Arquivo 7 - Prof. William Moran

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Arquivo 7 - Prof. William Moran
TEXTOS
FUNDAMENTAIS
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
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CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
TEXTOS
FUNDAMENTAIS
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
Do original: Business: The ultimate resource
Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Basic Books – Perseus Books Group
Copyright © 2006 by A & C Black Publishers
© 2007, Elsevier Editora Ltda.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
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Escritório São Paulo:
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Tel.: (11) 5105-8555
ISBN 978-85-352-2003-2
Edição original: ISBN 978-0-465-00830-8
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de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação à
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Textos fundamentais / organização de Daniel Goleman ;
tradução Thereza Ferreira Fonseca. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2007. –
(Biblioteca de gestão)
Título original: Business : the ultimate resource
Vários colaboradores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-352-2003-2
1. Administração 2. Administração – Filosofia 3. Administração –
Manuais, guias etc. 4. Administração – Miscelânea 5. Negócios
6. Sucesso em negócios I. Goleman, Daniel. II. Série.
07-5450.
CDD-658
Índices para catálogo sistemático:
1. Administração 658
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
Prefácio
O desafio humano de organizar pessoas para que juntas possam construir o que
sozinha não conseguiriam está no cerne da administração. Vista dessa maneira, a
administração é tão antiga quanto a humanidade, pois certa governança ou regra
que permita aos seres humanos conviverem em sociedade existem há milênios.
A burocracia constituída pelos faraós tornou possível a construção das pirâmides,
assim como o Império Romano estabeleceu regras e normas que permitiram a
sua expansão. A organização da igreja e dos exércitos são exemplos claros de esforço de organização de pessoas para atingir objetivos comuns. Entretanto, a
ciência da administração ou da gestão como conhecemos hoje está intimamente
relacionada com a emergência do conceito de empresa ou organização produtiva que resultou das significativas transformações ocorridas a partir da Revolução
Industrial.
De 1750 a 1840 a força da máquina substituía com grande velocidade a força dos animais e dos homens, acelerando um processo de industrialização que
tinha como cerne a organização industrial. Dessa forma, a partir do século XIX
grande parte do conhecimento em administração derivou das experiências e
práticas dos empreendedores, dos primeiros gestores e da pesquisa em gestão
que então se iniciava. O conceito de educação em gestão tornou-se imprescindível para a expansão da empresa industrial. As teorias administrativas passaram
a ser formuladas, oferecendo um esquema conceitual com o propósito de organizar o conhecimento disponível para subsidiar o gestor no seu processo de
tomada de decisão.
O século XX foi pródigo no desenvolvimento de novos conceitos de gestão,
que iniciando-se com a administração científica da produção, incorporou saberes sobre como administrar as pessoas e as equipes, as finanças, a estrutura organizacional, as formas de comercializar produtos no mercado e os processos de
gestão, entre outros.
Os conhecimentos em administração evoluíram ao longo do tempo. Novos
conhecimentos foram gerados a partir do conhecimento consolidado. Muitas
vezes idéias apresentadas como novas, não passam de reciclagem de idéias antigas. Por isso, é fundamental para o administrador moderno conhecer as principais obras que ajudaram a moldar a administração como conhecemos hoje e subsidiar-se desses conceitos para melhorar a sua prática gerencial.
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
“Biblioteca de Gestão” é uma compilação das contribuições que permitem
ao administrador conhecer de forma rápida e consolidada as principais obras da
área de administração, e oferece a combinação ideal entre rigor acadêmico e
acessibilidade de leitura, além de ser importante fonte de pesquisa para profissionais e estudantes de gestão. Com ela o leitor conhecerá os alicerces da administração de forma prática e agradável.
Textos Fundamentais apresenta resumos dos mais influentes livros de negócios
de todos os tempos. É voltado para os gerentes que possuem pouco tempo para
ler e acompanhar a vasta literatura de negócios que aumenta todos anos. Cada
resumo inclui uma rápida análise das contribuições do livro para o pensamento
da administração, e uma lista dos pontos-chave do trabalho.
Todos aqueles que desejam atualizar-se, preparar-se para novos desafios na
carreira, desenvolver uma ampla visão de negócios e melhorar seu desempenho
em cursos de administração irão beneficiar-se dessa leitura.
