VALE SA Transcrição Almoço com Jornalistas

Transcrição

VALE SA Transcrição Almoço com Jornalistas
VALE S.A.
Transcrição Almoço com Jornalistas
Murilo Ferreira: Foi um ano muito difícil, acho que para os países emergentes, de um modo
geral, na economia mundial – muito desafiador e muitas coisas aconteceram. Houve o evento
que eu considero importantíssimo da Rússia e da Ucrânia, tanto do ponto de vista geopolítico,
quanto de fundamentos econômicos, pela importância da Rússia como produtora de
commodities. Muita gente continua fazendo todos os prognósticos ruins sobre a China, e eu
continuo achando que o presidente Xi Jinping está fazendo as reformas no tempo certo. Ele
tem dez anos de mandato, pelo menos é o que se espera. E você tem que fazer aquelas
coisas necessárias e as reformas no começo. Esperamos que os Estados Unidos, o ano que
vem, tenham um ano muito complicado porque o Congresso se fará republicano, o governo
será democrata, então é mais uma grande incerteza. Temos uma América Latina que deve
ser muito afetada pela queda dos preços de commodities. São muitos desafios que foram
plantados este ano e que terão repercussões para o ano que vem. Mas eu, antes de partir
para as perguntas e respostas, queria agradecer a cobertura de todos vocês aqui para os
assuntos da Vale. Nós nunca tivemos o hábito de reclamar de vocês, jornalistas, como muitas
empresas, como muitos setores políticos fazem. Eu acho que nós criamos um clima de muito
respeito. Eu respeito muito o trabalho que vocês fazem de cobertura, que vocês sempre
ofereceram pela Vale, e a gente procura sempre agir da forma mais transparente, mais
correta e dando oportunidade de ouvir vocês em algumas individuais que nós fazemos com
os jornalistas. De novo, mais um ano de agradecer a vocês pelo tratamento que nós
recebemos, respeitoso, e a gente quer retribuir com essa transparência e com o mesmo
respeito. Vamos para as perguntas.
Francisco Goes (Valor Econômico): Oi, aproveitando esse cenário que você classificou aí
como desafiador para o ano que vem, eu gostaria de te perguntar então como é que a Vale se
insere nesse contexto para 2015, sobretudo, considerando um cenário também difícil,
entendo eu, esperado para o próprio minério de ferro.
Murilo Ferreira: Eu prefiro até dizer que nós não temos um 2015 difícil, nós temos 2015 e
2016, Chico. Em 2015, nós estamos terminando todos os nossos projetos que estão sendo
feitos, à exceção do S11D, na Serra Sul de Carajás. É o projeto mais importante da nossa
História e a gente segue em frente como começamos. Pretendemos embarcar pela primeira
vez em 2016. Nós precisamos e estamos criando uma ponte de 2015 e 2016. São certas
coincidências que acontecem no mundo, mas que nos estimulam. Muitas pessoas na casa,
experientes com minério de ferro, estão sempre lembrando, neste momento, o que nós
passamos em 1985. Em 1985, para os jovens, foi quando a Vale terminou a implantação do
projeto Carajás, o primeiro, com 30 milhões de toneladas. Era uma aventura você fazer um
projeto naquela região, ferrovia com porto. Aquele projeto, quando ficou pronto, nós tínhamos
uma economia brasileira muito complicada, uma transição política muito difícil e uma
economia mundial andando muito menos do que nós esperávamos. E o projeto Carajás
tornou-se o que se tornou na história da empresa. Mais do que qualquer outro ciclo, eu digo
que a Vale tem alguns ciclos muito importantes. O primeiro foi o porto de Tubarão, em 1966,
quando ela abriu a possibilidade de exportar grandes volumes. O segundo foi a inauguração
de Carajás. E o terceiro é esse que eu acho que vocês tem a oportunidade de vivenciar, que
é o S11D. Esses três projetos, para o minério de ferro, são momentos históricos, são
momentos decisivos para nós. Mais uma vez, nós vamos viver esse momento... acredito pela
situação que eu chamo, por exemplo, anêmica da Europa, que é um mercado muito
importante para nós antes do surgimento fantástico da China. A Europa sempre foi, junto com
o Japão e posteriormente Coreia, nossos mercados preferenciais, pelo menos em termos de
volume. Nós temos essa situação “Europa anêmica” e eu não espero, francamente, uma
grande mudança. Somente agora depois de alguns anos é que eu vejo o presidente Hollande
começando a se movimentar para acertar as suas contas públicas, e é o segundo país mais
importante da Europa. A Alemanha eu acho que hoje está se dando conta de que a Europa
