entre botânicos e naturalistas: um novo antigo olhar para são paulo

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ENTRE BOTÂNICOS E NATURALISTAS: UM NOVO ANTIGO
OLHAR PARA SÃO PAULO DO SÉCULO XIX
Fabiana Raquel Leite (UNICAMP)1
[email protected]
RESUMO: A fim de contribuir para a composição da história social da língua portuguesa no Brasil, o
presente trabalho objetiva apresentar um levantamento sistemático das informações contidas nos relatos
dos viajantes europeus, Karl Friedrich von Martius & Johann Baptist Spix e Auguste de Saint Hilare,
acerca do contexto sócio histórico da Província de São Paulo no século XIX.
PALAVRAS-CHAVE: língua portuguesa; Província de São Paulo; século XIX; viajantes naturalistas
europeus
ABSTRACT: In order to contribute to the composition of the social history of the Portuguese language
in Brazil, this work aims to present a systematic survey of the information contained in the reports of the
European travelers, Karl Friedrich von Martius & Johann Baptist Spix and Auguste de Saint Hilare, about
the socio-historical context of the Province of São Paulo in the nineteenth century.
KEYWORDS: Portuguese language; Province of São Paulo, 19th century; European naturalist travelers
1. Introdução
A ligação com o “mar oceano” transformou a
civilização paulista, fez-lhe perder o seu
sublime isolamento. (HILAIRE, 1953)
A história social da variedade da língua portuguesa falada em São Paulo é,
frequentemente, desassociada das outras variedades do português brasileiro devido à sua
posição geográfica e à maneira como a região foi colonizada.
Neste trabalho, com o objetivo de contribuir para a composição da história social da
língua portuguesa no Brasil, realizo um breve estudo da variedade paulista falada no
século XIX. Para tanto, analiso os relatos de viagem à Província de São Paulo de três
naturalistas europeus: o francês Auguste de Saint Hilaire e os alemães Karl Friedrich
von Martius e Johann Baptist Ritter von Spix. Assim, as obras analisadas neste estudo
são:
- Viagem ao Brasil, Vols. I e II2, Martius & Spix;
1
Doutoranda em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas. E-mail: [email protected]
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- Viagem à Província de São Paulo, Saint-Hilaire;
- Segunda Viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e São Paulo, Saint-Hilaire.
Escolhi os trabalhos desses três viajantes, pois, além de os três terem percorrido a
região na mesma época, eles apresentam certa homogeneidade. Os três eram botânicos,
membros de academias de ciências e estavam vinculados ao poder estatal. Auguste de
Saint Hilaire veio ao Brasil acompanhando a missão do Conde de Luxemburgo,
embaixador do rei da França e Spix & Martius vieram, juntamente com outros cientistas
alemães, em missão oficial por ordem o rei da Baviera.
Para torná-lo mais instrutivo, dividi este trabalho em três partes. Na primeira,
apresento brevemente os viajantes, o território e o período estudados. Em seguida,
realizo o levantamento das informações relevantes para a história social da língua
portuguesa falada em São Paulo no século XIX presente nos relatos desses viajantes. E,
por fim, teço algumas considerações finais a respeito da variedade paulista do português
brasileiro oitocentista.
2. Viajantes em São Paulo no Século XIX
Com a chegada da família real portuguesa no Brasil em 1808 e conseguinte abertura
dos portos às nações amigas, dá-se início a uma série de viagens de naturalistas
europeus à América Portuguesa em busca novos conhecimentos a respeito da flora,
fauna, geografia e organização social da região.
Neste trabalho, conforme mencionado, discorrerei sobre os relatos deixados pelos
naturalistas alemães Spix e Martius e pelo francês Saint-Hilaire acerca a cidade de São
Paulo e seu entorno.
2.1 Auguste Saint-Hilaire (1779-1853)
2
Utilizei a versão inglesa publicada em 1824, disponível em: http://www.etnolinguistica.org/biblio:spixmartius-1824-travels acesso: 27 de agosto de 2014.
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Augustin François César de Saint Hilaire, nascido a 4 de outubro de 1779 em
Orléans e falecido a 30 de setembro de 1853 em Lurpinière, foi um importante botânico,
naturalista e viajante francês que esteve no Brasil em duas ocasiões entre os anos de
1816 e de 1822. Saint-Hilaire era membro da Academia das Ciências do Instituto da
França e foi um dos primeiros cientistas vindos da Europa a poder explorar todo o
território brasileiro sem restrições. Em sua primeira viagem ao Brasil, em 1816, Saint
Hilaire veio acompanhando a missão do Conde de Luxemburgo, embaixador do rei da
França, de tomar a posse da Guiana Francesa. Durante essa primeira estada, percorreu
os estados brasileiros do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, São
Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em sua segunda viagem ao país, revisitou
os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
Em suas viagens, Saint Hilaire coletou dados sobre a flora brasileira (seu principal
interesse), recolheu dados sobre a fauna e teceu considerações acerca de aspectos
econômicos, políticos e culturais da sociedade brasileira da época.
2.1.1 A Primeira Viagem à Província de São Paulo
Os relatos de Saint-Hilaire em Viagens à província de São Paulo estão organizados
em treze capítulos. A obra reproduz o relatório sobre a viagem de Saint-Hilaire ao
Brasil feito por membros da Academia de Ciências de Paris. A versão utilizada neste
trabalho foi traduzida e prefaciada por Rubens Borba de Moares 3 e constitui a tradução
do primeiro tomo de Voyage dans les provinces de Saint-Paul et de Sainte Catherine e
de Aperçu d'un voyage dans l'intérieur du Brésil, la Province Cisplatine et les Missions
dites du Paraguay.
