projeto de um protótipo sustentável

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projeto de um protótipo sustentável
PROJETO DE UM PROTÓTIPO SUSTENTÁVEL
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PROJETO DE UM
PROTÓTIPO SUSTENTÁVEL
Lívia Ferraz Damasceno
Arquitetura urbanista pela Unesp-Bauru,
e-mail: [email protected]
Rosane Aparecida Gomes Battistelle
Docente do Departamento de Engenharia Civil e do Curso de Pós-graduação em
Engenharia de Produção, Unesp-Bauru, e-mail: [email protected]
Maria Fernanda Nóbrega dos Santos
Arquiteta urbanista, mestranda em Engenharia de Produção na área de Gestão Ambiental
pela Unesp-Bauru. Bolsista do CNPq, e-mail: [email protected]
Francisco Antonio Rocco Lahr
Docente do Departamento de Engenharia de Estruturas e da
Pós-graduação da Engenharia de Materiais, Interunidades,
EESC-USP, São Carlos, e-mail: [email protected]
Resumo
A construção civil tem se destacado como área promissora em relação à busca da sustentabilidade, pois possibilita
assimilar tanto tecnologias mais limpas quanto materiais mais sustentáveis. Desse modo, algumas empresas estão
destinando atenção especial a essa possibilidade, como as cooperativas de reciclagem de resíduos plásticos, papel,
borracha e alumínio, e arquitetos e engenheiros, com sua capacidade técnica, vêm aplicando materiais alternativos
em seus projetos. As universidades também têm incentivado os conceitos de sustentabilidade junto à comunidade
universitária. Assim, o objetivo deste trabalho é o desenvolvimento de um projeto para uma habitação ecológica, na
qual é proposta a utilização de materiais e técnicas de construção sustentáveis, desenvolvidos pelos discentes e
docentes dos cursos de Arquitetura, Engenharia de Produção, Engenharia Civil e Desenho Industrial da Unesp, Bauru.
O resultado é apresentado na forma de pranchas arquitetônicas, com a descrição das técnicas construtivas empregadas.
Palavras-chave: arquitetura sustentável, materiais de construção, chapas de partículas.
Introdução
Na atualidade, o aumento da população, aliado ao
processo crescente de urbanização, tem evidenciado os
problemas ambientais, como a crise energética, os padrões
insustentáveis de consumo da sociedade e os impactos da
geração e descarte dos resíduos sólidos. Paralelamente, observase que as questões ambientais são cada vez mais discutidas
nos meios político, social e, principalmente, acadêmico.
Os índices de poluição apresentam-se cada vez mais
alarmantes nas cidades, tanto pelas contribuições
atmosféricas da frota de carros, quanto pelo acúmulo de
resíduos nas vias públicas, terrenos baldios, rios e fundo
de vales, que não são enviados para o correto descarte
final. Ou, mesmo, pela produção desenfreada de materiais
sintéticos, como os produtos descartáveis, que ao final
de sua vida útil são rejeitados na íntegra, contribuindo
para o crescente aumento dos resíduos.
Outro aspecto que colabora para esse panorama é
a exploração dos recursos naturais (como o petróleo e a
água potável) sem o devido planejamento, que também
traz como consequência ambiental o incremento exponencial de resíduos industriais.
Segundo John (2000), no modelo adotado por nosso
processo de industrialização, os resíduos sempre são gerados
na produção de bens de consumo, e ao final de sua vida
útil apresentam-se em quantidades superiores aos produtos
desenvolvidos.
Em relação ao setor da construção civil, GauzinMüller (2002) comenta a margem muito significativa de
participação desse empreendimento na degradação
ambiental. De acordo com o pesquisador, a fase de
construção e sua “vida útil” consomem mais de 50%
dos recursos naturais extraídos e 40% de toda a energia
produzida no planeta.
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DAMASCENO ET AL.
Em contrapartida, segundo Cincotto (1988), esse
mesmo setor está apto a empregar grande diversidade
de materiais descartados durante as diferentes etapas de
construção e uso, podendo, assim, incorporar vários resíduos
(desde que viáveis tecnologicamente) e oferecer uma
alternativa para minimizar os danos ambientais.