não indo bem, ela não vai conseguir ir bem permanentemente, porque a máquina exportadora
da Alemanha está falhando por falta de compradores no volume que precisaria. Nós tivemos
um Japão revigorado durante esse período do primeiro ministro Abe, agora reeleito, mas que
entrou em recessão. Ele tem um dilema fantástico, porque ele quer crescer, quer ter alguma
inflação, mas por outro lado as condições de dívida pública japonesa são muito hostis. Ele
tem que aumentar os impostos. Aumentando os impostos ele derruba a demanda. A China eu
acho que é o grande cartaz de vocês. Sempre todo mundo especulando tanto sobre a China,
se a China vai ser 7,5%, agora o debate é se vai ser 7%. Eu acredito que a China mudou de
viés e a maioria das pessoas não “sacou”. Francamente, eu não estou querendo me
considerar mais esperto que os outros. A China deixou de olhar para o PIB, eu já falei isso
anteriormente, mas acho que muita gente não acredita. O Presidente Xi Jinping está olhando
para o elemento “aumento da renda per capita” porque ele viu que é absolutamente
necessário que as pessoas tivessem privilégios a partir do crescimento econômico. Eu acho
que ele olhou muito para isso e para redução de disparidade. Até pelo movimento da nova
China de 1948/49. A China trabalhou muito para sumir com a desigualdade. A nova China
procura essa redução de desigualdade de uma forma muito intensa. E o que estava
acontecendo, para quem tem ido à China recentemente? Você vendo Ferraris, você vendo
uma porção de ostentações das lojas de grande grife. Isso é uma agressão para o chinês
médio. O chinês, com todo o capitalismo que ele está vivenciando, ele ainda veste um pouco
aquele uniforme de Chairman Mao. O presidente, que é um sábio, na minha opinião, ele
percebeu isso e está lutando muito com dois objetivos. Ele não está preocupado se a
economia vai crescer 7,5, 7 ou 7,7%, ele está preocupado que as pessoas em um regime de
partido único não percebam uma disparidade abrindo um fosso de desigualdade no país. Eu
acho que ele está querendo levar à frente as reformas, os 60 pontos da reforma. E ele está
pagando o ônus no inicio do mandato que é quando, certamente, ele precisa fazer as coisas.
Eu vejo o cenário internacional muito preocupante para o ano que vem. Não vejo ele, de
forma alguma, um cenário “céu azul”. Todo mundo diz: “Ah!! mas os Estados Unidos!”. Os
Estados Unidos... a forma de visão política, você tem que ver o que vai bem, o que vai bem e
vai muitíssimo bem é a alta tecnologia, por exemplo. Setores das grandes empresas, uma
Apple, uma Google, essas empresas vão muito bem. Agora, a própria indústria do petróleo ou
a indústria de materials não tem ido bem. Você tem gente crescendo 30% na Bolsa e outras
caindo 30% na Bolsa. Então eu vejo o cenário mundial muito complexo nesse momento,
portanto não é de se esperar uma situação muito “prazerosa”. Mas a Vale tem o benefício
pela nossa diretoria e pelos nossos gestores, de ter enxergado o fim do super ciclo ainda em
2011/2012, quando nós tomamos diversas medidas, vocês sabem, de redução de custos.
Hoje a Vale é uma empresa muito mais leve do que era em 2011. Ela é muito mais leve. Só
uma conta, o SG&A, estava chegando em US$ 2 bilhões. Hoje nós estamos na casa de US$
800 milhões. Por aí vocês veem o nível de queda, de austeridade que a gente tem perseguido
e que achávamos que aqueles tempos de abundância já tinham acabado. Então, nesse
sentido, eu acho que nós perseguimos uma austeridade no momento certo, desinvestindo em
negócios. No ano passado vocês se lembram, foram US$ 6 bilhões. Esse ano tinha gente que
achava que não podia ficar muito anêmico e só essa transação do carvão vai trazer US$ 3,7
bilhões para o nosso fluxo de caixa. É uma operação muito interessante também. A empresa
se preparou para esse momento “menos exuberante” que a gente previa. Nós temos é que
continuar muito focados nisso, nessa disciplina, na alocação de capital, na austeridade, na
simplicidade, para obtermos os resultados em qualquer situação. O que eu quero dizer em
uma única frase: se você estiver entre os 25% mais eficientes da indústria que nós
trabalhamos, seja minério de ferro, seja cobre, seja níquel, seja carvão metalúrgico, seja
fertilizantes, em qualquer cenário você vai ter respostas positivas. Você vai ganhar mais ou
menos, por isso que a nossa fixação com o primeiro quartil da indústria em qualquer
segmento.É isso que nós estamos enxergando para o biênio 15/16.
