró-Sangue. Daí a importância de uma
ter 100% de acerto. Ainda mais se considerarmos as instalações destinadas ao
boa comunicação, de uma assessoria de
O coronel do Corpo de Bombeiros,
cuidado da vida, que são muito complexas”, contou.
imprensa integrada e de conhecimento”,
Valdeir Rodrigues Vasconcelos
Segundo estudos de viabilidade de instalação de um novo hospital, áreas crítifinalizou a representante da SES.
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Em dia
HOSPITAIS BRASILEIROS PRECISAM INOVAR E
Foto: RAFAEL CUSATO
Para transformar a saúde no Brasil
e na América Latina, é preciso repensar
a forma como os hospitais estão sendo
administrados. O modelo antigo e “departamentalizado” do passado não serve mais
aos nossos estabelecimentos de saúde,
nem aos públicos e nem aos privados. Esta
foi a principal lição deixada pelos palestrantes do seminário “A Profissionalização da
Administração Hospitalar”, realizado em 4
Michael Porter
de novembro pelo jornal Valor Econômico
em parceria com a Philips, no Hotel Hilton,
na Capital paulista.
O guru da administração, Michael Porter, foi o convidado
de honra. Ele é professor do Instituto de Estratégia e Competividade da Harvard Business School e sabe do que está falando
quando o assunto é concorrência. Ele é um dos autores
mais respeitados do mundo no que diz respeito à gestão, e
resolveu se debruçar sobre o setor de saúde ao escrever o
livro “Repensando a Saúde”, lançado há alguns anos. A lógica
de funcionamento do segmento, para Porter, é o inverso do
que deveria ser. Segundo ele, os hospitais se organizam por
áreas definidas pelas especialidades médicas, sem levar em
conta o que a concorrência oferece e o real problema do
paciente que chega precisando de atendimento. “A divisão
tradicional não cria valor, jogando o paciente de uma área
para outra”, afirmou. Ele defende o que chama de Integrated
Practice Units (IPU), que nada mais é do que a especialização
do atendimento. “Hoje é impossível ser bom em tudo”, disse.
Sua ideia, que já é realidade em países como Estados
Unidos, Alemanha e Suécia, foi ratificada pelo professor do
departamento de Administração da FEA-USP, Marcelo Caldeira Pedroso. Ele também defende que a saúde atue mediante
know-how, o que traz ganhos de eficiência e produtividade. Empresta da administração o conceito da economia de escopo,
que menciona a capacidade de uma empresa em diversificar.
Pedroso citou o exemplo do Hospital Canadense Shouldice,
especializado em cirurgias de hérnia. “Eles apresentam taxa
de sucesso de 99,5%, e menores custos comparativamente
aos hospitais gerais”, disse. O custo total por tempo de permanência no Shouldice é de US$ 2.300, contra US$ 7.000 em
um hospital geral, segundo Caldeira.
Michael Porter também apresentou dados que comprovam a eficiência de centros especializados. Na Alemanha, por
exemplo, hospitais tradicionais e não especializados contam
com mortalidade média de bebês prematuros com menos
de 26 semanas na casa dos 33%. Nas IPUs, este índice cai para
15%. As sequelas que acometem pacientes com câncer de
próstata também mostram que o tratamento num centro que possui expertise
em determinada doença pode fazer a diferença. “Em geral, a sobrevivência dos
pacientes atendidos em IPUs e os atendidos em sistema tradicional é a mesma,
de 95%. Mas quando checamos aqueles que ficaram com disfunção erétil severa,
os pacientes dos hospitais tradicionais alcançaram índice de 75%, contra 17,4%
nas IPUs”, afirmou.
A chamada especialização, no entanto, não significa a divisão física dos serviços. Hospitais como Albert Einstein e Hospital das Clínicas da FMUSP seguem
a especialização por meio de institutos e serviços especializados, mantendo a
estrutura de hospital de grande porte. Esta, aliás, é uma peça fundamental para
a sobrevivência das instituições. Segundo Marcelo Caldeira Pedroso, no Brasil a
maioria dos hospitais (88%) possui até 150 leitos, o que é péssimo para os ganhos
de escala. “A economia de escala ocorre quando a empresa obtém maior eficiência
como resultado do aumento do volume de produção de um determinado produto ou serviço. Em
hospitais, a quantidade de leitos pode ser associada ao volume de produção”, afirmou.
