Portugueses no Estrangeiro
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Portugueses no Estrangeiro
n.º 16 Fevereiro_2007 ÍNDICE EDITORIAL 7 . Que o novo mundo fale também português EM FEVEREIRO Ficha Técnica Ficha Técnica 8 REDACÇÃO Cremilde Santos DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO Paulo Simão MARKETING E COMUNICAÇÃO Paulo Carrasqueira TIRAGEM Versão online R. C. Social nº 124.623 PERIODICIDADE Mensal PROPRIETÁRIO T Media – Tecnologias de Informação, Lda Rua Nova do Soares Edifício Quinta das Pratas r/c Loja 4 2070-110 Cartaxo EDITOR0 CienciaMetrics – Ciência, Tecnologia e Inovação Editores, Lda Largo Mem Ramires, Casas da Atamarma 13 2000-105 Santarém e-MAIL [email protected] HOMEPAGE www.cienciapt.net/mundus TELEFONE (+351) 243 704 771 SABIA QUE... 106 ... pode fazer chamadas pela Internet a um custo muito mais reduzido . Cientistas portugueses discutem energia nuclear ENSINO SUPERIOR EM REDE . UA cria site que prevê o estado do tempo com qualidade e rigor científico INTERNACIONAL EM REVISTA 13 . Fármaco contra impotência também pode prevenir AVC 14 TECNOLOGIA 16 INOVAÇÃO 18 ENTREVISTA 20 . João Magueijo . Organismo possui molécula que pode proteger de HIV 86 . Pessoas com distúrbios psiquiátricos correm mais riscos de doenças cardiovasculares PUBLICAÇÕES 88 COLUNA - SAÚDE 92 . Rui Medeiros . Emprego Científico, Bolsas de Investigação e Apoio e Financiamento . Exposição ao fumo do tabaco no trabalho duplica risco de cancro 22 . Produção Científica Nacional Investigadores em Portugal e no Estrangeiro OPORTUNIDADES CIENTIFICAS . Alimentos ricos em melatonina retardam efeitos do envelhecimento . Tratamento para a insónia pode estar para breve . Investigadores Portugueses no Mundo FACTOS E NÚMEROS 118 . Ginecomastia pré-púbere provocada por produtos com lavanda CIÊNCIA CADERNO ESPECIAL 110 . As instituições de Ensino Superior . Vasco Eiriz COORDENAÇÃO Joana Vidigal Leal 104 . Diogo Barral . Taxa de penetração de Internet em Portugal pode atingir os 50 por cento COLUNA - GESTÃO DIRECTOR Susana Jorge [email protected] ENTREVISTA 96 . Vitamina D reduz riscos de dois tipos de cancro CURIOSIDADES DO MÊS 122 A NÃO PERDER 125 PRÓXIMA EDIÇÃO 128 FAX (+351) 243 704 772 www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 5. EDITORIAL A equipa da Mundus agradece a todos os Que o novo mundo fale também português investigadores portugueses no estrangeiro que aceitaram o nosso convite para participarem neste caderno especial. Desde o início da nacionalidade que o povo português lançou-se na aventura de conhecer novos territórios, novas culturas ultrapassando obstáculos e fronteiras. Esse espírito não se perdeu, e os descobrimentos portugueses marcaram uma época e são reconhecidos em todo o mundo. Muitos portugueses sairam do nosso país na década de 60 e 70 à procura de melhores condições de vida.Hoje em dia, a realidade no país é outra. São os profissionais que procuram formação no exterior com melhores condições de trabalho e estabilidade profissional. Esta “emigração” ocorre, não porque não sejam necessários para o país, mas porque o país não consegue oferecer-lhes condições para desenvolver o seu trabalho. A estes cidadãos do mundo que nasceram em Portugal desejamos o maior sucesso nas suas carreiras profissionais, e que ajudem na construção de um mundo melhor. A maioria das opiniões destes investigadores, sobre a grande dificuldade para o país os manter cá, é a mais óbvia: a remuneração. Para além desta, os nossos compatriotas apontam também as condições de trabalho, a forma como é financiada investigação e falta de projectos a médio e a longo prazo, como dificuldades para a actividade científica no nosso país. Temos assim dois problemas: 1 - O país forma profissionais nas mais diversas áreas científicas e tecnológicas, gastando tempo e dinheiro nessa formação e qualificação. O cenário seguinte devia ser a sua inserção no mercado de trabalho e na investigação. 2 - O país não consegue absorver a grande parte dos nossos profissionais e investigadores, e como tal não é de estranhar que a maior parte dos formados em portugal faça os seus doutoramentos, pósdoutoramentos e investigação no estrangeiro. Com isto nota-se uma grande diferença entre a formação e a realidade do país. Com tudo isto não quer dizer que não exista investigação de qualidade e com projectos a médio e longo prazo em Portugal. A verdade é que não há espaço para todos os investigadores e profissionais que o país forma. Talvez uma mudança radical no sistema permita criar algumas condições para crescermos como país tecnológico e científico, mas não será possível sem o contributo de todos os envolvidos, os que cá fazem investigação e os que lá fora contribuiem para o bom nome de Portugal. Esta edição da Mundus dá-nos a conhecer mais de meia centena de investigadores que foram para o estrangeiro em busca de um sonho, a sua carreira profissional. Mais uma vez a Mundus leva aos seus leitores a “voz” da Ciência em português, com a adesão de mais de 55 investigadores espalhados pelo mundo que não quiseram deixar de dar a sua opinião. REVISTA MUNDUS A revista Mundus é uma publicação digital mensal de divulgação e comunicação de informação de referência em Português nos domínios da Ciência, Tecnologia e Inovação. E dirigida quer à comunidade científica e académica, investigadores, docentes, alunos, gestores de Ciência e Tecnologia, quer ao público em geral. www.cienciapt.net/mundus DESTAQUE A Revista Mundus é a primeira revista digital portuguesa de divulgação alargada da Ciência, Tecnologia e Inovação. Tem como complemento permanente a Revista e.Ciência semanal, editada em formato digital e disponibilizada no portal www.cienciapt.net. Fevereiro 2007 | Mundus 7. Ciência EM FEVEREIRO no Mundo DIA 2 INVESTIGAÇÃO missão de especialistas para investigar os motivos do acidente. O lançamento do Zenit-3SL estava a ser transmitido, em directo pela Internet, tendo sido interrompida quando a nave se transformou numa enorme bola de fogo. Fonte: Nasa FOGUETÃO RUSSO EXPLODE APÓS LANÇAMENTO DO OCEANO PACÍFICO Um foguetão Zenit-3SL, que devia colocar em órbita o satélite de comunicações NSS- 8, explodiu instantes após sua descolagem de uma plataforma flutuante no Oceano Pacífico. De acordo com o Centro de Controlo de Voos Espaciais (CCVE) da Rússia, que não adiantaram as possíveis causas para a explosão do foguetão, será criada uma co- DIA 2 Fontes do consórcio internacional Sea Launch, responsável pelo lançamento, informaram que a explosão não causou vítimas nem danos à plataforma ou aos navios de apoio. O satélite NSS-8, construído pela Boeing, estava destinado a fornecer serviços de comunicação a países da Europa, África, Oriente Médio e Ásia. Este é já o quarto lançamento fracassado deste tipo de foguetão, fabricado por empresas da Rússia e Ucrânia. TECNOLOGIA TAXA DE PENETRAÇÃO DE INTERNET EM PORTUGAL PODE ATINGIR OS 50 POR CENTO Este ano a taxa de penetração da Internet em Portugal pode chegar ao 50 por cento, segundo refere a Anacom, que aponta uma subida de dez pontos percentuais. De acordo com as conclusões do estudo realizado pela Metriz GFK, entre Novembro e Dezembro de 2006, “9,7 por cento dos inquiridos que não têm Internet pretendem adquirir o serviço no prazo de um ano”. A concretizarem-se estas intenções, a penetração da Internet nos lares portugueses irá aproximar-se dos 50 por cento, mais dez pontos acima dos 40 por cento que foram registados no final do ano passado. Citada pela RTP, a Anacom refere que, em 8. Fevereiro 2007 | Mundus 2006, a percentagem de lares com ligação à Internet de banda larga aumentou 7,8 por cento, para os 33,8 por cento, uma subida que é explicada em grande parte pela mi- gração de banda estreita para a banda larga, que continua a ter como principal tecnologia o suporte ADSL (com 60,5 por cento do total de acessos). www.cienciapt.net/mundus EM FEVEREIRO DIA 7 CIENTISTAS PORTUGUESES DISCUTEM ENERGIA NUCLEAR A energia nuclear está na ordem do dia, com cientistas portugueses a garantirem tratar-se de uma alternativa mais barata, mais limpa e abundante, com riscos cada vez menos significativos. Os ambientalistas, por sua vez, garantem que o investimento necessário para adaptar a rede eléctrica nacional à energia nuclear é demasiado elevado, além do “problema irresolúvel” que são os resíduos radioactivos. A notícia surgiu no Correio da Manhã (CM), informando que vários especialistas internacionais se encontraram em Portugal para participar na discussão ‘Energia Nuclear – Oportunidade perdi- TECNOLOGIA da ou erro evitável?’. Carlos Varandas, presidente do Centro de Fusão Nuclear, e o físico nuclear José Carvalho Soares são os representantes portugueses no debate. Para Carlos Varandas, “a energia nuclear é uma tecnologia limpa, potente, economicamente competitiva e com combustíveis abundantes na Terra”, acrescentando que este tipo de energia já existe em quase todo o Ocidente. O especialista, citado pelo CM, refere ainda outra qualidade da energia nuclear: “electricidade barata, fundamental para o desenvolvimento sustentável da sociedade”. “Produzir hidrogénio, por electrólise da água, em conjunto com os biocombustíveis, é muito DIA 7 importante para o sector dos transportes”, acrescenta ainda. Por outro lado, Carlos Costa, presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), contesta e explica que “o acordo para a redução das emissões de dióxido de carbono termina em 2012 e uma central nuclear nunca estaria concluída antes”. Por sua vez, Francisco Ferreira, ambientalista da Quercus, considera que “o país é demasiado pequeno para assimilar uma central na rede, tal como está concebida” e acrescenta que, quando se afirma que esta é uma energia limpa, “apesar dos progressos, é inegável que o problema se mantém porque os resíduos são radioactivos. Além de que é preciso contabilizar os riscos das explorações de urânio nas minas”. PALEONTOLOGIA CIENTISTAS DESCOBREM CEM OVOS DE DINOSSAUROS NA ÍNDIA Uma equipa de paleontólogos amadores encontrou mais de cem ovos fossilizados de dinossauros do período Cretáceo na região de Madhya Pradesh, no centro da Índia. A descoberta, realizada em Dezembro no Distrito de Dhar, a cerca de 150 quilómetros da cidade de Indore, foi agora anunciada, depois de se confirmar que os fósseis eram efectivamente de dinossauros. De acordo com a imprensa local, que cita Vishal Verma, um dos paleontólogos da organização Mangal Panchayatan Parishad, dedicada a explorar a região, o geólogo Tapas Ganguly, da Universidade de Howrah, “confirmou na semana passada as características dos fósseis”. Segundo o mesmo, “todos os ovos estavam no mesmo local, havendo seis a oito ovos em cada ninho”. www.cienciapt.net/mundus O período Cretáceo, de 144 a 65 milhões de anos atrás, é considerado a última fase da era dos dinossauros. Os especialistas acham que os ovos podem pertencer a três tipos de dinossauros do grupo dos saurópodes, gigantescos herbívoros que podiam atingir até 25 metros de comprimento. Fevereiro 2007 | Mundus 9. Ciência EM FEVEREIRO no Mundo DIA 8 INOVAÇÃO SOCIEDADE PORTUGUESA DE ROBÓTICA LANÇA PODCAST A Sociedade Portuguesa de Robótica (SPR) lançou um PODCAST, com o objectivo de colocar à disposição do público em geral, e dos interessados em robótica e ciência, uma fonte de informação sobre actividades promovidas pela SPR. O PODCAST da SPR tem excertos de programas de rádio, de programas de televisão, entrevistas com cientistas, investigadores e utilizadores de robótica, etc., tudo numa linguagem fácil e acessível. O PODCAST da SPR tem um epi- DIA 09 sódio novo todas as sextas-feiras, sendo o actual um excerto de um programa de rádio da “Rádio Clube Português” – Programa “Janela Aberta”, em que participaram, J. Norberto Pires (UC, SPR), Pedro Lima (IST, SPR), Leonel Moura (Pintor) e Moniz Pereira (UNL). INOVAÇÃO UA CRIA SITE QUE PREVÊ O ESTADO DO TEMPO COM QUALIDADE E RIGOR CIENTÍFICO O Grupo de Meteorologia e Climatologia da Universidade de Aveiro (CliM@UA), composto pelos membros do Departamento de Física, integrados na linha de investigação Qualidade da Atmosfera do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), lançou no passado dia 30 de Janeiro, o site de previsão meteorológica http://climetua.fis.ua.pt. Nesta página poderá consultar a previsão de tempo para três dias, actualizada de 12 em 12 horas e verificar, de hora a hora, a temperatura, a precipitação, o vento ou a presença de nevoeiro, entre outros. São igualmente apresentados campos destas variáveis, com os respectivos valores, para todas as capitais de distrito de Portugal Continental. As previsões meteorológicas são obtidas a partir de simulações realizadas por um modelo numérico de previsão de tempo, desenvolvido por um conjunto de entidades, de índole operacional e de investigação, nos Estados Unidos da América. Este modelo, Weather Research and Forecasting, é actualmente uma referência, em termos de modelação numérica da 10. Fevereiro 2007 | Mundus atmosfera, em muitos países, tendo sido instalado e tornado operacional pelo Grupo de Meteorologia e Climatologia da Universidade de Aveiro (CliM@UA). “O modelo é integrado com uma resolução horizontal elevada de cinco quilómetros; são mostradas previsões de tempo horárias; as variáveis apresentadas são quantificadas; são apresentadas previsões para outras variáveis meteorológicas para além das utilizadas normalmente (nevoeiro, diagramas termodinâmicos, entre outras)”, considera o Prof. Alfredo Rocha, um dos responsáveis do projecto, que acrescenta que “a informação que disponibilizamos sobre a previsão de tempo foi, em parte, adequada às necessidades pedagógicas dos alunos que estudam este tema”. Para além da utilidade para o público em geral, este projecto é também de extrema utilidade para os alunos de algumas das licenciaturas ministradas pela UA, em particular, Meteorologia e Oceanografia, Ciências do Mar e Engenharia do Ambiente. Para saber mais informações contactar o Prof. Alfredo Rocha – Departamento de Física da UA, telefone 234 370 356, fax: 234 424 965 ou e-mail: arocha@fis.ua.pt. www.cienciapt.net/mundus EM FEVEREIRO DIA 10 7.o PROGRAMA-QUADRO EM DISCUSSÃO NA UNIVERSIDADE DO PORTO A Universidade do Porto vai promoveu nos dias 15 e 16 de Fevereiro, o evento “7PQ - Da ideia ao projecto”, que se realiza no Auditório da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. O evento apresentará de maneira geral o 7.o Programa-Quadro de I&D da Comissão Europeia, e mais especificamente os programas Ideias, Pessoas, Capacidades e Cooperação e destina-se a docentes universitários, investigadores, alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento, gestores de DEBATE projectos; instituições de I&D; empresas; e a outras pessoas e entidades interessadas. O evento procura dar informações específicas sobre o 7.o Programa-Quadro, as regras de participação, as condições de elegibilidade, os instrumentos disponíveis e os parceiros elegíveis. Numa segunda fase, o participante poderá obter informações mais detalhadas sobre os programas Ideias, Pessoas, Capacidades e sobre cada área temática do programa Cooperação, analisando os programas de trabalho (work programmes) e as expectativas da Comissão Europeia quanto às chamadas para propostas abertas. Numa terceira e última fase, os interessados poderão inscrever-se para participar em mesas redondas onde po- DIA 12 derão apresentar ideias de projecto em cada área temática do programa Cooperação e discutir sobre estas com o especialista da área. Será também apresentada uma ferramenta on-line de apoio à elaboração de candidaturas desenvolvida pela empresa INOVA+. Para mais informações sobre o programa e inscrições na página http://7PQ.up.pt. Para outras informações contactar a Universidade do Porto Inovação (UPIN): Sofia Varge – 22 040 8031 – [email protected]; ou Aude BacheGabrielsen – 22 040 8032 – agabrielsen@reit. up.pt ou contactar ainda Pedro Coelho da FEUP SICC/DCoop – Divisão de Cooperação pelo telefone: 22 508 1410 ou e-mail: [email protected]. CIDADANIA APESAR DA ELEVADA ABSTENÇÃO, ‘SIM’ VENCE REFERENDO ‘Não’. A abstenção atingiu os 56,39 por cento, pelo que os resultados não são vinculativos. Os votos em branco corresponderam a 1,25 por cento e os votos nulos a 0,68 por cento. O ‘Sim’ à despenalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG) venceu, no dia 11 o referendo popular em Portugal, com 59,25 por cento dos votos, contra 40,75 por cento do A lei que despenaliza o aborto a pedido da mulher até às dez semanas, em estabelecimento legalmente autorizado, será assim submetida a votação final global com carácter de urgência. Em 1998, no referendo sobre realizado sobre a mesma temática, o ‘Não’ venceu com 51,30 por cento contra 48,70 por cento do ‘Sim’, tendo a abstenção atingido os 58,09 por cento. DIA 13 PORTUGAL TREMEU ONTEM COM SISMO DE 5.8 GRAUS NA ESCALA DE RICHTER Ocorreu ontem, pelas 10h36 da manhã, o maior tremor de terra dos últimos 38 anos no Continente português. Apesar de não ter deixado marcas para a História, o sismo de magnitude de 5.8 graus na escala de Richter abalou o Centro e Sul do país, assustando quem durante 30 segundos sentiu a terra tremer. O sismo não chegou a provocar vítimas, mas foi www.cienciapt.net/mundus SISMO suficientemente forte para abalar também algumas zonas de Espanha e Marrocos. Em Portugal, apenas na Nazaré uma parede cedeu à força do tremor e sete pessoas – das quais cinco crianças – foram assistidas no Algarve, zona que levou centenas de pessoas para as ruas, em pânico. O sismo registado às 10h36 teve o epicentro a 160 quilómetros a sudoeste do Cabo de S. Vicente (no Banco de Gorringe), região onde é presumível que tenha tido origem o sismo de 1755 e, dois séculos mais tarde, o de Fevereiro de 1969. Tido como o maior tremor de terra dos últimos 38 anos no Continente português, o abalo de ontem foi sentido com intensidade máxima V (na escala de Mercalli modificada) especialmente no Barlavento algarvio, embora tenha atingido ainda os distritos de Lisboa, Beja, Évora, Santarém Leiria e Setúbal. Catorze minutos depois ocorreu a primeira réplica, seguida de outra às 13h30. Ambas com magnitude 2.5 na escala de Richter, não foram sentidas pelas populações. Na Andaluzia, Espanha, o sismo atingiu a magnitude de 4 na escala de Richter. Foi o maior dos últimos dez anos naquela região. Fevereiro 2007 | Mundus 11. Ciência EM FEVEREIRO no Mundo DIA 14 ECONOMIA entrada no mercado e no licenciamento nos sectores de indústrias não-transformadoras. Portugal está praticamente paralisado no que respeita à reforma da legislação laboral, conclui a Organização depois de identificar os factores que mais influenciam nas dife- OCDE APONTA FRACA PRODUTIVIDADE PARA ATRASO DO PAÍS O relatório da OCDE – “Going For Growth 2007” – aponta a fraca produtividade como o principal obstáculo à convergência de Portugal com os níveis de bem-estar das economias mais desenvolvidas. Segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico, as prioridades de Portugal devem ser a reforma da Educação, eliminação das barreiras à concorrência e a reforma da legislação de trabalho. No relatório, divulgado ontem (13), a OCDE confirma um decréscimo no crescimento do PIB per capita, para 1,3 por cento no período entre 2000 e 2005, face a uma taxa de 2,3 por cento no quinquénio anterior. De acordo com o Diário Digital, com base na análise de alguns indicadores estruturais de Portugal como a produtividade (quase 60 por cento abaixo da dos EUA), da taxa de emprego (acima da média da OCDE), das restrições impostas pelas leis de protecção do trabalho (acima de 4, numa escala entre zero e 6), a OCDE confirma que, desde a criação da Autoridade da Concorrência, em 2003, não se vêem benefícios para os consumidores, não se progrediu na redução de obstáculos à DIA 20 CÂMARA DE ABRANTES PROMOVE ENSINO DE INGLÊS E EDUCAÇÃO MUSICAL NAS ESCOLAS A Câmara de Abrantes aprovou no dia 6 de Fevereiro, um contrato de prestação de serviços, referente ao ensino do Inglês e Educação Musical nas Escolas do Primeiro Ciclo do Ensino Básico Público, no valor de 175.675,00 euros, a celebrar entre a Autar- 12. Fevereiro 2007 | Mundus renças do rendimento real das famílias. De acordo com o relatório, que analisa os factores estruturais da qualidade de vida nos 30 países da região, a interrupção do ciclo de convergência da economia portuguesa está muito associado à baixa produtividade, ocasionada pelo baixo nível de qualificação, rigidez da lei laboral e falta de concorrência em sectores chave, como a energia e as telecomunicações. Para a OCDE as prioridades de política económica baseiam-se num triângulo composto pela Educação, regras de concorrência e regulamentação do trabalho: o regime na função pública deve convergir para as regras do sector privado, de modo a facilitar o objectivo da mobilidade. No sector da Educação, além das reformas já anunciadas, o relatório sugere que o Governo implemente uma avaliação de desempenho mais sistemática das instituições de ensino superior, já que as baixas qualificações dificultam a adopção de novas soluções tecnológicas nas empresas. EDUCAÇÃO quia e a empresa Inforinfantil – Informática para crianças, Lda. Quanto ao programa de Enriquecimento Curricular estão a decorrer no concelho de Abrantes aulas de inglês, música e expressão física motora para os 3.o e 4.o anos. No 1.o e 2.o anos todos os alunos têm música e expressão físico motora e ainda uma terceira disciplina de entre as seguintes: inglês, expressão dramática, expressão plástica e robótica. Para garantir as condições necessárias à implementação deste programa, nomeadamente o financiamento das actividades a Câmara de Abrantes apresentou uma candidatura à Direcção Regional de Educação que foi aprovada. www.cienciapt.net/mundus Coluna GESTÃO Vasco Eiriz Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho http://vasco.eiriz.googlepages.com Empreendedorismo e criação de empresas Tudo leva a crer que os empreen- factores económicos e sócio-psi- a energia necessária para os em- dedores melhor sucedidos são in- cológicos. Estes incentivos com- preendedores vencerem os desa- centivados simultaneamente por plementam-se e permitem criar fios que se colocam a si próprios. O termo empreendedorismo está na moda. É provavelmente o chavão de gestão mais utilizado actualmente. Uma das razões porque isso acontece reside no seu amplo significado. Na verdade, o termo empreendedorismo é utilizado com diferentes propósitos para significar coisas aparentemente tão distintas como, por exemplo, criar o próprio emprego ou criar algo através duma inovação e mudança, frequentemente mas não necessariamente de natureza tecnológica. Noutras circunstâncias o empreendedorismo refere-se a uma qualquer actividade que possui determinadas características (por exemplo, o crescimento das vendas) e resultados (por exemplo, criar riqueza), ao lançamento de novos negócios ou à revitalização de empresas já existentes. Em todo o caso, o significado que talvez seja mais popular refere-se à criação de empresas. tividade empreendedora ao seu estilo de vida e, não raras vezes, desenvolverem actividades altruístas. Quais destes factores são mais importantes? Todos eles são importantes e tudo leva a crer que os empreendedores melhor sucedidos são incentivados simultaneamente por factores económicos e sócio-psicológicos. Estes incentivos complementam-se e permitem criar a energia necessária para os empreendedores vencerem os desafios que se colocam a si próprios. longo dos últimos anos temos avaliado largas dezenas de projectos de criação de empresas. Nessa avaliação aplicamos seis critérios: probabilidade de sobrevivência do negócio; seu potencial de resultados; qualidade, originalidade e execução da ideia de negócio; mecanismos de protecção da concorrência; gestão dos recursos; e potencial de crescimento do negócio. Estes critérios são todos eles importantes; a excelência num deles não permite deficiência noutro qualquer. Porque é que muitos indivíduos sentem necessidade de empreender, criando empresas? Há, grosso modo, dois grandes tipos de incentivos à actividade empreendedora. Um deles é de natureza económica e o outro é de natureza sócio-psicológica. Entre os incentivos de natureza económica encontramos factores como, por exemplo, a propensão para criar riqueza, criar o próprio emprego ou satisfazer uma necessidade de mercado. Os factores de ordem sócio-psicológica que incentivam os empreendedores resultam geralmente da sua vontade em serem autónomos, realizarem-se pessoalmente, associando a ac- www.cienciapt.net/mundus Os empreendedores são geralmente ambiciosos e procuram atingir os seus fins com método e determinação, pensam no longo prazo, questionam constantemente formas de pensar e agir, têm uma profunda orientação para o mercado, dão importância aos detalhes da implementação dos projectos, e querem melhorar continuamente. São, em síntese, espíritos inquietos. Mesmo assim, as taxas de insucesso na criação de empresas são elevadas, fundamentalmente devido a opções estratégicas frágeis e a limitações na gestão operacional do negócio. Não é raro, por exemplo, que muitos indivíduos que criam empresas não equacionem devidamente a posição que querem alcançar no longo-prazo, definam objectivos irrealistas, criem negócios em que a oferta não vai de encontro ao mercado escolhido, ou descurem o planeamento financeiro e de recursos humanos. Na disciplina de Empreendedorismo de que somos responsáveis na Universidade do Minho, ao Os resultados obtidos mostram-nos claramente que os potenciais empreendedores na fase final dos seus cursos universitários são excelentes em termos da originalidade e qualidade das suas ideias de negócio. É certo que por vezes o excesso de originalidade esconde utopias sem aderência à dura realidade do mercado mas, em média, é este o critério em que existe melhor desempenho. Sem surpresa, onde existem maiores fragilidades é ao nível da gestão dos recursos e do potencial de crescimento do negócio. Gerir recursos é algo que requer experiência, algo que o ensino tem dificuldades em transmitir. Quanto ao potencial de crescimento de um negócio, cada vez mais os jovens empreendedores têm que ter os horizontes abertos. Já não é possível nem desejável que o seu mercado se limite à sua rua, à sua cidade ou ao seu país. Mais ideias e recursos de gestão, estratégia e marketing www.empreender.blogspot.com Fevereiro 2007 | Mundus 13. noticias de CIÊNCIA II OLIMPÍADAS DA BIOTECNOLOGIA A Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Biotecnologia, vai organizar as II Olimpíadas da Biotecnologia 2007, dirigidas a todos os alunos do Ensino Secundário de Portugal continental. As II Olimpíadas da Biotecnologia visam promover o conhecimento e o interesse pela temática da Biotecnologia, nas suas múltiplas vertentes de utilização do método científico na resolução de problemas; actividades realizadas fora da comunidade escolar; intercâmbio de ideias e confraternização entre diferentes comunidades escolares; e interacção professor/ /aluno em ambiente não lectivo. ELIMINATÓRIAS As Olimpíadas serão realizadas ao longo de três etapas. A 1a eliminatória realiza-se a nível local 14. Fevereiro 2007 | Mundus a 28 de Fevereiro, às 14 horas, onde serão apurados para a segunda eliminatória os melhores alunos a nível nacional por escola. No dia 13 de Abril tem lugar a 2a eliminatória, onde vão ser apurados os melhores alunos a nível nacional e por distrito. A final acontece na Escola Superior de Biotecnologia a 14 de Maio, às 10 horas. A primeira eliminatória decorre em todas as escolas inscritas e nas quais haja condições para que a divulgação, a preparação, a realização, a vigilância e a classificação das provas se faça de acordo com o regulamento. Na 2a eliminatória serão admitidos os 200 concorrentes (pelo menos) que tenham obtido as melhores pontuações a nível nacional. Na 2.a eliminatória será realizada em cada escola partici- pante e decorrerá nos mesmos moldes que a 1ª eliminatória. em http://www.esb.ucp.pt/olimpiadasbio. Serão admitidos à final os 22 concorrentes que tenham obtido as melhores pontuações. SOCIEDADE PORTUGUESA DE BIOTECNOLOGIA A Sociedade Portuguesa de Biotecnologia (SPBT) foi constituída como secção autónoma da Sociedade Portuguesa de Bioquímica (SPB), em 1981. A 1.a e 2.a eliminatória consistirão na resolução de um teste de escolha múltipla e na resposta a uma pergunta de desenvolvimento. A final consistirá na resolução de um teste de escolha múltipla, numa prova oral e na realização de algumas actividades experimentais. As questões abrangem quatro áreas temáticas: Biotecnologia Ambiental, Biotecnologia da Saúde, Biotecnologia dos Alimentos e Biotecnologia Microbiana. Os três primeiros classificados receberão um prémio. Todos os outros participantes receberão um certificado de participação. O regulamento está disponível Tem como objectivos, entre outros constituir uma entidade nacional interessada no desenvolvimento da biotecnologia, definida como a actividade em que é feito o uso integrado da bioquímica, da microbiologia e da engenharia química para realizar a aplicação técnica e industrial das capacidades dos microrganismos e das células dos tecidos; Congregar cientistas e técnicos que se dedicam à biotecnologia e promover trocas de informações sobre investigação, ensino e aplicação industrial nesse domínio, entre outros objectivos. www.cienciapt.net/mundus noticias de Ciência Fonte: http://www.bouletfermat.com/backgrounds/ ARQUEÓLOGOS DESCOBREM MORADIA DOS CRIADORES DE STONEHENGE Arqueólogos britânicos, com a colaboração de portugueses, descobriram uma vila com várias casas, que teria sido usada como moradia pelos construtores do monumento neolítico de Stonehenge. A descoberta terá sido feita depois de realizadas escavações em Durrington Wells, a três quilómetros do famoso círculo de pedra. O novo achado, datado da mesma época de Stonehenge (2.600 a.C.), é agora considerado como a maior vila neolítica britânica. De acordo com os investigadores que estiveram a trabalhar no local, foram encontradas quase cem casas, sendo esta a primeira vez que são encontrados vestígios de habitação humana em redor do monumento. Os arqueólogos revelam ainda a existência de evidências de que o local agora descoberto era usado para celebrar a www.cienciapt.net/mundus vida e a morte, depois de encontrados vários ossos de porco e de gado naquela área. E, enriquecendo ainda mais a enigmática história do sítio arqueológico, os trabalhos arqueológicos revelaram ainda a existência de uma avenida de 30 metros, que ligava a vila ao rio mais próximo, suspeitando-se que esta via seria usada para que os mortos fossem levados ao rio e a Stonehenge. PORTUGUESES PARTICIPAM NA DESCOBERTA Quatro arqueólogos portugueses participaram na descoberta dos vestígios de oito habitações que estão ligadas ao complexo de Stonehenge, numa colaboração resultante de um projecto conjunto entre universidades inglesas e portuguesas, financiado pelas Acções Integradas LusoBritânicas. De acordo com Gonçalo Cardoso Leite Velho, do Departamento de Território, Arqueologia e Património, do Instituto Politécnico de Tomar, “a mesma equipa inglesa, que esteve na origem desta fantástica descoberta, esteve em Portugal para participar nas escavações da colina monumental de Castanheiro do Vento (Horta do Douro, Vila Nova de Foz Côa)”. Esta foi uma intervenção que se desenrolou por dois meses e contou com a participação de uma equipa com mais de cem pessoas, “desenvolvendo-se numa escala invulgar para o nosso país”, conta o especialista. Ainda segundo Gonçalo Velho, esta cooperação entre os investigadores “tem vindo a dar frutos e irá continuar”. Para o próximo ano os portugueses (ligados à Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ao Instituto Politécnico de Tomar) irão regressar a Inglaterra, desta vez para intervir em Stonehenge, assim como se prevê o regresso dos investigadores ingleses, mas com uma equipa reforçada e de maior dimensão. Gonçalo Cardoso Velho frisa que “Portugal tem-se vindo a destacar no estudo das arquitecturas pré-históricas (conduzindo inclusive diversos projectos europeus nesta área). O estudo dos recintos monumentais do Norte de Portugal está na origem de uma escola reconhecida a nível mundial”. A apresentação dos resultados da participação nas descobertas de Durrington Walls foi feita ontem, dia 22 de Fevereiro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Fevereiro 2007 | Mundus 15. noticias de TECNOLOGIA sável pelo Gabinete de Tecnologias e Conceitos Avançados de Missões, sedeado no ESOC. O SEISOP, membro da Rede Europeia de Meteorologia Espacial (SWENET), permite aos controladores da missão preverem quando devem desligar instrumentos como star trackers, colocar os sistemas no ‘modo de segurança’ ou tomar outras medidas para proteger os sensíveis componentes electrónicos e os sensores científicos a bordo. ESA DESENVOLVE SOFISTICADA FERRAMENTA DE METEOROLOGIA ESPACIAL Uma ferramenta sofisticada, em desenvolvimento no ESOC, promete fornecer meios eficazes de monitorização e previsão, de modo a prevenir que os sistemas electrónicos de bordo se despedacem, os instrumentos científicos se danifiquem e o satélite se perca de vez, devido a partículas de elevada energia ou outros fenómenos de meteorologia espacial. De acordo com a ESA, a actividade solar influencia todo o sistema solar de várias formas, incluindo a geração de correntes de partículas energéticas que se movem rapidamente e explosões repentinas de raios X perigosos durante as chamas solares. Os raios cósmicos energéticos de qualquer outro ponto na galáxia penetram também no nosso sistema solar. Estes fenómenos 16. Fevereiro 2007 | Mundus estão entre as principais causas do comportamento anormal e do envelhecimento dos satélites e dos seus sensíveis instrumentos científicos. Mas desde inícios de 2005, o SEISOP (Sistema de Informação sobre o Ambiente Espacial para Operações) – ferramenta de monitorização e previsão da meteorologia espacial, em desenvolvimento no Centro de Operações Espaciais da ESA – tem vindo a oferecer, com sucesso, relatórios quase em tempo real ao Integral, o observatório espacial de raios gama da ESA. Como informa a ESA, o SEISOP, desenvolvido em colaboração com o Projecto Piloto de Aplicações de Meteorologia Espacial da ESA com financiamento da portuguesa Task Force ESA/ Portugal, inclui uma base de dados dos registos do estado dos satélites e das observações meteorológicas espaciais a nível mundial, juntamente com sofisticadas aplicações de software que fornecem relatórios, avisos, previsões e um rastreio histórico para a Equipa de Controlo de Voo do Integral. “A meteorologia espacial afecta os satélites de várias formas. Podem dar-se perdas aleatórias de dados, alterações na dinâmica da órbita e uma redução da qualidade de dados científicos. Por isso, as actualizações em tempo real são essenciais na altura de decidir quanto tempo se devem desligar os instrumentos durante períodos de risco,” afirma Alessandro Donati, respon- Enquanto que alguns instrumentos estão equipados para se desligarem automaticamente durante períodos adversos, nem todos eles estão, e reactivar um instrumento após uma paragem automática que requer bastante tempo. Além disso, e ainda segundo a ESA, até hoje tem sido difícil saber quando a radiação desce a níveis seguros, depois de se dar um fenómeno particular, como por exemplo uma chama solar. No decorrer deste ano, o SEISOP passará por um desenvolvimento operacional com vista a fornecer a todas as missões da ESA as mesmas actualizações vitais de meteorologia espacial. Alessandro Donati e a restante equipa espera começar a trabalhar este ano para criar a versão operacional final. Estes responsáveis salientam que “o SEISOP pode potencialmente fornecer serviços de aviso não só para a ESA mas também para agências espaciais em todo o mundo, uma vez que a meteorologia espacial pode afectar qualquer satélite”. www.cienciapt.net/mundus noticias de Tecnologia visuais baseado em UML, que possibilita aos responsáveis pelos vários sistemas do telescópio disporem de um plano detalhado de todo o projecto e, sem restrições temporais, recuperar e actualizar o código do software directamente nesse mesmo plano, ficando automaticamente disponível ao longo de todo o projecto. NASA USA SOFTWARE IBM EM TELESCÓPIO ESPACIAL DE PRÓXIMA GERAÇÃO A IBM acaba de anunciar que a NASA está a utilizar o seu software para desenvolver os sistemas que vão operacionalizar o Telescópio Espacial James Webb (TEJW), sucessor do Telescópio Espacial Hubble (TEH). Este novo telescópio de próxima-geração vai observar mais de perto o início dos tempos e procurar a desconhecida formação das primeiras galáxias. O telescópio, cujo lançamento está previsto para 2013, irá estudar a formação de galáxias, estrelas e planetas. Para tal, a NASA irá recuar no tempo e mergulhar no espaço, utilizando anos-luz para viajar do presente para o passado. Por exemplo, para estudar a formação inicial das estrelas no universo, a www.cienciapt.net/mundus NASA irá observar luz infravermelha através de instrumentos especiais optimizados, de forma a conseguir capturar esta parte do espectro. Há 20 anos, os componentes e instrumentos do telescópio Hubble foram criados por múltiplas organizações que recorreram a software registado para desenvolvimento dos sistemas. Esta abordagem levou a que a manutenção, as mudanças e os arranjos executados no telescópio exigissem múltiplas ferramentas, que foram sendo geradas ao longo de toda a missão. Dado que o software operacional dos sistemas de navegação e controlo (Guidance, Navigation and Control - GNC), de coman- do e de tratamento de dados (Command and Data Handling CNDH) e o Módulo Instrumental de Ciência Integrada (Integrated Science Instrument Module ISIM), que agrega os principais quatro instrumentos do TEJW, provinha de diferentes instituições de diferentes países, tornou-se imprescindível criar uma linha condutora comum durante o projecto a fim de evitar o excessivo consumo de recursos e de tempo afectos às questões de software. Para superar esta complexidade, a NASA determinou que cada organismo deverá desenvolver os seus sistemas utilizando o IBM Rational Rose Real-time, software open-standard de desenvolvimento de modelizações O Rational Rose Real-time ajuda os programadores dos vários sistemas a criarem as aplicações mais rapidamente e sem comprometerem a sua qualidade. Este software da IBM verifica continuadamente a qualidade do projecto ao longo de cada passo do processo de desenvolvimento – incluindo a concepção do código, a realização dos testes, a localização e depuração de falhas, e as mudanças persistentes – para que a evolução do sistema continue em curso e sem erros. Isto possibilita às várias instituições associadas à construção do telescópio espacial James Webb uma maior produtividade e capacidade de distribuição de códigos seguros atempadamente – indo ao encontro dos requisitos do projecto e das regulamentações da indústria. A NASA vai continuar a utilizar o software IBM Rational para fazer a manutenção do telescópio após o seu lançamento e durante a missão. Além disso, a abordagem baseada em UML permite à agência espacial criar uma arquitectura padronizada, cuja natureza reutilizável permitirá a sua aplicação em futuras missões suplementares. Fevereiro 2007 | Mundus 17. noticias de INOVAÇÃO SOFTWARE ‘IDEMIX’ SALVAGUARDA IDENTIDADE DOS CONSUMIDORES NA REDE membro veterano do Berkman Center for Internet and Society da Harvard Law School. “A capacida- A IBM acaba de anunciar um novo software que permite aos cibernautas ocultar ou tornar anónima a sua informação pessoal na Internet, assegurando a protecção da identidade contra furtos e outros abusos. Desenvolvido por investigadores no laboratório da IBM em Zurique, o software – com o nome de código Identity Mixer, ou ‘Idemix’, vai possibilitar aos consumidores desfrutarem de bons serviços na Internet sem revelarem informação pessoal. A IBM vai contribuir com o Idemix para o projecto Eclipse Higgins, uma iniciativa open source dedicada ao desenvolvimento de software de gestão da identidade dos utilizadores. Esta última tendência voltada para uma abordagem centrada no utilizador, significa que os indivíduos podem controlar, de uma forma activa e segura, quem tem acesso às suas informações pessoais online, tais como contas bancárias e números de cartões de crédito, ou registos médicos e de emprego, ao invés de terem instituições exclusivamente responsáveis pela gestão dessa informação, como acontece actualmente. Sempre que os consumidores digitam dados pessoais ao fazerem o download de músicas ou ao subscreverem newsletters online, o percurso dos dados é deixado para trás, dados esses que relevam informação acerca da dimensão, da frequência e da fonte das suas transacções online, e que podem ser seguidos de volta até ao utilizador. O software IBM Idemix elimina esse percurso ao utilizar uma falsa informação sobre a identidade, 18. Fevereiro 2007 | Mundus de de tornar as transacções anónimas utilizando o Idemix reforça a confiança do consumidor, abrindo portas para novas formas de comércio na Internet.” conhecida como pseudónimo, para tornar anónimas as transacções realizadas online. Por exemplo, o software permite aos compradores adquirirem livros ou roupas sem revelarem o seu número de cartão de crédito. Ao mesmo tempo, pode verificar o saldo bancário de alguém sem o partilhar, ou dar provas da idade de uma pessoa sem divulgar a data do seu aniversário. banco, uma companhia de seguros ou uma instituição governamental. Uma companhia de seguros de saúde, por exemplo, pode oferecer uma credencial confirmando que um utilizador usufrui de determinados benefícios no seguro de saúde. Desta forma, ao contrário de outros sistemas de gestão da identidade, que transmitem partes da verdadeira identidade dos utilizadores, os sistemas construídos utilizando o software Idemix vão ajudar a proteger a privacidade do utilizadores ao partilhar apenas pseudónimos, para que a verdadeira informação nunca possa vir a ser interceptada ou exposta. Se o utilizador quiser consultar o portal online do seu fornecedor de serviços de saúde para informação médica, o Idemix sela digitalmente a credencial, de modo a que o utilizador a possa enviar para o fornecedor de serviços de saúde e tenha acesso ao serviço online. Ao utilizar sofisticados algoritmos de criptografia, este software da IBM actua como um intermediário, pelo que a verdadeira identidade do utilizador nunca é exposta ao fornecedor de serviços de saúde. De acordo com a IBM, o Idemix actua permitindo ao utilizador de um determinado computador com o software apropriado obter uma credencial digital anónima ou um documento comprovativo de terceiros de confiança, tal como um Sempre que o utilizador consultar o serviço será usada uma nova credencial codificada. “Quando as pessoas não têm de revelar a sua informação pessoal na Web, o risco de furto de identidade é altamente reduzido”, explica John Clippinger, A IBM planeia adicionar a tecnologia Idemix ao seu portfólio de software de gestão de identidade, o Tivoli. Este software confere uma nova dimensão à indústria das tecnologias mais importantes da IBM na protecção da privacidade dos consumidores e dos negócios. Actualmente, a IBM é o fornecedor do software utilizado por grandes governos, organizações de serviços de saúde e instituições financeiras, o que possibilita uma forma de comparar dados acerca dos seus passageiros, pacientes ou clientes de modo a identificar relações, ao mesmo tempo que nunca expõe a informação vulnerável acerca das pessoas. O software ‘tritura’ irreversivelmente indícios tais como nomes, moradas, números de telefone e números de segurança social antes dos dados serem partilhados, analisa essa informação e alerta a companhia quando é encontrada uma associação entre registos específicos, identificando apenas o número de registo do ficheiro atribuído pelo software. É a organização que decide que quantidade de detalhes do registo identificado deve partilhar, o que protege os pormenores pessoais dentro de outros registos, para que estes não sejam desnecessariamente expostos durante o processo de comparação. www.cienciapt.net/mundus noticias de Inovação ESCOLAS PORTUGUESAS NO DIA EUROPEU PARA UMA INTERNET SEGURA A Comissão Europeia decidiu declarar o passado dia 6 Fevereiro o Dia Europeu para Uma Internet Segura, de modo a alertar para os riscos inerentes a este meio para os mais jovens. Em Portugal, colaboraram 20 escolas que enalteceram mais “uma utilização crítica e esclarecida da Net”. Quem o disse, em declarações ao Diário de Notícias (DN), foi Maria João Horta, coordenadora do projecto “Dia da Internet Segura 2007”. Ainda de acordo com este diário, citando a responsável pela Equipa de Missão Computadores, Redes e Internet nas Escolas (CRIE), do Ministério da Educação, que se associou à iniciativa, o objectivo máximo des- www.cienciapt.net/mundus ta iniciativa “é destacar as boas práticas e dar-lhes visibilidade”. Foram desafiadas a participar 20 escolas nacionais, que tiveram de encontrar uma congénere europeia para debaterem temas como: “Privacidade – como podemos proteger a privacidade na Internet?”; “Netiqueta – como nos comportarmos correctamente na Internet?”; ou “Poder da Imagem – como podemos partilhar de forma segura as nossas fotografias na Internet?”