Valéria Eliane

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Valéria Eliane
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LEITURA E ESCOLA: O QUE PENSAM AS PROFESSORAS SOBRE A
COMPREENSÃO DE TEXTOS
Valéria Eliane Pereira
Especialista em Alfabetização, Letramento e Linguagem Matemática
E-mail: [email protected]
RESUMO
O artigo discute o ensino e a aprendizagem da leitura, compreendida como maior e
mais significativa conseqüência do processo de escolarização. O pressuposto é que a leitura se
constitua como atividade complexa, que envolve conhecimento prévio, linguístico e textual e
depende de processos cognitivos que o leitor desenvolve e dos seus objetivos ao ler certos
tipos de texto. No empreendimento da pesquisa, constatou-se que o tratamento pedagógico
dado à leitura nem sempre considera esses conhecimentos e objetivos de leitura e, dessa
forma, não atende adequadamente as necessidades do aluno.
Introdução
O artigo é resultante de pesquisa desenvolvida no campo de estudos sobre o
letramento – espaço de muitas discussões estudos, em que tem sido produzida grande
quantidade de conhecimentos, mas ainda demanda por novos investimentos teóricos e
práticos. A pesquisa teve como objetivo identificar concepções das professoras do 5º ano das
séries iniciais do Ensino Fundamental em relação à leitura, analisar as dificuldades no
processo de compreensão da leitura e discutir a adequação metodológica das práticas
pedagógicas desenvolvidas na sala de aula.
A definição desse objetivo de pesquisa se justifica porque, dentre as várias habilidades
desenvolvidas na escola, destaca-se a leitura. Esta habilidade não está relacionada somente à
progressão nos estudos, mas também à inserção do aluno no mundo da cultura escrita e ao
exercício das atividades cotidianas. O processo de ensino-aprendizagem na escola está
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fundamentado na linguagem oral, na escrita e na leitura, sendo esta última considerada como
a maior e mais significativa consequência do processo de escolarização.
A leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se
deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da
escola. A grande maioria dos problemas que os alunos encontram ao longo
dos anos de estudo, chegando até a pós-graduação, é decorrente de
problemas de leitura (CAGLIARI, 2005, p. 148).
Por essa perspectiva, acredita-se que o sucesso do aluno depende de um bom
desempenho em leitura, o qual demanda por condições de aprendizagem, representações
positivas sobre o ato de ler e as contribuições dos educadores, que se constitui como mediador
entre o aprendiz e o universo da cultura escrita. Esses aspectos devem interagir de modo
natural, despertando a curiosidade e o interesse do indivíduo, permitindo-lhe os estímulos e as
condições necessárias para uma prática de leitura que o leve a uma aprendizagem
significativa, orientada para a compreensão dos textos e a produção de significados.
Segundo Kleiman (2004), não é possível ensinar a compreensão, pois esta se trata de
um processo cognitivo. No entanto, entendemos que é possível trabalhar com atividades de
leitura que favorecem a construção de estratégias de leitura pelos alunos, sendo esse o papel
do professor, como importante mediador entre o aluno e o universo da cultura escrita.
Kleiman ainda entende que, no momento da leitura é preciso haver uma interação do
conhecimento lingüístico, o textual e o conhecimento de mundo, que resultará numa boa
compreensão do texto lido. Daí a importância do ensino, de forma a garantir condições para
que os alunos aprendam a interagir com os textos, a partir do seu conhecimento de mundo e
de suas experiências.
Considerando a importância do aprendizado da leitura, das habilidades letradas e do
papel do professor no seu ensino, este trabalho se orientou por algumas questões, dentre elas
destacamos: Quais as dificuldades que os alunos do 5º ano do ensino fundamental apresentam
durante a leitura? Os alunos têm consciência de suas próprias dificuldades de leitura? Quais
são as concepções dos professores sobre dificuldade de leitura? No trabalho com a leitura,
como as professoras compreendem o seu papel como mediadora entre os alunos e a
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linguagem escrita? As atividades de leitura realizadas pelas professoras focalizam as
dificuldades de leitura dos alunos? As professoras realizam atividades que exploram mais
questões de compreensão ou de interpretação? As professoras apresentam uma metodologia
de ensino da leitura adequada ao desenvolvimento das habilidades de leitura e superação das
dificuldades identificadas?
A leitura é um processo complexo, que envolve conhecimento prévio, linguístico e
textual. No empreendimento dessa pesquisa, constatamos a hipótese de que o tratamento
pedagógico dado à leitura pela escola não considera esses conhecimentos e, dessa forma, não
atende adequadamente as necessidades do aluno. Apesar de procurarem construir
metodologias adequadas, as professoras ainda não produzem uma atividade docente realmente
eficaz e voltada para as dificuldades de leitura dos alunos. Portanto, as dificuldades
apresentadas por eles não podem ser consideradas apenas como falta de hábito e desinteresse
pela leitura.
