RELATORIO DE DIAGNOSTICO_vale este.p65
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Diagnósticos e Recomendações Coopaib - Cooparigs - Coopercrutac 1 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 2 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Coopaib - Cooparigs - Coopercrutac 3 SérieDesenvolvimento em Cooperativa ©2008 – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) Gerência de Apoio ao Desenvolvimento em Mercados (Gemerc) SAUS – Setor de Autarquias Sul, Quadra 4, Bloco I CEP: 70070-936 – Brasília/DF Fone: (61) 3325-5500 – Fax: (61) 3325-8383 Esta obra é protegida nos termos da Lei n° 9.610/1998. Sua reprodução total ou parcial depende de prévia autorização do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo – Sescoop www.brasilcooperativo.coop.br 4 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Vivemos um período novo, que exige uma apurada visão de futuro. É imperioso dizer que esse olhar não pode ser contemplativo nem de quem espera o que está por vir. Pelo contrário. Deve ser um olhar critico, profissionalizado e disposto a fazer o impossível para reverter cenários adversos. Hoje, torna-se imprescindível analisar e reformular constantemente as estratégias utilizadas para se manter no mercado e desbravar novas oportunidades. E diagnosticar é a melhor maneira para se obter mais produtividade e mais competitividade. É uma a ferramenta estratégica de gestão que significa avaliarmos as ações em execução; repensar o que a cooperativa quer ser, o que quer praticar e propor soluções. A presente publicação, então, serve de estímulo para que outras cooperativas possam realizar constantemente uma avaliação da sua forma de atuação no mercado e estabelecer estratégias destinadas a sanar as dificuldades encontradas e transformá-las em ações comuns que sirvam de exemplo e se multipliquem às demais cooperativas com dificuldades similares. A idéia é utilizar o diagnóstico como uma ferramenta do processo decisório para a solução de problemas. O que importa é que a sistematização do entendimento das causas fornece os subsídios para uma decisão mais qualificada e, portanto, visando à efetiva superação das dificuldades com baixo custo. Dessa forma, podemos obter maior qualidade, maior produtividade, menores custos e um incremento substancial em eficiência e eficácia com a tão sonhada posição de liderança no mercado. Que esta publicação seja motivadora desse processo. Saudações cooperativistas! Márcio Lopes de Freitas Presidente do Sistema OCB Coopaib - Cooparigs - Coopercrutac 5 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Conselho Nacional Conselho Fiscal Presidente Márcio Lopes de Freitas Conselheiros indicados pelos ministérios Conselheiros indicados pelos ministérios Ministério da Fazenda Gilson Alceu Bittencourt - titular Ana Lúcia Carvalho Jardim - suplente Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento José Gerardo Fontelles - titular Marcio Antonio Portocarrero - suplente Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão João Batista Ferri de Oliveira - titular Deuseles Rosa da Silva - suplente Ministério do Trabalho e Emprego Ismael Silva Lisboa - titular Alex Sandro Gonçalves Pereira - suplente Ministério da Previdência e Assistência Social João Wellington Pereira - titular Rose Mary Oliveira - suplente Conselheiros indicados pela OCB Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Luiz Carlos Colturato - titular Alexandre Hertz - suplente Ministério da Fazenda Rodrigo Sampaio Marques - titular Luiz Fernando Alves - suplente Ministério da Previdência Social Francisco José Freire Ribeiro - titular Joseilton Gonçalves dos Santos - suplente Conselheiros indicados pela OCB Malaquias Ancelmo de Oliveira - titular Carlos Fabiano Braga - suplente Valéria Mendes da Silva - titular Marta Rodrigues Figueiredo - suplente Conselheiros representantes dos empregados em cooperativas Regiões Norte e Nordeste Ruiter Luiz Andrade Pádua - titular Agamenon Leite Coutinho - suplente Ana Cristina Maia Penido - titular Francisca Régia Dias Alvino de Moraes - suplente Região Sudeste Edivaldo Del Grande - titular Wagner Guerra da Fonseca - suplente Presidente Região Sul Guntolf Van Kaick - titular Geci Pungan - suplente Márcio Lopes de Freitas Superintendente Luís Tadeu Prudente Santos Região Centro-Oeste Roberto Marazi - titular Remy Gorga Neto - suplente Conselheiros representantes dos empregados em cooperativas Raimundo Sérgio Campos - titular Antonino Falchetti - suplente 6 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Coopaib......................................................... 11 Cooperativa Agroindustrial do Compartimento da Borborema Ltda. Apresentação ......................................................................................................... 13 Diagnósticos e Recomendações Sumário 1. Procedimentos metodológicos .......................................................................... 15 1.1 1ª Etapa: Definição do Escopo do Diagnóstico ....................................... 18 1.2 2ª Etapa: Levantamento de Informações Preliminares ............................. 19 1.3 3ª Etapa: Levantamento de Dados e Informações em Campo ................... 20 1.4 4ª Etapa: Elaboração do Relatório de Diagnóstico ................................... 21 2. Histórico da formação da cooperativa ................................................................ 23 2.1 Ambiente Apresentado e Ações Realizadas ............................................. 29 3. Avaliação do aspecto comercial .......................................................................... 35 3.1 Mamona ............................................................................................... 38 a. Histórico ........................................................................................... 38 b. Valor Econômico .............................................................................. 39 c. Biodiesel ............................................................................................ 41 d. Histórico Recente do Setor ................................................................ 43 e. Presente e Futuro .............................................................................. 43 f. Políticas Mundiais com Relação ao Biodiesel ........................................ 44 g. Estado Atual do Mercado ................................................................. 45 3.2 Algodão Colorido ................................................................................... 47 a. Histórico ........................................................................................... 47 b. Tecnologias Empregadas .................................................................... 48 c. Situação Atual do Mercado ............................................................... 49 3.3 Sisal ....................................................................................................... 50 a. Histórico ........................................................................................... 50 b. Subprodutos e Tecnologia ................................................................. 52 c. Postura Frente ao Mercado ............................................................... 54 3.4 Gergelim ............................................................................................... 56 a. Histórico ........................................................................................... 56 b. Aspectos Econômicos ....................................................................... 57 c. Postura Frente ao Mercado ............................................................... 61 4. Avaliação do aspecto processo produtivo ......................................................... 63 4.1 Biodiesel ................................................................................................ 65 Coopaib - Cooparigs - Coopercrutac 7 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 4.2 A Realidade da Coopaib .......................................................................... 66 a. Processo Produtivo Atual ................................................................... 66 b. Processo Produtivo Ideal .................................................................... 68 5. Avaliação do aspecto assistência técnica (extensão) ........................................ 71 6. Avaliação do aspecto mão-de-obra .................................................................. 75 7. Avaliação do aspecto quadro social .................................................................. 79 7.1 Dados Pessoais ....................................................................................... 82 7.2 Dados Profissionais ................................................................................. 84 7.3 Práticas Cooperativistas .......................................................................... 88 7.4 Aspectos de Mercado ............................................................................ 92 8. Avaliação do aspecto gestão ............................................................................. 95 8.1 Gestão Documental ............................................................................... 97 8.2 Gestão Administrativa/Financeira ............................................................ 98 8.3 Gestão da Produção .............................................................................. 99 8.4 Gestão de Ação Mercadológica .............................................................. 101 9. Recomendações ................................................................................................. 103 10. Referências Bibliográficas ............................................................................... 107 11. Anexos .............................................................................................................. 111 Cooparigs ..................................................... 117 Cooperativa dos Artesãos do Rio Grande do Sul Apresentação ............................................................................................................. 119 1. Procedimentos Metodológicos .......................................................................... 121 1.1 1ª Etapa: Definição do Escopo do Diagnóstico ....................................... 124 1.2 2ª Etapa: Levantamento de Informações Preliminares ............................. 125 1.3 3ª Etapa: Levantamento de Dados e Informações em Campo ................... 126 1.4 4ª Etapa: Elaboração do Relatório de Diagnóstico ................................... 127 2. Histórico da formação da cooperativa ................................................................ 129 2.1 Ações de um Projeto Vencedor .............................................................. 135 3. Avaliação do aspecto comercial .......................................................................... 139 3.1 Mercado Internacional ........................................................................... 142 3.2 Mercado Nacional ................................................................................. 145 3.3 Marca Mão Gaúcha ............................................................................... 146 4. Avaliação do aspecto processo produtivo ......................................................... 147 8 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo 4.2 Processo produtivo interno - COOPARIGS .............................................. 152 4.3 Processo Produtivo Externo ................................................................... 153 5. Avaliação do aspecto assistência técnica (extensão) ........................................ 157 6. Avaliação do aspecto mão-de-obra .................................................................. 163 7. Avaliação do aspecto quadro social .................................................................. 167 Diagnósticos e Recomendações 4.1 Contexto do Artesanato Nacional .......................................................... 150 7.1 Dados Pessoais ....................................................................................... 169 7.2 Dados Profissionais ................................................................................. 171 7.3 Informações e Conhecimentos sobre a Cooperativa e o Cooperativismo ................................................................................ 173 7.4 Práticas Cooperativistas .......................................................................... 176 7.5 Aspectos de Mercado ............................................................................ 179 8. Avaliação do aspecto gestão ............................................................................. 185 8.1 Análise dos Objetivos da Cooperativa ...................................................... 188 8.2 Estatuto e Assembléias. .......................................................................... 191 8.3 Conselhos .............................................................................................. 193 8.4 Administração ....................................................................................... 195 8.5 Relacionamento com os Associados ........................................................ 196 8.6 Relacionamento com OCB, Ocergs e Poder Público ................................. 197 9. Recomendações ................................................................................................. 199 10. Anexos .............................................................................................................. 203 Coopercrutac ................................................ 209 Cooperativa de Produção Artesanal do Crutac 1. Apresentação ..................................................................................................... 213 1.1 O Cooperativismo – histórico e peculiaridades ........................................ 218 1.2 Breve histórico do cooperativismo .......................................................... 219 1.3 O Cooperativismo no Brasil .................................................................... 220 1.4 Fundamentos do cooperativismo ........................................................... 222 2. Histórico ............................................................................................................. 225 2.1 O Início da trajetória .............................................................................. 227 2.2 A situação atual – breve panorama ........................................................ 228 3. Metodologia de trabalho .................................................................................. 231 4. Diagnóstico situacional da Coopercrutac .......................................................... 241 5. Organização em base associativa ..................................................................... 245 Coopaib - Cooparigs - Coopercrutac 9 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 5.1 Caracterização do município de Caiçara do Norte ..................................... 249 5.2 Caracterização do município de Bento Fernandes ..................................... 251 5.3 Caracterização do município de São José do Campestre ............................ 253 5.4 Considerações .......................................................................................... 254 6. Avaliação do aspecto processo produtivo ......................................................... 265 7. Avaliação do Aspecto Gestão - administrativa e operacional ........................... 269 8. Avaliação do aspecto mercadológico e de comercialização ............................. 275 9. Recomendações e considerações finais ............................................................. 283 10. Referências bibliográficas ............................................................................... 291 11. Anexo ............................................................................................................... 295 Endereços do Sescoop ........................................................................................... 301 10 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações CAPA COOPAIB Coopaib - Cooparigs - Coopercrutac 11 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 12 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O presente trabalho visa a apresentar um diagnóstico da Cooperativa Agroindustrial do Compartimento da Borborema Ltda. (Coopaib) nos aspectos comerciais, processo produtivo, assistência técnica, mão-de-obra e gestão. As instituições envolvidas na realização do diagnóstico são a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Universidade de Brasília por meio de seu Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT/UnB). A OCB financiou todos os procedimentos e disponibilizou informações relevantes para o início dos trabalhos e posteriormente acionou os meios necessários para que as informações fossem colhidas no campo. Disponibilizou, ainda, dois colaboradores para acompanhar os trabalhos realizados in loco. O CDT/UnB, por sua vez, teve o papel de elaborar o estudo e para tanto disponibilizou especialista em estudos de viabilidade, bem como colocou sua infra-estrutura à disposição para a tabulação das informações e posterior produção do texto que segue. Coopaib 13 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 14 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Procedimentos metodológicos Coopaib|Procedimentos metodológicos Diagnósticos e Recomendações 1 15 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 16 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O processo metodológico para a realização do estudo se dividiu em quatro etapas apresentadas na seqüência: 1ª Etapa: Definição do Escopo do Diagnóstico 2ª Etapa: Levantamento de Informações Preliminares 3ª Etapa: Levantamento de Dados e Informações em Campo 4ª Etapa: Elaboração do Relatório de Diagnóstico Coopaib|Procedimentos metodológicos 17 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 1.1 1ª Etapa: Definição do Escopo do Diagnóstico A definição do escopo se mostra extremamente importante, pois possibilita focar o estudo nos pontos essenciais, evitando, assim, desvios metodológicos que poderiam trazer prejuízos ao estudo. No presente caso, o escopo foi definido em reuniões realizadas com a equipe da área de mercado da OCB, donde foram definidos os aspectos a serem avaliados pelo estudo. Para chegar ao formato final do diagnóstico, foram necessárias diversas reuniões nas quais foram delimitadas as áreas-alvo do estudo. Ao final ficaram definidos os seguintes aspectos a serem avaliados: comerciais; processo produtivo; assistência técnica; mão-de-obra; gestão. 18 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo O levantamento de informações preliminares foi feito, principalmente, com o apoio da equipe da área de mercado da OCB. A equipe forneceu diversas informações e percepções obtidas na cooperativa. Diagnósticos e Recomendações 1.2 2ª Etapa: Levantamento de Informações Preliminares Além das informações obtidas com a equipe de mercado da OCB, o especialista responsável pelo presente estudo buscou informações por outros meios, como telefonemas e pesquisa na internet. A busca não se concentrou somente em informações sobre a Coopaib, mas também sobre o mercado de atuação da cooperativa. As informações preliminares possibilitaram um aclaramento na visão do mercado, permitindo, assim, a preparação de questionários mais adequados aos problemas que se buscava levantar. Coopaib|Procedimentos metodológicos 19 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 1.3 3ª Etapa: Levantamento de Dados e Informações em Campo Para o levantamento de dados e informações em campo, foram adotadas três estratégias distintas. Primeiramente foi realizada reunião com a diretoria para levantamento de informações sobre o histórico e sobre a administração da cooperativa. Tal reunião possibilitou levantar aspectos relevantes do passado recente da cooperativa, o que permitiu elucidar algumas dúvidas sobre os fatos que se sucedem na atualidade. A segunda estratégia foi uma reunião na sede da cooperativa, na qual foi aplicado um questionário estruturado (ANEXO) a um grupo de associados com a intenção de levantar as dificuldades enfrentadas por eles, tanto em relação ao próprio trabalho como aos problemas relacionados à gestão da cooperativa. Por meio de seus resultados compôs-se o item 7 AVALIAÇÃO DO ASPECTO QUADRO SOCIAL. A terceira estratégia foi a coleta de dados em campo por meio de roteiro de entrevista não estruturado aplicado a uma amostra de associados com o intuito de obter informações que poderiam sofrer alguma influência caso fossem coletadas na sede da cooperativa. 20 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo O resultado da quarta e última etapa é o presente documento. Diagnósticos e Recomendações 1.4 4ª Etapa: Elaboração do Relatório de Diagnóstico Para a elaboração do diagnóstico foram levadas em consideração tanto as informações preliminares como os dados e as informações colhidas in loco. O processo de construção do documento amparou-se em exaustiva revisão de anotações e nos dados e informações tabuladas e transformadas em gráficos. Coopaib|Procedimentos metodológicos 21 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 22 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Histórico da formação da cooperativa Coopaib|Histórico da formação da cooperativa Diagnósticos e Recomendações 2 23 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 24 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O município de Pocinhos teve uma das cooperativas mais ativas e dinâmicas do Estado da Paraíba, a Coopersisal. Nascida em Pocinhos, foi se ampliando e extrapolou as divisas do município. Município de Pocinhos A Coopersisal acabou sendo administrada de forma equivocada, com muita influência política, o que levou a cooperativa a falência. À época da Coopersisal, somente o município de Pocinhos produzia 25 mil toneladas de sisal. A cidade era a 13ª maior recolhedora de ICMS do Estado da Paraíba, num universo de 223 municípios. Atualmente a arrecadação do município é insignificante. Atualmente o município conta com aproximadamente 60% de indigência. Com a crise do petróleo na década de 1970, o sisal teve uma grande valorização, principalmente em função do encarecimento da espuma sintética. A partir do momento em que os preços do petróleo se estabilizaram e começaram a baixar, surgiu uma crise no setor sisaleiro. A crise desarticulou a Coopersisal, principalmente em função do despreparo da direção da cooperativa. Com a crise, vários municípios paraibanos foram arrastados para uma situação preocupante, com altos índices de desemprego e indigência. Em Pocinhos havia uma indústria que gerava 300 empregos diretos, o que, para a dimensão populacional da cidade, representou um grande prejuízo para a população economicamente ativa. Pocinhos faz limite com 11 outros municípios, possui 620 km2 de área agricultável. O município depende quase que exclusivamente da agricultura. Esse setor encontra-se praticamente todo desarticulado. Coopaib|Histórico da formação da cooperativa 25 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Ao retornar a Pocinhos, o atual presidente da COOPAIB, Ricardo Albuquerque, que passou longo tempo servindo à Marinha do Brasil no Estado do Rio de Janeiro, percebeu que, apesar de a economia municipal estar em decadência, havia grande potencial na área da agricultura. Ricardo Albuquerque, em sua juventude, havia estudado em escola agronômica no Estado da Paraíba e tinha o desejo de retomar a atividade agrícola quando retornou ao seu estado de origem. Por iniciativa de Ricardo Albuquerque, foi contatado o Sebrae/PB que, à época, estava realizando workshops para o diagnóstico socioeconômico da região. Foram diagnosticados os problemas do município bem como suas potencialidades. Em seguida foi formado um grupo gestor. Foram contatados ainda Banco do Nordeste, Embrapa, Prefeitura Municipal e Universidade Federal de Pernambuco. A partir do grupo gestor foram criadas diversas associações. Em 1999 foram implantados os primeiros campos de mamona com o incentivo do Sebrae/PB e do Banco do Nordeste. Foi atraído ainda para o município o Programa da ASA que auxiliava na construção de barragens subterrâneas, cisternas, silagem, poço amazonas, projetos de apicultura. À época o município produzia aproximadamente 60 toneladas de algodão. No primeiro ano de atuação da cooperativa, a produção de algodão duplicou, passando para 120 toneladas. O Senai, na mesma época, passou a oferecer diversos cursos. Um dos grandes problemas do município era a falta de qualificação da mão-de-obra. Assim, o Senai disponibilizou cursos para as áreas de couro, leite e derivados, 26 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Apesar dos esforços empreendidos, não havia uma coordenação das ações. Em sua grande maioria, eram empreitadas isoladas. Diagnósticos e Recomendações caprinocultura, serigrafia. Além do Senai, outros organismos, como Sebrae e Banco do Nordeste, dentre outros, ofereceram diversos cursos. A partir dessas iniciativas, o Sebrae, a Embrapa e o Banco do Nordeste incentivaram a criação da Coopaib, pois para o grupo gestor faltava uma figura jurídica para que pudesse obter um apoio mais amplo. Por meio de uma parceria com a Prefeitura Municipal, foi obtido um trator. Ao Sindicato Rural foi solicitada a seleção dos produtores para compor a cooperativa. Foram obtidas sementes na Embrapa, e a Emater-PB realizou o acompanhamento e forneceu assistência técnica. O Sebrae e o Banco do Nordeste ofereceram, então, um curso de cooperativismo aos membros do grupo gestor, o que possibilitou a fundação da cooperativa. A Coopaib foi fundada em dezembro de 2002, contando com 27 sócios. A efetiva atuação da cooperativa somente se iniciou em 2003. O objetivo colocado em seu estatuto foi o de apoiar e incentivar todas as cadeias produtivas, respeitando as vocações da região. A cooperativa iniciou algumas ações para conseguir apoio. Por meio dessas ações obteve-se uma área com todo um complexo de maquinário destinado à indústria sisaleira e que estava desativado há mais de 30 anos. A área e o maquinário foram obtidos por meio de um contrato com a Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa) e com o Senar. Existia à época uma expectativa em torno das atividades a serem implantadas no complexo, pois havia grande interesse na produção por parte de uma empresa chamada Brascorda. Coopaib|Histórico da formação da cooperativa 27 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Sede da Coopaib Entretanto, um evento alheio à vontade da cooperativa veio a dar cabo da expectativa. A área foi invadida com o incentivo do poder público municipal. Existe uma ação na justiça para reintegração da área para a Coopaib. Assim, a cooperativa teve sua área reduzida ao espaço onde se encontra atualmente instalada, uma loja com aproximadamente 100 m2 em que é armazenada a produção e onde funciona a administração. Encontra-se em negociação uma outra área com a própria Faepa, que se comprometeu a erguer uma galpão para a instalação da cooperativa em melhores condições. 28 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Ambiente Apresentado e Ações Realizadas: Diagnósticos e Recomendações 2.1 Ambiente: Surgimento do biodiesel; Embrapa realiza primeiro seminário sobre biodiesel; Falta de ação por parte do Estado da Paraíba no incentivo ao cultivo da mamona; 2003 Associação de produtores com forte cunho político; Cooperativas trabalhando como atravessadoras; Desestímulo à produção de algodão por falta de garantia de preço e de compradores. Ações: Participação da Coopaib no primeiro seminário sobre biodiesel promovido pela Embrapa; Experimentos com o cultivo da mamona; Implantação do cultivo de mamona em 400 ha; Início da integralização das cotas-partes. Coopaib|Histórico da formação da cooperativa 29 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Ambiente: Realização de seminários com o apoio da Faepa/Senar; Retorno do interesse pelo setor sisaleiro; Melhoria no preço do sisal, porém sem garantias sólidas de compra; Falta de mercado para o algodão; Surgimento do algodão colorido, com produção limitada e acesso a um grupo fechado. Ações: Implantação de 1.300 ha de mamona; Não atuação no setor de algodão; Retomada da produção de sisal; Prospecção de incentivos (em parceria com a Embrapa); Retomada do uso em larga escala de subprodutos do sisal. 30 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Realização de seminários com o apoio da Faepa/Senar; Disponibilidade de recursos para apoio à agricultura familiar; Diagnósticos e Recomendações Ambiente: Burocracia excessiva para a liberação de recursos por parte dos organismos financiadores. 2005 Ações: Implantação de 3.000 ha de mamona; Apoio à implantação consorciada da cultura do gergelim com a mamona; Apoio a 11 famílias assentadas (não cooperadas) no plantio con sorciado do gergelim com a mamona; Suspensão do apoio ao plantio da mamona às 11 famílias em função do atraso no financiamento; Solicitação para acompanhamento por parte da Embrapa e do Banco do Brasil da cultura do gergelim implantada; Elaboração de um projeto com o apoio da Universidade Federal de Campina Grande para captação de recursos da Finep para a aquisição de uma usina-escola de biodiesel. Coopaib|Histórico da formação da cooperativa 31 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Ambiente: Realização de seminários com o apoio da Faepa/Senar; Queda no preço pago à mamona; Existência de um único comprador para a produção de mamona (Bombrasil); Erradicação dos campos de mamona por parte de alguns agricultores; Limitação do setor industrial de implementos para cultura e beneficiamento de mamona; 2006 Cartelização do mercado da mamona. Ações: Implantação de 3.500 ha de mamona; Produção de mais de 3.500 toneladas de mamona; Busca por preço mínimo adequado para a mamona por meio de negociações isoladas; Liberação dos produtores para comercialização direta com o comprador com vistas à melhoria dos preços de venda; Eleita a cooperativa-piloto no projeto de biodiesel da OCB; Participação no 2º Seminário Nacional de Biodiesel promovido pela OCB; Participação de curso para elaboração de plano de negócios (primeira etapa) com o apoio da OCB; Elaboração de plano de negócios preliminar. 32 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Crescente interesse pelo algodão colorido; Rompimento do bloqueio ao monopólio da produção e comercialização do algodão colorido; Diagnósticos e Recomendações Ambiente: Decrescimento da área plantada de mamona; 2007 Mercado do sisal instável; Apoio por parte de alguns organismos nacionais e internacionais ao setor sisaleiro. Ações: Parceria com empresa para a produção do algodão colorido com apoio da Embrapa; Participação em curso para elaboração de plano de negócios (segunda etapa) com o apoio da OCB; Implantação até agosto de 500 ha de mamona; Incentivo à produção de sisal; Implantação de 15 ha irrigados de algodão colorido em parceria com a Embrapa. Cultura de mamona na propriedade do Sr. Arquimedes (associado) Coopaib|Histórico da formação da cooperativa 33 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 34 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto comercial Coopaib|Histórico da formação da cooperativa Diagnósticos e Recomendações 3 35 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Considerando-se o que foi levantado em campo, pode-se propor que os produtos com maior potencial, tanto de produção como de comercialização, são a mamona, o algodão colorido, o sisal e o gergelim. 36 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações A Coopaib encontra-se em uma encruzilhada, apresentando falta de direcionamento com relação à sua vocação. A sua origem, conforme já relatado, se deu num ambiente de várias demandas e, por isso mesmo, em seu estatuto buscou abranger um vasto espectro de atividades. Foram identificadas diversas culturas que poderiam se incorporar à sua vocação como agente de fomento ao desenvolvimento da região. Entretanto, pode-se considerar que a atuação em tão diversos segmentos está levando a cooperativa à falta de foco. A falta de foco, em princípio, pode ser identificada com a falta de planejamento, seja em curto, médio ou longo prazo. O mercado em que atua a cooperativa apresenta alto potencial, considerando-se que parte dos produtos incentivados é portadora de grande atrativo comercial, tanto pelo seu aspecto funcional como pelo aspecto social. Considerando-se o que foi levantado em campo, pode-se propor que os produtos com maior potencial, tanto de produção como de comercialização, são a mamona, o algodão colorido, o sisal e o gergelim. A seguir apresentamos os principais aspectos ligados a cada um dos produtos mencionados: Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 37 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 3.1 Mamona a. Histórico A mamoneira, mais conhecida como “carrapateira”, “rícino”, ou “planta christi” é uma planta muito exótica de origem afro-asiática. Nativa e muito resistente, ela é encontrada em grande quantidade na Etiópia, na região do Sennaar e Kordofan, e na Índia. Provavelmente os egípcios atribuíam valores curativos à mamona, considerando-a uma planta medicinal. Em várias pirâmides foram encontradas sementes dessa planta em grande quantidade, principalmente nos sarcófagos que guardavam as múmias dos faraós. Algumas dessas sementes, depois de tratadas, voltaram a germinar. No Brasil elas foram trazidas possivelmente pelos escravos, no século XVI. Hoje a mamona é uma planta famosa, de tão comum nos matagais. 