A motivação básica deste trabalho está sintetizada
na tentativa de englobar alguns trabalhos científicos previamente
desenvolvidos na Unesp de Bauru, nas áreas de Resíduos,
Materiais de Construção e Sustentabilidade, a fim de apresentar
uma aplicação conjunta desses materiais. Para tanto, foi
elaborado um projeto de uma habitação diferenciada, para
a qual é proposto o uso de materiais e técnicas de construção
mais “sustentáveis”, empregando diferentes materiais
compostos de resíduos, a fim de minimizar a utilização de
materiais impactantes e otimizar o uso de água e energia.
No entanto, é importante salientar que esta pesquisa
é estritamente teórica, não apresentando qualquer
experimento, salvo os testes de caracterização do solo
na região indicada para sua futura instalação, a fim de
sugerir uma fundação mais adequada.
Objetivo
Visando contribuir com as metas do desenvolvimento
sustentável, o objetivo deste trabalho é desenvolver um
projeto de habitação ecológica, na qual serão empregados
materiais e técnicas construtivas considerados de baixo
impacto ambiental. Os resultados serão apresentados por
meio de desenhos técnicos e imagens de simulações em
3D. Além disso, busca-se demonstrar a viabilidade
construtiva e econômica da edificação proposta.
Desenvolvimento do Trabalho
Este trabalho foi dividido em duas partes. A primeira
se constituiu no levantamento dos materiais a serem
aplicados na construção do projeto e na elaboração dos
desenhos técnicos, assim como das imagens de simulação
do protótipo em 3D. A segunda etapa se constituiu no
desenvolvimento do projeto do teto verde e do sistema
de capitação e reaproveitamento de águas pluviais. Alguns
detalhes de acabamento (como pergolados, maçanetas e
beirais) foram incorporados ao projeto.
O projeto está apresentado na forma de desenhos
técnicos e imagens de simulações do protótipo em 3D,
desenvolvidos nos programas AutoCAD, Google SketchUp
e 3D Studio MAX, tendo como ficha técnica:
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l
l
Destino: protótipo de uma habitação de um pavimento
para três pessoas.
Localização: Av. Edmundo C. Coube, Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, na área situada atrás
dos Laboratórios da Engenharia, Figura 1.
Superfície do lote: aproximadamente 238 m² de área
disponível.
Superfície a ser construída: 102 m² de área total e 53
m² de área interna.
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l
Função: no interior da universidade este local poderá
ser utilizado para pequenas reuniões de trabalho, biblioteca
específica de construções sustentáveis ou uma área de
descanso para professores visitantes. Também poderá
servir como habitação para atender a três pessoas.
É importante ressaltar que foram realizados estudos
de orientação solar para a correta implantação do protótipo,
a fim de aproveitar eficientemente a iluminação natural
e ofereceer qualidade térmica e salubridade aos ambientes
propostos.
Classificação do solo
O estudo do solo, conforme Zimback (2003), tem
por objetivo determinar as características do solo e classificálo, estabelecendo, assim, seu comportamento para diferentes
aplicações. Para este trabalho, foram colhidas amostras
do solo na área sugerida para a futura instalação do projeto.
Após as análises, os resultados constataram que o solo
possui 69% de areia, 23% de silte e 8% de argila. Desta
forma, o solo do local está constituído por uma areia
fina argilosa residual de arenito, com característica colapsível
(Ferreira, 1991), apropriado para a fabricação de adobes
e de solo-cimento.
Segundo pesquisas anteriores de Faria (2000) e
Neves (2000), o melhor solo para a confecção dos tijolos
de adobe é aquele que apresenta um traço de cerca de
70% de areia e 30% de argila.
Tipo de fundação
A partir da análise realizada com o solo local
(considerando-se sua formação e propriedades) e tendo
por base as experiências de construções realizadas no
entorno e as características do projeto em questão, optouse pela fundação do tipo sapata corrida de solo-cimento
com a inserção de resíduos de garrafas PET.
O material foi testado por Carbonieri (2002) na
pesquisa sobre reciclagem de garrafas PET em fôrma
de fibras, para reforço de solos colapsíveis. Foram utilizadas
fibras de formato retangular com dimensões de 2,5 mm
por 40 mm. Os resultaram demonstraram que a adição
dessas fibras proporcionou acréscimo na resistência do
solo com aumento de sua ductilidade e queda em seu
valor de ruptura. A autora constatou que a porcentagemlimite de fibras inseridas no solo deveria ser de 1% de
PET, acrescidos 9% de cimento (Figura 2).
