Sumário - Primeira Linha

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Sumário - Primeira Linha
Vozeiro de Primeira Linha
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Ano XIII • Nº 48 • Segunda jeira • Abril, Maio e Junho de 2008
Mudemos o rumo das cousas
Editorial
No anterior editorial do Abrente apelávamos a avançar
para conquistar o futuro. As dificuldades no dia a dia da vida
da imensa maioria social, provocadas polo imparável incremento nos preços dos produtos básicos de alimentaçom e dos
combustíves, estám a gerar um estado de opiniom caracterizado pola combinaçom do mal-estar, a preocupaçom e a resignaçom. O incremento anual de mais de 20% no consumo de
ansiolíticos é eloqüente expressom da natural ansiedade de
umha sociedade que tem interiorizado que o presente é melhor que o incerto futuro que nos aguarda, mas que, perante
o descontentamento, procura fórmulas inadequadas para os
problemas que padece.
@s comunistas sabemos que, contrariamente à gravidade da situaçom, de momento nom há possibilidades subjectivas para que adopte a forma de protestos contra os responsáveis directos pola perda de poder aquisitivo e polo aumento
da pobreza e da exclusom social.
As amplas massas do povo trabalhador ainda nom identificam as vinculaçons directas entre inflaçom, congelaçom
salarial, incremento do desemprego, da precariedade laboral,
emigraçom maciça –só em 2007, as estatísticas oficiais reconhecem ser mais de 74.000 o número de galeg@s, metade
jovens, que tivérom que abandonar a Comunidade Autónoma– abusivo incremento do leite, pam, carne, fruta, energia e
combustíveis, com as políticas neoliberais aplicadas de forma
sistemática nos últimos quinquénios polos governos do PSOE
e do PP a escala estatal, mas também polos governos autonómicos de Fraga e Tourinho-Quintana.
Boa parte do que está a acontecer é fruto destas receitas inquestionáveis. No entanto, amparando-se na crise
financeira e económica por que atravessa o capitalismo
internacional, os partidos do sistema tentam justificar e
maquilhar a actual situaçom que já nom podem nem ocultar nem minimizar. Simultaneamente a esta realidade tam
pouco alentadora e enormemente preocupante, geradora
de tragédias quotidianas, as grandes empresas, os bancos
e entidades financeiras, as companhias seguradoras, vem
multiplicar exponencialmente as suas milionárias taxas de
margem de ganho.
Nesta conjuntura tam adversa para a classe trabalhadora,
basicamente para os sectores mais fracos: mulheres, juventude e pensionistas, a grande burguesia está a obter enormes
lucros à custa de intensificar o desenvolvimento de políticas
especulativas e predadoras que só provocarám maiores desigualdades sociais. É a lógica da economia de mercado, do
capitalismo real!
Mas nom podemos cair na resignaçom paralisante, assumir que estamos condenad@s a ter que pagar a crise, nem
confiar em falsas soluçons emanadas das promessas demagógicas de políticos oportunistas. Só a mobilizaçom social
poderá mudar o rumo das cousas, forçar a re-orientaçom da
política socioeconómica do governo espanhol e do governinho
autonómico, obrigá-los a flexibilizar posiçons. Nom podemos
interiorizar que nom há alternativa, que nom existem possibilidades nem margens para reduzir boa parte dos efeitos da
grave crise internacional em que o modo de produçom capitalista está inserido. É evidente que nom tem que ser a classe
operária e o conjunto das camadas populares que tenhamos
de pagar esta situaçom. Nom podemos consenti-lo. Nom devemos permiti-lo.
A esquerda independentista apresentou há cerca de três
anos um integral programa de choque tendente a corrigir e
evitar esta situaçom, com o objectivo de melhorar as condiçons de vida do povo galego com base numha lógica socioeconómica de redistribuiçom da riqueza. As 444 medidas concretas para umha nova política nacional e de esquerda elaboradas por NÓS-UP em Setembro de 2005 nom obtivérom mais
que o silêncio e a desconsideraçom por parte do governinho
do PSOE-BNG. A prepotência e desprezo com que se manifestou esta fraude, pretensamente autodenominada alternativa
progressista, instalada em Sam Caetano prognosticava que
sem lugar a dúvidas ia aplicar semelhantes formas e políticas
das desenvolvidas polos dezasseis anos de fraguismo. Hoje é
umha evidência. Governam igual que os de antes e para os de
sempre, para os ricos a quem servem, e para os ámbitos familiares e sociais das castas políticas corruptas, com o único
objectivo de se enriquecerem o antes possível à custa do povo
trabalhador, empregando os enormes recursos da administraçom e os mecanismos de poder que gerem. Os enormes
défices de controlo democrático permitem burlas permanentes ao senso comum, como os sobre-salários ou o incremento
das suas obscenas remuneraçons económicas pola actividade
parasita que desenvolvem ao serviço dos seus amos, o grande
capital.
Sumário
3 Carvalho Calero no século XX Galego
Maurício Castro
4 Revoluçom sexual e soberania sobre os
nossos corpos
Ângelo Meraio
4-5 Fascistas de passeio polo
mercado de títulos universitários
Iago Barros Minhons
6 Os coentros da rebeldia também som
condimentos imprescindíveis da Revoluçom
Carlos Morais
7 Francisco Martins Rodrigues in memoriam
8 Concluírom XII Jornadas Independentistas Galegas
Reafirmada vigência dos princípios
revolucionários marxistas
2
Nº 48. Abril, Maio e Junho de 2008
Editorial
Nom podemos depositar
esperanças em soluçons por
parte dos responsáveis polo
problema
Contrariamente à ideia generalizada,
temos que recuperar a confiança nas nossas forças, no poder imenso que possui a
classe unida e mobilizada, disposta a nom
continuar a pagar os pratos que partem
outros.
Mas as fracas mobilizaçons do 1º de
Maio constatam as dificuldades de abrirmos um ciclo de luitas, manifestando a actualidade de diversas reflexons que nom
devemos infravalorizar na hora de agir
para mudar a situaçom.
A desmobilizaçom popular provocada
por depositar expectativas no incumprimento das promessas do acordo de governo bipartido, mas também a ausência
de umha estratégia de luita com base num
programa concreto de reivindicaçons tangíveis e assumidas por amplos sectores
proletários e populares, provoca que a
data fique reduzida a umha jornada sem
conteúdo reivindicativo e esvaziada da sua
dimensom de dia de luita e combate.
A CIG é, nos dias de hoje, a única entidade de massas do País com capacidade
real para gerar um clima de mobilizaçom
social tendente a traduzir o mal-estar geral em luita social, para activar esse descontentamento cada vez mais visível em
centros de trabalho e na rua.
Mas, por enquanto, nom existem
possibilidades de que se converta nessa
ferramenta de defesa dos interesses colectivos do povo trabalhador por várias
razons. A dependência político-ideológica
de boa parte da sua direcçom das diversas expressons do regionalismo neoliberal esteriliza a enorme potencialidade da
central, condenando-a a continuar a ser
um gigante com pés de barro, paradoxalmente inofensiva. Boa parte das rigorosas
análises empregadas na hora de avaliar
a situaçom socioeconómica da Galiza, os
retrocessos nas condiçons sociais e laborais, nom passam de simples retórica de
consumo interno, pois nom se plasmam
na prática numha orientaçom sindical que
procure no curto prazo forçar umha nova
Ferrol, 1º de Maio de 2008
política –progressista e de esquerda, baseada na combinaçom dos interesses populares e nacionais– e muito menos umha
mudança de governo.
O primeiro objectivo seria viável se
apostasse numha estratégia de confrontaçom, de movimentaçom social, empresa
por empresa, sector por sector, mas também dirigido a activar e procurar convergências com outros sectores populares
nom enquadrados organicamente no seio
nem na área de influência directa da central, que force a bipartido a aplicar umha
nova política. Embora no esteja garantido
o sucesso, sim dificulta que se consolide a
desmobilizaçom social e a penetraçom da
ideologia reaccionária que a longo prazo
terá efeitos nefastos para a luita de libertaçom nacional e social de género.
Obviamente, o segundo carece de
realismo, pois nom existe ainda umha
alternativa de esquerda soberanista que
contribua para articular esse espaço sociopolítico imprescindível para mudar a
carência de alternativa estratégica nas
batalhas concretas de carácter táctico em
que a central tem atingido certas vitórias.
E aqui obviamente bate com a contradiçom irresolúvel para aqueles sectores
que reclamando-se da esquerda soberanista e anticapitalista continuam na
actualidade integrados no regionalismo
neoliberal que aplica sem complexos nem
escrúpulos a privatizaçom dos serviços
públicos, as reformas laborais, legitima
rescissons de contratos e adopta medidas
fiscais e económicas só favorecedoras dos
interesses dos actuais donos deste País.
A actual direcçom da CIG nom defende os interesses objectivos da classe
trabalhadora, pois carece de autonomia
política do regionalismo, e da valentia
para promover um amplo movimento de
massas que reclame incremento salariais,
políticas intervencionistas nos preços, a
recuperaçom da titularidade pública dos
serviços privatizados, políticas fiscais
para as camadas mais desfavorecidas,
paralisaçom das estratégias predadoras
contra os recursos naturais e ambientais,
a retirada das ajudas públicas ao grande
capital. Sem despreender-se desse lastro,
está condenada a continuar a mostrar os
dentes sem capacidade para morder.
Como se pode entender pois que
responsáveis directos no apoio às políticas que denunciamos assistam com toda
a normalidade e absoluta impunidade às
mobilizaçons do 1º de Maio? Que Quintana, os conselheiros e os vereadores do
BNG participem nesta jornada? Porque a
CIG permite esta burla?
Porque na actualidade continua, com
todas as contradiçons que quigermos
expor, considerando-os parte do mesmo
campo, e nom os vê como aquilo que som:
inimigos declarados da classe operária
galega e do projecto de libertaçom nacional da Galiza.
Para podermos avançar é imprescindível superar esta dependência que tanto
dano provoca na hora de aplicarmos umha
coerente intervençom táctica e estratégica
que contribua para conseguirmos avançar
na nossa emancipaçom de classe e género
e na libertaçom como naçom oprimida.
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Maurício Castro
Nº 48. Abril, Maio e Junho de 2008
ANÁLISE
3
Carvalho Calero no século XX Galego
Nos últimos meses, entidades sociais e figuras muito diversas do nosso país tenhem aderido à
campanha que a Fundaçom Artábria, da comarca de
Trasancos, lançou para reclamar um verdadeiro reconhecimento social e institucional a quem foi um dos
grandes intelectuais galegos do século passado.
É sabido, porque assim foi reconhecido por algum
dos seus integrantes, que a Real Academia Galega,
instituiçom tomada por sectários anti-reintegracionistas incapazes de integrar a pluralidade do País que
aposta em si mesmo, leva dezoito anos, desde o mesmo momento da morte do erudito ferrolano, a tentar
enterrar de vez as suas ideias sobre o que o nosso
idioma deve ser e sobre que política lingüística precisa a Galiza para garantir um futuro digno ao nosso
milenário idioma nacional.
O herético Ricardo Carvalho Calero, cuja vida
atravessou a prática totalidade do século XX galego,
representa nom apenas o mais alto cume da formaçom intelectual em matérias como a investigaçom literária e lingüística, junto à criaçom literária de grande
nível de qualidade em todos os géneros. Representa
também, e sobretodo, o serviço ao Pais como máxima
aspiraçom em tam diversos contextos sociais como
ele viveu: a República, a ditadura franquista e a Restauraçom bourbónica que se estende até hoje.