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Sumário
A Arte da Guerra
2
Sun Tzu
A Arte de Fazer Acontecer
5
David Allen
A Behavioral Theory of the Firm
8
Richard Cyert e James March
A Business and Its Beliefs
11
Thomas Watson, Jr.
A Empresa Viva
14
Arie de Geus
A Era da Irracionalidade
17
Charles Handy
A Hora da Verdade
20
Jan Carlzon
A Lei de Parkinson
23
C. Northcote Parkinson
A Máquina que Mudou o Mundo
25
James P. Womack, Daniel T. Jones
e Daniel Roos
A Quinta Disciplina
28
Peter Senge
A Riqueza das Nações
31
Adam Smith
A Terceira Onda
34
Alvin Toffler
A Vantagem Competitiva das Nações
37
Michael Porter
Action Learning
Reg Revans
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40
Administração de Marketing
43
Philip Kotler
Administração Industrial e Geral
46
Henri Fayol
Administrando no Limite
49
Richard Pascale
Administrative Behavior
52
Herbert Simon
All the Right Moves
55
Constantinos C. Markides
As Artes Gerenciais Japonesas
58
Richard Pascale e Anthony Athos
Ascensão e Queda do Planejamento
Estratégico
61
Henry Mintzberg
Barbarians at the Gate
64
Bryan Burrough e John Helyar
Blur
67
Christopher Meyer e Stanley Davis
Capital Intelectual
69
Thomas Stewart
Capitalismo Natural
72
Paul Hawken, Amory B. Lovins
e L. Hunter Lovins
Como Chegar ao Sim
75
Roger Fisher e William Ury
Como Fazer Amigos e Influenciar
Pessoas
78
Dale Carnegie
Competindo pelo Futuro
80
Gary Hamel e C. K. Prahalad
Co-opetição
83
Barry J. Nalebuff e Adam M.
Brandenburger
Corporate Strategy
86
Igor Ansoff
Corporate-Level Strategy
Michael Goold, Marcus Alexander
e Andrew Campbel
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89
Criação de Conhecimento na Empresa
92
Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi
Da Guerra
95
Karl von Clausewitz
Dilema da Inovação
98
Clayton M. Christensen
Du Système Industriel
101
Henri de Saint-Simon
Dynamic Administration
104
Mary Parker Follett
Estratégia Competitiva
107
Michael Porter
Feitas para Durar
110
James Collins e Jerry Porras
Gerenciando Empresas no Exterior
113
Christopher Bartlett e Sumantra
Ghoshal
Innovation in Marketing
116
Theodore Levitt
Inteligência Emocional
119
Daniel Goleman
Jack Definitivo
122
Jack Welch
Juran: Planejando para a Qualidade
125
Joseph Juran
Leadership
128
James MacGregor Burns
Liar’s Poker
131
Michael Lewis
Liderando Mudança
134
John P. Kotter
Líderes: Estratégias para Assumir a
Verdadeira Liderança
137
Warren Bennis e Burt Nanus
Made in Japan
140
Akio Morita
Management Teams: Why They
Succeed or Fall
R. Meredith Belbin
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143
Managing
146
Harold Geneen
Managing Transitions
149
William Bridges
Marketing de Relacionamento
151
Regis McKenna
Megatendências
154
John Naisbitt
Meus Anos com a
General Motors
157
Alfred P. Sloan, Jr.