Tijolos de adobe
O adobe consiste numa técnica milenar de preparo
com terra crua, preferencialmente com solo arenoso, que
deve ser umedecido e moldado juntamente com as fibras
naturais (capim, palha, resíduos de celulose, cinzas de
madeira, esterco animal, etc.) ou artificiais (cal, resíduos
de garrafa PET, embalagens Tetra Pak, cimento, gesso,
betume, etc.) em fôrmas, geralmente, de madeira. Essa
mistura é compactada a golpes e, logo em seguida, os
PROJETO DE UM PROTÓTIPO SUSTENTÁVEL
blocos são extraídos, permanecendo um período na sombra
e depois ao sol, para a secagem completa.
Os materiais adicionados ao barro (estabilizadores)
têm a função de garantir homogeneidade à mistura,
melhorando sua resistência ao impacto e diminuindo o
aparecimento de fissuras e retração durante a secagem.
Neste projeto, será utilizada a técnica para confeccionar tijolos de adobe descrita no trabalho de Battistelle
(2002), sendo misturado ao barro o resíduo proveniente
do processo de fabricação de celulose e papel, em diferentes
porcentagens. Os compósitos originados dessa mistura
apresentam maior “liga” e menor retração, saindo com
maior facilidade das fôrmas de madeira sem o esfarelamento
de suas bordas. A quantidade de estabilizante inserido
na mistura deve ser de no máximo 25%.
Estruturas de bambu
O bambu é um dos materiais usados pelo homem
desde a mais remota antiguidade, seja para construir sua
casa, para se alimentar ou mesmo em artesanatos,
produzindo objetos de uso doméstico (de cestas a móveis),
entre muitas outras aplicações (Pereira & Beraldo, 2007).
Como o campus da Unesp de Bauru possui uma
plantação de diferentes espécies em seu campo experimental
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agrícola, optou-se pelo bambu da espécie Dendrocalamus
giganteus (Figura 3), conhecido como bambu-gigante,
que será utilizado no projeto:
l
l
l
l
l
cobertura do projeto, como base para o teto jardim,
beiral e forração da platibanda;
estrutura para sustentar a cobertura;
delimitação da área da casa (fechamento);
calhas e estrutura de sustentação para o equipamento
de tratamento das águas pluviais coletadas pelo teto
jardim;
construção de alguns detalhes como as maçanetas, o
pergolado e o gradil da varanda.
A cobertura (Figura 4) será estruturada para receber
um jardim, assim, os bambus deverão ser colocados
lado a lado e unidos com outros bambus cortados ao
meio. A união deverá ser realizada com parafuso, para
evitar o rompimento das peças. Essa “laje de bambu”
será parafusada nas vigas que se apoiam nos pilares
locados nos cantos internos de cada cômodo. As vigas
e os pilares também serão de bambu. Paralelamente,
será montado um beiral de aproximadamente 80 cm de
projeção, que servirá de proteção para as paredes de
adobe.
Fundeb
Acesso
Área de
implantação
Lab. Eng. I
Lab. Eng. II
N
Av. Edmundo Carrijo Coube
Figura 1 Localização do protótipo no interior do campus da Unesp-Bauru. Fonte: Damasceno (2009).
Figura 2 Amostras das fibras utilizadas na moldagem dos corpos-de-prova, com fibras de PET. Fonte: Carbonieri (2002).
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DAMASCENO ET AL.
Figura 3 Detalhe das moitas de bambu da espécie Dendrocalamus giganteus no campus
da Unesp, Bauru. Fonte: Santos (2006).
Platibanda
de chapas
Cobertura 1
Cobertura 2
Beiral de
bambu
Pergolado de bambu
Cobertura 3
Figura 4 Vista superior da cobertura do protótipo. Fonte: Damasceno (2009).
Chapas de partículas
As chapas de partículas são chapas compostas de
aglomerados oriundos de diferentes materiais, que podem
ser rejeitos ou não das indústrias, da construção civil e
até mesmo da natureza (fibras e cascas). Esses materiais
também podem estar misturados a outros produtos. Podese mencionar alguns exemplos de resíduos que são utilizados
para a produção dessas chapas, como os das embalagens
Tetra Pak, garrafas PET, fibras de vidro, bagaço da canade-açúcar, bambu, dentre outros.
