Darwin
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Darwin
o t n a S o Espírit A exposição DARWIN É interessante contemplar uma encosta confusamente entrelaçada, revestida por diversas plantas de diversos tipos, com pássaros cantando nos arbustos, com vários insetos voando, e com minhocas rastejando na terra úmida, e pensar que essas formas elaboradamente construídas... foram todas produzidas por leis agindo à nossa volta... Há uma grandeza nessa visão da vida, com seus diversos poderes, havendo sido originalmente insuflados em algumas poucas formas ou em uma só; e que, enquanto este planeta esteve revolucionando de acordo com a fixa lei da gravidade, a partir de um início tão simples, infinitas formas, as mais belas e mais maravilhosas, evoluíram e continuam evoluindo.1 (DARWIN, Charles, 2007) A exposição Darwin – Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo, desenvolvida pelo Museu de História Natural de Nova Iorque e adaptada, no Brasil, pelo Instituto Sangari, convoca a nossa imaginação com sua linguagem cenográfica que recria a atmosfera oitocentista em que Darwin viveu e incubou sua teoria da Evolução. Imersos na ambiência da exposição, tal qual uma viagem que se dá andando, vamos nos nutrindo criativamente ao olhar desde esqueletos e fósseis até objetos biográficos e cadernos de anotações de Darwin que colocam em evidência a sua trajetória de naturalista. A exposição, assim, abre possibilidades para fazer pensar, trazer descobertas, perguntas e questões para olhar com outros olhos para o pensamento científico de Darwin e a explosão de conhecimentos científicos gerados a partir de sua teoria da Evolução pela Seleção Natural. Na intenção de que a intensidade da visita à exposição não venha a esmorecer, a Ação Educativa da exposição oferece um conjunto de materiais-propositores: aos estudantes, o Jogo de Aprendiz da Evolução e o Catálogo do Aprendiz de Ciência; aos professores, este material educativo – Mapas moventes para o pensar científico – como convite à reinvenção das linhas conceituais percorridas na exposição, como modos de continuação da viagem em sala de aula. Que o desfrute da exposição e dos materiais-propositores escritos a partir dela, venham a ser provocativos do estudo da biologia contemporânea na escola, desabrochando aquele estado de encantamento diante do mundo que podemos aprender e apreender em Darwin como desejo de investigação científica. Em sua viagem no Beagle, diante da floresta tropical, Darwin nos revela esse modo de encantamento em uma de suas descrições: O fascínio experimentado nesses momentos desnorteia a mente, – se o olhar tenta seguir o voo de uma vistosa borboleta, ele é interrompido por alguma árvore ou fruta estranha; e ao olhar um inseto, ele é deixado de lado para que uma maior atenção seja dada à estranha flor sobre a qual ele rasteja... A mente é um caos de encanto. Que sejamos então contaminados pela poética científica de Darwin! Equipe do Instituto Sangari Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo Caro (a) professor (a) Quando em visita a uma exposição, na geografia dos passos, ao olhar cada objeto mostrado, nossa curiosidade se inquieta, como pergunta que move o desejo de conhecer. Podemos dizer que a experiência vivida numa exposição tem um potencial educativo, sobretudo porque forma em cada visitante novas percepções, novos modos para olhar e pensar o mundo. Certamente, como professores, quando programamos uma visita de nossos alunos a uma exposição que escolhemos, nossa intenção é abrir vias de acesso para algum assunto que será trabalhado em sala de aula antes e após o contato com a exposição. Qual seria o objetivo de visitar a exposição Darwin? O que os alunos já sabem sobre ela? Ao contrário de dar uma aula sobre quem foi Darwin ou informar os alunos sobre o que eles vão ver na mostra, oferecendo dados em discurso pronto e acabado, é mais interessante envolvê-los numa atitude investigativa que seja provocativa, para despertar o interesse por meio da “pedagogia da pergunta”, como diria Paulo Freire. O que os alunos imaginam que fazia um naturalista que viveu no século XIX? Quais seriam os instrumentos usados nessa época nas pesquisas científicas da natureza? Se naquela época não existiam computador e máquina fotográfica, como os naturalistas registravam os dados coletados? Como se explicava o padrão da biodiversidade na Terra no século XIX? O que mudou com Darwin? A origem das espécies é o famoso tratado de Darwin. O que esse título sugere aos alunos? Perguntas como essas podem instigar uma pesquisa em livros ou à busca na internet, movendo os alunos à investigação e a criação de um mural que começa antes da visita e vai sendo feito depois dela. Com esse modo de preparação, cada aluno vai à mostra com a percepção mais aguçada e com interesse para interrogar e dialogar com o educador-mediador durante a visita. Ao mesmo tempo, o professor pode perceber os indícios de interesse e os pontos de referência que os alunos têm sobre o assunto e as possíveis conexões entre a visita à exposição e sua intenção pedagógica. Desta forma, as seções que você encontrará neste caderno são: I. Apresentação: Darwin – Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo............................................................................................................................... 04 II. Visitas focadas: textos que têm por objetivo ajudá-lo na preparação e no planejamento da visita para o melhor aproveitamento desta. Cada texto propõe uma abordagem diferente que a visita pode ter e é composto por um parágrafo introdutório sobre o assunto, e por atividades sugeridas para serem realizadas antes, durante e depois da visita. São eles:.. . . . . . . . . . . 11 • Contexto histórico: a vida e obra de Charles Darwin.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 • Teoria da Evolução de Darwin.............................................................................................................................................. 13 III. Textos reflexivos: leituras que procuram aprofundar aspectos tratados na exposição, acompanhadas de idéias para promover debates ou atividades em sala de aula:...................................... 15 • Serpentes sem patas.......................................................................................................................................................................................... 15 • Árvore da vida ........................................................................................................................................................................................................... 17 • A graça de um conto para levar a sério uma teoria....................................................................... 