- Biblioteca Municipal de Viana do Castelo
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Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica inter-sócios 01.dez.2010 POSTAL COMEMORATIVO DIA DO SELO ESPAÇO RESERVADO PARA SER COLOCADO O POSTAL COMEMORATIVO DO DIA DO SELO viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 3 sumário 00 mensagens Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo José Maria Costa Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Viana do Castelo Maria José Guerreiro Organização Presidente da Federação Portuguesa de Filatelia Pedro Vaz Pereira Director de Filatelia dos CTT Raul Moreira Presidente da Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva Marcial Passos 00 expositores Exposição Filatélica “Inter-Sócios 2010” Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva Rua dos Passionistas - 4905-394 Barroselas Tel. 914 201 352 -969 072 614 [email protected] 00 artigo “Monarquia do Norte - A Guerra Civil entre monárquicos e republicanos onde dois governos governaram Portugal durante três semanas.” Pedro Vaz Pereira Presidente da Federação Portuguesa de Filatelia Apoios 00 artigo “Viana do Castelo na 1.ª República” António Maranhão Peixoto Director do Arquivo Municipal de Viana do Castelo CARIMBO COMEMORATIVO DIA DO SELO Paços do Concelho, denominação aos edifícios onde está sedeada a administração concelhia, é o edifício onde naturalmente se instala a sede da Câmara Municipal, podendo no entanto e não raras vezes, albergar ainda outros serviços e até instituições. O edifício dos Antigos Paços do Concelho de Viana do Castelo foi iniciado no final do século XV, no reinado de D. Manuel I, mas só seria no reinado de D. João III que se lhe dera fim, no então Campo do Forno, posteriormente Praça da Rainha e agora Praça da Republica. É um edifício de dois andares, todo em granito, coroado por ameias chanfradas. O piso inferior é formado por um alpendre com três arcos ogivais, enquanto o piso superior possui três janelas, a que podemos chamar porta-janela ou janela de sacada, com respectiva varanda gradeada em ferro. Sobre as ditas janelas estão esculpidos em relevo, uma caravela, o escudo real e uma esfera armilar. Tornou-se Monumento Nacional a partir de 1910. Era aqui, no piso superior, que estava instalado o salão nobre da Câmara onde a vereação reunia para as deliberações. No piso inferior os escribas da época redigiam, para os iletrados, os requerimentos ou outros quaisquer documentos endereçados à Câmara. Antes deste, o local de reunião do concelho, seria onde hoje é a igreja de Santa Maria, ou seja, a actual Sé. É este carimbo que agora em versão estilizada usamos pela ocasião da comemoração do dia do selo, que irá percorrer muitos cantos do mundo enobrecendo ainda mais a cidade que alguém apelidou, “Este Museu que é Viana” e ou “A Cidade dos Sorrisos”. Realmente, Viana é Amor! Mota Leite programa 30.nov. 21.00h Inauguração da exposição “Uma visita à 1.ª República em Portugal”, comemorativa dos 100 Anos da Implantação da República, da autoria de Pedro Vaz Pereira, Presidente da Federação Portuguesa de Filatelia, no átrio da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo. Patente ao público até ao dia 19 de Dezembro. 21.30h Colóquio “A Filatelia como desenvolvimento cultural” no Auditório da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo. Com a participação de Pedro Vaz Pereira (Presidente da Federação Portuguesa de Filatelia), Dr. Raúl Moreira (Director de Filatelia dos Correios de Portugal) e Dr. Maranhão Peixoto (Director do Arquivo Municipal de Viana do Castelo). 01.dez. 10.00h Representação teatral sobre a proclamação da República na varanda dos antigos Paços do Concelho na Praça da República em Viana do Castelo. 10.30h Abertura da Exposição Filatélica “Inter-Sócios 2010”, nos antigos Paços do concelho na Praça da República em Viana do Castelo. Patente ao público até ao dia 19 de Dezembro. Inauguração do Carimbo Comemorativo, Postal e Selo Personalizado, alusivo ao evento. Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 mensagem Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo José Maria Costa A Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva assinala agora, com um conjunto de eventos, o Dia do Selo, integrando igualmente o Congresso da Federação Portuguesa de Filatelia e uma exposição sobre o centenário da República. Em Viana do Castelo, falar de filatelia é falar desta associação que, com o seu extraordinário dinamismo, tem vindo a colocar o nome do concelho nos principais acontecimentos nacionais desta área. Por isso mesmo, quero aqui deixar o meu reconhecimento pelo excelente trabalho levado a cabo pela Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva e incentivar os seus dirigentes e associados a que continuem a trilhar o seu caminho com a seriedade e a entrega a que habituaram os vianenses. Em nome da Câmara Municipal de Viana do Castelo, deixo aqui as minhas palavras de incentivo a todos os que participam, directa e indirectamente, nestas Comemorações, pedindo que partilham conhecimentos e promovam a filatelia nacional. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 7 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 mensagem Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Viana do Castelo Maria José Guerreiro A Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva responde de novo ao desafio de promover um conjunto de actividades relevantes no âmbito da filatelia, em Viana do Castelo: as Comemorações Nacionais do Dia do Selo, o Congresso da Federação Portuguesa de Filatelia e a Exposição “100 anos da República”. Para além de evidenciar um gosto pela investigação aturada, pelo espírito científico do rigor e pela busca da perfeição estética, esta Associação demonstrou, ainda, uma preocupação cívica ao associar-se às Comemorações do Centenário da República. Estes eventos, pela qualidade, pelo conhecimento, pelo perfil didáctico-pedagógico que evidenciam, constituem espaços de cultura e de partilha intergeracional que permitem tornar vivas as páginas da História. Por estas razões, a Câmara Municipal de Viana do Castelo orgulha-se de apoiar o programa proposto pela Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva o qual contribui para o elevado nível da Filatelia Nacional. 8 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica inter-sócios 01.dez.2010 mensagem Presidente da Federação Portuguesa de Filatelia Pedro Vaz Pereira O Dia do Selo tem sempre uma atmosfera diferente. É o momento em que os dirigentes filatélicos deste país se reúnem, e onde se celebra em comunhão uma sã e fraterna confraternização. Temos o Congresso da Federação, o almoço onde são distribuídos os prémios do ano, e ainda onde se podem levar a efeito outras acções filatélicas. Cabe este ano a Barroselas organizar este importante dia da filatelia nacional, e cabe logo no ano em que se comemoram os 100 anos da implantação da República em Portugal. Atentos e sempre disponíveis cabe-lhes levar a efeito um importante Dia do Selo, onde se discutirão os nossos problemas, mas também onde teremos a oportunidade de entender que a filatelia encerra uma vertente cultural de alto nível. Vamos pois ter a República em Viana do Castelo e vamos discutir as vertentes culturais que a filatelia nos proporciona. Vamos ter em Viana do Castelo filatelia de alto nível feita por filatelistas de vontade e que entendem que filatelia não é só um acto nobre, mas também um factor de grande relevância para o enriquecimento e conhecimento da nossa história. Por isso a Filatelia Nacional tem que estar agradecida aos dirigentes da Associação de Coleccionismo do Vale do Neiva de organizarem mais este Dia do Selo, mas acima de tudo agradecer que o tenham dotado de um grande interesse para a comunidade histórico-filatélica. A Federação Portuguesa de Filatelia representada na minha pessoa sente-se orgulhosa de irmos ter um Dia do Selo de grande nível cultural e só me resta felicitar os meus competentes e diligentes colegas de Barroselas pelo sua grande capacidade de organização e vontade de fazer bem, conhecida de todos, mas a cada ano que passa sempre melhor. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 9 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 mensagem Director de Filatelia dos CTT Raul Moreira Ainda temos no coração, na cabeça e… nas pernas, os ecos da realização da PORTUGAL 2010 - Exposição Mundial de Filatelia, evento de enorme destaque no panorama filatélico mundial que sublinhou a traço bem forte o nome de Portugal neste meio tão especializado que é constituído por todos os Coleccionadores e por todas as outras entidades que orbitam à sua volta. 2010 foi assim um ano grande, enorme , para a Filatelia de Portugal, sendo mais que justo que façamos aqui , neste Dia do Selo , uma referência de altíssimo apreço a todos os que estiveram envolvidos neste projecto, desde a cúpula da Federação Portuguesa de Filatelia até aos membros dos Clubes Filatélicos em causa, sem esquecer todos os trabalhadores dos CTT que contribuíram para o enorme sucesso do evento. A PORTUGAL 2010, pela abrangência e gigantismo, tem tendência para nos fazer esquecer tudo o resto que se fez, e de bom e muito bom, para promovermos a actividade neste ano que agora termina. Fica aqui também o meu grande apreço a todos os que estiveram presentes nessas ocasiões, talvez não tão mediáticas e resplandecentes de luz dos holofotes como a grande Mundial, mas também elas necessárias. 2011 vai ser - para todas as áreas, para todos nós, pessoal e institucionalmente - um ano mais difícil do que foi 2010. Estamos, todos o sabemos porque ninguém se esquece de o proclamar todos os dias, em praticamente todos os meios de comunicação, no meio de uma crise económica e financeira de grande vulto. Obviamente que a actividade filatélica se vai ressentir, em Portugal e no Mundo. Espero que a forma de contrariarmos este sinal mais negativo que antevemos todos para o próximo ano, onde haverá menos dinheiro para tudo, seja um reforço do voluntarismo e da dedicação de todos aqueles que se dedicam à filatelia sem pedirem nada para si próprios, pelo contrário, investindo tempo, trabalho e cabedais retirados às suas vidas pessoais. Para todos os Filatelistas, mas sobretudo para esses que tudo dão sem nada pedir em troca, vai o meu abraço dedicado e sincero. A eles dedico - se me permitirem - este Dia do Selo de 2010. 10 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica inter-sócios 01.dez.2010 mensagem Presidente da Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva Marcial Passos No ano em que Portugal organizou a primeira exposição filatélica mundial “Portugal 2010”, tendo como objectivo comemorar os “100 Anos da República”, a Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva foi escolhida para organizar as comemorações nacionais do “Dia do Selo”, em 1 de Dezembro na cidade de Viana do Castelo. Esta Associação elaborou um programa diversificado de acções, de modo a ir ao encontro das expectativas dos filatelistas nacionais, dos coleccionadores e dos amantes das actividades culturais que as autarquias e as associações vão promovendo. Integrado nestas comemorações, será realizado o Congresso da Federação Portuguesa de Filatelia, onde participarão todas as agremiações filatélicas nacionais que, desta forma, terão a possibilidade de conhecer esta bela cidade minhota. Viana continua a merecer um lugar de destaque no roteiro dos acontecimentos mais importantes ligados ao coleccionismo nacional. O facto de este evento estar associado às comemorações do Centenário da República, é prova que o coleccionismo não está associado aos acontecimentos culturais e historicos mais relevantes do nosso país. A edição deste catálogo contribuirá para perpetuar este acontecimento e a promover a cultura numa perspectiva lúdica do conhecimento humano. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 11 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 EXPOSIÇÃO FILATÉLICA E X P O S I C lasse T em á tica Expositor Autor Temática 1 Marcial Araújo Passos A República na Filatelia 2/3 Marcial Araújo Passos O 25 de Abril na Filatelia 4 Domingos Afonso O Burro 5 Fernando Magalhães A Policia no Mundo C lasse de i n teiros postais Expositor Autor Temática 6/8 José António Torres Bilhetes Postais “Usos e Costumes” 9/11 José Manuel Pereira Bilhetes Postais de Emissão Base 1974-1983 C lasse tradicio n al Expositor 12/16 Autor Temática Florival José A. Pereira do Rio Estudo da Série “Cavaleiro Medieval 1953-1955” 17 Adérito Manuel Carvalhido Estudo da Emissão Base “Tudo pela Nação” 18 José Nuno Meira de Carvalho Estudo da Emissão “3º Centenário da Proclamação da Padroeira de Portugal” Manuel Neiva Maciel Emissões Portuguesas em Talhe Doce 1940-1957 19/23 C lasse h ist ó ria postal Expositor 24 12 Autor Temática Rogério Maciel Barbosa Estudo dos Portes entre 1934-1948 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica inter-sócios 01.dez.2010 A “INTER-SÓCIOS 2010” I T O R E S C lasse m á ximafilia Expositor Autor Temática 25 Fernando Gonçalves Fernandes Automóveis 26 Américo Lopes Rebelo O mundo dos Passeriformes, vistos através da Maximafilia C lasse J U V E N T U D E Expositor Autor Temática 27/28 Henrique Leonardo Afonso Vida de Rei 29 Henrique Leonardo Afonso Antigo Egipto 30 Susana Ramos Pereira Cogumelos 31 Hugo Afonso O Comboio 32 Diogo Reis Lima Torres A Vida do Campo 33/34 Débora Ramos Pereira A Borboleta 35/36 Ana Rita Gabriel Passos A Rosa, uma Dama entre as Damas 37/38 André Alexandre Gabriel Passos Uma Caminhada para a Vida 39/40 Gonçalo Barros Lima A Mensageira Autor Temática Mota Leite Material dos Correios V itri n as Expositor 1 2/3 Edições da Associação de Filatelia e Coleccionismo do Vale do Neiva viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 13 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república artigo mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 Pedro Vaz Pereira Presidente da Federação Portuguesa de Filatelia Monarquia do Norte A Guerra Civil ente Monárquicos e Republicanos, onde dois Governos governaram Portugal durante três semanas. Com a morte de Sidónio Pais, assassinado na estação do Rossio em Dezembro de 1918, o país tinha perdido de novo a autoridade e a tranquilidade, por que há muito ansiavam as suas gentes. Paiva Couceiro, ilustre capitão português, convicto monárquico encontrava-se por essa altura retirado no Palácio dos Condes da Ribeira, que ficava para os lados de Santo Amaro. Era precisamente neste palácio que o “Comandante”, nome por que era tratado pelos seus amigos e apoiantes, recebia todo um oficialato cansado da intriga política e um conjunto de jovens políticos, que procuravam uma nova ordem. 14 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 Antecedentes e Causas Com a morte de Sidónio Pais, assassinado na estação do Rossio em Dezembro de 1918, o país tinha perdido de novo a autoridade e a tranquilidade, por que há muito ansiavam as suas gentes. Paiva Couceiro, ilustre capitão português, convicto monárquico encontrava-se por essa altura retirado no Palácio dos Condes da Ribeira, que ficava para os lados de Santo Amaro(1). Era precisamente neste palácio que o “Comandante”, nome por que era tratado pelos seus amigos e apoiantes, recebia todo um oficialato cansado da intriga política e um conjunto de jovens políticos, que procuravam uma nova ordem. Foi neste ambiente que Paiva Couceiro idealizou e iniciou a sua revolução monárquica. Paiva Couceiro não tinha como fim absoluto a restauração da monarquia através de um golpe militar (2). Em face da agitação que predominava em todo o país e perante o desgoverno da 1.