38 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo A mamoneira é uma planta de alto valor econômico. Fornece resíduos vegetais e frutos. Os resíduos vegetais devolvem ao solo 20 toneladas por hectare de matéria orgânica verde ou cinco toneladas de matéria orgânica seca. Já os frutos da mamoneira são constituídos de sementes e cascas, que também fornecem matéria orgânica. Depois de industrializadas, as sementes resultam na torta e no óleo de mamona. Se extraídas as toxinas, a torta ainda pode gerar o farelo, que é utilizado na ração de bovinos e aves. Isolados protéicos (fonte de proteína industrial) e aminoácidos (empregados como suplemento de rações) também são gerados pela torta. Diagnósticos e Recomendações b. Valor Econômico É o melhor óleo vegetal para fins industriais, pois não muda suas características em altas e baixas temperaturas e também em variações bruscas de temperatura, razão do seu imprescindível emprego na aviação. O óleo de mamona possui uma gama muito extensa de aplicações: é utilizado como matéria-prima para fabricação de batom, como lubrificante de motores, incluindo turbinas de avião a jato, motores de foguetes etc. Tem larga aplicação em tintas, vernizes, sabões, detergentes, inseticidas, fungicidas, bactericidas, papel carbono, velas, crayon, produtos sintéticos, plásticos, produtos farmacêuticos, nylons, desinfetantes, revestimentos protetores, adesivos, borrachas isolantes, colas especiais, tubos especiais para irrigação, graxas especiais para navios e aviões, Cultura de mamona na propriedade do Sr. Normando (associcado) Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 39 SérieDesenvolvimento em Cooperativa chapas e engrenagens, aditivos para combustíveis, cosméticos, lentes de contato, fluidos especiais para transmitir pressões hidráulicas. O óleo de mamona é também empregado na fabricação de ceras domésticas e industriais, tratamento superficial de lonas, tratamento de couros, secante de tintas, tintas para indústria automobilística, desemulsionantes, anticorrosivos, plastificantes, perfumaria, indústria açucareira. A partir do óleo de mamona é possível fazer lubrificantes de alta precisão, aditivos para tanques de combustíveis de avião, sem o qual as aeronaves jamais decolariam e voariam a grandes altitudes. Os aditivos são colocados nos tanques de 5.000 metros, nos quais a temperatura chega a atingir 50º abaixo de zero. Todas as vezes que se abastece um avião, torna-se necessário aditivá-lo, e o melhor aditivo é à base do óleo de mamona transformado. O óleo de mamona pode também gerar gasolina, diesel, querosene, gás etc. No campo da medicina, grande parte dos filtros hospitalares e de hemodiálise é confeccionada a partir do óleo de mamona. Bombas corpóreas e extracorpóreas, filtros de sangue, além de uma série de medicamentos contêm em suas fórmulas subprodutos da mamona. Também no campo da medicina, silicones especiais utilizados em ortopedia podem ser obtidos a partir do óleo de mamona. 40 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Biodiesel é um combustível obtido a partir de óleos vegetais como o da mamona. É uma energia renovável e, portanto, uma alternativa aos combustíveis tradicionais, como o gasóleo, que não são renováveis. Diagnósticos e Recomendações c. Biodiesel O biodiesel reduz determinadas emissões poluentes e emissões de dióxido de carbono, que é o gás responsável pelo efeito estufa que está alterando o clima em escala mundial. Promove o desenvolvimento da agricultura nas zonas rurais mais desfavorecidas, criando empregos e evitando a desertificação. Enfim, o biodiesel apresenta inúmeras vantagens em relação ao diesel comum. Reduz a dependência energética do nosso País e a saída de divisas pela poupança feita na importação do petróleo bruto. O biodiesel pode ser utilizado em motores diesel, puro ou misturado com diesel fóssil numa proporção que vai de 1% a 99%. Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 41 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Processo de Obtenção: A molécula de óleo vegetal é formada por três ésteres ligados a uma molécula de glicerina, o que faz dele um triglicídio. O processo para a transformação do óleo vegetal em biodiesel chama-se transesterificação.Transesterificação nada mais é do que a separação da glicerina do óleo vegetal. Cerca de 20% de uma molécula de óleo vegetal são formadas por glicerina. A glicerina torna o óleo mais denso e viscoso. Durante o processo de transesterificação, a glicerina é removida do óleo vegetal, deixando o óleo mais fino e reduzindo a viscosidade. Para produzir o biodiesel, os ésteres no óleo vegetal são separados da glicerina. Os ésteres são a base do biodiesel. Durante o processo, a glicerina é substituída pelo álcool, proveniente do etanol ou do metanol. Tem sido dada preferência ao etanol por ser menos agressivo que o metanol. Para realizar a quebra da molécula, é necessário um catalisador, que pode ser o hidróxido de sódio ou hidróxido de potássio. Com a quebra, a glicerina se une à soda cáustica (hidróxido de sódio) e decanta (por ser mais pesada que o biodiesel). O éster se liga ao álcool, formando o biodiesel. A reação do biodiesel ocorre entre um ácido (óleo vegetal) e duas bases (etanol e catalisador). A quantidade de catalisador usada no processo de fabricação do biodiesel irá depender do pH do óleo vegetal. O sucesso da reação depende da capacidade de medir o pH, ou mesmo, da acidez do óleo vegetal. 42 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo A primeira Guerra do Golfo começou em agosto de 1990 com a tentativa do Iraque de anexar seu vizinho Kuwait. Os Estados Unidos, que até então eram aliados do Iraque contra o Irã, decidiram intervir na região. Diagnósticos e Recomendações d. Histórico Recente do Setor Com a guerra, o golfo pérsico foi fechado e os EUA perderam dois fornecedores de petróleo: Iraque e Kuwait. As especulações sobre o desenrolar da guerra levaram os preços do barril de petróleo a subir ao patamar próximo dos US$ 80. e. Presente e Futuro Efeito estufa, guerra, desenvolvimento do setor primário e fixação do homem no campo fazem com que o investimento em pesquisa, produção e divulgação do biodiesel se espalhe por todo o País por meio de feiras, encontros, seminários etc. A atual crise do petróleo não é resultado das tensões geradas por alguns países árabes em conflito com potências ocidentais, mas um problema de aumento da demanda e falta de estoques. O crescimento acelerado nos EUA, aliado ao reaquecimento da economia mundial e às baixas cotações que o produto vinha apresentando ao final do século passado, gerou um forte aumento do consumo de derivados de petróleo. A instituição americana World Watch Institute já prognosticou que o Brasil liderará as nações do mundo ao lado dos Estados Unidos e da China como integrante dos GE-8 (“E” significa environment em inglês – ambiente), bem superior ao G-7 composto pelas nações ricas dominantes no final do século XX no hemisfério norte. Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 43 SérieDesenvolvimento em Cooperativa f. Armazenamento de semente de mamona na sede da COOPAIB Políticas Mundiais com Relação ao Biodiesel A prática de um menor preço para o biodiesel na Alemanha é explicável pela completa isenção dos tributos em toda a cadeia produtiva desse biocombustível. Os EUA criaram o programa de biodiesel com a meta de produção de cinco bilhões de galões anuais (20 bilhões de litros por ano). Considerando que um litro de biodiesel equivale em capacidade energética veicular a 2,5 litros de álcool etílico, o programa americano de biodiesel equivale a sete vezes o máximo atingido pelo programa brasileiro do álcool. Alguns estados americanos obrigam que sejam adicionados pelo menos 2% de biodiesel no óleo diesel mineral. Para incentivar e divulgar o biodiesel, a Nasa e as Forças Armadas Americanas consideraram oficialmente o biodiesel um combustível de excelência para qualquer motor do ciclo diesel. O programa americano de biodiesel é todo baseado em pequenos produtores e consumidores. Depois de o biodiesel ser amplamente testado e aprovado na Europa e nos EUA, o Brasil aceitará mais facilmente o biodiesel. Não se trata simplesmente de adicionar biodiesel ou substituir o petrodiesel. É necessário entender a revolução que ocorreria no campo, na indústria, no ambiente, na formação de renda, no nível de emprego, na oferta de alimentos e outros derivados de oleaginosas após a extração do óleo, no impacto no preço internacional, entre outros aspectos. 44 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo A produção da mamona vem sofrendo uma grande guinada, principalmente em função da “febre do biodiesel”. Com o novo milênio surgiram tecnologias que possibilitaram a produção em larga escala desse tipo de semente. Diagnósticos e Recomendações g. Estado Atual do Mercado Com alta concentração de óleo, verificou-se grande aplicabilidade de praticamente todos os seus subprodutos. O principal produto obtido é o óleo tipo 1, de grande valor comercial e ampla utilização em diversos segmentos industriais. A partir do óleo são extraídos vários subprodutos, dentre eles o biodiesel. Conforme já relatado, um dos efeitos colaterais da produção do biodiesel é a grande extração de glicerina, largamente empregada na indústria de cosméticos e fármacos. A Coopaib tem na produção de mamona um grande fator de desenvolvimento, podendo ser potencializado por meio de ações de planejamento e de parcerias com os setores público e privado. A região se mostra altamente propícia à cultura da mamona, o que garantiria fornecimento adequado aos potenciais compradores. Os produtores visitados mostraram-se dispostos a um maior investimento, desde que haja garantia de preço e de compra do produto. As ações da cooperativa no sentido de buscar mercado para o produto, a despeito dos esforços de sua diretoria, não surtiram efeito desejado, fato mostrado pela queda de área plantada de 2006 para 2007. Há carência de uma melhor organização das iniciativas e, principalmente, falta de planejamento nas ações. A cartelização do setor vem trazendo grandes prejuízos aos produtores. A organização destes produtores é a única opção para fazer frente aos interesses espúrios das empresas que dominam o mercado. Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 45 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 46 Existe a expectativa de uma regulamentação do setor, o que poderia ajudar na consolidação da cultura da mamona. Porém, as ações ainda estão no campo político, faltando atravessar um grande terreno antes que se possa ter um mercado regulado e com garantias para os produtores. Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 3.2 Algodão Colorido a. Histórico O algodão de fibra colorida é tão antigo quanto o de fibra branca, de acordo com amostras encontradas em escavações na costa setentrional do Peru, que remontam a 2.500 a.C. Idade muito próxima à dos achados arqueológicos de algodão de fibra branca, que datam de 2.700 a.C., em escavações no Paquistão. A maioria das espécies silvestres de algodão possui fibras naturalmente coloridas, principalmente marrom, em várias tonalidades. Porém a maioria delas não possui fibra fiável. A fibra e o linter dos algodões tetraplóides ocorrem em cores que vão do branco a várias tonalidades de marrom e verde. Esses mutantes têm sido usados em programas de melhoramento, visando à obtenção de cultivares de fibra colorida. As cores mais comuns são o verde e o marrom. O algodão de fibra branca foi alvo, desde a metade do século XX, de constantes trabalhos de melhoramento genético e, como resultado, foram produzidas cultivares de desempenho superior e adaptadas. O algodão de fibra colorida não foi tão estudado no passado e, com isto, acen- Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 47 SérieDesenvolvimento em Cooperativa tuou-se a diferença de rendimento e de fibra entre ele e o de fibra branca. Mais recentemente, em alguns países, incluindo o Brasil, começou-se a trabalhar com os algodões de fibra colorida, no intuito de se obter cultivares com boas características de fibras coloridas. b. Tecnologias Empregadas Os algodões coloridos são considerados indesejáveis, visto que poderiam contaminar os de cor branca em cruzamentos naturais, daí porque só agora começam a surgir as cultivares com fibra colorida. Além disso, esses algodões possuem um pequeno desbotamento em relação à luz solar, principalmente o verde. A cor da fibra, apesar de ser controlada geneticamente, é influenciada pelo ambiente, em particular pela luz solar, pelo conteúdo de minerais e pelo tipo de solo. A Embrapa Algodão mantém um banco de Germoplasma, que inclui materiais introduzidos, verde e marrom, além de uma coleção de tipos arbóreos de cor marrom claro, coletados na região Nordeste, para alimentar os programas de melhoramento genético do algodão. Desde o início de suas atividades, o melhoramento genético do algodoeiro foi a principal atividade da Embrapa Algodão. Na década de 1980, o Centro passou a investir mais no desenvolvimento de variedades anuais de ciclo precoce como estratégia para a convivência com o bicudo. Na década de 1990, a Embrapa Algodão passou a promover pesquisas para o desenvolvimento de cultivares de algodoeiro adaptáveis às condições do Cerrado brasileiro. A obtenção e a distribuição da CNPA ITA 90 a partir de 1992 foram marcos para a consolidação da cotonicultura na região. Desde 1997, a Unidade tem lançado de uma a três cultivares por ano para o Cerrado, que tem aproximadamente metade de sua área de algodão plantada com variedades da Embrapa. Para o Nordeste, já foram desenvolvidas 11 cultivares de algodão branco. A empresa tem apostado agora no algodão colorido como produto diferenciado para a região. Pioneira no desenvolvimento do algodão colorido no País, a Embrapa lançou a primeira cultivar, a BRS 200 Marrom, em 2000. A BRS Verde foi colocada no mercado em 2003. A BRS Safira e a BRS Rubi, em 2005. Todas foram obtidas por meio de métodos de melhora- 48 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações mento genético convencionais e sua pluma tem tido crescente demanda no mercado. Além de adaptadas às fiações modernas, as cultivares de algodão colorido da Embrapa reduzem os custos de produção para a indústria têxtil e o lançamento de efluentes químicos e tóxicos, por dispensarem o uso de corantes. Outra importante tecnologia para a agricultura familiar é a miniusina de beneficiamento de algodão, que descaroça e enfarda a pluma, agregando valor à mercadoria do pequeno produtor. c. Situação Atual do Mercado O caso do Estado da Paraíba é uma prova de que houve grande incentivo aos agricultores familiares para a produção do algodão colorido, resultando no fomento da inclusão social. A produção e a comercialização do produto estavam, até bem pouco tempo, fechadas a um grupo restrito de produtores e compradores. Ações de quebra de monopólio foram realizadas pela Embrapa, possibilitando, assim, a ampliação do mercado. A aceitação dos produtos finalizados é alta em todos os segmentos da sociedade, denotando grande potencial de mercado para o produto. Considerando-se a vocação da cooperativa, o produto se mostra altamente viável, uma vez que pode ser produzido em consórcio com a mamona, o que livraria o produtor da monocultura e daria margem de manobra no caso de sobressalto em um dos mercados. O produto in natura tem preço relativamente baixo, necessitando beneficiamento para a agregação de valor. O beneficiamento é idêntico ao do produto convencional, cujas técnicas são de domínio público. O papel da cooperativa nesse mercado ainda é uma incógnita, uma vez que a produção não tem relevância no contexto em que se apresenta. A iniciativa se deu somente no ano de 2007, não havendo histórico de nenhuma colheita. Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 49 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 3.3 Sisal a. Histórico Trazido do México por volta de 1903, somente a partir do final da década de 1930 o sisal passou a ser visto como uma alternativa econômica. A planta foi introduzida nos estados da Paraíba, Bahia e Rio Grande do Norte, em virtude das condições climáticas propícias. O sisal é uma planta semixerófila, que requer clima quente e grande luminosidade e é adaptada a regiões semi-áridas, por ser altamente resistente a estiagens prolongadas, apresentando estruturas peculiares de defesa contra as condições de aridez: folhas carnosas, número reduzido de estômatos e epiderme fortemente cutinizada. O sisal está tão enraizado na cultura nordestina que poderia comparar-se ao próprio enraizamento do vegetal ao solo da região. Sua resistência e sua adaptabilidade ao clima seco do semi-árido tornam-no uma das culturas mais produtivas da região. 50 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Entre 1965 e 1974, o Brasil produzia mais de 200 mil toneladas/ano de sisal. Nas décadas de 1980 e 1990 houve um declínio na produção, reduzindo-se a patamares inferiores a 150 mil toneladas/ano. No final da década de 1990, no entanto, a produção passou a apresentar sinais de recuperação, chegando a 194 mil no ano de 2000, segundo dados do IBGE. No ano de 2003 a produção brasileira atingiu mais de 170 mil toneladas. Os principais produtores brasileiros, atualmente, são a Bahia (95,65%), a Paraíba (3,35%) e Rio Grande do Norte (0,73%). Diagnósticos e Recomendações O auge da produção coincidiu com a chegada das grandes indústrias automobilísticas nas décadas de 1950 a 1970, que utilizavam sua fibra na confecção dos estofamentos dos bancos dos veículos. A Paraíba já foi o maior produtor brasileiro de sisal nos anos 1970, perdendo a liderança na década de 1990 para o estado da Bahia. Desde então ocupa a segunda colocação. Em 1993, a produção estadual foi de 10.441 toneladas, o que representou 8,3% da produção nacional. No ano de 2002, a produção caiu para 4.776 toneladas, reduzindo para 2,8% a participação na produção brasileira. Em conseqüência, o número de indústrias no estado caiu de 10 para quatro, hoje todas localizadas em João Pessoa e proximidades. Mesmo assim, a maior parte do sisal beneficiado nessas indústrias é oriunda da Bahia. Trinta e quatro municípios produziam sisal no estado da Paraíba, de acordo com informações do IBGE para o ano de 2002. Nesse mesmo ano, os municípios de Picuí (1.600 toneladas), Barra de Santa Rosa (720 toneladas), Casserengue (460 toneladas) e Nova Floresta (400 toneladas), juntos, foram responsáveis por cerca de 58% de toda a produção paraibana de sisal. Os principais problemas do setor sisaleiro paraibano são os custos de processamento, bastante elevados, comparativamente aos preços do produto final no mercado e, em conseqüência, a baixa remuneração do produtor. A falta de organização entre os produtores também é um problema sério no setor sisaleiro paraibano. Nesse estado existem poucas associa- Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 51 SérieDesenvolvimento em Cooperativa ções, poucas cooperativas e baixo nível de participação. Atualmente, predominam as pequenas propriedades, com área média em torno de 10 hectares, produzindo cerca de 700 kg/ha. A despeito da queda de produção ao longo dos últimos anos e dos demais problemas que afetam o setor sisaleiro paraibano, o sisal ainda tem relativa importância na pauta de exportação da Paraíba. No ano de 2003, o Estado exportou o correspondente a US$ 1,8 milhão, o que equivale a 1,1% de toda a pauta de sua exportação. b. Subprodutos e Tecnologia As folhas do sisal produzem uma fibra altamente resistente e que é utilizada para produzir artesanatos, vassouras, sacos, bolsas, chapéus, barbantes, cordas, capachos e tapetes, bem como na fabricação de celulose para a produção de papel Kraft (de alta resistência) e outros tipos de papel fino (para cigarro, filtro, papel dielétrico, absorvente higiênico, fralda etc.). Além dessas aplicações, há possibilidade de utilização da fibra na indústria automotiva, de móveis, de eletrodomésticos, de geotêxteis (proteção de encostas, na agricultura e revestimento de estradas), na mistura com polipropileno, em substituição à fibra de vidro (composição de objetos plásticos) e na Cultura de Sisal na propriedade do Diretor da Coopaib, construção civil. Ricardo Albuquerque Os subprodutos do sisal, que hoje praticamente não são aproveitados, podem ter inúmeras utilizações. Cite-se a possibilidade de utilização da mucilagem como complemento alimentar para rebanhos bovinos e caprinos; a bucha, como adubo orgânico; e o suco, que é rico em ecogenina, fármaco 52 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo A forma mais comum, no Nordeste, de transportar as folhas do campo para a máquina desfibradora é utilizando o jumento, que tem capacidade de transportar aproximadamente 200 folhas por viagem, pesando em torno de 100 a 130 kg. Em geral, esse serviço é de responsabilidade de mulheres e crianças. Diagnósticos e Recomendações que serve como medicamento e pode ser utilizado como bioinseticida no controle de lagartas, de nematóides e carrapatos, como sabonete e pasta cicatrizante. O substrato resultante do processamento do sisal também pode ser aproveitado para o cultivo de cogumelos comestíveis. O desfibramento do sisal é a principal etapa da pós-colheita. Consiste no processo de eliminação da polpa ou mucilagem que envolve a fibra da folha, mediante uma raspagem mecânica. A principal desfibradora utilizada pelos agricultores nordestinos ainda é a “Paraibana”, que apresenta baixa capacidade operacional (em torno de 150 a 200 kg de fibra seca, em um turno de 10 horas/dia), além de desperdiçar em média 20% a 30% das fibras/folhas e de expor os operadores a constantes riscos de acidentes. Esse, entretanto, é um dos únicos equipamentos disponíveis no mercado brasileiro, de baixo custo aquisitivo e de fácil manutenção. Após o desfibramento, o ideal é que se proceda à lavagem da fibra, no final do dia, em tanques com água, onde deve ser imersa durante a noite por 8 a 12 horas. Entretanto, nas regiões produtoras brasileiras, essa etapa não é cumprida, seja devido à escassez de água, seja pelo reduzido retorno financeiro obtido mediante a realização dessa etapa do processo. Pela manhã, as fibras são colocadas em varais feitos com fios de arame, para secarem ao sol. A próxima etapa é o batimento, que consiste em remover o pó que envolve a fibra de sisal. Essa etapa se processa em máquinas denominadas de batedeiras, localizadas dentro de um galpão fechado, de empresas exportadoras, que utilizam, em geral, trabalhadores urbanos. Após o batimento, a fibra é classificada e enfardada para então ser comercializada. Do batimento da fibra resultam, além da fibra, os subprodutos bucha e pó. Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 53 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A bucha é utilizada para fazer cordas de segunda e manta (para proteção de encostas na agricultura). O pó é utilizado na mistura com milho para a preparação de ração animal. Não se sabe qual o valor nutritivo dessa alimentação, tendo em vista que ainda não foi desenvolvida pesquisa nesse sentido. A tecnologia ligada ao sisal vem transformando o produto em importante insumo em diversos segmentos industriais. Conforme já relatado, é utilizado na composição do revestimento interno e nos pára-choques dos automóveis. Empregado em conjunto com substratos sintéticos apresenta excelentes resultados na redução de ruídos internos e alta resistência. Outra aplicação de seus subprodutos é na confecção de telhas de fibrocimento, substituindo o amianto e dando flexibilidade ao produto. Seu substrato vem sendo utilizado também na fabricação de módulos de divisórias, obtendo excelentes resultados no bloqueio de ruídos e na conservação da temperatura ambiente. c. Postura Frente ao Mercado Como se observa, a cadeia de serviços da atividade sisaleira abrange desde os trabalhos de manutenção até a extração e o processamento da fibra para o beneficiamento, as atividades de industrialização de diversos produtos e o uso para fins artesanais, que pode trazer diversos benefícios aos municípios localizados no semi-árido nordestino, nos aspectos econômico, social ou ambiental. Assim, pode contribuir para a desconcentração do Produto Interno Bruto (PIB), pelo significativo impacto que pode provocar na economia local; gerar divisas, pelo grande potencial exportador; servir de cobertura do solo, impedindo a desertificação; fonte de renda e emprego, por ser intensiva em utilização de mão-de-obra em todas as fases de implantação, manutenção, colheita e desfibramento; e favorecer a desconcentração da estrutura fundiária, ao viabilizar economicamente as propriedades familiares. Além dessas 54 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Para a Coopaib, o sisal é outro produto com grande potencial de mercado, encontrando ambiente propício em diversos segmentos industriais. Sua utilização vem sendo retomada na indústria automobilística, principalmente, em função dos altos preços dos insumos derivados do petróleo, cuja cotação vem sofrendo seguidas majorações. Diagnósticos e Recomendações vantagens, existe a possibilidade de abertura de novos mercados para os produtos do sisal, diante da preocupação crescente das populações de países desenvolvidos com a preservação ambiental. A Coopaib, levando-se em conta o que foi possível levantar em campo, tem tido atuação tímida frente à potencialidade do produto. Pelo que foi levantado, a cooperativa não possui um plano de ampliação da área cultivada, o que leva a crer que não existe nenhum estudo relativamente ao mercado para o produto. As experiências realizadas mostram-se exitosas, entretanto, tímidas para um mercado tão promissor. Há que se considerar que a cooperativa sofreu contratempos fora de sua área de controle, como a invasão do complexo que utilizaria para desenvolver a cultura do sisal. Cabe ressaltar que as ações empregadas, como a tentativa de obtenção de uma nova área e instalações, são partes importantes do todo, porém falta organização de novas iniciativas para que se obtenham resultados significativos. Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 55 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 3.4 Gergelim a. Histórico É uma das espécies vegetais mais antigas cultivadas pelo homem. O local de sua origem é incerto, podendo situar-se entre Ásia e África. De Candolle afirma ser o gergelim originário da ilha de Sonda (África); segundo Caminhoá, o gergelim provém da Ásia e da África; e, para outros autores, o gergelim é originário apenas da Ásia. Os principais centros de origem e difusão são a Etiópia (centro básico) e Ásia (Afeganistão, Índia, Irã e China). A planta do gergelim é cultivada desde a Antigüidade. No Egito, tempo dos faraós, já se aproveitava o gergelim para obtenção do óleo. Os impérios entre os rios Tigre e Eufrates (Ásia Menor) cultivavam comercialmente o gergelim. Os orientais – notadamente os indianos – consideravam as sementes do gergelim quase sagradas. 56 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Chegou ao Brasil (Nordeste) trazido pelos portugueses no século XVI; aí foi plantado, tradicionalmente, como “cultura de fundo de quintal” ou em pequenas áreas – de separação de glebas – chamadas de terreiros. O produto obtido – grãos – era consumido apenas nas fazendas e havia raros excedentes para comercialização. b. Aspectos Econômicos Gergelim no Mundo O gergelim é cultivado em numerosos países, especialmente naqueles que dispõem de mão-de-obra abundante. É explorado em 65 países, dos quais 24 localizam-se na Ásia, 21 na África, 15 na América Central e do Sul e cinco na Europa. É a nona oleaginosa mais cultivada no mundo. A produção mundial está estimada em 2.378.000 toneladas, obtidas em 6 milhões de hectares, com uma produtividade de 390 kg/ha. A Ásia e a África detêm cerca de 90% da área plantada. Os principais países produtores são Índia e China, com 50% da produção mundial, seguidos de Myanmar, Sudão, Uganda, Bangladesh, Venezuela e Etiópia. O Brasil é um pequeno produtor, com apenas 13.000 toneladas produzidas em 20.000 hectares e rendimento em torno de 650 kg/ha. O maior consumidor mundial é a Índia, pois consome tudo que produz; o maior importador é o Japão; e o maior exportador é a China. Os preços internacionais variam de US$ 500 a US$ 700 por tonelada de semente; o óleo extraído com solventes tem alcançado preços entre US$ 800 e US$ 1.000/tonelada. No ranking dos 17 principais óleos vegetais do mundo, o de gergelim mostrou produção de 700 mil toneladas no período 1996/97. Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 57 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Gergelim no Brasil Apesar de toda sua peculiaridade, esta oleaginosa nunca conseguiu, de fato, se estabelecer como cultivo de grande importância no Brasil. As tentativas de exploração racional restringiram-se a poucos Estados, com destaque para São Paulo, que até alguns anos atrás era praticamente o único produtor de óleo de gergelim. Essas tentativas estenderam-se à região Nordeste. Contudo o cultivo não se firmou devido à falta de uma política permanente de preços para o produto. Diante disso, a exploração permaneceu em nível de subsistência, sendo a produção obtida destinada à alimentação humana na forma de doces e farinhas, com raros excedentes comercializáveis, estágio ainda hoje observado. Ocorre que, por não haver incentivo para o plantio, a maioria dos agricultores nordestinos não procura usar as cultivares melhoradas, disponíveis nas instituições de pesquisa. Predomina o cultivo dos tipos locais, normalmente com características variáveis e pouco produtivos, fazendo com que o produtor fique à margem dos avanços genéticos conseguidos com o melhoramento da cultura. No entanto, em função das perspectivas da cultura e, principalmente, da sua adaptabilidade às condições climáticas da região nordestina, desde 1986, a Embrapa Algodão, juntamente com outras instituições de pesquisa, estruturou mecanismos de fomento nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, desenvolvendo projetos de pesquisas com a cultura. Inicialmente com os programas de fomento objetivava-se fornecer ao pequeno produtor uma outra opção de cultivo e apresentar ao segmento agroindustrial oleaginoso uma alternativa para a redução da produção do algodão nordestino, provocada por diversos fatores, como secas, deficiência de crédito, juros elevados, preço baixo pago ao produtor e o bicudo. Com o incentivo inicial, a área plantada em 1985, que era de 1.000 hectares, evoluiu para 7.000 hectares em 1988. 58 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações A falta de financiamento para a cultura e a ausência de estrutura de comercialização fizeram a lavoura retornar aos fundos dos quintais. Produtores nordestinos – da Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará – fizeram exportações exploratórias para Japão e Holanda; o gergelim nordestino teve lá boa aceitação e abriu perspectivas para expansão da cultura. A ociosidade da indústria de óleo nordestina, a resistência da planta à seca e a facilidade do seu cultivo aliados à possibilidade de exportação do óleo para a comunidade européia, Japão, Israel e outros países, permitiriam afirmar que há grandes possibilidades de tornar a gergelimcultura de grande importância para o Nordeste brasileiro em futuro próximo. Conforme já mencionado, uma das grandes vantagens na exploração desta cultura para a região nordestina seria contribuir para reduzir a ociosidade das indústrias oleaginosas, utilizando o gergelim quando essas usinas estivessem carentes de matéria-prima para o beneficiamento. Além disso, trata-se de uma cultura com demandas externas e internas não satisfeitas, pois o déficit nacional é estimado em 80%, sendo suprido por meio da importação de óleos e sementes para as indústrias. Mantendo-se os atuais níveis de produtividade, seria possível expandir a área cultivada e, com o excedente de produção, abrir a possibilidade de conquistar uma parcela do mercado externo, devido à alta cotação do óleo desta oleaginosa no mercado internacional, garantindo ao Nordeste mais esta fonte de divisas. O cultivo do gergelim, embora com produtividade inferior à maioria das oleaginosas cultivadas, como soja, coco, dendê, amendoim, girassol e mamona, merece um grande incentivo na sua exploração por representar uma excelente opção agrícola ao alcance do pequeno e médio produtor, exigindo práticas agrícolas simples e de fácil assimilação. Nas regiões semiárida e árida do Nordeste, normalmente de baixas precipitações pluviais e de irregular distribuição das chuvas, um dos grandes problemas do setor primário é, justamente, a escolha de culturas que possam, além de alimentar diretamente a família do produtor, gerar renda, com mercado garantido, desde que a priori ocorram planejamento, capacitação e organização dos produtores via cooperativas e associações. Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 59 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Como opção de cultivo para as áreas de sequeiro do Nordeste, e até irrigadas, tem-se a cultura do gergelim com possibilidades reais de produzir mais de 2.500 kg/ha de grãos. Essa cultura, em condições de sequeiro no semi-árido nordestino, tem apresentado, para o produtor, produtividades de mais de 600 kg/ha com o uso de poucos passos tecnológicos, tais como cultivares sintetizadas na região pela Embrapa Algodão, como a CNPA G2 e a CNPA G3, e espaçamentos e configurações de plantios corretos (50.000 a 100.000 plantas/ha). Para promover o desenvolvimento da cultura do gergelim em bases mais racionais de manejo, a Embrapa Algodão vem realizando pesquisas na área de melhoramento genético, manejo cultural e tecnologia de alimentos. Essas pesquisas vêm sendo desenvolvidas dentro do projeto Pesquisa e Desenvolvimento da Cultura do Gergelim, que é conduzido em parceria com a Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA), Empresa de Pesquisa Agropecuária do Ceará (Epace), Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) e Centro Nacional de Pesquisa de Tecnologia Agroindustrial de Alimentos (CTAA). Este projeto objetiva oferecer cultivares de gergelim adaptadas às condições do Nordeste, com elevado teor de óleo e proteína e tolerantes às principais doenças da cultura; definir sistemas de produção em bases mais rentáveis, visando à melhoria da competitividade e rentabilidade dos pequenos e médios produtores do Nordeste; elaborar produtos panificáveis a partir da farinha semidesengordurada do gergelim para complementação alimentar; e determinar a composição química e a qualidade do óleo das cultivares de gergelim desenvolvidas e introduzidas no Nordeste. Em 1995 a situação do gergelim no Brasil era da produção de 13 mil toneladas em 20 mil hectares plantados, com rendimento em torno de 650 kg de grãos/hectare, em cultivos comerciais encontrados no estado de São Paulo. Em São Paulo o gergelim é plantado há mais de 40 anos para produção de óleo e uso em indústrias (doce), em restaurantes e em casas de comida natural. 