A pesquisa foi realizada por uma abordagem qualitativa. As pesquisas qualitativas são
flexíveis e abertas, ou seja, estimulam os entrevistados a pensarem livremente sobre algum
tema, objeto ou conceito. Segundo Lakatos (2005), elas fazem emergir aspectos subjetivos e
atingem motivações não explícitas, ou mesmo conscientes, de maneira espontânea. São
usadas quando se busca percepções e entendimento sobre a natureza geral de uma questão,
abrindo espaço para a interpretação.
Segundo Bortoni (2008), o objetivo da pesquisa qualitativa na sala de aula, é desvelar
o que está escondido, ou seja, identificar processos que se tornam invisíveis para os autores
por serem rotineiros e nem sempre perceptíveis, dado o seu envolvimento com a atividade.
No processo de coleta de dados, organizamos roteiro de entrevista, que foi respondido
por um grupo de três professoras que lecionam no 5º ano do Ensino Fundamental, em uma
escola pública estadual da cidade de Montes Claros – MG. Por questões éticas e visando
preservar sua identidade, as professoras serão identificadas por uma seqüência que vai de P1 a
P3. Numa breve análise do perfil das professoras que responderam as questões observou-se
que todas possuem formação superior. A primeira (P1) é formada em Pedagogia com
especialização em Psicopedagogia, já trabalhou como dirigente escolar, como professora do
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Curso Normal, foi tutora no Projeto Veredas e há 26 anos atua como regente do 1º ao 5º ano
do Ensino fundamental. A outra (P2) é graduada em Matemática e atua no Ensino
Fundamental há 17 anos. A terceira professora (P3) é graduada em Geografia, atuando há 32
no Ensino Fundamental e é aposentada em um cargo.
De acordo com a LDB 9394/96, artigo 62, “A formação de docentes para atuar na
educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena”
(BRASIL, 1996, p. 56), portanto as professoras possuem a formação necessária para atuarem.
De acordo com Tardif (2002), os saberes do professor advém de várias instâncias: da cultura
pessoal, da família, da universidade e dos cursos de formação continuada. O saber docente é
um saber plural, oriundo da formação profissional, de saberes disciplinares, curriculares e
experiências, é temporal porque se constrói durante a vida e o decurso da carreira. O educador
tem como objeto de trabalho seres humanos, o que exige dele competências e habilidades para
mobilizar esses saberes quando necessários. Para esse autor a expressão ‘mobilização de
saberes’, “transmite uma ideia de movimento, de construção, de constante renovação, de
valorização de todos os saberes e não somente do cognitivo” (TARDIF, 2002, p. 13). Ainda
de acordo com esse autor os professores devem autoformar-se e reciclar-se através de
diferentes meios, após sua formação inicial.
Os profissionais da Educação necessitam de uma base de conhecimento e de uma
prática reflexiva, em que possa basear-se para decidir se um determinado saber é pertinente a
determinada situação. Essa decisão depende de um saber metodológico, de um saber sobre o
saber, que definiria se uma regra pode ser aplicada ou não.
Nesse artigo serão tecidas considerações acerca do objetivo da pesquisa e suas
implicações sobre o ensino da leitura, discutindo o papel do professor nesse processo à luz das
concepções dos teóricos abordados. Com base nos resultados de estudos empíricos, questionase como tem sido o tratamento da escola com a leitura para o desenvolvimento da
competência leitora dos seus alunos. Discussão esta, norteada pelas seguintes abordagens: o
ensino da leitura e a utilização de estratégias na escola; a fluência ou dificuldades
apresentadas pelos alunos durante a leitura; a interferência da classe social na leitura e nos
sentidos produzidos no ato de ler, por último, o processo de compreensão da leitura.
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1- O ensino da leitura e a utilização de estratégias na escola
De acordo com Sole (2004), existem muitas estratégias que devem ser utilizadas pelos
professores, visando ao ensino das habilidades de ler, que devem ser consideradas antes,
durante e depois da leitura. A autora destaca seis pontos importantes que devem ser
considerados antes do ato de ler, para ajudar a compreensão dos alunos, são eles: motivação
para a leitura, definição de objetivos da leitura, revisão e atualização do conhecimento prévio
dos alunos, estabelecimento de previsões sobre o texto e formulação de perguntas sobre ele.
Ainda segundo a autora, a leitura deve ser voluntária e prazerosa, professores e alunos
devem estar motivados para aprender e ensinar a ler.
Em nossa pesquisa, percebemos que a motivação e o prazer pela leitura não acontecem
de maneira satisfatória. Durante a observação, constatamos que as atividades de leitura
realizadas priorizam as atividades de leitura em voz alta, com o objetivo que os alunos leiam
com clareza, fluência, correção, pronunciando adequadamente e respeitando as normas de
pontuação e entonação de voz, na maioria das vezes o principal objetivo é responder a
perguntas sobre o texto lido. Para Solé (2004), não se deve realizar uma atividade cujo
objetivo seja treinar a leitura em voz alta para depois querer checar o que se compreendeu.
Quando essa prática de leitura se generaliza, estamos correndo o risco de os alunos
entenderem que ler é repetir em voz alta o que está escrito nos livros. Segundo a autora as
situações de leitura mais motivadoras são aquelas em que a criança lê para se libertar, para
sentir o prazer de ler, ou aquelas com um objetivo claro, ler para adquirir uma informação
necessária, resolver uma dúvida ou um problema.
