Programa "Alimente-se Bem": educação alimentar e

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Programa "Alimente-se Bem": educação alimentar e
Programa "Alimente-se Bem": educação alimentar e
nutricional nas ondas de rádio
Resumo
As práticas de educação nutricional, a partir de diversas estratégias, visam auxiliar no
processo de conhecimento e implementação de comportamentos alimentares saudáveis,
em indivíduos ou grupos populacionais. Quando realizada com êxito, o resultado desse
processo é a mudança no padrão de comportamento alimentar, e não somente a melhora
do conhecimento sobre nutrição. Nesta perspectiva, a radiodifusão constitui-se um
instrumento que oferece uma grande potencialidade para a realização atividades de
educação nutricional, principalmente em cidades com menor contingente populacional,
populações de baixa renda e em regiões pouco industrializadas, com predomínio de
atividade rural. O presente trabalho descreve a experiência de implantação do programa
“Alimente-se bem”, em uma emissora de rádio da cidade de Santa Cruz-RN, que além
do próprio município abrange outras cidades do território do Trairí potiguar. O
programa é caracterizado por vinhetas de curta duração, com informações sobre
alimentação e nutrição, veiculadas de segunda à sexta-feira, em horário fixo da
programação da rádio. Para tanto, são realizadas reuniões periódicas para a definição
dos blocos temáticos; posteriormente, é realizada uma pesquisa na literatura, por alunos
do curso do nutrição, para composição do texto das vinhetas. A seguir, todo o material
elaborado é revisado por docentes do curso de Nutrição da FACISA/UFRN, e
posteriormente gravado, editado e veiculado na rádio. Devido à relativa escassez de
nutricionistas atuando no interior do estado do Rio Grande do Norte, especialmente nas
pequenas comunidades rurais, e/ou realizando atividades de educação nutricional mais
diretamente com o público, esta iniciativa configura-se uma importante estratégia no
sentido de fomentar o protagonismo destes sujeitos na construção de hábitos alimentares
saudáveis.
INTRODUÇÃO
Nenhum outro meio de comunicação conseguiu obter o mesmo sucesso que o
rádio em relação ao alcance social e espacial, bem como em sua adaptabilidade às
diferentes realidades culturais e sociais de um país com dimensões continentais. O baixo
custo do aparelho, a facilidade do manuseio, o dinamismo e a disseminação de
informações de interesse local são alguns dos fatores responsáveis pelo êxito desta
plataforma de comunicação (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA,
2011).
Em especial em regiões nas quais há um grande contingente de pessoas vivendo
e trabalhando na zona rural e/ou menor nível de industrialização, há uma maior procura
do rádio enquanto fonte de informação e notícias. Mesmo em zonas urbanas, a
radiodifusão ainda é bastante popular, entre outras coisas, por ser possível acompanhar
suas
transmissões
durante
deslocamentos
ou
realizando
outras
tarefas,
concomitantemente (PRADO, 2007).
Atividades de educação em saúde utilizando o rádio, além de serem bem vistas
pela população, encontram também boa aceitação entre profissionais de saúde, tanto
pelo grande alcance das atividades, quanto também pela baixa complexidade inerente ao
uso desta plataforma. No entanto, é consenso que a utilização do rádio, na área da
saúde, não tem sido explorada adequadamente, por vezes restritas a eventos pontuais e
descontinuados, havendo necessidade de maiores investimentos e incentivos à produção
e implementação atividades de comunicação em saúde utilizando esta tecnologia
(OLIVEIRA, 2014).
Trata-se, ainda, de uma maneira de romper com paradigmas antiquados de
educação em saúde, na qual há uma concentração de informações em um limitado
número de espaços e veículos de comunicação (NETO; PINHEIRO, 2013).
Notadamente, é observado um maior número de iniciativas por parte de
profissionais de enfermagem na utilização da transmissão radiofônica para atividades de
educação em saúde, muitas vezes relacionadas a atividades de extensão universitária. O
foco destas atividades é não apenas ensinar a prevenir agravos à saúde mas, também,
fornecer subsídios para auxiliar na tomada de decisões, construindo autonomia e uma
corresponsabilização nesse cuidar em saúde (ROGES et al., 2013; ROSSETO;
ROSSETO, 2013)
Particularmente em relação a alimentação e nutrição, o maior empoderamento
permite não apenas o reconhecimento de comportamentos e práticas não-saudáveis, mas
também atuação do próprio indivíduo enquanto agente transformador desta realidade.
Esta mudança se dá não apenas pelo repensar do consumo alimentar, mas pela maior
compreensão do contexto no qual as práticas alimentares estão inseridas e nas políticas
e estratégias governamentais que permeiam
a questão
(MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME et al., 2014).