No primeiro Capítulo, intitulado “Quadro Resumido da Província de São Paulo”,
Saint-Hilaire traça um quadro geral da Província, trazendo detalhes sobre sua história,
3
Esta
versão
possui
uma
cópia
digital
disponível
no
endereço:
https://archive.org/stream/viagemprovinci00sainuoft#page/n17/mode/2up Acesso em: 27/08/2014
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geografia, população e administração. Nos capítulos seguintes, II, III e IV, o francês
relata a sua viagem de Franca a São Paulo, descrevendo em detalhes a região e os
personagens que encontra em seu percurso. No sexto capítulo, já em São Paulo, o
naturalista faz uma descrição detalhada da cidade, incluindo informações sobre as
atividades e os diferentes papéis sociais, a arquitetura, a saúde e o modo de falar da
população ‘caipira’. No final do livro, há um breve relatório das viagens de Saint
Hilaire ao Brasil e ao Paraguai e duas listas, uma contendo toda a bibliografia citada por
Saint Hilaire em Viagens à Província de São Paulo e outra contendo uma relação das
principais obras escritas por Saint Hilaire.
(Mapa com o Itinerário da Primeira Viagem de Saint-Hilaire pela Província de São
Paulo, HILAIRE, 1938:1)
2.1.2 Segunda Viagem à Província de São Paulo
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A obra Segunda viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo constitui
um diário de viagem escrito por Saint Hilaire em sua segunda viagem a São Paulo.
Neste diário, o naturalista descreve superficialmente as cidades por onde passou e tece
alguns comentários breves acerca dos costumes de seus habitantes e sobre a
miscigenação.
É importante mencionar que o principal objetivo de Saint Hilaire em sua segunda
viagem a São Paulo era repor amostras de plantas danificadas e por ele coletadas em
1817. Nesse sentido, esta obra não é tão detalhada e abrangente quanto a primeira
(Viagem a Província de São Paulo), haja vista o objetivo específico do viajante.
Neste trabalho, utilizei a edição de 1938, traduzida e prefaciada por Affonso de E.
Taunay.
2.2 Os Naturalistas bávaros: Johann Baptist von Spix e Karl Friedrich Philipp von
Martius (1794-1868)
In the annals of Brazil, S. Paulo is highly interesting
beyond all the other cities in a historical point of view
(Spix&Martius, Viagens ao Brasil, 1817-1820).
2.2.1 Johann Baptist von Spix
Johann Baptist von Spix foi um naturalista alemão nascido na cidade de Höschstadt,
na Baviera em 1781. Spix estudou teologia, filosofia e medicina nos seminários de
Bamberg e Würzburg. Após doutorar-se em medicina, Spix dedicou-se à zoologia. Em
1808, entrou para o governo bávaro, para o qual realizou diversas expedições científicas
à França, Suíça e Itália. Foi membro de várias academias científicas, incluindo a
Academia Bávara de Ciências, na qual, em 1811, assumiu o cargo de conservador das
coleções zoológicas. Em 1817, inicia sua principal e mais importante missão científica,
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uma expedição de três anos ao Brasil. Spix, acompanhado pelo também naturalista Karl
Philipp von Martius, visita diversas regiões do Brasil, onde recolhe importantes
informações sobre a sua flora, fauna, geografia e cultura. Spix falece em 1826, em
Munique na Alemanha, antes da conclusão de sua principal obra Reise in Brasilien
(Viagem ao Brasil), concluída por seu companheiro de expedição Martius em 18314.
Além de Viagem ao Brasil, Spix escreveu diversos trabalhos publicados,
principalmente, pela Academia Bávara de Ciências. Entre os seus trabalhos mais citados
estão História e crítica dos sistemas de zoologia desde Aristóteles e O desenvolvimento
do Brasil desde o descobrimento até nossa época.
2.2.2 Karl Friedrich Philipp von Martius
Karl Friedrich Phillip von Martius foi um dos mais importantes pesquisadores
europeus do século XIX a estudar a flora e a fauna brasileira. Martius nasceu e foi
criado na cidade de Erlangen, no estado da Baviera. Entre os anos de 1810 e 1814,
cursou Medicina na Universidade de Erlangen. Após sua formatura, ingressou na
Academia Real de Ciências da Baviera, em Munique. Em 1816, foi nomeado adjunto do
Jardim Botânico, onde conheceu o rei Maximiliano José I, que o convida a participar na
expedição para o Brasil ao lado de Spix.
Em 1817, com a missão de recolher dados sobre os aspectos naturais, sociais e
linguísticos do território da colônia portuguesa, Martius viaja para o Brasil ao lado de
Spix e outros naturalistas alemães e austríacos5. Após três anos explorando o Brasil
(1817-1820), Martius retornou para seu país de origem com cerca de 6.500 espécies de
plantas. Nesse período, o naturalista bávaro reúne também uma coleção valiosa de
dados filológicos e etnográficos, além de transcrições de canções e cânticos populares
brasileiros e melodias indígenas.
4
Reise in Brasilien (Viagem ao Brasil) foi publicada em três volumes entre os anos de 1823 e 1831 pelo
naturalista Karl Friedrich von Martius.
5
Nessa missão, Martius fica responsável pelos estudos botânicos e Spix pelos zoológicos.
