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XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" PERFIL DA OVINOCULTURA DE LÃ E CARNE DO RIO GRANDE DO SUL E SEUS DESAFIOS PARA O FUTURO ROBERTA CALVETE; LUIS HUMBERTO VILLWOCK. UNISINOS, SÃO LEOPOLDO, RS, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL SISTEMAS AGROALIMENTARES E CADEIAS AGROINDUSTRIAIS Perfil da Ovinocultura de Lã e Carne do Rio Grande do Sul e seus desafios para o futuro Grupo de Pesquisa: Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Resumo Este estudo investiga o perfil da cadeia produtiva de ovinos de carne e de lã do Rio grande do Sul, assim como seus desafios para o futuro, a partir da percepção dos principais agentes envolvidos. Desta forma, procura-se avaliar as perspectivas de mercado, avaliando as estratégias comerciais adotadas pelos produtores rurais e o seu relacionamento com os demais agentes da cadeia produtiva. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório descritivo, no qual foram feitas entrevistas seguindo um roteiro semi-estruturado, junto a produtores e beneficiadores, definidos através de uma amostra não-probalística por tipicidade. Para facilitar a análise dos dados, utilizou-se o programa QSR Nvivo 2.0, específico para a análise qualitativa de dados. Os resultados alcançados revelam que há uma desorganização da cadeia produtiva como um todo, destacando-se a falta de profissionalização dos agentes, o que se traduz na carência de estratégias comerciais, administrativas e tecnológicas aptas a explorar o potencial do mercado nacional e internacional atual, sobretudo, com relação à exploração do segmento dedicado à produção de carne. Outros entraves identificados foram: o roubo de animais e a falta de segurança no campo; o avanço das lavouras temporárias, que competem em área; o avanço tecnológico do uso de fibras sintéticas e artificiais, em substituição à lã; o recrudescimento das barreiras sanitárias e falta de infra-estrutura local; e, finalmente, a falta de políticas de crédito condizentes com a remuneração do setor. Em suma, necessita-se urgente da retomada na modernização da gestão da cadeia produtiva, iniciando pelo controle mais eficaz da produção agropecuária e culminando por ações mais integradas Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" junto aos demais agentes da cadeia produtiva, a exemplo de outras cadeias congêneres, como aves e suínos. Palavras-chaves: Ovinocultura, Comercialização, Estratégias, Análise da cadeia. Abstract This study investigates the profile of the productive chain of ovine meat and wool in Rio Grande do Sul, as well as, its challenges for the future, from the perception of the main involved agents. Thus, we sought to analyze market perspectives, evaluating commercial strategies adopted by rural producers and their relationship with other agents of the productive chain. It is a qualitative research, with a descriptive and exploratory character, in which interviews following a semi-structured route were made with producers and people who beneficiate ovine; they were selected through a non-probable sample. To make the analysis of data easier, it was used the program QSR Nvivo 2.0, which is specific for qualitative analysis of data. The results revealed that there is a disorganization in the productive chain as a whole, being highlighted the lack of professionalization of agents, what shows the necessity of commercial, administrative and technological strategies, which should be able to explore the potential of the current national and international markets, above all, the exploration of the segment dedicated to the production of meat. Other identified hindrances were: the robbery of animals and the lack of security in the field; the advancement of temporary farming which out compete in area; the technological advancements of synthetic and artificial fibers, in substitution to the wool; the intensification of sanitary barriers and the lack of local infrastructure; and, finally, the lack of credit policies suitable to the remuneration of the sector. To sum up, it is urgently need the retaking in modernization of the productive chain management, starting by a more efficient control in cattle breeding and agriculture production and culminating in more integrated actions with other agents in the productive chain, following the example of other congeners’ chains, as poultry and swine. Key Words: ovine production, marketing, strategies, chain analysis 1. INTRODUÇÃO A ovinocultura é uma das atividades mais antigas praticadas no Rio Grande do Sul, sobretudo na região do Pampa (região de campos e coxilhas). Fortemente dedicada à produção de lã, proveniente da criação de raças laníferas, o estado, pouco a pouco, observou o declínio desta importante atividade econômica, na medida em que materiais sintéticos passaram a compor boa parte das necessidades da indústria têxtil internacional, oferecendo matéria-prima mais barata e de fácil adaptação às exigências do mercado. De acordo com Batalha (1997) e Zylbersztajn e Neves (2000), o conceito de agribusiness provém de duas abordagens teóricas, Commodity System Approach (CSA), proveniente da escola americana e de analyse du filières, de origem da escola industrial francesa. Para este estudo, adota-se o conceito de agronegócio como sendo uma sucessão de atividades produtivas, interligadas entre si, desde a produção de insumos, setor agropecuário, beneficiamento e distribuição de alimentos e biomassa, visando atender as necessidades reveladas pelos consumidores finais. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Este trabalho tem como finalidade demonstrar como se apresenta a ovinocultura remanescente no Rio Grande do Sul, orientada pelas novas demandas do mercado, destacando-se, mais recentemente, uma forte vocação para a produção de carne. A produção de carne ovina no país e em particular, na região sul é bastante favorável, devido às condições climáticas e de solo, entre outros fatores. Entretanto, a atividade necessita de uma organização que possibilite aumentar sua competitividade, uma vez que a produção atual não supre a demanda, tendo havido importações de outros países; inclusive da longínqua Nova Zelândia. Desta forma, a lã ainda mantém boa parte do setor, tornando esse mercado irregular e com pouca disponibilidade ao longo do ano. A carne ovina possui problemas de sazonalidade e baixa qualidade, devido à genética de seus rebanhos produtores (ROCHA et al., 2004). O país tem pouca competitividade no mercado internacional, além de apresentar dificuldades para suprir a atual demanda interna sem recorrer a contínuas importações. Esta situação é evidenciada pela baixa qualidade da carne produzida, pelos