Minha Vida e Minha Obra
160
Henry Ford
Motivation and Personality
163
Abraham Maslow
Mundo sem Fronteiras
165
Kenichi Ohmae
Nas Ondas da Cultura
168
Fons Trompenaars e Charles Hampden-Turner
Novos Padrões de Administração
171
Rensis Likert
Now, Discover Your Strengths
174
Marcus Buckingham e Donald Clifton
O Capital
178
Karl Marx
O Gerente Minuto
181
Kenneth Blanchard e Spencer
Johnson
O Lado Humano da Empresa
184
Douglas McGregor
O Líder
187
Rudolph Giuliani
O Livro dos Cinco Anéis
190
Miyamoto Musashi
O Mito do Empreendedor Revisitado
193
Michael E. Gerber
O Ponto de Desequilíbrio
196
Malcolm Gladwell
O Príncipe
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
199
Nicolau Maquiavel
O Princípio de Peter
202
Laurence Peter
O que Ainda Não se Ensina em
Harvard Business School
204
Mark H. McCormack
O Sistema Toyota de Produção
207
Taiichi Ohno
On Becoming a Leader
210
Warren Bennis
On the economy of Machinery and
Manufactures
213
Charles Babbage
Onward Industry
216
James Mooney e Allan Reiley
Organization Learning
218
Chris Argyris e Donald Schön
Organizational Culture and Leadership
221
Edgar Schein
Out of Crisis
224
W. Edwards Deming
Prática da Administração de
Empresas
227
Peter Drucker
Princípios de Administração Científica
230
Frederick Winslow Taylor
Princípios de Economia Política
233
John Stuart Mill
Princípios de Economia Política e
Tributação
236
David Ricardo
Quest for Prosperity
239
Konosuke Matsushita
Reengenharia
242
James Champy e Michael Hammer
Safári de Estratégia
245
Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand
e Joseph Lampel
Sem Logo
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248
Naomi Klein
Small Is Beautiful
251
E.F. Schumacher
Strategy and Structure
254
Alfred Chandler
Tableau Économique
257
François Quesnay
Talento para Liderar
260
Marvin Bower
Teoria Geral do Emprego, do Juro
e do Dinheiro
263
John Maynard Keynes
Teoria Z
266
William Ouchi
The Age of Discontinuity
269
Peter Drucker
The Change Masters
272
Rosabeth Moss Kanter
The Changing Culture
of a Factory
274
Elliot Jaques
The Functions of the Executive
276
Chester Barnard
The HP Way: Como Bill Hewlett e Eu
Construímos Nossa Empresa
278
David Packard
The Human Problems of an Industrial
Civilization
281
Elton Mayo
The Managerial Grid
284
Robert Blake e Jane Mouton
The Mind of the Strategist
287
Kenichi Ohmae
The Motivation to Work
290
Frederick Herzberg, Bernard Mausner
e Barbara Bloch Snyderman
The Nature of Managerial Work
293
Henry Mintzberg
The New Corporate Cultures
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
296
Terrence Deal e Allan Kennedy
The Organization Man
299
William Whyte
The Theory of Economic Development
302
Joseph A. Schumpeter
The Theory of Social and Economic
Organization
305
Max Weber
Vencendo a Crise
308
Tom Peters e Robert Waterman
Viva (Morra) a Organização
Robert Townsend
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311
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
Introdução
Quais talentos especiais fazem com que alguns montem um negócio próspero do
nada enquanto outros mesmo com a vantagem de uma formação nas melhores faculdades de administração afundam uma empresa? Quais habilidades permitem
que alguém pegue uma empresa medíocre e a transforme em líder do setor, enquanto outros conseguem transformar organizações de ponta em verdadeiros fracassos? Quais são as qualidades coletivas responsáveis pelo contínuo crescimento
de uma empresa enquanto seus concorrentes se esfalfam para sobreviver?
O segredo não é apenas sorte, boa educação e formação universitária de primeira linha. Na verdade, parece haver algum tipo de habilidade uma inteligência sobrenatural em jogo, que dá a algumas pessoas um talento natural para as
complexas exigências dos negócios, assim como acontece com aqueles que nasceram talhados para a música, a matemática ou o futebol. Essa habilidade se
apresenta no âmbito de equipes espetaculares e de empresas excepcionais.
Essa observação leva a uma pergunta: será que existe uma inteligência nos
negócios um conjunto de habilidades que distingue aqueles que realmente se
destacam no mundo empresarial? A inteligência nos negócios seria a marca dos profissionais que apresentam desempenho acima da média e a base das empresas de
performance excepcional? Levanto a possibilidade em parte para inspirar o debate e a pesquisa, pois os negócios transformaram-se numa área de investigação,
teórica e prática. Nas últimas décadas, teorias sofisticadas e métodos quantitativos comprovados surgiram para alicerçar o estudo da administração. Em meu
trabalho, baseio-me nessa nova ciência para entender o papel da inteligência
emocional na liderança e no desempenho profissional. No entanto, quando reflito sobre a área da administração, questiono a possibilidade de também existir
uma inteligência nos negócios.
A questão quanto à existência da inteligência nos negócios é bastante palpável. Estudiosos sérios, como Howard Gardner, da Universidade de Harvard,
não encaram a inteligência nos moldes tradicionais do início do século XX, que
a definiam como um conjunto de habilidades intelectuais que giravam principalmente em torno da agilidade verbal e do domínio da matemática. Ao contrário, esses estudiosos consideram a inteligência tão específica quanto os vários domínios da vida.