Essas chapas são destinadas a diferentes aplicações
na construção civil, sendo utilizadas como vedações, forros,
divisórias e para a produção de mobiliário. As chapas
baseiam-se em materiais cujas características são
semelhantes a alguns já utilizados, como o compensado
e o MDF (Medium Density Fiberboard) ou a chapa de
fibras de madeira de média densidade, conforme apresentado
por Lahr (2008).
Dois tipos diferentes de chapas desenvolvidas na
Unesp serão utilizados neste trabalho:
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l
l
As chapas estudadas por Miyazato (2007), compostas
por resíduos de celulose, provenientes da Indústria
Votorantin Celulose e Papel, adicionadas ao refugo
das embalagens cartonadas do tipo Tetra Pak (polietileno
e alumínio).
As chapas desenvolvidas por Santos (2006), compostas
por resíduos de celulose, adicionadas às fibras das
folhas caulinares do bambu triturado da espécie
Dendrocalamus giganteus, como mostra a Figura 5.
Estas chapas serão utilizadas para a produção dos
seguintes itens:
l
l
l
l
módulos pré-moldados para a cobertura, espécie de
caixotes que estarão apoiados na base de bambu e
que receberão o jardim da cobertura;
portas divisórias dos ambientes, todas de correr;
janelas e esquadrias que seguram o vidro e o pano
externo, para barrar a luz incidente;
proteção da platibanda, que funcionará como uma
forração para a mesma.
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Teto jardim
O teto jardim, também conhecido como telhado
verde, tem por princípio a construção de um jardim sobre
a superfície de uma cobertura (laje), seja ela de uma
construção residencial, comercial ou industrial. Esta técnica
é bastante antiga, embora não seja muito disseminada,
podendo ser encontrada tanto em países de frio intenso
(Europa, Estados Unidos e Canadá) quanto em locais
onde o calor predomina (América Central).
O principal objetivo do teto jardim (Figura 6), neste
projeto, é o de testar uma nova técnica de sustentação
da vegetação, pois será utilizada uma combinação de
materiais: chapas de partículas fabricadas a partir da
reciclagem das embalagens de Tetra Pak e celulose, tendo
um papel de base sobre os bambus (módulos préelaborados).
O telhado proposto é composto por barras de bambu,
lona plástica, bandejas elaboradas com as chapas, uma
camada de pedrisco médio para drenagem e, sob estes,
aproximadamente 20 cm de terra. Para a vegetação, é
importante que a espécie não cresça demasiadamente,
possua raízes curtas e se comporte bem à exposição direta
do sol e chuva (Figura 7).
As barras de bambu deverão ser colocadas lado a
lado e unidas com parafuso, para evitar o rompimento
das peças. Essa “laje de bambu” será parafusada nas vigas
também de bambu. Paralelamente, será montado um beiral
de aproximadamente 80 cm de projeção. Sobre a laje
serão usadas as bandejas de chapas (Tetra Pak e celulose).
Com relação ao sistema de captação de água a ser
instalado neste projeto, deve-se optar pelo mesmo modelo
proposto por Vecchia et al. (2006), sendo que os coletores
serão modificados, ou seja, também deverão ser utilizadas
barras de bambus (Figura 8), além de um tanque de
armazenamento.
residência, mas também para qualquer outro tipo de uso
que seja conveniente (biblioteca ou sala de reuniões).
O ordenamento do espaço obedece ao seguinte
aspecto: a entrada se faz pela varanda frontal, ou seja,
pela face sul (Figura 9).
A partir da varanda se acessa a copa, que faz a
conexão da cozinha com a sala. Ela também funciona
como varanda, pois está numa área externa a casa. Apesar
de externa, porém, essa área é coberta por um pergolado
revestido com chapas de policarbonato e vegetação. A
varanda também poderá ser fechada por um sistema de
“parede-porta”, constituído pelas chapas de Tetra Pak e
celulose que estão fixadas de maneira a poderem correr
de um lado a outro, funcionando como portas corrediças
(Figura 10).
A cozinha, localizada do lado direito da copa (do
ponto de vista da entrada da casa), é separada desta também
pelo sistema de “parede-porta”, que, quando aberta, permite
a integração de ambos os ambientes.
Do lado esquerdo da copa está o setor sala/quarto/
banheiro. A separação, neste caso, se faz por uma parede
de adobe que contém uma porta de correr simples, para
acesso ao ambiente, e um pano de vidro que integra
visualmente a sala e a copa. Essa estrutura se faz necessária
para o caso de a copa ficar aberta. Neste bloco sala/quarto/
banheiro também está presente o sistema “parede-porta”,
porém, somente entre o quarto e a sala. Ou seja, quando
necessário, será possível integrar essas áreas correndose as chapas para detrás da parede do banheiro, transformando a sala e o quarto num único ambiente.
