Tradução do artigo International Congress of Mathematicians 2006

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Tradução do artigo International Congress of Mathematicians 2006
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Tradução do artigo International Congress of
Mathematicians 2006 publicado em Notices of the
AMS vol. 53, nº 11
BECK, Vinicius Carvalho; BOURCHTEIN, Andrei.
Congresso Internacional de Matemáticos 2006
John Ball, presidente da União Internacional de Matemática (IMU, em inglês),
levantou-se para um público composto não apenas por alguns milhares de matemáticos,
mas também por cerca de cento e cinqüenta representantes da mídia e talvez uma dúzia
de câmeras de televisão. A data era 22 de agosto de 2006, e a ocasião era a cerimônia de
abertura do vigésimo quinto Congresso Internacional de Matemáticos (ICM, em inglês)
realizado em Madrid, pela primeira vez sediado na Espanha. No palco junto com Ball
estava Juan Carlos, o rei da Espanha, que atendeu aos pedidos de entregar a Medalha
Fields. Ball anunciou os medalhistas em ordem alfabética, a primeira foi para Andrei
Okounkov. Na tela em cima do palco apareceu uma foto de Okounkov sorrindo com
entusiasmo, e uma citação de uma sentença do comitê da Medalha Fields. Depois de
Ball ter lido a citação e o público ter aplaudido, Okounkov subiu no palco e recebeu do
rei a sua medalha.
A tela então mudou para o imponente olhar fixo de Grigory Perelman,
mostrando uma foto antiga que já havia sido publicada em inúmeros jornais, revistas e
websites. Tão logo Ball falou o nome de Perelman, o público quebrou o silêncio com
fortes aplausos, sem esperar pela citação. Depois que os aplausos cessaram e ele leu a
citação, Ball declarou, “Eu lamento que Dr. Perelman tenha se recusado a aceitar a
medalha”. Havia amplos rumores de que embora Perelman estivesse na frente na corrida
pela Medalha Fields deste ano e de muitos anos anteriores ele se recusaria a aceitar a
medalha, todavia um estado de choque sucedeu a notificação de Ball. Como alguém
pode recusar uma Medalha Fields, a mais ilustre honra na matemática? Uma onda de
aplausos nervosos passou rapidamente pelo saguão, e logo em seguida houve silêncio.
Depois de uma breve pausa, Ball prosseguiu anunciando os outros dois ganhadores da
Medalha Fields, Terence Tao e Wendelin Werner. Eles receberam seus prêmios em
pessoa, assim como Jon Kleinberg, ganhador do Prêmio de Nevanlinna. Kiyoshi Itô, aos
noventa e um anos ganhador do recentemente fundado Prêmio Gauss, não teve
condições de receber o prêmio por razões de saúde. A filha de Itô recebeu o prêmio em
seu nome.
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Ilustração 1: Da esquerda para direita: o ganhador do prêmio Nevanlinna Jon Kleinberg, o
ganhador da Medalha Fields Terence Tao, o Rei Juan Carlos e os ganhadores da Medalha Fields
Andrei Okounkov e Wendelin Werner.1
Ball, os premiados, e os outros que discursariam na cerimônia de abertura
tiveram que fazer um ensaio geral um dia antes para garantir que tudo saísse sem erros,
especialmente com relação aos protocolos reais. Um dos ganhadores da Medalha Fields
zombateiramente perguntou se ele poderia, depois de receber a medalha do rei, tirar a
camisa e sair correndo pelo saguão como David Beckham fez em um jogo do Real
Madrid. Depois de fazer isto, talvez ele ficasse empatado com Perelman em
notoriedade, que para a frustração de muitos, de longe supera outros ganhadores de
prêmios. A extraordinária história de Perelman é o que faz do ICM 2006 um evento
histórico e anima as transmissões de televisão, programas de rádio, jornais, revistas e
páginas da web de todo o mundo.
Por que Perelman recusou a Medalha Fields?