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Em 1826 foi nomeado professor de botânica da Universidade de Munique e, em
1832, curador sênior do Jardim Botânico. Martius falece em Munique no ano de 1868,
aos 74 anos de idade.
Ele, assim como Spix, deixou, além de Viagem pelo Brasil, outras obras de igual
importância e valor científico como Nova genera et species plantarum brasiliensiun
(1823-1832), Historia naturalis palmarum (1823-1850), Icones selectae plantarum
cryptogamicarum brasiliensiun (1827), Systema materiae medicae vegetabilis
brasiliensis (1843), Flora cryptogamica Erlangensis (1817) e Akademische Denkreden
(1866) e a monumental Flora Brasiliensis6 (1840-1906).
2.2.3 A Viagem e o Relato de Martius & Spix
Em 1815, Maximiliano José I, rei da Baviera, havia ordenado que Academia de
Ciências de Munique organizasse uma viagem científica ao interior da América do Sul.
Contudo, devido a uma série de complicações, essa viagem só foi viabilizada dois anos
mais tarde, em 1817, com a vinda da arquiduquesa austríaca Leopoldina ao Brasil, em
razão de seu casamento com Pedro de Alcântara (futuro D. Pedro I).
Para acompanhar a arquiduquesa em sua viagem ao Brasil, o diretor do Museu de
História Natural de Viena organizou uma missão científica que, uma vez na colônia
portuguesa, deveria recolher dados sobre os aspectos naturais, sociais e linguísticos do
território. A pedido do rei da Baviera, uma missão bávara, formada por Martius, Spix e
outros naturalistas alemães, juntou-se a essa comitiva.
Martius & Spix exploraram diversas regiões do Brasil por pouco mais de três anos
(de abril de 1817 a dezembro de 1820). Entre 1817 e 1820, eles percorreram as
províncias do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Pará,
6
Martius começou a escrever Flora brasiliensis em 1840, contudo a obra só chegou a ser concluída em
1906, 38 anos após a sua morte, por um grupo de 75 pesquisadores. Flora brasiliensis é constituída por
44 volumes, com 20.773 páginas e 3.811 ilustrações, classificando 850 famílias e descrevendo mais de
oito mil espécies de plantas brasileiras.
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recolhendo amostras de espécies animais e vegetais e registrando as línguas e dialetos
falados pelos nativos.
O registro das diversas línguas e dialetos brasileiros havia sido solicitado pela Real
Academia de Ciências de Munique:
As faculdades de história e de filosofia e filologia da
Academia lembravam-nos o estudo das diversas
línguas, traços característicos dos povos, as tradições
históricas, moedas, ídolos, e, particularmente, tudo que
pudesse esclarecer o estado de civilização e história dos
aborígenes e dos atuais habitantes do Brasil (SPIX 1938
[1823], v. 1:9 – ênfase acrescentada)
De volta à Europa, em 1820, e com um volume expressivo de material coletado,
Martius e Spix dedicaram-se à produção do relato Reise in Brasilien, obra ilustrada em
três volumes e publicada por Martius entre os anos de 1821 a 1831. Devido à morte de
Spix em 1826, seis anos após o retorno a Alemanha, Martius teve que concluir a obra
sozinho. Reise in Brasilien foi traduzida para o Português somente em 1938 como
Viagem pelo Brasil, em edição patrocinada pelo Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro (IHGB).
Anexas à obra Viagem pelo Brasil encontram-se, ainda, reunidas pelo título
Cantigas Populares Brasileiras e Melodias Indígenas (Brasilianische Volkslieder und
indianische Melodien) oito cantigas, um lundu instrumental e quatorze músicas
indígenas coletadas por Martius. Três das oito cantigas foram coletas em São Paulo:
Acaso São Estes; Qual Será o Feliz Dia e Escuta Formoza Marcia.
Viagem pelo Brasil constitui, certamente, um dos mais importantes relatos do
século XIX sobre o Brasil.
3 São Paulo no Século XIX sob os Olhares dos Viajantes
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A cidade de São Paulo, do século XIX, foi retratada pelos seus moradores, escritores
e principalmente por viajantes europeus, como Auguste Saint Hilaire, Karl Philipp von
Martius e Johann Baptist Spix. Neste trabalho, priorizamos o olhar desses três últimos
para descrever a província de São Paulo do século XIX.
3.1 O Perfil da Sociedade Paulista Oitocentista
Nesta sessão, discorro sobre o perfil da sociedade paulista do século XIX traçado
nas obras de Auguste Saint-Hilaire e Martius & Spix.
De acordo com Matos (1958:58), São Paulo, no século XIX, caracterizava-se por
ser uma cidade pequena constituída mormente por uma população mestiça, com uma
parcela considerável de negros e por uma população branca formada sobretudo por
portugueses e seus descendentes. O historiador estima que, nas três primeiras décadas
do século XIX, a população urbana de São Paulo não chegava a dez mil habitantes.
Para o viajante francês Saint-Hilaire, devido a uma série de fatores culturais, é
difícil determinar com exatidão qual era a população de São Paulo no século XIX.
A preguiça geral no país, a ignorância de seus habitantes,
sobretudo em certas regiões da província de São Paulo, a
extrema disseminação dos habitantes são outros tantos
obstáculos que se opõem a que, com referência à população,
especialmente, se obtenham dados precisos. Os que se obtém
são, apenas, aproximados [...] (HILAIRE, 1940:84).
O naturalista estima, entretanto, que, em 1822, teriam a cidade e seu distrito
25.682 habitantes. Em relação à composição da população na referida época, SaintHilaire chama a atenção para a sua heterogeneidade. O naturalista vê a “mistura de
raças” como uma barreira para o desenvolvimento social e econômico da província.
