Apresentação

Transcrição

Apresentação
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Apresentação
Irene Rizzini1
Mariana Menezes Neumann2
Andressa Gadda3
A maior parte dos textos deste número da revista O Social em Questão foi
apresentada no II Seminário Internacional Crianças e Adolescentes: Participação
Cidadã, Políticas Públicas e Novos Paradigmas, realizado entre os dias 13 e 15 de
abril de 2010. O evento contou com a participação de pesquisadores da África do
Sul, Índia e Reino Unido, além de pesquisadores de outros estados brasileiros, que
trabalham com temas relacionados à participação cidadã de crianças e adolescentes.
Este seminário constituiu o segundo de uma série de eventos organizados com
o apoio do Leverhulme Trust (Reino Unido)4, formando-se uma rede internacional de pesquisa5. A rede, composta por pesquisadores do Reino Unido (Escócia
e Inglaterra), Brasil, África do Sul e Índia, foi criada em 2006 durante evento
realizado em Edimburgo (Escócia). O primeiro seminário (África do Sul, 2009)
originou-se a partir de um conflito identificado por especialistas da área de participação infantil no Reino Unido. Por um lado, a participação infantil havia sido
incorporada pelas instituições governamentais e não-governamentais, por outro,
a retórica da participação infantil não havia conduzido para as mudanças esperadas
(ou desejadas) na esfera social.
Desta maneira, durante o encontro buscou-se mapear os diversos enfoques teóricos que conduziam ao entendimento, a promoção e a busca pela efetivação dos
direitos de crianças, adolescentes e jovens à participação. Ao final do seminário foi
proposta a formação da rede internacional de pesquisadores para dar continuidade
às discussões e propiciar uma maior colaboração nessa área. A rede foi composta
com os seguintes objetivos: (1) Mapear e analisar as diferentes perspectivas teóricas sobre a participação infantil e juvenil adotadas por diferentes disciplinas,
levando-se em consideração o contexto histórico, social e político de cada país;
(2) Promover um melhor entendimento de participação em termos do contexto
local, regional e internacional, e desenvolver modelos teóricos que levassem em
consideração essas diferenças e, por fim, (3) Desenvolver novas abordagens teóricas sobre participação/engajamento infantil e juvenil a partir dos contextos social,
político e cultural em que ocorrem.
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Irene Rizzini, Mariana Menezes Neumann e Andressa Gadda
O segundo seminário, realizado no Brasil, deu continuidade aos temas abordados durante o evento na África do Sul. A presente publicação reúne os temas
debatidos ao longo do evento.
O primeiro artigo, Participação de crianças e adolescentes. Dilemas atuais e
possibilidades futuras no Reino Unido, escrito por Kay Tisdall, debate algumas
questões relativas à participação infantil no Reino Unido, além de aprofundar a análise sobre as mudanças nas esferas das políticas e práticas de participação na região.
Por fim, analisa como a participação infantil foi enquadrada no Reino Unido, o que
pode ter contribuído para a limitação do seu potencial transformador.
Em seguida, temos o artigo de Andressa Gadda, intitulado Proteção ou paternalismo? Desafios para a participação de jovens em pesquisa. O texto aborda como
no Reino Unido o direito à participação infantil foi muito estimulado a partir da
ratificação da Convenção dos Direitos da Criança em 1991. Desde então, as organizações governamentais e não-governamentais têm adotado como prática a inclusão
de crianças e jovens em distintas iniciativas. No entanto, a forma como se dá essa
participação tem sido objeto de intensos debates, onde muitos autores ressaltam a
disparidade entre a retórica e a prática. A pesquisa que deu origem a esse artigo,
realizada com jovens em situação de vulnerabilidade na Escócia, demonstrou que
existem muitas barreiras sociais e estruturais que dificultam a participação. Um dos
argumentos centrais do artigo foi demonstrar como a incorporação da retórica de
“ouvir as crianças”, pode, de fato, silenciar as vozes dos adolescentes em relação à
sua participação em pesquisa
No artigo Participação infantil na Índia: práticas e desafios, Zubair Meenai e
Sheema Aleem analisam o tema da participação infantil no contexto indiano. Dado
que grande parcela da população neste país é formada por hindus e muçulmanos, os
autores iniciam seu texto discutindo algumas características de ambos os sistemas
de crença, no que se refere às crianças. Em seguida, discorreram sobre condicionantes legais que favorecem ou dificultam a maior participação das crianças em temas
que afetam diretamente as suas vidas. Por fim, os autores problematizam as crenças
e as práticas que, ao serem influenciadas por condicionantes religiosos e pelos costumes, dificultam a participação das crianças.
