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Cultural Cooperation Networks Creative Laboratory
2CN-CLab 2016
Simbologia da Máscara Ibérica
António Pinelo Tiza ([email protected])
Academia Ibérica da Máscara
Portugal
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto. Doutorado em Didáctica das Ciências Sociais pela Universidade
de Valladolid. Professor do Ensino Básico, Secundário e Superior. Autor: Natal dos Caretos (BD com desenhos de José
da Fonte); Inverno Mágico II – Ritos e Mistérios Transmontanos; Mascaradas e Pauliteiros – Etnografia e Educação;
Máscara e Danças Rituais – Ritos Ibéricos do Solstício de Inverno; O Diabo e as Cinzas (contos); Inverno Mágico –
Ritos e Mistérios Transmontanos; Máscara Ibérica (com Hélder Ferreira); Estudo Antropológico das Mascaradas de
Zamora, Bragança e Douro (com Jesús Nuñez); Espinhosela; Portugal y España – Vidas Paralelas (com Isidoro
González Gallego); Cancioneiro do Parque Natural do Alvão (com Francisco Prada). Participante, com artigos e textos,
em várias obras e antologias de Portugal, Espanha, Brasil e Itália. Colaborador, com artigos sobre Etnografia e
Educação, nas revistas: Brigantia, de Bragança; Tellus, de Vila Real; Jornal de Letras, de Lisboa; Stvdia Zamorensia,
de Zamora, El Filandar/O Fiadeiro, de Zamora, Amigos de Bragança, Jentilbaratz – Cuadernos de Folklore do País
Basco e outras. Ex-Presidente da Região de Turismo do Nordeste Transmontano. Presidente da Direcção da Academia
Ibérica da Máscara. Ex-Vice-Presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes. Membro da Associação Portuguesa
de Escritores. Sócio honorário da Academia de Letras e Artes de Bragança do Pará (Brasil).
Simbologia da Máscara Ibérica
Ao falarmos de rituais autênticos referimo-nos aos que fazem sentido para as comunidades que os celebram. Aliás, se
eles permaneceram vigentes ao longo de séculos (ou milénios), isso quer dizer que as comunidades sentiram a
necessidade de o fazer – a de os celebrar ciclicamente, ano a ano; em princípio, a celebração corresponde ao fim de
um ciclo agrário e ao início de ciclo agrário seguinte: solstício de dezembro, ano novo, prenúncio da primavera ou
início do inverno celta. E é justamente nestes momentos críticos que mais se justificam os ritos festivos; mais sentido
fazem.
Seguindo a linha de pensamento de Mircea Eliade, trata-se de rituais sagrados. Passo a citar: “Qualquer ação com
significado determinado participa, de certo modo, no sagrado… Só são “profanas” as atividades que não têm
significado mítico, isto é, que não têm modelos exemplares. Podemos dizer que toda a atividade responsável com
uma finalidade definida é, para o mundo arcaico, um ritual. Mas, como quase todas estas atividades sofreram um
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longo processo de dessacralização e se transformaram em atividades “profanas” nas sociedades modernas” (Eliade,
M., O Mito do Eterno Retorno, p.42).
Se aconteceram perdas de alguns rituais é porque as comunidades deixaram de sentir a sua falta. Se, por outro lado,
alguns destes se recuperaram, é porque alguma coisa na vida da comunidade estava em falta: havia que preencher
um vazio, uma lacuna… e, por intervenção de agentes locais, endógena, portanto, a recuperação aconteceu. Elas aí
estão para ficar, suponho, enquanto houver pessoas, gente… condição sine qua non para que a comunidade tenha
capacidade de lhe dar continuidade.
É claro que muitas destas festividades sofreram uma evolução, mais ou menos acentuada, num ou noutro sentido,
consoante as terras, neste ou naquele modus faciendi. Julgo que não devemos dramatizar este facto ou considerá-lo
como negativo ou adulterador da tradição; a meu ver, a tradição também evolui; por vezes evolui no sentido positivo,
em ordem à aplicação de boas práticas sociais.
O inverno chega quando o frio bate à porta e entra sem pedir licença. Novembro é o mês do começo da estação fria e
escura. E aí estão as primeiras festas agrárias. Festas centradas na apanha da lenha, em tempo de homenagem aos
mortos – os santos e os féis defuntos. São os prolegómenos das festas solsticiais, que vão acontecer em dezembro,
do sol (o pagão e o cristão) e da fertilidade. Carregadas de autenticidade porque mantêm uma relação direta com as
raízes e a alma profunda do povo.
Nesta parte do Norte da Ibéria, as mascaradas acontecem todas no inverno, a começar no último dia de Outubro para
terminar no dia seguinte ao Carnaval. Trata-se de um inverno festivo que abrange dois momentos essenciais: o ‘ciclo
dos doze dias’, compreendido entre o Natal e os Reis, durante o qual ocorrem as festas dos rapazes, coincidindo com
o Natal, Santo Estêvão, Ano Novo e Reis; o segundo é o Carnaval, de sábado à Quarta-feira de Cinzas, o dia da Morte
e dos diabos.
O mascarado
A máscara é um elemento partilhado por todas as culturas e civilizações e em todos os tempos da História. Talvez por
isso, sempre se apresentou como detentora de funções primordiais, ou seja, como o adereço indispensável ao
exercício dos rituais mágicos, permitindo que o mascarado assuma o protagonismo nas celebrações. Não há aqui,
portanto, nada de extraordinário; o que distingue os nossos rituais de mascarados é o tempo cíclico em que eles
acontecem – o ciclo dos doze dias – com determinadas finalidades míticas que se prolongam pelo ciclo do Carnaval e
são precedidas de outras com as mesmas finalidades.
Ritos solsticiais
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O povo celta iniciava o novo ano quarenta dias após o equinócio de setembro, isto é, na noite de 31 de outubro para o
primeiro de novembro, com o Diabo a liderar atos criadores do caos para, em seguida, instituir a sua ordem; a festa
da Cabra e do Canhoto de Cidões (Vinhais) e outras idênticas celebrações de comunidades do Nordeste são
resquícios da cultura celta. Por outro lado, atribuía este povo grande simbolismo aos solstícios. Neste contexto,
prestava culto ao Sol, como sinal de vida e de fecundidade para a Natureza.
Também os romanos celebravam profusamente o ciclo invernal: as Saturnais, desde 17 de dezembro, dedicadas a
Saturno, o divino agricultor, o deus da abundância, e as Juvenalia, a 24 de dezembro, festas licenciosas
protagonizadas pelos jovens. De alguma maneira e salvaguardando as alterações provocadas pelo decurso dos
séculos, serão as atuais festas dos rapazes, festas cristianizadas sob o patrocínio de Santo Estêvão: Varge, Aveleda,
Ousilhão, Grijó de Parada, Parada, Rebordelo, Travanca, Constantim, Rebordãos, Bruçó, Vale de Porco, Tó…
Podemos enquadrar as festas do Ano Novo e dos Reis, integrando o mesmo ciclo festivo (o dos doze dias), nas festas
romanas das Calendas de Janeiro. São celebrações agrárias, as Bacanais, em honra de Baco, deus do vinho que,
igualmente, presidia à plantação e à frutificação. Também nelas aparecem (ou não) os mascarados a liderar os seus
rituais: Salsas, Baçal, Rio de Onor, Rebordainhos…
Todo o protagonismo dos atuais festejos de inverno pertence aos jovens; talvez porque os ritos de passagem estejam
na génese deste contexto festivo. Antropólogos de nomeada falam nestes costumes populares como ritos iniciáticos
pré-cristãos, perdidos em quase todas as regiões da Europa, que não no Nordeste Transmontano. Entre estes
costumes populares, de cariz um tanto misterioso, é preciso classificar em primeiro lugar as mascaradas e as
cerimónias dramáticas que acompanham as festas cristãs de inverno. Nelas, os mascarados são hoje, que não no
passado, tidos como a personificação do Diabo, sendo-lhe vedada a entrada nos locais sagrados cristãos.
Ritos de fertilidade
As festividades agrárias contêm naturalmente ritos de fertilidade que ainda hoje podemos constatar. Para atestar esta
hipótese contribuem os adereços de várias personagens que ostentam ícones relacionados com o antigo culto da
fertilidade: as máscaras zoomórficas (com elementos considerados diabólicos); o ato de “chocalhar” as mulheres
executado pelos mascarados “daimónicos”, como se pretendessem fecundá-las; o princípio iniciático das festas dos
rapazes que se mascaram e executam ritos de passagem da adolescência à idade adulta, o que lhes permite o
acesso à sexualidade; os atos representativos da vida da comunidade; a recolha dos produtos da terra para as
refeições comunitárias e outros tantos elementos que, com uma forte probabilidade, nos remetem para uma
substancial presença da cultura pagã, que nem a passagem do tempo nem as orientações eclesiásticas eliminaram.
Permanecem vigentes no distrito de Bragança e na província de Zamora, León, Galiza…
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Na festa da Mocidade de Constantim, o “Carocho” e pela “Bielha” formam um “casal” e representam cenas
amorosas, incluindo o ato reprodutor, durante o percurso do peditório, aqui chamado “convite”. Mascarados e
mordomos saúdam os moradores e recebem produtos da terra, enquanto os pauliteiros dançam um laço, de
saudação aos vizinhos daquela casa.