ª República, Paiva Couceiro batia-se por um plebiscito em que democraticamente o povo determinasse qual o regime em que pretendia ser governado, monarquia ou república. Todo este movimento era impulsionado pela Liga Monárquica, que estava sedeada naquela altura na Travessa da Boa Hora no número 43. (2) (1) Henrique de Paiva Couceiro, o herói português que permaneceu sempre fiel à Monarquia e que chefiou a revolta monárquica. Tropas republicanas em Estarreja a combater o golpe monárquico. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 15 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república Paiva Couceiro iniciou então vários encontros com altas patentes militares no Porto e em Lisboa, procurando ajuizar da melhor oportunidade para a realização de tal plebiscito e na sua impossibilidade de um golpe que impusesse a ordem no país. Reflectia-se ainda se este devia ser feito sem o apoio do rei D. Manuel II, que se encontrava exilado em Londres desde a implantação da República. Todas estas movimentações davam-se ainda em pleno consulado sidonista, embora o oficialato que se encontrava nas unidades de Lisboa, reconhecendo a gravidade da situação e o valor militar de Paiva Couceiro, tinha-se sempre declarado fieis a Sidónio Pais e à sua politica presidencialista, seguida mesmo após a sua morte. O plebiscito ansiado por Paiva Couceiro tinha na realidade muitos poucos apoiantes. A monarquia tinha que esperar. Com a morte de Sidónio Pais, Paiva Couceiro pensou que teria a sua vida facilitada. Porém os oficiais continuavam a mostrar a sua admiração pelo velho capitão, mas fieis ao princípio de não se envolverem numa revolta monárquica. Perante esta situação Paiva Couceiro chega a abdicar do seu projecto, endereçando-o a alguns correligionários, continuando contudo os seus artigos sobre o plebiscito no jornal “PÁTRIA” assinando-o com “H” (3). Entretanto as movimentações de tropas leais à República e à Monarquia faziam- mostra filatélica “inter-sócios” 2010 se declaradamente e as reuniões conspirativas de ambas as partes também. É preciso não nos esquecermos que apesar de Sidónio Pais ter sido morto, a ditadura mantinhase com as Juntas Militares a controlar o país e com as prisões cheias de políticos encontrando-se os mais importantes exilados no estrangeiro. O comandante de cavalaria 9 e mais alguns oficiais eram de opinião que se devia “romper com Lisboa” e formar-se no norte um “governo”. A Junta Militar do Norte era de todas as juntas aquela onde se foram concentrando as maiores forças monárquicas, que em Janeiro de 1919 iniciariam um golpe, não para imporem um plebiscito, mas essencialmente para imporem uma “RESTAURAÇÃO”, a qual tinha claro apoio de Paiva Couceiro, que passou a residir no Porto. “Agora ou nunca” ia passando de boca em boca no Norte de Portugal, sem que a Junta Militar se preocupasse muito em controlar ou neutralizar os conspiradores. Paiva Couceiro continuava a receber no Porto os conspiradores que vinham de todos os quadrantes da sociedade portuguesa da época. O “Q.G.M”, Quartel General Monárquico instalou-se no Hotel Universal do Porto, tendo sido aí formada uma Junta Monárquica, que se passou a designar por “Juntinha”. Paiva Couceiro estava determinado em participar e comandar a revolta. (3) 16 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Cabeçalho do Jornal “A Pátria”, de raiz monárquica. Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 A Revolta de Santarém e as suas Consequências Contudo a conspiração que primeiro se deu foi republicana e contra Sidónio Pais, tendo tido a sua génese no Ribatejo, mais propriamente na cidade de Santarém. A conspiração desenrolou-se no hotel Aliança, situado nessa cidade ribatejana e onde residia o Dr. José Reis, advogado bem conhecido daquela cidade(4). Os conspiradores oriundos de todo o país, eram republicanos declarados, mas que, segundo as crónicas da época, jamais dariam a sua vida pela República. Foi então constituído um núcleo civil e militar que iria preparar a revolta contra a ditadura republicana, imposta por Sidónio. Por trás estavam evidentemente muitos republicanos democráticos, ávidos não só de se vingarem da afronta sidonista, como de restabelecerem a ordem democrática e voltarem ao poder. Por todo o Ribatejo foram-se criando outros núcleos conspiradores. Ao mesmo tempo a Junta do Norte continuava a conspirar e preparava uma revolução com o objectivo de restaurar a monarquia. Tudo isto se fazia tão às claras que o Ministro da Guerra da altura, Silva Basto, decidiu enviar ao Porto um oficial para verificar o que se passava, embora constasse que a Junta do Norte estivesse a colaborar com a revolta de Santarém, revoltas de sinais opostos, mas que certamente tinham como objectivo o mesmo fim, ou seja o derrube da ditadura de Sidónio Pais. Entretanto Santarém revolta-se prematuramente, sem aguardar por outras forças e grande parte das Juntas Militares que controlavam o país opõe-se com o receio de uma vitória ligada ao partido democrático, a qual iria certamente proceder a uma imediata repressão e à prisão dos militares que compunham as juntas e eram apoiantes da política repressiva empreendida por Sidónio Pais. (4) Quartel-General de Santarém, local onde se deu a revolta republicana contra o regime sidonista. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 17 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 A Revolta Monárquica Dominada a revolta de Santarém, iniciam-se de imediato os preparativos para a revolução militar, que tinha como objectivo a restauração da monarquia(5). O movimento restaurador resolve de imediato convidar Paiva Couceiro para liderar o movimento revolucionário que há muito se vinha organizando, principalmente a norte do país. A rendição dos revoltosos de Santarém dá-se em 15 de Janeiro de 1919, na então Quinta do Mocho, rendição esta feita através de um comunicado em que se submetem ao governo na pessoa de Teófilo Duarte. Desta forma tinha sido evitada a revolução democrática, o que agradava aos monárquicos e estes iniciaram de imediato o seu movimento restaurador. Durante o movimento restaurador existiam duas correntes, uma que pretendia que se iniciasse de imediato o movimento restaurador e outra, mais cautelosa, que apontava para que tal movimento fosse realizado com um maior tempo de preparação. Paiva Couceiro tinha então 57 anos, quando no hotel Universal se continuava a preparar o golpe contra a República. pública para o movimento restaurador que se adivinhava já muito perto(6). Nesse dia de 18 de Janeiro de 1919 foram entregues todas as ordens aos comandantes revoltosos e Paiva Couceiro recebia alguns indícios, contudo pouco claros, do apoio do representante do rei. (5) A Monarquia foi restaurada no Porto. Em 17 de Janeiro o jornal de tendências monárquicas “PÁTRIA” escrevia: “Salvemos Portugal porque ou o faremos agora ou nunca mais o poderemos conseguir.” A 18 de Janeiro o mesmo “PÁTRIA” escrevia: “Quando veremos romper o sol da libertação? Não sabemos nós mas temos a esperança de que não havemos de morrer sem ver tremular as brisas que nos vêm do mar nessa bandeira azul e branca que nasceu em Ourique.” Como se pode ver conspirava-se abertamente em Lisboa e no Porto e na imprensa era claramente feita a apologia monárquica e preparada a opinião 18 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república (6) O jornal “A Pátria” onde Paiva Couceiro publicava os seus artigos de propaganda monárquica. Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 Os integralistas, do movimento denominado por Integralismo Lusitano, estavam envolvidos neste golpe da restauração. Aquele movimento defendia uma monarquia pura, tradicionalista e não parlamentar, concentrada na pessoa e poder do rei, que exerceria o seu poder pessoal de chefe de estado. Este grupo pretendia que a revolta para a restauração da monarquia não fosse executada de imediato, mas que se preparasse melhor e com outro envolvimento político e militar. Paiva Couceiro decide então iniciar o golpe a 19 de Janeiro, sabendo que apenas parte da tropa aquartelada em Lisboa estava do seu lado. (7) 01.dez.2010 Quartel-General do Porto de cujas janelas Paiva Couceiro falou à população. Estando o Ministro da Guerra Silva Basto no Porto no dia 18 desse mesmo mês, Paiva Couceiro deu ordem para que o prendessem. O rei D. Manuel II, exilado em Inglaterra e embora conhecedor do golpe não tinha dado ordens expressas sobre o mesmo, limitando-se a apoia-lo. A 19 de Janeiro de 1919, Domingo, foi proclamada no Porto a Monarquia, tendo como seu chefe Paiva Couceiro e muitos militares monárquicos, tendo esta proclamação sido seguida em quase todo o Norte do país(7) (8) (9). Aires de Ornelas, ilustre militar português, representante do rei exilado e parlamentar monárquico, foi chamado pelo governo da república em Lisboa, para esclarecer o que se passava no Porto. Aires de Ornelas tinha sido, em 1906, Ministro da Marinha e Ultramar no governo de ditadura de João Franco e era um ilustre colonialista e um convicto monárquico. Este ilustre monárquico e militar informa o governo que recebera um telegrama de Londres onde D. Manuel II lhe solicita para que os monárquicos se coloquem sempre do lado republicano em todos os actos relativos à ordem pública. Por aqui podia-se entender que tal revolta não colhia as simpatias do rei exilado ou que tal resposta não passou de um simples jogo político para entreter os republicanos, já que Aires Ornelas participaria activamente na revolta, mormente no comando das forças monárquicas que se colocaram em Monsanto, então às portas de Lisboa e donde (8) (9) A população do Porto aclamando a Monarquia. A bandeira monárquicahasteada na Bolsa do Porto. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 19 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 pretendiam impor a monarquia a Lisboa através da força militar. A Monarquia do Norte é implantada no Monte Pedral, no Porto, onde as tropas monárquicas em parada ouvem a proclamação da monarquia, lida por Saturio Pires, fiel apoiante e grande amigo do general Paiva Couceiro, dizendo aquela proclamação o seguinte(9a) (9b) Soldados! Tendes diante de vós a bandeira azul e branca! Essas foram sempre as cores de Portugal - desde que D. Afonso Henriques em Ourique na defesa da nossa terra contra os moiros - até D. Manuel II mantendo contra rebeldes africanos os nossos domínios em Magul, Coolela, Cuamata, e tantos outros combates que ilustraram as armas portuguesas. Quando em 1910 Portugal abandonou o Azul e Branco, Portugal abandonou a sua história! E os povos que abandonam a sua história são povos que decaem e morrem. Soldados! O exército é acima de tudo a mais alta expressão da Pátria e por isso mesmo tem que sustenta-la e tem que guarda-la nas circunstâncias mais difíceis, acudindo na hora própria contra todos os perigos, sejam eles externos ou internos, que lhe ameacem a existência. E abandonar a sua história é erro que mata! Contra esse erro protesta, portanto, o exército hasteando novamente a sua bandeira azul e branca. Aponta-vos ela os caminhos do valor, da lealdade e da bravura, por onde os portugueses do passado conquistaram a grandeza e a fama que ainda hoje dignifica o exército de Portugal perante as nações do Mundo! Juremos segui-la, soldados e ampara-la com o nosso corpo mesmo à custa do próprio sangue! E com a ajuda de Deus e com a força das nossas crenças tradicionais, que o azul e branco simbolizam, a nossa Pátria salvaremos! Viva El - Rei D. Manuel II! Viva o exército! Viva a pátria portuguesa. 20 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república (9a e 9b) mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 Bilhetes de Identidade da Junta Governativa do Reino, sendo o 9B passado aos grupos de trauliteiros. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 21 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república Este comunicado era assinado por Paiva Couceiro e por um conjunto de convictos monárquicos(10). O movimento monárquico teve um largo apoio popular no Porto, tendo-se gerado uma grande manifestação popular espontânea e vendo-se em muitas casas por toda a cidade as bandeiras realistas azul e brancas(11). Efectivamente o povo demonstrava claramente que estava cansado da instabilidade política e da perturbação republicana existente nos últimos 9 anos, onde sucessivos governos não eram capazes de conduzir a nação e a levaram para o caos económico e social. mostra filatélica “inter-sócios” 2010 (11) Manifestação de monárquicos na Foz do Douro. (10) “O Primeiro de Janeiro” onde foram publicadas todas as informações dos monárquicos na restauração da monarquia. 22 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 Contudo no resto do país a situação era muito confusa e a adesão das tropas era por vezes pequena, existindo alguns núcleos monárquicos que procuraram resistir e proclamar a instauração da monarquia, mas a resistência era bastante grande(11a). Foi então criado o Diário da Junta Governativa do Reino de Portugal, entretanto constituída no Porto e que era presidida por Paiva Couceiro(12). Neste jornal seriam publicados os decretos da Junta. (10) Projecto de uma nota a mandar imprimir pela Junta Governativa do Reino. (12) Diário da Junta Governativa do Reino de Portugal. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 23 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 A monarquia e os seus hábitos iam-se de imediato instalando e por exemplo em todos os espectáculos com orquestra era obrigatório tocar o hino da Carta, hino monárquico(12a). O entusiasmo a Norte do país era grande e até quadras populares foram feitas contra os principais dirigentes da República, tais como Afonso Costa: Da pêra de Afonso Costa Hei-de fazer um pincel Para limpar a bacia Do Senhor D. Manuel (12a) O Diário da Junta Governativa onde está publicado o Decreto abolindo a República. Todo o Norte e parte do centro aderiram à monarquia(13) (14) (15). O Minho e grande parte da Beira eram completamente realistas. Já Trás-os-Montes encontrava-se dividida com Vila Real e Chaves a não apoiarem o golpe monárquico(15a). (13) 24 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Tropas monárquicas em formatura em frente ao Quartel-General no Porto. Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 (14)(15) 01.dez.2010 Proclamação da Monarquia em Viana do Castelo. O Sul mantinha-se quase na sua totalidade republicano. Estavam assim criadas as condições que levariam a uma pequena guerra civil de curtíssima duração e à existência de dois governos em Portugal, um de origem republicana e outro monárquica(16). (16) (15a) Tropas monárquicas desfilando em Viana do Castelo. António Sollari Allegro membro da Junta Governativa do Norte, onde exerceu o cargo de Ministro do Reino na pasta do Interior. Oficial de Cavalaria foi comissário da polícia do Porto no tempo do sidonismo e um importante líder da Junta Militar do Porto. Após a derrota dos monárquicos retirou-se para Espanha,onde viveu exilado. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 25 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 A Contra Revolução Republicana Era realizada de imediato uma reunião com o Presidente do Conselho, Tamagnini Barbosa, onde participaram os partidos republicanos, que se uniram para fazer face à crise constitucional. pas sem proposta do comandante, com prévio assentimento dos comandantes das unidades. 9.