Nos Estados Unidos, segundo ele, os 23 maiores hospitais possuem mais de mil leitos e existem
mais de 100 hospitais que possuem acima de 670 leitos. No Brasil, são poucos os hospitais com mais
de 500 leitos. Entre os maiores, estão o HC, com 2.200 leitos, a Santa Casa de Porto Alegre com 1,2
mil, e a Beneficência Portuguesa, com 1.155 leitos. “Para melhorar o desempenho das organizações
hospitalares, a estratégia de crescimento é relevante. Mas é imperativo que a estratégia de expansão
não seja uma iniciativa isolada e seja concomitante à melhoria na eficiência operacional. Do contrário,
corre-se o risco de ampliar a ineficiência”, alertou.
Na opinião de Gonzalo Vecina Neto, superintendente do Hospital Sírio-Libanês, a eficiência
está ligada, cada vez mais, a uma abordagem intersetorial da administração hospitalar. “A eficiência
hoje é o nome do jogo. Não há mais filantropia. Até os anos 80 existiam grandes doadores, e o
último deles foi Antonio Ermírio de Moraes”, disse. A violência no trânsito, que mata e incapacita,
é um exemplo de como um problema social invade a esfera da saúde, ampliando os seus custos.
Como gerir este problema dentro de uma instituição hospitalar é um desafio para poucos, na visão
de Vecina. O administrador, portanto, não precisa ser médico, mas tem que entender de medicina,
de contabilidade e de pessoas.
Numa visão global, perante o mercado, o Brasil ocupa posição desfavorável quando o assunto é
competitividade. Segundo Luiz Carlos Di Serio, professor da Fundação Getúlio Vargas, fatores como
excessiva regulação fiscal, burocracia, regulamentação trabalhista restritiva, corrupção, força de trabalho mal qualificada e capacidade insuficiente para inovação atrapalham o crescimento de todos os
setores produtivos, inclusive o da saúde. A estrutura inadequada de funcionamento do Sistema Único
de Saúde colabora para a piora da eficiência. “O SUS segue uma dinâmica departamentalizada. O
paciente chega ao pronto-socorro, passa pela triagem, realiza o atendimento, recebe uma indicação de
exame, entra para a fila do exame, realiza o exame, passa pelo clínico geral, recebe encaminhamento
para o especialista, enfrenta nova fila, passa com o especialista, realiza novos exames, nova fila, novo
retorno”, exemplificou. Em sua opinião, a tendência do mercado global segue um modelo pouco
hierárquico, o avesso do que acontece no Brasil.
Di Serio citou o sistema Lean, uma solução que nasceu da produção da Toyota, aplicada ao
setor saúde. A proposta, importada para os hospitais, considera o paciente o ponto central do atendimento, busca eliminar a redução no tempo de espera, aumento da qualidade, redução de custos,
aumento da motivação dos funcionários e da satisfação do cliente, além de combater desperdícios.
Nada mais atual. Através de um mapeamento integral de todo o processo de atendimento – desde
a entrada do paciente no hospital até o recebimento da conta fechada -, o estabelecimento rastreia
seus problemas e busca soluções para saná-los. O Hospital Sírio-Libanês é um dos brasileiros que
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Em dia
já implantou o sistema, e conseguiu melhorar seus
níveis de eficiência em diversos quesitos, como redução de 30% nas glosas. Nos Estados Unidos e Reino
Unido, são exemplos bem-sucedidos de utilização
do sistema Lean o Virginia Mason Medical Center e
o Royal Bolton Hospital, respectivamente.
Um dos grandes desafios do Brasil, no entanto,
é driblar a imensa desigualdade regional. Segundo
Ana Maria Malik, professora adjunta e pesquisadora
da Fundação Getúlio Vargas, as diferenças estão em
toda parte, inclusive na gestão. “Somos quase sete mil
hospitais, temos apenas 203 acreditados pela ONA,
que é uma das certificadoras que atuam no país.
Destes, 70% estão no Sudeste, contra 4% no Norte”,
exemplificou. A faceta multiprofissional da atividade
também contribui para as dificuldades de gestão,
já que dentro de um hospital convivem diversos
mundos, nem sempre de maneira harmoniosa. “São
profissionais de diferentes níveis, há assimetria de
informação e dificuldade de comunicação”, avaliou.
Uma das chaves para a melhoria dos processos é
a tecnologia, cujo mercado está sendo amplamente
explorado por gigantes do setor, como a Philips
Healthcare. A companhia possui softwares de gestão
implantados em mais de 600 hospitais brasileiros.
