Examinado teoricamente, o problema da Argentina consistia em
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Examinado teoricamente, o problema da Argentina consistia em
— 202 — Examinado teoricamente, o problema da Argentina consistia em mobilizar seu exército, reuni-lo em lugar adequado, associarlhe as forças orientais previamente organizadas e depois operar contra nós consoante um plano de manobra antecipadamente elaborado. É claro que não poderiam esquecer-se as medidas de cobertura. Mas 'como proceder com essa regularidade teórica nas condições em que ela se encontrava? Km primeiro lugar, pode-se-dizei* que a verdadeira Argentina ainda não existia, pois que a: reunião das províncias do Prata era. apenas uma coligação momentânea contra o Brasil. Depois, como não possuía serviço obrigatório, a mobilização tinha de ser irregular e tumultuaria. A reunião também hão era fácil, pois devia assentar num plano de guerra, de que com certeza ninguém.tinha cogitado. Não havendo exército da República, também não poderia existir estadomaior que lhe provesse às necessidades. E, o que é ainda mais grave, o exército nacional via-se na obrigação de incorporar ;i seu seio as tropas de Lavalleja, congregadas à última hora, a que de certo não faltava patriotismo, mas que não possuíam nem os quadros, nem o tirocínio de Iropas regulares. Tudo tinha de ser fruto obrigado de uma rápida improvisação. r Restava ainda uma questão delicada: a do comando tia massa combatente. *Quem deveria ser o general em chefe? Os argentinos não admitiam discussões nesse terreno. As Províncias Unidas eram o todo, a Cisplatina apenas uma parte. •Logo: tocaria às tropas desta juntarem-se às daquelas como fraeão subordinada. Por isso nomearam logo Martim Rodrigues chefe militar das províncias de Entre Rios, Corrienies, Missões e Estado Oriental. Há, porém, quem afirme que Lavalleja sonhou com a supre.ma investidura. Baldricb acusa-o severamente de tergiversação, deslealdade e desobediência (como no caso do ataque à Colónia, de combinação com Brown). Intimado pelo general Martim Rodrigues, informa o mesmo autor, para reunir suas forças às do exército nacional,* obedeceu apenas em parte, de visível má vontade e em contradição flagrante com suas declarações de obediência. Agravava esta situação o estado de latente rivalidade entre êíe e Rivera. Sabemos que Lavalleja fora subordinado de Rivera no Regimento de Dragões da União e sempre estivera em plano inferior na jerarquia do comando. Com a sublevação dos .33. a que Rivera foi estranho, Lavalleja alçou-se merecida e naturalmente ao pináculo do mando. Rivera aderiu, foi brin- — 203-— •dado com o título de inspetor de armas, mas guardou porventura a mágoa daquele golpe com que a fortuna injustamente o castigava. Além disso, não faltou quem o suspeitasse de inteligência com os brasileiros, para trair a Pátria. Segundo o mesmo Baldrich, ele também aproveitara habilmente a atitude de Lavalleja para insinuar-se no espírito do general Martim Rodrigues e ganhar-lhe a confiança. A verdade é que este general o empregou em operações contra nós, em 1826, como veremos em breve. Mais tarde, porém. Rivera perdeu-lhe de todo a confiança e resolveu dirigir-se a Buenos Aires. Ao que declara Baldrich, seus partidários praticaram atos de hostilidade contra os argentinos; seu irmão Barnabé Rivera revoltou-se, abandonando o posto de cobertura que ]he haviam confiado; proceder idêntico tiveram os majores Ranà e Araucho. O mesmo Barnabé apoderou-se das cavalhadas do exército, enquanto outra partida tinha a ousadia de saquear as carretas que conduziam a bagagem do general Martim Rodrigues e de seu chefe de Estado-Maior. Complicavam a situação as deserções frequentes que se notavam na tropa. Parece fora de dúvida ter "havido nesse comenos sintomas irrefragáveis de indisciplina e desordem nas hostes coletícias dos orientais. Clemente Fregeiro, escritor honesto e ciente, afirma '"que foi necessário retirar o exército do povo de Durazno para sufocar a rebelião iniciada pelos amigos e partidários do general Rivera. os quais, mal aconselhados e ainda pior inspirados em circunstâncias tão supremas para a República, não vacilaram um instante em promovei' e suscitar conflitos, que, no melhor dos -casos, poriam de novo em problema a liberdade da Província Oriental" (1). Em vista desse estado de cousas, percebem-se facilmente as graves dificuldades que se antolhavam ao general argentino. Não admira, pois, a lentidão de seus preparativos e por fim o desânimo que o invadiu e levou a solicitar dispensa do cargo de comandante em chefe, alegando, além do mais. seu precário estado de saúde. O governo deu-lhe como substituto o general Carlos Maria de Alvear, que exercia o cargo de ministro da guerra (14 •de agosto de 1826). Pouco tempo depois fl.° de setembro) Alvear assumia as funções de comandante em chefe no acampamento de Durazno. Foi seu primeiro cuidado restabelecer a disciplina, compelindo -os díscolos à obediência, e amalgamar os elementos combatentes Q) La batalha ilr, Ititzaingó — pág. 100. 204 da Argentina e da Província Oriental. Conta-se que intimou Lavalleja a qué se pusesse lealmente às suas ordens, dentro de 24 horas, e finalizou dizendo-lhe: "Se o Senhor, general, não obedece, marcho, imediatamente ao quartel-general do Arroio Grande e repasso sem demora o Uruguai, resolução para que estou autorizado, deixando aos orientais que se harmonizem como possam com os brasileiros e riveristas". Obedecido, marchou contra Barnabé Rivera, que aprisionou no passo dos Toros. Meteu então ombros à tarefa de concentrar os elementos indispensáveis à campanha, e fê-lo com tal energia e atividade, que, no~~dia 26 de dezembro de 1826, estava pronto para.abalar do acampamento do Arroio Grande em busca do inimigo. . Verifica-se ^destarte, conforme já disse, que as Províncias Unidas dispenderam mais de um ano no recrutamento, organização e instrução do exército de uns 12.000 homens, que moveram oontra nossa * fronteira em princípios de 1*827. Não preciso insistir nas causas determinantes dessa, demora, que, afinal, são quase as mesmas que farão o Brasil proceder de modo idêntico. Após o recontro de Sarandí, dissemos que o coronel Bento Manuel Ribeiro retirou com uma fraçao dos combatentes, juntamente com o tenente-coronel Bento Gonçalves, até o passo do Pereira, no rio Negro; daí seguiu para Santana do Livramento, depois de encaminhar Bento Gonçalves para o Cerrito de Jaguarão, com as praças de Cêrro-Largo, o regimento de milícias do Rio Grande e algumas praças vindas de Montevideu. * A notícia do desastre de Sarandí ecoou tristemente no Rio Grande do Sul. Pressentiu-se o perigo do movimento insurreeional uruguaio, ante a amplidão da fronteira e a míngua de combatentes para a defender. As melhores tropas estavam com Lecor, em Montevideu e Maldonado, e tinham partido com o comandante das armas, general Abreu. Se este havia sido rechaçado e regressava à fronteira desfeito, abria-se uma crise que •só com o tempo se poderia vencer. O Visconde de S. Leopoldo, presidente do Rio Grande do Sul, mediu, sem detença, a grandeza do perigo e buscou meios de o anteparar, ignorava o paradeiro de Abreu, de que não havia informes precisos; corriam vozes que ule descera pelo rio Negro e depois pelo Uruguai, no intuito d« regressar por mar ao Rio Grande. Eram, sem dúvida, notícias alarmantes, mas próprias a caracterizar o estado dos espíritos naquele momento. O Visconde chamou a si a direção militar; dividiu a fronteira em dois trechos: do mar a Bagé e da margem do rio Negro ao Uruguai. Confiou o comando do primeiro a<f — 205 — marechal Correia da Câmara e o do segundo ao brigadeiro Sebastião Barreto Pinto (3 e 6 de novembro de 1825). Só em meados deste mês reapareceu o general Abreu e reassumiu as funções de seu cargo. De S. Gabriel escreveu ao presidente da Província (13 de novembro) participando-lhe estarna fronteira das Missões o coronel Palmeiro com mais de 400 homens, acampado na barra do Ibicuí e vigiando a barra do Uruguai até Santo Angelo, enquanto da referida barra para baixo cruzavam pequenas partidas nos passos de Santana, Tucumbu e Belém; ter posto o coronel Bento Manuel Ribeiro, com 800, na es'ância do Tenente Batista, à margem do Quaraí, e haver dirigido o coronel Joaquim José da Silva, que encontrara em caminho, para a estância de Ricardo José de Magalhães no mesmo rio Quaraí. E acrescentava ter determinado aos dois últimos coronéis conservassem patrulhas na costa do Arapeí. Meditando sobre a carta, compreenderá o leitor que a ideia de Abreu com suas medidas de cobertura era em resumo vigiar o Uruguai e resguardar-se com o Quaraí, destacando patrulhas de exploração até o rio Arapeí. Pouco se sabe das precauções tomadas no outro extremo da fronteira, para onde se havia retirado Bento Gonçalves, por ordem do próprio Abreu. Tínhamos com certeza uma guarda no forte de Santa Teresa e um destacamento no Chuí, e sem dúvida, forças em Jaguarão; o rio deste nome servia-nos provavelmente de linha de defesa. Como era natural, os orientais atacaram sem demora o extremo meridional da fronteira, que era o que lhes ficava mais próximo. A 31 de dezembro ainda do mesmo ano de 1825. o coronel Leonardo Oliveira surpreendeu a guarda brasileira de Santa Teresa, comandada pelo alferes Joaquim de Oliveira e apossou-se do forte; a seguir atacou o destacamento do Chuí, a cuja testa se encontrava o major Inácio José Cabral da Costa, e o desbaratou. Ressalta do exposto que os orientais dominavam por com.pleto toda a campanha da Cisplatina, ao sul de uma linha que seguisse o álveo do Quaraim até as suas cabeceiras, depois alcançasse o Jaguarão e descesse por êle. Nada, portanto, mais .fácil do que a reunião do exército argentino. • Seria de grande interesse miliíar saberem-se as medidas de cobertura que êle tomou, enquanto esleve na margem esquerda do Uruguai e depois que se trasladou para o território cisplatino. Encontravamo-nos demasiado próximos dele, para que se não .previssem medidas de precaução. Só a fraqueza numérica dos 206 — contingentes brasileiros ou, quiçá, a incapacidade estratégica cí<: seu chefe, explica não termos operado ofensivamente para lá da linha do Arapeí, ao menos até Salto, na esperança de embaraçar a passagem do inimigo pelo Uruguai e de perturbar-lhe as comunicações. A verdade incontrastável é que ficamos na defensiva estratégica, limitando-nos a repelir as incursões do adversário. Durante o comando do General Martim Rodrigues êle nos faz algumas, aliás, sem nenhuma importância. Assim é que, em maio de 1827, o general argentino confia a Rivera a missão de romper a nossa cobertura no Quaraí e atacar a força de Bento Manuel Ribeiro. Rivera move-se com cerca de 1.000 homens, levando como sub-chefe Oribe e Servando Gomes; acomete a^ guardas do Arapeí, mas, segundo Baldrich, pratica o erro ou a indignidade de não prosseguir na operação. Faz ainda mais. declara o mesmo autor; facilita a fuga de um recente prisioneiro brasileiro, por nome André Soares, que sem demora vai participar a Bento Manuel, na margem do Quaraim, as intenções do adversário. "Rivera —*• lê-se em Baldrich — haciendo más vituperabUó sospechosa su condueta, opero en ella, pêro ya no sobre el enemigo sino sobre ias vacas y caballadas de los habitantes. En pooo tiempo sus partidas se aduenaron de millares de millares de cabezas de ganado major, que en mínima parte regalo á los caudi]lejos regionales dei Dayman, para premiar serviços a Ia causa dela Pátria, reales ó supuestos; en puridad de verdad, para ganar sus voluntades y associados á sus propósitos personales, mientras el grueso de este botin criminal y vergonzoso, pasaba incesantemente, en grandes tropas, ai Entre Rios y Corrientes, donde se enajaban á precios.ridículos" (2). A segunda incursão de alguma importância teve por alvo a força do tenente-coronel Bento Gonçalves, ao que parece, quando ela estanciava no Rincão do Francisquito. Desta vez foi o coronel argentino José Maria Paz quem se encarregou da entrepresa. Paz marchou do acampamento* àt* Durazno à frente de seu corpo, o 2.° de cavalaria (27 de julho); no arroio Cordovez fêz junção com o coronel Inácio Oribe, elevando sua força a pouco mais de 1.000 homens. De Palmas expediu o capitão Cláudio Verdun, com um pequeno destacamento, a nosso encontro. Nas pontas do arroio Caraguatá, Verdun foi atacado e completamente batido por um destacamento bra(2) Guerra dei Brasil — pág. 151. — 207 — sileiro. ao mando do major António de Medeiros Cosia (6 de agosto de 1826). Não se compreende a razão por que Paz desistiu da tarefa em seguida a esse revés; salvo se a força de Verdun era mais numerosa do que dizem os argentinos. "Este contraste, aunque glorioso, — ousa escrever o inegualável Baldrich — debelando à los ojos de Bento Gonçalves Ia empresa de ^Paz, Ia malograba de hecho. En consequência, el Regimento 2, de ordem dei General Rodriguez, se reincorporó ai ejercito, en el acampamento dei Yi" (3). No 1.° de dezembro de 1825, tomou o governo imperial a resolução de afastar o General Abreu do comando de nossas tropas no Rio Grande do Sul e-de entregar tão espinhoso cargo ao General Francisco de Paula Massena Rosado. Caíam assim sobre o incansável e estrénuo lutador das campinas meridionais as responsabilidades dos desastres que havíamos sofrido nos primeiros recontros com os orientais em revolta. Rosado viera ao Brasil como tenente-coronel comandante do 2.° batalhão de caçadores da Divisão.de Voluntários d'El-Réi. Fizera ã campanha do Sul corn Lecor e aderira à independência do império, recusando-se a acompanhar D. Álvaro da Costa. Ajudado por alguns oficiais, conseguira desarmar seu próprio batalhão, quando êle se dispunha a fazer causa comum com D. Álvaro. Ao ser nomeado para substituir Abreu, encontrava-se no Rio. O Imperador entregou-lhe um contingente de tropas e fê-lo partir para o sul, com a missão de organizar e comandar o exército que deveríamos opor às Províncias Unidas. Rosado tocou em Santa Catarina, onde permaneceu mais de um mês; a 3 de fevereiro do ano seguinte (1826) assumia o exercício de seu novo posto. Nele se conservou até 11 de janeiro de 1827, isto é, pelo dilatado espaço de pouco mais de onze meses. As testemunhas da época são contestes em afirmar que lhe faltavam as principais qualidades para tão elevada tarefa, e que seu comando se caracterizou pela inépcia mais completa. Começou concentrando as tropas brasileiras na coxilha de Santana junto a Santana do Livramento, em lugar de todo impróprio e quê êle denominou pomposamente Acampamento da Imperial Carotina. "Em um pequeno recinto montuoso desta povoação nova e isolada, coberto de areia, desarborizado, e banhado apenas em(3) Guerra dei Brasil — pág. 159. — 208 uma de suas orlas por pequenos regatos, origens do Ibicuí, que, no verão, ou secam, ou se tornam insalubres, estabeleceu o general Rosado o seu quartel-general em março de 1826, ocupando os poucos casebres que ali deparou, e em derredor de si fêz amontoar as tropas, que em diversos períodos e de diferentes províncias convergiam para aquele ponto para a organização do exército" (4). Recolheu a Santana a brigada de Bento Manuel Ribeiro estacionada no Rincão do Catalão, e só não procedeu da mesma forma com a de Bento Gonçalves, destacada para os lados de Jaguarão, em vista da resistência do respectivo comandante. É ainda hoje um problema cativante reviver a situação ilc 1826 e remeditá-la na carta como matéria de estudo. , ^De que se tratava? De reunir, com todas as garantias de segurança, um exército combatente, de equipá-lo e adestrá-lo longe das perturbações do inimigo, e, ao mesmo passo, de impedir, tanto quanto possível, as incursões deste último em. nosso território, pois só assim poderíamos obstar sobretudo aos prejuízos em nossos rebanhos. Nessas circunstâncias, é óbvio que um ponto na capela ác Santana do Livramento ou perto daí não era totalmente desprovido de condições. Se a topografia da coxilha de Rosardo não oferecia vantagens, nada mais fácil do que escolher outra melhor. Santana só apresentava o inconveniente da distância excessiva de Porto Alegre. Sob esse aspecto, fora melhor São Gabriel. Em todo o caso, deveria ser um dos centros de vigilância de nossa cavalaria, juntamente com Alegrete, Bagé e Jaguarão; em todos eles deveríamos ter destacamentos de cobertura, que abrissem antenas tanto para o lado do rio Uruguai como para o sul. Era um erro, aliás da época, pensar em defender toda a nossa fronteira mediante tropas diluídas em cordão, ou obstar por completo a que o inimigo penetrasse por vezes, temporariamente, em nosso território. , Toda a nossa estratégia devia resumir-se em proteger com a cavalaria a reunião central das tropas, em pontos bem selecionados da zona periférica. Como estávamos na defensiva, bastaria vigiar a partir desses pontos, com reconhecimentos e destacamentos de descoberta, os preparativos do inimigo, ou suas linhas de irrupção. (4) Recordações Históricas, por Machado de Oliveira, pág. 504. - 209 - É tradicionala crítica à concentração operada pelo Brigadeiro Rosado. Em princípio não me parece justa pelos motivos que acabo de referir. .Onde sua conduta se me afigura estranhável é quando êle chama para junto de si as brigadas de Bento Manuel Ribeiro e Bento Gonçalves, sem nada interpor entre suas forças e as do adversário. O Império não se poupou a esforços para ministrar a Rosado todos os elementos necessários à luta. Mandou proceder a um recrutamento geral e rigoroso, e encaminhou para o sul quantos recursos pôde reunir. Mas parece que faleciam a Rosado definitivamente as qualidades próprias de um espírito organizador. Além disso, sobreveio entre êle e seu colega, o brigadeiro José Egídio Gordilho Veloso de Barbuda (depois Visconde de Camamu), presidente do Rio Grande, uma desinteligência de resultados funestíssimos para a concentração do futuro exército. Perdeu-se um tempo precioso em recriminações recíprocas e reclamações que nada adiantavam. Machado de Oliveira afirma que o ano de comando de Rosado foi um período "âe privações, dor e sofrimentos com inimitável constância e resignação, de que resultou um vazio considerável nas fileiras dos combatentes". A opinião pública do Brasil seguia com reservas e até com protestos a marcha dos acontecimentos militares. Reinava grande inquietação com respeito ao futuro. Ninguém podia compreender que um Império poderoso, armado de uma esquadra considerável, fosse posto em cheque por compesinos sublevados ou por forças cèleremente congregadas na Argentina. Soavam vozes na imprensa contra os abusos do recrutamento, e a situação indefesa da costa em face do atrevimento dos corsários. Já eram numerosos os casos de embarcações brasileiras arrebatadas pelos flibusteiros quase que às nossas vistas. Tornava-se geral a impressão de que a Coroa insistia em lançar-nos em uma aventura contrária aos sentimentos de justiça e aos interesses reais do País. "D. Pedro, apreensivo com os sintomas desfavoráveis da opinião pública, que começava a revelar-se com franqueza em relação à guerra, quer pelo tempo que ela já durava, quer pelas consequências prejudiciais que trazia ao Império, e a todos os cidadãos; por outro lado igualmente com a situação das cousas políticas nas províncias do sul, resolveu-se de repente a deixar o Rio de Janeiro e a visitar o teatro das operações militares. Desejou ver com seus próprios olhos o exército que há tanto — 210 — tempo mandara reunir e disciplinar nas fronteiras do Rio Grande, as forças de que ainda dispunha em vários pontos do Rio da Prata, e a esquadra que devia empregar-se no bloqueio dos portos da república inimiga, e na perseguição e ruína dos pequenos vasos de guerra argentinos. Quis examinar e conhecer pessoalmente as necessidades das tropas e das províncias meridionais do império, e providenciar quanto em si coubesse para dar um impulso vigoroso à guerra, e vingar a honra" e dignidade da nação e da sua Corte' (5). Antes, porém, de empreender a viagem para o Sul, tomou D. Pedro I a deliberação de dar um substituto ao general Rosado, sem dúvida em consequência das informações que lhe chegavam sobre o estado de desorganização das tropas de Santana. O escolhido foi o tenente-general Felisberto Caldeira Brant Pontes. Visconde de Barbacena (decreto de 12 de setembro de 1826). Era Barbacena um cidadão conspícuo, inteligente, culto, de fino trato e servidor leal do país. Nascera em Minas, no arraial de S. Sebastião, a 19 de setembro de 1772 e estudara em Lisboa, primeiro no colégio dos Nobres e depois na Escola de Marinha. Passara para o exército no posto de major do Estado-Maior e estivera em África, como ajudante de ordens do governador de Angola. Viera depois ao Brasil, no posto de tenente-coronel comandante de um regimento da Bahia. Tivera ali brilhante e patriótico papel quando ocorreram os movimentos insurrecionais provocados pelas cortes de Lisboa. Fora deputado à Constituinte e era senador pela província das Alagoas, desde 16 de abril de 1826, quando D. Pedro se lembrou de apelar para a sua energia e atividade, dando-lhe logo o título de marquês (4 de novembro), e confirmando-o a seguir no de tenente-general (17 de dezembro). Barbacena considerou de frente o problema, como em breve reconhecerá o leitor, quando lhe referir seu plano de operações; pôs-se em contacto com o imperador D. Pedro e com o ministro da guerra, e falou-lhes com a franqueza rude de soldado. Ainda no Rio, escolheu camaradas de merecimento para o auxiliarem na tarefa e servirem em seu Estado-Maior. Propôs o brigadeiro Soares de Andréa, depois Barão de Caçapava, para ajudantegeneral; o sargento-mor Silva Ferreira para deputado do mesmo; o brigadeiro Cunha Matos para quartel-mestre-general; o coronel (5) pág, 174. Pereira da Silva — Segundo Período do reinado de D. Pedro I — 211 — Tomé Fernandes Madeira para comandante de artilharia e o sargento-mor Ponsadilha para ajudante de ordens. Mais tarde foi-lhe dado como chefe de estado-maior o marechal Henrique Brown. Pela primeira vez no Brasil tivemos assim esse cargo no quartel-general de um comandante em chefe e exercido por um estrangeiro. Brown era alemão ou,.pêlo menos, descendente de família alemã. Servira no exército inglês, onde tivera o posto de coronel, e no português, de que era marechal de campo reformado. Fora contratado em Londres, a 12 de maio de 1826, para servir, com o posto de marechal de campo efetivo, no exército brasileiro, e na Província em que o imperador o quisesse empregar. Por decreto de 22 de agosto de 1826 ficou incluído no quadro efetivo do exército. Designado para servir com Barbacena, partiu para o Sul, a 25 dé novembro do mesmo ano, na corveta de guerra Duquesa de Goiaz. Barbacena seguiu para o Rio Grande no dia 3 de novembro de 1826; a 8 do mesmo mês chegou a Santa Catarina; a 11 prosseguiu a viagem e a 23 alcançou Porto Alegre; a 26 estava no Rio Grande, a 28 na povoação do Norte e a 6 de dezembro de novo em Porto Alegre. Obrigou-o a ir ao Rio Grande -a necessidade de conversar diretamente com Lecor, que ali se encontrava. De Porto Alegre escreveu dois ofícios ao ministro da guerra, Conde de Lages, transmitindo-lhe as suas primeiras impressoes. Participava-lhe no primeiro (8 de dezembro) ter mandado fortificar o Rio Grande, estar o exército reduzido a 3.000 homens disponíveis e haver grande falta de fardamento e calçado, e apenas 50 carretas. Constava-lhe existirem 17.0Q0 cavalos, mas só a metade em condições de servir. Os soldados da Província estavam pagos até maio e os do Norte até agosto. No segundo (15 de dezembro) salientava a ignorância de Lecor com respeito ao efetivo exato da tropa, que êle Barbacena orçava afinal, incluídos doentes e destacados, em 6.832 praças. Dizia ter mandado reforçar a esquerda da linha de fronteira, isto é, a região de Jaguarao, com o 4.