métodos e protocolos de avaliação do equilíbrio

Transcrição

métodos e protocolos de avaliação do equilíbrio
1. MÉTODOS E PROTOCOLOS DE AVALIAÇÃO DO
EQUILÍBRIO: UMA REVISÃO
METHODS AND PROTOCOLS OF BALANCE EVALUATION:
A REVIEW
RESUMO
O equilíbrio é um processo complexo que envolve a
percepção e a interação de estímulos sensoriais. As alterações
no equilíbrio têm como maior consequência as quedas, que
podem levar a limitações funcionais, causando dependência.
Erika de Vasconcelos Barbalho Entendendo a importância de se diagnosticar o risco de
quedas, é que foram desenvolvidos diversos instrumentos
INTA
[email protected]
para avaliação do equilíbrio, são testes e escalas validadas e
de grande confiabilidade que vem facilitar essa mensuração.
Antonia Dávila Fontenele de
Esse trabalho teve por objetivo realizar uma revisão sobre os
Carvalho
métodos e técnicas de avaliação de equilíbrio descritas na
literatura. Foi realizado um levantamento de artigos
publicados entre 2005 e 2013, redigidos em língua
portuguesa; e que tiverem como foco a importância de se
avaliar o equilíbrio e como mensurar esse equilíbrio, ao final
da coleta de dados, foram selecionados um quantitativo de
nove produções científicas sintetizadas no quadro 01 e
quadro 02 do presente trabalho. Foi possível observar que os
instrumentos descritos nesse trabalho (EEB, TAF, TUG, POMA e TPF) apresentaram dados
consistentes quanto às propriedades psicométricas, possuem boa confiabilidade e são capazes
de identificar idosos de riscos para quedas, porém a maioria dos testes se apresenta com
pouca sensibilidade para mensurar perdas funcionais discretas. Observou-se que os testes são
eficazes e para melhor avaliar o equilíbrio é necessário que os utilizem de forma
complementar, pois cada um possui sua aplicabilidade.
Palavras-chave: Equilíbrio; Avaliação de equilíbrio. Protocolos de avaliação de equilíbrio.
ABSTRACT
Balance is a complex process that involves interaction and perception of sensory stimulus. The
difficulties in maintaining balance are the most important factor that results in falls, which can
result in functional limitations and lead to dependence of a caregiver or a family member.
Understanding the importance in diagnosing the risk of falls, researchers developed several
instruments for balance evaluation. This instruments are validated and have great reliability
that will facilitate balance evaluation. The study objective was to conduct a review of the
evaluation methods and techniques of equilibrium described in the literature. A survey of
articles published between 2005 and 2013 , written in native language (Portuguese) was done.
The inclusion criteria was that the article focus on the importance of balance evaluation and
how to measure this outcome at the end of data collection. It has been selected nine scientific
productions summarized in Table 01 and Table 02 of this work. It was observed that the
instruments described in this work (BBS, TAF, TUG , POMA and TPF ) showed consistent data
regarding the psychometric properties and have good reliability and are able to identify risks
for falls in the elderly. Most of the included tests presents little sensitivity to measure discrete
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
2
functional losses. We observed that the tests are effective and to evaluate balance, is required
to use more of one in a complementary setting, because each one has its own applicability.
Keywords: Balance. Balance assessment. Balance evaluation protocols. Balance assessment
tools.
INTRODUÇÃO
Define-se equilíbrio corporal como a capacidade do homem de manter-se ereto
ou realizar movimentos de aceleração e rotação do corpo de maneira eficaz sem
oscilações, desvios ou quedas (SCHMIDT et al., 2010).
O equilíbrio pode ser dividido em estático e dinâmico. Equilíbrio Estático referese ao controle da oscilação postural na posição imóvel, através da utilização de
percepções internas e externas, associadas à ativação muscular como resposta às
perturbações de estabilidade e equilíbrio. Equilíbrio Dinâmico é a capacidade de
controlar o centro de gravidade do corpo enquanto este se desloca sobre sua base de
apoio, o que necessita de níveis adequados de força dos membros inferiores
(ALMEIDA; VERAS; DOIMO, 2010).
A estabilidade corporal é um processo complexo que envolve a percepção e a
interação de estímulos sensoriais, o planejamento e a execução de movimentos para
controlar o centro de gravidade do corpo sobre sua base de suporte, sendo realizado
pelo sistema de ajuste postural, que integra informações do sistema vestibular,
proprioceptivo e visual (CRUZ; OLIVEIRA; MELO, 2010).
