Zanshin: a arte de se fazer presente

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Zanshin: a arte de se fazer presente
Zanshin: a arte de se fazer presente
Por João Paulo Barreto
Existem algumas traduções para o termo Zanshin: Mente contínua, A mente que
permanece, A mente sem resto, Mente alerta. Todas, no entanto, passam o mesmo
sentimento que devemos ter ao praticar as mais diversas artes marciais japonesas. Por
exemplo, no Kyudo, o zanshin é demonstrado mantendo a postura após o tiro, após a
seta ser lançada o tiro continua não devendo perder a postura. No Karate, deve-se manter
uma postura sólida pelo menos algum tempo após a realização do kata.
No Aikido a técnica ocorre em três momentos: Maai, Deai e Zanshin. Maai é o
momento em que Nage e Uke estão numa distância adequada para o início da técnica.
Deai é quando existe o contato físico. Zanshin acontece após o contato, sendo o estado
de alerta e seriedade que deve existir depois da técnica.
Saotome Sensei nos fala sobre o zanshin nos seguintes termos: “Nunca devemos
perder a concentração; nunca devemos baixar a guarda nem por um segundo. Temos de
ficar constantemente alerta, cônscios do nosso parceiro de exercício, cônscios de todos
os movimentos à nossa volta, prontos para o deai seguinte, prontos para o inesperado
que vier de qualquer direção. Não afastemos nunca a nossa concentração do parceiro;
não deixemos jamais que nosso espírito se separe dele … zanshin é o futuro, mas
também o agora. A qualidade do nosso zanshin é a qualidade do nosso Aikido.”
Há também de se perceber que o Zanshin não deve ser somente usado após a
finalização de uma técnica. É necessário que estejamos alerta antes mesmo do início da
técnica, nossa postura ao entrar no dojo é de sempre estar vigilante, desperto, atento, ou
seja, em zanshin. Pois, devemos lembrar que o Budo (Artes marciais japonesas) tem sua
origem no Bujutsu (Artes japonesas para guerra). Onde qualquer descuido ou desatenção
poderia custar a vida do guerreiro.
Ao enveredarmos no caminho do Aiki, nos é ensinado que todos os aprendizados
que recebemos ali, devem ser extrapolados para nossas vidas. Isso não deve ser
diferente com o cultivo do Zanshin, sendo essa uma das características mais importantes
do Aikidoísta, pois ele deve estar atento aos perigos e oportunidades que o dia a dia nos
oferece, levando disso um aprendizado único, que seria perdido caso estivesse
desatento. A humanidade em sua grande maioria não se faz presente, tendo dois grandes
problemas: Ou se encontram com a mente no passado, remoendo o que poderia ter sido
feito. Ou no futuro, angustiado por algo que nem existe. O zanshin é o estado de
harmonia com a realidade, por mais paradoxo que isso possa parecer, pois ao iniciante
dessa arte pode parecer que a pessoa que está em zanshin parece estar tensa,
preocupada e inquieta. Sendo o sentimento exatamente o contrário a esse, no estado de
zanshin a mente deve estar relaxada, tranquila e conectada ao ambiente que nos cerca.
A partir do momento em que adquirimos o hábito de praticar o zanshin não só
dentro do dojo, mas também fora dele podemos perceber aspectos importantes em
nossas vidas. Existem níveis de apuração do zanshin, para o qual podemos usar dentro
do aikido, mas também em nossas vidas. Esses três níveis são: Percepção de si,
Percepção do ambiente e percepção do outro. Todos esses aspectos são uma só coisa a
partir do momento em que estivermos completamente conectados e em harmonia com o
universo.
O primeiro nível é a consciência de si próprio. Dentro do aikido, por exemplo,
podemos nos atentar a nossa etiqueta, a maneira como fazemos a técnica, como
reagimos ao ataque. Em nossas vidas, podemos aplicar esse primeiro degrau ao observar
a nós mesmos nos mais diversos ambientes: Lar, trabalho, sociedade. Vendo cada reação
e onde nosso ego está agindo e onde está sendo alimentado, observando nossos defeitos
e qualidades.
O segundo nível é a percepção de nós e do nosso ambiente. Na prática do aikido,
podemos observar isso ao realizar técnicas em nage waza observando onde
arremessamos nossos companheiros de treino, observar se alguém que foi projetado
pode colidir e apurar nossos sentidos e sentimento para os perigos que nos cercam. No
nosso dia a dia, podemos utilizar observando cada ambiente que entramos e sentindo a
aura do local, saber que tipo de energia pulsa naquele local que nos cerca, se estamos
num lugar com boas ou más energias agregando ao primeiro passo que é saber como
reagimos a cada situação e ambiente.
O terceiro degrau é a percepção de nós, o ambiente e outro. Transformando isso
numa coisa única, harmoniosa e totalmente interligadas. Dentro do Aikido uma das
maiores expressões desse alto grau de zanshin é a execução de um Jiyu Waza, onde
você tem que conectar consigo mesmo, o ambiente e todos os oponentes, fazendo com
que o universo encontre a solução mais harmoniosa para aquele embate. Em nossa vida
isso se expressa numa mente em equilíbrio com o que está dentro de nós e ao nosso
redor. Não mais sendo influenciado por nossos pensamentos, pois só pensamos no
agora. Ou pelo ambiente que nos cerca, pois temos total consciência dele, não o
temendo. E por fim não entrar em conflito com o outrem, pois podemos nos ver no outro,
estando totalmente conectados com as pessoas e em consonância com o cosmos.
Há uma frase do poeta William Blake que diz: “Veja o mundo num grão de areia,
veja o céu em um campo florido, guarde o infinito na palma da mão, e a eternidade em
uma hora de vida!”. Este é o espírito que devemos cultivar ao praticar o zanshin, pois
essa é a arte de estar consciente e se fazer presente em nossa curta passagem pelo
mundo.
Agradecimentos
Sou grato a várias pessoas e situações pelas quais passei e me levaram até esse
caminho maravilhoso onde me encontro. Gostaria de agradecer a Deus, por iluminar e
guiar cada passo que dei até hoje. Em segundo lugar aos meus pais que me deram
educação e também me enveredaram a fazer o bem de forma desmedida.
Também sou muitíssimo grato ao Sensei Rodrigo Mesquita, que além de sensei
também se tornou grande amigo e exemplo de pessoa. Pessoa a qual me inspirou a
realizar esse artigo, pois quase sempre está atento a tudo e também me ensinando a ser
um grande aikidoka e um homem honrado. Agradeço também ao professor Henrique, por
tanta paciência e determinação para que eu aprenda cada dia mais.
Agradeço também a todos os professores que vieram de tão longe trazer luz, tanta
harmonia e um vasto conhecimento para nós. Shidoin Roberto Matsuda, Shidoin
Alexandre Borges, Fukushidoin Edgar Bull, Shidoin Tamotsu Kubo, Shidoin Osmar Batista
e Shidoin Alexandre Bull.
Por fim, mas não menos importante, meus companheiros de treino e verdadeiros
amigos que fiz no Dojo: Bruna, Durval, Enzo, Franklin, Herbert, João Viana, João
Henrique, Josy, Laís, Marcelo, Marta, Moisés, Nilce, Ricardo Cordeiro, Ricardo
Nascimento, Rízia e tantos outros que passaram pelo dojo.
A todos estes reverencio e dou o mais profundo Domo Arigato Gozaimashita!

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