NUTRIÇÃO DE TILÁPIAS - ONDE ESTÃO OS DESAFIOS
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NUTRIÇÃO DE TILÁPIAS - ONDE ESTÃO OS DESAFIOS
NUTRIÇÃO DE TILÁPIAS - ONDE ESTÃO OS DESAFIOS? Palestrante: Ademir Calvo Fernandes Junior Responsável técnico e pesquisador da Piscicultura Fernandes – Palmital-SP Entre as diversas espécies dos gêneros Oreochromis a tilápia compõem o grupo de peixes que mais cresce em comercialização mundial, especialmente pelo aumento da sua produção na China e em outros países em desenvolvimento, como o Brasil. São espécies nativas da África, Israel e Jordânia, se espalhando pelo mundo nos últimos 50 anos e, hoje, produzidas em mais de 100 países, nos mais diversos climas, sistemas de produção e salinidades de água (HEMPEL, 2002). As pesquisas para criação de tilápias tiveram início no Congo Belga, atual Zaire, no começo do século XIX. A partir de 1924, sua criação foi intensificada no Quênia e sua expansão para outras partes do mundo se deu a partir da Malásia (CAMPO, 2008). Segundo Likogwe et al. (1996), a espécie de tilápia mais conhecida provavelmente é a tilápia-do-Nilo Oreochromis niloticus. Esta apresenta adaptabilidade a condições adversas, tendo grande importância para a aquicultura. É uma espécie tropical cuja temperatura ideal de desenvolvimento varia entre 25 e 30 °C, tendo seu crescimento afetado abaixo de 15 °C e não resistindo a temperaturas por volta de 9 °C, segundo Cyrino & Conte (2006). Em relação à qualidade da carne, esta é saborosa e contém baixo teor de gordura no filé (0,9%) e baixa caloria (117 kcal/100g). O rendimento de filé é ao redor de 35 a 40%, e este é ausente de mioceptos (espinhos em forma de “Y”), o que a torna apropriada para industrialização (CYRINO & CONTE, 2006). Apesar de compor um grupo com mais de 70 espécies de dois gêneros (Tilapia e Oreochromis), segundo a FAO (2007), 80% das tilápias produzidas no mundo são acinzentadas “nilóticas” ou do “Nilo”. Por razões de mercado, em alguns países ou regiões predominam as tilápias híbridas, sobretudo as vermelhas, descendentes de cruzamentos das espécies O. mossambicus com outras espécies de tilápias, sobretudo na Jamaica, Colômbia e Indonésia. Alguns cruzamentos específicos são realizados entre essas espécies, a exemplo de Israel e China (O. niloticus e O. aureus) visando resistência ao frio ou busca por populações com predominância masculina (fêmea de O. niloticus x macho de O. hornorum), utilizados em Israel, EUA e Cuba. No Brasil, a tilapicultura segue a tendência mundial, com predominância de 80% de tilápias nilóticas e 20% de tilápias vermelhas. A tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus), a tilápia mossambica (Oreochromis mossambicus) e a tilápia azul (Oreochromis aureus), são as que atingiram maior destaque (FAO, 2007). A tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) foi introduzida no Brasil em 1971, pelo Departamento de Obras contra Seca (DNOCS), com o objetivo de povoar de alevinos os reservatórios públicos da região Nordeste (NOGUEIRA, 2007). O empecilho encontrado na época, que prejudicou o desenvolvimento da atividade, foi a deficiência de conhecimentos técnicos. Com o desenvolvimento científico, difusão das técnicas de cultivo e aperfeiçoamento da metodologia de inversão sexual, a tilapicultura ganhou impulso e desenvolvimento no Brasil na década de noventa, sendo o estado do Paraná considerado o maior produtor até meados de 2003, quando foi ultrapassado pelo Estado do Ceará em 2007 (SEBRAE, 2008). Atualmente São Paulo é o maior produtor. Devido as mais diversas pesquisas nas áreas de melhoramento genético, nutrição e reprodução, bem como a grande aceitação da carne pelo mercado consumidor, o cultivo de tilápias se tornou hoje uma das principais atividades aquícolas do Brasil. Atualmente grande parte da produção de tilápias no Brasil é oriunda da criação intensiva em tanques-rede, no entanto a intensificação do sistema de produção pode ocasionar o aparecimento de diferentes fatores estressores, sendo essencial que os mecanismos de defesa atuem adequadamente para garantir o equilíbrio orgânico e a higidez dos peixes cultivados (BARTON & IWANA, 1991). Esses fatores podem compreender a qualidade da água, mudanças bruscas de temperatura, densidade de