As bases mecânicas da estabilidade corporal dependem das forças e momentos
de força (torques) aplicados sobre ela. Um corpo está em equilíbrio mecânico quando
a somatória de todas as forças (F) e momentos de força (M) que atuam sobre ele é
igual a zero (ΣF=0 e M=0). Essas forças podem ser classificadas em externas, como a
energia gravitacional e a força de reação do solo, e as internas, que são as
perturbações fisiológicas como o batimento cardíaco e a respiração, ou as geradas pela
contração dos músculos para manter a postura e na realização dos movimentos
(DUARTE; FREITAS, 2010).
O corpo para manter-se em equilíbrio depende da ação coordenada do sistema
nervoso central que é capaz de gerar respostas musculares para regular o centro de
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
3
massa sobre a base de suporte do corpo. Este processo de controle depende de um
relacionamento complexo entre os sistemas sensoriais e motores e, quando isto não
ocorre adequadamente ou quando há um mau funcionamento desse sistema, é
causada a instabilidade da postura e, por tanto, o desequilíbrio (FREITAS; BARELA,
2006).
Conforme Müjdeci e Aksoy (2012), a principal queixa do desequilíbrio é a
tontura. Sua origem está associada a diversas condições, podendo ser proveniente do
sistema vestibular ou não, como: as disfunções cérebro vasculares, as doenças
metabólicas e vasculares, alterações cervicais, doenças neurológicas, hipotensão
postural, uso de medicamentos, dentre outras.
Existem também captores que interferem no controle postural: os pés e os
olhos. O comprometimento de um desses causará um desequilíbrio tônico postural e
com ele um desarranjo das forças contrárias normais. Quando a informação advinda
desses captores é desigual ou patológica, ela produz um ajustamento postural errôneo
(que o organismo considera como correto), causando desequilíbrio (SOUZA et al.,
2009).
Estudos mostram que existe uma relação entre a alteração de sensibilidade
cutânea plantar (como em indivíduos portadores de doenças neurológicas ou
sistêmicas, principalmente no Diabetes Mellitus e, em indivíduos idosos ou não) e
distúrbios do equilíbrio (FERREIRA; VIEIRA; CARVALHO, 2010).
O processo de envelhecimento causa declínio na estabilidade corporal, sendo
uma das funções mais afetadas nesta fase da vida, com uma prevalência de queixas em
idosos acima de 65 anos de idade, chegando a 85% (FIGUEIREDO; LIMA; GUERRA,
2007).
Decorrente disso, Carvalho et al. (2010) afirmam que indivíduos idosos tem
maior
probabilidade
de
desenvolver
quedas,
consequência
inevitável
do
envelhecimento podendo ser um sinal do início de fragilidade ou indicar alguma
doença aguda, tendo repercussões importantes como lesões, incapacidade e morte.
A queda é a principal consequência da instabilidade do equilíbrio e é definida
como um evento acidental, não intencional que tem como resultado a mudança de
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
4
posição do indivíduo para um nível inferior, em relação a sua posição inicial, sem
capacidade de correção em tempo hábil (OLIVEIRA et al., 2012).
As quedas podem ter efeitos diretos e/ou indiretos, acarretando em danos que
podem piorar ou desencadear estados mórbidos, mortalidade, deterioração funcional,
hospitalização, institucionalização e consumo de serviços sociais e de saúde (CRUZ;
OLIVEIRA; MELO, 2010).
Avaliar o equilíbrio é uma tarefa de diversas áreas profissionais, como a
otoneurologia, fonoaudiologia, fisioterapia e outras. Essa avaliação, na prática clínica,
serve como instrumento importante para identificar precocemente os distúrbios
posturais, compreender as alterações do equilíbrio e realizar intervenções apropriadas
(CARNEIRO et al., 2010).
A literatura sugere a utilização de diferentes escalas a ser aplicada em indivíduos
com comprometimento da percepção do equilíbrio. O que prediz o uso de uma ou
outra está na individualidade biológica do paciente, na especificidade do diagnóstico
apresentado e nos critérios terapêuticos (GUIMARÃES; FARINATTI, 2005).
Entendendo a importância de se diagnosticar os parâmetros clínicos
desencadeadores do risco de quedas é que foram desenvolvidos diversos instrumentos
para avaliação do controle postural. São testes e escalas validadas e de grande
confiabilidade que vem facilitar a mensuração do equilíbrio corporal, e as
consequências das alterações do controle postural sobre a funcionalidade do indivíduo
acometido.