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
Gardner transformou a maneira como pensamos sobre inteligência desafiando sua definição em termos da restrita faixa de habilidades que permitem a alguns uma posição de destaque no mundo acadêmico ou em testes de QI. De
maneira bastante convincente, o cientista alega a existência de várias inteligências que vão muito além desses limites restritos e que incluem o mundo do movimento como o futebol e a dança e o universo da música, com gênios como
Mozart ou Yo Yo Ma.
Desse modo, o termo “inteligência” foi expandido para abranger uma série
de outras habilidades geralmente excluídas desse escopo. Gardner chegou a propor uma “inteligência” para o entendimento da natureza, como a de grandes naturalistas como John Audobon ou Lineu, e analisou os prós e os contras de uma
inteligência espiritual.
Então, por que não existiria uma inteligência nos negócios? “Inteligência”,
em seu sentido mais elementar, refere-se à capacidade de resolver problemas,
enfrentar desafios ou criar produtos de valor. Nesse sentido, a inteligência nos
negócios descreve a capacidade essencial para o sucesso no mercado: conseguir
ultrapassar os obstáculos e as crises com habilidade e aplicar a expertise que oferece soluções conforme a necessidade sempre agregando valor aos negócios.
Entre os critérios de qualquer candidato, a inteligência é uma plausibilidade
evolutiva para sua função na sobrevivência humana, um papel atingido por uma
engenharia reversa na qual as pressões da seleção na evolução são inferidas a partir da operação atual de uma faculdade. Por exemplo, talvez os talentos empresariais da atualidade tenham antecedentes nas formas primitivas de escambo, artesanato, liderança, negociação, trabalho em equipe e cooperação.
Provavelmente, as pessoas que se superaram nessas habilidades proto-empresariais da pré-história foram os melhores provedores, qualidade decisiva na adequação evolutiva. Aqui temos outro dado curioso: o psicólogo evolucionista
David Buss, da Universidade de Michigan, descobriu que em diferentes culturas
uma das qualidades essenciais que tornam um homem atraente como parceiro
potencial são os sinais de que poderá ser um bom provedor. A capacidade de
despertar a atração do sexo oposto aumenta em muito as possibilidades de transmitir os genes para as gerações futuras o significado biológico de “sobrevivência
do melhor adaptado”.
A marca de qualquer inteligência é fundamentada na história do desenvolvimento, uma série de marcos de aprendizado e domínio de habilidades ao longo
da vida. Nenhuma inteligência surge de repente com força total, mas é desenvolvida e alimentada ao longo dos anos. Quando o assunto é negócios, as pessoas
que despontam como profissionais excepcionais são as que geralmente mostram
os primeiros sinais de talento na adolescência ou na infância. Como os biógrafos
das personalidades do mundo dos negócios nos contam, os mestres costumavam
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ser crianças com facilidade de aprender, e que viveram lapidando esses talentos
naturais.
O surgimento da capacidade humana para a matemática aponta para um critério diferente de inteligência: um relevante sistema de símbolos. Qualquer inteligência requer uma língua franca, um conjunto de símbolos que captam as importantes informações necessárias para atuar nesse domínio, como, por exemplo, a noção musical. Do ponto de vista histórico, os sistemas de símbolos surgiram devido à premente necessidade humana. A História sugere que os princípios básicos da matemática contagem, adição, subtração etc. surgiram para
atender as necessidades do comércio e da contabilidade, para controlar os estoques conforme eram negociados e reabastecidos. Com a evolução do comércio,
os sistemas de símbolos também tiveram de evoluir para acompanhar essas mudanças dinâmicas.
Quais seriam os elementos-chave da inteligência dos negócios? Os dados remontam ao início dos anos 70, quando o professor de Harvard, David McClelland, afirmou que a indicação do melhor desempenho nos negócios não consistia meramente nas atitudes estudantis tradicionais nem nas notas escolares, tampouco nas credenciais acadêmicas. Ao contrário, McClelland concentrou-se nas
aptidões mostradas por pessoas de destaque em diferentes cargos, funções e empresas, que pouco ou nada têm a ver com habilidades acadêmicas.