. No final, as escolas tiveram de, em conjunto, criar um “produto” em vídeo, fotografia ou em tese, subordinado ao tema da segurança online. Os trabalhos, realizados e apresentados no pró- prio dia, encontram-se expostos no site do CRIE (moodle.crie. min-edu.pt), num espaço especialmente criado para o Projecto SeguraNet. Ao longo do Dia Europeu para Uma Internet Segura, para além das apresentações dos trabalhos das escolas, as mesmas foram visitadas pelos representantes do Ministério da Educação, onde foi ainda dado espaço a uma série de debates, que se estenderam pelo resto da semana e com transmissão online garantida para as escolas. Sendo esta uma iniciativa europeia, a própria Comissão – através do projecto “EU Kids Online” (que está integrado no plano de acção europeu “Safer Internet Plus”) - pretende organizar um guia de recomendações para a segurança dos adolescentes no uso da Internet, acção inevitável com a adesão cada vez maior aos diversos ambientes que o mundo virtual oferece, sendo assim também mais fácil de orientar os pais no sentido de aprenderem a lidar com estas novas questões e acompanhar os filhos na utilização dada a conteúdos e plataformas online. No âmbito do “EU Kids Online”, Portugal é um dos três países europeus (além de Reino Unido e Polónia) onde será feito o primeiro estudo comparativo da exposição das crianças aos riscos da Internet. Fevereiro 2007 | Mundus 19. ENTREVISTA João Magueijo Department of Physics, Imperial College London, UK “...nunca tive temperamento para estar calado quando acho que algo está mal...” Com que idade decidiu ir estudar para fora do país? Saí com 21, muito embora já tivesse considerado essa possibilidade antes. Isso foi depois de concluir a licenciatura de Física na Faculdade de Ciências na Universidade de Lisboa. - O que é que o levou a deixar o país e ir estudar para o estrangeiro? Era óbvio que para aquilo que queria fazer cosmologia e gravidade quântica - não tinha mesmo outra hipótese. Nessa altura nem era uma questão de ser melhor ou pior: é que não havia mesmo nada dentro de Portugal que permitisse enveredar por essas áreas. Ficar em Portugal seria equivalente a ser um auto-didacta. Controverso e polémico, João Magueijo recusa-se a “estar calado” quando considera que algo está errado. Escolheu estudar em Inglaterra por não haver condições para seguir os estudos em cosmologia e gravidade quântica em Portugal e porque esperava naquele país ter mais liberdade para dar largas à sua criatividade enquanto cientista. Pôs em causa a Teoria da Relatividade de Einstein abalando o mundo científico, cujo sistema critica severamente Porquê Inglaterra? Primeiro pela minha aversão política aos Estados Unidos, que de facto seria a outra opção óbvia. Depois porque havia na altura uma certa impressão (pelo menos entre os cientistas mais jovens) de que a Inglaterra tinha um sistema de investigação mais liberal, que se “podia fazer o que se queria”, enfim, que a criatividade do investigador era mais respeitada. Tenho de admitir que, com todas as críticas que inevitavelmente tenho feito ao sistema Inglês (depois de o conhecer por dentro e a todos os níveis há mais de 17 anos) ainda acho 20. Fevereiro 2007 | Mundus que esse “mito” que me levou a Inglatera é no fundo mais real do que se poderá pensar. Tem sido um cientista algo controverso pelo facto de ter posto em causa a teoria da velocidade constante da luz de Einstein. No seu entender, teria sido mais difícil, por exemplo, defender esta sua teoria em Portugal? Sim. Primeiro porque os mais conservadores são sempre os medíocres, uma classe que parece dominar a ciência Portuguesa. Portanto pessoas que raramente escrevem artigos ou fazem alguma investigação são sempre as mais críticas de alguma ideia nova. Depois porque mesmo que a ideia tivesse sido aceite em Portugal, isso quanto muito teria um efeito contra-producente para a sua aceitação no resto do mundo. A comunidade cientifica internacional não leva a sua congénere Portuguesa a sério. www.cienciapt.net/mundus ENTREVISTA Nestas coisas, portanto, o melhor é tentar logo convencer os peritos mundiais: “to go for the throat”... um lado, isso é promovido pelos burocratas da ciência que o utilizam para justificar o gasto de dinheiros públicos na ciência; por outro lado, à maioria dos cientistas “parece mal”. Este também foi um momento de afirmação. Considera este um marco importante na sua carreira de investigador? Portanto as complicações vieram mais do lado da divulgação do que da teoria propriamente dita... o que são as coisas! Claro. Sempre disse que nunca trabalhei em VSL a tempo inteiro, e que tenho outros interesses, mas foi algo muito marcante para mim como investigador. Foi talvez o trabalho mais original e arriscado que fiz até ao momento... sem desfazer do resto. As suas ideias e maneira de ver o sistema académico/ científico são polémicos. O que é que está mal para si nos ‘circuitos’ da ciência? Como tem sido a sua vida depois desta sua revelação? O mesmo do costume. Continuo a trabalhar em VSL mas tambem noutras áreas mais convencionais, mas nem por isso menos importantes. Em termos pessoais claro que houve uma fase complicada, até porque atrair interesse da imprensa e do público em geral nunca é perdoado pela comunidade científica, diga-se o que se disser. Há pressões contraditórias, pelo menos em Inglaterra, no que diz respeito ao que eles chamam “public understanding of science”. Por www.cienciapt.net/mundus Muito poder arbitrariamente investido em pessoas mais “seniors” e que já não fazem ciência; muita precariedade, e falta desse mesmo poder, para aqueles que efectivamente produzem a ciência. Trata-se de um caso clássico de um sistema de duas classes, com o oprimido e o opressor claramente identificados. Receia que esta sua postura no meio científico lhe possa trazer dissabores ou, antes pelo contrário, tem esperanças de contribuir para uma mudança? Dissabores, mais do que tudo, mas nunca tive temperamento para estar calado quando acho que algo está mal. Agora não tenho ilusões nenhumas em relação a mudanças. Acho que a ciência contuará a ser feita apesar do estabelecimento científico (em vez de devido ao mesmo, o que faria mais sentido.) Pelo que é sabido, o mundo da ciência está presente na sua vida desde a infância. É no mundo científico que pretende continuar a viver? Talvez sim, talvez não. Há um bocado a tendência, com a idade, de os cientistas deixarem de o ser, no sentido literal do termo, para se dedicarem isso sim a tarefas de administração e política da ciência. Isso não me interessa, portanto preferia simplesmente fazer outra coisa, caso o fazer ciência “seque”. Era melhor que os cientistas fossem como os futebolistas, que têm de honestamente passar reforma quando o tempo chega... Mas por enquanto continuo a marcar golos, portanto ainda não chegou o momento de enfrentar essa decisão. Fevereiro 2007 | Mundus 21. 22. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...Portugal se está a tornar num melhor país para desenvolver trabalho científico...” O que o fez ficar? Porque não voltou? ALEXANDRA CAPELA Idade: 35 anos Área: Neurobiologia Funções actuais: Investigadora na StemCells Inc, EUA O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Em 1996 fui aceite no Programa Gulbenkian de Doutoramento em Biologia e Medicina (PGDBM). O PGDBM foi desenhado com base nos programas doutorais norte-americanos que incluem uma forte componente lectiva na formação dos seus doutorandos. No caso do PDGBM, as aulas do primeiro ano foram maioritariamente leccionadas por professores estrangeiros, líderes em varias áreas da biologia, como desenvolvimento, ciclo celular, cancro, fisiologia celular, neurobiologia, etc. O que em parte tornou este programa único foi o facto dos alunos serem encorajados a desenvolver a componente prática do doutoramento em laboratórios estrangeiros de qualidade reconhecida. Na altura eu estava interessada em estudar biologia do desenvolvimento, mais precisamente desenvolvimento do sistema nervoso, e a investigação nessa área era quase inexistente em Portugal. Durante o ano lectivo, no Instituto Gulbenkian de Ciencia em Oeiras, fui estabelecendo contactos com vários investigadores na Europa e nos Estados Unidos da América e fui aceite no laboratório da Dra Sally Temple, em Albany, estado de Nova Iorque, cujo objectivo geral era estudar o desenvolvimento do cortex cerebral embrionário de ratinhos. www.cienciapt.net/mundus Quase no final do meu doutoramento assisti a uma conferência apresentada por uma investigadora da empresa StemCells Inc. num congresso “Keystone” sobre células estaminais. A conferência revelou-me um estreito paralelismo entre a investigação desenvolvida no grupo Neural da empresa e o meu próprio trabalho de doutoramento, o que me fez equacionar (pela primeira vez) a Indústria de Biotecnologia como uma possibilidade viável de carreira profissional. A afinidade com o trabalho desenvolvido na StemCells Inc. teve bastante peso na minha decisão de aceitar a oferta de emprego e permanecer nos Estados Unidos. Mas foi a perspectiva real, a curto prazo, da aplicação de células estaminais neurais humanas no tratamento de doenças neurodegenerativas, ou seja, a tradução directa do trabalho de investigação básica, de bancada, para a clínica, que me atraiu fortemente e que não poderia de todo desenvolver se, à data, tivesse voltado para Portugal. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? O regresso envolveria obrigatoriamente condições de trabalho estimulantes, ambiente propício a colaboração entre cientistas de várias especialidades em instituições públicas ou privadas interessadas em desenvolver investigação translaccional. A situação ideal seria aquela em que a minha experiência em investigação biomédica, num contexto de indústria, concretamente em terapia celular, fosse tida como uma mais-valia na estruturação de um grupo multidisciplinar com objectivos clinicos concretos. nário actual é bastante diferente do que se vivia quando eu deixei o país em 1997. Os últimos 6-8 anos viram regressar ao país muitos jovens cientistas graduados em instituições de grande reputação, que, juntando-se à excelente massa crítica já existente em Portugal e impulsionados também pela criação de novos centros de investigação e/ou reestruturação de outros, estão a dar um forte impulso à ciência portuguesa. Os resultados estão patentes no aumento do número de artigos publicados em revistas de alto impacto, nos prémios internacionais, no financiamento de projectos europeus, na participação em grupos de trabalho internacionais e finalmente na emergência de empresas de biotecnologia. É nesse sentido que defendo que Portugal se está a tornar num melhor país para desenvolver trabalho científico. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? É-me difícil dar uma opinião fundamentada fora da minha área de formação, ainda que destaque a área das telecomunicações como muito importante. Em relação à investigação em biologia, os esforços na área da identificação de marcadores genéticos de cancro têm sido excepcionais. A área da biologia do desenvolvimento embrionário tem tido uma evolução consistente, bem como as neurociências. Penso que a investigação biomédica/clínica, que já começa a evidenciar-se, será uma das áreas mais promissoras, concretamente no campo da investigação em biomateriais, terapia celular e cancro. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Penso que comeca a ser. É evidente que o ce- Fevereiro 2007 | Mundus 23. CADERNO ESPECIAL “...que vantagens tira Portugal ... se depois acabamos por contribuir para a riqueza de outro país?...” Os paises mais ricos, não investem na investigação por serem ricos e terem mais recursos. ANA MARGARIDA DO AMARAL CARDOSO DOS SANTOS Idade: 32 anos Investem na investigação porque isso lhes garante que continuarão o seu desenvolvimento e crescimento. E não é por acaso que estes países, em vez de exportarem cientistas, tentam manter os que formam e adquirir outros com outros métodos e filosofias de trabalho. praticos desse investimento. Enquanto não sairmos deste ciclo vicioso, nada segue em frente e continuaremos a dar gratuitamente a outros países o mais precioso dos nossos bens: o conhecimento. Para além disso, que vantagens tira Portugal de nos ter educado, se depois acabamos por contribuir para a riqueza de outro país? Área: Bioquimica e biomateriais Funções actuais: Estudante de Doutoramento, Bélgica O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? A minha vinda para a Bélgica começou por ser apenas por três meses para aprender uma técnica que tinha interesse em conhecer. Entretanto fui convidada a integrar um projecto de investigaçao onde essa técnica era fundamental e decidi ficar até ao final do projecto. O que o fez ficar? Porque não voltou? Não voltei ainda porque quero acabar o trabalho que comecei aqui e em Portugal, não tenho essa possibilidade por razões de dificuldades de financiamento do projecto, instabilidade profissional... O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Se visse reunidas as condições para prosseguir o meu estudo em Portugal, regressaria ainda hoje. Gostaria que quem realmente tem o direito (e o dever) de decidir nestas coisas sentisse que o país poderia evoluir de outra maneira se as prioridades fossem o ensino e a investigação. 24. Fevereiro 2007 | Mundus Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Actualmente, não. Há que mudar mentalidades, criar condições para que os nossos investigadores não sintam a necessidade de emigrar. E isso passa por não concentrar a investigaçao nas universidades, em criar mais centros de estudos, em rever os processos de finaciamentos dos projectos, em dar alguma estabilidade a quem se quer dedicar à pesquisa, envolver a indústria. Fundamental: diminuir os gastos de tempo e dinheiro com a burocracia que desncorajam qualquer um com vontade de inovar. Eu penso que o sentimento é geral:em Portugal não falta dinheiro para a investigação. Está é a ser mal gerido, o que não leva a lado nenhum. É bom que se perceba que o facto de trabalharmos noutros países é positivo para que se aprenda e se evolua, mas seriamos todos bem mais felizes e o país teria tudo a ganhar se pudessemos desenvolver os nossos estudos em Portugal e investir o nosso know-how em prol do nosso país. E Portugal é um manancial de recursos por explorar e por investigar. Se se investisse um pouco mais na investigação, na exploração dos recursos que temos ( bastava um pequeno investimentos inicial já que a investigaçao e conhecimento cientifico se autosustentam), eu acredito que o país beneficiaria com isso e a curto prazo se veriam resultados Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Nao precisamos de ir longe ou de ter ideias luminosas de investigação em Portugal. O campo é vasto. Devemos começar pelo que temos “em casa”. Recursos naturais. E Portugal tem tanto que deve estudar, preservar e rentabilizar. Educação. Investigaçao de qualidade nas ciencias da educação. Sendo um país com um património histórico incomparável, é de vital importancia a investigação na área da história, arqueologia, museologia. Um país que conhece as suas raízes cresce mais saudável. Inovação tecnológica. Investir na modernização da nossa indústria sem perder de vista o que nos caracteriza: o rigor e a qualidade. Os investigadores portuguese são bem vistos cá fora e muito procurados. Isso indicia que somos gente com coragem, imaginação e capacidade de desenvolver trabalhos. Para além disso, é-nos reconhecido o volume de conhecimentos que adquirimos durante a nossa educação. Porque não criar então condições para que possamos desenvolver o nosso país? O esforço inicial seria mínimo comparado com as mais valias que daí viriam. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...pelo que tenho observado não parece ser muito fácil voltar...” ARMÉNIO BARBOSA Idade: 23 anos O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? tenho observado não parece ser muito fácil voltar. A oportunidade de fazer doutoramento após o fim da licenciatura. Com o meu actual currículo deveria esperar alguns anos até conseguir um lugar devido ao actual sistema de atribuição de bolsas para doutoramento em Portugal. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Área: Química Computacional / Bioinformática O que o fez ficar? Porque não voltou? Funções actuais: Estudante de Doutoramento O facto de ter tido uma boa experiência com o programa Erasmus na mesma universidade, foi importante na decisão de estudar no estrangeiro. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? A oportunidade de continuar a desenvolver trabalho de investigação científica, mas pelo que www.cienciapt.net/mundus Na realidade não trabalhei muito em Portugal mas trabalho com a colaboração de portugueses. Na minha opinião é um país muito bom para desenvolver investigação. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Penso que pela quantidade de laboratórios e grupos, a área das ciências da vida é uma das mais promissoras, também em engenharia e informática há avanços e ideias inovadoras frequentemente. Fevereiro 2007 | Mundus 25. CADERNO ESPECIAL “...Estava zangada com o sistema em Portugal. O sistema de compadrio e protagonismo...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? ANABELA DE ASSIS PINTO Idade: 46 anos Área: Biologia Funções actuais: Professora Universitária, responsável pelo Cambridge e-Learning Institute, UK Quando deixei Portugal em 1989 o país não oferecia condições para uma carreira em investigação. Um grande amigo meu, que conheci aqui em Cambridge durante o seu sabático, providenciou-me com uma grande revelação. Batendo-me nas costas com aquela forma amigável de Brasileiro, virou-se para mim e disse: “Vou-lhe confessar uma grande verdade. Para se ganhar um emprego em qualquer Universidade, não interessa “your know-how”, o que interessa é o “you-know-who!”.” Foi de facto uma grande verdade. Em 20 anos de carreira académica fora de Portugal cheguei a essa triste conclusão. qualificações que não foram seleccionadas só porque não tinham nenhum “padrinho” dentro da instituição. O que o fez ficar? Porque não voltou? Estava zangada com o sistema em Portugal. O sistema de compadrio e protagonismo. Depois de alguns anos na Dinamarca, minha personalidade alterou-se. Tornei-me muito escandinava e não conseguia me readaptar à cultura Portuguesa. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Nada Se a pessoa não tem conhecimentos dentro do sistema, pode ser um génio em sua área, mas nunca vai ter uma oportunidade, a não ser que conheça alguém dentro do sistema que lhe abra uma porta. É aquilo que no meu país se costuma chamar de “entrar pela porta do cavalo”. Numa conjuntura social onde é tão importante dizerse apenas o que é politicamente correcto, esta é uma verdade que toda a gente sabe, mas ninguém quer indagar ou falar abertamente. A práctica de publicitar vagas académicas em jornais não é mais do que um tapa-olhos para oficializar alguém que já está lá dentro. Esse era o clima de Portugal em 1989. Segundo informação que me chega por parte de jovens estudantes portugueses que abandonaram o país, a coisa continua na mesma. Não vejo nada de errado em convidar pessoas conhecidas para ocupar cargos académicos. O que está errado é que algumas dessas pessoas que acabam tendo acesso a um contrato permanente são menos adequadas, (less skilled) do que algumas pessoas com melhores 26. Fevereiro 2007 | Mundus Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Não posso responder a esta questão pois já não moro em Portugal há 20 anos. Mas na minha área Portugal não evoluiu absolutamente nada e não há qualquer interesse em desenvolver ou subsidiar pesquisa. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Não sei o que se passa em Portugal. Para mim é uma sociedade absolutamente estranha. Estou mais a par do que se passa no Brasil, pois vou lá todos os anos como professora convidada dar cursos de especialização em diversas Universidades. Mas de facto, o Brasil está em franco progresso científico. O governo Brazileiro está investindo em força na pesquisa e é um prazer trabalhar lá. Os colegas Brasileiros também fazem pesquisa de muito boa qualidade e são prontamente abraçados pelas Universidades Brasileiras depois de sua formação no estrangeiro. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...A maior dificuldade em Portugal... é a falta de uma estrutura de financiamento regularizada...” CARLOS CALDAS Idade: 46 anos Área: Medicina/Oncologia Funções actuais: Professor of Cancer Medicine, University of Cambridge; Senior Investigator, Cancer Research UK Cambridge Research Institute; Consultant Medical Oncologist, Addenbrookes Hospital, UK www.cienciapt.net/mundus O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? A procura da Excelência. A oportunidade certa! O que o fez ficar? Porque não voltou? Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Quando parti de Portugal (15 Junho 1988) a minha ideia era completar o meu treino pós-graduado em Medicina Interna e Oncologia Médica nos EUA e voltar depois a Portugal. Depois de 6 anos nos EUA, para além de um treino clínico excepcional (em Dallas e no Johns Hopkins em Baltimore) comecei a fazer investigação e tornei-me num “médico-cientista”. Combinar actividade clínica com investigação laboratorial básica não é fácil em lugar nenhum do Mundo, mas seria quase impossível em Portugal. Em 1994 vim para Londres onde fiz um Research Fellowship (Chester Beatty Laboratories, Institute of Cancer Research) e a partir daí surgiu a oportunidade de ficar no Reino Unido, tendo sido convidado para vir para Cambridge em 1996 como Junior Faculty. Em 2002 fui eleito para a Catedra de Cancer Medicine e entretanto o meu grupo cresceu e agora é aqui que estou estabelecido. A maior dificuldade em Portugal a meu ver é a falta de uma estrutura de financiamento “regularizada”. Quero com isto dizer, haver mecanismos de financiamento regulares e calendarizados com um orçamento prédefinido e planeado em fases de 5 anos. De momento não há calendário regular e o financiamento é tri-anual e mesmo esse não planeado. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? As áreas da biologia básica, porque a investigação clínica e de translação requerem uma grande transformação cultural, quer no meio científico, quer no meio clínico. Fevereiro 2007 | Mundus 27. CADERNO ESPECIAL “...Sou apologista de avaliações e auditorias externas...” O que o fez ficar? Porque não voltou? CATARINA GRANDELA Idade: 28 anos Área: Biomedicina (Células estaminais) Funções actuais: Estudante de doutoramento, Austrália O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Sou aluna do Programa de Doutoramento em Biologia Experimental e Biomedicina organizado pelo Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra. Este programa proporciona aos seus alunos estabelecer colaborações entre laboratórios nacionais e estrangeiros. Eu comecei o meu doutoramento em 2003 e entre várias áreas aliciantes para desenvolver a tese de dissertação acabei por escolhar a das células estaminais. Por esta razão e pelo facto de querer fazer parte do doutoramento no estrangeiro, contactei o Professor Martin Pera um dos primeiros investigadores a derivar células estaminais embrionárias humanas na Monash University em Clayton (muito perto de Melbourne) na Austrália. Em Portugal, tanto quanto sei, não teria a oportunidade de trabalhar com este tipo de células. O laboratório onde estou a desenvolver o meu trabalho reúne todas condições, a nível de infrastuturas, equipamento e conhecimento, para que eu tire máximo partido desta fase da minha apredizagem. Para além de ser uma excelente oportunidade a nivel profissional, a Austrália é um pais fántastico e com pessoas de todos os cantos do Mundo. 28. Fevereiro 2007 | Mundus Planeio acabar o doutoramento no final deste ano e depois voltar a Portugal para passar um pouco de tempo com a família. Acho que não vou voltar a Portugal pelo menos nos próximos 5 anos devido ao escasso número de posições para investigadores de carreira e pelo facto do financiamento de projectos ser inferior países como os Estados Unidos ou o Reino Unido. Nestes países as chamadas “grants” permitem aos cientistas realizar investigacão em áreas competitivas e em muitos dos seus institutos é possível utilizar tecnologia de ponta routineiramente. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Penso que a maioria dos investigadores que se encontra no estrangeiro tem a vondade de voltar para Portugal e contribuir para o desenvolvimento do país. Se tivesse a oportunidade de encontrar um laboratório com financiamente ou até mesmo formar o meu laboratório voltaria a Portugal. Sei que o governo tentou atrair cientistas, mas considero os seus critérios exigentes e apenas cientistas já conhecidos e no topo da sua carreira estariam nas condições de benefeciar destes incentivos. Acho que algo deve ser feito para atrair cientistas mais jovens e empreendedores. É óbvio que empregos para a vida não existem, mas depender de bolsas a vida inteira, sem saber o que vai acontecer no ano seguinte, é díficil. Embora grande parte dos investigadores não esteja em ciência por razões monetárias, uma certa estabilidade financeira evitará que este tipo de preocupações interfira com o seu desempenho profissional. Uma soluções seria oferecer contratos por cerca de 5 anos com condições de trabalho em estruturas institucionais para que os investigadores pudessem realizar o seu trabalho e mostrarem do que são capazes. Sou apologista de avaliações e auditorias externas para garantir que o dinheiro público seja utilizado da melhor forma. Por um outro lado, cabe também aos investigadores serem dinâmicos e ambiciosos. Estes deverão procurar fazer parte de concórcios internacionais para concorrer a “grants” e obter financiamento de entidades estrangeiras. Sobretudo os investigadores que estão fora do países já desenvolveram uma razoavél rede de contactos, muitos deles cientistas conhecidos mundialmente, e seria bom que essas relações se mantivessem.Um outro esforço, tanto quanto possível, é encontrar um vertente biotecnológica nos projectos desenvolvidos e procurar estabelecer parcerias com empresas. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Acho que Portugal não é um mau país para fazer investigação científica, mas até que reúna todas a condições para ser um país competitivo a nível mundial muito terá que ser feito. A massa crítica em Portugal é excelente e os portugueses quando vão para fora mostram que não ficam atrás de ninguém. São, pelo que me apercebi, tidos com trabalhadores e inteligentes. No entanto, se compararmos com o estrangeiro, nomeadamente com Estados Unidos da América, Portugal está em desvantagem pelo facto das infrastuturas e equipamento, bem como “grants”, serem inferiores. O investimento em ciência para que isto aconteça tem que ser maior e levado a sério. Para si quais as de investigação mais promissoras em Portugal? Considero as áreas das neurociências e da oncobiologia muito promissoras. Talvez seja um pouco parcial, porque em Portugal tive a oportunidade de trabalhar nestas áeras. As doenças neurodegenerativas e o cancro estão, infelizmente, entre as principais causas de morte e sofrimento. Investigação nestas áreas, sobretudo com relevância para as que afectam especificamente a nossa população, de extrema importância. Isto permite não só tentar curar este tipo de doenças que nos são mais próximas, mas tambem tentar prevenir e detectar mais precocemente as mesmas. Outra área muito importante e cada vez mais há problemas nessa área é a da imunologia. Conheço em Portugal cientistas a desenvolver trabalho excelente nestas área. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...penso que o ambiente académico é ainda muito fechado: há pouca interacção...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? CLÁUDIA REI Idade: 30 anos Área: Economia Funções actuais: Estudante de doutoramento, EUA Dois anos depois de ter terminado o curso de Economia no ISEG, contava já com duas experiências de trabalho: uma a nível bancário que não me satisfez intelectualmente; outra a nível institucional que compensou em termos de satisfação intelectual mas não em termos monetários (tratava-se de um estágio não remunerado). Como sempre gostei de estudar e aprender coisas novas, decidi candidatar-me a uma bolsa de estudo da Fulbright para fazer um mestrado em Economia nos EUA, onde se faz investigação ao mais alto nível, se bem que a investigação não fosse inicialmente a minha vocação (candidatei-me a um mestrado e não um doutoramento). Aprender a partir de quem faz avançar a ciência foi a minha grande motivação. O que o fez ficar? Porque não voltou? O plano inicial era ficar dois anos num programa de mestrado, terminá-lo e voltar a Portugal com mais um grau académico, que possivelmente me abriria outras oportunidades no mercado de trabalho, satisfatórias tanto em termos intelectuais como monetários. Mas o programa de mestrado na NYU (New York University) é especial: requer uma componente curricular, mas também uma tese. Resolvi tirar o máximo número de cadeiras no primeiro ano para no segundo poder dedicar-me mais à tese. Foi no segundo ano que mudei de ideias, uma vez que gostei muito mais da parte de investigação e decidi então que aquilo era o que eu gostaria de fazer. Tive o privilégio de trabalhar directamente com um dos melhores (mais publicado, mais acessível, mais, mais, mais) professores do departamento e a experiência de o ter como meu orientador mostrou-me uma face da investigação que eu desconhecia e que muito me fascinava. Terminado o mestrado candidatei-me a um www.cienciapt.net/mundus programa de doutoramento (em Boston), que terminarei no próximo ano lectivo. O que a faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Saber que poderia continuar a trabalhar (e produzir) na área de investigação de que gosto e que teria um ambiente académico aberto em que se discutem ideias de forma produtiva. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Infelizmente penso que o ambiente académico é ainda muito fechado: há pouca interacção entre universidades e a abertura ao exterior é mínima. Se não houver sistemas de professores visitantes e altas restrições ao inbreeding corre-se o risco de se estar a fazer investigação virada para o nosso umbigo e pensar que se é o melhor do mundo! Para além destes problemas crónicos há ainda um outro que, de tão grave, limita os horizontes de qualquer um: o sistema de universidades públicas é incompatível com a investigação por definição! É muito difícil para os departamentos terem fundos (do Estado) para subsidiar visitas de professores estrangeiros, trazerem oradores para de outras universidades para falarem da sua investigação em seminário, e acima de tudo garantirem a excelência no ensino. Na área que conheço (Economia) há leves sinais de mudança no que refere à abertura ao estrangeiro que me enchem de esperança. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Não sei responder com conhecimento de causa, pelo que deixo em branco. Fevereiro 2007 | Mundus 29. CADERNO ESPECIAL “...Em termos logísticos acho que há um problema de investimento...” DIOGO PIMENTEL Idade: 28 anos Área: Neurobiologia Funções actuais: Estudante de Doutoramento, UK O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Após terminar o meu curso decidi que queria fazer investigação. Fui aceite para o Programa Gulbenkian de doutoramento em biomedicina que consistia num primeiro ano curricular seguido de (no máximo) 4 anos durante os quais desenvolvemos o projecto de que consiste o doutoramento. No primeiro ano contactámos com cientistas nacionais e internacionais que tabalhavam nos mais diversos campos de investigação relevantes para as ciências da vida. Isto foi de facto uma oportunidade única porque não só nos permitiu amadurecer cientificamente mas também sermos expostos aos mais recentes tópicos e formas de fazer investigação. Tivemos a possibilidade de interagir com cientistas excelentes que nos vieram mostrar o mundo da ciência. Durante este período é nos dado a escolher o tema e local onde queremos desenvolver o nosso projecto sem qualquer restrição. Na altura senti que era importante para o meu desenvolvimento como cientista conhecer ambientes científicos diferentes. Experimentar abordagens diferentes em relação a ciência num meio mais competitivo e com mais maturidade científica. 30. Fevereiro 2007 | Mundus Nos tópicos em que estava interessado trabalhar isso não seria possível em Portugal e por isso decidi vir para Londres onde estou actualmente a trabalhar na neurobiologia do olfacto. O que o fez ficar? Porque não voltou? Ainda não terminei o doutoramento, faltame agora pouco menos que um ano para terminar e por isso esta é a primeira situação em que essa possibilidade existe e que posso considerar voltar para Portugal. É algo que ainda não está decidido mas não penso que vá voltar num futuro muito próximo. Acho que a nível profissional ainda tenho muito que aprender e posso lucrar muito por estar em contacto com ambientes científicos diferentes e mais competitivos. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Penso que para a motivação ser puramente profissional teria que surgir uma oportunidade de emprego, seja como investigador ou não, que seja comparável àquelas que surgem estando no estrangeiro. Imagino (uma vez que é uma decisão pela qual ainda não passei) que a perspectiva de regressar a Portugal tenha sempre um peso muito grande a nível pessoal que causa um certo desequilíbrio na comparação de diferentes oportunidades. Acho que caso decida continuar a fazer investigação é preciso sentir que posso fazer a investigação que mais me atrai. Sentir que há apoio não só a nível logístico mas também intelectual. Sentir que existe no local um conjunto de pessoas (e condições logísticas) que dêem confiança e estabilidade para que os projectos a que me quero propor sejam realizáveis. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Acho que neste momento depende muito da área de investigação. A interacção com outros cientistas é algo absolutamente vital por isso penso que na minha área não seria porque não existem pessoas suficientes interessadas nas abordagens e tópicos semelhantes àqueles em que estou interessado. Contudo penso que em Portugal existem pessoas e laboratórios cuja investigação é tão boa como em qualquer outro sítio do mundo. Em termos logísticos acho que há um problema de investimento. É preciso que se forneçam os recursos logísticos para criar estabilidade e gerar competitividade em Portugal. Só assim também se pode atrair mais investigadores (portugueses ou não) para se juntarem àqueles que existem trazendo ideias novas, abordagens novas, etc. É preciso lutar contra a estagnação do ambiente científico em Portugal e promover ao máximo a interacção com outros ambientes científicos. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Acho que isso é uma questão um pouco difícil de responder. Acho que isso depende muito das pessoas que estão em Portugal e que estão dispostas a trabalhar em Portugal. Penso que o importante é investir nessas pessoas. Criar condições, infra-estruturas para acomodar mais cientistas e financiamento para que possam desenvolver a sua ciência. O que é essencial é investir na possibilidade de existir uma massa crítica de cientistas em áreas que se complementem de modo a criar o mais possivel um ambiente de interacção e cooperação. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...Avanço científico e tecnológico não são só ideias...” FERNANDO PEREIRA Idade: 54 anos Área: Informática (inteligência artificial, linguística computacional, bioinformática) Funções actuais: Professor catedrático e presidente do departamento de Computer and Information Science, University of Pennsylvania, EUA O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Uma bolsa do British Council deu-me a oportunidade de fazer o doutoramento em Edimburgo, um dos centros de investigação mais destacados em inteligência artificial. Uma oferta de emprego com um dos grupos de investigação mais activos nos Estados Unidos quando estava próximo de me doutorar em 1982 foi irresistível. A falta de oportunidades sérias em Portugal nessa altura ajudou a tomar essa decisão. O que o fez ficar? Porque não voltou? Vários factores profissionais contribuíram: a liberdade de escolher entre muitas oportunidades, a relativa falta de burocracia e outros obstáculos institucionais, os bons níveis de financiamento, a variedade de colaboradores, e as ligações entre a investigação básica e a indústria. As oportunidades para trabalhar em problemas variados em ambientes diferentes são muito sedutoras. Desde que vim para os Estados Unidos, trabalhei em dois laboratórios industriais e uma universidade, e ajudei duas www.cienciapt.net/mundus companhias a arrancar com novas tecnologias. Fiz investigação fundamental (demonstrando teoremas), experimental (testando hipóteses e algoritmos), e aplicada (desenvolvendo programas utilizados em muitos projectos universitários e industriais). Criei e dirigi grupos de investigação. Vim para o meu cargo actual com um mandato para renovar e expandir a investigação e o ensino, presidindo à contratação de onze novos professores nos últimos cinco anos. Pessoalmente, fiz raízes nos Estados Unidos: os filhos nascidos e criados aqui, muitos amigos, e os espaços naturais variados e amplos, as montanhas especialmente. E finalmente, já se encontra bom vinho e bom café... Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Avanço científico e tecnológico não é só ideias. Tudo o que fiz e faço depende de recursos públicos e privados que foi preciso obter e administrar cuidadosamente. Recursos são limitados mesmo num pais tão rico como os Estados Unidos. O mínimo que devemos aos que financiam a ciência é que os recursos que nos disponibilizam sejam utilizados com o maior cuidado. É preciso saber explicar a importância do que se faz com entusiasmo mas também com a maior clareza. É preciso saber escolher colaboradores com objectividade e isenção. É preciso manter a maior honestidade na análise e apresentação de resultados. É preciso medir-nos pelo melhor do mundo na nossa área, e não só pelo melhor da nossa paróquia. Nunca é fácil, mas vale bem aqueles momentos de descoberta, aqueles novos cientistas que ajudamos a educar, e aquelas ligações fundas a tantos na comunidade mundial da ciência. Gosto muito de manter contactos em Portugal, mas não penso que uma carreira de 25 anos possa ser “transplantada” para um ambiente profissional tão diferente daquele em que me formei e defini. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? É evidente que as condições hoje em Portugal são muito melhores do que eram quando saí para Edimburgo em 1977. Por outro lado, a competição internacional é muito mais acesa, e a internacionalização da ciência impõe que a investigação em Portugal tem de se ligar cada vez mais a projectos e instituições internacionais. Penso que jovens cientistas portugueses precisam de se projectar num espaço mais amplo, no mínimo o espaço europeu. Carreiras científicas não se podem limitar a um só país: os focos de actividade científica movem-se rapidamente de centro para centro com as pessoas, ideias, conexões, recursos. Não tenho informação suficiente para responder com precisão. Parece-me que o mais importante é identificar áreas em que existam vantagens competitivas e investir nelas, tendo em conta que as vantagens podem desaparecer rapidamente se não forem defendidas. Comparado com outros países pequenos como a Irlanda, a Finlândia, ou Israel, Portugal não tem sido muito efectivo em criar situações de vantagem competitiva em áreas cuidadosamente escolhidas. Em vez disso, recursos limitados parecem ser divididos por todos em fatias muito fininhas para que ninguém se sinta lesado. Fevereiro 2007 | Mundus 31. CADERNO ESPECIAL GONÇALO CASTELO-BRANCO Idade: 30 anos Área: Neurobiologia do Desenvolvimento, Células Estaminais Neurais, Epigenética Figura 1 - Obtenção de células nervosas a partir de células progenitoras/estaminais neurais fetais humanas. Funções actuais: Post-doctoral fellow, Laboratory of Molecular Neurodevelopment, Department of Neuroscience, Karolinska Institute, Stockholm, Suécia. As células progenitoras/estaminais neurais estão assinaladas a verde, pelo marcador celular nestina. Estas células foram expandidas em laboratório e posteriormente transferidas para um diferente meio de cultura, de modo a transformarem-se em células nervosas (a vermelho, marcação com a proteína beta-tubulina 3). O estudo deste processo de transformação é essencial para que, no futuro, células estaminais possam ser usadas na clínica, no tratamento de doenças neurológicas. O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Há sete anos atrás, no último ano da minha licenciatura em Bioquimica pela Universidade de Coimbra, fiz o estágio científico na Unidade de Amilóide, no IBMC, Porto, com a Professora Maria João Saraiva e a Professora Joana Palha, investigando funções da proteina transtirretina no cérebro. Durante este período, comecei a ficar interessado em neurogénese (o processo de génese de neurónios no cérebro). Procurei então laboratórios que combinassem investigação nesta área com doenças neurodegenerativas, o que na altura não encontrei em Portugal. Depois de contactar e visitar vários laboratórios, decidi iniciar o doutoramento (com uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia) no Instituto Karolinska, Suécia, com o Professor Ernest Arenas, no estudo de desenvolvimento de neurónios dopaminérgicos e aplicações de células estaminais em terapia celular na doença de Parkinson. 32. Fevereiro 2007 | Mundus O que o fez ficar? Porque não voltou? A necessidade de continuar a minha formação científica num laboratório que possuísse tecnologias de ponta nesta área de investigação, de modo a no futuro poder criar o meu próprio laboratório de investigação num ambiente académico. Depois de concluir o doutoramento, iniciei um pós-doutoramento com o Professor Ola Hermanson, igualmente no Instituto Karolinska, Suécia, no estudo do desenvolvimento de oligodendrócitos, um tipo de células que degenera em doenças como esclerose multipla. A minha investigação versa actualmente sobre o controlo epigenético do desenvolvimento embrionário destas células e subsequentes aplicações com células estaminais neurais em doenças desmielinizantes. Quando tiver condições para criar o meu laboratório de investigação, tal poderá acontecer tanto em Portugal, como na Suécia, como num terceiro pais. Essencialmente, onde encontrar essas condições. No entanto, pretendo manter sempre uma ligação à ciência feita em Portu- www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...é necessário que o Estado Português seja uma fonte de financiamento estável a longo prazo...” Figura 2 – Diferenciação de células estaminais neurais fetais de rato em oligodendrócitos. Células estaminais neurais foram expandidas em laboratório e posteriormente transferidas para um meio de cultura contendo hormona da tiróide, de modo a transformarem-se em oligodendrócitos. Numa fase inicial, os oligodendrócitos reagem contra o anticorpo RIP (a verde), enquanto numa fase mais tardia no seu desenvolvimento expressam a proteína básica de mielina (a vermelho). A geração de oligodendrócitos a partir de células estaminais humanas poderá ser utilizado, no futuro, para o tratamento de doenças desmielinizantes, como a esclerose múltipla. gal. Actualmente, mantenho-me em contacto com a ciência em Portugal através da empresa Crioestaminal, do qual sou co-fundador, e através da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapia Celular, do qual fui membro fundador e coordeno o fórum de discussão científica online. Tenho igualmente feito regularmente apresentações em conferências ou reuniões científicas em Portugal sobre células estaminais e/ou sobre a minha investigação. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Condições (a nivel de financiamento, recursos e massa crítica envolvente) para criar um laboratório de investigação académica competitivo na minha área de investigação. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Nos últimos anos, tem ocorrido um grande www.cienciapt.net/mundus desenvolvimento da ciência em Portugal. Já começa a ser mais frequente ver investigação feita essencialmente em Portugal publicada em jornais científicos internacionais de topo. Os programas de financiamento de doutoramento e pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia têm permitido que haja vários cientistas portugueses com formação científica em laboratório internacionais de referência. No entanto, é necessário que o Estado português seja uma fonte de financiamento estável a longo prazo. Para um grupo de investigação ser competitivo, tem de recorrer a fontes de financiamento diversas, como fundações não governamentais, redes cientificas da União Europeia, empresas privadas ou mesmo agências governamentais estrangeiras (nomeadamente americanas). Sendo isto importante, deve ter como base um forte financiamento estatal. Nos últimos anos têm havido uma evolução muito positiva nesta área, mas no meu ver ainda insuficiente para tornar Portugal um país com uma forte vertente científica. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Em Biomedicina, existem várias áreas em que a investigação em Portugal é competitiva a nivel internacional, mas que necessitam de maior estabilidade de financiamento para continuarem nesse nível. Actualmente considero que as áreas mais promissoras são a Biologia do Desenvolvimento e a Imunologia, essenciamente devido ao trabalho de base da Fundação Calouste Gulbenkian na formação de cientistas nestas áreas. No futuro, Neurociências e Ciências da Visão poderão ter uma grande expansão dado estarem no plano estratégico da Fundação Champalimaud. A área das células estaminais também é promissora, dado ser uma área multidisciplinar, na qual podem convergir cientistas de diferentes áreas científicas competitivas em Portugal. Fevereiro 2007 | Mundus 33. CADERNO ESPECIAL “...Nada me daria mais gosto do que a voltar a Portugal e desenvolver a minha investigação...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? GONÇALO ESPREGUEIRA THEMUDO Idade: 27 anos Área: Ciências Biológicas Funções actuais: Aluno de Doutoramento na Universidade de Leiden na Holanda em colaboração com o Naturalis - Museu de História Natural de Leiden e o CIBIO – Centro de Investigação de Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto Apesar de o ambiente de trabalho no grupo onde eu trabalhava no Porto ser excelente, as questões logísticas eram demasiado frequentes. Na minha actual situação, no Museu de História Natural de Leiden, todo o material que preciso para fazer a minha investigação está disponível imediatamente e sem restrições. Além disso, a FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) favorece as idas para o estrangeiro aumentando o valor das bolsas o que permite... O que o fez ficar? Porque não voltou? de e energia para inovar. Falta organização nos níveis mais elevados das hierarquias, falta estabilidade nos fundos. Se a estabilidade for conseguida, acredito que Portugal pode competir a nível mundial em termos de ciência. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Qualquer área de investigação tem potencial. Julgo que muitas coisas interessantes estão a ser feitas na área da investigação do cancro. Falando um bocado da minha área, Portugal tem uma enorme biodiversidade, das maiores da Europa, e já começa a haver um maior interesse por estas questões. Estando na Holanda, tenho oportunidade de fazer cursos em países vizinhos que não teria oportunidade de fazer se estivesse em Portugal, pois as viagens são mais caras. Além disso, tenho apoio do meu orientador diariamente, que pela minha experiência anterior, seria mais esporádica estando em Portugal. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Nada me daria mais gosto do que voltar a Portugal e poder desenvolver a minha investigação “em casa”. Acho que isso só vai acontecer se houver algum laboratório com condições para isso. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Portugal tem óptimo potencial para desenvolvimento de trabalhos de investigação. Tem pessoas inteligentes, com criativida- 34. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...Quando contactei várias instituições em Portugal as portas não se abriram...” GRAÇA ALMEIDA-PORADA Idade: 45 anos Área: Medicina, Biologia de celulas estaminais, Terapia Celular, Transplante de celulas estaminais Funções actuais: Professora Associada, Directora do Programa de Biotecnologia, EUA O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Fazer investigação médica foi sempre um sonho e um objectivo que tive desde o início do curso de medicina. Fui para o estrangeiro para realizar esse sonho. Depois de acabar o curso e fazer o Internato Geral resolvi escolher um Internato Complementar que tivesse uma parte laboratorial para que eu pudesse avaliar se na verdade a vida num laboratório me agradava. O Internato de Immunohemoterapia permitiu-me exactamente isso. O Director de Serviço de Hematologia do Hospital de Santo António, nessa altura era o Prof. Dr. Benvindo Justiça, um homem com visão do futuro, que tentava proporcionar aos Internos do Serviço a melhor formação possível. Como o programa do Internato permitia um ano de Investigação com o apoio do Prof. Dr. Justiça concorri a uma Bolsa de Doutoramento. Tive também a ajuda de outras pessoas extraordinárias, o Prof Doutor Sobrinho Simões, que durante todo este processo me aconselhou eestabeleceu o contacto com o Prof Dr. João Ascensão, nessa altura Director da Unidade de Transplante da Universidade de Connecticut para ser meu orientador de doutoramento, e claro o Prof. Doutor Fernando de Oliveira Torres o meu orientador de doutoramento em Portugal que durante os meus anos no ICBAS sempre me inspirou para prosseguir o meu sonho de investigadora. A oportunidade de prosseguir o meu trabalho com as condições que aqui tenho Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Acho que sim, e vejo um progresso significante a nivel de mentalidade e infraestruturas que permitem Portugal competir com outros países a nível de investigação. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Biotecnologia nas suas diferentes áreas como medicina, engenharia, são amplamente promissoras em Portugal. Temos boas Universidades e pessoas formadas nestas áreas que estão ao mesmo nivel de qualquer outro grupo Internacional. Só falta um investimento sério nestas áreas. Outras áreas provavelmente serão também promissoras mas eu não estou a par do desenvolvimento dessas áreas em Portugal. O que o fez ficar? Porque não voltou? Depois de acabar o Doutoramento tive várias ofertas para ficar nos Estados Unidos em várias Universidades. Quando contactei varias Instituições em Portugal as portas não se abriram e as pessoas não pareciam estar interessadas no meu trabalho. www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 35. CADERNO ESPECIAL “...a oferta de emprego em Portugal fica muito aquém das expectativas...” instituições ou empresas passam pelos objectivos das pessoas. HELGA MOREIRA DAVID Idade: 30 anos Área: Biotecnologia, Engenharia Metabólica Funções actuais: Investigadora, Fluxome Sciences A/S, Dinamarca Por outro lado, o que me fez não voltar a Portugal, foi a falta de perspectivas de trabalho, num meio universitário completamente saturado e num meio industrial praticamente inexistente. Acresce que, a nível pessoal, existe o facto de ter um companheiro dinamarquês. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? O que me levou a deixar Portugal há seis anos atrás foi a vontade de conhecer outras formas de viver e de trabalhar. A esta vontade de sair aliou-se o desejo de me especializar numa área científica, na qual, nessa altura, ninguém trabalhava em Portugal. E houve também o estímulo de alguém que já tinha andado por fora... O que o fez ficar? Porque não voltou? O que me fez ficar fora de Portugal, após terminar o doutoramento, foi a possibilidade de ter acesso a um mundo de trabalho, em que as pessoas são respeitadas e valorizadas, não só como alguém que trabalha, mas também como alguém que tem uma vida para além do trabalho. Um mundo de trabalho, em que as pessoas não se avaliam só pelas horas que passam a trabalhar, mas fundamentalmente pela qualidade do trabalho que realizam. Um mundo de trabalho, em que a mudança (de emprego) não é sinónimo de insegurança, mas reflecte o desejo de se querer melhorar e de dar o melhor. Um mundo de trabalho, em que os objectivos das 36. Fevereiro 2007 | Mundus A nível profissional, o que poderia motivarme a regressar a Portugal seria uma posição que me oferecesse desafios e que me fizesse sentir valorizada, com boas condições de trabalho e um bom ordenado, independentemente de estar inserida na universidade ou na indústria. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica, no sentido em que há no país, vários cientistas com muito valor – e isto é o mais importante. A questão é que as pessoas precisam de ser estimuladas para dar o seu melhor e, obviamente, ser recompensadas por isso. E, nestes aspectos, a oferta de emprego em Portugal fica muito aquém das expectativas. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? O potencial da investigação na área da biotecnologia em Portugal é muito vasto. Basta pensarmos na quantidade de produtos e processos biotecnológicos tradicionalmente usados e que têm relevância directa para a economia do país, como sejam a produção de bebidas (vinho, cerveja, etc.) e alimentos (iogurte, queijo, etc.), os enxertos em plantas, etc. Em particular, a agricultura em Portugal representa uma área que pode beneficiar grandemente da aplicação da biotecnologia, já que sofre de um grande atraso tecnológico, que apenas pode ser superado através da aplicação de tecnologia especificamente desenvolvida para as condições locais. As áreas de investigação mais promissoras são, portanto, aquelas que podem beneficiar ou impulsionar a economia portuguesa. Neste contexto, é importante uma maior interacção entre as universidades ou institutos de investigação e a indústria, de forma a pôr em prática ideias inovadoras e a conseguir o aproveitamento e a valorização dos recursos (naturais e humanos) do país. É, por consequência, necessário apostar na investigação e nos investigadores em Portugal, através da criação de mais postos de trabalho e da oferta de condições de trabalho mais atractivas. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...em Portugal... a ciência não é tema de conversa de café...” mais garantias e regalias que em Portugal, contribuiria definitivamente para ficar por cá. HUGO AGOSTINHO MACHADO FERNANDES Idade: 29 anos Área: Engenharia Biomédica Funções actuais: Estudante de Doutoramento, Holanda O que o levou a deixar o país e ir estudar/ /trabalhar para o estrangeiro? Foram várias as razões, mas eu salientaria duas em particular: a falta de oportunidade (quer no mercado de trabalho quer a nível de bolsas de investigação, a qual em Portugal se faz, maioritariamente, com recurso a bolsas da FCT, sendo estas em número limitado) e o facto de no estrangeiro ter a oportunidade de desenvolver um projecto de investigação mais aliciante. Uma outra razão tem a ver com o desafio de empreender um projecto de investigação fora do País. Julgo que, sobretudo em ciência, “viajar” por diferentes países, trabalhar em diferentes laboratórios, conhecer diferentes pessoas é uma mais valia que muitas vezes não é tida em consideração em Portugal. O que o fez ficar? Porque não voltou? Neste momento encontro-me a meio do meu projecto de doutoramento e, como tal, a questão ainda não se me colocou. No entanto, e avançando ligeiramente no tempo, considero que a existência de um mercado de trabalho aliciante e dinâmico no qual poderei aplicar os conhecimentos obtidos durante o doutoramento ou a possibilidade de prosseguir um postdoc, com www.cienciapt.net/mundus O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Uma mudança de mentalidade de muita da gente envolvida em ciência, desde os cientistas aos governantes. A ciência deverá ser reconhecida como uma mais valia para o desenvolvimento do país e não como algo que não só é estranho para a maioria das pessoas, como é vista como algo que não faz parte do seu dia-a-dia. Julgo que o maior problema em Portugal em ciência não reside tanto na falta de fundos, mas sim na aplicação dos mesmos. Não é a falta de capacidade que afecta a ciência em Portugal (como facilmente pode ser demonstrado encontrando vários cientistas portugueses nos melhores laboratórios mundiais e em cargos relevantes), mas sobretudo a passividade de alguns dos seus intervenientes. A avaliação do desempenho e a actuação em conformidade com os resultados dessa avaliação devem ser seriamente considerados e aplicados. Devem ser redireccionados os recursos para aqueles grupos que estão dispostos a trabalhar e que apresentam resultados de qualidade, em detrimento de outros. A passividade é algo intrínseco à nossa sociedade e, infelizmente, com o exemplo a vir do topo. porcionando aos nossos cientistas as condições que eles encontram no estrangeiro que seriam eles capazes de fazer em Portugal? Portugal é o nosso País e eu julgo que qualquer português tem orgulho em ajudar o seu país a desenvolverse. Uma tarefa hercúlea, por vezes, mas uma tarefa que muitos estão dispostos a empreender e muitos mais o farão no futuro. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? As áreas relacionadas com a medicina e tecnologia. Portugal é um país aberto às novas tecnologias. Não terá sido por acaso que a aplicação de novas tecnologias nos levou, há cinco séculos atrás, por mares nunca antes navegados.... Sobretudo na área da medicina julgo estar na altura de começar a aplicar os conhecimentos “de bancada” num cenário clínico, aquilo que é designado por medicina translacional. Julgo que esta será uma disciplina com futuro em Portugal. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Na minha opinião, em Portugal, e muito por culpa dos cientistas, a ciência não é tema de conversa de café. As pessoas estão alheadas do que se passa não só no país como na ciência em geral e isso deveria mudar. Uma sociedade informada será uma sociedade interventiva. Iniciativas como esta revista de divulgação científica, simpósios, conferencias, workshops e afins devem ser feitos de uma forma regular, não somente para a comunidade científica mas, em especial, para a comunidade em geral. Comunicar ciência não é fácil mas não é impossível. Julgo que sim e julgo que o é possível fazer com qualidade e reconhecimento internacional, como tem sido demonstrado por alguns grupos de investigação. O que nos deveremos perguntar é: seria possível fazer mais com melhores condições? Aumentando o investimento em ciência conseguiríamos melhores resultados? Um processo de avaliação que contemplasse a excelência teria impacto na forma de fazer ciência? Pro- Vejo com alguma preocupação o facto de a maioria das instituições dar prioridade a pessoas da casa em detrimento de pessoas com currículos mais adequados à função. Este é outro dos aspectos que, a meu ver, deve ser mudado o quanto antes para que a ciência avance e, concomitantemente, o conhecimento flua pelas diferentes instituições. Fevereiro 2007 | Mundus 37. CADERNO ESPECIAL “...(Portugal) não é o país ideal para se desenvolver investigação...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? HUGO ALEXANDRE PEREIRA MONTEIRO Idade: 24 anos Área: Indústria Espacial Funções actuais: Portuguese Trainee - Mission Control System and Simulator Data Systems Engineer na Agência Espacial Europeia, Darmstadt, Alemanha Acima de tudo uma vontade de abrir horizontes. Sentia curiosidade de saber como era o mundo fora do nosso “jardim à beira-mar plantado”. Além disso, foi também o desejo de me aproximar um pouco de outra área que me apaixona, a astronomia, e por isso decidi candidatar-me a um estágio na Agência Espacial Europeia. O que o fez ficar? Porque não voltou? O principal motivo que me mantém fora de Portugal é a enorme variedade de carreiras possíveis no estrangeiro, comparado com as opções existentes em Portugal. Além disso, qualquer que seja o ramo escolhido, técnico, gestão ou investigação, existe sempre uma perspectiva de evolução e existem boas remunerações em todas as áreas, enquanto que em Portugal as áreas técnicas e de investigação estão um pouco esquecidas. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Mudança de mentalidades das empresas portuguesas. Acima de tudo, estas deviam aprender a motivar e recompensar trabalhos bem feitos. Só quando as empresas souberem respeitar e motivar os seus colaboradores é que esta tendência emigração poderá abrandar. No entanto já há algumas (poucas) empresas onde já se pratica uma filosofia diferente, no entanto espero que 38. Fevereiro 2007 | Mundus as outras enveredem pelo mesmo caminho, uma vez que eu gostaria imenso de voltar para Portugal e, para já, isso só não está nos meus planos por motivos profissionais. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Digamos que não é o país ideal para se desenvolver investigação. Acima de tudo pela falta de fundos, que se podem justificar pela escassa ligação do mundo da investigação com o sector empresarial. Existem já algumas actividades no sentido de estimular essa ligação, mas ainda está tudo muito “verde”. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? As áreas que mais potencialidades têm são aquelas que conseguem unir esforços de investigadores de muitos campos de estudo diferentes, como por exemplo, a bio-informática. Recentemente tem havido enormes desenvolvimentos em muitas áreas (biologia, ciências da computação, neurologia, etc...) essencialmente graças à colaboração entre elas e ao aparecimento destas novas áreas intermédias que se ocupam essencialmente de proporcionar novos métodos de estudo e optimizar ao máximo as sinergias entre os diversos campos. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...E Portugal, por muito que se diga que não, não está assim tão mal...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Idade: 27 anos Porque me interessava o que fazia o grupo em que estou integrada. E, também, pelo facto de se tratar de um dos grupos mais conceituados dentro da área – Genética Evolutiva. Área: Genética Evolutiva O que o fez ficar? Porque não voltou? INÊS SUSANA PIRES C. DA CONCEIÇÃO Funções actuais: Estudante de Doutoramento, Espanha Ainda estou a terminar o doutoramento. Quanto ao futuro, ainda não sei muito bem se ficar aqui ou voltar para Portugal. Uma pessoa acaba também por construir uma vida no sítio onde está. E, estando em Espanha, a diferença de cultura é mínima e portanto, sinto-me bastante integrada. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Uma posiçao nalguma instituição, fosse uma universidade ou outro tipo de instituição. Mas, afinal de contas, isso é o que todos queremos, em qualquer área, não só na ciência. www.cienciapt.net/mundus Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Acho que a ciência se pode desenvolver em qualquer país que tenha alguma estabilidade económica. E Portugal, por muito que se diga que não, não está assim tão mal e não tem muitos mais problemas económicos que o resto da Europa. Neste momento, parece-me que já se desenvolve bastante trabalho científico, pois apercebo-me que as pessoas de aqui e de outros sítios conhecem instituições como a Gulbenkian, o IBMC, Vairao, etc... Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Confesso que não conheço muito bem o estado da investigação em Portugal. Mas parece-me que os novos projectos para investir na tecnologia são bastante promissores. Também os programas de doutoramentos direccionados à Biomedicina, como o da Gulbenkian, são importantes. Fevereiro 2007 | Mundus 39. CADERNO ESPECIAL “...É claro que não controlamos tudo na nossa vida...” JOÃO CARVAS formação pós-graduada em Portugal, mas a maneira como as oportunidades foram surgindo trouxe-me até à Suiça para fazer 4 anos de doutoramento. Idade: 25 anos O que o fez ficar? Porque não voltou? Área: Fisiologia e patologia do sistema cardiovascular Funções actuais: Estudante de doutoramento, Suiça O que o levou a deixar o país e ir estudar/ /trabalhar para o estrangeiro? A minha saída de Portugal foi sempre possibilidade durante o curso. Uma participação no programa Erasmus para ir estudar na Universidade de Salamanca contribuiu para aumentar esta vontade. A decisão não teve como base uma percepção de que o nível científico fora de Portugal fosse superior ao do meu país. Aliás, existem em Portugal excelentes laboratórios com gente muito boa naquilo que faz, onde se pratica uma ciência de primeiríssima água, perfeitamente capaz de ombrear com qualquer laoratório mundial. Esta decisão partiu da minha crença de que qualquer cientista deve viajar, conhecer e absorver outras realidades e maneiras de estar na ciência, quer durante a sua formação, quer no decurso da sua carreira profissional. Isto aplica-se, claro, a qualquer actividade profissional mas é premente para alguém que vai passar o resto da vida a criar e a transmitir conhecimento e que estará em competição permanente com o resto do mundo. Se há área em que a globalização mais se entranhou, e bem, essa é a ciência. Mas é claro que tudo isto tem o seu quê de fortuito. Poderia perfeitamente ter iniciado uma 40. Fevereiro 2007 | Mundus Por enquanto a minha permanência em Fribourg está a ser bastante produtiva e enriquecedora. Enquanto for um desafio ficarei por aqui. Depois do doutoramento gostaria de viajar até outro país para fazer um pós-doutoramento. Regressar a Portugal sempre fez parte dos meus planos, mas apenas a médio-longo prazo. É claro que não controlamos tudo na nossa vida, e por isso não tenho a certeza absoluta que um dia regresse. De qualquer maneira gostaria de voltar e por em prática o que apenderei nesta formação além fronteiras. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Essa é uma questão importante. Os cientistas que com muito mérito se conseguem impor fora de Portugal muitas vezes acabam por não voltar porque nos países de acolhimento lhes criam todas as condições para que trabalhem com qualidade. Como já referi, existem em Portugal diversos centros de excelência em investigação, onde já se instituiu a cultura do mérito. Enquanto esta meritocracia não for também transferida para as Universidades por exemplo, não existem possibilidades de um regresso massivo dos nossos cientistas porque os institutos de investigação têm uma capacidade limitada. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? se faz em Portugal evoluiu, e continua a evoluir, de forma notável, muito graças às políticas de alguns governos que têm sabido valorizar a inovação e a investigação. Existe no entanto muito trabalho a fazer, sobretudo no que diz respeito ao envolvimento do sector privado neste esforço que deve ser de toda a sociedade. Outra medida importante seria a reforma profunda do sistema universitário, que deveria ser muito mais produtivo em I&D e ser capaz de estender relações com a comunidade em que se insere e com o tecido empresaria que a rodeia. Existe uma grande falta de flexibilidade e proactividade por parte de alguns docentes, que ainda vêm a investigação como um “passatempo” mais lúdico e meramente demonstrativo, do que essencial para o futuro da universidade. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Ao nível da investigação mais fundamental ou básica, existem numerosas áreas com excelentes exemplos no nosso país. Gostaria de valorizar aquelas ligadas ás ciências da saúde e que versam sobre as patologias que são endémicas do nosso país, como a doença de Machado-Joseph ou paramiloidose, e que podem ter um maior impacto sobre a saúde de muitos portugueses. Outra área de inovação já bastante importante em Portugal – é já o terceiro sector exportador – é a investigação e produção farmacêutica. Esta é uma área na qual podemos competir e com a qual se obtém uma mais valia para o país que é imediata. Mas para além destas, penso que a investigação ligada ao mar, ao ambiente e às energias renováveis pode e deve ter no nosso país um lugar de destaque. Como o país ainda não tem um PIB igual ao de outros países Europeus mais ricos, o dinheiro deve ser investido em áreas que criem uma mais valia para o nosso país e para a sua população. Não vejo porque não. A qualidade da ciência que www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? JOÃO MATOS Idade: 27 anos Área: Ciclo celular Funções actuais: Estudante de Doutoramento, Alemanha “...sair de Portugal é muito importante...” A vontade fazer ciência. O facto de ser bastante difícil conseguir uma bolsa de Doutoramento em Portugal talvez tenha sido o factor que desencadeou a procura de outras paragens. Em Portugal o potencial do candidato à bolsa de doutoramento é avaliado essencialmente com base num número. Não é relevante perceber, por exemplo, os níveis de motivação que movem o candidato a trabalhar numa área onde a dedicação e persistência são um dos principais factores de sucesso. Quando a motivação é suficientemente grande as fronteiras do país são facilmente ultrapassáveis e então deparamo-nos com uma oferta muito grande, especialmente em países onde a ciência é verdadeiramente um motor de desenvolvimento. No Instituto Max Planck for Cell Biology and Genetics na Alemanha, onde estou quase a concluir o doutoramento no laboratório do Dr. Wolfgang Zachariae, todos os anos são convidados para entrevistas cerca de 80 candidatos de entre 600 concorrentes de todo o mundo. Num instituto com cerca de 300 investigadores 50% são estrangeiros, de 35 nacionalidades. A pergunta que se põe é: Porque é que é tão atractivo vir para cá? Porque para além de condições extraordinariamente boas para fazer investigação de topo, que é a principal razão de tal sucesso, existe uma preocupação muito clara de tornar o ambiente atractivo também para os momentos fora do trabalho. Existe por exemplo uma preocupação grande em que os investigadores com família consigam facilmente integrá-la na sua vinda para a Alemanha. a grupos de trabalho com especializações diferentes. Neste aspecto, sair de Portugal é muito importante, pelo menos durante o doutoramento ou pos-doutoramento. O que o fez ficar? Porque não voltou? Penso voltar para Portugal mas não antes de fazer pelo menos um pos-doutoramento. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Uma boa oferta de trabalho. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Acho que tem muito potencial. Basta ver o número de cientistas portugueses espalhados pelo mundo a trabalhar em alguns dos laboratórios com maior reputação mundial. Tendo os cientistas, só falta conseguir competir com outros países nas condições que lhes são dadas para fazer investigação! Sem isso não é fácil atrair, pelo menos, os melhores. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Pelos vistos a grande aposta parece ser em áreas ligadas à biotecnologia. As ciências do mar também me parecem ter bastante potencial. Na minha opinião é também muito importante estabelecer contactos com grupos fora de Portugal porque hoje em dia é muito difícil competir ao mais alto nível sem pertencer www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 41. CADERNO ESPECIAL “...há que apostar em investigação no que Portugal apresenta de vantagens...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? JOÃO HENRIQUE NUNES PALMA Idade: 31 anos Área: Ciências Naturais (Biologia/Agricultura/Floresta/Geografia) Doutoramento: Integrated assessment of silvoarable agroforestry at landscape scale Funções actuais: Investigador de Pós-Doutoramento, Suiça Quando terminei a minha licenciatura estava “esgotado”, queria fazer algo de diferente do que tinha feito durante o meu curso, algo sem ser relacionado com ciência, experimentar outras coisas, conhecer outros contextos. Surgiu então uma hipótese para trabalhar no estrangeiro e aí começou a aventura cá fora. O que o fez ficar? Porque não voltou? Existem várias razões que me foram fazendo ficar. Antes de começar o doutoramento foi a visão de que perspectivas sustentáveis de trabalho em Portugal eram praticamente invisíveis (se as existissem) e desprovidas de qualquer futuro. Para estar futuramente inseguro, pelo menos estava-se a ganhar mais cá fora. Durante o doutoramento a razão principal de ficar era acabá-lo. Agora, mantenho-me no estrangeiro porque fui solicitado para ajudar ao arranque de um projecto. Ofereceram-me uma posição de Post-Doc e aceitei. mento em relação a esse investigador por se tratar de uma condição precária como sugere o código de conduta para recrutamento de investigadores (www.europa.eu/eracareers/europeancharter). Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Nunca desenvolvi trabalho científico em Portugal (além da licenciatura), logo não posso falar por experiência. No entanto, visto de fora tenho a ideia que Portugal tem tão bons ou melhores cientistas que os outros países. É apenas uma questão de motivação por parte das instituições superiores, obviamente motivação pessoal e, principalmente, dos líderes dos grupos de investigação. Se existir essa motivação, Portugal é um país tão bom ou melhor que os outros para desenvolver trabalho. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Um contrato permanente de trabalho numa Universidade/Instituto de Investigação para que pudesse exercer investigação sem ter de me preocupar (ocupar cérebro sem ser na ciência) em procurar um novo contrato ao fim de 3 ou 5 anos. Mas esta realidade tende a mudar para o bem e para o mal, as instituições públicas fazem cada vez menos contratos permanentes. Por isso, já me contentava com um contrato de trabalho a 5 anos com as mesmas regalias sociais de um investigador permanente com as mesmas funções e com um ligeiro au- 42. Fevereiro 2007 | Mundus Há dois contextos principais. Um a nível nacional e outro a nível global inseridos numa União Europeia (cada vez maior). Comecemos pelas características de Portugal. É pequeno. Não temos fontes de petróleo, diamantes nem ouro. Excluindo as ilhas (para simplificar), é um país com clima atlântico mas maioritariamente mediterrânico no qual a agricultura está localizada precisamente nessa maioria e a indústria localizada no norte. É um país em que metade da fronteira é oceano. É um país com qualidade turística. Tem recursos e qualidades humanas internacionalmente reconhecidas. Tem cérebros que quando motivados fornecem conhecimento www.cienciapt.net/mundus e tecnologia que podem colocar Portugal na vanguarda (como há 500 anos o foi). No contexto global temos de entender que estamos incluídos numa Europa com perto de 500 milhões de pessoas que estão cada vez mais perto umas das outras e que há problemas/desafios comuns para resolver (por ex. alterações climáticas). Num ponto de vista estratégico, há que apostar em investigação no que Portugal apresenta de vantagens, e ao mesmo tempo que sejam internacionalmente úteis. Não esquecendo a investigação fundamental e estrutural, em que o impacto é indirecto por ser executado em aplicações práticas, a investigação técnico-prática é a que poderá ter mais impacto na sociedade pois é aquela em que melhor se podem ver efeitos e a sociedade dar mais valor e por isso ser mais “promissor”. Em Portugal investigação em medicina, biotecnologia, qualidade (alimentar, turística, etc.), recursos energéticos e tecnologias de informação parecem-me áreas (certamente faltarão algumas) em que Portugal pode ser líder (ou estar entre os líderes) com especial ênfase para as tecnologias de informação (engenharia de software, telecomunicações, etc.). Esta área abrange todo o mercado das outras áreas de investigação e requer recursos relativamente baratos, tendo um grande retorno, quer do investimento, quer na motivação e interesse por parte da utilização do público. Descurei um pouco as áreas das ciências sociais, artes e humanidades, mas todas as áreas podem ser promissoras desde que se vejam resultados da sua aplicabilidade na sociedade. www.cienciapt.net/mundus Todas as áreas são importantes e necessárias para um desenvolvimento sustentável. Claro que tudo isto não funciona bem sem uma estrutura sólida e organizada que é impossível de manter e motivar quando há cortes orçamentais... a) Linhas de Pesquisa (Research guidelines) Quando se reside e trabalha fora de Portugal, tem-se oportunidade de ver o país com outros olhos, ao mesmo tempo que se conhece ao pormenor a realidade do país onde se trabalha. Deixo aqui uma ideia que vejo funcionar e que penso que funcionaria dadas as qualidades dos portugueses. Uma das capacidades habitualmente relacionadas com portugueses é a sua capacidade inventiva e de flexibilidade. O governo e ministérios têm em seu poder dados relativos às necessidades do país. Os cientistas poderiam ter um papel mais forte/útil na sociedade se conseguissem tentar chegar ao encontro das necessidades estratégicas do país. Poderia haver por exemplo um “Fundo para Ciência Estratégica” capaz de lançar desafios às capacidades dos cientistas. Seria um Processo Top-Down a adicionar ao existente Bottom-Up dos dias de hoje. Neste sistema existente cada cientista (ou grupo de cientistas) propõe o que acha o que deve ser feito. Por um lado está correcto mas por outro deveria haver também uma vertente paralela directamente vocacionada para os problemas actuais do país, sem ser confundido com uma eventual “nacionalização do sistema científico” associado a tempos antigos. Moderação e complementaridade sempre foram e serão a chave do segredo. Seria assim mais um estímulo para reunir grupos de investigação engrenados para o mesmo objectivo em vez de os grupos fazerem os seus próprios objectivos em que os resultados são mais difíceis de reunir. b) Estratégia vista de fora A época do ouro diamantes e canela das colónias já lá vai. Somos lembrados pela nossa cultura expansionista, de descobrir novos mundos mas não nos podemos esconder nas lágrimas do fado. Não somos “coitadinhos” e não foi com esse ar de “coitadinhos” que egocentricamente dividimos desigualmente o mundo em dois com os nossos vizinhos espanhóis. Foi com uma visão de estratégia a longo termo. Vejo com bons olhos o investimento na ciência e inovação que o actual governo está a implementar. Revela maturidade e estratégia. A ciência e inovação são o motor das economias. No entanto, politicamente, numa democracia, é arriscado investir nesta área pois os resultados não se vêem a curto prazo, a tempo de “recolher votos” para as próximas eleições. Normalmente as pessoas dão valor a resultados de curto prazo e entendem mal as necessidades de construir uma base sólida para evitar as tão familiares políticas “tapa buracos”. Embora o português saiba e prefira remendar algo com um “aramezinho” para a solução imediata (não é por acaso que os navios ingleses requeriam sempre um português a bordo), é necessário que se entenda que em política, o investimento de longo prazo em pilares e multiplicadores da economia são importantes, necessárias e que as devemos exigir dos políticos e principalmente ignorar a crítica destrutiva de qualquer oposição. Fevereiro 2007 | Mundus 43. CADERNO ESPECIAL “...Eu voltarei a Portugal num abrir e fechar de olhos se em Portugal existir uma oportunidade...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? JOÃO PEDRO SOUSA Idade: 41 anos Área: Engenharia de Software Funções actuais: Professor Universitário, EUA Olhe, seria tentador para mim dar uma resposta de circunstância: que não há condições em Portugal. Mas a verdade é que quem se lembra de crescer em Portugal nos anos 70, e o vê hoje, não pode deixar de notar um progresso tremendo. Eu saí de Portugal porque, depois de trabalhar um bom par de anos, resolvi perseguir um velho sonho: fazer um doutoramento na melhor escola que eu podesse alcançar. Por coincidência, essa escola era no estrangeiro. O que o fez ficar? Porque não voltou? Para mim, a vida tem fases. Nesta fase quero dedicar-me à investigação e ao ensino universitário, e por isso sondei o mercado de trabalho nessa àrea. Eu vou contar como é que isso se passou, porque é importante perceber como, muitas vezes, o que faz a diferença é mais do que tudo uma questão de atitude. Eu mandei várias dezenas de candidaturas para os Estados Unidos, Canadá, e Europa. De ambos os lados do Atlântico há muito mais candidatos do que vagas: só para dar um exemplo, a Universidade onde agora me encontro recebeu este ano mais de 200 candidaturas para duas vagas de professor, e este é um número perfeitamente normal. Do lado de lá, as universidades publicitam as vagas por todos os meios, e competem entre si para atrair os melhores candidatos. Depois têm um processo de seleção rigorosíssimo que culmina com entrevistas de três ou quatro candidatos para cada vaga: o que implica pagarem avião, hotel, e todas as despesas aos candidatos, venham eles donde vierem. 44. Fevereiro 2007 | Mundus Mesmo as mais discretas universidades públicas competem nestes termos. Das candidaturas que mandei, recebi e aceitei 6 convites para entrevista nos Estados Unidos e Canadá. Do lado de cá do Atlantico, o processo de recrutamento é bastante diferente. Preferem-se os candidatos que já fazem parte da casa. E a mesma diferença de atitudes mantém-se na gestão de toda a carreira profissional. Bom, mas a verdade é que esta é só metade da história. Do lado de lá do Atlântico os professores trabalham como Mouros, também de um modo muito directo para atrair financiamento para a sua actividade e para a actividade da escola. Mas são muito melhor pagos. E eu nunca tive aversão ao trabalho. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Eu voltarei a Portugal num abrir e fechar de olhos se em Portugal existir uma oportunidade, e condições, de fazer trabalho excelente. E com excelente, quero dizer a nível internacional. Mas digo isto com a perfeita consciência que o nível de investimento, e a existência de meios humanos, que é necessario para fazer trabalho a esse nível, não se compadece com a escala de Portugal. É preciso pensar em termos Europeus. Quanto às condições, mais do que as condições materiais é preciso mudar a atitude em relação ao insucesso, e através dela toda a forma de gerir a ciência e as carrei- www.cienciapt.net/mundus ras científicas. Primeiro, é preciso entender que a ciência é uma actividade de risco, e que em cada dez ideas, é optimo se uma tiver sucesso. Em segundo lugar, deve ser encarado de forma natural que a ciência nâo é uma actividade em que todos possam ter productividade, ou em que possam manter essa productividade durante toda a vida. Em Portugal existe um medo tremendo do insucesso, ou que se saiba que se falhou, e isso limita tremendamente as trajectórias de investigação, e pior, as escolhas profissionais das pessoas e das intituições. Nisto a sociedade Americana é radicalmente diferente da Portuguesa: eles aprendem desde muito cedo a “cair do cavalo,” levantarem-se e sacudir a poeira. Como não existe o receio de estigmatizar as pessoas quando o nível de prestação não é o desejado, também não há qualquer reserva em encorajar as pessoas a irem ser excelentes... noutra actividade. Por exemplo, eu encontrei recentemente na California colegas Americanos que tiveram 3 empregos em 3 anos, e nem por isso se sentiam diminuídos. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Vai-me perdoar a aparente falta de patriotismo, mas Portugal não é nem melhor nem pior do que qualquer outro país. Tudo depende em que é que Portugal queira in- www.cienciapt.net/mundus vestir e ganhar estatura internacional. E aqui é importante tomar consciência que nenhum país pode ser o melhor em tudo. Por outro lado, um país não é atractivo por ser bonzinho em muita coisa: é preciso concentrar energias e ser realmente muito bom em duas ou três coisas. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Bem, Portugal tem dois recursos: o mar e as pessoas. No mar, Portugal pode vir a tomar uma posição de liderança na mudança de atitudes, passando da depredação à gestão informada dos recursos marinhos. Com isto quero dizer que Portugal pode não só gerir bem os seus recursos, como posicionar-se para ajudar outros países a conhecer e a gerir os seus recursos. Outra àrea com uma importância estratégica crescente è o desenvolvimento de fontes alternativas de energia ligadas ao oceano. gueses têm um excelente potencial. E isto deve-se a combinarem um espírito que é simultâneamente creativo e prático, com uma boa base matemática. Outras culturas reúnem frequentemente uma ou duas dessas características, mas é menos frequente encontrarem-se as três com a mesma abundância. Tem dúvidas? Então os Americanos não colocaram o Homem na Lua? Pois, mas para isso precisaram de centenas de cientistas Alemães que “importaram” na sequência da vitória na 2.a guerra mundial. Mas sejamos claros, para realizar este potencial dos Portugueses é preciso continuar a investir seriamente na educação e na formação de líderes. E é preciso sobretudo deixar para trás a idea que somos um país pequeno, ou cuja actividade tem de se confinar ao espaço das suas fronteiras. Noutras áreas de ciência cuja “matéria prima” sejam pessoas, por exemplo, medicina, ciências sociais, matemática, etc. Portugal pode ser tão bom quanto queira. Mesmo em ciências que exijam níveis consideráveis de investimento em infrastrutura, como a física, nada deveria impedir que os cientistas Portugueses beneficiem da infrastrutura Europeia. Na àrea que me diz mais respeito, das ciências da informação, eu diria que os Portu- Fevereiro 2007 | Mundus 45. CADERNO ESPECIAL “...Valia a pena recrutar quem já esteve fora..., como fez Espanha...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? JOÃO LUIS ASCENÇÃO Idade: 58 anos Área: Medicina (Hemato-Oncologia) Funções actuais: Professor Catedrático de Medicina Interna e Imunologia, The George Washington University School of Medicine; Chefe-assistente, Serviço de Hematologia, Veterans Hospital, Washington, DC, EUA As possibilidades de fazer investigação básica com investigadores/mentores de alto calibre científico. O que o fez ficar? Porque não voltou? Falta de condições para voltar: não havia laboratório; não havia qualquer garantia de suporte financeiro ou académico; salário muito baixo; muitas promessas sem contratos; estrutura académica fossilizada e muito “incestuosa”. O que me fez ficar: foi-me oferecido a possibilidade de fazer trabalho clínico, o que me obrigou a voltar ao internato, mas que me lançou no caminho da investigação clínica. capazes, e está provado que são capazes de competir a nível internacional. Falta é uma estrutura organizacional capaz, menos politicizada, com uma visão a curto e longo prazo e subsidiada de uma forma que permita fazer investigação. Há muitos núcleos a fazer investigação de qualidade, mas são muitas estrelas num horizonte grisalho. Valia a pena recrutar quem já esteve fora e proporcionar condições e capacidade de trabalho, como fez a Espanha. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Biologia e neste quadro incluo a Biologia Molecular, a Hemato-Oncologia Básica e Clinica, a Neurobiologia, Imunologia; a BioTecnologia; a Ciência de informatização e Computadores. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Neste momento seria a possibilidade de estabelecer um Centro de Cancro – Freestanding – ou associado a uma entidade universitária, que dispusesse de uma estrutura independente, com um orçamento próprio, garantido por um mínimo de 5 anos; e onde se pudesse fazer trabalho clínico, investigação clínica e básica; e com um contrato que obrigasse a uma avaliação anual e no final de 5 anos; com uma estrutura administrativa própria e independente; com um Conselho de Avaliação Científico e Médico Nacional e Internacional; com ligações a outros centros nacionais e internacionais. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Acho que sim; as pessoas são inteligentes e 46. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...Portugal é ainda um país onde há outras prioridades...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? JOÃO F. GOMES Idade: 37 anos Na altura era muito difícil fazer um doutoramento em economia em Portugal. Além disso muitos dos meus professores eram Doutorados nos EUA. Área: Economia e Finanças O que o fez ficar? Porque não voltou? Funções actuais: Professor Associado, The Wharton School, University of Pennsylvania - Philadelphia, EUA Acima de tudo porque é muito mais estimulante. Hoje em dia não há grandes dúvidas que os EUA são um pólo de atracção para os melhores economistas do mundo. A concorrência é enorme e a pressão para produzir trabalho interessante, especialmente nas melhores escolas, é muito intensa. É claro que em Portugal seria muito mais fácil ser bem sucedido e ganhar o respeito dos meus colegas e até da sociedade em geral. Mas seria um sucesso ilusório porque a qualidade do meu trabalho seria muito inferior. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? O regresso permanente seria sempre uma decisão pessoal. Não creio que seja possível estabelecer em Portugal o tipo de condições profissionais que sejam comparáveis às que tenho hoje. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Economia e gestão são as áreas que conheço razoavelmente bem e penso que nestas temos dois problemas importantes. Primeiro temos bastante falta de massa crítica. Não é geralmente possível fazer investigação de qualidade sem estar em contacto regular com outros cientistas dedicados e com talento. Segundo os incentivos para fazer investigação são muito poucos. Infelizmente Portugal é ainda um país onde há outras prioridades e muitos cientistas de talento são encorajados a dedicar-se a resolver problemas mais imediatos. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Depende bastante do objectivo da investigação. Pessoalmente acho que não há grande vantagem em investigar apenas para reinventar o que já se sabe no resto do mundo. É bastante mais eficiente mandar pessoas estudar nas melhores escolas internacionais e trazer esses conhecimentos para o país. Em geral seria melhor concentrar recursos nas (poucas) áreas onde já existe um núcleo de cientistas dedicados e de reconhecida capacidade e talvez também em áreas onde o investimento de recursos seja relativamente pequeno. É mais realista pensar em colaborações temporárias mas periódicas. A esse nível não creio que existam grandes obstáculos. www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 47. João Zilhão na Pestera cu Oase (Roménia), onde foi responsável pela escavação dos mais antigos restos de homem moderno da Europa (cf. PNAS, 104, 2007, p. 116570). O acesso à galeria onde se realizaram as escavações fazia-se por progressão espeleológica, incluindo passagem de um sifão com equipamento de mergulho. “...a universidade portuguesa está transformada num cemitério intelectual...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? JOÃO ZILHÃO Idade: 50 anos Área: Arqueologia Pré-histórica Funções actuais: Professor of Palaeolithic Archaeology, University of Bristol, UK Fiz todos os meus estudos (licenciatura, doutoramento, agregação) em Portugal, e não foi senão aos 48 anos de idade, já com uma carreira científica consolidada, que decidi emigrar. Porquê? Sem querer exagerar, e admitindo que a minha experiência é parcial e que as coisas podem ser muito diferentes, para melhor, noutras áreas, por me ter finalmente resignado à constatação de que a universidade portuguesa está transformada num cemitério intelectual controlado por uma legião de fósseis vivos dedicados à promoção do seguidismo, do “respeitinho” e da antiguidade, e à perseguição activa e militante do mérito e da independência de espírito. Em tal ambiente, chega-se inevitavelmente a um ponto onde já não é possível avançar: ou te juntas a eles, ou vais-te embora. Eu fui-me embora. O que o fez ficar? Porque não voltou? Como a minha emigração é recente, a pergunta pertinente seria se faço tenções de voltar, e a resposta é não. O que me faz ficar é um ambiente intelectual são e uma cultura científica de trabalho, de emulação e de colaboração que estão a anos-luz do que em Portugal conheci e aguentei ao longo de mais de duas décadas. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Teriam que me ser dadas condições materiais de trabalho, isto é, garantias de orçamento, de contratação de pessoal e de possibilidade de formação de equipas que, no quadro actual, não existem em lado nenhum (que eu saiba). A ironia é que, no âmbito do Ministério da Cultura, tive já, entre 48. Fevereiro 2007 | Mundus 1999 e 2002, oportunidade de montar um centro com essas características e de nível internacional reconhecido; era um corpo estranho, e por isso desde então votado pelas sucessivas tutelas ao ostracismo e a uma vida no limiar da subsistência. A lição que aprendi é que, salvo honrosas e pontuais excepções, as nossas elites administrativas e políticas sofrem de uma profunda incultura científica, e que não se pode depender delas para construir nada de duradouro. E como a universidade é o que é... Em todo o caso, talvez me sentisse encorajado a pensar no regresso, se entretanto visse algumas mudanças estruturais profundas. Por exemplo, e só para começar, uma revisão do Estatuto da Carreira Docente Universitária que pusesse fim à estrutura hierárquica, de matriz militar-eclesiástica, em que a cada “patente” corresponde um certo tipo de “poder fazer”, e que, por via do controlo sobre os júris e sobre as carreiras, se traduz, na prática, num regime de poder absoluto dos catedráticos, ou seja, o regime ideal para a produção e reprodução da cultura do “respeitinho”. Acabar com esse regime, igualizando em “poder fazer” todos os doutorados, e transformando as “patentes” simplesmente em patamares de remuneração a que se chega por mérito absoluto reconhecido por júris externos, seria um bom princípio. Sem essa mudança radical, os poderes fácticos que transformaram a universidade portuguesa numa jazida paleontológica não desaparecerão nunca. Depois, tudo o resto que faz falta para que haja investigação a sério: financiamento justo de projectos, equipas com orçamentos estáveis, formação de doutorandos, programas de recrutamento e de renovação periódica das equipas, etc. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL João Zilhão (à direita) e Laurentiu Sarcina na Pestera cu Oase (Roménia), realizando as medições da radiação gama ambiental necessárias para a datação dos ossos por ESR (res- O crânio Oase 2 e a mandíbula Oase 1, descobertos entre 2003 e 2005 no quadro de um projecto de investigação dirigido por João sonância electromagnética de spin). Zilhão (Universidade de Bristol) e Erik Trinkaus (Washington University St. Louis). Se, na minha área, vir que se fazem progressos nesta direcção, seja na universidade seja em instituições do tipo Laboratório de Estado, poderia pensar em regressar, ou pelo menos em ter, ainda que de fora, uma colaboração activa com instituições portuguesas. De outro modo, “para esse peditório já dei...” tífica de que sofrem, acordaram num modelo de desenvolvimento económico para o país assente na intermediação e nos serviços, não na produção, e isso reflecte-se logicamente na atenção (ou falta dela) que se dá à investigação. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? No que diz respeito à minha área, sim e não. Sim, pelo potencial científico do território para a abordagem de questões centrais da evolução humana (potencial ilustrado, na última década, por achados de repercussão mundial como a arte rupestre do Côa ou o esqueleto da criança do Lapedo), pela existência de gente capaz, e pelo interesse da opinião pública. Não, porque as elites administrativas e políticas, além da generalizada incultura cien- www.cienciapt.net/mundus do ponto de vista da estratégia de serviços (turismo), mas que é quotidiana e criminalmente desperdiçado por incompetência e incúria governativas — a experiência diz-me que não. Desde logo, quando mo pedem, o conselho que dou a estudantes e jovens investigadores com interesse pelo estudo das origens do homem é: se querem fazer alguma coisa de jeito, emigrem. No quadro acima, é compreensível que os meios de que se dispõe para o ensino superior e a investigação sejam canalizados para as coisas que são básicas para que o país possa funcionar e a estratégia de desenvolvimento escolhida seja viável: ou seja, para disciplinas aplicadas, como a medicina, a biologia humana, a engenharia, a informática, ou a economia. Para quem se dedique a estas áreas, acredito que haja oportunidades em Portugal. Para quem se dedique à investigação fundamental, incluindo áreas como a minha — que até tem algum potencial económico Fevereiro 2007 | Mundus 49. CADERNO ESPECIAL “...Sinto não ter saído, nem regressado... o meu mundo é uma Aldeia...” Nessa altura fui convidado a criar um gru- JONAS ALMEIDA Idade: 40 anos Área: Bioinformática / Biologia Computacional Funções actuais: Professor Catedrático da Universidade do Texas em Houston, Departamento Bioinformática e Biologia Computacional do MDAnderson Cancer Center. EUA Filiação à Universidade Nova de Lisboa como Professor Catedrático do ITQB/ UNL (Oeiras) e cordenador do grupo de Biomatemática. Esta segunda é uma posição não remunerada O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Fui fazer um postdoc na Universidade do Tennessee em Knoxville no Centro de Biotecnologia Ambiental. O Centro era liderado pelo Professor David White (falecido recentemente) que foi durante a carreira dele não só uma referência na área mas também um visonário que influenciou gerações de alunos de pós-graduação na área de consórcios microbianos e ciclos minerais no ambiente. A minha saída foi originalmente organizada pela minha mentora de doutoramento, a Professora Ascecção Reis, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. O que o fez ficar? Porque não voltou? Na realidade eu voltei para a FCT/UNL onde continuei o percurso Académico até chegar a Professor Auxiliar com nomeação definitiva. 