° regimento de cavalaria e o 5.°, bem como com o batalhão que chegara com Brown; e haver mandado construir duas lanchas para a defesa da Lagoa Mirim. Anunciava também a criação de um depósito de recrutas e o recolhimento a seus corpos dos oficiais que deles andavam afastados. A 17 de dezembro, pôs-se em marcha jiara o acampamento, fazendo escala em Rio Pardo. Dali escreveu de novo ao ministro (20 de dezembro) referindo o seu encontro com o Barão de -212 Cerro Largo e a oferta feita pelo vellio guerreiro de reunir 1.500 a 2.000 homens, para formar, sob seu comando, a vanguarda do exército brasileiro. No 1.° de janeiro de 1827 chegava a Santana ou, como então se dizia, à Capela do Livramento. *i O imperador partiu do Rio no dia 24 de novembro de 1826, a bordo da nau D. Pedro Primeiro, seguido da fragata Isabel, da corveta Duquesa de Goiaz e da escuna Primeiro de Dezembro, além de alguns transportes, segundo Armitage. Comandava a força naval o almirante Conde de Souzel. Ia na comitiva de D. Pedro o Visconde de S. Leopoldo, ministro do Império. Ao quarto dia de viagem, no rumo de Santa Catarina, sobreveio uma cerração e quando a mesma se adelgaçou, viram os brasileiros, com surpresa, no meio deles, o navio corsário Chacabuco, ostentando o pavilhão das Províncias Unidas. Roçávamos assim com Brown na sua cruzada para o norte com a Sarandí e a Chacabuco,'a. que linhas atrás fiz referência. Atacada pelos nossos, a segunda logrou escapar, embora perseguida até ao anoitecer pela nossa corveta Isabel. D. Pedro desembarcou em Santa Catarina no dia 4 de dezembro e dali seguiu por terra para o sul, passando por. Laguna; ao findar o ano, estava em Porto Alegre. Uma vez ali, buscou informar-se de tudo, levantar os ânimos abatidos, pelo apelo ao patriotismo dos riograndenses, e tomar as medidas mais urgentes para a campanha que se ia abrir. Era sua intenção, segundo alguns, ir até o acampamento de Santana, e só não o fêz por haver, recebido a notícia da morte de sua esposa, a Imperatriz D. Leopoldina (11 de dezembro). Compungido pelo acontecimento, regressou, sem demora, a Santa Catarina e daí ao Rio, onde aportou a 15 de janeiro do ano seguinte (1827). A explicação, que acabo de dar, da volta repentina de D. Pedro é a que figura em todos os historiógrafos. Rio Branco, porém, combate-a. "É preciso — escreve êle — não atribuir a esse triste acontecimento, como se tem feito até aqui, o regresso do imperador. Ao ministro inglês Gordon, que o fora encontrar em Santa Catarina, D. Pedro I já havia declarado que a sua visita ao Rio Grande «eria curta. Quando o ministro Visconde de S. Leopoldo chegou a Porto Alegre no dia 14 de dezembro, estava resolvida a viagem de regresso, e, em proclamação do dia 16,'dizia o imperador: "A necessidade de minha presença na Corte para tratar de negócios de alta importância e mandarvos mais socorro, faz com que me retire com brevidade, o que — 213 sumamente sinto. . . " . Nesta data não se sabia, em Porto Alegre, da doença e morte da Imperatriz. Só alguns dias depois, na cidade do Rio Grande, recebeu o imperador estas notícias pelo brigue americano Ema, saido do Rio de Janeiro no dia 13" (6). Poucos dias depois de nomeado, isto é, a 2 de outubro de 1826, dirigia Barbacena um Memorandum ao Imperador D. Pedro, em que lhe expunha seu plano de guerra no Rio Grande. É um documento de alta relevância, em que transparece larga visão dos acontecimentos e por onde se vê que lhe não minguava saber militar. "Um exército nú — dizia ele começando — descalço, sem munição de guerra e boca, sem remédios, sem cavalos, e reduzido depois de um ano à mais humilhante defensiva deveria fazer sossobrar o meu espírito, se eu não contasse com o génio de V. M. I.,"com a justiça da causa e com o favor do Onipotente, tantas vezes manifestado em benefício do Império". E aduzia: " 0 caráter e a honra dos brasileiros, a glória c dignidade de V. M. I., estão comprometidos: não se trata da conservação ou conquista de uma província, mas da existência da realeza na América, ou do triunfo da Democracia". Propugnava francamente a ofensiva e o seguinte plano: 1.°, expulsar o inimigo para além do Uruguai; 2.°, ocupar depois a província de Entre Rios; 3.°, obrigar a República Argentina a solicitar a paz, sem nenhuma possibilidade de renovar hostilidades. Reclamava para a execução do mesmo 15.000 homens, um depósito de 4.000, o armamento correspondente e 6 milhões de cruzados para as despesas durante um ano. Como Abreu, dizia êle, despediu-se de 5.000 homens e o governo depois mandou 6.000, e, como em Montevidéu e Colónia existiam então para cima de 5.000, segue-se que sem maior esforço já haviam contado os brasileiros 16.000 homens em armas. Barbacena tinha, pois, ideias francamente .imperialistas; para conservar a Cisplatina, que já nos ocasionara tantos tra- , balhos, achava que o melhor seria agravar ainda mais a situação conquistando também Entre .Rios e buscar novos limites pelo rio Paraná!... (6) Efemérides brasileiras— pág. 58* — 214 — ''Os governos de Santa Fé e Comentes — ponderava — mandando tropas contra V. M. I., deram junto motivo de conquista, e V. M. I. cometeria grande erro político, perdendo tãò feliz oportunidade de fechar o Império pelos limites naturais, que a mão divina nos está indicando". Aos 15.000 homens pretendia Barbacena dar os seguintes destinos: 2.500 na fronteira do Rio Grande, 200 no Cerrito, 3.700 em Montevidéu, 1.100 na Colónia e 7.500 no exército em formação. Faltavam 3.000 para completar aquele número, mas 1.000 poderiam vir do Rio e 2.000 ser levantados no próprio Rio Grande. Preconizava unidade de sistema, esforço geral e concentrado; só assim se chegaria com proveito ao fim da guerra, e não mediante operações destacadas, pequenas e incapazes de, resultados decisivos. Era, pois contrário a-operações prematuras, e considerava prejudicial qualquer incursão distante, como a que, se projetava na Patagônia, e até mesmo a que se tinha e vista em Entre Rios. Queria, afinai, ser o único chefe responsável, a quem tudo obedecesse, e, por isso, reclamava, estas medidas complementares; 1.°, que ninguém compartisse de sua autoridade; 2.°, que lhe fosse permitido castigar e premiar; 3.°, qvie o general de mar o ajudasse e não lhe contrariasse as operações; 4.°, que três embarcações estacionassem no Rio Grande, para facilitar as ligações com a Corte e os fornecimentos; 5.°, de soldo; que a caixa auxiliar tivesse uma reserva de 6 mesen 6.°, que no último de dezembro todo o exército estivesse completamenle fardado, armado e pago em dia, para entrar ent campanha; 7.°, que as presas de gado, praia e ouro na província de Entre Rios e na Cisplatina fossem divididas pelo exército e pelas guarnições, conforme o modo que indicava. r .lal era o plano de Barbacena em suas linhas gerais. — 215 — O imperador respondeu-lhe por intermédio do ministro da guerra, Conde de Lages, a 20 de outubro. Declarava aceitar-lhe os projetos, mas fazia algumas restrições. Era a primeira concernente à ocupação de Entre Rios, sobre que se deveria guardar segredo e que só seria posta em execução, se, depois da pacificação da Cisplatina, o governo assim o entendesse, o que não excluía a passagem do Uruguai por forças nossas, momentaneamente, para bater as do inimigo que dali nos ameaçassem. Cientificava a Barbacena de que, contrariamente a seus desejos, dele Barbacena, estavam resolvidas as expedições da Patagônia e de Entre Rios. Relativamente às sete medidas solicitadas, concordava: com a primeira, menos quanto a recrutamento, que pela lei era da competência dos presidentes de província; com a segunda, não devendo, porém, ir o prémio conferido além da graduação de tenente-coronel; com a terceira, quarta, quinta e sexta, de modo integral, tanto que expedia as ordens nesse sentido, e com a sétima na forma das leis em vigor. Falta, como se vê, na exposição de Barbacena o plano de manobra contra Alvear, mas compreende-se que ainda hesitasse em formulá-lo, talvez porque estava longe do teatro de operações, para ele desconhecido, e sobretudo porque não dispunha de um plano de informações que lhe facultasse conceber a manobra adequada àquele meio e àquela situação. Embora sejam em geral judiciosas as ideias de Barbacena, parece-me que, num ponto, êle não se inspirou bem nos princípios da arte da guerra, a saber quando se propôs a deixar em Montevidéu, Colónia e fronteira do Rio Grande 7.300 homens e a marchar com 7.500 contra o inimigo. ^Qual era o problema fundamental? Derrotar o exército de Alvear. Logo, cumprialhe reunir a massa combatente mais numerosa que lhe fosse possível, retendo em Colónia e Montevidéu o mínimo de guarnição e despreocupando-se momentaneamente da fronteira. Aniquilada a massa de Alvear, tudo lhe viria ter às mãos em consequência da vitória tática, e para essa vitória não haveria soldado que fosse de mais, sobretudo se de nada servisse longe do campo de batalha, guardando cidades que ninguém ia atacar ou vigiando fronteiras provavelmente só transponíveis por grupos insignificantes. Quem sabe a influência que essa violação do princípio da economia de forças não exerceu na refrega de 20 de fevereiro! IV Barbacena assume em Santana o comando do exército brasileiro, reorganiza-o e põe-no em movimento — Marcha estratégica para o fim de juntar-se preliminarmente com o grupo de Brown — Depois de reunidas todas as suas tropas, lança-se no encalço de Alvear, que avança para o norte — Razão por que se dirige, afinal, ao passo do Rosário, no rio Santa Maria, perto do qual irava batalha com os inimigos Chegando a Santana, foi Barbacena recebido com todas as honras de seu cargo; no dia 2 de janeiro passou revista às tropas G começou uma inspeçSo geral e cuidadosa. Sua presença teve u condão de levantar os ânimos abatidos e dar aspecto militar àquele agrupamento desordenado. No dia 11 reuniu um conselho para deliberar sobre a mudança de acampamento e a escolha de novo local. Foram unânimes os presentes em que ae devia abandonar Santana, onde não havia nem pastagens para a cavalhada, nem campo próprio para receber o inimigo, e procurar Bagé. Tendo Barbacena dito que o adversário parecia vir naquele momento sobre Santana pela Coxilha Grande e Tacuarembó, enquanto tinha os dois Oribes na cabeceira do rio Negro, acordaram todos, menos o coronel Olivério José Ortiz, que se devia abandonar logo o acampamento, procurar lugar mais apropriado às cavalhadas, e aí aguardar notícias mais seguras do contendor, para operar em seguida de acordo com as circunstâncias. Barbacena resolveu levantar acampamento, o que realizou dois dias depois (13 de janeiro de 1827). Deu antes à tropa organização regular; grupou-a em duas divisões, cada uma de quatro brigadas, a que deveriam juntar-se duas brigadas ligeiras de cavalaria do Rio Grande, a l. a comandada pelo coronel Bento Manuel Ribeiro, e a 2. a pelo coronel Bento Gonçalves da Silva. Esta última encontrava-se, como sabemos, do lado de Jaguarão. Diziam os respectivos comandantes que uma numerava 1,500 praças e a outra, 800. "Considerava-se igualmente como uma parte integrante do exército a força de 900 homens, que constava oficialmente acharse de guarnição à fronteira de Missões e nalguns pontos do Rio Grande e Entre Rios. A mor parte desta força, composta indistintamente de homens próprios para a guerra, estabelecidos nas 218 — adjacências das fronteiras, e que por circunstâncias particulares se achavam inibidos de servir imediatamente no exército, não era fixa nas localidades, não tinha organização regular, nem restrita disciplina; vinha a ser como corpos ocasionais, que ou reforçavam um destacamento da respectiva fronteira, que era ameaçada pelo inimigo, ou acorriam a qualquer ponto dela, que dependesse de força armada. Os regimentos 24 e 25 de cavalaria de 2. a linha, incluídos nesta força, e que eram privativos da fronteira de Missões, guarneciam-na sob as ordens do comandante da mesma fronteira" (1). Em consequência da longa demora do exército no acampamento de Santana, havia ali um acúmulo extraordinário de material de toda espécie, inclusive de víveres, bagagens e arquivos, que não seria possível transportar com as tropas por deficiência de meios de mobilização. Kesolveu-se deixá-lo no próprio campo, sob a guarda de uma companhia de infantaria de 2. a linha, a que se deram como reforço algumas praças estropeadas (ao todo, 232 homens) ; ficaram também ali 278 doentes. Alguns dias depois da saída do exército, vendo o comandante desse depósito que forças inimigas se aproximavam, e que não poderia defendê-lo, decidiu destrui-lo pelo fogo e retirar-se. E assim desapareceu o último vestígio da obra nefasta de Rosado! No dia 13, como já disse, o exército de Barbacena levantava arraiais no meio de júbilo geral. Compunha-se de.4.296 homens, com 12 peças de artilharia (10 de 9 libras e 2 obuses de conforme se vê deste mapa oficial: Infantaria ; Artilharia Guerrilhas . Lanoeiros Cavalaria do Rio -. Cavalaria da Bahia Cavalaria de S. Paulo Cavalaria do 5.° regimento Milícias do Rio Pardo, Porto Alegre, Entre Rios, Missões e Lunarejo 1.540 162 212 198 308 66 323 125 ll,362 ,362 4.296 (1) Machado de Oliveira — Recordações Históricas — pág. 516.. — 219 — Depois de breve marcha (cerca de uma légua) foi acampar à margem esquerda do arroio Cunhaperu (esboço n. 3, de Seweloh). Barbacena, que tivera um incómodo repentino e ficara em Santana, só alcançou o acampamento à noite. Nessa mesma ocasião chegaram o general Sebastião Barreto Pereira Pinto e o Esboço n. 1 coronel de engenheiros Elisiáiio de Miranda e Brito, que haviam sido mandados a Bagé, com o fim de reconhecer, nas cabeceiras do rio Negro, posições para o exército, e que nada tinham conseguido, visto o inimigo aparecer nas vizinhanças daquele ponto. O reconhecimento que pretenderam efetuar esses dois oficiais parece consequência natural do que se havia assentado no conselho de guerra do dia 11. Desde que se projetava marchar para Bagé, era evidente que convinha escolher de antemão o novo acampamento na vizinhança do povoado. Caso o inimigo se achasse distante, Barbacena de certo seguiria pela coxiiha de Santana, isto é, pelo divisor das águas. Mas, como êle tinha avançadas em Bagé, convinha naturalmente evitá-lo e, em vez de marchar sempre para sueste, desviar a coluna mais para o norte. E foi assim, de fato, que Barbacena procedeu. - 220 - No dia 14 a tropa ficou parada. Ao meio-dia, Bento Manuel Ribeiro chegou ao acampamento com a sua brigada de cavalaria. (l. a ). Barbacena, baldo de informações seguras de Alvear, resolveu lançar pela direita uma coluna de cavalaria de exploração ou antesmma flanco-guarda. Reforçou a l. a brigada com outras unidades, até perfazer 1.700 homens de cavalaria, e entregou-os ao comando do brigadeiro Sebastião Barreto Pereira Pinto. No dia 14, à noite, punha-se este general em movimento. A ideia de Barbacena não só era sensata, mas sobretudo previdente. Marchando na direçáo geral de leste, ele expunha o flanco direito à tropa de Alvear. Urgia, portanto, interpor desse lado, entre OB dois exércitos, um órgão de proteção, que se encarregasse de explorar na direção do inimigo t de encobrir a marcha estratégica que se ia realizar. Sabemos infelizmente poucos pormenores da marcha isolada de Barreto, a qual durou até Bage, como veremos. . ' Cumpre referir que já de Santana havia o general em chefe buscado'colher notícias do inimigo, para o que dera instruções ap major Cláudio José Dultra,- destacado na estância da Boa União, e fizera marchar,* para as cabeceiras do Tacuarembó, o coronel Joaquim José da Silva, com o 20.° regimento e o coronel Medeiros com o 22.°. Tudo, porém, sem grande proveito. No dia 15 Seweloh, ajudante de campo de Barbacena, estudou uma nova posição mais adiante (esboço n. 2). A tropa continuou parada no dia 16. Neste dia Barbacena, que ainda" não havia recebido nenhuma informação da coluna de Barreto, escreveu ao ministro da guerra dizendo-lhe ter sabido, por outras fontes, que a invasão, isto ê, que o inimigo se aproximava. "No estado em que me acho — declara ele — serei reduzido à pura defensiva". Compreendendo que era urgente marchar com celeridade, tomou a resolução enérgica de aliviar a coluna. Mandou o coronel Carneiro requisitar todas as carretas do distrito e -levar para S. Gabriel o material dispensável e os doentes. .No mesmo ofício.ao ministro, informava Barbacena ter expedido uma ordem a Brown, de que remetia cópia. *Que ordem seria essa? Presumo ter sido a que determinou a junção de Brown e, provavelmente, os movimentos da 2. a brigada de cavalaria (Bento Gonçalves), a que terei breve de referir-me. -221 - A 17 a tropa abalou às dez e meia da manhã, cruzou a coxilha de Santana e acampou, a uma hora, junto àa cabeceiras jfl Povotx&o ate Jíotoi/C /ÍCCL, aLdi. ttmcL. (cal Esboço n. 2 do Ibicuí-mirim (esboço n. 3). No dia 18 não se moveu. No dia 19, partiu às seis e um quarto, percorreu "terreno alto e aberto" e foi acampar, às duas horas e meia, a uma légua da MtSncia de Bento Correia, junto a um barco do Ibicuí. Distância percorridas 4% a 5 léguaa (esboço n. 4). No dia 20, abalou às cinco e meia da manhã. Seweloh informa que neste dia o escoamento do grosso da coluna durara 13 minutos. Apareceram 4 soldados fugitivos de Sarandí, que nada de importante souberam dizer. Às noveve três quartos, repouso; às 11, continuação da marcha. Às duas horas, acampou-se perto da Lagoa — 222 0 CAa-tctra, oíot 1'i'uva-. Serro OUIL 880% et» cèu/ájto Esboço n. 3 Esboço n. 4 — 223 — Formosa e da estância de Joaquim Manuel Machado (esboço n. 5). No dia 21 pôs-se a tropa em marcha às quatro e três quartos. Descanso das 9% às 10 horas. Às 12 alcançou o arroio do Esboço n. 5 Ponche Verde, por cuja margem esquerda avançou para o N. um quarto de légua, indo acampar às 12^> à beira do mesmo arroio (esboço n. 6). No dia 22 rompeu para o N. às 4 e %, tendo adiante e à direita o rio Santa Maria. Andada uma légua e um quarto, alcançou o passo de D. Pedrito (Passo Real ou Passo do Prestes); às 6 horas e um quarto, transpôs o Santa Maria e acampou na sua margem direita. — 224 Neste dia, Barbacena escreveu, de novo ao ministro da guerra, informando-o de que Alvear ocupava, desde o dia 16. o Rincão do Cardoso, tendo forças destacadas em Jaguarí e Currales, e que mandara uma partida até Bagé, onde não havia "nem tropa, nem depósitos", a qual logo se retirara. Acrescentava que o inimigo repassara o Rio Negro no dia 21, no Passo do Arroio. Verde Esboço a. ,7 'Como alcançara tais informações o General em chefe? Na mesma ocasião afirmava que o flanco esquerdo do inimigo estava sendo observado por Barreto, e o direito por Benio Gonçalves, enquanto para a "frente do mesmo inimigo marcJuiva o grosso do exército imperial". . Desta comunicação ressalta o emprego da 2. a brigada de cavalaria (Bento Gonçalves) no flanco leste de Alvear. Ora, como ela pertencia às forças que se achavam com Brown do lado de Jaguarão, é óbvio que os movimentos dos dois grupos de forças brasileiras, a saber Barbacena e Brown, estavam sendo dirigidos com harmonia e propriedade. Dentro em pouco verá. porém, o leitor que foi o próprio Barbacena quem enviou ordem a Bento Gonçalves para proceder do modo por que o estava fazendo. No dia 23, houve descanso. Barbacena oficiou pela terceira vez ao ministro, anunciando ter recebido partes de Barreto e Bento Gonçalves. "Todos são unânimes —• diz êle — em que o inimigo vem reunido entrando por Bagé". Não se lhe sabe o número certo. Parece indubitável — acrescenta — que a sua intenção era cortar o nosso exército, a íim debater separadamente .a esquerda, que estava no Cerrito, e o centro e a direita, que estavam em Santana, e sem dúvida que o teria conseguido, se eu me tivesse demorado umv instante em ordenar a imediata 225 — junção, ou me tivesse deixado embaraçar pelas dificuldades de todos os géneros que me cercaram, começando por estar a pé, achar o cartuchame podre e não ter imediato recurso". "Pelo meu ofício (de 14) conheceria V. Exc a . o que determinei ao brigadeiro Barreto e coronel Bento Gonçalves, bem como aos coronéis do 4.