18 IV. Orientações para atividades: experiências que podem ser desenvolvidas em sala de aula............................................................................................................. 21 V. Sugestões de sites e livros: recursos adicionais sobre a vida e obra de Darwin...................................................................................................................................................... 24 Estes e outros materiais educativos estarão também disponíveis no website da exposição www.darwinbrasil.com.br . Agora, só nos resta desejar uma boa leitura e uma ótima visita ao mundo de Darwin! Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 4 5 I. APRESENTAÇÃO Darwin - descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo “Caçada, cães e capturar ratos” O mundo antes de Darwin Antes do nascimento de Darwin, a maioria das pessoas na Inglaterra aceitava certas ideias a respeito do mundo natural da maneira que eram apresentadas. As espécies não eram ligadas a uma única “árvore genealógica”. Elas eram desconectadas, não aparentadas e imutáveis desde o momento de sua criação. E pensava-se que, sendo a própria Terra tão jovem – talvez cerca de 6.000 anos –, o tempo não seria suficiente para que uma espécie mudasse. De qualquer forma, as pessoas não faziam parte do mundo natural; elas estavam acima e fora dele. Essas atitudes refletiam uma estável e imutável visão geral do mundo. Darwin e sua irmã Seção: da exposição “O mundo antes de Darwin” Jovem Darwin Nascido em 1809, em uma família abastada, na Inglaterra rural, ele passava horas observando pássaros e lendo, deitado embaixo da mesa da sala de jantar. Entretanto, era um aluno indiferente e a escola o aborrecia. Ficava desesperado com o latim e com a memorização de versos que, como ele dizia, “eram esquecidos 48 horas depois”. Mas Darwin nunca se cansava de estudar os detalhes do mundo natural. residências para seus trabalhadores, uma igreja e uma escola, onde os pais de Charles estudaram quando crianças. O pai de Charles, o médico Robert Darwin, era filho do famoso Erasmus Darwin, uma das maiores autoridades médicas da Inglaterra, e era, também, um prolífico inventor cujas realizações incluíam um moinho de vento horizontal para fornecer energia à fabrica Wedgwood. As opiniões radicais de Erasmus incluíam oposição à escravidão, apoio à educação das mulheres, simpatia pelas Revoluções Francesa e Americana e uma teoria de evolução que precedeu a de Charles Darwin em várias décadas. A mãe de Charles estava frequentemente doente quando ele era pequeno, e veio a falecer quando ele tinha 8 anos. No ano seguinte, ele foi enviado para um internato perto de sua casa, em Shrewsbury. Charles Darwin odiava o currículo da escola, que se baseava na memorização. Impaciente com a falta de progresso de Charles, seu pai o tirou da escola e o enviou para a Universidade de Edimburgo, na Escócia, para estudar Medicina, como o seu pai e avô. Quando Charles não demonstrou interesse em se tornar médico, Robert explodiu: “Você não se interessa por nada a não ser caçadas, cães e capturar ratos; você será uma desgraça para si mesmo e para toda a sua família”. Em seguida, Charles foi enviado por seu pai para a Universidade de Cambridge a fim de se preparar para uma carreira na Igreja. Uma paróquia tranquila seria o lugar adequado para perseguir o seu interesse em História Natural. A família Os pais de Darwin representavam a união de duas famílias proeminentes e ricas: os Darwin e os Wedgwood. Apesar de não serem aristocratas, as duas famílias integravam a classe emergente de empresários progressistas e voltados para a tecnologia. As famílias eram ligadas por laços de amizade, negócios e múltiplos casamentos: o pai de Charles, sua irmã e, eventualmente, ele mesmo – todos se casaram dentro da família. A mãe de Charles Darwin, Susannah, era filha de Josiah Wedgwood, fundador da mundialmente famosa cerâmica Wedgwood, da Inglaterra. A moderna fábrica de Wedgwood, Etruria, incluía Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 6 7 Jovem naturalista Um passatempo científico destacou-se dos outros: colecionar besouros. Darwin entrou numa acalorada competição com outro estudante de Cambridge, Charles “Beetles” (besouros) Babington, para saber quem conseguiria primeiro uma nova espécie. Ainda na Universidade de Cambridge, o interesse de Darwin por História Natural tornou-se muito mais do que um simples passatempo. Um círculo de professores ilustres serviu de mentor e de modelo para Darwin. Ele tornou-se o protegido do Reverendo J. S. Henslow, botânico brilhante e carismático. Para ajudá-lo em Geologia, Henslow apresentou Darwin a Adam Sedgwick, um dos mais importantes geólogos da Inglaterra. O Reverendo Sedgwick levou Darwin em uma reveladora expedição de prática geológica pelo País de Gales – uma habilidade que Darwin viria a precisar mais cedo do que imaginava. O BEAGLE – Uma viagem ao redor do mundo Em 1831, Charles Darwin recebia um convite surpreendente: juntar-se à tripulação do HMS Beagle, na função de acompanhante do capitão, em uma viagem ao redor do mundo. Durante a maior parte dos cinco anos seguintes, o Beagle investigou a costa da América do Sul, dando liberdade a Darwin para explorar o continente e as ilhas, inclusive as Galápagos. Ele encheu dúzias de cadernos de anotações com cuidadosas observações geológicas, bem como de animais e plantas, e coletou milhares de espécimes, que encaixotava e enviava para casa para uma análise mais minuciosa. Mais tarde, Darwin disse que a viagem no Beagle havia sido o acontecimento mais importante de sua vida, e declarou: “Ela determinou toda a minha carreira”. “Uma esposa, esse espécime por demais interessante” Depois de aproximadamente um ano em Londres e com 29 anos de idade, Darwin começou a pensar seriamente sobre casamento. Como muitos cientistas ambiciosos, ele estava preso entre a determinação de ser alguém na sua profissão e o desejo de ter uma família. Entretanto, logo propôs casamento àquela que conhecera desde a infância, a sua prima Emma Wedgwood. As duas partes – e as duas famílias – concordaram que formariam o casal perfeito. A previsão tornou-se realidade. Vínculos de real afeto uniram Emma e Charles por toda a vida e formaram uma família cheia de vigor e afeto. Mas, durante os primeiros anos surgiram dois problemas. O ceticismo crescente de Darwin quanto à religião causou uma grande dor a Emma e esta, por sua vez, levou o marido a uma profunda tristeza. Ele passou, então, a Emma Darwin sofrer de ataques cada vez mais sérios e misteriosos de uma doença que o perseguiria por toda a sua vida. LONDRES – A ideia toma forma Meses depois de deixar o convés do Beagle, Darwin estabeleceu-se em Londres, o coração da Inglaterra. Ansioso, agora, para se juntar aos “verdadeiros naturalistas”, Dar win mergulhou no trabalho de redigir a O Beagle pesquisa que realizara durante a viagem no Beagle. Em Londres, juntou brilhantemente as peças de sua teoria da Evolução pela Seleção Natural. Down House – A obra de uma vida Em 1842, Charles Darwin e sua família fugiram de Londres em busca de paz e silêncio. Eles o encontraram em um pequeno vilarejo a 25 quilômetros da cidade, e durante os 40 anos seguintes, essa casa – chamada de “Down House” – foi para Darwin o seu retiro, posto de pesquisa e o centro de sua vasta rede científica. Trabalhando em seu estúdio, estufa e jardim, e correspondendo-se com cientistas do mundo inteiro, pacientemente, Darwin completou o quebra-cabeça da Evolução pela Seleção Natural. Origem das espécies Seção: da exposição “Uma viagem ao redor do mundo” Gradualmente, e após muito tempo dedicado à estruturação de sua teoria, Darwin começou a confiar o seu segredo a alguns amigos íntimos. Era “como confessar um assassinato”, ele escreveu. O cientista tinha a intenção de trabalhar em seu próprio ritmo até que sua teo ria fosse sólida o suficiente para satisfazer seu crítico mais severo – ele mesmo. Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 8 9 biólogo T. H. Huxley anunciou que “estava pronto para ir à fogueira” em defesa de Darwin. Em um espaço de tempo impressionantemente curto, a tempestade amansou – pelo menos para os cientistas. A Evolução pela Seleção Natural tornara-se parte de sua linguagem e a base de seu trabalho científico. O livro A origem das espécies Entretanto, a carta entregue na Down House em junho de 1858, enviada pelo jovem naturalista Alfred Russel Wallace, descrevia uma teoria da Evolução pela Seleção Natural assustadoramente parecida com a do próprio Darwin. Ele estava desconcertado: depois de tantos anos de trabalho e preocupação, uma outra pessoa conseguiria levar o crédito. Ele odiava ser precedido por alguém – e se odiava por importar-se. Os amigos de Darwin, o botânico Joseph Hooker e o geólogo Charles Lyell, entraram em ação. Eles sabiam que Darwin havia escrito um ensaio contendo essas ideias quase 15 anos antes e, por conseguinte, era claro que ele havia sido o primeiro a desenvolver a teoria. Hooker e Lyell conseguiram um acordo: Wallace e Darwin apresentariam documentos sobre a teoria à Sociedade Lineana, em Londres. Wallace estava satisfeito e Darwin, finalmente, decidiu publicar a sua teoria. Em pouco mais de um ano, ele publicaria o seu livro mais importante: A origem das espécies por meio da seleção natural. A obra A origem das espécies causou sensação não somente na Inglaterra, mas no mundo todo. Os políticos faziam discursos, os pastores pregavam sermões, os poetas escreviam poesias. Todos tinham uma opinião. A reação científica era igualmente intensa. Alguns dos mentores de Darwin ficaram chocados ou desdenhosos: o astrônomo John Herschel denominou a seleção natural de “lei da desordem”. Mas muitos jovens a louvaram – o A evolução nos dias de hoje Há um século e meio, Charles Darwin ofereceu ao mundo uma única e simples explicação científica para a diversidade da vida na Terra: a Evolução pela Seleção Natural. A partir de então, inúmeros cientistas – fosse combatendo vírus, decodificando o DNA, ou analisando registros fósseis – descobriram que o trabalho de Darwin era fundamental para o seu próprio trabalho. Como funciona a seleção natural? A seleção natural é um mecanismo por meio do qual as populações se adaptam e evoluem. Essencialmente, trata-se de um simples enunciado a respeito de taxas de reprodução e de mortalidade: aqueles organismos individuais que estão mais bem adequados a um ambiente sobrevivem e se reproduzem com maior sucesso, produzindo descendentes igualmente bem adaptados. Depois de muitos ciclos reprodutivos, os mais adaptados passam a predominar. A natureza encarregou-se de filtrar os indivíduos menos favorecidos e a população evoluiu. V. H. S. T. A. A seleção natural é um mecanismo que provoca, ao longo do tempo, mudanças em populações de seres vivos. Esse mecanismo pode ser decomposto em cinco passos básicos, aqui abreviados como V. H. S. T. A. – Variação, Herança, Seleção, Tempo e Adaptação. Variação e herança Membros de qualquer espécie raramente são exatamente iguais, seja interna ou externamente. Os organismos podem variar em tamanho, coloração, habilidade de combater doenças e em muitas outras características. Frequentemente, essa variação é resultado de mutações aleatórias ou “erros de cópia” que ocorrem quando as células se dividem à medida que novos organismos se desenvolvem. Ao se reproduzirem, os organismos transmitem o próprio DNA – conjunto de instruções codificadas em células vivas para a criação de corpos – para sua prole. E como muitas características são codificadas no DNA, a prole herda essas variações de seus pais. Por exemplo, pessoas altas tendem a ter filhos altos. Seleção: sobrevivência e reprodução Ambientes não podem suportar populações ilimitadas. Como os recursos são limitados, nem todos os organismos que nascem sobrevivem: alguns indivíduos têm maior sucesso em encontrar alimento, acasalar ou evitar predadores, e apresentam uma condição melhor para sobreviverem, reproduzirem e transmitirem seu DNA. Pequenas variações podem influenciar no fato de o indivíduo ser capaz ou não de sobreviver e se reproduzir. Por exemplo, diferenças na coloração ajudam alguns indivíduos a se camuflarem melhor para escapar de predadores. Atobá de pata azul Como sabemos que os seres vivos são aparentados? Um impressionante número de evidências demonstra que todas as espécies são relacionadas – ou seja, todas descendem de um ancestral comum. Há cento e cinquenta anos, Darwin percebeu a evidência desse parentesco em notáveis semelhanças anatômicas entre diversas espécies, fossem vivas ou extintas. Hoje verificamos que a maioria dessas semelhanças – tanto na estrutura física quanto no desenvolvimento embrionário – são expressões de DNA compartilhado: o resultado de uma ancestralidade comum. Tempo e adaptação De geração em geração, características vantajosas ajudam alguns indivíduos a sobreviver e a se reproduzir. E essas características são passadas adiante para um número cada vez maior de descendentes. Depois de apenas algumas ou milhares de gerações, dependendo das circunstâncias, essas características tornam-se comuns na população. O resultado é uma população mais bem adaptada a algum aspecto do ambiente. Pernas, antes usadas para andar, são modificadas e podem ser usadas como asas ou nadadeiras. Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 10 11 Árvore da vida E quanto a nós? A árvore da vida, também chamada de árvore filogenética, é uma ferramenta gráfica que os biólogos usam para retratar as relações evolutivas entre plantas, animais e todas as outras formas de vida. A árvore revela histórias evolutivas: cada ponto de ramificação indica um ancestral comum que se desdobra em dois descendentes. Os seres humanos evoluíram exatamente como todas as outras espécies. Nós, humanos modernos, somos os únicos descendentes remanescentes de uma antiga e variada família de primatas chamada hominídeos. Todos os outros hominídeos estão atualmente extintos. Fósseis e DNA continuam a revelar os detalhes de nossa complexa história evolutiva, que se reporta a milhões de anos e revela que seres humanos e outros primatas existentes compartilham de um ancestral comum. Como todos os outros seres vivos, os seres humanos evoluíram – processo bem documentado no registro fóssil. Em lugares diferentes, em épocas diferentes, grupos de hominídeos antigos adaptaram-se aos seus ambientes e muitos se tornaram espécies distintas – inclusive algumas viveram simultaneamente. A maioria dessas espécies extinguiu-se. Mas uma – os seres humanos atuais, o Homo sapiens – derradeiramente sobreviveu e prosperou. Um mesmo início Quando adultos, porcos, galinhas e peixes paulistinhas são animais bem diferentes. Mas, surpreendentemente, os três são muito semelhantes em seus estágios iniciais de desenvolvimento, e galinhas e porcos ainda mantêm muitas semelhanças até quase nascerem. Como Darwin verificou, essas semelhanças de desenvolvimento indicam uma ancestralidade comum, com animais mais intimamente relacionados seguindo caminhos de desenvolvimento bem semelhantes. Quanto tempo leva a evolução? A evolução não tem um único cronograma. Às vezes, novas espécies ou variedades surgem em questão de anos ou até mesmo dias. Outras vezes, espécies se mantêm estáveis durante longos períodos, apresentando pouca ou nenhuma mudança evolutiva. II.VISITAS FOCADAS A proposta aqui é como um rascunho, um esboço de linhas de rumo com focos potenciais que, como desdobramentos da exposição em sala de aula, abrem possibilidades para impulsionar o desenvolvimento de atividades e projetos. As sugestões aqui colocadas são uma nutrição para a invenção de outros aspectos, ampliados por sua escuta e pela observação sensível dos alunos, parceiros nesta viagem pela experiência científica. Abordagem 1 Contexto histórico: Vida e obra de Charles Darwin Quem foi Charles Darwin? Como era o mundo na época de Darwin? Na Universidade de Cambridge, Darwin conviveu com o Reverendo J. S. Henslow, célebre por suas palestras sobre Botânica e saídas de campo. O fato de acompanhá-lo constantemente fez com que Darwin se tornasse conhecido como “o homem que caminha com Henslow”. Foi ele que lhe apresentou o geólogo Adam Sedwick, com quem viajou em sua primeira expedição pelo país de Gales. Com ele faz uma descoberta: “Eu nunca tinha chegado a perceber profundamente [...] que a ciência consiste em agrupar fatos a partir dos quais são extraídas leis em geral ou conclusões”. O olhar atento para evidências, fatos, pequenos detalhes que Darwin já anunciava em sua infância com os besouros, entre outras coletas, o ajudou durante toda a sua vida, assim como o gosto por caminhar, fizesse sol ou chuva, em Sandwalk, uma alameda dentro de sua propriedade, Down House. Quantas ideias nasceram naqueles passeios? Quantas novas observações? Teria a imaginação nutrido as ideias de Darwin? Antes da visita... algumas sugestões: • Explore com os seus alunos o significado de visitar museus e exposições. Eles já visitaram esses tipos de espaço? Como foi essa visita? • Aborde, por meio de discussões e propostas de pesquisa, diversos temas históricos pertinentes à exposição Darwin, entre eles a estrutura social e política da Inglaterra no século XIX. Instigue os seus alunos a comparar as informações e dados coletados com a estrutura social e política do Brasil desse mesmo período, que foi marcada pela escravidão. • Por Seção: “A evolução hoje” Reprodução do Escritório de Darwin meio de filmes ambientados nessa época, busque, junto aos seus alunos, identificar meios de comunicação, recursos tecnológicos e instrumentos científicos disponíveis e utilizados. Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 12 • Abordagem 2 Explore, por meio de discussões, questões como estas: Já ouviram falar de naturalistas? Quais atividades poderiam definir essa prática? Que papel tem, para um naturalista, a observação, a curiosidade e o registro escrito? O que eles imaginam que fazia um naturalista que viveu no século XIX? • Participe dos encontros de formação e realize uma visita prévia à exposição que lhe permita identificar assuntos, áreas expositivas e objetos nos quais você gostaria de se deter com seus alunos. Durante a visita Percorra as diferentes áreas expositivas e busque responder, junto aos alunos e o monitor, questões como as apresentadas a seguir. • Qual era a relação de Darwin com o ensino formal? • Qual era o contexto familar de Darwin? • 13 Teoria da Evolução de Darwin O que é uma teoria científica? O que é a teoria da Evolução de Darwin? Chame a atenção dos alunos para a eficiência do correio britânico, no século XIX, como principal meio de comunicação e sua relação com o poder do império britânico (onde o sol nunca se põe). Chame, também, a atenção sobre os problemas relacionados, na época, com a mortalidade infantil. Proponha aos seus alunos explorar, nas diferentes áreas expositivas, quais eram os instrumentos científicos usados pelo naturalista. Depois da visita • Darwin ficou conhecido também por sua mania de registros. Que fatos curiosos Dar win registrou sobre a sua vida pessoal e de sua família? Isso nos ajuda a compreender o cientista que ele foi? • Com que objetivo foi realizada a viagem no Beagle? Qual a sua importância para Charles Darwin? • Quais foram as impressões de Darwin sobre o Brasil? • Peça aos seus alunos para relatarem tudo o que julgarem relevante, suas impressões, descobertas, registros, observações e questionamentos. • Lupa de Darwin Proponha uma pesquisa sobre expedições científicas e sobre viajantes ou outros naturalistas que tenham passado pelo Brasil e, de uma forma geral, pela América do Sul. Instigue os seus alunos a procurar imagens e ilustrações sobre estas expedições. Aproveite os materiais coletados para discutir sobre a existência de documentos visuais e apoie-se, para isso, na atividade proposta na seção IV. Tal qual fazem os cientistas quando divulgam suas pesquisas e descobertas, a produção de textos escritos pelos alunos sobre o observado e explorado na exposição pode conjugar o trânsito entre registros individuais, em pequenos grupos ou coletivos. Escolher um momento para a apresentação desses textos possibilita uma nova análise do que foi investigado, revelando indícios do que os alunos percebem que conheceram. No uso cotidiano, a palavra “teoria”, muitas vezes, significa um palpite ou uma adivinhação sem o suporte de evidências. Mas, para os cientistas, uma teoria tem quase o sentido oposto. Uma teoria é uma explicação bem substanciada de um aspecto do mundo natural que incorpora leis, hipóteses e fatos. A teoria da Gravidade, por exemplo, explica por que maçãs caem das árvores e astronautas flutuam no espaço. Da mesma forma, a teoria da