“Temos os equipamentos de radiologia e conseguimos saber por meio dos softwares quantos exames
o paciente realizou. Como as pessoas não devem ser
expostas muitas vezes a esse tipo de procedimento,
transformamos a informação em inteligência”,
disse Vitor Rocha, vice-presidente sênior da Philips
Healthcare na América Latina.
O mundo ideal seria a completa integração de
hospitais, e seus softwares. Esta é uma das estratégias
propostas por Michael Porter. Mas toca numa questão delicada, que é a concorrência. O especialista
defende que, para otimizar custos e dar conta da
demanda, grupos de hospitais concorrentes se unam
em torno de suas especialidades, para promover este
atendimento integrado. A concorrência destrutiva,
segundo Porter, não leva as organizações a vencer. E
na área da saúde, na qual existe grande desconfiança
entre os players, a relação é de “soma zero”. “Você
e o concorrente oferecem a mesma coisa e os consumidores acabam escolhendo na base do preço.
Mas se você oferece uma coisa e seu concorrente
outra, ambos podem ganhar. O sucesso de um não
depende do fracasso do outro”, disse Porter.
SÍRIO-LIBANÊS REALIZA
SEMINÁRIO SOBRE ABORDAGEM
DA SAÚDE NA IMPRENSA
O Hospital Sírio-Libanês realizou, em 29 de outubro, o seminário “A comunicação do setor saúde com a imprensa”, um evento voltado para jornalistas que debateu a forma como a saúde deve ser abordada na mídia. Paulo
de Tarso Abrahão, coordenador geral de Urgência e Emergência do Ministério da Saúde e da Força Nacional do SUS,
iniciou o evento, explicando como atuam os órgãos governamentais em casos de catástrofes e epidemias. “Montamos o nosso QG em um local próximo ao acidente. Nos unimos às secretarias estaduais e municipais de Saúde,
bombeiros, defesa civil e ao governo. Desta forma elegemos o porta-voz das notícias e começamos a pensar em
uma estratégia de divulgação do que se passa. É claro que não é uma tarefa fácil, mas fazemos o máximo para sermos ágeis e fiéis aos acontecimentos. Nossa prioridade obviamente é o atendimento aos sobreviventes”, explicou.
Questionado se não era uma forma burocrática de se tratar as informações, Abrahão citou o caso do
incêndio da Boate Kiss, ocorrido em Santa Maria, em janeiro deste ano. “Chegamos a uma situação onde a dor
e o medo eram palpáveis, as famílias em corrosão emocional e a grande imprensa ansiosa para poder reportar o
caso. Nossa obrigação no momento era oferecer todo o suporte aos sobreviventes e às famílias que perderam
seus entes queridos. Naquela ocasião, fizemos o que já é de praxe: primeiramente os sobreviventes, em segundo
lugar as famílias e, em terceiro, a divulgação das notícias em formato de boletins e coletivas de imprensa “.
Coube ao médico oncologista e membro do corpo clínico do Sírio, Drauzio Varella, em conjunto com
a editora-chefe do programa Bem Estar da TV Globo, Patrícia Carvalho, abordar o desafio da linguagem e
como passar informações com qualidade para o grande público. “Antes o médico precisava de autorização
do CRM para dar entrevista à imprensa. Na minha primeira entrevista não gostei nem da minha voz”, disse
Varella. “Hoje sabemos que as mensagens devem ser breves e objetivas. Não adianta usar termos técnicos.
Temos que ser uma espécie de médico de família, falar pra dona de casa, pro senhor sentado no sofá após o
almoço de domingo, falar para leigos. É claro que também devemos estudar antes o assunto. Faço questão
de me dedicar a novas descobertas quando sou pautado pela TV ou outro veículo”, finalizou.
Para Patrícia Carvalho, o maior desafio é fazer com que as pessoas se prendam à televisão, principalmente
no horário em que o programa vai ao ar (9h da manhã). “Sabemos que a maioria do nosso público ou está
ouvindo ou está vendo a TV. Uma pequena minoria e bem pequena mesmo está concentrada em ambas
as coisas, então decidimos durante as reuniões de pauta que exemplificar muito alguma coisa requer muita
propaganda anterior em cima do programa. O melhor a fazer é ser sucinto, claro e coeso. A informação vem
com qualidade, com impacto apelativo na maioria das vezes, para que a pessoa continue prestando atenção
independente das tarefas que estão sendo realizadas”.