O esquema de distribuição dos cômodos pode ser
melhor visualizado na Figura 11, que contempla o layout
interno da residência.
Resumidamente, no projeto serão utilizados os
seguintes materiais e técnicas construtivas:
z
A concepção do espaço
A idéia inicial da divisão dos espaços teve o propósito
de tornar o projeto menos rígido, sem uma função
obrigatória. Assim, poderá ser utilizado não só como
121
Fundação: sapata corrida feita de solo-cimento com
adição de fibras de garrafa PET, opção empregada
para reduzir a quantidade de cimento e reciclar o plástico,
já que ambos são produtos que carregam altos valores
de energia incorporada, além de serem muito poluentes.
Figura 5 Diferentes chapas de partículas com rejeitos agroindustriais. Fonte: Santos (2006).
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l
l
l
l
l
DAMASCENO ET AL.
Estrutura: todas as paredes externas serão de adobe.
A terra deverá ser retirada no próprio local (poderá
ser a terra que sobrará da escavação das fundações e
do próprio nivelamento do terreno), já o estabilizante
será obtido com as fibras presentes no resíduo de celulose
e papel.
Divisões internas: confeccionadas com chapas de
partículas.
Piso: a base será em solo-cimento com adição de garrafa
PET, que depois de seca receberá uma aplicação de
impermeabilizante acrílico transparente como revestimento, de forma a facilitar a visualização do resíduo
na mistura.
Janelas e portas: também produzidas com chapas
(celulose e bambu).
Teto: a estrutura do teto será toda projetada em bambu.
Sobre ele serão dispostas chapas (celulose com Tetra
l
l
Pak) que servirão de apoio para o teto jardim; o beiral
para proteger o adobe também será constituído de bambu;
a platibanda será forrada com a chapa, também para
proteger a parede de adobe da ação das intempéries.
Captação de águas pluviais: sistema adaptado com
canos de bambu.
Detalhes: as maçanetas, gradis e pergolados serão
confeccionados com bambu.
Custo da edificação
Uma estimativa do custo da mão-de-obra e dos
valores dos materiais necessários para realizar a construção
do projeto proposto perfaz um total de aproximadamente
R$ 21.000,00 (Tabela 1). Nesse montante não estão
consideradas as etapas de limpeza do terreno, serviço
de terraplenagem, bem como colocação das peças
sanitárias.
Figura 6 Esquema de implantação do teto jardim, ou telhado verde. Fonte: Damasceno (2009).
Calha captação
água da chuva
Cobertura do
beiral com
Legenda:
chapa de
policarbonato
Camada terra
Camada seixos
Camada lona
Chapa partículas
Camada bambu
Pilar de bambu
que sustenta
a cobertura
Todas as uniões entre
os bambus e a viga são
feitas com parafuso
Bambu de d = 15 cm que atua como
viga de apoio para os bambus menores
i = 3%
Figura 7 Detalhe do teto jardim e do beiral. Fonte: Damasceno (2009).
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Canos coletores
em bambu
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Encaixe do tipo
“boca de peixe”
Amostradores
em bambu
Figura 8 Proposta de calha e amostradores de bambu para a captação das águas da chuva. Fonte: Damasceno (2009).
Figura 9 Perspectiva da entrada e fachada principal da residência. Fonte: Damasceno (2009).
Figura 10 Perspectiva da varanda e área de serviço da residência. Fonte: Damasceno (2009).
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124
DAMASCENO ET AL.
Figura 11 Esquema do layout interno da edificação com mobiliário. Fonte: Damasceno (2009).
Tabela 1 Levantamento dos materiais e custos da edificação proposta. Fonte: Damasceno (2009).