60 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo O mercado apresentado pela gergelimcultura mostra-se amplamente atrativo para as pretensões da Coopaib. Nota-se, entretanto, falta de ação relativamente ao aproveitamento da demanda existente para geração e agregação de valor ao trabalho realizado pela cooperativa. Diagnósticos e Recomendações c. Postura Frente ao Mercado Levando-se em conta o que foi possível levantar em campo, a COOPAIB tem atuado de forma muito insipiente com relação às potencialidade oferecidas pelo produto. Fica evidente que a falta de uma postura profissional para o aproveitamento do mercado existente é o maior entrave para o desenvolvimento da cultura de gergelim no âmbito da cooperativa. Infere-se que a cooperativa não chegou a realizar um estudo do mercado consumidor do produto. Além disso, a COOPAIB não desenvolve atualmente nenhuma estratégia focada na conquista do mercado. Coopaib|Avaliação do aspecto comercial 61 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 62 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto processo produtivo Coopaib|Avaliação do aspecto comercial Diagnósticos e Recomendações 4 63 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A cooperativa atua somente no aspecto comercial da produção, ficando a produção sob responsabilidade exclusiva dos associados. Ressalte-se que a cooperativa comercializa não só produtos de associados, mas também de terceiros, que representam aproximadamente 20% do total comercializado. 64 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 4.1 Biodiesel Em reunião com os diretores, foi levantada a questão do processo produtivo do biodiesel, um processo que passará a ser extremamente importante para a cooperativa caso se instale uma usina na região. A participação da Universidade Federal de Campina Grande na operação dessa pretensa usina foi considerada como de fundamental importância, visto que existem cursos naquela universidade que ajudariam no fornecimento de profissionais qualificados. Instalação de usina de biodiesel da UFPI Relativamente à participação no processo de produção do biodiesel, a cooperativa pretende chegar até a produção do óleo base. Entretanto, não possui atualmente estrutura para executar todo o processo até o ponto de obtenção do óleo a partir da mamona. Já existe negociação com parceiros locais para o processo de esmagamento das sementes, mas nenhuma ação no sentido de beneficiamento do óleo. Além do esmagamento, o processo inclui o tratamento em caldeira. Segundo levantado pelos diretores, o custo do conjunto esmagadora mais a caldeira seria de aproximadamente cem mil reais. Coopaib|Avaliação do aspecto processo produtivo 65 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 4.2 A Realidade da Coopaib Os trabalhos realizados em campo levam a crer que a Coopaib não possui um processo produtivo formalmente estabelecido. Tal consideração surge do fato de a cooperativa não contar com um mapeamento de seus procedimentos e atividades. a. Processo Produtivo Atual É possível, entretanto, traçar uma dinâmica do que ocorre na cooperativa. As entrevistas realizadas com a direção da cooperativa não foram conclusivas, porém, foi possível inferir uma gama de atividades realizadas. Assim, pode-se afirmar que o processo produtivo da cooperativa segue uma cadeia de eventos, nem sempre lineares, que desembocam na entrega dos produtos ao comprador final. As entrevistas possibilitaram traçar os seguintes procedimentos: i. Produtores associados destinam a sua produção à cooperativa; ii. É realizado o transporte da produção à área de armazenamento da cooperativa (não foi possível identificar se o transporte se dá a expensas do produtor ou se da cooperativa); iii. A produção é armazenada na sede da cooperativa; iv. É feito o inventário da produção com a identificação do associado e a quantidade entregue; v. A cooperativa busca interessados no mercado (geralmente o presidente da cooperativa é quem faz este trabalho); vi. A direção toma a decisão relativamente à destinação do produto armazenado e quais clientes potenciais serão atendidos; 66 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo viii. Definido o comprador, é feito o faturamento; ix. O produto é enviado ao comprador final. Diagnósticos e Recomendações vii. Separa-se o produto e dá-se o tratamento adequado para a comercialização; O diagrama apresentado a seguir tenta apresentar de forma clara o que ocorre atualmente no processo produtivo da cooperativa O processo desenhado deixa evidenciada a falta de etapas que poderiam melhorar a capacidade produtiva da cooperativa. Longe de refletir o estado da arte em processo produtivo de cooperativas, o que fica evidente é que a cooperativa deixa a desejar em muitos aspectos ligados aos procedimentos necessários para uma boa produtividade e maior agregação de valor aos produtos comercializados. Coopaib|Avaliação do aspecto processo produtivo 67 SérieDesenvolvimento em Cooperativa b. Processo Produtivo Ideal Para tanto, sugerimos a seguir o que seria um processo ideal que cobriria os procedimentos e as atividades necessários ao bom desempenho da cooperativa: i. Elaborar estudo para prospecção de mercado; ii. Elaboração de Plano Estratégico para produção e comercialização; iii. Orientação aos associados acerca dos produtos vocacionais de maior viabilidade comercial; iv. Buscar apoio de instituições fomentadoras (Embrapa, Emater, BNB, Banco do Brasil, Sebrae, OCB); v. Realizar eventos de capacitação para os associados em áreas tangentes aos produtos vocacionais identificados como de maior viabilidade; vi. Prospectar compradores para a produção; vii. Contratar a venda da produção; viii. Prestar assistência técnica aos associados no período de cultivo e colheita; ix. Preparar local adequado para o armazenamento da safra bruta, dos produtos beneficiados e dos produtos processados; x. Preparar instalações para o beneficiamento da safra; xi. Preparar instalações industriais destinadas a agregar valor aos produtos a serem comercializados; xii. Providenciar transporte da safra da propriedade do associado até a área de armazenamento da cooperativa; xiii. Inventariar os produtos entregues; xiv. Armazenar a safra; xv. Beneficiar a produção; 68 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo xvii. Processar a produção; xviii.Armazenar os produtos processados; xix. Preparar os produtos processados para envio ao comprador; Diagnósticos e Recomendações xvi. Armazenar a produção beneficiada; xx. Faturar os produtos a serem remetidos; xxi. Providenciar transporte dos produtos ao comprador final; xxii. Apuração dos resultados; xxiii. Distribuição dos resultados aos associados. Coopaib|Avaliação do aspecto processo produtivo 69 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 70 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto assistência técnica (extensão) Coopaib|Avaliação do aspecto processo produtivo Diagnósticos e Recomendações 5 71 SérieDesenvolvimento em Cooperativa O aspecto mais relevante levantado no trabalho realizado em campo é o que se refere à falta de iniciativas próprias da cooperativa no sentido de capacitar seus associados. 72 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações No que se refere à assistência técnica aos associados, a cooperativa se vale do apoio de instituições diversas como OCB, Sebrae, Embrapa, Emater, BNB, UFCG, dentre outros. O aspecto mais relevante levantado no trabalho realizado em campo é o que se refere à falta de iniciativas próprias da cooperativa no sentido de capacitar seus associados. Apesar de contar em seus quadros com associados preparados para a tarefa, ao que foi possível perceber, a cooperativa sempre lançou mão de elementos externos para a realização da atividade de assistência técnica. Ação de capacitação promovida pela OCB em dez/2006 Ação de capacitação promovida pela OCB em jul/2007 Infere-se, a partir do material coletado, que falta à cooperativa ações planejadas para assistência técnica e extensão. Não foi possível identificar, por exemplo, qualquer planejamento das atividades realizadas ou por realizar. Fica evidenciado que, na falta de qualquer plano, a assistência técnica é realizada em função da conveniência dos parceiros. Falta à cooperativa o estabelecimento de relações mais sólidas com os parceiros, no sentido de fazer um planejamento das atividades que atendam às demandas de seus associados. Coopaib|Avaliação do aspecto assistência técnica (extensão) 73 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 74 Conforme já relatado, a assistência técnica e a extensão parecem estar desconectadas do contexto dos associados, ou seja, nem sempre as atividades são desenvolvidas nos momentos adequados. Cabe salientar que a avaliação aqui proposta não busca desqualificar os esforços empreendidos pela direção da cooperativa, que vêm sendo hercúleos no sentido de atrair parceiros. Entretanto, é preciso frisar que, além da força que já vem sendo empregada, devem-se buscar novas sistemáticas para adequação das atividades às reais necessidades dos associados. Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto mão-de-obra Coopaib|Avaliação do aspecto assistência técnica (extensão) Diagnósticos e Recomendações 6 75 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Tal estrutura possibilitaria à cooperativa melhor adequação à sua finalidade, ou seja, promover o crescimento dos associados e, a reboque, seu próprio crescimento. 76 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Constatou-se, por meio do trabalho de campo, que efetivamente os responsáveis pelas atividades de administração da cooperativa são três. Diagnósticos e Recomendações A Coopaib não conta com funcionários em sua estrutura. Todas as atividades administrativas são realizadas pelos componentes da diretoria da cooperativa. O presidente da cooperativa realiza atividades típicas um executivo multitarefas, assumindo, assim, funções de calibre decisório, negociação com parceiros e de caráter eminentemente político, bem como funções menores como mobilização de associados para assembléias, inventário de produtos aportados à cooperativa, venda de produtos e providências relativas a transporte. A diretora comercial faz o acompanhamento das assembléias e reuniões e é responsável pela elaboração das atas. Além dessas atividades, ela exerce a função de manutenção dos documentos gerais da cooperativa. Notou-se, como ficará patente no tópico Avaliação do Aspecto Gestão, que, no que tange à organização documental, a cooperativa encontrava-se totalmente desestruturada à época da realização dos trabalhos de campo. O diretor administrativo-financeiro foi recentemente substituído e o atual ocupante do cargo ainda está se ambientando com as atividades. Nota-se, portanto, que falta à cooperativa estrutura que lhe possibilite a gestão profissional. Tal estrutura possibilitaria à cooperativa melhor adequação à sua finalidade, ou seja, promover o crescimento dos associados e, a reboque, seu próprio crescimento. Coopaib|Avaliação do aspecto mão-de-obra 77 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 78 Uma estrutura ideal é apresentada, a título de sugestão, no esquema gráfico a seguir: Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto quadro social Coopaib|Avaliação do aspecto mão-de-obra Diagnósticos e Recomendações 7 79 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 80 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações A avaliação do quadro social foi procedida com a aplicação do questionário contido no anexo e a devida coleta dos dados. Posteriormente os dados foram tabulados e analisados à luz da realidade percebida quando da realização dos trabalhos de campo. Os resultados dessa avaliação foram divididos em quatro segmentos que são apresentados a seguir: Coopaib|Avaliação do aspecto quadro social 81 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 7.1 Dados Pessoais O quesito idade impressionou pelos resultados apresentados. Entretanto, reflete o que vem sendo constatado em outras pesquisas: o esvaziamento do campo. Os jovens vêm deixando o campo para se aventurar nos grandes centros. O resultado mostra claramente que a maioria dos entrevistados está na última faixa etária consultada. Dos 31 entrevistados, 13 se encontram nessa faixa. O gênero dos entrevistados refletiu o que se esperava. A maior parcela dos associados é composta por indivíduos do gênero masculino. Essa tendência era esperada, tendo em vista as atividades da cooperativa que no geral exigem capacidade física para trabalhos pesados. Entretanto, notou-se uma intensa atividade de indivíduos do gênero feminino, sendo uma das associadas diretora comercial da cooperativa. 82 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O quesito estado civil reflete a resposta dada ao quesito idade. Estando a grande maioria dos entrevistados situada acima dos 46 anos, é natural que a maioria também esteja casada. Os sete pontos percentuais levantados como “outros” referem-se a pessoas divorciadas ou em situação matrimonial irregular. A escolaridade foi um fator que surpreendeu positivamente. Outras pesquisas já realizadas mostram um quadro muito diferente do apresentado pelos associados da Coopaib. A surpresa ocorreu principalmente com relação ao número de entrevistados que alegaram possuir escolaridade equivalente ao segundo grau ou superior a isso. O número representa 74% do total de entrevistados. Um número surpreendente também foi o de pessoas com nível superior completo, representando 29% dos associados. Destes, 6% possuem pós-graduação. Coopaib|Avaliação do aspecto quadro social 83 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 7.2 Dados Profissionais Quando perguntados se participavam de outra cooperativa além da Coopaib, somente 13% dos entrevistados responderam que sim. Aqueles que participam de outras cooperativas alegaram participar da Campol, cooperativa que trabalha com sisal, e à Coopagne, cooperativa de trabalho. Sobre há quanto tempo o associado faz parte da cooperativa, encontramos algumas inconsistências nas informações prestadas. Apesar de a cooperativa contar com pouco mais de quatro anos, alguns associados responderam que participam da cooperativa há mais de cinco anos. Tal fato se explica pela existência de um grupo gestor anterior à fundação da cooperativa de cujo quadro alguns associados participavam. Um fato que chama a atenção é o número de associados com um ano ou menos de participação na cooperativa. Infere-se daí que houve uma movimentação significativa para a arregimentação de novos associados no último ano. 84 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Quando questionados sobre como o associado tomou conhecimento da cooperativa, a grande maioria respondeu que foram os amigos os responsáveis. Isso se justifica com o fato de o município possuir uma população relativamente pequena, o que propicia maior aproximação entre os habitantes. A resposta relativa a jornais e revistas reflete duas situações. A primeira é a falta de utilização da mídia escrita por parte da cooperativa para suas ações de divulgação. A segunda é o baixo acesso a esse tipo de mídia. A resposta “outros” refere-se à própria família e a ações do Sebrae. A quase totalidade dos associados respondeu que a motivação para participação da cooperativa se deu por desejo pessoal. O resultado demonstra que não ocorre um aliciamento dos associados. Estes são convencidos a entrar na cooperativa pelos argumentos favoráveis apresentados pelo movimento cooperativo. Coopaib|Avaliação do aspecto quadro social 85 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A maioria dos atuais associados participou da fundação da cooperativa. As respostas podem ser consideradas consistentes, haja vista que 48% dos entrevistados afirmarem que participam da cooperativa há quatro anos ou mais. Os associados responderam unanimemente que conhecem o atual endereço da cooperativa. Mais uma vez está refletida a influência do tamanho do município e de sua população. A cidade é pequena, o que favorece a localização do endereço. Outro aspecto que impressionou positivamente foi o conhecimento acerca do estatuto da cooperativa. Noventa por cento dos associados entrevistados responderam que conhecem o estatuto. Acredita-se, porém, que exista alguma inconsistência nas respostas, uma vez que não é costume na cooperativa a distribuição do estatuto aos associados. 86 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Outra unanimidade foi o conhecimento acerca da composição da atual da Diretoria da Cooperativa. O fato também pode ser explicado pelos mesmos motivos apresentados no quesito endereço e como ficaram sabendo da cooperativa. Quando confrontados com a afirmativa “Tenho bons conhecimentos sobre o cooperativismo, o objetivo da formação de uma cooperativa e o histórico deste movimento”, a grande maioria concordou. Acredita-se que o resultado seja reflexo do histórico regional ligado ao cooperativismo que, mesmo apresentando casos de insucesso, logrou sucesso nas empreitadas. A afirmativa “Conheço todos os Princípios Cooperativistas e sei como uma cooperativa deve atuar em suas atividades e práticas com base nestes princípios” também obteve uma grande concordância por parte dos associados. Apesar das respostas obtidas, é preciso olhar com cautela os resultados, pois, apesar do histórico e da cultura do cooperativismo assimilada, pode ter havido um viés no resultado influenciado pela afirmativa anterior. Coopaib|Avaliação do aspecto quadro social 87 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 7.3 Práticas Cooperativistas A participação nas assembléias é um quesito cuja avaliação procura demonstrar a interação dos associados com a cooperativa. As respostas revelaram que menos da metade dos associados participou de quatro reuniões ou mais, o que mostra uma abstenção relativamente alta. O que mais surpreende é o número de associados que jamais participou de assembléias, seja por decisão pessoal de não participar ou por não terem sido convocados, representando trinta por cento. Nas entrevistas realizadas com sete associados ficou patente a liderança exercida pelo presidente da cooperativa. Todos os entrevistados reconheceram que a liderança exercida pelo atual presidente é altamente positiva, contribuindo de maneira significativa para a manutenção da cooperativa. Apesar de terem alegado, em sua maioria, que pouco atuam na cooperativa, responderam positivamente quando questionados se têm espaço para sugerir na gestão da cooperativa. 88 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O resultado apresentado pelas respostas dos demais associados que não foram entrevistados informalmente reflete o pensamento dos primeiros, ou seja, noventa por cento dos entrevistados afirmaram que têm espaço para opinar sobre a condução da cooperativa, apesar de poucos serem aqueles que se utilizam desse espaço para opinar. Relativamente ao desempenho da cooperativa, os associados em geral o consideram bom ou muito bom. Tal percepção é compartilhada por cinqüenta e oito por cento dos associados. Há, entretanto, uma considerável parcela dos cooperados que pensa que o desempenho da cooperativa poderia ser melhor ou ainda o considera ruim. Tal resultado se explica principalmente pelos resultados obtidos pela cooperativa nos últimos tempos. Conforme apresentado no corpo do relatório na avaliação do aspecto comercial, a cooperativa vem cometendo alguns equívocos que são encarados pelos associados como falha no desempenho. A percepção relativa ao desempenho é fortemente influenciada pelos resultados alcançados, ou seja, para uma pequena parcela representada por treze por cento dos associados o desempenho é muito bom. Certamente os associados refletidos nesse conjunto não tiveram prejuízos ou até podem ter tido lucros consideráveis com a cooperativa. A parcela re- Coopaib|Avaliação do aspecto quadro social 89 SérieDesenvolvimento em Cooperativa presentada nos seis por cento que julgam o desempenho ruim certamente teve prejuízos nos negócios com a cooperativa. Outro aspecto considerado relevante neste resultado refere-se ao número daqueles que opinaram que o desempenho da cooperativa poderia ser melhor. Existe uma coincidência considerável entre estes e aqueles que têm pouca participação nas assembléias realizadas pela cooperativa. Nesta última consideração se enquadram também aqueles que consideram o desempenho ruim. A despeito do resultado apresentado no quesito anterior, quando perguntados acerca da expectativa para o futuro da cooperativa, a maioria espera crescimento e fortalecimento. O resultado reflete confiança na gestão da cooperativa, apesar dos equívocos cometidos no passado. Reflete, ainda, confiança nas pessoas que ocupam os cargos de direção e nas suas boas intenções. Um dos aspectos analisados no corpo do relatório cuja avaliação mais chamou atenção foi assistência técnica e extensão. Nesse quesito buscouse avaliar a atuação da cooperativa na área de capacitação e orientação 90 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Entretanto, os resultados apresentados pelas respostas dos associados surpreendem positivamente. Dos trinta e um associados entrevistados, somente sete não participaram de eventos de capacitação nos últimos dois anos. Diagnósticos e Recomendações dos associados. Notou-se que a cooperativa não possui um planejamento de ações nessa área. Surpreende, ainda, o fato de a média ficar em duas participações em cursos por associado, uma vez que o resultado final soma 50 participações para os 24 associados que responderam afirmativamente. As respostas dadas a “outros” referem-se aos seguintes cursos: Cultura da Cadeia Produtiva da Mamona; Cultura do Sisal – Módulos I e II; Empreendedorismo; Marketing; Relações Humanas. Coopaib|Avaliação do aspecto quadro social 91 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 7.4 Aspectos de Mercado Os associados afirmaram, em sua maioria, conhecer o mercado dos produtos da cooperativa à qual estão associados. O resultado reflete a percepção dos sete associados entrevistados informalmente. Praticamente todos afirmaram que o atual presidente da cooperativa é muito atuante e sempre que tem oportunidade esclarece dúvidas acerca do mercado-alvo da cooperativa. A maioria dos associados dentro da parcela de dezoito por cento que afirma desconhecer o mercado é formada por aqueles cuja participação nas assembléias é nula. Os aspectos ligados à comercialização estão refletidos na resposta ao questionamento sobre o conhecimento do associado acerca da venda do produto da cooperativa. Apesar de a maioria ter respondido que conhece as práticas ligadas à comercialização adotadas na cooperativa, é possível inferir que os procedimentos não são de todo conhecidos. Na avaliação do aspecto “gestão comercial” no corpo do relatório foi constatada que falta à cooperativa a adoção de processos, procedimentos e ações que tornem transparentes as práticas comerciais da cooperativa. Os trinta e um por cento apresentados como desconhecedores dessas 92 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações práticas refletem a percepção dos avaliadores. Ainda sobre a comercialização, quando perguntados se na cooperativa existia um responsável pela venda dos produtos, a quase totalidade dos associados respondeu que sim. Mais uma vez está refletida a percepção que os associados têm da figura do atual presidente, ou seja, o papel de vendedor vem sendo plenamente desempenhado pelo presidente, fato já avaliado como negativo no corpo do relatório. Quando perguntados se sabiam como fazer o preço de seus produtos, a grande maioria respondeu afirmativamente. Novamente aqui está evidenciado o que foi constatado nas entrevistas informais realizadas com sete associados. Fica refletida de forma clara a liderança exercida pelo presidente da cooperativa. Conforme já relatado, os entrevistados evidenciaram a disponibilidade do presidente para a orientação, o que certamente tem ressonância no aspecto ligado à formação do preço de venda do produto. Coopaib|Avaliação do aspecto quadro social 93 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Parte significativa dos associados representados nos setenta e nove por cento que responderam afirmativamente ao questionamento foi orientada nesse aspecto pelo presidente. Quando questionados sobre o processo de escoamento dos produtos da cooperativa, a grande maioria respondeu conhecer tal processo. Tornase evidente que a maior parcela dos associados tem interesse em saber como e para onde é transportada sua produção. Aqui fica mais uma vez refletido o papel desempenhado pelo presidente. Apesar da centralização das atividades em suas mãos, o resultado mostra que existe bom nível de comunicação entre os interessados, o que poderia ser considerado positivo não fossem os aspectos negativos já levantados anteriormente quanto à centralização das atividades na pessoa do presidente da cooperativa. 94 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto gestão Coopaib|Avaliação do aspecto quadro social Diagnósticos e Recomendações 8 95 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 96 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo A visita à sede Coopaib possibilitou zer uma avaliação gestão documental cooperativa. Gestão documental da fada da Diagnósticos e Recomendações 8.1 Verificou-se que os documentos relacionados à gestão da cooperativa não se encontravam em sua sede. Todos os documenVisita à sede da Coopaib tos são mantidos nas residências dos diretores ou ex-diretores. Segundo o presidente, tal atitude se dá pelo risco de roubo. Foi relatada pelos atuais diretores até mesmo dificuldade na obtenção de documentos mais antigos que se encontram de posse de ex-diretores. Os documentos financeiros/contábeis, assim como os demais, não se encontram na sede da cooperativa. Ficam sob a guarda do contador, na cidade de João Pessoa. Verificou-se, ainda, que as fichas de filiação dos associados estão fora das configurações exigidas, necessitando de revisão e re-confecção. A cooperativa não possui um sistema formal de controle de entrada e saída dos produtos, não tendo sido evidenciado nada que comprove a haver notas de entrada ou de saída dos produtos. Quando do levantamento in loco, a OCB-PB disponibilizou uma consultora que prestou consultoria para a diretora de administração acerca da Coopaib|Avaliação do aspecto gestão 97 SérieDesenvolvimento em Cooperativa documentação mínima exigida de uma cooperativa. O processo de atualização já havia se iniciado quando o presente trabalho se encerrou no local. 8.2 Gestão Administrativa/ Financeira A cooperativa passou por percalços recentemente. O diretor administrativo e financeiro anterior foi destituído, o que levou à posse do atual diretor. Até a data em que foram realizados os trabalhos de campo, a função estava concentrada na figura do presidente, sendo que o atual diretor encontrava-se em ambientação. Nota-se uma enorme fragilidade nos controles administrativo-financeiros da cooperativa, fato demonstrado pela falta de documentação e de informações confiáveis. Na última reunião com a Diretoria e o contador, realizada por ocasião dos trabalhos de campo, verificou-se que a produção encontrada na sede da cooperativa não se enquadrava como produção da cooperativa, servindo a sede, neste caso, como mero entreposto, configurando-se, assim, o papel de atravessador. O atual diretor administrativo-financeiro alegou que tal situação se dá em função da falta de capitalização da cooperativa. Tal fato degenera na não possibilidade de se adquirir a produção dos associados e o respectivo repasse para o comprador final. A despeito disso, considera-se que, uma vez que a produção passa pela sede da cooperativa, esta deveria de alguma forma participar na comercialização da produção. Já que os associados utilizam-se da sede da 98 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo É inegável a preocupação da atual administração de não deixar a cooperativa na situação de mero atravessador. Existe a intenção de processar a produção, agregando-se valor aos produtos antes do repasse ao mercado. Diagnósticos e Recomendações cooperativa para depositar sua produção, a cooperativa deveria assumir seu papel e tratar a produção de maneira cooperativa, o que possibilitaria ganhos tanto para o associado como para a Coopaib. Outro grave problema na gestão administrativa/financeira revela-se na gestão das cotas-partes. Segundo se verificou, a inadimplência gira em torno de 90%. Nas entrevistas com associados verificou-se que a não-contribuição se reflete na falta de perspectivas quanto à atuação da cooperativa. Assim sendo, os associados não se sentem estimulados a pagar sua cota. 8.3 Gestão da Produção A despeito das boas intenções, a cooperativa se encontra sem condições de beneficiar e processar a produção, perdendo-se, assim, a grande oportunidade de gerar um significativo aumento de valor para os produtos trabalhados. A cooperativa busca ganhar credibilidade com o produtor, intermediando a comercialização da produção. Essa intermediação visaria a ampliar o poder de barganha tanto dos produtores como da cooperativa no mercado, uma vez que, tendo um volume maior de produtos, poder-se-ia oferecer melhores garantias ao mercado, bem como obter-se-ia melhor preço para a produção. Entretanto, não vem tendo sucesso em se capitalizar. As atitudes tomadas à época dos trabalhos de campo quanto à comercialização da produção não podem ser avaliadas sob o prisma do cooperativismo. A cooperativa não possui meios para pagar pela produção e, assim, não comercializa efetivamente o que está em sua sede. Isso gera um círculo de vício, pois mostra ao mesmo tempo irregularidade e incapacidade para a geração de receitas para a cooperativa. À época, a coopera- Coopaib|Avaliação do aspecto gestão 99 SérieDesenvolvimento em Cooperativa tiva obtinha a remuneração de três centavos de real para cada quilo comercializado. Segundo relato do presidente, o procedimento da cooperativa se deveu mais ao contexto do mercado, que se mostrou inóspito para os produtores. Segundo ele, houve uma cartelização por parte das indústrias da cadeia produtiva da mamona, o que levou a uma queda dos preços e ao conseqüente desestímulo aos produtores. A cooperativa, então, sem condições de adquirir a produção, passou a fazer o papel de intermediário para que os produtores não perdessem suas safras. Assim, ainda segundo o presidente, a cooperativa atuou mais no sentido de eliminar o real atravessador, assumindo o papel de proteger o associado contra as investidas daqueles. A cooperativa passou a atuar, então, como prestadora de serviços de operacionalização comercial para os produtores, recolhendo o imposto sobre serviço relativo aos valores faturados pela cooperativa contra os produtores. Dessa forma, a cooperativa conseguiu contratos de venda que garantiram um preço mínimo de sessenta centavos o quilo de mamona, minimizando os prejuízos dos produtores. Para regularizar a situação, a cooperativa deveria entronizar toda a produção, ou seja, adquirir de alguma forma toda a produção dos associados e somente depois proceder à comercialização, faturando toda a venda em nome da cooperativa. O resultado seria, então, distribuído aos associados na proporção da participação de cada um. Inexistia à época dos trabalhos de campo qualquer iniciativa da cooperativa no sentido de ter o compromisso dos produtores com a entrega da safra à cooperativa. Aqueles que a entregam o fazem por mera liberalidade, não por um contrato firmado com a cooperativa. A falta dessa contratação conduz à pouca credibilidade da área comercial da cooperativa. Sem garantia de produção não há condições para a prospecção de clientes e muito menos a venda antecipada da safra. 100 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Gestão de Ação Mercadológica Os aspectos mercadológicos não vêm tendo tratamento adequado por parte da cooperativa. Nota-se que falta à atual administração a tomada de atitudes mais efetivas relativamente à prospecção de mercados. Diagnósticos e Recomendações 8.4 Os produtos atualmente gerados pelos associados, conforme apresentado na avaliação do Aspecto Comercial, possuem grande aceitação no mercado. O aproveitamento dessas características vem sendo muito pequeno por parte da atual gestão, cujas ações mostram-se desconectadas e em alguns casos até mesmo equivocadas. A Diretoria foi questionada sobre os demais produtos, além da mamona. Nota-se que existe uma concentração de foco no produto mamona e os demais são deixados em segundo plano. Apesar da tradição da região para o cultivo, a industrialização e a comercialização do sisal, por exemplo, a cooperativa não se mostra preparada para atender a este mercado. Os demais produtos se encontram no mesmo patamar, ou seja, as ações por parte da cooperativa podem ser consideradas muito tímidas para o tamanho do mercado levantado. A cooperativa demonstrou ainda deficiências no aspecto relacionado à comercialização da produção. Ações como atribuição de valor mínimo para o produtor e venda antecipada não foram evidenciadas. Neste quesito vale ressaltar que o papel de vendedor vem sendo exercido pelo presidente da cooperativa. Segundo se pôde levantar, é o presidente quem executa todo o processo de comercialização, somente comunicando o fato ao diretor administrativo-financeiro. Isso demonstra que até aquele momento havia pouca participação dos demais diretores nas ações de negociação e comercialização. Coopaib|Avaliação do aspecto gestão 101 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 102 Falta de participação dos diretores nas negociações leva a uma situação de pouca legitimidade dos acordos firmados, a despeito das boas intenções empregadas na ação. Os próprios diretores reconhecem que há uma excessiva centralização na pessoa do presidente da cooperativa, o que ocorreu de forma natural e não imposta, em virtude da sua personalidade. Os diretores consideram que existe a necessidade de quebrar esse centralização, não por desconfiança na pessoa do presidente, mas, sim, com o intuito de desonerá-lo de ser o único responsável pelos sucessos ou insucessos das ações praticadas. Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Recomendações Coopaib|Avaliação do aspecto gestão Diagnósticos e Recomendações 9 103 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 104 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo A cooperativa deve adotar o papel de ordenador das atividades regionais, principalmente aquelas ligadas ao planejamento estratégico e à elaboração de um plano de ação que redunde no acompanhamento de um mercado em ascensão. Diagnósticos e Recomendações Além das observações apontadas na construção do relatório, colocamos as seguintes recomendações: A cooperativa deve promover a organização da produção e da comercialização dos produtos, incluindo os aspectos contábeis. Para regularizar a situação, a cooperativa deveria entronizar toda a produção, ou seja, adquirir de alguma forma toda a produção dos associados e somente depois proceder à comercialização, faturando toda a venda em nome da cooperativa. O resultado seria, então, distribuído aos associados na proporção da participação de cada um. O potencial para o produto mamona é enorme, porém, há também a necessidade de organização para a entrada no mercado. Falta à cooperativa planejar a sua entrada nesse mercado. Uma postura estratégica seria o mais adequado frente a um mercado ainda em formação, como é o caso do biodiesel. Portanto, cabe à cooperativa, por meio de um planejamento da produção, preparar os produtores para o mercado que já se apresenta. A prospecção do mercado é outra atitude que contribuirá consideravelmente para o sucesso da cooperativa e, conseqüentemente, de seus associados. A cooperativa deverá adotar uma postura mais agressiva, caso queira adquirir parte do mercado de biodiesel. A falta de planejamento é o aspecto mais relevante no processo de desenvolvimento da cultura do sisal na região. Um plano detalhado de ações deve ser uma das bandeiras a serem levantadas pela coope- Coopaib|Recomendações 105 SérieDesenvolvimento em Cooperativa rativa. Ações coordenadas de planejamento da produção aliadas à prospecção de mercado seriam iniciativas louváveis. Considera-se que a falta de planejamento é o maior entrave ao desenvolvimento da gergelimcultura pelos cooperados. A partir do momento em que se elabora um plano de ações adequado às características da região e aos cooperados, o horizonte de atuação torna-se mais claro, criando-se as oportunidades para a difusão da cultura. Quanto à produção do biodiesel, ficou patente que existe o conhecimento apenas superficial do processo produtivo, sendo necessária uma ampla capacitação para um melhor entendimento dos aspectos ligados à sua produção. As atividades de assistência técnica (extensão) devem fazer parte de um planejamento global no qual elas estejam acopladas às demais estratégias da cooperativa. Devem-se buscar novas sistemáticas para adequação das atividades às reais necessidades dos associados. As recomendações citadas podem configurar-se em soluções apresentadas por um Plano de Negócios. O plano de negócio é a melhor ferramenta para atacar de forma ordenada e organizada os problemas levantados pelo diagnóstico, compondo-se, assim, numa solução ideal de continuidade das propostas aqui sugeridas. 106 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 10 Referências Bibliográficas Coopaib|Recomendações 107 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 108 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo BELTRÃO, N. E. de M.; FREIRE, E.C.; LIMA, E. F. Gergelimcultura no trópico semi-árido nordestino nordestino. Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1994. p. 52 Diagnósticos e Recomendações ALVES, M. O.; SANTIAGO, E. G. Tecnologia e Relações Sociais de Produção no Setor Sisaleiro Nordestino. Artigo apresentado no XLIII Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Ribeirão Preto, 24-27/jul. 2005. BELTRÃO, N. E. de M. Importância da cultura do gergelim para região Nordeste. In CNPA Informa nº 19, dez. 1995. p. 5. PARENTE, Expedito J. de S. Biodiesel: Uma aventura tecnológica num país engraçado engraçado. Editora (não localizada). 30/mar. 2003. Fortaleza - CE, 66 págs. Coopaib|Referências bibliográficas 109 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 110 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 11 Anexos Coopaib|Referências bibliográficas 111 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 112 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Para corroborar o diagnóstico realizado na Coopaib foi realizada uma pesquisa com os associados para o levantamento de tendências consideradas importantes. O trabalho de campo demandou três dias de intensa movimentação. Diagnósticos e Recomendações Pesquisa In Loco Primeiramente os associados foram convidados a uma reunião informal na sede da cooperativa na durante a qual foram orientados a responder o questionário apresentado na seqüência. Posteriormente foram realizadas visitas a sete associados para entrevistas e aplicação do questionário. As entrevistas foram realizadas informalmente com o intuito de colher informações relevantes que não estivessem contempladas no questionário. Cabe salientar que, dos 34 associados, 31 responderam ao questionário, o que representa mais de 90% dos associados. O trabalho de campo revelou-se muito proveitoso, tendo em vista que possibilitou a obtenção de uma gama de informações que dificilmente seriam obtidas a distância. Questionário O questionário aplicado na pesquisa foi elaborado com a intenção de levantar as informações mais relevantes para a avaliação da participação dos associados nas atividades da cooperativa. As questões foram elaboradas da maneira mais simplificada possível para não causar estranheza aos entrevistados e trazer informações com o mínimo de viés possível. A seguir apresentamos o formulário utilizado para a coleta das informações: Coopaib|Anexos 113 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 114 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Coopaib|Anexos 115 Diagnósticos e Recomendações SérieDesenvolvimento em Cooperativa 116 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Relatório de Diagnóstico da Cooperativa dos Artesãos do Rio Grande do Sul Coopaib|Anexos 117 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 118 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo As instituições envolvidas na realização do diagnóstico são a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Universidade de Brasília por meio de seu Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT/UnB). Diagnósticos e Recomendações O presente trabalho visa a apresentar um diagnóstico da Cooperativa dos Artesãos do Rio Grande do Sul (Cooparigs) nos aspectos comerciais, processo produtivo, assistência técnica, mão-de-obra e gestão. A OCB financiou todos os procedimentos e disponibilizou informações relevantes para o início dos trabalhos e posteriormente acionou os meios necessários para que as informações fossem colhidas no campo. Disponibilizou, ainda, uma colaboradora para acompanhar os trabalhos realizados in loco. O CDT/UnB, por sua vez, teve o papel de elaborar o estudo e para tanto disponibilizou especialista em estudos de viabilidade, bem como colocou sua infra-estrutura à disposição para a tabulação das informações e posterior produção do texto que segue. Cooparigs 119 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 120 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Procedimentos metodológicos Cooparigs|Procedimentos metodológicos Diagnósticos e Recomendações 1 121 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 122 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O processo metodológico para a realização do estudo se dividiu em quatro etapas apresentadas na seqüência: 1ª Etapa: Definição do Escopo do Diagnóstico 2ª Etapa: Levantamento de Informações Preliminares 3ª Etapa: Levantamento de Dados e Informações em Campo 4ª Etapa: Elaboração do Relatório de Diagnóstico Cooparigs|Procedimentos metodológicos 123 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 1.1 1ª Etapa: Definição do Escopo do Diagnóstico A definição do escopo se mostra extremamente importante, pois possibilita focar o estudo nos pontos essenciais, evitando, assim, desvios metodológicos que poderiam trazer prejuízos ao estudo. No presente caso, o escopo foi definido em reuniões realizadas com a equipe da área de mercado da OCB, donde foram definidos os aspectos a serem avaliados pelo estudo. Para chegar ao formato final do diagnóstico, foram necessárias diversas reuniões nas quais foram delimitadas as áreas-alvo do estudo. Ao final, ficaram definidos os seguintes aspectos a serem avaliados: 124 • Comerciais; • Processo produtivo; • Assistência Técnica; • Mão-de-obra; • Gestão. Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo 2ª Etapa: Levantamento de Informações Preliminares O levantamento de informações preliminares foi feito, principalmente, com o apoio da equipe da área de mercado da OCB. A equipe forneceu um briefing contendo diversas informações e percepções obtidas na cooperativa. Diagnósticos e Recomendações 1.2 Além do briefing, o especialista responsável pelo presente estudo buscou informações por outros meios, como telefonemas e pesquisa na internet. A busca não se concentrou somente em informações sobre a Cooparigs, mas também sobre o mercado do artesanato no Brasil e no mundo. As informações preliminares possibilitaram um aclaramento na visão do mercado de artesanato, permitindo, assim, a preparação de questionários mais adequados aos problemas que se buscava levantar. Cooparigs|Procedimentos metodológicos 125 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 1.3 3ª Etapa: Levantamento de Dados e Informações em Campo Para o levantamento de dados e informações em campo, foram adotadas três estratégias distintas. Primeiramente foi realizada reunião com a diretoria para levantamento de informações sobre o histórico e sobre a administração da cooperativa. Tal reunião possibilitou levantar aspectos relevantes do passado recente da cooperativa, o que permitiu elucidar algumas dúvidas sobre os fatos que se sucedem na atualidade. A segunda estratégia foi uma reunião na sede da cooperativa com um grupo de associados com a intenção de levantar as dificuldades enfrentadas por eles, tanto em relação ao próprio trabalho como aos problemas relacionados à gestão da cooperativa. A terceira estratégia foi a coleta de dados em campo com uma amostra de associados, a fim de obter informações que poderiam sofrer alguma influência caso fossem coletadas na sede da cooperativa. 126 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo 4ª Etapa: Elaboração do Relatório de Diagnóstico O resultado da quarta e última etapa é o presente documento. Diagnósticos e Recomendações 1.4 Para a elaboração do diagnóstico foram levadas em consideração tanto as informações preliminares como os dados e as informações colhidas in loco. O processo de construção do documento amparou-se em exaustiva revisão de anotações e nos dados e informações tabuladas e transformadas em gráficos. Cooparigs|Procedimentos metodológicos 127 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 128 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 2 Histórico Cooparigs|Procedimentos metodológicos 129 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 130 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Em 1972, uma religiosa da Congregação Santo Agostinho, Irmã Marie-Eve Collard, auxiliada por um pequeno grupo de voluntárias, deu início a uma obra social – a Sociedade dos Amigos das Ilhas (Sadi) – cuja sede foi Showroom da Cooparigs estabelecida na ilha Grande Marinheiros, onde havia alto índice de miséria. Para as crianças subnutridas e apáticas, foi criada uma creche, e os velhos foram assistidos. Para as mães de família ociosas e totalmente desmotivadas, que não tinham como criar seus filhos dignamente, Irmã Maria-Eve teve a idéia de orientá-las para trabalhar a lã, matéria-prima da Região Sul. A Irmã Marie-Eve já tinha certa idade quando veio para o Brasil. Contadora da Caritás Metropolitana, obra social na ilha dos Marinheiros, “Dona Noemia” (uma das fundadoras da cooperativa) passou a colaborar aos sábados como tesoureira da Sociedade dos Amigos das Ilhas, que já apoiava cerca 120 crianças e velhinhos, a convite da vice-presidente da entidade, a “Sra. Zaíra”. Dona Noemia, que no início ficou responsável pela coleta de assinatura nos cheques, passou a trabalhar também às quartas-feiras com a Irmã Marie-Eve. Nessa época, a Irmã comprou um ônibus, e as voluntárias iam para a ilha às quartas e aos sábados, depois aos domingos e, por fim, todos os dias da semana. “Dona Noemia” cuidava da contabilidade e do caixa. A maior assistência financeira vinha da Bélgica, da família da Irmã, que era dona de um dos maiores jornais da Bélgica. Parentes da freira mandavam dinheiro para ela investir na obra social. Construíram um prédio na ilha, que depois foi ampliado. A Irmã, então, percebeu que precisava dar Cooparigs|Histórico da formação da cooperativa 131 SérieDesenvolvimento em Cooperativa um trabalho às mulheres também, que, sem ter ocupação, passavam o dia fumando e tomando chimarrão. Então, três ou quatro voluntárias da Igreja Nossa Senhora das Dores reuniram cerca de 20 mulheres e passaram a lhes ensinar a trabalhar com a lã. Para isso, aproveitaram teares que estavam encostados na Igreja. Foram-lhes ensinados os primeiros passos: tratar a lã, selecionar, cardar, fiar, lavar à beira do rio, secar e finalmente tecer. Logo surgiram os primeiros cobertores, tapetes e ponchos. Além das fiandeiras e tecelãs, havia tricoteiras que faziam casacos, gorros e blusões. Era o início do artesanato como meio de vida. A Fundação Gaúcha do Trabalho forneceu as carteiras de trabalho para vender as mercadorias. A Irmã Marie-Eve tinha uma ótima base cultural e conhecia muito do trabalho cooperativo. Afinal, já àquela época, 90% dos plantadores de tomate na Bélgica eram associados a alguma forma de trabalho cooperativo. Em uma tentativa de organizar as ações das mãos artesãs, surgiu a Cooperativa dos Artesãos das Ilhas do Guaíba Ltda. (Cooparig), sob a orien-tação da Irmã e sediada na própria ilha dos Marinheiros. Na Ocergs, inicialmente com 22 pessoas, foi formada a cooperativa. À mesma época foram fundadas a UNIMED e a Cooperativa das Doceiras de Pelotas e Nova Petrópolis. Como nos meses de inverno a estrada da ilha tornava-se intransitável, os artesãos ficavam isolados, impedindo a comercialização de seus produtos. O mercado do artesanato entrava em um momento de estagnação. Era preciso mudar a cooperativa de lugar, do contrário os artesãos não teriam como comercializar seus produtos, exceto entre os próprios moradores. Em razão disso, a Cooparigs transferiu-se para o bairro de Higienópolis, em Porto Alegre. Em 1985, com o interesse de outros artesãos de diversas regiões do 132 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Dessa época até os anos 1990, havia um escoamento estável dos produtos tradicionais característicos do Rio Grande do Sul – manufaturados a partir da lã. Diagnósticos e Recomendações estado em filiar-se à cooperativa, sua abrangência foi estendida para todo o Rio Grande do Sul, originando a Cooperativa dos Artesãos do Rio Grande do Sul Ltda. (Cooparigs), tendo como objetivo a formação profissional dos associados e demais artesãos. A abertura do mercado, em 1990, e a crescente elevação da temperatura geral do planeta foram fatores que contribuíram para o declínio da posição competitiva do artesanato local. A elevação da temperatura da região contribuía para desaparecimento gradativo dos invernos rigorosos e, conseqüentemente, para a diminuição do consumo da lã. Esse fator, juntamente com a entrada de produtos estrangeiros similares, vindos dos países vizinhos, tornou a posição do artesanato muito pouco competitiva. Buscando alternativas para revigorar o mercado do artesanato local, em 1997, em uma atitude voluntária, Brunilde Fritsch, artesã filiada à cooperativa, resolveu buscar uma parceria com o Sebrae para melhorar os processos de fabricação e o atendimento ao mercado. Em uma primeira iniciativa, ampliou-se o leque de produtos artesanais, que incluíam couro, cerâmica, fibra, madeira, seda, pedras e prata, aumentando o número de produtos comercializados pela cooperativa. Era preciso, também, incrementar as vendas, desenvolver o artesanato e tornálo visível em um mercado extremamente competitivo. Foi assinado, portanto, o contrato de parceria entre o Sebrae/RS e a Cooparigs, em 1998. Era o começo de um novo conceito em artesanato. Era o renascimento do artesanato gaúcho. A partir das inquietações da “Sra. Brunilde” com os caminhos que o artesanato gaúcho vinha tomando, processou-se a reorganização do setor, proveniente do diagnóstico feito e das iniciativas apresentadas. Em setembro de 1998, nascia o Projeto Mão Gaúcha, uma estratégia Cooparigs|Histórico da formação da cooperativa 133 SérieDesenvolvimento em Cooperativa organizada para recuperar uma forma de subsistência quase extinta. A marca Mão Gaúcha foi criada para valorizar e dar visibilidade ao artesanato rio-grandense. Ressalta-se que a criação da marca foi uma ação de marketing importante no contexto do projeto. “Artesão é o criador, a mão que toma de seus ancestrais o conhecimento tradicional e o soma à sua própria destreza, realizando peças nas quais funde utilidade, técnica e beleza. É o portador do saber cultural, é o dono dos meios de produção e, portanto, de sua vida e do fruto de seu trabalho.” 134 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Ações de um Projeto Vencedor Primeiro, foi preciso acreditar em que o artesão era o protagonista do projeto e que ele era o principal responsável pelo resgate da referência cultural do estado. Era nele que deveria começar a ganhar vida o sonho de um futuro brilhante para o artesanato representativo da cultura riograndense, priorizado pelo uso das suas matérias-primas abundantes: barro, couro, fibra e algodão. Diagnósticos e Recomendações 2.1 Selecionou-se e cadastrou-se um grupo de artesãos interessados em participar do Projeto Mão Gaúcha. Assim, desenvolveu-se um intenso trabalho de preparação desses Tecelagem destinada à exportação artesãos, focando a melhoria de produtos, aumento da capacidade de produção, qualidade, preço, mercado, cooperativismo. Nos três primeiros anos do programa, foram desenvolvidas ações estratégicas que forjaram sua estrutura básica de sustentação. Foi estruturada e capacitada uma equipe técnica composta por 34 consultores, nas áreas de design, Recursos Humanos, qualidade, gestão, finanças, marketing, e 11 técnicos, para atuar por meio de treinamentos, oficinas, consultorias especializadas, dentre outros mecanismos de intervenção nos núcleos regionais. O programa desenvolveu 700 artesãos, até 2002, distribuídos por todo o Rio Grande do Sul. Nas oficinas, cada artesão aprendia as diversas formas de aplicação de matéria-prima na elaboração de suas peças. Aprenderam a tramar, preparar o Cooparigs|Histórico da formação da cooperativa 135 SérieDesenvolvimento em Cooperativa fio, maturar o couro, envernizar a palha, aproveitando da melhor maneira possível o material bruto, respeitando suas características e a natureza. Formas de armazenamento e estoque, reutilização de sobras, materiais alternativos, como o couro do porco na confecção de produtos, geralmente feitos com o couro do boi, foram também desenvolvidos. Nas consultorias especializadas foram ensinadas as diversas maneiras de tornar o produto mercadologicamente atraente aos olhos de consumidores ávidos por novidades: técnicas de marketing, apresentação, associação de cores e estímulo visual. Houve vários momentos de discussão e definição de planos de ação, visando a atingir a meta proposta que consistia em levantar o produto manufaturado de forma artesanal, tornando-o visível, atraente e competitivo, sendo uma marca auto-sustentável, reconhecida regional, nacional e internacionalmente. Como conseqüência, tornar-se-ia o artesanato um agente de fomento social, cultural e econômico do Rio Grande do Sul. Como primeiro passo, por iniciativa do Sebrae e da Cooparigs, foi assinado um convênio com a Associação Manos Del Uruguay para a realização do Projeto Design na Trama – Lã e Fios Alternativos, em que artesãos gaúchos foram capacitados de forma que se pudesse dar enfoque ao design, agregando valor ao que era comercializado. Em 1998, o Sebrae Nacional lançou o Programa Sebrae de Artesanato, uma iniciativa que visou a oferecer todo o apoio necessário, com foco no design. Eram três as prioridades: • Formação: propiciar treinamento para o artesão. • Informação: construção de uma base de dados sobre o setor. • Mercado: propiciar novos canais de comunicação. No decorrer do ano de 1998, houve, também, diversas oficinas e desenvolvimento de produtos na casa de Cultura Mário Quintana, que contou com a presença de designers de Colômbia, Itália, Espanha e Brasil. 136 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Foram criados um manual de identidade visual da marca, um catálogo comercial dos produtos, etiquetas com a logomarca, um certificado de origem, a classificação de produtos quanto às suas diferentes coleções e um estudo da iconografia rio-grandense para o embasamento dessas coleções. Diagnósticos e Recomendações Houve exposições em diversos locais de grande importância cultural e social, além da exposição dos produtos em diversas feiras. Ainda em 1998, a Cooparigs entrou com um pedido de registro da marca Mão Gaúcha no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), garantindo, assim, a prerrogativa de utilização da marca. O registro definitivo foi obtido em 2005, conforme informações obtidas no sítio do Inpi (http://pesquisa.inpi.gov.br). Em 1999, inaugurou-se a Central de Comercialização Mão Gaúcha, com o objetivo de operacionalizar as etapas que compunham o processo de comercialização dos produtos, promover suporte técnico e administrativo aos núcleos de produção, além de promover o marketing. Como resultado, a renda mensal dos artesãos cresceu 200%, o que representava o início do processo de concretização de um antigo sonho: a auto-sustentação. Também, veio juntar-se à primeira coleção, intitulada Missões (baseada na cultura indígena sediada na região dos Sete Povos das Missões), a Coleção Serra, que tinha como objetivo resgatar a tradição do imigrante italiano. A partir deste momento, o design diferenciado era uma meta atingida, e o primeiro grande pedido foi feito por uma representativa rede de varejo de móveis do estado: a Tok & Stok. Em 2001, o crescimento do setor foi referenciado pela inclusão de 66 novos clientes, pelo desenvolvimento de 486 artesãos, com a venda de 20.932 itens e por um faturamento anual de R$ 180.000,00. No ano seguinte, o catálogo sofreu transformações. Foram acrescidas cinco lâminas, com cerca de 40 produtos novos. Cooparigs|Histórico da formação da cooperativa 137 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A primeira loja Mão Gaúcha foi inaugurada em 27 de junho de 2002, no shopping de rua DC Navegantes, e a abrangência dos municípios saltou de 24 para 34 núcleos de produção, em que existia uma metodologia para cada desenvolvimento de coleção, permitindo que o artesão pudesse aplicá-la não só nos produtos da marca, como também aos demais itens por ele desenvolvidos. A exportação já faz parte da história da cooperativa. Nos anos 1980, quando o enfoque ainda era a lã, algumas peças foram vendidas para os Estados Unidos. Logo após o lançamento da marca Mão Gaúcha, no final dos anos 1990, um italiano de Bolzano descobriu o trabalho dos artesãos e virou o principal comprador. Chegou a montar um showroom com as peças gaúchas em Milão. Em 2005, no entanto, ele montou seu próprio grupo de produção e, além de deixar de comprar da cooperativa, levou com ele grande parte das artesãs do núcleo têxtil – que era o principal segmento da Mão Gaúcha. O artesão filiado à cooperativa ganha por produção. Muitas vezes ele representa toda uma família que ajuda na confecção das peças. Calcula-se que mais de 400 pessoas estejam trabalhando nos produtos. Ao todo, a cooperativa reúne 35 núcleos produtivos do estado. Desde 2002, o trabalho da Mão Gaúcha leva o selo da Unesco, que a reconhece como projeto social. Está cada vez mais difícil comercializar artesanato, tamanha a oferta disponível. Virou moda e ocupação para desempregados e idosos. Por isso o grupo está sempre de olho no aperfeiçoamento, na mistura entre técnicas antigas e novas e diferentes materiais. A Cooparigs alcançou grande crescimento no número de trabalhadores envolvidos, contribuindo para sua inclusão social, e o aumento da renda dos artesãos, que dividem solidariamente os ganhos da cooperativa. A Cooparigs é um dos grandes exemplos da organização e sucesso da economia solidária gaúcha e um dos três maiores casos de sucesso na América Latina em comercialização de artesanato. 138 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto comercial Cooparigs|Histórico da formação da cooperativa Diagnósticos e Recomendações 3 139 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 140 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Foi possível verificar que não existe um mapeamento das competências dos artesãos. O cadastro, apesar de existente, não é utilizado para fazer a seleção inteligente de competências, ou seja, atualmente não existe a possibilidade de mobilizar um contingente de artesãos especializados em um determinado segmento. Há que esclarecer que o que existe é um procedimento informal. O conhecimento das aptidões dos associados se dá mais pela afinidade entre a administração da cooperativa e determinado artesão do que por um critério formal. Esse é um aspecto importante no momento de arregimentar competências para o atendimento de uma determinada encomenda. Apesar dessa constatação, a capacidade de produção da cooperativa é considerável. Ao serem questionados hipoteticamente sobre uma encomenda de 1.500 unidades de ponchos, os entrevistados afirmaram que teriam capacidade de mobilizar a produção sem grandes problemas. Cooparigs|Avaliação do aspecto comercial 141 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 3.1 Mercado Internacional A entrada da cooperativa no mercado internacional se deu acidentalmente por meio de um italiano que enxergou nos produtos uma possibilidade de ganho monetário. Daí se conclui que falta à cooperativa pró-atividade no que tange à prospecção de novos mercados. A despeito das iniciativas de alguns membros do conselho que buscam, por meio de ações isoladas, a descoberta de novos nichos de mercado, a cooperativa padece de falta de rumo. As demandas são atendidas de forma pontual, ou seja, a partir de um pedido as peças são confeccionadas e enviadas ao solicitante. Ações de indução da demanda não são promovidas. Artesã na tecelagem O episódio envolvendo o negociante italiano é fato que deve servir de exemplo. A partir do momento em que notou que seria mais interessante tocar o negócio sem a presença da cooperativa, não teve dúvidas e passou a atuar isoladamente, trabalhando diretamente com os artesãos e até mesmo com o presidente da gestão anterior. A cooperativa vinha se sustentando há um bom tempo com os recursos advindos da exportação e não investiu em outras alternativas caso esta viesse a falhar. Alegoricamente podemos afirmar que foram colocados todos os ovos em uma única cesta. Quando a cesta caiu, quebraram-se todos os ovos. 142 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Em 2006 foi feito um contrato com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) para a realização de prospecção de mercado. Uma consultoria foi contratada para explorar o mercado espanhol. Os artesãos foram mobilizados e gerou-se uma grande expectativa. Diagnósticos e Recomendações Houve uma debandada dos artesãos. Muitos se desligaram da cooperativa. Há de se esclarecer que a grande maioria dos que abandonaram a cooperativa trabalhava em outros projetos, a que esta não tinha controle nem ascensão. Entretanto, a consultoria se equivocou com relação ao mercado. Havia um receio em relação à Itália e à Alemanha. Na escolha da Espanha foi levada em consideração a facilidade logística. Apostou-se na existência de infra-estrutura portuária de fácil acesso, o que segundo a consultoria facilitaria o fluxo de exportação de artesanato. Esqueceu-se, porém, que existiam Índia e China contra os quais não existe concorrência em termos de preço final tendo em vista o custo da mão-de-obra. Além disso, a consultoria se preocupou muito em fazer a preparação documental e diagnóstico de mercado etc. Entretanto, não estava preocupada com a preparação para a venda, adequação dos produtos e abertura de canais de negociação. O objetivo foi mais entender o mercado europeu, o que não contribuiu para tirar a cooperativa da situação em que ela se encontra. Na entrevista, foram levantadas diversas possibilidades e oportunidades para a expansão no mercado internacional. Os países do Mercosul foram citados como de grande potencialidade. Foi lembrado também que o cliente de fora quer, além de preço, qualidade e cumprimento de prazos. Entretanto, todos reconheceram que atualmente a cooperativa não se encontra preparada para exportar e para manter contratos, pois dificilmente teria condições de cumprir com os prazos impostos. Cooparigs|Avaliação do aspecto comercial 143 SérieDesenvolvimento em Cooperativa O produto da cooperativa é bom, mas é possível adquirir produtos similares mais baratos no mercado internacional. Uma das diretoras citou um exemplo da dificuldade encontrada. Ela contou que há aproximadamente dez anos esteve na Alemanha, Bélgica, Áustria e Rússia. Nessa viagem conheceu um “senhor” que disse que, se fossem apresentados produtos diferenciados, o mercado se abriria. Este mesmo “senhor” perguntou se a cooperativa há havia esgotado as potencialidades no mercado local. A diretora reconhece que existe um grande potencial não explorado no mercado nacional. A possibilidade de exportação criou uma miopia que impede a administração da cooperativa de enxergar as potencialidades do próprio mercado. O fato é que se pretende entender o mercado externo sem ao menos entender o mercado interno. Existe realmente um grande interesse no que é produzido no País, despertado nos últimos sete anos. Uma grande fatia do mercado internacional foi conquistada à base de ações multiinstitucionais que conseguiram saltar sobre uma barreira enorme. A cooperativa deve encontrar sua vocação para o mercado externo e focar esforços nesse nicho. Não se deve atirar para todos os lados, e sim suportar suas ações em estudos consistentes que mostrem o caminho correto a trilhar. Outra preocupação que a cooperativa deve ter nesse mercado é com a qualidade, pois os chineses estão no mercado para derrubar preços. Entretanto, ainda não conseguem uma qualidade que atenda às expectativas do mercado europeu. Porém, a China vem investindo na melhoria da qualidade de seus produtos e muita coisa que era considerada lixo hoje é considerada luxo. 144 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Mercado Nacional Foi possível verificar que a diretoria tem uma boa noção das possibilidades do mercado interno. Os entrevistados possuem uma boa visão do que seja a promoção regional. Citaram alguns exemplos de sucesso regional, como o caso da cerveja Polar, cuja comercialização é feita somente no Rio Grande do Sul. A promoção da cerveja usa como mote o fato de só existir a cerveja no estado. Diagnósticos e Recomendações 3.2 Outra percepção importante é a de que a cooperativa fica de costas para um público considerável de consumidores potenciais que deveriam receber maior atenção. Se para o mercado externo as ações da cooperativa são extremamente tímidas, pode-se afirmar que as ações voltadas ao mercado interno são mais que insuficientes. Necessitam de uma roupagem nova, de um planejamento que enxergue o próprio quintal. É interessante perceber que o Rio Grande do Sul é um outro país, tem quatro estações bem definidas e uma série de produtos que só se produz ali, que só se vende ali. O artesanato do estado é reconhecido como de boa qualidade em todo o País e existem migrantes gaúchos em todos os estados brasileiros. Em grande parte das capitais existe uma comunidade, um centro de tradições, um movimento gaúcho. Tais aspectos poderiam ser mais bem aproveitados pela cooperativa, como forma de dar maior capilaridade à distribuição de seus produtos. Cooparigs|Avaliação do aspecto comercial 145 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 3.3 Marca Mão Gaúcha Um ponto interessante a destacar é a marca Mão Gaúcha. Foi questionado aos membros da diretoria que participaram da entrevista acerca da marca Mão Gaúcha, ao que responderam que a marca está registrada em nome da Cooparigs. Entretanto, para utilizar a marca, os artesãos associados precisam passar pela avaliação de uma equipe do Sebrae/RS. Aqueles que se enquadram nos requisitos ficam habilitados a utilizar a marca. Artesã e roca O fato causa estranhamento, uma vez que, sendo proprietária da marca, a cooperativa deveria ter a prerrogativa de utilizá-la independentemente de qualquer avaliação do Sebrae. O estranhamento foi colocado e os participantes não souberam esclarecer a motivação. Foi realizada uma pesquisa no sítio do INPI (http://pesquisa.inpi.gov.br) e constatou-se que o registro da marca foi solicitado em 1998 e concedido em 2005. Portanto, a cooperativa tem a prerrogativa de utilização da marca, independentemente de qualquer autorização. A marca é conhecida não só no Brasil, mas internacionalmente, como selo de qualidade do artesanato gaúcho. A exploração adequada da marca certamente levaria a cooperativa a obter ganhos, não só monetários, mas de reconhecimento. 