Mônica Ciarelli (O Estado de São Paulo): Murilo eu, na realidade, estava querendo saber
uma informação que aí sim interfere no dia a dia da Vale. Eu estava querendo saber: você foi
convidado para a Petrobras? Por que aí muda tudo. Você foi convidado? Para mais algum
ministério?
Murilo Ferreira: Eu não fui sondado, eu não fui indicado, eu não fui convidado, e posso te
dizer o seguinte: vocês estão vendo o tamanho do desafio que nós temos aqui, que o nosso
time tem, trabalhando com o minério que no ano passado, nessa mesma época do nosso
almoço estava a US$ 135 e hoje a US$ 68; implantando o projeto da dimensão do S11D de
quase US$ 20 bilhões, que por economias vai ficar entre 16 e 17 bilhões; e terminando o
maior projeto da África, que são US$ 8 bilhões. Nós estamos totalmente focados, eu acho que
é um orgulho para todo o nosso time, estar muito focado nesses projetos, mas eu posso te
dizer o seguinte: eles são muito intensivos de trabalho e de desafios. Estamos completamente
dedicados em implantar isso da forma mais eficiente possível.
Pedro Soares (Folha de SP): Só para complementar a pergunta da Mônica, se por acaso,
você fosse convidado, aceitaria esse desafio? Já que você implementou aqui uma redução de
custos drástica, e mesmo quando a Vale teve prejuízo a reação do mercado sempre foi
positiva, vocês conseguiram se comunicar de uma forma muito clara, muito transparente com
o mercado, talvez é isso que a Petrobras precise nesse momento.
Murilo Ferreira: Eu não posso ser indelicado e responder pela empresa uma hipótese. Então
o que eu tenho que fazer é dizer, apenas, do meu grande orgulho do time que nós temos aqui
na Vale e do trabalho que nós estamos fazendo.
Mariana Durão (O Estado de SP): Murilo, tudo bem? Eu queria saber duas coisas: primeiro
saber um pouquinho mais sobre o timing desse estudo que vocês estão fazendo sobre o IPO
da área de metais básicos. Não ficou muito claro para mim em quanto tempo vocês
pretendem apresentar alguma coisa ao Conselho e quais as condições para isso. E outra
coisa que eu queria saber um pouquinho é sobre a questão dos desinvestimentos. Eu acho
que no Vale Day vocês mencionaram os Valemax. Então eu queria entender exatamente qual
vai ser a estratégia da Vale no caso dos navios. Vocês vão vender esses navios? Vocês já
fizeram alguns acordos. Quanto isso deve gerar de desinvestimento, enfim para o ano que
vem. Vocês já falaram algumas coisas, mas o que está mais firme em termos de negociação?
Murilo Ferreira: O assunto dos metais básicos é muito, Mariana, em decorrência do nosso
inconformismo do valor percebido por investidores em relação ao nosso negócio de metais
básicos. Ele não tem nada a ver com necessidade de recursos ou política de desinvestimento.
Felizmente e interessante é que agora, depois que nós anunciamos essa opção, muita gente,
muitos investidores chegam para nós mostrando as maravilhas do negócio de base metals,
que eles estavam escondidos nas últimas semanas, antes de a gente vir fazer esse anúncio.
Foi feito um grande trabalho na ocasião, liderado pela equipe do Peter Poppinga, lá no
Canadá. Nós melhoramos muito de custo. Nós usamos uma expressão na ocasião, com o
Peter: “Peter, acabou a mesada”. Nós não íamos mandar dinheiro do Brasil para sustentar
metais básicos. Isso foi um desafio para a turma no Canadá, na Indonésia, em todos os
lugares onde nós operamos, que foi maravilhoso. Eu acredito que os bancos chegavam aqui
com propostas: “Ah, vende um base metals”, “base metals ainda não está dando resultado,
será que vai dar?”, “vende por US$ 7, 8, 9 bilhões”. E agora quando a gente vê o IPO como
opção, bancos e estimativas de mercado falam em um valor entre US$ 28 e 30 bilhões e US$
35 bilhões. Só isso já mostra a magnitude que esse negócio representa hoje para a Vale. O
que aconteceu? Primeiro, nós recuperamos a integridade dos ativos em muitos lugares,
especialmente no Canadá, que estavam ativos antigos, sem modernização e tudo o mais.