Depois da cerimônia de abertura, Ball disse à imprensa que em junho havia
passado dois dias conversando com Perelman para tentar convencê-lo a aceitar a
medalha. Perelman foi dedicadamente cortês, mas continuou com sua recusa. No que
diz respeito às razões de Perelman, Ball explicou que Perelman se sentia isolado da
comunidade matemática e por isso não queria ser visto como uma figura de destaque ou
representante daquele grupo. Ball também disse que Perelman acreditava que seus
próprios valores não estavam de acordo com os valores da comunidade matemática. Se
isto era devido a experiências particulares ou acontecimentos da vida de Perelman, Ball
se recusou a dizer. Recusar a medalha não é esnobar? perguntaram a Ball. “Não, não é
esnobar”, ele respondeu. “Eu queria que ele tivesse aceitado a medalha porque é a maior
oportunidade de expressar nossa admiração por o que ele tem feito. Eu queria que ele
aceitasse por si próprio, e também que ele ficasse contente em recebê-la e que ele
pudesse ser uma influência para outros no futuro. Eu fiquei chateado pelo fato de ele
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http://www.ams.org/notices/200611/comm-icm.pdf.
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não mudar sua forma de pensar”. Mas as discussões com Perelman foram centradas na
premiação, educadas e calmas, disse Ball. Perguntado se temia pela saúde mental de
perelman, Ball respondeu insipidamente que não.
Uma das razões de Perelman ter rejeitado a Medalha Fields está indicada no
artigo Manifold Destiny (Destino da Variedade) de Sylvia Nasar e David Gruber. O
artigo apareceu em 21 de agosto de 2006, publicado pela revista New Yorker; vindo da
impressão no dia 21 de agosto de 2006, o dia anterior ao da cerimônia de abertura da
ICM. Perelman falou a eles a respeito de uma disputa que havia ocorrido uns anos antes
quanto aos créditos obtidos de um resultado particular, e ele expressou seu desânimo
com relação à ética que estava em voga na matemática. “Claro, existem muitos
matemáticos mais ou menos honestos”, o artigo cita o que perelman falou. “Mas a
maioria deles são conformistas. Eles são mais ou menos honestos, mas toleram que
outros não sejam.”
Os 4000 participantes do congresso falavam avidamente sobre o artigo da New
Yorker e sobre a recusa da medalha por Perelman. “É uma história triste, porque ele não
desfrutará da fama e reconhecimento que indubitavelmente merece por seu trabalho”,
disse Günter Ziegler, da Universidade Tecnológica de Berlim e presidente da Sociedade
Alemã de Matemática. “Por outro lado, eu estou um pouco preocupado com o fato de
Perelman rejeitar o prêmio...tira a atenção desses jovens matemáticos notáveis que
vieram para receber os prêmios por seus fantásticos trabalhos.” Sebastià Xambó da
Universidade Politécnica da Catalunya também encarou com tristeza a recusa de
Perelman (e também com perplexidade). “Alguém poderia ir até Perelman e tentar fazêlo expressar por que ele prefere se isolar de outros matemáticos?”, Xambó perguntou,
na esperança de que de algum modo perelman voltasse a integrar a comunidade
matemática. Muitos matemáticos expressaram admiração por Perelman. “Eu o admiro”,
declarou Salah Bouendi da Universidade da Califórnia em São Diego. “Ele não liga para
prêmios ou fama...ele só se importa com a matemática. Ele disse ‘Se você me dá
reconhecimento, tudo bem, e se você não dá, não dá.’” Alguns interpretam como
cinismo o comportamento de Perelman. Por exemplo, um matemático, que pediu para
não ser citado, disse que ao recusar o prêmio, Perelman comunicou a mensagem de que
é mais importante do que a medalha. “É bom marketing”, o matemático comentou.
Ninguém jamais recusou a medalha Fields antes. Já aconteceu por três vezes
de os medalhistas não estarem presentes na entrega de suas medalhas. Em 1966
Alexandre Grothendieck se recusou a viajar até o ICM, situada em Moskow, em
protesto às ações do governo soviético. Serguei Novikov não ganhou permissão para
viajar da União Soviética até o congresso de 1970 em Nice para receber sua medalha; a
razão disso talvez seja pelo fato de ele ter dado apoio a dissidentes durante os anos 1960
e ter tido uma recomendação negativa das autoridades soviéticas por parte do Instituto
Steklov. Em 1978 Gregory Margulis foi impedido de viajar da União Soviética até
Helsinki para receber sua medalha porque uma junta de matemáticos recomendou ao
governo soviético que não desse permissão para ele viajar. Embora eles não tenham
recebido os prêmios pessoalmente na cerimônia, Grothendieck, Novikov e Margulis
aceitaram o prêmio. Em 1988 Grothendieck surpreendentemente recusou o Prêmio
Crafoord da Real Acadêmia de Ciências Suéca, o qual o recompensaria com 200 mil
dólares divididos entre ele e Pierre Deligne. As razões pelas quais Grothendieck recusou
o prêmio (degradação da ética dentro da profissão de matemática dentre elas) soaram
como uma repetição ao o que se sabia sobre as razões de Perelman para recusar a
Medalha Fields.