146 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto processo produtivo Cooparigs|Avaliação do aspecto comercial Diagnósticos e Recomendações 4 147 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 148 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Somente foi possível avaliar alguns aspectos do processo produtivo da cooperativa, uma vez que existe uma infinidade de subprocessos que demandaria uma investigação mais minuciosa. Entretanto, é possível levantar algumas situaçõeschave que são finalísticas e envolvem os elementos mais substanciais das atividades da cooperativa. Pode-se intuir que existem dois processos principais, o interno, realizado dentro da cooperativa, e o externo, em que cada artesão é o agente. Cooparigs|Avaliação do aspecto processo produtivo 149 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 4.1 Contexto do Artesanato Nacional O artesanato é uma das formas mais espontâneas de expressão do povo brasileiro. Em todas as partes do País, é possível encontrar uma produção artesanal diferenciada, feita com matérias-primas regionais e criada de acordo com a cultura e com o modo de vida local. Essa diversidade torna o artesanato brasileiro rico e criativo. Dessa forma, a influência de diversas culturas (nativa, européia, africana, asiática), a enorme riqueza de elementos naturais (animais, vegetais, minerais) e as diferenças climáticas e topográficas se fazem presente, conferindo-lhe extrema beleza e diversidade. Não existe classificação, seja por categoria de origem, seja por tipologia da produção, na qual não se tenha importante representação. As mais diversas matérias-primas utilizadas no artesanato brasileiro são moldadas com grande criatividade. Os artesãos produzem peças em cerâmica (tipo marajoara, utilitária, oleira, pintada, figurativa e escultural), em pedras (sabão, mármore, preciosas e semipreciosas), gesso, couro, metal (ferro, estanho, bronze e alumínio), fibra vegetal (sisal, carnaúba, milho, bananeira, algodão e balata), madeira, além de cestaria, tecelagem em algodão e lã (tapeçaria, mantas, passadeiras e bolsas), bordados e rendas. O “fazer artesanal” é o precursor de processos industriais, trazendo no seu âmago tradição e inovação, preservando a memória e, ao mesmo tempo, promovendo mudanças contínuas no modo de viver. Possuindo elevado potencial de ocupação e geração de renda em todos os estados, “o fazer artesanal” posiciona-se como um dos eixos estratégicos de valorização e desenvolvimento dos territórios, razão pela qual vem ganhando destaque crescente no conjunto das estratégias de atuação empreendidas tanto pelo setor público como pelo privado. Num cenário de busca crescente, de produtos diferenciados e originais, por parte dos consumidores, o artesanato – cujas estimativas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior apontam uma mo- 150 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo O artesanato tem uma grande importância socioeconômica no cenário brasileiro. Reconhecido como fonte geradora de trabalho e renda, formador de mão-de-obra e reprodutor da cultura brasileira, o artesanato já conta com uma participação de 2% no PIB brasileiro. E, devido a essas características, muito se tem investido no seu desenvolvimento: cada vez mais são realizadas ações voltadas para o seu crescimento. Diagnósticos e Recomendações vimentação anual de recursos da ordem de R$ 28 bilhões e o qual representa ocupação para 8,5 milhões de pessoas – emerge como uma contrapartida à massificação e à uniformização de produtos globalizados, promovendo o resgate cultural e a identidade regional. A crescente taxa de desemprego, chegando, em alguns casos, a superar a marca dos 15%, como ocorre na Argentina (no Brasil a taxa atual é de aproximadamente 7%, representando 5 milhões de trabalhadores), transforma em prioridade nacional qualquer ação que possa representar aumento das oportunidades de ocupação de mão-de-obra e de geração de renda. Desse modo, o artesanato passa a ser, para muitos políticos, uma opção estratégica para reduzir a pressão social causada pelo desemprego. Além de necessitar de significativa quantidade de mão-de-obra para o seu desenvolvimento, o custo para gerar um emprego é baixo. De acordo com pesquisa da Organização Mundial de Turismo, enquanto a indústria automobilística brasileira precisa de R$ 170 mil para criar um emprego, com apenas R$ 50 garante-se matéria-prima e trabalho para um artesão. Muitas pessoas desconhecem o verdadeiro significado de artesanato e o confundem com outros tipos de manifestação cultural. O artesão tem compromisso com o seu consumidor, buscando sempre um produto de melhor qualidade e acabamento, uma vez que ele visa ao retorno financeiro. Cooparigs|Avaliação do aspecto processo produtivo 151 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 4.2 Processo Produtivo Interno – Cooparigs A cooperativa tem a seu dispor uma grande área situada próxima ao Aeroporto Internacional Salgado Filho. O acesso não é difícil, porém quem não conhece o bairro e suas referências dificilmente encontrará a cooperativa. A área de armazenamento é suficiente para acomodar uma grande produção, entretanto, não vem sendo utilizada para tal finalidade em virtude da falta de condições para adquirir a produção dos associados. Área de armazenamento da Cooparigs De maneira geral, a cooperativa vem atuando como um entreposto dos artesãos, que disponibilizam sua produção para ser comercializada. A produção fica disponibilizada em consignação e o artesão somente é remunerado após a comercialização dos produtos, pagando uma comissão à cooperativa. A cooperativa possui um veículo do tipo Van que serve ao transporte dos produtos. A cooperativa possuía uma loja em rua movimentada de Porto Alegre que foi fechada em função dos custos de manutenção. As vendas não eram suficientes para cobrir todas as despesas da loja e, assim, os prejuízos não permitiram a continuidade das atividades do estabelecimento. A comercialização dos produtos é realizada na sede da própria cooperativa e por meio de exposição em eventos e feiras. 152 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo 4.3 Diagnósticos e Recomendações Assim, pode-se simplificar o processo da seguinte maneira: Processo Produtivo Externo O processo produtivo externo pode ser traduzido como o processo geral que os associados utilizam para produzir suas peças. Há uma grande dificuldade em retratar o processo utilizado pelos artesãos, tendo em vista que cada profissional utiliza-se de técnica específica. Um problema enfrentado em qualquer segmento do artesanato é a imitação. Quando um artesão descobre uma técnica nova ou inova no design de um produto, logo surgem outros que adotam a mesma técnica ou o mesmo design. O artesão sempre irá buscar a técnica e o modelo ideal para produzir seu artesanato, consumindo um mínimo de matéria-prima e otimizando o processo de produção. A produção não segue nenhuma orientação mercadológica voltada para o mercado interno ou para a exportação. A produção é intuitiva e cada artesão segue sua própria inspiração. Cooparigs|Avaliação do aspecto processo produtivo 153 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Os entrevistados sabem da importância de ter parâmetros para a produção. Sabem que o produto para exportação deve ser diferenciado, sabem que devem padronizar medidas, melhorar a qualidade dos produtos e principalmente produzir em uma escala maior. Existe também entre os artesãos a percepção daquilo que é aceitável como um trabalho de artesanato e aquilo que não é aceitável. Durante a entrevista foi mencionado um caso em que se tentou juntar à Cooparigs catadores de lixo que faziam vassouras com material reciclável. Tal mistura não deu certo, pois não se trata de artesanato, mas de reciclagem. Portanto, são trabalhos de naturezas distintas que devem receber um tratamento distinto. Ainda em relação ao papel reciclável, alguns artesãos já estão trabalhando e até mesmo vendendo para outros estados. Nota-se pelas iniciativas dos diversos parceiros que a Cooparigs é um excelente laboratório, mas a assistência técnica despendida nesse processo laboratorial muitas vezes é desperdiçada, pois nem sempre é possível continuar com todos os projetos depois que os parceiros saem. Assim, boa parte das atividades é abandonada e o investimento, perdido. A título de exemplo da excelência laboratorial, foi citada uma aluna de doutorado que fez mensurações em que buscou entender como e o que o artesão faz mecanicamente, até mesmo para saber até onde se poderia automatizar o processo de produção. O Sebrae Nacional apoiou a formação da Rede Gaúcha de Design como uma forma de buscar maior qualidade e melhor desenho para os produtos artesanais. A Rede Gaúcha de Design é uma associação sem fins lucrativos fundada em 2004 com o propósito de criar no meio empresarial do Rio Grande do Sul uma política de investimentos em design. Atua na coordenação e promoção de ações de conteúdo inovador na área do design, priorizando a implementação 154 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Existe uma pequena automação no processo produtivo do artesanato quando se busca a produção em série. Há um pequeno grau de mecanização. A maior parte do trabalho é realizada manualmente. Diagnósticos e Recomendações de projetos de alta visibilidade, contribuindo para elevar a competitividade do setor e o padrão de vida da sociedade brasileira, por meio da divulgação, da promoção e da articulação da oferta de serviços de design. A percepção reinante é a de que falta ainda muito em capacitação para os associados. Em termos de processo produtivo praticamente não se tem trabalhado, nem a cooperativa nem outras instituições parceiras. Há, portanto, grande carência de treinamento nos processos produtivos do artesanato. Cooparigs|Avaliação do aspecto processo produtivo 155 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 156 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto assistência técnica (extensão) Cooparigs|Avaliação do aspecto processo produtivo Diagnósticos e Recomendações 5 157 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 158 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações A assistência técnica prestada aos associados da Cooparigs pode ser considerada precária, tendo em vista a importância desse quesito no segmento de atuação. As ações são poucas e, em muitos casos, são boicotadas pelos próprios associados, conforme será relatado na seqüência. Reunião de associados quando da visita de diagnóstico A diretoria, apesar da quase inexistência de assistência técnica, mostrase muito preparada para gerir a cooperativa. A grande maioria é formada por ex-diretores que reassumiram cargos na gestão atual, contando com grande bagagem de conhecimento e experiência relativamente ao gerenciamento da instituição. Os diretores têm formação variada, assim como os componentes do Conselho Fiscal. O quadro que se apresenta é encorajador quanto ao futuro da cooperativa, pois toda a diretoria se mostrou extremamente zelosa dos princípios éticos e profissionais necessários a uma gestão amparada na transparência. Há algum tempo, a cooperativa chegou a utilizar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para dar capacitação aos associados. Com a regra atual, não vale a pena utilizar os recursos, pois o valor depende do número de funcionários com carteira assinada que a instituição possui. Em 1998, o Sebrae ofereceu cursos na área de cooperativismo, entretanto, devido a problemas de logística, a cooperativa não foi beneficiada. Nesse mesmo período ocorreram palestras eventuais de motivação, o que chegou a contribuir com o aumento do número de associados. A percepção dos participantes entrevistados é de que há carência de treinamento em vendas, em formas de colocar o produto mais próximo do consumidor. Cooparigs|Avaliação do aspecto assistência técnica (extensão) 159 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Outro aspecto, já levantado, é o que diz respeito ao cooperativismo. O associado somente saberá o que é uma cooperativa se puder participar de um evento de capacitação focado no assunto. A cooperativa vem contando com apoio de diversas instituições, dentre elas o Sebrae, Senai, Coopesul, UFRGS, Rede Gaúcha de Design. É importante esclarecer que a cooperativa, por meio de seus associados, vem participando de projetos-piloto de inovação em design com apoio de diversas instituições. A participação em feiras vem sendo viabilizada pelos parceiros, muito mais que pela própria cooperativa. Certamente o nome da cooperativa é um “abre-portas”, mas o apoio material não é fornecido. O Senai vem apoiando no desenvolvimento de acessórios para bolsas e calçados, ou seja, apóia claramente o setor de couros. O projeto é experimental e começou há aproximadamente dois anos. Segundo os entrevistados, o projeto é muito promissor e contou com o apoio da cooperativa na seleção dos beneficiários do projeto. A UFRGS tem apoiado no desenvolvimento de parcerias, principalmente entre produtores do setor têxtil. Desse apoio surgiu a Coopesul. É interessante notar que nos últimos dois anos a cooperativa não promoveu nenhuma campanha de adesão. Nos últimos dois anos a cooperativa promoveu mais de dez eventos para troca de idéias entre os associados. Os eventos se mostram de grande interesse para os associados, visto que nesse cenário surgem oportunidades de aperfeiçoamento de técnicas e geração de negócios. Os dirigentes da cooperativa foram capacitados, principalmente no que tange aos aspectos de transparência da instituição. A atual gestão vem se esforçando para gerar uma imagem positiva frente a seus associados. 160 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações A cooperativa tem dado muito poucas oportunidades para que seus funcionários possam se capacitar. Segundo os entrevistados, foi oferecido somente um curso nos últimos dois anos, sob a denominação Parceiros Voluntários. Áreas importantes para a cooperativa, como a prospecção de negócios ou controle interno, foram negligenciadas. Os associados tiveram diversas oportunidades de capacitação oferecidas pela cooperativa nos últimos dois anos. Entretanto, apesar dos convites, a grande maioria não se interessou em participar de eventos de capacitação. Foram oferecidos aproximadamente cinco cursos diferentes. Resta levantar qual o motivo do desinteresse dos associados. Pelas entrevistas realizadas, pode-se perceber que um dos motivos seria o foco dos cursos não estar em sintonia com os interesses dos artesãos. Apesar do que alegaram os entrevistados, verificou-se com a diretoria que foram oferecidos cursos que deveriam despertar o interesse, tais como: Importância das Marcas; Tendências de Moda; e Gestão do Design. Em termos de parceria, vale frisar que em maio de 2007 foi retomado contato com o Sebrae. A retomada ocorreu principalmente na área do turismo, um segmento que influencia diretamente na produção de artesanato. O projeto que resultou na retomada da parceria tem origem na Apex. A partir desse primeiro projeto, vários outros se seguiram, incluindo-se aí a assistência técnica. Cooparigs|Avaliação do aspecto assistência técnica (extensão) 161 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 162 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto mão-de-obra Cooparigs|Avaliação do aspecto assistência técnica (extensão) Diagnósticos e Recomendações 6 163 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 164 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Conforme relatado anteriormente, a diretoria não é remunerada pelos serviços prestados à cooperativa, tratando-se, portanto, de trabalho voluntário. A cooperativa conta com seis funcionários contratados na modalidade celetista. Destes, um se encontra em licença. Em dezembro de 2006 foi demitido um funcionário que trabalhava em uma loja da cooperativa que funcionava em um shopping. A loja precisou ser fechada por falta de resultados. A contratação dos profissionais que atuam na cooperativa passa por processo de seleção. Em muitos casos os candidatos são indicados por algum associado ou membro da diretoria. Ao que se pode perceber, o processo é realizado com transparência e sem ingerências. A preferência no momento da contratação é por pessoas que contam com experiência anterior. Entretanto, a cooperativa já contratou estagiários, dando oportunidade a pessoas ainda em formação. Segundo os entrevistados, existe certa resistência à contratação de parentes de associados ou dirigentes. A motivação foi algo ocorrido em gestão anteriormente destituída. Entretanto não existe nada explícito no estatuto que restrinja a contratação de parentes de associados ou dirigentes. Cooparigs|Avaliação do aspecto mão-de-obra 165 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 166 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto quadro social Coopercrutac|Diagnóstico situacional da Coopercrutac Diagnósticos e Recomendações 7 167 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 168 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Posteriormente os dados foram tabulados e analisados à luz da realidade percebida quando da realização dos trabalhos de campo. Diagnósticos e Recomendações A avaliação do quadro social se deu com a aplicação do questionário contido no ANEXO e a devida coleta dos dados. Os resultados dessa avaliação foram divididos em cinco segmentos, que são apresentados a seguir: 7.1 Dados Pessoais Os associados à OCB são, em sua grande maioria, pessoas acima de 46 anos, sendo que as faixas entre 46 e 55 e de 56 acima concentraram a maior parcela dos entrevistados. Nota-se aí uma relação interessante entre a idade dos entrevistados na pesquisa e a baixa participação nas atividades propostas pela cooperativa. Não se pode afirmar categoricamente que a idade seja um fator de desmobilização dos associados, entretanto, tal coincidência é relevante para a avaliação do que se encontrou em campo. Cooparigs|Avaliação do aspecto quadro social 169 SérieDesenvolvimento em Cooperativa No que diz respeito ao gênero, predomina o feminino. Tal resultado não surpreende, uma vez que historicamente as mulheres tendem a possuir mais facilidade com trabalhos artesanais que os homens. Os entrevistados, em sua maioria, são casados. Outro reflexo da faixa etária dos associados pode ser percebido neste resultado. O percentual de solteiros é de somente 17%, estando estes, em sua maioria, nas faixas etárias inferiores. A escolaridade dos associados é um fator relevante para a cooperativa. O resultado pode explicar em parte a baixa adesão dos associados aos processos de capacitação promovidos pela cooperativa. Quarenta e cinco por cento dos associados não completaram o ensino médio, sendo que 19% possuem somente o ensino fundamental. ESCOLARIDADE 170 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 7.2 Dados Profissionais Dezesseis porcento dos associados participam de outra associação ou cooperativa. A maioria desses 16% afirmou integrar a cooperativa formada pela dissidência da Cooparigs, a Mãos Avec. A maioria absoluta dos associados está na cooperativa há mais de seis anos. Trata-se de um importante capital para a Cooparigs. A fidelidade dos associados pode ser medida por este resultado. O aproveitamento deste capital poderia possibilitar à cooperativa um grande salto no sentido de voltar a ter a relevância que já apresentou no passado. Entretanto, o resultado aponta também que não houve mobilização no sentido de trazer novos associados para a cooperativa, o que pode ser traduzido como falta de orientação na busca de novos membros. A entrevista com a diretoria reflete isso, quando afirma que não há interesse em inchar a cooperativa. Por outro lado, a falta de oxigenação na base de associados pode levar à asfixia da cooperativa, o que já se nota com os resultados pouco animadores que a instituição vem apresentando nos últimos anos. Cooparigs|Avaliação do aspecto quadro social 171 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A maneira como os associados tomaram conhecimento da cooperativa é uma forma de avaliar quão conhecida e considerada é a instituição. Com um período relativamente longo de existência, a Cooparigs é muito conhecida no meio, o que proporciona uma grande visibilidade. Esse fator, conforme constatado pela pesquisa de campo, leva os associados a indicarem a cooperativa como uma opção para aqueles que buscam suporte para suas atividades. Entretanto, existem vários outros mecanismos com os quais os associados tiveram conhecimento da cooperativa, como rádio e televisão. A motivação para a associação à cooperativa constatada durante as entrevistas com os associados tem a ver, principalmente, com motivação pessoal. Notou-se que pequena fatia dos associados teve motivações como desemprego ou subemprego. Denota-se dos dados que 71% dos associados buscaram associar-se à cooperativa porque acreditaram que seria uma forma de melhorar suas condições de trabalho, comercialização dos produtos e de vida. 172 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Informações e Conhecimentos sobre a Cooperativa e o Cooperativismo Quando questionados sobre se participaram da fundação da cooperativa, 78% dos entrevistados afirmaram não ter participado da fundação. Diagnósticos e Recomendações 7.3 Nota-se um residual de fundadores entre os entrevistados. Os resultados justificam-se pelo tempo de existência da cooperativa, o que pode levar a duas interpretações distintas. A primeira é que a cooperativa tenha crescido o suficiente para que os membros fundadores passassem a ser uma parcela relativamente pequena no universo de associados. A segunda é que parte considerável dos fundadores se retirou da cooperativa por motivos diversos, como falecimento, mudança de atividade ou descontentamento com a administração. Lembramos que tanto uma interpretação como outra são apenas hipóteses e que o estudo apresentado aqui não teve por objetivo levantar tais pormenores. Os associados entrevistados foram unânimes em responder que conhecem o endereço da cooperativa, bem como saberiam chegar até sua sede. A informação é relevante do ponto de vista que não há uma cooptação pura e simples por parte da cooperativa. A resposta denota que os associados conhecem a cooperativa e que estiveram ao menos uma vez em sua sede. Cooparigs|Avaliação do aspecto quadro social 173 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A cidadania passa a ser entendida como tal somente quando os cidadãos tomam pleno conhecimento de seus direitos e de seus deveres. O sistema cooperativista não difere muito dessa assertiva. O cidadão tem a Carta Magna na qual se basear. O associado a uma cooperativa tem o estatuto. Tal constatação leva a ponderar a importância que têm estatuto e regimentos para o bom andamento de uma associação, tenha ela a natureza jurídica que tiver. No caso da Cooparigs, o nível de conhecimento do estatuto da instituição é satisfatório para os padrões nacionais. Entretanto, fica muito aquém quando comparado com o interesse demonstrado por associados a instituições similares em países europeus ou nos EUA. Assim, o volume de 47% de associados que não conhecem o estatuto dá o tom do desconhecimento que os associados têm de seus direitos e deveres frente à cooperativa. A direção de qualquer instituição eleita democraticamente é o reflexo do desejo de seus membros. Quanto maior a participação dos membros melhor será a qualidade do certame. A Cooparigs, pelo que foi levantado com a direção, sofre de um problema crônico de falta de participação de seus associados nas assembléias ordinárias ou extraordinárias. Entretanto, a não-participação nas assembléias parece não refletir no discernimento dos associados no que se refere à composição da diretoria da instituição. Dos associados entrevistados em campo, somente 25% afirmaram não conhecer a composição da atual diretoria. 174 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações A respeito dos conhecimentos sobre cooperativismo, nota-se que há uma formação de base a ser considerada. Entretanto, 25% dos entrevistados não possuem convicção de que conhecem o bastante sobre cooperativismo. Infere-se do resultado que os associados mais antigos tiveram uma formação mais sólida nas bases do cooperativismo que aqueles que se associaram mais recentemente. Ainda no que se refere a conhecimentos sobre cooperativismo, especialmente aos seus princípios, a maioria dos entrevistados afirma conhecer os mecanismos pelos quais uma cooperativa deve se guiar. Cooparigs|Avaliação do aspecto quadro social 175 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Entretanto, resta uma parcela significativa dos associados que desconhece ou que não possui convicção desse conhecimento. Essa parcela corresponde a 28% dos entrevistados. A parcela dos entrevistados que afirma conhecer os princípios cooperativistas se encontra entre os mais antigos membros da cooperativa. 7.4 Práticas Cooperativistas Foram questionados os indicadores mais relevantes para a mensuração da participação do associado nas atividades intrínsecas à cooperativa. Em relação à participação em assembléias, reuniões e encontros promovidos pela cooperativa, o resultado reflete a maturidade da cooperativa. Quase setenta por cento dos entrevistados afirmaram ter participado de cinco ou mais eventos. O fato revela que a mobilização da base pode levar a uma participação ainda maior dos associados. Entretanto, outra dimensão a ser considerada é a longevidade da cooperativa. A maioria dos entrevistados está associada há mais de seis anos e, portanto, teve diversas oportunidades de participar de eventos promovidos pela cooperativa. 176 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações A participação na gestão da cooperativa, pelo que se denota das respostas dos associados, é aberta e, poder-se-ia dizer, incentivada. A grande maioria dos entrevistados afirmou que tem abertura para fazer sugestões à gestão da cooperativa. Vale ressaltar que a participação na gestão nem sempre foi uma possibilidade, principalmente na gestão anterior, que na opinião de muitos entrevistados não era pautada pela transparência. A despeito da larga abertura para opinar na gestão, a grande maioria dos entrevistados não está satisfeita com o desempenho da cooperativa. Cooparigs|Avaliação do aspecto quadro social 177 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Quase setenta por cento dos entrevistados consideram que o desempenho podia ser melhor, enquanto que somente vinte e três por cento consideram o desempenho bom ou muito bom. Denota-se do resultado que os associados estão insatisfeitos com diversos aspectos da cooperativa, tais como a forma de comercialização e distribuição da produção. Em contraponto à insatisfação com o desempenho da cooperativa, a maioria dos entrevistados acredita no futuro da Cooparigs. Quase sessenta por cento dos entrevistados esperam crescimento e fortalecimento da cooperativa no futuro próximo. O resultado é muito interessante na medida em que permite à diretoria atual focar seus esforços em ações que permitam atender à expectativa mais premente de seus associados, ou seja, abertura de mercado e melhoria na forma de distribuição da produção. 178 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Segundo o resultado das entrevistas, a participação em eventos de capacitação é muito baixa e a ação é, em muitos casos, promovida por entidades não ligadas diretamente ao cooperativismo. Diagnósticos e Recomendações Em relação à capacitação, existe uma falha por parte da cooperativa. O resultado mostra que houve um esforço dos associados em se capacitar na formação do preço de seus produtos, no atendimento ao cliente e em cooperativismo e associativismo. A baixa participação nos eventos de capacitação é motivada principalmente, segundo os entrevistados, pela distância dos locais dos cursos e ao fato de a maioria ser oferecida no período diurno, o que choca com o horário em que os artesãos estão produzindo. 7.5 Aspectos de Mercado Os aspectos mercadológicos levantados levaram em consideração principalmente as variáveis internas do negócio. Não foram elaboradas questões sobre a diversidade dos mercados que orbitam o negócio principal, ou seja, artesanato. Cooparigs|Avaliação do aspecto quadro social 179 SérieDesenvolvimento em Cooperativa O conhecimento do mercado é um fator preponderante no que se refere à capacidade de comercialização dos produtos e principalmente no que tange à capacidade dos associados em perceber as necessidades e os desejos dos consumidores de seus produtos. Os associados foram questionados se conhecem o mercado em que atuam, e a grande maioria respondeu positivamente. A afirmativa pode ser levada em consideração, uma vez que a maior parcela dos artesãos associados trabalha no setor há vários anos, o que possibilita uma acumulação de conhecimento, mesmo que informal, acerca do mercado. Entretanto, chama a atenção a falta de pesquisas sobre o perfil dos consumidores de artesanato no Brasil e em outras partes do mundo, o que denota um conhecimento mais intuitivo do que formal. No item comercialização dos produtos pela cooperativa, os associados foram questionados sobre a metodologia de venda da produção. A maioria respondeu que conhece a metodologia, que se traduz pela cessão em consignação dos produtos à cooperativa, para que esta os comercialize. 180 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Parte dos entrevistados afirmou que este é um ponto que gera insatisfação e que poderia ser melhorado pela atual direção da cooperativa. Diagnósticos e Recomendações Averiguou-se que não há pagamento antecipado pelos produtos, acontecendo uma mera intermediação entre os associados e os compradores, sejam esses pessoas físicas ou jurídicas. A percepção da forma como ocorre a comercialização dos produtos é um importante fator de satisfação ou insatisfação com o desempenho da cooperativa. A maioria dos entrevistados percebe que existem pessoas encarregadas da venda dos produtos na cooperativa. Entretanto, este ponto merece atenção, pois é um fator de insatisfação por parte dos associados. Mesmo entendendo que existe o esforço por parte da cooperativa na área de comercialização, os associados tendem a considerar que a gestão poderia ser melhorada. A melhoria nessa área refletiria positivamente entre os associados. Cooparigs|Avaliação do aspecto quadro social 181 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A formação do preço é ponto nevrálgico para qualquer negócio. Não é diferente no caso do artesanato, apesar dos diferenciais sutis que precisam ser considerados para que a comercialização não seja prejudicada. O preço final de qualquer produto deve considerar o custo dos insumos empregados em sua elaboração, o custo do tempo de fabricação, o preço de produtos similares praticados pela concorrência e a percepção de valor dada pelo consumidor. No caso do artesanato, o processo se complica, pois a única mensuração possível é a do custo dos insumos empregados. O custo do tempo empregado pode ser super ou subdimensionado, pois o caráter artístico dado a alguns trabalhos torna a mensuração quase impossível, cabendo aí o bom senso. Seria difícil adotar os preços praticados pela concorrência como um parâmetro para a definição do preço do artesanato, uma vez que a concorrência seria formada por outros artesãos, que por sua vez não teriam essa referência do concorrente e assim por diante. Portanto, o parâmetro não poderia ser adotado na formação do preço do artesanato. Outro quesito que seria de difícil mensuração é a percepção de valor dada pelo consumidor. Os aspectos avaliados pelo consumidor de arte- 182 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Assim sendo, os modelos convencionais de capacitação para fixar o preço de venda se tornam ineficazes para os artesãos, que devem levar em consideração variáveis bastante diferenciadas. Diagnósticos e Recomendações sanato passam muito longe do que normalmente é empregado para a avaliação do valor de outros produtos, ou seja, sua finalidade e sua utilidade. O consumidor de artesanato observa principalmente a beleza da peça, o que varia consideravelmente de pessoa para pessoa. Na Cooparigs, a grande maioria dos artesãos associados respondeu que julga suficiente conhecer o custo dos insumos e o valor do tempo empregado para determinar o valor de suas peças. Em vista disso, podemos considerar as respostas dos entrevistados sobre a fixação do preço de seus produtos não um equívoco, mas, sim, uma distorção de percepção. O maior aliado da boa comercialização é o escoamento da produção. A forma como os produtos chegam ao consumidor final é uma das estratégias mercadológicas mais importantes, pois a distribuição equivocada leva à estagnação das vendas. Os canais de distribuição, no caso do artesanato, podem ser diversos: lojas de rua, lojas em centros comerciais, feiras, Bric-a-Bracs, ven- Cooparigs|Avaliação do aspecto quadro social 183 SérieDesenvolvimento em Cooperativa da direta, venda em consignação, reembolso postal e comércio eletrônico, dentre outros. Assim, as alternativas se mostram as mais diversas, cabendo ao responsável pela comercialização escolher aquelas mais bem adequadas à clientela e ao tipo de produto oferecido. Dentre os canais mais promissores, podemos citar o comércio eletrônico que pode ser utilizado de maneira segura para os dois lados, o artesão, por meio da cooperativa, e o consumidor final. As entrevistas realizadas com os associados revelaram que menos da metade conhece a forma como é feita a distribuição dos produtos repassados à cooperativa. Foi possível identificar sinais de insatisfação com este fato, pois, na concepção dos entrevistados, a forma de escoamento dos produtos é um fator preponderante para o sucesso na comercialização. O fato de ignorarem como é feito o escoamento da produção pode ser um dos motivadores da insatisfação manifestada por parte dos entrevistados. 