°, 5.° e 6.° regimentos, quando casualmente soube que o marechal Brown estava em Porto Alegre, supondo-o eu aliás muito ocupado em S. Francisco de Paula, com a defesa daquele ponto da fronteira, segundo a minha positiva ordem". "'Ao mesmo marechal havia eu dado instruções, quando eslava incerto sobre os pontos que seriam atacados e vigorava a opinião que seriam três. Depois escrevi-lhe ordenando-lhe que .se reunisse imediaatmente a mim, e, temendo que ainda estivesse em Porto Alegre, escrevi nesse mesmo sentido aos coronéis". . Ressalta desse trecho quão previdente fora Barbacena nas suas resoluções para a reunião estratégica de nosso exército. "Estou seguro — continuava — de reunir todas as forças, se os corpos de Barreto e Bento Gonçalves cumprirem minhas ordens, como espero". " 0 meu plano está feito e, com o favor de Deus e dos bravos que me acompanham, espero que será coroado de feliz sucesso, qualquer que seja a contrária aparência por algum tempo". "Enquanto eu não tiver força igual à sua, ou não cometer o inimigo algum grande erro estratégico, permanecerei em pura defensiva, atraindo-o quanto puder para o interior, porque nesta direção eu ficarei cada dia mais forte em gente, cavalos e munições, e ele mais fraco em todos estes elementos . Barbacena expõe com tal clareza e precisão seus pensamentos, que excusa comentários. Segundo êle escreveu mais tarde (5 de fevereiro) ao ministro da guerra, "a primeira e sexta brigadas, comandadas pelo brigadeiro Barreto, tomando no mesmo dia (23 de janeiro) a posição de Santa Tecla, cobriram a marcha do exército, observando completamente o inimigo, que não ousou atacá-lo até o dia 31, posto que todos os dias prendesse alguns prisioneiros e desertores". No dia 24 a tropa iniciou a.marcha às 5 e % ; caminhou para leste. Às 9 e % descanso; às 11, reencetamento da marcha. 226 A l e 'Yéf acampou no Tacuarembó-Chico (esboço n. 8 ) . Além deste esboço, dá-nos Seweloh mais o de n. 9, dizendo ter sido feito por Barbacena, para indicar as disposiÕes das tropas, caso fossem atacadas no acampamento. São duas linhas, comandadas . *t I / / oto fntyr d* / Albasio Esboço n. 8 respectivamente por Barreto e Soares de Andréa, e uma pequena reserva de cavalaria. Os profissionais adivinharão com clareza, nesse pequeno desenho, as ideias táticas de Barbacena. Esboço n. 9 Neste dia, declara o nosso General em chefe que ordenou a Barreto se reunisse ao exército, deixando de observação a sexta brigada. — 227 — No dia 25 não se marchou; choveu toda a noite e o rio ficou de nado. No dia 26 a tropa atravessou-o e prosseguiu a marcha, primeiro na direção N. E. e depois na de E, Partida às 5 horas e grande alto às 9. Às 10 e % continuação da marcha. Acampou-se na Guarda-Velha de Tacuarembó, à margem esquerda do Tacuarembó-Grande (esboço n. 10). À tarde chegou, o Esboço n. 10 general Barreto com a l . a brigada, tendo ficado a 6. a de observação ao inimigo. No dia 27 não se marchou. No dia 28 a tropa prosseguiu o avanço, atravessou a Coxilha Grande debaixo de tempestade e foi bivacar em ordem de marcha, junto às nascentes do Camacuan-Chico. No dia 29 abalou de novo e foi acampar à margem esquerda deste rio, que estava quase de nado, em consequência das chuvas torrenciais dos dois dias precedentes. Como era urgente transpô-lo, e o exército não dispunha de material de pontes, a infantaria passou "com água pelos peitos, levando as munições à cabeça" e a artilharia em pelotas, isto é, em uma espécie de balsa feita de couro de boi. A travessia durou 36 horas e foi penosa. No dia 30, enquanto estava o exército empenhado em efetuar a passagem, as forças de Alvear marchavam contra êle. O momento era crítico e demandava espírito calmo e firme nas resoluções. — 228 — "O coronel Bento Gonçalves — escrevia dias depois Barba cena em seu boletim de 5 de fevereiro — batendo-se em retirada, conseguiu retardar a marcha da vanguarda inimiga, e, sem perder um só homem, fêz alguns prisioneiros, mortos e feridos". "No dia 31 continuou o inimigo com mais força sobre o coronel Bento Gonçalves, e, porque então ainda não haviam Esboço n. 11 Esboço n. 12 passado as bagagens, mandou o general em chefe ao brigadeiro Barreto repassar o Camacuan com os regimentos 20.° e Lunarejo. para apoiar a 6.a brigada". — 229 — No mesmo dia 31 passaram as carretas de munição de guerra e boca. "A vanguarda do inimigo — prossegue Barbacena — esteve a menos de uma légua de distância em continuado tiroteio, que cessou depois da noite". fasto, ~ mPant* tCc «/•«* °í* j>?w-» Esboço n. 13 : 'A ó.a brigada ficou do outro lado do rio cobrindo a retaguarda; e o brigadeiro Barreto reuniu-se no dia 1.° de fevereiro . ao exército. . ."' Resulta do exposto que a tropa chegou à borda esquerda do Camacuan-Chico no dia 29 e só a 31 estava toda do outro lado. e que, na crise da passagem, lhe serviu de cobertura a brigada de Bento Gonçalves (a 2. a ), que se bateu com as avançadas de Alvear. Esboço n. 14 , ' Convém chamar a atenção do leitor para os movimentos de Barreto e Bento Gonçalves. 0 primeiro saiu para a missão de exploração e segurança no dia 14 à noite e regressou a 26. — 230 Não sabemos as minúcias de seus movimentos. Também nos achamos na mesma ignorância com relação a Bento Gonçalves (2. a brigada de cavalaria ligeira). Estamos apenas informados de que operou, por ordem de Barbacena, na direita de Alvear e que nos dias 30 e 31 se encontrava interposto entre a vanguarda argentina e o exército brasileiro, protegendo a passagem deste último pelo rio Camacuan-Chico. Todas essas operações de cavalaria são prenhes de interesse para nós, pois foi à sombra delas que. Barbacena velou a'os contendores a su:i marcha estratégica e realizou afinal a união ambicionada com u grupo de Brown. Façamos votos para que ainda se descubram os documentos suscetíveis de permitir a reconstituição integrai desses instrutivos episódios. . . Escreve Machado de Oliveira: "A l . a divisão do exército, que. como acima fica dito, fora mandada em observação aos movimentos do inimigo, regressou no dia 26. E se ela muito'pouco pôde obter do que fora essencialmente incumbida, ao menos prestou o serviço de fazer reunir a si, e em seguida ao exército, a 2. a brigada ligeira, que tivera ordem para incorporar-se ao mesmo exército, quando este largou o seu antigo acampamento. e que. deslocando-se de um dos pontos da fronteira do Rio Gran- Esboço n.'15 fie, onde, estivera estacionada; pôde nas adjacências de Haaé manobrar na frente de uma coluna avançada do inimigo, que ?r esforçava em reconhecer p exército em sua passagem por ali, e impedir-lhe essa tentativa. Esta brigada susteve-se à vista do inimigo até o dia 30, em que foi investida por maiores forças da sua cavalaria, e teve, por isso, de retroceder, aproximando-se ao. exército, que então passava o rio Çamacuan-Chico,. posto de — 231 nado, e teve de fazer repassar um corpo de cavalaria em suporte daquela brigada" (2). Esboço n. 16 No dia 1.° de fevereiro o exército de Barbacena continuou A marcha, às 6 horas da manha, por terrenos ásperos e pedregosos, e foi acampar em excelente posição, à beira do arroio Traíras (esboço n. 17). Esboço n. 17 Convém abrir aqui um parêntese e prevenir o leitor de que, tendo Seweloh partido no dia 27 do acampamento do Tacua(2> Recordações Históricas — pág. 521. — 232 — rembó-Grande para fazer um reconhecimento até São Gabriel, não pôde acompanhar a marcha de Barbacena desde aquele acampamento até a beira do Tacuarembó-Chico, onde se apresentou de volta de S. Gabriel no.dia 31. Faltam-nos, por isso. os esboços dos acampamentos intermédios. Em compensação, deixou-nos os de sua excursão a S. Gabriel (ns. 11, 12, 13, 14. 15 e 16); este último é uma planta grosseira da Capela de S. Gabriel daquela época. Descrevendo o acampamento no dia 1:° de fevereiro, St> weloh faz reflexões sobre os meios de transporte. Pinta as carretas carregarias com 80 arrobas (2.560 libras) e puxadas por 12 e mais bois. "Dez carretas — diz êle — estão debaixo das ordens de um capataz e todas das de um oficial subalterna (comissário de transportes)." Esboço n. 18 No dia 2 de fevereiro o exército prosseguiu às 6 horas da manhã; às 7 e % atravessava o arroio das Palmas e acampava na margem direita dele (esboço n. 18). Foi, portanto, uma marcha insignificante, só para mudança de acampamento. 233 Aí deu Barbacena a seu exército esta organização: l . a Divisão — Brigadeiro Barreto. l.a Brigada de cavalaria — Coronel José Egídio Calmon. Regimento n. 1. Regimento n. 24. 2.a Brigada de cavalaria — Coronel Tomás José da Silva. Regimento n. 3. Regimento de Lunarejo. l.a Brigada de infantaria — Coronel Leitão. Batalhão n. 3. Batalhão n. 4. Seis bocas de fogo. . 2.ã Divisão — Brigadeiro Calado. S.a Brigada de cavalaria — Coronel Joaquim Cláudio de Barbosa Pita. Regimento n. 6. Regimento n. 20. Esquadrões da Bahia. 4.a Brigada de cavalaria — Coronel Miguel Pereira de Araújo. Regimento n. 4. Regimento n. 5. .; 2.a Brigada de infantaria — Coronel Leite. Batalhão n. 13. Batalhão n. 18. Haverá mais duas brigadas ligeiras de cavalaria, l.a Brigada -— Coronel Bento Manuel Ribeiro. Regimento n. 22. Regimento n. 23. Oito companhias de guerrilhas. Duas companhias de lanceiros. — 234 2.a Brigada Coronel Bento Gonçalves. Regimento n. 21. Regimento de Cerro Largo. Quatro companhias de. guerrilhas. A 7 de fevereiro fêz-se, nesta ordem de batalha, ligeira alteração: permutou-se o 3.° regimento de cavalaria com o 4.° da mesma arma; e o comandante da 2. a brigada com o da 4. a . No dia 3 não se marchou. Seweloh foi mandado reconhecer o Passo de S. Simão. Havendo notícia — escreveu Barbacena — de que o inimigo jazia algum movimento para sua esquerda mandei marchar às 11 horas da noite a l. a brigada ligeira, do comando do coronel Bento Manuel Ribeiro, para observar a sua direção ulterior. Esboço n. 19 Np dia 4, transferiu-se o acampamento para melhor posição nas nascentes do Lexiguana, a meia légua de distância. No dia 5, ao meio-dia, chegou a divisão do general Brown, composta áo 4.°e 5.° regimentos de cavalaria, do 27.° batalhão de caçadores alemães (500 homens), de 80 lanceiros alemães incorporados ao 4.°, e de metade do 18.° batalhão de caçadores. Brown estabeleceu-se no acampamento de Traíras, que o exército havia abandonado. — 235 Ao assumir.o comando de seu destacamento na fronteira de Jaguarão, encontrou êle em Pelotas os batalhões de caçadores 18.° e 27.°, o 5.° regimento de cavalaria, os lanceiros alemães e 4 canhões; e no Jaguarão-Chico, o 4.° regimento de cavalaria. Encaminhou de Pelotas para,este último ponto o 18.° de caçadores, o 5.° regimento de cavalaria, as bocas de fogo e, um pouco mais tarde, o 6.° regimento. Mandou de Pelotas para Jaguarão, pela Lagoa Mirim, o 27.° de caçadores e os-lanceiros alemães, eom ordem de subir daí o rio até o Jaguarão-Chico. Deste ponto, escolhido para reunião das forças, avançou para o norte, ao encontro de Barbacena, passando pela capela de Santa Rosa (3). Barbacena rejubilou com a vinda oportuna de Brown, pois afastava um grande perigo e lhe trazia mais 1.572 homens, elevando o seu efetivo a 6.348, segundo êle declarou ao ministro, em ofício do dia 5. Neste mesmo dia, às 5 horas da tarde, chegaram alguns prisioneiros feitos pelo alferes José Teodoro da Silva "que fora mandado sobre a retaguarda do inimigo observar seus movimentos". Silva marchara na véspera pela costa do Piraí em direçao a Bagé e lá penetrara de noite* fazendo prisioneiro um lanceiro inimigo, que o informara de ter partido naquela tarde um grupo de 30 homens vindos de Maldonado. Em vista disso correu-lhes ao encalço, à frente de 10 companheiros; derrotou-os completamente na manha de 5, fêz 13 prisioneiros, deixou mortos 11 adversários, e apossou-se de muita cousa, inclusivamente de toda a correspondência particular e oficial destinada ao exército de Alvear. Barbacena sentia-se bem na posição em que se encontrava. Oficiando ao ministro da guerra sobre a junção das tropas, comentava a situação desta maneira: tQ u e fará agora Alvear? iAtacar? A vantagem local ó toda nossa. ^Esperar que eu o vá atacar? Também teremos a vantagem de aumentar em força, recebendo socorros todos os <lias, entretanto que êle diminui nela por moléstias e, sobretudo, por deserções. tQue resta? ^Retirar-se? Irei em seu encalço até o Uruguai, e a derrota em uma tropa desmoralizada será completa". • (3) Informações úo livro: Contribuição para a História da guerra entre o Brasil e Buenos Aires, por uma lestemunha ocular (em alemão) — 1834 — página 213. Rio Branco atribuía a autoria do mesmo a um certo major von Leenhoff. — 236 — Chamo" a atenção do leitor para estas reflexões escritas m> campo, na sazão dos acontecimentos, e não depois como recurso para justificações. O exército não se deslocou nos dias 6, 7, 8 e 9 de fevereiro. •-'•Por que? Ignoramo-lo. É grande lacuna não sabermos de modo preciso as suas medidas de segurança e exploração nesse período. No dia 10 de fevereiro, à 1 hora da madrugada, abalou, retrogradando pelas posições abandonadas de Palmas e Traíras; às 10 e meia estava de novo à beira do Camacuan-Chico, onde acampava por divisões (esboço n. 20). No dia 11 não se moveu. Esboço n. 20 Barbacena dirigiu novo ofício ao ministro da guerra. "Até o referido dia 5 — pondera êle — fêz o inimigo todos os preparativos de passar o Camacuan, mas, longe disso, tomou d direção de Tacuarembó, dizendo ao exército, segundo um pòi Uiguês desertor, que ia tomar a caixa militar que-ficara em Santana". "Para mim-é indubitável que o inimigo se retira, suposto haver nó exército quem pense que Alvear procura os campos 'de Santana, vantajosos à sua cavalhada, pela mesma razão que eu procuro as montanhas pedregosas de Camacuan". "A incerteza não pode durar 48 horas, porque .destaquei sobre seus flancos as duas brigadas ligeiras de Bento Manuel : Ribeiro e Bento Gonçalves e vou em seu seguimento". — 237 Depois de escritas estas- linhas, sabia Barbacena, por um índio, que o exército inimigo entrara em S. Gabriel no dia 9, pela manhã. A notícia surpreendeu-o. "Se fôr verdadeira — escrevia ao ministro — Alvear comete o desatino de se entranhar e sua perda total parece segura mas duvido de tal movimento por muitas razoes: l. a , porque, batido este exército, podia dispor da província como quisesse, e se ele o teme agora, icomo avançar para o interior, deixando-o na retaguarda e com meios de crescer <3m força?; 2. a , porque, estando a brigada de Bento Manuel à vista, e comunicando-me todos os movimentos do inimigo, ainda não me deu parte da marcha de todo o exército além de Jaguaré". Porém horas depois Barbacena tinha certeza de que o inimigo estava de fato em S. Gabriel, conforme participou mais tarde ao ministro, em data de 17 de fevereiro, e por isso correu após ele na diregão desse povoado, sem demorar-se mais de 24 horas. 0 general Abreu (Barão de Cerro Largo) apresentou-se a Barbacena, trazendo consigo 243 homens. Vinha juntar-se, por patriotismo, às tropas nacionais, apesar do castigo que lhe havia imposto o governo imperial depois dos desastres do Rincão e do Sarandí. Barbacena pô-lo como vanguarda de sua coluna, em substituição à l. a brigada. Esboço n. 21 No dia 12, o exército partiu às 5 e % da manhã, transpôs o Camacuan-Chico num ponto distante um terço de légua do lugar em que o havia vadeado nos dias 30 e 31 de janeiro, e — 238 prosseguiu em marcha retrógrada pelo caminho que havia trilhado vindo de Tacuarembó. Às 2 horas acampou nas vertentes do Camacuan. No dia 13 continuou a marcha, a partir das 5 horas, e foi acampar nas pontas do Jaguarí. No dia 14 rompeu ainda às 5 e fez grande alto das 10 e % às 11 e %. Às 2 acampou junto à estância do velho Serpa (José Francisco). No dia 15 permaneceu no mesmo acampamento. No dia 16 abalou à meia hora depois de meia-noíte no rumo do norte; às 3 e ^4 transpunha o Passo do Pau Arcado de Vacacaí; às 6 e ^> chegava à estância de Bernardo do Canto e às 10 fazia alto, para acampai' nas vertentes do Vacacaí. No dia 17 rompeu às 3 horas da ma^ dragada; às 11 a vanguarda alcançava S; Gabriel, onde a coluna se detinha. ' O inimigo avançara para o norte, cobrindo-se com uma retaguarda sob o comando de Lavalleja, a qual deixara S. Gabriel às 4 horas da tarde do dia 16, ao saber da aproximação do exército imperial. As 5 horas da tarde de 17,'Barbacena recebeu uma informação de Bento Manuel Ribeiro, da máxima importância, datada no dia 15. Até aquele momento estava na dúvida sobre a direção exata qae tomaria Alvear no seu avanço para o norte. ^Penderia para leste ou para oeste? ^Persistiria no rumo do norte? O informe de Bento Manuel esclarecia o caso, pois nele se afirmava categoricamente que Alvear retirava pelo passo de S. Simão (no rio Santa Maria). . • Eis o documento: . "O carretame do inimigo baixou hoje pelo Campo da Cruz, entre o banhado do Jacaré e Cacequí; é cerla a retirada por S. Simão. Eu hoje vou ficar em lbicuí, no Passo do Umbu., pôr as minhas cavalhadas em segurança, e fazer-lhe guerrilhas, até passar em Santa Maria, logo que passem no fundo do Loreto, e vou sair adiante. Eles, segundo as suas marchas, só depois de amanhã poderão chegar ao passo. -> Campo do coronel Carneiro, 15 de fevereiro âe 1827 — Bento Manuel Ribeiro, coronel comandante da IP brigada ligeira". - 239 - Vendo què o inimigo ia transpor o Santa Maria, no passo de S. Simão, resolveu Barbacena vadear o mesmo rio muito mais a montante, isto é, no Passo do Rosário. "A derrota do inimigo — escrevia êle — de S. Gabriel, no dia 17, ao ministro — será certa e total, se eu conseguir alcançá-lo. Para esse fim marcho amanhã (18) de madrugada pelo Passo do Rosário, deixando aqui doentes, bagagens e munições de boca. Também deixo algumas de guerra, e farei quanto couber em minhas faculdades para dar um combate, que terminará a guerra para sempre e cobrirá de glória o exército nacional". Barbacena estava de tal modo convencido de que Alvear retirava cíim a máxima celeridade, que temia que seus cavalos não lhe permitissem "seguí-lo até o Uruguai'. Todo serviço de exploração executado nesse período pela l. a brigada de cavalaria, provavelmente na retaguarda e no flanco direito de Alvear, poderia proporcionar-nos elementos para estudos de grande proveito; estamos, porém, reduzidos a conjeturas. De S. Gabriel lançou Barbacena uma proclamação a suas tropas, concitando-as à batalha. Nela anunciou que Alvear deixara após si uma retaguarda sob o comando de Lavalleja, e "adiantara de quatro marchas a infantaria e a artilharia". Tudo isso espalhou no exército entusiasmo indescritível. Releva interpolar aqui algumas ponderações oportunas: Acabei de dizer estar Barbacena convencido de que Alvear se afastava dele deliberadamente para o evitar; em sua proclamação de S. Gabriel denominou o avanço do general argentino fuga vergonhosa e precipitada. Só o que o general brasileiro não deixou escrito foram as razões por que lhe ia no encalço mediante a passagem do rio Santa Maria no Passo do Rosário. Depois de sair de S. Gabriel, o exército argentino penetrou no ângulo formado pelo Santa Maria e o Ibicuí. Três estradas se lhe abriam, conforme a díreçao que desejasse seguir: a l. a , era a do Passo do Umbu, se lhe fosse intenção caminhar no rumo geral do norte; a 2. a , a do Passo de S. Simão, por onde pareceu a Bento Ribeiro que êle iria prosseguir, e a 3. a , a do Passo do Kosário. Estando, convencido de que seu adversário continuaria a marcha pelo Passo de S. Simão, Barbacena podia ir atacá-lo t trilhando a mesma estrada e surpreenf/endo-o, se possível, na — 240 momento da travessia do rio Santa Maria, ou obliquando, à esquerda, e vadeando este rio no Passo do Rosário. *Por que preferiu a segunda solução? Ninguém hoje poderia dizê-lo com absoluta certeza. Todavia, minha conjetura é que, estando o general brasileiro firmemente convencido de que Alvear fugia para oeste, portanto no rumo de Alegrete, entendeu que o único meio de alcançá-lo sem tropeço seria transpor o Santa Maria mais a montante, seguindo uma estrada mais direita até Alegrete, de modo a arpoá-lo no flanco esquerdo. Ora, partindo de S. Gabriel, a estrada que melhor satisfazia a essa condição, era, sem dúvida, a do Passo do Rosário pelo banhado de Inhatium e, por isso, êle a tomou. De resto, não havia tempo que perder. Bento Ribeiro dera aviso de que Alvear passaria o Santa Maria a 17, isto é, no mesmu dia em que tal comunicação o alcançava em S. Gabriel; logo, urgia abalar pelo caminho mais rápido e sem um minuto de hesitação. Esboço „. 