Folheto informativo do Dia Mundial da Alimentação 2013
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Folheto informativo do Dia Mundial da Alimentação 2013
Friedensreich Hundertwasser, 738 Grass for those who cry, 1975, © 2013 NAMIDA AG, Glarus/Switzerland Pessoas saudáveis dependem de sistemas alimentares saudáveis Sistemas alimentares sustentáveis para a segurança alimentar e a nutrição Dia Mundial da Alimentação 16 de outubro de 2013 Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura www.fao.org Pessoas saudáveis dependem de sistemas alimentares saudáveis A má nutrição impõe custos elevados à sociedade e assume diferentes formas: Uma em cada quatro crianças com menos de cinco anos tem baixa estatura para a idade. Isso significa que 165 milhões de crianças estão tão desnutridas que nunca atingirão todo o seu potencial físico e cognitivo. Cerca de 2 bilhões de pessoas não dispõem das vitaminas e minerais essenciais para uma boa saúde. Cerca de 1,4 bilhões de pessoas têm sobrepeso. Desse total, cerca de um terço são obesas e correm riscos de doença coronária, diabetes ou outros problemas de saúde. Além disso, diferentes tipos de má nutrição podem coexistir num país, numa família ou mesmo num indivíduo. As mulheres desnutridas têm maior probabilidade de dar à luz bebês menores, que começam a vida com maior risco de deficiência física e cognitiva. De fato, a má nutrição materna é um dos principais meios de transmissão da pobreza de uma geração à outra. O custo da má nutrição para a economia global – em resultado da perda de produtividade e custos na saúde – pode chegar a 5 por cento do rendimento global. Isso equivale a US$ 3,5 trilhões por ano ou US$ 500 por pessoa. Ao mesmo tempo, pais obesos podem sofrer de deficiência de vitaminas e os seus filhos podem ter baixa estatura para a idade devido ao peso baixo ao nascer e às más práticas de cuidados e alimentação. As crianças com atrasos no crescimento podem até ter maior risco de desenvolver obesidade e doenças relacionadas na idade adulta. A maioria dos países enfrenta vários tipos de má nutrição. Eliminar a má nutrição em todo o mundo é um desafio assustador, mas o retorno do investimento pode ser alto. Se a comunidade global investir US$ 1,2 bilhões por ano durante cinco anos na redução das deficiências de micronutrientes, por exemplo, os resultados seriam melhor saúde, menos mortes de crianças e maior rendimento futuro. Isso geraria ganhos anuais de US$ 15,3 bilhões – um coeficiente de custo-benefício de quase 13 para 1. A importância dos ‘sistemas alimentares’ Um sistema alimentar é constituído pelo meio ambiente, pessoas, instituições e processos pelos quais os produtos agrícolas são produzidos, processados e entregues aos consumidores. Cada aspecto do sistema alimentar tem um efeito sobre a disponibilidade final e acessibilidade a alimentos variados e nutritivos – e, portanto, sobre a capacidade do consumidor de escolher uma alimentação saudável. Evidentemente, há outros fatores: rendimento familiar, preços e conhecimento por parte do consumidor, por exemplo. Além disso, as políticas e intervenções nos sistemas alimentares raramente são formuladas tendo a nutrição como principal objetivo. Mesmo quando o são, é difícil atribuir os impactos e os investigadores às vezes concluem que as intervenções no sistema alimentar são ineficazes para reduzir a má nutrição. Em contraste, a eficácia de ações médicas – como os suplementos de vitaminas, que resolvem deficiências específicas de nutrientes – pode ser observada mais facilmente. Mas as intervenções médicas não podem substituir no longo prazo os benefícios nutricionais de uma alimentação saudável e balanceada proporcionada por um sistema alimentar em bom funcionamento. Uma alimentação saudável é equilibrada em termos de qualidade e quantidade Em todo o mundo, a primeira recomendação dos nutricionistas é: “coma alimentos variados”. Essa mensagem simples representa um dos princípios-chave para assegurar a qualidade da alimentação. A quantidade de alimentos, assim como o seu conteúdo energético – também é importante. A energia alimentar tem de ser suficiente, mas não demasiada, e deve ser equilibrada relativamente ao nível de atividade. Uma alimentação diversificada contendo quantidades