Sendo assim, apoiando nas ideias defendidas pela autora, é necessário que o professor
realize atividades que motivem os alunos para a leitura, planejando bem essas atividades e
selecionando com critério os materiais necessários que serão utilizados, pensando nas ajudas
prévias que alguns alunos poderão precisar, evitando situações de concorrência entre eles. É
também necessário promover situações que abordem contextos de uso real, que incentivem o
gosto pela leitura, de modo que o leitor possa avançar em seu próprio ritmo para ir elaborando
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sua própria interpretação. A leitura deve ser vista como um desafio estimulante e não como
uma prática enfadonha, portanto cabe ao professor proporcionar aos seus alunos situações de
leitura em que isso aconteça. Solé (2004), afirma que uma situação de leitura bastante
favorável para o aprendizado é a leitura silenciosa, esse recurso deveria ser utilizado antes da
leitura em voz alta. Ao mesmo tempo em que os alunos leem silenciosamente o professor
também deve ler; para ensinar a ler é preciso gostar de ler e saber distinguir situações em que
se trabalha a leitura e situações em que simplesmente se lê. “Na escola ambas deveriam estar
presentes, pois ambas são importantes” (SOLÉ, 2004, p.90), e devem ser avaliadas como
instrumentos de aprendizagem na sala de aula.
Uma estratégia utilizada pela escola com o objetivo de incentivar o gosto pela leitura é
o projeto literário, que acontece semanalmente. Segundo as professoras entrevistadas, nesse
projeto cada aluno escolhe um livro de literatura para ler e leva-o para casa, ficando com o
livro durante a semana. Na sexta feira o aluno que foi sorteado faz uma apresentação do livro.
Essa apresentação é feita através de cartazes que o aluno faz, com desenhos e dados da obra
que é afixado na parede e falam para seus colegas o que entendeu do assunto. No período em
que realizamos a observação das práticas das professoras, não foi possível assistir a nenhuma
apresentação desses trabalhos, apenas observamos os cartazes afixados nas paredes.
As professoras citam, durante a entrevista, vários recursos que utilizam para o trabalho
com a leitura como:
“Utilizo os livros didáticos, literários, revistas (reportagens, anúncios),
temos o projeto sexta literária que além dos livros trabalhados, exploramos
também os diferentes gêneros textuais”. (PI, entrevista realizada em
22/11/10).
“Uso como referência o livro didático, livros literários da biblioteca da
escola, livros literários que alguns alunos trazem, e materiais extra de
leitura como textos de revistas e outro textos de apoio”. (P2, entrevista
realizada em 23/11/10).
“Utilizo livros literários de acordo com a faixa etária da turma, revistas,
jornais e revistas em quadrinhos”. (P3, entrevista realizada em 24/11/10.)
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Apesar dessa variedade de recursos indicados pelas professoras, durante a realização
da pesquisa observamos que o material mais utilizado foi o livro didático. As educadoras
afirmam que ele é muito bom, porque contempla os objetivos previstos para o 5º ano:
“todas as propostas do livro são interessantes para a
aprendizagem, trabalhar com ele depende da habilidade do
professor, o considero como uma boa ferramenta para o
trabalho com a leitura” (P2 entrevista realizada em
24/11/10).
De acordo com Solé (2004), as estratégias de leitura devem atender as necessidades
dos alunos, com objetivos de leitura pré-estabelecidos, como por exemplo: por que estão
lendo? Para que? A mediação do professor deve proporcionar ao aluno atividades de leitura
que favoreçam seu contato com o universo da cultura escrita, atividades que realmente façam
sentido, que favoreçam a interação do conhecimento linguístico, do textual e do conhecimento
de mundo, tão necessário no momento da leitura e na produção de sentidos para os textos.
2- Fluência ou dificuldades apresentadas pelos alunos durante a leitura
Ao analisar as práticas desenvolvidas, o que se percebe é que a escola ainda deixa a
desejar no ensino de habilidades de leitura e na formação de leitores autônomos e críticos,
apesar de as professoras terem clareza sobre a importância da leitura. Conforme as
professoras dizem em sua entrevista:
“O que toda escola quer é formar leitores críticos, mas encontramos muitas
dificuldades, pois temos alunos do 5º ano que ainda não leem fluentemente,
apenas decodificam. Além disso, o livro didático apresenta algumas
propostas muito avançadas para os alunos com maior dificuldade de
leitura, tornando difícil a compreensão”. (PI, entrevista realizada em
22/11/10).
“Cabe à escola formar leitores críticos, participativos, capazes de opinar,
compreender, interpretar, fazer inferências, usar no seu dia a dia todo tipo
de texto necessário à sua integração na sociedade. Penso que a escola faz
um bom trabalho relacionado a leitura, mas pode melhorar este trabalho
em parceria com a família”. (P2, entrevista realizada em 23/11/10).
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“Leitores formadores de opinião. Sim”. (P3, entrevista realizada em
24/11/10.).
Na escola são realizadas atividades variadas com o objetivo de incentivar o gosto
leitura, mas as professoras encontram muitas dificuldades, pois embora sejam alunos do 5º
ano de escolaridade alguns deles ainda não estão alfabetizados.