Mas, se a unanimidade é absoluta na importáncia
dos seus trabalhos de investigaçom e difusom literária, com a monumental História da Literatura Galega
Contemporánea ainda plenamente vigente como referência para qualquer pessoa que quiger aproximar-se
do fenónomeno literário galego nos últimos séculos,
tal unanimidade nom se dá na hora de reconhecer
o seu papel como estudioso da nossa língua, nomeadamente no que di respeito à dimensom social e à
orientaçom que deve ter a construçom de um padrom
moderno.
Aí, a partir do seu claro posicionamento logo em
1975, surgiu a anatemizaçom contra o velho professor, primeiro catedrático de língua e literatura galegas desde 1972, e redactor das normas académicas
de 1970-71. Foi no artigo intitulado “Ortografia galega”, publicado em La Voz de Galicia, que afirmou
que “estamos no momento em que cumpre já umha
revisom da nossa normativa à luz desses factos” (…)
“Inserido o nosso idioma no complexo ibero-románico
ocidental, qualquer grafia que resulte dialectalmente
rechamante produzirá umha impressom de indisciplina cultural, que deve evitar-se se pode sê-lo (…) restabelecendo a continuidade que pode ter sido alterada polo momento dialectal que a língua viveu durante
séculos”.
É importante sublinhar que Carvalho assumiu posiçons reintegracionistas avançadas quando começou
a estudar-se a possibilidade de introduzir o galego
no ensino, pois, como afirmou num artigo de 1985:
“Quando nom existia oficialmente Galiza, quando nom
existia oficialmente o galego, quando nom existia oficialmente o ensino do galego com umha consciência
de substantividade da língua deteriorada por longos
séculos de alienaçom, o uso da escrita castelhana, em
que todos éramos alfabetizados, podia ser único expediente realista para fomentar a escrita do galego.
Onde ensinar outra ortografia? Com que professores
se contava para isso? Aumentar as difiduldades do
uso do galego naquelas circunstáncias tam adversas,
nom seria mi contraproducente? Mas desde que o galego é idioma (co)oficial e há ensino oficial do galego,
imos perpetuar indefinidamente a ruptura com a ortografia histórica que, adaptada às circunstáncias do
presente, se emprega no mundo lingüístico que tem o
galego como torgo?”
Nos anos 70, diante da iminência da morte do ditador e na perspectiva da cooficializaçom do galego,
era o momento de passar das ideias reintegracionistas, que sempre impregnaram o pensamento galeguista e nacionalista galego já desde os ilustrados
do século XVIII, aos factos da orientaçom do novo
padrom, imprescindível para introduzir o galego nas
novas instituiçons autonómicas e no ensino.
Lembremos que o primeiro presidente da Real
Academia Galega, Manuel Murguia, foi um grande entusiasta da unidade lingüística galego-portuguesa, tal
como as principais figuras do nacionalismo dos anos
20 e 30: Joám Vicente Biqueira, Antom Vilar Ponte,
Afonso Daniel Rodrigues Castelao… o próprio Carvalho, que na sua juventude chegou a presidir a agrupaçom ferrolana do Partido Galeguista, bebia já naquela
altura da tradicional orientaçom reintegracionista do
pensamento galego.
Trajectória de compromisso e dignidade
A trajectória de Carvalho Calero ao serviço das
ideias da soberania nacional e da esquerda, junto
ao compromisso com o idioma e a cultura da Galiza, constituem nele um património que mantivo com
dignidade apesar das dificuldades e represálias que
implicárom para quem viveu o exílio interior durante
ele o comprovou na década seguinte, que os entraves
do poder político e o factor ideológico impedírom que
as cousas corressem como poderiam ter corrido.
Normalizaçom, reintegracionismo e
“consquista dos mecanismos de poder”
a longa ditadura fascista e a marginalizaçom imposta
polo estreito autonomismo nascido nos primiros anos
da década de oitenta.
Na juventude, como estudante, participou na fundaçom da organizaçom estudantil republicana FUE,
que protagonizou mobilizaçons contra a ditadura de
Primo de Rivera e mais tarde, como político, assinou
junto a outros conhecidos militantes comunistas e
nacionalistas, em 1931, um abaixo-assinado intitulado “A esquerda galeguista fala ao País”, chamando à
abstençom activa numhas eleiçons em que o nacionalismo galego ainda nom conseguira apresentar umha
alternativa ao espanholismo rampante.
Colaborador do “Centro Obrero de Cultura”
que funcionava em Ferrol naqueles anos, defendeu
a orientaçom progressista e republicana do Partido
Galeguista, do qual fora cofundador em Dezembro
de 1931, junto a Castelao, Outeiro Pedraio e Vicente Risco. Em 1936, publicou um artigo com motivo da
derrota das posiçons da ala direita, celebrando a adesom à Frente Popular em 1936 sob o título “Já somos
esquerda”.
Apesar da sua juventude, foi um dos redactores
do Estatuto de Autonomia para a Galiza, que nom
chegou a entrar em vigor polo levantamento militar
fascista, que o apanha em Madrid. Ali adere imediatamente como voluntário ao exército republicano, num
batalhom de milícias de ensinantes adscrito ao Quinto
Regimento, atingindo o grau de oficial.
Com a vitória fascista, chega a prisom, a perda da
vaga de funcionário público em Ferrol e o ostracismo
dos assinalados pola sua condiçom republicana, galeguista e de esquerda.
Da ditadura à II Restauraçom bourbónica
Protagonizou, portanto, Carvalho Calero um percurso vital dificilmente digerível polos defensores
do statu quo, que nunca conseguírom integrar a sua
natural tendência libertária no selecto clube dos intelectuais orgánicos. Isso, sem dúvida, determinou a
condena à marginalidade que padeceu, apesar de ser
evidente a sua superioridade intelectual em relaçom
aos que, com a chegada do novo regime monárquico
de 78, assumírom o protagonismo das políticas lingüísticas e culturais.
Na década de 70, na iminência da morte de Franco, Carvalho viveu um período de expectaçom polas
possibilidades que se abriam para umha mudança
substancial no estatuto legal e social do galego e, de
umha maneira mais ampla, da identidade nacional galega. Foi aí, como dizíamos, que se manifestou abertamente por um galego reintegrado no seu espaço
próprio, o que o converte num idioma internacional e
intercontinental e nos permite olhar de tu a tu o prepotente poder lingüístico espanhol.
Frente às posiçons dos dialectólogos do Instituto
da Língua Galega, defensores de um modelo de língua
baseado da separaçom do português e na dependência do espanhol, mal maquilhada com apelos à “fala
do povo”, Carvalho Calero defende que, como acontece em todas as línguas estatais, também o galego
deve contar com um padrom baseado na história e
numha forma nom directamente resultante da média
entre as variantes diatópicas.
Umha posiçom inassimilável pola casta política
em formaçom naqueles anos iniciais do novo Estado
das Autonomias, que apoiárom a via isolacionista.
Mas as esperanças de Carvalho nom se situavam
só na dignificaçom do corpus lingüístico galego, aspirando também à recuperaçom social dos usos. Sem
partir de umha concepçom essencialista ou idealista
do papel da língua na identidade galega, defendia que
“qualquer idioma sentido como próprio por umha comunidade, seja qual for a sua extensom e a sua distinçom dentro do mundo em que vive, tem direito à
existência, e ao agarimo do poder político”.
Ao contrário do que sucedia na II República, nos
anos 70 o galego foi assumido como ferramenta política por toda a oposiçom antifranquista, o que convidava Carvalho ao optimismo. Hoje sabemos, e também
Frente às curtas visons do espanholismo e de boa
parte do nacionalismo galego, reivindicou a “fortuna
histórica do galego” face ao euskara e o catalám, em
funçom da projecçom internacional do nosso idioma, e
olha com sá inveja o sucesso da via reintegracionista
e normalizadora na Flandres, no seu célebre artigo “O
voo do flamengo”.
Analisando a história com perspectiva materialista, situou o esmorecimento do nosso idioma no papel
das classes dominantes, as únicas que podiam ter
garantido a viabilidade de umha comunidade lingüística, ao serem referenciais para o conjunto de qualquer formaçom social. Afirmou que “se no tránsito da
Idade Média para a Idade Moderna se castelhanizou
lingüisticamente a nobreza, no tránsito da Idade Moderna para a Contemporánea castelhanizou-se a burguesia”.
Apesar do optimismo aparentemente ingénuo dos
ano 70, Carvalho viu logo para onde se encaminhava
o novo aparelho político-institucional posto em andamento polo regime surgido da Constituiçom de 1978.
Já em 1979, expom claramente que o submetimento
histórico do galego deriva “do monopólio polo castelhano de todos os mecanismos de poder”, e propom
como única alternativa, literalmente “a conquista
desses mecanismos poderia permitir ao galego luitar
pola sua sobrevivência”.
Encontramo-nos diante de umha crítica implícita de qualquer projecto de teor bilingüista, como
o que começava a cozer-se com a iminente estreia
do monárquico Estado das Autonomias. Só o recurso
a “todos os mecanismos de poder” que garantem
o “monopólio” do castelhano podem permitir a sobrevivência do galego. Umha leitura actual e técnica dessa formulaçom é a de que só um modelo de
oficialidade de tipo territorial para o galego pode
garantir-lhe a viabilidade social. Um modelo como o
suíço ou o flamengo, que é reivindicado ainda mais
claramente na década seguinte, em artigos como
“Bilingüismo e bigámia”: umha situaçom de alegado
bilingüismo social desemboca sempre “na monarquia de aquela das duas línguas que possui maior
potência social”.
Podemos afirmar, sem exagero, que Carvalho
Calero foi um verdadeiro visionário, ao avançar com
acerto em que iria dar o caminho encetado nos primeiros 80 pola nova autonomia. Nesses anos, o optimismo anterior converte-se em denúncia da política
lingüística autonómica, do papel empobrecedor que
começava já a jogar a Televisom da Galiza, do burocratismo inoperante que caracterizava esse híbrido
entre centralismo histórico espanhol e autonomismo
limitado que negava qualquer poder de decisom ao
nosso povo.
Carvalho, defensor explícito do direito de autodeterminaçom para a Galiza, morrerá mantendo umha
saudável distáncia dos centros de poder e das novas
elites intelectuais, que o condenárom ao mesmo ostracismo que já padecera nos anos da ditadura. A
soberania nacional, cultural e lingüística nom estava
na ordem de trabalhos dos neo-regionalistas empoleirados à autonomia, como ele os chamava.
Porém, contra o prognóstico oficial realizado no
ano 90 pola cúpula lingüística do oficialismo, as ideias
de Carvalho nom morrêrom com ele. Som férteis, e
continuam a alimentar novas geraçons de galegos e
galegas que nom renunciamos a voltar a fazer do nosso idioma nacional o que sempre foi: o nosso principal
sinal de identidade, que voltará a florescer numha Galiza plenamente emancipada: independente.
Maurício Castro é membro do Comité Central de Primeira
Linha
4
Nº 48. Abril, Maio e Junho de 2008
Ângelo Meraio
Opiniom
Da perversom à transgressom
Revoluçom sexual e soberania
sobre os nossos corpos
Será que nas nossas organizaçons
nom há pessoas trans, lésbicas ou gays?
Ou será que nom estabelecemos mecanismo de visibilidade porque a sexualidade e a
identidade de género ainda nos causam arrepios? De onde esse medo, de onde esse
rejeitamento? Quanto temos ainda de puritanismo e moralidade religiosa? Quanto
temos ainda de homofobia e transfobia?