Frente ao acima exposto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão
integrativa sobre os métodos e técnicas de avaliação de equilíbrio descritas na
literatura.
METODOLOGIA
O presente estudo se caracteriza como sendo uma revisão bibliográfica,
desenvolvida a partir da delimitação de uma hipótese de pesquisa. Então, o
investigador deve realizar uma exploração rigorosa e padronizada da literatura e
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
5
mostrar um caminho para a análise e discussão da produção científica existente
relacionada ao assunto investigado, de modo que se possa promover um
conhecimento aprofundado acerca do fenômeno estudado (POMPEO; ROSSI; GALVÃO,
2009).
Depois de se formar a hipótese é preciso se estabelecer critérios claros de
inclusão e exclusão para melhor compor uma amostra, a partir de então definir as
características dos estudos primários levantados, analisar os dados coletados,
interpretar os resultados obtidos e, para então, finalmente, apresentar a revisão. Tudo
isso é utilizado para garantir que o estudo mantenha os padrões de rigorosidade,
clareza e replicação dos estudos primários (SAMPAIO; MANCINI, 2007).
O levantamento bibliográfico foi realizado nos descritores disponíveis a partir de
uma terminologia na saúde consultada nos Descritores em Ciências da Saúde (DECSBIREME), a saber: “equilíbrio”, “avaliação de equilíbrio” e “protocolos de avaliação de
equilíbrio”, “instrumentos de avaliação de equilíbrio” e seus equivalentes no idioma
inglês.
A pesquisa aconteceu durante os meses de fevereiro a abril de 2013 na
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). As bases de dados de literatura científica
pesquisadas foram: Literatura Latino-Americana e de Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e United States National Library of
Medicine (MEDLINE). As seguintes bases indexadoras foram escolhidas por
concentrarem a maior parte das publicações de impacto na interface das ciências da
saúde.
Foram considerados como critérios de inclusão para a busca inicial: a) artigos
publicados entre 2001 e 2013; b) redigidos em língua portuguesa e inglesa; e, c)
publicações que tiveram como foco a importância de se avaliar o equilíbrio e como
avaliar esse equilíbrio.
Excluíram-se as publicações que não estavam em formato de artigo científico,
tais como livros, teses, dissertações, entre outras, ou que não se apresentavam
disponíveis na íntegra para acesso online pelo portal de periódicos da Capes (por
serem de artigos que, muitas vezes, não foram submetidos a um rigoroso processo de
avaliação).
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
6
Os resultados obtidos foram sistematizados de maneira a ressaltar as seguintes
dimensões: a) identificar, de modo sistematizado, as publicações sobre os
instrumentos de avaliação do equilíbrio; b) analisar o conteúdo dos artigos quanto a
seus objetivos, metodologia empregada e principais resultados alcançados; e, c)
sintetizar as principais contribuições das publicações em relação ao tema estudado,
buscando delinear perspectivas de avaliação e pesquisas futuras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao final, a amostra desta revisão compreendeu 1.433 artigos que foram
selecionados, analisados e apresentados em um quantitativo de nove produções. O
quadro abaixo sumariza os resultados conforme ano de publicação, autores, título e
periódico (Quadro 01).
A análise dos artigos mostrou que sete desenvolveram estudos transversais
para acompanhar a relação do equilíbrio em pessoas idosas e 02 utilizaram a revisão
sistemática para apresentar seus dados, de acordo com o quadro a baixo (QUADRO
02). Quatro correlacionaram o equilíbrio com o risco de quedas, 04 tiveram como
objetivo mostrar as utilidades dos instrumentos para mensuração de equilíbrio e um
único comparou déficit sensitivo com alteração do equilíbrio.
O estudo de Alves e Scheicher (2011) relaciona as quedas como uma das
consequências graves do envelhecimento e, que por serem frequentes mostram-se
como um problema de saúde pública. Seu resultado é aumento dos coeficientes de
morbidade, mortalidade e perda da autonomia, além de resultar em elevado custo
social e econômico.