º - Não poderá ser alterado o que fica estabelecido sem nova reunião dos comandantes. Sidónio Pais tinha perseguido muitos dos partidos republicanos, mas morto em Dezembro de 1918 e embora o regime ainda fosse o das juntas militares, tal não obstou a que os republicanos se reunissem em torno da sua República. As tropas republicanas mostram claramente neste pacto que estavam cientes do poderio das forças monárquicas e que não seriam elas a tomar a iniciativa. Nessa reunião participaram grandes republicanos como José Relvas, Alberto da Silveira, Carlos da Maia, Barros Queiroz, Egas Moniz, Brito Camacho, António José de Almeida e Afonso Costa. A primeira decisão que este grupo tomou foi a de libertar os presos políticos republicanos que ainda estavam presos do tempo do sidonismo, dando assim satisfação a uma velha aspiração do Partido Democrático. De imediato os militares republicanos foram igualmente convocados para uma reunião em Campolide, onde iriam iniciar a contra-revolução. Nessa reunião seria aprovado um importante manifesto, que se designava pelo “Pacto do Corpo de Tropas” e que expressava o seguinte: 1.º - O Corpo de Tropas mantém-se neutro formando um bloco para a manutenção da ordem, com o fim de reprimir a demagogia. 2.º - As unidades reprimirão qualquer assalto a qualquer delas. 3.º - As unidades só cumprem ordens por intermédio do comando. 4.º - Não podem ser desviadas de Lisboa. 5.º - O governo não promove nem sanciona qualquer acção agressiva no Corpo de Tropas. 6.º - Não serão feitas concentrações de tropas na cidade ou arredores , nem Lisboa será atravessada por tropas estranhas sem o assentimento do Corpo de Tropas. 7.º - O Corpo de Tropas garante a segurança do Presidente da República, governo e qualquer cidadão que a ele se acolha. 8.º - Não haverá deslocações no Corpo de Tro- 26 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república A União Operária Nacional igualmente apoiou o movimento contra-revolucionário republicano, apesar de ter sido perseguida por todos os governos. De tendência bolchevique, esta União solicitava ainda que fossem indultados os revolucionários de Santarém, que como atrás se disse se tinham revoltado prematuramente contra a ditadura sidonista. O governo da República dá igualmente ordem para armar o povo e convoca-se uma manifestação para o Campo Pequeno, em Lisboa, para apoiar a República, tendo-se esta realizado em 22 de Janeiro de 1919. A população reuniu-se em grande número no Campo Pequeno e aí iniciou-se a formação de companhias de populares e voluntários de apoio à República(17). (17) O povo reunido na Praça de Touros do Campo Pequeno. Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 O convite publicado nos jornais e distribuído à população dizia o seguinte: Ás armas cidadãos! O governo da República desejando, em presença dos acontecimentos que vêem decorrendo, aproveitar todos os esforços dos bons republicanos, tendentes a dominar rapidamente o movimento revolucionário do Porto, resolveu abrir uma inscrição para se poderem constituir, rapidamente, batalhões de voluntários, para o que se convoca todos os cidadãos da república a comparecerem hoje, 22, pelas dez horas da manhã, no Campo Pequeno. O governo também autoriza os académicos, que assim o desejarem, a organizar um batalhão para o mesmo fim, para o que deverão comparecer à mesma hora, no depósito de adidos da guarnição, às Janelas Verdes, sob o comando do sr. capitão de cavalaria e aviador António Maia e capitão de infantaria Henrique Guerra(18). Os académicos viriam na realidade a reunir-se nesse dia 22 de Janeiro de 1919 no quartel das Janelas Verdes e formariam um Batalhão Académico com origem em Lisboa que partiria para o Norte para combater a Monarquia entretanto aí implantada(19). Contudo e antes disso, o Batalhão Académico de Lisboa, composto apenas e ainda por estudantes da Academia de Lisboa, participou na refrega do Monsanto onde a população de Lisboa e grande parte da Marinha atacaram as forças monárquicas comandadas por Aires de Ornelas e que aí se tinham instalado e iniciado o bombardeamento da capital, numa tentativa de conquistarem Lisboa e de restaurarem de novo a monarquia(20). Conforme disse, o Batalhão Académico participou activamente no confronto que se deu entre tropas republicanas e monárquicas em Monsanto, em Lisboa e que estes últimos viriam a perder, sendo infringida uma derrota importante a Paiva Couceiro, já que este perdendo o domínio da capital, fundamental para restauração da monarquia, perderia a revolta encetada pelos monárquicos. Mais tarde este Batalhão Académico de Lisboa incorporaria estudantes da academia de Coimbra. Este Batalhão Académico Republicano era composto por 90 combatentes, comandados por oficiais, (18) Voluntários republicanos em exercício de preparação para partirem para o Norte do país para combaterem os monárquicos. (19) (20) O Batalhão Académico reunido nas Janelas Verdes. Batalhão da Marinha que participou ao lado dos republicanos no ataque às forças monárquicas em Mirandela. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 27 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 (21) 01.dez.2010 Braçadeira usada pelos estudantes do Batalhão Académico de Coimbra. que eram por sua vez igualmente estudantes(21) (22). Os estudantes republicanos foram armados no Regimento de Infantaria 35 de Coimbra, tendo partido para o Norte do país no dia 1 de Fevereiro de 1919, depois de terem recebido instrução militar e em especial de tiro(23). Este corpo estudantil de republicanos viria tomar parte em muitas operações entre Aveiro e o Porto e encontravam-se no primeiro grupo de tropa a entrar na cidade do Porto, acabando com o golpe monárquico e impondo assim a continuação do regime republicano. (22) Lenço com a figura de Magalhães Lima, Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa, usado pelo Batalhão Académico de Coimbra. (23) 28 O Batalhão Académico Republicano reunido em Coimbra. Foi comandado pelo alferes Ribeiro da Costa, tendo as armas sido entregues pelo Regimento de Infantaria 35 de Coimbra. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república Batalhão Académico de Lisboa e Coimbra, Batalhão Académico Republicano ou Batalhão Académico de Norte, foram alguns dos nomes porque ficou conhecido o Batalhão Académico que participou nas manobras militares, que se desencadearam principalmente a Norte do país e que se saldariam pela derrota das forças monárquicas. Apenas como nota adicional, tinha sido igualmente formado no Porto um segundo Batalhão Académico, mas de ideologia monárquica e que ficou conhecido por Real Batalhão Académico do Porto(24). mostra filatélica “inter-sócios” 2010 (24) 01.dez.2010 Bandeira do Real Batalhão Académico do Porto. A Batalha de Monsanto As tropas realistas estavam estacionadas em Monsanto, ponto estratégico para bombardear e dominar a cidade de Lisboa, enquanto as republicanas se agrupavam para atacar essas posições(25). Quando se dá a revolta monárquica era Presidente da República o Almirante Canto e Castro, um monárquico convicto. Entretanto o ilustre Aires de Ornelas tinha assumido o comando dos revoltosos monárquicos em Lisboa onde as forças a favor da República eram largamente superiores em relação aos monárquicos. As hostilidades em Lisboa prolongaram-se por 5 dias, durante os quais se defrontaram ferozmente os monárquicos e republicanos que empreenderam entre eles uma intensa batalha de artilharia, que fez muitos mortos e feridos de ambos os lados, tendo morrido ao todo 39 pessoas e ficado feridas 330. As forças monárquicas ficaram rapidamente cercadas, começando então a escassear os mantimentos e munições e em especial a impossibilidade de evacuação e tratamento dos feridos. Sem munições os monárquicos foram atacados por todos os lados e tiveram que se refugiar no forte de Monsanto onde iriam ser presos e onde sofreriam uma grande humilhação e cruéis torturas às mãos dos republicanos. (25) Posição das forças monárquicas e republicanas em Monsanto. As primeiras assinaladas pelas bandeiras pretas e brancas e as segundas pelas bandeiras pretas. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 29 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 A Conquista do Norte (26) Apesar desta derrota dos monárquicos o país encontrava-se claramente dividido e era governado por dois governos, um republicano em Lisboa e outro monárquico no Porto. Contudo era a norte que a monarquia tinha vingado, já que por exemplo Coimbra e Aveiro tinham-se mantido republicanas(26). Após a vitória de Lisboa, as forças republicanas dirigem-se ao Norte do país, começando por submeter toda a Beira, incluindo a sua capital Viseu. Seguiram depois para a Régua e Albergaria, que após violentas refregas dominaram. Muitas unidades militares do norte ao saberem da vitória dos republicanos em Monsanto, passaram-se então para o lado republicano, o que demonstra bem a pouca consistência da revolta monárquica e o que vem dar razão aos integralistas que eram de opinião que o golpe deveria ter sido levado a efeito mais tarde(27). Entretanto na cidade do Porto a população republicana começava a manifestar espontaneamente o seu apoio à República, reunindo-se no Monte da Virgem. No meio deste grande movimento de tropas, continuava-se a assistir à disputa entre sidonistas e democráticos, procurando estes últimos aproveitar 30 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Defensores civis republicanos de Mirandela. (27) Artilharia republicana a atacar Estarreja. Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 esta guerra civil para acabar com o governo ditatorial, de inspiração sidonista. As forças republicanas dominavam toda a logística do país, por terra, mar e ar, apresentando uma grande superioridade em relação às forças monárquicas. Detinham os abastecimentos de comida e munições, a pequena força aérea de hidroaviões e essencialmente dominavam todos os portos do país(28). As forças monárquicas em inferioridade clara, decidiram constituir companhias de reservistas, essencialmente constituídas por gente pobre dos campos, sem preparação e mal equipada. Pouco a pouco o norte ia cedendo, sendo Chaves o grande baluarte da República e daqui seguiram-lhe o exemplo outras povoações como Bragança, Mirandela, Lamego, Régua, Estarreja e muitas outras. A Monarquia cedia e perdia. Os hidroaviões eram comandados por dois ilustres aviadores portugueses, Sacadura Cabral e Santos Moreira e estavam ao serviço da causa republicana(29). Tinham essencialmente a missão de lançarem panfletos contra-revolucionários no Porto, embora tivessem feito igualmente alguns bombardeamentos. Nesta guerra civil, o lado republicano usou igualmente alguns batalhões do C.E.P. - Corpo expedicionário Português que tinha combatido em França na Grande Guerra. Por sua vez os republicanos iam-se infiltrando nas unidades monárquicas, mormente na Guarda Real sedeada na cidade do Porto. Entretanto no Porto era publicada pelos monárquicos uma lei datada de 13 de Fevereiro de 1919, que muito desagradou à população e que dizia o seguinte: (28) Aspirantes da Marinha que se encontravam a bordo do cruzador Pedro Nunes e que bombarderam a fortaleza de Viana do Castelo, onde se encontravam os monárquicos. (29) Um hidroavião estacionado em Aveiro e que interviu nas operações militares do lado dos republicanos. “Todas as notas do Banco de Portugal, em circulação nesta data, serão sobrecarregadas ou substituídas nos prazos e termos determinados por este decreto: As notas do valor de vinte, cinquenta e cem mil réis serão depositadas, até ao dia 20 do corrente mês inclusive, na Caixa Filial do Banco de Portugal no Porto ou nas agências do mesmo Banco para lhes ser aposta no anverso, em duas linhas paralelas a sobrecarga REINO DE PORTUGAL, 19 de Janeiro de 1919. A Caixa Filial e as agências a que se refere o artigo antecedente receberão dentro do referido prazo, essas notas, entregarão aos apresentantes dez por cento dos respectivos viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 31 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 valores em notas já sobrecarregadas ou de valor inferior a 20.000 réis e tomarão, em conta de depósito gratuito, os restantes noventa por cento sob pena de desobediência qualificada(30)”. (30) Fac-Simile de uma nota com a sobrecarga Reino de Portugal. E se a monarquia perdesse? Certamente que a população arriscava-se a perder grande parte das suas economias! Este decreto foi talvez a chave para a resolução da guerra civil instalada no país, já que produziu um profundo descontentamento em toda a população, que se sentia dessa forma espoliada de noventa por cento do dinheiro que tinha em seu poder. E pergunta-se ainda se uma medida destas avulsa teria contrapartida nos preços que seriam praticados no comércio? A população rapidamente se apercebeu que se dispusesse a ceder aquele decreto, perderia todo o seu dinheiro caso a república vencesse a guerra civil, o que efectivamente veio a acontecer nesse mesmo dia 13 de Fevereiro. Na manhã de 13 de Fevereiro a Junta Governativa do Reino ainda publicou o Diário da Junta Governativa do Reino de Portugal, último acto oficial da monarquia. 32 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Nesse mesmo dia a Guarda Real, antes Republicana, revoltou-se e restabeleceu no Porto a República, acabando de vez com a guerra civil e a aventura monárquica. As bandeiras republicanas foram substituindo as monárquicas(31). Júlio Dantas após a vitória republicana proclamava ser: “...a ordem inseparável da república. Se a data de 5 de Outubro é a data da república proclamada, a data de 13 de Fevereiro é a da república imortal.” Os ministros da Junta Governativa do Norte foram todos presos e julgados o que igualmente aconteceu a muitos militares monárquicos que participaram no golpe restaurador (32). Durante este período foram cometidas enormes violências por ambas as partes contra os adversários e os presos políticos, pelo que esta fase da nossa história ficou conhecida pelo “Reino da Traulitânia”(33). Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 (32) Manifestação republicana em frente ao Governo Civil do Porto, em 16 de Fevereiro de 1919 comemorando a vitória da República. (32) (33) Os presos monárquicos passavam a ser alvo de severas medidas prisionais. Grupo de trauliteiros. Assim eram considerados os apoiantes das forças monárquicas devido à violência que implicavam as suas acções. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 33 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 Aproveitando o fim da Monarquia do Norte, os políticos democráticos conseguiram acabar com a ditadura sidonista e implantaram de novo um regime democrático parlamentar(33a). Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, o grande colonialista, patriota, chefe monárquico e capitão português, exilase em Espanha, vindo a morrer em Lisboa no ano de 1944. O Correio na Monarquia do Norte (33a) Manifesto Republicano ao povo do Porto. Paiva Couceiro e os monárquicos sabiam desde a primeira hora que os valores postais eram um factor determinante da soberania de um estado. Daí terem decidido imediatamente colocar em marcha o projecto do fabrico de valores postais e também de alguns valores fiscais. Em 12 de Fevereiro de 1919 são emitidos valores postais que seriam utilizados pelos monárquicos a partir do dia 13, porém o contra golpe republicano não permitiu que esses mesmos valores fossem utilizados, pelo que estes jamais circularam. Valores fiscais chegaram igualmente a serem impressos. Imediatamente o Governo Monárquico começou a legislar e a publicar várias medidas administrativas no Diário da Junta Governativa do Reino de Portugal, e como acto de soberania monárquica procedeu à impressão de valores postais e fez seguir correspondência oficial. Foram introduzidos de novo os réis e abolido o escudo republicano. Pelo Decreto n.