Na comarca de Aliste, aparecem em ação vários casais de mascarados (el Galán e la Madama), encenando gestos e
atitudes amorosas que integram os rituais das festas de Santo Estêvão, Ano Novo e Reis (Ferreras de Arriba, Riofrío
de Aliste, Sarracín, Abejera, Pobladura, Figueruela…).
O Chocalheiro de Bemposta é o Diabo, no entendimento do povo; no entanto, executa o ritual do peditório no dia de
Santo Estêvão. A máscara e os restantes adereços do mascarado possuem uma carga simbólica condizente: os
chifres exibindo, nas pontas, duas laranjas; barbicha de bode no queixo; pendendo da nuca, uma bexiga de porco
inflada de ar; na testa, uma laranja em baixo relevo; num dos lados da face, uma serpente e no outro, uma
salamandra; todo o seu corpo é envolvido por uma outra serpente, de grande porte. Embora o povo lhe atribua um
carácter diabólico (e, portanto, paganizante), estes elementos remetem-nos para a simbologia da Terra-Mãe, ou seja,
para as funções originais desta personagem.
“Los Carochos” de Riofrío são tidos como “diablos”; contudo, as suas funções consistem em visitar todas as casas da
terra, recolhendo esmolas (“aguinaldo”) e saudando os moradores. O mesmo se passa na vizinha Sarracín; neste
caso todo o séquito (personagens diferenciadas) acompanha os “diablos” no seu ritual.
Os protagonistas da festa do Natal ou dos Velhos de Bruçó são dois pares de mascarados. O “casal dos Velhos” tem
como função zelar para que o ritual do peditório seja executado com o máximo rigor. O segundo é formado pela
“Sécia” e o Soldado. A “Sécia” representa uma personagem de uma mulher de vida fácil. O “casal” vai encenando
toda uma farsa de jogos amorosos. Dirigem palavras carinhosas e brejeirices um ao outro e simulam beijos… Atos
simbólicos de apelo à fertilidade, um ritual que vem paganismo. Existiu nesta celebração, há mais de um século, a
personagem do Chocalheiro que, dada a sua condição diabólica, acabou por ser abolida. Acabou por ser recuperada
há um par de anos, integrando agora o ritual do peditório.
Valverde, no município de Mogadouro, recuperou também o seu Chocalheiro, aqui designado de Careto; forma um
casal com a sua companheira – a Velha – e executam um ritual semelhante ao dos seus homólogos e vizinhos, no
mesmo dia de Natal.
A profilaxia
As funções purificadoras e profilácticas dos caretos manifestam-se, sobretudo, na crítica social. É isso o que acontece
nas festas dos rapazes. Neste contexto, o papel do mascarado é o de profeta que levanta a voz perante o povo e
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aponta o dedo àqueles que, pelos seus atos, se desviaram das normas instituídas – a anomia. Para o povo, são
diabos à solta. O solstício de inverno é um momento crítico no ciclo agrário; por isso, é a altura propícia para a
purificação da comunidade.
A crítica social constitui o momento mais marcante das festas dos rapazes. Por isso, o ritual é de assistência
obrigatória, como um qualquer preceito religioso. É assim nas aldeias da Baixa Lombada, Varge, Aveleda e Baçal.
Em Varge, alguns destes factos são representados, numa espécie de teatro de rua. É a representação dos atos
fundamentais da vida da comunidade.
Em Abejera, são as personagens do Ciego e do Molacillo que recitam versos satíricos sobre a atualidade do povo.
A luta dos opostos
Outra faceta a considerar nas rituais funções dos mascarados é a luta dos opostos. São personagens que encenam
um confronto, sendo uns conotados com o bem e outros com o mal. Em nome da boa marcha da comunidade,
simbolizada no triunfo da personagem benéfica, o bem há de sair sempre vencedor; caso contrário, o ritual seria em
vão; na verdade, só faz sentido quando celebrado em benefício da comunidade. O Farandulo de Tó, personagem
demoníaca, entra em luta constante com o Moço, um jovem corajoso, pela posse da Sécia, personagem feminina e
frágil. À medida que o peditório se desenrola e avança pelas ruas da aldeia, os atores vão encenando a luta.
Inesperadamente, o Farandulo interrompe o peditório para fazer uma investida traiçoeira sobre a Sécia, procurando
roubar-lhe o ramo. Os seus intentos são logo contrariados pelo Moço. Numa festividade agrária e num momento de
transição, toda a ação simbólica se orienta para a expulsão do mal e para o triunfo do bem. O contrário não faria
qualquer sentido.
Em Abejera dá-se a luta entre o Cencerrón e a Filandofrra, por um lado, e o Molacillo e o Ciego, por outro. Fazem-se
várias investidas, lutas, corridas, vergastadas… até que se dá por encerrado o ritual. Repetir-se-á no início do próximo
ciclo agrário.