As medalhas de 2006 foram singulares não apenas por causa da recusa de
Perelman em aceitar o prêmio. Elas também foram singulares por condecorar
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matemáticos que têm feito notáveis trabalhos em colaboração. Terence Tao teve cerca
de trinta colaboradores, o que particularmente representa um grande número, dada a sua
idade; ele tem apenas trinta e um anos. Ele faz parte do tão conhecido “time-i”, onde “i”
significa várias coisas, inclusive “interação”; os outros componentes do time-i são
James Colliander, Markus Keel, Gigliola Stafillani e Hideo Takaoka. A medalha
recebida por Wendelin Werner foi devida ao trabalho realizado juntamente com
Gregory Lawler e Oded Schramm; acontece que Werner era o único dos três que se
encontrava na idade exigida pelo comitê da Medalha Fields, que diz que um medalhista
não deve ter quarenta anos antes do começo do ano em que a medalha é dada.
(Schramm foi cogitado para Medalha Fields de 2002, mas ele já estava a um mês de
passar da idade requerida.) Andrei Okounkov também teve muitos colaboradores, e
alguns de seus mais espetaculares trabalhos foram na área de geometria enumerativa,
trabalho em andamento em conjunto com Rahul Pandharipande. “A matemática está
mudando”, disse Ball, que trabalhou como presidente do comitê da Medalha fields.
“Nós vemos mais trabalhos em colaboração agora.”
Ilustração 2: O novo logo da União Internacional de Matemática inaugurado no ICM 2006. O logo
foi desenhado por John Sullivan, da Universidade de Berlim.2
A instrução do comitê da Medalha Fields é escolher entre dois e quatro
medalhistas, com forte preferência por quatro. Ball diz que esta preferência é para
garantir a diversidade de áreas entre os medalhistas. E também para possibilitar o
reconhecimento de diferentes tipos de contribuições. “Existem muitas coisas diferentes
importantes na matemática: criação de teorias, conexão entre assuntos diferentes”, ele
disse. “Tem que haver matemática profunda, isto é essencial. Em minha opinião
pessoal, devem-se usar métodos de avaliação da importância dos trabalhos das pessoas
que são adequados para o tipo de matemática que elas fazem”. Ele observa que o
aumento da tendência de trabalhos em conjunto irá dificultar para os futuros comitês da
Medalha Fields decidir quem dentre os colaboradores deve ser condecorado.
Sobre Nós e Fluxos
No ICM de Madrid se falou muito em Medalha Fields, mas não foi só no que
se falou. Houve muitos complementos plenários e seções de palestras, além de muitas
discussões e eventos especiais. Dentre os tópicos que estavam no plenário de palestras
havia um de Étienne Ghys da École Normale Supérieure de Lyon (Escola Normal
Superior de Lyon), que falava sobre “Nós e dinâmica”. Sua palestra começou com uma
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ilustração do paradigma da dinâmica caótica, citando os Atratores de Lorenz. As órbitas
periódicas de um fluxo são nós. Pode-se criar novos nós associados a um fluxo,
conectando-se arbitrariamente as pontas das linhas de fluxo. Pode-se então examinar
que tipo de nós se formam desta maneira e perguntar se um fluxo pode ser visto como o
limite de uma sequência de nós. Os nós que aparecem nos atratores de Lorenz são de
um tipo especial, em que alguns tipos de nós nunca aparecem. Ghys descreveu uma
linha de raciocínio começando pelo atrator de Lorenz e vindo até os recentes trabalhos
sobre “nós modulares”, e então voltou para o conjunto de nós encontrados no atrator de
Lorenz, pois eles se mostraram ser os mesmos que os nós modulares.