altos custos e pela baixa escala de produção, pela assistência técnica e gerencial deficientes, elevados custos de transporte, regulamentação excessiva e obsoleta, assim como pelas altas taxas de juros (NOGUEIRA FILHO et al., 2004). Tem que se quebrar paradigmas e mitos referentes à criação de ovinos, os produtores ainda acham que a criação de ovinos não lhes confere status, sendo relegada a uma atividade de menor importância. Apesar do consumo de carne nos grandes centros urbanos ainda ser muito baixo, a carne ovina possui crescente aceitação. O consumidor atual é muito exigente quando se fala em qualidade e preço, fazendo que a cadeia produtiva necessite de sintonia de mercado e, sobretudo competitividade (PILAR et. al,2004). O objetivo dessa pesquisa foi verificar como é o perfil do produtor ovino no estado e sua interface junto à indústria de beneficiamento da lã, como para a industrialização da carne. Desta forma, procura-se caracterizar o mercado e a comercialização do setor de ovinocultura do Rio Grande do Sul; avaliar quais as estratégias comerciais estão sendo adotadas; e descrever a forma de relacionamento entre produtores e os demais agentes desta cadeia produtiva. 2. A CADEIA DE PRODUÇÃO DE OVINOS A carne ovina no mundo assume uma função social relevante, pois é fonte de proteína de origem animal para diversas regiões do globo. A raça de ovinos de corte inserida em regiões produtora de grãos, de frutas e de erva-mate tende a diminuir os custos da produção, pois os ovinos reciclam os nutrientes através dos seus dejetos e transformam os resíduos da lavoura em carne (ROCHA et. al., 2004). De uma forma geral, a criação de ovinos se desenvolve de forma extensiva, com baixos níveis de tecnologia, produtividade e rentabilidade. Para competir no mercado mundial à atividade produtiva necessita de padrão racial, difusão tecnológica, assistência técnica e gerencial, estudos de mercados, capacitação dos produtores e sua articulação com os demais atores da cadeia produtiva. O alto custo do material genético, abates clandestinos, carência de laboratórios especializados e a baixa qualidade das peles fazem com que os produtores Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" releguem a criação de ovinos a um segundo plano, pois os resultados são de difícil obtenção. (PILAR et. al, 2004) A produção de carne ovina apresenta como maiores produtores mundiais: China, no entanto seu volume de consumo interno absorve toda a oferta abatida; seguida da Austrália e Nova Zelândia, que representam juntas 74% das exportações mundiais. Logo após encontramse a Turquia, Irã e Reino Unido. Vale observar que a França e o Reino Unido importam um quarto do total da produção de ovinos no mundo. Observando-se a atividade de produção de lã, verifica-se que a mesma está distribuída em cinco grandes grupos: o primeiro formado pela China (20% de toda a produção ovina); o segundo, formado pela Austrália e Nova Zelândia (8%); o terceiro composto por Irã (4,5%), Reino Unido (3,9%), Turquia (3,7%) e Espanha (3%); em quarto lugar, África do Sul, França, Estados Unidos, Mongólia e Grécia (acima de 1%); e o último grupo é formado pelo Brasil, Itália e Irlanda (com menos de 1%) (ROCHA et. al., 2004). Outro aspecto importante a destacar refere-se ao fato de que todos os produtos derivados de lã, de excelente qualidade no mundo, devem possuir um selo de garantia de qualidade da Woolmark Company. Esta marca está registrada em mais de 140 países, sendo que a mesma encontra-se licenciada em 65 países produtores. O símbolo chama-se Woolmark sendo um selo de garantia de qualidade atribuído a todos os produtos que são feitos exclusivamente com lã nova e estão em conformidade com as rígidas normas de qualidade estabelecidas pela empresa. Os tecidos e confecções só poderão ostentar o selo de qualidade após passar por testes realizados pelo Secretariado Internacional da Lã. Tendo passado pelos mais rigorosos testes e adquirido o selo, os clientes podem ter a segurança de que estão levando um produto da mais alta qualidade (WOOLMARK COMPANY, 2005). A exportação de lã pode ser realizada de duas formas: estado bruto ou produtos manufaturados (tops, fios e tecidos); abastecendo indústrias da Inglaterra, Alemanha e Itália principalmente, gerando uma média de US$ 80 milhões por ano e uma produção de 35 milhões de quilos. No entanto esta demanda não vem crescendo, pois com a expansão das fibras sintéticas ocorreu uma retração do consumo mundial de lã, pois se formaram amplos excedentes da fibra o que fez com que houvesse queda dos preços e drástica redução do efetivo ovino mundial (COIMBRA FILHO, 2005). No caso específico brasileiro, no entanto, percebe-se que vem ocorrendo uma evolução na produção, abate e peso das carcaças (o país é considerado o 15º produtor mundial). Os responsáveis por esse crescimento destacam-se entre outros, a melhoria de pastagens, a alimentação e os investimentos na genética dos rebanhos. Todavia ainda há alguns limitantes para a ampliação produtiva deste setor, destacando-se à dificuldade em aquisição de crédito e o custo financeiro dos financiamentos. No que tange a distribuição geográfica de ovinos no Brasil constata-se que, no ano de 2002, o nordeste é região maior produtora, com uma média de 48,14% da produção nacional; seguida, pela região sul com 41,98%. As regiões sudeste, norte e centro oeste possuem respectivamente 3,10%, 2,31% e 4,44% (EMBRAPA, 2002). A ovinocultura de corte do Brasil ainda é pouco desenvolvida devido a sua exploração extensiva no qual são utilizadas raças não especializadas; a dependência da vegetação nativa; práticas ainda rudimentares de manejo; pouca assistência técnica, gestão e organização da Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" unidade produtiva. O mercado tradicionalmente tem sido abastecido com animais de peso vivo entre 28 e 30 kg aos 150 e 180 dias de idade (VERISSIMO, 2005). O consumo do povo brasileiro ainda encontra restrições devido a sazonalidade do produto (concentrando a safra de cordeiros ao final do ano) e a baixa qualidade do produto, pois são abatidos rebanhos produtores de lã ou lã/carne. O Brasil é um dos importadores de cordeiro (carne) do Uruguai, podendo comprometer o emergente mercado de carne ovina brasileiro. O consumo per capita de carne de ovinos no Brasil gira em torno de 0,7kg, na Argentina em torno de 1,7kg e no Uruguai 12kg. Vale lembrar que no Rio Grande do Sul consome-se aproximadamente 2,5kg, porém, em Uruguaiana, Livramento e Alegrete passa de 31kg, enquanto que na Patagônia (Argentina) outra zona produtora, o consumo fica em torno de 11kg (ROCHA et. al., 2004). Outro ponto importante seria a variação dos sistemas de produção viável para