22 No dia 18, Barbacena prosseguiu a marcha, atravessou o referido banhado e deteve-se, para acampar, junto ao arroio do Salso e do porto de João de Deus (esboço n. 22). No dia 19, partiu o exército às 5 e ^ j da manhã, sempre pela estrada que conduz ao Passo do Rosário; às 8 tinha notícia de estar próximo o inimigo; às 11 e % chegava à estância de Feliciano Duarte e, uma hora depois, acampava perto da de Manuel Pereira, afastada uma légua do referido passo*(esbôço n. 23). Machado de Oliveira diz que essa estância era de Francisco José, nome que, de fato, figura em uma das plantas de Seweloh. Nossa vanguarda tiroteou com o inimigo durante o dia c recolheu-se à noite. Participou, informa Machado de Oliveira. que êle havia sobreestado na passagem do rio e iria oferecer-nos batalha. — 241 Vemos assim que, partindo de S. Gabriel, Aívear havia penetrado no rincão formado pelo Santa Maria e o Caoequí, que nele se detivera um pouco, arrebanhando quanto podia, e afinal tomara a deliberação de sair do mesmo pelo Passo do Rosário. Destarte, enquanto percorria um arco de curva, nós não adiantávamos pela respectiva corda e o surpreendíamos quando tentava passar um rio, que,-como veremos, estava de nado. Esboço n. 23 Barbacena ainda a 19 reuniu um conselho de guerra de generais e comandantes de brigada. Foram todos de opinião <jue se devia acometer o inimigo em qualquer lugar e disposição em que fosse'encontrado; que a fadiga na cavalhada nada justificava, pois também deveria existir no partido contrário, e que a ausência da brigada de Bento Manuel ficava compensada pelo .talo de ser o terreno favorável à infantaria. Barbacena resolveu o ataque para o dia seguinte. . Entrementes, ionde se, encontrava a l. a brigada ligeira? 'Por que não veio participar na peleja do dia 20? É questão difícil de elucidar, mas em que de novo tocarei mais tarde. O momento é azado para nos.ocuparmos da ordem de batalha -e do efetivo dos brasileiros. Com a chegada de Brown ao acampamento de Palmas, no dia 5 de fevereiro, o exército de Barbacena sofreu nova modificação, de que resultou esta ordem de batalha no Passo do Rosário: — 242 — l.a Divisão (General Sebastião Barreto Pereira Pinto) l.a Brigada de infantaria. (Cel. Leitão Bandeira) j a) Batalhão de caçadores n. 3 (Do Rio de Janeiro) — Major J. Crisóstomo da Silva; è) Batalhão de caçadores n. 4 (Do Rio de Janeiro) — Tenente-coronel Freire de Andrade ; c) Batalhão de caçadores número 27 (de alemães) — Major L. M. de Jesus. l .a Brigada de cavalaria (Cel. Emídio Calmon a) 1.° Regimento (do Rio de Janeiro) — Tenente-coronel Sousa da Silveira; b) 24 Regimento de milícias (Guaranis das Missões) — Major Severiano de Abreu. 2.a Brigada de cavalaria. (Cel. Araújo Barreto) a) Regimento (Rio Grande do Sul) — Tenente-coronel M. Barreto Pereira Pinto; b) Esquadrão de lanceiros (de alemães) — Cap. vonQuast; c) 40.° Regimento de milícias (de Santana do Livramento, também chamado de Lunarejo) — Tenente-coronel José Rodrigues Barbosa. 2.° Divisão (General João Crisóstomo Calado) 2.a Brigada de infantaria. (Cel. Leite Pacheco) a) Batalhão de caçador número 13.° (da Bahia) —Tenentecoronel Morais Cíd; 6) Batalhão de caçadores número 18.° (de Pernambuco) — Coronel Lamenha Lins. — 243— - 3.a Brigada de cavalaria. ., (Cel. Barbosa Pita) a) 6.° Regimento (do Rio Grande do Sul) — Major Bernardo Joaquim Correia; b) Esquadrão da Bahia — Major Pinto Garcez; c) 20.° Regimento de milícias (de Porto Alegre) — Coronel J. J. da Silva. 4.a Brigada de cavalaria. (Gel. Tomás da Silva) a) 3.° Regimento (de S. Paulo) — Tenente-coronel Xavier de Sousa; b) 5.° Regimento (do Rio Grande do Sul) — Tenente-coronel Felipe Néri de Oliveira. Corpo de voluntários do Ge, neral Abreu (Barão do Cerro Largo) (11 companhias de gaúchos a cavalo, congregadas por 2.a Brigada ligeira de cavalaria — (Coronel Bento Gonçalves) . 21.° Regimento de milícias (da vila do Rio Grande) — Major M. Soares da Silva. 39.° Regimento de milícias (da vila do Cerro Largo) — Tenente-coronel Isas Calderon. ARTILHARIA (Coronel Tomé Madeira) 11 bocas de fogo de calibre 6. 1 obus cilíndrico de 6 polegadas. grupadas e distribuídas desta maneira: o ff) 4 baterias de 2 bocas de fogo cada uma (do 1.° corpo de artilharia montada do Rio de Janeiro, sob o comando do 2.° tenente Mallet, 1.° tenente Português Pereira, capitães Correia Caldas e Lopo Botelho) (associadas à l. a Divisão); — 244 — b) -4 peças (do 4.° corpo de artilharia de posição de Santa Catarina comandadas pelo major Samuel da Paz (associadas à 2. a Divisão). Segundo o Barão do Rio Branco, escritor sempre escrupuloso e bem informado, o efetivo do exército de Barbacena que combateu no dia 20 de fevereiro era o seguinte: Estado-Maior • infantaria Cavalaria Artilharia 25 homens 2.294 " 3.734 " v 285 " , 6.338 Alguns deles tinham estes destinos: a) Empregados na guarda e / condução do parque, hos- i pitai, bagagens e cavalríada • \ b) Doentes deixados em São \ Gabriel ( , c) ' d) „ rresos Escolta do General 361 homens de cavalaria 68 " de infantaria 40 " de artilharia 469 183 homens de cavalaria 83 " de infantaria 5 " de artilharia 271 ( 4 homens í „ o I 2 — 46 homens de cavalaria i .£ . . de infantaria de cavalaria. Donde se infere que estiveram prontos no campo da ação 6.067 homens. A l. a Brigada ligeira de cavalaria (Bento Manuel Ribeiro) compunha-se, segundo Osório: a) Do regimento de cavalaria n. 22; b) Do regimento de cavalaria n. 23; c) De paisanos e guerrilhas. Ao todo 1.100 homens. V Alvear põe em movimento o exército argentino — Invasão do Rio Grande do Su ' — Insucesso completo do plano de manobra que êle pretende haver concebido Antes de levar à batalha as tropas brasileiras, volvamos, mais uma vez, a atenção para o exército das Províncias Unidas. Deixamo-lo, no acampamento do Arroio Grande, pronto para marchar. Pelo que já sabemos, deveria compor-se de argentinos e orientais, sendo que provavelmente aqueles entrariam em maior número, vista a extensão territorial das província* unidas comparada à da Cisplatina. 'Qual a sua ordem de batalha e força numérica? Durante largo tempo reinou grande incerteza com respeito à última destas questões; os argentinos e orientais preocupavamse com realçar a sua inferioridade numérica no dia da peleja. o que positivamente não é verdade, como espero mais adianle patentear ao leitor. Por enquanto, limito-me a declarar que vou seguir no cômputo numérico dos argentinos as informações do tenentecoronel Amadeu Baldrich, em seu livro História de Ia Guerra dei Brasil, a que, mais de uma vez, já fiz referência. Trata-se de um autor que nos é hostil, a que falta imparcialidade, que baralha os assuntos para os expor num estilo gongórico, e que carece das qualidades essenciais no historiador, segundo Frejeiro, mas que declara o seguinte: "No obstante, después de una laboriosa investigación en los legajos inéditos, hemos llegado á un resultado que, sin duda aiguna, es el más exacto que pueda ofrecerse. Con Ias listas de revista podemos, pues, restablecer aquel organismo complejo que, en el mes de Diciembre de 1826, muy poços dias antes de iniciar el General Alvear su admirable marcha estratégica hacia el enemigo, por Ia linea dei Rio Negro, en vísperas de Ituzaingo, por consequência, tenía Ia seguinte organización y personal" ( ] ) . (D Pág. 200. — 246 — Segundo o mesmo Baldrich, eram estes os corpos argentinos e sua força numérica, tais como resultam do Arquivo Nacional da República Argentina: INFANTARIA Bat. de caç. n. 1. (Cel. Manuel Correia) Bat. de caç. n. 2 (Cel. Ventura Alegre) . . . . . . Bat. de caç. n. 3 (Cel. Eugênio Carzón) Bat. de caç. n. 5 (Cel. Felix Olazábal) . . . . 452 homens (oficiais e praças) 416 534 " 499 " 1.901 CAVALARIA Regimento n. 1 (Gel. Frederico Brandsen) .. . Regimento n. 2 (Cel. José Maria Paz) Regimento n. 3 (Cel. Anjel Pacheco) / Regimento n. 4 (Cel. Juan Gallo Lavalle) Regimento n. 8 (Cel. Juan Zufriatégui) Regimento n. 9 (Cel. D. Manuel Oribe) Regimento n. 16 (lanceiros) (Cel. José de . Olavárria) Colorados de linha (Cel. José Maria Vilela) . . Esquadrão de couraceiros (Cel. Anacleto Medina) 510 homens 574 " 351 393 " 473 512 415 " 422 " 140 " 3.790 " — 247 — ARTILHARIA Um regimento de artilharia • ligeira de 2 esquadrões de duas companhias (16 peças) (Coronel Tomás Iriarte) 503 homens Ou, em resumo: Infantaria 1.901 " Cavalaria 3.790 " Artilharia 503 " 6.194 " Cumpriria juntar ainda a este número o quartel-generai e, aduz Baldrich, "un pequeno plantei de injenieros, ai mando dei comandante Trellé y el parque, maestranza y el personal de Ias escoltas particulares de Soler, Mannilla y Lavalleja, que, en total, arrojan un efectivo de un centenar de plazas, entre oficiales, clases, obreros y soldados". Os corpos. orientais, segundo Clemente Frejeiro, escritor escrupuloso e sincero —- eram compostos de milícias da Província Cisplatina e tinham estas denominações ( 2 ) : Dragões libertadores Divisão Maldonado Divisão de Colónia Divisão de Paysandu Milícia de Pando Milícia passiva de Paysandu . . Milícia de Mercedes e atiradores de San José (Coronel Servando Gomes). (Coronel Leonardo Oliveira). (Coronel Arenas). (Comte. Rana e Melilla). (Tenente-coronel Burgueno). (Comte. Tejera). (Tenente-coronel Adrian Medina). Ascendiam ao todo — ajunta o mesmo autor — a mais de 2.000 homens. Figuravam também entre as milícias da Província, Baltaojeda, vaqueano principal do exército, com uma companhia; Carnaval e sua partida de vaqueanos, que acompanhavam o general Lavalleja e os capitães Caballero, Benavidez e Fernandez, chefes de guerrilhas" (3). (2 e 3) La batalha de Ituzaingó — pág. 110. 248 — Tomando por base essas informações, que me parecem a.~ mais fidedignas, chega-se à conclusão de que o exército de Alvear numerava, seguramente, mais de 8..000 homens. 0 general argentino subdividiu essas massas em três grupos, que denominou corpos; compôs o primeiro das unidades orientais e agregou-llu^. como núcleo sólido, o 9.° de cavalaria; e o 2.° e 3.° de. tropas argentinas e uma fração insignificante de orientais. Eis a sua ordem de batalha: COMANDANTE EM CHEFE General Carlos Maria Alvear 1.° Corpo (La valleja) . . . a) Os corpos de milícias orientais; b) Regimento de cavalaria n. 9. a) b) 2.° Corpo (Al- ! c) vear) j d) e) /) 3-° Corpo (Soler) .' c) b) c) d) e) /) g) h) í) Regimento de cavalaria n. 1; Regimento de cavalaria n. 4; Regimento de cavalaria n. 8; Regimento de cavalaria n. 16; Esquadrão de couraceiros; Milícias da Colónia. Batalhão de caçadores n. 1; Batalhão de caçadores n. 2; Batalhão *de caçadores n. 3; Batalhão de caçadores n. 5; Regimento de artilharia ligeira; Regimento de cavalaria n. 2; Regimento de cavalaria n. 3; Milícias de Mercedes; Parque e mestrança do exército. No dia 5 de janeiro reuniu-se a essa tropa o general Lúcio Mansilla, com o regimento de Colorados, Milícias de Pando e atiradores de S. José. Estas unidades foram incorporadas ao 2.° corpo e Mansilla nomeado chefe de Estado Maior. Fregeiro informa que o corpo de Lavalleja (1.°) estava fracionado em 4 divisões, comandadas, respectivamente, pelo gene•ral Laguna e coronéis Gomez, Oliveira, Manuel e Inácio Dribe (4). (4) La batalha de Ituzaingó — púg. 111. — 249 Em seu livro sobre a Guerra do Brasil, declara Baldrich serem os efeíivos que ele extraiu dos arquivos nacionais, e que eu reproduzi, os do exército ao abrir das operações; e que, se levarmos em conta as baixas até o dia da batalha (enfermos, prisioneiros, guardas das bagagens, destacados no passo, ele. e t e ) , poder-se-á afirmar que os combatentes no campo da açao não excediam 7.000. Também declara haver compulsado uns manuscritos inéditos de Iriarte, donde se deduzem as seguintes informações sobre o exército nacional, no dia 20 de fevereiro: 1.° Corpo (Lavalleja) . ... l . a Divisão 2. a Divisão 3. a Divisão. Laguna. Manuel Oribe.' Inácio Oribe. l . a Divisão Bran- (a) Regimento n. 1; dseii) (6) Regimento n. 3. 2.° Corpo Al- 2. a Divisão (La- (a) Regimento n. 4; vear) valle) \b) Colorados; \c) Esq. de couraceiros. 3. a Divisão (Zufriatégui) . . . . (a) \b) Regimento n. 8; Regimento n. 16. i aa rDivisão v • - (Paz) Í D \ <í o)( Regimento 6 l. ,n. 2:'.., . 7 TT (o) Um corpo de milícias. 2 a Divisão (01azábal) 3.° Corpo (Soler) f o) 1 b) 1 c) ' d) Batalhão n. 1; Batalhão n. 2; Batalhão n. 3 ; Batalhão n. 5. «) Vm regimento de artilharia de 16 * peças -I (11 canhões ligeiro? a 3. Divisão (Iri- ' de 4, 2 de 8 e 3 obuarte) i . ses de 7 polegadas) : * b) Um esquadrão de mi; lícias de Mercedes; c) Parque e mestrança- 250 — "O parque e impedimento, geral do exército •— ajunta o sobredito autor — constavam de 120 veículos, muito pesados, em que se conduziam objetos de hospital, enfermos, feridos e munições de infantaria e artilharia, de carretilhas (com equipamento, reparos de sobressalente, etc, etc), e de 20 galeras para o equipamento dos chefes e generais". Segundo o operoso escritor Clemente Fregeiro, quase todas as províncias argentinas estavam representadas no exército de Alvear. "La masa de el se compunia, en buena parte, de hombres tomados a Ia fuerza; y aunque les cuerpos podian considerar-se, en su casi totalidad, no occurria Io. mismo con les. jefes y les officiales, a excepción de los alfereces. Muchos reformados habian vuelto ai servicio activo, algunos con ascenso; asi como otros dei antiguo ejército de lps Andes que sucessivamente fueran llegando dei Peru". "La.habilidad de jefes y officiales y Ia constância y decisión de todos, hicieran en poços dias de un punado de reclutas un ejército de veteranos. Los infantes eran negros, viejos soldados en su majoria" (5). Os recursos materiais dos orientais e argentinos não deviam ser nem de primeira ordem, nem abundantes, a julgar pelo que se passava entrenós naquele período. Eduardo Acevedo Diaz, explana em seu livro Épocas Militares de los Países dei Plata, as dificuldades encontradas no provimento do exército. O autor dispunha de um manancial precioso, a saber as memórias do tenente?coronel António Dias, 2.°' comandante do batalhão de caçadores n. 5 e de fato seu comandante no Passo do Rosário, no dia 20 de fevereiro. Terei de citá-lo dentro em pouco mais de uma vez e nele me apoiarei de preferencia para reconstituir a batalha do lado argentino.v Pena é que o Sr. Eduardo Dias não desse outra organização a seus escritos, apagando-se nalguns lances de modo bem claro, a fim de que o leitor não tivesse a mínima dúvida sobre- o que é informação histórica original do avô e lavor literário do ilustre neto. "A mas de esto — escreve Diaz — el ejército carecia absolutamente de zapadores, de equipajes, de puentes ó armazones, de botes para el paso de los rios, de buenos guias pratico? (5) La batalha de Ituzaingó — pág. 108. — 251 — dei pais invadido, y hasta de planos exatos que pudieran servirle de auxilio en sus operaciones" "Adernas de aquella grande falta en el vestuário, todas Ias tropas dei ejército hicieran Ia campana descalzas. La infantería habia recebido un par de zapatos por plaza en acampamento dei Arroyo Grande; pêro de tan mala calidad, que à los ocho dias de marcha no habia un solo par servible, y toda Ia infantería quedo descalza; por conseguinte, rara era Ia jornada en que no resultasen algunos soldados imposibilitados de marchar 'por efecto de Ias espinas y de Ias piedras agudas en el país quebrado" "La infantería estaba provista de buenos fusiles; pêro como tropas ligeras que eran, no tenían cananas á propósito con cinturones, sino fornituras antiguas pendientes dei hombro, que á mas de ser de mucho embarazo para maniobrar ai paso de earrera y destruir los cartuchos por su mala contrucción, no resguardaban bien Ias municiones dei agua, ni dei fuego. Por encima de todo, aquella tropa no tenia polvorines, tan útilcs para Ia celeridad de los fuegos y para Ia conservación de Ias municiones en los atos de guerra" '"Otra falta de mucha consideratión era Ia de caramanolas para agua en aquella infantería; falta que en un ejército que ila á hacer Ia guerra en un clima ardiente y desierto, es superior á rodo encarecimiento. u También Ias mochilas que se destinaron á aquelle infantería. eran poças y malas. . . Del mismo modo que en Ia infantería, habia defectos d« trascendencia en el armamento y equipo de Ia caballeria". Pelo que nos conta Fregeiro, o mais bem armado de todos os corpos de cavalaria era ó l . ° ; o 3.° dispunha de coraza e sable largo; o pior armamento estava com as milícias orientais. Ao contrário do que se deu com Barbacena, Alvear não formulou um plano de operações antes de assumir o comando do exército nacional, ou, se o formulou, não o deu à publicidade, pois que até hoje ninguém fçz a esse documento a mais leve referência. Durante a marcha para a fronteira do Rio Grande do Sul, conversou por vezes com alguns de seus subordinados sobre o plano que estava executando; Brandsen transmitiu-nos fragmentos dessas conversas. Terminada, porém, a campanha e vendo-se acusado pelo governo argentino em uma mensagem que este dirigiu à Sala dos Representantes, publicou em sua defesa um papel a que deu este título: Exposição que faz o — 252 — general. Alvear para contestar a mensagem do governo de 1-Í de setembro de 1827. É documento de suma importância e at*'j imprescindível no estudo da Batalha do Passo do Rosário. Põe em relevo a necessidade, que o autor sentia, de se defender de graves acusações. Com respeito a seu plano, deparanos este trecho: "Se se examina atentamente a topografia da Banda Oriental e a da Capitania Geral de S. Pedro, e se se tem presente a posição que ocupava a força imperial destinada a defendê-la, conter-se-ão cinco pontos vulneráveis. 0 primeiro é o Quaraí, por onde havia entrado antes uma divisão; mas, afora o pedregoso do caminho e das serras por onde transitou, o país a que conduz este caminho é um dos mais despovoados do continente. 0 segundo era Santana, onde o inimigo linha seu quartel-general e para onde se poderia avançar de frente; porém este plano carecia de destreza e dava ao adversário a grande vantagem de esperai nos intacto, enquanto o movimento que deveríamos fazer para alcançá-lo, por isso que nos obrigava a atravessar um vasto deserto, ter-nos-ia destruído as cavalhadas, diminuído as forças e aumentado as privações. Os imperiais mantinham cobertos ali todos os seus depósitos e fácil lhes seria evílar o combate, passando o caudaloso rio Santa Maria, que lhes ficava na retaguarda e cuja margem direita poderiam defender a despeito de todos os esforços do exército republicano. O terceiro era a Coxilha Grande, que se poderia seguir francamente desde a Banda Oriental. Este caminho oferecia o grande inconveniente de indicar com sobrada antecipação o ponto do ataque. Por outro lado, em todas as guerras da monarquia o exército espanhol e o português haviam seguido a mesma direção, donde a preocupação geral e arraigada de que só por ali poderiam marchar exércitos regulares, com bagagens, parque e artilharia. Os dois pontos que vamos indicar eram os únicos que proporcionavam a um general hábil obrar com acerto. Lançar sobre Santana um corpo volante de tropas para chamar a atenção âo^ imperiais, mantê-los em contínuo alarme, enquanto o grosso do exército se encaminhava para o Rio Grande por Santa Teresa v com direção ao norte. El otro plano, que jué el adotado, consistia en achar un cuerpo de caballeria sobre Santana, mientras Ia masa de Ia tropa subia en rio Negro, maniobrando alternativamente sobre sus dos margenes, segan Io permitiesen Ias circunstancias y los movimientos dei enemigo. Esta maniobra debiu seguir se hasta Bagé, y alli entrar âla Cuchilha Grande, para 253 — ponerse en disposición de tomar de flanco todos tos rios dei continente, que por todas partes presentaban obstáculos" Reproduzi de propósito em castelhano o trecho principal e grifei-o para facilitar a meditação do assunto. Alvear apenas " descreve de modo vago o que praticou durante a invasão. Note bem o leitor que êle não fala aí por forma clara de bater separadamente os dois núcleos de forças brasileiras (Barbacena e Brown), como parece ter sido seu intento, conforme provarei dentro em breve; e não o faz porque todos já estavam no conhecimento de que tal ideia se havia malogrado. No entanto, se fosse sincero, é por aí que deveria ter começado sem rodeios. Seus partidários apelam invariavelmente para essa ideia quando pretendem comparar-lhe a habilidade de estrategista à de Napoleão Bonaparte. De sua explicação apenas se deduz isto, e foi mais ou menos o que êle fêz: Subir o rio Negro e manobrar alternativamente nas duas margens dele. segundo as. circunstâncias e os movimentos do inimigo. Devo expor agora a marcha do exército nacional com a minúcia que me fôr possível. Vou utilizar-me, para isso, do diário de Brandsen, do de capitão Revillo, dos boletins de Alvear e do livro de Fregeiro. Alveàr pôs-se em movimento com o 2.° corpo e o 3.° na direção geral de Bagé e ao longo do rio Negro. Lançou peia esquerda um destacamento fl.° corpo, Lavalleja) ou antes (ima flanco-guarda de cavalaria, idêntica à de Barreto pelo flanco direito* de Barbacena. É o tal cuerpo de cabaUeria .sobre Santana, a que alude em sua exposição. Pelo flanco direito não tomou nenhuma medida especial, motivo por que terá <íe esbarrai- com a brigada de Bento Gonçalves. Nessa marcha para o norte, até Bagé, os meios de informações de Alvear serão impotentes para lhe ministrar qualquer notícia de valor com respeito às tropas de Barbacena. 0 exército nacional caminhará no vazio, sem antenas assaz poderosas e penetrantes para romperem o véu com que Barbacena (por detrás de Barreto) e Brown (por detrás de Bento Gonçalves) buscarão reunir-se com segurança. É problema dificultoso traçar numa "carta o itinerário dos combatentes. Como não havia, naquela época, muitos núcleos de população, os pontos de referência dados pelos escritores são estâncuis, passos de rios e outros acidentes topográficos, que, ou não — 254 — figuram nos mapas atuais, ou são difíceis de identificar. Enquanto um oficial ou escritor uruguaio não preencher tão sensível lacuna, valendo-se de seu conhecimento da região, deve o leitor ser tolerante com os esquemas como os que lhe apresento, embora depois de haver tomado em consideração as fontes conhecidas e dignas de apreço, inclusive o mapa de Fregeiro. O 2.