Primo Anão

Transcrição

Primo Anão
biologia
Moderna plus
biologia das Populações
Parte II
Unidade B
Capítulo 12 Evolução humana
3
amabis
martho
1
leitura
Primo anão do homem
habitou Indonésia
Criatura desenterrada na Ilha das Flores tinha
1 metro de altura e acende debate sobre evolução
da inteligência
O
s hobbits* podem até ser criaturas de ficção. Mas uma raça de pessoas de um metro de altura conviveu em tempos passados com o homem
moderno. Trata-se do mais novo membro do gênero humano, cujos fósseis
foram desenterrados numa caverna na Ilha das Flores, Indonésia.
Batizada de Homo floresiensis por seus descobridores, a nova espécie
está sendo considerada um dos maiores achados da paleoantropologia nas
últimas décadas. Ela se extinguiu provavelmente há apenas 12 mil anos, no
final da Idade do Gelo, época em que o Homo sapiens já havia colonizado
todo o planeta e — acreditava-se — era o último representante da linhagem
dos hominídeos.
Os fósseis, um esqueleto completo e partes de seis outros indivíduos, indicam que o H. floresiensis era uma espécie anã, cujos adultos não passavam
de um metro de altura. Seu crânio abrigava o menor cérebro já visto entre
hominídeos — do tamanho do de um chimpanzé.
“Foi uma surpresa imensa, porque tudo o que estudamos dizia que pessoas
com um cérebro desses e um tamanho desses haviam andado sobre a Terra
pela última vez há 3,5 milhões de anos”, disse à Folha o paleoantropólogo
australiano Peter Brown, da Universidade da Nova Inglaterra, que descobriu o H. floresiensis e o descreveu, juntamente com colegas da Indonésia e da Austrália, na edição de hoje da revista científica Nature (www.nature.com).
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O esqueleto tem 18 mil anos e pertencia a uma mulher adulta. Ele estava
enterrado com restos de estegodonte (elefante-anão), de dragões-de-komodo
e várias ferramentas de pedra. Esse contexto sugere que, ao menos no que diz
respeito ao cérebro, tamanho não é documento.
“Ele abre um debate sobre cognição, porque tem um cérebro menor que
o nosso e está lá, fazendo ferramentas de pedra”, diz a antropóloga brasileira
Marta Mirazón Lahr, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), que comentou a descoberta na Nature. “A questão é: o que causa a cognição? É o grau
de encefalização [tamanho] ou o número de conexões que o cérebro faz?”
Não se sabe nem se houve contato entre o H. floresiensis e o homem moderno. Datações preliminares dos outros indivíduos do sítio indicam que a
espécie já estava presente há 95 mil anos.
Termo utilizado por analogia aos personagens do livro O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien,
**que
eram semelhantes a seres humanos, com pequena estatura.
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“Mas a evidência direta de humanos modernos em Flores tem só 11 mil
anos, logo depois da camada de cinzas vulcânicas que selou o destino dos hobbits e dos elefantes-pigmeus”, diz Bert Roberts, da Universidade de Wollongong,
Austrália, coautor da descoberta. Há, no entanto, entre os nativos de Flores uma
lenda sobre pessoas pequenas, chamadas “ebu gogo” no idioma local.
Segundo os cientistas, o nanismo do H. floresiensis provavelmente foi uma
adaptação ao ambiente da ilha. Esse fenômeno é comum entre mamíferos
ilhéus, que reduzem seu tamanho em resposta à escassez de comida. “Há ilhas
em que elefantes ficam do tamanho de um porco em 5.000 anos”, diz Brown.
O nanismo acontece em seres humanos, mas como um problema genético.
Nesse caso, o tamanho do corpo diminui, mas o do cérebro não. Por isso, os
cientistas sabem que o hobbit indonésio é uma espécie encolhida.
A nova espécie seria uma versão “light” do Homo erectus, considerado o
ancestral direto da espécie humana. O H. erectus foi o primeiro hominídeo a
atingir a Indonésia, provavelmente de barco.
“Temos ferramentas de pedra de 840 mil anos em Flores, mas não sabemos
quem as produziu”, disse Brown. A hipótese preferida do antropólogo é que
uma população de H. erectus tenha chegado à ilha e encolhido com o tempo.
Fonte: Cláudio Angelo (editor de Ciência), Folha de S.Paulo, 28 out. 2004.
Descoberta reafirma teoria da evolução
Na última década, sete ou oito novas espécies de hominídeo foram descritas, o que levou à reforma da árvore genealógica da humanidade e ao reconhecimento da variabilidade de nichos ecológicos ocupados por hominídeos.
Hoje, são reconhecidas até 20 espécies de hominídeos; muitas existiram
concomitantemente, levando ao abandono da noção de uma sequência evolutiva linear em direção ao homem moderno. Também aceita-se que o H. sapiens
evoluiu na África recentemente (nos últimos 250 mil anos), de onde se dispersou
para o mundo, transformando-se na única espécie de hominídeo existente.
Os fósseis descobertos na Ilha das Flores representam mais do que uma
adição a esse registro fantástico da evolução da nossa família. As criaturas,
interpretadas como descendentes do Homo erectus da Ilha de Java, que, isoladas na pequena ilha, viraram pigmeias, demonstram que os hominídeos
obedeceram às mesmas regras evolutivas que os outros animais.
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Os fósseis, que receberam o nome de Homo floresiensis, levantam inúmeras questões: qual era o seu padrão de crescimento? Por que o processo
alométrico que o levou a reduzir o tamanho em 30% provocou uma redução
do cérebro de mais de 50%?
Como pensava uma criatura com cérebro menor do que “Lucy” — o célebre
Australopithecus afarensis de 3,5 milhões de anos —, mas que sabia manufaturar ferramentas e caçar elefantes (pigmeus estes também)?
Podemos ainda nos perguntar se essas criaturas se encontraram frente a
frente com caçadores humanos e se estes tiveram um papel na sua extinção.
O Homo floresiensis é, sem dúvida, uma das descobertas paleoantropológicas
mais fantásticas.
Fonte: Marta Mirazón Lahr. Descoberta reafirma teoria da evolução, Folha de S. Paulo, 28
out. 2004.

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