Terminamos e fizemos muitos projetos como Salobo I, Salobo II, Onça Puma, Totten. Agora
começamos Long Harbour, a própria Nova Caledônia, o projeto da Zâmbia. Muita coisa foi
feita, foi agregada ao base metals e nós só vamos fazer uma transação de base metals se for
para destravar valor. Ou seja, se o mercado não estiver reconhecendo através da precificação
das ações o valor que esse negócio tem. Nós não estamos atrás de recursos. Para obter
recursos nós temos outras fontes que eu posso citar aqui diversas delas. O trabalho de você
fazer uma listagem é um trabalho de uma contabilidade mais aguçada em um determinado
caminho. Isso sim nós vamos fazer para a área ter a opção. Eu quero que a diretoria leve ao
Conselho. Se o Conselho falar assim: “Não, achamos que vocês devem fazer o IPO, isso
daqui vai destravar valor para a empresa”, nós precisamos ter as coisas prontas. Isto é um
trabalho que demora oito, nove meses para você ter todas as coisas prontas. Luciano, me
ajuda com a resposta dos navios por favor.
Luciano Siani: Nós já anunciamos uma transação envolvendo os navios, envolvendo quatro
deles para Cosco, e o arrendamento de volta por um prazo de 25 anos. Esse é o tipo de
transação que a gente quer fazer porque tira do nosso balanço esse capital investido, que é
expressivo, mas a gente assegura a competividade de longo prazo com o arrendamento. Não
só de longo prazo como de baixo custo também. E esses navios podem ter financiamento
muito favorável por conta das agências de exportação fora, são operações mais alavancadas.
No final você tem até um beneficio para a Vale em termos de frete. A nossa estratégia é ter os
navios disponíveis a um custo baixo para nós. Não significa que nós precisamos ser os donos
desses navios. Se a gente conseguir, e a gente acredita que consegue, fazer mais dessas
transações, nós vamos fazer e nós temos o balanço: qualquer coisa entre US$ 1,5 bilhão e
US$ 2 bilhões ainda em navios do tipo Valemax.
Mariana Durão (O Estado de SP): Essa frota é de quantos mesmo?
Luciano Siani: Nós temos 15 ainda desimpedidos, que são nossos.
Mariana Durão (O Estado de SP): Esse valor, que eu não entendi, de US$ 1,5/ US$ 2
bilhões, é o que?
Luciano Siani: Cada Valemax tem um preço dependendo do tempo de uso dele, acima de
US$ 100 milhões de dólares, nós temos 15, esse escalão vai de US$ 1,5 bi para cima.
Mariana Durão (O Estado de SP): Aí vocês estão buscando, algo desse tipo com esses 15?
Luciano Siani: Isso. Se a gente tiver condições favoráveis e fretes favoráveis, disponibilidade
por prazo longo e custo baixo, a gente pode vir a fazer novas transações.
Joe Leahy (Financial Times): Então já tem certeza na China ou já estão chegando lá,
entrando na China mesmo?
Murilo Ferreira: Eu acho que nós temos realmente tido algumas contratações de navios para
a China, nós temos Valemax lá. E nós estamos sempre seguindo a legislação interna da
China, nós estamos sempre em compliance com aquilo que é permitido nos portos. Nesses
diversos embarques - eu não sei quantos já fizemos, mas foi uns cinco ou seis em Valemax -,
nós estivemos sempre em compliance com as regras internas da China.
Juan Pablo Spinetto (Bloomberg): Na semana passada saiu esse acordo com o porto de
Qingdao. De outra maneira também está ligado a uma maior chegada de Valemax na China?
Murilo Ferreira: Nós estamos intensificando muito, como o Luciano disse, nós temos um
acordo com a China Merchants, com a Shandong, que foi a primeira, com a Cosco, agora
com o porto de Qingdao. Então, isso vai ser uma decorrência dessa grande aproximação
nossa com os nossos clientes chineses. O Peter tem a visão dele de mercado muito próxima
dos clientes. Ele é uma pessoa muito experiente em mercado e ele pretende estar muito perto
dos clientes em toda a China, não só mais naqueles costeiros e tudo o mais. Ele quer ir muito
para o interior da China. Para isso, quanto mais acordos e entendimentos nós tivermos com
os chineses em diversas localizações geográficas será um facilitador.
Paul Kiernan (Wall Street Journal/Dow Jones): Eu gostaria de saber se na opinião de
vocês a desvalorização das moedas dos países produtores de minério tem algum impacto em
termos de custos.