A população da França, como a de toda a Europa ocidental, é
perfeitamente homogénea — uma só raça de homens e não
existem escravos. O mesmo, infelizmente, não ocorre no Brasil.
Não somente a escravidão é ali admitida, como também três
raças completamente distintas (e os numerosos mestiços que as
ligações entre as mesmas produziram) constituem a população
do país. Escravos negros, uns crioulos, outros africanos; negros
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livres, africanos e crioulos; alguns indígenas batizados; um
número considerável de indígenas selvagens; mulatos livres e
mulatos escravos; homens livres, todos considerados, perante a
lei, como da raça caucásica, entre os quais se encontra, porém,
grande quantidade de mestiços de brancos e de indígenas — tais
são os habitantes da província de São Paulo. Entranha confusão
de raças, do que resultam complicações embaraçosas e
perigosas, quer para a administração pública, quer para a
moral social (HILAIRE, 1940:84 – ênfase acrescentada).
Com relação a população de São Paulo nesse período, Martius & Spix
apresentam o seguinte quadro descritivo da formação da população paulista no ano de
1815:
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Lista da população da Capitania de São Paulo no ano de 1815, Viagens ao Brasil Vol. II p. 32
Observe que, em 1815, entre a população livre, o número de brancos é superior
ao número de negros e mulatos (brancos 12.247; negros e mulatos 7.084), sendo o
número de mulatos livres muito superior ao número de negros livres. Ao considerarmos,
também, os escravos, número de negros e mulatos chega a pouco mais da metade da
população paulista, 51%. É interessante notar, ainda, que no quadro apresentado por
Spix & Martius não há qualquer menção a indígenas e “mamelucos” entre a população
da Comarca de São Paulo.
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Os naturalistas alemães, entretanto, ao descreveram a população da província,
chamam a atenção para a presença de famílias “brancas” que, segundo eles, se
preservaram da mistura com os nativos e afirmam que a maioria da população é
formada por negros, mulatos e mamelucos.
Many families of Paulistas have preserved themselves without
any mixture with the Indians, and these are as white, may even
whiter than the purer descendants of the Europeans in the
northern provinces of Brazil(Spix & Martius, Vol. II, Viagens
ao Brasil, p.6).
Negroes, mulattoes, descendants of whites and Indians
(mamelucos), which form the greater part of its population
[...] (Spix & Martius, Vol. I, Viagens ao Brasil, p. 316 – ênfase
acresentada)
Acerca da população escrava, Martius & Spix (1824:11) observam que embora o
número de mulheres supere o número de homens, o índice de natalidade entre os
escravos negros é muito baixo7.
Saint Hilaire, para o ano de 1839, embora acreditasse que os documentos existentes
a respeito da população paulista fossem ainda vagos e duvidosos, arrisca-se a afirmar
que
o número dos brancos era apenas de 4/5 sobre os homens de
côr, negros e mulatos; que era quasi nulo o de indígenas; que o
número das mulheres livres, brancas, mulatas e negras, era
sensivelmente superior ao dos homens livres pertencentes a
essas mesmas raças; que, finalmente, os escravos formavam
apenas um terço da população total (HILAIRE, 1945:171).
Com relação a existência de moradores estrangeiros (não portugueses) em São Paulo,
o viajante francês faz menção de um suíço chamado Grellet, em cuja casa ele esteve
hospedado.
Logo que as bagagens foram descarregadas, apressei-me em ir à
casa de um suíço chamado Grellet, que vendia mercadorias
francesas por conta de uma casa estabelecida no Rio de Janeiro,
e ao qual toda a minha correspondência devia ser dirigida
(HILAIRE, 1945:165).
7
The black slaves have very fewchildren, which is not entirely explained by the proportion of the female
to the male slaves (16:22).
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3.1.1 O campo, a cidade e o ser paulista
Em sua segunda viagem à São Paulo, Saint-Hilaire, ao descrever os habitantes da
cidade de São Paulo, diferencia-os do homem do campo. Ao descrever o homem
urbano, ele enfatiza que este é branco e foi educado segundo os moldes europeus.
Na cidade de São Paulo, ao contrário, desde há tempo a
civilização foi continuadamente mantida pelos europeus.
Não foram unicamente pessoas pobres e sem educação,
procurando fazer fortuna que na referida cidade vieram se
estabelecer; a amenidade do clima, a sua localização aprazível,
a vizinhança da costa e suas facilidades de comunicação têm
atraído para seu seio homens de classe mais elevada;
magistrados que estudaram na Europa em São Paulo se
casaram, tendo necessariamente, transmitido a seus filhos
certa distinção e finura de trato.
Assimilando as características propagadas pelos próprios paulistas habitantes da
cidade, o naturalista caracteriza o homem do campo como um ser inferior, anormal e
desprezível.
Nenhuma dificuldade há em distinguir os habitantes da cidade
de São Paulo dos das localidades vizinhas. Estes últimos,
quando percorrem a cidade, usam calças de tecido de algodão e
um chapéu cinzento, sempre envolvidos no indispensável
poncho, por mais forte que seja o calor. Denotam seus traços
alguns dos caracteres da raça americana; seu andar é pesado,
e têm um ar simplório e acanhado. Pelos mesmos têm os
habitantes da cidade pouquíssima consideração, designando-os
pela acunha injuriosa de caipiras, palavra derivada
provavelmente do termo corupira pelo qual os antigos
habitantes do país designavam demônios malfazejos existentes
nas florestas. (SAINT-HILAIRE, 1945: 171)
Ainda em outras passagens de sua Segunda viagem, ao percorrer o interior paulista,
o naturalista reitera a inferioridade intelectual do homem do campo e apresenta uma
imagem depreciativa dos “mestiços”.