Em Torre de Dona Chama, o Santo Estêvão é celebrado de uma forma muito peculiar; aqui se trava a histórica luta
entre cristãos e mouros. A “batalha”, designada “correr a mourisca”, é o último dos rituais da festa. Os dois grupos
de contendores entram em ação: do lado dos “cristãos” colocam-se os caçadores, com armas e tudo; em oposição,
do lado dos “mouros”, os caretos e as mouriscas. A tradição determina que a batalha só deve terminar quando
atingirem o castelo do “rei mouro” colocado na outra extremidade do largo de todas as manobras bélicas. Ao fim de
algum tempo, os cristãos arremetem contra o castelo, disparando os últimos tiros e ateiam-lhe fogo. Confraterniza-se
dentro e fora do campo. Ritual pagão cristianizado com a passagem do tempo e reforçado pela luta entre cristãos e
mouros, provavelmente de origem medieval.
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O Carnaval
Em Podence celebra-se um dos carnavais (aqui designado de entrudo) mais reconhecidos em Portugal pela sua
autenticidade. Os protagonistas são os rapazes que, pelo poder da máscara, dos trajes e adereços, se
metamorfoseiam em caretos.
São largas dezenas de diabólicos caretos que deambulam pelas ruas, durante o Domingo e Terça-feira de Carnaval.
Usam um volumoso molho de chocalhos à cinta para com eles “chocalhar” as mulheres (sobretudo as mais jovens),
isto é, golpeá-las com uma boa dose de sensualidade que a atenuada violência encobre. Encostando-se a elas,
executam uma dança tão ousada quanto ágil, fazendo girar a cintura e fazendo embater os chocalhos contra as ancas
das vítimas. Este gesto erótico representava outrora a pretensa fecundação das mulheres em idade fértil. Hoje,
apenas para cumprir a tradição. É também o caso de Vila Boa de Ousilhão.
Em Santulhão julga-se o Entrudo e condena-se à fogueira e em Freixo de Espada à Cinta faz-se o seu enterro.
Em Vinhais, o Carnaval prolonga-se pela Quarta-feira de Cinzas: uma multidão de diabos, acolitando a Morte, invade
as ruas da vila. Atuando em grupos, com a Morte no papel de celebrante dos rituais, os diabos vão atacando em
todas as frentes, chicoteando as moças, o seu alvo preferido, que se refugiam onde podem. Eles perseguem-nas onde
quer que estejam. Logrando “caçá-las”, sob as pancadas dos seus chicotes, levam-nas “à pedra”, isto é, ao local de
penitência – o largo central ou o pelourinho, na zona histórica da vila. Aqui, perante a sacerdotisa Morte e, rodeadas
por numerosa turba de diabos, são obrigadas a rezar uma oração-chalaça e a beijar a gadanha.
A origem destas práticas está radicada por alguns na religiosidade popular medieval e, portanto, cristã. A atuação da
Morte faz todo o sentido ao alertar os fiéis para que estejam preparados. Talvez por isso, a personagem da Morte, até
aos princípios de século XX, participava em Bragança na liturgia da missa e da procissão da Quarta-feira de Cinzas; o
facto denota uma origem medieval desta tradição. As personagens do Diabo e da Censura juntaram-se à Morte, em
finais do século XIX, mas apenas nas suas aterradoras e licenciosas deambulações pelas ruas; a participação nas
cerimónias religiosas estava reservada exclusivamente à personagem sagrada da Morte.
Outros investigadores, porém, valorizam a origem pagã destes rituais. Esta peculiaridade denota-se, sobretudo, em
“antruejos” das províncias de Zamora e León. Neste contexto, a atuação de personagens representativos de animais
domésticos (touros e vacas) é fundamental; podemos referir as celebrações de Almeida de Sayago, Pereruela,
Palacios del Pan (Zamora) e Llamas de la Ribera e Velilla de la Reina (León). A presença destas personagens
zoomórficas denota o valor dos animais domésticos nos trabalhos agrícolas destas comunidades rurais.
Sintetizando, tratar-se-á de resquícios dos antigos ritos agrários do solstício de inverno, propiciadores da fertilidade,
profiláticos da comunidade e da natureza, de culto aos mortos e de iniciação dos jovens no mundo dos adultos, nos
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quais o mascarado assume o papel de protagonista; desta maneira, a máscara e respetiva indumentária aparecem
como a paramentaria indispensável ao exercício dos atos mágicos que caracterizam as celebrações.
Concluindo, as festas dos mascarados no Nordeste Transmontano e da região de Castilla y León são ritos de profundo
esoterismo; resistiram à passagem do tempo e às mudanças históricas e sociais, conservando-se bem vigentes na
cultura dos povos que os mantêm como seu património valioso e, por isso, constituem uma marca identitária da
região. São património imaterial deste povo.
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