° corpo è ó 3.° estavam quase todos reunidos no acampamento do Arroio Grande; os do 1.° (Lavalleja) parece que se achavam disseminados, quiçá por motivos de cobertura. Segundo Fregeiro, a divisão de Gomez encontrava-se no passo de Bustillos, no rio Negro; a de Oliveira em marcha para Santa Luzia; a de Laguna no passo dos Sauces, no rio Queguai, e a de Inácio Oribe no Cordovez. A divisão de cavalaria do 2.° corpo, mandada pelo general Mansilla, estava em Toledo (6). No dia 26 de dezembro de 1826, Alvear forma as tropas do 2.° corpo e do 3.° no acampamento do Arroio Grande, e dirige-lhes a palavra, exaltando-lhes o patriotismo. Inicia a marcha o 2.° corpo (em que vai Brandsen) ; caminha através de campos abrasados e de aspecto estéril. No dia 27 prossegue a marcha e vai acampar, sob a chuva, junto ao arroio Porongo. . No dia 28 o 3.° corpo abala do Arroio Grande; o 2.° continua até acampar no rio Yi, a uma légua do arroio Maciel e a outra de Durazno. Brandsen toma o comando da 2. a divisão de cavalaria, formada pelos regimentos ns. 1 (de seu comando) e 8 (Zufriatégui). No dia 29 chega ao Passo de Durazno, atravessa o rio,e vai acampar junto ao Texera. No dia 30 remonta o Texera cerca de 5 léguas e acampa. No dia 31 prossegue até o arroio das Conchas, afluente do rio Negro, cerca de meia légua da foz. Nos dias 1, 2 e 3 não se marcha. No dia 3 chegam a l. a e 3. a divisões do 3.° corpo, depois o-parque e a bagagem do exército. No dia 4 também não se marcha. Chega a divisão Olazábal. No dia 5 o grosso de Alvear continua o movimento, passa o rio Carpinteria e o Negro (nõ passo do Bustillos) e acampa na margem direita deste. No dia 6 reenceta a marcha até o arroio Tigre, onde acampa. No dia 7 avança até o arroio Clara, afluente do Tigre, depois até o Carpinteria. Caminha durante a noite, com breve repouso. No dia 8 rompe de madrugada e vai até o arroio Maio. No dia 9 não marcha. No dia 10 continua o avanço para o arroio Clara. No dia 11 avança de novo e vai, por uma marcha noturna, até o Tacuarembó, onde acampa. No (6) Batalha de Ituzeângâ — paga. 119-120. — 255 — dia 12 atravessa o Tacuarembó e estaciona. No dia 13 não se move. No dia 14 avança ainda. A divisão de Brandsen perde o regimento n. 8, que é substituído pelo n. 3 (Pacheco). No dia 15 prossegue a marcha. Brandsen recebe a visita do general Mansilla. "Sufocado por tudo quanto vê — escreve aquele coronel — Mansilla não pode resistir a abrir-me seu coração; deplora a ignorância do general em chefe no que concerne à prática da ciência militar. Não sabe manobrar, nem acampar, nem prever nada; os cavalos deperecem a olhos vistos; a tropa está mal cuidada. 0 general em chefe, apesar de sua nenhuma experiência, só consulta a sua vontade e o seu capricho. Confunde todos os ramos de serviço, paralisa o talento e a experiência, e compromete a cada passo a existência do exercito e do país. 0 general Soler pensa da mesma forma. Reconheço em meu coração a justiça desses conceitos". No dia 16 novo avanço. A fadiga invade os cavalos. "Esta jornada — diz Brandsen —' parece ser o último suspiro da cavalhada do exército". No dia 17 continua o avanço. Novas queixas de Mansilla, o qual refere a Brandsen correrem mil anedotas escandalosas sobre as "imprudências, imoralidades e falta de valor" de Alvear. No dia 18 parece que não se marcha. No dia 19 há movimento, ao menos para o 3.° corpo (Soler). No dia 20 prepara-se o Passo do Mazangano, por onde toda a tropa se desloca para a margem direita do rio Negro. Convém lembrar ao leitor que, neste mesmo dia, Barbacena. estacionava à beira da Lagoa Formosa, entre Santana e o rio Santa Maria. É de toda a.vantagem, para maior clareza do assunto, ocuparmo-nos agora de Lavalleja (1.° corpo). Seguimos até aqui o que se poderia chamar a marcha do grosso de Alvear (2.° corpo e 3.°), com as incertezas inerentes à imperfeição dos documentos. Já referi que o general argentino fêz de Lavalleja um destacamento de segurança pelo seu flanco esquerdo. ^Por onde se encaminhou êle? Escudado no depoimento de Joaquim Revillo, publicado na Revista Histórica de Montevidéu, ousei esboçar.o itinerário do que se poderia chamar o grosso de Lavalleja. Durante a marcha, lançava este general reconhecimentos e destacamentos de descoberta, para colher novas do inimigo, cujos movimentos seria difícil acompanhar de perto, mas que o leitor deve ter presentes. Segundo Revillo, Lavalleja ordenou a convergência de todos 03 — 256 ?cus corpos para o passo de Bustillos, e daí partiu no desempenho de sua missão no dia 3 de janeiro, portanto 3 dias antes de Alvear, já tendo expedido na frente, para o arroio Maio, o regimento de Dragões (coronel Servando Gomez) e a divisão Laguna. No dia 4 avançou até o Achar, onde acampou. No dia 5 foi estanciar à margem do arroio Maio, com as unidades «jue o haviam precedido. No dia 6 lançou para a frente o regimento de Dragões, e.foi acampar junto ao arroio de Ciam. No dia 7 e 8 não se mexeu. No dia 9, avançou até o passo dó Cerro do Cardoso no Tacuarembó-Grande, transpôs o rio <; acampou do outro lado. Nesse dia, refere Joaquim Revillo, o corpo de Lavalleja numerava 2.300 homens. O coronel Servando Gomez estava na frente, em serviço de exploração. Mandouse-lhe um esquadrão de reforço. Lavalleja marchou na noite de 10. e a 11 permaneceu junto ao arroio Jaguarí. Aí recebeu notícia de haver Servando" tomado alguns prisioneiros. Ês!e oficial também se ocupava de arrebanhar gado vaccum e cavalar. No dia 12 remontou de noite o Tacuarembó. No dia 13 chegaram os 26 prisioneiros ,do coronel Servando. Pouco depois recebia Lavalleja uma informação deste oficial, em que ele comunicava ter sabido de um morador que uma. força inimiga de 800 homens lhe vinha em cima. Lavalleja respondeu que continuasse vigilante e se lhe fosse juntar na barra do Cunaperú, para onde se deu pressa em avançar. No dia 14 permaneceu perto da referida barra. Viram-se bombeiros (espias) inimigos na costa do Jaguarí e aprisionou-se um deles. À noite chegou a força ilo coronel Servando Gomez. Lavalleja abalou, sem perder tempo, no rumo da foz do Carpinteria de Jaguarí, e estacionou a dua^ léguas desse ponto. No dia 15 avançou até à beira do rio Jaguarí, que atravessou no dia seguinte (16), trasladando-se para a margem esquerda, depois de haver recebido notícia, de suas avançadas, de que uma coluna inimiga parecia dirigir-se ao local ocupado pelo 1.° corpo. Esses inimigos que reagiam contra Lavalleja pertenciam provavelmente ao destacameno de Barreto, que Barbacena havia expedido desde a noite de 14. No dia 17 continuou a marcha; enviaram-se patrulhas de exploração. Mandou-se uma partida ao Cerro Chato, onde se suspeitava a existência de espias inimigos. Na noite de 18 para 19. Lavalleja moveu-se e foi amanhecer na margem do arroio Hospital, onde repousou no dia 19. Na noite de 19 para 20, pós->cem marcha e foi surgir, ao romper do dia, no arroio S. Luis. - 257 - Soube por dois prisioneiros que o inimigo estava em los Curales (^arroio?) ese dirigia contra êle Lavalleja. As patrulhas mandadas para o ver nada descobriram. Continuou até o Pira!, junto do qual acampou. No dia 20 permaneceu em estação. A exploração em todos os sentidos nada colheu do adversário. Cumpre salientar que nesse dia (20) Alvear estava com o grosso de seu exército à margem esquerda do rio Negro, perto do Passo de Mazangano, e Barbacena à margem da Lagoa Formosa. Assim como até aquele instante Barbacena nada soubera de importância com relação a Alvear, também este quase tudo ignorava com respeito àquele. O véu distendido pela cavalaria fora eficaz em ambos os partidos. Em todo o caso, note o leitor, examinando o esquema junto a este livro, que se Alvear e Lavalleja operassem com energia a partir daí, no rumo do norte, conseguiriam atravessar-se na frente do adversário acima de Bagé. Mas o ardimento e a celeridade exigidos pela operação não eram .apanágio de nenhum desses chefes e, por isso, a oportunidade se lhes vai escapar^ como veremos em pouco. Continuemos a narrativa da marcha dos argentinos e uruguaios. No dia 21, segundo Brandsen, o general Alvear participou a seus chefes de divisão ter sabido que Bento Gonçalves se aproximava com uma divisão numerosa e a resolução em que estava ííe ir acampar na planície. Não se esqueça o leitor de que Alvear se encontra agora impossibilitado de ter o auxílio imediato de Lavalleja, pois que n deixou èm marcha do outro lado do rio Negro. iQue é que o teria levado a transpor o rio? Supunha que Barbacena estava na margem direita, tanto que aí conservara o 1.° corpo. Logo, se veio ocupar a esquerda, é porque intentava atacar nesta margem o adversário, talvez emterreno mais favorável. "O general republicano — lê-se no boletim n. 3 — para não perder a vantagem de manobrar pelo flanco esquerdo do inimigo e, levando sempre adiante seu projeto de interceptar-lhe a comunicação com o Rio Grande e ocupar Bagé, repassou o rio Negro com o 2.° corpo e o 3.° na tarde de 20, colocando-se em sua margem esquerda". Agora está relativamente claro o pensamento de Alvear: interceptar a comunicação de Barbacena e Browii. — 258 — Mas aparece á ideia de ocupar Bagé e a frase, até certo ponto enigmática, de manobrar pelo flanco esquerdo do inimigo. <i Estaria já esse inimigo a sudoeste para facultar-lhe taí manobra? No dia 22 continua o avanço; há um alarma em marcha por se haver avistado a duas léguas um grupo de adversários. No dia 23 prossegue o movimento. "O general em' chefe nos anuncia — escreve Brandsen — que o exército inimigo, saído de Santana, está em marcha sobre nós. Alegria causada pela notícia. Alvear, sempre ansioso por exibir seus conhecimentos estratégicos (sublinha Brandsen) diz-nos que, caso o adversário transponha o rio Negro, ele pensa dirigir-se sobre .Taguarão, volver atrás e dar batalha nas magníficas planuras da margem esquerda, que estava'pisando". Não pode haver maior documento da ignorância em que se encontrava Alvear relativamente às tropas de Barbacena. Julgava-o em marcha contra êíe, ao passo que o chefe~brasileiro repousava à beira do Santa Maria, no Passo de D. Pedrito. No dia 23 reinou alarma no grosso de Alvear. Supunha-se o inimigo tão próximo, que tudo parecia denunciar-lhe o aparecimen'o; ouviram-se estrondos ao longe. "Pretendem muitos — refere Brandsen — que são descargas de mosquetaria e artilharia; que Lavalleja foi atacado e acossado ao rio. Sustento a opinião contrária: que o ruído é de trovão e que Lavalleja é demasiado ativo para se deixar surpreender, com 2.500 cavalos, por infantaria e artilharia. 0 sucesso confirma minhas ideias. Hesitação do general em chefe; manda chamar Oribe, ordena que o n. 8 ensilhe; suspende o movimento das divisões. Por fim declara-se o temporal; desaparecem evidentemente todas as dúvidas e o corpo de exército acampa nas margens do rio Negro". Nesse mesmo dia há conferência com o general em chefe. "Êle deplora — narra Brandsen — a necessidade de subordinar suas operações militares ao estado dos cavalos; manifesta-nos a situação do general Lavalleja, que considera naquele intante comprometido e exposto a ver-se atacado pelo inimigo inteiro, o qual, acrescenta, baixou desde Santana até o Hospital (na altura de Aceguá, desde a margem direita) de onde regressou para Bagé, ocupado pelo general Lavalleja, com o ânimo de atacá-lo. Este general perdeu o fruto de sua expedição com ocupar Bagé, após a retirada de todas as famílias. O general Soler, que já deyia ter-se reunido com seu corpo de exército, está ainda a duas. — 259 — léguas daqui. Nesse estado de cousas, o general em chefe resolve-se a não abandonar a atual posição e a esperar o inimigo". "Proponho apoiar a retirada de Lavalleja, que se supõe ser perigosa, com uma divisão do 2.° corpo. A opinião é rebatida com o fundamento de que, já estando exposta a vanguarda, seria duplo erro expor mais uma divisão, argumento que não me convence, pois, se a vanguarda está, com efeito, exposta, pode-se ^ibertá-la apoiando-a em tempo; e, se não o está, a marcha da divisão não oferece outro inconveniente senão o de conservar a tropa a cavalo". "Ninguém abraça a minha opinião. Decide-se esperar Lavalleja, porém mover o 2.° corpo na direção de Soler, para ficar em condições de apoiá-lo se estivesse sendo atacado". Toda essa confidência de Brandsen tem inestimável valor;' sublinha o perigo a que Alvear deixara exposto Lavalleja interpondo entre as duas frações do exército nacional um curso de água como o rio Negro, na crença (aliás errada) de que o inimigo iria cair em massa sobre seu loco-tenente. Felizmente para ambos, Barbacena estava ainda longe e o adversário que descera de Santana para o Hospital era apenas a flanco-guarda de Barreto. A insuficiência do serviço de exploração criava o estado de dúvidas e inquietações em que se debatia o general argentino. Deixamos Lavalleja à beira do Piraí. Acompanhemo-lo de novo por instantes. Na noite de 20 para 21, êle levanta acampamento e sobe a coxilha entre o Piraí e o rio Negro, onde permanece, diz Revillo, con el caballo de Ia rienda, por ignorarse el paradero de los enemigos. Havendo suspeitas de que estes se tivessem recolhido a Bagé, para lá se envia de madrugada uma partida de reconhecimento a qual volta comunicando não haver novidade. Lavalleja regressa então à margem do Piraí (dia 21), para um ponto duas léguas abaixo do que antes havia ocupado. A tarde CMUVC copiosamente. 0 temporal e a obscuridade não lhe p ^ miíem caminhar durante a noite. No dia 22 um prisioneiro tomado em Bagé diz constar-lhe (lê-se em Revillo) que a coluna inimiga se encontrava nas ilhetas do Guaviju, pontas do Hospital, e Bento Gonçalves no Guaviju, da outra parte do rio Negro, com ordem de reunir-se à coluna". Todos esses informes têm visos de realidade-e devera referir-se às forças de Barreto e Bento Gonçalves,-no momento ora que buscavam congregar-se. - 260 - Em vista disso, Lavalleja abala até o Passo do.Lemos, no rio Negro, "para cortar a Bento Gonçalves" ou "por-se em contacto com Alvear", caso fosse alacado pelo chefe brasileiro. Na noite de 22 para 23 transporta-se para a coxilha, onde se demora até o alvorecer. Avança depois e acampa, às 11 horas de 23, na fralda da serra de Bagé. Daí vai ao povoado, . à frente de um esquadrão. Bagé estava deserta; só se encontrou nela um português que cuidava de um carregamento de farinha. Lavalleja regressa e põe-se em movimento com sua divisão para o Passo do Valente, "em razão — diz Revillo — de ter-se avistado na tarde anterior uma coluna inimiga, formada, segundo informes dos moradores, por Bento Gonçalves e pela brigada de Barrero, que seguiam para se reunir ao exército". No dia 24 Lavalleja permanece no dito passo.' À tarde chega Alvear. Ambos vão a Bagé e de noite estão de regresso nos respectivos acampamentos. Como no dia 24 o 2.° corpo não se move, e só a 25 se dirige ao Passo do Valente, que alcança às 7 e % , já noite fechada, e como de seu último pouso ao dito passo há apenas duas léguas, creio que é somente com pequena escolta, que Alvear se encaminha, no dia 24, ao encontro de Lavalleja no já mencionado Passo do Valente. No dia 26 o mesmo-Alvear ocupa a povoação de Bagé com a infantaria, enquanto a cavalaria e a artilharia acampam nos arredores. No dia 27 não marcha e parece que apenas toma medidas de segurança imediata. "O saque faz-se geral — reflete Brandsen compungido — tanto na povoação, como na campanha, para eterna desonra do general e do exércitOj mas sobretudo do primeiro, em cujas mãos estava evitá-lo". Desde 26 que Lavalleja tomara posição duas léguas ao norte de Bagé, na costa do Piraí, constituindo-se em vanguarda de Alvear. Choveu torrencialmente a 26; a 27 e 28 continuou o mau tempo. No dia 29 Lavalleja avançou em direçãp às pontas do Camacuan. Os dias 30 e 31 de janeiro, e 1.° e 2 de fevereiro empregou-os em rastrear o inimigo e arrebanhar animais nos arredores. Apesar dè alguns tiroteios com a retaguarda dos imperiais, soube apenas que Barbacena se internara pelo Camacuan. Até essa data, isto é, de 26, a 30 de janeiro ^que fazia Alvear imobilizado em Bagé, enquanto o adversário lhe cruzava na frente em busca de Brown e de terreno favorável? — 261 Nada, absolutamente nada! O inimigo desaparecia encoberto num véu de incertezas. Alvear, porém, crê que êle já está todo reunido e em marcha; a 31 leva o fato ao conhecimento de Brandsen, e prevê uma batalha para o dia seguinte (1.° de fevereiro). No entanto, no dia 30 não se corre de dizer em boletim (n. 3) a suas tropas: "O general inimigo, depois de haver andado em marchas e contramarchas por falsas direçÕes, buscando o exército da Re- pública, encontra-se, hoje, por fim, a oito léguas de distância.. . A habilidade das manobras do exército republicano o, honra tanto, quanto desfavorece militarmente as do general inimigo". O leitor, que possui agora os documentos, pode aquilatar da ousadia, e pretensão do general Alvear! Avança contra os grupos do adversário com o intuito de os separar, nada consegue e fica paralisado sem saber *b que estão fazendo. Supõe que já se encontram reunidos, quando eles ainda permanecem distantes. Cuida que lhe vêem ao encontro, enquanto só os preocupa nesse momento o desejo de se reunirem. E nada obstante, ousa proclamar a habilidade das manobras do exército republicano! De sua inação em Bagé,' deu tempos mais tarde esta explicação: "Na verdade, nada era mais urgente do que atacar o marquês de Barbacena, quando ainda se não havia reunido a Brown. Às 11 horas do dia 26, todo o exército republicano se encontrava era Bagé. Dirigiu-se imediatamente a vanguarda para o Pirai, com o objetivo de obrigar à retirada a cavalaria de Barreto, que inundava a margem- esquerda daquele arroio. Todas as medidas estavam tomadas para que- o exército se pusesse eni marcha às 4 da manhã de 27. Porém às dez da noite dá véspera desabou horrível tormenta, que inutilizou toda combinação. A chuva descia em torrentes e continuou com singular tenacidade até às 5 da manhã de 30. Era extrema a impaciência do general em chefe, mas tanto os outros generais, como o coronel de artilharia e comandante do parque, manifestaram àquele general, nas três vezes que quis pôr-se em movimento, a impossibilidade de realizá-lo. Na verdade, as quebradas e arroios mais humildes estavam de nado, o terreno impraticável, e, por fatalidade, o temporal, que tinha sido furioso nas imediações de Bagé, fora leve no espaço em que transitava o exército inimigo. Tinha este de mais a vantagem de vir seguindo uma coxilha direita, que o — 262 — levava :t tomar a serra de Camacuan. 0 temporal foi a sua salvação" ( 7 ) . No dia 31, todo o exército se desloca para o ponto do antigo Forte de Santa Tecla e aí estaciona. Lavalleja deve estar na frente buscando contacto com os inimigos. No dia 1.° de fevereiro o mesmo exército avança 4 ou 5 léguas, até uma estância, perto do arroio Iratacuá ( ? ) . Alvear supõe que Barbacena se dirige ao Passo dos Enforcados, no Camacuan-Cbi<;o (Boletim argentino n. 4, de 11 de fevereiro). No" mesmo documento se declara que os argentinos acamparam nas pontas do Camacuan. "Temporal furioso, diz Srandsen; chove e. troveja toda a noite". No dia 2 creio que não se marcha, a julgar pelo diário de Brandsen; mas o boletim n. 4 afirma qile os republicanos se internaram na serra em perseguição dos contrários. Continua o aguaceiro. No dia 3 Jirandsen tem uma explicação pessoal com Alvear, que o ^hama à sua presença. Desfazem-se as intrigas entre os dois. Logo depois ocorre o mesmo com Pacheco., "acusado de hav<;r atribuído a inaçao do general em chefe ao encontro de uma nina bonita, que ficoii enferma na casa em que se havia apeado o mesmo general". Brandsen e Lavalle tomam a resolução de ajudar a Alvear, quaisquer que sejam seus planos, apesar de decidida repugnância que êle inspira a alguns camaradas. Às 11 horas desse dia (3) o exército avança, descreve Braiuàieu, seguindo o adversário, cujo rastro, na direção do Rio Grande e Porto Alegre, se encontra a duas léguas do iratacuá, no caminho real.. .Vai acampar nas pontas do Camacuan. " 0 inimigo — pondera Brandsen — logrou seu ofrjetivo e está envçomunicação dire!a e perfeitamente livre com as.divisões que espera e que estão marchando do Rio Grande e Porto Alegre. Acerca-se o momento decisivo". ^ Note o leitor que Brandsen afirma isso a 3. quando só a 5 tal reunião se efetuou. No dia 4 Brandsen recebe a visita de Garzón, com quem troca ideias sobre a discórdia que começa a lavrar no exército. "Nossa posição, de fato — escreve êle -— sem ter nada de alarmante, é crítica, arriscada e requer de todos união e os mais eficazes esforços. 