Murilo Ferreira: Bem, a desvalorização das moedas que está acontecendo pelos países
exportadores de commodities e os países emergentes de um modo geral é uma forma de os
países reduzirem ou eliminarem os seus déficits em conta corrente e também provocarem e
chamarem um crescimento mais robusto para suas economias. Esse é um processo. Por
outro lado, como toda situação, tem o lado negativo: é que se o dólar norte-americano se
fortalecer muito, realmente o crescimento da economia americana será reduzido. A
capacidade de exportação dos Estados Unidos será diminuída. Nós temos os dois lados da
moeda. Sobre nós, sim, nós somos beneficiados no conjunto porque acontece essa
depreciação tanto do real brasileiro quanto do dólar canadense. Os países onde nós estamos
mais expostos, os meticais de Moçambique, a moeda da Indonésia, todos os países, isso
realmente nos ajuda na curva de custo. Mas eu acho que a gente não pode – isso é um
grande equívoco de muitas empresas – ficar se baseando em melhoria de câmbio para auferir
competitividade. Você tem que ser competitivo independente da taxa de câmbio. É claro que
a taxa de câmbio ajuda e muito, mas nós não podemos ficar presos nessa armadilha. É uma
situação que a gente tem que enfrentar a qualquer custo.
Stephen Eisenhammer (Reuters): Eu queria perguntar sobre os números de produção de
aço da China. Parece que no ano passado foi um pouco mais fraco do que os números que
originalmente diziam. Isso é uma coisa problemática para a Vale, a transferência de seus
planos de produção de aço na China?
Murilo: Não vemos isso. Eu acho que a China é um país tão grande e com um crescimento
tão acelerado que é natural que efeitos estatísticos às vezes possam passar desapercebidos
em um primeiro momento e num segundo serem corrigidos. Encaramos isso com naturalidade
porque um país que há dez anos produzia 100 milhões de toneladas e hoje produz o que eles
estão produzindo, 830 milhões de toneladas, é um crescimento brutal. Eventuais ajustes de
números são naturais no nosso business.
José Guerra (Platts): Eu tenho duas perguntas. Eu gostaria de entender: você disse que
segue compliance com os portos da China. Vocês estão conseguindo acessar os portos com
os Valemax cheios? E outra pergunta: eu gostaria de saber qual é a percepção de valor que
os clientes de Ásia e Europa estão dando ao produto de 65% de Carajás, qual é o prêmio que
vocês estão conseguindo sobre o índice nesses produtos de vocês?
Murilo: A princípio em torno de US$ 10, um pouco mais, um pouco menos, depende da
situação que nós temos. E os nossos navios eles tem chegado de acordo com a quantidade
vendida. Às vezes a gente vende alguma quantidade em outros países, às vezes ele deixou
alguma coisa na Malásia. Então nós estamos fazendo de acordo com a programação de
vendas que nós temos.
Peter Poppinga: Murilo, deixa só eu complementar um negócio sobre Carajás. Se você
corrigir só pelo preço do minério, pelo teor do ferro mais alto, essa diferença de preço deveria
ser só de uns US$ 4 ou US$ 4,50. O Murilo falou em US$ 10, tanto é que nós já temos mais
do que isso, mas digamos em média US$ 10 está um bom número. Essa diferença entre US$
4,50 e US$ 4 e até US$ 10, não tem nada a ver com o teor de ferro, tem a ver com outras
coisas. É justamente isso que nós estamos querendo capturar. A redutividade, a logística, a
capacidade da siderurgia do lado de lá poder usar esse minério para blendar com minérios
mais pobres, tudo isso tem um valor e isso não tinha sido capturado antes. E cada vez mais
com nossa estratégia de blendagem e de aumento de Carajás nós vamos capturar este
prêmio, muito além do teor de ferro. Mas para isso tem que adotar esse índice, que nós já
adotamos. Com bastante liquidez, já está bem aceito no mercado e vai ser o balizador para
precificar o Carajás puro.
Marta Nogueira (Reuters): Eu queria perguntar: o que a gente pode esperar agora daqui pra
frente para desinvestimento, se vocês estão estudando alguma coisa nesse sentido, se já
fizeram uma lista. E sobre preço de minério: vocês têm dito que a bola de cristal de vocês
está quebrada, já repetiram isso mil vezes, mas se podem falar um pouco sobre suas
expectativas, como vocês estão vendo isso para o próximo ano.