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Enquanto descrevia e examinava as plantas, aproximou-se um
homem do rancho, permanecendo várias horas a olhar-me, sem
proferir qualquer palavra. Desde Vila Boa [Goiás] até Rio das
Pedras [São Paulo], tinha eu tido quiçá cem exemplos dessa
estúpida indolência. Esses homens, embrutecidos pela
ignorância, pela preguiça, pela falta de convivência com
seus semelhantes, e, talvez, por excessos venéreos
prematuros, não pensam: vegetam como árvores, como as
ervas dos campos. [...] Grande número de homens, mulheres e
crianças desde logo rodeou-me. [...] À primeira vista, a maioria
deles parecia ser constituída por gente branca; mas a largura de
suas faces e proeminência dos ossos das mesmas traíam, para
logo, o sangue indígena que lhes corria nas veias, mesclado
com o da raça caucásica (SAINT-HILAIRE, 1972:95 – ênfase
acrescentada).
Quanto ao homem branco da cidade, principalmente o pertencente à classe social
elevada, o francês tece inúmeros elogios sobre a sua educação e bons modos.
[...] não será lícito concluir que os homens das classes elevadas
de São Paulo sejam mal-educados, pois são, ao contrário, de
fino trato, e a polidez dos paulistas estende-se até às classes
inferiores. As pessoas de posição cumprimentam-se mesmo
quando não se conhecem, e os indivíduos das classes
subalternas nunca deixam de tirar o chapéu às pessoas de
mais elevada posição social; mas é certo que tal demonstração
de deferência é atribuída menos à pessoa do que à posição que
ocupa (SAINT-HILAIRE, 1938:186 – ênfase acrescentada).
É importante observar, entretanto, que embora o naturalista francês teça elogios
ao homem urbano paulista de classe alta, ele ainda o considera inferior ao homem do
campo mineiro.
Elogiei a polidez e as boas maneiras dos habitantes de São
Paulo pertencentes às classes abastadas; acrescentarei que, na
parte oriental de Minas Gerais os agricultores são geralmente
mais civilizados dos que os da província de que me ocupo
neste momento [São Paulo] (HILAIRE, 1938:187-188).
Em outro trecho de seu relato, Saint Hilaire destaca a superioridade dos mineiros
em relação aos paulistas, pois estes últimos se misturaram a raça indígena.
O uso da rede, quase desconhecido na Capitania de Minas, é
muito espalhado na de São Paulo a exemplo dos hábitos dos
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índios, outrora numerosos nesta região. Já tive muitas vezes a
ocasião de notar, que por toda parte onde existiram índios, os
europeus, destruindo-os, adotaram vários de seus costumes e
lhes tomaram muitas palavras da língua. Se os mineiros têm
grande superioridade sobre o resto dos brasileiros, isto
provém, certamente, de que pouco se misturaram com os
índios (HILAIRE, 1938:136).
Nesses exemplos, nota-se claramente que Saint Hilaire, influenciado pela sua
visão etnocêntrica, percebe o morador do campo paulista como um ser inferior, alguém
sem conhecimento ou qualidade, que, por razão de seu isolamento seria, na visão do
“civilizador europeu”, semelhante a um animal selvagem. Essa mesma visão
etnocêntrica o faz enxergar o processo de miscigenação ocorrido em São Paulo como
algo negativo, prejudicial ao desenvolvimento da província.
Ainda em relação aos mamelucos, Saint Hilaire relata que estes, por serem
“desprezados pelos brancos de raça pura, os antigos mamalucos não deviam ter grande
vontade de residir na cidade” (HILAIRE, 1945:188). Tal isolamento pode ter acentuado,
nos mestiços, as características culturais e linguísticas do lado materno indígena, como
aponta Saint Hilaire na passagem seguinte:
Os mamalucos não herdaram apenas o gosto pela vida errante
que caracteriza os indígenas, pois destes herdaram também a
descuidada preguiça, vício esse que mais se acentuou em
relação aos que não tinham coragem de se aventurar pelos
desertos. Criados pelas indígenas, esses homens viviam em
completo isolamento, desprezados pelos pais; ninguém
procurava elevá-los da ignorância em que jaziam. Seus
costumes
eram, necessariamente,
grosseiros. Vários
cruzamentos, em verdade aproximaram da raça caucásica os
descendentes dos primeiros mestiços; entretanto, como já tive
ensejo de observar, notam-se ainda, na fisionomia de um grande
número de agricultores paulistas, traços característicos da raça
americana; eles não procuram instruir-se, seu modo de vida
continua a se ressentir da rusticidade de seus antepassados
pelo lado materno, cuja indolência herdaram também
(HILAIRE, 1945:188).
3.1.2 A interação campo e cidade
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Conforme apontado no tópico anterior, o homem urbano diferenciava-se cultura e
socialmente do homem do campo. Este último caracterizava-se por ser desprezado pelo
primeiro e por descender de índios.
O contato entre o homem do campo e o da cidade se dava em dois momentos
principais: durante as atividades comerciais e as festividades religiosas.
Não há em São Paulo rua mais frequentada do que a das
Casinhas. A gente do campo ali vende suas mercadorias aos
comerciantes em cujas mãos os consumidores vão adquiri-las.