A pesquisa desenvolvida por Gonçalves, Ricci e Coimbra (2009), corroboram com
o estudo acima ressaltando a importância de se identificar ainda a etiologia da
instabilidade corporal e determinar os déficits de equilíbrio que alteram a execução
das atividades cotidianas, identificando de forma precoce idosos com maiores chances
de quedas.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
7
Soares et al. (2011) supõem em seu trabalho que o sucesso das estratégias
preventivas de quedas depende da identificação da população que se encontra em
risco de cair, além da aplicação de avaliações de equilíbrio padronizadas e confiáveis
para se estabelecer intervenções. Carneiro et al. (2012) confirmam também ao
identificar a importância de se conhecer precocemente os distúrbios posturais para a
realização de intervenções apropriadas em indivíduos que apresentam alterações no
equilíbrio.
Entendendo a importância de se avaliar o equilíbrio na população idosa, para
compreender melhor as causas da instabilidade corporal, para melhor intervir na
prevenção de quedas e nas alterações do equilíbrio, é que a comunidade científica se
emprega cada vez mais em produzir, elaborar e testar protocolos e instrumentos de
avaliação do equilíbrio (BRETAN; PINHEIRO; CORRENTE, 2010).
Figueredo, Lima e Guerra (2007), realizaram um levantamento identificando os
instrumentos mais utilizados para mensuração do equilíbrio funcional em âmbito
internacional e nacional. Foram estudados o TAF (Teste de Alcance Funcional), TUG
(Teste Get Up and Go), EEB (Escala de Equilíbrio de Berg) e POMA (Avaliação da
Marcha e Equilíbrio Orientada pelo Desempenho).
Os mesmos autores ressaltaram a vantagem da EEB em relação às demais,
afirmando que esta é capaz de avaliar diversos aspectos diferentes do equilíbrio
necessitando de pouco equipamento para ser administrada. Porém, sua aplicação é
demorada (20 minutos), além da baixa especificidade da escala quando aplicada a
idosos com melhor capacidade funcional podendo mascarar a pontuação final,
indicando efeito-teto.
Sabchuk, Bento e Rodacki (2012) também confirmam o efeito-teto da EEB
(classificação como “ótima condição de independência”). Os autores compararam
testes de campo de equilíbrio com os testes de posturografia em plataforma de força
verificando a sensibilidade desses testes para diferenciar o equilíbrio entre jovens e
idosos. Relataram que embora a EEB tenha permitido diferenciar os jovens dos idosos,
ambos foram identificados com “efeito-teto” positivo. Assim, os autores concluem que
a EEB parece não detectar diferenças discretas, no entanto apresenta boa
sensibilidade e especificidade para previsão de quedas em idosos.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
8
Karuka, Silva e Navega (2011), apontam que a causa do efeito-teto encontrado
em tabelas como EEB e POMA, é que as suas notas de corte proposta pelos seus
criadores foram realizadas em uma amostra com maior comprometimento motor e
que apresentava maior risco de queda. Estudos que utilizam amostra que avalie idosos
hígidos ou com uma idade mais baixa apresentando indivíduos com um quadro motor
mais íntegro têm maiores chances de resultar em alto índice de efeito-teto.
Gonçalves, Ricci e Coimbra (2011) acrescentam ainda, que a heterogeneidade na
seleção dos idosos pesquisados, como diferença maior de idade entre eles ou
apresentando diferentes graus de funcionalidades, vai interferir diretamente na
interpretação dos resultados desses instrumentos, chamando atenção para a nota de
coorte utilizada, pois a mesma pode resultar em prognósticos individuais errôneos e,
consequentemente, tratamentos inadequados.
Figueiredo, Lima e Guerra (2007), apontam que a vantagem do TAF é sua
aplicação rápida e prática sendo este sensível às mudanças como resultado do treino
do equilíbrio, entretanto, afirmam que o teste só avalia o movimento em uma única
direção - para frente.
Para Sabchuk, Bento e Rodacki (2012), nesse teste é possível discriminar o
equilíbrio entre jovens e idosos além deste estar fortemente associado ao risco de
quedas sendo um índice preditor da mesma e concordam com os autores supracitados
da sua desvantagem de avaliar apenas o movimento unidirecional. Nesse mesmo
estudo os autores encontram correlação entre a EEB e o TAF afirmando que dentro da
EEB existem tarefas que se assemelham com as da executada na TAF, porém, Rodini et
al. (2008) não encontraram correlação significativa entre os dois testes.
No estudo de Gai et al. (2010), foi observado a qualidade do equilíbrio corporal
estático e dinâmico em uma amostra de 83 idosas, usando os resultados obtidos no
TAF e no POMA.
