VALE SA Transcrição Almoço com Jornalistas
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VALE S.A. Transcrição Almoço com Jornalistas Murilo Ferreira: Foi um ano muito difícil, acho que para os países emergentes, de um modo geral, na economia mundial – muito desafiador e muitas coisas aconteceram. Houve o evento que eu considero importantíssimo da Rússia e da Ucrânia, tanto do ponto de vista geopolítico, quanto de fundamentos econômicos, pela importância da Rússia como produtora de commodities. Muita gente continua fazendo todos os prognósticos ruins sobre a China, e eu continuo achando que o presidente Xi Jinping está fazendo as reformas no tempo certo. Ele tem dez anos de mandato, pelo menos é o que se espera. E você tem que fazer aquelas coisas necessárias e as reformas no começo. Esperamos que os Estados Unidos, o ano que vem, tenham um ano muito complicado porque o Congresso se fará republicano, o governo será democrata, então é mais uma grande incerteza. Temos uma América Latina que deve ser muito afetada pela queda dos preços de commodities. São muitos desafios que foram plantados este ano e que terão repercussões para o ano que vem. Mas eu, antes de partir para as perguntas e respostas, queria agradecer a cobertura de todos vocês aqui para os assuntos da Vale. Nós nunca tivemos o hábito de reclamar de vocês, jornalistas, como muitas empresas, como muitos setores políticos fazem. Eu acho que nós criamos um clima de muito respeito. Eu respeito muito o trabalho que vocês fazem de cobertura, que vocês sempre ofereceram pela Vale, e a gente procura sempre agir da forma mais transparente, mais correta e dando oportunidade de ouvir vocês em algumas individuais que nós fazemos com os jornalistas. De novo, mais um ano de agradecer a vocês pelo tratamento que nós recebemos, respeitoso, e a gente quer retribuir com essa transparência e com o mesmo respeito. Vamos para as perguntas. Francisco Goes (Valor Econômico): Oi, aproveitando esse cenário que você classificou aí como desafiador para o ano que vem, eu gostaria de te perguntar então como é que a Vale se insere nesse contexto para 2015, sobretudo, considerando um cenário também difícil, entendo eu, esperado para o próprio minério de ferro. Murilo Ferreira: Eu prefiro até dizer que nós não temos um 2015 difícil, nós temos 2015 e 2016, Chico. Em 2015, nós estamos terminando todos os nossos projetos que estão sendo feitos, à exceção do S11D, na Serra Sul de Carajás. É o projeto mais importante da nossa História e a gente segue em frente como começamos. Pretendemos embarcar pela primeira vez em 2016. Nós precisamos e estamos criando uma ponte de 2015 e 2016. São certas coincidências que acontecem no mundo, mas que nos estimulam. Muitas pessoas na casa, experientes com minério de ferro, estão sempre lembrando, neste momento, o que nós passamos em 1985. Em 1985, para os jovens, foi quando a Vale terminou a implantação do projeto Carajás, o primeiro, com 30 milhões de toneladas. Era uma aventura você fazer um projeto naquela região, ferrovia com porto. Aquele projeto, quando ficou pronto, nós tínhamos uma economia brasileira muito complicada, uma transição política muito difícil e uma economia mundial andando muito menos do que nós esperávamos. E o projeto Carajás tornou-se o que se tornou na história da empresa. Mais do que qualquer outro ciclo, eu digo que a Vale tem alguns ciclos muito importantes. O primeiro foi o porto de Tubarão, em 1966, quando ela abriu a possibilidade de exportar grandes volumes. O segundo foi a inauguração de Carajás. E o terceiro é esse que eu acho que vocês tem a oportunidade de vivenciar, que é o S11D. Esses três projetos, para o minério de ferro, são momentos históricos, são momentos decisivos para nós. Mais uma vez, nós vamos viver esse momento... acredito pela situação que eu chamo, por exemplo, anêmica da Europa, que é um mercado muito importante para nós antes do surgimento fantástico da China. A Europa sempre foi, junto com o Japão e posteriormente Coreia, nossos mercados preferenciais, pelo menos em termos de volume. Nós temos essa situação “Europa anêmica” e eu não espero, francamente, uma grande mudança. Somente agora depois de alguns anos é que eu vejo o presidente Hollande