Finalizando o evento, Antônio Carlos Onofre de Lira, diretor técnico-hospitalar e Patrícia Suzigan,
gerente de Comunicação e Marketing, ambos do Sírio, falaram sobre os procedimentos do hospital para
preservar a intimidade e privacidade
de pacientes notórios. “A decisão é
toda do paciente e, em casos onde
ele infelizmente não pode responder
por si próprio, da família ou amigos
mais próximos. Respeitamos a
vontade deles e de suas assessorias.
Sugerimos coletivas, abrimos nossos
espaços para que a imprensa possa
estar ciente dos casos, mas tudo
isso só vai efetivamente acontecer
se o paciente quiser”, completou
Drauzio Varella falou sobre o desafio da linguagem
Onofre Lira.
Foto: DIVULGAÇÃO ASSESSORIA SÍRIO-LIBANÊS
VAR E CRESCER
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A ARTE DE SOBREVIVER
Já estamos próximos das festas de final de ano,
e podemos refletir como 2013 passou rápido. A
cada ano sentimos que o tempo urge, e que as 24
horas diárias são insuficientes para tantos compromissos profissionais, familiares e acompanhamento
dos acontecimentos políticos, econômicos, policiais
e sociais (estes desde junho em ebulição) do nosso
Brasil, e por que não do mundo. A luta pela sobrevivência é diária, e torna-se desanimadora, quando
falamos do relacionamento com as operadoras, e
por que não, indiretamente com a própria Agência
Nacional de Saúde Suplementar - ANS. Neste
caso vou usar uma expressão que por si só é clara:
estamos enxugando gelo.
A Instrução Normativa - IN 49 teve início em
maio do ano passado e até o momento a maioria
dos prestadores não sentiu nenhum efeito positivo.
Mas as orientações nela contidas foram aproveitadas totalmente pelas nossas parceiras da melhor
forma possível, para elas próprias, como sempre
ocorre. Os prestadores receberam, e ainda recebem,
minutas ou aditivos contratuais com percentuais de
índices de reajuste unilaterais e vergonhosos que,
transformados em reais, resultam em um reajuste
de centavos. Os nossos compradores de serviços
condicionam os possíveis reajustes à acreditação
das entidades, à apresentação da média evolutiva
do número de atendimentos prestados aos usuários
e a outros fatores, como custos.
Observamos também cláusula contratual com
o perdão dos débitos existentes da operadora com
o seu credenciado. Também há casos de planos
que utilizaram uma forma prejudicial quanto ao
aniversário do contrato e a sua data de reajuste. Está
explicitado que os reajustes serão a cada 12 meses,
porém, haverá inicialmente uma livre negociação,
e caso não haja consenso, deverá ser aplicada uma
das formas constantes na IN 49. No entanto, as
operadoras aplicarão o acordado somente após 60
ou 90 dias (conforme a operadora) do aniversário
do contrato. Isto representa que não serão mais os
12 meses, mas 14 ou 15 meses, ou seja, deixarão de
pagar um ano de reajuste a seus referenciados a cada
6 ou 4 anos, respectivamente. Imaginem o quanto
representa esta quantia no final destes anos todos. E
muitos prestadores assinaram sem ler atentamente
e entender esse conteúdo. A ANS deve rever o
processo de contratualização ou recontratualização,
com uma nova norma que contemple as necessidades dos prestadores de serviços.
Teremos em 2014 mais avanços para os
usuários, com a vigência do novo Rol de Procedimentos Médicos, (Resolução Normativa 338, de
21/10/13), incluindo 87 novos serviços, entre eles
37 medicamentos para terapia medicamentosa oral
para tratamentos oncológicos, 50 novos exames,
consulta fisioterápica, ampliações de sessões de
fonoaudiologia, nutrição e inclusões em psicologia
e terapia ocupacional e cirurgias (28 por videolaparascopia). Vale salientar também que o Rol de
Procedimentos Odontológicos foi ampliado. Não
devemos esquecer que haverá um custo para estes
avanços, o qual somente será conhecido no final de
2014 para, então, e se for o caso, compor o reajuste
dos planos em 2015.
