Primeiras páginas - A Esfera dos Livros

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Primeiras páginas - A Esfera dos Livros
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No fundo dos oceanos
NESTA PÁGINA E PÁGINA DA DIREITA
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As montanhas submarinas
proporcionam um relevo
proeminente no meio da planície
abissal. Todas as espécies de
criaturas, móveis ou sésseis, vêm
aqui fixar-se, alimentar-se ou
reproduzir-se para aproveitarem as
correntes mais fortes. Aqui, a
riqueza da fauna é tal que essas
formações geológicas, na sua maior
parte vulcões extintos, mas por
vezes ainda activos, são designadas
«ilhotas de diversidade». A cada
mergulho, quer seja no golfo do
Alasca, no sul do Pacífico ou ao largo
da Califórnia, os investigadores
estupefactos descobrem novas
maravilhas: florestas de corais
gigantescos, como estes formados
pela górgona Paragorgia sp., de
2 metros de altura [ P Á G I N A D A
DIREITA , EM CIMA À ESQUERDA];
frágeis mas enormes corais-bambu
pluricentenários [ P Á G I N A D A
DIREITA , EM BAIXO À DIREITA];
esponjas com substâncias químicas
cheias de promessas para a
medicina, criaturas pelágicas
atraídas pela riqueza dos recursos.
Entre estas últimas, distingue-se
a pequena medusa Benthocodon sp.,
[ N E S T A P Á G I N A , E M B A I X O ] , assim
como o famoso «molusco
misterioso» [ N E S T A P Á G I N A , E M
C I M A ] descoberto pelo instituto
MBARI a 2500 metros de
profundidade e até hoje
inclassificável em qualquer dos
grupos de moluscos conhecidos
dos investigadores. Acontece por
vezes que os submersíveis ou os
ROV encontram criaturas
excepcionais, como o animal
desconhecido, sem dúvida uma
lula-aranha Magnapinna sp. [ A O
C E N T R O D A C O M P O S I Ç Ã O ] , cujos
tentáculos de 5 metros de
comprimento formam um ângulo
muito pouco vulgar entre os
cefalópodes... Este gigante percorre
os oceanos até 5000 metros de
profundidade!
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«Debaixo de água, cada olhar é como se fosse roubado
a um mundo proibido e provoca um choque emocional que
sinto como se fosse a primeira vez sempre que mergulho…»
Jacques-Yves Cousteau, 1976
AO LADO
Tiburonia granrojo
Grande vermelha
_TAMANHO
1 m de diâmetro
1500 m
No fundo dos oceanos
PROFUNDIDADE
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Esta grande bola escura e aveludada
foi descoberta em 1993 pelos
investigadores do instituto MBARI,
na Califórnia. É tão diferente das
outras medusas que os biólogos
tiveram de criar para ela uma nova
subfamília, a das Tiburoniinae, do
nome do robot, o Tiburon, que a
observou pela primeira vez. Para
capturar as suas presas, não utiliza
tentáculos urticantes, como a maior
parte das medusas, mas estende
longos braços carnudos cujo número
varia estranhamente entre 4 e 7.
Sabe-se ainda muito pouco sobre
este animal.
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Existem nos oceanos florestas de corais que
se estendem por vezes por centenas de
quilómetros e que abrigam uma fauna
infinitamente rica e variada. Os tubarões e
os cefalópodes vêm aqui pôr os seus ovos,
as górgonas gigantes oferecem aqui os seus
ramos como promontório aos equinodermes,
esponjas delicadas aqui acolhem crustáceos
e peixes. Esta descrição assemelha-se, a
ponto de nos enganarmos, à da grande
barreira de coral australiana, mas nenhuma
Recifes profundos:
longe dos olhos, longe do coração
das espécies de que aqui se trata se
encontra nas águas quentes dos mares
tropicais.