e combinações balanceadas de frutas e verduras, cereais, gorduras e óleos, legumes e alimentos de origem animal, provavelmente proporcionará toda a variedade de nutrientes de que a maioria das pessoas necessita para levar uma vida saudável e ativa. Impacto da degradação ambiental A agricultura depende muito dos recursos naturais. Pode causar danos, mas também pode produzir benefícios ambientais. A agricultura é uma força dominante por trás de muitas ameaças ao meio ambiente, inclusive a mudança climática, a escassez de terra e a degradação dos solos, a escassez de água doce, a perda de biodiversidade, a degradação das florestas e dos recursos pesqueiros e a contaminação com agrotóxicos. O setor agropecuário usa 70 por cento dos recursos de água doce e, junto com a silvicultura, ocupa 60 por cento da superfície terrestre. A pecuária usa 80 por cento da área total de lavouras e pastagens. Os oceanos cobrem 70 por cento da superfície do planeta e sustentam a pesca e a aquicultura; a aquicultura corresponde a uma parcela crescente do uso das terras e da água doce. Sistemas alimentares sustentáveis são eficientes Por definição, um sistema alimentar sustentável produz uma alimentação nutritiva para todos hoje e protege a capacidade das gerações futuras de se alimentarem. Um sistema alimentar sustentável usa os recursos de maneira eficiente em cada etapa desde a exploração agrícola até à mesa. Obter o máximo de alimentos por cada gota de água, pedaço de terra, grão de fertilizante e minuto de trabalho poupa recursos para o futuro e torna os sistemas mais sustentáveis. A transformação de resíduos como estrume e restos de comida em fertilizantes ou energia pode melhorar a sustentabilidade. As pragas e doenças danificam as culturas e os animais e reduzem a quantidade de alimentos disponíveis para os seres humanos. O uso de métodos seguros e eficazes para controlar essas perdas na produção, processamento e armazenamento ajuda a tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis. Os consumidores podem contribuir escolhendo uma alimentação balanceada e minimizando o desperdício de alimentos. Aproximadamente 60 por cento dos ecossistemas mundiais estão degradados ou são usados de maneira insustentável, o que representa sérias ameaças à segurança alimentar e nutrição. O combate à má nutrição requer ação integrada As causas imediatas da má nutrição são complexas e incluem: •disponibilidade inadequada de alimentos seguros, variados e nutritivos (e acesso inadequado a eles); •falta de acesso a água potável, saneamento e cuidados de saúde; •escolhas inadequadas na alimentação infantil e dieta adulta. As raízes da má nutrição são ainda mais complexas e abrangem o ambiente econômico, social, político, cultural e físico. Portanto, o combate à má nutrição requer ação integrada e intervenções complementares na agricultura e no sistema alimentar, na gestão de recursos naturais, na saúde pública e educação e em domínios de política mais amplos. Já que as ações necessárias em geral envolvem várias instituições do governo, é preciso haver apoio político de alto nível para motivar um esforço coordenado. Produzir mais alimentos: bom, mas não suficiente A maior produtividade na agricultura contribui para uma melhor nutrição ao elevar o rendimento – especialmente nos países em que a agricultura representa uma grande parcela da economia e do emprego – e reduzir o custo dos alimentos para todos os consumidores. É importante observar, porém, que o impacto do crescimento agrícola é lento e talvez não seja suficiente para provocar uma rápida redução na má nutrição. Aumentos regulares da produtividade agrícola continuarão a ser cruciais nas próximas décadas: a produção de alimentos básicos precisa aumentar 60 por cento para ir ao encontro do crescimento previsto da demanda. Mas uma alimentação saudável é mais que gêneros alimentícios básicos. Ela deve ser diversificada, contendo uma combinação equilibrada e adequada de energia e nutrientes. Por esses motivos, as prioridades da investigação e do desenvolvimento agrícola devem tornar-se mais sensíveis à nutrição, com maior ênfase em alimentos ricos em nutrientes, como frutas, verduras, legumes e alimentos de origem animal. É preciso dirigir mais esforços para intervenções que