começando a se movimentar para acertar as suas contas públicas, e é o segundo país mais importante da Europa. A Alemanha eu acho que hoje está se dando conta de que a Europa não indo bem, ela não vai conseguir ir bem permanentemente, porque a máquina exportadora da Alemanha está falhando por falta de compradores no volume que precisaria. Nós tivemos um Japão revigorado durante esse período do primeiro ministro Abe, agora reeleito, mas que entrou em recessão. Ele tem um dilema fantástico, porque ele quer crescer, quer ter alguma inflação, mas por outro lado as condições de dívida pública japonesa são muito hostis. Ele tem que aumentar os impostos. Aumentando os impostos ele derruba a demanda. A China eu acho que é o grande cartaz de vocês. Sempre todo mundo especulando tanto sobre a China, se a China vai ser 7,5%, agora o debate é se vai ser 7%. Eu acredito que a China mudou de viés e a maioria das pessoas não “sacou”. Francamente, eu não estou querendo me considerar mais esperto que os outros. A China deixou de olhar para o PIB, eu já falei isso anteriormente, mas acho que muita gente não acredita. O Presidente Xi Jinping está olhando para o elemento “aumento da renda per capita” porque ele viu que é absolutamente necessário que as pessoas tivessem privilégios a partir do crescimento econômico. Eu acho que ele olhou muito para isso e para redução de disparidade. Até pelo movimento da nova China de 1948/49. A China trabalhou muito para sumir com a desigualdade. A nova China procura essa redução de desigualdade de uma forma muito intensa. E o que estava acontecendo, para quem tem ido à China recentemente? Você vendo Ferraris, você vendo uma porção de ostentações das lojas de grande grife. Isso é uma agressão para o chinês médio. O chinês, com todo o capitalismo que ele está vivenciando, ele ainda veste um pouco aquele uniforme de Chairman Mao. O presidente, que é um sábio, na minha opinião, ele percebeu isso e está lutando muito com dois objetivos. Ele não está preocupado se a economia vai crescer 7,5, 7 ou 7,7%, ele está preocupado que as pessoas em um regime de partido único não percebam uma disparidade abrindo um fosso de desigualdade no país. Eu acho que ele está querendo levar à frente as reformas, os 60 pontos da reforma. E ele está pagando o ônus no inicio do mandato que é quando, certamente, ele precisa fazer as coisas. Eu vejo o cenário internacional muito preocupante para o ano que vem. Não vejo ele, de forma alguma, um cenário “céu azul”. Todo mundo diz: “Ah!! mas os Estados Unidos!”. Os Estados Unidos... a forma de visão política, você tem que ver o que vai bem, o que vai bem e vai muitíssimo bem é a alta tecnologia, por exemplo. Setores das grandes empresas, uma Apple, uma Google, essas empresas vão muito bem. Agora, a própria indústria do petróleo ou a indústria de materials não tem ido bem. Você tem gente crescendo 30% na Bolsa e outras caindo 30% na Bolsa. Então eu vejo o cenário mundial muito complexo nesse momento, portanto não é de se esperar uma situação muito “prazerosa”. Mas a Vale tem o benefício pela nossa diretoria e pelos nossos gestores, de ter enxergado o fim do super ciclo ainda em 2011/2012, quando nós tomamos diversas medidas, vocês sabem, de redução de custos. Hoje a Vale é uma empresa muito mais leve do que era em 2011. Ela é muito mais leve. Só uma conta, o SG&A, estava chegando em US$ 2 bilhões. Hoje nós estamos na casa de US$ 800 milhões. Por aí vocês veem o nível de queda, de austeridade que a gente tem perseguido e que achávamos que aqueles tempos de abundância já tinham acabado. Então, nesse sentido, eu acho que nós perseguimos uma austeridade no momento certo, desinvestindo em negócios. No ano passado vocês se lembram, foram US$ 6 bilhões. Esse ano tinha gente que achava que não podia ficar muito anêmico e só essa transação do carvão vai trazer US$ 3,7 bilhões para o nosso fluxo de caixa. É uma operação muito interessante também. A empresa se preparou para esse momento “menos exuberante” que a gente previa. Nós temos é que continuar muito focados nisso, nessa disciplina, na alocação de capital, na austeridade, na simplicidade, para obtermos os resultados em qualquer situação. O que eu quero dizer em uma única frase: se você estiver entre os 25% mais eficientes da indústria que nós trabalhamos, seja minério de ferro, seja cobre, seja níquel, seja carvão metalúrgico, seja fertilizantes, em qualquer cenário você vai ter respostas positivas. Você vai ganhar mais ou menos, por isso que a nossa fixação com o primeiro quartil da indústria em qualquer segmento.