cada tipo de região, clima e solo brasileiro. Os rebanhos ovinos do Brasil representam apenas 1,7% do efetivo mundial. Levando-se em conta a extensão territorial brasileira, bem como as condições edafoclimáticas adequadas ao desenvolvimento da ovinocaprinocultura, os rebanhos são numericamente inexpressivos, especialmente quando relacionados com a criação de bovinos, cujo efetivo nacional é da ordem de 160 milhões de cabeças (NOGUEIRA FILHO et. al., 2004). Apesar disso, para que o desenvolvimento ocorra com maior brevidade, ações conjuntas envolvendo o poder público, a iniciativa privada e os demais parceiros devem ser implementadas buscando a integração de todos os segmentos da cadeia produtiva. Para que se consiga imperar neste mercado globalizado, necessita-se desenvolver projetos cooperativos (NOGUEIRA FILHO et. al., 2004). Logo, as disputas entre produtores e abatedouros não podem chegar a ponto de gerar desabastecimento dos pontos de venda ou descuido na qualidade, sob pena de o consumidor desistir de adquirir este produto e procurar um produto alternativo (carne de frango, por exemplo). Na última década, a indústria de carne de ovinos deixou de se caracterizar como mercado de subsistência e passou, em âmbito nacional, a ser considerado mercado de carnes exóticas, tendo como clientes em potenciais: grandes redes de supermercados, restaurantes e hotéis, lojas de conveniências, etc. A questão promocional assume grande importância, o marketing inicialmente deve se concentrar conforme as classes sociais (CARVALHO, 2004). A maciez, suculência e o sabor determinam a qualidade da carne. Estas características estão relacionadas com o diâmetro médio das fibras musculares. Diâmetros elevados indicam maior proporção de massa muscular branda e relação ao tecido conjuntivo (ROCHA et. al., 2004, pg.10). Particularmente no Rio Grande do Sul, de acordo com Coimbra Filho (2005), devido a crescente demanda por produtos ovinos, o número de empresários dispostos a investir na ovinocultura vem aumentando novamente. Esta atividade apresenta uma larga história no estado. No início do século 20 a ovinocultura era inexpressiva, desprotegida, incipiente e desorganizada, sendo sua carne utilizada para consumo das próprias estâncias e os pelegos como arreios, cama e cobertor. Com a 1ª Guerra Mundial, houve aumento do preço da carne e lã devido os conflitos que os países estavam passando. A partir de 1915, houve melhoria da qualidade dos ovinos e sua exploração tornou-se mais lucrativa e apreciável. Neste mesmo ano, surgiram as “Barracas” que nada mais eram do que locais depósitos e transação de lã. A Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" disseminação no Rio Grande do Sul da ovinocultura foi realizada pelos barraqueiros. (BOFILL, 1996) Após as três ultimas décadas: anos 70, 80 e 90; em que a ovinocultura teve respectivamente sua glória/ascensão, torna-se necessário pensar a respeito de mudar o foco no intuito de recuperar sua importância no cenário econômico regional. Para ser economicamente sustentável a ovinocultura necessita gerar excedente de produção. Aspectos antes pouco valorizados, como; segurança, higiene, qualidade e confiabilidade, especialmente no setor de alimentos, são cada vez mais importantes na decisão de compra. Sendo assim, deve-se identificar melhor o perfil do potencial consumidor.O conceito de competitividade em cadeias produtivas agropecuárias deve considerar o conceito estabelecido por Porter (1990), no qual compete-se por diferenciação, baixo custo e/ou foco. Para produtos com maior valor agregado, a competitividade é estabelecida a partir da crença em relação a sua diferenciação. Para cadeias baseadas em commodities, a competitividade é estabelecida principalmente por baixos custos, permitindo lucro mesmo com preços baixos (CASTRO, 2000). Para se estudar as cadeias produtivas, necessita-se de compreensão do todo, seguindo um enfoque sistêmico, os quais participam todos os segmentos da cadeia formando elos desse processo. A seguir apresenta-se o fluxograma da cadeia produtiva de ovinos, que será utilizado para ilustrar os resultados alcançados durante a pesquisa. (ver figura 1) Figura 1: Cadeia Produtiva de Ovinocultura de Lã e Carne Fonte: Nogueira Filho et. al. (2004), adaptado. 3. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório descritivo, Malhotra (2001) e (GIL, 1999), uma vez que se propõe a compreender o posicionamento da população Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" investigada a partir da visão dos principais agentes do setor de ovinocultura do Rio Grande do Sul (pecuaristas, técnicos da área, representantes de indústrias processadoras de carne e de lã e representantes do governo). O estudo foi dividido em duas etapas, em primeiro lugar, procurou-se, através de pesquisa bibliográfica (Lakatos e Marconi,1990), coletar dados referentes à estrutura produtiva, situação geográfica e econômica, principais mudanças que vêm ocorrendo, tanto no aspecto de inovações tecnológicas, como na situação social, e de perspectivas futuras, junto ao setor de ovinocultura. Em um segundo momento, procurou-se entrevistar os agentes representativos do setor, segundo definição de uma amostra não probabilística, por tipicidade, de acordo como que descreve ROESCH, (1999) e (LAKATOS; MARCONI, 1990). A amostra escolhida para a pesquisa caracterizou-se por produtores e beneficiadores da cadeia produtiva da ovinocultura de lã e carne do Rio Grande do Sul, conforme quadro 1 a seguir. PRODUTORES FEDERAÇÕES Lã Carne Lã Carne ASSOCIAÇÕES Lã Carne ARCO INDÚSTRIA DE LÃ CADEIA PRODUTIVA ENTREVISTADA José Luis Pons Davi Fontoura Martins FECOLÃ ( Federação das Cooperativas de Lã) Presidente – Álvaro Lima da Silva Gerente geral – Cláudio Haussen de Souza FEBROCARNE (Federação Brasileira de Criadores de Ovinos de Carne) Diretor Técnico – Eduardo Amato Bernhard Associação Brasileira de Criadores da Raça Ideal Presidente – Mário Soares Piegas Associação Brasileira de Ovinos Hamshire Down Diretor Técnico – Wilson Belloc Barbosa Associação Brasileira de Criadores de Ovinos Técnico zootecnista – Claiton de Almeida Severo Vice-Presidente da ARCO e 1º vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Corriedale – Carlos Alberto Teixeira Paramount Têxteis Diretor da Divisão de Tops – Cláudio Bortolini Ateliê Têxtil em Dom Pedrito Coordenador – Pedro Gonçalves Filho Quadro 1: Cadeia produtiva selecionada para entrevista Fonte: Elaborado pelos autores Nesta etapa, a técnica utilizada para a coleta de dados consistiu em entrevistas semiestruturadas, realizadas por abordagem direta (MALHOTRA, 2001). A coleta de dados foi realizada durante a Expointer (Feira Internacional de Agropecuária de Esteio/RS), no