Sua pesquisa mostrou por que a inteligência acadêmica não é um indicador seguro do sucesso. Afinal, em um processo seletivo, o histórico escolar é
apenas um dos pré-requisitos para conseguir um cargo e manter-se nele. Os indicadores mais importantes do sucesso são as competências que distinguem o
melhor do medíocre dentro de um determinado cargo, função ou empresa.
Se quiser cultivar seus pontos fortes, uma empresa precisará contratar, promover e treinar pessoas com essas capacidades de destaque, assim como os indivíduos que desejam alcançar o sucesso na carreira devem desenvolver as
habilidades necessárias.
Ao longo das últimas décadas, centenas de estudos em organizações de todos
os tipos de empresas familiares do setor de varejo a corporações gigantescas, de
hospitais a ordens religiosas seguiram a direção de McClelland, avaliando as
aptidões que distinguem os indivíduos de alto desempenho dos medianos dentro de uma organização. Essas aptidões são divididas em três domínios básicos:
perspicácia que, em grande parte, significa a capacidade de aprender e pensar estrategicamente; expertise técnica ou habilidades essenciais para aprender a executar um trabalho; e a inteligência emocional, que consiste no autocontrole e na
capacidade interpessoal. A inteligência nos negócios, no sentido que proponho,
inclui todas as características como sub-habilidades essenciais componentes que,
quando orquestrados em conjunto, criam uma atitude empresarial especial.
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Inevitavelmente, cada um tem um perfil de pontos fortes e fracos em relação
ao conjunto das diversas habilidades que formam a inteligência nos negócios.
Cada cargo que assumimos ao longo da carreira terá um diferente conjunto de
exigências que, na mesma medida, exigirá superação em uma série de habilidades
exclusivas. Conforme mudamos de cargos e funções, precisamos desenvolver
nossa inteligência nos negócios por meio do aprendizado contínuo não apenas
para acompanhar as mudanças, mas também para assumir e manter a dianteira.
É claro que cada inteligência possui seus prodígios aqueles que alcançam o
ápice. São os Rothschilds e Rockefellers, os Gates e Bransons que fazem a diferença. Mas o simples fato de que alguns têm um tino natural para a inteligência
nos negócios, enquanto outros se mantêm apenas na média, não deve desencorajar ninguém. Em primeiro lugar, todas as habilidades que formam a inteligência podem ser aprendidas qualquer pessoa motivada pode melhorar. Em segundo lugar, ninguém precisa dominar cada elemento da inteligência nos negócios;
podemos contar com os outros para a maior parte da expertise de que precisamos.
Isso me leva ao próximo ponto: a inteligência é distribuída.
A NECESSIDADE DE SABER
Um antigo provérbio diz: “O bom é saber e saber que sabe. Melhor ainda é saber que não sabe. Providencial é saber sem se dar conta. Mas o pior é não saber
que não sabe.” Essa sabedoria certamente pertence à inteligência nos negócios,
que inclui a capacidade de captar a expertise certa na hora certa para a finalidade
certa. Os melhores homens de negócios sabem do que precisam e usam seu conhecimento com segurança. Quando não conhecem uma determinada especialidade, percebem que precisam de tal conhecimento e sabem onde encontrá-lo.
Francamente, diante da complexidade dos negócios da atualidade, qualquer um
de nós pode se encontrar nesta situação: com uma necessidade urgente de saber
determinada coisa a qualquer momento.
O modo como conseguimos lidar com esse tipo de situação é determinado por
nossa inteligência nos negócios, que pode manifestar-se em saber a expertise crítica
necessária para cada caso e onde obtê-la. Esse tipo de acesso ao conhecimento separa
os melhores profissionais dos demais: quem apresenta o melhor desempenho geralmente sabe identificar melhor e mais rapidamente o know-how necessário no trabalho, ao passo que os medíocres nem se dão conta do que não sabem. Na verdade,
os estudos dos melhores desempenhos mostram que os vencedores conseguem
identificar um conhecimento essencial quatro vezes mais rápido do que seus colegas. Em resumo, a rapidez para analisar uma expertise crítica uma qualidade da inteligência nos negócios é determinante para uma estrela do mundo empresarial.