O perfeito uso de animações de computador por Ghys não só deu uma
visualização atraente como também foi ao coração das idéias matemáticas. As
animações foram feitas por Jos Leys (http://www.josleys.com), um engenheiro
mecânico interessado por matemática. No final desta palestra Ghys enfatizou a
importância da comunicação dos matemáticos com os não-matemáticos, um assunto
discutido por muitos palestrantes do ICM. Ele apresentou uma citação de David Hilbert
que foi apresentada em muitas palestras no congresso de Madrid: “uma teoria
matemática não deve ser considerada completa até que você a torne tão clara que possa
explicar à primeira pessoa que você encontra na rua”. Ghys chegou dez minutos
atrasado, mas o público não parecia preocupado. (Ghys e Leys haviam escrito um artigo
na web sobre seu trabalho, incluindo muitas animações, publicado em uma coluna de
artigos da AMS em novembro de 2006. Veja
http://www.ams.org/mathmedia/featurecolumn.)
Duas palestras eram especialmente aguardadas: A palestra de Richard
Hamilton da Universidade de Columbia e a “Palestra Especial sobre a Conjectura de
Poincaré” de John Morgan, também de Columbia. Hamilton, o autor da idéia de usar o
fluxo de Ricci para atacar o problema de Poincaré e a geometrização da conjectura de
Thurston, descreveu seus trinta anos de trabalho sobre o problema. Hamilton disse que a
inspiração inicial veio quarenta anos atrás, quando ele assistiu a um seminário de James
Eells, que sugeriu que alguém deveria ser capaz de usar equações de evolução para
atacar o problema de Poincaré. Dez anos depois, Hamilton começou a pensar seriamente
nessa possibilidade e teve a idéia de usar uma equação de evolução chamada fluxo de
Ricci. Durante a palestra, hamilton descreveu muitas das idéias de Perelman e em vários
pontos apresentou algumas simplificações de sua própria autoria. Ele disse que estava
“emocionado” por Perelman ter mostrado como levar o programa do fluxo de Ricci até
a conclusão final. “Eu sou enormemente grato a Perelman por este trabalho”, ele disse.
A imprensa da conferência publicou isto no ICM daily News (Jornal do ICM), Hamilton
novamente expressou sua admiração pelo que Perelman fez e disse que “teria grande
prazer em trabalhar com ele no futuro”.
Em contraste a palestra de Hamilton, que era direcionada a matemáticos, a
palestra de Morgan poderia ter sido entendida pelo público em geral. Ele discutiu a
origem e o mistério da conjectura de Poincaré e como as percepções da conjectura
mudaram ao longo das décadas. Nos anos 1970, ele disse, se alguém perguntasse aos
topologistas se a conjectura era verdadeira, eles provavelmente se dividiriam igualmente
nas respostas. Mas se fosse em 1985, depois de William Thurston descrever sua visão
do universo de três variedades o que viria a ser a geometrização da conjectura, os votos
estariam na proporção de dez para um a favor da conjectura de Poincaré ser verdadeira.
Isto é porque a geometrização da conjectura foi testada em muitos casos desde então, e
houve um considerável desenvolvimento na área de topologia sem o aparecimento de
nenhuma contradição com relação à conjectura de Poincaré. Depois de dar fim a três
anos de trabalho para entender a idéia de Perelman (trabalho que rendeu um livro de
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473 páginas escrito em parceria com Gang Tian da Universidade de Princeton) Morgan
poderia seguramente apresentar um slide dizendo “A conjectura de Poincaré está
demonstrada!”, “É uma grande vitória para Perelman e para a matemática”, ele disse.
Um Dilúvio de Cobertura
A corbetura do ICM de Madrid feita pela mídia superou formidavelmente as
expectativas do congresso. O trabalho de publicidade foi dirigido por Ignacio Bayo e
Monica Salomone, ambos repórteres de ciência autônomos que freqüentemente
escrevem para o principal jornal espanhol, El País. Os organizadores do ICM
estimavam que talvez vinte representantes da mídia comparecessem à cerimônia de
abertura; quando o dia chegou, cerca de cento e cinqüenta estavam inscritos. A mídia
espanhola compareceu em peso, em parte devido à presença do rei; também vieram
repórteres da Rússia, Itália, Alemanha, Suíça e Reino Unido. Muitos repórteres que não
puderam comparecer pessoalmente, acompanharam a cerimônia pela transmissão via
Internet. Como a notícia da recusa de Perelman se espalhou, choveram chamadas
telefônicas de todos os continentes, e o pessoal dos escritórios de imprensa, que se
esforçava corajosamente, se encontrava em um dilúvio.