184 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto gestão Cooparigs|Avaliação do aspecto quadro social Diagnósticos e Recomendações 8 185 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 186 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O Aspecto Gestão pôde ser muito bem trabalhado quando da visita à Cooparigs. Houve uma participação intensa dos diretores e de membros do Conselho Fiscal. A cooperativa atua em praticamente todo o estado. Apesar de ter tido uma queda em seu quadro associativo, pode-se dizer que há grande penetração em todo o estado do Rio Grande do Sul. Os diretores foram provocados durante a entrevista a expor o máximo possível dos aspectos positivos e negativos da cooperativa. O primeiro passo foi explorar os objetivos da cooperativa, o que foi proposto por meio de perguntas diretas que foram respondidas na medida do conhecimento dos participantes. Procurou-se dar à entrevista caráter o mais informal possível para quebrar qualquer resistência. Cooparigs|Avaliação do aspecto gestão 187 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 8.1 Análise dos Objetivos da Cooperativa Para a primeira questão colocada, cujo teor aludia às sobras financeiras, os participantes responderam que tal quesito não fazia parte do regimento da cooperativa. Entretanto, quando questionados novamente, depois de esclarecido o que se queria dizer com “soReunião com a diretoria da Cooparigs bras”, passaram a considerar que tal preocupação deve ser tida como importante, senão a principal, pela cooperativa. Outra questão colocada foi sobre a participação da cooperativa em movimentos político-partidários, ao que foi respondido negativamente. Em seguida foi questionado se seria um objetivo da cooperativa proporcionar oportunidades para o exercício profissional de seus associados, ao que todos responderam que sim. Relativamente ao aumento do patrimônio líquido da cooperativa, os participantes responderam que entendem como uma necessidade, mas não como um objetivo. Assim como o quesito “sobras”, depois de esclarecido o que é patrimônio líquido, os entrevistados entenderam que seria uma necessidade, mas não um objetivo principal. A assistência técnica necessária aos associados para melhor execução de seus trabalhos foi considerada objetivo principal, bem como buscar 188 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações meios para atender às necessidades dos associados. Tais objetivos devem refletir no auxílio ao desenvolvimento das atividades dos associados, além de desdobrar-se em melhoria da qualidade de vida dos associados e na prestação de serviços de caráter assistencial à comunidade, além de gerar postos de trabalho e renda para a população. Ainda nesse quesito foi considerada importante a abertura de oportunidades de capacitação para os associados. Foi proposta uma questão que em princípio deixou os dirigentes desconfortáveis. Foi questionado se um dos objetivos da cooperativa seria atender aos interesses dos dirigentes. Tal questão foi rebatida com uma resposta negativa, entretanto, notou-se que havia algo mais que os participantes queriam dizer, mas que em função da metodologia preferiu-se adiar para um momento oportuno. Os participantes foram estimulados a apresentar objetivos outros que não tivessem sido propostos, ao que propuseram: Perenidade na produção (produtividade constante); Tornar o artesanato uma profissão efetiva (conscientização). Após essas colocações, buscou-se mais uma vez um entendimento melhor do que se estava propondo como objetivos e novamente algumas respostas mudaram. Quando questionados novamente sobre as “sobras”, houve certa divisão de opiniões, com alguns considerando um objetivo importante e outros, não. Segundo informaram, nos últimos tempos não têm havido sobras. Todavia passaram a considerar como um objetivo a ser perseguido pela cooperativa, ainda que não o principal. Alguém chegou a dizer que “não tinha caído a ficha”. Aproveitando a oportunidade foi esclarecido que a não-finalidade lucrativa não quer dizer que a cooperativa não deva ter superávit. Muito pelo con- Cooparigs|Avaliação do aspecto gestão 189 SérieDesenvolvimento em Cooperativa trário, a sustentabilidade de qualquer organização se dá pelo lucro, no caso de empresas comerciais, ou pelo superávit, no caso de empreendimentos não-comerciais. Ficou claro que lucro se distribui e superávit se reverte em função da associação ou em função dos associados da cooperativa. A partir desse esclarecimento os participantes adotaram outra postura em relação às “sobras”, pois passaram a entender que o superávit é que mantém a cooperativa e proporciona ganhos mais atraentes a todos. Outra dúvida que permaneceu foi sobre o aumento do patrimônio líquido. Ao que parece, os participantes tinham dúvida sobre o que seria “patrimônio líquido”. Esclareceu-se que patrimônio líquido era aquilo que poderia ser considerado o “capital” investido pelos associados (cotas-partes) mais o que foi obtido de superávit (sobras). Com esse esclarecimento passaram a enxergar o aumento do patrimônio líquido como um objetivo, além de uma necessidade. Passaram a ter o entendimento de que a Cooparigs, como entidade, teria um compromisso, uma dívida para com o artesão. Outra proposição tratou do aumento do número de associados, uma vez que é a massa de associados que dá sustentação à cooperativa, seja por suas contribuições (cotas-partes), seja por meio de sua produção. Os participantes consideraram que a ampliação do quadro de associados é um objetivo importante e deve ser perseguido. Quando confrontados novamente com a questão do atendimento dos interesses dos dirigentes, os participantes fizeram questão de esclarecer que o que estava acima de tudo seria o interesse coletivo, a criação de postos de trabalho, curso de capacitação, oportunidades constantes de trabalho, perenidade na produção e tornar o artesão um profissional reconhecido. Não resta dúvida de que existe um movimento de renovação na cooperativa. O presidente é um associado que vive do artesanato e, portanto, é conhecedor das necessidades dos profissionais que vivem desta atividade. 190 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo 8.2 Diagnósticos e Recomendações Pode-se considerar que é uma oportunidade muito interessante do ponto de vista de revitalização da cooperativa, já que a pessoa que a encabeça tem noção de quais objetivos são realmente importantes para o desenvolvimento das atividades de artesanato no contexto de uma cooperativa de tão grande relevância como a Cooparigs. Estatuto e Assembléias A entrevista com os participantes da diretoria revelou que a cooperativa possui estatuto desde sua fundação, tendo este sofrido poucos ajustes desde sua homologação. Não existe um regimento interno para a regulamentação do estatuto, ou seja, as proposições do estatuto não possuem um documento auxiliar para dar mais transparência ao que está proposto. Os objetivos propostos no estatuto não ficam claros, o que poderia ser mais bem trabalhado em um documento mais extenso e aberto como um regimento interno. A realização de assembléias também deixa a desejar, uma vez que em se tratando de assembléias extraordinárias, somente foram realizadas duas nos últimos dois anos. Nessas assembléias, um dos assuntos tratados foi a criação de novos fundos de reserva. A última reunião ocorreu na sede da prefeitura e a convocação foi anunciada em jornal de grande circulação. Outro assunto tratado foi a destituição da diretoria da gestão anterior. Segundo os entrevistados, havia um descontentamento geral com a gestão que vinha se praticando, pois faltava transparência. A falta de transparência refletia-se principalmente na questão financeira. Segundo os relatos, houve uma série de gastos que podem ser considerados como de Cooparigs|Avaliação do aspecto gestão 191 SérieDesenvolvimento em Cooperativa eficácia duvidosa, uma vez que não traziam nenhum benefício para a cooperativa ou para seus associados. Houve então uma eleição para que fosse escolhida a nova diretoria. Na assembléia que decidiu pela destituição da diretoria anterior, houve grande participação dos associados. Para a eleição da nova diretoria participaram de 30 a 50 associados. Da última assembléia ordinária participaram 22 associados. Segundo os entrevistados, poucos associados visitam a cooperativa. Um dos motivos é a distribuição geográfica dos associados. Tal comportamento não pode ser imputado à cooperativa, uma vez que a instituição acionou vários canais como programas na televisão, entrevistas a jornais, realizou pesquisas. Entretanto, o grande espalhamento geográfico dificulta a participação mais intensa dos associados. Nas assembléias, os núcleos de Bagé, Osório e Serra sempre enviam alguns representantes. A cooperativa tem atualmente 102 associados em todo o Rio Grande do Sul. Foi sugerido por uma das participantes da entrevista que fossem feitas “miniassembléias” - o que facilitaria a participação dos associados mais distantes - que ocorreriam em alguns núcleos que pudessem aglutinar certo número de associados. Outra sugestão apresentada foi a de que as assembléias gerais ocorressem ao menos uma vez ao ano, com participação maciça. Outra sugestão apresentada foi a disponibilização de informações por meio do site da cooperativa. As informações mais importantes poderiam ser disponibilizadas e acessadas pelos associados. O grande problema nesse tipo de comunicação é a baixa acessibilidade dos associados à internet. Segundo informações colhidas durante a entre- 192 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Infere-se pelas informações obtidas na entrevista que as grandes distâncias dificultam as visitas espontâneas e que as ações propostas não partem da maioria dos associados, e sim de uma minoria que gravita em regiões mais próximas da cooperativa (Região Metropolitana de Porto Alegre). Diagnósticos e Recomendações vista, a inclusão digital dos associados ainda está longe de acontecer devido, basicamente, à baixa renda e à indisponibilidade do serviço de banda larga em algumas regiões. Apesar de não constar do estatuto, informalmente, a cooperativa não aceita sócios que não estejam registrados na federação gaúcha do trabalho. O artesão tem que fazer três peças para passar na triagem. Existem já três propostas para uma reformulação estatutária. Não foram colocadas em prática por falta de realização das assembléias extraordinárias. Quando entram na cooperativa, os associados recebem cópia do estatuto, desde que solicitem. Não é praxe da cooperativa fornecer espontaneamente o estatuto. 8.3 Conselhos Os conselhos, tanto o de Administração como o Fiscal, são compostos por voluntários que exercem suas funções sem receber remuneração. As funções básicas de cada conselho estão definidas no estatuto da instituição. Conforme avaliado anteriormente, a falta de um regimento interno torna a descrição das funções um pouco herméticas. Um regimento interno poderia deixar mais claras as reais prerrogativas e exigências das ações dos conselhos. O Conselho de Administração é atuante e busca a melhoria das condições da cooperativa e de seus associados, cobrando resultados, tanto da administração quanto dos artesãos, na medida do possível. Cooparigs|Avaliação do aspecto gestão 193 SérieDesenvolvimento em Cooperativa O Conselho Fiscal é bem preparado, sendo que a maioria dos integrantes passou por capacitação para exercer suas funções. Além do papel fiscalizador, o Conselho Fiscal contribui com idéias e sugestões e vem entregando seus pareceres dentro dos prazos estabelecidos. A diretoria atual vem buscando realizar ações mais focadas, principalmente no sentido de capacitar melhor os membros dos conselhos em cooperativismo e gestão. O Conselho de Administração se reúne mensalmente e o Conselho Fiscal até duas vezes por mês, o que denota seriedade e participação de ambos nos rumos a serem tomados pela cooperativa. A atual gestão já se encontra em seu segundo mandato, portanto, foi reeleita. A diretoria anterior foi destituída em assembléia simples, sem a ocorrência de uma assembléia extraordinária. O Conselho Fiscal detectou irregularidades na gestão e propôs a destituição. A motivação foi a aquisição de dez aparelhos celulares que foram distribuídos para alguns associados. Houve uma grande reação por parte dos artesãos que reclamaram direitos iguais para todos os associados. Apesar da boa intenção, nota-se que houve uma irregularidade na condução formal do processo, uma vez que a diretoria somente poderia ser destituída por meio da convocação de uma assembléia extraordinária. O Conselho de Administração tem a possibilidade de se eleger por um mandato e se reeleger por mais dois. Já o Conselho Fiscal tem que ser renovado em um terço a cada finalização de período. Quanto aos cargos de presidente e vice-presidente, o estatuto prevê rotatividade a cada período. Conforme relatado anteriormente, a atual administração é composta principalmente por membros antigos da cooperativa. Alguns já participaram por períodos de até 12 anos, como é o caso da “Sra. Noemia”, atualmente no Conselho Fiscal. 194 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo 8.4 Diagnósticos e Recomendações A atual presidente já chegou a ser reeleita para quatro mandatos não consecutivos e a vice-presidente para três. O atual diretor está em seu primeiro mandato. Administração A administração da cooperativa se concentra na sede, em Porto Alegre. Apesar da concentração na região metropolitana, os colaboradores que atuam na instituição se esforçam para dar atendimento a toda a base de associados. Existem evidentemente falhas na organização, prinÁrea de administração da Cooparigs cipalmente em se tratando de processos de gestão. Um exemplo é o caso da relação dos associados ativos. A primeira menção relatava que a cooperativa tinha uma base de mais de 300 associados. Entretanto, ao se verificar a listagem, o número decresceu para pouco mais de 100 associados ativos. Portanto, há a necessidade de melhor controle da relação de associados. Outro fator preocupante é a falta de um diagnóstico anterior ao presente trabalho. Os entrevistados afirmaram que sempre existiu um temor quanto a uma verificação aprofundada das ações realizadas pelas diretorias. O receio não era somente da diretoria, mas de todos os funcionários ligados à gestão. Jamais foi dado andamento a qualquer processo que buscasse identificar vícios ou virtudes existentes na cooperativa. Cooparigs|Avaliação do aspecto gestão 195 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Quanto ao planejamento estratégico, existe a consciência de sua necessidade, entretanto pouco se está conseguindo. Existe um planejamento, mas as ações ali propostas muitas vezes nem chegam a ser monitoradas, o que remete à falta de controle já mencionada. Aparentemente, a cooperativa está buscando a profissionalização de sua gestão. A despeito dos esforços despendidos, o gerenciamento vem sendo feito ainda de forma amadora. Não se quer aqui imputar qualquer tipo de crítica ao trabalho que vem sendo desenvolvido, mas tão-somente chamar a atenção para o fato de que os resultados apresentados estão muito aquém daqueles que são possíveis de ser alcançados. 8.5 Relacionamento com os Associados Desde 2006, tem-se realizado um trabalho intenso, contatando os associados que não participam. Os associados são convidados a trazer idéias novas. Apesar do esforço, ainda existem muitos associados pendurados na cooperativa que não contribuem em nenhum momento. A própria diretoria se envolve no trabalho, por meio de visitas às residências dos associados. Os associados também são incentivados à participação por meio de cartas registradas. As comunicações formais visam principalmente a atrair os associados para participarem mais efetivamente da cooperativa, mas há também comunicações relativas a faltas que os associados devem sanar no departamento jurídico da cooperativa. Há a constatação de que não adianta inchar a cooperativa. Os dirigentes também enxergam a necessidade de constar no estatuto a forma de desligamento de associados. A falta de participação ou iniciativa deveria ser um dos motivos para o desligamento. Existe evidentemente a necessi- 196 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo A cota-parte está fixada em R$ 260,00 (duzentos e sessenta reais) que pode ser parcelada. Aproximadamente metade dos associados está inadimplente. A solução que vem sendo adotada é a retenção de parte dos rendimentos quando o associado comercializa algum produto por meio da cooperativa. 8.6 Diagnósticos e Recomendações dade da separação dos inativos, que representam aproximadamente 1/3 do total. Entretanto, sem uma previsão estatutária, todos são colocados no mesmo rol. Um agravante é a falta de quorum para que se faça uma revisão no estatuto que atenda tal anseio. Relacionamento com OCB, Ocergs e Poder Público A OCB tem apoiado a cooperativa, por meio da Ocergs, com medidas incentivadoras. Entretanto, os entrevistados consideram que poderia haver uma participação mais efetiva da unidade regional da OCB. A cooperativa recolhe regularmente sua contribuição à Ocergs. Segundo informado, a instituição se encontra adimplente com o sistema. Houve um pedido recente para a prorrogação do prazo para o recolhimento da contribuição para que a cooperativa não se tornasse inadimplente. A cooperativa também sofre auditorias regulares. Segundo os entrevistados, a cooperativa foi sorteada no segundo semestre de 2007 para a realização de uma auditoria pela Ocergs. Além da Ocergs, a cooperativa não contribui para nenhuma outra associação ou entidade representativa. Foi informado, entretanto, que alguns artesãos estão formando um sindicato e certamente contribuem para sua sustentação. A diretoria considera a atitude imprópria, uma vez que julgam que a cooperativa pode muito bem representar os interesses da classe. Cooparigs|Avaliação do aspecto gestão 197 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A cooperativa foi obrigada a tomar empréstimo ao final de 2006 no Sicredi para pagar o 13° salário dos funcionários. Faltou capitalização para honrar o compromisso. O relacionamento da cooperativa com o poder público se dá por meio de órgãos municipais e estaduais. O estado desempenha um papel muito mais relevante. Como exemplo, o órgão estadual incentivador do trabalho isenta de ICMS os produtos artesanais. Além disso, todo artesão que queira usar alguma forma de incentivo do estado necessita ter a Carteira do Artesão. Recentemente foi atualizado o cadastro das inscrições da Casa do Artesão. Outro órgão estadual que tem um papel importante perante os artesãos é a Emater. Nas áreas agrícolas dão assistência técnica para a coleta de insumos e oferecem oficinas para cestaria feita a partir da folha de bananeira. Em se tratando de parceria com instituições de pesquisa, a cooperativa conta com o apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) na área de design. Os contatos com os organismos públicos, entretanto, são esporádicos, não fazendo parte da política da cooperativa. 198 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Recomendações Cooparigs|Avaliação do aspecto gestão Diagnósticos e Recomendações 9 199 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 200 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Assim, recomenda-se: Diagnósticos e Recomendações Com o presente capítulo não se pretende prescrever soluções mirabolantes ou extraordinárias. Busca-se, sim, prover um rol de recomendações que deverão ser debatidas para que se chegue a um consenso sobre o(s) melhor(es) caminho(s) a ser(em) seguido(s). Realização de pesquisa com vistas à prospecção de mercado para os principais produtos da Cooparigs, tanto no mercado nacional como no internacional; Promover cursos de capacitação para os artesãos responsáveis pelos principais produtos da Cooparigs focados na qualidade e estética das peças, com vistas a melhorar a aceitação dos produtos tanto no mercado nacional como no internacional; Ampliar as práticas cooperativistas com os associados com o intuito de resgatar a identidade da cooperativa; Aproveitar melhor as parcerias já estabelecidas e ampliar o universo de parceiros; Descentralizar a administração da cooperativa, criando postos avançados, o que deverá permitir maior interiorização da instituição, ampliando, assim, sua capilaridade e seu poder de atuação; Resgatar o uso da marca Mão Gaúcha, aproveitando sua potencialidade na divulgação dos produtos da Cooparigs; Realizar estudo para definir as melhores práticas para a comercialização dos produtos. Realizar estudo para definir os melhores canais de distribuição dos produtos nos mercados nacional e internacional. Cooparigs|Recomendações 201 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 202 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 10 Anexo Cooparigs|Recomendações 203 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 204 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Para corroborar o diagnóstico da Cooparigs, foi realizada uma pesquisa com os associados para o levantamento de tendências consideradas importantes. Trabalho de campo que demandou dois dias de intensa movimentação. Diagnósticos e Recomendações Pesquisa In Loco Primeiramente, os associados foram convidados a uma reunião informal na sede da cooperativa, na qual puderam expor suas opiniões sobre a cooperativa e sobre as dificuldades encontradas por eles no papel de artesãos. Além disso, foram orientados a responder o questionário apresentado na seqüência. Posteriormente, foram realizadas visitas a alguns associados escolhidos aleatoriamente na Região Metropolitana de Porto Alegre, para entrevistas e aplicação do questionário. As entrevistas foram realizadas informalmente com o intuito de colher mais informações relevantes que não estivessem contempladas no questionário. O trabalho de campo revelou-se muito proveitoso, tendo em vista que possibilitou a obtenção de uma gama de informações que dificilmente seriam obtidas a distância. Questionário O questionário aplicado na pesquisa foi elaborado com a intenção de levantar as informações mais relevantes para a avaliação da participação dos associados nas atividades da cooperativa. As questões foram elaboradas da maneira mais simplificada possível para não causar estranheza aos entrevistados e trazer informações com o mínimo de viés possível. Cooparigs|Anexos 205 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 206 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Cooparigs|Anexos 207 Diagnósticos e Recomendações SérieDesenvolvimento em Cooperativa 208 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações capa coopercrutac Cooparigs|Anexos 209 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 210 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O objetivo principal do trabalho de diagnóstico situacional é apresentar o estágio atual da Cooperativa de Produção Artesanal do Crutac (Coopercrutac) no estado do Rio Grande do Norte, compreendendo os seguintes aspectos: i) análise do histórico; ii) identificação do perfil dos associados; iii) verificação da forma de atuação dos dirigentes; iv) identificação das necessidades técnicas, operacionais e de gestão da cooperativa. Este trabalho foi executado com base na metodologia pesquisa-ação, desenvolvido pelo Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília. Coopercrutac 211 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 212 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 1 Apresentação Coopercrutac 213 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 214 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Muitas são as alternativas apresentadas no que se refere à geração e à manutenção de empregos, entre elas, a criação de empreendimentos associativos com vistas a minimizar o impacto causado pelas condições climáticas e a escassez de recursos naturais, tais como a água. Diagnósticos e Recomendações A região nordestina, composta por nove estados, possui como principal característica a problemática da seca, um forte entrave ao desenvolvimento socioeconômico e de subsistência das populações. O Nordeste, entre as demais regiões do País, é a que detém a maior parcela da pobreza nacional, em que a subutilização da força de trabalho tem se apresentado de forma crescente. Muitos fatores contribuem para essa chaga social. Dentre eles, as constantes flutuações migratórias, a instabilidade pluviométrica, as instabilidades sociais, políticas e econômicas convergem para a elevação da demanda por mão-de-obra disponível para absorção no mercado de trabalho. Porém a oferta é menor do que a procura, aumentando o universo de desempregados e subempregados, refletindo em todos os estados nordestinos, principalmente em suas capitais. A partir desse cenário, infere-se a situação do Rio Grande do Norte no que se refere a esse indicador de qualidade de vida, em que grande parte de sua população economicamente ativa está envolvida com atividades do setor primário da economia potiguar, destacando-se no setor agropecuário a carcinocultura, a fruticultura irrigada e a pecuária. O setor industrial possui um parque têxtil importante para o PIB do estado, assim como as instalações de processamento de petróleo e gás natural da Petrobras. Pela sua privilegiada posição geográfica, na chamada esquina do continente ou esquina do Atlântico, a capital, Natal, possui mais de 800.000 habitantes, sendo a cidade que mais recebe estrangeiros – muitos, inclusive, tornam-se residentes – da região Nordeste. Coopercrutac|Apresentação 215 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Com a perspectiva do subemprego e em face da sazonalidade turística, o artesanato surge na economia potiguar como um recurso complementar de renda, sendo em muitos casos a principal fonte de recursos de uma parcela expressiva da população, que encontrou nessa atividade um modo alternativo de subsistência. Dados da Secretaria Estadual de Trabalho e Bem-Estar Social – Programa de Artesanato (STBS/PROART) da década de 1990 apontavam que 65.000 famílias sobreviviam das atividades artesanais. Esses artesãos constituíramse em associações e cooperativas de produção e trabalho, dedicando-se ao aproveitamento das principais matérias-primas encontradas no estado, tais como sisal, palha de carnaúba, junco, sementes, couro, madeira, areia e barro, produzindo uma grande variedade de artigos artesanais. Além da produção de artigos de cerâmica utilitária e decorativa, bolsas e cestarias em sisal, palha de carnaúba e junco, de artigos de couro genuinamente regionais, dos móveis e talhas feitos a partir de madeiras da região, o Rio Grande do Norte é também produtor de bordados, renda de labirinto e redes. Nesse contexto, o artesanato assume posição relevante no conjunto das atividades produtivas rentáveis. E, nesse ambiente criativo, de valorização das identidades regionais, dos valores culturais e de perspectivas comerciais favoráveis, o movimento associativista começa a se estabelecer na capital, ramificando-se por quase todo o estado. Entrementes, o debate sobre o movimento do cooperativismo de trabalho e produção tem um caráter reformista e revolucionário, em que as transformações capitalistas mudaram o perfil da classe trabalhadora. A crise da sociedade salarial ou do modelo fordista, que agregou direitos sociais à relação de trabalho, reapresentou a necessidade de buscar formas alternativas de organização do trabalho e de autonomia dos trabalhadores diante do crescimento do desemprego, da perda dos direitos sociais e do enfraquecimento do movimento sindicalista (Lima, 1998). 216 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo A experiência brasileira no movimento cooperativista pode ser considerada como recente. No período anterior à década de 1980, existiram várias experiências de cooperativas de crédito, habitacional e agrícola, entretanto, somente a partir da segunda metade dessa década, é que as cooperativas de trabalho e produção começaram a se organizar e ganhar visibilidade. O cenário social e político da época incensava as primeiras manifestações internas quanto às necessidades de mudanças econômicas a partir da reestruturação das plantas fabris e da adoção das políticas neoliberais ao final dos anos 1980, incrementando o movimento do cooperativismo de trabalho e produção no País. Diagnósticos e Recomendações Numa visão mais ampla, a proposta do movimento cooperativista, juntamente com outras formas associativas de organização, tem sido recuperada com o objetivo de dar continuidade à luta por uma sociedade mais igualitária e socialista nesse novo contexto do desenvolvimento capitalista. O fechamento de fábricas e as tentativas de recuperação foram estudados por vários autores. Entre estes, Holzmann (2001), que chamou a atenção para o caso da fábrica de fogões Wallig, no Rio Grande do Sul, que suspendeu suas atividades em 1984. Seus trabalhadores, então, organizaram duas cooperativas de trabalho, uma de mecânicos e outra de fundição. A viabilidade dessas entidades só ocorreu pelo convencimento por parte de seus trabalhadores quanto a abrir mão de seus direitos trabalhistas, tornarem-se patrões de si mesmos, mantendo, assim, seus empregos. A cooperativa que permaneceu foi a de mecânicos, devendo-se ao fato de que o nível de esclarecimento, nesse grupo, era maior. Outro fato ocorrido de recuperação fabril, desta vez na região Nordeste, foi o da Tecelagem Mandacaru, em João Pessoa, Paraíba, ilustrado por Nascimento (1993). A partir de uma grande mobilização social por parte de seus trabalhadores, o estado assumiu o controle da empresa, criando uma cooperativa, garantindo o seu funcionamento, mesmo que precário, até o fechamento no início da década de 1990. A cooperativa fracassou por problemas de comercialização, equipamentos obsoletos e ausência da cultura associativa. Coopercrutac|Apresentação 217 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Muito embora o movimento cooperativista tenha sido originário do movimento operário e socialista de contestação ao capital, constituindo-se em alternativa ao modelo de produção capitalista, este também foi apropriado por propostas reformistas de inspiração cristã direcionadas às relações humanas de capital e trabalho. Essas reflexões remetem ao status quo das cooperativas, em especial do estado do Rio Grande do Norte, onde a frágil cultura associativa, associada ao imediatismo de seus empreendedores, aponta para uma necessidade de internalização dos princípios cooperativistas, da ampliação de conhecimento dos aspectos mercadológicos e da melhoria de seus processos de gestão. 1.1 O Cooperativismo – Histórico e Peculiaridades As cooperativas podem representar uma unidade produtiva, inclusive com produção em larga escala, mas com pequenos proprietários unidos, consolidando um capital financeiro, tecnológico e social, que as associações de trabalhadores têm. Elas possuem na sua essência a luta contra a formação dos chamados “impérios” econômicos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), na década de 1960, elaborou um documento com representantes dos países em desenvolvimento, no qual havia recomendações para se criar cooperativas como meio de realização das aspirações da população desses países. O documento alertava, porém, que, para isso ser possível, seria necessário que o País e sua população estivessem dispostos a muitas renúncias e sacrifícios. De acordo com Carvalho (1983), o cooperativismo foi se expandindo, mesmo com uma série de dificuldades e crises, principalmente em países como Inglaterra, Suíça, Suécia, Finlândia e outros. Para este autor, os benefícios desse movimento são bastante significativos, levando à sua crescen- 218 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo As sociedades cooperativas também são caracterizadas como sociedades de pessoas, destacando o fator trabalho para as votações (cada cooperado tem direito a um único voto), ao passo que, nas sociedades de capital, o fator mais importante é o capital, sendo o voto nas assembléias proporcional ao capital de cada investidor. 1.2 Diagnósticos e Recomendações te expansão. Na Suécia, a cooperativa de consumo, que é composta por diversas cooperativas unidas a uma central, tem uma grande importância no abastecimento das cidades. Breve Histórico do Cooperativismo O movimento de cooperação surge na Idade Média, nos mosteiros cristãos, no século XIV, na Rússia, e entre os povos eslavos, comunidades de pequenos produtores agrícolas e de pescadores. Com a Revolução Industrial, surgiram novas oportunidades de ganhos e acumulação de capital, que se concentraram no meio empresarial (donos de manufaturas). Os operários permaneciam em extrema pobreza. Robert Owen (1771-1858), um importante industrial galês de tecidos de algodão, é considerado o pai do cooperativismo. Em 1813 fundou sua própria firma, mas devido a vários desentendimentos com seu sócio, deixou a Europa e partiu para a América do Norte, a fim de promover a associação de dois mil e quinhentos operários, com a firme intenção de organizar uma sociedade comunista perfeita. Seguindo a cronologia dos fatos, surge o cooperativismo na Revolução Industrial e, no ano de 1884, vinte e oito operários de Rochdale, cidade próxima a Manchester, inspirados em Robert Owen, iniciaram a experiência do cooperativismo. Coopercrutac|Apresentação 219 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A cooperativa tinha por objetivos não somente a produção, mas também a melhoria das condições de vida de seus associados. A produção era realizada de forma a introduzir no quadro dos operários aqueles que estivessem desempregados ou com redução de seus salários. Havia compra de terras para que os desempregados ou aqueles com salários insuficientes trabalhassem nelas e possuíssem um rendimento. A partir dessa iniciativa estava criado o movimento cooperativo. Em outubro de 1844, com a união dos parcos recursos, os tecelões de Rochdale registraram e fundaram uma sociedade, a Rochdale Society of Equitable Pionners, uma cooperativa de consumo. O estatuto da Sociedade dos Justos Pioneiros de Rochdale, em seu famoso artigo primeiro, estabelece que desde o momento em que seja possível esta sociedade empreenderá a organização das forças de produção, de distribuição, de educação e de governo, dito em outras palavras, o estabelecimento de uma colônia que baste a si mesma, que prestará ajuda a outras sociedades para estabelecer colônias semelhantes àquela. (Batalha, 1997) 1.3 O Cooperativismo no Brasil No Brasil, o cooperativismo teve, em 1610, os primeiros indícios nas colônias de Vila Rica e Guaíra, dirigidos pelos padres jesuítas, sob forma de mutirão. Porém a implantação real no Brasil se inicia com a primeira Lei Orgânica de 1907, o Decreto nº 1.637, de 5 de janeiro, que cuidava também dos Sindicatos Rurais. As cooperativas podiam emprestar sob hipoteca de imóveis, penhor agrícola, estabelecendo para estes fins armazéns gerais, na forma da lei em vigor. Além disso, ainda podiam emitir bilhetes de mercadorias, receberem em depósitos, dinheiro a juros, não só dos sócios como de pessoas estranhas à sociedade. Devido a isso puderam ser criadas seções de 220 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo No início da década de 1960, a modificação da legislação cooperativista já se tornara uma das mais veementes reivindicações do movimento cooperativo brasileiro. Diagnósticos e Recomendações créditos nas cooperativas, posteriormente tornando-se uma tradição, interrompida pelo Decreto-Lei nº 59, de 21 de dezembro de 1966. Na década de 1970 foi criada a Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que em seus artigos 3º e 4º expõe os princípios doutrinários da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), caracteriza esta sociedade como uma atividade econômica de proveito comum sem o objetivo de lucro, tendo as características já citadas no item anterior. O artigo 5º assegura o direito do uso da nomeação cooperativa e o artigo 38 enfatiza o princípio democrático que afirma a assembléia geral como órgão máximo de decisão da cooperativa. A Constituição Brasileira de outubro de 1988 contempla o cooperativismo com o parágrafo XVIII do art. 5º, que veda a interferência estatal no funcionamento destas sociedades, que hoje são de livre constituição; o art. 146, parágrafo 3º, item c, assume o ato da cooperação de forma diferenciada do ato comercial, inclusive para fins de tributação; e ainda o art. 174, parágrafo 2º, obriga a lei e o Estado a apoiar e estimular o cooperativismo e outras formas de associativismo. (Batalha, 1997:522) Ainda segundo o mesmo autor, no início da década de 1990, as cooperativas representavam um faturamento de perto de 20 bilhões de dólares, próximo de 5% do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB), tendo um total de exportações de 657,1 milhões de dólares, segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras. Coopercrutac|Apresentação 221 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 1.4 Fundamentos do Cooperativismo Segundo Carvalho (1983:15), “o Cooperativismo se fundamenta em princípios sólidos, lançados pelos seus próprios criadores”: 1º) a livre adesão: o cooperado tem livre entrada e saída da cooperativa, obedecendo às condições determinadas pelo estatuto; 2º) o controle democrático: todas as decisões são tomadas em assembléias gerais, em que participam os órgãos supremos das cooperativas que, democraticamente, opinam em função do princípio majoritário. Cada associado tem direito a um voto, concedendo ao homem direito de controle das atividades da cooperativa; 3º) o juro limitado: é proibida a distribuição de qualquer benefício às cotas-partes do capital ou conceder outras vantagens aos associados exceto os juros de, no máximo, 12% ao ano, para que os rendimentos se destinem às melhorias nas cooperativas, e não ao aumento individual de renda de associado; 4º) a distribuição proporcional: refere-se à parte do lucro que o associado tem direito, de acordo com as transações realizadas por ele; 5º) a venda e compra à vista: todas as transações são realizadas em dinheiro, para facilitar a contabilidade; 6º) a neutralidade política e religiosa: o princípio subsiste até hoje, mas não é universal; 7º) o estímulo à educação: como fator essencial e indispensável à preparação e transformação da mentalidade do homem, a fim de conseguir alcançar o bem comum, com organização e solidariedade. 