0 inimigo vê-se na necessidade de ceder ao clamor geral e de proteger o país invadido, após haver obrigado a população a abandonar os lares. Concentradas suas forças. (7) Exposição — págs. 49 i; :i(!. — 263 — ninguém duvida de que tomará por seu turno a ofensiva. A sorte de ambos os países depende de uma batalha. Os portugueses não podem evitá-la sem incorrer na execração dos povos, e o general inimigo, salvo se tiver instruções em contrário, sem se expor a morrer na forca. Dentro de oito a 10-dias, a província do Rio Grande do Sul, será livre ou subjugada, a Banda Oriental salva ou perdida, e a República constituída ou desmantelada, e reduzida a humilhar seu orgulho e sua existência à lei do vencedor". "Nestas ciicunstâncias parece prudente desistir-se de seguir o inimigo, que o estado de nossas cavalhadas não nos permite alcançar, escolker nosso campo de batalha, procurar remontar a cavalaria e aguardar o adversário. Toda esperança de retirada seria ridícula. É preciso vencer ou morrer". As frases grifadas caracterizam as opiniões de Brandsen. das quais, sem dúvida participavam os chefes do valor dele. Nesse mesmo dia 4, Alvear reuniu primeiro um conselho privado de generais e depois outro, geral, em que tomaram parte os coronéis. Brandsen relata o que se passou no segundo. Alvear expõe as operações até ali e diz que a consequência da ocupação militar do país abandonado, da tomadia de seus recursos e da remonta da cavalaria "será provavelmente obrigar o exército brasileiro a ceder ao clamor de seus habitantes ou à confiança que deve ter em si, após a incorporação da divisão do Rio Grande, saindo das foríes posições que elegeu, e vindo apresentar-lhes batalha em um campo-já por eles escolhido e favorável ao desenvolvimento de sua numerosa cavalaria, que é a principal força do exército republicano". Só Brandsen quebra o silêncio subsequente, perguntando se está perdida toda a esperança de se impedir a reunião das forças de Barbacena. Ante a resposta afirmativa, aplaude a determinação de "desistir, por ahora, de todo plan de persecutíón hasta depues de remontada Ia caballeria y-de occupar el território enemigo". Foi sem dúvida nesse conselho privado de generais que se assentou a seguinte resolução, firmada no mesmo dia: "Os generais abaixo assinados, tendo sido reunidos em junta de guerra pelo Sr. General em Chefe, declaram, depois de haver ouvido o que expôs S. Excia., que as marchas e manobras executadas pelo exército foram as mais hábeis e acertadas, e merecem a aprovação dos que abaixo firmam; que a demora do exército em Bagé foi indispensável e necessária, pois não poderia — 264 — ter-se movido em vista do estado intransitável dos caminhos e quebradas, como consequência das chuvas; que em vista da posição escabrosa ocupada na Serra peio inimigo e da inferioridade de nossa infantaria, atendendo igualmente ao estado das cavalhadas do exército, são de opinião que se não ataque o adversário e se manobre para tomar as pontas do Santa Maria. Quartel General na Serra de Camacuan, 4 de fevereiro de 1827 — Miguel Soler — Juàn António Lavalleja — Lúcio Mansilia — Julian Laguna" (8). Compreendendo a importância do insucesso, que lhe abalava a reputação, apressou-se Alvear em cobrir-se para o futuro com a opinião dos subordinados. No dia 4, marcha-se pouco, creio que pela Coxilha Grande. No dia 5 continua a marcha por cima da dita coxilha e pelo caminho real, até as pontas do Tacuarembó, em cuja margem se acampa. No dia.6 Lavalleja avança pelo Jaguarí abaixo e recebe comunicação de Alvear de que vai cruzar com o exército no passo real de Jaguarí, com rumo a S. Gabriel, e que o 1.° corpo lhe deverá servir de retaguarda. Disse há pouco que Lavalleja estava na frente de Alvear: agora, com esta ordem, ficamos sabendo que, enquanto o comandante em chefe desfila para o norte, o 1.° corpo o cobrirá pela retaguarda, interpondo-se entre o exército nacional e o de Barbacena. No dia 7 os dois grupos — grosso e retaguarda — estavam à vista e Lavalleja em comunicação direta com Alvear. 0 grosso argentino, que tinha a 6 passado o Tacuarembó, chega ao meio dia de 7 ao arroio Jaguarí, em cuja margem bivaca. No dia 8 desce pela margem esquerda desse arroio, transpõe-no e vai acampar nas fraldas do Cerro de Batoví. No dia 9 há um alarma infundado e preparativos de combate. O suposto inimigo reduz-se ao corpo de Lavalleja, que-se aproxima e reúne ao grosso. 0 exército avança parq. o norte atf1 o Vacacaí. "Todo dpaís é magnífico, escreve Brandsen; o mato exala perfumes". No dia 10 prossegue o avanço. O general em chefe vai reconhecer S. Gabriel., O diário de Brandsen fecha no dia 11, com a indicação de movimentos sem importância. É neste mesmo dia, à 1 hora da madrugada, que a tropa brasileira, volve sobre seus passos ao encontro dos inimigos. (8) Exposição — pág. 16. — 265 - O diário de Revillo vai mais longe e permite-nos acompanhar a marcha da retaguarda; para a do grosso temos o boletim argentino n. 5. No dia 13, Lavalleja entra em S. Gabriel e acampa junto à vila; aí permanece, por ordem superior, nos dias 14 e 15. ^A 16, recebe ordem de Alvear para lhe ir ao encontro num ponto afastado dez léguas, a que se havia retirado. <SQue fizera o general em chefe de 12 a 17 vde fevereiro? ^Caminhara para o norte, penetrando no triângulo formado pelo Cacequí e o Santa Maria? • Eis certos pormenores dessa marcha, segundo o boletim n. 5: A 12 estava no Vacacaí e daí partiu para S. Gabriel, em cujas imediações estacionou; a 13 não se moveu; na noite de 13 para 14 tomou o caminho da Coxilha Grande e acampou junto ao cemitério; a 14 mudou de direção, e pendendo à direita, caminhou toda a noite; às 8 da manhã tomou posição junto ao Jacaré; a 15 abandonou o Jacaré e na tarde de 16 chegou a Cacequí. Neste dia, segundo Alvear afirma na Exposição, enquanto Barbacena entrava em S. Gabriel, seu exército encontrava-se cinco léguas curtas mais ao norte. Ignoramos, o que é lacuna sensibilíssima, as minudências da exploração dos coronéis Bento Manuel Ribeiro e Benta Gonçalves contra Alvear. Barbacena dizia a 11 de fevereiro que os tinha expedido sobre os flancos do adversário. O que é fora de dúvida é que Bento Manuel operou no flanco direito de Alvear; suas partidas o molestaram de tal forma, que êle se viu forçado a reagir com toda a energia. Daí os combates de Vacacaí e Umbu (13 e 15 de fevereiro). No primeiro, dizem os argentinos que Lavalle se lançou com seu regimento contra a brigada de Bento Manuel Ribeiro e a derrotou. A tradição entre nós, confirmada por Osório, é diferente. Bento Manuel tinha uma vanguarda sob -o comando do major Gabriel Gomes Lisboa, de que fazia parte o tenente Marcelino Ferreira do Amaral. Este tenente, à frente de 70 homens, surpreendeu um destacamento argentino de 100, junto ao rio Vacacaí, matando-lhe dois oficiais e 20 soldados. Como, porém, acudisse Lavalle com muita força, o tenente Marcelino retirou e foi juntar-se à coluna de Bento Manuel, tendo perdido apenas dois mortos e três feridos. Com intuito de livrar-se de vez de Bento Manuel Ribeiro, organizou um destacamento sob ,as ordens do general — 266 Mansilla e composto, segundo o boletim h.'5, de 300 lanceiros do regimento n. 8 (Zufriatégui), 200 do 16.° (Olavárria), 100 do 1.° (comandante Cortinas), 100 do 2.° (capitão San Martin e capitão Albarracin) e dos couraceiros de Medina. O leitor deve lembrar-se ter sido no dia 15 de fevereiro que Bento Manuel escreveu a Barbacena avisando-o, dos campos do coronel Carneiro, de que Alvear ia passar o Santa Maria no passo de São Simão e de que, êle Bento Manuel, se dirigiria ao Passo do Umbu. É, pois, natural supor que Mansilla o atacasse, como atacou, no mesmo dia 15, quando êle se encontrava em marcha para o sobredito passo. Também é possível que o fizesse antes, determinando a partida mais acelerada de Bento Manuel naquele rumo. O que é fora de dúvida é que, atacado com energia, o chefe brasileiro cruzou o Ibicur, no sobredito passo, cobrindo-se antes dele, na Sanga Funda, com três esquadrões; ao mando do major Gomes Lisboa, que afinal se lhe juntaram. Perdemos um oficial e 20 praças. Mansilla não pôde passar o rio. • Daí, informa Osório, Bento Manuel dirigiu-se ao rio Jaguarí, donde voltou ao Ibicuí; a 19 de fevereiro estava no Passo de Santa Vitória. A reação de Mansilla contra Bento Manuel teve influência capital, como verificaremos, no desenlace da batalha do Passo <lo Rosário, e merece os mais francos encómios. Tornemos aos movimentos de Alvear. "No dia 17 — lê-se em Revillo — receberam-se partes rlc que a coluna (inimiga) parara em Vacacaí, passara de S. Gabriel e que seguia com o rumo do Passo do Rosário no Santa Maria. Mandou-se aviso da ocorrência ao general; às duas da tarde chegou nova informação de que os inimigos continuavam a marcha no mesmo rumo e se encontravam a duas léguas de nosso campo. Então o Sr. General Lavalleja foi em pessoa falar ao general em chefe e convidá-lo a continuar a marcha até Santo Maria, para evitar que o inimigo nos ganhasse a retaguarda". No di 17 ou, o mais tardar, na manha de 18, soube, por conseguinte, Alvear que o exército brasileiro se encaminhava an Passo do Rosário. 'No entanto disse na Exposição: "No dia 18 os imperiais avançaram duas léguas e fizeram alto. Às 10 da manhã tomaram uma direçao que podia conduzi-los ao Cacequí ou ao passo do Rosário de Santa Maria". — 267 O leitor'* já sabe que isso não exprime a verdade. Desde 17 que a retaguarda de Alvear afirmara que Barbacena ia no rumo do dito passo. Por outro lado, já expliquei que, no dia 18, êle atravessou o banhado de Inhatim. ^Como, pois, ousa o general inimigo levantar essa dúvida? *Nao tinha confiança nos informes de Lavalleja? Nos dias 17 e 18 Alvear não se moveu. *Por que? Explicou seu-procedimento, neste dia, do seguinte modo: "O exército republicano esteve pronto para marchar todo o dia 18; mas, havendo o imperial feito alto na hora que' se disse, não quis aquele mover-se. O inimigo distava sete léguas do Passo do Rosário; os republicanos cinco, tendo que andar duas menos que aquele (para chegar ao passo) as circunstâncias eram críticas; aproximava-se o momento de obrar. 0 general republicano, usando do cálculo das probabilidades (!!) viu que era preciso marchar durante a noite de 18, porque se êle o não fizesse, e o fizesse o inimigo, caía aquele nos mesmos laços que pretendia armar a este" (9). E foi em virtude desse cálculo das probabilidades que Alvear se pôs em movimento às 4 horas e meia da tarde de 18, caminhou toda a noite e às 4 da manhã de 19 fêz um alto de duas horas perto das quebradas do campo em que se bateu no dia 20 (10). Saiu da margem do Cacequí deixando tudo quanto podia empecer-lhe a marcha,cinclusive "os objetos que não eram absolutamente necessários e facilmente transportáveis por cada indivíduo". "Ao dar essa ordem —; escreve D. Francisco Muniz, então cirurgiao-mor do exército argentino — disse Alvear que se ganhássemos teríamos tudo e se perdêssemos tudo nos sobraria" (11). Na verdade, êle perdeu o material abandonado, como havemos de ver, não só porque não regressou pelo Passo de Cacequí, mas porque tudo caiu em mão de Barbacena, quando cruzou em retirada pelo referido passo. Enquanto êle praticava essa marcha noturna, Barbacena estava parado à beira do Salso, donde rompia às 5 e % do dia 19. Na manhã deste dia, como era natural em consequência do terreno e da proximidade em que se encontravam, os dois exércitos (9) (10) (Jl> Exposição — pág. 55. A frase entre imrênteses é minha — T. F. Memórias, do Coronel António Dias. Vida e escritos do Coronel D. Francisco Muniz — pág. 305. — 268 — avistaram-se. "O do inimigo — lê-se no Boletim n. õ — Vinha na mesma direção que o da República". - Barbacena caminhou, como disse, até às-12 e % e pousou junto à estância de Francisco José, a 18 klms. do Passo do Rosário e 9k,6 do ponto de cruzamento das estradas Caoequí Passo do Rosário e Passo do Rosário S. Gabriel. Depois do alto, Alvear prosseguiu até o passo, aonde chegou às 11 horas da manha. "Desde o instante — informa o comandante António Diaz — em que se descobriu o terreno imediato ao passo, viu-se o risco que o exército corria naquela posição, sem dúvida à pior que se pode imaginar para uma batalha, particularmente com um exército de cavalaria, que era' a arma que primava. Era um banhado, de largura de uma milha ou mais, naquele ponto, situado entre o rio e uma alta cadeia de colinas quase paralelas a seu curso e que dominavam a planície formadora do banhado. 0 solo deste era arenoso, coberto de macegas e espadanas com numerosas e pequenas proeminências de terra, e tudo constituía outros tantos obstáculos à manobra da cavalaria. 0 exército fizera, pois, alto no banhado, abandonando as imihências. 0 inimigo oncontrava-ae à hora e meia de jornada; era indispensável deliberar e resolver com prontidão, porque, se êle continuasse a marcha, estaria dentro em pouco ao alcance de tiro de peça, ocupando as colinas, e o exército republicano verse-ia acometido de repente e talvez impossibilitado de contramarchar a uma posição adequada para inutilizar todos os recursos da arte e todos os esforços do valor. 0 general em chefe deu ordem imediata para a passagem do rio, mas até as picadas estavam de nado, e, se bem que a artilharia pudesse passar puxada com as prolongas (conforme propôs o coronel daquele corpo), e a cavalaria nadando, nem a infantaria, nem o parque poderiam fazê-lo. Um esquadrão de couraceiros atravessou o rio a nado, e à tarde regressou do mesmo modo" (12),. Às 4 da tarde Alvear reuniu um conselho de guerra. "Manifesta-nos — relata o coronel Angelo Pacheco — a sua intenção de volver na noite desse mesmo dia sobre o inimigo. Dá-nos ordem de arrojar todo o equipamento dos oficiais e da tropa, e faz-nòs passíveis de morte se distrairmos um só soldado (12) Épocas Militares — paga. 340 e 341. 269 em assunto particular. Sua linguagem foi decidida, porém áspera" (13). "Em consequência disso •— continua António Diaz — tornaram-se todas as medidas preparatórias da batalha. Nessas criticas circunstâncias, vários dos corpos de cavalaria de linha, e à frente deles o coronel Lavalle, conceberam o diabólico projeto de depor o general Alvear e, reunidos para esse fim, propuseram ao general Lavalleja que se encarregasse do comando do exército. Este general era um dos que mais criticavam a conduta do chefe argentino e, talvez se houvesse resolvido a aceitar tão perigosa honra, se o coronel Oribe não o tivesse aconselhado a não cometer semelhante imprudência, fazendo-lhe ver que a consequência inevitável seria a ruína do exército naquele momento, bem como a de seu crédito, além de que o plano dos revolucionários era pô-lo à frente da tropa momentaneamente, a fim de poderem contar com o 1.° corpo que êle mandava, e passar depois a chefia a Soler. Prevendo-se a batalha, deram-se às tropas divisas brancas para o braço esquerdo. Por um artigo da ordem geral, todos os chefes ficavam prevenidos de que só deveriam receber ordens do General Alvear, sendo que aos ajudantes encarregados de as transmitir caberia apresentarem um papel escrito e firmado pelo punho do mesmo general" (14). Às 6 da tarde ou, como diz o coronel Pacheco, ao pôr do' sol, o exército contramarchou pela mesma estrada que havia trilhado de manha, "deixando o parque, o hospital e todas as viaturas (equipajes) na costa do rio. Ia na frente, informa aquele coronel, o 1.° corpo (Lavalleja), depois a infantaria, os regimentos ns. 8 e 16 (divisão Zufriatégui) e a seguir o resto da tropa. ÀAte onde marchou? i ^Quem.hoje poderia sabê-lo! ? Certo é que ficou entre o Passo e o campo de batalha do dia seguinte. "Às onze horas da noite — revela-nos o comandante António Diaz — acampamos entre uns cerritos e umas sangas profundas que os dividiam, mais ou menos a uma milha do caminho de (13) (14) Diário de Campanha. Épocas Militares — pág. 343. — 270 — Cacequíao Passo do Rosário, que corria quase paralelamente à frente de nossa posição. Não havia sido possível reconhecer o inimigo no escuro da noite. "Foi sem dúvida por causa dessa obscuridade — acrescenta adiante — que alguns corpos não puderam acampar com a regularidade habitual, do que resultou aparecerem, na manhã de 20, várias divisões orientais situadas diante da infantaria do 3.° corpo e à retaguarda deste algumas peças de artilharia". Ressalta destes informes que o bivaque ficou a uma milha da"estrada e, provavelmente ao norte dela. Mas ía que distância do campo de batalha? Não pude descobri-lo, porém acredito não fosse longe, em vista do tempo gasto na contramarchá e do que nos refere António Diaz. A opinião deste oficial é que, se Barbacena tivesse sabido, na. manhã de 20, estar tão próximo o adversário "em-terreno desigual e difícil para desenvolver-se" e se houvesse tomado, com sua infantaria, as alturas que o dominavam "dificilmente esse mesmo adversário teria.logrado desenvolver-se e ir ocupar melhor posição sob os fogos do contendor". "Porém o erro ou a inadvertência do chefe da vanguarda brasileira — pondera Diaz — deu-nos tempo para sair daquele mau lance". VI A batalha Vejamos o que se passava, entretanto, no exército de Barbacena. Deixamo-lo repousando, no dia 19 de fevereiro, junto à estância de Francisco José. No dia 20, às duas horas da manhã, prosseguiu a marcha pela mesma estrada. Depois da vanguarda, constituída pelos voluntários de Abreu e pela 2. a brigada de Bento Gonçalves, seguiam-se a 2. a divisão (Calado), a artilharia (Madeira) e a l. a divisão (Barreto). A cavalaria levava a dextra os cavalos de reserva (1). Ao alvorecer, apresentaram-se ao general em chefe dois homens, que tinham sido obrigados pelo inimigo a acompanhá-lo, mas que haviam podido.fugir do seu acampamento (2). Informaram que o adversário deixara a margem do Santa Maria, aí depositando o trem pesado, ambulâncias e cavalhada inservível, e passara a noite na coxilha em frente ao Passo. "Às 6 horas da manha — escreve Barbacena — deu parte a vanguarda de estar o inimigo postado nos montes vizinhos do Passo do Rosário, e mandando mudar os cavalos imediatamente, segundo o costume do país, avancei com o marechal Brown a reconhecer o campo; fácil me foi avaliar a força inimiga, porque estavam postados em duas linhas, com numerosa reserva, além de muitos esquadrões que destacaram para ocupar as montanhas distantes, as quais ficavam à direita e à esquerda do exército. Unanimemente assentamos que, não obstante a superioridade numérica do inimigo, um ataque imediato e vigoroso, durante o entusiasmo de nossa tropa, poderia decidir da batalha e, quando fôssemos infelizes, havia retirada segura para o Cacequí e montanhas da capela de Santa Maria" (3). O terreno em que se encontravam os adversários, e onde afinal se ia travar a peleja, é formado por um grupo de coxilhas, (1) Pela parte do Ajudante General (Soare3 de Andréa) a vanguarda rompera ao sair da lua e o grosso à uma da madrugada. (2) Machado de Oliveira — Recordações Históricas — pág. 539. (3) Carta de Barbacena ao General Cunha Matos, de 2 àe março de 1829. — 272 — que se sucedem dentro do ângulo delimitado pelo Santa Maria e o Imbaé, seu afluente da margem direita, e que fenecem nas proximidades destes cursos de água, dando lugar a algumas zonas planas. Logo à leste do Passo do Rosário, no rio Santa Maria, há uma região extensa dessa natureza; cruzam-na duas estradas, uma para S. Simão e outra para leste; esta última divide-se mais adiante em duas outras, das quais a mais setentrional leva a S. Gabriel e foi provavelmente deslocada para o terreno elevado no intuito de se evitarem os banhados; por ela avançou Barbacena. Várias sangas, isto é, calhas naturais, formadas pelo encontro de fraldas de coxilhas, colctam na estação chuvosa as águas que por elas deslizam e lhes dão escoamento imediato ou reprepor elas deslizam e lhes dão escoamento imediato ou represamsam-nas durante algum tempo. Saindo do Passo pela estrada atual, o viandante percorra primeiro a várzea, ascende depois a uma primeira coxilha, desce a sanga do Branquilho, percorre uma segunda coxilha (do Olho de Água), passa a sanga do Barro Negro (prolongamento da do Areal) e galga a seguir a terceira coxilha. Da coxilha do Olho de Água desprende-se uma garupa grande na direção do sul e outras menores na de leste; e pelo vale ou calha, que separa aquela de uma destas, desce a estrada para S. Gabriel. Todo o terreno apresenta a feição geral da campanha do Rio Grande: ondulações mais ou menos suaves'se escalonam em todos os sentidos, tapizadas de relva, dando ao observador que as contempla pela primeira vez, a sensação estranha, posta em relevo por um geógrafo distinto, de um mar de vagas gigantescas e roladas, que mãos poderosas houvessem de súbito imobilizado numa misteriosa solidificação. A sanga que dividia os combatentes, não constituía obstáculo de grande valor como pode parecer a primeira vista, pelo menos no trecho em que se operou o recontro. Quando a visitei cm 1911, sendo comandante do 8.° regimento de cavalaria em Uruguaiana, surpreendeu-me verificar não ser um acidente topográfico merecedor da importância que os argentinos costumam emprestar-lhe; não só dava passagem livre, mas estava completamente seca. Em seu relatório sobre o levantamento da planta do campo de batalha, disse o 1.° tenente Carlos Alberto Bastos, chefe da turma que o eíetuou: Passo da barca no Rio Santa Maria, junto à vila do Rosário 273 "As cabeceiras mais altas da sanga atingem a cota de 140m., donde deslizando céleres, rasgam suas águas, nas fraldas das coxilhas, sulcos de cerca de 2 metros de largura por 1,50 a 2m. de profundidade. Atingindo a várzea, reunem-se as diversas cabeceiras e constituem uma única sanga, que se prolonga rumo norte-sul, suavizando, à proporção que avança, o aspecto de seus barrancos marginais, ora deprimindo-as, ora dando-lhes uma inclinação sensível, facilitando assim a passagem em qualquer ponto. Ao atingir a estrada de S. Gabriel, ela se apresenta inteiramente demudada. Seu leito arenoso perde a homogeneidade do curso superior, mostrando-nos então uma sucessão de pequenas lagoas mais ou menos profundas ligadas entre si por filetes de água que aliás se interrompem mal se acentua a estiagem. E assim, oompletamente deprimida, ela avança irresoluta pela várzea, e. já com o nome de Sanga do Barro Negro, corta o caminho que da estrada de S. Gabriel vai ao passo do Cacequí, banha o sopé da coxilha onde se acha o monumento do general José de Abreu, « ruma ao arroio Ituzaigo, sem todavia lograr alcançá-lo, pois. como que esgotada, desaparece na várzea. 