Evolução explica a existência de tantas plantas e animais – alguns muito semelhantes e outros muito diferentes – na Terra, tanto agora quanto no passado, conforme é revelado pelo registro fóssil. Uma teoria não somente explica fatos conhecidos, mas também permite aos cientistas fazer previsões do que devem observar se ela for verdadeira. Teorias científicas são testáveis. Novas evidências devem ser compatíveis com uma teoria, do contrário ela é revisada ou rejeitada. Quanto mais tempo os elementos centrais de uma teoria se mantiverem – quanto mais observações ela puder predizer, por quanto mais testes ela conseguir passar, quanto mais fatos ela puder explicar – tanto mais forte será a teoria. A teoria da Evolução, como proposta por Darwin, afirma que toda a vida na Terra está relacionada genealogicamente a partir de uma origem comum e que se diversificou , gradualmente, ao longo destes 4 bilhões de anos, através do processo de seleção natural. Muitos dos avanços da ciência – por exemplo, o desenvolvimento da genética depois da morte de Darwin – expandiram enormemente o pensamento evolutivo. Mas, mesmo com esses novos avanços, a teoria da Evolução ainda persiste até hoje, praticamente da maneira que Darwin a descreveu no início, e é universalmente aceita pelos cientistas. Antes da visita... algumas sugestões: • Explore com os seus alunos o significado de visitar museus e exposições. Eles já visitaram esses tipos de espaço? Como foi essa visita? • Apresente para os alunos as ideias de Charles Darwin e de Jean-Baptiste Lamarck sobre a transmutação das espécies. Utilize, para isso, o texto reflexivo “Serpentes sem patas”, proposto neste mesmo caderno. • Proponha a observação da variabilidade entre indivíduos de uma mesma espécie, como, por exemplo, os alunos da sala de aula. • Realize, junto aos alunos, o levantamento de algumas características como cor dos olhos, cabelo, altura etc.. Busque mapear a origem das mesmas (paternas ou maternas) e proponha uma atividade de reflexão sobre a herança destas características. • Apresente, para os alunos, a teoria da Evolução por Seleção Natural, apoiando-se no texto introdutório contido neste caderno. • Participe dos encontros de formação e realize uma visita prévia à exposição que lhe permita identificar assuntos, áreas expositivas e objetos nos quais você gostaria de se deter com seus alunos. Durante a visita Percorra as diferentes áreas expositivas e busque responder, junto aos seus alunos e ao monitor, questões como as apresentadas a seguir: • Como era vista a diversidade biológica antes de Darwin? E quanto aos seres humanos? Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 14 15 • Quais foram as pistas que Darwin percebeu em sua viagem no Beagle, levando-o derradeiramente à ideia de que todas as espécies são, de fato, aparentadas? • Que ideias Darwin expressa através do esboço de sua árvore genealógica, desenhada em 1837, depois de sua volta à Inglaterra? • Como foi a reação à publicação do A origem das espécies? Chame a atenção dos alunos para o livro de notas B, peça da exposição, que está aberto na página onde, no topo, Darwin escreveu: “I think” (eu penso), e depois desenhou a árvore genealógica da vida. Mostrando aos alunos este desenho, qual a leitura que eles fazem desse pensamento visual de Darwin para representar a descendência evolutiva? Depois da visita • Peça para seus alunos relatarem tudo o que jul- garem relevante, suas impressões, descobertas, registros, observações e questionamentos. com eles, a atividade O que essas imagens sugerem sobre a linhagem evolutiva do ser humano? proposta na seção IV. III. textos reflexivos Texto 1 - Serpentes sem patas Jean-Baptiste Lamarck tinha 65 anos quando Charles Darwin nasceu, em 1809. Lamarck refutava as ideias criacionistas e fixistas da época, afirmando que todas as espécies, inclusive o homem, descendiam de espécies diferentes, preexistentes (exceto pelas espécies mais simples, os infusória, que surgiriam por geração espontânea). Ele acreditava que características adquiridas pelo uso ou desuso de órgãos seriam transmitidas aos descendentes, produzindo mudanças ao longo do tempo. Serpente Acompanhe o texto a seguir e explore as proximidades e distanciamentos entre as ideias de Lamarck e aquelas propostas por Darwin. • Realize, • Proponha a cada um que escreva o seu próprio mito de criação do Universo e dos seres vivos. Como é que os relatos míticos se relacionam com a observação do real? Como se comportam diante de contradições? Quais os seus compromissos com a realidade? • Busque explorar com eles como é que os relatos míticos diferem de uma teoria científica como a teoria da Evolução. Livro de notas B D e acordo com o lamarckismo, as serpentes não possuem membros locomotores, pois a adaptação de seus ancestrais a um modo de vida rastejante trouxe como consequência o pouco uso das pernas. Estas foram se atrofiando devido ao pouco uso (lei do uso e do desuso) e, depois, os descendentes herdaram pernas cada vez mais atrofiadas (lei da transmissão de caracteres adquiridos). Ao longo de gerações, ocorreu o desaparecimento completo das pernas nas serpentes. Darwin também aceitava que caracteres adquiridos pudessem ser transmitidos às futuras gerações, mas tentava aplicar o princípio da seleção para o maior número possível de fenômenos observados. A maior diferença entre as teorias destes dois naturalistas, na verdade, reside no fato de que, para Lamarck, haveria uma ordem linear e crescente entre os seres vivos, do mais simples ao mais complexo (que para ele seria o ser humano). Esta visão linear é conhecida como Scala Naturae. Para Darwin, como sabemos, a relação entre as espécies é divergente, como expressa na árvore genealógica. A relação entre as espécies atuais está no passado, no compartilhar de ancestrais mais ou menos remotos no tempo. O grande mérito de Lamarck foi ter desenvolvido uma teoria evolucionista para explicar o surgimento de novas espécies a partir das já existentes. Em 1861, o próprio Darwin escreveu sobre Lamarck: “Esse tão justamente celebrado naturalista foi o primeiro a Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 16 17 prestar o eminente serviço de chamar atenção sobre a possibilidade de todas as mudanças do mundo orgânico, e mesmo do inorgânico, serem resultado de leis naturais, e não de interferências milagrosas”. O darwinismo, como ficou conhecida a teoria evolucionista de Charles Darwin, explica a evolução biológica a partir de fenômenos e processos que podem ser observados cotidianamente. A teoria se apoia em algumas ideias básicas. A cada geração morre um grande número de indivíduos que não deixam descendentes. Os indivíduos que se reproduzem a cada geração são, em sua maioria, aqueles que estão mais adaptados às condições ambientais (seleção natural ou sobrevivência dos mais aptos). Esses indivíduos que sobrevivem e se reproduzem