222 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Sociedade Comercial Sociedade de capital; Diagnósticos e Recomendações As principais diferenças entre a sociedade cooperativa e a sociedade comercial estão listadas a seguir: Objetivo principal: lucro; Número limitado de acionistas; Cada ação, um voto; Assembléia: quorum baseado no capital; Transferência das ações a terceiros; Dividendo proporcional ao valor das ações. Sociedade Cooperativa Sociedade de pessoas; Objetivo principal é a prestação de serviços; Número ilimitado de associados; Controle democrático - um homem, um voto; Assembléia: quorum baseado no número de associados; A transferência das cotas-partes a terceiros, estranhos à sociedade, não é permitida. Coopercrutac|Apresentação 223 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A partir desta comparação, percebe-se que as cooperativas têm duas características próprias: a primeira refere-se à cooperativa como uma extensão das atividades econômicas de seus associados; a segunda relaciona-se ao fato de que os associados são “co-proprietários” da empresa, mas também são usuários, pois suas transações são um meio indispensável de manutenção e desenvolvimento das cooperativas. As cooperativas, atualmente, segundo Jank (1997), possuem dois problemas: profissionalização da administração, com estruturas formadas de maneira política, levando a uma incerteza na definição do que é propriedade e controle. A propriedade é, com certeza, dos cooperados, mas o controle tem de ser exercido por equipes que possam administrar a cooperativa, que saibam do comportamento do mercado e que tenham estabilidade nas suas decisões no longo prazo. O segundo problema é a orientação para o mercado, e, nesse aspecto, muitas cooperativas têm dificuldades de entender as questões relacionadas com o mercado e orientam-se para o produtor. Elas têm de observar a necessidade dos consumidores e ter em sua cadeia produtiva aqueles produtores que atendam aos requisitos de um produto final de acordo com essas exigências. As cooperativas possuem um órgão máximo do movimento cooperativista mundial que se denomina Aliança Cooperativa Internacional (ACI), criada em 1895, que estabelece princípios fundamentais para a caracterização de uma cooperativa, bem como para a filiação em seus quadros, apesar de em várias oportunidades esses pontos terem sido discutidos em suas assembléias gerais e passado por algumas pequenas modificações. Wisner (1987). A partir desse contexto do movimento cooperativo e de sua extensão nas cooperativas, o diagnóstico revela-se como um importante documento identificador da problemática vivenciada pelas entidades e seus cooperados, tendo por finalidade a apresentação de possíveis soluções que possam reverter ou minimizar os efeitos dos processos equivocados da gestão e de entendimento do comportamento associativista. 224 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 2 Histórico Coopercrutac|Apresentação 225 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 226 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo O Início da Trajetória A Coopercrutac, constituída em 8 de dezembro de 1970, iniciou suas atividades pela necessidade de diversos cooperados. Sua primeira sede administrativa localizou-se no município de São José do Campestre, cuja atuação abrangia, desde à época de sua criação, todo o estado do Rio Grande do Norte. Atualmente, mantém em Natal um escritório de apoio à sua administração. Diagnósticos e Recomendações 2.1 Nasceu de um projeto técnico, político e pedagógico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Crutac (Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária), órgão integrante da universidade responsável pelos programas de extensão. Primeiramente foi denominada Cooperativa de Artesanato do Litoral Sul e Trairi, com quadro aproximado de 1.200 associados ativos. A atuação da UFRN foi de grande importância para os primeiros passos, quando da criação da cooperativa, tanto que esta foi instalada no prédio da universidade. Atualmente desativado, este prédio é objeto de litígio dos artesãos, que têm interesse em vê-lo tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) devido à sua arquitetura originariamente holandesa. Em 1970, os estagiários da área de assistência social, artes e outros departamentos do Crutac da UFRN desenvolviam os trabalhos de identificação de comunidades carentes, quando constataram a existência de muita matéria-prima desperdiçada nos municípios abrangidos pela pesquisa. Identificaram, então, a necessidade de se atuar com as mulheres sem perspectivas de engajamento no mercado de trabalho, devido à condição social em que se encontravam. A partir dessa situação, o departamento de artes da UFRN passou a promover cursos e treinamentos, o que resultou na atual estrutura de produção. Importante ressaltar a importância da continuidade do apoio e Coopercrutac|Histórico 227 SérieDesenvolvimento em Cooperativa do suporte desta instituição para a permanência da cooperativa no mercado do artesanato. Em 1978, receberia o nome de Cooperativa dos Assistidos do Crutac. Em 1992, durante o governo Collor, o Crutac foi extinto e o trabalho dos departamentos da universidade, descontinuado. Em 2002 a cooperativa foi denominada Coopercrutac – Cooperativa de Produção Artesanal do Crutac. A cooperativa e seus associados decidiram pela permanência do nome, tendo em vista seu alcance e publicidade, já que o grupo ainda contava com apoio da universidade no que diz respeito ao uso das instalações do prédio, porém sem a estrutura anterior que envolvia pessoal, material de apoio, equipamentos e energia. A cada eleição para reitoria, a cooperativa sofre com uma expectativa de mudança de local, aguardando uma provável situação de despejo. Assim, a Cooperativa vem mantendo-se na sua sede, numa situação permanentemente provisória, sustentando uma relação amigável e ao mesmo tempo estreita com os gestores da UFRN. 2.2 A Situação Atual – Breve Panorama A Coopercrutac e seus associados estão num processo de convencimento do poder público local para manter a sede nas instalações no prédio da UFRN – Av. Rio Branco, 743 – Centro – Natal. E, apesar da precariedade do edifício, do tombamento e da reforma necessária para o desenvolvimento de atividades de produção e comercialização, há uma proposta em andamento que contempla a restauração do prédio pelo Iphan. A articulação é fortalecida pela iniciativa e pelo poder de influência da presidente. Porém as relações institucionais da cooperativa com o governo do estado estão estremecidas por conflitos de interesses suscitados e fortalecidos por algumas instituições locais. 228 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Os grupos de produção ou núcleos espalhados pelo estado têm total ou parte do apoio da cooperativa no que se refere à comercialização e à divulgação dos produtos. Nesses processos, seus líderes são independentes, demonstrando que grande parte dos pedidos e das vendas ocorre sem o conhecimento ou participação da Coopercrutac. Diagnósticos e Recomendações A cooperativa perdeu, no decorrer dos anos, prestígio, assim como associados, por motivos de desistência voluntária, falecimento ou migração. São realizadas campanhas de adesão com pouco ou nenhum êxito. A cooperativa tem participado de eventos, tais como feiras, exposições de abrangência local, regional e nacional, e procura estabelecer parcerias para novos pedidos e comercialização dos produtos. Os associados que ainda permanecem alimentam a esperança de que a cooperativa possa resgatar os tempos áureos de produção e comercialização de seus produtos, principalmente na sede, no centro da capital. Os dirigentes vêm buscando formas alternativas para promover a sustentabilidade da cooperativa. Uma das formas encontradas reside na apresentação de projetos com vistas à qualificação de jovens no primeiro emprego, cursos e treinamentos para artesãos e projetos de qualificação de gênero. Coopercrutac|Histórico 229 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 230 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Metodologia de Trabalho Coopercrutac|Histórico Diagnósticos e Recomendações 3 231 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 232 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O diagnóstico relativo à organização da cooperativa Coopercrutac foi feito por meio de entrevistas semi-estruturadas com as cooperadas de forma a se obter, entre outras, informações sobre os aspectos de base associativa, produção, gestão, mercado e comercialização, em conformidade às teorias de análise quanto às contingências e às configurações dos modelos criados pela entidade na sua prática cotidiana como organização. Dessa forma, tentou-se identificar a forma de funcionamento da cooperativa, sua organização interna, divisão do trabalho e remuneração, o tipo de controle e de gerenciamento empregados, equipamentos, fornecedores e clientes. Pelas características da organização estudada, buscou-se também entender como cada um de seus cooperados se vê na organização, que importância dá à cooperativa e à sua participação e que futuro vislumbra para a entidade. A partir do diagnóstico pretende-se propor aperfeiçoamentos na sua condução e gestão de modo a obter maior eficiência. Considerando-se que, diferente da empresa privada, o custo da mão-de-obra é, nesse caso, realmente fixo, essa eficiência somente poderá ser obtida utilizando-se melhor os diversos recursos, a fim de melhorar a capacidade produtiva, reduzindo-se os demais custos. A melhor utilização dos recursos poderá significar também o aperfeiçoamento das competências e habilidades do quadro de cooperados, a fim de, por exemplo, fornecer-lhes melhor capacidade gerencial e de controle. Vale ressaltar que tais recomendações serão acolhidas e aplicadas em comum acordo com os cooperados, na intenção de buscar soluções para os problemas enfrentados. O detalhamento e a implantação dessas soluções também serão feitos de forma a garantir a devida participação dos cooperados, a fim de efetivamente atender a suas necessidades e de maneira que as soluções sejam devidamente incorporadas pelo grupo, vislumbrando a sustentabilidade da entidade ao longo do tempo. Coopercrutac|Metodologia de trabalho 233 SérieDesenvolvimento em Cooperativa O presente trabalho foi desenvolvido em duas etapas: Etapa 1 Sessões de trabalho com os associados na sede da Cooperativa – Prédio da UFRN Análise e coleta de documentos Entrevistas individuais e coletivas (questionários) Visitas técnicas nas associações (núcleos de produção) – três municípios visitados Etapa 2 Elaboração de Relatório Técnico – Diagnóstico Situacional As sessões de trabalho foram desenvolvidas a partir de reuniões com os dirigentes e associados num clima propício para levantamento das informações necessárias à elaboração do relatório técnico, sendo, portanto, realizadas duas sessões com os dirigentes na sede da cooperativa em Natal. 1ª sessão de trabalho com dirigentes – sede no prédio da UFRN 234 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 2ª sessão de trabalho com dirigentes – sede no prédio da UFRN Coopercrutac|Metodologia de trabalho 235 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Análise e coleta de documentos Apresentação dos arquivos e documentos da cooperativa guardados na sede do prédio da UFRN Instalações do prédio da UFRN, funcionando como sede da Coopercrutac Os documentos estão acomodados em caixas do tipo box nas instalações do prédio da UFRN, dispostos em pastas e à disposição dos associados. Os demais documentos relacionados com a contabilidade encontram-se com o contador. 236 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Entrevistas individuais e coletivas (preenchimento dos questionários) Preenchimento dos questionários – sede da OCB/RN – Fecoern Preenchimento dos questionários – sede da Associação de Artesãos de Caiçara do Norte/RN Preenchimento dos questionários – sede provisória da Associação de Artesãos de Bento Fernandes/RN Coopercrutac|Metodologia de trabalho 237 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Visitas técnicas nas associações (núcleos de produção) – três municípios visitados Visita ao município de Caiçara do Norte – Associação de Artesãos Visita ao município de Bento Fernandes – Escola do Assentamento do Movimento Sem Terra – Mato Grande 238 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Visita ao município de São José do Campestre – sede da Associação de Artesãos Coopercrutac|Metodologia de trabalho 239 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 240 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnóstico Situacional da Coopercrutac Coopercrutac|Metodologia de trabalho Diagnósticos e Recomendações 4 241 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 242 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O planejamento operacional para a realização desse diagnóstico teve como base a experiência do CDT/UnB na elaboração de diagnósticos situacionais com vistas à construção de cenários e à prospecção de mercados de empreendimentos, sejam cooperativos, da iniciativa pública ou privada. Os trabalhos de pesquisa em campo foram executados em três municípios, em duas mesorregiões. Cada visita técnica foi acompanhada pela presidente da cooperativa e uma artesã associada e por um técnico da OCB. Para a realização da visitas, foi disponibilizado um carro da OCB/RN com motorista. As visitas técnicas tinham por finalidade a caracterização do processo cooperativo na Coopercrutac e nas associações de artesãos (que participam direta ou indiretamente da cooperativa), das quais obtêm seus produtos, aspectos de comercialização, aspectos de gestão, aspectos operacionais e administrativos relacionados à entidade. As informações levantadas pelas entrevistas e pelos questionários respondidos durante as visitas técnicas foram devidamente compilados e possibilitaram a elaboração deste relatório técnico. Para a elaboração do relatório técnico, foram considerados os seguintes aspectos: Organização em base associativa Processo produtivo Aspectos de gestão Aspectos mercadológicos e de comercialização Coopercrutac|Diagnóstico situacional da Coopercrutac 243 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 244 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Organização em base associativa Coopercrutac|Diagnóstico situacional da Coopercrutac Diagnósticos e Recomendações 5 245 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 246 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo O quadro de dirigentes é composto por um presidente; um vice-presidente; uma secretária executiva. O Conselho Administrativo possui um membro titular e um suplente. O Conselho Fiscal é composto por três membros titulares e dois suplentes que podem substituir qualquer um dos titulares. Diagnósticos e Recomendações A Coopercrutac já possuiu em seu quadro de associados mais de 1.300 cooperados. Atualmente possui 240, sendo 120 ativos. A Coopercrutac possui estatuto e não possui regimento interno (vide anexos) e todos os novos associados recebem uma cópia do estatuto. Presidente: Márcia Maria de Oliveira Vice-presidente: Maria Célia Alves Fortunato Secretária: Rosilda de Araújo Cedro Conselho Administrativo: João Dionísio Nascimento e Marcelo Jerônimo Conselho Fiscal: Francisca Ramos, Ana Maria Ambrósio e Patrícia Gomes (titulares) – Paula Francinete Duarte da Silva e Jeanne Rodrigues Patriota Silveira (suplentes) No questionário aplicado à Coopercrutac e respondido pela presidente, foram realizadas duas assembléias extraordinárias. A última assembléia geral extraordinária (AGE) foi realizada em 25 de abril de 2006 nas instalações da OCB/Sescoop em Natal com quorum de 23 participantes. A AGE contou, ainda, com a presença de uma representante do Sescoop/ RN, do representante da OCB/RN e do contador da Coopercrutac. A ordem do dia era a prestação de contas dos exercícios de 2003 e 2004, compreendendo o relatório de gestão, o balanço patrimonial e a demonstração de resultados; parecer do Conselho Fiscal; plano de atividades para o exercício seguinte; destinação das sobras/perdas apuradas; eleição dos membros do Conselho Fiscal; reforma do estatuto social e outros assuntos de interesse dos cooperados – assuntos gerais. Coopercrutac|Organização em base associativa 247 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Os associados pouco visitam a sede da cooperativa, trazendo sugestões ou buscando informações sobre seu andamento. O Conselho de Administração, embora comprometido com o interesse da entidade, não cobra os resultados planejados. O Conselho Fiscal tem poucos conhecimentos contábeis e não consegue contribuir com idéias e sugestões que possam facilitar a gestão da cooperativa, muito embora todos os associados do quadro atual tenham participado de capacitações e de programas de educação cooperativista. Apesar das dificuldades de locomoção de seus membros, os conselhos se reúnem semestral e anualmente. A cooperativa atua em forma de parceria com associações ou núcleos de produção existentes em municípios distantes de Natal (como nos casos ilustrados no decorrer deste documento), que auxiliam no atendimento às demandas de produtos a partir das matérias-primas e dos recursos humanos locais. Porém grande parte dessas pessoas não compõe o quadro de associados da cooperativa. De acordo com as entrevistas realizadas, as pessoas estão sensibilizadas para participar da entidade, porém alguns fatores são determinantes para o não-engajamento, tais como: i) o valor da taxa de adesão, a distância entre a sede da Coopercrutac e as associações ou núcleos de produção, ii) o deslocamento demorado e exaustivo para a capital. As visitas técnicas foram realizadas em três municípios distantes da capital, com associações ou núcleos de produção formalizados e que dão suporte para o atendimento de parte das encomendas feitas à cooperativa – Caiçara do Norte, Bento Fernandes e São José do Campestre estão, em média, a 200 quilômetros da capital, Natal. 248 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Caracterização do Município de Caiçara do Norte Diagnósticos e Recomendações 5.1 O município de Caiçara do Norte situa-se a 149 quilômetros da capital, Natal. Localizado na microrregião de Macau (Mesorregião Central Potiguar), é uma cidade com população aproximada de 5.898 habitantes, conforme dados do IBGE/2006. Possui área territorial de 189.495 km² com densidade populacional de 31,1 habitantes/km². Com PIB per capita de R$1.960,90 (IBGE/2003), esse município possui um dado interessante: alguns de seus habitantes chegam ultrapassar os 100 anos de vida, como Maria Gomes da Silva, falecida com 101 anos, em 9 de maio de 1961. O povoamento cresceu em torno de um proprietário da indústria salineira local em 1.734, desenvolvendo-se a partir da segunda metade do século XVIII, com as atividades pesqueiras e pecuárias e a continuidade da extração de sal. Caiçara do Norte sofreu, no ano de 1912, a invasão das dunas de areia, soterrando grande parte do povoado. Recuperou-se muito rapidamente, Coopercrutac|Organização em base associativa 249 SérieDesenvolvimento em Cooperativa alcançando certa prosperidade econômica com a pesca do peixe voador, o que lhe rendeu fama. Em 16 de julho de 1993, pela Lei nº 6.451, o então distrito desmembrouse de São Bento do Norte, tornando-se um município do Rio Grande do Norte, com a atual denominação. A atividade econômica predominante é a pesqueira, com uma Colônia de Pescadores atuante. Nessa entidade estão cadastrados em torno de 300 barcos e 1.200 pessoas exercendo atividade de pesca direta ou relacionada a ela. No contexto histórico de Caiçara do Norte, situa-se a Associação das Artesãs, localizada numa casa nas cercanias da avenida principal da cidade. A associação está formalizada com o apoio do Sebrae em Natal e sua produção baseia-se nos trabalhos de crochê, envolvendo a maioria do grupo. As mulheres também trabalham com bordado oriundo de Caicó, município da região do Seridó, famosa por seus bordados feitos em peças de linho e de algodão: toalhas, panos, centros de mesa e lenços. Esse ensinamento foi transmitido às mulheres de Caiçara do Norte que também o utilizam na confecção dos jogos de banheiro, jogos de cama, jogos americanos conjugados com retalhos de tecidos. O artesanato local também utiliza a palha de carnaúba, que é trazida da região do Vale do Açu, que possui a Carnaúba em abundância. A associação tem recebido cursos de capacitação oferecidos pela Coopercrutac. Também o Sebrae mantém uma presença bastante forte, graças à liderança local, que faz parte do corpo dirigente da cooperativa, que é exercida pelo poder de referência demonstrado junto aos demais do grupo por ocasião da visita. Essa associação atende aos pedidos e comercializa seus produtos por intermédio da cooperativa, porém nem todos fazem parte do quadro associativo. 250 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Caracterização do Município de Bento Fernandes Bento Fernandes localiza-se na mesorregião do agreste potiguar, mais precisamente na microrregião da Baixa Verde, mais conhecida localmente como região do Mato Grande. Distancia-se da capital, Natal, por 93 quilômetros e sua área territorial é de 336,6 km², com clima semi-árido. Diagnósticos e Recomendações 5.2 Esta cidade nasceu do ajuntamento de quatro fazendas que, com o passar do tempo, tornou-se um povoado denominado Barreto e posteriormente Bento Fernandes. O território municipal está dividido administrativamente em Distrito Sede, Distrito de Belo Horizonte e 27 localidades rurais (das quais nove são assentamentos de reforma agrária). Pelos dados Censo de 2000 do IBGE, a população é de 4.731 habitantes, com baixa taxa de urbanização, o que se atribui ao processo de democratização do acesso a terra, devido aos assentamentos da reforma agrária. A falta de oportunidades tem elevado o índice do êxodo rural. Famílias inteiras migram para a capital. Prevalece a idéia de que a Prefeitura Municipal e o Governo do Estado são os grandes empregadores. Essa situação leva famílias inteiras para outros centros urbanos, tais como São Paulo e Rio de Janeiro, que passam a viver de forma marginalizada e em condições miseráveis, aumentando o número de residentes de rua e nas favelas das grandes metrópoles. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o município de Bento Fernandes é considerado como o de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), classificando-se na 5.007ª posição no universo de 5.507 municípios brasileiros declarados na pesquisa, com um índice de 0,579. De acordo com o Unicef, o Índice de Desenvolvimento Infantil (IDI) é da ordem de 0,463, que tem por fator determinante o desemprego e a falta de renda das famílias. Coopercrutac|Organização em base associativa 251 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A associação nasceu sob a insígnia do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e registrada como tal, com a denominação TTL 263 – Riacho Fechado. Funciona de forma precária numa escola do município e possui máquinas de costura cedidas pela Coopercrutac. Por se tratar de uma instalação provisória, a sede de uma escola de ensino fundamental, os associados têm dificuldades de guardar o material produzido, que é distribuído nas casas das mulheres que participam da associação. Os associados também produzem pintura em papel, telas e em tecidos, porém o forte do artesanato local tem como base a palha de carnaúba, abundante na localidade. Alguns membros dessa associação têm participado sistematicamente dos cursos de capacitação oferecidos pela Coopercrutac e pelo Sebrae. Apesar da forte liderança originária no núcleo de assentamento rural, sendo este também seu berço, nem todas as pessoas que participam das atividades são associados à entidade e esta não está formalmente associada à Coopercrutac. A cooperativa tem uma presença marcante, porém sem uma formalização das parcerias para produção ou comercialização de seus produtos. Os contatos são feitos verbalmente e dessa forma estabelecidos valores, prazo e entrega de produtos. Foi percebido um entusiasmo aliado a uma expectativa de que a situação da associação – como esforço conjunto alternativo para geração de renda – possa melhorar, tendo a cooperativa como aliada nesse processo. Esta associação obteve apoio social da cooperativa, no âmbito da saúde, facilitando as condições de acesso das mulheres aos serviços médicos ambulatoriais. 252 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Caracterização do Município de São José do Campestre O município de São José do Campestre situa-se na mesorregião agreste potiguar e na microrregião Borborema Potiguar, limitando-se com os municípios de Tangará, Serra Caiada, Boa Saúde, Serra de São Bento, Monte das Gameleiras, Japi, Lagoa D’Anta, Serrinha e Santo Antonio, abrangendo uma área de 344 km, distante da capital cerca de 105 quilômetros. Diagnósticos e Recomendações 5.3 Esse município foi criado pela Lei nº 146 de 23 de dezembro de 1948. De acordo com o último Censo do IBGE, em 2000, a população residente é de 11.928 habitantes, sendo que 77,3% vivem na área urbana e 22,7% na área rural. Os dados do IBGE/2005 apontam que a população estimada atual é de 12.080 e o IDH é igual a 0,631 (Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil). As principais atividades econômicas são agropecuária e comércio varejista. A associação de artesãos foi fundada em 27 de abril de 1994 com o objetivo de promover o associativismo entre as artesãs da cidade que trabalham na fabricação de produtos feitos com a palha da carnaúba, árvore nativa do estado. Essa associação responde atualmente pelo sustento de 25 famílias que dependem exclusivamente do trabalho artesanal. Funciona de forma precária numa casa, na qual ficam dispostas as máquinas cedidas pela cooperativa e guardadas as peças produzidas com o apoio das associadas, para posterior comercialização. Essa associação funciona como braço produtivo da Coopercrutac e é apoiada atualmente pelo Banco do Brasil, por meio do programa de desenvolvimento regional sustentável (DRS). Nem todas as pessoas que participam da associação são associadas formalmente à associação ou à cooperativa. Coopercrutac|Organização em base associativa 253 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 5.4 Considerações Na organização aqui estudada observa-se, de início, que suas dificuldades residem na ausência de um corpo técnico para sua administração e organização, além de dificuldades de escoamento de produção e organização de custos. Nas entrevistas ocorridas durante as visitas técnicas ficou demonstrado que a base associativa da Coopercrutac é fragilizada pelas dificuldades de liderança e condução do corpo dirigente da cooperativa. Esses problemas são potencializados pela falta de recursos financeiros, que impedem maior aproximação do corpo dirigente com as associações nos municípios, o que por vezes fica a depender dos ocasionais pedidos de produtos solicitados pelo Sebrae local ou até mesmo pela iniciativa pública ou privada. Há uma ausência de internalização dos princípios de coletividade. Pouco ou nenhum conhecimento sobre os princípios cooperativistas, conflitando com os interesses e objetivos da Coopercrutac, o que aumenta a distância entre líderes e liderados, que buscam a cooperativa quando há necessidade de emissão de nota fiscal para os pedidos, os quais se comprometem a entregar, e mesmos estes não são por vezes considerados na produção global da Coopercrutac. Há desconhecimento por parte da maioria dos associados das entidades locais, e mesmo da cooperativa, quanto aos instrumentos legais, estatuto e regimento interno, do papel das instituições de apoio, que por vezes se confundem com o papel do Estado. A condução da cooperativa está “dividida” entre duas pessoas: a presidente e a secretária executiva. Os demais dirigentes, conselheiros fiscais e administrativos, são pouco atuantes no que diz respeito aos rumos da Coopercrutac, cabendo maior responsabilidade, portanto gerando maior compromisso, para a presidente e a secretária, que acabam por assumir todos os papéis na gestão, no desenvolvimento das estratégias, na gestão administrativa e operacional da entidade. De certa forma esse modelo fragiliza o processo associativo, mas é o que mantém o funcionamento da entidade. 254 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Em seguida são apresentados os gráficos e uma análise dos dados percebidos nas entrevistas realizadas que permitem uma leitura da configuração associativa da entidade em questão. O universo de associados pesquisados foi de 65 participantes, nem todos associados ativos da Coopercrutac. Os questionários foram elaborados e estruturados tendo em vista buscar identificar o perfil dos associados – numa radiografia que demonstrasse o estágio atual da entidade, considerando os princípios cooperativistas e suas finalidades –, assim como demonstrar os aspectos de gestão e participação de seus associados no processo cooperativo. Na identificação do perfil dos associados da Coopercrutac para o item 1 – Dados Pessoais foram elaborados quatro gráficos, que evidenciam o nível de escolaridade, gênero e situação civil. Nesse item, pode-se constatar que 56% dos associados estão na faixa etária de 36 a 55 anos, as mulheres são maioria e o estado civil predominante é o de casados correspondendo a 67% dos entrevistados. O nível de escolaridade preponderante é ensino fundamental. No gráfico relativo ao nível de escolaridade, 48% dos entrevistados possuem o ensino fundamental. Os que possuem o ensino médio completo e superior completo perfazem 25% dos entrevistados, um dado a ser considerado como relevante, mas que não contribui para que a cooperativa tenha um desenvolvimento menos amador. Vale ressaltar que apenas 8% desse percentual de 25% possuem curso superior completo. A soma dos que possuem ensino fundamental com os que cursaram o ensino médio e não concluíram corresponde a 75% do universo de entrevistados, evidenciando a predominância deste grau de escolaridade no grupo de associados da Coopercrutac. Coopercrutac|Organização em base associativa 255 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 256 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações No item 2 – Dados Profissionais, os gráficos indicam que a maioria dos associados participantes nas associações e na própria Coopercrutac não participa de outras entidades cooperativas, porém parte do universo pesquisado atua informalmente em outras associações de artesanato, com ênfase nos municípios visitados. Os associados que não participam de outras cooperativas representam 93% do universo pesquisado e 25% estão há mais de seis anos atuando na Coopercrutac. No aspecto da temporalidade, a maioria absoluta dos associados participa há cinco anos ou mais da entidade como associado ativo, o que representa 52% do universo pesquisado, e 48% participam há mais de seis anos. Entretanto, vale ressaltar que, a partir dos resultados apresentados, configura-se uma situação de hiato entre o ingresso de novos associados com um ano ou menos e os associados com cinco anos ou mais. O ingresso do quadro atual dos associados na cooperativa ocorreu por influência dos amigos, na ordem de 79%, e essa decisão foi respaldada pelo desejo pessoal. Mas os dados também apontam para o desemprego como motivação em 31% dos casos de adesão à época de criação da Coopercrutac. Coopercrutac|Organização em base associativa 257 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 258 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Do universo de entrevistados, 45% do atual quadro de associados participaram da fundação da Coopercrutac e 64% conhecem a localização da cooperativa no que se refere às instalações para participação de reuniões, assembléias ou outras situações. Coopercrutac|Organização em base associativa 259 SérieDesenvolvimento em Cooperativa No item sobre conhecimentos e informações sobre o sistema cooperativista, seus princípios, práticas e fundamentos, as entrevistas demonstraram que apenas 34% dos associados, sejam eles quadro ou das associações visitadas, conhecem o estatuto da Coopercrutac. Isso demonstra fragilidade no processo cooperativista, considerando a instituição da qual participam, cujo diferencial reside no modelo de negócio coletivo e os instrumentos que estabelecem as diretrizes e regras de funcionamento da entidade. 