Os autores consideraram esses instrumentos de avaliação de
equilíbrio relevantes para estimar o risco de sofrer queda e o nível de proteção contra
as quedas no grupo de mulheres pesquisadas. Os resultados dos testes confirmaram
sua validade na detecção do risco de queda em indivíduos idosos residentes na
comunidade. Os autores ainda ressaltam terem encontrado alta especificidade nos
dois testes, porem eles só conseguiram prever 14,5% do evento de queda.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
9
Em um estudo com três amostras distintas em que uma continha idosos sem
histórico de quedas (grupo 1), outra com idosos que tinham sofrido apenas uma queda
(grupo 2) e outra com idosos que apresentaram quedas recorrentes (grupo 3),
Gonçalves, Ricci e Coimbra (2011) utilizaram o TUG para avaliar equilíbrio dos
indivíduos dessas amostras. Com aplicação desse teste observaram que o grupo 3
realizou o teste em um menor tempo quando comparados aos idosos dos demais
grupos, mostrando que idosos caidores apresentaram maior déficit de mobilidade o
que faz do teste capaz de diferenciar idosos sem quedas daqueles com histórico de
queda.
Karuka, Silva e Navega (2011), realizaram um trabalho que analisou a
concordância entre os instrumentos de avaliação do equilíbrio corporal em idosos. Foi
observado correlação positiva e moderada entre as pontuações da EEB e da POMA
(r=0,60; p<0,01), o que indica que as duas escalas são diretamente proporcionais e
ambas possuem características preditoras do risco de quedas e do declínio funcional.
No estudo houve ainda correlação significativa moderada entre os instrumentos TAF e
EEB (r=0,48; p<0,01), indicando quanto maior o alcance anterior atingido, maior os
escores na EEB.
Para os autores acima, a correlação encontrada entre TAF e POMA foi moderada
(r=0,41; p=0,02). A falta de descrição na literatura para escores indicativos de queda
para a POMA-Brasil restringe a comparação entre os indicativos do risco de quedas
entre o TAF e a POMA. Os autores não encontraram correlação significativa entre os
testes TUG e EEB e entre a POMA e o TUG. Concluíram que os testes são
complementares, tendo em vista que não se correlacionaram fortemente e
mostraram-se com particularidades e limitações distintas, tornando plausível a
aplicação conjunta desses instrumentos para melhor avaliar o equilíbrio.
A confiabilidade ou fidedignidade de um instrumento é caracterizada pela
consistência dos resultados obtidos pelos mesmos indivíduos em diversas ocasiões ou
com diferentes conjuntos de itens equivalentes. A avaliação da confiabilidade mede
num instrumento de equilíbrio, a equivalência da concordância de apenas um
observador (confiabilidade intraexaminador), ou concordância de vários observadores
(confiabilidade interexaminador) (ALMEIDA; LOREIRO; MAKI, 2008).
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
10
Com relação à credibilidade dos instrumentos de avaliação de equilíbrio, Ducan
et al. (1990) citaram em seu trabalho que o TAF apresenta boa confiabilidade
interexaminadores (ICC 81), a EEB de acordo com Berg et al. (1995) é de boa
confiabilidade interexaminadores (ICC- 0,98) e intraexaminadores (ICC- 0,99) quando
aplicada em pacientes idosos institucionalizados. A validação da EEB à população
brasileira apresenta valores similares encontrados em um estudo de Miyamoto et al.
(2004), no TUG o estudo de Piva et al. (2004).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível observar que os instrumentos descritos nesse trabalho
apresentaram dados consistentes quanto às propriedades psicométricas dos mesmos,
porém, apenas duas escalas foram adaptadas para língua portuguesa (Escala de
Equilíbrio de Berg e o POMA) o que dificulta a utilização de protocolos padronizados
em geriatria, sendo de grande necessidade a adaptação de instrumentos de avaliação
confiáveis e validados à população brasileira, capazes de mensurar o equilíbrio e
contribuir para uma intervenção eficaz.
Desse modo observou-se que os instrumentos de avaliação do equilíbrio
estudados são confiáveis e capazes de identificar idosos de riscos para quedas e
discriminar sujeitos com grandes diferenças na capacidade de manutenção da postura.
A maioria dos testes se apresenta com pouca sensibilidade para mensurar perdas
funcionais discretas, deixando claro que foram elaborados para avaliar idosos com
maior perda funcional e com menor autonomia, devido a isso os resultados da
avaliação tem maior chance de apresentar efeito-teto quando aplicada em idosos mais
hígidos.