(HILAIRE, 1945:181 – grifo meu).
Saint Hilaire explica que os homens das classes mais baixas participavam dessas
festividades sem conhecer o seu real sentido, diferentemente daqueles das classes mais
altas que embora conhecessem o seu significado, faziam-no apenas por costume.
Estas festas para cá atraem grande número de pessoas do
campo. Segui parte dos ofícios e doeu-me a falta de atenção
dos fiéis. Ninguém se compenetra do espírito das festas. Os
homens mais distintos nelas tomam parte pela força do
hábito e o povo como a um grande divertimento. No ofício
de Quinta-Feira Santa, a maioria dos presentes recebeu a
comunhão da mão do bispo. Olhavam todos à direita e à
esquerda, conversavam antes deste solene momento e
recomeçavam a conversar imediatamente depois. Há, aliás, uma
circunstância que deve servir de desculpa ao povo. Ignora ele o
fim e o sentido das cerimônias religiosas, não entende a língua
em que o padre invoca o Senhor. E como ninguém usa livro de
missa nas igrejas nada existe absolutamente capaz de fixar a
atenção dos fiéis (HILAIRE, 1938:172 – grifo meu).
3.1.3 As mulheres paulistas
As diferenças sociais eram, no início do século XIX, muito significativas. Saint
Hilaire, ao retratar a mulher paulista da época, fala sobre a importância que o poder
econômico tem sobre o papel desempenhado por elas dentro da sociedade. Enquanto as
mulheres de classe social mais elevada cuidam dos afazeres domésticos, as de classe
social baixa se prostituem para sobreviver.
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As mulheres ricas, informaram-me, trabalham em leves
serviços no interior de suas casas — bordam, fazem flores,
enquanto que um grande número de mulheres pobres
permanecem em ociosidade durante o dia, e, quando a noite,
espalham-se pela cidade, dedicando-se ao tráfico de seus
encantos, como único recurso de subsistência (SAINTHILAIRE, 1945:187 – ênfase acrescentada).
Em outra passagem, o naturalista francês, mostra-se impressionado com o
número de prostitutas existentes pelas ruas da cidade de São Paulo.
Em nenhuma parte do mundo por mim percorrida vi
tamanho número de prostitutas; eram de todas as cores; as
calçadas ficavam, por assim dizer, cobertas de mulheres dessa
baixa espécie. Caminhavam devagar ou esperavam os fregueses
nas esquinas; mas, cumpre dizer, nunca abordavam os homens,
nem costumavam injuriá-los ou injuriar-se entre si; olhavam
apenas quem passava, conservando uma espécie de pudor
exterior, e nada demonstravam de cínico despudor que, na
mesma época, era tão frequentemente revelado pelas prostitutas
parisienses de baixa classe. É desagradável, para um viajante
sério, descer a tão tristes detalhes; mas deve ter a coragem de
fazê-lo, quando tem oportunidade de mostrar a que estado de
degradação podem chegar as classes pobres, inteiramente
abandonadas, se lhes não é ministrada uma educação moral
e religiosa. Os filhos dessas numerosas mulheres, apenas
vindos ao mundo, têm ante os olhos exemplos dos vícios; as
lições que recebem são as da infâmia; e o sacerdote, olvidado
dos preceitos de seu divino mestre, não exclamam como este
último exclamou — Deixae vir a mim as criancinhas — Essas
pobres criaturas crescem e parecem com as mães. (HILAIRE,
1945:187)
Nota-se, pelo excerto acima, que Saint Hilaire atribui o número elevado de
prostitutas em São Paulo não somente a dificuldades financeiras e econômicas, mas,
também, à falta de educação moral e religiosa entre a população de classe baixa.
Os alemães, Martius & Spix, descrevem as mulheres paulistas como joviais e
extrovertidas e possuindo a mesma simplicidade característica dos homens paulistas.
Quando as comparam às mulheres de outras partes do Brasil, afirmam que, em São
Paulo, as mulheres são mais ingênuas, haja vista o modo simples de pensar e agir de
toda esta província.
The women of S. Paulo have the same simplicity as the men.
The tone of society is jovial and unaffected, animated by
ready and cheerful pleasantry. They have been unjustly
accused of giddiness. If the spirit of conversation is strongly
contrasted with the refined manners of their European relatives,
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among whom a jealous etiquete prohibits the unrestrained
expression of feeling; their artless liveliness does not excite
surprise, in a province where a free and simple mode of
thinking has been retained, more than in any other part of Brazil
(Spix & Martius, p.8, Vol II – ênfase acrescentada).
3.2 O Espaço Urbano: o clima, a geografia e a arquitetura da cidade
Martius & Spix (1834:22) descrevem o clima de São Paulo como um dos mais
agradáveis do mundo. O francês Saint Hilaire (1945:173) também exalta o clima
paulista, “a situação de São Paulo é encantadora e é puro o ar que ali se respira” e elogia
a arquitetura e a localização da cidade. “[...] São Paulo possui, como se vê, vários
edifícios públicos e todos concordam em que ela é bonita e está muito bem situada
(HILAIRE, 1945:179).
Ao descreverem a arquitetura da cidade de São Paulo, os alemães chamam a
atenção para a amplitude, limpeza e boa iluminação das ruas:
The style of architecture indicates by the frequent latticed
balconies which have not disappeared here as in Rio, that it is
above a century old; the streets, however, are very broad,
light, and cleanly, and the houses mostly two stories high.