Falar de sexualidade e afectividade
no ámbito da esquerda revolucionária da
Galiza ou de realidades próximas ao nosso
país, ainda pode ser hoje motivo de desprezo, vergonha, rejeitamento, marginalizaçom, burla.
Os blocos do género estabelecidos
como ferramenta de opressom por este
inumano sistema capitalista, masculinofeminino, homem-mulher, som salpicados
com vermelho e lilás e transferidos à nossa
alternativa. A nossa proposta de reconstruçom do mundo tem umha grave conta
pendente, a reconstruçom profunda de nós
próprias e próprios, dos nossos corpos,
dos nossos afectos, do nosso desejo.
Arrastamos e fixamos activamente
limitaçons que tenhem perpetuado o afastamento das reivindicaçons LGBT-Queer da
base da nossa luita emancipadora.
De que maneira pedimos soberania
para os nossos povos se nem questionamos o poder que temos sobre os nossos
corpos? Como vamos ser pessoas livres se
vivemos o nosso desenvolvimento sexual,
intimamente ligado com o intelectual, de
umha maneira pateticamente limitada e
falseada?
Afinal trata-se de quanto nos sentimos
a salvo dessa falsa consciência sobre nós
próprias/os, sobre em que medida ainda consideramos pervertido/perverso o
transgressor.
Visibilidade e heterossexismo,
umha ideologia opressora
Podemos partir de umha ideia principal, esta é que a sexualidade nom é nunca
umha questom íntima, privada, à margem
do sistema. A sexualidade como o género
som polo contrário elementos decisivos no
nosso desenvolvimento pessoal e na nossa saúde. Condicionante do nosso status
social, da nossa vida laboral, até da nossa
integridade física.
Solteira/o ou casada/o? Tés moça/o?
E como é que nom tés moça/o? Fulano/a
e acompanhante... Falamos continuamente
da nossa sexualidade, de umha maneira cinicamente mascarada mas contodo sempre
presente e sempre heterossexual. Porque
a heterossexualidade nom é umha orientaçom afectivo-sexual, é umha ideologia
opressora.
Quando falamos em visibilidade, em
“sair do armário”, ainda no ámbito da esquerda é geral cair no craso erro de que é
umha questom de escolha pessoal, chegase a falar em liberdade para decidir. A pergunta é: Quando decidiste viver como heterossexual? Quando tiveste essa liberdade?
A visibilidade nom é umha opçom, é umha
necessidade, visibilidade é igual a normalidade. Quem achar que nom é assim pouco
sabe do que é ter de ocultar publicamente
o modo em que sentes, a afectividade, os
sentimentos.
Afinal, é assim tam íntima a esfera
afectivo-sexual ou polo contrário vive atrapada numha armadilha de limitaçons, falsidades e perversas duplas morais?
Preconceitos e lobby gay
O tema da visibilidade liga com a integraçom real da libertaçom afectivo-sexual
na nossa luita global. O lobby gay há uns
tempos que é faca de dous gumes para as
nossas luitas, em primeiro lugar provoca
desconfiança preconceituosa da esquerda
revolucionária, contodo heterossexista, que
identifica os padrons do lobby gay, criados
polo próprio mercado, com o conjunto da
populaçom LGBT. Por outro lado é para o
movimento de libertaçom sexual e de género umha pesada lousa que cai principalmente sobre o povo trabalhador LGBT.
Depois de décadas de luita e logros,
a obscenidade capitalista criou o seu modelo do perfeito gay. Os maricons de antes
agora passam a ser gays de gostos requintados, corpo perfeito e Visa Ouro. Que
tanto operam o nariz como se casam como
as pessoas “normais”. É claro que esta
é umha realidade fictícia para a imensa
maioria dos homens gays, para quem em
lugar dessa “maravihosa” vida sofrem, em
muitos casos desde crianças, a mais crua
marginalizaçom social traduzida por exemplo numha taxa de tentativas de suicídio
juvenil 5 vezes maior à dos jovens hetero.
As mulheres entretanto, continuam a ver
negada a sua existência como lésbicas,
agredidas por machos de “pénis mágicos”
que se acham com a capacidade de “curar”
a maneira de sentir e desejar das nossas
companheiras.
Despatologizaçom e soberania
sobre o corpo
O género converte-se nom numha simples questom de identidade mas de soberania sobre o nosso próprio corpo.
As pessoas trans, pessoas que nom se
identificam com o género que lhes é atribuído polo seu sexo biológico, transgridem
de umha maneira radical a imposiçom do
género. Por causa disto vivem numha situaçom de extrema intoleráncia e marginalizaçom social. Isto deve levar-nos ao ponto de
questionar qual é o poder real que temos
sobre o nosso corpo, onde se encontram os
limites, já nom só os sociais e culturais mas
os institucionalizados.
No dia 17 de Maio de 1990 a Organizaçom Mundial da Saúde retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais.
O fim a mais de um século de homofobia
médica, muito longe ainda do fim da homofobia social. No entanto, hoje no ano 2008
a transexualidade ainda é considerada um
trastorno pola OMS. O termo “transtorno
de identidade de género” tem sido usado para descrever a chamada disforia de
género desde 1980, com a publicaçom do
DSM (Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders). O uso do termo transexualismo e transtorno de identidade de
género, legitimou um lugar para esses
”transtornos” no universo psiquiátrico e
médico.
No Estado Espanhol, onde existe umha
das legislaçons mais avançadas, as pessoas trans som submetidas a sofrer um processo psiquiátrico obrigatório.
Nega-se a soberania sobre o próprio
corpo, o Estado deixa em maos da psiquiatria determinar se umha pessoa é homem
ou mulher. Apropriam-se da competência
de decidir sobre a própria identidade, sobre o próprio corpo. Isto é, umha negaçom
do direito ao desenvolvimento da própria
personalidade.
As pessoas trans e especialmente as
mulheres vivem um estado de excepçom
sobre os seus seres, estado que as degrada extremamente na sociedade e que as
patologiza legalmente.
A esquerda revolucionária nom pode
ficar alheia a esta luita pola soberania do
próprio corpo, da própria vida, da nossa
própria autodeterminaçom.
Como combatemos o patriarcado?
(Se é que o combatemos)
Nas últimas décadas temos experimentado umha incorporaçom (a diferentes
ritmos locais) do feminismo como parte integrante da nossa bagagem transformadora,
parte integrante e por justiça um dos alicerces da mudança. Contodo, esta imprescindível incorporaçom, tem sido equiparada
erradamente com a luita global de combate
ao patriarcado. Luita que todas e também
todos, temos de assumir e interiorizar. No
entanto, tenhem sido deixadas ficar no caminho duas reflexons fundamentais:
Em primeiro lugar o questionamento do
próprio género, adaptámos os blocos rígidos
homem-mulher às nossas “necessidades revolucionárias”. A falta de reflexom sobre o
que é um homem e o que é umha mulher e
a falta de assunçom deste binarismo como
enteléquia política, instrumento básico de
manutençom de toda a opressom. Neste
sentido, da criaçom de necessários espaços de organizaçom e discussom integrados
exclusivamente por mulheres passámos ao
total desinteresse e falta de implicaçom dos
homens e um modo de encaixotamento estanco de mulher e homem, sem nos despojarmos de tantos lastres caducos e preconceitos sobre o nosso corpo.
Em segundo lugar a crítica radical à
vivência da nossa(s) sexualidade(s), depois
de umha assunçom razoável da separaçom
sexo/funçons reprodutivas, a sexualidade
continua a ser considerada alheia à política
e ao sistema económico.
Falsa consciência e reducionismo ao
feminismo como único motor da luita antipatriarcal. Tem permitido deixar tranqüila
a consciência do “macho revolucionário” e
provocar o sofrimento da incompreensom
e ocultaçom de quem neste contexto tem
transgredido esses limites. Barreiras que
nom conseguimos superar e as quais em
muitos dos casos nem sequer questionamos formalmente.
Heterossexismo e binarismo de género
como pesadas cargas para a nossa emancipaçom como humanas e humanos, como
revolucionárias e revolucionários.
Ângelo Meraio é activista gay e militante de
Primeira Linha
Mais de três meses transcorrêrom já
desde que AGIR foi exposta na cena mediática
como mais umha inimiga do Estado espanhol:
Já se sabe, inimiga da democracia, da liberdade de expressom, dos direitos das pessoas físicas e jurídicas, da integridade física e moral
dos súbditos do Estado, etcétera. Mais umha
organizaçom desse enigmático círculo crescente, e potencialmente totalizador, integrado
por “quem fomenta(mos) o terrorismo”, e cujo
traço podemos visibilizar graças ao ingente
trabalho da judicatura e da imprensa espanholas, que se encarregam com profissional
veemência de riscar com nomes e apelidos
aqueles colectivos e pessoas que o vam(os)
alargando, e alargando, e alargando...
Nom somos @s primeir@s a passar polo
espectáculo criminalizador. Tampouco @s
primeir@s na Galiza. O preço da portagem
por este passeio pode alcançar valores que
nom conhecemos nem tenhamos experimentado por enquanto, mas sobre cujo eventual
tratamento haveremos de encarregar-nos no
seu momento, com a esperançosa sensaçom
de agilidade organizativa que o estudantado
independentista soubo mostrar desta volta.
A criminalizaçom arredor do “assunto San
Gil” foi suficientemente grotesca para a concebermos como a fazer parte do sensacionalista
linchamento político do nacionalismo espanhol,
que nom distingue entre os conteúdos de um
programa “rosa” e os conteúdos do parte de
notícias do governo de serviço no telejornal
oficial e “sério”. Esta é umha peculiar fórmula empregue polo poder desta sociedade da
comunicaçom de massas para atentar expansivamente contra a identidade das pessoas e
colectivos que agimos no páramo de liberdades
que é o Estado em que vivemos.
Porém, quanto a eventuais e maiores
represálias, também é de considerar a possibilidade de isto ficar na cena pré-eleitoral
do aparelho mediático espanhol. Apesar da
persistência de umha decana cavernícola e
dos interesses fascistas do sistema, (fins aos
quais coadjuva a desmobilizaçom estudantil
generalizada) talvez nom lhes preste queimar
mais pólvora nesta ocasiom.
Os media apontam, o Estado
dispara
Quiçá AGIR fosse durante uns dias a organizaçom estudantil mais popular em todo o
Estado espanhol. Tal é a debilidade do movimento estudantil nos dias de hoje, numha conjuntura de tímida recuperaçom, nomeadamente à volta da crítica ao Processo de Bolonha,
que dificilmente se poda pensar o contrário
em nengum canto deste mercado, onde até
a educaçom se vende em pacotes de graus e
post-graus, chamado Espanha.
Esta afirmaçom, um pouco a frivolizar, é
umha boa síntese do que aconteceu após o
boicote na Faculdade de Económicas e Empresariais da USC à fascista e cúmplice da repressom María San Gil, presidenta do Partido
Popular no País Basco. É este o território de
umha naçom amiga, repartido administrativamente entre os Estados espanhol e francês,
onde a resistência ao capitalismo e à espanholizaçom se paga com torturas, mortes, ou
a prisom. Disto sabem muito os nossos e as
nossas contemporáne@s; jovens, estudantes
e/ou trabalhadores/as que, fazendo parte de
organizaçons como a nossa, sofrem por terem
nascido bascos e bascas e se reconhecerem
como tais. Eis umha das fulcrais identificaçons
que como internacionalistas fazemos entre
nós, e as vítimas do capitalismo espanhol torturador e assassino.