diversifiquem a produção dos pequenos agricultores – com sistemas agrícolas integrados, por exemplo. Outra área de trabalho promissora envolve o aumento do conteúdo de micronutrientes dos gêneros alimentícios – seja mediante “biofortificação”, incentivando o uso de variedades com maior conteúdo de nutrientes ou cultivando espécies alimentícias subutilizadas, mas ricas em nutrientes. As intervenções que envolvem a agricultura em geral são mais eficazes quando combinadas com educação sobre nutrição e implementadas com sensibilidade em relação ao gênero. Escolha do consumidor e mudança de comportamento É importante fazer com que os sistemas melhorem a nutrição para que os alimentos estejam disponíveis e acessíveis e sejam variados e nutritivos, mas também é preciso ajudar os consumidores a fazer escolhas alimentares saudáveis. Promover a mudança de comportamento mediante a educação sobre nutrição e campanhas de informação – bem como proporcionar saneamento doméstico e assegurar alimentos apropriados para todas as idades e em todas as etapas da vida, particularmente nos primeiros 1.000 dias – mostrou-se eficaz. Mesmo nos locais em que a subnutrição e as deficiências de micronutrientes persistem como principais problemas, é importante agir para prevenir um aumento do sobrepeso e obesidade, especialmente no longo prazo. A mudança de comportamento também pode reduzir o desperdício e contribuir para o uso sustentável dos recursos. Prós e contras da cadeia de abastecimento Sistemas alimentares tradicionais e modernos coexistem e evoluem à medida que as economias crescem e a urbanização aumenta. As cadeias de abastecimento modernas integram armazenamento, distribuição e venda no varejo – e oferecem ganhos de eficiência que podem resultar em preços mais baixos para os consumidores e em rendimentos mais altos para os produtores. O processamento e empacotamento de alimentos ricos em nutrientes, mas perecíveis, como leite, verduras e frutas, pode aumentar a disponibilidade de alimentos nutritivos a um preço acessível aos consumidores ao longo do ano inteiro. Por outro lado, alimentos altamente processados e ricos em energia podem contribuir para o sobrepeso e obesidade se consumidos em excesso. Conferência Internacional sobre Nutrição A “Conferência Internacional sobre Nutrição 2” será realizada em Roma de 19 a 21 de novembro de 2014. A Conferência vai examinar o progresso feito desde o último encontro sobre nutrição realizado em 1992 e abordar os desafios e oportunidades para melhorar a nutrição num novo contexto global. A ICN2 vai explorar a forma como os governos e outros atores podem trabalhar juntos para abordar os efeitos múltiplos da má nutrição, oferecendo um fórum para partilhar ferramentas práticas, diretrizes e experiências de melhoria da nutrição. Organizada pela FAO e OMS, essa conferência ministerial de alto nível vai propor um quadro flexível de políticas para enfrentar os grandes desafios de nutrição nas próximas décadas. Os sistemas modernos de processamento e distribuição de alimentos também oferecem oportunidades para o uso de alimentos fortificados, que podem dar uma contribuição importante à nutrição. Embora os supermercados estejam se espalhando rapidamente nos países de baixo rendimento, a maioria dos consumidores pobres nas áreas rurais e urbanas ainda compra a maior parte de seus alimentos em redes tradicionais de distribuição. Esses mercados tradicionais são o principal canal de alimentos ricos em nutrientes como frutas, verduras e produtos de origem animal, embora cada vez mais também vendam alimentos processados e empacotados. O uso de lojas tradicionais para a distribuição de alimentos fortificados como sal iodado é outra estratégia comprovada para melhorar a nutrição. A melhoria do saneamento, do manuseio de alimentos e das tecnologias de armazenamento nos sistemas alimentares tradicionais pode aumentar a eficiência e melhorar a segurança e qualidade nutritiva dos alimentos. A redução das perdas e desperdício de alimentos e nutrientes nos sistemas alimentares pode dar uma contribuição importante à melhoria da nutrição e aliviar a pressão sobre os recursos produtivos. Quadro institucional e políticas de nutrição Alguns países conseguiram uma redução significativa da má nutrição nas últimas décadas. Mas o progresso foi desigual e há uma necessidade urgente de fazer um uso melhor do sistema alimentar para melhorar a nutrição. A má nutrição e as suas causas subjacentes são complexas. Isso significa que a maioria das abordagens eficazes envolve múltiplos setores e diferentes atores. Essa abordagem – com planeamento, coordenação e colaboração efetiva – requer melhor governança, baseada em dados sólidos, uma visão comum e, acima de tudo, liderança política. Três mensagens importantes 1 A boa nutrição depende de uma alimentação saudável. 