They seldom build here with bricks, and still less with stone,
but usually raise the walls of two rows of Strong posts or
wicker work, between which clay is rammed (casas de taïpa) a
method which much resembles what is called the pise in France
(Spix&Martius, Vol. II, 1834:316 – grifo meu).
Entretanto, quando falam das casas dos mestiços em Jacareí, relatam que as suas
habitações são “sujas e úmidas” como o clima do local (Spix&Martius, 1834:316).
No trecho a seguir, Saint Hilaire descreve detalhadamente as habitações da
cidade:
As casas, construídas de taipa muito sólida, são todas brancas e
cobertas de telhas côncavas; nenhuma delas, apresenta grandeza
e magnificência, mas há um grande número que, além do andar
térreo, tem um segundo andar e fazem-se notar por um aspecto
de alegria e de limpeza. Os telhados não avançam
desmesuradamente além das casas, mas têm bastante extensão
para dar sombra e garantir as paredes contra as chuvas. As
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janelas não se fecham umas contra as outras, como é comum no
Rio de Janeiro. As das casas de um andar possuem quasi todas
vidraças, e são guarnecidas de balcões e postigos pintados de
verde. As outras casas têm venezianas, que se erguem de baixo
para cima, formadas de travessas de madeira cruzadas
obliquamente (HILAIRE, 1945:175).
Ele segue elogiando as moradias dos habitantes de classe alta da cidade:
Vi moradias dos principais habitantes de São Paulo tão lindas
por dentro como por fora. As visitas são recebidas em um
salão muito limpo e mobiliado com gosto. As paredes são
pintadas com cores muito frescas; mas nas casas antigas vêemse desenhos e grandes arabescos; nas mais modernas as paredes
têm uma só côr e são guarnecidas com barras e rodapés,
imitando os nossos papéis pintados. Como não existem lareiras,
colocam-se sobre mesas os objetos de ornato, como sejam —
castiçais, redomas, relógios etc. (HILAIRE, 1945:175-176 –
grifo meu).
Saint Hilaire relata, ainda, que, entre os anos de 1818 e 1820, havia em São
Paulo somente duas paróquias, sendo criada uma terceira durante a sua estadia na
província.
De 1818 a 1820, só havia em São Paulo duas paróquias - a
catedral e Santa Ifigênia, esta situada no subúrbio do mesmo
nome,que se estende à margem esquerda do Hinhangabahú. Em
época menos remota, foi criada uma terceira paróquia — a do
Bom Jesus do Braz. Além das três igrejas paroquiais, existem
ainda em São Paulo diversas capelas. De 1819 a 1822,
contavam-se, na cidade, dois recolhimentos para mulheres e três
conventos para homens - o dos beneditinos, fundado em 1598; o
dos carmelitas descalços, fundado em 1596; e o dos
franciscanos (HILAIRE, 1945:175).
3.3 O Falar Paulista
Os relatos dos viajantes aqui estudados evidenciam o processo de segregação
social que vem ocorrendo no Brasil desde o início da colonização do país. De acordo
com Luchesi (2009:69), esse processo refletiu e ainda reflete no modo de falar das
camadas sociais mais baixas e, geralmente, compostas por negros e mestiços.
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Saint Hilaire manifesta sua oposição ao processo de miscigenação ocorrido na
província de São Paulo. Para ele, essa mistura de raças e culturas afetou negativamente
a língua dessa camada da população e se constitui em um entrave para o bom
desenvolvimento socioeconômico da província, uma vez que os mestiços adotam os
costumes dos indígenas. O naturalista elogia os mineiros por não terem se misturado
com os índios, fato que, segundo ele, faz com que os mineiros sejam superiores aos
paulistas.
O uso da rede, quase desconhecido na Capitania de Minas, é
muito espalhado na de São Paulo a exemplo dos hábitos dos
índios, outrora numerosos nesta região. Já tive muitas vezes a
ocasião de notar, que por toda parte onde existiram índios, os
europeus, destruindo-os, adotaram vários de seus costumes
e lhes tomaram muitas palavras da língua. Se os mineiros
têm grande superioridade sobre o resto dos brasileiros, isto
provém, certamente, de que pouco se misturaram com os
índios. (HILAIRE, 1945:136)
O francês critica severamente o modo de falar dos habitantes do interior da
província de São Paulo e cumprimenta os mineiros pela sua correção na pronúncia que,
para ele, supera a europeia.
[...] não deve causar admiração o fato dos habitantes do
interior da província de São Paulo falar e pronunciar muito
incorretamente o português, ao passo os do interior da de
Minas Gerais, ao menos na parte oriental dessa província,
falam, em geral, com correção, e têm uma pronúncia que só
difere da dos portugueses da Europa em ser mais melodiosa e
mais suave (HILAIRE, 1945:189).
Os paulistas do interior, em vez de vossemecê, abreviação de
vossa mercê, pela qual é designada a segunda pessoa, dizem
mecê; sua pronúncia é áspera e arrastada. Substituíram eles por
ts e ch português, dizendo, por exemplo, matso por macho e
atso por acho (do verbo achar) etc. (HILAIRE, 1945:189)
No trecho em que Saint Hilaire relata a sua passagem pela região de Jacareí,
mais uma vez, ele manifesta seu desprezo em relação ao modo de falar do habitante do
interior da província e à possível influência da língua indígena nessa variante da língua.