Murilo: O preço realmente é uma situação muito improvável. O que a gente estima é que nós
temos hoje em torno de 220 milhões de toneladas, que estão sendo vendidas, cujo custo de
produção esteja maior que o preço de venda. São 220, Peter?
Peter Poppinga: Nós temos falado que o que enxergamos para 2015 é que você tem um
seaborne estendido. O conceito que a gente fala é o minério seaborne mais o minério chinês,
da ordem de 1,5 bilhão. Essa demanda está em 1,5 bilhão de toneladas. E que nesse
contexto com o preço a US$ 70 você teria 220 milhões fora do mercado, teoricamente. Eles
precisariam teoricamente de um preço de US$ 90 pra poder se sustentar. Agora a gente está
vendo que a curva de custo é uma coisa que, se a empresa tem fôlego, essas coisas não são
de um dia para o outro. Essa curva de custo vai se adaptar mais para a frente. É importante
também dizer que a gente tem muito claro, quando você olha o que vai entrar ainda nas
expansões já aprovadas, menos o esgotamento das minas que existem, que as pessoas não
levam em conta, já no início de 2016 você já vê um certo equilíbrio. Mas a pressão sobre o
preço que existe hoje tende a ficar bem mais equilibrada. Com mais uma demanda que vai
subir isso vai colocar novamente a direção do preço para cima, mas quando exatamente isso
vai acontecer, é difícil falar. O consenso é que estamos com sobreoferta hoje. Isso é
agravado pelo problema de crédito que nós temos lá na China. Teve um overshooting. Agora
a tendência é no próximo ano, ou em dois anos, isso se equilibrar e subir novamente.
Ana Paula Camargo (Steel First): Peter, você citou essa capacidade de 222 ou 220 milhões
de toneladas alterando assim o custo de produção. Onde estão essas capacidades? Parte
dessa capacidade está no Brasil? A maior parte está na China? E se esse volume de
unidades operando acima do custo de produção deve se manter nesse valor para o próximo
ano também? Devem vir mais minas com problema de custo de produção?
Peter: Este ano, 2014, já saíram mais ou menos 50 a 60 milhões de toneladas dos mercados
não-chineses. Do próprio mercado chinês saiu também quase 100 milhões de toneladas.
Exatamente saber quando que essas coisas vão se equilibrar é muito difícil, mas as coisas já
estão acontecendo. Tem muita gente que está debaixo d’água ainda e continua com fôlego e
continua resistindo. É uma coisa normal e o que a gente tem que fazer é se preocupar com a
nossa própria competitividade, que é muito boa, mas pode melhorar mais ainda. Temos todos
umas medidas aí para capturarmos esse ganho. Nós apresentamos isso no Vale Day. Eu
estava comentando aqui nessa roda que a gente está com foco na otimização de margem.
Essa é a palavra da ordem, e produtividade. Tem várias coisas acontecendo. Nós estamos
entrando com projetos de altíssima margem: Conceição, Carajás, N4W Sul, Vargem Grande.
Isso vai contribuir com margem alta. E, ao mesmo tempo, estamos olhando algumas compras
de minério de terceiros, algumas outras coisas que a gente pode otimizar. O resultado líquido
disso daí vai representar aumentos sim para o ano que vem, de tonelagem, nós
apresentamos o guidance no Vale Day de 340 milhões. Só que vai ser com altíssima margem.
Vamos otimizar margem, esse é o objetivo dos primeiros dois anos agora. Depois vocês
sabem que temos o salto de volume. Esse sim é o S11D, mas aí é outra história, de 2017,
2018, nós vamos para 450 milhões. Mas aí é outra história. Hoje nós estamos querendo
otimizar margem e temos várias alavancas para isso. A outra é a produtividade. Por exemplo,
quando você fala de N4W Sul: o minério mais próximo do britador, o minério mais rico. Então
essas coisas vão acontecendo naturalmente.
Murilo: Por sinal, Peter, se você me permite: vocês viram N5 SUL, que foi a nossa primeira
licença ambiental em 10 anos de Carajás, obtida em 2012. Depois de 2013 nós tivemos todas
as licenças da Serra Sul, do S11D. Depois esse ano nós obtivemos o EIA Global e ontem
nós tivemos a alegria de ver a supressão vegetal autorizada do EIA Global, um trabalho
extraordinário da equipe da Vania Somavilla, nossa diretora que está aqui presente,
propiciando isso que o Peter está falando: a gente ter o minério de melhor qualidade e mais
acessível sob o ponto de vista de custo.