tendem a transmitir aos descendentes as características relacionadas a essa adaptação. Ao longo de gerações, a seleção natural favorece a permanência e o aprimoramento das características relacionadas à adaptação. Segundo a sua teoria da Seleção Natural, a ausência de patas nas serpentes traria vantagem adaptativa aos indivíduos que se locomoveriam, alimentariam e reproduziriam, provavelmente, de forma mais eficiente que os indivíduos que tivessem que arrastar membros em uma forma de locomoção pouco eficiente. Desta forma, ao longo de muito tempo, essa característica (ausência de patas) seria selecionada, tornando-se predominante nas populações. Darwin, observando padrões da natureza, supôs que os fatores alimento e espaço controlariam o tamanho das populações, sobrevivendo apenas os mais aptos, num processo de seleção natural. Com base na leitura do texto acima e dos materiais e textos explorados na exposição, busque responder com seus alunos perguntas como as propostas a seguir. • Lamarck baseou sua teoria na ideia de que caracteres adquiridos ao longo da vida de um ser poderiam ser transmitidos a seus descendentes. De acordo com os conhecimentos científicos atuais, essa ideia é verdadeira ou falsa? • Qual foi a contribuição de Lamarck para as ideias que Darwin desenvolveu em seu trabalho científico? Texto 2 - Árvore da vida Diversidade e sustentabilidade Para Lamarck, imerso no mundo da Grande Corrente dos Seres, a complexidade dos seres vivos se organizaria em uma longa série linear, progressiva, do mais simples ao mais complexo (o ser humano). Para Darwin, com sua visão divergente (daí a analogia com a árvore), isso não fazia sentido. A partir de questões como essas, diferentes aspectos da diversidade e sustentabilidade podem ser abordados. Acompanhe alguns trechos escritos por pesquisadores contemporâneos que podem ajudá-lo a aprofundar essas reflexões. A lém disso, ao propor um modelo divergente sobre a distribuição da complexidade na vida na Terra, Darwin põe fim à ideia de que somos superiores e de que as demais espécies do planeta existem para nosso desfrute. Ele diz, ao contrário, que todas as espécies viventes que compartilham conosco esse planeta são, na verdade, as espécies mais evoluídas de sua linhagem, e somos todos parentes, em maior ou menor grau de relação. Se considerarmos que a existência de nossa espécie, e de todas as demais, é resultado deste longuíssimo processo de coevolução da vida no planeta, poderemos tratar da questão da biodiversidade de maneira mais séria. Nossa espécie surgiu sob determinadas condições, sob as regras do acaso e da necessidade, em coevolução com um conjunto de outras espécies, muitas ainda desconhecidas. Existe futuro para o Homo sapiens em um cenário inteiramente distinto? Qual seria? Por outro lado, o princípio da divergência leva-nos a pensar sobre a própria diversidade dentro da nossa espécie. Quando diz que o ambiente poderá suportar um número maior de indivíduos de uma mesma espécie se esses diversificarem seus hábitos, parece que Darwin está mesmo querendo participar do debate contemporâneo sobre a crise ambiental e cultural que vivemos. Se seguirmos a lógica do princípio da divergência, os modelos alternativos de cultura e desenvolvimento das diversas sociedades devem ser mais que nunca respeitados e valorizados. Não como exemplares de um passado superado ou extinto, mas como práticas e modos de vida que devem ser estimulados por serem formas vivas alternativas de relação do ser humano com a natureza. Formas que enriquecem o nosso repertório de sobrevivência e ajudam-nos aumentando as possibilidades de nossa espécie continuar existindo. Como acomodar mais de seis bilhões de seres humanos neste planeta?2 (LANDIM, Maria Isabel; MOREIRA, Cristiano, 2009.) Microscópio de Darwin Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 18 19 O desenvolvimento sustentável não existe. É um processo em construção teórica e histórica. Estamos diante de um desafio de algo novo e muito importante no pensamento e história social humana. As fronteiras espaciais da história dilataram-se até abranger todo o planeta. Este processo trouxe consigo a necessidade de ampliar largamente, também, as fronteiras do tempo na história. O conceito de desenvolvimento sustentável é totalmente impregnado de uma expansão nas fronteiras do tempo que nos importa. Sustentabilidade, por exemplo, refere-se às gerações do futuro, mesmo distante. [...] No século XXI, ao contrário do fim da história, a humanidade vai tentar passar da adolescência para a maturidade. Darwin, ajudando-nos a compreender quem somos e o mundo em que vivemos, ajuda-nos também a fazer melhores escolhas sobre quem nos tornaremos.3 (BESSERMAN, Sérgio, 2009.) Com base na leitura dos textos e das informações coletadas na visita à exposição, proponha debates em sala de aula a partir de questões como: • Quais ideias ou noções de biodiversidade permeiam o imaginário dos alunos? Elas dialogam com a questão da diversidade cultural? Como será que evolui a cultura? Reflita, por exemplo, sobre o uso de gírias. •A distribuição geográfica foi um fator-chave para Darwin compreender a evolução da diversidade biológica. Populações isoladas por um tempo suficientemente grande acabam se tornando novas espécies. Isso acontece com a cultura também? • Que relações podem ser estabelecidas entre biodiversidade e desenvolvimento sustentável? • De que forma as contribuições de Darwin nos ajudam, hoje, a compreender a noção de biodiversidade e desenvolvimento sustentável? Texto 3 - A graça de um conto, para levar a sério uma teoria Leem-se de um fôlego, e com um sorriso permanente nos lábios, este e os outros contos que compõem a obra As cosmicômicas, de Italo Calvino: O s primeiros vertebrados, que no Carbonífero deixaram a vida aquática pela vida terrestre, derivavam dos peixes ósseos pulmonados, cujas nadadeiras podiam ser roladas sob o corpo e usadas como patas sobre a terra. Agora já estava claro que os tempos aquáticos haviam terminado, recordou o velho Qfwfq, e aqueles que se decidiam a dar o grande passo eram sempre em número maior, não havendo família que não tivesse algum dos seus entes queridos lá no seco; todos contavam coisas extraordinárias sobre o que se podia fazer em terra firme, e chamavam os parentes. Então, os peixes jovens, já não era mais possível segurá-los; agitavam as nadadeiras nas margens lodosas para ver se funcionavam como patas, como haviam conseguido fazer os mais dotados. Mas precisamente naqueles tempos se acentuavam as diferenças entre nós: existia a família que vivia em terra havia várias gerações e cujos jovens ostentavam maneiras que já não eram de anfíbios, mas quase de répteis; e existiam aqueles que ainda insistiam em bancar o peixe e assim se tornavam ainda mais peixes do que quando se usava ser peixe. Nossa família, devo dizer, a começar pelos avós, esperneava