50. Fevereiro 2007 | Mundus po de Biomatemática no ITQB pelo Professor António Xavier de que todos ouvimos falar recentemente na ocasião da celebração da sua carreira e pela grande influência que teve em múltiplos percursos académicos no país. Eu sou um de muitos beneficiados do seu ânimo infeccioso de conceber carreiras de investigação e os instittutos que as albergam primariamente como incubadoras de ideias. Essa experiência mais do que nenhuma outra me convenceu da importância de manter redes de colaboradores independentemente de se basearem em posições remuneradas ou não. Acontece que durante esse tempo mantive ligações nos EUA, sobretudo no Laboratório Nacional de Oak Ridge que eventualmente me arrastaram de volta aos EUA preservando, agora em sentido contrário, ligações em Portugal. Sinto que a Academia começa a trilhar o caminho da globalização já há muito trilhado pelas multinacionais em que a facilidade de comunicações deslocalizam a actividade académica. Tenho recebido e enviado alunos de 3 continentes sem que isso tenha envolvido grandes investimentos ou preparações logisticas. Recordo uma aluna minha que dos 3 artigos da tese, um foi escrito em Charleston SC nos USA, outro iniciado num café no Rio de Janeiro e acabado em Lisboa e o terceiro iniciado em Lyon em França e acabado nem sei bem aonde. Esta situação nómada não é tão exótica como se poderá pensar. Outros grupos têm um modus operandi semelhante. Por exemplo no ITQB/UNL, o grupo de Epidemiologia Molecular liderado pela Professora Hermínia de Lencastre tem características semelhantes. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Sinto não ter saído, nem regressado. Parece um dilema Pessoano não é? Ele não saía (fisica- mente) mas andava sempre lá fora, só que bem interiormente. O meu mundo é uma Aldeia. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Sim é um excelente país para trabalhar em ciência, sobretudo depois de se saber bem o que se quer fazer. Como todos os lugares é importante que haja uma interacção intensa com outros grupos em outros lugares e em outras áreas sobretudo na fase inicial da carreira que é dominada pela descoberta. Apesar das queixas de que os aspectos logísticos do financiamento da Ciência são ineficientes – o que é verdade – também é verdade que não há a mesma pressão escravizante de máquinas científicas mais oleadas. Todas as vantagens são defeitos, e todos os defeitos vantagens. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Nos últimos 5 anos têm emergido muitas áreas de competência muito promissoras em várias áreas do País. Sente-se que a comunidade científica Portuguesa se está a diversificar muito rapidamente o que cria oportunidades particularmente boas nas áreas de interface. Parecerá talvez um paradoxo, mas o sucesso de uma infraestrutura científica cria uma atracção que a alimenta e especializa progressivamente. Assim a ausência dessas atracções é simultaneamente um sintoma de fraqueza do tecido científico mas também uma oportunidade de apostar em áreas novas de uma forma mais liberada. Isso é por exemplo verdade na minha área da Bioinformática onde se sente em Portugal um diálogo crescente entre os que produzem dados e os que os analisam. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...em Portugal é necessário desenvolver a investigação em geral...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? JORGE MANUEL CORREIA DE AZEVEDO SOARES Idade: 41 anos Área: Economia Funções actuais: Professor Auxiliar na Universidade de Delaware, EUA Quando decidi enveredar pela carreira académica, fui encorajado por vários professores a tirar o doutoramento nos EUA. Pelo menos nessa altura, a opinião quase generalizada no seio dos investigadores portugueses era a de que as condições nos EUA eram significativamente melhores. Durante a minha estadia aqui verifiquei que os programas de doutoramento das universidades de topo são estruturados cuidadosa e rigorosamente por forma a maximizar o desenvolvimento da capacidade de investigação dos seus alunos, são liderados por investigadores de renome mundial e os estudantes são rigorosamente seleccionados de um vasto lote de candidatos altamente qualificados. excelentes resultados, mas esses casos parecem-me ser excepcionais. Na situação corrente, com a excepção de algumas instituições ou departamentos, parece-me que além das condições de investigação serem, em geral, insuficientes também não existem incentivos para sustentar a dedicação exclusiva à investigação por parte de pessoas que dada as suas capacidades tem boas alternativas quer no estrangeiro quer no sector privado. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Nunca pensei seriamente nesse assunto e não tenho conhecimentos que me possibilitem avaliar quais as áreas mais promissoras para a investigação em Portugal. O que o fez ficar? Porque não voltou? Dada a minha opção pela carreira académica não considerei o regresso a Portugal porque as condições de trabalho oferecidas aos investigadores no EUA são incomparáveis. Além de haver mais recursos dedicados à investigação, o sistema de incentivos é criado por forma a recompensar de forma clara e sistemática a investigação e a inovação. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Dada a minha situação familiar planeio voltar a fazer investigação em Portugal mas apenas por períodos de curta duração. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Em Portugal há investigadores que se dedicam exclusivamente à investigação científica com www.cienciapt.net/mundus Apenas conheço casos pontuais, de investigadores que trabalham em Portugal e que tem grande impacto nas suas áreas de investigação. No entanto, isso não me permite inferir sobre o estado da investigação nessas áreas ou quaisquer vantagens comparativas que Portugal possa ou não ter. Acho no entanto que em Portugal é necessário desenvolver a investigação em geral e não olhar apenas para áreas específicas de investigação. Muito do capital humano em Portugal tem sido desaproveitado por falta de um ambiente que recompense a investigação e o desenvolvimento científico que é, a meu ver, essencial para a criação e sustentação de ensino universitário de qualidade. Ensino esse que é por sua vez essencial para o desenvolvimento do país e para o aumento da competitividade dos portugueses no mercado de trabalho. Fevereiro 2007 | Mundus 51. CADERNO ESPECIAL “...o que mais prejudica a actividade científica... (é) a falta de uma cultura científica...” JOSÉ CARLOS JUNÇA DE MORAIS Idade: 63 anos O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Área: Psicolinguística experimental, Psicologia e Neuropsicologia Cognitivas Funções actuais: Director da “Unité de Recherche en Neurosciences Cognitives” da “Université Libre de Bruxelles”, Bélgica O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Razões políticas. Depois de vários anos de luta antifascista em situação de clandestinidade, o desentendimento entre mim e o meu partido, sem que houvesse outro ao qual pudesse aderir, obrigou-me a deixar Portugal. Decidi então retomar os estudos universitários, não na Faculdade que tinha frequentado em Portugal (Direito), mas numa orientação que nessa época (1968) não existia no nosso país e me interessava (Psicologia). O que o fez ficar? Porque não voltou? Desde fins de 1978 até à revolução de Abril tive o estatuto de refugiado político das ONU e podia ir a todos os países excepto Portugal. Depois, não voltei porque estava integrado numa excelente equipa de investigação, tendo vindo, no início dos anos 90, a assumir a sua direcção. Em 1975-76, considerei 52. a possibilidade de regresso a Portugal, mas as condições de ensino e de investigação que encontrei dissuadiram-me disso ao fim de três meses. Fevereiro 2007 | Mundus Uma revolução mental e cultural na política e na gestão da investigação científica que permitisse um trabalho eficiente à comunidade dos investigadores. Actualmente, o que mais prejudica a actividade científica não é a relativa escassez de meios, mas a falta de uma cultura científica, a prevalência de interesses extra-científicos, e a desorganização e a excessiva burocratização das instituições envolvida no apoio à investigação. De qualquer modo, não me parece essencial, e até talvez seja contraproducente, fazer regressar investigadores portugueses que estão há muitos anos nos estrangeiro, mas encontrar formas de colaboração que, trazendo a eles alguma vantagem, permitam fazer beneficiar a investigação conduzida em Portugal tanto da sua experiência como das relações internacionais que eles podem proporcionar. Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Não é possível responder a esta pergunta em termos que não sejam comparativos. É melhor do que o Mali ou o Sudão, ou do que o Iraque e o Afeganistão, mas pior do que outros países. Não sendo Portugal uma entidade homogénea, nele haverá bons, sofríveis e maus lugares para se fazer investigação. Além disso, parece-me que a pergunta reflecte uma preocupação um pouco nacionalista de mais a meu gosto. Uma questão mais interessante seria: que fazer para, no campo da investigação, desenvolver relações produtivas à escala ibérica ou à escala europeia? A proximidade geográfica e de língua com a Espanha, e a partilha de características culturais com os outros países da Europa, justificam que os responsáveis políticos portugueses sejam mais ousados no sentido de uma política de autêntica integração científica (laboratórios transnacionais, integrados ou associados, intercâmbio, realizações e publicações comuns,...). Quais são as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Não conheço a investigação portuguesa no conjunto das áreas para poder emitir alguma opinião. Na minha área, a psicologia cognitiva e de maneira mais geral as ciências e neurociências cognitivas, há pontos fortes e pontos fracos. Não creio que seja realista querer necessariamente tornar fortes os pontos fracos. De maneira geral, os organismos responsáveis pela política científica portuguesa deveriam ter um conhecimento preciso dos pontos fortes ou com potencialidades reais para se tornarem fortes em cada área, identificar as dificuldades que podem ser superadas (por exemplo, falta de contacto entre equipas ou indivíduos que, em diferentes instituições e por vezes na mesma, trabalham nos mesmos assuntos). No caso específico das ciências e neurociências cognitivas, que são actualmente uma das áreas cientificas de mais acelerado desenvolvimento a nível mundial, com implicações teóricas e tecnológicas, deveria haver uma análise aprofundada dos meios (“expertise” e equipamentos) existentes, a definição de objectivos realistas no prazo de dez anos, e uma planificação consequente. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...a modernização... do ensino superior em Portugal seria um desafio que eu estaria disposto em assumir...” LUIS GABRIEL MELO Idade: 46 anos Área: Fisiologia e Medicina Funções actuais: Professor, Physiology and Medicine and Canada Research Chair in Molecular Cardiology - Queen’s University, Kingston, Ontário, Canadá Não voltei, porque a oportunidade em desenvolver uma carreira académica e científica em Portugal não se apresentou com os mesmos incentivos e oportunidades que me foram dados no estrangeiro. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Para mim, um maior desempenho das entidades responsáveis, em promover e assegurar o apoio a longo prazo à investigação científica seriam iniciativas que me levariam a considerar o retorno. Para além disso a modernização e contemporização do ensino superior em Portugal seria um desafio que eu estaria disposto em assumir. O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? A oportunidade de crescer cientificamente, a qual era limitada em Portugal na altura em que emigrei, em 1980, foi o principal motivo que me levou a procurar o futuro no estrangeiro, no meu caso actualmente no Canadá, e previamente nos Estados Unidos. O que o fez ficar? Porque não voltou? Para mim o empenho que as instituições e governo demonstram em promover a investigação científica é uma razão fundamental na minha decisão em permanecer no estrangeiro. Admiro também a imparcialidade do processo de “peer review” o qual é imune à interferência política aos diferentes níveis do processo Científico. Para além disso, admiro a equidade e transparência do sistema de promoção e avanço profissional, o qual é baseado na avaliação de mérito e reconhecimento profissional à distância, e livre da influência daqueles que estão em contacto directo ou com autoridade sobre o candidato. www.cienciapt.net/mundus Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Sem dúvida, Portugal tem o talento e capacidade para desenvolver investigação de vanguarda em todas as áreas de estudo. Os nossos jovens que se deslocam ao estrangeiro para adquirir formação profissional e científica, dum modo geral distinguem-se. Muitos destes brilhantes jovens eventualmente fazem rumo a posições de relevo nas instituições estrangeiras, e o ganho destas instituições representa um perca incalculável para Portugal. Tenho a convicção que muitos destes expatriados retornariam a Portugal sem hesitação se as condições em Portugal lhes proporcionasse o mesmo nível de progresso e avanço profissional que eles conseguem no estrangeiro. Do mesmo modo, o sistema em Portugal necessita urgentemente de acarinhar o imenso talento que existe no país e prover os meios para este talento desabrochar e contribuir para o seu enriquecimento. A responsabilidade neste aspecto resta em parte nos ombros dos nossos governantes, os quais devem fazer o apoio Científico e tecnológico umas das suas prioridades. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? A informática parece uma área com corrente potencialidade em Portugal, acho que há grande potencialidade para desenvolvimento. Como referi anteriormente acho que Portugal tem capacidades para desenvolver investigação em todas as áreas. Claramente a informática é uma das áreas onde as instituições portuguesas têm uma presenca internacional, mas seria um risco “pôr todos os ovos num só cesto”. Portugal necessita de dar apoio e avanço simultâneo em áreas múltiplas, não só nas áreas actualmente em demanda, mas também nas áreas de investigação emergentes tais como energias alternativas, terapias com base em células estaminais, etc. O nosso país necessita de competir simultaneamente em diversos palcos a nível internacional para assegurar a visibilidade e reconhecimento que os nossos investigadores merecem. O empenho neste sentido necessita dum apoio vigoroso por parte do governo, o qual deve encarar isso como uma das suas prioridades. Fevereiro 2007 | Mundus 53. CADERNO ESPECIAL “...voltei por quatro meses mas a oferta de emprego na minha área não era satisfatória...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? LUIS RODRIGUES Idade: 34 anos Oportunidade para alargar horizontes através de uma nova experiência profissional e também pessoal. Contribuiu muito o facto das melhores universidades do mundo na minha área estarem nos EUA. Área: Controlo e Robótica O que o fez ficar? Porque não voltou? Funções actuais: Professor Auxiliar, Department of Mechanical and Industrial Engineering Concordia University - Canadá Voltei por quatro meses mas a oferta de emprego na minha área não era satisfatória porque ou não envolvia investigação ou se envolvesse investigação era uma oferta precária de emprego com uma bolsa e com fracas possibilidades de progressão na carreira. O facto de muitas coisas não funcionarem bem e não serem organizadas em Portugal e funcionarem bastante melhor em países mais desenvolvidos também contribuiu, mas contribuiu menos do que a ausência de emprego estável na minha área de investigação. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? 2) na universidade faz-se boa investigação na minha área em certas instituições mas não há vagas e o sistema de avaliação de desempenho profissional e abertura de vagas está completamente obsoleto; 3) pelas razões apontadas e dado o estado de desenvolvimento do país, a relação universidade/industria não é de todo dinâmica e/ou estimulante e esta relação é na minha opiniao de importância fulcral para fazer investigação na área da engenharia. Há sempre excepções mas não muitas na minha área. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Pelo que me apercebo vivendo fora de Portugal, penso que as áreas da genética e biotecnologia, bem como a área da informática para sistemas críticos e realidade virtual, são as mais desenvolvidas e mais promissoras em Portugal neste momento. Se trabalhasse nessas áreas possivelmente teria regressado porque as oportunidades eram melhores. Neste ponto acho muito dificil regressar por questões familiares. Só mesmo um grande desafio profissional, que fosse compatível com a minha situação familiar, me faria voltar. Talvez perto da idade da reforma eu decida voltar... Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Depende da área. Na minha área acho que não por três razoes: 1) na indústria não se faz quase investigação nenhuma na minha área dado o actual estado precário de desenvolvimento tecnológico em Portugal; 54. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...(Portugal) ainda não está ao nível dos melhores países estrangeiros...” LUIS HIPOLITO FERNANDES Idade: 34 anos O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? 1) Existe demasiada burocracia; Oportunidade de fazer o doutoramento no estrangeiro, falta de perpectivas em Portugal. 2) é dificil conseguir financiamentos se não se estiver inserido numa estrutura (trabalhar com alguém já estabelecido em Portugal); O que o fez ficar? Porque não voltou? 3) falta de acompanhamento e de certificação de qualidade dos doutoramentos; Falta de perpectivas em Portugal Área: Biologia Funções actuais: Post-Doc, Università di Perugia Dipartimento di Medicina Sperimentale e Scienze Biochimiche, Sezione Microbiologia - Itália 4) Ordenados inferiores. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Possibilidade de trabalhar numa instituição de qualidade, que permita a progressão profissional e um ordenado compatível. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Não conheço a fundo a situação portuguesa, mas creio que os reconhecimentos recebidos por investigadores portugueses se devem prioritariamente ao mérito pessoal e não das estruturas. Não é o pior e melhorou-se muito, mas ainda não esta ao nivel dos melhores países estrangeiros. www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 55. CADERNO ESPECIAL “...tenho vindo a acreditar... nas possibilidades de investigação científica em Portugal...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? MADALENA CRUZ-FERREIRA Idade: 54 anos A especialização que escolhi não existia em Portugal. O que o fez ficar? Porque não voltou? Área: Linguística (linguagem infantil, prosódia, multilingualismo) Funções actuais: Senior Lecturer, National University of Singapore, Singapura Voltei. Mas não encontrei ambiente académico favorável à introdução e desenvolvimento do meu trabalho. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Estou demasiado perto da reforma para recomeçar vida profissional noutro país, incluindo o meu. tífica em Portugal, pela informação que obtenho por canais electrónicos (nomeadamente cienciahoje.pt, cienciapt.net e amonet.org) e por colegas no país. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Ciências da vida, climatologia e tecnologia electrónica, incluindo em linguística, parecem-me ser as áreas de ponta correntes. Considero o ímpeto actual que vejo na divulgação de conhecimento e métodos científicos pelas escolas portuguesas um excelente sinal de abertura e maturidade intelectual. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Tenho vindo a acreditar cada vez mais nas possiblidades de investigação cien- 56. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...O que nos falta são os recursos financeiros ou a vontade de os usar na investigação...” MARIA JOÃO CABRAL GOMES SOLECKI Idade: 39 anos Área: Microbiologia e Imunologia. Funções actuais: Research Assistant Professor of Microbiology and Immunology, New York Medical College NYMC, and, Director of Research, Biopeptides Corp., USA O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? A inércia da ciência que eu lutava por fazer em Portugal. Deixe-me frisar que isto foi há 11 anos atrás. Entretanto, parece-me que a nossa situação científica tem vindo a melhorar. tas, de modo que isto leva a que as pessoas consigam devotar mais do seu tempo a actividades de melhoramento pessoal (como a actividade científica ou artística). Se for comparar com Portugal por exemplo, o nosso povo passa tanto tempo preocupado com as suas necessidades básicas de por comida na mesa e um tecto sobre a cabeça que lhes sobra pouco tempo para “indulge” em actividades de puro interesse pessoal como a ciência e a arte. Talvez se se fizesse uma correlação entre as duas, se chegasse a triste conclusão que a quantidade de arte que se produz em Portugal será tanta ou menor que a ciência que é produzida pelo nosso país. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Bom, o meu marido teria que arranjar trabalho em Portugal. Ele também é cientista e a área de trabalho dele é “Developmental Neurobiology”. Devo dizer que não é muito fácil convencer o meu marido a ir trabalhar fora do seu pais. O que o fez ficar? Porque não voltou? A academia americana tem as seguintes características que eu acho imprescindíveis há manutenção de um sistema científico competitivo: cepticismo intelectual, capacidade de resolução de problemas activamente e modéstia intelectual (que leva ao desenvolvimento duma mente inquisitiva). É minha opinião pessoal, que no caso da academia portuguesa existe bastante cepticismo intelectual mas existe muito pouco das outras duas qualidades. Outra vez, esta é a minha opinião pessoal. Por outro lado, é mais fácil ganhar a vida nos US, ou seja, a necessidades básicas são mais facilmente e rapidamente satisfei- www.cienciapt.net/mundus Mas também ele não fecharia os olhos a uma oportunidade competitiva. E eu teria também que arranjar trabalho em Portugal. E isto pode lhe parecer impossível mas acho mais difícil arranjar trabalho para mim do que para o meu marido. No meu caso, tenho aqui uma posição de docente numa Escola de Medicina e também dirijo uma companhia de Biotecnologia de que sou partner. Aqui nos US eu consigo arranjar financiamento para a companhia através de programas de financiamento federais que subsidiam companhias start up, como a minha. tem em Portugal e da última vez que verifiquei não existiam na Europa. Mas talvez esteja “mal-informada” neste aspecto. Não tenho a certeza se existem ou não estes programas em Portugal. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Portugal é um pais tão bom como qualquer outro para fazer investigação cientifica. Além de que eu acho que temos uma “pool” de intelecto pessoal que é completamente desperdiçado em Portugal. A inteligência destas pessoas que acabam os seus cursos superiores e depois só conseguem arranjar emprego a fazer outras profissões não relacionadas com o seu ramo de estudos, podia ser usada muito mais produtivamente pela nossa sociedade. O que nos falta são os recursos financeiros ou a vontade de os usar na investigação cientifica. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? 1. As neurociências parecem estar em bom estado de saúde. Já o Egas Moniz era neurocientista, o António Damásio também é, e estou à espera do próximo grande nome da neurociência portuguesa. 2. As ciências do mar. Obviamente que o nosso quintal à beira do Atlântico plantado devia investir mais do seu PIB na investigação marítima. Estes programas, segundo eu sei, não exis- Fevereiro 2007 | Mundus 57. CADERNO ESPECIAL “...estou ilegalmente demitido das minhas funções de professor...” MÁRIO JOSÉ CALADO LAIMA Idade: 48 anos Área: Biogeoquímica Ambiental- ambientes costeiros e marinhos Funções actuais: Doutor em Ciência, University of Aarhus, Department of Earth Sciences Ny Munkegade, Dinamarca 58. Fevereiro 2007 | Mundus O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Desde Julho 1993, estou ilegalmente demitido das minhas funções de Professor da Universidade de Évora. Entre outros, que o meu trabalho fosse reconhecido. A experiência profissional e o domínio em algumas línguas do Norte da Europa poderiam trazer alguns benefícios. Ver as noticias publicadas nos Jornais Expresso, Semanário, Independente, e Público no endereço: http://www.mariolaima. dk/site/evora/evora.htm O que o fez ficar? Porque não voltou? Essencialmente os atrasos e omissão de legislação na Justiça Portuguesa, e falta de condições económicas para poder prosseguir com êxito a minha actividade, reconhecida no estrangeiro. A inexistência de apoio económico relevante para a situação em que me encontro, levaram-me a ter de procurar outros meios para continuar a desenvolver actividade cientifica, e de sobrevivência, fora de Portugal. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Certamente em algumas áreas. Mas existirá talvez ainda uma burocracia administrativa associada ao desempenho nos projectos científicos. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Nanotecnologia, Biotecnologia, Aquacultura, Energias Alternativas, Ciências do Mar citando apenas alguns exemplos. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...falta alguma massa crítica na comunidade científica portuguesa...” MARTA SOFIA COELHO NUNES Idade: 32 anos Área: Biologia Celular Funções actuais: Post-doc, Institut Pasteur, França O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? A primeira vez que fui estudar para o estrangeiro foi no âmbito do programa ERASMUS para concluir a minha licenciatura. Foi a curiosidade de ter uma experiência fora de Portugal que me levou a dar esse passo. Gostei muito dessa experiência na Noruega principalmente porque o projecto que estava a desenvolver era muito interessante e a nível pessoal foi muito enriquecedora; conheci muita gente de países distintos e tive a possibilidade de viajar bastante. Como este primeiro contacto com o estrangeiro correu tão bem decidi repetir. Voltaria se encontrasse em Portugal a possibilidade de continuar a desenvolver os meus projectos. Mais tarde no doutoramento decidi ir para os EUA pois os melhores laboratórios na área de investigação que eu estava interessada eram americanos. www.cienciapt.net/mundus Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Acho que sim! Portugal tem muito bons cientistas e alguns dos institutos que conheço em Portugal oferecem mais ou menos as mesmas condições que instituições internacionais oferecem no estrangeiro. Ainda falta alguma “massa critica” na comunidade cientifica portuguesa no entanto creio que o meio cientifico em Portugal está a crescer muito rapidamente. O que o fez ficar? Porque não voltou? Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Creio que este tipo de decisões têm sempre uma mistura de razões pessoais e razões profissionais. Quando acabei o doutoramento, não senti muita vontade de voltar a Portugal e como decidi mudar de área de investigação achei importante ir para um sítio forte nessa nova área, daí ter optado por Paris. É difícil de dizer. Por um lado penso que toda a investigação é importante e haver diferentes áreas de investigação é muito enriquecedor para um país. No entanto creio que Portugal poderia apostar em áreas de investigação para as quais tem mais vantagens do que outros países como por exemplo em ciências de mar e a investigação em doenças tropicais. Fevereiro 2007 | Mundus 59. CADERNO ESPECIAL “...As universidades tinham e têm - as portas blindadas aos candidatos do exterior...” MIGUEL BASTOS ARAÚJO Idade: 37 anos Área: Alterações climáticas, Biodiversidade, Conservação e Ecologia Funções actuais: Professor Associado de Investigação do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (centro pertencente ao “Consejo Superior de Investigaciónes Científicas”) e Investigador Associado na Universidade de Oxford, UK O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Quando saí pela primeira vez foi o sentido de aventura que me motivou. Tinha uma escassa vintena de anos e queria aproveitar as condições oferecidas pelo programa ERASMUS para explorar novas vivências sociais e culturais. Os meus conhecimentos de Inglês eram rudimentares (naquela altura tinha uma formação essencialmente francófona) pelo que decidi ir para Aberdeen, na Escócia. Acabei por ficar oito anos no Reino Unido e viver numa série de outros Países Europeus. Na altura era estudante de Geografia na Universidade Nova de Lisboa e o ensino desta disciplina estava muito centrado na dicotomia entre a Geografia Humana e Física. Os meus interesses apontavam noutras direcções: por um lado, no estudo dos mecanismos que governam a distribuição da vida no espaço geográfico, ou seja, a Biogeografia, e por outro, na utilização desse conhecimento para extrair informação 60. Fevereiro 2007 | Mundus que fosse relevante para as políticas de conservação da biodiversidade, ou seja a Biogeografia da Conservação. Nenhuma das licenciaturas disponíveis em Portugal, fosse Biologia ou Geografia, oferecia formações adequadas nestes domínios. A Biologia estava excessivamente centrada no organismo e o que me interessava era estudar as interacções entre organismos e entre os organismos e o meio físico. A Geografia, por seu lado, ignorava o papel dos organismos no território, assim como a forma com que o território condiciona a distribuição dos mesmos. Era inevitável sentir uma certa angústia ao pensar no regresso a casa. Em Portugal o simples acesso à bibliografia é um desafio. Por este motivo fotocopiava todos os artigos que fossem interessantes pois imaginava que no regresso voltaria a deixar de ter acesso à informação. Quando terminei a minha estadia na Escócia trazia quilos de papel comigo. Porém, a meio desta estadia, percebi que nove meses eram insuficientes para compensar as lacunas de formação que trazia de Portugal. Por isso inscrevime num mestrado em Biologia da Conservação na Universidade de Londres. Devo dizer que o mestrado foi fundamental para a minha formação académica, já que me proporcionou uma amplitude de conhecimentos que um doutoramento não faculta. Foi aí que comecei a desenvolver espírito crítico, que tomei conhecimento dos debates contemporâneos sobre conservação da biodiversidade, e que conheci o investigador do Museu de História Natural de Londres, que me convenceu a fazer doutoramento: o Prof. Dick Vane-Right. É importante referir que todo este percurso foi possível graças a um investimento substancial por parte da Comunidade Europeia, Estado Português e Fundações privadas, para não falar no apoio familiar. O que o fez ficar? Porque não voltou? Quando terminei o doutoramento queria regressar. Ainda tentei o regresso mas qual não foi a minha surpresa quando percebi que o Estado Português, depois de tão substancial investimento na minha formação, não tinha accionado mecanismos que permitissem a doutorados, como eu, concorrer no mercado de trabalho, em igualdade de circunstâncias com os que tinham ficado. As universidades tinham - e têm - as portas blindadas aos candidatos do exterior. Já escrevi sobre o assunto em vários locais, pelo que não me alongarei. Mas é importante salientar que a endogamia é um enfermidade que enfraquece o sistema universitário em Portugal e nem os gestores universitários nem os sucessivos governos da nação parecem ter vontade, ou coragem, para atalhar o problema pela raiz. Por outro lado, os centros de investigação do Estado são poucos e os poucos que existem são pouco dinâmicos. Conheço vários investigadores de carreira em laboratórios do Estado que nunca publicaram um único artigo científico numa revista internacional. Em qualquer parte do mundo onde a investigação científica tenha um papel importante no sector público, esses investigadores não teriam sequer acesso a uma bolsa, quanto mais a um lugar fixo na carreira de investigação. Finalmente, o mundo empresarial oferece perspectivas limitadas para quem, como eu, pretendia seguir uma via de investigação numa área que não visa o desenvolvimento de novas tecnologias. Neste contexto, fui adiando o regresso na esperança que as tão propagandeadas reformas no ensino superior e ciência se efectuassem. Como eu estavam a grande maioria dos bolseiros da minha geração. Passaram anos e apesar do muito dinheiro gasto em bolsas e formação avançada poucos progressos foram feitos ao nível da organização do ensino universitário e investigação em Portugal. Como a vida é finita www.cienciapt.net/mundus Marcação radio telemétrica de um lobo no Parque Natural das Emas, região do Cerrado, Brasil. e não espera pelas reformas do Estado, concluí que talvez fosse melhor investir noutras paragens. Assim, acabei por desenvolver a minha investigação num centro de investigação em Montpellier, na Universidade de Oxford, na Universidade de Copenhaga e, finalmente, no Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid onde, após realização de um concurso competitivo, mas justo, ganhei um lugar de investigador permanente. Curiosamente, nos dois lugares de investigador que foram atribuídos no meu concurso, nenhum dos primeiros classificados era Espanhol. Isto diz muito sobre o espírito e esforço de abertura e modernidade que está a ser empreendido em Espanha. Devo dizer que a carreira de investigador é bastante atraente visto não ter associada obrigações docentes, implicar total liberdade para escolher temas de investigação e oferecer condições de trabalho e acesso a financiamento excelentes. Claro que pressupõe gosto, trabalho e iniciativa. Tudo isto ainda com a vantagem, claro está, de viver na Península Ibérica a pouco mais de três horas da fronteira de Portugal numa viagem de carro. Creio que devo ser um dos primeiros Portugueses a conquistar um lugar de investigador do Estado em Espanha, mas com estas condições estou certo de que não serei o último. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Condições de trabalho iguais ou melhores às que possuo actualmente o que, dadas as condições actuais, não parece ser fácil. Sabe, quando mais tarde se perspectiva o regresso de um profissional mais difícil ele é de se concretizar. Tudo tem um tempo na vida e um País que aposta no seu futuro aposta nos jovens. Portugal deveria apostar na fixação dos investigadores com 2-5 anos de experiência pós doutoral. Nesta fase, os melhores investigadores estarão a iniciar o período mais produtivo das suas carreiras. É certo que ainda têm poucas provas dadas mas uma sim- www.cienciapt.net/mundus ples análise curricular permite prever quais os que terão mais possibilidades de vir a tornar-se líderes nos seus respectivos campos de trabalho. Não nego que seja importante atrair e fixar investigadores com carreiras consolidadas pois são estes que serão capazes de formar, rapidamente, equipas de excelência em universidades e centros de investigação portugueses. Mas essa estratégia – que deu resultados positivos na Austrália – só faz sentido se o Estado for, primeiro, capaz de dar perspectivas aos jovens investigadores. Sem eles não há, nem nunca haverá, inovação científica e tecnológica. jovens doutores que se formaram no estrangeiro com bolsas Portuguesas? Creio que não. Sou dos que defendem que a ciência não é para todos e que não basta fazer um doutoramento para ingressar numa carreira científica (ou docente). Estou consciente que a carreira científica é particularmente exigente e que, como tal, deve ser sujeita a um rigoroso e continuado processo de avaliação. Por isso costumo dizer que o acesso à carreira científica deve ser como um funil: muitos concorrem mas poucos entram. O problema é que em Portugal esse funil foi substituído por uma parede. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Portugal é um bom País para viver, logo poderia ser um bom País para desenvolver investigação científica. Mas a realidade teima em contrariar este raciocínio. De facto, não existe cultura científica; existem poucas instituições vocacionadas para o desenvolvimento de investigação científica; as universidades têm modos de funcionamento arcaicos que acabam por fomentar mais a passividade do que a inovação; não existe uma política estabilizada de investimento na ciência e o Estado caracteriza-se por ser fraco investidor, mau pagador, pouco transparente e bastante imprevisível na definição das suas políticas de ciência. Finalmente, não existem perspectivas de carreira para jovens investigadores e a emigração configura-se a solução mais racional para quem tenha coragem de dar o salto definitivo. Não surpreende, portanto, que entre os investigadores Portugueses que conheci no estrangeiro, mais de 80% resolveu estabelecer-se fora do País. Quer isto dizer que o Estado deveria ter a obrigação de integrar a totalidade dos As áreas mais promissoras são as áreas onde existam pessoas com inteligência e criatividade para gerar inovação. Dou um exemplo. Durante anos assumiu-se que a universidade de Évora teria, pela sua localização geográfica, condições para tornar-se um pólo de excelência na área da investigação agrária. É um potencial que salta à vista para quem visita a universidade e a sua herdade experimental. A realidade, porém, é que a Universidade de Évora é mais conhecida, a nível internacional, pelo trabalho desenvolvido por uma pequena comunidade de astrofísicos do que pelo trabalho desenvolvido em investigação agrária. Portanto, nas condições actuais seria defensável apostar na astrofísica mais que na investigação agrária. Alguém se teria lembrado desta possibilidade? Estou convencido de que é um erro decidir prioridades de investimento científico com base em considerandos políticos. A primeira pergunta que deve ser feita por quem decide o futuro das verbas de ciência num País deve ser: “quem tem unhas?” Respondida esta pergunta, devem distribuir-se guitarras. Por outras palavras, a política de ciência deve ser guiada pelo mérito científico dos seus actores mais do que por preconceitos políticos sobre prioridades. Fevereiro 2007 | Mundus 61. CADERNO ESPECIAL “...Portugal é um país periférico... terá sempre alguma desvantagem...” NUNO LIMÃO O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? viar este problema e as novas tecnologias de informação permitem melhor colabora- A qualidade dos programas a que tive acesso ção entre investigadores que se encontram em locais diferentes. Contudo Portugal é um país periférico em termos geográficos portanto terá sempre alguma desvantagem neste tipo de actividades. Idade: 32 anos O que o fez ficar? Porque não voltou? Área: Economia A qualidade e quantidade de colegas na minha área de interesse e toda a estrutura de apoio à investigação na minha área. Funções actuais: Professor de Economia, Department of Economics - University of Maryland, EUA Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Uma posição que: (1) me permita flexibilidade em termos de partilha do tempo em vários locais diferentes, (2) me dê a liberdade de prosseguir a minha pesquisa em termos de tempo e apoios financeiros, (3) tenha visibilidade (projecção) a nível nacional e internacional de modo a que pudesse participar como consultor em actividades de politica económica. Algumas áreas de investigação não necessitam de grandes investimentos em termos de infra-estrutura, por exemplo a das ciências sociais, e portanto essas seriam as áreas de investigação em que Portugal poderia eventualmente ter alguma vantagem comparativa. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Não. Penso que há dois grandes entraves. Primeiro a opinião pública sobre a educação de qualidade e a investigação. Há pouco ênfase e nenhuma das duas é suficientemente valorizada. Em parte isto é compreensível dado o nível de desenvolvimento económico do país. Em segundo lugar, o desenvolvimento de investigação científica necessita de toda uma infra-estrutura cujos custos fixos só podem ser suportados quando o número de investigadores excede uma (determinada) massa crítica. A integração em redes de investigação europeia ajuda a ali- 62. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...O motivo pelo qual não voltei a Portugal é muito simples: falta de incentivo...” PATRICIA ALEXANDRA SARAIVA MADUREIRA alargada em diferentes técnicas e disciplinas que será essencial para o estabelecimento de um grupo de investigação competitivo no futu- Idade: 31 anos ro. Como a minha experiência no Reino Unido foi extremamente positiva regressei a Londres aonde fiz um pós-doutoramento no Imperial College London. Área: Investigacao na area de Oncologia O que o fez ficar? Porque não voltou? Funções actuais: Pos-Doc na Universidade de Dalhousie, Departamento Biochemistry and Molecular Biology, Halifax, Nova Scotia, Canadá O que a levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Eu fiz a maior parte do meu doutoramento no Instituto Gulbenkian de Ciência em Oeiras. Considero o IGC um lugar privilegiado para se fazer Ciência em Portugal, nao só em termos de equipamento mas principalmente pelo facto de acolher investigadores principais, alunos e posdocs de diferentes países e com vários backgrounds. Este ambiente misto proporciona uma interacção que é muito enriquecedora tanto a nível científico como social. O meu supervisor de doutoramento era uma pessoa jovem a iniciar o seu grupo de investigação científica e sem muita experiência na maioria das técnicas essenciais para o desenvolvimento do meu projecto. Por esse motivo estabelecemos colaborações com grupos no Reino Unido que beneficiaram grandemente o desenvolvimento do meu projecto de doutoramento. Após terminar o meu doutoramento decidi mudar de laboratório. No meio científico é importante trabalhar em diferentes grupos de investigação durante o início de carreira por forma a ganhar uma experiência www.cienciapt.net/mundus O motivo pelo qual não voltei a Portugal é muito simples: falta de incentivo. Após começar a trabalhar no estrangeiro apercebi-me de uma crescente insatisfação por parte dos meus colegas em Portugal com relação a financiamento de projectos e bolsas de investigação, enquanto que no Reino Unido e no Canadá (aonde me encontro actualmente) a realidade é totalmente diferente e regra geral os laboratórios não tem quaisquer problemas de financiamento, principalmente na área de Investigação do Cancro na qual trabalho. Por um lado ainda sinto que Portugal é a minha “casa” e gostaria de regressar um dia, mas por outro é difícil pensar em voltar a Portugal sem ter qualquer tipo de garantia enquanto que no estrangeiro tenho estabilidade financeira e trabalho num grupo de investigação muito competitivo a nível mundial. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Para regressar a Portugal seria necessário uma melhoria considerável em termos de financiamento na área de Investigação Científica de modo a possibilitar a vinda de investigadores que se encontrem no estrangeiro. A ideia que tenho neste momento é que o investimento português na Ciência é escasso até para os investigadores que já se encontram em Portugal. Para além disso os cientistas que optaram por trabalhar no estrangeiro têm um contacto mais limitado com a comunidade científica portuguesa o que de certa forma torna mais dificil o re-estabelecimento em Portugal sem existirem medidas que estimulem esse regresso. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Eu penso que Portugal tem um grande potencial para desenvolver trabalho de investigaçÐo científica de excelente qualidade na medida em que “produz” bons investigadores. Os investigadores portugueses tem imenso sucesso no estrangeiro e sao muitíssimo bem cotados. No entanto é necessário um maior investimento por parte do governo português de modo a permitir o desenvolvimento de trabalho científico a um nível competitivo com países como os Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, entre outros, que absorvem cada vez mais os cientistas portugueses nos seus laboratórios. Felizmente alguns investigadores estabelecidos em Portugal têm recebido prémios europeus e internacionais pelo seu brilhante desempenho, que contribuem para o melhoramento das condições de trabalho de investigação científica em Portugal. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Apesar de me encontrar ausente de Portugal há três anos vou tentando manter-me informada com relação aos trabalhos científicos que vão sendo desenvolvidos em Portugal, especialmente nas áreas de biologia e bioquímica. Tenho notado que Portugal tem desenvolvido um excelente trabalho na investigação da Malária, o qual tem merecido prémios internacionais. Também tenho observado o estabelecimento de novas companhias Biotecnológicas que espero venham a contribuir para um bom impulsionamento da Ciência em Portugal. Fevereiro 2007 | Mundus 63. CADERNO ESPECIAL “...Portugal ainda não se tornou suficientemente competitivo na arena internacional...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? PAULO A. FERREIRA Idade: 41 anos Área: Molecular Medicine, Neuroscience, Molecular Genetics Funções actuais: Professor (docente) e Investigador, EUA Eu vim para o EUA no Verão de 1986 mesmo antes de terminar a minha licenciatura em Biologia na Universidade do Porto. A minha vinda deveu-se a uma conjugação de 3 factores principais: atraso tecnológico/científico no campo de investigação em medicina/ciências da vida, indefinição/instabilidade política, científica e tecnológica a nível nacional, e uma oferta de uma bolsa de estudos completa por uma universidade americana para terminar os meus estudos. O que o fez ficar? Porque não voltou? Para minha satisfação, a minha carreira profissional e pessoal tomou um óptimo percurso desde a minha vinda para os EUA. Em termos práticos as coisas passam-se como uma bola de neve. Um sucesso leva a outro sucesso e passado um certo tempo, as coisas engrenam de tal forma que levam a apostas, compromissos e expectativas cada vez maiores e que nem sempre há interesse (como defesa egotista) e/ ou possibilidades (por limitações financeiras) em equiparar. Neste sentido, Portugal, e ao contrário da nossa vizinha Espanha, teve uma política péssima de captação de novo e alto capital humano produtivo/creativo e rejuvenecimento do meio científico (se é que exista mesmo uma política para tal efeito). Além do mais parece que há falta de linhas mestres de programas de investigação consistentes, e mais importante, de uma visão científica “própria” e nacional que leve a uma mobilização e aposta consistente dos recursos humanos e financeiros necessários. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Talvez a reforma, e férias já que geralmente 64. Fevereiro 2007 | Mundus vou todos anos a Portugal passar férias com a familia! Não sei, é muito difícil responder a tal questão. Por principio, eu sou bastante pragmático. A vida evolve tão rapidamente no meio profissional em que trabalho, em que por vezes somos quase obrigados a considerar novos desafios que aparecem nos momentos mais inesperados. Por outro lado, acho que Portugal ainda não se tornou suficientemente competitivo na arena internacional para captar o material humano com experiência e massa crítica necessária, e francamente tenho muitas dúvidas de que haja um interesse profundo e honesto para que tal aconteça por diversas razões. Neste sentido, terá que haver uma mudanca de atitude se é que se queira que as coisas andem para a frente rapidamente e não a reboque de outros. Apesar de já ter considerado várias propostas de vários países europeus, nunca recebi nenhuma de Portugal. Estive mesmo muito próximo de me mudar para a Suiça (Geneva), já que as condições eram fantásticas. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Portugal pode ser um país tão bom como qualquer outro (e até melhor porque não?) para desenvolver trabalho de investigação científica. Hoje o mundo de alta investigação tornou-se mesmo como uma “global village”. Tudo está interligado. Investigadores a este nível, são obrigados e aprendem a não só se adaptarem muito rapidamente, mas a vencer também, novos desafios, e tal tem um efeito até estimulante (mas não em todos...). Penso que desde que haja um certa massa crítica e construtiva, o mínimo de meios e uma vontade/compromissos imbalaveis para se alcancar certos objectivos, o www.cienciapt.net/mundus resto depois aparece naturalmente e tornase por assim dizer “auto-sustentavel”..... Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Penso que qualquer campo pode ser promissor desde que haja o mínimo de massa crítica e criativa, recursos financeiros e uma aposta nacional (apartidária) e consistente a nível político. Mas como tudo, tem que se establecer prioridades e nao se andar a mudar de prioridades de acordo com as modas, cabeçários, e/ou governos. Portugal teve e tem uma exelente tradição em diversos campos da engenharia (investigação aplicada). No campo que me toca (medicina e ciências da vida), penso que há muito ainda a fazer para se criar uma infrastrutura e organização que possa tirar proveito de toda informação proveniente de utentes hospitalares (matéria-prima portuguesa), utilizar esta informação para investigação e desenvolvimento de novos conhecimentos e descobertas desde o básico ao aplicado, e por último devolver e aplicar os resultados de tais descobertas na pre- www.cienciapt.net/mundus venção, prognóstico precoce, tratamento e até mesmo curas “clínicas” de doenças dos mais diversos foros etiológicos. A saúde está a começar a ser uma das áreas mais críticas a nível de investigação e políticas nacionais. O custo de tratamento e repercussoes a nível social são cada vez mais elevados, as populações ocidentais estão a envelhecer rapidamente e com expectativas de vida cada vez mais longas. Por outro lado, a pressão é brutal para se acompanhar tais expectativas com uma boa qualidade de vida, compreensão aprofundada das mais diversas patologias (e.g. cancro, diabetes, e doenças neurodegenerativas), desenvolvimento de novos fármacos (drogas), e diagnóstico precoce de doenças. Neste sentido apesar do enorme potencial gerado pelo desenvolvimento nas ciências da vida, a aplicação de novas drogas tem uma taxa de falha estrondosa. Por exemplo, acima de 99% de novos fármacos falham em “testes clinicos” pelas mais diversas razões. Muitas tem efeitos marginais. Contudo tal requer uma modificação grande de como a investigação é desenvolvida e aplicada. Por exemplo, as “barreiras” entre disciplinas tradicionais deixou de existir, na prática, nos centros mais avançados de investigação (razão que me mudei para Duke Medical Center). Isto cria novos desafios na gestão de equipas de investigação e com um foro interdisciplinar, aplicação de conhecimento e descobertas, e uma visão e disciplina concertada e de certo modo aprofundada, que requer material humano com experiência que penso ser quase inexistente em Portugal (tanto a nível político como profissional). Por outro lado, desafios criam sempre novas oportunidades que Portugal (ou qualquer outro país) pode saber aproveitar, todos tirarem proveito e criar uma boa projecção a nível internacional. Portugal não só pode, como deve apostar fortemente neste campo da “biologia humana” já que as ramificações de tal sucesso são de facto enormes, o impacto é duradouro e transcenderá quaisquer fronteiras nacionais. Mas eu tenho a certeza de que isto vai mudar, apesar de haver muito trabalho a fazer. Fevereiro 2007 | Mundus 65. CADERNO ESPECIAL “...parece-me que estou no estrangeiro prisioneira da minha especialização...” foi o que aconteceu e, tanto quanto sei, não é assim que costuma acontecer. A curiosi- PATRÍCIA BELDADE Idade: 34 anos Área: Biologia (Genética, Desenvolvimento e Evolução) Funções actuais: Prof. Associada / Investigadora, Holanda O que a levou a deixar o país e ir estudar para o estrangeiro? Saí do país logo após a minha licenciatura para fazer um estágio extra-curricular em França. Voltei por um ano para participar no programa de doutoramento em Biologia e Medicina da Gulbenkian e depois saí outra vez para o trabalho de doutoramento na Holanda. Desde então só voltei a Portugal para férias. Acho que não houve uma razão única que me levou a ir estudar para o estrangeiro, mas antes uma série de razões que acabaram por me puxar para fora com mais força do que a força das razões que me queriam em Lisboa (a família e amigos, e a portugalidade que me é natural e, por isso, fácil). Se tivesse de resumir em poucas palavras eu diria “oportunidade, curiosidade e área de interesse”. Oportunidade porque sem os meios (nomeadamente bolsas de estudo e laboratórios no estrangeiro dispostos a aceitaram-me como estudante) dificilmente teria ido. “Mochila às costas e partir à aventura” soa bem e daria assim um ar descontraído e radical à história mas não 66. Fevereiro 2007 | Mundus dade e vontade de aprender serão, suponho, características de todos os investigadores (todas as pessoas?); os que ficam em Portugal e os que vão para fora. A curiosidade de que falo aqui, mais do que a “científica” é a pessoal/cultural; o querer experimentar viver como fazem outras culturas. Mais do que Biologia (a minha área de formação), tinha vontade de aprender “mundo”, se isso existe; outras línguas, outras rotinas e outros modos de estar na vida. E também, claro, aprender a desenvencilhar-me sozinha longe da facilidade que é ter família e amigos a distância de autocarro. Finalmente, havia nessa altura poucas pessoas a fazer investigação na minha área de especialização, a biologia evolutiva. Ir para o estrangeiro apresentou-se então como a melhor maneira de expandir (e mesmo guiar) a minha formação neste campo. O que a fez ficar? Porque não voltou? Quase me apetece responder “porque foi calhando”. O que me tem mantido fora de Portugal são as oportunidades que vão surgindo. Portas que se vão abrindo (quase) sozinhas, ao ponto de eu às vezes achar que tive um papel (quase) passivo nos trajectos da minha vida (profissional). Claro que isso não é nada bom ... mas também acho que não é totalmente verdade. Acontece é que as escolhas que vamos fazendo no início de carreira acabam (sempre) por limitar as escolhas que podemos fazer mais tarde. Às vezes parece-me que estou no estrangeiro prisioneira da minha especialização. Trabalhei no doutoramento e pós-doutoramento com um sistema (experimental) que não é fácil de exportar. Faço investi- gação usando umas borboletas que estão estabelecidas num laboratório na Holanda e numa área (ligar a variação genética à variação morfológica) que exige manter populações com números elevados de indivíduos. O investimento em tempo e dinheiro necessário para tentar reproduzir o sistema noutro local torna-o proibitivo para a maioria dos financiamentos disponíveis em Portugal. Assim, e porque há ainda tantas perguntas interessantes a explorar nestas borboletas, quando surgiu a possibilidade de vir trabalhar como Professora Associada / Investigadora no laboratório onde tudo está montado e funciona bem, pareceu-me uma escolha quase natural. Muitas vezes, e sobretudo quando as saudades de Portugal apertam, penso que o regresso seria infinitamente mais fácil se eu trabalhasse com um sistema dos chamados “modelo” (como as moscas do vinagre ou os peixe zebra – dir-se-á assim?) que existem em praticamente todos os institutos de investigação do mundo. Mas “difícil” não é a mesma coisa que “impossível” e culpar o sistema é demasiado simplista e soa a auto-desresponsabilização. Gosto de pensar que sou suficientemente flexível para poder mudar de sistema experimental se for necessário ou desejável... Só que ainda não aconteceu. Continuo a viver no estrangeiro porque tem calhado e até nem está a correr mal. O que a faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Às vezes acho que era preciso muito pouco para me fazer voltar a Portugal, porque vontade não me falta. Ainda não voltei por falta de uma (boa) oportunidade - o que não é nada “pouco”! Para um regresso sério seria necessária uma garantia de condições de trabalho. Isto passa por um www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? ambiente estimulante (com massa crítica e dinamismo entre investigadores) e o apoio institucional (em termos de financiamento, logística, flexibilidade na organização do tempo entre o ensino e a investigação, etc.) que são fundamentais à produtividade científica. Ou então podia voltar a Portugal para fazer coisas completamente novas, que às vezes é o que apetece. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? ção nacionais que fui fazendo, é que as condições têm melhorado muitíssimo na última década. Há uma cada vez maior massa crítica de (jovens) investigadores cheios de energia e vontade de trabalhar e há acesso a financiamentos nacionais e estrangeiros que possibilitam estabelecer novos grupos e novas áreas de investigação e também dar continuidade e expandir áreas existentes julgadas de interesse. Estamos longe da situação de investimento científico que se vive nos Estados Unidos ou outros países da União Europeia, mas também é certo que se produz investigação de grande qualidade em Portugal. Esta é uma pergunta para a qual me sinto mal preparada. A verdade é que nunca fiz investigação independente em Portugal e custa-me, por isso, julgar se é ou não um bom país para investigação científica. A impressão que tenho de conversas com colegas que trabalham em Portugal e de visitas a centros de investiga- Há seguramente muitas coisas a melhorar, mas nós temos pelo menos suficiente vontade e o know-how científicos e espero que cada vez mais possamos contar com a vontade e o apoio (também na forma de financiamentos) institucionais. www.cienciapt.net/mundus Se a pergunta anterior era difícil, nesta pergunta mal me atrevo. Ou melhor, não me atrevo mesmo sem antes esclarecer que não tenho a pretensão de achar que sei o que se passa nas “mil e uma” áreas da Ciência, ou sequer nas “cento e duas” da Biologia. Mas ainda assim, é com a investigação em Biologia que estou mais familiarizada. Do ponto de vista da chamada ciência aplicada, isto é, aquela que mais do que o “conhecimento” per se, procura resposta directa para questões médicas ou outras de aplicabilidade imediata, a genética de doenças humanas e as neurociências são duas áreas de grande interesse actual a nível internacional. Não sei se é desejável fazer a distinção entre as áreas mais promissoras em Portugal versus as áreas mais promissoras em geral; a ciência não conhece fronteiras e as “promessas” estão globalizadas. Mas haverá certamente determinadas questões que, por motivos históricos (por exemplo, a “doença dos pezinhos” foi descrita pela primeira vez em Portugal, pelo Professor Corino de Andrade nos anos cinquenta) ou demográficos (por exemplo, doenças de elevada incidência em Portugal ou o estudo de espécies cruciais à nossa economia) aparecerão como áreas de especial interesse nacional. Também a conservação e protecção da natureza, responsabilidade social e política de qualquer país desenvolvido, terá aspectos que, simplesmente pela geografia, merecerão especial atenção em Portugal (por exemplo, o estudo de comunidades de peixes endémicos às nossas costas ou rios). Finalmente, e porque até aqui mencionei apenas áreas consideradas mais aplicadas, não posso deixar de salientar que a chamada ciência fundamental, aquela que por oposição à aplicada se satisfaz com a procura do conhecimento mesmo que a aplicabilidade directa deste não seja (imediatamente) óbvia, é, na minha opinião, essencial em qualquer sociedade moderna. O conhecimento, o perceber como “funciona” o mundo e os seus habitantes, é seguramente sempre um objectivo “promissor” da investigação científica actual, em Portugal como em todo o lado. Fevereiro 2007 | Mundus 67. CADERNO ESPECIAL “...Não sei ainda se voltarei a Portugal...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Idade: 29 anos Foi essencialmente o projecto de doutoramento que me interessou, e a oportunidade de trabalhar no estrangeiro, que julgo ser essencial na carreira de um investigador. Área: Astronomia O que o fez ficar? Porque não voltou? Sim, desde que apoiada institucionalmente, com uma estrategia sólida e financiamento garantido a longo prazo. Infelizmente, não posso dizer que a investigação em astronomia tenha todas estas condições. Actualmente estou a fazer um programa de doutoramento durante quatro anos, de modo que durante esse tempo terei de ficar na Holanda. Não sei ainda se voltarei a Portugal. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? PEDRO BEIRÃO Funções actuais: Estudante de Doutoramento, Holanda O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Ter perspectivas de continuação do meu trabalho na minha área de especialização, colaborando com investigadores em Portugal. 68. Fevereiro 2007 | Mundus Não sei o suficiente para opinar sobre outras áreas. Posso, no entanto, puxar a brasa à minha sardinha, e dizer que apesar de tudo a astronomia é ainda uma área em que vale a pena apostar, dada a sua grande versatilidade. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...EUA tinha melhores condições de trabalho e maior potencial de impacto...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? PEDRO DOMINGOS Idade: 41 anos Área: Informática (Inteligência Artificial) Funções actuais: Professor Auxiliar na Universidade de Washington, Seattle, EUA A oportunidade de aprender mais, melhor e mais rapidamente na minha área de estudo. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Sim, porque tem as condições básicas, pólos de excelência em áreas especificas, e uma qualidade de vida atraente para investigadores. O que o fez ficar? Porque não voltou? Casei-me com uma americana, gostei do pais, e dei-me conta que nos EUA tinha melhores condições de trabalho e maior potencial de impacto. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Informática, biotecnologia. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Condições de trabalho e potencial de impacto semelhantes aos que tenho no EUA. www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 69. CADERNO ESPECIAL “...Quando eu tento explicar aos meus colegas daqui o que me contam os colegas de Portugal eles não acreditam...” RICARDO AZEVEDO Idade: 36 anos Área: Biologia evolutiva Funções actuais: Professor Universitário, EUA O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? A ideia de estudar no estrangeiro começou a atrair-me a meio da licenciatura —cerca de 1990 —, principalmente por duas razões. Em primeiro lugar, a constatação de que havia poucas oportunidades para fazer investigação científica em Portugal. Na altura a única via para continuar a fazer investigação era ser contratado como Assistente numa Universidade. Mas olhando à minha volta esse caminho revelava-se como pouco viável: as vagas para Assistentes eram raras e altamente competitivas, os doutoramentos demoravam quase uma década a realizar, a carga de ensino era elevada, os financiamentos escassos e precários. Em segundo lugar, a observação de que a minha área de interesse, a biologia evolutiva, estava particularmente pouco desenvolvida no nosso país. Este é um problema com raízes históricas profundas em Portugal. Um exemplo perfeito foi-me contado pelo Professor Luís Vicente. Um dia ele teve a oportunidade de consultar a cópia da “Origem das Espécies” de Darwin que pertenceu a Oliveira Martins, um dos raros pensadores portugueses do século XIX que escreveu alguma coisa sobre evolução. Aparentemente as páginas do livro nem sequer tinham sido cortadas. Passado um século, os cientistas que estudavam evolução 70. Fevereiro 2007 | Mundus em Portugal contavam-se pelos dedos — pouco para uma disciplina que era suposta dar sentido a toda a biologia (refiro-me, à famosa frase de Dobzhansky: “Nothing in biology makes sense except in the light of evolution”). A conclusão a retirar de tudo isto era óbvia. Para estudar biologia evolutiva tinha que procurar os líderes dessa área onde eles estavam — no estrangeiro. O que o fez ficar? Porque não voltou? Essa pergunta é mais difícil de responder. De certa forma, uma coisa levou a outra, e nunca se proporcionou o regresso. Mas a realidade é mais complexa. Por um lado admito que alguns dos problemas que apontei anteriormente têm sido atenuados significativamente nos últimos anos. Por exemplo, o Instituto Gulbenkian de Ciência inclui excelentes investigadores em biologia evolutiva, todos da minha geração ou mais jovens do que eu. Mas infelizmente existem outros problemas que me têm afastado, tais como, a estrutura hierárquica dos departamentos universitários, a forma como se realizam os concursos, a “consanguinidade” científica (“inbreeding”), o sistema de financiamento de projectos. Pegando apenas no último exemplo, aqui nos EUA, as organizações federais que financiam projectos (por exemplo, a “National Science Foundation”) têm concursos regulares, anunciados com meses ou anos de antecedência, com critérios relativamente claros. Os projectos, quando são financiados, recebem as quantias certas a tempo e horas. Quando eu tento explicar aos meus colegas daqui o que me contam os colegas que trabalham em Portugal eles não acreditam. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Penso que sim, embora não me considere a pessoa mais indicada para responder a esta pergunta dado que trabalho fora do país há quase 15 anos. É claro que alguns dos problemas que apontei persistem hoje. No entanto devo dizer que, na minha opinião, a situação melhorou bastante nos últimos anos. Os programas Ciência e Praxis, da antiga JNICT e FCT (que financiaram o meu próprio doutoramento) e os programas de doutoramento da Gulbenkian, levaram a um aumento significativo do número de doutorados. Este simples facto tem e continuará a ter repercussões importantes. Por exemplo, agora é mais difícil (embora não impossível) manipular um concurso para contratar o candidato “da casa”, porque há candidatos muito mais qualificados a competir. Várias reformas iniciadas pelo Dr. Mariano Gago foram inteligentes e tiveram efeitos benéficos. Por exemplo, a avaliação independente dos institutos e centro de investigação melhorou o estatuto dos investigadores mais produtivos que antes não tinham qualquer incentivo para melhorar a qualidade. A maior integração europeia aumentou a mobilidade de investigadores e as possibilidades de financiamento. Tudo isto permite-me algum optimismo em relação à ciência em Portugal. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Não me sinto suficientemente conhecedor da situação geral do país para responder adequadamente a esta pergunta. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Talvez um desafio profissional interessante... Mas é difícil prever o futuro. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...Portugal mantém uma escola muito boa ao nível de investigação fundamental...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? RICARDO BENJAMIM LEITÃO GONÇALVES Idade: 26 anos Área: Neurociências Funções actuais: Estudante de Doutoramento, Bélgica Vinte e três anos e uma vontade muito grande de ter contacto com abordagens muito mais ambiciosas no que respeita ao trabalho em Ciência. Queria continuar a trabalhar na área em que efectuei o estágio, Biologia Vegetal, um nicho minúsculo em Portugal. Há um desejo muito grande para manter os jovens licenciados vinculados ao local onde dão os primeiros passos em investigação, o problema é que os períodos para concursos de atribuição de bolsas são muito espaçados. Essa é uma diferença essencial com o que que se passa em grande parte da Europa, os laboratórios estão constantemente em processo de recrutamento. O que o fez ficar? Porque não voltou? Depois da primeira experiência na Alemanha pensei voltar mas achei prematuro. Para além disso tinha perdido um pouco o contacto com os laboratórios em Portugal. Agora há o doutoramento para concluir na Bélgica. finlandês depois de ter estado no Porto. Se mantivermos o esforço para melhorar as estruturas que suportam a investigação e atraírmos pessoas com imaginação, sem dúvida que sim. Por sermos um país pequeno será necessário discriminar, uns serão recompensados outros fecharão as portas. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Portugal mantém uma escola muito boa ao nível da investigação fundamental que quando cruzada com a área da oncologia, das neurociências e da imunologia tem dado bons resultados. A investigação no domínio dos biomaterias e da engenharia biomédica tem vindo a crescer muito nos últimos anos e demonstra grande vitalidade, muito dinamismo aliado a uma interacção intensa com a indústria asseguram um futuro promissor. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Um aumento considerável da massa crítica nos lugares onde se faz ciência e um desejo verdadeiro de internacionalizar os nossos grupos de investigação. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Vocês têm tudo o que um cientista precisa para recuperar de um mau dia na banca, luz e noites quentes! disse-me um colega www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 71. CADERNO ESPECIAL “...volto se conseguir obter emprego em Portugal, senão, continuarei a trabalhar fora...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? RICARDO COELHO Idade: 27 anos A área em que eu trabalho ainda não tem muitos grupos em Portugal. A experiência que ganho em conhecer diferentes métodos de trabalho. Área: Fisica (Fisica Estatistica, Econofisica) Funções actuais: Estudante de Doutoramento no Trinity College Dublin, Irlanda Ter conseguido uma bolsa irlandesa com maior facilidade do que mais tarde consegui uma bolsa FCT (portuguesa). O que o fez ficar? Porque não voltou? Primeiro porque ainda me encontro a acabar o meu doutoramento. Depois de terminar o doutoramento, volto se conseguir obter emprego em Portugal, senão, continuarei a trabalhar fora, porque na minha área (para já) é mais fácil obter um emprego na Irlanda ou Inglaterra, do que em Portugal. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Portugal é um bom país para desenvolver investigação. Penso que aquilo que falta mais a Portugal é haver mais visitas de investigadores estrangeiros aos nossos laboratórios, tanto para seminários como para colaborações. E acima de tudo as “portas” dos diferentes departamentos abrirem-se aos outros departamentos vizinhos e à população em geral. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Penso que as áreas de biologia, estudos do mar, estudos climáticos, terão sem dúvida um papel importante no futuro da investigação em Portugal. Mas acima de tudo áreas multidisciplinares serão o futuro da investigação. A área que eu estudo e um exemplo disso, Físicos, Matemáticos, Estatísticos, Sociólogos, Economistas, juntam-se e tentam descobrir os problemas uns dos outros e utilizar técnicas de outras disciplinas para resolverem os seus problemas. Encontrar um emprego em que pudesse usar as técnicas que tenho desenvolvido nos meus estudos de doutoramento. 72. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...É minha vontade a médio prazo regressar a Portugal...” RICARDO FILIPE DA SILVA CARVALHO Idade: 25 anos Área: Bioquímica Funções actuais: Estudante de Doutoramento, Suécia O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? A experiência em termos culturais e sociais e a perspectiva de desenvolver um bom projecto de estágio foi o que mais pesou no momento de sair do país pela primeira vez. Desenvolvi o estágio na Holanda na Universidade de Utrecht durante 9 meses. Após terminar a licenciatura procurei ganhar um pouco mais de experiência em áreas diferentes daquelas em que tinha estado envolvido e tendo surgido a oportunidade de trabalhar num grupo de renome mudei-me para a Suécia para realizar um mini estágio de 3 meses. Depois seguiu-se aquela que seria talvez a decisão mais difícil de tomar, onde realizar o doutoramento (que era há muito tempo um objectivo pessoal)? Portugal ou tentar nova aventura no estrangeiro? Acabei por optar pelo estrangeiro dado ter surgido uma excelente oportunidade. Regressei assim a Estocolmo, a uma área nova, o que em termos pessoais me satisfaz imenso. Em termos profissionais, o futuro dirá se a escolha de trabalhar em diferentes áreas terá sido acertada! O que o fez ficar? Porque não voltou? Já regressei a Portugal entre as duas experiên- www.cienciapt.net/mundus cias na Suécia. Trabalhei no ICVS, na Escola de Ciências da Saúde, em Braga, na Universidade do Minho durante 6 meses como bolseiro de investigação. Foi uma experiência enriquecedora em termos profissionais, no entanto, o objectivo de iniciar o doutoramento foi preponderante na minha decisão de voltar a sair do país. Em termos futuros, gostaria de voltar a Portugal. É a minha vontade a médio prazo regressar a Portugal. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Em termos profissionais, se decidir continuar na Academia, obviamente um projecto interessante num grupo dinâmico, com um bom suporte económico e com parcerias com outros grupos. Se entretanto decidir deixar a academia, há muitos factores que poderão pesar na decisão: o tipo de emprego, a localização, as condições financeiras e as perspectivas futuras serão com certeza os mais importantes. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Portugal é um país com excelentes cientistas, com alguns centros de investigação muito bons e bem organizados. No entanto, o financiamento dos projectos de investigação científica é na maioria dos casos deficiente. A maior parte do dinheiro provém apenas da fundação para a ciencia e tecnologia, sendo que, num contexto nacional, neste momento ainda são poucas as fontes de financiamento alternativas à FCT. As empresas ainda investem pouco em I&D, as associações de doentes preocupam-se mais nos tratamentos e no bem estar dos doentes do que em financiar a investigação nessa doença, certos sectores da sociedade civil poderiam ter uma contribuição mais activa,etc... Felizmente bastantes grupos de investigação já perceberam que para desenvolverem um bom trabalho teriam que recorrer a outras fontes de financiamento e têm conseguido atingir esses propósitos, recorrendo aos fundos da UE para a ciência, do NIH, fundações privadas, algumas associações de cientistas internacionais, entre outros. Para além disso, as cooperações entre grupos Portugueses e com grupos no estrangeiro, têm permitido contornar alguns dos problemas que o deficiente financiamento à partida colocaria. O que me parece é que a maior parte dos jovens cientistas que abandonam o país o fazem principalmente por dois motivos: por motivações pessoais e por sentirem que o financiamento da ciência é insuficiente para desenvolverem os projectos que pretendem. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Na minha área (ciências da saúde), que é aquela que me sinto mais à vontade para falar, Portugal tem uma grande tradição nalgumas áreas como as neurociências, a imunologia entre outras. A tradição tem associada o conhecimento, como tal, serão áreas que continuarão a ter um grande peso em termos cientificos no país. Para além dessas, na minha opinião há áreas nas áreas das tecnologias da informação, informática, no ambiente, nas ciências da saúde, em que há nichos de mercado que têm sido aproveitados por alguns e outros ainda à espera de serem aproveitados, e para os quais temos pessoal mais que qualificado para desenvolver novos projectos. Quando falo em nichos de mercado refiro-me ao possível aproveitamento do conhecimento gerado pela investigação para comercialização. Há áreas que ainda estão pouco exploradas e onde é mais fácil qualquer um impor-se num contexto global. Fevereiro 2007 | Mundus 73. CADERNO ESPECIAL “...Lá por estarmos cá fora, acreditem, nunca virámos as costas ao nosso País!..” O que o fez ficar? Porque não voltou? RICARDO DA CONCEIÇÃO SCHLUNDT INGLÊS Idade: 24 anos Área: Matemática, Teoria de Números Funções actuais: Estudante de Doutoramento no Departamento de Matemática da Universidade de Heidelberg, Alemanha O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Foram várias as razões que me levaram a vir estudar para o estrangeiro. Primeiramente estive na Universidade de Cambridge, U.K., onde fiz um curso avançado em Matemática numa área sem expressão em Portugal: Teoria de Números. Esta experiência foi fundamental para compreender a diferença no nível de exigência numa universidade portuguesa e numa universidade inglesa (top 10 mundial) e preparar-me para um doutoramento na minha área em qualquer outra universidade do mundo. O contacto com outras culturas foi outro aspecto que me motivou bastante. A experiência linguística outro. Estou agora a estudar na Alemanha pelo que ao inglês fluente junto o alemão, o que me dá muitas oportunidades no mundo académico e no mercado de trabalho. Não fora um motivo na minha primeira passagem por Cambridge mas foi certamente um motivo na minha vinda para a Alemanha: a minha esposa é alemã... 74. Fevereiro 2007 | Mundus Continuo a estudar. Por isso permaneço. A minha vida começa a estar agora directamente ligada à Alemanha, não só pela minha esposa como também pela minha filha nascida há menos de dois meses. Portanto, nenhum motivo profissional. conferência mundial de Álgebra Comutativa organizada pelo Departamento de Matemática. Ora são eventos destes que permitem a divulgação de ideias e o progresso científico. São exemplos de actividades assim que podem tornar o país (ainda mais) atractivo para a investigação matemática. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Uma oportunidade de emprego ou uma posição numa instituição académica apetecível onde pudesse aplicar os meus conhecimentos. No mercado de trabalho poderia desempenhar funções servindo-me não só da minha área (a Teoria de Números tem, quanto muito, aplicabilidades em Segurança e Sistemas de Códigos) ou da Matemática em geral (Estatística, Matemática Financeira) mas também da minha experiência linguística e cultural. Um forte progresso científico só se consegue com apoios. Assim acredito que irá ser a ciência que andar de mãos dadas com a economia e a indústria que terá mais hipóteses. Por isso refiro a biotecnologia e a química como fortes áreas para Portugal. Temos conhecimento e companhias dispostas a investir. Estas são disciplinas directamente relacionadas com a produção de biocombustíveis, com a indústria papeleira ou a indústria farmacêutica, áreas em contínua expansão e com claras possibilidades de investimento em Portugal. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Na minha área (Matemática) sim. Reconheço que em muitas áreas onde são necessários mundos e fundos para trabalhar, como laboratórios equipados com última tecnologia, não o seja. Mas como se sabe um matemático precisa geralmente de papel, lápis e um cesto de papéis... Falando a sério, creio que o sistema universitário português, com a sua rede de comunicação (acordos entre universidades, parcerias com empresas e laboratórios, quer no âmbito nacional quer estrangeiro) e a disponibilidade (financeira, espaço de trabalho) permitem desenvolver bons projectos. Fui estudante de Matemática Aplicada e Computação no Instituto Superior Técnico e participei por exemplo numa Está no sangue de qualquer português as saudades da pátria mãe. Não um desejo de voltar mas de que as coisas melhorem. Esse desejo pode ser e deve ser alvo de consideração e investimento. Mesmo não trabalhando em Portugal os portugueses na diáspora têm um papel fundamental no crescimento cultural e económico de Portugal. Parcerias, aconselhamento técnico ou convites para fazer formação, são tudo possibilidades a ter para com os investigadores no estrangeiro. Lá por estarmos cá fora, acreditem, nunca virámos as costas ao nosso país! www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...vejo o regresso a Portugal como viável a médio prazo...” universidade Americana me enriqueceu muito para além do doutoramento. Não é que não pu- RUI ANDRÉ PINTO DE ALBUQUERQUE Idade: 37 anos Área: Economia Financeira Funções actuais: Professor Assistente de Finanças e Economia da Escola de Gestão da Boston University, EUA O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Só no final da minha licenciatura é que despertei para a investigação cientifica. O meu interesse nasceu da interacção com o Professor Sérgio Rebelo que entretanto tinha regressado dos Estados Unidos da América para dar aulas na Universidade Católica. A sua capacidade de motivar os alunos, o seu gosto pela Economia, e os tópicos de que falava nas aulas fizeram despertar em mim a curiosidade por saber mais. A decisão de ir estudar para os EUA não foi fácil, mas era óbvia, pela falta de alternativas viáveis em Portugal. Todos os meus professores me recomendaram a ir para os EUA. Como tal admiro muito as pessoas que tiram o doutoramento em Portugal e continuam activas em investigação apesar das muitas distracções e obstáculos –áquem do programa de doutoramento– que têm de superar. desse ter desenvolvido investigação noutro país, mas há muita coisa da vida universitária ligada à investigação que aprendi desde que acabei o doutoramento que penso ainda serem únicas de universidades de topo: o estabelecer de uma rede de contactos e co-autores, o funcionamento e atribuição de incentivos aos professores para serem mais produtivos, os recursos que se disponibilizam aos professores, mas também as exigências de uma carreira académica numa universidade de topo. Tive essa oportunidade e não a quiz desperdiçar. Por isso fiquei nos EUA. Ainda não voltei por uma variedade de razões entre elas o timing da minha carreira e a da minha esposa, também ela a dar aulas na Boston University, e a falta de algumas condições ainda omissas na vida de investigação universitária em Portugal (por exemplo, disponibilidade de bases de dados internacionais). Pese embora estas razões, há alguns custos importantes em ficar nos EUA, nomeadamente a ausência continuada da família alargada, dos amigos, e a falta das muitas outras coisas boas do viver em Portugal. Recentemente, tem havido um grande esforço por parte de algumas instituições de topo no ramo da Economia e das Finanças em Portugal por forma a atrair os melhores investigadores oferencedo remunerações que estão perto de competir com salários nos EUA e tempo para investigação. Como tal vejo o regresso a Portugal como viável a médio prazo... havendo oportunidades. O que o fez ficar? Porque não voltou? O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Para mim não tenho dúvidas que viver a experiência de investigar como professor numa Penso que um dos maiores problemas neste momento em Portugal é convencer as pessoas www.cienciapt.net/mundus que as mudanças que estão a ocorrer agora nas faculdades de Economia são para ficar. Quando as pessoas regressam agora a Portugal –mesmo aquelas que regressam com tenure– ainda há algumas incertezas contratuais em relação ao que acontece depois de 3 a 5 anos (em termos salariais, de disponibilidade de tempo para investigação, etc). Obviamente que eu concordo que alguma incerteza é desejável para garantir que os incentivos a produzir investigação se mantenham. Mas, comparando com o que as universidades Americanas oferecem, a incerteza em Portugal é ainda em demasia. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Por que não? Temos investigadores de topo espalhados pelas melhores universidades do mundo a fazer trabalho reconhecido nas suas áreas. Em Portugal também já começa a haver uma massa crítica de pessoas a desenvolver investigação. Acrescente-se o reconhecimento de entre os vários sectores da sociedade de que essa investigação tem valor. Finalmente, Portugal apresenta muitas outras condições que tornam a vida em Portugal atractiva. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Não sei o suficiente para responder sobre outras áreas, por isso vou concentrar-me nas área de Economia e Gestão Empresarial. Nestas áreas tem havido um crescimento notável em toda a Europa havendo agora programas que competem directamente com as melhores escolas Americanas, nomedamente a nível de mestrados em gestão de empresas (também conhecidos por MBA) e cursos de gestão para executivos. Portugal não é excepção e antevejo que o mercado vá crescer ainda mais com a introdução do tratado de Bolonha. Fevereiro 2007 | Mundus 75. CADERNO ESPECIAL “...Suponho que não deve ser fácil trabalhar como investigador em Portugal...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? RUI MELO PONTE Idade: 46 anos Área: Oceanografia Física Funções actuais: Principal Scientist and Manager, Oceanography Group, Atmospheric and Environmental Research, Inc., Lexington, Massachusetts, EUA Deixei o país em 1977 numa altura em que havia uma grande instabilidade no sistema educativo português, principalmente no ensino universitário. A aventura americana era um desafio aliciante a todos os níveis, enquanto que as perspectivas de um curso de Física em Portugal não eram muito prometedoras. Resolvi fazer as malas e tentar a minha sorte noutras paragens, aliás como muitos outros colegas do liceu nos anos a seguir ao 25 de Abril. O que o fez ficar? Porque não voltou? Depois de entrar no ensino universitário americano, sucederam-se as oportunidades. Acabei por fazer o doutoramento e nessa altura não regressei por motivos familiares. Depois apareceram os desafios profissionais e acabei por ficar. No entanto, devo também dizer que as oportunidades para regressar nunca foram muitas. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? queixumes. Suponho que não deve ser fácil trabalhar como investigador em Portugal, mas também me parece que as coisas têm mudado para melhor nos últimos anos, principalmente na área da formação. Ao nível das oportunidades profissionais, especialmente para jovens investigadores, o panorama talvez continue a ser difícil. Terá de haver um maior esforço do governo, a par de um maior dinamismo do sector privado, no financiamento de actividades I&D, para que se possa aproveitar todo o investimento feito na área da formação. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Em minha opinião, há que olhar para o que já se faz e bem em Portugal, mas também para outras áreas que possam ser estrategicamente importantes para o país. Assim por alto, sem fazer uma reflexão aprofundada, há áreas em que o país tem tradição, como, por exemplo, nas ciências biomédicas e na ciência de materiais, e outras áreas, como as ciências do mar ou as energias renováveis, em que o país deveria ter um papel mais activo. Um desafio profissional interessante, em que pudesse aplicar os meus conhecimentos em prol do desenvolvimento do país e ao mesmo tempo aprender coisas novas, e a garantia de um bom ambiente de trabalho. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? É difícil responder a essa pergunta quando se trabalha no estrangeiro e o contacto com a realidade do país é esporádico e algo superficial. Dos colegas e amigos que fazem investigação em Portugal, oiço muitos 76. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...não temos a noção real do que valemos...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? RUI MANUEL MARQUES FERNANDES DA COSTA Idade: 34 anos Funções actuais: Section on In-Vivo Neural Function Laboratory for Integrative Neuroscience NIAAA/NIH, EUA Eu tenho desde longa data um interesse grande em compreender as bases biológicas do comportamento. Quando comecei a interessar-me pelo estudo da memória, e mais tarde as acções e decisões, ficou claro que teria de sair pois não havia ninguém a trabalhar nestes temas ou com as técnicas com que trabalho, em Portugal. temos uma noção real do que valemos. Tão depressa apelidamos algo de “melhor do mundo” sem o ser, como ignoramos coisas realmente inovadoras e criativas. O outro é que os projectos institucionais nunca são feitos a dez ou vinte anos; o normal é serem feitos a 3 ou 5 anos. Ora, se um investigador tem de ter um programa de investigação a médio/longo prazo (6 anos ou mais); como é que o pode realizar em instituições com planos a curto prazo? O que o fez ficar? Porque não voltou? Tive a possibilidade de trabalhar naquilo que gosto, com os meios financeiros, técnicos, e de recursos humanos necessários para desenvolver o programa de investigação que eu queria. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Integrar um projecto ambicioso, de longo prazo, e que abarcasse mais que o projecto do meu próprio laboratório. Algo de que me pudesse orgulhar. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Obviamente que penso que a área da neurociência, em que trabalho, é uma área promissora. Embora não conheça muito, penso que algumas áreas da bioengenharia e da robótica são promissoras. Também penso que a investigação nas áreas da biologia computacional, da biologia estrutural, e da genética (associada à clínica) podem vir a ser muito interessantes. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Está a melhorar bastante, e não se pode quase comparar ao Portugal onde cresci. Tem várias vantagens em relação a outros países. Por exemplo, os bons alunos ainda se interessam pela ciência, e portanto é possível atrair alguns dos melhores para fazer investigação científica. Noutros países já não é assim. Portugal também tem vários problemas. Dois deles fazem com que ainda haja um caminho longo a percorrer na investigação científica portuguesa. Um é que não www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 77. CADERNO ESPECIAL “...Penso que Portugal é um óptimo país para desenvolver investogação científica...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? SOFIA JORGE ARAÚJO Idade: 35 anos Área: Biologia do desenvolvimento Funções actuais: Investigadora contratada pelo Consejo Superior de Investigaciones cientificas (CSIC), Espanha Em 1994 foi-me atribuída uma bolsa do Programa Gulbenkian de Doutoramento em Biologia e Medicina (PGDBM). Após o primeiro ano, com frequência de cursos avançados em Portugal, apercebi-me que para fazer o doutoramento nas áreas que me interessavam, teria que sair de Portugal. Em Outubro de 1995, comecei o meu doutoramento no Imperial Cancer Research Fund (ICRF) em Londres. O que o fez ficar? Porque não voltou? Após o doutoramento, surgiu a oportunidade de fazer um pós-doutoramento também em Londres. Aproveitei esta oportunidade para continuar a fazer investigação e aprender mais sobre temas que me entusiasmam. Em seguida, fui contratada para vir trabalhar para Espanha, mais concretamente Barcelona, onde me encontro desde 2004. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? A ideia de voltar a Portugal tem estado sempre presente desde que saí do país em 1995. No entanto, continuam a existir mais oportunidades, em especial para cientistas juniores, fora que dentro de Portugal. Por exemplo, tanto no Reino Unido como em Espanha, existem bolsas e contratos para jovens investigadores após um doutoramento e uma experiência pós-doutoral. Estes contratos (career development awards), são (geralmente) oferecidos por 5-6 anos, e geram oportunidades profissionais (e desenvolvimento de linhas de investigação próprias) para investigadores no início da sua carreira independente. 78. Fevereiro 2007 | Mundus Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Justifique porquê? Penso que Portugal é um óptimo país para desenvolver investigação científica. Desde há 10 anos que se nota uma grande diferença na massa crítica, isto é, no número de laboratórios e investigadores, do país. De momento, parece que a tendência é mesmo a de aumentar estes números o que fará de Portugal um país ainda melhor para desenvolver trabalho de investigação científica. Além disso, Portugal é geograficamente privilegiado, uma vez que é um país pequeno em que é fácil as pessoas encontrarem-se e reunirem-se sem perder muito tempo. Por esta razão, os investigadores portugueses deveriam trabalhar e colaborar mais em equipas interdisciplinares e de regiões diferentes. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? De momento, dentro das ciências da vida, as áreas mais promissoras em Portugal são a Biologia do Desenvolvimento (Embriologia), a Imunologia e as Neurociências. Esperemos que estas continuem a ser promissoras, mas que também se aposte e se invista noutras. É também muito importante que se invista mais na comunicação de ciência em Portugal. Nos últimos 10 anos a informação relativa à ciência tem-se tornado mais popular (e a sua presença mais frequente), mas continua a haver necessidade de criar mais espaço e oportunidades para que os cidadãos portugueses possam discutir e dialogar sobre assuntos de ciência. Para tal, é também necessário que mais cientistas se envolvam na comunicação da ciência que fazem. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...a decisão de ficar não foi tomada por mim...” SUSANA ARAUJO MARREIRO VARELA Idade: 29 anos Área: Ecologia do Comportamento e Biologia da Conservação Funções actuais: Estudante de doutoramento, França pessoas. Em ciência, e muito provavelmente em todos os ambientes profissionais, as relações de trabalho entre colegas e superiores são muito importantes. É preciso fazer compreender às pessoas com quem se trabalha, que se é alguém no qual vale a pena investir tempo e dinheiro. Se os outros perceberem que nós temos capacidade de trabalho, motivação, criatividade e intuição para trabalhar em ciência, então as portas abrem-se com alguma facilidade, e as oportunidades de trabalho aparecem. Foi mais ou menos o que me aconteceu. Durante o meu estágio consegui chamar a atenção do meu orientador (sem ter ainda a noção exacta de que o estava a fazer), que se interessou em mim, e me propôs ficar a trabalhar com ele, para podermos desenvolver o projecto que, então, tinhamos começado. Foi nessa altura que a minha vida mudou de facto, porque em vez de um ano de estágio, eu iria, afinal, ficar em França por mais cinco anos, um para o Mestrado, e os outros quatro para o Doutoramento. Actualmente, estou no último ano do doutoramento, que vou defender em Maio, se tudo correr bem. O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Quando tomei a decisão de vir estudar para França, a minha intenção era só a de passar um ano numa instituição científica estrangeira, de modo a conhecer o mundo da ciência fora de Portugal. Foi, por isso, que me candidatei a uma bolsa Erasmus para fazer o estágio de licenciatura no Instituto de Ecologia da Universidade Pierre et Marie Curie, em Paris. Como na altura eu tinha apenas 22 anos e, por isso, desconhecia totalmente o mundo da ciência e como fazer parte dele, o meu projecto de estudar no estrangeiro foi motivado mais pela curiosidade, do que por uma ideia concreta de futuro. É verdade que eu já sonhava em construir uma carreira cientifica, mas como é proprio da natureza dos sonhos, havia em mim mais força de vontade, do que um plano de acção bem definido. No entanto, foi essa força de vontade que me levou a tomar a decisão de partir, o que, finalmente, acabou por ser a decisão mais importante. No meu caso, o regresso a Portugal nunca esteve em causa. Quando decidi ficar em em França para fazer o douramento, nunca me convenci a mim própria que não regressaria a Portugal. Nem a minha experiência de vida no estrangeiro me fez alguma vez sentir que o meu Pais é inferior aos outros. Antes pelo contrário. A vida fora de Portugal ensinou-me a compreender melhor, e a gostar mais do meu País, simplesmente porque não há mundos perfeitos em lado nenhum. Hoje, depois de sete anos fora de Portugal, sinto uma vontade enorme de regressar, e tenho o sonho, talvez ingénio, de regressar para ajudar a desenvolver em Portugal projectos de investigação científica semelhantes aos que se fazem lá fora. Há, no entanto, um problema para as pessas que partem muito tempo para estudar, ou trabalhar no estrangeiro, que tem a ver com o facto de a comunidade cientifica portuguesa não as conhecer, o que adiciona uma dificuldade importante ao projecto de regresso. O que o fez ficar? Porque não voltou? A decisão de ficar, em si, não foi tomada por mim. A este respeito, aprendi com a experiência, que muitos dos rumos que se tomam na vida são, em grande parte, condicionados pelas opiniões e decisões de outras www.cienciapt.net/mundus Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Sim. Portugal é um País como os outros. Não há razão para pensar que em Portugal não se pode fazer ciência. Por um lado, os investigadores portugueses são excelentes em tudo o que fazem. E por outro, Portugal é um Pais onde ainda há muita coisa para fazer, muitas instituições que poderiam ainda ser criadas, muitas áreas científicas para desenvolver, de tal modo que as oportunidades de trabalho, em teoria, não deveriam faltar. Infelizmente, o que falta é investimento (tanto da parte do Estado como de privados) para lançar novos projectos, para financiar os já existentes e para pagar a mais pessoas. Enquanto não houver dinheiro disponível para investir sem restrições na ciência, Portugal nunca será um País atractivo para a comunidade científica portuguesa e estrangeira. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Actualmente, em Portugal e no Mundo, a ciência fundamental, seja ela em que área for, é uma das componentes da ciência que deveria ser financiada continuamente, porque é com base na ciência fundamental que todas as outras avançam. Por outro lado, há urgência em desenvolver as áreas da Ecologia, Biologia da Conservação, Biodiversidade, Genética de Populações, Ambiente, Clima e Economia aplicada à Conservação da Natureza. Todas estas disciplinas estão interligadas, e todas elas são cruciais para nos ajudarem a conhecer, a compreender, a preservar e a viver em equilibrio com a Natureza. Hoje, este é de facto o tema da actualidade, do qual depende mesmo a sobrevivência da vida na Terra. É preciso mudar as mentalidades com urgência para o bem de todos, e a contribuição da ciência neste processo é fundamental. Gostaria só de informar, que a minha tese de doutoramento tem sido financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministério da Ciência e do Ensino Superior de Portugal. As instituições de acolhimento são o “Laboratoire du Fonctionnement et Evolution des Systèmes Ecologique” da Universidade Pierre et Marie Curie (Paris VI), em França, e o “Konrad Lorenz Institute for Ethology”, da Universidade de Viena, na Áustria. A minha tese tem por objectivo estudar e compreender de que modo a partilha de informação social entre os animais é importante para a selecção de habitats de reprodução e de parceiros sexuais. “Informação social” é um dos temas mais recentes da Ecologia do Comportamento, e um dos que tem actualmente originado maior debate. Uma das aplicações mais importantes é a Conservação das espécies em risco de extinção. Fevereiro 2007 | Mundus 79. CADERNO ESPECIAL “...talvez possa trazer a minha experiência contribuir para o desenvolvimento do País...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? TIAGO FLEMING OUTEIRO Idade: 30 anos Área: Neurociências, doenças neurodegenerativas Funções actuais: Postdoctoral Research Fellow, MassGeneral Institute for Neurodegenerative Disease, Harvard Medical School, EUA Depois de terminada a minha licenciatura, em 1998, senti que gostava de fazer investigação ao mais alto nível. Os EUA são o país onde há mais massa crítica, onde há um forte investimento em investigação, e onde estão reunidas outras condições importantes para que se possa fazer um bom trabalho. Foi isso que me fez procurar este país para fazer o doutoramento. O que o fez ficar? Porque não voltou? Fui ficando porque fui sentindo que era importante continuar por cá mais algum tempo para melhorar a minha formação, mas o meu objectivo é voltar, e isso vai acontecer já este ano. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Eu posso já falar no presente, uma vez que estou quase de regresso. O que me faz voltar a Portugal é acreditar que há boas condições para que possa fazer um trabalho de qualidade, mas também sentir que talvez possa trazer a minha experiência para contribuir para o desenvolvimento do país. E, obviamente, tenho também motivos pessoais fortes que me fazem querer regressar. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Justifique porquê? Penso que Portugal tem evoluído bastante nos últimos anos, e que apresenta neste momento condições suficientes para que possamos desenvolver trabalho de grande 80. Fevereiro 2007 | Mundus qualidade. Isto deve-se a um aumento significativo da massa crítica – colegas que foram regressando e lutando para que as coisas fossem evoluindo positivamente. Certamente que há ainda muito a fazer, mas devemos encarar isso pelo lado positivo – há um grande espaco para que as coisas possam ser feitas de forma planeada e consistente. Devemos também ter consciência de que só com um esforco sério e conjunto podemos colocar Portugal num nível de maior relevo a nivel internacional. E compete-nos a todos lutar por esse objectivo! Temos todos de perceber que isto será importante para o desenvolvimento económico, que todos os Portugueses desejam, e que é importante que os governos vão aumentando o investimento em investigação, para que os frutos possam vir a ser colhidos a médio-longo prazo. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Eu penso que há várias áreas promissoras em que Portugal pode apostar. Há vários centros de investigação reconhecidos a nível internacional pela qualidade que apresentam, e esses merecem que se aposte no seu trabalho. Áreas como a bioengenharia, as neurociências, a biotecnologia, as ciências da computação, são, quanto a mim, áreas com grande potencial em Portugal. Penso também que os novos programas estabelecidos com Universidades Americanas, e outros que se estabeleçam com outras Universidades de outros países, podem também ajudar a definir áreas prioritárias. O importante, quanto a mim, é que sejamos capazes de ir fazendo investigação aplicada, para que possamos ir colhendo frutos concretos do investimento feito. www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL “...tenho muito orgulho em ser portuguesa numa equipa internacional...” VÂNIA CASIMIRO SILVA COELHO Idade: 27 anos Área: Investigação em Cancro Funções actuais: Investigadora Pós-Doc na Universidade de Medicina de Southampton , Inglaterra O que a levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? No âmbito de um projecto de uma disciplina da licenciatura em Microbiologia na Universidade Católica do Porto, que desenvolvi no IPO do Porto, surgiu o convite para fazer o doutoramento na Universidade de MedicinaCharité, em Berlim. O reconhecimento internacional do referido hospital, a natureza do projecto proposto, bem como a oportunidade de desenvolver uma carreira diferenciada levaram-me a aceitar este desafio. publicações de um investigador determina o financiamento dos seus futuros projectos. Há dois anos atrás, quando ainda estava a fazer o meu doutoramento no Charité, em Berlim, a FCT não financiou o meu projecto por eu, na altura, ainda não ter publicações. Naturalmente que situações como estas não me motivam a voltar a Portugal. As diferentes oportunidades desafiantes que me foram propostas, em países europeus, confrontadas com as dificuldades em Portugal, são razões fundamentais para explicar a minha opção. Acresce ainda que todo o meu percurso e experiência de vida na Alemanha, me fazem cada vez mais pensar como uma cidadã da Europa. Não querendo com isto dizer que não gostaria de um dia voltar a Portugal. O que a faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Voltaria a Portugal se encontrasse uma oportunidade para trabalhar como investigadora que me proporcionasse a participação em projectos aliciantes, com estatuto para competição a nível Europeu, oferecendo uma compensação económica compatível. O que a fez ficar? Porque não voltou? Em ciência os resultados obtidos nem sempre, ou talvez na maior parte das vezes, espelham o muito e árduo trabalho realizado pelo investigador. Isto porque para se descobrir algo de novo, é preciso ser-se ambicioso e arriscar experimentar aquilo que nem sempre corre como previsto. Uma vez que a “moeda” da nossa profissão são as publicações, o facto de estarmos algum tempo sem publicar significa não vermos o nosso devido valor reconhecido. Em Portugal esta é ainda uma questão determinante. O número de www.cienciapt.net/mundus Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Penso que aos poucos os investigadores portugueses têm vindo a superar as limitações que se colocam em Portugal. O crescente reconhecimento que diversas instituições portuguesas têm recebido pelo seu mérito e contributo para o conhecimento científico revela-nos que há mudanças em curso. A integração europeia tem proporcionado o aparecimento de muitos jovens cientistas que desenvolvem a sua carreira no estrangeiro, criando condições para mais tarde em Portugal dinamizar uma actividade científica assente na rede de contactos estabelecidos. Espero que num futuro próximo Portugal consiga reunir as condições necessárias para motivar os cientistas que estão fora a regressar. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? O facto de já estar ausente há quatro anos, não me tem permitido acompanhar muito de perto os projectos em Portugal. No entanto vejo como muito promissoras as áreas de oncobiologia, neurociências e controlo da dor. No mundo de hoje não é mais possível pensar como há dez anos atrás. É fundamental que as nossas opções se pautem por referenciais que já não cabem nos limites geográficos de cada um dos nossos países. Para uma jovem como eu, o questionamento que está na base das minhas decisões não é mais o de regressar ou não ao meu país. Podendo parecer paradoxal, tenho muito orgulho em ser Portuguesa numa equipa internacional. Talvez seja também esta uma forma de contribuir para a criação de melhores condições para a investigação em Portugal. Fevereiro 2007 | Mundus 81. CADERNO ESPECIAL “...o inbreeding, que atinge taxas assustadoras em Portugal, está fortemente correlacionado com a baixa produtividade científica...” O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? TIAGO VAZ MAIA Idade: 35 anos Área: Psicologia, neurociências e informática Funções actuais: Estudante de doutoramento no Departamento de Psicologia da Carnegie Mellon University, EUA O tipo de investigação que eu queria fazer não existia em Portugal, pelo que foi muito natural olhar além-fronteiras. Eu estava, desde muito cedo, interessado em usar técnicas computacionais para construir modelos do cérebro e explicar o comportamento humano. Ainda me lembro vividamente do dia em que tive essa ideia pela primeira vez, quando estava no último ano do liceu. Na altura, eu não fazia ideia que isso era uma área de investigação extremamente activa ou sequer que alguém já se teria lembrado da mesma coisa! (Isto passou-se antes da existência da Web; hoje em dia, é já difícil lembrarmo-nos como o acesso à informação era mais limitado...) Comecei por me licenciar em Engenharia Informática na Universidade Nova de Lisboa, mas cedo percebi que precisaria de uma formação altamente interdisciplinar que além de informática incluísse também psicologia e neurociências, o que era praticamente impossível em Portugal. Assim, a minha vinda para os Estados Unidos, onde esse tipo de trabalho interdisciplinar é muito valorizado, acabou por ser muito natural. Antes da minha vinda, ainda fiz algumas “excursões” por áreas relacionadas - trabalhei, por exemplo, em robótica inteligente para exploração planetária na Agência Espacial Europeia na Holanda - mas o meu sonho de usar técnicas computacionais para desenvolver teorias rigorosas acerca do funcionamento do cérebro e da mente continuou sempre comigo. Encontrei no Departamento de Psicologia da Carnegie Mellon University o ambiente ideal para dar corpo a esse sonho, uma vez que aqui a psicologia, as neurociências e a informática estão intimamente ligadas e existe uma 82. Fevereiro 2007 | Mundus forte tradição de utilização de modelos computacionais para simular o cérebro e explicar o comportamento. O que o fez ficar? Porque não voltou? Vou acabar o doutoramento agora no verão, pelo que a questão de voltar ou não para Portugal é uma com a qual me estou precisamente a começar a debater neste momento. Por um lado, as condições nos EUA são extremamente tentadoras e não têm paralelo em Portugal; por outro lado, eu gostaria de usar a experiência que adquiri nestes anos nos EUA para ajudar a desenvolver a ciência em Portugal, particularmente na minha área. A decisão não é fácil... O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? O tipo de trabalho que eu faço não exige equipamentos caros ou investimentos elevados, pelo que a questão fundamental nem seriam os meios técnicos ou financeiros disponíveis. Muito mais significativo é o facto de a minha área não existir em Portugal, pelo que teria de ser eu a criá-la, o que só faria sentido numa perspectiva de médio ou longo prazo. Para isso, eu necessitaria de uma posição profissional estável e de sentir que as pessoas que me rodeariam estariam interessadas em que eu viesse a desenvolver um grupo de excelência nesta área. O resto seria trabalho que teria de ser eu a fazer. Julgo que há em Portugal muito talento - basta ver os sucessos dos alunos portugueses que vão para fora. Atraindo estudantes e pós-doutorandos de topo e dando-lhes uma formação competitiva a nível internacional (incluindo estadias no www.cienciapt.net/mundus CADERNO ESPECIAL estrangeiro), penso que seria possível criar em pouco tempo a massa crítica essencial para ter em Portugal um grupo com forte projecção internacional nesta área. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? Existem em Portugal vários problemas endémicos que põem obstáculos sérios ao desenvolvimento de investigação científica de alta qualidade. Embora seja fácil atribuir as culpas da baixa produtividade científica portuguesa a factores como a falta de meios, há na realidade factores bastante mais graves a impedir o desenvolvimento de uma cultura de excelência na ciência em Portugal. A meu ver, o factor-chave é que o progresso na carreira académica ou científica nem sempre - os mais cépticos diriam mesmo que raramente - tem base numa avaliação objectiva do mérito dos candidatos. Quem entra para os quadros e quem sobe na carreira nem sempre é quem tem maior produtividade ou aptidão, mas sim quem está no sistema há mais tempo, quem conseguiu ter mais força em jogos de influência, etc. Como a qualidade da ciência é, acima de tudo, uma função da qualidade das pessoas que a fazem, se nem sempre são as melhores pessoas que entram para o sistema ou nele ascendem, a qualidade da ciência pode ficar irremediavelmente comprometida. Um óptimo exemplo disto é o chamado “inbreeding” (a tendência das universidades para contratarem para os seus quadros as pessoas que lá fizeram o doutoramento). Enquanto nos Estados Unidos quando abre uma vaga numa universidade o objectivo é atrair o melhor candidato possível, em Portugal as coisas são frequentemente “cozinhadas” de forma a que as poucas vagas que vão abrindo vão para candidatos internos que muitas vezes têm menos qualificações do que candidatos externos. Isto significa que não há oportunidade para renovação de ideias e abordagens, e cria situações em que a mediocridade científica se pode auto-propagar através de gerações www.cienciapt.net/mundus de novos investigadores, o que é extremamente preocupante. De resto, sabe-se hoje que o inbreeding, que atinge taxas assustadoras em Portugal, está fortemente correlacionado com a baixa produtividade científica. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? É um pouco difícil responder a essa pergunta em termos gerais, uma vez que há áreas com as quais eu tenho pouca familiaridade. Posso, no entanto, referir a título de exemplo que há bastante assimetria no desenvolvimento em Portugal das várias áreas com as quais a minha investigação intersecta. Como eu faço modelos computacionais do cérebro e do comportamento tanto no organismo saudável como em doenças mentais, o meu trabalho situa-se na intersecção da informática, neurociências, psicologia e psiquiatria. Destas áreas, a informática é talvez aquela na qual há mais massa crítica em Portugal. Recentemente, tem também havido várias movimentações no sentido de fortalecer as neurociências, o que me traz bastante esperançado de que possa haver um futuro auspicioso para as neurociências em Portugal. Já a psicologia e a psiquiatria portuguesas me trazem um pouco mais preocupado. A psicologia em Portugal parece por vezes ainda bastante agarrada a escolas de pensamento que já se consideram largamente ultrapassadas nos EUA, e a produtividade científica das nossas faculdades de psicologia é bastante baixa, com poucas publicações em revistas internacionais de mérito indiscutível. Relativamente à psiquiatria, tenho bastante menos conhecimento do que se passa em Portugal, pelo que me é difícil avaliar a situação actual; no entanto, das poucas coisas que conheço, não tenho encontrado uma tradição forte de investigação. psicologia requer meios técnicos e financeiros ao alcance de qualquer faculdade de psicologia: com um vulgar computador para correr experiências e algum software especializado (e.g., para análise de dados e estatística) pode-se chegar muito longe em várias áreas da psicologia. Não há, por isso, à partida, nenhuma razão para que não pudéssemos ter muitos grupos fortes em psicologia em Portugal. No entanto, a psicologia portuguesa tem fraca expressão a nível internacional, com muitos investigadores a publicar sobretudo em revistas nacionais (embora existam, naturalmente, honrosas excepções). É claro que há áreas científicas (e.g., imagiologia biomédica) que exigem investimentos avultados em equipamento, que Portugal deverá fazer. No entanto, estou convencido que enquanto o sistema universitário e científico não funcionar de forma a promover claramente as pessoas de qualidade, não haverá investimento em equipamento que possa garantir a competitividade da ciência portuguesa. Nos últimos anos, Portugal tem feito um investimento muito significativo na formação de recursos humanos, tendo financiado muitos doutoramentos e pós-doutoramentos, vários deles em centros de referência no estrangeiro. Importa agora criar condições para que a ciência e tecnologia nacionais possam tirar fruto desses investimentos. Se, por exemplo, as pessoas de mais qualidade se virem impedidas de entrar para as universidades portuguesas porque as carreiras estão entupidas, os poucos lugares que abrem vão para as pessoas da casa, etc., e se aqueles que entram acabarem por ser abafados por um sistema que nem sempre preza a excelência, poderá perder-se uma oportunidade única para tornar a ciência e tecnologia portuguesas competitivas a nível internacional. É curioso notar que este panorama confirma o que eu referi acima: em várias áreas, a baixa produtividade científica portuguesa fica-se a dever mais a factores sociológicos do que à falta de meios técnicos ou financeiros. Por exemplo, fazer investigação científica de topo em vários ramos da Fevereiro 2007 | Mundus 83. CADERNO ESPECIAL “...em Portugal há muito mais o reconhecimento de apelidos do que de qualidade...” lho nos Estados Unidos, mas o desejo de voltar à Europa é também bastante gran- VIRGÍLIO JORGE JESUS CADETE Idade: 25 anos Área: Pediatria – Metabolismo Cardíaco/Doenças cardíacas congénitas Funções actuais: Aluno do programa de estudos graduados do Departamento de Pediatria da Universidade de Alberta, Edmonton, Alberta, Canadá O que o levou a deixar o país e ir estudar/ trabalhar para o estrangeiro? Primeiro a falta de espaço e financiamento para um aluno apenas razoável (como eu fui classificado no final da minha licenciatura). Em segundo lugar a possibilidade de ver as minhas potencialidades reconhecidas com a possibilidade de trabalhar com um dos mais reconhecidos e sucedidos investigadores na área de investigação cardiovascular. E naturalmente o espírito de aventura, o desejo de viajar o mundo que é quase inerente a todos os portugueses, especialmente em cientistas. O que o fez ficar? Porque não voltou? Neste momento estou ainda no início do programa. Estou como aluno de Mestrado mas penso continuar e fazer o Doutoramento por cá e talvez experimentar um pós-doutoramento noutro país. Gostaria muito de experimentar o ritmo de traba- 84. Fevereiro 2007 | Mundus hora de tentarmos recrutar investigadores estrangeiros para adicionar algo mais. de. O que o faria voltar a Portugal (a nível profissional)? Neste momento não faz parte dos meus planos regressar a Portugal num futuro próximo. Gostaria bastante de poder desenvolver o meu trabalho de investigação em Portugal, mas penso que ainda estamos demasiado agarrados aos estatutos sociais e a hierarquias universitárias demasiado decadentes. De uma forma geral penso que em Portugal há muito mais o reconhecimento de apelidos do que de qualidade. Não quero com isto dizer que estas pessoas não possuem qualidade suficiente, mas existem situações quase escandalosas um pouco por todo o pais. Na sua opinião, Portugal é um bom país para desenvolver trabalho de investigação científica? Porquê? O único senão que encontro é a questão referida previamente: mentalidade. Por vezes em Portugal pensamos demasiado pequeno ou estupidamente grande. Temos todos de ser mais ambiciosos e mais exigentes, mas ao mesmo tempo não podemos estar à espera que as coisas aconteçam como que por milagre, esperar por D. Sebastião por entre o nevoeiro. Para si quais as áreas de investigação mais promissoras em Portugal? Penso que neste momento a elevada qualidade dos cuidados oncológicos fornece um excelente ambiente para o desenvolvimento da oncologia. Uma área emergente em França e que começa a alastrar ao norte da América prende-se com os benefícios do vinho e a sua relação com longevidade. Penso que Portugal pode investir um pouco mais nessa área. Naturalmente que gostaria também de ver um desenvolvimento considerável na área cardiovascular. Penso que Portugal tem todas as condições para se tornar num país extremamente atractivo para o desenvolvimento de investigação científica de qualidade. Primeiro porque possuímos licenciados de qualidade em diversas áreas (basta olhar para o número de portugueses no estrangeiro a desenvolver investigação de qualidade internacionalmente reconhecida). Segundo porque o investimento feito nos últimos anos a nível de infra-estruturas foi elevado. Os edifícios e o equipamento existem pelo que é apenas necessário dar-lhes uso! Em terceiro lugar porque somos um país extremamente acolhedor o que ajuda sempre na www.cienciapt.net/mundus www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 85. FACTOS & NÚMEROS Produção Científica Nacional Investigadores em Portugal e no Estrangeiro Investigadores no estrangeiro divulgam a ciência portuguesa O Fórum Internacional dos Investigadores Portugueses (FIIP) realizou-se mais uma vez em Portugal, com o objectivo de estimular a cooperação entre os investigadores portugueses em Portugal e no estrangeiro. O encontro é uma “oportunidade” para os investigadores portugueses, a trabalhar em Portugal ou lá fora, trocarem impressões. Os cientistas portugueses no estrangeiro “são excelentes âncoras da investigação portuguesa” e estas reuniões em solo nacional demonstram que “também podemos falar de ciência em português”, disse Isabel Azevedo. “Em termos de informação, em Portugal está-se tão bem como noutro sítio qualquer. Os estudantes portugueses têm uma preparação nada inferior e por vezes mesmo superior à dos alunos de outros países. As diferenças estão na investigação de ponta, que exige equipamentos muito poderosos. Aí é que, em regra, estamos mal”, observou a especialista. Porém, “a investigação em Portugal complementa-se muito bem com os avanços científicos lá fora”, o que torna importantes encontros como este. Internacionalização da Ciência Portuguesa Portugal não pode ficar alheio à crescente dinâmica da internacionalização da ciência, à escala europeia e mundial, por isso não deve perder o comboio do desenvolvimento científico para não ficar para trás em relação aos seus parceiros europeus e mundiais. Produção Científica Portuguesa Desde 1980 que a produção científica nacional cresce exponencialmente a uma taxa média anual de 13 por cento. A nossa produção científica, apesar dos avanços evidentes na ciência em Portugal, é idêntica à da Grécia, um país com uma economia e dimensão semelhante a Portugal. Para termos um crescimento idêntico à média da União Europeia ainda vai ser preciso vários anos ou mesmo décadas. A nossa ciência ainda produz apenas metade do que seria de esperar relativamente ao seu produto interno bruto (PIB) e só consegue angariar metade do que seria de esperar dos fundos para a investigação, segundo defende o docente Adelino V.M. Canário, da Universidade do Algarve no texto da sua página pessoal, “A peculiaridade da investigação científica portuguesa”. Quadro 1: Produção científica portuguesa Número de publicações* por área científica (nível 1) * Apuramento efectuado pelo método de contagem fraccionada ** Valores provisórios (1) Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981/2002 (2) Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981/2005 86. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus FACTOS & NÚMEROS Produção Científica Portuguesa 1990-2005 Os dados actualmente disponibilizados pelo Observatório da Ciência e Ensino Superior (OCES) reportam-se ao período de 1990 a 2005. Alguns dos quadros presentes neste documento, referentes à produção científica nacional, foram elaborados a partir do National Citation Report for Portugal, base de dados produzida pelo Institute for Scientific Information (ISI). Gráfico 1: Produção Científica Portuguesa (1990-2005), por área científica Gráfico 2: Os 10 países que mais colaboraram com Portugal Número de publicações* por área científica (nível 1) * Apuramento efectuado pelo método de contagem global * Apuramento efectuado pelo método de contagem global Quadro 2: Colaboração internacional: Número de publicações* em co-autoria com instituições de outros países por área científica (nível 1) * Apuramento efectuado pelo método de contagem global ** Valores provisórios Fontes: - Observatório da Ciência e do Ensino Superior: http://www.oces.mctes.pt/ Fonte: Observatório da Ciência e do Ensino Superior, a partir de: docs/ficheiros/seriesestatisticas90_05vfd.pdf (1) Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981/2002 - Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981-2002; (2) Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal 1981/2005 National Citation Report for Portugal 1981-2005 www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 87. PUBLICAÇÕES EM FOCO A ESCOLA EM PORTUGAL de Ana Nunes de Almeida e Maria Manuel Vieira STALKING BIRDS WITH COLOR CAMERA de Arthur A. Allen O JARDIM. MANUAL DO JARDINEIRO-AMADOR de Joaquim Casimiro Barbosa 88. Fevereiro 2007 | Mundus Este livro, editado pela Imprensa de Ciências Sociais, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, é antes de mais, uma excelente montra dos trabalhos que as autoras têm desenvolvido no Instituto de Ciências Sociais sobre a escola em Portugal. Privilegiando o olhar sociológico, a obra resulta do diálogo estabelecido entre dois percursos de investigação com perspectivas diferentes mas profundamente imbricadas na compreensão da nossa escola: o percurso que parte dos estudos sobre a família e a infância, e o que parte dos estudos sobre a educa- Trata-se da apresentação de 331 ilustrações a cor natural mostrando 266 espécies de pássaros da América do Norte. Destas ilustrações a cores, editadas pela National Geographic Society, 264 são do autor. Em 12 capítulos o autor descreve as suas experiências de observação e fotografia no habitat natural dos pássaros. Com centenas de fotografias a cores e a negro. “(...) Dividimos este livro em três partes. Na primeira encontram-se os conhecimentos mais necessários para bem compreender a vida dos vegetais — a descrição sumária dos seus diferentes órgãos e funções por eles desempenhadas, bem como a importância relativa d’esses funções; resumindo: uns elementos de botânica. Esta parte é, portanto, destinada a dar ao leitor os conhecimentos de botânica indispensáveis para a boa compreensão das outras duas partes. ção. Mas o livro procura, também, responder a uma inquietação decorrente da apreciação dos debates públicos sobre a escola, tantas vezes assentes na superficialidade dos argumentos, no impressionismo da analise, na fragilidade da prova, ou no desconhecimento do objecto. Ao disponibilizar e ao analisar criteriosamente informação substantiva, o livro contribui para um melhor conhecimento da escola em Portugal. Com ele se comprova a utilidade social do conhecimento científico. A segunda parte, como aplicação dos princípios expostos na primeira, trata das culturas em geral, achando-se ali indicados os rudimentos gerais de jardinagem e as diversas operações da cultura prática. A terceira parte, finalmente, ocupa-se das culturas especiais. (...)” Trata-se de uma obra clássica da jardinagem portuguesa, ilustrada. www.cienciapt.net/mundus PUBLICAÇÕES JOSHUA BENOLIEL REPÓRTER PARLAMENTAR de Joshua Benoliel “Joshua Benoliei foi um dos mais extraordinários foto-repórteres portugueses deste século. (...) Se no início da sua vida profissional se faz em diversas revistas ilustradas, das quais se destacam a Mala da Europa, o Tiro e Sport (resultante da fusão do Tiro Civil e da Revista de Sport), o Ocidente, o Brasil-Portugal, é com a Ilustração Portuguesa, pertencen- OS PORTUGUEZES EM 1640 de Miguel Osório Cabral Obra invulgar editada pela Imprensa Nacional, em 1886. Com uma laudatória carta de José da Silva Mendes Leal e dedicatória do autor. Com encadernação com lombada em pele. A RESINAGEM DO PINHEIRO BRAVO DESCRIÇÃO TOPOGRÁFICA E HISTÓRICA DA CIDADE DO PORTO de José de Sousa Machado Fontes te ao jornal O Século, que o seu nome se afirma. (...)” A pesquisa, selecção e legendagem é de Teresa Parra da Silva. Da Livraria Civilização. Porto. (1941), “a resinagem do pinheiro bravo é uma das maiores fontes de riqueza de Portugal. A exploração da matéria-prima necessária à indústria dos resinosos e a defesa dos valiosíssimos interesses, que nela tem a Lavoura, levantam problemas de ordem técnica, económica e social. Esclarecer a posição actual dos últimos e as boas regras, que devem orientar os primeiros, é o objectivo deste trabalho”. Ilustrado com fotografias, quadros, e desenhos. de Agostinho Rebelo da Costa 2.a edição, com a Carta de Tomás de Modessan e algumas palavras prévias de A. de Magalhães Basto. Enriquecida com estampas e mapas curiosos que a ornam. As gravuras são reproduzidas a partir das da edição original setecentista. Encontram-se impressas em separado, duas das quais em folhas desdobráveis. Da Editora – Livraria Progredior - Porto. (1945). www.cienciapt.net/mundus MAQUIAVEL E OUTROS ESTUDOS de Jorge de Sena Da Livraria Paisagem. “Este livro colige alguns estudos, prefácios e artigos publicados entre 1958 e 1968...”. Aborda personalidades como Miguel Ângelo, Shakespeare, Rousseau, Karl Marx e André Malraux. Assinatura de posse no anterrosto. Fevereiro 2007 | Mundus 89. PUBLICAÇÕES TECHNOLOGIA RURAL OU ARTES CHIMICAS, AGRICOLO-FLORESTAES de João Inácio Ferreira Lapa Dois volumes da segunda edição correcta e muito aumentada, da Typographia da Academia Real das Sciencias. dutos têxteis, produtos animais e produtos salinos. Alguns capítulos: Análise dos vinhos; Composição do bago da uva; Vida Química do vi- A obra contém três partes e está encadernada em dois volumes. O primeiro volume é composto pela Primeira parte — produtos fermentados. o segundo volume é composto pelas duas restantes: segunda parte — azeites, lacticínios, cereais, farinhas, pão e féculas, e a terceira parte — produtos sacarinos, produtos florestais, pro- nho; Falsificação do vinho; Produtos oleaginosos; Processo prático da apanha da azeitona; Espremedura do azeite; Propriedades físicas do leite; Fabrico da Manteiga; Indústria do queijo em Portugal; Moinhos de água; Qualidades do pão; Extracção do açucar; Zoetica das Abelhas; Processos práticos do corte das madeiras; Methodos diversos de sangrar os pinheiros; OS EUCALIPTOS EM PORTUGAL por um número muito limitado de indivíduos. de Ferd. von Mueller fazer. Pelo Barão... Traduzido e anotado no que se refere a Portugal pelo Dr. Júlio A. Henriques. Este é um dicionário de plantas úteis próprias para cultura, principalmente nas regiões extratropicais, com as indicações da pátria de cada uma e de muitas aplicações que delas se podem Primeira edição deste magnífico e importante trabalho pelo qual “O Barão de Mueller tinha grande empenho na divulgação, porque o considerava extremamente útil (...)” e que na opinião de J. A. Henriques “(...) é o catalogo mais completo de plantas úteis, que podem ser cultivadas ou nos cli- mas tropicais ou nos climas temperados. Relativamente a cada espécie são dadas informações dos usos que a espécie pode ter e é indicado o país de origem, que dará a conhecer a natureza do clima que ela requer. (...) Os engenheiros florestais, as câmaras municipais, os agrónomos encontrarão n’ele informações preciosas.” Encadernação com lombada em pele. Carimbo a óleo no frontispício. DICIONÁRIO DE PLANTAS ÚTEIS Fevereiro 2007 | Mundus A terceira parte é da primeira edição de 1871. Encadernação da época, com lombada em pele. I Volume, com a identificação e monografia de 90 espécies. “(...) Se bem que a nossa chave de identificação dos eucaliptos inclua 90 espécies, não engloba todas as existentes no nosso país — as espécies recentemente introduzidas e aquelas que ultimamente têm sido identificadas mas que apresentam fraca adaptabilidade, estando duma maneira geral representadas de Ernesto Goes 90. Qualidades de lã em geral; Lavagem da lã tosquiada; Sedas, sua extracção; Secagem dos casulos; Cortimenta do Linho; Apanha do Algodão; Salga das carnes; Defumação das carnes; Trabalho do cortume; Extracção do sal marinho; entre tantos outros de diversa matéria. Profusamente ilustrado com esquemas e belíssimas gravuras abertas em chapa de cobre. (...)” Amplamente ilustrado por esquemas, fotos e inúmeros desenhos de Maria da Graça Pinto Gambino. Ilustrado com dezenas de gravuras a negro impressas em papel couché, algumas das quais em folha desdobrável. Assinatura no anterosto. www.cienciapt.net/mundus PUBLICAÇÕES INSTANTES DE LUZ NO OCEANO de Luís Quinta MEMORIA SOBRE CHAFARIZES, BICAS, FONTES E POÇOS PÚBLICOS DE LISBOA, BELÉM, E MUITOS LUGARES DO TERMO de José Sérgio Veloso d’Andrade Valiosa contribuição para a bibliografia dos recursos hidrológicos olisiponenses, documentada com plantas e mapas estatísticos impressos em folhas desdobráveis, peças entre as quais se encontra, em folha de grandes dimensões (70x38 cm.), a raríssima “Planta do Aqueducto das Aguas Livres desde a nascente do Olival do Santissimo ao norte de Caneças, até á entrada da Porcalhota”. Da Indústria Gráfica Lda. “(...) Durante uma década fui conhecendo os fundos do Atlântico português. Foram muitas as milhas náuticas percorridas, e as horas de imersão para apreciar a vida selvagem que povoa a nossa costa. Um trabalho moroso devido à grande vulnerabilidade das águas que, ora cristalinas, com visibilidades que podem ir além dos 50 metros, como nas Ilhas Selvagens, A QUESTÃO ACADÉMICA DE 1907 de Natália Correia ora turvas, condicionaram, por vezes, a obtenção de imagens fidedignas da riqueza dos fundos em cor e vida. Este livro pretende ser uma visão simples mas reveladora da realidade do nosso mundo subaquático e, acima de tudo, um desfilar de cenários naturais magníficos que, através da fotografia, é possível trazer ao grande público.”Boa impressão sobre papel de qualidade. Com prefácio de Mário Braga. Obra editada pela Editorial Minotauro, Lda. “Ao examinarmos a documentação relativa ao movimento académico de 1907, duas circunstâncias nos saltam desde logo à vista: o ritmo acelerado dos sucessos e a intensa reacção das duas forças em campo - os estudantes e as autoridades universitárias, sustentadas firmemente pelo governo”. Dedicatória na folha de guarda. LIVROS RECOMENDADOS PELA BIBLIOTECÁRIA DO ISEC: ELLYIN, Fernand Fatigue damage, crack growth and life prediction/ Fernand Ellyin. - London (etc.): Chapman & Hall, 1997. - 469 p.: il. ISBN 0-412-59600-8, COTA: 4-14-92 (ISEC) - 13932 ROSATO, DOMINIK V., ROSATO, Donald V., ROSATO, Marlene G. Injection molding handbook/ ed. by Dominick V. Rosato, Donald V. Rosato, Marlene G. Rosato. - 3rd ed. - Boston (etc.): Kluwer Academic Publishers, cop. 2000. - 1457 p.: il. ISBN 0-7923-8619-1, COTA: 4-6-148 (ISEC) - 13946 COLLINS, Jim De bom a excelente: porque é que algumas empresas dão o salto... e outras não/ Jim Collins. - Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2007. - 383 p.: il. - Trad. de: Good to great. ISBN 978-972-46-1697-1, COTA: 2A-1-122 (ISEC) - 13958 www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 91. Coluna SAÚDE Rui Medeiros Universidade do Minho [email protected] Vírus, Vacinas e Cancro do Colo do Útero: A oportunidade para a investigação na área de Epidemiologia Molecular, Virologia e Saúde Pública em Portugal Algumas infecções crónicas por agentes virais apresentam risco aumentado para cancro. Entre estes agentes temos como mais representativos os vírus HPV no risco para cancro do colo do útero, o vírus HBV no risco para cancro do fígado e o vírus EBV no risco para cancro da nasofaringe. Os estudos epidemiológicos têm demonstrado uma forte associação entre o cancro do colo uterino e padrões de comportamento sexual na infecção pelo HPV. A principal forma de transmissão do HPV é a via sexual, sendo considerada uma das principais infecções sexualmente transmissíveis detectadas em mulheres jovens. Idade precoce da primeira relação sexual e a existência de múltiplos parceiros são factores de risco bem aceites. Hábitos tabágicos, uso de contraceptivos orais, presença de doenças venéreas, algumas deficiências nutricionais e raça/etnia, têm também sido descritos como factores de risco para esta neoplasia. O Cancro do colo do útero é reconhecidamente um importante problema de Saúde pública na população portuguesa sendo a sua incidência estimada em 17 por 100 mil (cerca de 850 casos todos os anos). Além do cancro do colo uterino, os vírus HPV estão também associados a alguns tipos de verrugas genitais e ainda a outras neoplasias anogenitais. Existem identificadas mais de 90 variantes (tipos) do HPV, sendo cada novo tipo de HPV caracterizado com base na sequência do DNA viral. 92. Fevereiro 2007 | Mundus Cerca de 40 tipos de HPV podem infectar o tracto urogenital e destes cerca de 17 estão associados ao desenvolvimento de cancro sendo conhecidos por HPV de alto risco ou HPV oncogénicos. A investigação nesta área demonstrou que as proteínas virais complexam com proteínas do hospedeiro importantes na regulação do ciclo celular. Entre os HPV oncogénicos, temos o HPV16 e HPV18 como os mais frequentemente encontrados no cancro do colo uterino. Os HPV6 e HPV11 são também associados a verrugas genitais mas não provocam cancro. É um facto que o cancro do colo do útero continua a ser um grave problema de saúde em Portugal. Sendo uma neoplasia provocada por um vírus, é possível fazer o seu ras- treio e a sua prevenção através da vacinação e da formação acerca dos vários factores de risco conhecidos. Nas novas directrizes do Plano Nacional de Saúde, o envolvimento de todos os médicos, investigadores e outros profissionais de saúde na Investigação Clínica foi considerado prioritário e como critério cada vez mais importante na avaliação profissional e no sucesso deste mesmo plano. O cancro do colo do útero é um bom exemplo para centralizar estes esforços. No entanto, uma simples observação através da publicação cientifica de origem portuguesa envolvendo o vírus HPV e o Cancro do colo do útero verificamos que ainda é escassa a investigação portuguesa nesta área. www.cienciapt.net/mundus SAÚDE A compreensão dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento do cancro pode fornecer uma importante informação para a optimização da eficácia das estratégias de saúde pública nos planos oncológicos e a individualização dos tratamentos adequados a cada doente. O estudo de agentes infecciosos, como é o caso dos vírus, é uma importante área de investigação em oncologia com um elevado potencial na prevenção e rastreio da doença. O sucesso de qualquer medida de saúde pública nesta área envolve o conhecimento por parte da população das principais atitudes que podem ser preconizadas no sentido de diminuir o risco de desenvolver esta neoplasia. A pesquisa apresentada nas páginas seguintes pretende ser um incentivo a aumentar o esforço de investigação nesta área, para deste modo compreender melhor a realidade Portuguesa. BIBLIOGRAFIA PubMed (www.pubmed.gov) serviço gratuito fornecido pela U.S. National Library of Medicine que inclui 16 milhões de citações da MEDLINE incluindo artigos na áreas das Ciências da Saúde e Biomedicina desde 1950. O Objectivo da pesquisa envolveu a determinação dos trabalhos de investigação com base em institutições portuguesas envolvendo o cancro do colo uterino. Os critérios de pesquisa envolveram a introdução das palavras chave: HPV, cervical cancer, Portugal, Porto, Lisboa, Lisbon, Coimbra. 2001 a 2007 1) Santos AM, Sousa H, Pinto D, Portela C, Pereira D, Catarino R, Duarte I, Lopes C, Medeiros R. Linkage of TP53 codon 72 and p21 nt590 genotypes and the development of cervical and ovarian cancer. Eur J Cancer 2006;42(7):958-63 Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia do Porto 2) Ferreira PM, Catarino R, Pereira D, Matos A, Pinto D, Coelho A, Lopes C, Medeiros R. Cervical cancer and CYP2E1 polymorphisms: www.cienciapt.net/mundus implications for molecular epidemiology. Eur J Clin Pharmacol 2006; 62 (1): 15-21. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia do Porto 3) Cardoso CS, Araujo H, Cruz E, Afonso A, Mascarenhas C, Almeida S, Moutinho J, Lopes C, Medeiros R. Hemochromatosis Gene (HFE) Mutations in Viral Associated Neoplasia:Linkage to Cervical Cancer. Biochem Biophys Res Commun 2006;341(1):2328. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia do Porto 4) Coelho A, Matos A, Catarino R, Pinto D, Pereira D, Lopes C, Medeiros R. Protective role of the polymorphism CCR2-64I in the progression from squamous intraepithelial lesions to invasive cervical carcinoma. Gynecol Oncol. 2005;96(3):760-4. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia do Porto 5) Santos AM, Sousa H, Catarino R, Pinto D, Pereira D, Vasconcelos A, Matos A, Lopes C, Medeiros R. TP53 codon 72 polymorphism and risk for cervical cancer in Portugal. Cancer Genet Cytogenet. 2005;159(2):143-7. Institutição de origem : Instituto Português de Oncologia do Porto 6) Catarino R, Matos A, Pinto D, Pereira D, Craveiro R, Vasconcelos A, Lopes C, Medeiros R. Increased risk of cervical cancer associated with cyclin D1 gene A870G polymorphism. Cancer Genet Cytogenet. 2005;160(1):49-54 Institutição de origem : Instituto Português de Oncologia do Porto 7) Duarte I, Santos A, Sousa H, Catarino R, Pinto D, Matos A, Pereira D, Moutinho J, Canedo P, Machado JC, Medeiros R. G-308A TNF-alpha polymorphism is associated with an increased risk of invasive cervical cancer. Fevereiro 2007 | Mundus 93. SAÚDE Biochem Biophys Res Commun. 2005; 334(2):588-92. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia do Porto 8) Medeiros R, Prazeres H, Pinto D, MacedoPinto I, Lacerda M, Lopes C, Cruz E. Characterization of HPV genotype profile in squamous cervical lesions in Portugal, a southern European population at high risk of cervical cancer. Eur J Cancer Prev. 2005;14(5):467-71. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia do Porto 9) Matos A, Moutinho J, Pinto D, Medeiros R. The influence of smoking and other cofactors on the time to onset to cervical cancer in a southern European population. Eur J Cancer Prev 2005; 14(5):485-91. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia do Porto 10) Caldeira S, Dong W, Tommasino M. Analysis of E7/Rb associations. Methods Mol Med. 2005;119:363-79. Institutição de origem: Faculdade de Medicina de Lisboa 11) Craveiro R, Costa S, Pinto D, Salgado L, Carvalho L, Castro C, Bravo I, Lopes C, Silva I, Medeiros R. TP73 alterations in cervical carcinoma. Cancer Genet Cytogenet. 2004;150(2):116-21. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia do Porto 12) Fonseca-Moutinho JA, Cruz E, Carvalho L, Prazeres HJ, de Lacerda MM, da Silva DP, Mota F, de Oliveira CF. Estrogen receptor, progesterone receptor, and bcl-2 are markers with prognostic significance in CIN III. Int J Gynecol Cancer. 2004;14(5):911-20. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia de Coimbra 13) Novoa Vazquez RM. [Cost-effectiveness of a cervical cancer screening programme in the Algarve region, Portugal] Rev Esp Salud Publica. 2004;78(3):341-53. Institutição de origem : Administracão Regional de Saude do Algarve 94. Fevereiro 2007 | Mundus 14) Costa S, Medeiros R, Vasconcelos A, Pinto D, Lopes C. A slow acetylator genotype associated with an increased risk of advanced cervical cancer. J Cancer Res Clin Oncol. 2002;128(12):678-82. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia do Porto 2000 e anos anteriores 15) Real O, Silva D, Leitao MA, Oliveira HM, Rocha Alves JG. Cervical cancer screening in the central region of Portugal. Eur J Cancer. 2000 Nov;36(17):2247-9. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia de Coimbra 16) Serra H, Pista A, Figueiredo P, Urbano A, Avilez F, De Oliveira CF. [Cervix uteri lesions and human papiloma virus infection (HPV): detection and characterization of DNA/HPV using PCR (polymerase chain reaction] Acta Med Port. 2000 Jul-Aug;13(4):181-92. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia de Coimbra/ Inst. Ricardo Jorge 17) Pires MA, Dias M, Oliveira C, De Oliveira HM. [Factors of recurrence of intraepithelial lesions of the uterine cervix] Acta Med Port. 2000 Sep-Dec;13(5-6):259-63. Institutição de origem: Hospitais da Universidade de Coimbra 18) Gomes C, Dias M, Falcao F, Oliveira C. Serologic profile of some sexually transmitted diseases in women with squamous intraepithelial lesions. Eur J Gynaecol Oncol. 1998;19(2):135-7. Institutição de origem: Hospitais da Universidade de Coimbra 19) da Silva DP, Real O. [Screening for cancer of the cervix. Program of the Central Region of Portugal] Acta Med Port. 1997 Oct;10(10):643-52. Institutição de origem: Instituto Português de Oncologia de Coimbra 20) Santo C, Pista A, Bartolo E, Almeida M, Ayres L, Ferreira P, Rodrigo G. [Typing of human papillomavirus (HPV) in the male and female genitalia] Acta Med Port. 1992 Dec;5(11):567-70. Institutição de origem: Hospital de Santa Maria, Lisboa/Inst. Ricardo Jorge www.cienciapt.net/mundus www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 95. OPORTUNIDADES 96. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus CIENTÍFICAS www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 97. BOLSAS DE INVESTIGAÇÃO BOLSA DE INVESTIGAÇÃO NA ÁREA DA FÍSICA Concurso para atribuição de uma Bolsa de Investigação no âmbito do Projecto POCI/ FP/63948/2005, designado por Sistemas de Informação e Aquisição de Dados para ATLAS/ CERN. A bolsa tem a duração de 6 meses, com início previsto para 1 de Março de 2007, sendo que as candidaturas decorrem até dia 28 de Fevereiro. A actividade consiste no desenvolvimento, teste, validação e suporte da aplicação NODE para disponibilização de informação estatística de monitorização do funcionamento ATLAS; desenvolvimento e suporte da infra-estrutura de gestão de comentários associados; estudos do canal de física de produção de mesões B de forma determinar os critérios de qualidade da informação mais relevante para este canal. Para facilitar a integração futura dos diferentes trabalhos, todos os desenvolvimentos devem resultar na criação de um pacote Debian/Linux. O candidato deve ser Mestre em Física, Astrofísica ou Engenharia com interesse em Física de Partículas e computação e que ambicione dedicar-se a este ramo do conhecimento a longo termo. Conhecimentos sólidos de C e C++. O candidato deve enviar currículo e carta expondo a motivação do candidato (incluindo os planos de formação pós-graduada) para António Amorim, Departamento de Física, Edifício C8 (8-5-15), Faculdade de Ciências, Campo Grande, 1749-016 Lisboa, Tel. Directo: 21 750 08 87, Fax: 21 750 09 77, e-mail: Antonio. [email protected]. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1623 BOLSA DE INVESTIGAÇÃO NA ÁREA DO AMBIENTE E ORDENAMENTO Até 4 de Março, está aberto concurso, no Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro, para atribuição de uma Bolsa de Investigação no âmbito dos projectos POCI/AMB/55878/2004, “Impactos do Aerossol Atmosférico na Saúde Humana”, financiado pelo POCI e pelo FEDER através da 98. Fevereiro 2007 | Mundus Fundação para a Ciência e Tecnologia, Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e “EUCAARI - European Integrated Project on Aerosol, Cloud, Climate and Air Quality Interactions”, do 6º Programa Quadro da Comunidade Europeia – Mudanças Globais e Ecossistemas. A bolsa terá por finalidade assegurar a realização experimental dos trabalhos da responsabilidade da Universidade de Aveiro no sentido de estudar as características do aerossol atmosférico para estes dois projectos, que tem uma componente preponderante de análise química da composição de amostras colhidas e do tratamento dos dados com identificação provável das fontes por métodos de Modelização no Receptor. A duração da bolsa é de 19 meses, sendo sete meses de trabalho para apoio ao Projecto POCI/AMB/55878/2004 e 12 meses de trabalho para apoio ao Projecto EUCAARI, com financiamento repartido por estes dois projectos em proporção com o trabalho despendido em cada Projecto. O Contrato será inicialmente de um ano, com início previsto para 1 de Abril de 2007, em regime de exclusividade. A bolsa poderá, eventualmente, ser prorrogada por um período adicional de sete meses. Os destinatários da bolsa são licenciados em Engenharia do Ambiente ou áreas afins, com perfil adequado. É dada preferência aos seguintes elementos: Nota de classificação da licenciatura; Habilitações adicionais; Conhecimentos na área das Ciências da Atmosfera e experiência laboratorial em métodos de análise de compostos particulados por cromatografia iónica e utilização de Modelos no Receptor aplicados a aerossóis atmosféricos. A selecção dos Bolseiros basear-se-á nos seguintes critérios, por ordem decrescente de importância: Curriculum académico e científico relevante para a área de abertura de concurso; Proximidade dos domínios científicos de especialização em relação à área na qual os bolseiros irão exercer a sua actividade; Experiência anterior. Documentos de Candidatura: - Requerimento de Aceitação (ver Formulário Candidatura Bolsas Investigação - http://www. adm.ua.pt/drh/impressos/Formulario_Candidatura_BolsasInvestigacao.doc; - Curriculum Vitae, datado e assinado; - Fotocópia do Bilhete de Identidade ou Passaporte; - Documento comprovativo do grau académico; - Outros elementos relevantes. As candidaturas deverão ser dirigidas ao Presidente do Júri, Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro, sito no Campus Universitário de Santiago, 3810193- Aveiro, por correio sob registo, expedidas até ao termo do prazo fixado ou entregues pessoalmente na Secretaria do mesmo Departamento. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1624 PRÉMIO D. DINIS 2006 O banco Montepio promove mais uma vez a atribuição do Prémio D. Dinis, destinado a alunos que estão a frequentar cursos de Mestrado nas áreas de Agronomia, Filosofia e Ciências da Educação. O período de aceitação de candidaturas decorre até ao próximo dia 28 de Fevereiro. Poderão candidatar-se a este Prémio os jovens licenciados que se encontrem inscritos em cursos de Mestrado nas áreas de Agronomia, Ciências da Educação e Filosofia e que, em 31 de Dezembro de 2006, tivessem idade inferior a 30 anos. Os candidatos ao Prémio, traduzido no montante de 2500 euros, não poderão ter obtido classificação inferior a 14 valores na respectiva Licenciatura. Para se candidatarem ao Prémio devem apresentar: certificado de licenciatura; fotocópia do bilhete de identidade; objectivos de carácter científico, que pretende alcançar com o mestrado; prova de inscrição no respectivo mestrado; parecer da instituição de ensino superior sobre a candidatura, designadamente sobre a importância da área em que o mestrado se desenvolverá; e outros elementos curriculares considerados úteis para a apreciação da candidatura. www.cienciapt.net/mundus BOLSAS DE INVESTIGAÇÃO As candidaturas deverão ser dirigidas a Montepio, Gabinete de Relações Públicas Institucionais, “Prémio D. Dinis 2006”, Rua Áurea, 219 a 241, 3o andar, 1100 – 062 Lisboa. Mais informações podem ser solicitadas através do e-mail: [email protected]. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1625 BOLSAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE WALES A Universidade de Wales está a promover a atribuição de bolsas de pós-graduação, no valor de cerca de 12300 libras por ano. A recepção de candidaturas decorre até 1 de Março. Para mais informações contactar: Postgraduate Admissions Office, OldCollege, King Street, Aberystwyth, ceredigion SY23 2AX, UK, Tel: +44 (0)1970 622270, Fax. +44 (0)1970 622921, e-mail: [email protected] http://www.aber.ac.uk/pga. http://www.cienciapt.net/empregodesc.asp?ID=1626 PRÉMIO CIENTÍFICO IBM A Companhia IBM Portuguesa, S.A. convida, uma vez mais, os investigadores portugueses com menos de 36 anos de idade em 31 de Dezembro de 2006, a candidatarem-se ao Prémio Científico IBM. Este Prémio foi instituído pela IBM em 1990 para distinguir trabalhos de elevado mérito científico no campo da computação teórica e aplicada. Os trabalhos a concurso deverão versar qualquer das áreas enumeradas na Computing Reviews Classification Tree, da Association for Computing Machinery, Inc., Copyright 1998. As candidaturas ao Prémio Científico IBM serão individuais, podendo concorrer qualquer cidadão português, ou residente em Portugal comprovadamente há pelo menos 3 anos, com menos de 36 anos de idade em 31 de Dezembro de 2006. Não poderão candidatar-se à edição de 2006, os vencedores de anteriores edições do Prémio Científico IBM. Os trabalhos deverão ter um único autor, constituindo o envio a este prémio um compromis- www.cienciapt.net/mundus so de honra de autenticidade. Serão aceites trabalhos em língua portuguesa, originais ou publicados em data posterior a 1 de Dezembro de 2005.Trabalhos em língua estrangeira deverão ser traduzidos para português para serem apresentados. Os trabalhos deverão conter, no início, os seguintes elementos: título, pseudónimo do autor, área em que se insere o trabalho de acordo com a classificação ACM, entre três e seis palavras-chave que identifiquem o assunto, e um resumo com até 1000 caracteres. No texto deverão ser claramente identificadas as contribuições originais do autor. Para garantia de anonimato, as referências explícitas, nomeadamente as auto-referências, deverão ser retidas do trabalho a concurso, podendo no entanto, ser incluídas no curriculum. A data limite para a recepção dos trabalhos é de 31 de Março de 2007. Para mais informações contactar a Companhia IBM Portuguesa, S.A., Prémio Científico IBM, Divisão de Comunicações e Programas Externos, Edifício Office Oriente, Rua Mar da China - Lote 1.07.2.3, Parque das Nações, 1990-138 Lisboa, e-mail: [email protected]. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1627. CONCURSO JOVENS VALORES DA ECONOMIA 2007 A Ordem dos Economistas, com o patrocínio do Banco de Portugal e da Deloitte e o apoio do Diário Económico, lança o concurso “Jovens Valores da Economia”. A entrega dos trabalhos termina a 30 de Março de 2007. O objectivo é incentivar a produção de trabalhos inéditos na área da ciência económica e dar devido relevo público aos seus autores. Os dois prémios “Jovens Valores da Economia” serão atribuídos nas especialidades de Economia Política, prémio “Jovem Valor da Economia/Banco de Portugal” e Economia e Gestão Empresariais, prémio “Jovem Valor da Economia/Deloitte”. Cada um destes dois prémios consiste na entrega, em cerimónia pública de atribuição, de uma importância de 3.750 euros e publicação do trabalho premiado nos “Cadernos de Economia” da Ordem dos Economistas. Candidaturas, individuais ou em grupo: a) Estagiários inscritos na Ordem dos Economistas; b) Licenciados em Economia ou em Ciências Económicas Para saber mais sobre o regulamento deste concurso ver a página: http://www.cienciapt. net/empregodesc.asp?ID=1628 BOLSA DE INVESTIGAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS O Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, abre concurso para atribuição de uma Bolsa de Investigação (BI) no âmbito do projecto POCI/MAR/56964/2004, designado “Biotestes Marinhos para a detecção em tempo real da toxicidade do petróleo”. O trabalho do bolseiro envolve o desenvolvimento de testes de toxicidade com compostos isolados e misturas de PAHs utilizando Sparus aurata e Mytilus galloprovincialis como organismos teste. Análise de alterações comportamentais das espécies utilizando um biosensor marinho; o tratamento dos resultados; e a elaboração de relatórios. Deve ter licenciatura em Biologia ou áreas afins sendo favorável a experiência prévia em (i) etologia dos invertebrados e vertebrados aquáticos; (ii) análises de alterações comportamentais por sondas eléctricas. A avaliação terá em conta o mérito do candidato, considerando os parâmetros da formação académica e experiência em investigação científica na área pretendida. A bolsa tem a duração de 8 meses, com inicio previsto para 1 de Abril de 2007, em regime de exclusividade. As candidaturas deverão incluir cópia dos certificados de habilitações, Curriculum vitae detalhado e duas cartas de recomendação e decorrem até 5 de Março. As candidaturas devem ser enviadas ao cuidado da Doutora Ana Dulce Ascensão Correia, Instituto de Biopatologia Química, Av. Professor Egas Moniz-1649-028 Lisboa, e-mail: [email protected]. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1640 Fevereiro 2007 | Mundus 99. EMPREGO CIENTÍFICO PROFESSOR CATEDRÁTICO QUÍMICA E BIOLOGIA A este concurso podem concorrer: Candidaturas para um lugar de Professor Catedrático no grupo de disciplinas de Química e Biologia do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, a decorrer até dia 26 de Fevereiro. a) Os professores-coordenadores de outra escola superior politécnica da área científica para que é aberto concurso; b) Os professores-adjuntos da área científica para que é aberto concurso com, pelo menos, três anos de bom e efectivo serviço na categoria; c) Os candidatos habilitados com o grau de doutor ou equivalente na área científica para que é aberto concurso; d) Os equiparados a professor-coordenador ou a professor-adjunto da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro ou de outra escola da área científica para que é aberto concurso e que satisfaçam os requisitos de habilitações e tempo de docência indicado na alínea b). As candidaturas devem ser formalizadas mediante requerimento, dirigido ao presidente do Instituto Politécnico de Setúbal, Largo dos Defensores da República, 1, 2910-470 Setúbal, e-mail: [email protected], podendo ser entregue pessoalmente ou remetido pelo correio, em carta registada e com aviso de recepção. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1642 Podem candidatar-se: a) Os professores catedráticos do mesmo grupo ou disciplina de outra universidade ou de análogo grupo ou disciplina de outra escola da mesma ou de diferente universidade; b) Os professores associados do mesmo grupo ou disciplina ou de análogo grupo ou disciplina de qualquer escola ou departamento da mesma ou de diferente universidade que tenham sido aprovados em provas públicas de agregação e contem, pelo menos, três anos de efectivo serviço docente na categoria de professor associado ou na qualidade de professor convidado, catedrático ou associado; c) Os professores convidados, catedráticos ou associados do mesmo grupo ou disciplina ou de análogo grupo ou disciplina de qualquer escola ou departamento da mesma ou de diferente universidade que tenham sido aprovados em provas públicas de agregação e contem, pelo menos, três anos de efectivo serviço docente como professores ou professores convidados daquelas categorias. Para informações adicionais contactar a Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Campus de Campolide, Lisboa, 1099-085, [email protected]. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1619 PROFESSOR-COORDENADOR DA ÁREA CIENTÍFICA DE MECÂNICA E ESTRUTURAS Concurso até 13 de Março para recrutamento de um professor-coordenador para a Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, do Instituto Politécnico de Setúbal, para as disciplinas de Betão Estrutural, da área científica de Mecânica e Estruturas, dos cursos de Engenharia Civil e de Engenharia de Conservação e Reabilitação. 100. Fevereiro 2007 | Mundus PROFESSOR-COORDENADOR NA ÁREA DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE Concurso público até dia 12 de Março para o preenchimento de uma vaga de professor-coordenador para a área científica de Enfermagem - vertente de Enfermagem de Reabilitação para a Escola Superior de Enfermagem de Santarém do Instituto Politécnico de Santarém. Vencimento e regalias sociais - o estabelecido no estatuto remuneratório da carreira do pessoal docente do ensino superior politécnico e na legislação geral da função pública. As candidaturas deverão ser formalizados mediante requerimento, com indicação da referência do concurso, dirigido ao presidente do conselho directivo da Escola Su- perior de Enfermagem de Santarém, devendo ser entregue directamente no Sector de Recursos Humanos da Escola, ou remetido pelo correio, em carta registada, com aviso de recepção, para a Quinta do Mergulhão, Senhora da Guia, 2005-075 Santarém, e-mail: [email protected]. Constituem critérios de selecção e ordenação dos candidatos a capacidade científica, técnica e pedagógica revelada para o desempenho das funções de professor-coordenador na área e vertente para a qual é aberto o concurso. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1643 PROFESSOR-COORDENADOR PARA A ÁREA CIENTÍFICA DE ENFERMAGEM Concurso público até dia 12 de Março para o preenchimento de uma vaga de professorcoordenador para a área científica de Enfermagem - vertente de Enfermagem de Saúde Pública para a Escola Superior de Enfermagem de Santarém do Instituto Politécnico de Santarém. Vencimento e regalias sociais - o estabelecido no estatuto remuneratório da carreira do pessoal docente do ensino superior politécnico e na legislação geral da função pública. As candidaturas deverão ser formalizados mediante requerimento, com indicação da referência do concurso, dirigido ao presidente do conselho directivo da Escola Superior de Enfermagem de Santarém, devendo ser entregue directamente no Sector de Recursos Humanos da Escola, ou remetido pelo correio, em carta registada, com aviso de recepção, para a Quinta do Mergulhão, Senhora da Guia, e-mail: [email protected]. Constituem critérios de selecção e ordenação dos candidatos a capacidade científica, técnica e pedagógica revelada para o desempenho das funções de professor-coordenador na área e vertente para a qual é aberto o concurso. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1644 www.cienciapt.net/mundus EMPREGO CIENTÍFICO PROFESSOR ADJUNTO PARA A DISCIPLINA DE MÚSICA Encontra-se aberto até 15 de Março concurso documental para recrutamento de um professor-adjunto do quadro do pessoal docente da Escola Superior de Dança do Instituto Politécnico de Lisboa, para a área científica de Análise e Contextos, disciplina de Música. Ao referido concurso podem apresentar-se os candidatos que se encontrem nas condições previstas nos artigos 5.o, 7.o, n.o 1, e 17.o do Decreto-Lei n.o 185/81, de 1 de Julho, e sejam detentores do grau de mestre na área de Música ou de Ciências da Educação. Na apreciação das candidaturas atender-se-á ao mérito científico, pedagógico e profissional dos candidatos, sendo factores de preferência a docência no ensino superior politécnico na área da Dança, no âmbito da disciplina de Música, a experiência no ensino vocacional da Música e no ensino superior, bem como em funções de gestão académica e na implementação de projectos pedagógicos. As candidaturas devem ser formalizadas através de requerimento dirigido ao presidente do Instituto Politécnico de Lisboa e entregue pessoalmente ou remetido pelo correio, em carta registada e com aviso de recepção, para a Escola Superior de Dança, Rua da Academia das Ciências, 5, 1200-003 Lisboa, e-mail: [email protected]. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1645 grupo ou disciplina de outra universidade ou de análogo grupo ou disciplina de outra escola da mesma ou de diferente universidade; b) Os professores associados do mesmo grupo ou disciplina ou de análogo grupo ou disciplina de qualquer escola ou departamento da mesma ou de diferente universidade que tenham sido aprovados em provas públicas de agregação e contem, pelo menos, três anos de efectivo serviço docente na categoria de professor associado ou na qualidade de professor convidado, catedrático ou associado; c) Os professores convidados, catedráticos ou associados do mesmo grupo ou disciplina ou de análogo grupo ou disciplina de qualquer escola ou departamento da mesma ou de diferente universidade que tenham sido aprovados em provas públicas de agregação e contem, pelo menos, três anos de efectivo serviço docente como professores ou professores convidados daquelas categorias; d) Os investigadores principais dos estabelecimentos do ensino superior com, pelo menos, três anos de efectivo serviço na categoria, habilitados com o grau de doutores e com o título de agregado. Os candidatos deverão apresentar os seus requerimentos no Centro de Atendimento da administração da Universidade de Coimbra, Palácio dos Grilos, Rua da Ilha, 3004-531 Coimbra, e-mail: gbreitor@ci. uc.pt. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1646 PROFESSOR CATEDRÁTICO DO 1.O GRUPO, SUBGRUPO DE HISTOLOGIA/EMBRIOLOGIA Encontra-se aberto até 3 de Março concurso documental para provimento de uma vaga de professor catedrático do 1º grupo, subgrupo de Histologia/Embriologia, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Ao concurso poderão apresentar-se: a) Os professores catedráticos do mesmo www.cienciapt.net/mundus EMPREGO PARA ENGENHEIROS INFORMÁTICOS Empresa de informática e actividades afins, consultadoria e desenvolvimento com sede em Lisboa procura finalistas ou recémlicenciados Licenciado (conclusão entre 2005 e 2007) em Engenharia Electrónica e Telecomunicações, Engenharia de Computadores e Telemática, Tecnologias de Informação e Comunicação. Descrição: Consultores/Programadores Microsoft .NET. A empresa procura colaboradores empreendedores, responsáveis e competentes e que estejam abertos a participar em desafios com uma equipa jovem e dinâmica. Os candidatos devem possuir licenciatura em Eng. Informática ou equivalente. Devem ter experiência profissional de 0 a 2 anos; experiência em análise e desenvolvimento .NET (C#, VB.net, ASP.net), tecnologias XML e Webservices; espírito de trabalho em equipa, inovador e criativo; e boas capacidades de comunicação. Deve ainda possuir carta de condução. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1647 OPORTUNIDADE DE EMPREGO PARA PROGRAMADORES JAVA A empresa Noesis, com mais de 10 anos de experiência em Consultoria de Sistemas de Informação, que presta serviços e desenvolve soluções nas áreas de Application Development & Support, Quality Management e IT Infrastructure pretende recrutar Programadores JAVA para trabalhar em Lisboa. Os candidatos devem ter competência em Desenvolvimento J2EE; Desenvolvimento com Structs e Tomcat; e Desenvolvimento Web: HTML, CSS e Javascript. Devem ter bons conhecimentos da língua inglesa (falada e escrita). O candidato terá a oportunidade de analisar, desenvolver e testar variadas Soluções Informáticas. Os candidatos que reúnam as condições referidas devem enviar o seu CV para [email protected], indicando no assunto “Java 15.07”. Os interessados em apresentar uma candidatura espontânea devem referir, no assunto, a função em que melhor se enquadram as suas expectativas de carreira. http://www.cienciapt.net/empregodesc. asp?ID=1648 Fevereiro 2007 | Mundus 101. FINANCIAMENTO HYPERGLYCEMIC EXACERBATION OF ISCHEMIA/RE- STRESS MANAGEMENT INTERVENTIONS TO REDUCE NOVEL APPROACHES TO ENHANCE ANIMAL STEM PERFUSION INJURY AFTER ISCHEMIC INSULT (R01) RISK OF CORONARY ARTERY DISEASE (R01) CELL RESEARCH (R01) Prazo: 7 Fevereiro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1307 Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1313 Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1318 GLOBAL RESEARCH INITIATIVE PROGRAM, BEHAVIOR- RUTH L. KIRSCHSTEIN NATIONAL RESEARCH SERVICE NOVEL APPROACHES TO ENHANCE ANIMAL STEM AL/SOCIAL SCIENCES (R01) AWARDS FOR POSTDOCTORAL TRAINING IN COMPLE- CELL RESEARCH (R21) Prazo: 22 Setembro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1308 MENTARY AND ALTERNATIVE MEDICINE (F32) Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1319 Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1314 DRUG ABUSE, RISKY DECISION MAKING AND HIV/ NEUROBIOLOGY OF MIGRAINE (R01) AIDS (R01) RUTH L. KIRSCHSTEIN NATIONAL RESEARCH SERVICE Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1309 AWARDS FOR POSTDOCTORAL TRAINING IN COMPLEMENTARY AND ALTERNATIVE MEDICINE (F32) Prazo: 6 Novembro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1320 Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1315 MENTAL HEALTH CONSEQUENCES OF VIOLENCE AND DRUG ABUSE, RISKY DECISION MAKING AND HIV/ TRAUMA (R01) AIDS (R21) Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1310 MENTAL HEALTH CONSEQUENCES OF VIOLENCE AND TRAUMA (R03) Prazo: 6 Novembro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1321 Prazo: 17 Novembro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1316 HYPERSENSITIVITY PNEUMONITIS – EARLY IDENTIFI- DRUG ABUSE, RISKY DECISION MAKING AND HIV/ CATION AND MECHANISMS OF DISEASE (R01) AIDS (R03) Prazo: 6 Novembro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1322 Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1311 MENTAL HEALTH CONSEQUENCES OF VIOLENCE AND TRAUMA (R21) Prazo: 17 Novembro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1317 APPLICATION OF METABOLOMICS FOR TRANSLATION- EARLY CAREER AWARD IN CHEMISTRY OF DRUG ABUSE AL AND BIOLOGICAL RESEARCH (R01) AND ADDICTION (ECHEM) – NIDA (R03) Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1323 Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1312 102. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus FINANCIAMENTO APPLICATION OF METABOLOMICS FOR TRANSLATION- COLLABORATIONS WITH NATIONAL CENTERS FOR BIO- NIAAA CAREER TRANSITION AWARD (K22) AL AND BIOLOGICAL RESEARCH (R21) MEDICAL COMPUTING (R01) Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1324 Prazo: 18 Janeiro 2008 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1330 Prazo: 3 Janeiro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1335 DRUG ABUSE ASPECTS OF HIV/AIDS (R01) EXPLORATORY COLLABORATIONS WITH NATIONAL SEARCH (SBIR [R44]) COMPETING RENEWAL AWARDS Prazo: 3 Janeiro 2010 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1325 CENTERS FOR BIOMEDICAL COMPUTING (R21) Prazo: 2 Setembro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1336 NIDA PHASE II SMALL BUSINESS INNOVATION RE- Prazo: 18 Janeiro 2008 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1331 THE ROLE OF NUCLEAR RECEPTORS IN TISSUE AND TRANSLATIONAL RESEARCH IN MUSCULAR DYSTRO- ORGANISMAL AGING (R01) APPLICATIONS OF IMAGING AND SENSOR TECHNOLO- PHY (U01) Prazo: 2 Maio 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1326 GIES FOR CLINICAL AGING RESEARCH (SBIR [R43/R44]) Prazo: 2 Novembro 2008 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1337 Prazo: 2 Abril 2008 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1332 IMMUNOREGULATION OF GASTROINTESTINAL CARCI- SMALL GRANT PROGRAM FOR CONFERENCE SUPPORT NOGENESIS (R01) DIRECTED STEM CELL DIFFERENTIATION FOR CELL (R13) Prazo: 2 Maio 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1327 BASED THERAPIES FOR HEART, LUNG, BLOOD, AND Prazo: 21 Outubro 2008 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1338 AGING DISEASES (SBIR [R43/R44]) Prazo: 8 Abril 2008 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1333 ETIOLOGY, PREVENTION, AND TREATMENT OF HEPA- INTERDISCIPLINARY DEVELOPMENTAL SCIENCE CEN- TOCELLULAR CARCINOMA (R01) Prazo: 2 Setembro 2008 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1328 TERS FOR MENTAL HEALTH (IDSC): FORMATIVE CENAHRQ GRANTS FOR HEALTH SERVICES RESEARCH DIS- TERS (P20) SERTATION (R36) Prazo: 15 Março 2008 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1339 Prazo: 11 Abril 2008 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1334 UNDERSTANDING THE EFFECTS OF EMERGING CELLULAR, MOLECULAR, AND GENOMIC TECHNOLOGIES ON CENTERS FOR AGRICULTURAL DISEASE AND INJURY CANCER HEALTH CARE DELIVERY(R01) RESEARCH, EDUCATION, AND PREVENTION (U50) Prazo: 3 Janeiro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1329 Prazo: 21 Dezembro 2009 http://www.cienciapt.net/financiamentodesc. asp?ID=1340 www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 103. ENTREVISTA Diogo Barral Presidente da Portuguese American Postgraduate Society - PAPS A PAPS como interlocutor de experiências e conhecimentos A Portuguese American Post- relacionamento destes com as aos membros. A PAPS procura graduate Society (PAPS) é uma comunidades científica e empre- ser útil a todos os pós-gradu- organização criada em 1998 por sarial em Portugal e nos EUA. A ados que vêm para os EUA e um grupo de estudantes portu- Convenção de Natal que se reali- constituir uma rede que possa gueses de pós-graduação, e con- za em Portugal e o fórum anual servir os interesses do nosso ta actualmente com cerca de 400 da PAPS, que tem lugar nos EUA, país. Entre as nossas próximas membros activos. A PAPS am- são disso um exemplo. actividades, regularmente anun- biciona promover o intercâmbio Outras actividades da PAPS in- ciadas no site www.papsnet. de conhecimentos e experiên- cluem uma newsletter mensal, org, destacam-se o fórum que cias em diferentes áreas, como um grupo de discussão online e se realizará na Universidade de as ciências da vida, economia e actividades através das delega- Columbia, em Nova Iorque, nos gestão, entre outras. Para isso, ções regionais em Boston, Chi- dias 24 e 25 de Março de 2007 e procura integrar estudantes de cago, Los Angeles, Nova Iorque terá por tema “Um roteiro para pós-graduação e profissionais e S. Francisco, que proporcio- Portugal – Ciência, Tecnologia e portugueses nos EUA e facilita o nam uma ligação mais próxima Inovação”. Qual o papel da PAPS junto da comunidade científica portuguesa nos EUA? rentes áreas, como as ciências da vida, economia e gestão, entre outras. Para isso, procura integrar estudantes de pós-graduação e profissionais portugueses nos EUA e facilita o relacionamento destes com as comunida- des científica e empresarial portuguesas. É nosso objectivo criar uma rede que possa ser útil a quem vem estudar para os EUA e que, simultaneamente, possa servir os interesses do nosso país. A PAPS ambiciona promover o intercâmbio de conhecimentos e experiências em dife- 104. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus ENTREVISTA Com que frequência os investigadores portugueses recorrem à PAPS e com que finalidade? Temos no nosso website www.papsnet.org informações muito úteis a quem vem estudar para os EUA, além de termos uma rede com núcleos em Boston, Nova Iorque, São Francisco, Chicago e Los Angeles, através dos quais quem venha para os EUA poderá contactar com pessoas a viver nestes locais e que eventualmente tenham experiências e conselhos úteis. Actualmente qual o número de investigadores portugueses nos EUA? Não dispomos desta estatística, mas certamente andará pelas centenas. E a PAPS, quantos membros tem actualmente? A PAPS tem cerca de 400 membros activos, embora tenham já passado pela PAPS, desde a sua criação em 1998, outros tantos que www.cienciapt.net/mundus entretanto saíram dos EUA e foram para outros países. Qual a relação que existe entre a PAPS e as instituições de investigação portuguesas? Temos relações próximas com várias instituições de investigação portuguesas. No nosso Fórum anual contamos regularmente com responsáveis das mesmas e vários membros da PAPS passaram por essas instituições antes de virem para os EUA. Alguns membros alumni da PAPS estão também, presentemente, nas referidas instituições. tunidade de se conhecer. Nos mesmos núcleos também temos organizado jantares com destacados investigadores portugueses quando estes se encontram nos EUA. Realizamos ainda uma Convenção de Natal anual em que debatemos temas importantes como as “Parcerias entre Universidades Portuguesas e Americanas”, que foi o tema da última edição. Finalmente, a nossa grande actividade anual é um fórum nos EUA em que cerca de 100 participantes se reúnem durante um dia e meio e discutem temas relacionados com a Ciência, Tecnologia, Inovação, Empreendedorismo, etc. Este ano o nosso VIII Fórum terá lugar na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, nos dias 24 e 25 de Março e o tema será “Um roteiro para Portugal – Ciência, Tecnologia e Inovação”. Que actividades a PAPS realiza no sentido de promover e aproximar os investigadores portugueses nos EUA? Qual a área científica com maior número de investigadores nos EUA? Realizamos actividades de carácter social nos nossos diferentes núcleos, geralmente no início do ano lectivo, para aproximar os membros e para que estes tenham opor- Na PAPS, o maior número de membros pertence à área das ciências da vida. Seguemse as áreas de economia e gestão e engenharia. Fevereiro 2007 | Mundus 105. SABIA que... ... pode fazer chamadas pela Internet a um custo muito mais reduzido O uso da VoIP não é novo, havendo por estar mais acessível a médias utilizada. As suas vantagens ba- já grandes empresas a utilizar este e pequenas empresas, o uso da seiam-se na acentuada redução de serviço há anos, mas actualmente, tecnologia VoIP começa a ser mais custos nas chamadas telefónicas Actualmente, o aumento das operadoras telefónicas desencadeou uma baixa considerável nos preços das ligações de longa distância, e isso não acontece somente devido à concorrência estabelecida entre essas mesmas empresas, mas também pelo surgimento de alternativas de comunicações de baixo custo. Entretanto, uma mudança de paradigma começa a ocorrer. VoIP, ou Voice Over IP ou Voz Sobre IP é a tecnologia que torna possível estabelecer conversações telefónicas numa Rede IP (incluindo a Internet), tornando a transmissão de voz mais um dos serviços suportados pela rede de dados. Ou seja, o VoIP é a tecnologia que possibilita o uso de redes IPs como meio de transmissão de voz. Hoje o tráfego de dados começa a crescer mais que o telefónico e é cada vez maior o tráfego de voz pela rede de dados, alterando radicalmente o transporte de voz. 106. Fevereiro 2007 | Mundus O conceito é simples e consiste em converter os pacotes de voz analógicos em pacotes digitais e fazê-los navegar pela Internet. A voz sobre o protocolo Internet (Voice over In- ternet Protocol - VoIP) é uma tecnologia que permite estabelecer chamadas telefónicas através de uma rede de dados como a Internet, convertendo um sinal de voz analógico num conjunto de sinais digitais, sob a forma de pacotes com endereçamento IP, que podem ser enviados, designadamente, através de uma ligação à Internet (preferencialmente em banda larga). Para tal, é necessário um computador equipado com microfone e auscultadores, um telefone IP ou um telefone tradicional ligado a um adaptador IP (Analogue Telephone Adapter - ATA). www.cienciapt.net/mundus SABIA que... ximadamente 70 por cento com serviços telefónicos normais. Para se implantar uma solução VoIP numa empresa é necessário fazer um projecto para identificar qual a real necessidade da empresa, qual a solução utilizada, verificar se a empresa possui IP fixo’ ou IP dinâmico, qual o tamanho da banda ADSL, e o que navega pela rede de dados. Esta tecnologia é geralmente tratada em algumas ocasiões como sendo o mesmo que Telefonia IP embora sejam definições totalmente distintas. VoIP é a tecnologia ou técnica de se transformar a voz no modo convencional em pacotes IP para ser transmitida por uma rede de dados, enquanto a Telefonia IP, que utiliza VoIP, traz consigo um conceito de serviços agregados muito mais amplo, já que carrega outras aplicações que não somente VoIP. O Internet Protocol – IP é um protocolo que permite o envio da informação, sob a forma de pacotes, de um PC para outro, através da Internet. De uma maneira geral, quando um utilizador estabelece uma ligação à Internet, o prestador do serviço (Internet Service Provider - ISP) atribui um endereço IP público ao computador, que o identifica de uma forma única em toda a rede da Internet. Assim, quando o utilizador envia uma mensagem de correio electrónico ou um ficheiro, a informação é dividida em pequenos pacotes (pacotes IP) que contêm o endereço do destinatário e o seu. Os pacotes IP têm um percurso mais ou menos complexo até chegarem ao seu destino, porque o endereço do destinatário vai sendo analisado por várias máquinas intermédias até chegar ao computador para o qual se pretende enviar a mensagem de correio electrónico ou o ficheiro. www.cienciapt.net/mundus Os vários pacotes IP que contêm a informação podem seguir por diferentes caminhos na Internet e, em função do tempo que levaram a percorrê-lo, acabam por chegar ao seu destino por uma ordem diferente da que inicialmente foram enviados. Deste modo, o protocolo IP só entrega os pacotes, sendo, assim, necessário a ajuda de um outro protocolo (de nível superior) – o Transmission Control Protocol – TCP – para os reordenar. TIPOS DE LIGAÇÃO VOIP O procedimento, que promete inovar na área das telecomunicações, com o tráfego de voz via rede IP, consiste em digitalizar a voz em pacotes de dados para que navegue pela rede e convertê-los em voz novamente em seu destino. A sua maior vantagem está na relação custo/ benefício, ou seja, uma vez implantado ste sistema, constata-se de imediato uma redução de apro- Permite a redução dos custos de telefonia das empresas, pois convergem serviços de dados, voz, fax e vídeo, e também constrói novas infra-estruturas para aplicações avançadas de ecommerce (ex., Call center Web). Os programas mais utilizados no Brasil são o MSN, ZipVox, o Skype, o ATIvoip, o VoxFone, o TelefoneBarato, o V-Phone, o Teleminas, o Google Talk e o Voipwebfone. Em Portugal utilizam-se, além do Skype,a Voipglobe, o Teleminas, o IOL Talki, o GVSC phone, o Netcall, o NetAppel, o Telefonerato, o VoipCheap, o VoipBuster e o TelExtreme, sendo esta última a maior operadora VoIP do mundo. Outra forma de utilização da telefonia VoIP é via ATAs (Analog Terminal Adapters) ou Gateways VoIP (geralmente com mais recursos que um ATA). Os ATAs e GWs são aparelhos que podem ser conectados directamente a um acesso banda larga (ADSL, Cabo, etc.) e a um aparelho telefónico comum ou a um PABX em posições de troncos(FXS) ou ramais(FXO). Com o serviço habilitado, é possível ter um telefone em qualquer lugar do mundo funcionando 24 horas por dia, sem necessidade de computador e auscultadores de ouvido. Esta solução traz geralmente reduções nas tarifas de longa-distância e no caso corporativo a interconexão de filiais com menor custo. Fevereiro 2007 | Mundus 107. SABIA que... Em função do equipamento disponível, podem ser estabelecidos vários tipos de chamadas telefónicas, tais como: PC-a-PC – em que o computador pessoal (PC) necessita de ter instalado um programa de um prestador VoIP e o originador da chamada deve saber qual é o endereço IP do seu correspondente para o estabelecimento da ligação; PC-a-telefone – tal como no caso anterior, o PC deve ter instalado um programa através do qual seja possível marcar o número do telefone do seu correspondente, ou utilizar um telefone IP ou um telefone tradicional (rede pública de serviço telefónico/public service telephony network - PSTN) com adaptador ATA (Analogue Telephone Adapter); Telefone-a-telefone – neste tipo de chamada há a vantagem de não ser necessário ligar o computador, porque o estabelecimento da chamada com o telefone realiza-se do modo habitual. Seja como for, para qualquer tipo de chamada, o utilizador necessita de um contrato com um prestador de serviço ISP (Internet Service Provider) que, preferencialmente, disponibilize acessos à Internet em banda larga através de um modem ADSL ou de cabo. No caso das chamadas PC-a-PC (entre computadores pessoais) e PC-a-telefone (entre um computador pessoal e um telefone analógico), o utilizador precisa de um computador pessoal com a configuração mínima recomendada e de um microfone, sendo igualmente aconselháveis auriculares para evitar o feedback que ocorre quando se utiliza o microfone e os altifalantes. Para as chamadas telefone-a-telefone, o utilizador necessita de um router/switch onde liga o modem e o telefone IP. Se tiver apenas um telefone analógico, precisa de um adaptador para o ligar ao router/ switch. despesas que proporciona, visto que a rede de dados (e consequentemente a VoIP) não está sujeita à mesma tarifação das ligações telefónicas convencionais, que é calculada em função de distâncias geodésicas e horários de utilização estabelecidos pelas Operadoras de Telefonia. VANTAGENS A comunicação telefónica via VoIP apresenta grandes vantagens sobre a telefonia convencional, sendo o principal benefício a redução de Outra grande vantagem da VoIP em relação à telefonia convencional é que esta última está baseada em comutação de circuitos, que podem ou não ser utilizados, enquanto a VoIP 108. Fevereiro 2007 | Mundus utiliza comutação por pacotes, o que a torna mais ‘inteligente’ no aproveitamento dos recursos existentes (circuitos físicos e largura de banda). Esta característica (comutação por pacotes) também traz outra vantagem à VoIP, que é a capacidade dos pacotes de voz ‘buscarem’ o melhor caminho entre dois pontos, tendo sempre mais de um caminho, ou rota, disponível e, portanto, com maiores opções de contingência (característica intrínseca das redes IP). www.cienciapt.net/mundus www.cienciapt.net/mundus Fevereiro 2007 | Mundus 109. Ciência no ENSINO SUPERIOR Mundo EM REDE UMINHO ROBOPARTY NA UNIVERSIDADE DO MINHO A Universidade do Minho e a SAR-Soluções de Automação e Robótica organizam a primeira RoboParty em Portugal. Trata-se de um evento de três dias, de 23 a 25 de Março onde os jovens podem aprender a construir o seu próprio robô. O Grupo de Robótica do Departamento de Electrónica Industrial da Universidade do Minho têm desenvolvido esforços junto das escolas Básicas, Secundárias e Profissionais, para fomentar o gosto dos jovens pela Robótica. Têm sido várias as palestras, as demonstrações de robôs móveis e as organizações de eventos pedagógicos. O próximo evento é o RoboParty. Esta iniciativa consiste num evento pedagógico que vai reunir cerca de 100 equipas de quatro pessoas cada, durante três dias e duas noites (trás o teu saco cama), para ensinar a construir pequenos robôs, de uma forma simples e divertida. Há uma pequena formação inicial (vais aprender a dar os primeiros passos em Electrónica, em programação de robôs, em construção mecânica), depois é oferecido um KIT robótico desenvolvido pela Universidade do Minho e pela SAR, para ser montado (mecânica, electrónica, e programação) e que no final do evento pertence à equipa. Decorrem ainda outras actividades lúdicas como desporto, música, Internet, jogos, festas, etc. Cada participante traz o seu saco cama e permanece lá durante todo o evento. A RoboParty é idêntica a uma LANParty e também vai funcionar 24h/24h mas tem um objectivo mais pedagógico. AAL ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE LISBOA LANÇA SEMANÁRIO UNIVERSITÁRIO MoovingBrands, empresa que vai explorar a publicidade do título. Foi lançada este mês de Fevereiro uma publicação gratuita destinada aos estudantes do ensino superior de Lisboa. O Semanário Académico de Lisboa (SAL), com distribuição às terças-feiras, vai contar com uma tiragem de 80 mil exemplares e estará presente em mais de cem pontos distintos. Da responsabilidade da Associação Académica de Lisboa (AAL), o SAL terá uma equipa de 20 estudantes universitários, sendo a responsabilidade editorial de Ricardo Florêncio, membro da direcção da AAL. De acordo com a ‘Meios & Publicidade’, a publicação, que deve iniciar a sua distribuição na primeira quinzena do mês, tem por objectivo chegar a todos os estudantes, por isso será distribuída “em universidades, bibliotecas, residências universitárias 110. Fevereiro 2007 | Mundus e centros comerciais”, revela à ‘Meios & Publicidade’ Paulo Lopes, responsável da A nova publicação pretende “ser um jornal de referência”, no que diz respeito aos “temas ligados ao ensino superior”. Com um total de 24 páginas, a publicação estará dividida em cinco secções (Nacional; Internacional; Economia; Cultura e Desporto), sendo que em todas elas será dado “um grande enfoque aos temas universitários”. www.cienciapt.net/mundus Universidades ENSINO SUPERIOR EM REDE UAVEIRO neiro de 2008, mais uma edição do curso de “Técnico Superior de Segurança e Higiene do Trabalho”, homologado pelo ISHST. A frequência da acção confere direito ao Certificado de Aptidão Profissional, CAP, para o exercício das funções de Técnico Superior de SHT. Pretende-se que no final do curso de formação, os formandos tenham adquirido as competências necessárias ao exercício da profissão de Técnico Superior de Segurança e Higiene do Trabalho. CURSO “TÉCNICO SUPERIOR DE SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO” A UNAVE e o Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro (UA) vão promover a partir de 5 de Março e até 30 de Ja- A acção, com realização prevista para Segundas, Quartas e Sextas-feiras, das 18h30 às 22h30, é dirigida a licenciados ou bacharéis, preferencialmente nas áreas das Engenharias. Terá uma duração total de 548 horas, 428 de formação em sala e 120 de componente prática em contexto real de trabalho, e terá lugar nas instalações da UNAVE. A coordenação científica e pedagógica está a cargo do Prof. José Claudino Cardos, Professor Associado e Presidente do Conselho Directivo da Secção Autónoma de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, Maria Fernanda Rodrigues, Assistente da Secção Autónoma de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro e Maria do Rosário Pires, Directora de Formação da UNAVE/ Universidade de Aveiro. Para mais informações contactar a UNAVE – Edifício 1, Campus Universitário de Santiago, 3810 – 193 Aveiro, Tel: 234 370 833, Fax: 234 370 835, e-mail: [email protected] ou consultar a página Internet http://www. unave.ua.pt. UAÇORES UNIVERSIDADE DOS AÇORES ORGANIZA O I ENCONTRO DE BIOMEDICINA A Universidade dos Açores apresentou este mês, no dia 8 de Fevereiro, no Anfiteatro C da Universidade, o I Encontro de Biomedicina. Subordinado ao tema “Genética das Doenças Complexas”, a reunião conta com a participação de especialistas nacionais e internacionais de renome que, ao longo dia, abordarão esta temática. As doenças complexas definem-se como condições decorrentes da interacção de múltiplos genes, e destes com o ambiente. Exemplos bem conhecidos incluem o cancro, a diabetes e a aterosclerose. Se bem que responsáveis pela maioria da morbilidade e mortalidade, a nível mundial, este grupo de patologias permanece mal conhecido, fazendo com que a investigação nesta área seja uma prioridade clara. www.cienciapt.net/mundus De entre os cerca de 150 participantes inscritos, contam-se alunos das Licenciaturas na área da Saúde da Universidade dos Açores (Ciclo Básico de Medicina, Enfermagem e Ciências Biológicas e da Saúde), Profissionais de Saúde e Biólogos. O Encontro, organizado pelo Centro de Biomedicina do Departamento de Biologia e pelo Centro de Investigação de Recursos Naturais (CIRN) da Universidade dos Açores tem o patrocínio científico da Ordem dos Biólogos e o apoio financeiro do projecto BIOPÓLIS (InterregIIIB) e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Fevereiro 2007 | Mundus 111. Ciência no ENSINO SUPERIOR Mundo EM REDE FEUP FEUP VENCE CONCURSO DE PESQUISA EM E-BOOKS A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) acolheu, no passado dia 8 de Fevereiro, a Cerimónia de Entrega do Prémio Mundial de Pesquisa em e-Books. Rui Pedro Amor, aluno do 4.o ano de Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação (MIEIC) da FEUP, receberá o prémio principal do concurso – um cheque no valor de 500 dólares. O concurso internacional de pesquisa, intitulado “University Challenge”, foi lançado pela Knovel, uma plataforma de livros electrónicos, tendo terminado no passado dia 13 de Novembro. O concurso consistia na resposta a um questionário de carácter técnico, para o qual seria necessário fazer pesquisa de informação científico-técnica no editor Knovel, disponibilizado pela Biblioteca da FEUP, em http://biblioteca. fe.up.pt, desde 2004. Neste concurso participaram cerca de 1700 alunos de instituições de ensino superior provenientes de 46 países de todo o mundo. A Faculdade de Engenharia foi uma das instituições concorrentes, tendo conseguido uma participação considerada “excelente” pela própria Knovel. A iniciativa decorre na Zona de Exposições do piso zero da Biblioteca da Faculdade. O galardão será entregue pelo professor José Silva Matos, presidente do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores (DEEC). FEP FEP CELEBRA PROTOCOLO COM MEIO EMPRESARIAL A Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) celebrou, no passado dia 8 de Fevereiro, um protocolo de colaboração com o meio empresarial. A parceria envolve o Instituto de Investigação e Serviços da Faculdade de Economia do Porto (ISFEP) e a Associação dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) e fomentará o desenvolvimento de programas de educação contínua com vista à melhoria dos recursos humanos do sector da construção. A sessão decorreu na Sede da AICCOPN 112. Fevereiro 2007 | Mundus e contou com a presença do Director da FEP, José da Silva Costa, do Presidente da Direcção do ISFEP, Mário Rui Silva, e do Presidente da Direcção da AICCOPN, Manuel Joaquim Reis Campos. A Indústria da Construção é um sector de actividade maioritariamente constituído por micro, pequenas e médias empresas que regista actualmente uma forte expansão do capital humano e um progresso tecnológico elevado. A FEP, em cooperação com a AICCOPN, pretende dar um contributo significativo no desenvolvimento dos recursos huma- nos deste importante sector económico, criando para o efeito um programa de acções de educação contínua e de formação pós-graduada para executivos. O primeiro curso a ser lançado no âmbito deste protocolo é uma Pós-Graduação em Direcção de Empresas que tem como principal objectivo dotar os participantes das competências indispensáveis ao exercício de funções de relevo na área da Gestão em empresas industriais. A oportunidade desta