Estas maravilhas naturais só podem
pelo contrário crescer em águas muito frias,
nas altas latitudes do planeta. Conhecidas
desde o século XIX graças às dragas que os
navios oceanográficos içavam, sabemos
agora que os recifes coralíferos de água
fria se escondem também nas profundezas
dos oceanos, em locais onde não penetra luz
alguma, onde não existe qualquer
testemunha dos estragos de que são
vítimas. Os recursos à superfície diminuíram
a tal ponto que a pesca exerce agora pressão
sobre os recursos profundos. Os recifes
de água fria encontram-se a partir dos
40 metros abaixo da superfície e vão até
mais de 2000 metros. Abrigam numerosas
espécies de peixes, de crustáceos e de
moluscos de grande valor comercial. Estes
animais são recolhidos com a ajuda de
redes gigantes, lastradas com pesos que
lavram o fundo, deixando atrás de si apenas
uma paisagem de desolação e destroços,
onde, algumas horas antes, se estendia
um recife com 8000 ou 10 000 anos, onde
abundavam centenas de espécies
desconhecidas da ciência e em grande
parte endémicas deste meio. Calcula-se
que em apenas algumas décadas, os recifes
profundos do mundo estarão destruídos
numa superfície correspondente a 6 vezes
o tamanho da Europa. Isto é tanto mais
problemático quanto os corais de água
fria têm um crescimento entre 10 a
20 vezes mais lento do que os bem
conhecidos das águas tropicais... Por outro
lado, mesmo que existam tantas espécies
coralíferas nas águas escuras e frias como
nas águas quentes, apenas seis espécies
profundas são capazes de construir
recifes. Todos os outros corais do frio são
espécies «moles», incapazes de produzir
um esqueleto calcário. Estes factores tornam
os recifes profundos extremamente
vulneráveis à intervenção humana, mas o
seu isolamento ao largo das nossas costas,
muitas vezes centenas de metros abaixo
da superfície, faz deles vítimas cegas e
mudas, alvos ideais de uma indústria
insensata que destrói um património natural
excepcional, para contribuir com apenas
0,2% do total de capturas mundiais! •
EM CIMA
Gorgonocephalus
caputmedusae
Gorgonocéfalo
_TAMANHO
disco central 6,5 cm
50 a 300 m no mínimo
PROFUNDIDADE
Os recifes coralíferos que se
estendem pelas margens
continentais da Noruega são
dominados pelo coral Lophelia
pertusa. Tal como as árvores de uma
floresta tropical, a sua estrutura
ramificada proporciona uma rede de
esconderijos, numerosas
possibilidades de refeições, assim
como oportunidades de encontros
e associações benéficas. Este
ecossistema atrai uma grande
quantidade de espécies diferentes,
a maior parte das quais é talvez
ainda desconhecida dos cientistas.
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PÁGINA DUPLA ANTERIOR, À ESQUERDA
Gorgonocephalus
caputmedusae
Gorgonocéfala
_TAMANHO
1 m de diâmetro
50 a 300 m no mínimo
PROFUNDIDADE
Quando pesca, a gorgonocéfala
trepa pela górgona profunda
Paramuricea placomus e estende na
corrente os seus braços,
semelhantes a uma cabeleira
hirsuta. Tal como o animal se
apresenta, a referência no seu
nome às cabeças das górgonas
mitológicas faz todo o sentido...
PÁGINA DUPLA ANTERIOR, À DIREITA
Grimpoteuthis sp.
Polvo-dumbo
_TAMANHO
20 cm
300 a 5000 m
PROFUNDIDADE
Este pequeno polvo engraçado
tem alguns traços que fazem lembrar
uma personagem de um desenho
animado japonês. Até hoje, são
conhecidas dos investigadores
catorze espécies de Grimpoteuthis,
mas para lá da descrição taxonómica
de base que foi realizada graças
aos animais capturados nas redes,
estes polvos continuam a ser
bastante enigmáticos.
Os submersíveis surpreendem-nos
frequentemente pousados no fundo
com as suas vestes dispostas em
seu redor. Que fazem eles, imóveis
na escuridão? Ninguém sabe.
AO LADO
Dysommina rugosa
Enguias «degoladas»
_TAMANHO
38 cm
260 a 775 m
No fundo dos oceanos
PROFUNDIDADE
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Assustadas pela aproximação do
submersível, estas enguias deixam
as fendas que ocupam no cimo de
um cone vulcânico muito
recentemente emergido a leste das
ilhas Samoa, no Pacífico Sul. Até
1999, o vulcão submarino de
Vailulu'u, cuja base se encontra a
5000 metros de profundidade e o
cume a 700 metros abaixo da
superfície, nunca tinha sido sequer
cartografado. Os mergulhos de
exploração revelaram pilares de lava
cobertos por um tapete microbiano
amarelo-alaranjado e banhados
por água quente que emana do
vulcão. Ao local foi dado o nome
«Cidade das enguias» devido à
densidade extravagante de enguias
«degoladas» que ali foram
observadas em meio natural pela
primeira vez.
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