período de 28/08/2005 à 04/09/2005. Foram feitas entrevistas com 11 representantes da cadeia produtiva, representantes da ovinocultura de carne e lã. As entrevistas foram feitas dentro dos estandes de cada associação, federação e indústria e todos elas gravadas para posteriormente realizar suas transcrições. A análise do estudo foi realizada através da análise de conteúdo (ROESCH, 1999). Segundo Tavares dos Santos (2004), para facilitar a análise dos dados utilizou-se do software Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" QSR NUDIST Vivo 2.0, no qual consiste em um sistema de indexação e teorização sobre informações qualitativas de última geração. Para Dwyer (2001), o Nvivo permite a catalogação automatizada de palavras em linguagem natural, imagens, conceitos e codificações desenvolvidas pelo pesquisador. Desta forma, a análise foi feita da seguinte forma: 1º passo – fez-se a transcrição de todas as entrevistas em formato “rtf”; 2º passo – para melhor identificar o que era pergunta e resposta separou-se em duas cores, vermelha para as respostas e azul para perguntas; 3º passo – foi criado um projeto no Nvivo e inserida cada entrevista na pasta documentos; 4º passo – dividiu-se a análise por objetivos; 5º passo – fez-se um a busca geral em todos os documentos de texto com uma determinada seqüência de caracteres (palavras e frases) que corresponderam a cada questionamento do referencial teórico. E outra, em cada categoria previamente codificada por entrevistado (lã e carne); 6º passo –todas as busca foram distribuídas por objetivo que correspondiam; e 7º passo – a partir daí, uniu-se cada “nós” da árvore com a fundamentação teórica para realizar a análise dos resultados. A seguir, as figuras 2, 3 e 4 apresentam os modelos de cada análise. Mercado e a Comercialização 1 Identificação dos Entrevistado 1.1 Rio Grande do Sul 1.5 Car ne 1.2.1 Visão do Cenário 1.2 O v inos 1.2.5 Comercialização 1.4 M er cado N acional e Int er nacional 1.2.4 Lã 1.2.2 Comentários Extras 1.3 M er cado E st adual 1.2.3 Figura 2: Análise do Objetivo: Mercado e Comercialização Fonte: Elaborado pelos autores Análise Sw ot 2.1 Estartégias Comerciais 2 Marketing 2.10 Ameaças 2.1.1 O por t unidades 2.1.4 Consumidor Final 2.9 Pont os Fort es 2.1.2 Posicionamento 2.3 Comentários Extras 2.8 Comercialização 2.5 Pont os Fracos 2.1.3 Valor 2.3.2 Pr eço 2.3.1 Imagem 2.7 N ichos e segmentação 2.3.3 Estartégias 2.2 Compet ição 2.2.1 M udanças 2.2.2 comercialização 2.5.1 Satisfação do cliente e Valor 2.6 Vantágens Competitivas Sustentáve 2.4 Figura 3: Análise do Objetivo: Estratégias Comerciais Fonte: Elaborado pelos autores Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Exploração Ovina e Cadeia produtiva 3 Exploração Ovina 3.3 Cadeia Produtiva 3.1 N ichos e S egment ação 3.1.5 Carne 3.3.2 Lã 3.3.1 Relacionamento 3.1.4 Cadeia P rodutiva 3.1.1 E xplor ação O vina 3.1.3 Comentários Extras 3.2 Consumidor Final 3.1.2 Figura 4: Análise do Objetivo: Cadeia produtiva e Exploração Ovina Fonte: Elaborado pelos autores Técnicas de coleta de dados qualitativas não permitem que sejam feitas generalizações para a população-alvo a partir dos resultados encontrados na amostra (MALHOTRA, 2001), todos os dados encontrados nas entrevistas representam a visão da ovinocultura da cadeia produtiva entrevistada. Esta perspectiva não pode ser generalizada para os demais agentes e elos. 4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Os resultados obtidos, a partir das entrevistas e do tratamento dos dados, são apresentados em três grandes blocos de questões, a começar pela percepção de mercado, seguido das estratégias adotadas e finalmente pela forma de governança atual da cadeia produtiva. 4.1 Percepção de mercado 4.1.1 Mercado Internacional Nas entrevistas obtidas confirmou-se que o mercado e comercialização de ovinos de carne e lã têm como maiores produtores e ofertantes, a Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. Porém, países como a Rússia e a China, também são grandes produtores, mas seu mercado interno tem uma demanda muito grande, fazendo que estes importem. Cláudio Haussen de Souza, gerente geral da FECOLÃ, afirma: “É a situação atual do mercado internacional pelo menos no que tange no aspecto lã nós temos uma demanda superior do que a oferta, nós temos uma oferta reduzida em função da diminuição dos rebanhos no mundo inteiro, pelo desestímulo que houve em termos de preço os produtores acabaram [...]. No cenário nacional eu te diria que tem basicamente duas situações, a ovinocultura do Nordeste do Brasil voltada exclusivamente à produção de carne e peles para a indústria de couro através de raças de ovinos deslanados. Diferente da segunda situação, a ovinocultura do Sul do Brasil e pelo Sul se compreende São Paulo para baixo [...]. A situação regional exclusiva do Rio Grande de Sul é a seguinte nós temos tido nos últimos tempos uma redução gradual do rebanho por desestimulo dos produtores em função dos baixos Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" preços que tem sido praticado nos últimos anos. Então aconteceu parecido com o fenômeno que houve também na Austrália que acabaram migrando para outras atividades como a produção de arroz”, carne bovina, alguns até para a produção de uvas/vinhedos, [...]. Estão se tentando através de várias políticas, vários programas de incentivo tentar fomentar um pouco mais esse aumento, essa volta ao rebanho ovino; que as pessoas voltem a criar mais ovelha. Mas se tem a consciência que se perdeu muito nesse meio tempo, tanto em material humano quanto em material genético dos animais. As instalações também foram um pouco prejudicadas, as pessoas não fizeram manutenções nas suas instalações, fazendo com que então ficassem desatualizadas e muitas delas até nem existem mais, [...].” A demanda de carne ovina, principalmente por países da Europa e árabes, é muito grande, sendo que alguns países da América do Sul como, Argentina e Uruguai (grandes exportadores de carne) não conseguem abastecer os mesmos. Coimbra Filho (2005) revela que a lã pode ser exportada de duas formas: estado bruto ou manufaturado, somente a Paramount exporta manufaturado, mas mesmo assim, mais em forma de tops do que em tecidos. Ou seja, tecidos muito finos ela importa a lã fina produzindo o tecido para depois revender. Segundo Ucha (2005), houve um aumento do preço da carne ovina colocando-a na lista de carnes exóticas. Porém, a falta de oferta de ovinos foi ocasionada pela diminuição dos rebanhos e à crise internacional da lã. Para José Luis Pons, produtor de lã entrevistado: “Historicamente sempre teremos ciclos tanto na ovinocultura como na grande maioria dos produtos agropecuários, ou seja, quando os preços melhoram, a produção é automaticamente incrementada o que resulta numa maior oferta e concomitantemente baixam os preços. Essa oscilação de preço e produção chama-se de preços cíclicos”. 