Compartilhando da idéia de Solé (2004), acredita-se que a solução para o problema da
formação de leitores, dentro da escola, não está na disseminação de novos métodos de ensino
elaborados por especialistas, distanciados da realidade da sala de aula. O desenvolvimento da
das práticas passa pela mudança da concepção que o professor tem sobre a leitura e que está
na base de sua ação pedagógica e a orienta. Para isso, o professor precisa envolver-se com a
leitura enquanto objeto de conhecimento, compreendendo os processos cognitivos nela
envolvidos e o modo como à criança aprende.
As práticas de leitura desenvolvidas na escola geralmente seguem uma sequência:
leitura, perguntas e respostas. Quando essa seqüência se generaliza, para os alunos os
objetivos de leitura também se generalizam, e passa a significar uma prática em que se lê para
responder a perguntas formuladas pelo professor, e não para construir significados e realizar
algum propósito, que deveria ser o verdadeiro objetivo da leitura.
Para Solé (2004), os objetivos de leitura podem ser muito variados, haverá tantos
objetivos como leitores em diferentes situações e momentos. Apresentamos a seguir alguns
objetivos que a autora considera que devem ser considerados nas situações de ensino: ler para
obter uma informação precisa; ler para seguir instruções; ler para obter informação de caráter
geral; ler para aprender; ler para revisar um escrito próprio; ler por prazer; ler para comunicar
um texto a um auditório; ler para praticar a leitura em voz alta; ler para verificar o que se
compreendeu.
De acordo com Kleiman (2004), na compreensão dos textos pelos alunos estão
envolvidos diversos aspectos, como as experiências prévias de vida e o seu conhecimento
linguístico. A base de todo aprendizado é a compreensão, por ser um processo contínuo de
motivação e esforço, e se constituir como a possibilidade de relacionar o que lemos com o
nosso conhecimento anterior. E à medida que adquirimos informações, reduzimos nossas
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incertezas, encontramos novas respostas e ampliamos a possibilidade de compreender os
textos que lemos. A informação nos traz uma compreensão, ou seja, o conhecimento de
questões formuladas e o encontro dessas respostas.
No processo de compreensão da leitura, Smith (1989), considera que a memória é
importante, por se constituir como a nossa fonte permanente de compreensão do mundo. O
cérebro humano não contém somente memória, mas o autor considera que ele contém
memórias com significados e estas estão relacionadas a tudo o mais que conhecemos, em
outras palavras, a estrutura cognitiva é um sumário de nossas experiências passadas. Isso
significa dizer que, é através do conhecimento prévio ou informação não visual, que podemos
extrair sentido da informação visual quando lemos. Esse processo é chamado pelos psicólogos
de estrutura cognitiva, pois temos em nossas mentes uma organização do conhecimento que
permite acessar novos conhecimentos (SMITH, 1989).
Dessa forma, podemos afirmar como propõe Smith, que:
O entendimento, ou compreensão, é à base da leitura e do aprendizado desta.
A que serve qualquer atividade, se a esta faltar a compreensão? A
compreensão pode ser considerada como o fator que relaciona os aspectos
relevantes do mundo à nossa volta - linguagem escrita, no caso da leitura –
às intenções, conhecimento e expectativa que já possuímos em nossas
mentes. E o aprendizado pode ser considerado como a modificação do que já
sabemos como uma consequência de nossas interações com o mundo que
nos rodeia. Aprendemos a ler, e aprendemos através da leitura,
acrescentando coisas àquilo que já sabemos. Assim, a compreensão e o
aprendizado são fundamentalmente a mesma coisa, relacionando o novo ao
material já conhecido. Para entendermos tudo isto, devemos começar
considerando o que “já temos em nossas mentes” que nos permite extrair um
sentido do mundo (1989, p. 21).
Na maioria das vezes a escola não considera os conhecimentos prévios dos alunos.
Todos nós temos a nossa teoria de mundo, independentemente da classe social, que é
construída ao longo de nossa história de vida, na interação com o meio onde vivemos e com
as pessoas com as quais convivemos na família, no bairro, na comunidade, na escola. Para que
o sujeito se torne um leitor autônomo e crítico, como o que a escola pretende formar, é preciso
haver uma mediação do professor, que deve fazer com que seus alunos sintam vontade e
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curiosidade para ler o texto proposto, motivar as crianças, ativar seus conhecimentos prévios,
incentivar previsões, fazer perguntas, e estabelecer finalidades e objetivos de leitura, é de
fundamental importância no processo de ensino e compreensão da leitura.
3- A interferência da classe social na leitura e nos sentidos produzidos no ato de ler
A leitura faz parte do nosso cotidiano, não só a escola, mas as pessoas com as quais
convivemos também podem nos influenciar na leitura. No momento da leitura o leitor não tem
como abandonar suas emoções, isso significa que ele não controla todas as suas ações, antes
investe no texto seus medos, suas angústias, suas fantasias e esperanças. O ato de ler é
motivado por um desejo consciente ou inconsciente.