Ilustração 3: O Rei Juan Carlos (à direita) cumprimentando Manoel de Léon (à esquerda)
presidente do comitê executivo do ICM.3
Embora a mídia não estivesse interessada em gravar depois da cerimônia de
abertura, as agências de notícia espanholas continuaram enviando repórteres para o
encontro, e muitos canais de televisão cobriam amplamente com a intenção de criar
programas educacionais sobre matemática e o congresso. Com exceção de Bayo e
Salomone, os escritórios da equipe de imprensa eram compostos de três jornalistas
experientes, um tradutor, um fotógrafo, um editor de layouts e gráficos, e três
matemáticos voluntários. A equipe já havia realizado muitas conferências de imprensa e
já havia lidado com todo o tipo de questões. A equipe também produziu o ICM Daily
News (Jornal do ICM), cobrindo o desenrolar da história de Perelman com entrevistas
de Hamilton e Morgan, e também com James Carlson, presidente do Instituto de
matemática Clay, e Huai-Dong Cao, da Universidade de Lehigh. Cao escreveu um
artigo com Xi-Ping Zhu, da Universidade de Xhongshan, fazendo um relato minucioso
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http://www.ams.org/notices/200611/comm-icm.pdf.
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do trabalho de Hamilton e Perelman que conduzia a demonstração do problema de
Poincaré e a geometrização da conjectura. (Dois outros matemáticos, que produziam
uma exposição do trabalho de Perelman, John Lott da Universidade de Michigan e
Bruce Kleiner da Universidade Yale, ambos falaram no congresso.) (Publicações do
ICM Daily News estão disponíveis no site http://www.icm2006.org/dailynews/.)
Artigos de imprensa populares sobre a Medalha Fields começaram a aparecer
no decorrer do congresso, quando começaram a circular boatos de que o prêmio teria
sido oferecido a Perelman e ele o teria recusado. Ao contrário de 2002, em que a maior
parte da cobertura esteve concentrada nos países onde os vencedores moravam, havia
uma ampla cobertura da entrega das medalhas de 2006 espalhada pelo mundo inteiro.
Em 2002 o New York Times ignorou a Medalha Fields. Mas neste ano, o Times
apresentou dois artigos sobre o prêmio, assim como uma parte introdutória que discutia
a história de Perelman. O interesse em Perelman continuou depois do congresso
terminar. Um artigo de Evgeny Morozov, um colunista de um jornal russo, apareceu em
31 de agosto de 2006, publicado na International Herald Tribune e descrevia a
fascinação que Perelman despertava na Rússia. “Os blogs russos já estão cheios de
poemas, músicas e piadas sobre Perelman”, Morozov escreve. (Para maiores
informações sobre a cobertura da mídia da entrega da Medalha Fields, visite o sumário
de matemática no website da AMS (Sociedade Americana de Matemática); digite
http://www.ams.org/mathmedia/mathdigest e dê uma olhada nos artigos que aparecem
em agosto de 2006.)
Matemáticos espanhóis ficaram impressionados com o sucesso do congresso.
“Este é um evento histórico para a matemática espanhola”, disse Enrique Zuazua da
Universidad Autónoma de Madrid (Universidade Autônoma de Madrid). Como o rei
concordou em comparecer, Zuazua observou, muitas portas que antes estavam fechadas
se abriram para os organizadores do congresso. Carlos Andradas da Universidad
Complutense de Madrid (Universidade Complutense de Madrid), que trabalhava como
vice-presidente-geral do congresso, disse que os esforços das autoridades espanholas em
fortalecer a matemática espanhola ganharam reconhecimento e é uma declaração de
apoio ao futuro da ciência na Espanha. O congresso atraiu participantes de 118 países e
cerca de 1000 matemáticos vieram de todo o lado da Espanha. Com a sem precedentes
cobertura internacional da mídia colocando o foco na matemática e na Espanha,
Andradas acredita que este congresso trará um avanço enorme para a matemática
espanhola. “Eu espero que a comunidade matemática espanhola continue vendo a
prosperidade da matemática como uma tarefa comum e coletiva”, ele disse.