2 Uma alimentação saudável requer sistemas alimentares saudáveis – além da educação, saúde, saneamento e outros fatores. 3 Sistemas alimentares saudáveis são possibilitados por políticas e incentivos apropriados e boa governança. Exemplo 1: Sistema VAC do Vietnam No Vietnam o sistema VAC (Vuon, Ao, Chuong – agricultura, aquicultura, pecuária) é uma abordagem integrada que produziu efeitos positivos sobre a nutrição. O sistema VAC em geral inclui: um lago com peixes perto de casa; criação de animais ou aves perto do lago para fornecer uma fonte imediata de fertilizantes orgânicos; e hortas que incluem culturas anuais e perenes para provisão de alimentos ao longo de todo o ano e produtos para o mercado. A pesquisa nacional de nutrição feita no Vietnam em 2000 mostrou uma grande melhoria em relação a 1987 em termos de consumo de alimentos de origem animal, frutas e verduras. Embora esse progresso seja devido a múltiplos fatores, o sistema VAC desempenhou um papel importante. Em resultado, diminuiu a prevalência da má nutrição infantil e deficiência crônica de energia nas mulheres em idade fértil e houve um aumento substancial no rendimento e melhoria da saúde e nutrição da população rural. Exemplo 2: Aumentando a fertilidade do solo na Índia Em muitas partes do mundo os solos estão severamente degradados. A melhoria da fertilidade dos solos pode aumentar a sustentabilidade da produção agrícola e o conteúdo nutricional dos alimentos. O uso de fertilizantes orgânicos ou inorgânicos, contendo concentrações balanceadas de azoto, potássio e fósforo pode aumentar os rendimentos e melhorar as concentrações de micronutrientes nos alimentos. O acréscimo de elementos nutrientes específicos nos fertilizantes ou na água para irrigação pode aumentar os rendimentos e as concentrações de minerais nas culturas. Nos estados de Andhra Pradesh, Madhya Pradesh e Rajasthan, os rendimentos aumentaram 20 a 80 por cento e depois 70 a 120 por cento quando outros elementos nutrientes foram adicionados em conjunto com azoto e fósforo. Esses resultados foram observados em várias culturas – inclusive milho, sorgo, munguba, guandu, mamona, grão-debico, soja e trigo. O aumento do rendimento obtido mediante fertilização balanceada pode reduzir a área necessária para cultivar alimentos e assim aumentar a sustentabilidade do sistema agrícola. Exemplo 3: Aproveitando ao máximo as cabras na Etiópia Em algumas comunidades, o consumo de micronutrientes pode ser intensificado de maneira mais sustentável e efetiva mediante o fortalecimento da pecuária. Por exemplo, na Etiópia, o papel importante das cabras nos sistemas agrícolas mistos das áreas de altitude alta e média levou à execução do projeto de desenvolvimento da caprinocultura de FARM-Africa. O projeto visou o aumento do consumo de leite e do rendimento, aumentando a produtividade das cabras criadas por mulheres, mediante uma combinação de melhores técnicas de criação e melhorias genéticas. A intervenção levou a um aumento de 119 por cento na disponibilidade de leite per capita, de 39 por cento na energia de fontes animais, de 39 por cento na proteína e 63 por cento na gordura. A análise dos dados sobre famílias na área do projeto demonstrou uma melhoria considerável na nutrição e bem-estar. Como em muitos projetos deste tipo, a incorporação de considerações de nutrição, meio ambiente e gênero produziu melhores resultados. Pessoas saudáveis dependem de sistemas alimentares saudáveis Dia Mundial da Alimentação 16 de outubro de 2013 Fotos: ©FAO/Danfung Dennis ©FAO/Hoang Dinh Nam ©FAO/Desmond Kwande ©FAO/Sean Gallagher Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura Viale delle Terme di Caracalla 00153 Roma, Itália www.fao.org