Peter Poppinga: E fora essa questão do custo, temos também a receita. O preço realizado a
gente vai aumentar mais ainda, como por exemplo com essa nova possibilidade de
blendagem na Malásia. Convido vocês a fazer um exercício: vocês pegam uma tonelada de
alta sílica que tem um desconto no mercado de, digamos US$ 14, US$ 15; vocês misturam
isso com duas toneladas de Carajás – em termos médios nós falamos de US$ 4 a US$ 5
porque você ainda não capturou (quando vende ele puro você captura aqueles US$ 10 do
modelo) –; você faz a média. Se você vender separado faz a conta: vai ter um prejuízo de
US$ 7, US$ 8. Mas se você vender ele junto você fica no zero a zero. Essa capacidade nossa
de misturar fora do país vai aumentar bastante o nosso preço realizado no futuro cada vez
mais.
Marta Nogueira (Reuters): Faltou a pergunta dos desinvestimentos. Eu tinha perguntado
sobre os desinvestimentos.
Murilo: Os desinvestimentos nós temos ainda muita coisa a fazer. Já foi falado dos navios,
nós já falamos da Mineração Rio do Norte que é a nossa planta de bauxita. Nós temos
também uma reestruturação estratégica – neste caso não é desinvestimento do negócio de
fertilizantes. Vocês lembram que nós dissemos ao final de 2013, nessa mesma ocasião, que a
gente tinha como objetivo fazer um novo viés estratégico para o carvão. Isso foi anunciado
para vocês no dia 9 de dezembro e agora o Roger Downey, o Pedro Rodrigues e a equipe
toda estão aqui trabalhando para um novo esquema estratégico para o negócio de
fertilizantes.
Francisco Goes: Só complementando esse ponto: vocês haviam sinalizado que poderiam
elaborar e anunciar um planejamento estratégico para os fertilizantes. Como está isso?
Murilo Ferreira: É, infelizmente, está um pouco atrasado porque nosso trabalho do carvão
absorveu muito, a operação é muito sofisticada, como vocês puderam ver no anúncio. Então
acabou tomando muito mais tempo do que nós esperávamos. Você se recorda que o primeiro
anúncio pensávamos em fazer para o mês de julho e acabamos fazendo mais à frente,
embora a operação já estivesse desenhada e comercialmente discutida. Só demorou mais
adiante, mas o Roger e o pessoal dele estão muito focados nesse assunto.
Mariana Durão (O Estado de São Paulo): Eu queria tirar uma dúvida só para consolidarmos.
No ano passado vocês fizeram US$ 6 bi em desinvestimento. Se a gente for fechar um
número para 2014 tem que levar em conta US$ 3,7 nessa operação de carvão. Quanto dá no
total? Os desinvestimentos desse ano estão somando quanto?
Murilo Ferreira: Bem, tem o contratado e tem o que realmente entrou em caixa na empresa.
Por exemplo, no ano passado nós tínhamos feito a operação da VLI, mas a Brookfield só
entrou este ano. Quanto significou esse ano, Luciano?
Luciano Siani: US$ 1 bilhão e 100 de líquido da VLI que entrou este ano. Eu acho que a
gente pode passar os números depois.
Mônica Ferreira: Isso está no site, na parte de RI tem uma relação com os valores.
Luciano Siani: Tem uma diferença de conceito de quando uma transação é fechada e
quando entra o dinheiro. Os US$ 6 bilhões que o Murilo se referiu foram de transações
acordadas, onde a maior parte do dinheiro só entrou este ano. Nesse conceito US$ 3,7 seria
uma realização de 2014, mas o dinheiro só vai entrar em 2015.
Mariana Durão: Era para comparar, a gente podia falar então do acordado.
Luciano Siani: Nós tivemos US$ 600 milhões, dinheiro que só entra no ano que vem...
Marta Nogueira: Melhor falar em acordado.
Murilo Ferreira: Para ficar coerente com US$ 6 bilhões nós temos que falar dos US$ 3,7 do
carvão, US$ 600 do navio, US$ 42 da Fosbrasil, não é isso Roger?
Roger Downey: US$ 42, Fosbrasil.
Luciano Siani: Vale Florestar mais uns US$ 90 milhões, tem que fazer umas contas.
Murilo Ferreira: O Pablo quer perguntar aqui sobre o futebol da Argentina.
Juan Pablo Spinetto: Só uma questão ali: o Poppinga falou que para o mercado estabilizar
pode demorar mais um, dois anos, mas quando entrar o S11D vai entrar ainda mais
produção. Não tem um risco de que essa super oferta fique até o final da década, como falam
alguns analistas?