Pós-Graduação baseia-se nas necessidades apresentadas por muitos engenheiros civis, gestores e economistas que dirigem empresas na área da construção civil e obras públicas. www.cienciapt.net/mundus Universidades ENSINO SUPERIOR EM REDE UMINHO UMINHO E FUNDAÇÃO VODAFONE ASSINAM PROTOCOLO DE COOPERAÇÃO A Universidade do Minho e a Fundação Vodafone Portugal celebraram este mês um protocolo de cooperação, com o objectivo de desenvolver a utilização das novas tecnologias de comunicação, designadamente as tecnologias móveis integradas com sistemas de informação. No âmbito do protocolo, foi igualmente assinado um acordo, pioneiro em Portugal, com vista à implementação de um sistema de envio de SMS (mensagens escritas) destinado a criar um mais rápido e estreito relacionamento entre a Universidade e os seus alunos, professores e demais colaboradores. Para efectivar esta primeira aplicação prática do protocolo, além da disponibilização das suas competências específicas nesta área, a Fundação Vodafone Portugal doou um milhão de SMS à Universidade do Minho. Assinado em Braga pelo Reitor da Universidade do Minho, António José Marques Guimarães Rodrigues, e pelo presidente da Fundação Vodafone Portugal, António de Lacerda Carrapatoso, este protocolo visa também a colaboração e troca de informações relativas a investigações sobre inovação na área das novas tecnologias da informação. USC IPVC E USC PROMOVEM OITO CURSOS NA ÁREA DA INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA A Universidade de Santiago de Compostela (USC) e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) no âmbito da parceria e acções do projecto SIGN II (Infra-estrutura de Dados Espaciais para o território rural da Galiza Norte de Portugal) realizam, durante o ano de 2007, diversas acções de formação, na área dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG). De acordo com o IPVC, este projecto assume que a formação de recursos humanos é um factor central no desenvolvimento de bases de dados espaciais e de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), como elemento capaz de potenciar, a nível regional, as oportunidades que resultam da actual evolução das tecnologias e ciências de informação geográfica. Na realidade os diversos actores presentes no território apresentam diferentes níveis de conhecimento, de adopção e de utilização dos SIG. Apesar do aumento significativo nestes últimos anos do uso de informação geográfica, continuam a verificar-se importantes estrangulamentos nomeadamente ao nível da capacitação dos recursos humanos; da coordenação de acções e entidades; da insuficiência e das limitações de acesso aos dados; da forte dispersão das www.cienciapt.net/mundus fontes, dos formatos e da resolução, com consequentes dificuldades na integração da informação. A parceria do projecto SIGNII engloba além daquelas duas instituições de ensino, a Sociedade para o Desenvolvemento Comarcal de Galicia (SDC), o Instituto para o Desenvolvimento Agrário da Região Norte (IDARN), FORESTIS (Associação Florestal de Portugal), DRAEDM (Direcção Regional Agricultura de Entre Douro e Minho), e Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV). O projecto no seu todo e estas acções de formação, em particular, pretendem vulgarizar, melhorar o desempenho e o número de apli- cações dos Sistemas de Informação Geográfica. São oito os cursos presenciais inseridos neste projecto: Concepção e Gestão de Projectos de Informação Geográfica; Introdução aos SIG; Cartografia Digital; Análise Espacial ARCGIS; Análise Espacial GEOMEDIA; Introdução aos SIG com SOFTWARE LIVRE (GRASS); Aplicações dos SIG:Workshop “Políticas e Dinâmicas de Gestão de Informação Geográfica na Galiza-Norte de Portugal”. Toda a informação sobre os cursos, bem como as pré-inscrições online, encontrase disponível no site do projecto, em http:// www.projectosign.org/. Fevereiro 2007 | Mundus 113. Ciência no ENSINO SUPERIOR Mundo EM REDE ISEP ISEP ACOLHE JORNADAS SOBRE CLASSIFICAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS Decorreram este mês no ISEP as XIV Jornadas Anuais da Associação de Classificação e Análise de Dados – CLAD, sobre a importância da estatística e a análise de dados. As jornadas foram promovidas pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) e decorrem no Auditório E deste Instituto. Na sessão de abertura, Cristina Matos, Presidente do Conselho Científico do ISEP, reiterou a importância desta área que se deve continuar a investir. “As XIV Jornadas são as primeiras de muitas outras que irão surgir e o ISEP acolhe com entusiasmo este tipo de iniciativas” salientou a Presidente. As jornadas caracterizam-se por um crescimento na quantidade e especialmente na qualidade e diversidade de propostas apresentadas e demonstram a importância da análise de dados como uma ferramenta transversal que está presente nas mais diversas áreas. Pedro Coelho, representante da JOCLAD afirmou que “esta iniciativa é uma ponte de ligação entre académicos e profissionais, investigadores e o meio empresarial, associando a teoria e a prática, como ligação entre a investigação e as suas aplicações”. O programa inclui sessões plenárias com a presença de conferencistas convidados, assim como sessões de apresentação de Comunicações Livres seleccionadas. O encontro pretende, por via da estatística e análise de dados, estimular e divulgar a produção científica promovam um enriquecimento mútuo entre investigadores e utilizadores, incentivando a troca de ideias e a exploração de interesses comuns. Entre os convidados destacam-se o Prof. André Hardy, Facultes Universitaires Notre-Dame de la Paix, Namur, Belgium (“Cluster Analysis and Validation based on Point Processes”), Carlos Ferreira, Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial, Universidade Aveiro, Portugal, (“Análise Quantitativa de Dados em Trabalhos Académicos: alguns casos”), Joaquim Marques de Sá, Faculdade de Engenharia do Porto, Portugal, (“Redes Neuronais com Funções de Custo Entrópicas na Classificação de Dados), Michael Greenacre, Universitat Pompeu Fabra, Barcelona, Spain, (“Correspondence Analysis versus Spectral Mapping/ Weighted Log-ratio Analysis”). Para mais informações sobre a iniciativa consultar a página http://www.joclad2007.isep.ipp.pt. ESEIPVC IPVC PROMOVE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENFERMAGEM ONCOLÓGICA A Escola Superior de Enfermagem do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESEnfIPVC) vai promover uma Pós-Graduação de Enfermagem Oncológica, que terá como objectivos gerais “desenvolver competências para cuidar da pessoa com cancro e a sua família nos diversos contextos da prática de cuidados, bem como desenvolver competências que permitam ao enfermeiro assumir um papel activo na equipa multidisciplinar tendo em vista a maximização da qualidade dos cuidados à pessoa com cancro e sua família”. De acordo com a Escola, os destinatários desta Pós-Graduação, que decorrerá de Março de 2007 a Fevereiro de 2008, são todos os profissionais detentores de uma Licenciatura 114. Fevereiro 2007 | Mundus em Enfermagem, sendo que o curso terá um máximo de 20 formandos. Segundo a Vice-Presidente da ESEnf-IPVC e coordenadora do curso, Aurora Pereira, “a complexidade e a natureza da doença oncológica, a dor oncológica e outros sintomas, o processo de luto, o acompanhamento espiritual e religioso bem como a abordagem da problemática do sofrimento, são algumas das matérias a abordar nesta Pós-Graduação”. A doença oncológica é a segunda causa de morte a nível Nacional e do Distrito, sendo que a sua incidência e prevalência tem sofrido um aumento constante e considerável, pelo que constitui um grave problema de Saúde, não só pelas taxa de mortalidade, mas também pelos elevados índices de morbilidade. Estes aspectos associados aos avanços constantes ao nível da prevenção, diag- nóstico, tratamento, reabilitação e cuidados de suporte, geram uma necessidade crescente de profissionais de saúde especializados nesta área. “A Escola Superior de Enfermagem do IPVC atenta a esta realidade e à escassa existência de enfermeiros com formação específica em oncologia, decidiu criar uma pós-graduação nesta área, proporcionando deste modo, actualização e aprofundamento de conhecimentos para um desempenho profissional competente que assegure respostas adequadas à prevenção, diagnóstico precoce e gestão da doença oncológica junto do doente, família e comunidade”, salientou Aurora Pereira. “Para a consecução destes objectivos contámos com um corpo docente com desenvolvimento científico e experiencial nesta área”, referiu ainda a coordenadora de curso. www.cienciapt.net/mundus Universidades ENSINO SUPERIOR EM REDE UCOIMBRA INVESTIGADOR DA UC PREMIADO PELA ORDEM DOS ENGENHEIROS Ricardo Joel Teixeira Costa, investigador e professor assistente do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra (FCTUC), foi distinguido com o “Prémio Melhor Estágio 2006” pelo Colégio de Engenharia Civil da Ordem dos Engenheiros, que considerou o seu trabalho como o melhor estágio, a nível nacional, de admissão à Ordem. De acordo com a Universidade de Coimbra, Uma parte importante do estágio, realizado no Departamento de Engenharia Civil da FCTUC, consistiu num programa de investigação, com uma importante componente experimental, sobre placas de betão armado. Um dos resultados práticos para a comunidade técnica foi a obtenção de um procedimento de ensaio muito menos dispendioso do que o existente em universidades americanas e canadianas. O conjunto de ensaios efectuados na Universidade de Coimbra permitiu ainda efectuar uma análise crítica das regras técnicas que constam da normalização europeia para dimensionamento de estruturas de betão. O tema é especialmente importante em estru- turas com esforços de torção importantes, como é o caso de pontes curvas. Na Universidade de Coimbra, o trabalho inseriu-se num projecto de investigação mais alargado sobre Torção em Vigas Caixão de Betão Armado. Por outro lado, o trabalho de investigação conduziu também à elaboração de uma tese de mestrado, orientada por Sérgio Lopes, docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e Luís Bernardo, docente da Faculdade de Ciências da Engenharia da Universidade da Beira Interior. ICBAS PORTO ACOLHE SIMPÓSIO “EXPLORING BIOMEDICINE” O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS) está a organizar em colaboração com o Hospital Geral de Santo António (HGSA), o Centro de www.cienciapt.net/mundus Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e o Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto, um Simpósio denominado “Exploring Biomedicine”, hoje, dia 23 de Fevereiro. Este evento, que decorrerá no Auditório Dr. Alexandre Moreira, no Hospital Geral de Santo António (Porto)/ ICBAS, irá reunir historiadores, filósofos e sociólogos da ciência e da biomedicina, bem como investigadores da área biomédica, com a finalidade de conjuntamente analisar e discutir este domínio do conhecimento. Fevereiro 2007 | Mundus 115. Ciência no ENSINO SUPERIOR Mundo EM REDE IST IST ADERE A PLATAFORMA MUNDIAL DE INVESTIGAÇÃO EM REDES O Instituto Superior Técnico (IST) acaba de aderir ao PlanetLab, laboratório mundial de investigação em redes para o estudo e desenvolvimento de novos protocolos e aplicações sobre a Internet. Trata-se de um consórcio internacional, com mais de 350 membros, entre os quais universidades, institutos de investigação e empresas das tecnologias de informação. Gerida por três universidades norteamericanas: Princeton University, University of California at Berkeley e University of Washington, e com a participação de importantes empresas, como a Intel, 116. Fevereiro 2007 | Mundus Hewlett Packard, Google, AT&T e France Telecom, esta plataforma ainda inclui as mais conceituadas universidades das áreas de ciência e tecnologia a nível internacional. A adesão do IST a este laboratório implica, paralelamente a um esforço financeiro, o estabelecimento da ligação de dois computadores à Internet nas instalações de cada participante e em troca é-lhe permitido o acesso aos computadores de outros parceiros, o que possibilita a realização de experiências internáuticas. A maior utilidade do PlanetLab para o público em geral reside nos actuais serviços avançados, como é exemplo o serviço de distribuição de conteúdos que possibilita o alojamento de sites detentores de um grande número de visitas em servidores com ligações lentas à Internet. O campus do IST no Taguspark vai usufruir do PlanetLab para a execução de projectos relevantes, concretamente o estudo de novos protocolos peer-to-peer de troca de ficheiros mais eficientes e de menor custo para os operadores de telecomunicações, além de técnicas de distribuição de vídeo em tempo real. A aquisição e ligação à Internet de dois servidores, com recurso a fundos próprios, possibilitaram a entrada do IST neste mundo internáutico. www.cienciapt.net/mundus Universidades ENSINO SUPERIOR EM REDE FDUCL FACULDADE DE DIREITO DA CATÓLICA APROXIMA OS ALUNOS À VIDA PROFISSIONAL versidade Católica já que, segundo ele, “... um dos maiores problemas que os jovens licenciados hoje sentem é, precisamente, a falta de experiência e de contacto com o mercado de trabalho (...) nada melhor, por- A Faculdade de Direito da Universidade Católica (FD Católica), Escola de Lisboa, iniciou no passado dia 12 a quarta edição do Jobshop, uma iniciativa que visa reforçar a sua aposta na aproximação dos alunos à vida prática, fazendo justiça ao prestígio acumulado ao longo de mais de 30 anos, e apresentar os novos programas de mestrado e protocolos com universidades estrangeiras. O evento desenrolou-se pelos dias 13, 14, 15, abrangendo ainda os dias 26 e 27 de Fevereiro. Através do Jobshop, e à semelhança de anos anteriores, a FD trará ao campus universitário os melhores escritórios de advocacia do país e outras entidades profissionais ligadas à prática do Direito, que assim poderão apresentar os seus projectos e aprofundar contactos com os estudantes finalistas. Por seu lado, os alunos terão oportunidade de contactar com potenciais empregadores e conhecer a realidade profissional. A sessão de abertura do JobShop, dedicada ao tema “O Processo de Bolonha e o Acesso às Profissões Jurídicas”, contou com a participação do Secretário de Estado Adjunto, José Conde Rodrigues, e do Bastonário da Ordem dos Advogados, Rogério Alves, presença frequente nas iniciativas organizadas pela FD Católica. Durante os dias do evento serão feitas diversas apresentações de empregadores e abordando diversos temas como “Os novos mestrados da UCP e o Mercado de Trabalho” e “Frequência de um Semestre em Universidades Americanas”, com a presença de alunos que passaram pela experiência”. Raymond Nimmer, director da University of www.cienciapt.net/mundus tanto, do que trazer o mundo profissional e empresarial às faculdades.” Relativamente às consequências que o Processo de Bolonha poderá vir a ter em Portugal no acesso às profissões forenses, o Secretário de Estado Adjunto e da Justiça sublinhou que “... esta matéria está ainda a ser alvo de estudo e análise no âmbito do ministério da Justiça, pelo que não é possível delinear um quadro preciso de todas as consequências previsíveis”. Houston Law Center, marcará presença no penúltimo dia do JobShop para a apresentação do LL.M. (Master of Law) da Católica que proporciona uma formação aprofundada de elevado nível em determinada área de especialização, possibilitando aos alunos não apenas background internacional, mas também perspectivas profissionais. Sessão de abertura do JobShop “O Processo de Bolonha e o Acesso às Profissões Jurídicas” foi o tema da sessão de abertura do JobShop Católica 2007, uma iniciativa da Faculdade de Direito da Católica que teve lugar dia 12. Para o Bastonário “... a redução de cinco para quatro anos não é aceitável, numa altura em que se aposta na qualidade e na credibilização do sistema judicial português”. Por isso, “a Ordem dos Advogados vai pedir à Assembleia da República a alteração do estatuto da Ordem no sentido em que a licenciatura deixe de ser apenas a regra para ingresso na Ordem. É necessário o grau de Mestre...” Conde Rodrigues, louvou a iniciativa promovida pela Faculdade de Direito da Uni- Adiantou, no entanto, que “... o ministério irá proceder a uma reforma profunda no que respeita ao acesso à magistratura, estando neste momento a ser preparada uma proposta de Lei de alteração à Lei Orgânica do Centro de Estudos Jurídicos, a qual irá já reflectir a nova filosofia inerente ao programa de Bolonha...”. “O processo de Bolonha surge como um excelente pretexto para repensar a forma como o ensino universitário e pós-universitário estão estruturados; queremos que esta reforma permita que o acesso à magistratura se faça em novos moldes, mais adaptados às recentes realidades jurídicas e sociais, para que os novos juízes estejam melhor preparados para lidar com os casos difíceis com que se deparam, todos os dias, nos tribunais, realçou o Secretário de Estado. Conde Rodrigues sublinhou ainda que “... não partimos do pressuposto que novos licenciados saberão menos do que aqueles que se licenciaram e irão ainda licenciar-se ao abrigo do sistema anterior. No entanto, para o acesso à Magistratura, passará a ser exigido o Mestrado, como requisito de entrada...”. Fevereiro 2007 | Mundus 117. Internacional em Revista GINECOMASTIA PRÉ-PÚBERE PROVOCADA POR PRODUTOS COM LAVANDA Investigadores do National Institute of Environmental Health Sciences (NIEHS) e pediatras da University of Colorado School of Medicine, EUA o Ginecomastia pré-púbere realizaram um estudo que levou à descoberta da ligação entre produtos que possuem a essência de lavanda e óleo de melaleuca (Melaleuca alternifolia) com o desenvolvimento da mama em rapazes, um distúrbio hormonal conhecido como Ginecomastia pré-púbere. Publicado na revista científica “New En- gland Journal of Medicine”, o trabalho teve como base a análise de três casos clínicos, o que levou os cientistas a alertar para o facto de serem precisos estudos de maior escala. O resultado da investigação aplicase apenas a rapazes pré-púberes, que desenvolveram Ginecomastia depois do uso regular de produtos que continham esses óleos. O estudo incidiu sobre três crianças com 4, 7 e 10 anos e nos três casos, a ginecomastia desapareceu depois da suspensão do uso destes produtos. Depois destas duas constatações, a equipa médica desenvolveu um estudo laboratorial usando células humanas. Neste estudo, as culturas celulares foram incubadas com lavanda e óleo de melaleuca tendo-se verificado um aumento na produção de estrogénico e antiandrogénicos. Para já, não se sabe se os óleos podem ter efeitos semelhantes no sistema endócrino de raparigas ou em adultos. Derek Hanley, líder da investigação, disse não haver provas de que os óleos alterem o sistema endócrino dos rapazes a longo prazo. In New England Journal of Medicine FÁRMACO CONTRA IMPOTÊNCIA TAMBÉM PODE PREVENIR AVC Investigadores do Instituto Espanhol de Neurobiologia Ramón e Cajal, liderados por Alfredo Martínez comprovaram a eficácia de um fármaco usado contra a impotência no tratamento de danos provocados por AVC e que é uma das principais causas de morte nos países desenvolvidos. De acordo com o estudo, publicado pela revista International Journal of Molecular Medicine, este fármaco é rico em óxido nítrico e trata-se de um fármaco vasodilatador comum no tratamento contra a Impotência, mas pode também ser utilizado para tratar outras Doenças Cardiovasculares, tal como os investigadores comprovaram através de experiências em ratinhos. O estudo demonstrou a capacidade do óxido nítrico no tratamento de Doenças Isquémicas cerebrais. O AVC consiste na oclusão de um vaso sanguíneo, que interrompe o fluxo sanguíneo a uma região específica do cérebro, ficando esta privada de oxigénio e nutrientes. Se a irrigação sanguínea não é restabelecida 118. Fevereiro 2007 | Mundus imediatamente, a zona afectada sofre de morte celular e, dependendo da área implicada, provoca perdas das funções coordenadas por essa área do cérebro. Por isso, é fundamental tratar os pacientes o mais rapidamente possível, dado ser impossível regenerar o tecido morto. Os cientistas espanhóis provaram neste estudo que o óxido nítrico pode ser útil para o tratamento da Isquemia Cerebral, além de complementar os actuais tratamentos, que se baseiam em fármacos anticoagulantes. A equipa de Alfredo Martínez usou Imagens de Ressonâncias Magnéticas para estudar a extensão do edema citotóxico, que produz a falta de oxigénio no cérebro. Num modelo experimental, o óxido nítrico foi capaz de reduzir os efeitos fisiológicos e bioquímicos induzidos pela Isquemia Cerebral. In Journal of Molecular Medicine www.cienciapt.net/mundus Internacional em Revista ALIMENTOS RICOS EM MELATONINA RETARDAM EFEITOS DO ENVELHECIMENTO Uma equipa de investigadores espanhóis liderada por Darío Acuña Castroviejo, director da Rede Nacional de Investigação do Envelhecimento, da Universidade de Granada, concluiu que o consumo de melatonina, uma substância produzida no cérebro pela glândula pineal e presente em muitos alimentos retarda os efeitos do envelhecimento. As conclusões do estudo foram publicadas em várias revistas médicas internacionais, nomeadamente na Free Radical Research, Experimental Gerontology, Journal of Pineal Research e Frontiers in Bioscience. Os investigadores basearam-se na análise da função mitocondrial nos ratinhos e verificaram a sua capacidade mitocondrial para produzir ATP (adenosina trifosfato), uma molécula cuja função é armazenar a energia que cada célula necessita para realizar as suas funções. Depois de administrarem pequenas quantidades de melatonina nos ratinhos, os investigadores verificaram que a substância neutralizava o “stress oxidativo” e o processo inflamatório causado pelo envelhecimento retardava os seus efeitos, aumentando a longevidade. Os investigadores concluíram que, a administração continuada de melatonina em animais a partir do momento em que deixam de produzir essa substância (aos cinco me- ses nos ratinhos - equivalente a 30 anos nas pessoas) pode prevenir ou retardar doenças relacionadas com o envelhecimento, os radicais livres e os processos inflamatórios. Também conhecida como “a hormona do sono”, a melatonina regula os ciclos circadianos (dormir-acordar), sendo a sua produção estimulada pela escuridão e inibida pela luz. Esta substância existe em pequenas quantidades em frutos e vegetais como a cebola, a cereja e a banana, em cereais como o milho, a aveia e o arroz, em plantas aromáticas como a hortelã, a verbena, a salva e o tomilho, e no vinho tinto. In Free Radical Research, Experimental Gerontology, Journal of Pineal Research e Frontiers in Bioscience EXPOSIÇÃO AO FUMO DO TABACO NO TRABALHO DUPLICA RISCO DE CANCRO Investigadores norte-americanos concluíram, através de um estudo, que a exposição a elevados níveis de fumo de tabaco no local de trabalho pode duplicar o risco de desenvolver cancro do pulmão nos não-fumadores. Liderados pelo cientista Leslie Stayner, da Universidade de Ilinois, os investigadores combinaram resultados de 22 outros estudos sobre fumadores passivos conduzidos nos EUA, Japão, Canadá, Europa, Índia e China. Segundo disse Stayner “consideramos que este estudo representa a maior prova, até à data, que fumar nos locais de trabalho representa um elevado risco para a saúde dos trabalhadores, particularmente para os que trabalham em bares ou restaurantes, que são aéreas expostas a doses mais elevadas de fumo do tabaco”. www.cienciapt.net/mundus Ainda de acordo com o estudo, publicado no “American Journal of Public Health” a exposição ao longo de 30 anos a doses elevadas de fumo, em locais de trabalho, aumenta em cerca de 50 por cento o risco de desenvolver cancro do pulmão nos não-fumadores, enquanto que os expostos a qualquer nível de fumo registaram um aumento de 24 por cento. Leslie Stayner afirma que os resultados deste estudo vêm reforçar o esforço produzido por muitas comunidades nos EUA e por todo o mundo, em proibir ou limitar o consumo de tabaco nos locais de trabalho. In American Journal of Public Health Fevereiro 2007 | Mundus 119. Internacional em Revista anti-insónia que imita a acção da orexina em pacientes narcolépticos. A orexina é importante para manter o estado de vigília e é também uma molécula ausente no cérebro dos narcolépticos, por esta razão, os portadores desta doença não conseguem dormir e acordar em ciclos normais. Os investigadores testaram o medicamento em roedores e em cães, tendo ainda realizado testes clínicos em humanos para determinar a segurança e a eficácia do fármaco, afirma Roland Haelfi, relações públicas da Actelion. Actualmente, os cientistas estão a efectuar estudos para avaliar a dosagem ideal para o medicamento. TRATAMENTO PARA A INSÓNIA PODE ESTAR PARA BREVE Cientistas suíços que estudam a Narcolepsia, uma doença que provoca nas pessoas um adormecimento súbito, produziram um novo fármaco promissor que pode ajudar no tratamento da Insónia. ORGANISMO POSSUI MOLÉCULA QUE PODE PROTEGER DE HIV O organismo produz uma molécula que pode impedir a destruição das células do sistema imunitário quando este é “atacado” pelo vírus da Sida, sendo que este pode contribuir para a reconstituição das que foram destruídas pela infecção. Os investigadores do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID), autores de um estudo publicado nos Annals of the New York Academy of Sciences lembraram que o HIV ataca o sistema de defesa do organismo ao dis- 120. Fevereiro 2007 | Mundus No estudo, publicado na edição online da revista “Nature Medicine”, os cientistas relatam como conseguiram reverter o problema, ao bloquear a acção do neurotransmissor orexina no cérebro de animais e pessoas. A equipa liderada por François Jenck, do laboratório suíço Actelion, conseguiu produzir um fármaco De acordo com os investigadores, até final deste ano deve ser iniciado um ensaio clínico de fase 3 - uma avaliação mais pormenorizada da acção do fármaco -, que permitirá ao laboratório pedir licença para iniciar a comercialização. simular-se no interior das células imunitárias linfocita-T. O sangue dos doentes tratado com a molécula IL-7 mostrou uma redução de apoptose e uma diminuição dos marcadores moleculares da infecção, levando a um reforço do sistema imunitário. Os efeitos do IL-7 variaram em função do grau de avanço da infecção, mas os resultados indicam que a molécula pode ser utilizada como um anti-retroviral para reconstituir as células imunitárias danificadas pelo vírus da Sida, concluem os cientistas. De acordo com a investigação, durante a progressão da infecção, as células linfocita-T autodestroem-se, efectuando um suicídio celular (denominado de apoptose) que se propaga às células ainda não afectadas. Para impedir a autodestruição das células do sistema imunitário, os investigadores testaram o papel da proteína interleucina 7 (IL-7) em amostras sanguíneas de 24 pessoas infectadas com o HIV em diferentes fases. Este teste foi realizado com recurso a uma forte concentração de moléculas IL-7. In Nature Medicine In Annals of the New York Academy of Sciences www.cienciapt.net/mundus Internacional em Revista PESSOAS COM DISTÚRBIOS PSIQUIÁTRICOS CORREM MAIS RISCOS DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES Um estudo britânico afirma que as pessoas que sofrem de distúrbios psiquiátricos graves correm mais riscos de morrer de doenças cardiovasculares do que o resto da população. Ao contrário, os riscos de desenvolver um cancro não aumentam, segundo verificaram os autores do trabalho publicado na edição de Fevereiro dos Archives of General Psychiatry. A investigação realizada na Grã-Bretanha refere que os efeitos secundários dos antipsicóticos bem como do tabagismo, do modo de vida e da pobreza contribuem frequentemente para a deterioração da saúde deste grupo de pessoas. De acordo com o estudo, as pessoas que sofrem de Doenças Mentais graves, com idades entre os 18 e os 49 anos, têm 3,22 vezes mais riscos de morrer vítimas de uma doença cardíaca e 2,53 vezes mais riscos de morrer de AVC, do que as pessoas que não sofrem deste tipo de perturbações. No estudo participaram 46.136 pessoas que sofriam de diferentes perturbações psiquiátricas, nomeadamente esquizofrénicos e maníaco-depressivos, e 300.426 pessoas que não apresentavam qualquer tipo de problemas mentais. mortalidade devida a doenças cardíacas e aos sete tipos de cancro mais frequentes na Grã-Bretanha (cancro das vias respiratórias, da mama, da próstata, do estômago, do esófago, do pâncreas e colo-rectal). Os investigadores compararam as taxas de In Archives of General Psychiatry VITAMINA D REDUZ RISCOS DE DOIS TIPOS DE CANCRO tigação, liderada por investigadores do Moores Cancer Center da Universidade da Califórnia, San Diego (UCSD) Medical Centre, EUA, mostrou que indivíduos que apresentavam uma maior concentração de vitamina D no sangue (52 nanogramas por mililitro de sangue) correm menos riscos de desenvolver Cancro da Mama. sangue), acompanhado de 10 a 15 minutos de exposição solar diária”. Cancro da Mama e Cancro Colorrectal são duas patologias que a vitamina D pode ajudar a reduzir. Até 50 por cento reduz o risco de Cancro da Mama e mais de 66 por cento o de contrair Cancro Colorrectal, segundo concluem dois estudos publicados no “Journal of Steroid Biochemistry and Molecular Biology” e no “American Journal of Preventive Medicine”. Os investigadores acompanharam 1.750 pessoas com Cancro da Mama submetidas a doses diferentes da vitamina D. Esta inves- www.cienciapt.net/mundus Cedric Garland, um dos autores do estudo, afirma que “pode reduzir-se em 50 por cento o risco de Cancro da Mama através do consumo diário de duas mil unidades internacionais de vitamina D (ou seja uma concentração de 46 nanogramas por mililitros de Outra investigação, publicada pelo “American Journal of Preventive Medicine” revela os resultados de uma análise idêntica feita a 1.448 pessoas com o objectivo de medir os efeitos da vitamina D no risco de Cancro Colorrectal. Edward Gorham, um dos autores do estudo, afirma que “aumentando a dose de vitamina D absorvida diariamente de 13 para 34 nanogramas por mililitro, a incidência do Cancro Colorrectal seria reduzida a metade”. In American Journal of Preventive Medicine Fevereiro 2007 | Mundus 121. CURIOSIDADES 21 de Fevereiro de 1999 DIA INTERNACIONAL DA LÍNGUA MATERNA (UNESCO) Celebra-se a 21 de Fevereiro o Dia Interncional da Língua Materna. Proclamado pela Conferência Geral da UNESCO em Novembro de 1999, que mostra, assim, a sua forte dedicação e empenho na contribuição para preservação da herança linguística mundial contra as forças de globalização imposta que não respeitam os indivíduos, nem a suas línguas e culturas. O dia foi instituído pela UNESCO para dar visibilidade à diversidade linguística e cultural da humanidade e promover a sua salvaguarda, passou entre nós quase despercebido. “A Línguas Maternas são únicas porque marcam os seres humanos desde o seu nascimento, dando-lhes sobre o mundo um olhar singular que nunca se extingue, independentemente do número de línguas que se venha a adquirir posteriormente. Aprender línguas de outros é uma maneira de percepcionar o mundo de diferentes formas, fazer-lhe outras aproximações”, disse o Director Geral da Unesco, Koitiro MatÐra, que acrescentou, por ocasião das celebrações desta data, em 2004, que “somos um movimento pela defesa da diversidade linguística. Os esperantistas pretendem conservar todas as línguas maternas e propõem o uso do esperanto nas relações internacionais como uma forma de comunicar neutralmente sem a imposição da visão do mundo de outrem. Por isso o movimento esperantista festeja com a UNESCO o Dia Internacional da Língua Materna”. Estimam-se em quase seis mil as línguas faladas no mundo, mas cerca de metade está à beira da extinção. Neste contexto, a UNESCO propõe que a Internet contribua para a recuperação das línguas ameaçadas. desde a instalação dos primeiros aparelhos em Portugal em 1879 - à sigla “T.S.F.”, aportuguesando para “Telefonia Sem Fios”. Os técnicos ainda usaram durante algum tempo a palavra “radiotelefonia”. ro conflito mundial atrasou os trabalhos, que só foram retomados em 1922. Novas estações são acrescentadas às anteriores, de modo a incluir Angola e Moçambique, garantindo acordos especiais para alargar a rede a Macau, Índia e Timor. Assinale-se que o português não faz parte deste conjunto, dado que se crê ocupar a 6ª posição na lista dos idiomas mais falados no mundo. 22 de Fevereiro de 1912 A TELEGRAFIA SEM FIOS É INTRODUZIDA EM PORTUGAL O nome telegrafia sem fios deriva do inglês wireless telegraphy e era o nome dado para as comunicações por ondas electromagnéticas em código morse. Na América esta expressão foi usada até 1910, mas depois desta data a designação oficial passou a ser rádio. Em Portugal utilizou-se os termos Radiotelegrafia, Telegrafia Sem Fios e T.S.F., e quando a “fonia” (palavra ou música) substituiu a “grafia” (código Morse) os portugueses adaptaram a palavra “telephone” - já usada 122. Fevereiro 2007 | Mundus O primeiro contrato para a transmissão de mensagens em sistema TSF (telegrafia sem fios) seria firmado em 1912 entre o governo português e a empresa estrangeira, a Marconi’s Wireless Telegraph Company Limited. Este contrato preconizava o fornecimento de postos de TSF para Lisboa, Porto, Açores, Madeira e Cabo Verde. Mas, o advento do primei- Para além da TSF, à Marconi’s seria concedida autorização para operar em telefonia. Em 1925 processa-se a criação da Companhia Portuguesa Rádio Marconi, a partir da empresa anterior, introduzindo um novo sistema para as comunicações directas a longa distância, e no final do ano seguinte entram em actividade as primeiras estações. www.cienciapt.net/mundus CURIOSIDADES 23 de Fevereiro de 1889 ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS A escravatura existiu, em toda a parte do mundo, desde a pré-história. Portugal foi dos primeiros países europeus a abolir a escravatura, começando por publicar uma série de decretos restritivos a essa prática desde o século XV, e a partir do início do século XVII tomou a fundo o desejo de abolir tal tráfico. No dia 5 de Julho de 1856, aboliu a escravidão em zonas de Angola, Cabinda e Macau. A 18 de Julho do mesmo ano a nova lei concedeu alforria a todos os escravos que desembarcassem em Portugal, Açores, Madeira, Índia e Macau. Em 25 de Abril de 1858, data do casamento de D.Pedro V, um novo decreto determinava que a escravatura e a escravidão acabassem em todo o território português em 1878, mas o tráfico de escravos tinha sido definitivamente encerrado em 1869. O século XIX assistiu à abolição da escravatura numa série de países e a luta contra a discriminação racial tem envolvido personalidades tão destacadas como Martin Luther King e Nelson Mandela, registando progressos significativos. O racismo vai contra os princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, que afirma a igualdade de todas as pessoas. nhecemos com partículas necessárias para garantir o equilíbrio do Universo. de largura. As primeiras análises da sonda revelaram que o asteróide Eros não é uma rocha qualquer. A sua densidade é de 2.4 gramas por centrímetro cúbico, valor esse muito semelhante ao da crosta terrestre. 14 de Fevereiro de 2000 SONDA NORTE-AMERICANA ENTRA EM ÓRBITA DO ASTERÓIDE EROS Deste dia a sonda Near Earth Asteroid Rendezvouz – Shoemaker entrou em órbita do asteróide Eros. O cientista australiano da Universidade de Melbourne, Robert Foot, e o seu colega da Universidade de Amesterdão, Saibal Mitra, acreditam que o asteróide Eros pode conter evidências da existência de um Universo paralelo. Na opinião destes especialistas e segundo observações feitas em imagens detalhadas do asteróide Eros, conseguidas pela sonda espacial Near-Shoemaker, o mesmo pode ter sido dividido pela chamada mirror matter (matéria espelho, traduzindo o termo). É considerada um reflexo da matéria que co- www.cienciapt.net/mundus Robert Foot acredita que a mirror matter foi criada em grandes quantidades quando da origem do Universo com o Big Band, e se encontra ao nosso redor mas sem ser possível de ser visualizada. Apesar disso, o cientista pensa ter encontrado evidências que ela existe e está bem próxima de nós, e tem um efeito passível de ser medido através das nossas sondas espaciais. A teoria da mirror matter não é credível por alguns cientistas, mas algumas experiências estão a ser realizadas para comprovar sua existência. Com a forma de uma batata, este asteróide possui um comprimento de 33 km e 13 km O grande número de crateras na superfície de Eros e a sua densidade revelam que este é um asteróide bastante antigo. A existência de ranhuras e sulcos nas crateras apontam para uma formação única dos níveis inferiores da superfície. Estes dados poderão indicar que o asteróide pertenceu a um corpo muito maior no passado. Um dos instrumentos da sonda detectou uma composição mineral não homogénea na superfície do asteróide. Todos os minerais descobertos são também encontrados vulgarmente na Terra, na Lua, em Marte e nos meteoritos. Fevereiro 2007 | Mundus 123. CURIOSIDADES 9 de Fevereiro de 1895 INVENÇÃO DO VOLEIBOL O voleibol foi criado nos Estados Unidos pelo director de educação física da ACM (Associação Cristã de Moços de Massachusetts) William George Morgan. O objectivo era criar um desporto sem contacto físico entre os jogadores. Desta forma, ele pretendia oferecer às pessoas (principalmente aos mais velhos) um desporto em que as lesões físicas, provocadas por choques entre pessoas, seriam raras. Inicialmente o desporto jogava-se com uma câmara numa bola de basquetebol e era chamado Mintonette, mas rapidamente ganhou popularidade com o nome de volleyball. do programa dos Jogos Olímpicos, tendo-se mantido até hoje. Recentemente, o voleibol de praia, uma modalidade derivada do voleibol, tem obtido grande sucesso em diversos países, nomeadamente no Brasil e nos EUA. Em 1947 foi fundada a Fédération Internationale de Volleyball (FIVB). Dois anos mais tarde, foi realizado o primeiro Campeonato Mundial da modalidade, apenas para homens; em 1952, o evento foi estendido também ao voleibol feminino. Em 1964 o voleibol passou a fazer parte Nos desportos colectivos, a primeira medalha de ouro olímpica conquistada por um país lusófono foi obtida pela equipa masculina de volley do Brasil nos jogos de 1992. A proeza repetiu-se em 2004. tulados teóricos básicos da ciência biológica da época. as características dos pais são frequentemente herdadas. Aquando do seu regresso a Inglaterra, aos 27 anos, Darwin decidiu dedicar a sua vida à ciência. Em 1842, com a herança paterna, retira-se para uma casa no campo, onde vive consagrado ao estudo até à morte. Segundo Darwin nem todos os membros de uma nova geração conseguem crescer e reproduzir-se, acabando por morrer cedo. 12 de Fevereiro de 1809 NASCE CHARLES DARWIN Nesta data nascia Charles Robert Darwin, o naturalista britânico que iniciou os estudos de Medicina e de Teologia, mas em 1831, depois de aprender bastante de Botânica, Entomologia e Geologia, foi recomendado para uma expedição científica a bordo do Beagle. A volta ao mundo do Beagle durou cinco anos, durante os quais Darwin formou a sua colecção de naturalista, acumulou observações práticas e modificou os pos- 124. Fevereiro 2007 | Mundus O naturalista britânico alcançou a fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá através da selecção natural e sexual. Esta teoria desenvolveu-se no que é actualmente considerado o paradigma central para explicação de diversos fenómenos na biologia. O inglês foi o responsável pela teoria da evolução, que se difundiu no século XIX. Através de um conjunto de observações, o cientista chegou à conclusão que os indivíduos de uma mesma espécie são idênticos, mas apresentam ligeiras diferenças (por exemplo, alguns são maiores, outros têm cores diferentes, etc.). Os filhos são idênticos aos pais, ao que ele conclui que Uma vez que os indivíduos acabam por ser diferentes, os que têm características que os tornam mais aptos para viver no seu ambiente têm mais possibilidades de gerar mais descendentes. Estas características são, assim, hereditárias, o que as torna cada vez mais frequentes com o passar das gerações, acabando por modificar as características globais da espécie. A este mecanismo chama-se selecção natural e através dele são eliminados os que não possuem características vantajosas. O resultado é sempre uma melhor adaptação da espécie ao ambiente em que vive. Com o passar dos anos, uma população da mesma espécie pode ir acumulando diferenças sucessivas até deixar de ser possível o seu cruzamento com indivíduos de outras populações. É assim que nasce uma nova espécie. www.cienciapt.net/mundus MARÇO conferências seminários encontros A não perder “DESCENTRALIZAÇÃO/ REGIONALIZAÇÃO” Conferência a decorrer no dia 8 de Março, com a presença de Vital Moreira e Miguel Cadilhe, entre outras distintas personalidades. A Sessão de Encerramento do Ciclo de Conferências comemorativo dos 30 Anos de Poder Local realizar-se-á pelas 15.30 horas, em Braga, no Campus de Gualtar, Complexo Pedagógico II, Auditório B1, e contará com a presença do Deputado da Assembleia Constituinte, Jorge Miranda e Jorge Sampaio. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5483 I BIENAL DE MATEMÁTICA E LÍNGUA PORTUGUESA A decorrer em Maputo (Moçambique), nos dias 1,2 e 3 de Março. A iniciativa é promovida pelo Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique, Maputo e a Universidade de Aveiro, sendo dedicada à troca de experiências no ensino e na aprendizagem da Língua Portuguesa e da Matemática, com recurso às tecnologias. Esta bienal tem como objectivo apresentar e discutir uma plataforma para novos ambientes de aprendizagem e suas aplicações. Pretende-se dar uma visão global do estado da arte bem como promover a discussão em torno do potencial pedagógico e didáctico da tecnologia para uma melhor aprendizagem. A conferência visa, sobretudo, os aspectos técnicos e pedagógicos, a inovação, as redes de aprendizagem e as comunidades virtuais. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5552 125. Fevereiro 2007 | Mundus 20 ANOS DE ENGENHARIA CIVIL NO IP TOMAR Encontro que reúne, no dia 3 de Março, um grupo de oradores, antigos alunos deste Curso que irão discutir temas de grande interesse no panorama nacional. Este Encontro destina-se a todos os interessados por temas de engenharia civil, estudantes e antigos alunos deste curso do IPT, empregadores, antigos e actuais docentes desta Instituição, associações profissionais e a todos os que, directa ou indirectamente, estiveram ligados ao curso de Engenharia Civil do IPT. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5590 III ENCONTRO NACIONAL DE ORIENTADORES E I ENCUENTRO INTERNACIONAL VIRTUAL Dias 9, 10, 11 de Março no Auditório de Zaragoza, em Espanha. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5314 www.cienciapt.net/mundus conferências_seminários_encontros FIRST INTERNATIONAL WORKSHOP ON ENABLING RELIABLE AND AGILE CROSS-ENTERPRISE INTEROPERABLE SYSTEMS MOVING STANDARDS FORWARD FOR IMPACT IN THE GLOBAL INDUSTRIAL ENVIRONMENT Dia 27 de Março na Ilha da Madeira. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5599 6.O ENCONTRO DA DIVISÃO DE QUÍMICA ANALÍTICA (ANALITICA’07) De 29 a 30 de Março no Centro de Congressos do Instituto Superior Técnico (UTL). http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5127 ENCONTRO DE PRIMAVERA 2007 DA APEP – O ESTADO DA ARTE DA ECOLOGIA DA PAISAGEM EM PORTUGAL Dias 23 e 24 de Março no Auditório da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco (ESA-IPCB), em Castelo Branco. O evento é organizado pela Escola em conjunto com a Associação Portuguesa de Ecologia da Paisagem e pretende abordar o tema “O Estado da Arte da Ecologia da Paisagem em Portugal”. A inscrição é gratuita para os sócios da APEP com as cotas regularizadas. Para os restantes participantes o valor da inscrição é de 20 euros, sendo a data limite par ao fazer dia 16 de Março. O número de inscritos é limitado. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5656 126. Fevereiro 2007 | Mundus A não perder CEBIT – IRC FUTURE MATCH A rede Innovation Relay Centres organiza mais uma edição do IRC Future Match, uma Bolsa de Contactos no âmbito da feira internacional CeBIT em Hannover, de 15 a 19 de Março. O objectivo deste brokerage é criar novas formas de cooperação, promover a transferência de tecnologia e Know-how de forma a criar novas oportunidades de negócio. 2.O ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE PSICOLOGIA EXPERIMENTAL - APPE De 16 e 17 de Março no Anfiteatro Central da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5638 O IRC Future Match 2007 reúne perfis tecnológicos (ofertas e procuras) de empresas de toda a Europa e divulga-os num catálogo online onde as empresas podem seleccionar os parceiros que mais lhe interessam para realizar reuniões individuais durante o evento. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5646 “ALFABETO” A decorrer até dia 22 Março, das 13h00 às 24h00, no Silo-Espaço Cultural, Norteshopping, em Matosinhos. Esta é a terceira exposição de uma série de seis mostras no âmbito do projecto “Idiomas”, inserido no programa que a Fundação de Serralves, que tem vindo a ser desenvolvido para o Silo-Espaço Cultural. A mostra apresenta cerca de três centenas de fotografias das quais fazem parte trabalhos de 51 alunos de design de comunicação da Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Matosinhos, desenvolvidos no âmbito de um projecto de ‘Introdução à Tipografia’ que Andrew Howard, comissário desta série de exposições, desenvolveu enquanto professor da ESAD. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5648 CONFERÊNCIA INTERNACIONAL MATERIAIS 2007 – 13th CONFERENCE OF SOCIEDADE PORTUGUESA DE MATERIAIS, IV INTERNATIONAL MATERIALS CONFERENCE SYMPOSIUM – A MATERIALS SCIENCE FORUM: “GLOBAL MATERIALS FOR THE XXI CENTURY: CHALLENGES TO ACADEMIA AND INDUSTRY” De 1 e 4 de Abril na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). A conferência, que aborda 20 temas na área dos materiais e vai reunir mais de 400 investigadores nacionais e estrangeiros, representando 35 países, tem os investigadores do INEGI, Engenheiros Jorge Lino e Monteiro Baptista na Comissão Organizadora presidida pelo Professor Torres Marques, também ele investigador do Instituto e docente na FEUP. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5628 www.cienciapt.net/mundus EXPOSIÇÃO “ALFABETO E TABUADA - O CONTO MATEMÁTICO SILVADO DOCE” Até 31 de Março na Sala Estúdio A do CIFOP, das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 16h. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5621 XII ENCONTRO NACIONAL DE SOCIOLOGIA (ENSIOT) Cidadania e empregabilidade: as novas paisagens socioprofissionais, em debate nos dias 27 e 28 de Março na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5587 FORMAÇÃO PARA PROJECTISTAS – NOVO REGULAMENTO DAS CARACTERÍSTICAS DE COMPORTAMENTO TÉRMICO DE EDIFÍCIOS (RCCTE) Dias 19, 20, 21 e 26 de Março. A Unave, em colaboração com o Departamento de Engenharia Civil da www.cienciapt.net/mundus UNEQUAL CENTROSOME BEHAVIOUR IN ASYMETRICALLY DIVIDING NEURAL STEM CELLS Dia 9 Março no IBMC-INEB, com Elena Rebollo, Institute for Research in Biomedicine (IRB), Cell Division Laboratory Josep Samitier, Spain. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5531 Universidade de Aveiro, vai realizar o curso “Formação para Projectistas – Novo Regulamento das Características de Comportamento Térmico de Edifícios (RCCTE)”. As inscrições estão abertas até ao próximo dia 11 de Março. http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5618 Fevereiro 2007 | Mundus 127. NA PRÓXIMA EDIÇÃO MARÇO A mulher na ciência 128. Fevereiro 2007 | Mundus www.cienciapt.net/mundus