É isso que nós estamos enxergando para o biênio 15/16. Mônica Ciarelli (O Estado de São Paulo): Murilo eu, na realidade, estava querendo saber uma informação que aí sim interfere no dia a dia da Vale. Eu estava querendo saber: você foi convidado para a Petrobras? Por que aí muda tudo. Você foi convidado? Para mais algum ministério? Murilo Ferreira: Eu não fui sondado, eu não fui indicado, eu não fui convidado, e posso te dizer o seguinte: vocês estão vendo o tamanho do desafio que nós temos aqui, que o nosso time tem, trabalhando com o minério que no ano passado, nessa mesma época do nosso almoço estava a US$ 135 e hoje a US$ 68; implantando o projeto da dimensão do S11D de quase US$ 20 bilhões, que por economias vai ficar entre 16 e 17 bilhões; e terminando o maior projeto da África, que são US$ 8 bilhões. Nós estamos totalmente focados, eu acho que é um orgulho para todo o nosso time, estar muito focado nesses projetos, mas eu posso te dizer o seguinte: eles são muito intensivos de trabalho e de desafios. Estamos completamente dedicados em implantar isso da forma mais eficiente possível. Pedro Soares (Folha de SP): Só para complementar a pergunta da Mônica, se por acaso, você fosse convidado, aceitaria esse desafio? Já que você implementou aqui uma redução de custos drástica, e mesmo quando a Vale teve prejuízo a reação do mercado sempre foi positiva, vocês conseguiram se comunicar de uma forma muito clara, muito transparente com o mercado, talvez é isso que a Petrobras precise nesse momento. Murilo Ferreira: Eu não posso ser indelicado e responder pela empresa uma hipótese. Então o que eu tenho que fazer é dizer, apenas, do meu grande orgulho do time que nós temos aqui na Vale e do trabalho que nós estamos fazendo. Mariana Durão (O Estado de SP): Murilo, tudo bem? Eu queria saber duas coisas: primeiro saber um pouquinho mais sobre o timing desse estudo que vocês estão fazendo sobre o IPO da área de metais básicos. Não ficou muito claro para mim em quanto tempo vocês pretendem apresentar alguma coisa ao Conselho e quais as condições para isso. E outra coisa que eu queria saber um pouquinho é sobre a questão dos desinvestimentos. Eu acho que no Vale Day vocês mencionaram os Valemax. Então eu queria entender exatamente qual vai ser a estratégia da Vale no caso dos navios. Vocês vão vender esses navios? Vocês já fizeram alguns acordos. Quanto isso deve gerar de desinvestimento, enfim para o ano que vem. Vocês já falaram algumas coisas, mas o que está mais firme em termos de negociação? Murilo Ferreira: O assunto dos metais básicos é muito, Mariana, em decorrência do nosso inconformismo do valor percebido por investidores em relação ao nosso negócio de metais básicos. Ele não tem nada a ver com necessidade de recursos ou política de desinvestimento. Felizmente e interessante é que agora, depois que nós anunciamos essa opção, muita gente, muitos investidores chegam para nós mostrando as maravilhas do negócio de base metals, que eles estavam escondidos nas últimas semanas, antes de a gente vir fazer esse anúncio. Foi feito um grande trabalho na ocasião, liderado pela equipe do Peter Poppinga, lá no Canadá. Nós melhoramos muito de custo. Nós usamos uma expressão na ocasião, com o Peter: “Peter, acabou a mesada”. Nós não íamos mandar dinheiro do Brasil para sustentar metais básicos. Isso foi um desafio para a turma no Canadá, na Indonésia, em todos os lugares onde nós operamos, que foi maravilhoso. Eu acredito que os bancos chegavam aqui com propostas: “Ah, vende um base metals”, “base metals ainda não está dando resultado, será que vai dar?”, “vende por US$ 7, 8, 9 bilhões”. E agora quando a gente vê o IPO como opção, bancos e estimativas de mercado falam em um valor entre US$ 28 e 30 bilhões e US$ 35 bilhões. Só isso já mostra a magnitude que esse negócio representa hoje para a Vale. O que aconteceu? Primeiro, nós recuperamos a integridade dos