O que aconteceu no próprio boicote
(gravaçons diversas mediante) por tod@s é
sabido.
Porque repararmos entom na popularidade; no fenómeno mediático? Porque, evitando
seguir em paralelo o discurso exaltado e inquisidor sobre umha pretensa violência in crescendo entre um alunado carente de disciplina,
falto de respeito aos maiores e consideraçom
Iago Barros Minhons
Nº 48. Abril, Maio e Junho de 2008
opiniom
5
Fascistas de passeio polo
mercado de títulos universitários
polos valores tradicionais, (discurso dos Cáncio, Cancelo, Barro, Barreiro, Blanco-Valdés,
Lagares e demais chusma) devemos iludir a
armadilha de cair num discurso que sobrevalorize a nossa acçom, os nossos métodos de
luita, o grau de confronto com as autoridades
universitárias, et cetera... Fazer o contrário
impediria umha focagem realista dos factos,
e favoreceria de resto entrarmos numha dinámica enganada e autocomplacente que
também prejudicaria a correcta percepçom
sobre aquilo que somos (AGIR, o estudantado independentista, o estudantado rebelde ou
qualquer actor na universidade galega) e qual
o papel que podemos jogar na actualidade nas
universidades espanholas da Galiza.
Enfim, todas e todos concordaremos que
nom tivo grande mérito a praxe, digamo-lo
assim, executada umha manhá de Fevereiro,
em plena época de exames. Cousa diferente
é parabenizar-se pola capacidade inesperada
de mobilizaçom num dia complicado por diversos factores, contra a invasom da USC por
parasitas fascistas, e a utilizaçom da mesma
como palestra propagandística nas eleiçons
espanholas de Março de 2008.
Mas, daí a concluirmos que o Inverno
“mais denso” da nossa história organizativa,
após os anos da luita contra a LOU, veu dado
polo grau de combatividade destes meses
passados nas aulas, seria mentir largamente.
Nada mais longe da realidade. A combatividade nas salas de aulas do País é, de facto, nula.
O ambiente que se vive dentro das Faculdades é próprio de um conformismo burguês
com centelhas de compromisso militante mui
isoladas, concretas, e sempre marcadas polos
ritmos que o ambiente abafante nos impom.
Foi um fenómeno mediático desproporcionado, é certo. A história de umha Universidade como a compostelana permite-nos tirar
de hemeroteca exemplos similares a esgalha,
e compreender portanto a surpresa com que
recebemos a excitadíssima reacçom que se
sucedeu. Umha surpresa mitigada polo dever imediatamente assumido de aproveitar o
efeito, pôr maos à obra, e lançar umha mensagem combativa de resposta e um exemplo
militante no qual nos formamos ano após ano.
Todo para semear o terreno. Já veremos se
recolhemos boa colheita com o exercício que,
mais bem do que mal, figemos.
A Universidade de mercado, umha
feira capitalista
Meses após o “assunto San Gil”, basta
lermos os jornais com ediçons locais para vermos novas breves e “cartas ao director” que
tencionam manter viva a lembrança da “paixom” de San Gil na USC, mormente escritos
com o propósito confesso e convicto de que
se corte algumha cabeça entre o estudantado.
Embora os ritmos da repressom espanhola
podam tornar inoportunas quaisquer medidas
drásticas a nível académico, nestas últimas
semanas pudemos observar dous fenómenos
que, um por acçom e um outro por omissom,
demonstram o progressivo amoldamento da
Universidade aos novos tempos. A Universidade do século XXI... é mais um conto. E sobre
isto devemos reflectir.
O primeiro exemplo é o do Reitor Senén
Barro, “pai de família” da comunidade universitária da USC, físico de estudos e tecnocrata
prototípico em exercício. Se analisarmos com
algum rigor a sua conduta ao longo deste pe-
ríodo, nom custará concluir que: 1º) se moveu
permanentemente ao compasso da decana e
membro da extrema-direita espanhola Maite
Cancelo, tornando um monicreque dos grupos
de poder que o mantenhem em activo. O discurso de “condena que algo fica” de PP-PSOEBNG, os seus principais patrocinadores, foi
assumido sem matizes. Apenas, e talvez por
fortunas do destino, nom tenha respondido
positivamente ao requerimento da decana de
permitir que os antidistúrbios entrassem na
Faculdade e, em conseqüência, arrasassem
com todo. O qual sim teria sido um espectáculo doutra magnitude –provavelmente o que
perseguia a decana; 2º) O mesmo dia dos factos, apenas transcorridas umhas horas desde
que o cortejo de estudantes concentrad@s
abandonássemos espancad@s a Faculdade
de Económicas e Empresariais, demonstrou
umha habilidade própria da sua posiçom, ao
emitir as oportunas condenas, mostras de
solidariedade, compaixom polas vítimas, e demais parafernália de “pompa y olé” sem nem
saber de que é que se falava.
Ele próprio reconheceu estar a par do
acontecido... através das chamadas telefónicas insistentes da decana; 3º) Em nengum
momento deu qualquer valor à versom dos e
das estudantes; muito menos nos pediu ou
deu a palavra; e nem por acaso mostrou qualquer indício de solidariedade com aqueles e
aquelas que pagamos a matrícula no seu negócio e império particular todos os anos lectivos em troca de detençons e duras campanhas de assédio e criminalizaçom. Tampouco
se interessou polos detidos, nem polo facto de
estarem encausadas duas pessoas que nom
participárom nos factos (duas pessoas estudantes da sua universidade (!!) e “inocentes”
de todo “delito”), e tampouco reagiu perante
a denúncia assinada por dous militantes de
AGIR contra a acçom armada da polícia dentro dumha Faculdade. Lembremos ainda o uso
de armas nom regulamentares, a introduçom
das mesmas no interior da Faculdade, o recurso a polícias nom fardados para instaurar
a “segurança” a ferro e fogo contra o estudantado concentrado, et cétera... 4º) Para que
ninguém duvide da sua integridade de burocrata que acredita no que fai e fai o que acha
que deve fazer, indivíduo de boa linhagem,
atiça o lume a cada vez que consultado pola
imprensa, e ainda um mês após os incidentes
sentenciava com mao de ferro que “entre as
medidas a adoptar após o processo judicial,
evidentemente está a expulsom” (sic). Todo
um crack, macho de altos voos, nom se apouca... Quem fala de expulsar na USC... como
quem fala de corrigir um exame.
Um segundo exemplo do acomodamento
de todos os sectores ao novo regime de universidade de empresa, empresa universitária
ou títulos por dinheiro (como se quiger denominar), é o demolidor silêncio dos, noutra altura, representantes do sindicalismo estudantil
nacional e de esquerda. A organizaçom maioritária a nível eleitoral, mediático e simbólico
na USC (cousas da inércia), os CAF, filh@s dos
mesmos nacionalistas que estreitavam a mao
dos “batasunos” em tempos idos, nom tenhem aberto a boca em todo este tempo. Isto,
apesar de terem participado no acto jovens
pertencentes ao regionalismo galego adscrito
à UPG-BNG. Nom é só covardia e conveniência eleitoralista –que também: sabe-se lá o
dinheiro que pujo sobre a mesa a UPG para
que os meios nom dessem saída a umha notícia que procuravam denodadamente, esta é,
a implicaçom no boicote de membros filiad@s
ao BNG. Cousas dos “novos tempos”.
A tal ponto é correcta a crítica das esquerdas patriotas basca, galega e catalá,
sobre o totalitarismo político e social no
Estado, que os mesmos fenómenos de autoencerramento e bloqueio que se sucedem em
estádios institucionais elevados dos poderes
públicos –fenómenos como o bipartidarismo,
a clausura de meios de informaçom alternativos, o esfarelamento das frentes de emancipaçom nacionais na estrutura do sistema, a
ilegalizaçom de partidos políticos, tenhem um
correlato noutras esferas, mesmo na própria
esfera universitária ou, por extensom, estudantil. Aqui também, a dissidência nom se
tolera, e os cachorros da pseudo-esquerda
nacional fam parte do coro de cúmplices com
a criminalizaçom.
A saudade de aquelas e aqueles que nos
achamos sós na luita tem que servir para a
propagar, tomar referência entre os e as estudantes, e aprender da queda sistemática da
esquerda ao foxo da comodidade e a crítica
entre sofás de veludo.
Ora, do mesmo jeito que certas dinámicas decadentes envolvem estádios etários, de
origem de classe, de sexo, et cétera, diversos,
cumpre tomarmos consciência de que a viragem desta situaçom no ámbito estudantil é
inviável sem coesionarmos ao máximo movimentos políticos sólidos, em que a mútua con-
vivência e envolvimento das luitas sectoriais
representa a interdependência sob a égide de
um Povo Trabalhador Galego autoorganizado,
conhecedor do seu papel histórico na luita
pola emancipaçom de classe, nacional e de
género, único caminho para que a educaçom
no nosso país deixe de ser um instrumento de
opressom contra a juventude, nomeadamente
contra as mulheres, em contra do enriquecimento da nossa identidade individual; deixe de
ser um instrumento de aniquilaçom de identidades colectivas e culturas; deixe de ser um
instrumento de perpetuaçom do sistema de
produçom capitalista que implique a assimilaçom do sistema educacional como correia de
transmissom das relaçons sociais que inseminam a ignoráncia nas massas e fomentam as
sub e contraculturas, nomeadamente entre a
mocidade, meras ficçons de um conflito que
encobrem e ajudam a ocultar.
Entretanto, a Universidade progressa sobmetida à ditadura burguesa que a controla,
numha deriva em que autonomia é sinónimo
de corrupçom, futuro equivale a precariedade
laboral e concorrência desumana, e ofertas
de estudo significa hipóteca para umha vida.
Liçons da prática que fortalecem o
futuro organizativo. A camaradagem
revolucionária
Duas entradas acima, referia-me à nula
contribuiçom nos métodos que AGIR fijo com
o “assunto San Gil”, polo menos se nos referirmos aos métodos de luita. Mas, com independência da natureza mediática na origem
desta situaçom, foi todo um mero espectáculo
televisado? Ou será que devemos extrair também liçons da nossa própria prática? Acabase a militáncia nos 5 minutos de gravaçom da
entrada e saída de umha fascista na nossa
Universidade?
É inegável a importáncia da camaradagem e da unidade organizativa em percursos áridos como este. A unidade interna,
a coesom e a solidariedade activa d@s
companheir@s, todo aquilo que sugere a palavra “camaradagem”, nom surgem da nada
nem significa exactamente o que a ideologia
dominante transmite: Nom som rostos sorridentes e reconhecimentos histéricos do que
precisa umha organizaçom revolucionária e a
sua militáncia represaliada em momentos críticos como o que vimos de percorrer. A camaradagem revolucionária é muito mais do que
isso, e joga um papel basilar na identidade
do colectivo. Camaradagem é o que há antes
de que se produza umha detençom, antes de
que nos linchem em cada página de qualquer
diário e/ou em cada segundo de umha tertúlia
radiofónica.