Foi possível encontrar também que os testes de equilíbrio são complementares,
já que os mesmos apresentaram pouca correlação entre si e por suas particularidades,
qualidades e limitações diferentes, sendo a aplicação conjunta desses instrumentos a
melhor forma para se avaliar equilíbrio nos idosos.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ALMEIDA, P.P.; VERAS, R.P.; DOIMO, L. Avaliação do equilíbrio estático e dinâmico de
idosas praticantes de hidroginástica e ginástica. Rev Bras Cineantropom Desempenho
Hum. 2010; 12(1): 55-61.
ALMEIDA, S. R. M.; A. B.; MAKI, T. Equiscala: versão brasileira e estudo de
confiabilidade e validade da Equiscale. Fisioterapia e Pesquisa. 2008. Jul.set; 15(3):
266-72.
ALVES, N. B; SCHEICHER, M. E. Equilíbrio postural e risco para queda em idosos da
cidade de Garça, SP. Rev. bras. geriatr. gerontol. [online]. 2011; 14(4): 763-768.
BERG, K. O., WOOD-DAUPHINEE, S. L., WILLIAMS, J. I. The balance scale: reability
assessment with elderly residents and patients with acute stroke. Scandinavian
Journal of Rehabilitation Medicine. 1995; 27(27-36).
BRETAN, O.; PINHEIRO, R. M,; CORRENTE, J. E. Avaliação funcional do equilíbrio e da
sensibilidade cutânea plantar de idosos moradores na comunidade. Braz. j.
otorhinolaryngol. (Impr.) [online]. 2010; 76(2): 219-224.
CARNEIRO, J. A. O. et al. Análise do equilíbrio postural estático utilizando um sistema
eletromagnético tridimensional. Rev Braz J Otorhinolaryngol. 2010; 76(6): 783-8.
CARNEIRO, J. A. O. et al. Influência da obesidade e da força de preensão palmar no
equilíbrio postural estático de idosas ativas. Motriz: rev. educ. fis. [online]. 2012;
18(3): 1980-6574.
CARVALHO, E. M. R. et al. O olhar e o sentir do idoso no pós-queda. Rev. Brasileira
Geriatriatria Gerontologia. 2010. Jan-abr; 13(1): 7-16.
CRUZ, A.; OLIVEIRA, E. M.; MELO, S. I. L. Análise biomecânica do equilíbrio do idoso.
Acta Ortop. Bras. [online]. 2010; 18(2); 96-99.
CRUZ, et al. Prevalência de quedas e fatores associados em idosos. Rev. Saúde Pública.
2012. Fev; 46(1).
DUARTE, M.; FREITAS, S. M. S. F.. Revisão sobre posturografia baseada em plataforma
de força para avaliação do equilíbrio. Rev. bras. fisioter. [online]. 2010; 14(3): 183-192.
DUNCAN, P.W. et al. Functional reach: a new clinical measure of balance. Journal of
Gerontology. 1990; 45: 192–197.
FERREIRA, M. C.; VIEIRA, S. A. T.; CARVALHO, V. F. Estudo comparativo da sensibilidade
nos pés de diabéticos com e sem úlceras utilizando o PSSD. Acta ortop. bras. 2010;
18(2).
FIGUEIREDO, K.O.B.; LIMA, K.C.; GUERRA, R.O. Instrumentos de avaliação do equilíbrio
corporal em idosos. Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum. 2007; 9(4): 408-413.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
12
FREITAS, J. R. P.; BARELA, J.A. Alterações no funcionamento do sistema de controle de
controle postural de idosos. Uso da informação visual. Revista Portuguesa de Ciência
do Desporto. 2006; 6: 94-105.
GAI, J. et al. Fatores associados a quedas em mulheres idosas residentes na
comunidade. Rev. Assoc. Med. Bras. [online]. 2010; 56(3): 327-332.
GONCALVES, D. F. F.; RICCI, N. A.; COIMBRA, A. M. V. Equilíbrio funcional de idosos da
comunidade: comparação em relação ao histórico de quedas. Rev. bras. Fisioter. 2009;
13(4); 316-323.
GUIMARÃES, J. M. N.; FARINATTI, P. T. V. Análise descritiva de variáveis teoricamente
associadas ao risco de quedas em mulheres idosas. Rev Bras Med Esporte. 2005;
11(5): 299-305.
KARUKA, A. H; SILVA, J. A. M. G; NAVEGA, M. T. Análise da concordância entre
instrumentos de avaliação do equilíbrio corporal em idosos. Rev. bras. fisioter.