Comitê de Seleção da Medalha Fields
Enrico Arbarello
John Ball (diretor)
Jeff Chegeer
Donald Dawson
Gerhard Huisken
Curtis T. McMullen
Aleksey N. Parshin
Thomas Spencer
Michèle Vergne
Comitê de Seleção do Prêmio Nevanlinna
Samson Abramsky
8
Franco Brezzi
Gert-Martin Greuel
Johan Hastad
Margaret Wright (diretora)
Comitê de Seleção do Prêmio Gauss
Robert E. Bixby
Martin Groetschel
Frank den Hollander
Stéphane Mallat
Ian Sloan
ICM 2010 em Hyderabad
Pouco antes do ICM Madrid, a assembléia geral da União Internacional de
Matemática reuniu-se em Santiago de Compostela. No encontro, a IMU decidiu levar o
próximo ICM para Hyderabad, na Índia. O ICM 2010 será realizado de 19 a 27 de
agosto de 2010, no Centro de Convenções Internacionais M. S. Raghunathan de
Hyderabad, no Instituto de Pesquisas Tata serão presididas as reuniões do comitê de
organização.
Ilustração 4: John Ball4
“...Uma linguagem comum que independe de política, religião e
cultura”
Abaixo estão alguns trechos do discurso de John Ball, presidente da União
Internacional de Matemática, durante a cerimônia de abertura do ICM 2006.
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http://www.ams.org/notices/200611/comm-icm.pdf.
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Enquanto celebramos esta festa da matemática, com as muitas discussões que
estão por vir, é importante refletir sobre a maneira pela qual nossa comunidade
funciona.
Matemática é uma profissão altamente exemplar e íntegra. Nós discutimos
livremente nossos trabalhos com outros, sem medo de sermos roubados, e nossas
pesquisas são divulgadas abertamente antes da publicação formal. Os procedimentos de
edição são íntegros e apropriados, e os trabalhos adquirem reputação por mérito próprio
e não por serem indicados. Existem normas utilizadas pela grande maioria dos
matemáticos. As exceções são raras, e são perceptíveis...
Matemáticos não fazem sua própria matemática. Mas entre os milhões que
fazem uso diário da matemática, eles se distinguem devido à procura constante por
profundidade de entendimento, com base na apreciação da beleza, simplicidade,
estrutura e poder da generalização. Mas a lição dos séculos passados é a de que estes
elementos vitais para o desenvolvimento da matemática exigem constante revigoração
por meio de questões vindas do mundo direcionadas a nós.
Não há assunto, grande ou pequeno, de quase todos os aspectos da existência
humana, cujo a matemática não tenha contribuído para seu entendimento. Em particular,
as grandes questões enfretadas pelo planeta, tais como modelar e gerenciar o clima, a
descoberta de desafios matemáticos...quando contemplamos a importância da
matemática para o mundo, nós vemos a importância dos esforços para desenvolver a
matemática pelo mundo a fora. O talento matemático não está relacionado com as
limitações geográficas, mas as condições de trabalho, e tradição necessária para que tal
talento floresça dependem fortemente da geografia, das condições econômicas e da
política. Cada país e região têm uma carência específica em ciência e em matemática,
cada um dá atenção a seus problemas para desenvolver a matemática.
É por esta razão que a IMU tem feito um esforço especial para ampliar seu
apoio a matemáticos de países em desenvolvimento...Apesar destas iniciativas, um
dramático crescimento de ambos, capital e intercâmbio, está fazendo com que surjam
impasses globais na educação e pesquisa na área de matemática. Compartilhar
conhecimento matemático e experiências de outros que trabalham pelo mundo, é disso
tudo que a comunidade matemática desfruta, nós fazemos nossa própria contribuição
para assegurar a paz e a estabilidade junto a outras pessoas pelo o uso de uma
linguagem comum que independe de política, religião e cultura.
Eu desejo a todos um gratificante e empolgante congresso.
Texto Original
JACKSON, Allyn. International Congress of Mathematicians. Notices of the
AMS vol. 53, nº 11. Disponível em http://www.ams.org/notices/200611/comm-icm.pdf.

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