A experiência partilhada na luita e a formaçom no compromisso militante som dous
traços materiais que vam determinar a nossa espontaneidade reactiva –rosto visível da
camaradagem, quando o inimigo ataca. Estes
traços som trabalhados com ímpeto no seio
do MLNG, conscientes do valor que tenhem
na coesom organizativa. Os laços intersubjectivos, o carinho dentro de umha organizaçom
como a nossa, como AGIR, apenas (o qual nom
é pouco) realçam a título pessoal e simbólico
aquilo que só a seriedade e a determinaçom
no combate ao capitalismo e a Espanha, só
a experiência activista gerida assemblearmente, podem construir. Essa é a autêntica
camaradagem. Umha conquista histórica da
verdadeira esquerda revolucionária.
Nom há camaradagem em qualquer colectivo. O seu aparecimento em forma espontánea ocorre como manifestaçom, exclusivamente ocasional, de um conflito entre acçom
revolucionária e reacçom repressora do Estado que se gesta na quotidianeidade.
No nosso caso, é um sintoma do madurecimento e vigor da mocidade galega militante
da esquerda independentista, além de um evidente orgulho como membros de colectivos
que respondem assim. Nengum experimento
passional ou construçom verborreica de modelos organizativos mais acaídos ao presente,
dos que tanto escuitamos falar no “ambiente
universitário”, se encontra por trás de umha
formaçom sólida na Escola Galega como é
AGIR: única organizaçom de espírito revolucionário que intervém no ámbito estudantil
galego.
Um inimigo da burguesia espanhola, quer
nas ruas, quer nas aulas, um autêntico inimigo, nom se destrói de um dia para outro com
umha campanha agressiva a partir dos meios.
E tampouco se constrói com desconhecidos
contributos para a actividade militante de três
fascinantes opinadores para consumo juvenil
num século que o único de novo que tem é o
número, e talvez a máscara. O verdadeiro inimigo só o construímos com o exemplo militante que, na Galiza, a esquerda independentista
galega está a dar dia a dia.
Cumpre analisarmos quais som, na prática, as derivas organizativas que se manifestam como efeito imediato detrás de pontos de
inflexom na história de um colectivo. Pontos
de inflexom como o vivido recentemente por
AGIR.
Sem esquecer a particular natureza de
umha organizaçom estudantil, em permanente renovaçom subjectiva, e em constante flutuaçom por períodos históricos, há algo que
manter para nom morrer: deve prevalecer a
essência revolucionária que tanto trabalho
custa adquirir, na formaçom teórica e prática,
de umha mocidade estudantil comprometida com a emancipaçom nacional e social de
género. Teoria e prática que vimos herdando
de quem nos precedeu e que agora devemos
legar a quem continuar na frente estudantil.
Se nom for assim, e assumindo todos os erros que fam parte da nossa história, nunca
teríamos chegado aqui, e nunca chegaremos
a mais.
Só fruto da camaradagem revolucionária
é que podem abrolhar no futuro luitas mais
intensas e reais do que este balom de ár, e
prever sem a estúpida credibilidade e confiança de um beato que havemos de estar
preparad@s para atacar, para digerir os erros, e para nos defendermos quando vinher
outra maré como esta. É o que figemos nesta
ocasiom. E nom muito mais aprendemos dela.
Provavelmente nom seja pouco: acho que, definitivamente, ganhamos esta batalha.
Iago Barros Minhons estuda Direito na USC e é
membro do Conselho Nacional de AGIR
6
Nº 48. Abril, Maio e Junho de 2008
Carlos Morais
Internacional
Os coentros da rebeldia também som
condimentos imprescindíveis da Revoluçom
Sem perder a calma, com essa serenidade, discreçom, ternura e precisom que o
caracterizavam, transmitiu há dous meses a camaradas e amizades a gravidade do seu
estado de saúde. Nesses fulgurantes instantes de ansiedade e profunda tristeza, sem
tempo a superarmos a natural comoçom que provoca umha notícia assim, constatamos
novamente o que de forma permanente tinha demonstrado ao longo da sua dilatada
vida. Francisco Martins Rodrigues era um ser excepcional, umha dessas pessoas que
nom é habitual encontrarmos nos caminhos da vida, das que deixam umha pegada
indelével. Sem desfalecer, com serenidade, discreçom, ternura e precisom, qualidades
difíceis de achar neste mundo devorado polo stress, a aparência, a desconsideraçom
e o barulho, embora consciente de nom poder mudar o curso dos acontecimentos, até
o último fôlego combateu pola vida, seguindo com atençom as notícias, a nova PO, os
debates. Assim foi, com dignidade e coragem, o Chico enfrentou a última viagem.
Ao dia seguinte do seu falecimento em Lisboa, na madrugada do 22 de Abril,
os meios de comunicaçom da burguesia –alguns deles dirigidos por medíocres
canalhas carentes de pudor que se consideram “antigos camaradas”– vírom-se
obrigados a noticiar que já nom estava connosco, mas obviamente figérom-no com
ferocidade, sem respeitar a sua memória e integridade. O Chico já nom podia
responder. Era necessário acertar contas contra a rebeldia que os desconcertava
e irritava. Sabíamos que a imprensa burguesa, simples empresas de alienaçom
de massas, carece de moral e de valores, que o seu único código de conduta é
contribuir para deformar a realidade, para gerar mundos virtuais e multiplicar a
acumulaçom de ganho dos seus donos.
Embora nom fosse aconselhável ocultar a sua morte, como até o momento
fijo a direcçom do PCP, devorada polo ressentimento, a infámia do negócio do
espectáculo da desinformaçom optou por verter injuriantes falsidades e mentiras
sobre umha das biografias mais limpas, genuínas e coerentes do melhor Portugal
revolucionário do século XX.
Sem pretendermos polemizar com renegados complexados, unicamente queremos manifestar o grave erro de apreciaçom e análise que cometem os Fernandes e Cia. O Chico Martins, contrariamente à definiçom que inundou jornais
e outros meios, nom era um velho comunista. Que enganados estám! Francisco
Martins Rodrigues combateu sem trégua o capitalismo desde que praticamente
tivo possibilidades de o fazer. Assim foi durante longas e adversas décadas, sempre sem desfalecer, com tenacidade e inteligência. Fijo-o basicamente na segunda
metade do século XX, mas os ideais que o movêrom a passar meia vida na clandestinidade a combater o fascismo, a resistir as torturas da PIDE, a nom perder
o rumo nem o entusiasmo durante cinco detençons que somam doze longos anos
nas masmorras da ditadura salazarista, fam parte do século que iniciamos.
A constância a indicar-nos o caminho para atingir o mundo novo que contribuiu para desenhar, permitiu que nunca deixasse de ser um eterno jovem, carregado de futuro, um de esses horizontes aos quais recorrermos em momentos de
dúvida e confusom. Os contributos teórico-práticos do Camarada Campos –nome
de guerra empregado na clandestinidade– convertêrom-no na indispensável argila
que se deve empregar para a emancipaçom das geraçons futuras de trabalhadoras e trabalhadores do Portugal do século XXI.
Francisco Martins Rodrigues nom é um anacronismo do Portugal de Abril: é
umha figura essencial nessa alvorada que dará passagem à cada vez mais necessária Revoluçom Socialista.
Um legado teórico-prático que devemos valorizar
Para avaliarmos com rigor e profundidade o legado teórico do Francisco Martins Rodrigues, é necessário recorrer à sua admirável biografia de combatente
revolucionário comunista. Fijo parte dessa geraçom de homens e mulheres que já
desde a década de quarenta investiu o melhor da sua juventude na luita contra o
fascismo, umha das mais brutais formas de dominaçom que adopta o capitalismo.
Obviamente, iniciou-se militando no PCP, a única força antifascista organizada que
na altura combatia o Estado Novo com eficácia, entrega e capacidade. Foi no seu
seio que aprendeu a pensar por ele próprio, onde descobriu a teoria marxista, o
seu insuperável método dialéctico de análise, a integridade da sua escala de valores, a superioridade moral que move um/ha revolucionári@. Aqui foi onde onde se
converteu no indomável rebelde que sempre foi, só vencido pola morte.
Mas, contrariamente ao acrítico seguidismo aos ditados de Moscovo que
promovia a direcçom cunhalista, e movido sempre polo abc do comunismo, por
essa “arma secreta de ódio e desprezo polos poderosos, pola necessidade de os
combater sempre”, que lhe transmitiu o Chico Miguel –tal como magistralmente
desvendou na sua última intervençom pública na festa do vigésimo segundo aniversário da revista Política Operária a 19 de Janeiro– tivo a coragem suficiente
para questionar a estratégia política do levantamento nacional, da “unidade dos
portugueses honrados”, essa mimética adaptaçom à realidade lusitana da doutrina soviética da coexistência pacífica convertida em dogma após o XX Congresso
do PCUS de 1956.
A madurez militante e intelectual permitia começar a dar as primeiras batalhas contra a capitulaçom revisionista que tinha penetrado até o cerne do partido,
apoderando-se da sua natureza de organizaçom revolucionária. O Chico iniciava
o desafio ao oportunismo reformista que Álvaro Cunhal tam bem disfarçava de
marxismo original e criativo, sentando as bases para a recuperaçom do projecto
revolucionário sem as deturpaçons impostas pola ortodoxia.
Ainda assim, após ter participado na mítica fuga de Peniche a 3 de Janeiro
de 1960, junto a outros dez destacados dirigentes do PCP, de manter heroicamente a estrutura clandestina comunista na margem sul do Tejo, passa a integrar a
Comissom Executiva, máximo organismo de direcçom no interior do país, conformada por só três pessoas. O Chico assume mais responsabilidades, riscos e compromissos pola sua íntegra consciência comunista, mas contrariamente à lógica
interna de um partido dogmático como o PCP nom renuncia a analisar a realidade
sem depender das orientaçons emanadas de Moscovo. Seguindo as ensinanças
leninistas, considera erróneo abandonar a insurreiçom popular armada, converter
o proletáriado em simples massa de manobra da pequena burguesia republicana
aplicando a linha centrista emanada da doutrina dimitroviana, manter umha posiçom ambígua a respeito da guerra colonial.
Embora nom tenham eco as suas posiçons, nem tenha possibilidades de as
transmitir ao conjunto de camaradas, o Chico nom desiste, nom se rende. Insiste
em abrir debates, questionar umha linha geral que considera errónea. Mas o modelo e a concepçom organizativa do PCP –amparando-se nas difíceis condiçons de
repressom– nom permitia exercitar a democracia socialista no seu seio.
E tal como fijo ao longo da sua coerente trajectória militante, nom cede às
pressons, tampouco às sedutoras ofertas, nem se deixa deslumbrar pola estadia
de vários meses na URSS, que realiza em 1963. Cunhal nom admite os questionamentos e o Francisco Martins Rodrigues sabe que já nom é possível continuar no
PCP mantendo umha coerente linha marxista revolucionária. Nom vacila!
Com a coragem e a audácia que aprendeu de Marx e Lenine, opta por abandonar, promovendo a primeira organizaçom marxista que rompe com o reformismo
do PCP. Assim nasce a FAP e o CMLP. Era necessário começar de novo. Aplicar às
específicas condiçons de Portugal umha coerente estratégia revolucionária.
Após visitar Pequim e Tirana para conhecer directamente as posiçons contrárias a Kruchev, podendo ter ficado comodamente em Moscovo ou Paris como fun-
cionário, o Chico opta polo mais difícil mas também polo mais honesto e coerente:
enfrentar a repressom salazarista, entrar de novo em Portugal para reconstruir o
comunismo revolucionário. Após uns meses na clandestinidade, em 1965 é capturado, torturado e condenado com já 38 anos a 19 anos de prisom. Transgessor dos
dogmas, das verdades inquestionáveis, indomável e incorruptível é, perante as
resistências de Spínola a assinar a amnistia, o último preso político a abandonar
Peniche 27 de Abril de 1974.