Ao tratar das condições sociais determinantes no processo de compreensão da leitura,
as marcas sociais, tanto do leitor como do autor, não podem ser abandonadas, já que estes
pertencem a um grupo social com seus valores, poderes, limitações e expectativas. Através da
teoria do conhecimento, o leitor é capaz de atribuir ao texto seus conhecimentos e
informações, ele é considerado co-autor do texto (BARBOSA, 1994).
Ler significa compreender e interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E
interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um
ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus
olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz a leitura uma releitura. A
cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial
conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer como alguém vive, com
que convive que experiências têm em que trabalha que desejos alimentam
como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso
faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente
que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem.
Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita (BOFF, 1997,
p. 9-10).
Ler é estar em contato permanente com a própria realidade, compreendendo e
interpretando a leitura do nosso cotidiano. Através da leitura o nosso dia a dia pode ser
compreendido e interpretado.
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Segundo Kleiman (2004), a leitura é um ato social entre dois sujeitos, leitor e autor,
que interagem entre si, pois a compreensão de um texto não envolve somente um ato
cognitivo, mas também objetivos e necessidades socialmente determinados, sendo essa
dimensão interacional a mais importante do ato de ler.
Ainda segundo Kleiman (2004), a leitura, apesar da individualidade do ato realizado,
é um ato social porque existe um processo de comunicação e de interação entre o leitor e o
autor do texto, ambos com objetivos estabelecidos anteriormente dentro do contexto de cada
um. Apesar de, aparentemente simples e tão natural, o processo de leitura possui uma
complexidade que está subjacente, porque depende do processamento humano de informações
e da cognição de quem lê, de um texto elaborado por um autor e do contexto de ambos, o que
determina os objetivos da leitura, sendo essa um processo interativo entre três variáveis: texto,
leitor, contexto e cada uma dessas variáveis devem ser estudadas porque estão interligadas.
De um lado, está o leitor, com o seu contexto e seus objetivos de leitura e, de outro, o texto,
com o contexto e os objetivos do autor.
Segundo Smith (1989), a memória possui um papel importante, por meio da memória
evoca-se todo o conhecimento adquirido e armazenado, memória de longo prazo, para que
possa ser usado na compreensão da leitura. No entanto, a memória tem suas limitações e
quanto mais tentamos memorizar, menos recordamos ou compreendemos. “O conhecimento
anterior na memória é bem mais importante, na leitura do que os esforços para a memorização
de todo o conteúdo de um texto” (SMITH, 1989, p.112). A memória a longo prazo é a
totalidade de conhecimentos que extraímos do mundo, então a aquisição da nova informação
é organizada através do que já sabemos, ela é tão eficiente que mantém o equilíbrio entre o
conhecimento anterior e a nova informação.
Para Soares, a leitura ganha conotações diferentes dependendo da classe social. Nas
classes economicamente desfavorecidas a leitura é vista como instrumento para obtenção de
melhores condições de vida e ascensão social, já nas classes mais privilegiadas a leitura indica
um índice de cultura, comunicação e expressão, sendo vista como um fator intelectual
adquirido através dos livros.
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Quando perguntamos às professoras se a questão social influencia na aprendizagem da
leitura, elas responderam:
“Não acho que é a classe social, mas o hábito de leitura, tenho uma aluna
de classe social muito baixa e ela apresenta um português invejável,
apresenta uma linguagem muito boa e é muito organizada em tudo que faz,
é uma ótima aluna. Esse problema interfere na aprendizagem, mas nem tudo
está relacionado a ele. Estou na escola desde os anos 80, e percebo a
diferença que houve na Educação, em termos de recursos, a escola hoje está
bem mais preparada do que antes, o que nos ajuda a desenvolvermos um
trabalho melhor”. (PI, entrevista realizada em 22/11/10).
“Sim, concordo com Magda Soares. Quanto mais familiaridade os alunos
tiverem com o mundo da leitura, melhores leitores serão e
consequentemente serão bem mais sucedidos na sua vida escolar”. (P2,
entrevista realizada em 23/11/10).
“Sim. O meio em que a criança convive interfere muito em seus hábitos,
inclusive de leitura”. (P3, entrevista realizada em 24/11/10.)
As professoras mostram que percebem a relação entre leitura e classe social, que
entendem que o acesso aos textos favorece a leitura, mas não veem a condição social como
impedimento para as crianças das camadas populares, que podem ter acesso aos textos na
escola. Isso mostra o papel relevante da escola para os alunos das camadas populares. Vale
destacar ainda a necessidade de a escola trabalhar com a ativação e atualização do
conhecimento prévio dos alunos, como propõe Solé (2004), de forma a lhes garantir
condições para processar os textos e compreende-los adequadamente. E, nos casos em que o
conhecimento prévio dos alunos não for suficiente, há necessidade de se trabalhar alguns
conteúdos com os alunos, antes de se propor a leitura de textos distanciados da realidade e dos
alunos.
Todos nós temos a nossa teoria de mundo, tanto os adultos como as crianças, estas a
possuem não tão complexa como a dos adultos, porque ainda não têm experiência para a
tornarem complexas. Porém, a teoria das crianças atende muito bem às suas necessidades,
pois elas conseguem extrair um sentido do mundo, e raramente ficam confusas ou inseguras.
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Fui alfabetizado no chão da minha casa, à sombra das mangueiras, com
palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus pais. O chão foi o
meu quadro-negro; gravetos, o meu giz. Por isso é que, ao chegar à escolinha
particular de Eunice Vasconcelos, [...] já estava alfabetizado. Eunice
continuou e aprofundou o trabalho de meus pais. Com ela, a leitura da
palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a “leitura”
do mundo. Com ela, a leitura da palavra foi a leitura da ‘palavramundo’.
(FREIRE, 1997, p.15)
De acordo com Freire (1997), a leitura da palavra é sempre precedida da leitura do
mundo, é preciso compreender o seu contexto numa relação dinâmica que vincula linguagem
e realidade. A compreensão crítica do ato de ler não se esgota na pura decodificação da
palavra ou da linguagem escrita, mas é um processo onde linguagem e realidade se prendem
dinamicamente. A importância do ato de ler implica sempre percepção crítica, interpretação e
‘re-escrita’ do lido.
Ao ingressarem na escola, as crianças se deparam com situações que não podem
relacionar com qualquer coisa que já conhecem, pois geralmente não recebem crédito pelo
muito que sabem, sendo esse período em que elas podem ficar constantemente perplexas.
4- Processo de compreensão da leitura
Sendo a leitura a grande herança da Educação, o prolongamento da escola na vida das
pessoas, conforme defende Cagliari (2005), pode-se concluir que o processo de aprendizagem
do sujeito na escola está fundamentado na leitura.
O aprendizado da leitura depende de dois conhecimentos básicos de que a
linguagem escrita é significativa, e de que é diferente da linguagem falada.
Os aprendizes devem apoiar-se na informação visual do texto tão pouco
quanto possível. Os professores ajudam as crianças para que aprendam a ler
estimulando seu interesse e facilitando a utilização da linguagem escrita a
um grau que os programas de instrução formal, com seus objetivos
necessariamente limitados, não podem alcançar (SMITH, 1989, p. 257).
A compreensão textual inclui vários processos cognitivos inter-relacionados. Entre
eles, os processos básicos de leitura, como o reconhecimento e extração do significado das
palavras impressas que são requisitos necessários, mas não suficientes. Uma compreensão
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textual bem sucedida exige processos cognitivos de alto nível, como capacidade de realizar
inferências, habilidades lingüísticas gerais, habilidades de memória, conhecimento de mundo,
que juntos contribuem para a construção do conhecimento (CAGLIARI, 2005).
Ler é encontrar uma finalidade e suas conseqüências, onde se envolve emoções,
conhecimento e experiência das informações contidas na leitura. Mas não quer dizer que ao se
fazer uma leitura, estará compreendendo tudo aquilo que o texto quis passar ou dizer. A
compreensão é relativa, depende da habilidade em se encontrar respostas, quando se encontra
na linguagem escrita algo com que as possa relacionar.
De acordo com Barbosa (1994), ler não é sonorizar a escrita, mas sim uma atividade
complexa e pessoal. Podemos dizer que a leitura depende do que está diante e atrás dos olhos.
Isso porque para ler é necessário haver um texto diante dos olhos, são as informações visuais.
E por outro lado a leitura se apóia nas informações que o leitor tem disponíveis na sua
estrutura cognitiva, que são as informações não visuais. Portanto a leitura se apóia em duas
fontes de informações diferentes, uma é fornecida pelo autor e a outra fonte de informação
encontra-se no cérebro. De acordo com os autores estudados quanto menos informação visual
o leitor utilizar no ato de ler, maior compreensão terá do texto.
A leitura pressupõe previsão, através de um saber prévio o leitor levanta hipótese
sobre o texto que vai ler. “Ler é sempre colocar questões a um texto: é um ato voluntário que
evocamos previamente. È por isso que um texto pode ser compreendido de diversas maneiras”
(BARBOSA, 1994, p. 118). Não existe uma única forma de interpretar os diversificados tipos
de textos. Isso impediria o leitor de colocar as questões que ele deseja que seja cabível para
ele e anularia a construção de sua compreensão.
Assim, uma criança que pretende compreender uma história não o fará da
mesma maneira que o professor, pois, sem dúvida, não colocará as mesmas
questões que ele. As questões do professor e sua interpretação do texto
podem não fazer o menor sentido para a criança. Compreender um texto
literário, por exemplo, consiste, por um lado, em conhecer as questões
adequadas a serem formuladas ao texto (em função do conhecimento prévio)
e, por outro lado, em conseguir encontrar as respostas a essas questões por
intermédio do texto. (BARBOSA, 1994, p. 118)
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Leitura não é só identificar letras ou reconhecer palavras para se conhecer uma
sentença. Existe sim uma familiaridade com espécies diferentes de textos, onde a leitura pode
ser fluente ou difícil. Quanto mais lermos, mais seremos capazes de ler, de encontrar novas
palavras e apreender o significado delas. É a capacidade e a habilidade, quanto mais lermos,
maior será a capacidade de compreensão do texto. Costumamos lembrar de tudo que nos é
agradável e interessante, por isso recordamos o que nos é significativo.