[online]. 2011; 15(6): 460-466.
MUJDECI, B.; AKSOY, S.; ATAS, A. Avaliação do equilíbrio em idosos que sofrem queda
e aqueles que não sofrem quedas. Braz. j. otorhinolaryngol. [online]. 2012; 78(5): 104109.
OLIVEIRA, P. P. et al. Análise comparativa do risco de quedas entre pacientes com e
sem diabetes mellitus tipo 2. Rev. Assoc. Med. Bras. 2012, mar.-apr.; 58(2).
PIVA, S. R. et al. Get up and Go test in patients with knee osteoarthritis. Archives of
Physical Medicine and Rehabilitation,. 2004; 85: 284 – 289.
POMPEO, D. A.; ROSSI, L. A.; GALVÃO, C. M. Revisão integrativa: etapa inicial do
processo de validação de diagnóstico de enfermagem. Acta Paul Enferm. 2009; 22(4):
434-8.
RODINI, C. et al. Estudo comparativo entre a Escala de Equilíbrio de Berg, o Teste
Timed Up & Go e o Índice de Marcha Dinâmico quando aplicadas em idosos hígidos.
Acta Fisiátrica. 2008. Dez; 15(4).
SABCHUK, R. A. C.; BENTO, P. C. B.; RODACKI, A. L. F. Comparação entre testes de
equilíbrio de campo e plataforma de força. Rev Bras Med Esporte [online]. 2012;
18(6); 404-408.
SAMPAIO, R. F.; MANCINI, M. C. Estudos de revisão sistemática: um guia para síntese
criteriosa da evidência científica. Rev. bras. fisioter. 2007; 11(1): 83-89.
SCHMIDT, P. M. S. et al. Avaliação do equilíbrio em alcoólicos. Brazilian journal
otorhinolaryngology. 2010; 76(2): 148-155.
SOUZA, F. T. et al. Correlações entre as estruturas dos membros inferiores. Fisioter
Pesq. 2009; 16(3): 205-10.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
13
Anexo
Quadro 01 – Apresentação dos artigos conforme ano de publicação, autores, título e
periódico.
N
Ano
Autores
01
2005
SOARES, K. V. et al.
02
2007
2009
03
2010
04
2010
05
2011
06
2011
07
2012
08
2012
09
Título
Avaliação quanto à utilização e
confiabilidade de instrumentos
de medida do equilíbrio corporal
em idosos.
Instrumentos de avaliação do
equilíbrio corporal em idosos
FIGUEIREDO, K. M. O. B.;
LIMA, K. C.; GUERRA, R.
O.
GONÇALVES, D. F. F.; RICCI, N.Equilíbrio funcional de idosos da
A.; COIMBRA, A. M. V.
comunidade: comparação em
relação ao histórico de quedas.
BRETAN, O.; PINHEIRO,
Avaliação funcional do equilíbrio
R. M.; CORRENTE, J. E.
e da sensibilidade cutânea
plantar de idosos moradores na
comunidade.
GAI, J. et al.
Fatores associados a quedas em
mulheres idosas residentes na
comunidade.
ALVES, N. B.; SCHEICHER,
Equilíbrio postural e risco para
M. E.
queda em idosos da cidade de
Graça-SP.
KARUKA, A. H.; SILVA, J. A. M. Análise da concordância entre
G.; NAVEGA, M. T.
instrumentos de avaliação do
equilíbrio corporal em idosos.
MÜJDECI, B.; AKSOY, S.
Avaliação do equilíbrio em idosos
que sofrem queda e aqueles que
não sofrem quedas.
SABCHUKI, R. A. C.;
Comparação entre testes de
BENTO, P. C. B.;
equilíbrio de campo e plataforma
RODACKI, A. L. F.
de força.
Periódico
PublICa I
Revista Brasileira de
Cineantropometria &
Desempenho
Humano
Revista Brasileira de
Fisioterapia
Braz J
Otorhinolaryngol.
Rev Assoc Med Bras
Revista Brasileira de
Geriatria e
gerontologia
Revista Brasileira de
Fisioterapia
Brazilian Journal of
otorhinolaryngoly
Revista Brasileira de
Medicina no Esporte
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
14
N
01
02
03
04
05
06
Quadro 02: Resumo dos artigos selecionados de acordo com tipo de estudo, objetivo
e resultados.