Já em liberdade, foi determinante na convergênca dos grupos maoistas que
dérom lugar à criaçom da UDP em Dezembro de 1974, e à constituiçom do PCR
aos poucos meses do contragolpe revolucionário do 25 de Novembro de 1975, que
enterrou o PREC inaugurado no 25 de Abril.
Mas o Chico, com essa sólida formaçom marxista, com um profundo conhecimento teórico, com umha dilatada experiência militante fraguada em adversas
condiçons, voltou a demonstrar a sua enorme capacidade analítica. Consciente
das limitaçons do maoismo, da degeneraçom do modelo chinês, da reproduçom no
seio da UDP-PCR das piores deturpaçons do modelo de partido estalinista provocado polo contaminado ADN importado do autodenominado “movimento marxistaleninista”, da linha oportunista que se tinha imposto no seu seio polas parciais
readaptaçons –mais retóricas que reais– das bases fundacionais bolcheviques,
nega-se a renunciar aos objectivos estratégicos e aos princípios fundamentais do
marxismo revolucionário. Novamente, opta por questionar de maneira implacável
o presente, sem concessons nem falsas saídas que impossibilitassem compreender e solucionar as causas do estagnamento e do retrocesso.
É necessário continuar na procura do antídoto. A magnífica experiência da
derrotada Revoluçom de Abril em que tivo o privilégio de viver e intervir contribuiu para avançar e acelerar na segunda grande ruptura política com o marxismo
estalinista, agora na versom da matriz sino-albanesa. Consciente das invisíveis
limitaçons políticas geradas pola inexperiência, das dificiências teóricas, da superficial ruptura com o marxismo soviético virtualmente realizada pola entusiasta
geraçom militante fascinada polo radicalismo que Mao exercia na juventude durante o confronto ideológico sino-soviético, questiona elementos fulcrais da linha
política da UDP e do adulterado modelo albanês. Consciente que o proletariado
é quem se tem que emancipar com as suas próprias forças, fugindo de qualquer
forma de colaboraçom de classes, da necessidade de construir umha corrente
comunista caracterizada por umha clara demarcaçom entre a linha operária e a
pequeno-burguesa, da necessidade de empregar todas as formas de luita para tomar o poder, sem ceder ao “respeito supersticioso polo parlamento e pola ordem
burguesa”, o Chico estuda em profundidade as teses do VII Congresso da Internacional Comunista que lhe tinham solicitado da direcçom. E as conclusons a que
chega som contrárias às que pretendia o Diógenes Arruda para justificar a linha
de moderaçom e aplicaçom do modelo frentepopulista. O Chico novamente nom
comunga com rodas de moinho. Agora já nom é com as directrices de Moscovo,
sim com as de Tirana via PCB.
Como nom podia ser de outro jeito pola sua lucidez, profundo conhecimento
das ferramentas proporcionadas polas leis da dialéctica materialista, pola capacidade analítica e capacidade crítica e autocrítica, nom só nom secunda as teses
dimitrovianas, impulsiona um revulsivo que culmina no “Anti Dimitrov. 1935-1985
meio século de derrotas da Revolução”, com o posterior abandono da UDP em
1983. Mas, como bom marxista militante, como magnífico polemista armado desse
sentido autocrítico da procura permanente do rigor analítico para a sua aplicaçom
na intervençom política, era consciente das sombras que possuía esta reflexom
sobre as origens da penetraçom do reformismo no movimento comunista internacional. Por este motivo, afirmava que, coincindo no essencial nos dias de hoje com
o seu ensaio, mudaria alguns argumentos e apreciaçons sobre a etapa estalinista. Assim era o Chico!! Inconformista, procurando sempre o caminho certo, pois
“nom nos deve impressionar a acusaçom de “sectarismo” que os reformistas nos
lançam, nem a impaciência dos militantes que nom se resignam a um trabalho
apagado e querem resultados palpáveis em pouco tempo”.
O projecto estratégico da Política Operária
Mas, novamente, contrariamente ao que teria feito a maioria, nom desiste,
nom abandona, nom se rende. Prossegue, com a bússula que o Lenine e o Chico Miguel lhe tinham mostrado, o caminho de construir a ferramenta defensiva
e ofensiva que necessita a classe operária. Assim nasce a Política Operária em
LIVROS
Narciso Isa Conde
En el Siglo XXI, ¿Cuál democracia? ¿Cuál
Socialismo?
Santo Domingo, Escuela Política “Orlando
Martínez”, 2006. 223 páginas
A recente visita de Narciso Isa Conde ao nosso
país, no quadro das XII Jornadas Independentistas Galegas, permitiu-nos conhecer a figura
e o pensamento deste revolucionário dominicano, assim como umha melhor compreensom da
situaçom política e da esquerda tanto na República Dominicana como no contexto caribenho e
latino-americano.
Para aprofundar mais neste conhecimento, temos este livro do “Secre” (como é conhecido no
seu país), em que traceja algumhas das características desse “socialismo do
século XXI” popularizado por Hugo Chávez a partir da Venezuela bolivariana,
e também dos caminhos que as esquerdas revolucionárias latino-americanas
poderiam seguir para atingir este objectivo.
Fala-nos Isa Conde de como a revoluçom recuperou actualidade na América
Latina, após o evidente fracasso do neoliberalismo imposto polo império do
Norte e com o surgimento de processos como o venezuelano, a resistência de
Cuba ou a continuidade da insurgência guerrilheira colombiana, sem ocultar as
carências e perigos destas e outras experiências actuais.
Para o autor, membro da Coordenadora Continental Bolivariana, é vital a
articulaçom de todos os processos emancipadores do continente, recuperando o internacionalismo para construir a Pátria Grande sonhada pol@s
revolucionári@s latino-american@s desde Simón Bolívar, atingindo a “segunda independência” superadora da independência formal actual herdada do
século XIX e sob a tutela ianque. Um internacionalismo necessário para fazer
face ao imperialismo já que umha revoluçom isolada tem poucas possibilidades
de vencer.
Também remarca a necessidade de um socialismo superador dos fracasados
processos do século XX, com umha profunda participaçom popular e integrador de todas as luitas emancipadoras. Mas, para chegar a esse novo socialismo, Isa Conde defende a necessidade de criar novos modelos de vanguarda
e também processos de acumulaçom de forças na linha chavista de defesa da
soberania nacional, democratizaçom e alternativas ao neoliberalismo.
Um bom achegamento, polo tanto, aos debates e propostas actuais da esquerda no continente da esperança. (Anjo Torres Cortiço)
Vários Autores.
Cuba: A transição
Dinossauro edições, 2008. 127 páginas
@s nossas camaradas portugues@s da Dinossauro apresentam-nos, em
forma de livro de bolso, umha muito interessante colectánea de artigos à
volta da situaçom actual do processo revolucionário em Cuba.
Seis som os textos recolhidos, da autoria de Janette Habel, James Petras,
Robim Eastman-Abaya, Narciso Isa Conde, Guillermo Almeyra e Heinz
Dieterich. Intelectuais todos eles de reconhecido prestígio na esquerda mundial, e conhecidos polo seu decidido apoio à luita da Revoluçom
Cubana no seu confronto contra o imperialismo ianque e na construçom
do socialismo.
É precisamente o currículo destas pessoas o que obriga a prestar umha
especial atençom a este pequeno livro, já que nom se trata de mais umha
louvança da Revoluçom Cubana escrita com umha vontade meramente laudatória; mas de umha aproximaçom crítica ao estado em que se encontra a revoluçom neste momento,
pondo umha especial atençom nos seus défices.
Os artigos que integram esta obra fôrom aparecendo em diversos meios, muitos deles electrónicos, nos
últimos anos e, em boa medida, tenhem a sua origem nas intervençons de Fidel na Universidade de Havana
em 2005 e de Raul Castro no 26 de Julho de 2007. Discursos em que os máximos dirigentes da Revoluçom
Cubana advertírom sobre os reptos e riscos que se enxergam no futuro, fazendo umha especial ênfase na
possibilidade de umha involuçom derivada das deficiências e debilidades internas da sociedade cubana.
Trata-se pois de um livro “crítico” com Cuba, mas nom ao estilo das críticas que estamos habituad@s
a ler na imprensa imperialista. As diferentes autoras e autores apresentam as suas analises à volta de
problemas sociais, económicos, culturais e mesmo políticos; mas num sentido totalmente divergente
com aquele que podemos ler nas páginas onde escrevem os propagandistas do capital. Aqui nom depararemos com os tópicos conhecidos da suposta violaçom constante dos direitos humanos pola “tirania
castrista”, nem demandas de liberalizaçom económica; muito ao contrário, o objectivo de quem escreve
estes artigos é chamar a atençom sobre aqueles aspectos críticos que podem derivar numha queda da
via de avanço em direcçom o socialismo. Neste caso, as preocupaçons polos défices democráticos ou
pola orientaçom da política económica em Cuba tenhem um sentido radicalmente oposto ao que estamos
habituados a ouvir.
Porém, nom deixa de ser sintomático que nengum dos autores seja cubano e que, até o momento, as
únicas críticas aos défices da revoluçom, conhecidas publicamente fora da ilha, saíram da boca dos
máximos dirigentes da revoluçom. É evidente que no momento actual Cuba passa por um momento
de especial delicadeza, justo quando se estám a superar os efeitos mais nocivos da crise derivada da
implosom do sistema soviético e a geraçom que participou directamente da revoluçom no 1959 começa
a desaparecer. É lógico que a partir da esquerda revolucionária a nível mundial e continental se preste umha maior atençom ao que se passa em Cuba, nomeadamente quando a luita anti-imperialista na
América latina passa por um momento álgido. (André Seoane Antelo)
Christophe Charle e Charles Soulié (coordenadores)
Les ravages de la “modernisation” universitaire
Éditions Syllepse, Paris, 2008, 292 páginas
O que se nos vende como unha Convergência Europeia
em Educaçom Superior e umha revoluçom educativa em
resposta às novas demandas sociais é na realidade umha
subordinaçom da Universidade em conteúdos e formas às
empresas cada vez mais anárquicas e ligadas à especulaçom
bolsista. Trata-se ainda de criar trabalhadores e, muito importante, um exército de bolseiros ao serviço dessas mesmas
empresas.
E toda umha linguagem pedagógica mascara tal mercantilizaçom e acaba por apresentá-la como progresso,
orientaçom ao trabalho, flexibilidade, transversalidade,
mobilidade, criatividade, iniciativa e busca de horizontes
abertos, de inusitadas oportunidades.
Tenta-se reduzir o tempo e os conteúdos das licenciaturas para as complementar
com estudos de pós-grau que agrandam os caminhos da privatizaçom.
Os professores mudan-se en assessores, aplicam-se receituários de empresas, as
palavras ‘rendibilidade’ e ‘hierarquizaçom’ estám na moda, abre,-se vieiros à precarizaçom de ensinantes e investigadores, vira-se a tábua dos valores académicos e som cada
vez menos os professores que acreditam no papel crítico do saber.
E o espelho no que se olha tal reforma é o modelo privado dos EUA.
Este processo de Bolonha torna a juntar homens políticos de tendências, polo menos em
aparência, opostas e um reduzido número de universitários que lhe estám a tirar partido.