0 Sr. Avelino Dias Medina, proprietário da estância do Itu. onde se acha o campo de batalha, me, afirmou que a sanga de que tratamos muito se tem modificado desde 1888, ano em que êle ali. se estabeleceu. Naquela época ela mal lograva alcançar a estrada de S. Gabriel, constituindo o terreno por onde hoje traça o seu curso, daquele ponto para baixo, um banhado caracterizado unicamente no inverno. 0 solo na várzea, como no leito da sanga, é firme; não há tremedais. Em síntese: a sanga de que me ocupo, apesar de caracteriv.ar-se em suas cabeceiras por barrancos íngremes e mais ou menos profundos, não constitui no seu curso pela várzea um obstáculo aceitável como capaz de prejudicar os movimentos de uma força em ação. Somente para o trânsito de viaturas exige um ligeiro trabalho prévio". No capítulo anterior deixamos o exército argentino estacionado, na noite de 19 para 20 de fevereiro, perto do campo de batalha. "Ao amanhecer de 20 — escreve António Dia/ — uma avançada do 1.° corpo descobriu o exército imperial, que, à distância de pouco mais de meia légua do republicano, marchava •em direção ao Passo do Rosário, na crença de que iria encontrar — 274 — parte deste exército na margem direita e parte na esquerda do Santa Maria". "Às cinco da manhã — acrescenta mais adiante o mesmo oficial — o 1.° corpo, ao mando do General Lavalleja, que já tinha mudado de cavalos, e o 5.° batalhão de caçadores (4) receberam ordem de sair ao encontro do inimigo, transpondo as alturas intermédias por uma aberta que facilitava a passagem das colunas". "O General Alvear marchou com o dito batalhão e determinou-lhe que formasse e se mantivesse em uma coxilha de elevação média num terreno assaz dobrado, e em cuja frente existia uma sanga ou canhada seca, que dividia as posições de um e de outro exército". "As divisões orientais formaram em linha na mesma coxilha, à direita do 5.° batalhão, e à esquerda deste formou a divisão, também oriental, do General Laguna, em campo mais baixo e um pouco mais acidentado". Dispositivo inicial da vanguarda argentina (segundo António Dia2) 1 Em vista da resolução que havia tomado, ordenou Barbacena o desdobramento de sua força. As unidades sairam da coluna de marcha pelo flanco direito e foram tomar posição na referida coxilha. Determinou-se à 2. a Brigada ligeira (Bento Gonçalves) que se fosse postar à direita e nos cobrisse o flanco por esse lado. Da leitura de alguns documentos brasileiros, ressalta a impressão de que os nossos estavam convencidos, no primeiro instante, de enfrentarem apenas parte do exército de Alvear, ou de que os inimigos se apresentavam numa frente muito mais estreita do que aquela que de fato ocuparam mais tarde., Brown conta que os brasileiros marcharam para o ataque em duas linhas: na l. a , a l. a Divisão (Barreto) e na 2. a , a 2. a (Calado). (4) António Diaz, era o 2° chefe do 5.° e parece ter sido seu comandante (sfelivo no dia da' batalha, pois que o coronel Olazábal exercia o cargo de comandante geral da infantaria e no (Ha 20 estava enfermo em uma carreta, conforme se lê no livro Épocas Militares, págs. 381-382 — T. F. Estância do Rosário (Antiga estância de António Francisco Ferreira) 275 — Mas, devendo o engajamento, em vista disso, fazer-se pela divisão da retaguarda de rtossa coluna de marcha, necessitou esta percorrer um grande trecho de terreno antes de conseguir postar-se em frente a seu setor de ataque, isto é, à posição balisada pela vanguarda dos contrários. (Abreu) Bento Goncalves) 2 Divisao (Calado) flrtifhczria (• Ma.de/ra) 1*Divisao (Barreto) Comboio Desdobramento da coluna de marcha dos brasileiros Coluna de marcha dos brasileiros Destarte, enquanto a l . a divisão se destacava para levar o a-aque em primeira linha, a 2. a , protegida num flanco por Abreu, deslocava-se muito menos, ficando, segundo informação de Brown, com o flanco esquerdo quase apoiado à estrada de S. Gabriel ao Passo do Rosário. Calado-explica, em sua parte, que Barbacena, no primeiro momento, lhe ordenara fosse colocar-se com a l . a divisão' numa colina distante 1.800 passos do ponto em que êle se detivera — 276 na marcha, mas que, quando o Quartel Mestre-General o guiava para lá, foi-lhe ordenado em caminho formar'mais unido à divisão de Barreto. Durante a execução deste movimento, lobrigou-o de longe Alvear e quis atacá-lo em marcha. Marcha de aproximação dos brasileiros Eis como António Diaz descreve este incidente: "Às seis e meia da manhã, enquanto os corpos do exército iam chegando aos postos que deviam ocupar na linha, o General Alvear achava-se, com seus ajudantes de ordens, em uma pequena elevação na retaguarda, .entre o 1.° corpo e o 5.° batalhão de caçadores, em observação aos movimentos do inimigo. Na ocasião em que as tropas da ala esquerda deste marchavam apressadamente pelo flanco direito para se unir ao centro, de que se encontravam afastadas obra de um terço de légua, o mesmo general dirigiu-se a galope largo para o 1.° corpo, onde estava Lavalleja, e deu-lhe ordem pessoalmente de carregar contra as tropas inimigas que lhe ficavam em frende, enquanto executavam a sobredita evolução de flanco, ajuntando em voz alta que a carga nesse momento poderia assegurar o bom êxito da jornada. Lavalleja respondeu que estava pronto para carregar, porém que seria bom darem-lhe uma reserva na previsão do que pudesse suceder". Chegando ao alto da coxilha fronteira à posição inimiga, começaram os brasileiros a sentir os efeitos da artilharia adversa. Barreto ou antes Brown (pois parece ter sido este quem de faio dirigiu os movimentos da l . a divisão), deixou sua artilharia em lugar adequado, guardada por uma companhia de caçadores, r. avançou com a coluna de ataque neste dispositivo; em primeiro escalão as duas-brigadas de cavalaria, e em segundo a l. a . bri- — 277 — gada. de infantaria (coronel Leitão Bandeira). A direção do ataque frontal era a de um perpendicular ao centro da posição inimiga (5). Apoiava-o a artilharia da divisão, a um de cujos Dispositivo provável dos argentinos antes da chegada do grosso da infantaria e da artilharia tiros, logo no começo da batalha, atribuem os argentinos a morte, por decapitação, de Besares, 2.° comandante do regimento n. 2 (Paz). 0 5.° Batalhão inimigo já havia desenvolvido atiradores (volíeadores) em. sua frente e elementos de cavalaria tinham transposto a sanga, marchando sobre a l. a Divisão (6). Brown enviou contra estes últimos a 2. a brigada de cavalaria (4.° regimento de Lunarejo e esquadrão de lanceiros) (7), que os repeliu e lançou do outro lado da sanga, obrigando os volteadores do 5.° a abandonarem esse trecho do terreno e a retirarem-se para o lado de seu corpo. Barreto declara em sua parte que ao' regimento de Lunarejo coube a glória de ser o primeiro a medir-se com o inimigo. À cavalaria segue a infantaria da Divisão, que avança, pela frente desembaraçada, atravessa a sanga, e,,num ímpeto irresistível, busca ascender pela fralda da coxilha, disposta a assaltar a posição do contendor. Segue-a, nesse movimento, a referida 2. a brigada de cavalaria (8). (5) Parte de Brown. (6) Informações do autor anónimo das Contribuições para a História da Guerra entre o Brasil e Buenos Aires — pág. 230. (7) Parte de Brown e informações do autor das Contribuições para a História da Guerra entre o Brasil e Buenos Aires — pág. 230. (8) O autor anónimo das Contribuições diz que toda a nossa cavalaria passou para o lado oposto da sanga. A planta de Seweloh só indica a 2.a brigada, o que é confirmado pelo comandante Diaz. As partes brasileiras não são claras a respeito. — 278 "Debaixo desse fogo (da1 artilharia brasileira) escreve António Diaz — três batalhões de infantaria, com três regimentos de cavalaria e dois canhões, empreenderam o ataque de /." DIVISÃO' GENfftAL 8fiRR£T0 Formação na segunda posição 27 Jf J - lumu-ejo lane "' Formação na ierceira posição nosso centro; aqueles passaram, a sanga que dividia os dois exércitos, ficando a artilharia dó lado oposto; prontamente se empenhou a açao entre os volteadores do 5-° e os do baiaihão 27.° de alemães ao serviço do Império". N •Nessa' conjuntura, o general argentino lança contra a l . a Divisão, para deter-lhe a marcha, a cavalaria de Laguna, que se encontrava, como vimos, à esquerda do 5.° Batalhão, e que sr move em carga contra a nossa 2. a brigada de cavalaria. "Os corpos de cavalaria do general Laguna — prossegue Diaz — carregaram denodadamente a cavalaria inimiga, que ocupava a ala direita da infantaria imperial; porém, tendo forças muito inferiores àquelas, foram rechaçadas com perdas de alguns mortos e feridos, entre estes o coronel Leonardo Oliveira, e deixaram prisioneiro o capitão Pedro' de Melilla, com vários homens de tropa. Ao mesmo tempo morreram um capitão e diversos soldados volteadores do 5.°, ficando outros feridos pe.íos fogos do batalhão 27.° do inimigo, sendo necessário reforçar aqueles com os carabineiros do mesmo 5.°. Todavia, nossa cavalaria do centro renovou prestesmente o ataque e deu repetidas cargas, sustentando a açãò com valor e fortuna vária". — 279 — Em seu Diário de Campanha, o tenente-coronel Angelo Pacheco, comandante do 3,° regimento de cavalaria argentina, confirma o bom êxito de nossa primeira investida nestas frases curtas e palpitantes de verdade: "Carrega a Divisão Laguna contra o inimigo e é rechaçada três vezes, com bastantes perdas." Nesse momento, ó batalhão 5.° e as guerrilhas retrocediam com alguma confusão" (9). Baldrich*não é menos expressivo: "Esse ataque prematuro e, sobretudo, muito mal preparado, sem o apoio oportuno e enérgico que reclamava, foi repelido, comprometendo em seu princípio o êxito da batalha" (10). Diante das cargas da cavalaria argentina, e'natural que nossa coluna de ataque, desenvolvida em linha já do outro lado da sanga e na encosta da coxilha, hesitasse um instante no avanço e tomasse medidas momentâneas de defesa, enquanto a cavalaria contra atacava a do partido oposto. Diaz, comandante do 5.° Batalhão, corpo que nós de preferência acometíamos, descreve à maravilha esse período da açao: "Até esse momento — diz êle — as tropas do centro brasileiro marchavam de frente, ao parecer com a decisão franca de varrer de suas posições as tropas que se lhes opunham; porém, à vista das que o exército republicano ia desenvolvendo em sua frente, toda essa divisão imperial do centro deteve a marcha naquele ponto, mantendo-se largo tempo na ofensiva, reforçando os caçadores de sua esquerda, dando e repelindo cargas de cavalaria sem resultado notável nem de uma, nem de outra parte". "Entrementes, nossa artilharia chegava à posição que ocupou cm uma colina, pondo ali quatro baterias e os batalhões ris. 2 e 3 num flanco e o 1.° a alguma distância do outro, porém na mesma linha". Pelo testemunho de Diaz, o grosso da infantaria e da artilharia argentina só entrou em ação depois de desencadeado o ataque da l . a Divisão brasileira e quando, pelo menos, a maior parle das tropas desta unidade já se encontravam do outro lado da sanga. Prossegue o mesmo autor: "Do local que ocupavam, podiam nossas baterias alcançar com a metralha a cavalaria e dois batalhões inimigos; como, porém, estivesse em frente delas toda a cavalaria de Laguna, (9) Revista Rcnascimiento — 1910. (10) Guerra dei Brasil — pág. 37(>. — 280 — demoraram as peças cerca de meia hora para laborar, pois foi esse o tempo que a dita cavalaria gastou em separar-se, já por causa dos acidentes do terreno, já pela necessidade de repelir, durante as evoluções, um corpo de lanceiros alemães". "Logo que a frente ficou livre, romperam fogo a um tempo as 16 peças de que constavam as nossas seçoes, causando ao inimigo perdas de consideração, com impunidade, porque nossa artilharia e os batalhões que a custodiavam encontravam-se fora do alcance da fuzilaria dos imperiais. Aqueles corpos conservaram-se assim até o fim da batalha,' sem ter durante ela,1 nem depois, um só morto ou ferido". Brown confirma tudo isso em sua parte, pois salienta ter a Divisão Barreto sofrido, na marcha de aproximação, vivíssimo ' fogo de artilharia e infantaria. De outro lado, Machado de Oliveira escreve: "Imediatamente que foi reconhecido pelo inimigo o verdadeiro fim que queria atingir a ala direita do exército (a l. a Divisão) na inversão que deu ao seu primeiro movimento, fêz contra êle jogar toda a sua artilharia" (11)Sigamos um pouco mais a interessante narrativa de António Diaz: "Não obstante os danos que nossa artilharia, servida com atividade e acerto, causava ao centro e a direita da divisão brasileira, esta manteve-se largo espaço, sob a ação do fogo, até que depois das doze toda sua infantaria e cavalaria marchou de frente, com a intenção dé atacar-nos as baterias". Machado de Oliveira corrobora esta disposição dos brasileiros, pois escreve: 'Enquanto essas cavalarias se -entrechocavam, acutilando-se reciprocamente, posto que a do inimigo cedesse terreno e a vantagem da refrega fosse da nossa parte, a infantaria da ala, que já não tinha ante si a cavalaria que a acometera, perseverando em sua primordial tentativa, avançava contra a artilharia inimiga, que nunca cessou de a metralhar com lastimoso efeito; e, quando já se achava à curta distância dela, foi acometida de improviso pelo corpo de couraceiros,que confiado em sua armadura, e não vacilando em arrostar a forma maciça que logo tomou a infantaria, resistiu às incessantes descargas que esta lhe fazia, e a grande impulso arremessou-se às suas baionetas. A esforçada firmeza e sangue frio com que a infantaria susteve esta vigorosa carga deu em resultado que esse corpo retrocedesse, depois de (11) Recordações Históricas — pág. 548. Commissão da Carta. Geral do Brasil Escala Horjzonfsl = 1-3oooo verNcat =• 1 ; 6.000 Fotografia de um plano em relevo do campo de batalha feito pela Comissão da Carla Geral do Brasil POSIÇÃO DOS ARGENTINOS (Vista do sul da posição brasileira) —282- ciar prisioneiro o-seu'comandante MeliJla e de ser posta fora de combate grande parte de sua força; e, se bem que por êsí<modo desentravada se'viu a infantaria para que prosseguisse em sua primeira tentativa, foi compelida a renunciá-la pelo devei de entrar na formatura anterior, visto que rompendo-se a linha -esquerda do inimigo, que tinha sido levada de vencida até a sua primeira posição, com toda a sua reserva e outras forças que ainda se não tinham engajado seriamente em fogo, dava ela indícios' de dispor novo ataque por esse lado e convinha por isso «por-lhe a mesma vigorosa resistência, que já havia sofrido e de que se não escarmentara" (12). Em vista do malogro da Divisão Laguna e da atitude dosbrasileiros da l. a Divisão, compreendeu Alvear a iminência e grandeza do perigo que o ameaçava se não entravasse com celeridade o movimento de Barreto e, por isso, fêz um apelo às suas melhores tropas montadas para» o paralisar. Martiniano Chilavert, comandante da bateria da vanguarda segundo alguns, apreciou esse instante, subsequente ao desasíre de Laguna, com os seguintes conceitos: " 0 momento era crítico, era um dos que se apresentam na guerra e em qu« necessitamos dispender os maiores esforços <• sacrificar-nos para vencer, senão para não ser vencidos. Parte de nossa artilharia e infantaria ainda não havia chegado ao campo de batalha, marchava por um desfiladeiro. A intenção manifesta do inimigo era apoderar-se das elevadas posições que o exército republicano devia ocupar. Se o conseguisse, este último seria roto pelo centro e sua sorte ficaria, portanto, comprometida. Este ponto era o decisivo. Tornara-sé indispensável fazer-se nele um esforço concentrado com o máximo de força?. Eis o ^motivo por que o general em chefe aplicou no referido ponto todas as que teve em suas mãos" (13). 0 primeiro corpo de que se socorreu Alvear foi o 1.° regimento, do comando do coronel Frederico de Brandsen, que com o 3.° (tenente'-coronel Pacheco) formava a 2. a divisão. Sentindo a ameaça da carga, Leitão Bandeira ordenou que seus três batalhões formassem quadrado e esperou, sereno e resoluto, o choque dos inimigos. Alvear deu a ordem de ataque diretamente ao coronel Brandsen. Parece que este oficial, vendo a formação dos hm112) • Recordações Históricas —- paga, 547-548. {13) História da Confederação' Argentina — Saldias. f i ; POSIÇÃO BRASILEIRA (Vista <Ja coxilha do Olho de Agua) 284 sileiros em quadrado, ponderou ser mais promissora de êxito uma carga por esquadrões sucessivos do que em linha, como desejava o general em chefe. "A esta observação — comenta Diaz — feita com a sagacidade do soldado de escola, Alvear, que já estava irritado com outras análogas de Lavalleja, o qual lhe pedira uma reserva antes de carregar contra a cavalaria de Abreu (14), acabou de exasperar-se e replicou a Brandsen: "se tem medo, carregarei". — Medo não, revidou o Coronel com energia.. E, dando a voz de carga, arrancou na frente â rédea solta. Com ele partiu por sua vez o general em chefe, no flanco do primeiro escalão. Correndo para a morte, que o espreitava à borda da sanga, Brandsen disse a Alvear que deplorava vê-lo num posto-que êh Brandsen julgava ocupar dignamente. A carga de Brandsen, por escalões, dirigiu-se, pois, contra a infantaria de Leitão Bandeira. Pacheco, que estava com seu regimento em linha perto dele, Brandsen, e foi de tudo testemunha ocular, escreveu em seu Diário: "Carrega o primeiro esquadrão e volta perseguido pela cavalaria inimiga; carrega o segundo, com seu coronel e parte do terceiro; chega até as baionetas, é repelido e desvia-se para a direita perseguindo a cavalaria inimiga, que já estava em confusão. 0 coronel recebe, no peito, ferida mortal; morre enraivecido, porém excitando seus homens à carga com estas palavras: Carreguem, canalhas!!" (15). Segundo Diaz, Brandsen desprendeu-se ern carga pela esquerda do 5.° batalhão, de cujo flanco ^seus esquadrões passaram afastados cerca de 30 a 40 metros. Não foi a sanga, como muitos acreditam, que ocasionou A morte de Brandsen, mas um tiro de fuzil. O malogro de sua carga resultou primeiro da energia e serenidade de nossos infantes, e depois da referida sanga, que talvez houvesse dificultado o escoamento dos cavaleiros após a refrega. Segundo Pacheco, depois de Brandsen, o coronel Paz também carrega ínfrutuosamente contra nossa infantaria, ã testa de seu regimento (o n. 2 ) . "O coronel Paz — diz êle — recebe ordem de carregar sobre a infantaria inimiga que mantém as posições. Fá-lo e é 1.14) Deve ser Calado — T.,F. (15) Renascimiento. _ 285 — rechaçado. Escoa-se para a direita, reorganiza seu regimento e carrega contra uma cavalaria que se lhe apresenta em frente, golpeia-a de lança, porém é repelido pela infantaria. 0 general aí mesmo o suspende do emprego e o censura. A suspensão foi justificada com o fundamento de que Paz comprometia a vitória, porque poderiam empreender um novo ataque" (16). Apesar de todas estas vitórias de nossa parte, a Divisão Barreto retirou para a primeira posição que havia ocupado, , provavelmente acossada pelos contrários, que viam, nesse movimento, uma demonstração evidente de desânimo. Segundo Diaz, -desceram a coxilha para nos agredir o 1.°,2.° e 3.° batalhões de caçadores; a cavalaria do coronel Leonardo Oliveira também atacou a nossa. íQuem deu.essa ordem de retirada? ^Brown ou Barbacena? iEm qúe momento? A fim de lhe compreendermos a causa determinante, desviemos o olhar para outro ponto do campo de batalha. Dissemos que a brigada de Bento Gonçalves havia sido destacada logo no começo da ação para o flanco direito, onde se estabeleceu a umas 200 braças (440 metros) à direita da l. a Divisão (17). Quando Brown preparava o ataque desta unidade, notou-se que o flanco esquerdo do inimigo se desenvolvia cada vez mais, o que parecia denunciar um ataque con*ra o flanco direito brasileiro. Em vista disso, Barbacena mandou ordem a Calado para que destacasse a sua 3. a brigada de cavalaria (6.° regido) Renascimiento — Sem embargo, alguns autores afirmam que Paz carregou contra Calado, o que não me parece admissível, não só pela posição que seu regimento ocupava na frente argentina, mas porque Martiniano Chilavert declara que êle se lançou contra três batalhões, e Calado só tinha dois. Três batalhões existiam apenas na Divisão Barreto. Eis as palavras de Chilavert, eseritas tempos depois: "O general Paz não esteve nunca no flanco direito do exército; ocupou o flanco direito do centro, e foi ali que encontrou os três batalhões de infantaria e alguns piquetes de cavaleiros, que começavam a reorganizar-se em uma canhada coberta de espesso pajotuã. O general Paz (então comandante do 2.°) empreendeu a carga com eles. Percebendo o movimento, o general Alvear mandou o tenentecoronel Martinez Fontes, oficial de Estado-Maior, com ordem para que Paz não carregasse. Quando este oficial chegou, já os três primeiros esquadrões haviam eido repelidos com a perda de alguns oficiais e praças". (História da Confederação Argentina, por Saldias). . , Resta, acredito, apenas uma dúvida: saber se esta carga se realizou quando a a l. Divisão estava além da sanga ou quando do lado de cá e já em retirada. (17) Informação do tenente-coronel Aniônio Elisiário de Miranda e Brito, Quartel Mestre General de Barbacena, em um manuscrito existente no Arquivo do Barão do Rio Branco. 286 mento, 20.° regimento de milícias e esquadrão da Bahia), a fim de proteger o flanco direito da l. a Divisão. Não possuo nenhum esclarecimento sobre os feitos desta brigada; sei apenas que Barbacena elogiou a atitude do 20.