º 16 foi decido manter os portes que se encontravam em vigor. Dizia o Decreto o seguinte: A Junta Governativa do Reino, em nome de El Rei, há por bem decretar o seguinte: Art. 1º - Enquanto não se providenciarem por outra forma, continuam em vigor as fórmulas de franquia e de selos de qualquer natureza e taxas actualmente existentes. Art. 2º - Fica revogada legislação em contrário. Pretendiam os monárquicos emitir estes selos em réis e nos valores de 2 ½ rs, 5 rs, 10 rs, 15 rs, 20 rs, 35 rs, 50 rs, 75 rs, 100 rs e 500 rs(34). 34 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 Foram então impressos alguns destes selos postais com o escudo monárquico em folhas de 100 selos, sendo estas compostas por 10x10 selos. Quando as forças republicanas entraram no Porto no dia 19 de Fevereiro e derrotaram as forças monárquicas, preparava-se a Junta Governativa para iniciar a utilização dos selos monárquicos, os quais tinham sido impressos nas taxas de 2 ½ rs, 5rs, 10 rs, 20 rs e 35 rs. Todos os selos que seguiram para estações postais eram denteados. Aparecem hoje alguns selos dessa emissão não emitida, sem serem denteados, sendo apenas provas do fabrico desses selos monárquicos (34a)(34b). (34) (34a) (34b) 01.dez.2010 Provas dos selos mandados emitir pela Junta Governativa do Reino de Portugal. Sobrescritos entretanto usados pelo governo da Junta Governativa do Reino. Foi ainda emitido um bilhete-postal no valor de 20 rs. Nesse dia 13 de Fevereiro de 1919 a Junta Governativa do Reino de Portugal ainda publicou o Decreto nº 67 que iniciava a utilização dos novos selos monárquicos. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 35 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 Dizia esse decreto o seguinte: A Junta Governativa do Reino, em nome de El-Rei há por bem decretar o seguinte: Art. 1.º - Desde a data da publicação deste decreto, serão postos em circulação selos postais emitidos pela Junta Governativa do Reino. Art. 2.º - Os selos antigos, das diferentes taxas, serão retirados de circulação à medida que foram postos à venda selos do novo tipo e das mesmas taxas. Artº 3.º - Os selos antigos retirados da circulação, por virtude do disposto no artigo, não poderão usar-se, como franquia postal, desde que os portes devidos possam ser pagos em selos do novo tipo que estejam postos à venda. § único - Exceptuam-se do disposto neste artigo as correspondências destinadas a países estrangeiros. Art. 4.º - As franquias que contravierem o disposto no artigo antecedente consideram-se como não existentes para todos os efeitos. Art. 5.º - Fica revogada a legislação em contrário. Este decreto é publicado precisamente no dia 13 de Fevereiro, dia em que a Guarda Nacional Republicana e outras forças republicanas derrotam a revolta monárquica couceirista, pelo que não houve tempo para que os novos selos monárquicos entrassem em circulação. Não se conhece uma única correspondência circulada com estes selos e todas as que apareceram são falsas(35). (35) Carta com selos emitidos pela Junta Governativa do Reino e que nunca circularam. Carta com carimbo falso datado de 11 de Fevereiro. O decreto de emissão dos selos é de 13 de Fevereiro, dia em que os selos iam começar a ser vendidos nas estações de correios e em que o golpe monárquico foi derrotado. 36 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 Sabe-se que foram nesse dia ainda distribuídos alguns selos de 35 réis pelas estações do Porto, mas não chegaram a ser utilizados na correspondência. Juntamente com os selos postais foi emitido um bonito bilhete-postal de correio no valor de 20 réis que também nunca chegou a circular(36). (36) Bilhete-Postal emitido pela Junta Governativa do Reino e nunca colocado em circulação. As autoridades monárquicas pretendiam ainda emitir ainda selos fiscais. Chegaram a ser impressos uns valores sem taxa(37). (37) Provas de selos fiscais mandados emitir pela Junta Governativa do Reino de Portugal. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 37 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 A Junta Governativa do Reino teve ainda tempo para instituir sobrescritos e papel timbrado com as cores reais, o azul e o respectivo escudo(38). Mas o mais notável é que passou a usar novamente o serviço SNR - Serviço Nacional e Real. Este serviço, isento de franquia, foi usado pelo regime monárquico até 5 de Outubro de 1910, sendo agora novamente instituído pelo governo da Junta Governativa do Reino(39). (38) Prova de impresso de papel selado a emitir pela Junta Governativa do Reino. (38) Sobrescrito do Ministério da Instrução Pública e Belas Artes , tendo já impresso S.N.R. – Serviço Nacional e Real, sigla aposta em todo o correio oficial do tempo da monarquia. 38 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república Esta Junta enviava o seu Diário da Junta Governativa do Reino de Portugal para os Juízes de Direito das Comarcas do país. Se inicialmente usou cintas de jornal neutras, teve ainda tempo de mandar imprimir cintas oficiais do SNR - Serviço Nacional e Real e fazer expedir esta correspondência oficial com estas cintas, sendo esta isenta de franquia, como atrás disse(40) (40a). Igualmente mandou imprimir em alguns sobrescritos as siglas S.N.R., correspondentes a este serviço oficial e isento de franquia. Simplesmente notável a importância que o correio, como símbolo de soberania sempre teve, e a prová-lo está o facto da Junta Governativa do Reino de Portugal ter tido em escassas três semanas a preocupação de emitir valores postais e fiscais como forma de vincular a soberania de Portugal ao regime monárquico, então de novo restaurado. Na realidade as únicas peças da Junta Governativa do Reino de Portugal e deste pequeno período de 3 semanas, que eu conheço devidamente circulados, são dois jornais ambos enviados para o Juiz de Fora da Sertã. São na realidade duas peças notáveis e de extrema raridade, já que a correspondência monárquica deste período é raríssima, direi mesmo praticamente inexistente. O correio expedido pelas tropas republicanas em campanha contra os monárquicos estava isento de franquia. Contudo também o correio expedido pelos Batalhões Aca- mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 (40) (40a) Peças rainha deste período e de uma beleza extraordinária. Jornal da Junta Governativa do Reino de Portugal, expedida para o Juiz de Direito da Sertã, envolto em cinta da Junta com SNR - Serviço Nacional do Reino e com a menção de Diário da Junta Governativa do Reino. Peço histórica-filatélica de grande qualidade, sendo estes dois jornais as únicas peças conhecidas circuladas da Monarquia do Norte. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 39 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 démicos, constituído basicamente por estudantes, estava isento de franquia tal como o das tropas, facto que se comprova no postal que se apresenta neste artigo(41) (41a). Este postal ilustrado foi expedido, em 13 de Fevereiro de 1919, precisamente no dia em que a Monarquia do Norte foi derrotada. Este interessantíssimo postal foi escrito pelo Dr. Jorge Marçal, que nessa altura com 20 anos, cursava medicina na Universidade de Coimbra e fez parte do Batalhão Académico que se tinha formado precisamente naquela cidade. O postal não tem indicação do local donde foi enviado, contudo a sua ilustração é de Oliveira de Azeméis, pelo que sou levado a concluir que esse Batalhão Académico se poderia encontrar estacionado nesse local ou teria estado estacionado nesse local, sendo o postal por sua vez enviado do Porto, já que o Batalhão Académico foi um dos primeiros a entrar naquela cidade a 19 de Fevereiro de 1919, dia em que os monárquicos foram derrotados. O seu texto é na realidade já de vitória das forças republicanas e expressa o ponto da situação. (41) (41a) 40 Diz o mesmo o seguinte: “Encontramo-nos agora aqui com poucas esperanças de apanhar os monárquicos que parecem não procurar ter nenhum recontro connosco . Não telegrafo porque os trauliteiros levaram os aparelhos do telégrafo.” No corpo do postal pode-se ainda encontrar a menção de Batalhão Académico e S.M., que queria dizer Serviço Militar e ainda um carimbo com os seguintes dizeres: Destacamento Nº 1 Serviço de Campanha *Serviço Postal* Isento de Franquia Postal Ilustrado enviado em 19 de Fevereiro do teatro de operações pelo Dr. Jorge Marçal, que se encontrava a estudar medicina em Coimbra . viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 (41) (41a) 01.dez.2010 Postal Ilustrado enviado em 19 de Fevereiro do teatro de operações pelo Dr. Jorge Marçal, que se encontrava a estudar medicina em Coimbra . A Monarquia do Norte foi a mais séria tentativa de restauração da monarquia em Portugal(42). O consulado de Oliveira Salazar foi abertamente a favor da monarquia. Contudo o velho ditador nunca teve a coragem política suficiente de abrir a mão do poder e entregá-lo de novo aos monárquicos, não sei se por medo de voltarem a existir partidos políticos e a confusão que os mesmos poderiam voltar a gerar e que ele abominava, ou se por simples apego ao poder. (42) Em 21 de Fevereiro de 1932, 13 anos após a derrota dos monárquicos, os estudantes que compuseram o Batalhão Académico reuniam-se em Coimbra para celebrar a vitória dos republicanos sobre os monárquicos. Repare-se no menu onde está escrito: Escalopes de Vitela à Financeira (À Salazar?). Estamos em 1932, ano em que António Oliveira Salazar toma posse como Primeiro Ministro acumulando o cargo com o de Ministro das Finanças. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 41 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república artigo mostra filatélica “inter-sócios” 2010 António Maranhão Peixoto Director do Arquivo Municipal de Viana do Castelo Viana do Castelo na 1.ª República A Revolução Republicana inicia-se em Lisboa na madrugada de 4 de Outubro de 1910. Os militares republicanos e muitos populares pegam em armas e concentram-se na Rotunda, hoje Praça Marquês de Pombal. Os cruzadores S. Rafael e Adamastor da marinha de guerra bombardeiam o Palácio das Necessidades, onde estava a família real, que se pôs em fuga para Mafra, e o Rossio. Embora as tropas fiéis à Monarquia fossem em número bastante superior, não conseguiram organizar-se de forma a dominar a revolta. 42 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 (1) A Revolução Republicana inicia-se em Lisboa na madrugada de 4 de Outubro de 1910. Os militares republicanos e muitos populares pegam em armas e concentram-se na Rotunda, hoje Praça Marquês de Pombal. Os cruzadores S. Rafael e Adamastor da marinha de guerra bombardeiam o Palácio das Necessidades, onde estava a família real, que se pôs em fuga para Mafra, e o Rossio. Embora as tropas fiéis à Monarquia fossem em número bastante superior, não conseguiram organizar-se de forma a dominar a revolta. Às 8 horas da manhã do dia 5 de Outubro é hasteada a bandeira republicana no castelo de S. Jorge, e cerca das 9 horas é proclamada a República nos Paços do Concelho de Lisboa, presidindo Teófilo Braga ao governo provisório que foi constituído. A Revolução Republicana sai vitoriosa, pondo assim fim à Monarquia que durou quase oito séculos em Portugal(1). O burgo vianense toma tardiamente conhecimento do derrube da Monarquia. Os meios de comunicação social da época não ofereciam a eficiência e a celeridade dos hodiernos. A informação 1 é escassa e as fontes de informação mais próximas são as redacções dos diários portuenses. Perante os factos conhecidos da capital no dia anterior, na sua edição dia 5 de Outubro de 1910 o jornal A Aurora do Lima chama a atenção dos leitores para o artigo de capa intitulado “Marchando para a Anarquia”. Já O Povo, em segundo suplemento, relata-nos assim o dia 6 de Outubro na Princesa do Lima: A noute passara-se na excitação suprema das grandes febres da paixão. As noticias vindas eram poucas, incertas, hesitantes, por vezes pessimistas. A incredulidade do meio exercia uma acção, inconsciente mas real, sobre todos. De manhã, quando, lá para as bandas donde nasce o sol, irrompia uma apotheose de luz, é recebido o telegramma official do governo provisório1. Com uma celeridade admirável a noticia voa a casa de todos os correligionarios e minutos depois notava-se já uma actividade excepcional a hora tão matutina. Á medida que se foi generalizando a noticia a multidão ia se agglomerando na Praça da Rainha. O ar geral era ainda o da duvida. In “O Povo”, 1910/10/09, 2.º Suplemento ao n.º 226, 1.ª página. No primeiro número deste jornal, com a data de 1 de Junho de 1908, o seu director político, A. Ferreira Soares, no texto “O Povo” elucida: Para o nosso pensar e sentir, não significa a palavra “povo” uma camada ou camadas da população contrapostas a outras camadas. Significa a comunidade de todas as creanças, de todas as mulheres, de todos os homens, enraizados pelas tradições e pelo amor ao chão sagrado da Patria. O último número é do dia 12 de Dezembro de 1918. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 43 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república Mas os republicanos exhultavam, e muitos olhos havia de profunda commoção humedecidos. O enthusiasmo crescia, subia como uma maré; a athmosphera de duvida dissipava-se. O povo manifestavase já livremente. Entretanto o sr. Belchior de Figueiredo, delegado do thesouro do districto, era indicado para substituir o sr. dr. António Ferreira Soares, professor do Liceu, que fora nomeado governador civil, mas que estava e está, infelizmente ausente e enfermo2. Segundo o testemunho d’A Aurora do Lima o delegado do Governo diligenciou para se içar a bandeira do novo regime nos quartéis militares, contudo os respectivos comandantes declararam que só o fariam depois de receberem ordem oficial da própria Divisão. Pelas três horas da tarde corre célere a novidade de que entrou no porto de mar a canhoneira Limpopo. Na versão deste jornal, o comandante Musanty negou-se a arvorar a bandeira republicana sem confirmação dos acontecimentos, o que aconteceria só ao anoitecer. O Povo refere que o comandante do Regimento de Artilharia 5 não permitiu que fosse colocada a bandeira da República no posto semafórico e isso criou, muito naturalmente, embaraços à entrada da Limpopo na doca. O Governador Civil diligencia de forma a que acaba por ser o comandante quem entrega aos marinheiros a bandeira republicana, que sobe na adriça do mastro da proa, perante a emoção de muitos correligionários, aderentes à causa republicana e o povo presente no molhe que havia acorrido a vê-la entrar na doca. A marinha é frenética e entusiasticamente aclamada. Cabe, pois, aí aos valentes marinheiros da Limpopo a honra da primeira manifestação republicana da cidade de Viana do Castelo. De seguida, a multidão de manifestantes dirigese á Fortaleza de S. Tiago da Barra, onde as praças já se tinham sido mandadas retirar das muralhas. A manifestação, engrossando sempre, dirige-se à Câmara Municipal. Apesar de estar fechada, é içada a bandeira republicana e acendida a luz da 2 In “O Povo”, 1910/10/09, 2.º Suplemento ao n.º 226, 1.ª página. 44 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 fachada. Depois de prolongadas salvas de palmas e de vivas, com uma bandeira empunhada por um marinheiro da armada, vai ao quartel saudar o coronel comandante com vivas ao exército e à república. A imponente manifestação segue pela avenida Conde da Carreira, em direcção à Praça da Rainha saúda de forma vibrante alguns oficiais de artilharia que estão à porta do Hotel Central. Da Praça volta ao Castelo de S. Tiago onde é recebida pelo oficial de inspecção, Raimundo Meira, e termina na redacção do periódico republicano O Povo, na rua do Hospital Velho, n.