Como já estava previsto desde outubro de
2012, através da RN 305, as operadoras de planos
de saúde e os prestadores de serviços teriam a obrigatoriedade da implantação da nova TISS – Troca
de Informações da Saúde Suplementar, bem como
também da TUSS – Terminologia Unificada da Saúde Suplementar até 30/11/13, através das versões
3.00.00 e 3.00.01. Mas, em outubro passado, devido
à solicitação da maioria das entidades participantes
do COPISS, a Diretoria Colegiada da ANS alterou a
data da implantação das novas TISS e TUSS para
até 31/05/14, e aproveitou a oportunidade para
substituir as versões anteriores de ambas pela nova
versão 3.01.00. Cabe ressaltar que esta nova versão
da TUSS, além dos procedimentos médicos que já
são do nosso conhecimento, disponibilizará tabela
de diárias, taxas e gases medicinais (esta abrangendo
algo em torno de 3600 códigos), além das tabelas
de medicamentos, materiais, materiais especiais,
próteses e órteses, bem como outras com códigos
para dar suporte às novas guias da TISS, tais como,
por exemplo, solicitações de tratamentos de quimioterapia e radioterapia.
Não devemos esquecer de fazer uma lição de
casa muito importante: antes do início desta nova
versão da TUSS, o ponto mais importante para as
clínicas, serviços de SADT que tenham salas de exames, hospitais gerais, especializados e day-hospital:
negociar JÁ com as operadoras o seu DE/PARA
de diárias, taxas, gases e pacotes, ou, se for o caso,
negociar o DE/PARA preparado pelas operadoras,
pois algumas já iniciaram o envio das suas propostas.
Para uma correta negociação, temos que ter
certeza absoluta dos valores que iremos propor,
pois devem ser baseados no que demonstram as
planilhas de custos. Sem custos corretos e confiáveis
será difícil negociar corretamente. Sendo assim, não
devemos postergar o andamento e a implantação
da TISS e da TUSS em nossas entidades, pois na
última hora as operadoras virão pressionando com
os seus preços aviltantes.
Acreditação dos hospitais, clínicas e serviços
auxiliares de diagnose e terapia é mais que uma
Foto: NEUZA NAKAHARA
Artigo
Danilo Bernik
coordenador do departamento de Saúde Suplementar do
SINDHOSP
obrigação e deve ser encarada como sobrevivência,
pois a própria ANS está obrigando as operadoras a
divulgarem nos manuais (impressos ou eletrônicos)
os seus credenciados indicando, através de ícones,
os atributos de qualidade de cada prestador. Esta
forma, além de ser um fator de concorrência, também “deverá” ser um plus para facilitar quando das
negociações de reajustes. Noto em propostas de
contrato que algumas operadoras estão atribuindo
percentuais melhores aos acreditados.
Não podemos deixar de destacar outros
aspectos, que há operadoras deixando de atuar no
mercado, operadoras estrangeiras aportando no
Brasil, outras com planos suspensos para vendas
pela ANS, operadoras em direção técnica e fiscal,
algumas transferindo suas carteiras de planos individuais e familiares e diminuindo cada vez mais as
opções dos clientes, pagamentos aos prestadores
atrasados e/ou glosados parciais ou totais, negociações de glosas com abatimentos dos valores
pendentes, e o pior: apesar dos índices de reajustes
anuais que as mesmas recebem dos seus usuários,
a remuneração continua minguada e aviltante aos
prestadores de serviços.
Finalizando, alguns leitores dirão quanta revolução no setor da saúde suplementar. Será que
estamos no caminho certo? De que adianta tentar
baixar os valores dos planos, aumentar o número de
beneficiários atendidos por este sistema, se algumas
operadoras não conseguem se sustentar? Devemos
sempre nos lembrar de que a qualidade nunca deve
ser colocada em jogo, em hipótese alguma e em qualquer segmento do mercado, pois a vida está acima de
qualquer ambição empresarial. Feliz Natal e que 2014,
além de ano eleitoral, seja um ano com muita SAÚDE
e cheio de vitórias, alegrias e conscientizações.
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Eventos
IESS DISCUTE ABSENTEÍSMO
E SAÚDE NO TRABALHO
SEMINÁRIO DEFENDEU PRÁTICAS DE INCENTIVO NAS EMPRESAS
falou sobre as ações na Caterpillar,
destacando o envio de SMS para os
funcionários como a principal arma
de propagação de informações saudáveis. “Nem todos os empregados
estão na frente do computador,
mas pelo menos 99% deles estão
perto de um celular e recebem as
informações”.