° regimento, talvez pelo papel que desempenhou junto à 2. a brigada e antes de mover-se para a direita (18). Disse linhas atrás que a Divisão Lavalle, ao chegar ao campo de batalha, tomara posição à esquerda de Laguna, ou na extrema.esquerda argentina. Danei, ajudante daquele general, relata em sua autobiografia que seu chefe, impaciente por entrar na refrega, pedira ordens por intermédio dele ao general Alvear. •Logo que as recebeu, .acometeu-nos pelo flanco direito da l. a Divisão; desbaratando a cavalaria que encontrou na sua frente. A tradição corrente é que êle se chocou com a brigada de Bento Gonçalves. "A 2. a brigada ligeira — lê-se nas Recordações Históricas — que, como já se disse, tomou posição no ponto que correspondia ao flanco esquerdo do inimigo, e fora do alcance de sua artilharia, ali jazeu em inaçao, e sem que, por si ou por ordem superior, tomasse parte no combate em que se empenhara a ala direita do exército; e, quando pela segunda vez foi o inimigo rechaçado por aquele lado recolhendo-se à sua linha, partiu desta uma coluna de cavalaria coni direçao à Brigada, a qual sem esperá-la, se desalojou de sua posição, retrocedendo para a retaguarda da linha do exército; e nesse movimento desmembrou-se-lhe metade de sua força, que, tendo à sua testa o tenentecoronel Calderón, se dirigiu a muitas léguas para o interior da Província" (19). Esta é a versão de Machado de Oliveira. No entanto, Barbacena elogia o proceder de Bento Gonçalves, em sua parte da batalha, embora estigmatize a de Calderón. Miranda e Brito menciona Bento Gonçalves como um dos que nos protegeram na / retirada, prova cabal de que não abandonou o campo. (18) Carta de Cunha Maios, de 25 de fevereiro de 1827. (19) 0 procedimeno do lenente-coronel Bonifácio Isás Calderón'não deve surpreender-nos; era um oriental ao serviço do Brasil e que seus compatriotas haviam julgado severamente, conforme se vê do documento abaixo, publicado pelo ajudante José Brito del^Pino em seu Diário da Guerra do Brasil: "Ha recebido este gobierno el processo formado a los rcos de Lesa Pátria don Bonifácio Isás y don Juan Turreyto, que por aprobacíón de Ia sentencia pronunciada por el consejo de guerra el dia anterior acompana V. E. en Oficio de esta a que contesta. Ds. g. á V. E. ms. ans. Florida Junio 23, de 1825 — Manuel Calleros — Manuel Dnrãn — Loreto de Gomensoro — Juan José Vasquez — Francisco Joaquim Ntinoz — Francisco Araucho, secretario. Al Exrno. Sr. Brigadier General en Jefe dei Ejército de Ia Província. — 287 — Em sua planta da batalha, Seweloh indica um ataque de cavalaria argentina contra a do flanco direito da l. a Divisão e a atribuí a Lavalleja. ^Seria a carga de Lavalle?- Ou por outra: ^Teriaêste general carregado não só contra Bento Gonçalves, senão também contra a cavalaria da Divisão Barreto? Como quer que seja, o fato incontrastável é que, enquanto a l. a Divisão atacava o linha argentina, os adversários, por intermédio de Lavalle e Vilela, a golpeavam sábia e oportunamente no flanco direito e na retaguarda, rompendo o ténue véu protetor. com que ela intentara precatar-se nessa região. Examinemos agora que ocorria, nesse mesmo tempo, no outro extremo da linha. Segundo o tenente-coronel António Elisiário de Miranda e Brito (20), ao começar o desdobramento da coluna brasileira, "a vanguarda teve ordem de atravessar a sanga e de ficar cautelosa de observação sobre o flanco direito do inimigo". " 0 chefe de Estado Maior — explica o mesmo oficial —• ordenou que a 2. a Divisão passasse a sanga e a mim que a conduzisse, colocando-a na atitude de afrontar Lavalleja e do mesmo modo proteger e poder ser protegida pela l. a Divisão". A julgar por estas informações, o primeiro pensamento de Brown parece ter sido empenhar a ação simultaneamente com as'--, duas divisões, embora reservando a primeira para o ataque principal. , .' Diz ainda Miranda e Brito: "Com efeito, aquela (a 2. a Divisão) marchou com a maior galhardia; porém, como bastante tivesse avançado e não encontrasse um ponto de estabelecimento conveniente ao fim indicado, 1" DIViSAO • GENtRfít CALAÕO Dispositivo inicial (segundo Seweloh) correndo aliás risco, no seu isolamento, de ser afrontada pela direita do inimigo e sua reserva em força dupla da que tinha a Divisão, tomei a deliberação, de acordo com o comandante da Divisão e os dás Brigadas de cavalaria e infantaria,' de que ela (20) Manuscrito de seu punho, existente no Arquivo de Rio Branco. 288 se compunha, de contramarchar para a primeira posição; t-, dando disto parte ao chefe do Estado Maior e ao General em chefe, eles aprovaram tal deliberação, ajuntando que já a tinham julgado necessária, tanto que iam mandar ordem no mesmo sentido, se não vissem tal movimento e foi, segundo penso, ordenado à mesma divisão permanecer naquele lugar em frente a Lavalleja". Vendo o pequeno número e o isolamento relativo das forças de Abre, composta em sua quase totalidade de desertores indultados e paisanos, Lavalleja carrega com suas tropas sobre êle, atacando-o num flanco, segundo nos informa Machado de Oliveira. 0 contingente de Areu não pode resistir à impetuosidade do inimigo; cede, faz meia volta e corre desabaladamente para o lado da 2. a Divisão, abandonando uma peça que lhe estava confiada. É provável que Abreu haja tentado conter seus subordinados, mas infelizmente não conseguiu dominar-lhes o pânico. POSIÇÃO BRASILEIRA (Vista do centro da posição argentina) Calado prepara-se para recebê-los; forma quadrado com os dois batalhões, dispõe a 4. a Brigada de cavalaria em coluna de esquadrões à esquerda, para apoiar Abreu e repelir o inimigo, a 3. a da mesma arma para atender ao flanco direito (centro do exército) e duas peças nos ângulos do quadrado. A gente de Abreu chega atordoada de envolta com os inimigos, atropela o 5.° regimento (tenente-coronel Felipe Néri) da 4. a brigada e cai sobre o quadrado de infantaria. Calado não hesita um momento; fuzila-os a todos, amigos e adversários. Abreu tomba, ali mesmo, ferido de morte. Marechal Gustavo Henrique Brown Schewiâ prováveT~c[o engajamento CAMPO DA BATALHA DE ITUZAINGO MUNICIPIO DO ROSARIO — 289 — "Assim terminou sua gloriosa carreira militar um dos mais afamados guerreiros do sul, que unicamente por seus distintos feitos de armas ascendeu a um dos maiores postos do exército, Z. posição tíc 2*Mitnsàti • Dispositivo da divisão Calado, para resistir a novas cargas (segundo Seweloh) e foi enobrecido com um título. Como que vaticinando o fim de sua existência, ele dizia aos seus amigos, que aplaudiam a sua reaparição na campanha, que ia restituir à guerra o que só dela havia recebido" (21). Estava repelida a primeira investida de Lavalleja, embora fiom o aniquilamento de nossa vanguarda. O 5.° regimento voltou logo à ordem e foi buscar, por determinação de Calado, a peça abandonada pela gente de Abreu. "Essa carga (de Lavalleja) — escreve Diaz — não teve bom êxito em alguns pontos da linha que formava o primeiro corpo, particularmente no centro ;~e, como o regimento n. 9, do coronel Manuel Oribe, se desordenou completam ente, ao mesmo tempo que outros esquadrões eram perseguidos pelas forças imperiais, todo o primeiro corpo se pós em debandada" (22). Envergonhado com a fuga de seus comandados, Oribe arrancou do uniforme as dragonas de coronel, exclamando: Quien manda soldados que huyen, nó és digno de llevar estas insignias" (23). (21) Recordações Históricas — Machado de Oliveira. (22) Épocas Militares — Acevedo Diaz — págs. 356-357. (23) Berra — Bosquejo histórico de-Ia República Orienial — l. a edição, pág. 131. Encontra-se, todavia, na obra de Acevedo Diaz csla frase: pêro el ejercito no creyó que ese fuera el verdadero motivo, sino el de evitar que el enemigo que le perseguia se dirigiese á él á vista de aquellas insígnias (pág. 395). — 290 — Q inimigo faz novo ataque, que Calado repele com o 5.° regimento e o 20.°. É depois deste incidente que ele recebe e executa a ordem de destacar para a Divisão de Barreto a 3.;L Brigada de Cavalaria. Vendo passar ao longe, pela esquerda, um esquadrão que se dirige à retaguarda, manda atacá-lo por outro do 5.°, de que êle logra escapar-se. Neste momento, percebe cerca de dez esquadrões que se preparam para acometê-lo em duas linhas. Chega então o coronel Joaquim António de Alencastro com a ordem para que êle se reuna ã. divisão da direita (Barreto), caso esteja desembaraçado do inimigo. Dispositivo da divisão Calado, para resistir às primeiras cargas (segundo Seweloh) Era sem dúvida o momento da crise aguda nesta Divisão; o chefe brasileiro sentia as consequências do erro do dispositivo inicial e tentava corrigi-lo estendendo a mão para agarrar, num derradeiro esforço, as asas fugidia^ da vitória. : Mas Calado, comprometido a fundo na peleja, já não tem liberdade de ação, mostra ao coronel Alencastro a impossibilidade em que se encontra de obedecer e permanece em seu posto, resolução que Alencastro aprova em nome do general. Desencadeia-se a carga argentina e é repelida como as anteriores. "Espero-a, diz Calado, a 20 passos de distância e mando, fazer-lhe fogo; o inimigo recua em debandada; saio do quadrado e ordeno ao 5-° regimento que o persiga". O próprio Calado põe-se ã testa desta unidade, ao lado de seu »•«>*pectivo comandante, a fim de animar com êle os subordinados. Além do corpo de Lavalleja, *que outras unidades carregaram contra Calado? Não é fácil destriçá-lo em as narrativas argentinas, sempre pouco claras e, não raro, contraditórias. Eis o que disse Alvear, em seu boletim referente à batalha: 291 "Então o General em chefe proclamou aos corpos do exército com a veemência de seus sentimentos, animados pela grande solenidade daquele dia, e destinou o general Lavalleja para carregar, com a espada na mão, e os valentes do 1.° corpo, a "esquerda do adversário, envolvê-la"e desbaratá-la. Ia na segunda linha, para apoiar o ataque do 1.° corpo, a divisão.Zufriatégui, composta dos regimentos 8 e 16 de lanceiros, mandados pelo valente Olavárria*, e do esquadrão de couraoeiros, com seu bravo comandante Medina". E mais adiante: "Na direita disputavam a glória os comandantes Gomez e Medina. Carregaram contra uma forte coluna de cavalaria, golpearam-na e obrigaram-na a refugiar-se debaixo dos fogos àe um batalhão que estava resguardado por umas árvores. 0 ardor dos chefes levou até aí as tropas, que um fogo abrasador fêz retroceder um pouco; a massa de cavalaria lançou-se então sobre eles no mesmo instante; o regimento ]6 recebeu ordem de sustentar seus companheiros de armas; os couraceiros e dragões correram pela direita e esquerda, pondo-se no flanco deles. E 05 bravos lanceiros, manobrando como em dia de parada, num campo já coberto de cadáveres, carregaram e romperam o inimigo, alancearam-no e perseguiram-no até uma bateria de três peças, que também tomaram. 0 regimento n. 8 apoiava essa carga, que foi decisiva. O coronel Olavárria sustentou nela a reputação que havia adquirido em Junih e Ayacucho". Creio-que basta o trecho transcrito; o leitor deve estar saturado de estilo ampuloso e confuso. Infere-se, porém, do boletim argentino que, afora as tropas de Lavalleja, se bateram com certeza contra Calado três regimentos do 2.° corpo, a saber: o 8.° (Zufriatégui), o 16 (lanceiros. coronel Olavárria) e o esquadrão de couraceiros (corone í Medina). .Depois de repelida a última carga, tem Calado notícia (pelas duas horas da tarde) que a direita do exército se retira. Dois esquadrões inimigos avançam sobre seu flanco direito, "como para cortar o 5.° regimento". 0 quadrado faz fogo "com- tanta felicidade'" que do 1.° esquadrão inimigo só ficarani a cavalo 16 a 20 homens, e o 2.° debandou todo. , Iniciou então a retirada a exemplo da l. a divisão. Afora os pormenores da luta em torno das duas massas combatentes brasileiras, cumpre referir que forças de cavalaria argentina desviadas para a retaguarda haviam caído sobre o — 292 nosso comboio, carros de munição e bagagens, tudo roubando e inutilizando. Só não se apossaram da cavalhada de reserva. porque os respectivos condutores a haviam tocado para S. Gabriel (24). Ficamos assim sem mais munições das que estavam com os combatentes. 0 pasto ardia em mais de um lugar, incendiado pelos argentinos; segundo o autor anónimo das Contribuições, o fogo começara na sanga, provocado pelos primeiros atiradores inimigos que recuaram. Vendo-se dividido em dois blocos separados, que não puderam congregar esforços, embora estivessem ambos, até certo ponto, vitoriosos, um na defensiva e outro na ofensiva, e sem cavalaria ligeira que os protegesse nos flancos exteriores, sentindo-se cercado por todos os lados pela do inimigo, sem munições e com as tropas cansadas por seis horas de peleja, achou Barbacena que a menor solução era romper o combate e abandonar aquele campo ardente e sem água. 0 sinal de retirada soou do centro — segundo Machado de Oliveira — e foi respondido ao mesmo tempo de todos os pontos ocupados^ pelo exército. A retirada fêz-se pela estrada do Passo de Cacequí. Rompeu na frente a l. a Divisão, que era a mais vizinha dessa estrada; atrás dela colocou-se a segunda. "Principio a minha retirada — escreveu Calado em sua parte — levando a minha infantaria em quadrado, com os feridos no centro; parte da 4, a brigada de cavalaria em atiradores na retaguarda do quadrado e o resto em coluna na frente, sendo eu perseguido constantemente pelo inimigo; encontro no caminho a maior parte de nossa artilharia em dispersão, alguns carros de munições, a cavalhada, a boiada, que tudo levo na minha frente e guarda; diligência arriscada que para ativá-la muito cooperou o tenente-coronel comandante do 5.° regimento de cavalaria, sustentando contínuo fogo contra meus perseguidores, que haviam incendiado o pasto, sendo todo o campo um vulcão, que éramos obrigados a trilhar, menos a minha 3. a Brigada de cavalaria, que destaquei por ordem de V. Excia. para a l. a Divisão". "Quando esta ia em retirada e já se encontrava na contraencosta da colina que havia ocupado, operaram contra nós uns dois esquadrões do inimigo gritando: Viva Ia Pátria!, ao que respondeu a Divisão: Viva o Imperador! (25). (24 e 25) Partes de Miranda e Brito. 293 — «i-Seria essa a derradeira carga, dada por Paz, de que falam alguns argentinos? iOu a de Paz foi a última lançada contra Calado? António Diaz informa que fomos perseguidos pelos quatro batalhões de caçadores, o regimento de cavalaria n. 3 e o 3.° corpo às ordens de Soler, o que é singular, pois aquelas unidades pertenciam todas a este corpo. "Todos os demais regimentos do exército republicano estavam a uma grande distância e fora de vista, seguindo outra das divisões inimigas. Repetidas vezes o general Alvear, que marchava na retaguarda, mandou ordem a Lavalleja e aos outros chefes para que se reunissem ao terceiro corpo. 0 2.°, o 8.° e o ló.° obedeceram, se bem que com bastante demora pela distância em que se encontravam; porém as divisões orientais de Lavalleja e as de Lavalle não se reuniram, apesar das ordens reiteradas. Vendo o general em chefe que não era atendido, enviou um ajudante com ordem a Lavalleja para que se incorporasse imediatamente ao 3.° corpo, responsabilizando-o pelos resultados de sua desobediência. Então fêz alto, às 4 e ^ da tarde; mas nem aquele general, nem o coronel Lavalle volveram ao exército com suas divisões até o dia seguinte pela manhã, quando o dito exército já se encontrava acampado no Passo do Rosário" (26). ' * Sabe-se pela mesma fonte que o 3.° corpo, ao. cabo de uma hora de. perseguição, estava à distância de tiro de peça dos imperiaisoe a seguir à distância de fuzil, mas que não fêz fogo sobre o inimigo. Alvear ordenou a Soler que se detivesse. Nossa infantaria estava em frente,knuma coxilha elevada e fêz alto, permanecendo vinte minutos em descanso e pondo ordem em seus elementos. Conta Diaz que Alvear dissera a Soler ter notícias de que uma forte coluna inimiga vinha ao Passo do Rosário pela margem esquerda do Santa Maria. &Seria Bento Manuel? ' Verificou-se depois que era uma tropa ou boiada de particulares. Entretanto, nós, brasileiros, avançamos e só de longe o inimigo nos via quando subíamos.as coxilhas da estrada (27). Diaz afirma que a maior parte do 3.° corpo continuou em nosso encalço e só depois das 5 horas, quando já havíamos desaparecido no horizonte, fêz "alto e armou barraca numa que(26) (27) Épocas Militares — Acevedo Diaz. Épocas Militares, por Acevedo Diaz págs. 363-364. — 294 — brada em que se encontrou água, embora pouca e má. Aí descansou e, ao anoitecer, voltou ao Passo do Rosário. "A marcha de regresso durou cinco horas, e "foi a mais penosa da campanha", Parou-se ao lado do campo de batalha, que ardia ainda, produzindo calor sufocante. Mal se podia ver com as fagulhas trazidas pela fumaça", "No meio daquele mai» de chamas, que por todas as partes fechava o horizonte, lobrigamos às dez da noite, em um pequeno trecho'de campo não queimado, vários feridos do inimigo, abandonados por êle na retirada. Moviam-se penosamente de uni lado para outro, procurando debalde fugir ao suplício lento com que o fogo os ameaçava. Naquele conflito não lhes restava esperança, nem a nós era possível socorrê-los, visto como as chamas que os circundavam erguiam barreira intransponível" (28). Convém trasladar também para aqui mais este trecho tio mesmo autor: . "Relativamente a perdas, tivemos que lamentar a morte de alguns dos nossos, que pereceram nas chamas com que o pasto ardia, particularmente no centro da linha, pois o incêndio se extendera com tal rapidez à porção mais crescida e abundante desse pasto, que mal deu tempo para recolher os ditos feridos e conduzi-los ao hospital de-sangue afastado do mais de légua. Para isso contribuiu muito o abandono em que ficaram vários deles, tanto quanto a confusão, gerada pelo fogo, pela densidade da fumaça, pelo ruído estrondoso das armas, pelos gritos dos combatentes, pelo lamento dos caídos e pelas descargas "combinadas do fuzil e do canhão. Porém os • que tiveram especialmente aquela sorte-infeliz foram os feridos do exército imperial, a quem não foi possível socorrer para libertar do incêndio. A maior parte dos que ficaram no flanco esquerdo e no centro morreram com certeza queimados, porque o' exército republicano marchou sem deter-se em perseguição dos quadrados e o estado maior general só dois dias depois mandou percorrer o campo de batalha, quando já estava reduzido a cinzas. Ocorreu ainda uma cousa cruel que é forçoso narrar, a saber o procedimento desumano de grande niimero de condutores o chinas que seguiam o parque, os quais, enquanto marchávamos atrás dos últimos fugitivos, se lançaram sobre o campo de ação (28) Êpuras Militares — por Acuvedo Diaz — púfís. 363-361. - 295 — estimulados pelo desejo ardente do saque, e até pelo abandono em que êle ficara, se porventura não o foram pela insensível ferocidade que em todas as partes caracteriza as multidões. Havíamo-nos afastado cerca de meia légua de Ituzaigo, quando começámos a ouvir no campo vários tiros de fuzil, cuja causa não podíamos descobrir em vista do acidentado do terreno e da espessa fumaça que o envolvia. Como íamos ainda à pouca distância do inimigo, não prestamos muita atenção a essas descargas, além de que as atribuímos a circunstância do fogo do pasto se haver comunicado as armas esparsas no campo levando-as a se descarregarem, o que de fato em parte sucedeu. As detonações, porém, aumentaram depois por muito tempo, e em toda a' extensão da zona, até que várias ordenanças do estado maior, que se nos juntaram ao anoitecer, informaram que além da cansa referida, um grupo considerável de peões do parque e mulheres que o seguiam se haviam espalhado pelo campo de batalha, e, enquanto se apoderavam das armas e munições, todavia não atingidas pelo fogo, tinham ido saqueando todos os mortos e matando os feridos do inimigo, com o fim de os aliviar, segundo sua própria expressão". Apesar de tudo, a impressão deixada pela leitura dos documentos existentes é de que fomos frouxamente perseguidos. " 0 vagar com que marchava o exército — comenta Machado de Oliveira — por causa de sua artilharia, e por não dever abandonar nenhum dos seus feridos, fêz com que se lhe avizinhasse mais a infantaria inimiga, que em ordem estendida lhe picava a retaguarda, e que era protegida por cavalaria nos flancos: e, para baldar-lhe a ousadia, cobriu-se esse lado com uma linha de atiradores, que fêz retroceder e desaparecer completamente a do inimigo. "Pela esquerda deste, deslocou-se uma forte coluna de cavalaria, que seguindo pelo lado esquerdo do exército, já posto em marcha, foi tornar-lhe a frente, aí manobrou por algum tempo com aparências de obstar à sua retirada; mas, como observasse que nenhum tenção se prestava a isso, e que o exército, prosseguindo com seu movimento vagaroso e bem regulado, tinha disposição e suficiente força dessa arma para carregá-la logo que estivesse a seu alcance, dissuadiu-se dessa tentativa, ou de outra qualquer que ela fosse, e retirando-se contentou-se apenas com dar viva» à Pátria" — 296 Finalmente, Seweloh declara que a retirada se executou "à custa de muitos esforços, na maior ordem, mostrando os soldados grande serenidade e sangue1 frio, como êle nunca esperava ver no Brasil (29). Às onze da noite fêz o exército alto à meia légua do passo do Cacequí, para acampar; mas, após um descanso, em-vez de permanecer onde estava, como Barbacena tinha ordenado, avançou dizem'que por ordem de Brown, e foi postar-se do outro lado do rio. * No Passo encontrou o general brasileiro as cousas de que Alvear se havia desembaraçado (armamento, ferramentas, caixões de balas, ferraduras e reparos de artilharia) e mandou queimar-lhe 15 carretas. (29) Reminiscências, do coronel A. A. T. dê Seweloh — pág. 437. Planta Da Batalha Do dia 20 de Fevereiro de 1827 íiM CHEFE MARQUEZ U£ BÂRBACBNA, E O EXERCITO agPUBUCANO DE BUEKOS-AYSBS, COMM4FÍDADO PELO GENEflAL ALVBAR, UVANT4DA POR ADOf.FO ANTOMO P. Dg 5EW2L0H M A J O a o g gNCRMH^UOS E AJUDANTE DE ORDENS.