Especificação dos materiais propostos
Quant
Unid
Preço
unid
Total
3
Fundação sapata corrida com 7,4 m de volume feita de solo-cimento e fibras
924
de garrafa PET, sendo utilizado 9% de cimento (único material a ser
comprado). A densidade do cimento é de 1400 kg/m3
Contrapiso com 8,16 m3 de solo-cimento com fibras de garrafa PET. 9% de
1036
cimento equivale a 0,74 m3 do material. Sendo d = 1400 kg/m3, serão
necessários 1036 kg de cimento
Paredes estruturais de adobe com resíduos de celulose e papel
116,05
Divisões internas, portas e janelas (folha maciça) de chapa-de-partículas com
35
resíduos de Tetra Pak e celulose, considerando -se uma sobra para batentes e
possíveis perdas (total de 28,57 m2 arredondados para 35 m2)
Esquadrias de chapa-de-partículas com resíduos de Tetra Pak e celulose (7 unid.)
Chapas de partículas para segurar o vidro e para o acabamento dos trilhos
20
Vidro
12
Cobertura verde
Bambu
300
Módulos pré-elaborados de chapa de partícula de Tetra Pak
41
Pedrisco
2,3
Lona plástica
85
Terra (substrato)
5,7
Vegetação grama amendoim
30
Cobertura de chapas de partículas de Tetra Pak para platibanda
35
Revestimento com azulejo esmaltado liso no banheiro e na cozinha, com
58,5
100% de revestimento
2
Revestimento do piso (102 m ) com impermeabilizante acrílico transparente
2
(Vedacil Aqua, da Vedacit), sendo que 1 litro rende 8 m2 por demão (serão
aplicados aprox. 2 demãos); cada balde contém 18 litros
Mão-de-obra para a edificação geral com base em entrevista com pedreiros
52,46
Kit de captação da água da chuva proveniente do telhado verde (valor
1
aproximado)
Total parcial
Instalação elétrica: corresponde a 5% do total da obra
0,05
Instalação hidráulica: corresponde a 5% do total da obra
0,05
Detalhes como parafusos, colas, venenos para proteção do bambu, rejuntes:
0,1
10% do valor total da obra
Total aproximado
Minerva, 6(2): 117-125
kg
0,43
397,32
kg
0,43
445,48
m2
–
–
m2
8,82
308,7
m2
m2
8,82
30
176,4
360
–
m2
2
m
m2
m2
m2
m2
–
8,82
66
1,5
70
4
8,82
–
361,62
151,8
127,5
399
120
308,7
m2
14
819
baldes
89
178
m
2
200
10492
–
2500
2500
–
–
17145,52
17145,52
17145,52
857,276
857,276
–
17145,52
1714,552
20574,624
PROJETO DE UM PROTÓTIPO SUSTENTÁVEL
Considerações Finais
Este trabalho propõe o desenvolvimento de um
projeto de habitação ecológica com aplicação de materiais
alternativos que, quando não são inteiramente naturais
(bambu, adobe ou a própria a cobertura), são constituídos
por produtos reciclados, como as chapas e o solo-cimento
com garrafas PET. Obviamente, não foi possível realizar
um projeto com 100% de materiais não impactantes, pois
quando se trata da construção civil sempre será empregado
um material tido como não sustentável, como, por exemplo,
o uso do cimento como aglomerante, que neste projeto
foi utilizado em pequena quantidade para produzir o solocimento, ou mesmo a resina uréia-formaldeído, o adesivo
mais empregado para a produção das chapas.
É importante salientar que a aplicação de uma resina
transparente na base de solo-cimento com resíduos de
garrafa PET foi proposta com o objetivo não somente
de proteger o pavimento, mas também de deixar à vista
o piso para ser avaliado, posteriormente, no ambiente
universitário em uso.
Outra mudança realizada foi o emprego de dois
tipos de chapas. Internamente foi aplicada a chapa
desenvolvida por Santos (2006), com resíduos de bambu
e celulose. Externamente, porém, será usado o material
desenvolvido por Miyazato (2007), que apresenta ótimas
características impermeabilizantes, uma vez que as
embalagens Tetra Pak possuem o plástico e o alumínio
como componentes de seus produtos, o que fornece melhor
desempenho e durabilidade diante dos agentes climáticos.
Como enfatizado anteriormente, este é um trabalho
exclusivamente teórico, feito com base em levantamentos
bibliográficos, experiências profissionais de projetos de
pesquisas já realizados na Unesp de Bauru e um pouco
de imaginação. A próxima etapa será a construção desse
protótipo no interior da universidade, que servirá de grande
laboratório prático para alunos e professores, que poderão
desenvolver novas pesquisas no que diz respeito ao teto
jardim, construção com terra, uso do solo-cimento, captação
de água da chuva, entre outros.
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