A segunda parte do evento
teve como palestrante Michael
O’Donnel, fundador, presidente e
editor chefe do American Journal of
Um dos debates promovidos durante o seminário
Health Promotion, uma publicação
que destaca ações de empresas para
melhorar a qualidade de vida dos
funcionários. Através de um boletim nomeado de “Hero Scorecard”, O’Donnel faz a mensuração
dos indicadores de qualidade da saúde de uma empresa perante as outras organizações do mesmo
segmento e, a partir daí, oferece ideias que podem ajudar no sucesso do programa. “Fazemos um
planejamento minucioso e estratégico do que queremos. Colocamos metas, contratamos equipes
capacitadas e, através de análises qualitativas e quantitativas, direcionamos a empresa em busca dos
resultados”.
Foto: DIVULGAÇÃO
O 3O seminário “Promoção de Saúde nas Empresas”,
que aconteceu em 15 de outubro no auditório do Hotel
Reinassance, organizado pelo IESS - Instituto de Estudos da
Saúde Suplementar, abordou a importância de programas de
saúde no ambiente de trabalho. Durante a abertura do evento,
Luiz Augusto Carneiro, superintende executivo do Instituto,
destacou que bons programas de promoção da saúde são
capazes de promover melhorias para empregado e empregador. “Ambos ganham, é uma troca. Empresas com pessoas
saudáveis, dispostas, e empregadores que se preocupam com
a saúde de seus funcionários, normalmente mostram ótimos
retornos financeiros”.
Convidado para a primeira apresentação, Alberto Ogata,
coordenador do Laboratório de Inovação Social da OPAS/
ANS e presidente da ABQV - Associação Brasileira de Qualidade de Vida, reforçou a fala de Carneiro. “Um departamento
de RH engajado, juntamente com uma equipe focada na
saúde do trabalho, podem fazer do clima organizacional
um ambiente extremamente positivo. Podemos reparar
que pessoas que gostam daquilo que fazem são mais felizes,
mais saudáveis”, afirma. Ogata mencionou também que a
maioria das empresas não consegue controlar seu índice de
absenteísmo porque não se prepara para lidar com a saúde
no trabalho. “Muita gente vê o absenteísmo como ameaça,
mas temos que vê-lo como uma oportunidade de mudança.
Se podemos controlar quais pessoas são mais propensas a
determinadas doenças dentro da nossa organização, vamos
saber quando elas podem potencialmente ser afastadas por
determinadas causas”.
Após a apresentação houve debate de ideias e sugestões,
mediado pelo jornalista da TV e Rádio Bandeirantes, Ricardo
Boechat. Participaram também Stela Gradim, gestora da área
de Qualidade de Vida do Trabalhador, da Egesa Engenharia;
Wagner Codinhoto, gerente de Saúde, Ambiente e Segurança da Caterpillar Brasil; e Alberto Ogata. Perspicaz nos
comentários e questionamentos, Boechat parabenizou o IESS
pela iniciativa e se mostrou surpreso com tantas ações para
melhorar a saúde do trabalhador. “É com muito prazer que
escuto essas ideias e aqui aprendi muito sobre coisas que até
então eram desconhecidas pra mim”. E ainda brincou: “Vou
comunicar a Bandeirantes a respeito, viu?”.
Gradim comentou sobre o alto índice de satisfação dos
empregados da Egesa após a criação do programa de saúde
na empresa. “Fazemos campanhas, espalhamos ideias e dicas
sobre como ser mais saudável, cuidar mais de você mesmo.
Deixamos o ambiente de trabalho menos engessado e mais
confortável. Oferecemos terapia quando necessário. Posso
olhar para o meu pessoal e dizer que pra eles, pelo menos
em relação à saúde, está tudo bem”. Codinhoto também
GUIA DE SAÚDE SUPLEMENTAR
O IESS distribuiu aos participantes do evento o Guia de Saúde Suplementar IESS 2013, publicação
que aborda a saúde no Brasil, números e desafios do setor privado, direitos e responsabilidades do
beneficiário, além de explicar de forma clara e objetiva como funcionam os planos de saúde. Chama
atenção o panorama de gastos da saúde suplementar ao longo dos anos, que crescem mais que os
índices gerais de preço ao consumidor no mundo todo. A justificativa para tal fato vem de três fatores
determinantes: a incorporação de novas tecnologias, o envelhecimento da população e o desperdício.