Na atual realidade dos negócios, esse tipo de acesso é ainda mais imprescindível devido a um fato fundamental: nós conhecemos apenas parte das informa-
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ções de que precisamos para realizar nossas atribuições. Durante anos, Robert
Kelley, da Carnegie-Mellon University, fez esta mesma pergunta a pessoas que
trabalham em diferentes tipos de empresas: “Você detém qual porcentagem do
conhecimento necessário para desempenhar sua função?” Em meados dos anos
80, a resposta girava em torno de 75%. No entanto, na virada do milênio, esse
percentual diminuiu para 15%.
Essa redução do que sabemos certamente reflete o número cada vez maior
de informações. Dizem que no último século foi gerado um conhecimento
maior do que em toda a história da humanidade. Do mesmo modo, quando
se trata do nível de conhecimento necessário para tocar um negócio, o céu é
o limite.
Como todos inevitavelmente dependem cada vez mais das informações e da
expertise dos outros, o acesso ao conhecimento alheio ocupa um papel de importância inédita. Felizmente, nenhum de nós precisa acumular o volume astronômico de informações que os negócios exigem hoje e exigirão amanhã. Os cientistas cognitivos dizem que a inteligência nosso conhecimento, nossas lembranças e nossa capacidade de colocar tudo isso em prática pode ser distribuída. Em
vez de estudar durante anos para aprender o que algum dia talvez seja necessário,
podemos apenas saber como obter tais informações. Podemos simplesmente
acessar um determinado tipo de expertise quando surgir a necessidade em vez de
passar anos intermináveis para dominar várias áreas de conhecimento.
Nossa inteligência nos negócios não se limita a nós ela reside em ferramentas
como bancos de dados, redes de parceiros, colegas de trabalho e de outros lugares com quem poderemos contar quando precisarmos. Mas existe uma desigualdade inevitável quanto à faixa e à profundidade do conhecimento que nossas
ferramentas de informação e redes pessoais podem oferecer. Todos precisamos
encontrar maneiras de preencher as lacunas de nossas redes pessoais de especialistas e informações por intermédio do aprendizado contínuo ou de descobrir o
que precisamos saber quando for necessário.
As implicações da inteligência nos negócios vão além de cada um de nós para
as empresas em que trabalhamos ou para nossos parceiros no trabalho. Dentro de
qualquer grupo humano, o conhecimento e a expertise são distribuídos. Na complexa realidade empresarial atualmente, ninguém é capaz de dominar todas as
habilidades ou dados necessários para a boa gestão de toda a empresa. O CFO
tem um conjunto de especialidades diferente daquele do pessoal de vendas e
mais distinto ainda das habilidades da equipe de P&D. Além disso, a “inteligência” de uma empresa é proporcional às suas oportunas e adequadas ofertas e às
diversas expertises necessárias.
A realidade dos negócios de hoje apresenta um paradoxo: o desafio de conciliar a sobrecarga de informações com processos decisórios cada vez mais rápidos.
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Para sobreviver de modo competitivo, cada pessoa e cada empresa devem ter a
capacidade de reunir a expertise conforme surgem as necessidades, bem como
operar e adaptar-se de acordo. Isso se aplica tanto à lojinha da esquina quanto às
grandes corporações, e aponta para o papel crucial do fluxo de informações em
toda a organização na determinação de sua viabilidade. A soma do conhecimento e do know-how de todos em uma organização o cômputo geral de sua inteligência empresarial é responsável por grande parte de sua vantagem competitiva,
desde que a empresa saiba como mobilizar toda essa expertise.
Na verdade, executivos experientes, como Andrew Grove, da Intel, alegam
que a sobrevivência das empresas depende da agilidade com que sua equipe de
liderança reage às surpresas e dificuldades do mercado. Além disso, a teoria dos
sistemas nos mostra que em um ambiente de competição e mudanças turbulentas, a pessoa ou empresa que conseguir as informações mais abrangentes, que
conseguir absorver o maior aprendizado e reagir do modo mais ágil, criativo e
flexível, demonstrará ter melhor capacidade de adaptação. Essa exigência empresarial é, sem dúvida, uma força no surgimento do movimento da “gestão do
conhecimento” do enclave da Tecnologia da Informação ao alcance mais longo
da organização.