Este livro é umha denúncia que, entre outros assuntos, deita luz sobre a controversa economia do conhecimento e o management público; explicita o risco de umha falsa
soluçom no Estado espanhol; apresenta a dialéctica da Universidade Italiana entre mercado, formaçoçs profissionais e poder político; assinala a retórica de autonomia e o bloqueio do sistema en Alemanha; indica a encruzilhada em Inglaterra de vontade política e
lógica económica; mostra os paradoxos e os grandes problemas na Universidade Grega;
avisa do abandono dos estudos universitários em França e o inserimento profissional dos
estudantes; examina a liberalizaçom do Ensino Superior no Japom; etc, etc.
14 especialistas de diferentes países fam umha leitura nada complacente de um
futuro que parece inevitável, e nom só na Europa.
Como en tantos outros campos, cumpre afastar-se do fatalismo que nos paralisa
e ver como fazer frente a umha reforma que para nada toma em consideraçom o que
pensam os alunos, os mestres e a sociedade que nom se presta a cair nas gadoupas
da unidimensionalidade que denunciava há mais de quarenta anos Herbert Marcuse.
(Domingos Antom Garcia Fernandes)
WEB
Cátedra Ché Guevara.
Colectivo Amauta www.amauta.lahaine.org
O Colectivo Amauta, gestor desta página web, é um grupo de
activistas do movimento popular argentino que centra o seu
trabalho na difusom e a elaboraçom de teoria revolucionária.
Assim, este web é mais umha ferramenta de onde difundir e
facilitar o acesso a materiais teóricos, tanto clássicos como de
nova fornada, úteis para a acçom revolucionária guiada polo
marxismo.
O site fornece umha multitude de textos, dentre os quais desta-
camos, por tratar questons desconhecidas ou pouco conhecidas
no contexto europeu, aqueles que abordam analises à volta do
marxismo de matriz latino-americana. Nom por acaso o Colectivo
Amauta fai umha reivindicaçom explícita do mariateguismo e o
guevarismo.
Nº 48. Abril, Maio e Junho de 2008
1984. “O partido comunista, corpo estranho na sociedade burguesa que pretende derrocar, sofre umha tremenda pressom da parte desta para ser digerido e
destruído: pressom policial e militar quando necessário, mas também política e
ideológica, na actividade legal de todos os dias. Pressom que provém nom apenas
do aparelho de poder burguês mas também das camadas pequeno-burguesas contíguas ao proletariado e das flutuaçons no seio do próprio proletariado, hoje em
grande medida desarticulado e desmoralizado polas derrotas que tem sofrido”.
A Política Operária dirigida polo Chico é umha revista teórica de grande qualidade, a partir da qual analisou e prognosticou as contínuas mudanças da sociedade portuguesa das duas últimas décadas, mas também os fenómenos e a conjuntura internacional, sempre sob um único objectivo: armar ideologicamente a classe
obreira e assim contribuir para promover a Revoluçom socialista indispensável
para atingir a sua emancipaçom. Nom é, nem nunca tivo essa concepçom inofensiva caractrística do marxismo académico. Desde as suas origens, tem a vocaçom
de ser o germe do partido comunista revolucionário. Ainda nom foi possível atingir
este objectivo porque todas as cousas som pequenas quando começam.
Contrariamente ao que figérom os grandes partidos “comunistas” oficiais de
meio mundo, mas também prestigiosas organizaçons revolucionárias com apoio
social, a queda da URSS e do socialismo realmente inexistente nom surpreendeu o Chico nem a PO. A acertada caracterizaçom do modelo imperante, esse
“estado operário burocraticamente degenerado”, permitia prever e compreender
com suficiente anterioridade que irremediavelmente estava condenado a abalar
e desaparecer. Era mera questom de tempo. Tampouco o actual modelo misto de
capitalismo de estado e economia de mercado sem mais regras que as que impom
a lógica neoliberal, em que derivou a China, podia ser alternativa algumha. O integral questionamento do delirante regime albanês tinha contribuido já três lustros
antes para a ruptura com o PCR.
O Chico acompanha e denuncia sem concessons a procura de terceiras vias
–“o trabalho comunista entre as massas requer muito esforço e brilha pouco”–
a ofensiva global do imperialismo contra as massas oprimidas e empobrecidas,
contra os povos, o discurso do pensamento único, a imposiçom pola força do neoliberalismo e da globalizaçom. E como brilhante marxista que era, sem renunciar
aos princípios e aplicando o pensamento dialéctico, comprendeu as profundas
mudanças operadas na luita de classes, os novos fenómenos que nem Marx nem
Lenine prevêrom ou aos quais nom dérom atençom suficiente. Isto permitiu que,
procedendo de umha área político-ideológica impermeável a qualquer discurso
incómodo ou de difícil acomodo com o economicismo, mas que paulatinamente
foi superando, tenha permitido realizar com enorme coragem um percurso tam
genuíno e original.
A partir de claras coordenadas anticapitalistas e anti-imperialistas, foi capaz
de incorporar à arquitectura teórico-pratica da PO o conjunto de rebeldias geradas
polo capitalismo ao património teórico-prático de que, sem lugar a dúvidas, é alicerce insubstituível do comunismo revolucionário português. A PO, nestes quinze
anos, demonstrou a enorme capacidade para compreender que o antagonismo da
contradiçom Capital-Trabalho é o cerne da luita contra a dominaçom, a exploraçom
e a opresssom, mas sem se deixar tingir polas cores das diversas rebeldias específicas geradas polo modo de produçom capitalista, ou simbiotizadas por este, nom
é possível avançar na reconstruçom e desenvolvimento do comunismo do século
XXI. A específica opressom da mulher, o internacionalismo militante, a plena liberdade e direito à independência dos povos, a defesa do meio-ambiente e combate à
destruiçom da natureza, a superaçom do poder adulto exercido sobre a geraçons
jovens, a libertaçom sexual, a denúncia de toda forma de autoritarismo e defesa do
permanente exercício da autodeterminaçom, quer queiramos, quer nom, atravessam transversalmente a luita de classes. Nom se reduzem nem se simplificam ao
discurso e à reflexom da contradiçom principal emanada dos manuais soviéticos
que posteriormente reproducírom diversas correntes da esquerda revolucionária.
Igual que desde criança sabia que sem o aroma dos coentros nom é possível elaborar a magnífica gastronomia do seu Alentejo, o Chico soubo compreender com
mestria que sem o lilás da luita feminista contra o machismo e o patriarcado, sem
o arco iris da libertaçom sexual, sem as cores das bandeiras negadas das naçons
e povos oprimidos, sem a simbologia da rebeldia juvenil, do antiautoritarismo, sem
o verde ecologista, a bandeira vermelha de libertaçom integral está orfa e incompleta. Porque na Revoluçom Socialista confluem as luitas parciais e só ela pode dar
soluçom plena e satisfatória às reivindicaçons parciais negadas, desconsideradas
polas experiências revolucionárias do século XXI e XX.
Esta imensa capacidade para se libertar dos espartilhos, dos anacronismos,
da anorexia e comodidade ideológica de boa parte da esquerda, essa insaciável
curiosidade e firme decisom para explorar novos caminhos sem perder nunca o
objectivo estratégico de superar a propriedade privada, foi o que permitiu que o
proletariado português posterior à crise revolucionária do 25 de Abril, que tam
lucidamente soubo interpretar e explicar, tenha contado no seu seio com um militante tam destacado e difícil de substituir.
Como bom conversador gostava de ouvir e de perguntar. Com umha voz
suave e um tom sereno era umha pessoa dialogante, mas nunca desfaleceu na
hora de questionar com intransigência toda forma de desigualdade e injustiça.
Era conciliador e respeitoso com a diversidade e o pluralismo ideológico d@s que
combatemos o capitalismo, permeável e aberto com os excluídos, audaz frente às
inércias e o conservadorismo; mas também era dos que nom toleram enganos e
tretas na hora de justificar com discursos moles e edulcorados a dominaçom capitalista. “Claro que a participaçom nas eleiçons pode ser necessária, mas numha
condiçom: termos a certeza de que vamos utilizar as instituiçons burguesas e nom
deixar-nos utilizar por elas”.
Tinha esse dom para lograr que dúzias de jovens aos quais podia superar
em mais de seis décadas seguissem com atençom e fascinaçom as suas opinions
de veterano combatente que nem capitulava nem renunciava a tomar o céu por
assalto.
O Chico era dessas pessoas que continuamente nom deixa de surpreender. A
sua ruptura com os dogmas e os fetiches do passado, a permanente adequaçom
teórica às mudanças do presente foi o que permitiu evoluir a partir desse refractário marxismo característico das potências imperialistas, permanentemente
contaminado polo chauvinismo, a compreender a justeza da luita de libertaçom dos
povos oprimidos europeus. Isto foi o que converteu –inclusive superando incompreensons e contradiçons na sua própria corrente– o Francisco Martins Rodrigues
no melhor amigo da causa nacional galega em Portugal, no permanente embaixador da independência da Galiza.
A melhor homenagem é proseguir a inacabada obra que iniciou
Hoje é um dia de combate contra o Capital, mas também de imensa alegria e
orgulho de pertencer a esta classe, de satisfacçom colectiva e afirmaçom comunista. Mas este 1º de Maio é também de enorme tristeza porque, após 34 anos consecutivos, o Chico nom desfilou nas ruas de Lisboa. O seu corpo lamentavelmente
nom está connosco. Mas sim o seu legado, o seu entusiasmo, a sua vitalidade, a
suas contribuiçons para o sucesso da Revoluçom portuguesa e internacional.
Errou no discurso com que finalizava a intervençom na última festa da PO
ao afirmar que “podemos ainda ser poucos e fracos. Mas as tempestades que aí
venhem vam-nos obrigar a ser muitos e muitas. O partido que dizem que já passou
de moda -nom o partido-empresa, nom o partido-administraçom, nom o partidonegócio, mas o partido d@s revolucionári@s, esse há de voltar. Porque é preciso acabar com o pesadelo e começarmos a viver como seres humanos”. Errou
pola sua modéstia ao desconsiderar na sua análise a importáncia da sua obra, o
imenso capital teórico concentrado e acumulado na PO na hora de contribuir para
reconstruir o partido comunista revolucionário nesta singular e específica luita de
classes chamada Portugal.
A melhor homenagem que se lhe pode tributar é continuar avante como
projecto revolucionário a que consagrou inteiramente a sua vida. Está na hora
de recuperar, centralizar, ordenar e publicar as suas reflexons, mas também de
evitar o menor sintoma de desmoralizaçom e dispersom que provoca a sua grande ausência. A sua memória nom deve ficar encerrada só entre @s que fomos
afortunad@s de compartilhar momentos e combates com um militante comunista
da sua dimensom e capacidade, entre quem tivemos o imenso orgulho de o conhecer, de compartilhar com ele as alegrias e insatisfaçons da luita por esse novo
mundo. É preciso difundir o legado que nos deixou e a melhor maneira é polo único
caminho em que sempre apostou: a luita organizada comunista.
Nom queria finalizar estas breves reflexons de homenagem da Galiza rebelde
e combativa que tem umha dívida impagável com o Chico sem umha confessom.
Nunca tivem, nunca tivemos oportunidade de lho podermos dizer pessoalmente.
Agora reconheço que estou arrependido. Mas por pudor, por um respeito mal entedido, embora em mais de umha ocasiom estivesse a ponto de o fazer, nunca fum
capaz de transmitir que sempre gostei e admirei muito o mestre, o companheiro,
o amigo, o irmao, o camarada Chico Martins Rodrigues.