Sem o domínio da leitura fica mais difícil para o indivíduo se tornar um cidadão ativo
e autônomo dentro da própria sociedade em que vive. Barbosa (1994) discute que a escrita se
tornou um obstáculo para que o indivíduo obtenha uma efetiva participação na sociedade,
saber ler, é uma utilidade do cotidiano. Antigamente a leitura era vista apenas como um ato de
decodificar os sinais, portanto, leitor era somente o alfabetizado. Nos dias atuais em que
vivemos, essa concepção segue por uma outra vertente, isto é, o leitor não é mais somente
aquele indivíduo alfabetizado. Barbosa vem nos chamar a atenção para isso quando diz: "Mas
o mundo mudou, desfazendo aquelas identificações: ler não é mais decodificar e o leitor não é
mais o alfabetizado" (BARBOSA, 1994, p. 88).
Através da leitura aprendemos a escrever e também a usar as regras da gramática. E a
linguagem escrita dirige e estimula o pensamento. A leitura nos confere poder e controle
sobre aquilo que nos é oferecido.
A escola que não reconhece e incentiva a importância da leitura para os seus alunos
esta fadada ao insucesso (CAGLIARI, 2005).
A atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos
alunos é a leitura. É muito mais importante saber ler do que saber escrever.
O melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve estar voltado para a
leitura. Se um aluno não se sair muito bem nas outras atividades, mas for um
bom leitor, penso que a escola cumpriu em grande parte sua tarefa.
(CAGLIARI, 2005, p. 150).
A leitura lenta interfere na compreensão. Para que a leitura seja rápida o leitor precisa
apoiar nas informações não visuais e reduzir o quanto menos for possível a informação visual.
Existem diversos tipos de leituras, e em todas as formas de leitura é preciso estabelecer um
objetivo, sempre que temos um objetivo claro para a leitura vamos mais atentos para o texto.
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Não importa se vamos ler uma receita, um romance, um poema ou um texto de estudos
sociais. O que importa é a riqueza que a leitura tem. Em todos esses tipos de textos, o leitor
procura respostas para as questões formuladas por ele, a compreensão do texto é uma questão
de ter questões relevantes a fazer, podemos dizer que ela é relativa porque depende de obter
respostas às questões formuladas.
Segundo os autores estudados, do ponto de vista do escritor ou professor, um leitor
extrai o significado de um livro ou um poema quando ele formula questões sobre as quais o
escritor ou professor implicitamente esperava ser perguntado.
Referindo-se ao conceito de leitura, Smith (1989, p.200) afirma que “o sentido da
palavra “leitura” em todos esses sentidos, depende de tudo o que está ocorrendo – não
somente do que está sendo lido, mas do porque de um determinado leitor estar lendo”.
Uma habilidade particular de escritores talentosos (e de professores
talentosos) é levar os leitores a formularem as questões que consideram
apropriadas. Assim a base da leitura fluente é a habilidade para encontrar
respostas, na informação visual da linguagem escrita, para as questões
particulares que estão sendo formuladas. A linguagem escrita faz sentido
quando os leitores podem relacioná-la ao que já sabem (incluindo aquelas
ocasiões quando o aprendizado ocorre, quando existe uma modificação
global naquilo que os leitores já sabem). E a leitura é interessante e relevante
quando pode ser relacionada ao que o leitor deseja saber. (SMITH, 1989,
p.202),
Recordamos tanto de outros tipos de experiências que são boas, como recordamos das
experiências de leitura. Ou seja, recordamos aquilo que compreendemos e que nos é
significativo. As experiências sempre resultam em aprendizado, a experiência com a leitura
aumenta o nosso conhecimento sobre a própria leitura, quanto mais lermos mais aprendemos
sobre a leitura. Dentre as várias coisas que aprendemos com a leitura, podemos citar a escrita,
pois é lendo que aprendemos a escrever, os autores ensinam os leitores a escreverem. Através
da leitura podemos adquirir melhores habilidades de compreensão e um maior vocabulário, a
leitura torna as pessoas mais espertas.
A maior parte do que os indivíduos sabem sobre a linguagem e sobre o
mundo não é formalmente ensinado. Ao contrário, as crianças desenvolvem
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sua teoria do mundo e a competência na linguagem pela testagem de
hipóteses, fazendo experiências de maneiras significativas e com objetivos,
com modificações também experimentais daquilo que já sabem. Assim,. A
base do aprendizado é a compreensão. As crianças aprendem continuamente,
através do engajamento em demonstrações que lhes fazem sentido, sempre
que sua sensibilidade natural para o aprendizado está intacta. O aprendizado
é uma atividade social. As crianças aprendem a partir do que as outras
pessoas fazem e as ajudam a fazer. (SMITH, 1989, p.235).
Ler é uma atividade profundamente individual, é uma atividade de assimilação de
conhecimento, de interiorização, de reflexão. A leitura é uma atividade fundamental que deve
ser desenvolvida pela escola para a formação dos alunos. Ensinar a criança a compreender o
texto escrito é de fundamental importância, porém, como não é possível ensinar a
compreensão, pois se trata de um processo cognitivo, o papel do professor é criar
oportunidades que permitam o desenvolvimento desse processo. Essas oportunidades só
poderão ser criadas se o professor conhecer os aspectos envolvidos na compreensão, e as
diversas estratégias que compõem o processo de leitura.