Os três últimos artigos abordam temáticas relacionadas ao Brasil. A autorrepresentação das favelas: a perspectiva por jovens cineastas, de autoria de Lilian Saback, analisa a participação dos jovens, a representação audiovisual da comunidade, o
novo autor-narrador-personagem e a construção do “Eu Social” a partir dos curtas
Sou quem sou produzido pela CUFA para o filme Eleições 2000 e Sempre (2007),
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Tente outra vez (Núcleo de Audiovisual da CUFA/CDD, 2005), e Flor na lama (Escola de Artes Spectacullu, 2008).
Paulo Carrano, autor do artigo A participação social e política de jovens no
Brasil: considerações sobre estudos recentes, trata da “questão juvenil”, que vem
ocupando, nas últimas duas décadas, um lugar de significativa relevância no contexto das grandes inquietações mundiais. Isso se expressa tanto em questões amplas
relacionadas à inserção dos jovens na vida adulta, quanto em âmbitos específicos que
relacionam os jovens com a família, a educação, o mundo do trabalho, a sexualidade, as novas tecnologias, as drogas e a violência, entre outros aspectos. O presente
artigo explora algumas dessas questões a partir do olhar dos estudos sociológicos.
Por fim, Udi Mandel Butler e Marcelo Princeswal, contribuem para a temática
da participação de crianças e adolescentes com o artigo Culturas de participação:
jovens e suas percepções e práticas de cidadania. O texto analisa o fenômeno da
participação através de três perspectivas: as percepções sobre a participação; suas
práticas; e finalmente seus efeitos nas vidas de jovens.
A despeito das diferenças históricas, sociais, políticas e culturais dos países
analisadas nestes artigos (Reino Unido, Índia e Brasil), os desafios identificados à
participação infantil e juvenil são bastante similares. Sendo assim, a perspectiva internacional constitui um instrumento relevante para o aprofundamento dessas discussões. Entre as questões-chave identificadas pela rede de pesquisadores destes países, incluindo a África do Sul, podem-se destacar: a) o papel das novas tecnologias
na promoção e facilitação da participação infantil; b) o uso de novas metodologias
para a promoção e facilitação da participação infantil e juvenil; c) a adoção de ‘metodologias criativas’ pelas crianças e jovens para facilitar a sua participação e, d) o
papel das organizações religiosas na promoção da participação de crianças e jovens.
O objetivo do ciclo de encontros, e da presente publicação, foi o de promover
um diálogo internacional e interdisciplinar entre pesquisadores e profissionais, visando a reflexão e análise crítica sobre os discursos a respeito da participação cidadã
de crianças e adolescentes. Assim como, possibilitar o desenvolvimento de novas
perspectivas teóricas, que reflitam, de maneira ampla, sobre como se dá a participação de crianças e adolescentes em diferentes contextos.
Notas
1 Professora do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio e diretora do CIESPI (Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância, www.ciespi.org.br), Rio de Janeiro, Brasil.
E-mail: [email protected]
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Irene Rizzini, Mariana Menezes Neumann e Andressa Gadda
2 Membro da equipe de pesquisa do CIESPI, em convênio com a PUC-Rio. Mestre em Relações
Internacionais. E-mail: [email protected]
3 Mestre em Sociologia e doutoranda em Serviço Social pela Universidade de Edimburgo, Escócia.
E-mail: [email protected]
4 A organização do seminário, bem como a tradução e a edição dos textos que constam deste número foram possíveis graças ao apoio do Leverhulme Trust, que financiou a rede de pesquisadores
The International Academic Network Theorising Children’s Participation: Learning across Countries and across Disciplines (http://www.crfr.ac.uk/researchprojects/rp_theorising.html). O
seminário foi promovido pelo Departamento de Serviço Social da PUC-Rio, pelo CIESPI e pela
Universidade de Edimburgo, sob a coordenação da professora Irene Rizzini e contou com o apoio
da FAPERJ. O trabalho de organização do seminário, assim como de tradução e revisão dos artigos foi realizado por Mariana Menezes Neumann e contou com a participação de Andressa Gadda.
A revisão final dos artigos foi realizada com a participação de Alessandra Caldeira (CIESPI e mestranda do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio).
5 Sobre a rede internacional de pesquisa, acesse: www.crfr.ac.uk/researchprojects/rp_theorisingindex.html
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