Segundo a Organização Mundial de Saúde, para que ocorra este processo de
delegação do poder, no qual devem ser incrementadas as capacidades de tomada de
decisão e responsabilização, fortalecendo a realização direito humano à alimentação
adequada, uma ferramenta indispensável é a Educação Nutricional (FOOD AND
AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO), 2014)
A Educação Nutricional engloba todas as atividades de comunicação pelas quais
se busca a mudança voluntária de práticas alimentares inadequadas, a partir do
reconhecimento da necessidade desta mudança, posterior a uma análise crítica do sujeito
sobre sua própria alimentação e bem estar (REZENDE; MURTA; MACHADO, 2011).
Neste aspecto, desde a década de 1980 vem sendo intensamente discutida a
necessidade de ruptura de práticas de educação nutricional "tradicionais", e a
necessidade de utilizar diferentes estratégias e instrumentos para abordagem de
indivíduos e de coletividades. Referente a este ponto, o rádio representa uma ferramenta
de comunicação de grande alcance populacional, acessível a todos os níveis de
instrução, e que possui características de linguagem e interface bastante diversificadas, a
depender da comunidade na qual está inserido (FOOD AND AGRICULTURE
ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO), 1999).
Um dos casos mais emblemáticos da utilização do rádio para atividades de
educação nutricional é o de Geraldo Horácio de Paula Souza, médico sanitarista, que em
1940, instou a população ao aumento no consumo de laranjas, esclarecendo sobre seu
valor nutricional. À época, embora houvesse oferta e preço acessível da fruta, havia
preocupação pelo baixo consumo de frutas, em geral, na população de São Paulo, o que
motivou o programa de rádio. Como resultado, foi observada uma maior valorização da
laranja
enquanto
constituinte
do
repertório
alimentar
da
família
brasileira
(RODRIGUES; VASCONCELLOS, 2007).
Assim, embora relativamente pouco explorado, o rádio representa uma
plataforma de comunicação de grande valia para o desenvolvimento de atividades de
Educação Nutricional. Trata-se de uma estratégia que tem grande potencial para
contribuir, inclusive, com a efetivação do direito humano à alimentação adequada, uma
vez que pode auxiliar na capacitação e construção de habilidades que qualifiquem a
participação popular no processo de tomada de decisões sobre sua própria segurança
alimentar e nutricional (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E
COMBATE À FOME et al., 2014).
No entanto, para que se obtenha o efeito desejado junto ao ouvinte, é necessário
critério e cuidado na elaboração das informações em saúde veiculadas pelo rádio. Por
vezes, a disponibilidade de recursos, financeiros e humanos, é limitada, e podem ser
verificadas inconsistências nas informações repassadas ou, ainda, uma publicidade
disfarçada em orientação nutricional. Estas preocupações são ainda mais relevantes em
municípios menores e nos quais o rádio tem um poder de penetração e credibilidade
maior ainda (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2011).
Ademais, quando se pensa na continuidade de um programa sobre alimentação e
nutrição, bem como na multiplicidade de dúvidas e práticas que permeiam esta temática
no cotidiano das pessoas, percebe-se a necessidade de um profissional nutricionista à
frente de estratégias de educação nutricional para a coletividade. Esta é uma
necessidade, inclusive, discutida pelos próprios profissionais de saúde que atuam em
equipes da Estratégia de Saúde da Família, que muitas vezes encontram dificuldades em
abordar assunto relacionados a nutrição. (BOOG, 1999; MATTOS; NEVES, 2009)
No entanto, muitas cidades do interior do nordeste, inclusive no estado do Rio
Grande do Norte, não oferecem atendimento nutricional na rede básica de saúde, ou
suporte para a realização de atividades coletivas continuadas neste âmbito.
Frequentemente, também, é encontrada a situação na qual profissionais nutricionistas
acumulam diversas funções, em municípios de pequeno porte, o que acaba acarretando
em profundas lacunas no que diz respeito a disponibilidade de tempo para planejamento
e execução de ações de Educação Nutricional.
OBJETIVOS
Desenvolver e implementar um programa radiofônico, chamado “Alimente-se
Bem”, com o objetivo de divulgar e discutir temas relativos à alimentação e nutrição, de
modo a fomentar hábitos alimentares saudáveis, contribuindo para a implementação da
segurança alimentar e nutricional na região do Trairi potiguar.
Durante esse processo, buscou-se ainda qualificar os participantes do projeto,
docentes e discentes, no sentido de desenvolverem habilidade e competências para a
melhor utilização do veículo radiofônico, enquanto estratégia para o desenvolvimento
de atividades de educação nutricional.