4.1.2 Mercado Nacional Carvalho (2004) relata que o produto nacional só poderá atingir o mercado internacional se atender exigências de qualidade, quantidade de oferta, padronização do produto. As associações relataram que as produções ovinas, principalmente de carne, estão em franca expansão em São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Espírito Santo e, nem tanto, no estado do Rio Grande do Sul. O estado se encontra no quinto ou sexto lugar da federação em número de ovinos e precisa, pelo menos, triplicar a produção nos próximos 10 anos para atender somente o mercado interno e mais de 10 anos para exportar. O Brasil importa 90% do que consome de carne de cordeiro. No mercado interno, consegue-se o preço do quilo/carcaça de cordeiro em torno de U$ 1,00 e U$ 1,20. Isto ainda é pouco, ao verificar que em países como Japão e o mercado americano, atendidos pela Austrália e Nova Zelândia, o preço do cordeiro chega até U$ 2,20 e U$ 2,50 do quilo vivo. Já a respeito da produção de lã o Brasil produz 1% da produção mundial, sendo o Rio Grande do Sul produtor de 90% da lã, pois. Outros estados, como Bahia, São Paulo e Minas Gerais produzem ovinos deslanados. O consumo interno de lã no país gira aproximadamente 20%. Os restantes 80% da lã vai para a Europa no qual sempre vem o preço regulado pelo mercado internacional. Para Carvalho (2004), as áreas populacionais habitadas por maior poder aquisitivo vêm apresentando uma crescente demanda por carne ovina, com cortes padronizados e comercializados de forma congelada e resfriada. Através da análise pode-se perceber que: os Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" consumidores das grandes capitais já sabem o animal que querem e também recorrem a suas marcas prediletas; há mais aceitação nos restaurantes, bons hotéis e festas das grandes capitais pelo seu uma carne de sabor diferenciado; de natureza exótica, tem larga aceitação em momentos diferenciados, assim sendo, ela tornou-se mais cara. Porém, ainda encontra-se uma certa resistência pelo desconhecimento quanto ao preparo, haja vista, que tradicionalmente este tipo de carne se utiliza na forma de churrasco. De acordo com Pilar et. al. (2004), a ovinocultura só será economicamente sustentável se gerar excedente de produção, processamento e distribuição. Pode-se constatar que a cadeia produtiva esta desorganizada, falta fomento aos agropecuaristas que produzem cordeiros para abate, assim eles aumentam a produção, a qualificam com cruzamentos e reduzem o tempo do animal nas fazendas.Em contrapartida, há excelente genética, bom padrão dos animais, boa qualidade e animais produtivos. Rocha et. al. (2004) diz que o consumo brasileiro encontra restrições devido a sazonalidade do produto e a baixa qualidade, pois são rebanhos de lã ou carne/lã. A Associação de Criadores de Ideal está fazendo uma pesquisa juntamente com a Universidade de Santa Maria, para provar a qualidade da carne de seus animais (raças de duplo propósito). 4.1.3 Mercado Estadual De acordo com Coimbra Filho (2005), a expansão das fibras sintéticas acarretou numa retração do consumo mundial de lã. Foi relatado, que há uma retomada na venda de lãs através da forma de artesanato; sendo que, para o mercado nacional e estadual são feitos os mesmos tipos de produtos, diferenciando apenas o público e no mercado internacional. No ano de 2006, na Expointer, foi montado um espaço próprio para o artesanato de lã, para incentivar mais a produção de produtos oriundos da lã. Existe o problema do aparecimento das fibras sintéticas e artificiais e a resistência que o Brasil tem a respeito da lã, pois devido ao clima do norte, nordeste e centro este as pessoas associam a lã ao clima frio. Todavia hoje são feitos lãs chamadas frias, ou seja, são produzidas em lanificações objetivando uma diminuição das finuras das fibras, que se fazem com que tecidos leves, tipo tropical possuam micronagem muito finas. São usados nos ternos de muito boa qualidade e produzidos pela Parmount, que importa da Austrália, pois o Brasil ainda não produz esse tipo de lã. Todos os entrevistados, abordaram sobre a falta qualificação da mão-de-obra para trabalhar com os ovinos, uma vez que, tem-se pouco cuidado no manejo com os animais e no processo de esquila e na mistura (se junta partes medulosas com as partes tiradas dos lugares nobres). Conforme Bofill (1996), há falta de comprometimento do produtor ovino, com a esquila e a mistura de lãs. 4.2 Percepção das estratégias comerciais Após análise de todas as entrevistas, constatou-se que quem mais utiliza estratégias dentro da cadeia produtiva de ovinocultura são as indústrias como política geral acompanhar as tendências mundiais, de fazer produtos de alta qualidade, permanecendo nos mercados através da mesma e a formação e manutenção de parcerias. Para o restante da cadeia fala-se apenas em qualificação da produção e qualidade do produto e buscar o que o consumidor efetivamente quer. Para Montgomery (1998), conceitua estratégia como sendo a busca de um plano de ação para que a vantagem competitiva de uma empresa se desenvolva e se ajuste. Hamel e Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Prahalad (1995) abordaram sobre o problema da transformação organizacional na qual as mudanças de topografia de alguns setores mudaram mais rápido do que a capacidade da alta gerência de reformular suas crenças e premissas básicas sobre que mercados atingir. Após a crise da lã e o surgimento da ovinocultura de carne, a cadeia produtiva brasileira percebeu que suas técnicas já estavam ultrapassadas. Já no cenário internacional, os grandes produtores conseguem tornar a atividade mais profissionalizante, elaborar estratégias; e talvez, por isso, sejam melhores produtores e exportadores. Estados como a Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Sergipe e Espírito Santo estão mais bem organizados e evoluídos em genética, exposições, feiras, do que o próprio Rio Grande do Sul, pois o enfoque destes estados é em apenas uma criação (raças deslanadas). O Rio Grande do Sul deveria priorizar a produção de lã pelo fato de ser historicamente produtor de raças com a aptidão para tal. Segundo Montgomery (1998), a competição é chave motivadora da estratégia, alavanca pessoas, grupos, organizações ou empresas para vencer. Constatou-se que outras atividades de criação pecuária e plantas de lavouras, qualidade do produto oferecido por outros estados e países, cuidado na produção e armazenagem, manter e qualificar o material genético são as formas de competição enfrentadas pelo setor. 4.2.1 Posicionamento Para Porter (1990), quando uma empresa posiciona-se bem é capaz de obter altas taxas de retornos, mesmo que a rentabilidade média da organização seja modesta e sua estrutura desfavorável. Para Kotler e Armstrong (1999) e Pipkin (2002), o posicionamento de um produto refere-se a um conjunto de percepções, impressões e sentimentos que derivam alto desempenho financeiro e sustentável ao longo do tempo. O posicionamento da cadeia de ovinos tem como foco, a qualidade para o consumidor final, ficando as federações como gestores e promotores comerciais, a indústria estabelece parcerias e as associações promovem as raças dominantes. 4.2.2 Vantagem Competitiva Segundo Porter (1990), a vantagem competitividade é fundamentalmente para o desempenho acima da média no longo prazo. Para se compreender a mesma deve-se observar à origem das inúmeras atividades distintas que uma empresa executa. Montgomery (1998) define que para manter a vantagem sustentável é preciso dividí-la nas seguintes categorias: porte do mercado-alvo com economia de escala, efeitos de experiência, economias de escopo, acesso superior a recursos ou clientes, vantagem imposta em longo prazo, know-how, entre outros. Foi notado, ao longo da análise, que o setor ovino possui como vantagem competitiva sustentável, a polivalência dos seus sub-produtos, a própria rentabilidade dos mesmos, a liquidez, a facilidade de criação e a associação a outros produtos agropecuários. Além disso, observa-se que o seu preço oscila menos que outros produtos agropecuários. Por outro lado, apresenta as seguintes desvantagens, quando comparadas a outras fibras e carnes que venham a substituí-las, ou seja, o problema da sazonalidade, a carência do manejo do rebanho, a competição forte do mercado uruguaio e o problema da escala de produção. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 4.2.3 Satisfação do Cliente e Valor Keegan e Green (2000) ponderam que criar valor e atingir vantagem competitiva são metas que devem ser cumpridas e estar na mente da organização em todas as atividades da empresa. Kotler e Armstrong (1999), afirmam que a satisfação do cliente advém do produto corresponder às expectativas de desempenho esperado pelo consumidor e está diretamente ligada a qualidade total. Assim, a qualidade tem início com as necessidades do comprador e termina com o seu grau de satisfação. A cadeia produtiva de lã, para satisfazer o cliente e criar valor, faz controle de qualidade, convencionados internacionalmente pela Woolmark. Neste caso, a qualidade é fruto do manejo, da esquila e do armazenamento dos sacos de ráfia plástica. O mesmo vale para os produtos especializados em carne, através do manejo, abate e alimentação. Para as associações e federações, o cliente final é quem manda, então, eles procuram ficar atentos à demanda de mercado, repassar as informações corretas para os produtores, investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D), entre outros. 4.2.4 Imagem Para Kotler e Armstrong (1999), é importante que a empresa estabeleça uma imagem diferente perante seus concorrentes. Como também, segundo Gracioso (1995), a imagem institucional não é imposta e sim conquistada. A cadeia produtiva está tentando mudar alguns estigmas criados nos produtos oriundos de carne e lã ovina, dentre eles, o que a lã só pode ser usada no inverno e o problema de que, estimulando o consumo da carne ovina, não se conseguirá suprir a demanda com qualidade e, conseqüentemente, a imagem do setor acabaria sendo abalada. No entanto, há programas para promover a qualidade da carne e lã, relacionando a carne à culinária e divulgando as utilidades e vantagens da lã. 4.2.5 Análise SWOT Os pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades encontradas na cadeia produtiva foram conforme a Matriz SWOT do Quatro 2 a seguir. FORÇAS Muita rentabilidade Excelente liquidez Boa qualidade do produto Boa diversificação da espécie Excelente genética Topografia variada do RS Rápido retorno do capital investido Boa adaptação a climas de solos Longa tradição Possibilidade de integração com outras culturas animais e vegetais FRAQUEZAS OPORTUNIDADES Crescente consumo de carne ovina e lã Boa diversificação da propriedade rural Excelente demanda doméstica de carne Bastantes tecnologias a disposição Procura por fibras naturais Retomada dos preços da lã no mercado internacional Grande escassez de produtos de lã e carne no mercado Tendência ao consumo de carnes exóticas Aparecimento da lã na moda Câmbio saudável Aumento das preferências por moda casual e de qualidade Programas de P&D com as universidades do estado. AMEAÇAS Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Instalações insuficientes Capacidade de produção baixa Pouca disponibilidade do produto Pouca Qualificação da mão-de-obra Pouca participação no mercado de lã Pouca participação no mercado de carne Pouca inter-relação da cadeia produtiva Trabalhar no mercado informal Pouca Escala de produção Produção sazonal Acondicionamento da lã deficiente Falta de informação entre os elos da cadeia produtiva de ovinocultura Abjeato Abate Clandestino Muitos problemas sanitários Perda da importância econômica do setor Grande avanço da agricultura Pouco estímulo Econômico Poucas políticas de crédito Poucas políticas de incentivo a fertilização Pouco uso das tecnologias a disposição Baixa da renda Muitas barreiras sanitárias Muitas barreiras burocráticas Dificuldade de exportar e importar Pouca assistência técnica Quadro 2: A Matriz SWOT Fonte: Elaborado pelos autores, de acordo com a pesquisa de campo. Apesar da ovinocultura do Rio Grande do Sul possuir pouca escala de produção, a produção sazonal é compensada por uma excelente liquidez, boa qualidade do produto, relativa rentabilidade e pela excelente genética. As instalações insuficientes, bem como a baixa capacidade de produção e a pouca disponibilidade do produto poderão ser sanadas pela possibilidade de integração com outras culturas animais e vegetais. A procura por fibras sintéticas, a retomada dos preços da lã no mercado internacional, a tendência ao consumo de carnes exóticas, o câmbio saudável e o aparecimento da lã na moda deverão ser tomados como fortes estímulos para reverter as poucas políticas de crédito. A falta de estímulo econômico, a baixa renda, as dificuldades burocráticas e sanitárias de se exportar são outros desafios citados pelos entrevistados. O abjeato (roubo de animais no campo) e o abate clandestino podem ser compensados por mecanismos que agreguem valores à produção, quais sejam; a integração com vegetais ou outras espécies animais; as melhorias de pastagens e as técnicas reprodutivas e sem dispensar as políticas de segurança promovida pelo estado na área rural. 4.2.6 Marketing, como esforço de vendas Segundo Kotler e Armstrong (1999), marketing é um método gerencial em que os indivíduos e grupos criam e trocam valores uns com os outros para obter aquilo que desejam e necessitam. Kotabe e Helsen (2000), afirmam que o marketing, num ambiente competitivo, envolve a orientação de toda a empresa para satisfação dos consumidores, antecipando e criando necessidades futuras com determinado lucro e sendo mais amplo do que a simples operação de venda. Através das entrevistas, ficou evidente que não há investimentos significativos em marketing neste setor. De fato, não é dada muita importância nessa área ainda, uma vez que a cadeia produtiva confunde marketing com propaganda, praticamente não havendo profissionais especializados em marketing para a ovinocultura de carne e lã do estado e no Brasil. 4.3 Forma de governança atual da cadeia produtiva. Para Fleury e Fleury e Moreira ([s.d]), o desenvolvimento de cadeias produtivas, na organização ocidental, é um acontecimento mais contemporâneo e tem sido abordado a partir de inúmeros pontos de vistas conceituais; entre eles, destaca-se a vertente em função das análises de caráter microeconômico (relacionamento entre os participantes da cadeia de Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" produção com relações de confiança mútua). Batalha (1997) defende o contexto sistêmico de cadeia produtiva em que as análises das atividades agrícolas saem de uma visão isolada. Através das entrevistas, pode-se perceber que a cadeia produtiva de ovinos de lã encontra-se bastante desorganizada, não havendo a menor idéia da dimensão do rebanho ovino; da capacidade de produção. Além disso, os níveis de produtividade estão muito baixos, sendo que o principal problema está na inter-relação entre os agentes da cadeia produtiva. 4.3.1 Consumidor Final Segundo Castro (2000), a forte influência do mercado consumidor deve-se ao fato, de que as cadeias produtivas necessitam suprir o consumidor final de produtos, em qualidade e quantidade ajustadas. Foi percebida uma organização entre os elos da cadeia produtiva. O produtor, cada vez mais, tem que se adequar ao mercado, produzindo com alta qualidade e grandes quantidades porque os consumidores intermediários e finais estão cada vez mais exigentes e em maior número. Outro fator preocupante na exploração ovina reside na produção uniforme, uma vez que o ciclo do ovino é sazonal. 4.3.2 Relacionamento De acordo com Castro (2000), a forte influência no desempenho do agribusiness é devida a um conglomerado de instituições de apoio, composto de crédito, pesquisa, assistência técnica e com aparato legal e normativo. Para Breda; Santos ([s.d]), todos os agentes da cadeia produtivas deveriam entender de si próprios e de suas relações com os demais, sabendo assim, as suas carências e suas atuações, procurando resolvê-las em conjunto, para maximizar dividendos econômicos, sociais e ambientais. Cada elo da cadeia produtiva está cada vez mais unido, com a finalidade de trocar idéias, juntar forças com vistas a conseguir políticas de crédito, garantias de qualidade de produtos. Para tanto, os produtores tem buscado um maior relacionamento com os demais agentes da cadeia produtiva, estabelecendo parcerias, investindo em projeto de melhoria genética e outros. A Expointer está, a cada ano, sendo um excelente meio de propagar as idéias e reivindicar por melhoras no setor. Nota-se, também, que o setor vem ganhando maior espaço de exposição nos estandes. Porém, para os entrevistados, o trabalho em conjunto e interdisciplinar entre os elos da cadeia ainda está em fase inicial e lenta. Cada associação, cooperativa e/ou federação, buscam interagir mais com seus associados e trazer novos, principalmente, pequenos produtore,s para tornar a atividade de ovinocultura mais profissionalizada. 4.4 Resumo da análise de resultados Para melhor ilustrar todas as informações coletadas no estudo, o quadro 3 a seguir procura resumir toda a análise de resultados advinda da pesquisa. ASSUNTO Mercado Internacional LÃ Grandes Produtores: Austrália, Nova Zelândia, China; Brasil produtor marginal, trabalha com 1% do mercado; China importa, agrega valor e exporta; Demanda superior; Produção de tecidos super 120 e 150 CARNE Grandes produtores: China, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Argentina e Uruguai; Brasil, Itália e Irlanda participam com menos de 1% do mercado; Europa e Japão grandes importadores de carne; Argentina e Uruguai não conseguem Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" (micragens), principalmente na Austrália; Classificação internacional. Mercado Nacional Mercado Estadual Estratégias Posicionamento 90% da lã do Brasil é produzida no Rio Grande do Sul; O mercado brasileiro consome 20% e o restante vai para a Europa; Preço regulado pelo mercado internacional. Brasil exporta mais a lã no estado bruto; Estados como Bahia, São Paulo e Minas Gerais produzem ovinos deslanados. Ovinos criados com bovinos; Produz 90% da lã brasileira em torno de 10 milhões de quilos; Ressurgimento do artesanato Excelente topografia; Problemas acusados pelo desaparecimento das cooperativas; Retomada da produção de lã no estado. Estratégia mais utilizada é a qualidade; Indústria se utiliza mais de estratégias; Calcada ainda na etapa da agricultura; Tradição e tecnologias disponíveis; Uma média de 10 anos para melhorar seu desempenho no mercado nacional; Estudos para melhorar a finura da lã e produzir lãs frias; Competição das fibras sintéticas e algodão. Indústria estabelece parcerias com fornecedores e clientes; As federações realizam gestões com os órgãos competentes e promover o consumo; As associações promovem a raça; Posicionamento da cadeia com foco de qualidade para o consumidor final. abastecer os mercados. Brasil importa 90% da carne; Preço interno na base de U$1,00 e U$ 1,20; Mercados atendidos pela Austrália, Oceania e Nova Zelândia o preço do cordeiro chega até U$ 2,20 e U$ 2,50; Excelente topografia; Produtores de carne ainda não conseguem atender a demanda; Demanda de carne grande no Brasil e no mundo; Alta tecnologia para produção, mas dificuldade de empregá-las; Consumidores dos grandes centros urbanos já sabem qual o tipo de carne que atende suas necessidades. Estratégia mais utilizada é a qualidade; Indústria se utiliza mais de estratégias; Calcada ainda na etapa da agricultura; Tradição e tecnologias disponíveis; Uma média de 10 anos para melhorar seu desempenho no mercado nacional e exportar; Pouca competição, devido à alta demanda de carne. As federações realizam gestões com os órgãos competentes e promover o consumo; As associações promovem a raça; Posicionamento da cadeia com foco de qualidade para o consumidor final. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Polivalência; Rentabilidade; Liquidez Problemas com a sazonalidade; Agregação de valor; Possibilidades de criar com outros plantéis; Falta de qualificação da mão-deobra. Controle de qualidade: manejo, esquila e armazenamento; Industria: estratégia objetiva para satisfazer o cliente, este vem em 1º lugar; Federações e associações ficam atentas às demandas de mercado para repassar ao produtor. Para a cadeia produtiva o consumidor final é quem manda. Para a cadeia produtiva o consumidor final é quem manda. Marketing Poucos investimentos nessa área; Pouca importância ainda é dada; Carência. Poucos investimentos nessa área; Pouca importância ainda é dada; Carência. Imagem Paradigma de que a lã só pode ser usada no inverno; Programas para promover as utilidades da lã e suas vantagens. Cadeia Produtiva Desorganizada; Problemas de inter-relação; Pouca mão-de-obra qualificada; Expointer tem ajudado a estabelecer contatos entre a cadeia, trocas de idéias; Indústria está mais próxima dos demais agentes da cadeia. Medo da cadeia em promover o consumo de carne e não conseguir atender a demanda; Programas para promover a qualidade da carne, suas propriedade (sabor), relacionar com a boa culinária. Desorganizada; Problemas de inter-relação; Pouca mão-de-obra qualificada; Expointer tem ajudado a estabelecer contatos entre a cadeia, trocas de idéias; Os frigoríficos são mais problemáticos de se trabalhar. Vantagens Competitivas Satisfação do Cliente e Criar Valor Consumidor Final Polivalência; Rentabilidade; Problemas com a sazonalidade; Agregação de valor; Liquidez; Possibilidades de criar com outros plantéis; Falta de qualificação da mão-de-obra. Controle de qualidade: manejo, abate e alimentação; Federações e associações ficam atentas às demandas de mercado para repassar ao produtor. Quadro 3: Resumo da Análise de Resultados Fonte: Elaborado pelos autores, de acordo com a pesquisa de campo. 5. COMENTÁRIOS FINAIS A ovinocultura é uma atividade de forte tradição gaúcha, principalmente àquela dedicada à produção de lã. Mesmo assim, ela vem se destacando na última década no contexto do agribusiness brasileiro. Apesar disso, a cadeia apresenta uma situação difícil, no que tange a organização da cadeia produtiva, mão-de-obra qualificada, capacidade de suas instalações, envolvimento do produtor com atividade ovina, manejo preventivo, entre outros. Porém, o estado e a nação dispõem de tecnologia, de genética para atender esta crescente demanda de carne e lã ovina, mundialmente. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A produção e a comercialização mundial de lã e carne ovina estão concentradas nos seguintes países: a Austrália, a Nova Zelândia, a China, a África do Sul, o Uruguai e a Argentina. O Brasil representa apenas 1% da fatia mundial do mercado ovino de lã e carne. O país importa 90% do seu consumo de carne e tem 80% da sua produção de lã fornecida pelo estado do Rio Grande do Sul. O mercado brasileiro consome aproximadamente 20% da lã produzida no país e exporta os 80% restantes, principalmente para a Europa. E é o mercado internacional que regulamenta as regras, o preço e a classificação do mercado ovino de lã e carne. O aparecimento das fibras sintéticas e artificiais e a resistência do povo brasileiro a respeito da utilização da lã em todas as estações do ano, são considerados grandes empecilhos para o desenvolvimento dessa atividade. Com relação à carne ovina, de boa aceitação nos grandes centros urbanos, tem seu consumo reprimido pela sazonalidade da produção; pela baixa produção; pelo alto custo de venda do produto e pela restrição e desconhecimento no preparo de pratos da culinária ovina. A respeito das estratégias comerciais utilizadas na ovinocultura, foi constatado que a indústria de lã é o elo produtivo que mais adota estratégias, sejam elas: a qualidade na produção e nos processos, o acompanhamento das tendências mundiais e a formação e manutenção de parcerias com os demais integrantes desta cadeia. Em dicotomia, os outros participantes da cadeia produtiva de carne e lã do Rio Grande do Sul, ou seja, produtores e federações e associações encontram-se calcados na primeira etapa das organizações humanas, a chamada agricultura (princípios e conceitos – improvisação, ausência de método, desperdício e despreparo). Historicamente, a tradição em ovinocultura sempre foi gaúcha. Mas com o advento de novas técnicas, sejam elas, no campo da genética, na área de reprodução e nas melhorias no ambiente produtivo, fizeram com que outros estados da federação, dentre eles: Bahia, Pernambuco, Sergipe e Minas Gerais ultrapassassem o Rio Grande do Sul no que compreende a ovinocultura de carne. Para o Estado alcançar novamente a hegemonia nessa atividade pecuária deveria eleger um produto derivado do ovino; a fim de facilitar o melhor entendimento e aplicabilidade de suas estratégias comerciais, técnicas e administrativa. Outro entrave percebido, não só na ovinocultura; mas também, em outras atividades agropecuárias reside na falta de valor agregado ao produto. Como exemplo, tem-se a exportação de lã apenas nas formas penteada e bruta. Foi observado que o desestímulo da produção de ovinos ocorreu por diversos fatores, dentre eles: o abjeato (roubo de animais no campo); o grande avanço da agricultura, que ocupou terras utilizadas para esse fim; as barreiras sanitárias e burocráticas, dificultando as importações e as exportações; a baixa renda do produtor e as políticas de crédito, ocasionando uma baixa qualidade e quantidade na população ovina e; a falta de mão-de-obra técnica e científica especializada. A ovinocultura do estado precisa deixar de ficar restrita as áreas de produção e integrar-se com os demais segmentos da cadeia produtiva. O ambiente organizacional apresenta alguns desafios importantes, tais como: o de fomentar mais as pesquisas, de promover trocas de experiências e de facilitar o fluxo de informações em toda a cadeia produtiva. Em suma, a ovinocultura do Rio Grande do Sul necessita urgentemente de uma retomada no sistema de gestão da produção e da governança de toda o segmento produtivo Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" para que a mesma volte a desempenhar o que historicamente já fora, ou seja, gerar emprego, renda e fixar melhor o homem no campo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATALHA, M.O. (Org). Gestão Agroindustrial. São Paulo: Atlas, 1997. BOFILL, Francisco Jorge. Reestruturação da Ovinocultura Gaúcha. Guaíba: Agropecuária, 1996. 137p. BREDA, Nestor L.; SANTOS, Antônio C. dos. 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