Em resumo, a cada passo do caminho, a capacidade de alcançar a expertise necessária faz uma diferença crítica. Onde estão as lacunas em nossa inteligência nos
negócios? Por exemplo, podemos nos questionar se estamos no melhor caminho
de conhecer nossos clientes e suas necessidades ou de formar uma aliança estratégica de trabalho ou de dominar todos os detalhes do marketing de relacionamento. A quem podemos recorrer em nossa rede pessoal para encontrar as respostas?
EDUCAÇÃO E SABEDORIA NOS NEGÓCIOS
Existe ainda a educação nos negócios, uma familiaridade profissional com as idéias e
as teorias essenciais para os gestores se manterem atualizados. Diante da miríade
de livros e artigos publicados para gestores a cada ano, é praticamente impossível
manter-se atualizado com a explosão de novas idéias e conceitos sem falar em
descartar os modismos passageiros do momento. A maior parte dessa massa desajeitada de idéias e insights oferecidos a cada ano cairá como folhas no outono.
Mas ano após ano aparecem estudiosos cujos insights provam-se dignos de nota
por fazerem a diferença na prática e por somarem a inteligência aos negócios.
A vantagem empresarial é obtida por meio do aproveitamento inteligente
dessas idéias, não apenas de dados amorfos, da última tecnologia ou de um CEO
acima do bem e do mal. Os editores da Harvard Business Review admitem sem rodeios que de todas as idéias empresariais propostas em suas páginas, muitas são
refinamentos prosaicos de conceitos existentes. Muito poucos podem ser classificados como idéias inovadoras: em 1979, Michael Porter apresentou sua teoria
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
sobre as forças que moldam a estratégia; em 1990, C. K. Prahalad e Gary Hamel
escreveram sobre as competências essenciais de uma empresa; em 1995, Clay
Christensen propôs a importância das tecnologias que quebram paradigmas.
Hoje, todas essas idéias são princípios essenciais da educação nos negócios.
A falta de conhecimento dos principais conceitos de gestão deixa os profissionais em desvantagem ou na defensiva quando os demais apresentam idéias
administrativas importantes com as quais também deveriam estar familiarizados.
Pior ainda, podemos ficar sem saber o que fazer enquanto outros lançam mão de
novos conceitos formidáveis. A educação em gestão alimenta e desenvolve a inteligência nos negócios. Para avaliar seu conhecimento nessa seara, pergunte-se
qual a sua familiaridade com as principais idéias e escritos que qualquer pessoa de
negócios deve conhecer.
Por fim, analise o que podemos chamar de sabedoria nos negócios, que pode ser
a soma de todas as lições que aprendemos ao longo da carreira. Conforme cada
um atravessa altos e baixos, crises e vitórias da vida profissional, o cérebro depreende, automaticamente lições para enfrentar situações semelhantes no futuro.
No decorrer dos anos, acumulamos uma série de regras de decisões aprendidas
tacitamente lições de vida que consistem em nossa sabedoria sobre o assunto.
Mas cada um conta com um conjunto de experiências específicas ou limitadas ao longo da vida e, como conseqüência, acabará com uma sabedoria limitada
nos negócios. Mas podemos expandir nosso discernimento diante da natureza
imprevisível dos desafios do amanhã. Na história da humanidade, aprendemos
com os “mais velhos”, os que já passaram pelo que enfrentaremos no futuro. No
mundo dos negócios, esse tipo de sabedoria advém dos profissionais mais tarimbados, tanto por suas histórias quanto pelo que sua carreira nos revela.
Sem dúvida, a inteligência ou a sabedoria nos negócios são inúteis a menos que
possamos transformá-las em ação. Em suma, o importante é saber do que precisa e
deve ser feito em seguida. No fim das contas, é somente pela demonstração cotidiana dos sábios esforços que a inteligência nos negócios prova o seu valor.
É dessa forma que podemos nos perguntar o quanto estávamos bem preparados para a grande crise ou oportunidade da semana, do mês ou do ano passado.
O que fizemos para nos preparar para uma próxima situação parecida? Podemos
fazer uma análise de nossa própria inteligência nos negócios, procurando as lacunas que indicam onde podemos nos concentrar para aumentar nossos pontos
fortes. Também podemos refletir sobre o que sabemos e o que não sabemos e
onde podemos aprender o que precisamos.
DANIEL GOLEMAN
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2
CAM PUS – TEXTOS FUNDAM ENTAIS – 1319 – C APÍT U LO 5 – SC 2

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