Tipo de estudo
Objetivo
Resultado
Estudo transversal
Avaliar e comparar o
Houve diferença estatística entre os
equilíbrio e o risco de quedas grupos estudados (p<0,0001). Dos 45
em idosos institucionalizados sujeitos institucionalizados, 44 (97,7%)
e não-institucionalizados.
obtiveram escores que indicam risco de
quedas aumentado.
Na avaliação pela EEB, a diferença foi
Estudo descritivo, de
Avaliar e comparar o
significativa entre os grupos sem quedas
corte transversal
equilíbrio funcional de idosos e com quedas recorrentes (p=0,013). O
da comunidade sem história grupo1 mostrou declínio do equilíbrio
de quedas, com uma queda e comparados ao grupo 3. No TUGT, a
com quedas recorrentes.
maioria dos idosos realizou o teste entre
10,1 e 20 segundos, sendo encontrada
diferença entre os grupos 1 e 2 (p=0,007)
e entre o 1 e 3 (p=0,001).
A média dos valores de EEB no Grupo I
Estudo transversal
Avaliar o equilíbrio entre
(caidores) foi de 47,9 e aquela do Grupo
idosos que sofrem quedas e II (não caidores) foi 54,6. Ao comparar, o
aqueles que não as sofrem. escore do Grupo II foi maior que do
Grupo I (p < 0,05). O teste DPR foi menor
no Grupo I quando comparado ao Grupo
II.
As notas obtidas no TAF e no POMA
Estudo Transversal,
Verificar quais os fatores
apresentaram significância para esta
descritivo.
associados à presença de
amostra, sendo que pode-se relacionar
queda em um grupo de
baixas notas nos dois testes com a
mulheres idosas
ocorrência de quedas. O equilíbrio
independentes e autônomas. corporal apresentou-se como o maior
preditor de quedas.
Observou-se correlação positiva e
Estudo transversal,
Analisar a correlação entre
moderada entre o TAF e a EEB (r=0,4845;
observacional
alguns testes usados para
p=0,0067), entre o TAF e a POMA
avaliar o equilíbrio corporal (r=0,4136; p= 0,0231), entre a EEB e a
no idoso.
POMA (r=0,6088; p=0,0004). Os testes
são complementares.
Os instrumentos encontrados foram
Revisão sistemática
Identificar os instrumentos consistentes quanto às propriedades
qualitativa da
mais utilizados para avaliação psicométricas. Porém, apenas duas
literatura
do equilíbrio corporal
escalas foram adaptadas para a língua
estático e dinâmico na
portuguesa (EEB e POMA/BRASIL). A
literatura de referência.
maioria apresentou pouca sensibilidade
a pequenas perdas funcionais e não
foram criados para indivíduos idosos
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
15
07
Estudo transversal,
experimental
08
Estudo transversal
descritivo
09
Revisão sistemática
da literatura
com pequenos déficits do declínio
fisiológico.
Os Testes de Equilíbrio de Campo e na
Comparar um conjunto de
plataforma foram capazes de diferenciar
testes de campo aplicados
jovens de idosos (p ≤ 0,05). As
para a determinação do
correlações indicaram que os testes EEB
equilíbrio com dados
e TUGT se correlacionaram com maior
quantitativos obtidos em
número de variáveis da plataforma e
plataforma de força.
devem ser preferidos quando a avaliação
do equilíbrio for determinada.
Houve associação significativa entre
Avaliar a ocorrência de
queixa de desequilíbrio e perda da sensidesequilíbrio e perda de
bilidade (p = 0,047) e ocorreu
sensibilidade cutânea plantar concordância razoável (Kappa: 0,6457)
em idosos da comunidade e entre a EEB e o teste da sensibilidade.
verificar a existência de
Verificou-se associação significativa
associação entre ambas as
entre 6 das 14 tarefas da EEB e o teste
alterações.
sensorial.
O TAF apresenta boa confiabilidade
Identificar na literatura de
interexaminadores (ICC 81). A EEB
referência nacional e
obteve boa confiabilidade intra e
internacional
interexaminadores com ICC de 0,99 e
os instrumentos mais
0,98,
respectivamente.
O
TUG
utilizados para avaliar o
confiabilidade intra de ICC-95 e
equilíbrio corporal estático e interexaminadores de ICC- 98. O TPF
dinâmico capazes de predizer apresentou sensibilidade de 78% e
quedas em idosos.
especificidade de 71%, com escore
mínimo de 15.
Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.02-16, Jan -jun. 2014.
16

Documentos relacionados