º 12. Dissolver-se-á, na maior ordem, ao som de intensos, calorosos e repetidos vivas, após o inflamado discurso proferido das janelas pelo prestigioso republicano Rodrigues da Silva. A imprensa regista que pela noute houve animação até altas horas. A Aurora do Lima difundirá no dia 7, dia em que é conferida a posse ao novo administrador do concelho, Dr. António Carlos Ribeiro da Silva, que a primeira notícia do Governo Provisório veio pelo cabo submarino, no dia anterior, dirigida ao presidente da comissão republicana, e que o governador civil, sr. dr. Vaz Pereira, declarou não entregar o Governo ao novo governador, Belchior de Figueiredo, por não ter comunicação oficial, e que, mais tarde, o entregou à autoridade militar. A edilidade local deixa registado que aos sete dias do mês de Outubro de mil novecentos e dez, n’esta cidade de Vianna do Castello e Paços do concelho, achando-se reunidos na sala das sessões os Senhores Presidente António Gonçalves da Silva Carvalho, Vice-presidente Dr. João Alves Cortez e Vereadores Tenente coronel Joaquim Barbosa Lopes Lobo, Major José Manuel da Silva e Annibal Carlos Galeão, foi aberta a sessão pelas duas e meia horas da tarde e approvada em minuta a acta da anterior. O senhor Presidente disse que havia convocado esta sessão extraordinária para que a Câmara se pronunciasse sobre a attitude a tomar em face dos últimos acontecimentos políticos de que resultou a Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república proclamação da “República em Portugal”. E a Câmara acatando, como lhe cumpre, a mudança do regímen, entende também ser dever declinar o mandato e depol’-o nas mãos do Excelentíssimo Governador Civil do districto, a quem será dado immediato conhecimento d’esta deliberação. E para constar se lavrou a presente minuta, que eu, Adriano Filgueiras d’Amorim, secretário da Câmara, escrevi para ser assinada depois de lida e achada conforme e transcripta a seguir no livro de actas3. Eis o Auto da Proclamação da República(2) na foz do Lima, ainda hoje em óptimo estado de conservação, com encadernação da época, preservado no Arquivo Municipal de Viana do Castelo: Aos oito dias do mês de Outubro de mil novecentos e dez, nesta cidade de Viana e Paços do concelho, na sala das reuniões, pelas três horas da tarde, achando-se reunidos o Senhor Presidente da Câmara Municipal António Gonçalves da Silva Carvalho, Vice-presidente Dr. João Alves Cortez e Vereadores Tenente Coronel Joaquim Barbosa Lopes Lobo, Major José Manuel da Silva e Annibal Carlos Galião, compareceram os vogais da Comissão Municipal Republicana deste concelho, para o effeito de tomar conta da administração d’este Município, tomou a palavra o Senhor Presidente da Câmara e disse que tendo esta em sua reunião d’hontem, como foi comunicado ao Excelentíssimo Governador Civil, deliberado acatar a mudança de regímen e depor nas mãos do novo Excelentíssimo Governador Civil o seu mandato, fazia votos para que tenha chegado em inteira verdade o ressurgimento da Pátria, concluindo por levantar vivas à República e áquella, que foram calorosamente correspondidas pela numerosa assistência da officialidade da armada e do exército de guarnição n’esta cidade, funcionários públicos, civis e de povo representado por todas as classes. Dirigindose então à referida comissão municipal composta dos Senhores Dr. António Carlos Ribeiro da Silva, Francisco Costa d’Oliveira Basto, José Antunes Viana, Luís da Costa Faria, Manuel Pires Gil, Manuel Rodrigues da Silva e Padre Rodrigo Fernandes Fontinha, como effectivos, sendo presidente o 3 mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 (2) primeiro dos mencionados, Dr. António Carlos Ribeiro da Silva, convidando-os a tomarem os seus logares, o que fizeram. Declara-se que estiveram também presentes os vogaes substitutos da mesma comissão municipal Senhores Adriano Peixoto de Souza Villas Boas, António José de Matos, Bernardino Gonçalves d’Araújo, Francisco Soares, José Maria Torres d’Oliveira, Narciso António Pereira Alves e Simão Enes Ruas. E para constar se lavrou este auto que eu Adriano Filgueiras d’Amorim, secretário da Câmara, escrevi e que depois de lido por mim em voz alta vai ser assinado pelo antigo Presidente da Câmara Municipal, referida Comissão Municipal e demais pessoas presentes Arquivo Municipal de Viana do Castelo (AMVCT) – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1910/01/05-1910/10/08, folha 88. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 45 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 [Seguem-se as assinaturas] António Gonçalves da Silva Carvalho António Carlos Ribeiro da Silva Francisco Costa d’Oliveira Basto José Antunes Viana Luís da Costa Faria P.e Manuel Pires Gil Manuel Rodrigues da Silva P.e Rodrigo Fernandes Fontinha Adriano Peixoto de Souza Villas Boas Bernardino Gonçalves de Araújo Francisco Soares José Maria Torres d’Oliveira Narciso António Pereira Alves Simão Enes Ruas António José de Matos Belchior de Figueiredo Francisco Maria Cabral de França, coronel de infantaria 3 António Júlio da Costa Pereira d’Eça, coronel d’artilharia 5 António Augusto d’Oliveira Guimarães, tenente coronel d’infantaria 3 Amâncio d’Alpuim Cerqueira Borges Cabral, tenente coronel d’artilharia 5 José Duarte Pereira Pinto, major d’infantaria 3 Luiz Augusto Silvano, major d’infantaria 3 João Augusto d’ Oliveira Muzantes Filomeno da Camara Mello Cabral Joaquim de Souza Moreira Virgílio Gonçalves Roma, capitão d’infantaria 3 António Pereira Pimenta de Castro, capitão d’infantaria 3 Carlos Maia Pinto, capitão d’ artilharia Alfredo Victor Coelho d’Oliveira, capitão d’artilharia 5 Camillo António dos Santos Sá Pinto Sotto Maior, capitão d’infantaria 3 Abel Marinho Falcão, capitão d’infantaria 3, comandante do D.R.R. 3 Humberto Pinto da Costa Araújo, capitão médico d’artilharia 5 Raimundo Ennes Mina Alberto Augusto do Valle, tenente d’infantaria 3 Joaquim Augusto d’Oliveira, tenente d’infantaria 3 Joaquim Rodrigues Gomes, tenente ajudante Alfredo da Piedade Sant’Anna, alferes d’infantaria 3 Jaime Augusto Fernandes d’Abreu Carlos Fragoso do Rio Carvalho, alferes d’infantaria 3 Francisco dos Reis Gonçalves António Rodrigues Gaivoto Francisco Ramos, tenente picador d’artilharia 5 Júlio Cezar do Espírito Santo José Xavier Barbosa da Costa, tenente d’infantaria 3 João Alves Cortez José da Penna 46 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 Bruno Teixeira de Lencastre Domingos Martins Pimenta Fernando Cardoso de Albuquerque P.e João d’Assumpção Passos Vianna José de Jesus Joaquim d’Araújo Raul Lencastre, empregado ferro viário António Sá Dias, empregado ferro viário David da Conceição Oliveira, alferes almoxarife d’artilharia Agostinho Gomes Pinto do Couto Domingos Affonso Freixo Annibal Augusto Malheiro José Gomes d’Azevedo, 1.º aspirante d’Alfandega do Porto Albano da Costa C. Bastos Francisco Fernandes Facha António da Costa Figueiredo Manuel Gonçalves Traila Manoel d’Araújo Braga Rodrigo Luciano Abreu Lima Augusto José Martins António Fernandes Ferreira Ventura Malheiro Cardoso da Silva João Pereira Ramos Paz Miguel Albino Cerqueira José Affonso Vianna António d’Abreu Bastos Gaspar Simões Vianna José Júlio Pinto Ribeiro Manuel de Passos da Silva Lima Raul Monteiro da Silva António Gomes da Silva Ramos Aleixo de Menezes de Castro Feijó José Martins Xavier Adolpho Maria Caetano Areias Manoel Barboza Esperança Agostinho Pires Carneiro Manoel Rodrigues da Lage Manoel da Silva Pereira Joaquim Fernandes Ramos José da Costa Figueiredo Arthur Fernandes Maceiro Camillo Gonçalves Ramos Arthur Gonçalves Pires Norberto Gonçalves João F. Affonso António Coelho de Castro Villas Boas Malheiro Domingos Amorim Viana José Fernando da Silva Guimarães Domingos Martins Pinheiro viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 47 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 Manoel Gonçalves da Silva Alfredo Jácome Moreira Estanislau José Gonçalves Alberto Gonçalves Pires António Fernandes Manoel Rodrigues Avelino de Passos António Barboza Esperança João Azevedo António Fernandes do Val Prof. Manuel Affonso da Silva António Gonçalves da Silva Agostinho Gonçalves Macedo Manuel Fernando de Carvalho Manoel Fernandes Moreira João José Coelho José Manuel da Silva - major reformado, vereador effectivo José Augusto dos Santos Adriano Filgueiras d’ Amorim Como poderemos verificar, são 113 personagens, todos homens, dos quais 22 militares, entre eles, 13 do Regimento de Infantaria n.º 34 e 5 do Regimento de Artilharia n.º 55, assim como 3 padres, 1 aspirante de alfândega e 1 professor. O órgão oficial de comunicação social dos republicanos(3) do distrito, o bissemanário “O Povo” 6, noticia os acontecimentos ocorridos na cidade e perpetua os termos em que o cidadão Manuel Rodrigues da Silva, o mais velho dos republicanos da urbe vianense, prestigioso por esta circunstancia, pelo seu espírito claro e excellentemente equilibrado, pela sua cultura selecta e orientada e pelo seu carácter de absoluta transparência, teve a honra de fazer das janellas da câmara a proclamação da República: Cidadãos: Como soldado mais antigo do partido republicano de Vianna, cabe-me a altíssima honra de vos fallar n’esta hora historica. O altivo povo de Lisboa, o exercito e a armada em cujo peito a farda não suffocou o sentimento do amor da liberdade e da honra nacional, interpretando a aspiração e a ancia collectiva de (3) 4 Aquartelado em edifício próprio, datado de 1790, no actual Largo 9 de Abril, agora residência de estudantes do Instituto Politécnico. 5 Sedeado até finais de 1960 na Fortaleza de Santiago da Barra, base militar que albergaria os destacamentos militares em trânsito para a I Guerra Mundial. 6 In “O Povo”, 1910/10/09, 2.º Suplemento ao n.º 226, 1.ª página. 48 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 redempção da Pátria, depuzeram para sempre a monarchia de Bragança e proclamaram a Republica portugueza. Sobre as dobras da bandeira que ali se desfralda e que é a bandeira da Patria Nova, cabem bem todos os portuguezes, quaesquer que sejam as suas crenças e convicções. Essa bandeira, representa a Liberdade, a Paz e a Justiça. Honral-a e defendel-a, é honrar e defender as mais bellas aspirações do coração humano. Cidadãos: Interpretando os sentimentos do Povo de Vianna, declaro que sempre deposta a monarchia e proclamo em nome do Povo e da comissão municipal republicana a Republica Portugueza. Viva a Patria livre ! Viva o Povo de Vianna ! Viva a Republica Portugueza ! E continua este periódico: Está proclamada a República. Implantou-a o povo, a marinha e o exercito em Lisboa, reconhecem-n’a as outras forças de terra e mar em todos os pontos do país, reconhece-a toda a organização administrativa da nação, saudamna as potencias, está na vida nacional como um facto, está nos corações como um idolo. A Republica estava na lógica inflexível dos acontecimentos, era uma necessidade social urgente, foi a resultante fatal d’uma politica de desmandos. Sentia-se, respirava-se a necessidade de fazer a Republica. Pois bem: apezar de tudo isso a Republica implantada, a Republica um facto, deslumbra-nos, extasia-nos como um prodigio!! Este singular paradoxo d’um prodigio lógico é a resultante da sublimidade da obra revolucionaria.Transposto o formidavel salto o que éra necessario transformou-se em inverosímil – por enorme. «Pareceme um delicioso sonho» escreve nos, tremulo da commoção e dos annos, o porventura mais venerando dos republicanos portuguezes, o Dr. Monteverde Lobo, do Castello do Neiva, um quasi-centenario , -noventa e trez annos !- cujo proceder tem sido inalteravelmente norteado pelos mais puros e nobres princípios democráticos e em cujo peito nuca vibrou outro hymno que o da Liberdade. Á acção demolidora da Revolução succede a obra constructiva da Republica. Á obra de um partido deve succeder, no mais alto interesse da Pátria, a obra da nação. Que todos os portugueses se compenetrem d’isto, que todos se dêem as mãos para a obra da felicidade commum: desta convicção e desta confiança ha de resultar, fulgurante, a obra esplêndida que agora alvorece. Viva a Republica ! Com a República o governo local passa a ser assegurado por um novo órgão administrativo: a Comissão Municipal Republicana. A primeira é empossada no dia 8 de Outubro e na sessão inicial, aberta pelo meio-dia do dia 10, procede à atribuição dos respectivos pelouros: viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 49 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 Presidente: . Dr. António Carlos Ribeiro da Silva - Secretaria, Fazenda e Impostos Vogais: . Padre Rodrigo Fontinha - Instrução Primária e Impostos . Manuel Rodrigues da Silva - Arvoredos, Jardins e Polícia . Padre Manuel Pires Gil - Águas, Lavadouros e Cemitério Público . José Antunes Viana - Incêndios e Iluminação da Cidade . Luís da Costa Faria - Mercados, Feiras e Matadouro . Francisco da Costa Oliveira Basto - Obras Públicas e Limpeza da Cidade Antes da distribuição dos pelouros, o vogal presidente assume que a Comissão Municipal Republicana investida na administração d’este município bem reconhece quanto é árdua e espinhosa a sua tarefa, mas, com a mais franca e leal cooperação dos seus membros aplanará todas as difficuldades para que se exerça recta e parcimoniosa administração e constituirá por nossa parte a mais cabal justificação da nossa vinda a estes logares, cujo mandato d’este modo saberemos honrar. Por seu turno, o vogal Manuel Rodrigues da Silva propõe que se lance na acta da sessão uma saudação aos bravos combatentes, civis e militares do exército de mar e terra que nos dias e noites de 4 e 5 d’Outubro corrente, com as armas na mão e sacrificando interesse de toda a ordem e a propria vida, implantaram em Lisboa a Republica Portugueza em beneficio da Pátria.” “Proponho mais: Que na acta seja lançado um voto de profundo sentimento por todas as vitimas da Revolução – todos nossos irmãos – e que tombaram mortos ou feridos; uns em defeza d’um ideal de Liberdade, Justiça e Progresso, outros em nome do que suppunham ser o seu dever.” Proposta pelo Presidente, também approvada por acclamação, foi deliberado enviar ao Ex.mo Ministro do Interior o telegrama do teor seguinte: “A Comissão Municipal Republicana de Vianna do Castello, na sua primeira sessão, saúda o governo provisório da república portugueza e faz votos pelas prosperidades da nossa Pátria.” Os sinais de novos tempos são politicamente visíveis, como o acolhimento da imprensa nas reuniões do executivo. Assim, o vogal Manuel Rodrigues da Silva defende que sendo o regímen republicano, um regímen de publicidade e de vida às claras; e sendo a imprensa periódica uma das grandes forças das sociedades modernas, proponho, como homenagem à Imprensa, que na sala das nossas sessões, em logar conveniente, seja collocada uma meza e cadeiras para os representantes da Imprensa tomarem as suas notas, ou fazerem o relato das sessões. Ou a iniciativa de plasmar publicamente a nova era na toponímia, pois, ainda, por acclamação, sob proposta do vogal Presidente mais foi deliberado que a “Praça da rainha” passasse a chamar-se “Praça da República”; a rua “Manoel Espergueira” – rua “Cândido dos Reis”; e, o “Largo José Malheiro Reymão” – “Largo 5 d’Outubro.7” O insigne republicano Padre Rodrigo da Fontinha é eleito vogal vice-presidente na sessão do dia 13 e presidente na seguinte 8. Nessa mesma sessão é deliberado que 7 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Municipal Republicana de Viana do Castelo: 1910/10/10-1910/12/29, folhas 1 verso e 2. 8 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Municipal Republicana de Viana do Castelo: 1910/10/10-1910/12/29, folhas 1 verso e 2. 