METODOLOGIA
As atividades foram desenvolvidas na cidade de Santa Cruz, no estado do Rio
Grande do Norte, situada a 111 quilômetros da capital, considerada município polo do
território do Trairí potiguar. A rádio no qual foi veiculado o programa "Alimente-se
bem", também pode ser sintonizada nos demais municípios que compõe este território
(Boa Saúde, Campo Redondo, Coronel Ezequiel, Jaçanã, Japi, Lajes Pintadas, Monte
das Gameleiras, Santa Cruz, São Bento do Trairi, São José de Campestre, Serra Caiada,
Serra de São Bento, Sítio Novo, Passa e Fica e Tangará). O território do Trairi
caracteriza-se como tipicamente rural, com 34,7% da população residindo no campo, e
taxa de urbanização relativamente baixa (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO
AGRÁRIO; SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL; SISTEMA
DE INFORMAÇÕES TERRITORIAIS -SIT, 2010).
Inicialmente foi realizado contato com o radialista Alex Santos, da rádio Santa
Cruz AM (1410 khz), que mostrou interesse na parceria, que foi formalizada sob a
forma de um projeto de extensão, intitulado "Alimente-se Bem", cujas atividades
iniciaram no ano de 2013 e duram até o presente momento.
O programa é composto por vinhetas curtas, com aproximadamente 5 minutos
de duração, veiculadas uma vez ao dia, de segunda a sexta, às onze horas e trinta
minutos da manhã, um horário de grande audiência na rádio.
O processo de elaboração do material veiculado na rádio está esquematizado na
Figura 1. O primeiro passo é a reunião de planejamento geral, da qual participam
coordenador do projeto e professores orientadores, onde são definidas áreas temáticas a
serem trabalhadas por cada professor orientador. O planejamento e definição dos temas
é feita mensalmente, pelo coordenador e os alunos, sendo os temas escolhidos de acordo
com datas comemorativas, sugestões dos participantes (professores orientadores e
alunos), participação dos ouvintes da rádio, ou em consonância com ações de saúde que
estejam sendo realizadas no município ou ainda em virtude de maior repercussão de
algum assunto, na mídia.
Figura 1: Fluxograma de elaboração das vinhetas do programa radiofônico "Alimentese Bem".
A seguir, os discentes realizam o levantamento de material informacional sobre
os temas selecionados em livros didáticos, revistas científicas, bases de dados
eletrônicas e livros de receitas culinárias. O próximo passo é a elaboração do texto que
irá compor a vinheta. Além da qualidade técnica da informação, o texto precisa também
estar adequado à linguagem radiofônica, de modo que seja atraente para o ouvinte,
conciso e informativo. Esses textos elaborados pelos alunos são então enviados aos
professores orientadores, para revisão e adequação dos mesmos. Este processo é
repetido até que a qualidade do material elaborado seja considerada satisfatória, o que é
chamado de versão final do texto.
Os próximos passos dizem respeito à produção do programa, propriamente dito.
No estúdio da rádio, mediante agendamento, é realizada a gravação das vinhetas, pelos
alunos, sob supervisão do pessoal técnico da Santa Cruz AM. A seguir, esse material é
editado e veiculado na programação matinal da emissora.
A equipe responsável por este processo de produção de programas contou com a
participação simultânea de 1 professor coordenador, 2 a 5 professores (coordenadores
adjuntos e/ou orientadores); 5 a 10 alunos do curso de graduação em Nutrição, dentre
estes 1 bolsista (apenas no ano de 2013) e os demais alunos voluntários, e 1 radialista.
Visando a qualificação da equipe envolvida na produção do "Alimente-se Bem",
foram conduzidas reuniões periódicas e capacitações sobre comunicação em saúde e
comunicação radiofônica, de modo a melhorar qualidade do material produzido.
RESULTADOS ALCANÇADOS
Ao longo dos dois anos e meio de existência do projeto de extensão, já foram
produzidos e gravados 447 vinhetas, sobre os mais diferentes temas. No quadro 1 são
apresentados alguns dos temas trabalhados neste período.
Quadro 1: Temário geral do programa Alimente-se Bem, no período de fevereiro de
2013 a maio de 2015.
Nutrição na
Hipertensão Arterial
Alimentação
vegetariana
Substâncias tóxicas em
alimentos
Alimentos Funcionais
Aproveitamento
integral dos alimentos
Aditivos alimentares
O que é carboidrato?
Por dentro do
Chocolate
Alegações de saúde
Diminuindo a perda de
nutrientes no preparo
dos alimentos
Desafios na
alimentação da família
Gorduras Trans
Hábitos alimentares na
adolescência
Prevenção da
contaminação dos
alimentos
Por dentro da
Rotulagem de alimentos
Semana da carne
Semana do arroz e
feijão
Semana do nutricionista
Semana dos laticínios
Semana dos vegetais
Conhecendo o Sódio
Intoxicação alimentar
Utensílios de cozinha e
embalagens
Valor nutritivo do peixe
Conhecendo as
vitaminas
Minerais importantes
para a saúde
Consumo de água
Frutas, verduras e
legumes
Comendo fora de casa
Truques do
supermercado:
promoções e
embalagens
Mídia e alimentação
Intolerância a lactose
Intolerância ao glúten
Mitos, crenças e
curiosidades sobre
alimentação
Alimentação e diabetes
Alimentação e
memória
Alimentação Infantil
Alimentação nas
festividades de Natal
Alimentação no
carnaval
Alimentação no verão
Alimentação saudável
e custo acessível
Alimentos funcionais
para a saúde do homem
Café
Chás fitoterápicos
Doença celíaca
Conhecendo os Grupos
alimentares
Dietas da moda
Dez passos para uma
alimentação adequada
Dicas de alimentação
para as festividades
juninas
Dicas e receitas para o
hipertenso
Diet x light
Intolerância alimentar
Novo Guia Alimentar
para a População
Brasileira
Nutrição e estética
Semana do
nutricionista
A importância do Ferro
na Alimentação
Comprando alimentos
Alimentação
complementar
Alimentação da criança
menor de dois anos
Alimentação da
gestante
Alimentação do idoso
Alimentação do recém
nascido
Alimentação e atividade
física
Alimentação e meio
ambiente
Alimentação e doenças
cardiovasculares
Alimentação e Saúde
Bucal
Fibras alimentare s
Na escolha dos temas, procurou-se diversificar o máximo possível, construindo
textos que, apesar de embasados em material de cunho científicos, fossem escritos e
falados em linguagem simples e acessível. Muito cuidado foi tomado, também, para não
sobrecarregar o ouvinte com muitas informações de uma só vez. Para isto, cada assunto
era desmembrado em vários aspectos, salientando-se os pontos principais, de modo a
tentar fixar aquilo que fosse mais importante em cada temática. Outro cuidado foi,
quando da divulgação de preparações culinárias e/ou alimentos fontes, tentar priorizar
alimentos típicos e disponíveis na região, preferindo ainda aqueles de menor custo.
Figura 2: Estudantes de nutrição participam da gravação do programa radiofônico
"Alimente-se Bem".
Acreditamos que o resultado final tem encontrado uma boa aceitação junto ao
público, o que pode ser percebido em comentários feitos aos alunos, quando suas vozes
são "reconhecidas" durante atividades na comunidade, e também pelos registros feitos
por alguns ouvintes, junto à equipe da rádio, sobre o programa Alimente-se Bem,
conforme se segue.
"Muito bom, não perco nenhum! Preciso entender tudo que
se diz sobre os alimentos!"
Francisca F. G. da Silva (55 anos) - Lajes Pintadas/RN – Sitio
Catolé
"Eu sempre procuro fazer o que ouço, aqui em casa."
Maria S. C. P. Souza (24 anos) - Santa Cruz/RN – Sitio Mata
Pasto
"Acho o programa muito bom, porque traz dicas para a
gente se alimentar corretamente!"
Sueli P. de Souza (40 anos) - Santa Cruz/RN - Conjunto
Cônego Monte
Além das orientações repassadas nas reuniões, em 2014 foram realizados 3
eventos, visando a melhor qualificação da equipe:
1-Mesa Redonda: #FICADICA: utilizando a comunicação na promoção à saúde, na
qual docentes dos cursos de Nutrição, Fisioterapia e Enfermagem da FACISA/UFRN
apresentaram a importância que a comunicação em saúde tem como meio de
divulgação, promoção e proteção da saúde. Nesse sentido, buscou-se estimular a
comunicação em saúde, visando mudanças na forma de olhar a saúde tanto por meio
dos transmissores da informação, como consequentemente daqueles a que irão recebêlas, contribuindo para melhorar a qualidade de vida da população. Sendo assim,
acredita-se que houve contribuição com a formação profissional dos alunos da
FACISA, uma vez que foram apresentadas estratégias que podem ser utilizadas na
comunicação em saúde, as quais servirão de base para ações de extensão e pesquisa em
saúde, bem como em atividades profissionais futuras.
2-Mini curso: “Noções básicas em comunicação radiofônica: um elo entre alimentação,
saúde e comunidade”, ministrado por palestrante graduado em Letras e mestrando em
Linguística (ambas pela UFRN), docente em um curso de graduação em Comunicação
Social e radialista na Rádio Santa Cruz AM. O minicurso teve uma abordagem teóricoprática em decorrência da experiência do palestrante como docente e radialista, na qual
os participantes puderam receber orientações sobre postura, tom de voz e
comportamento durante a participação ou gravação de programa de rádio.
3-Mini curso: “PREZI pelas suas apresentações”, ministrado por docente da
FACISA/UFRN. O curso visou apresentar o software PREZI, que é um software na
modalidade cloud utilizado para a criação de apresentações não lineares e assim, poder
disponibilizar no site da Rádio Santa Cruz e da FACISA/UFRN as mesmas informação
veiculadas no programa de rádio de forma visualmente atrativa para o público que
acessa a rádio pela internet. No curso foram apresentados aos participantes, de forma
clara e simples, os primeiros passos de iniciação ao Prezi; bem como uma visão geral
dos comandos básicos realizados no referido programa: inserção de texto, música,
vídeo, imagem, efeitos e elaboração de trilha. A abordagem foi teórico –prática, na qual
os participantes puderam assistir a explanação da palestrante e simultaneamente
exercitar a utilização dos recursos disponíveis no PREZI.
Figura 3: Discente de nutrição durante a gravação do programa radiofônico "Alimentese Bem".
Todos os eventos citados foram planejados para atender a uma demanda de
capacitação dos discentes e docentes envolvidos na produção do Programa “Alimente-se
Bem”. Adicionalmente, buscando fomentar o interesse e fornecer subsídios para a
utilização da radiodifusão em práticas de educação em saúde, estes eventos foram
abertos para a participação dos demais membros da comunidade acadêmica, que possui
em torno de 600 alunos regularmente matriculados, além de servidores e docentes.
Todos os interessados puderam participar, sem custo de inscrição e receberam
certificado expedido pela Pro reitoria de Extensão da UFRN.
Outro ponto positivo, observado durante o decorrer das atividades do projeto,
foi o desenvolvimento, nos discentes, de habilidades e técnicas de comunicação em
saúde, necessárias ao processo de construção do programa de rádio. Ademais, entendese que o programa foi uma excelente forma de divulgar a ciência da Nutrição e a
profissão do Nutricionista em cidades do interior do estado.
Figura 4: Discentes de nutrição e jornalista Alex Santos, rádio Santa Cruz AM (1410
khz).
O sucesso da experiência também pode ser sentido pelos relatos da equipe da
Rádio Santa Cruz AM, sobre a excelente receptividade do programa, pelo público, o que
resultou em um convite para continuar a parceria. Assim, a rádio continuou a gravar,
editar e transmitir o programa, ao longo de 2014 e 2015, e não apenas em 2013, como
foi acordado inicialmente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência do Programa Alimente-se Bem configura-se como uma
experiência exitosa em comunicação em saúde, utilizando a plataforma do rádio para
divulgar informações sobre alimentação e nutrição, contribuindo para a efetivação do
direito humano à alimentação na região do Trairí potiguar.
Um elemento-chave nessa estratégia de educação popular foi a regionalização e
simplificação da linguagem e do conteúdo abordado, o que permitiu que assuntos
científicos fossem apresentados de forma clara à população, repercutindo positivamente
em relação a audiência do programa.
A experiência proporcionou também a integração entre alunos, profissionais do
ambiente acadêmico, profissionais nutricionistas e radialista durante o processo de
preparação, entrevistas com palestrantes e gravação dos programas, promovendo a
troca de conhecimento entre uma ampla diversidade de atores voltados para uma mesma
causa: fomentar a segurança alimentar e nutricional.
Diante do exposto e das conquistas alcançadas, defende-se a possibilidade de
aplicação da referida experiência em outros cenários, uma vez que a comunicação
radiofônica possui grande penetração, em comunidades rurais e urbanas, tendo diversos
meios de acesso à sua programação, seja pela pelas tradicionais ondas do rádio ou, de
uma forma mais contemporânea, através internet.
Acreditamos, ainda, ser esta uma estratégia que pode ser particularmente valiosa
em cidades do interior do Nordeste e/ou com grande contingente de população rural,
que geralmente tem menos oportunidades de participar de atividades de educação
nutricional. Adicionalmente, o baixo custo, o grande alcance e a relativa facilidade de
implantação fazem desta uma alternativa bastante atraente para se trabalhar temas
relativos ao campo da alimentação e nutrição com a comunidade.
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