pela praia au grand complet, como se não tivéssemos jamais conhecido outra vocação. Não fosse por obstinação de nosso tio-avô N’ba N’ga, os contatos com o mundo aquático havia muito já se tinham perdido. [...] Vai daí que esse tio-avô morava em certas águas baixas e lodosas, entre raízes de protoconíferas, naquele braço de lagoa onde haviam nascido todos os nossos ancestrais. [...] Visitávamos o tio uma vez por ano, a família toda junta. Era igualmente uma oportunidade pra nos reunirmos, espalhados como estávamos pelo continente, e trocar nossas novidades e insetos comestíveis, e discutir velhos assuntos de interesse que permaneciam em suspenso. [...] Tentativas de levá-lo para a terra conosco, já havíamos feito várias e continuávamos a fazer; também, a esse respeito, jamais se haviam serenado as rivalidades entre os vários ramos da família, porquanto quem conseguisse levar o tio para casa iria se encontrar numa posição, digamos, proeminente em relação à parentada toda. Mas era uma rivalidade inútil, porque o tio nem sonhava abandonar a lagoa. [...] As terras emersas, segundo o tio, eram um fenômeno limitado: iriam desaparecer assim como vieram à tona, ou, de qualquer forma, ficariam sujeitas a mutações contínuas: vulcões, glaciações, terremotos, enrugamentos do terreno, mutações de clima e de vegetação. E nossa vida nesse meio devia enfrentar transformações contínuas, mediante as quais populações inteiras iriam desaparecer, e só haveria de sobreviver quem estivesse disposto a modificar de tal forma a base de sua existência, que as razões anteriormente possíveis de tornar a vida bela de viver seriam completamente transtornadas e esquecidas. [...] Continuei meu caminho, em meio às transformações do mundo, eu próprio me transformando. Vez por outra, entre as variadas formas dos seres vivos, encontrava um Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 20 21 que era “mais alguém” do que eu: um que prenunciava o futuro, o ornitorrinco que amamentava o filhote saído do ovo, a girafa esgalgada em meio à vegetação ainda baixa; ou outro que testemunhava um passado sem retorno, um dinossauro sobrevivente depois de haver começado o Cenozoico, ou então – crocodilo – um passado que havia encontrado um modo de conservar-se imóvel pelos séculos. [...] 4(CALVINO, Italo, 1992) Após leitura do conto para os alunos, explore questões como as apresentadas a seguir. • Que relações eles estabelecem entre a epígrafe • Que efeito a leitura do conto “O Tio Aquático”, • de Italo Calvino, pode provocar nos alunos? de natureza científica e a narrativa do conto? O conto estimula os alunos a fazer perguntas sobre o tempo evolutivo? De que ponto de vista? IV. orientações para atividades Com qual parente você se parece? Foco: seleção natural — hereditariedade Em suas pesquisas, Darwin compreendeu uma poderosa verdade: que a semelhança física pode ser uma pista para a descendência comum. Combine um dia para que seus alunos apresentem algumas evidências de semelhança física buscando fotos de seus parentes. O que eles descobrem? Com as evidências encontradas, pode ser formatado um pequeno jornal para ser distribuído entre os familiares e outros colegas da escola, divulgando o que sabem sobre o conceito de hereditariedade. Charles Darwin (esq.) e seu pai Robert (dir.) Como surgem novas raças de cães? Foco: seleção artificial – hereditariedade Darwin percebeu que a domesticação de animais e plantas realizada pelo seres humanos nada mais era do que um processo seletivo. A diferença fundamental é que na domesticação, características que não teriam sucesso no ambiente natural sobrevivem sob os cuidados domésticos. Divida a turma em grupos e proponha que cada grupo pesquise a origem de uma determinada raça canina. Explore a procedência e a origem genealógica (de quais cruzamentos elas se originaram) e quais as características que foram selecionadas para cada raça. Explore tam- bém o surgimento de complicações devidas ao endocruzamento (doenças características de determinadas raças). Existem documentos visuais? Foco: os artistas-viajantes e as expedições Entre os livros que fizeram parte da Biblioteca do HSM Beagle, a narrativa pessoal do naturalista alemão Alexander Von Humbold (1769-1859) ampliou a percepção de Darwin sobre as expedições científicas. Em todas elas, em todos os tempos e lugares, uma equipe interdisciplinar era composta para aproveitar toda a potencialidade de cada viagem. Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 22 Conrad Martens (1801-1878) foi um desses artistas viajantes que conviveu com Darwin no Beagle. Johan Moritz Rugendas (18021858) participou como desenhista na expedição científica de 1821 do Barão Langsdorf e continuou trabalhando, depois, no Brasil. São conhecidas as suas litografias publicadas em 1835 sob o título Viagem pitoresca ao Brasil, com texto em francês e alemão. Thomas Ender (1793 - 1875) integrou a missão austríaca que veio ao Brasil acompanhando a princesa real e futura imperatriz Leopoldina. Emeric Essex Vidal (1791-1861) entrou como voluntário num navio britânico trabalhando como desenhista e aquarelista. Pode-se destacar, também, Maria Graham 23 (1785-1842), depois também conhecida como Maria Callcott. Ela viu morrer seu marido capitão no Chile e lá ficou, registrando também os terremotos que presenciou. Esteve no Brasil como preceptora da princesa Maria da Glória, filha de D. Pedro I, além de amiga do soberano e da imperatriz Leopoldina. Em 1835, já na Inglaterra, participou de um grande debate na Sociedade de Geologia, contando com o apoio de Charles Darwin. Podemos considerar esses desenhos, aquarelas e pinturas como documentos visuais? Ainda hoje, mesmo com o advento da tecnologia, há também artistas que registram a história presente? Ou há artistas que criam imagens para dar suporte à ciência? Scala naturae Evolução humana a possibilidade de desenvolver um debate cercando questões como: encontrados inquietam muitos cientistas contemporâneos. Todos os anos os cientistas estudam os vírus da gripe do mundo todo para prever de que maneira eles podem evoluir. Vacinas são projetadas para ajudar o sistema imunológico do corpo a se defender das variedades mais perigosas, mas apenas podem combater algumas variedades de gripe; outras sobrevivem, se reproduzem e evoluem. Por que a teoria da Seleção Natural de Dar win fundamenta estes cientistas contemporâneos? O que os alunos poderiam pesquisar sobre as vacinas e a criação de anticorpos? • Por que a imagem da Scala naturae não apre- senta conceitualmente o pensamento de Darwin sobre a evolução humana? • De acordo com a teoria evolutiva de Darwin, a evolução ocorre pelo processo de seleção natural. Por que o conceito de evolução não significa a mesma coisa que progresso? •Considerando a teoria darwinista da evolução, por que é errado dizer que os seres humanos são descendentes dos macacos? O