ativos em muitos lugares, especialmente no Canadá, que estavam ativos antigos, sem modernização e tudo o mais. Terminamos e fizemos muitos projetos como Salobo I, Salobo II, Onça Puma, Totten. Agora começamos Long Harbour, a própria Nova Caledônia, o projeto da Zâmbia. Muita coisa foi feita, foi agregada ao base metals e nós só vamos fazer uma transação de base metals se for para destravar valor. Ou seja, se o mercado não estiver reconhecendo através da precificação das ações o valor que esse negócio tem. Nós não estamos atrás de recursos. Para obter recursos nós temos outras fontes que eu posso citar aqui diversas delas. O trabalho de você fazer uma listagem é um trabalho de uma contabilidade mais aguçada em um determinado caminho. Isso sim nós vamos fazer para a área ter a opção. Eu quero que a diretoria leve ao Conselho. Se o Conselho falar assim: “Não, achamos que vocês devem fazer o IPO, isso daqui vai destravar valor para a empresa”, nós precisamos ter as coisas prontas. Isto é um trabalho que demora oito, nove meses para você ter todas as coisas prontas. Luciano, me ajuda com a resposta dos navios por favor. Luciano Siani: Nós já anunciamos uma transação envolvendo os navios, envolvendo quatro deles para Cosco, e o arrendamento de volta por um prazo de 25 anos. Esse é o tipo de transação que a gente quer fazer porque tira do nosso balanço esse capital investido, que é expressivo, mas a gente assegura a competividade de longo prazo com o arrendamento. Não só de longo prazo como de baixo custo também. E esses navios podem ter financiamento muito favorável por conta das agências de exportação fora, são operações mais alavancadas. No final você tem até um beneficio para a Vale em termos de frete. A nossa estratégia é ter os navios disponíveis a um custo baixo para nós. Não significa que nós precisamos ser os donos desses navios. Se a gente conseguir, e a gente acredita que consegue, fazer mais dessas transações, nós vamos fazer e nós temos o balanço: qualquer coisa entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões ainda em navios do tipo Valemax. Mariana Durão (O Estado de SP): Essa frota é de quantos mesmo? Luciano Siani: Nós temos 15 ainda desimpedidos, que são nossos. Mariana Durão (O Estado de SP): Esse valor, que eu não entendi, de US$ 1,5/ US$ 2 bilhões, é o que? Luciano Siani: Cada Valemax tem um preço dependendo do tempo de uso dele, acima de US$ 100 milhões de dólares, nós temos 15, esse escalão vai de US$ 1,5 bi para cima. Mariana Durão (O Estado de SP): Aí vocês estão buscando, algo desse tipo com esses 15? Luciano Siani: Isso. Se a gente tiver condições favoráveis e fretes favoráveis, disponibilidade por prazo longo e custo baixo, a gente pode vir a fazer novas transações. Joe Leahy (Financial Times): Então já tem certeza na China ou já estão chegando lá, entrando na China mesmo? Murilo Ferreira: Eu acho que nós temos realmente tido algumas contratações de navios para a China, nós temos Valemax lá. E nós estamos sempre seguindo a legislação interna da China, nós estamos sempre em compliance com aquilo que é permitido nos portos. Nesses diversos embarques - eu não sei quantos já fizemos, mas foi uns cinco ou seis em Valemax -, nós estivemos sempre em compliance com as regras internas da China. Juan Pablo Spinetto (Bloomberg): Na semana passada saiu esse acordo com o porto de Qingdao. De outra maneira também está ligado a uma maior chegada de Valemax na China? Murilo Ferreira: Nós estamos intensificando muito, como o Luciano disse, nós temos um acordo com a China Merchants, com a Shandong, que foi a primeira, com a Cosco, agora com o porto de Qingdao. Então, isso vai ser uma decorrência dessa grande aproximação nossa com os nossos clientes chineses. O Peter tem a visão dele de mercado muito próxima dos clientes. Ele é uma pessoa muito experiente em mercado e ele pretende estar muito perto dos clientes em toda a China, não só mais naqueles costeiros e tudo o mais. Ele quer ir muito para o interior da China. Para isso, quanto mais acordos e entendimentos nós tivermos com os chineses em diversas localizações geográficas será um facilitador. Paul Kiernan (Wall Street Journal/Dow Jones): Eu gostaria de saber se na opinião de vocês a desvalorização das moedas dos países produtores de minério tem algum impacto em termos de custos. Murilo Ferreira: Bem, a desvalorização das moedas que está acontecendo pelos países exportadores de commodities e os países emergentes de um modo geral é uma forma de os países reduzirem ou eliminarem os seus déficits em conta corrente e também provocarem e chamarem um crescimento mais robusto para suas economias. Esse é um processo. Por outro lado, como toda situação, tem o lado negativo: é que se o dólar norte-americano se fortalecer muito, realmente o crescimento da economia americana será reduzido. A capacidade de exportação dos Estados Unidos será diminuída. Nós temos os dois lados da moeda. Sobre nós, sim, nós somos beneficiados no conjunto porque acontece essa depreciação tanto do real brasileiro quanto do dólar canadense. Os países onde nós estamos mais expostos, os meticais de Moçambique, a moeda da Indonésia, todos os países, isso realmente nos ajuda na curva de custo. Mas eu acho que a gente não pode – isso é um grande equívoco de muitas empresas – ficar se baseando em melhoria de câmbio para auferir competitividade. Você tem que ser competitivo independente da taxa de câmbio. É claro que a taxa de câmbio ajuda e muito, mas nós não podemos ficar presos nessa armadilha. É uma situação que a gente tem que enfrentar a qualquer custo. Stephen Eisenhammer (Reuters): Eu queria perguntar sobre os números de produção de aço da China. Parece que no ano passado foi um pouco mais fraco do que os números que originalmente diziam. Isso é uma coisa problemática para a Vale, a transferência de seus planos de produção de aço na China? Murilo: Não vemos isso. Eu acho que a China é um país tão grande e com um crescimento tão acelerado que é natural que efeitos estatísticos às vezes possam passar desapercebidos em um primeiro momento e num segundo serem corrigidos. Encaramos isso com naturalidade porque um país que há dez anos produzia 100 milhões de toneladas e hoje produz o que eles estão produzindo, 830 milhões de toneladas, é um crescimento brutal. Eventuais ajustes de números são naturais no nosso business. José Guerra (Platts): Eu tenho duas perguntas. Eu gostaria de entender: você disse que segue compliance com os portos da China. Vocês estão conseguindo acessar os portos com os Valemax cheios? E outra pergunta: eu gostaria de saber qual é a percepção de valor que os clientes de Ásia e Europa estão dando ao produto de 65% de Carajás, qual é o prêmio que vocês estão conseguindo sobre o índice nesses produtos de vocês? Murilo: A princípio em torno de US$ 10, um pouco mais, um pouco menos, depende da situação que nós temos. E os nossos navios eles tem chegado de acordo com a quantidade vendida. Às vezes a gente vende alguma quantidade em outros países, às vezes ele deixou alguma coisa na Malásia. Então nós estamos fazendo de acordo com a programação de vendas que nós temos. Peter Poppinga: Murilo, deixa só eu complementar um negócio sobre Carajás. Se você corrigir só pelo preço do minério, pelo teor do ferro mais alto, essa diferença de preço deveria ser só de uns US$ 4 ou US$ 4,50. O Murilo falou em US$ 10, tanto é que nós já temos mais do que isso, mas digamos em média US$ 10 está um bom número. Essa diferença entre US$ 4,50 e US$ 4 e até US$ 10, não tem nada a ver com o teor de ferro, tem a ver com outras coisas. É justamente isso que nós estamos querendo capturar. A redutividade, a logística, a capacidade da siderurgia do lado de lá poder usar esse minério para blendar com minérios mais pobres, tudo isso tem um valor e isso não tinha sido capturado antes. E cada vez mais com nossa estratégia de blendagem e de aumento de Carajás nós vamos capturar este prêmio, muito além do teor de ferro. Mas para isso tem que adotar esse índice, que nós já adotamos. Com bastante liquidez, já está bem aceito no mercado e vai ser o balizador para precificar o Carajás puro. Marta Nogueira (Reuters): Eu queria perguntar: o que a gente pode esperar agora daqui pra frente para desinvestimento, se vocês estão estudando alguma coisa nesse sentido, se já fizeram uma lista. E sobre preço de minério: vocês têm dito que a bola de cristal de vocês está quebrada, já repetiram isso mil vezes, mas se podem falar um pouco sobre suas expectativas, como vocês estão vendo isso para o próximo ano. Murilo: O preço realmente é uma situação muito improvável. O que a gente estima é que nós temos hoje em torno de 220 milhões de toneladas, que estão sendo vendidas, cujo custo de produção esteja maior que o preço de venda. São 220, Peter? Peter Poppinga: Nós temos falado que o que enxergamos para 2015 é que você tem um seaborne estendido. O conceito que a gente fala é o minério seaborne mais o minério chinês, da ordem de 1,5 bilhão. Essa demanda está em 1,5 bilhão de toneladas. E que nesse contexto com o preço a US$ 70 você teria 220 milhões fora do mercado, teoricamente. Eles precisariam teoricamente de um preço de US$ 90 pra poder se sustentar. Agora a gente está vendo que a curva de custo é uma coisa que, se a empresa tem fôlego, essas coisas não são de um dia para o outro. Essa curva de custo vai se adaptar mais para a frente. É importante também dizer que a gente tem muito claro, quando você olha o que vai entrar ainda nas expansões já aprovadas, menos o esgotamento das minas que existem, que as pessoas não levam em conta, já no início de 2016 você já vê um certo equilíbrio. Mas a pressão sobre o preço que existe hoje tende a ficar bem mais equilibrada. Com mais uma demanda que vai subir isso vai colocar novamente a direção do preço para cima, mas quando exatamente isso vai acontecer, é difícil falar. O consenso é que estamos com sobreoferta hoje. Isso é agravado pelo problema de crédito que nós temos lá na China. Teve um overshooting. Agora a tendência é no próximo ano, ou em dois anos, isso se equilibrar e subir novamente. Ana Paula Camargo (Steel First): Peter, você citou essa capacidade de 222 ou 220 milhões de toneladas alterando assim o custo de produção. Onde estão essas capacidades? Parte dessa capacidade está no Brasil? A maior parte está na China? E se esse volume de unidades operando acima do custo de produção deve se manter nesse valor para o próximo ano também? Devem vir mais minas com problema de custo de produção? Peter: Este ano, 2014, já saíram mais ou menos 50 a 60 milhões de toneladas dos mercados não-chineses. Do próprio mercado chinês saiu também quase 100 milhões de toneladas. Exatamente saber quando que essas coisas vão se equilibrar é muito difícil, mas as coisas já estão acontecendo. Tem muita gente que está debaixo d’água ainda e continua com fôlego e continua resistindo. É uma coisa normal e o que a gente tem que fazer é se preocupar com a nossa própria competitividade, que é muito boa, mas pode melhorar mais ainda. Temos todos umas medidas aí para capturarmos esse ganho. Nós apresentamos isso no Vale Day. Eu estava comentando aqui nessa roda que a gente está com foco na otimização de margem. Essa é a palavra da ordem, e produtividade. Tem várias coisas acontecendo. Nós estamos entrando com projetos de altíssima margem: Conceição, Carajás, N4W Sul, Vargem Grande. Isso vai contribuir com margem alta. E, ao mesmo tempo, estamos olhando algumas compras de minério de terceiros, algumas outras coisas que a gente pode otimizar. O resultado líquido disso daí vai representar aumentos sim para o ano que vem, de tonelagem, nós apresentamos o guidance no Vale Day de 340 milhões. Só que vai ser com altíssima margem. Vamos otimizar margem, esse é o objetivo dos primeiros dois anos agora. Depois vocês sabem que temos o salto de volume. Esse sim é o S11D, mas aí é outra história, de 2017, 2018, nós vamos para 450 milhões. Mas aí é outra história. Hoje nós estamos querendo otimizar margem e temos várias alavancas para isso. A outra é a produtividade. Por exemplo, quando você fala de N4W Sul: o minério mais próximo do britador, o minério mais rico. Então essas coisas vão acontecendo naturalmente. Murilo: Por sinal, Peter, se você me permite: vocês viram N5 SUL, que foi a nossa primeira licença ambiental em 10 anos de Carajás, obtida em 2012. Depois de 2013 nós tivemos todas as licenças da Serra Sul, do S11D. Depois esse ano nós obtivemos o EIA Global e ontem nós tivemos a alegria de ver a supressão vegetal autorizada do EIA Global, um trabalho extraordinário da equipe da Vania Somavilla, nossa diretora que está aqui presente, propiciando isso que o Peter está falando: a