50 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 todas as obras e fornecimentos que esta Câmara tenha de mandar fazer sejam adjudicados por concurso público em carta fechada, sendo absolutamente sempre adjudicada a obra àquele que a fizer em condições mais vantajosas para a economia do Município, exceptuando-se desta proposta as pequenas obras. Na sequência do decreto, para valer como lei, datado do dia 12, onde é consagrado que as municipalidades poderão, dentro da area dos respectivos concelhos, considerar feriado um dia por anno, escolhendo-o de entre os que representam as festas tradicionaes e caracteristicas do municipio, é contemplado o 20 de Agosto, dia da emblemática romaria de Nossa Senhora d’Agonia, como feriado municipal9. Um novo olhar sobre as questões laborais é interpretado pelo vogal Rodrigues da Silva, ao propor como acto de justiça e como satisfação à reclamação mundial do povo trabalhador, que seja estabelecido, nos serviços do município a cargo de operários e jornaleiros, o dia normal de oito horas, a principiar no próximo dia 2 de Janeiro de 191110. Tal passo recebeu imediata congratulação da União Geral dos Trabalhadores (Federação Obreira do Norte)11. Na antepenúltima sessão ordinária do mês de Novembro, sob proposta do Snr. Vereador Rodrigues da Silva, foi deliberado que seja aberto concurso, pelo prazo de vinte dias, para a publicação, em jornais d’esta cidade, de todos os editaes, avisos, e annuncios necessários, ou que a Camara assim o julgue preciso, durante o próximo anno de 1911. Os concorrentes declararão na sua proposta o preço porque se obrigam a fazer as publicações precisas no primeiro numero a sair, depois de receberem os originaes, sob pena de dois mil reis de multa por cada infracção d’esta clausula, sendo obrigados a remetter à secretaria da Camara um exemplar de cada jornal em que sejam feitas publicações ordenadas pela Camara12. Mais se deliberou, sob proposta do Snr. Presidente, representar ai Ex.mo Ministro do Fomento, para que no mais curto prazo principiem os trabalhos de construção do projectado edifício destinado às installações n’esta cidade do governo civil e outras repartições publicas, como as de fazenda, etc., o que representa a satisfação d’uma urgente necessidade, há tantos annos reclamada pelos mais legítimos interesses d’esta terra13. Na sessão extraordinária de 28 de Novembro é aprovado definitivamente o orçamento ordinário para o ano civil de 1911, cifrando-se o seu valor global em 34:232$228 réis. O Presidente da Câmara, P.e Rodrigo da Fontinha é candidato pelo círculo de Ponte de Lima à Assembleia Nacional Constituinte de 1911. Na sessão ordinária de 11 de Maio será apresentado o seu pedido de licença para se ausentar por tempo indeterminado do respectivo cargo, visto ser-lhe impossível exercê-lo ao mesmo passo que se desempenha da missão de propaganda, que, por, determinação do Directório do Partido Republicano, tem de levar a cabo como candidato a deputado às Constituintes14. A Câmara Municipal de Viana do Castelo elaborou este Auto de Proclamação da República por ocasião da abertura da Assembleia Nacional Constituinte: Aos dezenove dias do mez de Junho de mil novecentos e onze, nesta cidade e Paços 9 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Municipal Republicana de Viana do Castelo: 1910/10/10-1910/12/29, folhas 11 verso. 10 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Municipal Republicana de Viana do Castelo: 1910/10/10-1910/12/29, folha 27 frente. 11 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Municipal Republicana de Viana do Castelo: 1910/10/10-1910/12/29, folha 29 frente. 12 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Municipal Republicana de Viana do Castelo: 1910/10/10-1910/12/29, folha 38 verso. 13 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Municipal Republicana de Viana do Castelo: 1910/10/10-1910/12/29, folha 39 frente. 14 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1911/01/05-1911/12/28, folha 82. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 51 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república do concelho de Vianna do Castello, à uma hora e meia da tarde, achando-se na sala das sessões o vice-presidente da Camara Municipal, em exercício, Padre Manoel Pires Gil e os vereadores Fernando Soares Brandão, Alberto Meira, Gaspar Simões Vianna, Adriano Peixoto de Souza Villas Boas e José Antunes Vianna, commigo, Julio de Lemos, secretario da Camara, pelo vice-presidente foi dito: Que haviam estrallejado os morteiros com que a estação telegrapho-postal d’esta cidade annunciára a recepção da noticia de ter sido solemnemente proclamada a Republica pelos legítimos representantes do povo soberano; Que no quartel d’artilharia estrondeavam agora as salvas de tiros e no d’infantaria se festejava tambem esta ephemeride memorável da consagração da glorioza Revolução de cinco d’Outubro pela Assembleia Nacional Constituinte; Que na Praça da Republica, em frente à casa da Camara, se agglomerava a multidão na fundada esperança de que os dirigentes do Município se associariam a tento regosijo; Que, por isso, propunha se mandasse hastear a bandeira da Pátria na varanda central do edifício, para ser victoriada pelo povo. Entrou, n’este momento, na sala o Excelentíssimo governador civil, senhor Doutor Alfredo de Magalhães, e, tendo a vereação acclamado a proposta do seu vice-presidente, foi por um marinheiro da Armada Portugueza içado o pavilhão e, enquanto este lentamente subia, estrugiram calorosos, frenéticos, enthusiasticos a mais não os vivas e uma força d’infantaria trez, do commando de capitão, apresentava armas, ao mesmo tempo que a banda d’aquelle regimento e da Officina de São José tocavam o hymno nacional. Assomou então à varanda central o secretario, Julio de Lemos e proferiu um breve discurso allusivo ao facto que se celebrava, terminando por erguer vivas à Republica, à Pátria, ao Povo, à Marinha, ao Exercito, Governo Provisório e Doutor Alfredo de Maglhães, aos quaes a multidão correspondeu com o mais extraordinário, delirante enthusiasmo, invadindo logo a sala das sessões, a victoriar com o maior calor a Republica, Deputados e delegado do Governo Provisório n’este districto, senhor mostra filatélica “inter-sócios” 2010 Doutor Alfredo de Magalhães, que agradeceu a imponente manifestação, declarando não se alongar por motivo do seu estado de saúde. Finalmente, foi pelo vereador Antunes lembrado que ao senhor presidente da Assembleia Nacional [Anselmo Braamcamp Freire] se enviassem as felicitações d’esta Camara. Approvada esta proposta, foi pelo vice-presidente mandado expedir o seguinte despacho: «Presidente Assembleia Nacional: Camara Municipal Vianna do Castello felicita Governo e Parlamento acclamação Republica e communica ter sido brilhante festa realizada esta cidade. Pires Gil, vice-presidente.» E para constar, se lavrou este auto de que será tirado um traslado para ser remettido à Torre do Tombo. Vae assignado pela Camara Municipal, Governador Civil e administrador do concelho. Eu, Júlio de Lemos, secretaria da Camara, o subscrevi, li e tambem assigno. [Seguem-se as assinaturas] Manuel Pires Gil Fernando Soares Brandão Alberto Meira Gaspar Simões Viana Adriano Peixoto de Souza Villas Boas José Antunes Vianna José Alfredo Mendes de Magalhães António Carlos Ribeiro da Silva Júlio de Lemos15 Naturalmente, por força destas eleições gerais de 1911 dá-se no plano nacional a consagração da República, ou seja, a legalização do novo regime. A tarefa fundamental dos eleitos será a confirmação do governo provisório e a elaboração da Constituição. A lei primordial é concluída e promulgada no dia 21 de Agosto daquele mesmo ano16. No seu preâmbulo consagra: A Assembleia Nacional Constituinte, tendo sancionado, por unanimidade, na sessão de 19 de Junho de 1911, a Revolução de 5 de Outubro de 1910, e affirmando a sua confiança inquebrantável nos superiores destinos da Pátria, dentro de um regime de liberdade e justiça, estatue, decreta e promulga, em nome da Nação, a seguinte Constituição Política 15 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1911/01/05-1911/12/28, folhas 116 verso e 117. 16 Publicada no Diário do Governo n.º 195, de 1911/08/22. 52 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 da Republica Portuguesa. O seu texto apresenta uma matriz demo-liberal e vigorará durante todo o parlamentarismo republicano. Sem dúvida, representará uma segura defesa dos direitos, garantias e liberdades fundamentais, assim como de princípios da igualdade social e do laicismo. O Padre Rodrigo Fontinha retoma, no dia 31 de Agosto, a presidência da Câmara Municipal, sendo-lhe distribuídos os seguintes pelouros: Secretaria, Polícia, Fazenda e Instrução. Este ilustre e conceituado professor efectivo do Liceu, membro fundador e activo da Liga de Instrução, orador fluente e conferencista brilhante, que galvanizava as plateias com o seu discurso artisticamente modelado17, é uma figura central na afirmação da I República na Princesa do Lima e no Alto Minho(4). Desde 191018 luta por dar corpo à Biblioteca Municipal, na altura um conjunto de livros existente colocados no Palácio dos Cunhas, actual Governo Civil, anexa à biblioteca do Liceu. Esta virá a ser inaugurada solenemente no primeiro domingo de Novembro de 1912, dia 3, por ocasião da festa de distribuição do “Prémio José Malafaya”. Aí proferiu um dos seus mais belos e substanciosos discursos, em que homenageou a figura do insigne benemérito, descreveu os benefícios das bibliotecas populares e pôs em destaque a acção fecunda da Liga de Instrução da cidade19. Da sua acção destaca-se, como acto de justiça e como satisfação à reclamação mundial do povo trabalhador, o ter estabelecido nos serviços do município a cargo de operários e jornaleiros, o dia normal de oito horas a partir de 2 de Janeiro de 1911. Impulsionando a modernidade é concebida uma planta de melhoramentos da cidade, visando o alinhamento e alargamento de ruas. Dadas as dificuldades económicas vividas, Câmara socorre-se da emissão de acções, como fundo financeiro do erário municipal, para obter as verbas necessárias para proceder às expropriações. Neste contexto é referenciada em 30 de Março a abertura(5) de uma Avenida da Estação do Caminho de Ferro para a doca20, que 01.dez.2010 (4) (5) 17 BRANCO, José Luís – Primórdios da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo. «Cadernos Vianenses». Viana do Castelo. Tomo XI (1988), p.92-93. 18 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Municipal Republicana de Viana do Castelo: 1910/10/10-1910/12/29, folha 9 verso. 19 BRANCO, José Luís – Primórdios da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo. «Cadernos Vianenses». Viana do Castelo. Tomo XI (1988), p.91-92. 20 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1911/01/05-1911/12/28, folha 56 verso. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 53 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república se concretizará anos mais tarde, a actual Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, via central da urbe vianense. Por seu turno, a nova rua baptizada de Frei Gonçalo Velho dá um importante contributo para tornar a cidade mais limpa, pois, retira a venda de peixe das proximidades do mercado, situado na avenida Luís de Camões, para ser feita de forma disciplinada e em melhores condições de higiene e saúde pública no antigo mercado21. Novos e importantes arruamentos são traçados e efectuados, como a avenida entre a Capela das Almas e o Cais22, nova rua ao nascente do Jardim Público do Largo João Tomás da Costa, entre este e a Avenida Luís de Camões e a Rua Nova de S. Bento24. A cidade começa a expandir-se para oeste e os moradores do Campo da Agonia fazem várias petições à Câmara para a abertura de uma estrada e sua iluminação25. E o arquitecto municipal Magalhães Moutinho é incumbido do estudo da divisão do Bairro das Ursulinas em ruas26. A assunção do regime republicano emergente e a consolidação do seu ideário estão bem patentes na resolução de mandar colocar nos jardins públicos desta cidade uns avisos confiando ao povo a guarda e respeito daquilo que lhe pertence27. O desejo de modernidade está subjacente à decisão de retirar as grades e os portões do Jardim Público como nos grandes centros progressivos já se usa há muito28. Assim como no deferimento do licenciamento solicitado por Bernardo Fernandes Pereira da Silva para, a exemplo do que se pratica nos grandes centros, utilizar o encosto dos bancos de madeira que existem e venham a existir nos jardins públicos da cidade para anúncios e reclames comerciais e industriais, obrigando-se a pagar a quantia de cem réis por cada banco aproveitado mostra filatélica “inter-sócios” 2010 para tal fim 29. Outro melhoramento relevante e de extrema importância para a região é o matadouro. O existente situava-se junto às Azenhas de Dom Prior, em instalações inadequadas e com as condições de salubridade a deixarem muito a desejar. É tomada a decisão, na sessão de 31 de Agosto de 1911, de se construir o novo matadouro municipal na veiga da Areosa próximo da Praia Norte. O projecto, da autoria dos arquitectos José Luis López-Cortón Viqueira, natural de Cedeira, província da Corunha, da vizinha Galiza, e António Adelino Magalhães Moutinho, arquitecto municipal, é concluído em 6 de Agosto de 1913. Em 1914 é iniciada a sua construção, mas as dificuldades financeiras só permitiram a sua conclusão no dia 5 de Outubro de 192630. Este imponente edifício, desactivado nos finais da década de 90, aguarda na actualidade o início das obras de remodelação/ampliação para albergar o Arquivo Municipal. São tomadas várias medidas de higienização das ruas e limpeza urbana, bem como de saúde pública, com a instalação de mictórios, “chaletsretretes” e programas de desinfecção. É introduzida a energia eléctrica na cidade, substituindo o sistema a gás, com reforço da iluminação pública, sendo esta benfeitoria alargada às freguesias de Afife, Areosa e Carreço. O abastecimento é assegurado pela Empresa Hidro-Eléctrica do Coura, Lda. O executivo municipal, atento à preservação e difusão da identidade e memória colectiva, aprova a mudança das colunas da antiga Ponte de Viana31 - que ostentam duas belíssimas epígrafes do reinado de D. João VI - para o local onde ainda hoje se encontram. Aí assinalam o acesso outrora feito 21 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1912/01/04-1912/12/26, folhas 136 frente e 139 verso. 22 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1912/01/04-1912/12/26, folha 25 verso. 23 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1912/01/04-1912/12/26, folhas 44 frente e 56 verso. 24 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1912/01/04-1912/12/26, folhas 148 frente e 160 verso. 25 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1911/01/05-1911/12/28, folha 99 verso. 26 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1912/01/04-1912/12/26, folha 177 verso. 27 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1911/01/05-1911/12/28, folha 142 frente. 28 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1911/01/05-1911/12/28, folhas 34 verso e 35 frente. 29 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1912/01/04-1912/12/26, folha 51 verso e 52 frente. 30 PEIXOTO, António Maranhão – O Matadouro Municipal de Viana do Castelo. «Cadernos Vianenses». Viana do Castelo. Tomo 40 (2007), p. 191-214. 31 AMVCT – Livro de Actas da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1912/01/04-1912/12/26, folhas 110 e 137 verso. 54 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 à urbe através de um tabuleiro em madeira, assente em estacaria ao longo do rio Lima, proveniente da margem esquerda a partir da capela de S. Lourenço, em Darque. O Código Administrativo de 1913, que regula a organização, funcionamento, atribuições e competência dos corpos administrativos, institui no caso dos concelhos a câmara municipal e a comissão executiva. As funções destes corpos são gratuitas e obrigatórias e os eleitos servem por três anos civis, a contar do dia 2 de Janeiro imediato à eleição ordinária 32. A Comissão Executiva de 1914 é assim constituída e os pelouros atribuídos são: Presidente Dr. Francisco Manuel Dias Pereira: Secretaria, Fazenda, Instrução e Biblioteca; Vice-Presidente - Adriano Peixoto de Sousa Vilas Boas: Polícia e Limpeza; 1.