Beagle no rio Santa Cruz, gravura de Conrad Martens O que essas imagens sugerem sobre a linhagem evolutiva do ser humano? Foco: cultura visual Os alunos conhecem as imagens da próxima página? Para eles, como elas mostram a evolução humana? Qual a diferença entre ambas? Essas imagens fazem parte da nossa cultura visual e são amplamente divulgadas nos veículos de comunicação de massa, sejam revistas, jornais ou propagandas. Como textos visuais, apresentam a imagem da Scala naturae que enfatiza uma ideia de evolução humana pela classificação, em ordem crescente de complexidade, de seres “inferiores” a “superiores”. Essa maneira de apresentar a evolução dos seres humanos contém implicitamente a ideia de progresso e aperfeiçoamento; ou seja, para nós, humanos, existe uma certa escala natural (Scala naturae) na qual o ser humano ocupa o topo da evolução, acima de todos os outros seres viventes. A observação dessas imagens em comparação com a árvore genealógica da vida desenhada por Darwin no caderno de anotações e sua teoria da Evolução por Seleção Natural oferece Do ponto de vista biológico, o que é adaptação? Uma Feira de Ciências pode vir a ser uma Exposição de Ciências? Ao andarmos pela cidade, nos deparamos com um grande número de pombas vivendo em ninhos nas marquises de edifícios, garças às margens de rios poluídos e abelhas em colmeias em armazéns no cais do porto. Como esses seres conseguem permanecer vivos longe da natureza e da sua cadeia alimentar? Se eles conseguem se adaptar, por que há outros que não o fazem? Quais descobertas Darwin faz por meio de suas observações que o levam a desenvolver o conceito de adaptação do ponto de vista biológico? Como os cientistas usam a teoria da Seleção Natural para projetar antibióticos e vacinas? A decodificação do DNA, a luta contra os vírus, a análise de fósseis que continuam a ser Na exposição Darwin, o paleontólogo do Museu de História Natural de Nova Iorque, Niles Eldredge realizou uma curadoria ao selecionar os objetos, artefatos e o modo de exibição no espaço expositivo para mostrar a trajetória e as ideias do naturalista inglês. Ousando transformar a tradicional Feira de Ciências em uma exposição científica, qual seria o assunto do discurso expositivo? Como seria a curadoria? Qual espaço da escola acolheria a exposição? Como os objetos seriam expostos? Haveria etiquetas com legenda para os objetos, textos de parede com pequenas explicações? Qual seria o nome da exposição? Foco: Feira de Ciências Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 24 V. sugestões de sites e livros 25 Anotações pessoais Sites sugeridos Blogs sobre Ciências: http//scienceblogs.com.br CAMINHOS DE DARWIN – www.casadaciencia.ufrj.br/caminhosdedarwin DARWIN BRASIL – Website interativo da exposição. www.darwinbrasil.com.br DARWIN, CHARLES – www.aboutdarwin.com/index.html FUNDAÇÃO CHARLES DARWIN – www.darwinfoundation.org MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL DE NOVA YORK – www.amnh.org/home/ O BRASIL NO SÉCULO DE DARWIN. MASP – http://masp.uol.com.br/exposicoes/2007/brasil-darwin/ OS PINTORES VIAJANTES – www.areliquia.com.br/Artigos%20Anteriores/46PintorV.htm Livros sugeridos • • BIZZO, Nélio. Do telhado das Américas à teoria da Evolução. São Paulo: Odysseus Ed., 2002. BROWNE, Janet. Livros que mudaram o mundo: A origem das espécies. Rio de Janeiro. Jorge Zahar editora, 2007. • BURKHARDT, Frederick (ed.). As cartas de Charles Darwin: uma seleta, 1825-1859. São Paulo: Ed. Unesp, 2000. • DAWKINS, Richard. O gene egoísta. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2001. • • • DESMOND, Adrian; MOORE, James. Darwin: a vida de um evolucionista atormentado. São Paulo: Geração Editorial, 2000. KEYNES, Richard. Darwin a bordo do Beagle. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2004. LANDIM, Maria Isabel; MOREIRA, Cristiano (orgs). Charles Darwin em um futuro não tão distante. Instituto Sangari, São Paulo, 2009. • LEITE, Marcelo. Folha explica: Darwin. Publifolha, São Paulo, 2009. • MEYER, Diogo; EL-HANI, Charbel Niño. Evolução: o sentido da Biologia. São Paulo: Ed. Unesp, 2005. • SOUZA, Sandro. A goleada de Darwin. Ed. Record, Rio de Janeiro, 2009. • STEFOFF, Rebecca. Charles Darwin, a revolução da revolução. São Paulo: Cia das Letras, 2007. • TORT, Patrick. Darwin e a ciência da evolução. São Paulo: Objetiva, 2004. Notas: [1] DARWIN, Charles. A origem das espécies. Texto-parede. Exposição Darwin. Masp – Museu de Arte de São Paulo, 3 de maio a 15 de julho de 2007. [2] LANDIM, Isabel; MOREIRA, Cristiano. “Duzentos anos de Charles Darwin: de onde partimos e aonde queremos chegar”. In.: Charles Darwin em um futuro não tão distante. Instituto Sangari, São Paulo, 2009. [3] BESSERMAN, Sergio. “Darwin e a consciência no século XXI”. In.: Charles Darwin em um futuro não tão distante. Instituto Sangari, São Paulo, 2009. [4] CALVINO, Italo. “O tio aquático”. In.: As cosmicômicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 71-83. Publicado pela primeira vez em 1965. Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 26 27 Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo 28 Créditos Espírito Santo Conselho Administrativo Ben Sangari Presidente John George de Carle Gottheiner Secretário Cristiane Almeida Tesoureira Niles Eldredge Curador - American Museum of Natural History Maria Isabel Landim e Cristiano Moreira Assessoria Cientifica e recorte curatorial no Brasil Bianca Penna Moreira Rinzler Supervisão Geral Cacá Monteiro Gerência de Projetos Culturais Corpo Diretivo Bianca Penna Moreira Rinzler Diretora Executiva Juliana Estefano Gerência de Relacionamento Ana Rosa Abreu Diretora Educacional Programa Educativo Julio Jacobo Waiselfisz Diretor de Pesquisas Ana Maria Navas Maria Isabel Landim Cristiano Moreira Mirian Celeste Martins Gisa Picosque Criação e Desenvolvimento de Conteúdo Maria Aparecida Forli Gerente Administrativo Financeira Juliana Estefano Gerente de Relacionamento Cacá Monteiro Gerente de Projetos Culturais Arlita McNamee Nayana Brasil Coordenadoras de Projetos Ana Maria Navas Sueli Cegantin Programa Educativo Leslie Arias Comunicação e Marketing Pedro Mazzuchelli Fernanda Roisenberg Design Elissa Khoury Daher Coordenação de Edição Globaltec Artes Gráficas Preparação e revisão Pedro Mazzuchelli Diagramação FOTOS Museu de História Natural de Nova York Casa14 Copyright © 2009 Instituto Sangari Patrícia Gonçalves Gustavo Garde Luiz Gallo Conteúdo e Imprensa Descubra o homem e a teoria revolucionária que mudou o mundo Apresentado por: Realização: Apoio Educacional: Apoio Regional: Apoio: UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO Museu de ciências da terra Darwin foi originalmente concebido pelo American Museum of Natural History, New York, com a colaboração do Museum of Science, Boston; The Field Museum, Chicago; The Royal Ontario Museum, Toronto e Natural History Museum, London.