Considerações Finais
Ao discutirmos o processo de compreensão da leitura foi possível uma reflexão sobre
o ato de ler. É consenso dos autores pesquisados que compreender o texto escrito envolve
compreensão de frases e sentenças, de argumentos, de objetivos, de intenções e também de
ações e motivações, que abrangem as dimensões do ato de compreender. Podemos dizer que a
leitura não acontece nos olhos do leitor, ela é um processo mental e está associada ao
conhecimento prévio armazenado na mente do leitor, na sua estrutura cognitiva. Entretanto,
não podemos dizer que compreender um texto escrito seja apenas um ato cognitivo, pois a
leitura é também um ato social entre dois sujeitos, leitor e autor que interagem entre si
compartilhando objetivos e necessidades socialmente determinados.
A leitura é considerada um processo de interação porque o leitor utiliza o que ele já
sabe e, mediante a intenção do conhecimento lingüístico, o textual, e do conhecimento de
mundo, ele consegue construir o sentido do texto.
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A base de todo conhecimento é a compreensão; sendo a leitura a grande herança da
Educação, podemos dizer que o processo de aprendizagem do sujeito na escola está
fundamentado na leitura. É essencial, portanto, que os educadores sejam conhecedores desse
processo e rompam com a idéia de que ler se resume a simples decodificação e que
reconheçam que o ensino da leitura é um processo amplo, que se constrói por meio de
atividades compartilhadas e com a constante ação planejada do professor.
O ser humano necessariamente precisa se comunicar. Ele tem um mundo psíquico:
tem experiências de memória, de sentimentos, de imaginação, que exigem uma forma especial
de comunicação. Além disso, a sociedade atual tem, cada vez mais, exigido do ser humano
maior capacidade de comunicação para sua participação efetiva na sociedade. Assim a leitura
é indispensável para que o indivíduo construa seu conhecimento e exerça a cidadania. Pois a
leitura lhes traz a possibilidade de plena participação social, é por meio dela que o homem se
comunica, tem acesso à informação, defende suas idéias, divide e constrói visões de mundo e
produz conhecimento.
A educação dos indivíduos precisa enfatizar a leitura como via de inclusão social e de
melhoria para a sua formação. A leitura, portanto, promove o resgate da cidadania, devolve a
auto-estima ao promover a integração social, desenvolve um olhar crítico e possibilita formar
uma sociedade consciente
Barbosa (1994), afirma que o professor não deve confiar numa metodologia milagrosa
para o ensino da leitura, mas na sua experiência fundamentada na sua competência
pedagógica, no seu próprio comportamento de leitor. Os passos e prescrições de um método
de ensino são de pouca ou nenhuma valia porque não oferecem ao professor o que ele
realmente precisa que é a compreensão do objeto de conhecimento que está oferecendo aos
alunos e do processo através do qual se dá a sua aprendizagem.
Nesse sentido, é imprescindível que o professor reconheça que a leitura é uma
atividade fundamental que deve ser desenvolvida para a formação dos alunos. Como
compreensão é algo que não pode ser ensinado, porque envolve processos cognitivos e estes
não podem ser ensinados, o papel do professor é criar oportunidades que permitam o
desenvolvimento desse processo.
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Entendemos que as dificuldades de leitura não estão somente no sujeito aprendiz, mas
nas situações de aprendizagem oferecidas. Ainda circula na escola a crença no treinamento de
habilidades e atividades mecânicas que por se só não garantem o aprendizado da leitura.
Deste modo defende-se que as estratégias de leitura precisam ser ensinadas para que o
leitor aprendiz se torne um leitor autônomo e competente. Para isso é preciso que o ensino
aconteça de forma contextualizada e significativa, de modo que o aluno possa reconhecer a
leitura como uma atividade social que permite sua ação no cotidiano e sua inserção no mundo
letrado.
Para que haja uma melhora no aprendizado da leitura, faz-se necessário uma mudança
na concepção dos professores a respeito do ensino a partir de uma reflexão sobre o
conhecimento produzido a respeito dos processos envolvidos neste aprendizado.
Referências
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RJ: Vozes, 1997.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor pesquisador: introdução à pesquisa
qualitativa. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
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BRASIL. Diretrizes e bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/1996, de 20 de dezembro de
1996.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e linguística. 10. ed. São Paulo: Scipione, 2005.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 34. ed. São
Paulo: Cortez, 1997.
KLEIMAN, Ângela. Texto e Leitor: Aspectos cognitivos da leitura. 9. ed. São Paulo: Pontes,
2004.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia
científica. 6. ed. – 7. reimp. – São Paulo: Atlas, 2009.
SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,
1998. SOARES, Magda Becker. Letramento e alfabetização. Belo Horizonte: Autêntica,
2003.
SOLÉ, Izabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SMITH, Frank. Compreendendo a leitura: Uma análise psicolinguística da leitura e do
aprender a ler. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

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