Murilo Ferreira: O Peter vai responder melhor, mas quando ele está falando em equilíbrio,
significa também que está se tendo as projeções daquilo que vai sair. Usando aquele jargão
tão antigo: “minério não tem duas safras”. Elas vão acabando, então quando ele fala em dois
anos ele considera inclusive o depletion.
Poppinga: É. Um ou dois anos é agora. Então esse S11D você sabe que entra só no
horizonte depois. E depois quando você olhar os grandes anúncios que foram feitos, não tem
muita gente entrando mais. Na verdade isso vai estar junto com o efeito depletion mais o
efeito da demanda, que não vai parar. Ela pode reduzir a velocidade de crescimento, mas ela
não muda. O que era antigamente 3% a 4% vai virar 1% ou 2%, mas ela existe. Esses efeitos
combinados nos fazem ter muita confiança de que na hora em que entrar o S11D não vai ter
um impacto tão grande quanto pensam as pessoas.
Marta Nogueira: Posso tirar uma dúvida sobre esse “um ou dois anos”. O senhor tinha falado
em equilíbrio, que pode ser esperado um equilíbrio, seria um equilíbrio de preço.
Poppinga: Não sei, não tenho bola de cristal. Mas, nesse próximo ano vamos ter muito
minério entrando, só que vamos ter também gente saindo. Eu acho que não é isso que vocês
têm que olhar. Hoje o mercado está no overshooting, hoje está exagerando. Então isso vai se
equilibrar pelo próprio timing. Nos próximos seis meses as coisas vão se acalmar. Mas 2015
vai ser um ano difícil, mas é muito difícil prever qual vai ser o preço. Provavelmente não vai
ser menos do que nós temos hoje, só que exatamente o quanto ninguém sabe. Para 2016, já
falei, a questão é completamente diferente. As tonelagens entrando compensam mais ou
menos as tonelagens que se esgotam, mais a demanda positiva você tem uma equação
positiva.
Joe Leahy: Como vai aquela arbitragem com a BSGR? Alguma novidade?
Mônica Ferreira: Só pra repetir a pergunta, a questão de Simandou.
Murilo Ferreira: A arbitragem com a BSGR está correndo em segredo de justiça, então nós
não podemos nos manifestar a respeito.
Mônica Ferreira: Então vamos para a última.
Mariana Durão: Como está a questão da nova licitação lá para aquela área, Murilo? Isso está
no plano da Vale? Se sair essa oferta para o ano que vem, se anunciassem hoje a Vale
entraria? Qual é o interesse dentro desse mantra da disciplina de capital? Esse projeto ainda
está no escopo da Vale?
Murilo Ferreira: Mariana, eu acredito que hoje, infelizmente, pela condição de que o ebola se
propagou na Guiné, Serra Leoa e lá na Libéria, as condições do governo devem estar
totalmente concentradas em dizimar esse sofrimento da população. Eu não acredito que seja
alguma coisa iminente. Mas quando isso acontecer terá que ser examinado de acordo com os
termos e condições que foram fixados para o leilão. Nós não podemos opinar, até porque vai
ser tomada uma decisão na Diretoria Executiva. Nós vamos ter que discutir no Conselho, mas
teremos que ter o mínimo de informação. No caso não é nem o mínimo. Teremos que ter os
termos e condições realmente em vigor para podermos tomar qualquer decisão.
Paul Kiernan: Eu queria só esclarecer a minha pergunta sobre a curva de custos: a questão
de se o dólar australiano, também desvalorizado, arrasta para baixo o ponto de equilíbrio
entre o mercado do minério de ferro, em termos um pouco mais globais. Sei que no caso da
Vale... os custos de produção da própria Vale são mais competitivos, mas quero saber se isso
impacta outros players no mercado global e se isso poderia ter algum impacto.
Murilo Ferreira: Se você pegar o livro-texto de economia, em tese você tem esse beneficio,
mas se, só para dar um exemplo, o câmbio se desvalorizou 10% e os salários aumentaram
em valores reais 10%, e o salário representar 50% do seu custo de produção você vai ter um
efeito que será muito menor do que o da desvalorização cambial. Se você analisar apenas
uma vertente fica capenga. Cada país tem uma politica diferente, tem uma inflação, tem uma
desvalorização, o custo da mão de obra, impostos, custo de combustível. Alguns países têm
subsídio a combustível, outros não têm. São tantas as variáveis que é praticamente
impossível você dar uma resposta única para essa situação.
Bem, muito obrigado a todos vocês que vieram aqui.

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