gente ter o minério de melhor qualidade e mais acessível sob o ponto de vista de custo. Peter Poppinga: E fora essa questão do custo, temos também a receita. O preço realizado a gente vai aumentar mais ainda, como por exemplo com essa nova possibilidade de blendagem na Malásia. Convido vocês a fazer um exercício: vocês pegam uma tonelada de alta sílica que tem um desconto no mercado de, digamos US$ 14, US$ 15; vocês misturam isso com duas toneladas de Carajás – em termos médios nós falamos de US$ 4 a US$ 5 porque você ainda não capturou (quando vende ele puro você captura aqueles US$ 10 do modelo) –; você faz a média. Se você vender separado faz a conta: vai ter um prejuízo de US$ 7, US$ 8. Mas se você vender ele junto você fica no zero a zero. Essa capacidade nossa de misturar fora do país vai aumentar bastante o nosso preço realizado no futuro cada vez mais. Marta Nogueira (Reuters): Faltou a pergunta dos desinvestimentos. Eu tinha perguntado sobre os desinvestimentos. Murilo: Os desinvestimentos nós temos ainda muita coisa a fazer. Já foi falado dos navios, nós já falamos da Mineração Rio do Norte que é a nossa planta de bauxita. Nós temos também uma reestruturação estratégica – neste caso não é desinvestimento do negócio de fertilizantes. Vocês lembram que nós dissemos ao final de 2013, nessa mesma ocasião, que a gente tinha como objetivo fazer um novo viés estratégico para o carvão. Isso foi anunciado para vocês no dia 9 de dezembro e agora o Roger Downey, o Pedro Rodrigues e a equipe toda estão aqui trabalhando para um novo esquema estratégico para o negócio de fertilizantes. Francisco Goes: Só complementando esse ponto: vocês haviam sinalizado que poderiam elaborar e anunciar um planejamento estratégico para os fertilizantes. Como está isso? Murilo Ferreira: É, infelizmente, está um pouco atrasado porque nosso trabalho do carvão absorveu muito, a operação é muito sofisticada, como vocês puderam ver no anúncio. Então acabou tomando muito mais tempo do que nós esperávamos. Você se recorda que o primeiro anúncio pensávamos em fazer para o mês de julho e acabamos fazendo mais à frente, embora a operação já estivesse desenhada e comercialmente discutida. Só demorou mais adiante, mas o Roger e o pessoal dele estão muito focados nesse assunto. Mariana Durão (O Estado de São Paulo): Eu queria tirar uma dúvida só para consolidarmos. No ano passado vocês fizeram US$ 6 bi em desinvestimento. Se a gente for fechar um número para 2014 tem que levar em conta US$ 3,7 nessa operação de carvão. Quanto dá no total? Os desinvestimentos desse ano estão somando quanto? Murilo Ferreira: Bem, tem o contratado e tem o que realmente entrou em caixa na empresa. Por exemplo, no ano passado nós tínhamos feito a operação da VLI, mas a Brookfield só entrou este ano. Quanto significou esse ano, Luciano? Luciano Siani: US$ 1 bilhão e 100 de líquido da VLI que entrou este ano. Eu acho que a gente pode passar os números depois. Mônica Ferreira: Isso está no site, na parte de RI tem uma relação com os valores. Luciano Siani: Tem uma diferença de conceito de quando uma transação é fechada e quando entra o dinheiro. Os US$ 6 bilhões que o Murilo se referiu foram de transações acordadas, onde a maior parte do dinheiro só entrou este ano. Nesse conceito US$ 3,7 seria uma realização de 2014, mas o dinheiro só vai entrar em 2015. Mariana Durão: Era para comparar, a gente podia falar então do acordado. Luciano Siani: Nós tivemos US$ 600 milhões, dinheiro que só entra no ano que vem... Marta Nogueira: Melhor falar em acordado. Murilo Ferreira: Para ficar coerente com US$ 6 bilhões nós temos que falar dos US$ 3,7 do carvão, US$ 600 do navio, US$ 42 da Fosbrasil, não é isso Roger? Roger Downey: US$ 42, Fosbrasil. Luciano Siani: Vale Florestar mais uns US$ 90 milhões, tem que fazer umas contas. Murilo Ferreira: O Pablo quer perguntar aqui sobre o futebol da Argentina. Juan Pablo Spinetto: Só uma questão ali: o Poppinga falou que para o mercado estabilizar pode demorar mais um, dois anos, mas quando entrar o S11D vai entrar ainda mais produção. Não tem um risco de que essa super oferta fique até o final da década, como falam alguns analistas? Murilo Ferreira: O Peter vai responder melhor, mas quando ele