4.2 La Bussola_P

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4.2 La Bussola_P
JORNADAS INTERNACIONAIS FICPM – ASSIS 2-5 MAIO 2013
ATELIÊ 4 – “A BÚSSOLA”
O ACOMPANHAMENTO DOS FORMADORES NO SEU CAMINHO
COM OS NOIVOS E COM OS CASAIS EM DIFICULDADE
OS ASPECTOS ESPIRITUAIS
QUE PODEM ORIENTAR-NOS A ACOMPANHAR OS CASAIS EM
CRISE
Coordenador: Luigi Ghia – Asti (Itália)
Luigi Ghia, casado e pai de dois filhos já adultos, é sociólogo e, com a sua mulher Anna,
dirige a revista dos CPM italianos “Famiglia Domani”. Para a Editora Monti de Saronno
ocupa-se da colecção “Vivifamiglia”, na qual em 2005 publicou Fiammelle nella stoppia”
(pequenas chamas na palha) e em 2010 harmonizou Se un amore muore (Se um amor
morre). Para a mesma colecção, com o seu irmão Giorgio, em 2001 publicou Cambio di
stagione. Trasformazioni, sfide e risorse della famiglia (Mudança de estação.
Transformações, desafios e recursos da família). Outras publicações : L’alfabeto della
coppia (Elledici, 1997) (O alfabeto do casal), Lo Spirito in famiglia (Monti, 2000) (O espírito
na família) e Famiglia o Lavoro? Famiglia e lavoro: un matrimonio possibile (Effatà, 2002)
(Família ou trabalho? Família e trabalho: um casamento possível)
Os nossos tempos são caracterizados por uma forte procura de espiritualidade. Hoje
mais do que nunca os indivíduos, os casais e as famílias andam à procura de “lugares
de Espiritualidade”. Quanto mais se vive num clima de insegurança, mais se tem a
necessidade de descobrir qual é o sentido da própria existência. Tranquilidade,
solidão... deserto: uma procura que desde sempre marca os tempos difíceis da
história.
Também os casais em crise estão muitas vezes à procura, de forma mais ou menos
consciente, duma espiritualidade capaz de dar sentido à fadiga, passar da periferia do
ser a um centro significativo. Talvez esteja aqui a própria definição da
espiritualidade : um elemento específico da existência humana capaz de fazer passar
os homens e as mulheres dos bordos do ser para o seu centro e de lhes garantir uma
«vivência espiritual». Se a questão for esta, os formadores devem encarregar-se
disso.
Ajudar os casais em crise neste caminho não significa – como frequentemente se
pensa – considerar a “espiritualidade” como um acrescento, como algo que se opõe à
materialidade e que se sobrepõe à vida quotidiana. Ser homens e mulheres de
espiritualidade não é uma condição privilegiada nem rara, da qual os casais em
dificuldade e que vivem num estado de fadiga pensam não ser dignos. Pelo contrário,
é um caminho que se faz juntos, no discernimento comum e que pode ter – como a
ascensão de Abraão sobre o monte Moria – saídas imprevisíveis (ver Gn 22).
Inscreve-se na dimensão da experiência humana, sem que seja necessário pertencer
a uma confissão, a uma Igreja, nem ser-se «praticantes» .
Existe uma analogia entre o acompanhamento no caminho de casal e o
acompanhamento para uma espiritualidade madura. O horizonte duma relação de
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casal que permite a duas pessoas que se amam abordar positivamente os conflitos
implica sempre ultrapassar a relação de fusão ou de complementaridade para chegar
a uma relação baseada na reciprocidade. Nas dinâmicas complexas de vários casais –
mesmo os mais apaixonados – que entram em crise, há normalmente um elemento
comum ou seja um paradoxo (aparente) : eles ainda não descobriram a lei, bela mas
fatigante, da alteridade e da hospitalidade recíproca, e continuam ainda a ferir-se no
pântano da fusão, isto é, numa relação baseada no sentimento, sempre infantil.
Ajudar os casais a viver uma espiritualidade madura, que visa acolher de uma
maneira adulta o Transcendente na sua experiência, pode ajudar também a
transformar a crise numa oportunidade de crescimento. Deus é sempre « Outro » e
ninguém, mesmo a pessoa mais íntima, pode tornar-se « dono » da relação que se
tem com Ele. Trata-se de uma experiência inefável, como indizível e singular é o
“religioso”, isto é a abertura à Transcendência, e tão pessoal é a maneira com a qual
se enche de sentido o espaço do Transcendente. E então, um formador, perante o
mistério de cada consciência, lugar onde se realiza a busca pessoal da Transcendência
e portanto da vida espiritual de toda a pessoa, tem como primeiro dever o de o
respeitar. Ele sabe que Deus não se conhece se não permanecendo n’Ele e no Seu
mistério. Ao mesmo tempo deve ajudar os casais a viver na sua relação os
fundamentos para uma espiritualidade madura, testemunhada pela vivência do casal,
pelo clima – que é feito de palavras, de gestos e de «sinais» - da sua própria relação.
Um primeiro elemento de partilha poderia ser: quais são os fundamentos típicos da
experiência de Deus na nossa vida (por exemplo o amor, a alegria, a paz…), aos quais
se poderia fazer apelo para acompanhar os formadores no seu caminho com os noivos
e com os casais em dificuldades?
Num segundo momento poder-se-ia considerar a analogia entre uma relação de
casal adulto e uma espiritualidade madura: como na relação de casal se atinge a
maturidade quando se põe no centro o outro e não a si mesmo, assim a
espiritualidade torna-se madura quando se chega a quebrar um modelo de
interioridade fechada sobre si mesma. Aqui podem-se pelo menos colocar duas
questões . A primeira : Qual é o papel do eros no caminho de crescimento nas
dimensões da vida de casal e da experiência do Transcendente? E ainda: Como é que
a busca de uma espiritualidade madura pode ajudar a encontrar alternativas aos
« valores » dominantes nas nossas vidas : o dinheiro, a posse, o poder…? Como pode
a busca de uma espiritualidade madura proteger da fragmentação social e das
consciências que se verifica no contexto actual? Descobrir de novo a espiritualidade
nas nossas vidas poderá tornar-se um elemento capaz de recompor uma unidade
perdida, de nos tornar homens e mulheres « unificados na sua intimidade »?
Como conclusão do nosso ateliê poderíamos considerar alguns elementos que
tornam mais fácil um caminho de espiritualidade válida para qualquer pessoa, mas
sobretudo para os casais em dificuldade. Apenas como exemplo : educar-se para se
calar, para escutar, para a gratuidade, para a beleza, para a humildade... e para
todos os outros elementos da existência humana que a partilha aberta, pacífica e em
amizade pode trazer à luz.
Luigi Ghia
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