260 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações No gráfico a seguir, a partir da questão “Tenho bons conhecimentos sobre o cooperativismo, o objetivo da formação de uma cooperativa e o histórico deste movimento”, foi demonstrado que os associados possuem poucos conhecimentos sobre o cooperativismo. O somatório dos que “concordam e concordam parcialmente” totaliza apenas 46% dos entrevistados. As respostas “nem concordo e nem discordo” totalizam cerca de 35% do universo pesquisado, do que se pode inferir uma correspondência de 1/3 do quadro de participantes (do quadro e das associações visitadas). Sobre a questão conhecimentos sobre os princípios cooperativistas “Conheço todos os princípios cooperativistas e sei como uma cooperativa deve atuar em suas atividades e práticas com base nestes princípios”, 43% dos entrevistados responderam que “concorda ou concorda parcialmente” em oposição a 32% dos que discordam total ou parcialmente. Vale ressaltar que 25% dos entrevistados apresentaram-se como indecisos (percentual elevado diante do universo pesquisado de 61 pessoas), o que demonstra pouca difusão ou ausência de um programa sistemático sobre educação cooperativista para internalização dos conceitos cooperativistas. Coopercrutac|Organização em base associativa 261 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Na questão (gráfico a seguir) “Você sabe quem compõe a Diretoria da Cooperativa”, as respostas apontaram que a Diretoria atual é conhecida por 57% dos associados entrevistados, do que se pode concluir que os demais associados que participam de forma esporádica (por interesse próprio e não coletivo) ou apenas para atender aos pedidos de produtos, é que desconhecem a Diretoria e conselheiros. Os associados da capital conhecem seus dirigentes. 262 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações No item 6, sobre Práticas Cooperativas, as respostas dos associados indicaram que, do universo pesquisado, 38% participam com freqüência mínima de pelo menos duas reuniões ou assembléias e/ou encontros com seus dirigentes. Porém o percentual de 20% aponta para um frágil processo de comunicação interna, pois esses responderam que nunca foram convocados. As expectativas para o futuro da Coopercrutac se apresentaram como positivas, pois as respostas foram predominantemente fundamentadas na crença no crescimento e no fortalecimento da cooperativa, o que correspondeu a 70% dos entrevistados. Infere-se disso um sentimento de motivação e desejo de que a Coopercrutac venha a se estabelecer como ente forte e fomentador do desenvolvimento pessoal e da autoestima de seus associados. Coopercrutac|Organização em base associativa 263 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Na questão sobre a participação dos associados em cursos e treinamentos nos últimos dois anos, as respostas apontaram que o Curso de Formação de Preços concentrou o interesse da maioria. Tal fato pode ser atribuído à necessidade dos associados em aprender a calcular o preço dos produtos. Os associados de maneira geral estão satisfeitos com a condução da cooperativa, porém têm interesse e alimentam expectativa de melhoria, em atingir mais mercados, de ter produtos que sejam identificados e reconhecidos no mercado pela força da marca da Coopercrutac e que a cooperativa possa resgatar sua posição de outrora e seu reconhecimento diante da sociedade potiguar. 264 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto processo produtivo Coopercrutac|Avaliação do aspecto processo produtivo Diagnósticos e Recomendações 6 265 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 266 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Tal situação se deve ao fato de que a atual localização não oferece condições que permitam a instalação de uma planta produtiva que possa favorecer o intercâmbio de conhecimento das técnicas relacionadas à confecção dos produtos. Conhecimentos específicos sobre a forma de trabalhar com determinadas matérias-primas se perdem no decorrer do processo. Alguns associados fazem uso da sede atual para fabricação dos produtos e para guardar o material produzido, assim como os insumos. Diagnósticos e Recomendações A Coopercrutac não possui processo produtivo estabelecido ou minimamente organizado, seja na sede, seja nas associações com as quais a cooperativa possui parceria. Há deficiência de equipamentos e tecnologias que possam facilitar a produção das peças e grande parte do artesanato produzido tem sua origem nas associações ou núcleos de produção, como verificado nas associações de artesãos nos municípios visitados. A Coopercrutac produz artesanato em palha de carnaúba, bordados (técnica do labirinto), junco, palha de coqueiro, sisal (cadeiras de sisal) e cerâmica decorativa. Em outubro de 2006, com o apoio do Sebrae, em Natal, foi produzido o catálogo eletrônico composto por uma linha de 18 produtos cuja base de matéria-prima é a carnaúba. O objetivo era promover a comercialização dos produtos da Coopercrutac quando de suas participações em feiras do gênero. Para o desenvolvimento desse catálogo, a Coopercrutac também recebeu consultoria e assessoria técnica em design e qualidade final de produtos, o que de certa forma propiciou a criação de um padrão de produção das cestarias. O mesmo não aconteceu com os bordados e outros produtos feitos com outros tipos de palha, em que o conhecimento da técnica está concentrado em poucas artesãs participantes da Coopercrutac ou por eventuais participações de outros artesãos que não permaneceram na cooperativa. Coopercrutac|Avaliação do aspecto processo produtivo 267 SérieDesenvolvimento em Cooperativa As máquinas de costura adquiridas pela cooperativa e enviadas às duas associações de apoio (Bento Fernandes e São José do Campestre) complementam as atividades de produção de bordados e outros produtos de crochê. Essas máquinas utilizadas na produção foram adquiridas por doações, patrocínio e recursos (capital) conseguidos com a mão-de-obra da própria cooperativa ou ainda em projetos sociais que a Coopercrutac tem participado mediante apresentação de propostas de trabalho. Toda a matéria-prima (palhas em geral), os acessórios e aviamentos são comprados sempre que necessário no mercado local sem grandes dificuldades. Não existe uma programação de compras para atendimento dos pedidos, não há estoques. A cooperativa compra os insumos sempre que precisa e no momento do fechamento das encomendas. Essa prática, por vezes, compromete o prazo de entrega dos produtos. Os fornecedores estão precariamente cadastrados, sendo essa relação tratada de forma amadora. Quando surge a necessidade de aquisição de matéria-prima, as pessoas, e não as associações de apoio, são contatadas para providências. Conclui-se, a partir das informações descritas, que a gestão do processo produtivo na cooperativa e nas associações é amadora, porém criativa, de acordo com os recursos que a cooperativa dispõe com vistas a sua sobrevivência no mercado. As ações necessárias para promover melhorias são estruturais e exigem recursos financeiros, identificação de competências e adoção de práticas de gestão que visam a facilitar esse processo. 268 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto gestão Administrativa e Operacional Coopercrutac|Avaliação do aspecto gestão – administrativa e operacional Diagnósticos e Recomendações 7 269 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 270 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações O processo de gestão administrativa e operacional não é muito diferente de alguns outros processos de gestão de entidades semelhantes, em que o esforço e o peso das responsabilidades sobrecarregam poucas pessoas que acabam por assoberbarem-se de atividades, deixando lacunas e criando vulnerabilidades nos processos de gestão como um todo. Na Coopercrutac esse processo está centralizado em duas pessoas atualmente, a presidente e a secretária executiva, que desenvolvem atividades em todas as fases da gestão. Isso compromete o processo participativo dos demais cooperados, muito embora sejam apresentadas sugestões para gestão, de acordo com opinião de seus associados, conforme demonstrado nas entrevistas. O quadro de dirigentes foi recém-estruturado na tentativa de se vislumbrar um maior envolvimento dos cooperados. Porém o desejo de aumentar a participação também fica comprometido pelo baixo nível de esclarecimento dos associados, o que cria dificuldades para um maior comprometimento e envolvimento das pessoas. Não existem empregados na cooperativa, todos os processos e ações são realizados pelos associados, em geral pelos participantes do corpo dirigente. Os dirigentes participaram de até três cursos/treinamentos por iniciativa da cooperativa: gestão administrativa, educação cooperativista e prospecção de negócios em parceria com a OCE e com o Sebrae local. Quanto aos aspectos da gestão financeira e econômica, a Coopercrutac não tem realizado operações financeiras, por não ter havido necessidade. Tem recolhido seus impostos regularmente, não possui reclamações judiciais ou pendências trabalhistas, mas está inadimplente com alguns fornecedores e associados. Tem utilizado recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), porém os recursos captados nos projetos não são suficientes para promover e disseminar a educação cooperativista entre seus associados, que, por vezes, é conseguido com recursos não-reembolsáveis. Coopercrutac|Avaliação do aspecto gestão – administrativa e operacional 271 SérieDesenvolvimento em Cooperativa A gestão documental é feita de forma satisfatória, diante dos recursos de que dispõe a entidade para tal finalidade. Os documentos estão arquivados na sede da cooperativa, à disposição dos associados e do corpo dirigente. Os documentos contábeis (livro-caixa, livro-diário e os balanços) estão arquivados no escritório do contador da cooperativa, também em total disponibilidade para os associados ou para a fiscalização. Na pesquisa sobre os gargalos no processo de gestão da cooperativa, surgiu um fato relevante, que pode contribuir para a implantação de práticas que fortaleçam a Coopercrutac, desde que internalizadas pelo corpo dirigente. 272 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Esta informação pode servir de base para criação de um programa de treinamento e capacitação em gestão cooperativa, tendo em vista as manifestações apresentadas. Diagnósticos e Recomendações Do total de entrevistados, parcela expressiva de 77% manifestou interesse em participar das atividades relacionadas com o processo de gestão. Quanto ao desempenho da Coopercrutac, predominou a resposta dos associados que consideram que poderia ser melhor, com um percentual de 72% dos entrevistados. Apesar das dificuldades constatadas e do frágil processo de comunicação, observou-se que esta entidade tem grandes chances de alcançar o sucesso. O dínamo dessa oportunidade está na motivação existente e no sentimento positivo de seus associados e corpo dirigente. Percebe-se que há necessidade de maior apoio e suporte institucional por parte da unidade estadual da OCB no que se refere aos aspectos de gestão dos processos operacionais e administrativos. Coopercrutac|Avaliação do aspecto gestão – administrativa e operacional 273 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 274 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Avaliação do aspecto mercadológico e de comercialização Coopercrutac|Avaliação do aspecto gestão – administrativa e operacional Diagnósticos e Recomendações 8 275 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 276 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Com a crescente competitividade, para desenvolver qualquer estratégia de negócio, a atividade principal deve ter como foco o cliente. Uma forma usualmente verificada e exitosa de identificação de demandas é a realização de uma pesquisa de mercado, na qual se avaliam os preços, a qualidade, o plano de venda, o prazo de entrega e a concorrência. A partir desses itens, se desenvolve um produto que possua os vários atributos que o mercado está exigindo, mesmo que sejam fruto do trabalho artesanal que carrega a identidade cultural e a história local ou regional, já que este tem por finalidade a estética, a beleza, a alma do artista. Os atuais clientes da cooperativa são instituições como Sebrae, OCB e algumas empresas que demandam produtos específicos. Em sua maioria, os associados afirmam que conhecem o mercado em que atuam, mas desconhecem a forma de interagir com esse mercado. As ações para esta finalidade são amadoras e envolvem certo grau de risco. Pelas parcerias mantidas com as associações, o mercado é “identificado” pelo líder do grupo, que apresenta os produtos e capta as encomendas. A forma de apresentação dos produtos da cooperativa é um catálogo eletrônico com 18 peças desenvolvidas em palha de carnaúba. A cooperativa tem catalogado em arquivos mais de 200 peças e para isso contou com o apoio técnico do Sebrae/RN. As demandas são em geral apresentadas por um parceiro institucional como o Sebrae local – citado pelos cooperados, que vai até o local da associação produtora no interior do estado, sem a interferência da Coopercrutac o que fragiliza as relações dessas entidades com a cooperativa. A partir do momento que se faz o pedido, a venda dos produtos está praticamente realizada, pois estes são feitos por encomenda. O preço é estabelecido conforme os custos dos insumos e apresentados ao cliente demandante. Vale ressaltar que a cooperativa participou de vários cursos de formação de preço, cujas informações são utilizadas para a elaboração dos preços das peças. Todos os produtos são vendidos dessa maneira. Coopercrutac|Avaliação do aspecto mercadológico e de comercialização 277 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Este diagnóstico não vislumbrou a realização de uma pesquisa de mercado, porém foi percebida a necessidade de uma pesquisa desse tipo para identificação de potenciais clientes e desenvolvimento de estratégias de mercado que possam visar à sustentabilidade da cooperativa. Pelos produtos fabricados, a clientela poderia ampliar-se consideravelmente. Outros estabelecimentos poderiam absorver os produtos: padarias, supermercados, postos de gasolina, restaurantes, lojas de roupas, lojas de artesanato, hotéis e pousadas, feiras de artesanato regionais, escritórios de arquitetura, entre outros. Uma vantagem percebida por quase todos é o fato de a cooperativa se localizar no centro da capital, excelente ponto para a venda dos produtos. Essa particularidade alimenta a expectativa de que a Coopercrutac possa permanecer no prédio da UFRN, conforme desejo explicitado pelos próprios associados. A localização da cooperativa, porém, dificulta o atendimento de grandes encomendas quando se considera o alto custo do frente, uma vez que os produtos têm origem nos municípios distantes da capital, onde há abundância de matéria-prima. Para viabilizar a entrega, muitas vezes os artesãos do interior fazem parceria com empresários para levar as encomendas à capital. As compras de matéria-prima (palhas de carnaúba, sisal, palha de coco) aviamentos (linha, zíper, elástico, botões em geral, colchetes, cordão, velcro, alfinete, giz, entre outros), acessórios e demais utilidades são feitas quando existe encomenda ou pedido. Não existe um responsável que cuide dessa tarefa, que é dividida entre a presidente e a secretária e, às vezes, por outras cooperadas nas associações ou núcleos de produção, quando a encomenda parte de uma dessas. A forma de pagamento depende do tamanho do pedido, considerando a compra de insumos necessários para a produção, com prazos a serem estabelecidos entre quem negocia e quem compra, porém sem regras previamente estabelecidas. 278 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações A cooperativa não consegue realizar vendas a prazo, pois não existe capital de giro que permita atender aos pedidos e encomendar aos artesãos a matéria-prima (a mais utilizada é a palha de carnaúba, facilmente encontrada no interior do estado). O custo do transporte, associado à falta de capital de giro para pagamento dos fornecedores (nesse caso, os próprios cooperados ou associados aos núcleos de produção), impede o atendimento de grandes encomendas. Os demais produtos, como os bordados, os crochês, as rendas de labirinto, são pouco exploradas pela cooperativa. Há percepção quanto à diferença de qualidade dos produtos entre os três núcleos de produção nos municípios visitados. Os pedidos grandes demandam cestas desses núcleos ou associações e os produtos apresentam variações de acabamento e da forma de trabalho com a palha, o que compromete a comercialização. Nas entrevistas, pôde-se perceber uma curiosa e séria interferência do Sebrae/RN. O conselho, segundo apurado nas entrevistas, considera o Sebrae/RN fomentador da dissociação entre os grupos, uma vez que não apóia o papel da Coopercrutac de centralizar a produção das associações interioranas. Dessa forma, não contribui para o fortalecimento e desenvolvimento da cooperativa. No item sobre aspectos de mercado, no gráfico que demonstra o conhecimento do mercado em que atua a cooperativa, identificou-se um equilíbrio entre os associados que conhecem e os que não conhecem esse mercado. Coopercrutac|Avaliação do aspecto mercadológico e de comercialização 279 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Nas próximas questões, ainda relacionadas ao âmbito mercadológico, predominam respostas sim nos gráficos, o que demonstra reconhecimento por parte dos entrevistados da importância de conhecer e de se posicionar no mercado do artesanato. No aspecto relacionado ao processo de comercialização, embora ocorra de forma amadora na entidade, seus associados conhecem como é feito e por quem é organizado. 280 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Nas sessões de trabalho realizadas, tanto na sede como nas associações visitadas, os associados chegam a “personalizar” a atividade e a responsabilidade de comercialização da Coopercrutac na pessoa da secretária executiva. Uma resposta que chamou a atenção nas entrevistas é o conhecimento dos associados quanto aos aspectos de comercialização: estabelecimento de preços e escoamento dos produtos. Entrementes, apesar desse conhecimento tácito, esses processos ainda são amadores e favorecem o surgimento de dificuldades e de permanência no mercado do artesanato. Coopercrutac|Avaliação do aspecto mercadológico e de comercialização 281 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 282 Nas entrevistas foi possível identificar que os associados da Coopercrutac possuem conhecimentos, porém sem muita profundidade, sobre o mercado de atuação, a concorrência e os canais de distribuição. Verificou-se, porém, a necessidade de se criar competências na entidade que possam assumir essas responsabilidades, o que atualmente divide-se em duas pessoas do corpo dirigente. A cooperativa não realiza ações de prospecção de mercado e pesquisa de novos produtos, o que poderia indicar uma rota mercadológica para o artesanato produzido. Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Recomendações Coopercrutac|Avaliação do aspecto mercadológico e de comercialização Diagnósticos e Recomendações 9 283 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 284 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações A construção da metodologia de diagnóstico tendo por base as entrevistas e a realização de visitas técnicas pôde demonstrar a possibilidade de um maior envolvimento da OCB para elaboração de plano de ação com a cooperativa, com vistas a auxiliar o processo de gestão em todos os aspectos vislumbrados nesse estudo, a fim de tirar a Coopercrutac a da crise atual. Nas entrevistas com o corpo dirigente e com os demais associados, ficou evidente que a entidade deve buscar outros mercados, construir e desenvolver estratégias de comercialização e de penetração no mercado, formalização dos contratos de parceria e reduzir as despesas, considerando que o caixa da entidade está no vermelho (receita menor que despesa). Pode-se perceber, por exemplo, que a Coopercrutac tem um potencial de conquista de outros clientes em Natal e fora do estado, porém carece de um ou mais profissionais responsáveis, que possam cuidar da comercialização e da identificação de novos produtos. As entrevistas evidenciaram também a necessidade de atenção maior por parte da OCB estadual, ofertando mais cursos de capacitação e de educação cooperativista nas associações ou núcleos de produção. A capacitação, conforme sugerido na entrevista coletiva, deve ocorrer nos municípios onde estão as associações ou núcleos, e não na capital. Pelas observações feitas nas sessões de trabalho e nos diálogos informais, ficou demonstrado que o corpo dirigente e os associados da Coopercrutac reconhecem suas necessidades de profissionalização e que isso pode ser o diferencial de sua própria sobrevivência: a conquista de novos mercados, o desenvolvimento de novos produtos, conquista de novos clientes, melhoria nos processos de gestão. Reconhecem, ainda, que essas melhorias devem envolver um processo de mudança no comportamento, exigindo mudança de postura de seus associados (todos, sem exceção), já que eles têm expectativas muito positivas e acreditam no soerguimento da Coopercrutac. Coopercrutac|Recomendações e considerações finais 285 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Essa mudança requer esforço individual e coletivo, além da concentração na resolução dos problemas vivenciados atualmente. As necessidades técnicas de operacionalização e de gestão baseiam-se principalmente no fortalecimento do espírito coletivo, aspecto que irá permear todas as ações de revitalização e fortalecimento da organização. Recomendações no sentido de promover programas sistemáticos de capacitação de reforço nos princípios cooperativistas, na disseminação da cultura associativista no âmbito da cooperativa e principalmente nas associações de apoio ou núcleos de produção, com vistas ao incremento do quadro de associados: Aprofundamento das técnicas de gestão compartilhada Capacitação em qualidade de produto, design, embalagem, identificação de novos produtos Desenvolvimento de pesquisa de mercado Identificação de associados que possam assumir as ações de comercialização Identificação de associados que possam assumir as ações de identificação de novos produtos Promover ações no sentido de trazer os participantes das associações ou núcleos de produção para composição do quadro associativo da Coopercrutac Alinhamento e padronização na produção das cestarias No sentido de que algumas das ações supracitadas possam apresentar resultados que fortaleçam o sentimento cooperativista, seguem algumas 286 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo A cooperativa tem buscado alternativas de ingresso de recursos financeiros, porém o cenário atual exige que a entidade possa captar recursos de instituições que têm interesse em contribuir com o artesanato local. Instituições como a Fundação Banco do Brasil, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os operadores de microcrédito e ainda algumas empresas da iniciativa privada podem aportar recursos, mas, para tal finalidade, é necessário que a entidade esteja capacitada na elaboração de projetos e que faça a devida gestão deles. Diagnósticos e Recomendações sugestões que convergem para a expectativa percebida nos cooperados quanto à revitalização da Coopercrutac. O estabelecimento de parcerias para obtenção de recursos também pode ser uma ação da cooperativa, identificando instituições públicas e privadas, líderes locais (formadores de opinião) que possibilitem a inserção da entidade no mercado, de forma mais profissional, o que lhe permitirá crédito e respeitabilidade. Outro aspecto a ser trabalhado pela cooperativa no sentido de arregimentar parceiros e buscar financiamento reside na elaboração de um Plano de Negócios da Coopercrutac. Ele irá definir o modelo de negócio da entidade, que servirá para o início de um negócio e como ferramenta de marketing interno e de gestão, já que reúne informações tabulares e escritas de como o negócio é ou deverá ser. De acordo com o pensamento moderno, o plano de negócios é um documento vivo, no sentido de que deve ser constantemente atualizado para que seja útil na consecução dos objetivos da Coopercrutac e de seus associados. Tal conceito, se internalizado pelos seus associados, poderá ser de grande valia no entendimento do foco do empreendimento cooperativo. O plano de negócios também é um excelente instrumento utilizado para comunicar o conteúdo a potenciais investidores que podem se decidir a aplicar recursos no empreendimento. Coopercrutac|Recomendações e considerações finais 287 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Para E. Bolson, plano de negócio “é uma obra de planejamento dinâmico que descreve um empreendimento, projeta estratégias operacionais e de inserção no mercado e prevê os resultados financeiros”. Conforme o mesmo autor, a estratégia de inserção no mercado talvez seja a tarefa mais importante e crucial do planejamento de novos negócios, como novo caminho para a sobrevivência da cooperativa. Outra recomendação que tem lugar nas necessidades apresentadas pela cooperativa, e apresenta-se como uma solução a ser absorvida de forma sistemática, para internalização de conceitos de gestão, seria a incubação da cooperativa por intermédio do apoio de uma universidade, com vistas a estimular o processo de autogestão, ao auxílio na internalização dos princípios associativistas e ao entendimento do funcionamento de um empreendimento comercial. A unidade estadual da OCB pode ser o indutor de todo esse processo de profissionalização da Coopercrutac, pois como entidade que congrega o sistema cooperativista possui entre suas principais atribuições a responsabilidade pela “promoção, fomento e defesa do sistema cooperativista, em todas as instâncias políticas e institucionais. É de sua responsabilidade também a preservação e o aprimoramento desse sistema, o incentivo e a orientação das sociedades cooperativas”. A unidade estadual foi apontada nas entrevistas como pouco atuante, devido às restrições territoriais, para um apoio mais significativo às associações que apóiam direta ou indiretamente a cooperativa. Verificou-se, porém, uma demanda externalizada pelos associados para realização de cursos e capacitações com mais densidade e profundidade de conteúdo. Foi percebido de forma latente que o processo de desenvolvimento organizacional, o qual se infere como a maior necessidade da entidade, perpassa pelo acompanhamento sistemático da unidade estadual da OCB, considerando que atualmente essas questões não são tratadas de forma profissional, sem ressonância no conselho, até mesmo por não conhecer ou saber por onde começar o processo de mudança. 288 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo O estudo também demonstrou alguns fatores que podem impedir a realização de algumas ações que estão mais dependentes do comportamento e da atitude dos cooperados. Sem a participação ativa deles, este diagnóstico perde sua finalidade e sua legitimidade. Coopercrutac|Recomendações e considerações finais Diagnósticos e Recomendações Tal processo, pela percepção diagnosticada, só irá se estabelecer a partir de um maior envolvimento da unidade estadual, tendo em vista o fortalecimento do sistema cooperativista, pois a cooperativa não possui condições de promover tal processo sem um monitoramento contínuo. 289 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 290 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 10 Referências Bibliográficas Coopercrutac|Recomendações e considerações finais 291 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 292 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Disponível em www.fjp.gov.br/produtos/cees/idh/Atlas_idh.php. julho de 2007. BATALHA, M. O. (org.) Gestão Agroindustrial Agroindustrial. v. 1. São Paulo: Atlas, 1997. Diagnósticos e Recomendações CASCUDO: História do Rio Grande do Norte, 354, de 1955. CARVALHO, R. de C. 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São Paulo: FTD, 1987. ca Coopercrutac|Referências bibliográficas 293 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 294 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações 11 Anexo Coopercrutac|Referências bibliográficas 295 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 296 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações QUESTIONÁRIO O questionário aplicado na pesquisa foi elaborado com a intenção de levantar as informações mais relevantes para a avaliação da participação dos associados nas atividades da cooperativa. As questões foram elaboradas da maneira mais simplificada possível para não causar estranheza aos entrevistados e trazer informações com o mínimo de viés possível. A seguir apresentamos o formulário utilizado para a coleta das informações: Coopercrutac|Anexos 297 SérieDesenvolvimento em Cooperativa 298 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Coopercrutac|Anexos 299 Diagnósticos e Recomendações SérieDesenvolvimento em Cooperativa 300 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Diagnósticos e Recomendações Endereços do Sescoop Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo – Sescoop Unidade Nacional Setor de Autarquias Sul, Quadra 04, Bloco I Edifício Casa do Cooperativismo 70070-936 - Brasília - DF Fone: (61) 3325-5500 / Fax: (61) 3325-8383 [email protected] / www.brasilcooperativo.coop.br Região Centro-Oeste Distrito Federal – Sescoop/DF SEPS 712/912 - W/4 Sul, Bloco F 70390-125 - Brasília - DF Fone: (61) 3345-3036 / 3345-0483 / 3345-6925 / Fax: (61) 3245-3121 [email protected] / www.dfcooperativo.coop.br Goiás – Sescoop/GO Avenida Dep. Jamel Cecílio, 3427 - Jd. Goiás 74810-100 - Goiânia - GO Fone/Fax: (62) 3240-8900 / 3240-8902 [email protected] / www.sescoopgo.org.br Mato Grosso – Sescoop/MT Rua 2, Quadra 4, Lote 3, Setor A - Centro Político Administrativo (CPA) 78049-050 - Cuiabá - MT Fone: (65) 3648-2400 / Fax: (65) 3644-2306 [email protected] / www.ocbmt.coop.br Mato Grosso do Sul – Sescoop/MS Rua Ceará, 2245 - Vila Célia 79022-390 - Campo Grande - MS Fone: (67) 3326-0171 / Fax: (67) 3326-6280 [email protected] / www.ocbms.org.br Região Norte Acre – Sescoop/AC Rua Chile, 213 - Habitasa 69900-340 - Rio Branco - AC Fone/Fax: (68) 3223-6487 [email protected] / www.portalamazonia.coop.br Amazonas – Sescoop/AM Avenida Carvalho Leal, 1154 - Cachoeirinha 69065-000 - Manaus - AM Fone/Fax: (92) 3631-8518 / 3611-2226 [email protected] / www.portalamazonia.coop.br Endereços do Sescoop 301 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Amapá – Sescoop/AP Rua Jovino de Noá, 1770, 3º andar 68606-000 - Macapá - AP Fone/Fax: (96) 3223-0110 [email protected] / www.portalamazonia.coop.br Pará – Sescoop/PA Travessa Angustura, 3255 - Marco 66093-040 - Belém - PA Fone: (91) 3226-5280 / 3226-5307 / 3226-4140 / Fax: (91) 3226-5014 [email protected] / www.portalamazonia.coop.br Rondônia – Sescoop/RO Avenida Rafael Vaz e Silva, 2646 - Liberdade 78904-120 - Porto Velho - RO Fone/Fax: (69) 3229-2866 [email protected] / www.portalamazonia.coop.br Roraima – Sescoop/RR Avenida Major Williams, 1018 - São Francisco 69301-110 - Boa Vista - RR Fone: (95) 3623-2912 / 3623-2312 / Fax: (95) 3623-0978 [email protected] / www.portalamazonia.coop.br Tocantins – Sescoop/TO Avenida JK, 110 Norte, Lote 16, 1º Piso, Salas 1/6 77006-130 - Palmas - TO Fone/Fax: (63) 3215-3291 / 3215-4115 / 3215-4079 / 3215-4837 [email protected] / [email protected] www.portalamazonia.coop.br Região Nordeste Alagoas – Sescoop/AL Avenida Governador Lamenha Filho, 1880 - Feitosa 57043-000 - Maceió - AL Fone/Fax: (82) 2122-9494 / 2122-9458 / 2122-9456 [email protected] / www.ocb-al.coop.br Bahia – Sescoop/BA Rua Boulevard Suisso, 129, 1°andar - Jardim Baiano - Nazaré 40050-330 - Salvador - BA Fone: (71) 3321-1369 / Fax: (71) 3322-0145 [email protected] / www.oceb.org.br Ceará – Sescoop/CE Rua Ildefonso Albano, 1585, salas 2/4 - Aldeota 60115-000 - Fortaleza - CE Fone/Fax: (85) 3535-3670 / 3535-3650 [email protected] / www.ocbce.coop.br 302 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Paraíba – Sescoop/PB Avenida Coremas, 498 - Centro 58013-430 - João Pessoa - PB Fone: (83) 3221-0911 / 3221-6753 / 3222-6268 / Fax: (83) 3222-3660 [email protected] / [email protected] Diagnósticos e Recomendações Maranhão – Sescoop/MA Rua do Alecrim, 415 - Ed. Palácio dos Esportes - 3º andar, salas 310/312/314 65010-040 - São Luís - MA Fone/Fax: (98) 3222-8092 / 3221-5156 [email protected] Pernambuco – Sescoop/PE Rua Manuel Joaquim de Almeida, 165 - Iputinga 50670-370 - Recife - PE Fone: (81) 3271-2672 / 3271-1478 / Fax: (81) 3271-4142 [email protected] / [email protected] / www.sescoop-pe.org.br Piauí – Sescoop/PI Rua Alto Longa, s/nº - Ed. Cidapi - Água Mineral 64006-140 - Teresina - PI Fone: (86) 3225-3034 / 3225-4444 / Fax: (86) 3225-4443 [email protected] / www.piauicooperativo.coop.br Rio Grande do Norte – Sescoop/RN Avenida Jerônimo Câmara, 2994 - Nazaré 59060-300 - Natal - RN Fone/Fax: (84) 3605-2531 / 3605-2532 / 3205-6669 [email protected] / www.sescooprn.org.br Sergipe – Sescoop/SE Avenida Augusto Franco, 1328, 1° andar - Siqueira Campos 49075-100 - Aracaju - SE Fone/Fax: (79) 3259-1134 / (79) 3259-2752 [email protected] Região Sudeste Espírito Santo – Sescoop/ES Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, 2501 - Bento Ferreira 29050-625 - Vitória - ES Fone/Fax: (27) 2125-3200 / 2125-3202 / 2125-2105 [email protected] / www.ocbes.coop.br Minas Gerais – Sescoop/MG Rua Ceará, 771 - Funcionários 30150-311 - Belo Horizonte - MG Fone/Fax: (31) 3025-7100 [email protected] / www.ocemg.org.br Endereços do Sescoop 303 SérieDesenvolvimento em Cooperativa Rio de Janeiro – Sescoop/RJ Avenida Presidente Vargas, 583 - Sala 1204 20071-003 - Rio de Janeiro - RJ Fone: (21) 2232-0133 / 2232-0344 / Fax: (21) 2232-0133 [email protected] / www.ocbrj.coop.br São Paulo – Sescoop/SP Rua Treze de Maio, 1376 - Bela Vista 01327-002 - São Paulo - SP Fone: (11) 3146-6200 / Fax: (11) 3146-6202 [email protected] / www.portaldocooperativismo.org.br Região Sul Paraná – Sescoop/PR Avenida Cândido de Abreu, 501 - Centro Cívico 80530-000 - Curitiba - PR Fone: (41) 3200-1100 / 3200-1195 / Fax: (41) 3200-1199 [email protected] / [email protected] / www.ocepar.org.br Rio Grande do Sul – Sescoop/RS Rua Félix da Cunha, 12 - Bairro Floresta 90570-000 - Porto Alegre - RS Fone/Fax: (51) 3323-0000 [email protected] / [email protected] / www.ocergs.com.br Santa Catarina – Sescoop/SC Rua Vidal Ramos, 224 - Ed. Jaime Linhares - Mezanino - Caixa Postal 31 88010-320 - Florianópolis - SC Fone: (48) 3878-8800 / Fax: (48) 3224-8794 [email protected] / www.ocesc.org.br 304 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Endereços do Sescoop 305 Diagnósticos e Recomendações SérieDesenvolvimento em Cooperativa 306 Sescoop – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo