Lição 2: Castelo de Cartas

Transcrição

Lição 2: Castelo de Cartas
ESTER – Paradoxos de um mundo sem Deus – Lição 2
CASTELO DE CARTAS
“Sou Xerxes, o grande rei, o rei dos reis,
rei de terras contendo muitos homens”. Xerxes I da Pérsia
ANO ZERO (486 a.C.)
Dario governou o Império Persa de 521 a 486 a.C., sucedendo o legítimo rei Cambises II, filho de Ciro, O
Grande. Não era filho de Cambises II e, portanto, não tinha direito ao trono pela filiação. General
incansável, ajudou a expandir e consolidar o Império Persa.
Em sua última incursão militar para conter uma revolta e uma possível guerra civil, ordenou que seu
exército seguisse para o Egito, a fim de apaziguar a rebelião, e retomar o plano de atacar a Grécia. No
entanto, na viagem de ida para o Egito, Dario acabou adoecendo gravemente e veio a falecer ainda naquele
ano. Seu corpo foi embalsamado e levado para Persépolis – a capital política do Império. Dias depois do
funeral, Xerxes foi coroado rei da Pérsia. O rei é morto. Vida longa ao rei!
Aos 32 anos de idade, casado e pai de alguns filhos, Xerxes – embora não fosse o filho mais velho de Dario
e possuísse outros irmãos mais velhos – assume o trono Persa. Neto de Ciro, o grande (aquele que
devolveu os judeus cativos a uma nova Jerusalém), desde a adolescência era visto por Dario como o rei que
traria estabilidade (e legitimidade) ao trono. Sua coroação foi cheia de pompa – feriado nacional – e o povo
convidado a celebrar a coroação do rei.
Os relatos contam que Xerxes era um cavaleiro habilidoso, excelente condutor de bigas e na luta com lança.
Possuía pernas fortes, era um homem relativamente alto para os padrões persas e de aparência bela.
Deixou os cabelos e a barba crescerem, assim como ditava a moda dos nobres na época. Além de aprender
etiqueta, a ler e escrever em aramaico e outras línguas e receber treinamento militar, Xerxes estudou
história, geografia, política, administração, economia, comércio, direito, filosofia, etc.
ANO 3 (483 a.C.)
Antiga capital do reino de Elão – Susã (ou Šuša) havia sido inteiramente reformada. Localizada cerca de 250
quilômetros a leste do Rio Tigre, no que é hoje o sudoeste do Irã e a 320 quilômetros a leste da Babilônia,
Susã foi elevada a capital de inverno dos reis persas.
Ester 1:1
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Foi no tempo de Xerxes , que reinou sobre cento e vinte e sete províncias, desde a Índia até a Etiópia: 2 naquela
época o rei Xerxes reinava em seu trono na cidadela de Susã
Índia = região drenada pelo rio Indo, hoje Paquistão. Atraído pelo ouro carregado pelos rios da bacia do
Indo, Dario havia conquistado aquela região antes de 513a.C.
Etiópia = Cuche era o país ao sul do Egito, que agora faz parte do Sudão setentrional.
127 províncias = O império Persa era dividido administrativamente em satrapias ou províncias. Os
documentos falam em não mais que 20 províncias. O número de 127 satrapias ressalta a grandiosidade do
império Persa. Este número também ocorre no livro de Daniel.
“A cidadela de Susã” cobria uma superfície de 50 hectares, no ponto mais alto da cidade. A cidadela era
constituída da sala do trono, o “palácio real” e “o harém”, junto com os átrios interior e exterior, o jardim
do palácio, pilares, escadas, terraços e várias passagens abobadadas. A sala do trono tinha 36 colunas, seis
fileiras de seis colunas cada uma, com capteis talhados em forma de touros ajoelhados, espáduas e
compridas vigas de cedro do Líbano que atravessavam a grande distância entre as maciças colunas. Para
esse local vinha o rei quando se assentava sobre o trono de seu reino, e aqui eram celebrados seus
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Os eventos deste livro tiveram lugar, assim nos diz o escritor (1:1), no reinado do Rei Assuero (486-465 a.C.) que é mais conhecido
pelo seu nome grego, Xerxes, ou o impronunciável Achashverosh.
ESTER – Paradoxos de um mundo sem Deus – Lição 2
banquetes e os acontecimentos sociais do estado. O piso da sala do trono era todo calçado de mármore
vermelho, azul, branco e negro. 2
Diante da grande sala do trono sustentada por colunas, estavam os jardins do palácio onde o rei
caminhava. Perto dali estavam a “casa do rei” e a “casa das mulheres”. Essas casas estavam separadas, mas
adjacentes uma da outra. Mais adiante situava-se “a porta do rei”.
Ester 1: 3
e, no terceiro ano do seu reinado, deu um banquete a todos os seus nobres e seus oficiais. Estavam presentes
os líderes militares da Pérsia e da Média, os príncipes e os nobres das províncias.
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Durante cento e oitenta dias ele mostrou a enorme riqueza de seu reino e o esplendor e a glória de sua majestade.
Tendo pacificado o império e completado a edificação necessária em Susã, ele estava preparado para
celebrar, dando um banquete. A palavra hebraica usada aqui é cognata do verbo “beber” e assim dá a
entender que haveria um amplo suprimento de vinho. Dica: Observe como o tema banquete se repete no
livro de Ester.
Durante seis meses os tesouros reais estiveram em exibição. Com tantos visitantes influentes na corte, essa
seria uma boa oportunidade para promover a campanha militar sobre os gregos.
Ester 1: 5
Terminados esses dias, no jardim interno do palácio, o rei deu um banquete de sete dias para todo o povo que
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estava na cidadela de Susã, do mais rico ao mais pobre. O jardim possuía forrações em branco e azul, presas com
cordas de linho branco, tecido vermelho ligado por anéis de prata em colunas de mármore. Tinha assentos de ouro e
prata num piso de mosaicos de pórfiro, mármore, madrepérola e outras pedras preciosas. 7 Pela generosidade do rei,
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o vinho real era servido em grande quantidade, em diferentes taças de ouro. Por ordem real, cada convidado tinha
permissão de beber conforme desejasse, pois o rei tinha instruído todos os mordomos do palácio que os servissem à
vontade.
Ao fim do extenso Festival e, provavelmente para celebrar o sucesso deste, Xerxes convoca uma nova
festividade, desta vez para os habitantes da cidadela (os anfitriões do festival). Muitos considerariam sete
dias como um período longo demais para uma bebedeira dessas, mas a intenção é ressaltar os recursos
ilimitados do rei.
Ester 1: 9
Enquanto isso, a rainha Vasti também oferecia um banquete às mulheres, no palácio do rei Xerxes.
Ao sétimo dia, quando o rei Xerxes já estava alegre por causa do vinho, ordenou que os sete oficiais que o
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serviam: Meumã, Bizta, Harbona, Bigtá, Abagta, Zetar e Carcas, trouxessem à sua presença a rainha Vasti, usando
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a coroa real, para mostrar sua beleza aos súditos e aos nobres, pois ela era muito bonita. Quando, porém, os
oficiais transmitiram a ordem do rei à rainha Vasti, esta se recusou a ir, de modo que o rei ficou furioso e indignado.
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Observe: são três festas até agora. (1) O festival de Susã que durou seis meses, (2) O banquete de sete dias
de Xerxes e (3) a festa de Vasti.
Muitos tem debatido sobre Vasti – sua identidade e seu comportamento. Seu nome tem sido associado
com as palavras persas que significam “melhor" ou “a amada”, “a desejada”, belos significados para o
nome de uma rainha. O texto não dá muitos detalhes sobre ela, exceto que era muito bonita (v.11). A
omissão da razão do não comparecimento de Vasti à convocação de Xerxes fornece tensão à narrativa
pode ser interpretada tanto como uma negativa legítima como uma afronta deliberada.
Nossos olhos devem permanecer em Xerxes. Considerando Vasti como seu tesouro mais precioso, o rei
queria levar a sua grande exibição a um clímax, mostrando a sua beleza. A impertinência dela em recusarse a aparecer, humilhando o rei dessa forma diante de todos os líderes do império, era previsivelmente
perigosa para ela. fortalece a tensão da narrativa, dando a entender que Vasti não tinha direitos em relação
ao seu marido, e portanto as razões eram irrelevantes.
Para nós que vivemos em uma época muito diferente, seria fácil passar despercebida a ironia e o humor
óbvio aos leitores originais. A mais óbvia é o contraste entre a descrição do rei no início do capítulo,
quando ele é o maior monarca do mundo, rico e poderoso, e o mesmo monarca no fim do capítulo,
tentando manter a própria dignidade a despeito da negativa da sua esposa.
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Dieulafoi - arqueólogo
ESTER – Paradoxos de um mundo sem Deus – Lição 2
Ester 1: 13
Como era costume o rei consultar especialistas em questões de direito e justiça, ele mandou chamar os sábios
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que entendiam das leis e eram muito amigos do rei: Carsena, Setar, Adamata, Társis, Meres, Marsena e Memucã;
os sete nobres da Pérsia e da Média que tinham acesso direto ao rei e eram os mais importantes do reino.
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E o rei lhes perguntou: “De acordo com a lei, o que se deve fazer à rainha Vasti? Ela não obedeceu à ordem do rei
Xerxes transmitida pelos oficiais”.
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Então Memucã respondeu na presença do rei e dos nobres: “A rainha Vasti não ofendeu somente ao rei, mas
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também a todos os nobres e os povos de todas as províncias do rei Xerxes, pois a conduta da rainha se tornará
conhecida entre todas as mulheres, e assim também elas desprezarão seus maridos e dirão: ‘O rei Xerxes ordenou que
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a rainha Vasti fosse à sua presença, mas ela não foi’. Hoje mesmo as mulheres persas e medas da nobreza que
ficarem sabendo do comportamento da rainha agirão da mesma maneira com todos os nobres do rei. Isso provocará
desrespeito e discórdia sem fim.
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“Por isso, se for do agrado do rei, que ele emita um decreto real, e que seja escrito na lei da Pérsia e da Média,
que não se pode revogar, determinando que Vasti nunca mais compareça na presença do rei Xerxes. Também dê o rei
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a sua posição de rainha a outra que seja melhor do que ela. Assim, quando o decreto real for proclamado por todo o
seu imenso domínio, todas as mulheres respeitarão seus maridos, do mais rico ao mais pobre”.
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O rei e seus nobres ficaram satisfeitos com o conselho, de modo que o rei acatou a proposta de Memucã. Assim
enviou cartas a todas as partes do reino, a cada província e a cada povo em sua própria escrita e em sua própria
língua, proclamando que cada homem deveria mandar em sua própria casa.
É óbvio que não existia nenhuma lei específica que versasse sobre o problema de uma rainha recusando-se
a ir numa festa do rei. O problema que Xerxes tinha que lidar é com a desobediência da rainha. Sob efeito
de vinho o rei transforma um problema doméstico em uma crise de estado. A negativa de Vasti
demonstrou a fragilidade do poder real, não obstante toda demonstração de sua grandeza.
PARADIGMA DE UM MUNDO SEM DEUS
No mundo globalizado a alteração de um ponto percentual no PIB da China é capaz de derrubar as bolsas
de valores do mundo inteiro – mesmo de países poderosos; neste mesmo mundo, um homem rico e
poderoso precisa rever seus ideais de perfeição ao ter uma filha portadora de uma rara doença genética;
Um pai de família trabalhador e controlado precisa lidar com o questionamento dos filhos adolescentes;
Um filho honrado, pai de família, decide ignorar seus pais por serem desajustados.

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