estocagem, manejo de captura, classificação, despesca e transporte (IWANA et al., 1997; URBINATI et al., 2004) alterando direta ou indiretamente a resistência orgânica dos peixes. Como resposta do estresse pode-se descrever a perda da homeostase, com redução do crescimento e da capacidade reprodutiva, além do prejuízo da resposta imune, tornando o peixe susceptível a doenças (WENDELAAR-BONGA, 1997; VAN WEERD & KOMEN, 1998), principalmente, por parasitos, fungos, vírus e bactérias. A busca pelo melhor conhecimento da relação entre a nutrição e saúde de peixes ganha cada vez mais impulso com o aprimoramento e descobertas de novas tecnologias, visando adequar os dados obtidos em pesquisas com as condições da produção. Embora a importância da nutrição para a manutenção da higidez dos peixes seja evidente, os questionamentos, ainda, superam os resultados conclusivos nesta linha de pesquisa (BARROS et al., 2006). Os parâmetros hematológicos são fundamentais para se diagnosticar doenças e eventuais problemas patológicos. Qualquer alteração fisiológica é, concomitantemente, refletida no sangue podendo afetar os parâmetros sanguíneos (HRUBEC et al., 1997). Hesser (1960) propôs o uso de parâmetros hematológicos como indicadores de saúde. Ranzani-Paiva e Silva-Souza (2004) ressaltaram que avaliações sanguíneas relacionadas a respostas fisiológicas dos peixes têm sido, frequentemente, adotadas por pesquisadores. Barros et al. (2009) afirmam que, além de nutrir o animal para máximo desempenho, é preciso nutrir seu sistema de defesa. Desta forma, se faz necessárias pesquisas não somente relacionadas à nutrição, mas sim da inter-relação nutrição e saúde. A tilápia é a espécie mais estudada no país. Embora avanços consideráveis tenham sidos feitos, existe ainda necessidade de pesquisas para determinação das exigências nutricionais de tilápias em função da categoria de peso ou idade, linhagem, bem como para reprodutores. Estudos sobre o uso de prebióticos e probióticos em rações para tilápias ainda são incipientes. Devido o desafio imposto pelo sistema intensivo de produção, bem como, alterações bruscas ambientais, faz – se necessário estudos que melhorem não somente o desempenho produtivo, mas também a higidez dos peixes. A determinação do valor nutritivos dos alimentos para tilápias em fase de alevinagem, crescimento e engorda (1, 300 e 600 gramas, respectivamente), também se faz necessário para melhores ajustes nas formulações de rações, uma vez que, grande parte dos dados presentes na literatura são de peixes entre 30 a 150 gramas. Pesquisas de campo são importantes para a validação dos resultados de laboratório, no entanto o alto custo e as dificuldades para realização destes experimentos impedem a concretização. No entanto há um problema regional no Brasil, por exemplo, os resultados obtidos em campo no nordeste, talvez sejam diferentes se realizados na região sul, portanto esses fatores devem ser levados em consideração para interpretação dos resultados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BARROS, M. M.; PEZZATO, L. E.; FALCON, D. R.; GUIMARÃES, I. G. Nutrição e saúde de peixes. In: Congresso Latino-Americano de Nutrição animal, 2, 2006, São Paulo. Anais... São Paulo: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal. 2006. Cdrom. BARROS, M.M.; RANZANI-PAIVA, M.J.T.; PEZZATO, L.E.; FALCON, D.R; GUIMARÃES, I.G. Haematological reponse and growth performance of Nile tilapia (Oreochromis niloticus L.) fed diets containing folic acid. Aquaculture Research, 40, 895-903, 2009. BARTON, B.A.; IWAMA, G.K. Physiological changes in fish from stress in aquaculture with emphasis on the response and effects of cortivosteroids. Annu. Rev. Fish Dis., v.1, p.3-26, 1991. CAMPO, L.F.C. La Tilapia Roja: una evolucion de 26 años, de la incertidumbre al exito. México, p.147, 2008. CYRINO, J.E.P.; CONTE, L.; Tilapicultura em Gaiolas: produção e economia. In: José Eurico Possebon Cyrino e Elisabeth Criscuolo Urbinati (Eds.). AquaCiência 2004: Tópicos Especiais em Biologia Aquática e Aquicultura. Jaboticabal: Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática, cap.12, p.151-171, 2006. FAO – ORGANIZACION DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACIÓN. 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