está falando em equilíbrio, significa também que está se tendo as projeções daquilo que vai sair. Usando aquele jargão tão antigo: “minério não tem duas safras”. Elas vão acabando, então quando ele fala em dois anos ele considera inclusive o depletion. Poppinga: É. Um ou dois anos é agora. Então esse S11D você sabe que entra só no horizonte depois. E depois quando você olhar os grandes anúncios que foram feitos, não tem muita gente entrando mais. Na verdade isso vai estar junto com o efeito depletion mais o efeito da demanda, que não vai parar. Ela pode reduzir a velocidade de crescimento, mas ela não muda. O que era antigamente 3% a 4% vai virar 1% ou 2%, mas ela existe. Esses efeitos combinados nos fazem ter muita confiança de que na hora em que entrar o S11D não vai ter um impacto tão grande quanto pensam as pessoas. Marta Nogueira: Posso tirar uma dúvida sobre esse “um ou dois anos”. O senhor tinha falado em equilíbrio, que pode ser esperado um equilíbrio, seria um equilíbrio de preço. Poppinga: Não sei, não tenho bola de cristal. Mas, nesse próximo ano vamos ter muito minério entrando, só que vamos ter também gente saindo. Eu acho que não é isso que vocês têm que olhar. Hoje o mercado está no overshooting, hoje está exagerando. Então isso vai se equilibrar pelo próprio timing. Nos próximos seis meses as coisas vão se acalmar. Mas 2015 vai ser um ano difícil, mas é muito difícil prever qual vai ser o preço. Provavelmente não vai ser menos do que nós temos hoje, só que exatamente o quanto ninguém sabe. Para 2016, já falei, a questão é completamente diferente. As tonelagens entrando compensam mais ou menos as tonelagens que se esgotam, mais a demanda positiva você tem uma equação positiva. Joe Leahy: Como vai aquela arbitragem com a BSGR? Alguma novidade? Mônica Ferreira: Só pra repetir a pergunta, a questão de Simandou. Murilo Ferreira: A arbitragem com a BSGR está correndo em segredo de justiça, então nós não podemos nos manifestar a respeito. Mônica Ferreira: Então vamos para a última. Mariana Durão: Como está a questão da nova licitação lá para aquela área, Murilo? Isso está no plano da Vale? Se sair essa oferta para o ano que vem, se anunciassem hoje a Vale entraria? Qual é o interesse dentro desse mantra da disciplina de capital? Esse projeto ainda está no escopo da Vale? Murilo Ferreira: Mariana, eu acredito que hoje, infelizmente, pela condição de que o ebola se propagou na Guiné, Serra Leoa e lá na Libéria, as condições do governo devem estar totalmente concentradas em dizimar esse sofrimento da população. Eu não acredito que seja alguma coisa iminente. Mas quando isso acontecer terá que ser examinado de acordo com os termos e condições que foram fixados para o leilão. Nós não podemos opinar, até porque vai ser tomada uma decisão na Diretoria Executiva. Nós vamos ter que discutir no Conselho, mas teremos que ter o mínimo de informação. No caso não é nem o mínimo. Teremos que ter os termos e condições realmente em vigor para podermos tomar qualquer decisão. Paul Kiernan: Eu queria só esclarecer a minha pergunta sobre a curva de custos: a questão de se o dólar australiano, também desvalorizado, arrasta para baixo o ponto de equilíbrio entre o mercado do minério de ferro, em termos um pouco mais globais. Sei que no caso da Vale... os custos de produção da própria Vale são mais competitivos, mas quero saber se isso impacta outros players no mercado global e se isso poderia ter algum impacto. Murilo Ferreira: Se você pegar o livro-texto de economia, em tese você tem esse beneficio, mas se, só para dar um exemplo, o câmbio se desvalorizou 10% e os salários aumentaram em valores reais 10%, e o salário representar 50% do seu custo de produção você vai ter um efeito que será muito menor do que o da desvalorização cambial. Se você analisar apenas uma vertente fica capenga. Cada país tem uma politica diferente, tem uma inflação, tem uma desvalorização, o custo da mão de obra, impostos, custo de combustível. Alguns países têm subsídio a combustível, outros não têm. São tantas as variáveis que é praticamente impossível você dar uma resposta única para essa situação. Bem, muito obrigado a todos vocês que vieram aqui.
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