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Os homens desta região, tardos de movimentos, parecem
indiferentes a tudo. Não mostram a menor curiosidade, falam
pouco e são muito menos educados que os de Minas. A
pronúncia portuguesa toma na boca destes últimos uma
doçura que não existe na dos portugueses da Europa; mas
aqui esta doçura torna-se já moleza; as inflexões são pouco
variadas, e têm qualquer coisa de infantil, que lembra a
língua dos índios. (HILAIRE, [1822]1932:155)
Os exemplos acima ilustram a visão do viajante europeu em relação ao modo
de falar e agir do homem do campo paulista. Nos relatos, fica clara a influência do
meio social e econômico no modo de falar da população da província (urbana e rural).
Sobre isso, Luchesi (2009:53) explica que, se de um lado tínhamos, nos séculos
XIX e anteriores, uma pequena parcela da população que cultivava a língua e as “boas
maneiras” do colonizador europeu, do outro, tínhamos a grande maioria adquirindo a
língua de forma precária e irregular, alterando-a a partir da nativização desses modelos
defectivos. E foi exatamente isso que aconteceu em São Paulo. O homem branco de
classe alta tinha acesso a variante de prestígio da língua, o modelo europeu; enquanto,
os negros e mestiços de classe baixa tinham pouco ou quase nenhum acesso a essa
variante, haja vista os raros momentos de interação entre as diferentes camadas da
sociedade.
CONSIDERAÇÃO FINAIS
As análises e a discussão apresentadas neste este trabalho são preliminares. Elas
abrem espaço para análises mais elaboradas do material deixados pelos viajantes
europeus para fomentar discussões acerca da influência dos contatos e do ambiente para
a formação da variedade paulista do português brasileiro.
Para tanto, faz-se necessário realizar um estudo mais aprofundado desses relatos
com especial atenção ao retrato que esses viajantes fizeram acerca do “caipira”.
Contudo, é mister observar que, embora sejam receptivos por natureza, esses viajantes
sendo cientistas formados dentro da tradição europeia, traziam conscientemente ou
inconscientemente a visão do “civilizador” europeu em suas descrições.
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Falta ainda uma análise detalhada das cantigas apresentas por Martius & Spix e um
estudo sobre a possível razão da inclusão dessas canções populares em Travels in
Brazil. Estes estudos podem ajudar a entender as manifestações culturais na cidade de
São Paulo no século XIX.
Ao longo dessa investigação, verificou-se que, em suas viagens pelo Brasil, Karl
von Martius, Spix e Auguste de Saint Hilaire mantiveram sobre os lugares por onde
passavam, o olhar etnocêntrico do “civilizador europeu”. Os relatos de viagem desses
naturalistas são construídos através das visões e dos valores do velho mundo. Tal ponto
de vista fica evidenciado nas descrições, com julgamento de valor, das diferenças
existentes entre o homem urbano e o rural.
Eles entendem que o meio reflete no modo de agir, pensar e falar do “caipira” e do
homem urbano. Contudo, ao descreverem tais diferenças, depreciam o homem do
campo por constituir um ser introspectivo que, de acordo com a visão etnocêntrica
desses viajantes, falava muito mal o português e não era de “raça pura”. Ao se referirem
ao homem urbano, elogiam-no, principalmente o branco, de “raça pura”, visto que este
assemelhava-se ao europeu, em suas “boas” maneiras e em seu modo de falar.
O reflexo desse pensamento pode ser notado até os dias atuais, quando a fala do
homem do interior, o antigo “caipira”, é constantemente depreciada em relação a do
habitante dos grandes centros urbanos.
Nota-se, pela leitura e análise dos relatos, que o espaço urbano era ocupado
majoritariamente pelos brancos descendentes do colonizador europeu. Os negros,
mulatos e, principalmente, os mamelucos habitavam as regiões mais afastadas da cidade
e, como não tinham acesso à educação formal e mantinham pouco ou nenhum contato
com a camada da população instruída, não eram expostos a variante de prestígio da
língua.
Todos esses fatores contribuíram para polarização sociolinguística existente no
Brasil hoje em variedades cultas e populares8.
8
Ver LUCHESI, 2009.
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REFERÊNCIAS
LUCHESI, D. “História do contato entre línguas no Brasil”. In: LUCHESI, D.;
BAXTER, A.; RIBEIRO, I. O português afro-brasileiro. Salvador, EDUFBA, 2009.
MATOS, O. N. “A cidade de São Paulo no século XIX” in: AZEVEDO, A. (Coaut. de).
(1958) A cidade de São Paulo: estudos de geografia urbana. São Paulo, SP:
Nacional. 4v., il. (Brasiliana, v.14, 14A, 14B, 14C). 1958. pp. 49-95.
SAINT-HILAIRE, A. de. Segunda viagem do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São
Paulo: 1822. 2. ed. São Paulo, SP: Nacional, 1938. 222p. (Brasiliana, v.5).
______________________. Viagem a Provincia de São Paulo e Resumo das viagens
ao Brasil, Provincia Cisplatina e Missões do Paraguai. 2. ed. São Paulo, SP: Martins,
1945. 375p.
SPIX, J. B.; MATIUS, K. F. Travels in Brazil, in the years 1817-1820. Undertaken by
command of His Majesty the King of Bavaria. Vol I. London, printed for Longman,
Hurst, Rees, Orme, Brown and Green, 1824.
_______________________. Travels in Brazil, in the years 1817-1820. Undertaken
by command of His Majesty the King of Bavaria. Vol II. London, printed for Longman,
Hurst, Rees, Orme, Brown and Green, 1824.
Recebido Para Publicação em 26 de outubro de 2015.
Aprovado Para Publicação em 21 de janeiro de 2016.
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