º Secretário - João Filipe Martins Branco: Obras Públicas e Viação; 2.º Secretário - Manuel de Passos da Silva e Sousa: Iluminação e Incêndios; Demais eleitos: - Albano da Costa Pacheco: Lactações e Expostos; - Boaventura de Lima Fernandes: Mercados e Matadouro; - Gaspar Simões Viana: Cemitério; - José Gonçalves do Rêgo Viana: Águas e Lavadouros; - Narciso António Pereira Alves: Jardins. Da anterior gestão transita a Planta Geral de Melhoramentos da Cidade que divide o aro citadino em três zonas: a das Ursulinas, a do centro medieval e área próxima. Neste período inicia-se a execução da mesma pelo troço central ou poente. A imprensa local faz eco das múltiplas preocupações emitidas pelos moradores dos bairros que irão ser demolidos para a abertura da projectada avenida central. No ano seguinte é apresentado o projecto para a construção de casas económicas no bairro das Ursulinas33. Apesar de repelidas as primeiras incursões couceiristas, o quotidiano político nacional pauta-se por movimentos e cisões intra e extra Partido Republicano Português, atingindo os sucessivos governos e titulares ministeriais de forma hábil, acutilante e estratega, redundando, tantas vezes, num passo fútil, extremamente perturbador e anárquico do concerto nacional. Pimenta de Castro encerra o Parlamento. O Ministério pimentista protegido pelo Decreto n.º 1:488, de 9 de Abril de 1915, decreta a dissolução da Câmara Municipal por se achar incursa nas disposições do artigo 1.º daquela ferramenta legal que determina: Serão dissolvidos os corpos administrativos que tomarem deliberações ou praticarem quaisquer factos que representem insubordinação contra o Poder Executivo, ou tenham por fim excitar à insurreição contra as medidas por ele tomadas. O alvará desta dissolução data de 27 de Abril e é emitido pelo Governador Civil, Justino José Correia, bacharel formado em direito pela Universidade de Coimbra 34. Nesta sequência temos a instalação da Comissão Administrativa no dia 5 de Maio liderada pelo General José Augusto Marques, acompanhado dos restantes membros 32 Artigos 2.º, 3.º e 5.º da Lei n.º 88, de 7 de Agosto, publicada no Diário do Governo n.º 183, 1913/08/09. 33 AMVCT – Livro de Actas das Sessões Plenárias da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1912/01/04-1912/12/26, folha 85 verso. 34 AMVCT – Correspondência Recebida, 1915. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 55 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 efectivos nomeados por decreto de 1 de Maio: major Virgílio Gonçalves Roma, José Gonçalves do Rêgo Viana, Francisco José Lopes e Joaquim Arantes de Sousa 35. Da sua fugaz acção regista-se, na sessão do dia seguinte, a resolução de dar execução às instruções do poder central, que mandam restituir ao culto as capelas do cemitério; o licenciamento a Gonçalo Gonçalves de Melo para colocar na frente da loja de barbeiro que pretende abrir na Rua da Picota uma tesoura de reclame de 0,65m de comprimento, bem como atestar o bom comportamento moral e civil, durante os últimos três anos, dos cidadãos Alberto Fernandes da Cunha Mourão e José António Couto Viana Ferreira, ambos da cidade de Viana do Castelo36. Na última sessão, a 13 de Maio, é dado conhecimento do ofício, enviado pelo respectivo professor, a comunicar o encerramento da escola de Alvarães, por ordem do facultativo municipal Dr. Vieira Pinto, por grassar na freguesia a epidemia do trazorelho, devendo reabrir ao cabo de 8 dias. É ainda deferida a pretensão de José Parente, da freguesia de Meadela, para cortar cerca de 50 carros de alvenaria na pedreira dos Crúzios, mediante o preço costumado, ou seja: de oito centavos por carro37. Incapaz de controlar a revolta sangrenta da Marinha de Guerra, iniciada na madrugada do dia 14 de Maio, e a anarquia instalada na capital, Pimenta de Castro demite-se. Com a normalização da situação, o rescaldo do dia 14 revela-se muito mais pesado do que o 5 de Outubro de 1910: 102 mortos e mais de 900 feridos. A 17 de Maio, pelas 13 horas, realiza-se a sessão de reintegração da Comissão Executiva da Câmara Municipal. O presidente, Adriano Peixoto, profere este vibrante discurso: Meus senhores, Uma revolução do Povo Republicano veio mostrar aos ditadores, que não é mais possível neste paiz o regime do arbítrio e que só a República e a Lei hão de nortear os nossos destinos de nação independente e progressiva. O sangue generoso dos que pela Constituição se bateram cimentou as instituições e a esta hora os inimigos da República hão de estar convencidos de que nunca mais lhes serão permitidos os seus crimes de lesa-pátria. A República triunfou e portanto os eleitos do Povo voltam a ocupar os seus lugares, de que foram violentamente esbulhados. Viva a Pátria! Viva a República! Viva a Constituição!38 Entre outras deliberações realçamos a de logo arvorar a bandeira nacional no lugar do estilo, reclamar uma sessão extraordinária da Câmara Municipal, para ela retomar as suas funções e ocupar-se do projecto de construção de casas económicas no bairro das Ursulinas, e que se mandasse hoje iluminar, à noite, a fachada do edifício dos Paços do Concelho39. Forma-se no dia 18 a Junta Constitucional que agrega António Maria da Silva, José de Freitas Ribeiro, Norton de Matos e Sá Cardoso. 35 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa do Município de Viana do Castelo: 1915/05/05-1915/05/13, folha 2 frente. 36 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa do Município de Viana do Castelo: 1915/05/05-1915/05/13, folhas 4 verso e 5 frente. 37 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1915/05/05-1915/05/13, folhas 8 verso e 9 frente. 38 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1915/01/02-1915/12/30, folha 64 verso. 39 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1915/01/02-1915/12/30, folha 64. 56 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 A turbulência política nacional ganhará novos contornos com o deflagrar da I Guerra Mundial e com a participação lusa através do CEP – Corpo Expedicionário Português no conflito. Uma força de três oficiais, sete sargentos, oito cabos e 200 soldados do 1.º Batalhão de Infantaria 3, sedeado em Viana do Castelo iriam partir no dia 9 de Abril de 1917 para a frente de batalha. A revolução sangrenta de Dezembro de 1917, perpetrada por forças adversárias do governo democrático, leva à demissão do Governo e do presidente da República, Dr. Bernardino Machado, que se viu obrigado a sair do País. O chefe da revolta é um político conhecido, o major Sidónio Pais40, que exerceu as funções de ministro de Portugal na Alemanha. Depois de comandar a Junta Revolucionária virá a ser eleito presidente da República, através de eleições presidências directas sendo o único candidato, realizadas no dia 28 de Abril de 1918(6). Desferiu uma crítica cerrada ao parlamentarismo41 e anuncia, como solução política, um governo presidencialista. Aplaudido pelos veteranos monárquicos, pelos unionistas e pelo povo simples, o “presidente-rei” no seu curto consulado visitou, entre muitas terras, Viana do Castelo no dia 13 de Janeiro de 1918. Na Princesa do Lima reafirmou as suas convicções republicanas, repudiou como “caluniadores” aqueles que o apodavam de “fazer o jogo dos monárquicos” e onde foi aplaudido delirantemente. Lembrou que era republicano desde os 15 anos e que entre os seus adeptos se contava o fundador da República: Machado dos Santos42. Viria a ser assassinado no dia 14 de Dezembro daquele ano e com ele morre a República Nova, um regime antiparlamentarista assente em dois vectores: no plano teórico, o programa do Integralismo Lusitano, no plano prático, o descrédito da República. Nesta data é o vice-presidente, Padre José Joaquim Soares Borlido, quem assegura a condução da Comissão Administrativa Câmara Municipal, 01.dez.2010 (6) 40 Nasceu em Caminha a 1 de Maio de 1872 e frequentou o Liceu Nacional de Viana do Castelo, hoje Escola Secundária de Santa Maria Maior. 41 Num discurso proferido nos Paços do Concelho de Beja, no dia 17 de Fevereiro de 1918, afirma: Os actos passados no Parlamento são uma vergonha: desacredi- taram-no. (SARAIVA, José Hermano e GUERRA, Maria Luísa – Diário da História de Portugal. Selecções do Reader’ Digest, 1998, p. 508). 42 ABREU, Alberto Antunes – Viana do Castelo. Roteiros Republicanos. QuidNovi, 2010, p. 52. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 57 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 (7) pois, o presidente, Dr. João Augusto Vieira de Araújo, havia apresentado ao Governador Civil o seu pedido de demissão do cargo43. O almirante Canto e Castro, prestigioso oficial a quem apontam convicções monárquicas, sucedeu a Sidónio Pais de quem foi ministro da Marinha. A sua eleição não se realizou por sufrágio directo como determinava a legislação sidonista. Tal facto marca assim um retorno à República Velha. Apesar de terminada a I Guerra Mundial, sucedem-se as convulsões políticas e a reacção monárquica dos inícios de 1919 levará o caudilho da causa real capitão de Artilharia Henrique Mitchell de Paiva Couceiro a restaurar a monarquia no Porto. A bandeira azul e branca é hasteada no Monte Pedral, lugar escolhido para proclamar a realeza no dia 19 de Janeiro, na Torre dos Clérigos, na Bolsa e nos principais edifícios. A cidade invicta é um imenso mar de bandeiras azuis e brancas. É tocado o Hino da Carta e aclamado o rei e a monarquia. Já há um tempo que o movimento estava a ser preparado no Hotel Universal, tendo como protagonistas Faria Machado, Martinho Cerqueira, Costa Alemão, D. Luís Alcáçovas e outros monárquicos convictos e destemidos. Sob a presidência de Paiva Couceiro, toma posse a Junta Governativa do Reino numa sala da Junta Geral do Distrito do Porto. A “Monarquia do Norte” é reconhecida em Braga, Guimarães, Viana do Castelo(7), Viseu e Lamego. Assim como em Ponte da Barca, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Barcelos, Vieira do Minho, Fafe, Póvoa do Lanhoso, Cabeceiras de Basto e Esposende. Todavia, em Vila Real, Mirandela, Bragança e Chaves registam-se vários protestos, acabando a última povoação, importante pólo militar banhado pelo Tâmega, por não aderir. As guarnições de Valença e Viana do Castelo permitem aos revoltosos manter as comunicações com a vizinha Galiza. As populações extravasaram o seu contentamento, rebentaram foguetes, queimaram bandeiras republicanas e, de todo inevitável, perseguem e prendem os democratas 43 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1918/01/02-1918/12/31, folha 117 verso. 58 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república republicanos da localidade. Reina a convicção de que com o regime monárquico será possível concretizar a paz e a prosperidade, atingir a eficácia política, a estabilidade económica, a tranquilidade social e a liberdade religiosa, tão necessárias e ansiadas em Portugal. Pelas 11 da manhã do dia 13 de Fevereiro, o capitão Sarmento Pimentel dirige uma operação militar que pôs fim à “Monarquia do Norte”. O Quartel-General e o Governo Civil são ocupados e a Junta do Reino, naturalmente, dissolvida. António Granjo, Agatão Lança e o tenente–coronel Ribeiro de Carvalho entre outros dirigem a contrarevolução republicana em Chaves. A “Monarquia do Norte” é efémera, nem um mês dura. Os seus apoiantes andavam armados e espalharam medo e desassossego. Por isso lhes chamavam trauliteiros, sendo o seu domínio a “Traulitânia”. Sem dúvida, o esmagamento desta tentativa mais encarniçada de restauração monárquica, e o papel activo e dinâmico desempenhado pelos populares, são um marco decisivo da afirmação e enraizamento da República em Portugal. Além de Manuel dos Passos Viana44, que participou no Movimento Monárquico, comandando uma bateria de Artilharia que se agregou às outras tropas na serra lisboeta de Monsanto, também aí combateu e morreu o vianense alferes José Cirne, como subalterno do 3.º esquadrão de Cavalaria 2. João Espregueira da Rocha Páris, benfeitor da Congregação da Caridade, monárquico vianense distinto, participou nas incursões de Paiva Couceiro, acabando por fugir para o exílio devido à abortada tentativa desta restauração monárquica. Regressará a Portugal após a Revolução do 28 de Maio de 1926. No caso de Viana do Castelo, na sessão extraordinária da Câmara Municipal de 23 de Janeiro, o 44 mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 presidente Dr. João Augusto Vieira d’Araújo disse que, como era do conhecimento de todos, havia sido restaurada, no dia 19 do corrente, a Monarchia pela Junta Governativa do Reino de Portugal, installada na cidade do Porto, tendo o mesmo faustoso acontecimento sido recebido em Viana com o maior entusiasmo e feita também aqui, na casa da Câmara, a proclamação do regímen tradicional na madrugada de 21 do corrente, com a leitura, perante numeroso público, da proclamação da aludida Junta Governativa; que êlle, Presidente, com todos os partidários da situação deposta em 5 de Outubro de 1910, se sentia extremamente feliz pelo restabelecimento da Monarchia na augusta pessoa do Senhor D. Manuel II – facto que entre nós se verificaria sem o mínimo acto de hostilidade por parte do governo republicano, se a canhoeira “Limpopo” não tivesse vindo atirar algumas granadas sobre a cidade -; que fora com uma satisfação indisivel que hoje tomará parte na soleníssima proclamação oficial, efectuada neste edifício45, das antigas instituições, tam prestigiadas por oito séculos de gloriosa existência; e que, tendo acabado de sahir do Governo Civil, onde fora com a vereação, assistir à posse do novo chefe do districto, sr. Major Martinho José Cerqueira, que também estivera nos Paços do Concelho, na imponente proclamação de hoje, conforme consta do respectivo auto, entendia e propunha que esta Comissão Administrativa apresentasse a Sua Excelência o seu pedido de demissão colectiva, não só porque servira com a Republica46, embora primitivamente tivesse sido eleita pelos votos dos conservadores na ultima eleição municipal, mas tambem porque era conveniente deixar àquele magistrado a precisa liberdade para proceder, nesta conjuntura, como melhor entendesse. Esta proposta foi aprovada por unanimidade47 e o pedido de demissão colectiva Abortado o movimento foi preso, esteve no Forte de Monsanto, transitou para o lazareto de Lisboa, daí para a ilha da Madeira, concluindo o seu castigo prisional no Forte de S. Julião da Barra. Obrigado a demitir-se do Exército acabou por regressar à sua terra natal de Viana do Castelo. 45 Miguel de Alpuim erguera o estandarte da Câmara ladeado pelo coronel Dias Branco, Martinho de Cerqueira e João Vieira de Araújo, soltando o brado por D. Manuel II, as tropas desfilaram em continência pela frente do edifício e o pirotécnico Castro queimaria os seus melhores foguetes em regozijo pela restauração da realeza. 46 Na sequência da proclamação da Monarquia do Norte são efectuadas várias prisões. O Centro Republicano Evolucionista, sedeado na rua da Picota, n.º 3, é vandalizado pela Juventude Monárquica que destruiu tudo à machadada. Inclusive, na fogueira onde queimaram o mobiliário destruído lançaram também manuscritos de João da Rocha (1868-1921), eminente polígrafo e político vianense, chefe de gabinete ministerial e secretário particular do Presidente da República Dr. António José de Almeida. 47 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1919/01/02-1919/02/05, folha 4. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 59 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 foi aceite, sendo indigitado o engenheiro Bernardo de Espregueira para organizar a futura lista de vereadores48. Todavia, o Dr. João Augusto Vieira d’Araújo manter-se-á no cargo e iremos encontrar na sessão preparatória da Comissão Administrativa do Município, nomeada por alvará do Ex.mo Governador Civil deste Distrito de 25 do corrente, em virtude da reimplantação da República no Norte do país, como presidente Rodrigo Fernandes Fontinha49. Na reunião de 3 de Abril expôs as sérias dificuldades com que tem lutado para debelar a crise das subsistências e como os trabalhos exaustivos do celeiro lhe trouxeram um grande cansaço, que lhe impõe algum tempo de repouso. Por isso, pede à Câmara uma licença, a partir de hoje, que lhe é concedida e entrega a presidência ao vogal mais velho, sr. Simões, que logo ocupou esse lugar, retirando o sr. Fontinha no meio de uma significativa manifestação dos seus colegas na vereação50. Gaspar Simões Viana, por alvará do Governador Civil datado de 26 de Abril cederá o lugar a António Lourenço da Costa 51. A Aurora do Lima faz eco da ânsia popular por uma nova praça de touros, ao difundir a necessidade de dar princípio à construção do redondel tauromachico, que substitua ahi o que foi demolido por effeito do canal do caminho de ferro à doca52. A apatia parece manter e novo alerta surge: estamos a tres meses das festas da Agonia e ainda ninguém pensou em construir o novo redondel53. Passados cinco meses é constituída uma empreza denominada Companhia da Praça de Touros de Viana, cujos sócios fundadores são: Rodolfo Vieitas Costa, Manuel Martins Couto Viana, Bernardo Pinto Abrunhosa, Jose Rebello Ney, Álvaro de Pinho e Campos, Armando Mauro, Miguel Alpuim, João Parente, João Alves Cerqueira, João Rodrigues de Moraes, José da Costa Jácome, Manuel Gomes da Costa Castanho, Manuel Affonso de Carvalho Júnio, Aníbal Carlos Galeão, Jeronymo Vieitas Costa e Jose da Rocha Paínhas54. Ainda neste ano de 1919, com a presidência do Dr. José Domingos Vivo, a Câmara Municipal irá aprovar a municipalização do abastecimento de água 55, assim como, a construção de dez casas para banhistas na praia de banhos na enseada do Cabedelo, de harmonia com um projecto moderno e barato e anuncia a abertura de uma estrada que, pelo Cais Novo, ligasse a populosa freguesia de Darque com o Cabedelo56. E o Dr. Manuel Félix Mâncio da Costa Barros, que irá liderar o executivo municipal até Janeiro de 1922, institui, no dia 12 de Agosto deste ano de 1919 o pelouro do Celeiro57, de forma a assegurar uma eficiente gestão da produção e armazenamento de milho que começa já a existir em abundância. No dia 10 de Junho de 1921, o executivo liderado por Rodrigo Luciano de Abreu Lima delibera adquirir a maquette e plantas do monumento aos mortos da Grande Guerra, que a Junta Patriótica do Norte fornece aos Municípios58. A sua inauguração 48 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1919/01/02-1919/02/05, folha 6 frente. 49 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1919/02/26-1919/04/17, folha 1 verso. 50 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1919/02/26-1919/04/17, folha 17 verso. 51 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1919/04/26-1919/08/07, folha 1 verso. 52 A Aurora do Lima, 1919/04/18, p. 1. 53 A Aurora do Lima, 1919/05/09, p. 1. 54 A Aurora do Lima, 1919/09/30, p.3. 55 O que efectivamente só virá a acontecer no dia 27 de Junho de 1928. 56 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1919/08/12-1919/11/27, folha 4 frente. 57 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1919/08/12-1919/11/27, folha 1 verso e 2 frente. 58 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1921/01/07-1922/01/13, folha 58 verso. 60 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 (8) irá ocorrer a 24 de Setembro de 1922. Também em preito aos nossos soldados que se bateram na Grande Guerra, é atribuído o nome de Largo 9 de Abril ao Largo do Quartel59. A edilidade vianense adquire em 1 de Junho de 1922 a “Casa das Figuras”, para aí instalar um museu de arte regional. Depois de ter albergado também a biblioteca e o arquivo do município, acolhe na actualidade o Museu de Arte e Arqueologia(8). A 2 de Junho de 1923 é inaugurado o Elevador de Santa Luzia, funicular que ainda hoje se mantém em actividade. Esta mais-valia turística de elevada importância para o monte de Santa Luzia, donde é possível admirar uma das mais deslumbrantes paisagens do nosso país, dá acesso ao Templo-Monumento do Coração de Jesus, e oferece ao visitante um dos grandes pólos de atracção turística de Viana do Castelo e do Alto Minho. O executivo do Dr. Eduardo Cruz, que sucede a Tomás Simões Viana na governação municipal, decide, na sessão ordinária de 27 de Fevereiro de 1924 e na sequência da reivindicação reiterada pelo Instituto Histórico do Minho, pedir a criação do Arquivo Distrital 60. Tal desiderato só acontecerá pelo decreto n.º 46.350, de 22 de Março de 196561. E a sua inauguração dar-se-á somente no dia 17 de Abril de 1985. Em 18 de Abril de 1925 é abortada uma revolta encenada por várias forças militares e militarizadas que exigia ao presidente Teixeira Gomes a nomeação de Filomeno da Câmara, um dos chefes do movimento, para presidente de um novo governo. O presidente não cede e a revolta militar não encontra qualquer eco na população civil, acabando os cabecilhas por ser presos. Em 15 de Janeiro de 1926 recomeçam as obras no Santuário do Coração de Jesus, no monte de Santa Luzia, sob as ordens do arquitecto Miguel 59 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1922/01/18-1922/12/30, folha 17 frente. 60 AMVCT – Livro de Actas da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1924/01/02-1925/07/15, folha 14 verso. 61 A sua instalação será apenas assegurada em 18 de Maio de 1983 pela Direcção-Geral do Património do Estado que naquela data cede ao Instituto Português do Património Cultural o edifício da antiga Vedoria, situado na Rua Manuel Espregueira. Este imóvel projectado por Manuel Pinto Vila Lobos, construído em finais do século XVII, receberá obras de remodelação e adaptação até 1985. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 61 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república Nogueira (1883-1953) que irá levar a bom termo o projecto de Ventura Terra (1866-1919), seu mestre. Os alicerces começaram a ser abertos em Fevereiro de 1904 e em Janeiro do ano seguinte são colocadas as primeiras pedras de alvenaria. Este local de peregrinação será benzido solenemente, sinal de conclusão, a 14 de Junho de 1959 pelo Arcebispo de Braga e Primaz das Hespanhas, D. António Bento Martins Júnior, acolhendo o culto desde 22 de Agosto de 1926. No dia 28 de Maio de 1926 rebenta em Braga um movimento revolucionário, a 8.ª Divisão sublevou-se com o general Gomes da Costa à cabeça do comando, que faz chegar a todas as divisões a seguinte proclamação: Portugueses! Para homens de dignidade e honra, a situação do País é inadmissível. Vergada sob a acção de uma minoria devassa e tirânica, a Nação envergonhada sente-se morrer. Eu, por mim, revolto-me abertamente! E os homens de valor, de coragem e de dignidade, venham ter comigo com as armas na mão, se quiserem comigo vencer ou morrer! Às armas, Portugal! Portugal às armas pela liberdade e pela honra da Nação! Às armas, Portugal! Ao general Gomes da Costa são reconhecidos serviços distintos na Índia, em África e na Flandres, durante a Guerra Mundial. Ele não está só e o movimento que chefia foi organizado pela Junta Militar Revolucionária de Braga e acolhe amplos apoios em várias unidades. Nomeadamente, em Lisboa o chefe do movimento é o comandante Mendes Cabeçadas. No dia 30 de Maio confirma-se em todo o país o triunfo deste movimento revolucionário. O movimento que eclodiu em Braga tenta responder a um mal-estar colectivo e sentencia, de forma implacável, o fim da República, volvidos apenas 16 anos da sua proclamação. Na altura, o governo municipal de Viana do Castelo era assegurado por Rodrigo Luciano de Abreu Lima, edil empenhado no ordenamento da “nova avenida”. Isto é, a Avenida dos Combatentes, inicialmente concebida como avenida central, aprovada pelo Governo em 10 de Janeiro de 1917 e delineada pela premente necessidade de levar pro- 62 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 (9) dutos e mercadorias directamente da estação dos caminhos-de-ferro à doca comercial. A sua abertura, concluída preliminarmente até final daquele ano, levou a um conjunto bastante significativo de expropriações e a um número elevado de demolições. Certo é que este eixo de grande significado para a modernidade vianense, além de demoradas e complexas expropriações, exigiu a demolição de cerca de 80 casas, quase todas muito velhas e o seu alinhamento levou ainda à eliminação de quatro ruas estreitas e esganadas. Surgiram novas e modernas edificações, como as da Garagem Avenida(9) e da Cruz Vermelha nos anos 20, a dos Correios, concluído em 1933, projecto do arquitecto Rogério de Azevedo e a escola Dr. Alfredo de Magalhães(10), também concluída neste ano, sob o desenho dos arquitectos Baltazar de Castro e Rogério de Azevedo, assim como as primitivas instalações da Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, em 1938, da autoria do arquitecto Raul Pedro Martins. Na sessão ordinária de 5 de Junho de 1926, o mesmo presidente testemunha: Sendo esta a primeira vez que compareço à Câmara, após a revolução militar, não posso deixar de lhe fazer referência, não para saudar a nova situação, porque isso não pode de forma alguma fazê-lo quem na sua posição de vencido se encontra e considera, mas para exprimir os meus votos por que a situação não se desvie do campo republicano e para desejar que para a República advenham dias da maior prosperidade. Os monárquicos, os inimigos da República, de todos os matizes, rejubilam no momento em que Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república mostra filatélica “inter-sócios” 2010 01.dez.2010 (10) das cadeiras do poder sair o Partido Republicano Português – e, se o fazem, não é porque esperem melhores dias para o ideal republicano, mas porque se lhes afigura que dêste movimento vantagens advenham à sua causa. À frente do Governo está um republicano de 5 de Outubro, que nos oferece todas as garantias pelas suas convicções republicanas; acima da política dos partidos, da minha própria política partidária, de que eu não abdico, considero dever estar essa política geral, sem a qual não podem ter logar as outras. Encontrámo-nos nestas cadeiras em nome de maioria, expressa pelo sufrágio; aqui nos deixamos estar enquanto nos não úsurparem êsse mandato, que é legitimo e, da mesma forma, poremos todo o zelo na missão que nos foi confiada. Quando sairmos, nós que aqui não temos feito senão administração republicana; e, nesse momento, viremos prestar convenientemente as nossas contas, - porque a Câmara, que com zelo e dedicação se desempenhou do seu mandato, virá toda, de cabeça erguida, entregar os bens que lhe confia- 62 ram, com a consciência plena do dever cumprido. É isto que eu penso e assim o submeto à consideração de V.ªs Excelências. O secretário da Câmara Municipal, Arnaldo José Passos, regista que a Comissão Executiva concordou62. Volvidos cem anos, à luz do conhecimento que usufruímos, poderemos afirmar que os movimentos de opinião mais radicais nunca se instalaram em Viana do Castelo. As tentativas socialistas foram sempre exorcizadas pelos sermões inflamados, devidamente aclamados pelo clero dos púlpitos das igrejas. Como verificamos, em 1910, foi necessário esperar alguns dias pela instalação da Comissão Municipal Republicana, que integrava dois padres. A revolução republicana germinou uma forte instabilidade política. A mudança de regime operada, e não só de Governo, conhece agentes e actores com programas ideológicos bem determinados, agravando-se pelo facto de serem as mesmas pessoas com mais de um ideário definido e, tantas vezes, desencontrados entre si. AMVCT – Livro de Actas da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Viana do Castelo: 1926/01/26-1926/07/10, folha 62. viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 63 Selo dia do comemorações nacionais no centenário da república Sabemos que a ideologia republicana circulava já na Princesa do Lima muito antes de 1910, embora de forma um tanto ou quanto difusa. O aristocrata João Gomes de Abreu referencia como precursores nesta cidade, doutrinando mesmo oralmente o povo, Francisco Valença e mais seis homens, dos quais apenas nos legou os apelidos: um Esteves, um Lisboa, um Alves Leão, um Rodrigues da Silva, um Viana Patronilho e um Antunes Viana. Sendo certo que, tal como em todo o país, a proclamação da República não surpreendeu ninguém, verificamos que Viana do Castelo passou à margem de todo o processo conspirativo, levando a que os feitos do 5 de Outubro lhe passassem completamente despercebidos. Tal facto é comprovado pela reunião da Câmara Municipal nesse mesmo dia nos Paços do Concelho da forma habitual. A nova Câmara republicana reuniria pela primeira vez passados quatro dias, isto é, a 8 de Outubro de 1910. Viana do Castelo era uma terra grata à monarquia, devido aos melhoramentos que recebeu da Regeneração e que constelaram a sua afirmação regional. Uma das provas está na sua estação ferroviária, ainda hoje encimada e ornada pela granítica coroa da realeza. Já a aprovação da Constituição de 1911 colheu grandes festejos e aplausos das suas gentes. Sabemos que, em 1913, o Centro Evolucionista de Viana do Castelo tem a sua sede na Rua de S. Pedro, n.º 8, e que no Partido Evolucionista militam, entre outros vianenses, os doutores João da Rocha (Frei), Carteado Monteiro, António Carlos Ribeiro da Silva, o ex-padre Manuel Pires Gil, Casimiro Correlo, Alberto Meira, Júlio de Lemos e o padre Rodrigo Fontinha. Em 1916 está sedeado na Rua da Picota, n.º 22, 1.º, o Centro Distrital Republicano Evolucionista. Assim como sabemos que as rivalidades políticas tinham expressão na actividade económica. Na verdade, rivais no meio empresarial, Castros e Silvas também o eram na política. Os Castros, monárquicos, abriam as suas exibições pirotécnicas sempre com as cores azul e branca. Por seu turno, os Silvas, republicanos convictos, 63 mostra filatélica “inter-sócios” 2010 exibiam na abertura foguetes de cores vermelha e verde 63. O presidente da República, Dr. António José de Almeida, que chegou vindo de comboio, esteve nesta cidade de 9 a 11 de Junho de 1923. A I República em Viana do Castelo, apesar de todas as contrariedades, angústias, vicissitudes, inquietudes e desilusões, sempre naturais na aventura humana, desencadeou e fomentou novas mentalidades, uma reconstrução do tecido social e uma visão diferente e de maior proximidade da coisa e da causa pública. A magistratura do general Gomes da Costa e o Estado Novo afirmam a cidade, o concelho e a região no contexto estratégico militar nacional. Os seus quartéis e os seus militares serão, como ainda hoje, referências geracionais, começando pela expressão directa que estes últimos terão na condução da governação municipal. Mesmo tendo em conta o estigma de fracasso com que, normalmente, a historiografia nacional chancela este período dos alvores do século passado, somos da opinião de que, em Viana do Castelo, proporcionou e potenciou uma forte alavancagem de progresso e desenvolvimento, cujo reflexo é bem visível na modernidade de pensar/fazer a Cidade. ABREU, Alberto Antunes – Viana do Castelo. Roteiros Republicanos. QuidNovi, 2010, p. 42-44. 64 viana do castelo - antigos paços do concelho - praça da república 01.dez.2010