Fact Sheet Janine.cdr - Organização Internacional do Trabalho
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Fact Sheet Janine.cdr - Organização Internacional do Trabalho
Jornada de Trabalho Organização Internacional do Trabalho Escritório no Brasil A jornada de trabalho é uma dimensão importante da qualidade de emprego, com repercussões importantes na segurança e saúde do trabalhador, nas possibilidades de equilíbrio entre a vida pessoal e familiar, e também na organização do trabalho dentro da empresa. A primeira convenção da OIT, Convenção sobre as horas de trabalho (Indústria), 1919 (nº 1), estabeleceu uma jornada máxima de oito horas diárias e 48 horas semanais na indústria, que foi estendida também aos trabalhadores do comércio e escritórios em 1930, pela Convenção sobre as horas de trabalho (Comércio e escritórios), 1930 (nº 30). Em 1935, no meio da Grande Depressão, a OIT adotou uma nova convenção, a Convenção sobre as quarenta horas, 1935 (nº 47), que estabelece um limite de quarenta horas semanais para a jornada de trabalho, e cujo objetivo foi expresso como “um padrão social a ser realizado em etapas se for necessário” na Recomendação sobre a redução da duração do trabalho, 1962 (nº 116). A jornada semanal de 48 horas de trabalho foi estabelecida no Brasil em 1943, através da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) do mesmo ano. Em 1988, essa jornada foi reduzida à 44 horas, pela Constituição Federal de 1988. Em 1998 foi aprovada a Lei 9.601/98, que estabelece um “banco de horas”, um sistema de compensação de horasextras mais flexível, que possibilita à empresa adequar a jornada de trabalho dos empregados às suas necessidades de produção, mediante convenção ou acordo coletivo de trabalho. Em momentos de grande atividade da empresa, a jornada de trabalho pode ser ampliada (a um máximo de duas horas extras por dia), durante um determinado período, sem que essas horas sejam remuneradas, mas sim compensadas posteriormente em momentos de retração da produção, através de folgas ou de redução da jornada diária, até a "quitação" das horas excedentes. Segundo os dados da Pesquisa Nacional para Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, em 2008, a população ocupada de 16 anos ou mais de idade trabalhou uma jornada média semanal de 40,8 horas. Apesar da média ser mais reduzida que o limite fixado na lei, houve um contingente expressivo de ocupados cujas jornadas semanais superavam este limite. Em 2008, 33,7% dos ocupados trabalhavam uma jornada superior às 44 horas semanais e 19,1% trabalharam uma jornada superior às 48 horas semanais, enquanto 23,1% trabalhavam menos de 35 horas por semana. Como se pode apreciar na Figura 1, existem importantes diferenças entres as jornadas semanais trabalhadas pelas mulheres e pelos homens. A média de horas trabalhadas por semana pelos homens era, em 2008, de 44,0 horas, quase oito horas a mais que a jornada semanal das mulheres (36,4 horas). Além disso, a carga excessiva de horas de trabalho afeta mais os homens do que as mulheres. Em 2008, 24,7% das mulheres e 40,5% dos 1 Horas habitualmente trabalhadas por semana em todos os trabalhos. Dos trabalhadores brasileiros ocupados 5% têm mais que um trabalho. homens trabalhavam mais de 44 horas semanais. Da mesma forma, 13,7% das mulheres e 23,2% dos homens trabalhavam mais de 48 horas semanais. A jornada reduzida de menos de 35 horas por semana é mais comum entre as mulheres (35,6%) que os homens (13,8%). Figura 1: Média de horas trabalhadas por semana e porcentagem de trabalhadores com jornada de trabalho semanal acima de 44 horas e 48 horas e menos que 35 horas, por sexo, Brasil, 2008 Fonte: IBGE Microdados da PNAD. Nota: Trabalhadores com 16 anos o mais de idade. Horas habitualmente trabalhadas por semana em todos os trabalhos. Apesar dessa menor jornada das mulheres brasileiras no que se refere ao trabalho definido como produtivo, ou para o mercado, é necessário assinalar que uma expressiva proporção delas (87,8%) também realizava afazeres domésticos, enquanto que entre os homens tal proporção era expressivamente inferior (46,5%). A média de horas dedicadas aos afazeres domésticos foi de 18,3 horas para as mulheres ocupadas e 4,3 para os homens ocupados, ou seja, 14 horas a menos. Com efeito, ao conjugarem-se as informações relativas às horas de trabalho dedicadas às tarefas domésticas (reprodução social) com àquelas referentes à jornada exercida no mercado de trabalho (reprodução econômica), constata-se que, apesar da jornada semanal média das mulheres no mercado de trabalho ser inferior a dos homens, ao computar-se o trabalho realizado no âmbito doméstico, a jornada média semanal total feminina alcança 54,7 horas e ultrapassa em mais de seis horas a masculina (48,3 horas) (Vide Tabela 1). Tabela 1: Média de horas trabalhadas no mercado de trabalho e na casa, população de 16 anos ou mais de idade ocupada, por sexo, Brasil, 2008 Sexo Média de horas semanais no mercado de trabalho (A) Média de horas semanais gastas com afazeres 1 domésticos (B) Jornada Semanal Total (A + B) Homens 44,0 4,3 48,3 Mulheres 36,4 18,3 54,7 Fonte: IBGE Microdados da PNAD. Nota: Trabalhadores com 16 anos o mais de idade. Horas habitualmente trabalhadas por semana em todos os trabalhos. Organização Internacional do Trabalho SEN, Lote 35, Brasília, DF, Brasil - 70.800-400 - Telefone: 55 61 2106-4600 - www oit.org.br Evolução da jornada de trabalho no Brasil Entre 1992-2008 a média de horas trabalhadas por semana reduziu-se de 42,8 a 40,9 horas2. A redução mais significativa foi entre a população ocupada com jornada de trabalho semanal acima de 44 horas (de 43,3% em 1992 para 33,9% em 2008), mas também houve uma importante redução entre a população ocupada com jornada acima de 48 horas (de 25,7% em 1992 para 19,2% em 2008). Estas reduções provavelmente estão relacionadas à definição da nova jornada legal de 44 horas por semana estabelecida na Constituição de 1988 e a inércia para sua efetiva implementação. Além disso, os avanços oriundos provenientes a reestruturação produtiva ajudaram a diminuir a jornada. Tabela 2: Evolução da média de horas trabalhadas por semana e porcentagem de trabalhadores que trabalham mais de 44 horas e mais de 48 horas por semana, Brasil, 1992-2008 Média tr abalh ada Mais de 44 horas (%) Mais de 48 horas (%) 1992 42,8 43,3 25,7 1993 42,3 43,1 24,5 1995 42,2 42,2 24,3 1997 42,5 42,6 24,9 1999 41,9 41,3 23,7 2001 42,4 42,1 24,4 2003 41,7 40,6 23,1 2005 41,0 37,7 21,1 2006 40,9 37,4 20,9 2007 41,0 35,5 20,3 Não remunerado 27.7 37.1 Funcionário público estatutário Conta própria 38.7 39.5 Empregado sem carteira assinada Doméstico sem carteira assinada 41.3 Empregado com carteira assinada 43.9 Militar 44.0 Doméstico com carteira assinada 44.6 Empregador 47.1 0 5 10 15 20 25 30 Média de horas 2008 40,9 33,9 19,2 Fonte: IBGE Microdados da PNAD. Nota: Por motivos de comparação, os dados para 2004-2008 não incluíam a área rural da região norte, exceto Tocantins. Trabalhadores com 16 anos o mais de idade. Horas habitualmente trabalhadas por semana em todos os trabalhos. Heterogeneidade nas horas trabalhadas por ocupação Existe muita heterogeneidade entre as horas médias trabalhadas por posição na ocupação. Só os empregados contratados formalmente (com carteira assinada) tem uma jornada regulamentada de 44 horas por semana pela CLT. Os funcionários públicos estatuários têm uma jornada máxima de 40 horas por semana, enquanto a jornada de trabalho dos trabalhadores domésticos não têm limite máximo, já que foram excluídos deste direito na Constituição de 1988. Os trabalhadores informais (trabalhadores por conta própria, empregados e domésticos sem carteira assinada e os não remunerados), por não ter vínculo empregatício (caso dos trabalhadores por conta própria), ou não ter esse vínculo formalizado nos outros casos, ficam fora da regulamentação da lei. Como conseqüência, a única categoria ocupacional que será diretamente afetada por uma eventual redução da jornada legal de trabalho às 40 horas semanais são os empregados do setor privado com carteira de trabalho assinada. Eles compõem 33,2% das pessoas ocupadas no país, ou seja, 31,9 milhões de trabalhadores e trabalhadoras. Dentro desse grupo, 58,6% trabalhavam mais de 40 horas semanais em 2008 enquanto 41,4% trabalhavam 40 horas ou menos por semana. Por tanto, a redução da jornada às 40 horas semanais afetaria diretamente um contingente de 18,7 milhões de trabalhadores brasileiros. 2 Por motivos de comparação com os anos 1990, os dados para 2004-2008 não incluem a área rural da região norte, exceto Tocantins. Organização Internacional do Trabalho SEN, Lote 35, Brasília, DF, Brasil - 70.800-400 - Telefone: 55 61 2106-4600 - www oit.org.br 35 40 45 50