Segundo estimativa do IESS, os gastos do setor de saúde suplementar no Brasil devem ultrapassar a marca dos R$ 80 bilhões em 2030, de acordo com valores calculados no ano de 2010, isso
somente com a mudança no perfil populacional, com 19% de pessoas idosas. Já com o desperdício,
estudos realizados nos Estados Unidos apontam que falhas assistenciais e na formação de preços de
procedimentos e medicamentos consomem de U$$ 5 bilhões a U$$ 36 bi da saúde norte-americana.
Projeção dos gastos com assistência à saúde e do número de beneficiários
(em milhões) na saúde suplementar, em 2010, 2030 e 2050
Ano
Gasto total (R$ bi)
(em valores de 2010)
nº beneficiários
(em milhões)
2010
59,2
43,8
2030
2050
Variação 2010-2030
Variação 2010-2030
83,1
104,7
40,4%
76,9%
87,6
117,5
48,0%
98,5%
51,0
51,3
16,4%
14,6%
Fonte dos dados básicos: amostra de autogestão e de planos individuais. Valores em R$ de 2010. Elaboração: IESS.
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Em dia
GRHOSP CHEGA AOS 19 COM NOVOS DESAFIOS
O Grupo de Recursos Humanos do SINDHOSP
(GRHosp) completou 19 anos em outubro e desde
que foi criado, em 1994, vem contribuindo para a melhora da gestão de pessoas nas empresas de saúde.
À frente da comissão desde sua criação, o consultor
de Gestão Empresarial, Nelson Alvarez, comentou
que os objetivos iniciais do grupo era congregar os
gestores de RH das instituições associadas e buscar
maior união, consenso e uniformização. Mas o grupo
foi além. “Da reunião de profissionais da área juntamente com a colaboração do departamento Jurídico
do SINDHOSP, a comissão passou a atuar como um
fio condutor em questões dúbias trabalhistas e sobre
legislação, contribuindo para a redução de riscos e
modernização do processo de gestão de pessoas. É
muito bom ver a nova geração de gestores que surgiu
a partir da criação do GRHosp”, destacou.
Ao longo dessas quase duas décadas, foram
muitas as contribuições do grupo para os estabelecimentos de saúde. Uma delas foi a Comissão de
Negociação que, a partir da troca de informações,
organização e experiência dos profissionais, focou
em atender a base sindical com suas diferenças e
particularidades, incluindo o Interior do Estado.
“A partir daí o cenário foi outro. Conquistamos
credibilidade no processo negocial”, disse Alvarez.
Outra contribuição do GRHosp foi o surgimento do grupo que reúne profissionais das áreas
de Segurança Ocupacional e Medicina do Trabalho,
um segmento que estava em desenvolvimento nas
organizações de saúde. Essa comissão, que conta
com a colaboração da advogada do departamento
Jurídico do SINDHOSP, Lucinéia Nucci, atua nas
consultas públicas e auxilia na gestão dos recursos
humanos das entidades. Mais um feito da Grupo de
RH foi trazer para o Sindicato o Selmed (Grupo de
Seleção de Saúde) e incentivar para que o Grupo
Informal de Salário dos Hospitais (Gisah) deixasse de
ser somente um grupo de pesquisa. “No SINDHOSP
esses dois grupos tornaram-se mais fortes e ampliaram seus escopos, além de terem um local adequado para as reuniões mensais”, comentou Alvarez.
Apesar do balanço positivo da atuação do
Grupo de RH, Alvarez acredita que é chegado o
momento de dar um passo adiante. “A área da
saúde tornou-se mais atrativa para os profissionais
de RH, mas vejo que ainda faltam investimentos
e mais espaços para articulações. Temos que
nos unir na busca por soluções mais eficazes”,
alertou. Ele disse ser importante entender que
gerir recursos humanos nas entidades é um
conjunto de ações e que alguns setores de RH,
que normalmente são muito técnicos, precisam
contribuir para a gestão da empresa, buscando
ser o “fiel da balança” entre capital e trabalho.
Para 2014, Alvarez acredita que as metas serão
ainda mais desafiadoras para as empresas. “Acredito
que deva ser um ano bastante conturbado em
termos de legislação e negociações. Vamos nos
preparar para comemorar os 20 anos, contando
com o apoio da diretoria do SINDHOSP e dos
gestores. Certamente este conjunto de ‘atores’ fez
a diferença nesses 19 anos”, concluiu.
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