Carlos Morais é Secretário-Geral de Primeira Linha
internacional
7
Francisco Martins
Rodrigues in memoriam
Nom por esperada, a notícia do falecimento do nosso camarada
português, Francisco Martins Rodrigues, deixa de entristecer as comunistas e os comunistas galegos.
Umha delegaçom do Comité Central já se tinha deslocado a 6 de
Abril a Lisboa para homenagear e agradecer umha vez mais os contributos do Chico Martins na difusom e defesa da causa nacional da
Galiza em Portugal.
Memória viva do heróico movimento revolucionário português, luitador incansável e insubornável da causa proletária, com ele Portugal
perde um dos grandes combatentes pola revoluçom e a Galiza um
amigo solidário da nossa independência nacional e o socialismo.
Em 23 de Abril, umha delegaçom de Primeira Linha assistiu ao
sepélio realizado no cemitério lisboeta do Alto de São João.
A seguir, reproduzimos o comunicado enviado polo Comité Central
do nosso partido aos camaradas e às camaradas do colectivo comunista português Política Operária, assim como o artigo dedicado por
Carlos Morais, quem participou 1º de Maio em Lisboa na homenagem
em lembrança do Chico Martins realizada nos locais da Associação
Abril em Maio, no Regueirão dos Anjos.
Após a projecçom de umha entrevista realizada por António Louçã
e emitida há uns anos pola RTP, Ana Barradas abriu e apresentou a
emocionante sessom evocativa de Francisco Martins Rodrigues, na
qual intervinhérom a historiadora especialista na resistência antifascista Paula Godinho, o jornalista e militante revolucionário António
Louçã, o secretário-geral de Primeira Linha, Carlos Morais, o redactor
da Política Operária António Barata, e um dos filhos do homenageado,
Pedro Martins.
A sessom de homenagem contava com umha exposiçom de fotografias, cartas, trabalhos prisionais e artigos, muitos deles inéditos.
Também se recolhiam alguns comunicados de condolência e homenagem ao grande revolucionário comunista provenientes da Catalunha
(Endavant e MDT), Galiza (AGIR, NÓS-UP e Primeira Linha), País Basco
(Batasuna), Estado francês (Lutte Ouvrière), Brasil, etc; assim como
de organizaçons e movimentos sociais portugueses.
Tal como comunicou Ana Barradas ao início da sessom de homenagem, na actualidade está a trabalhar-se na compilaçom, selecçom e
catalogaçom dos contributos teóricos de Francisco Martins Rodrigues,
para a posterior publicaçom dos mesmos. A Abrente Editora colabora
com as Edições Dinossauro nesta iniciativa para difundir a obra do
grande teórico e militante marxista.
Cravos vermelhos choram lágrimas de dor
Faleceu Francisco Martins Rodrigues
Com enorme tristeza e consternaçom, recebemos a esperada
notícia. Às duas da madrugada do dia 22 de Abril, acompanhado de
familiares e camaradas, falecia em Lisboa o revolucionário comunista
português Francisco Martins Rodrigues.
O Comité Central de Primeira
Linha quer manifestar o seu profundo pesar pola morte deste
excepcional militante da liberdade e da causa operária, transmitindo a
familiares e amig@s
do Chico, com destaque para os e as
camaradas da Política
Operária, as nossas
mais sinceras
condolências pola sua morte.
Com o falecimento do Chico Martins, a Galiza perde um dos
melhores amigos da luita nacional do povo galego em Portugal, e a
classe operária portuguesa um dos seus maiores e insubornáveis
defensores.
A sua coerente trajectória de toda umha dilatada vida consagrada aos ideais da emancipaçom humana é todo um exemplo para as
novas geraçons de combatentes no país irmao, mas também para @s
revolucionári@s galeg@s que tivemos o orgulho e o imenso prazer
de o conhecer, de o tratar e aprender da sua imensa lucidez, capacidade analítica e humildade revolucionária.
No passado dia 6 de Abril, umha delegaçom do nosso partido visitou o Chico em Lisboa, compartilhando com ele momentos de camaradagem e reconhecimento polo profundo respeito, amizade e solidariedade com que sempre tratou a luita de libertaçom nacional e social
de género do povo trabalhador galego. Nesse momento, sabíamos
que estávamos a despedir-nos de um formidável amigo e camarada
que livrava com tranquilidade e coragem a sua última batalha, contra
a morte e pola vida.
Por este motivo, no sábado 12 de Abril, Francisco Martins
Rodrigues foi homenageado nas XII Jornadas Independentistas
Galegas, nas quais participou em 2002, 2004 e 2006. Nesta ocasiom,
o grave estado de saúde impossibilitou a sua prevista intervençom no programa que tínhamos desenhado.
Na nossa retina colectiva, sempre lembaremos o Chico manifestando-se no 25 de
Julho pola ruas de Compostela em
prol da liberdade da nossa naçom, o
Francisco Martins Rodrigues intervindo nos actos políticos de NÓS-Unidade
Popular, nas Jornadas Independentistas
Galegas, nos actos internos, nas festas e
sessons políticas da PO em Lisboa, com a sua
serenidade e rigorosidade, com as suas agudas e
acertadas opinions, em definitivo, com a arma secreta
da vitalidade juvenil com que até o seu derradeiro fôlego
combateu o capitalismo e sonhou por um novo mundo.
Umha imensa gratitude para o embaixador da esquerda independentista galega em Portugal, para um de esses
velhos bois imprescindíveis para arar o porvir. Obrigado por
nos ensinar o caminho para lograrmos ser revolucionári@s, o
degrau mais elevado da espécie humana que acertadamente definiu
o Che no seu Diário da Bolívia; polos contributos teóricos no combate
ao reformismo e oportunismo, por nos ensinar o orgulho de sermos
comunistas; por nom desfalecer após doze anos de prisom; polos longos anos de clandestinidade; por nom ceder nos princípios irrenunciáveis do marxismo revolucionário neste mundo de buscadores de
ouro; em definitivo, por ter consagrado a vida à Revoluçom. A dívida
que temos contigo nunca poderá ser paga.
Até sempre camarada!
Comité Central de Primeira Linha
Galiza, 22 de Abril de 2008
Edita: Primeira Linha. Redacçom: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza. Telefone: 616 868 589 / www.primeiralinha.org
Conselho de Redacçom: Comité Central de Primeira Linha. Fotografia: Arquivo Abrente. Correcçom lingüística: Galizaemgalego.
Maqueta: ocumodeseño. Imprime: Litonor S.A.L. Encerramento da ediçom: 25 de Maio de 2008
Correspondência: Rua Costa do Vedor 47, rés-do-chao. 15703 Compostela. Galiza.
Correios electrónicos: [email protected] / [email protected] / Tiragem: 3.000 exemplares. Distribuiçom gratuíta.
Permite-se a reproduçom total ou parcial dos artigos sempre que se citar a fonte. Abrente nom partilha necessariamente a opiniom dos artigos assinados.
Impresso em papel reciclado. Depósito Legal: C-901-1997
Concluírom XII Jornadas Independentistas Galegas
Reafirmada vigência dos princípios revolucionários marxistas
Sessom da tarde: Argentina e Euskal Herria
As décimas segundas Jornadas Independentistas Galegas fôrom clausuradas a última hora da tarde do sábado
12 de Abril.
O Socialismo do século XXI foi analisado e debatido
em Compostela no forum marxista anual e monográfico de
debate que, de maneira inenterrupta, o nosso partido vem
realizando desde 1997.
Narciso Isa Conde, Néstor Kohan, Iñaki Gil de San
Vicente e Elena Martínez Canals abordárom a análise do
projecto revolucionário socialista deste novo século, reafirmando a vigência e a actualidade dos princípios fundacionais
marxistas e do pensamento das principais figuras da história
do movimento obreiro e popular internacional.
Néstor Kohan apresentou umha tese que iniciou abordando a história e os traços actuais do neoliberalismo capitalista. Seguidamente, insistiu na vital importáncia do debate
teórico, nom apenas à volta da imprescindível tomada do poder polo movimento popular, como também sobre a construçom desse novo poder, descartando teorias pós-modernas
como as defendidas por Toni Negri ou John Holloway.
Iñaki Gil de San Vicente realizou umha pormenorizada
exposiçom sobre a situaçom global do capitalismo, sobre a
profundidade da crise que enfrenta e as perspectivas para
os países dependentes do centro capitalista como pontas de
lança do movimento revolucionário no continente europeu,
a partir da perspectiva da luita basca pola independência e
o socialismo.
Ambas sessons finalizárom com intervençons e debate
de companheir@s presentes entre o público, adscritos a diferentes correntes da esquerda galega.
Francisco Martins e Raúl Reyes homenageados
na sessom matutina
As Jornadas fôrom inauguradas polo secretario-geral
de Primeira Linha, que iniciou a apresentaçom do evento
referindo-se a ediçom do ano passado, dedicada a analisar
e reflectir sobre “quem sem lugar a dúvidas representa um
dos referentes do socialismo do século XXI”, em referência
ao Che Guevara.
Posteriormente, antes de passar a apresentar o dirigente revolucionário dominicano Narciso Isa Conde e a
militante do Partido Comunista Cubano Elena Martínez Canals, Carlos Morais lembrou o veterano camarada comunista português Francisco Martins Rodrigues, velho amigo da
causa da liberdade da Galiza, participante em três ediçons
anteriores das Jornadas Independentistas Galegas, as de
2002, 2004 e 2006, que na altura luitava contra umha grave
doença “impossibilitando que nos poda acompanhar com as
suas lúcidas contribuiçons de veterano mestre na arte da
Revoluçom”.
Pola primeira vez em doze anos de Jornadas Independentistas Galegas, com a sala em pé e um cálido e sentido
aplauso de reconhecimento e admiraçom, Primeira Linha
dedicou o encontro a “um combatente por essa sociedade
sem exploraçom, por um novo mundo sem dominaçom, onde
os povos sejamos livres e unicamente concorramos por ver
quem se aproxima mais da felicidade”.
Carlos Morais transmitiu, em nome das comunistas e
os comunistas galeg@s, o mais sentido pesar pola morte do
dirigente e resto de militantes revolucionári@s das FARCEP, vilmente assassinados polo governo narcoterrorista de
Álvaro Uribe com o apoio do imperialismo norte-americano.
Simultaneamente às palavras de lembrança e homenagem ao comandante Raúl Reyes, foi situado o seu retrato
na mesa, entre a ovaçom do numeroso público presente na
sala.
Intensa agenda de Narciso Isa Conde
@s participantes nas XII Jornadas Independentistas
Galegas concluírom a visita à Galiza com diversos actos públicos em universidades, locais sindicais e centros sociais,
entrevistas a meios de comunicaçom, assim como dirigindo
seminários e assistindo a reunions de carácter interno.
Narciso Isa Conde foi o último a abandonar a Europa,
participando na quinta-feira 17 de Abril no seu último acto
público: umha palestra na sede da CIG em Ferrol. Previamente interviu no Clube Internacional de Imprensa, em Compostela, onde manifestou a sua explícita solidariedade com
o projecto independentista galego, solicitando a retirada da
bandeira espanhola do estrado donde dirigiu as suas palavras ao público presente.
Na noite do mesmo dia 16, Narciso participou numha
entrevista no programa ‘Aqui já é noite’, da Rádio Galega,
onde expujo o ideário revolucionário bolivariano e a existência de umha onda de luitas de carácter continental na América Latina, que deve contar com a solidariedade internacionalista do povo galego.
Na terça 15, participou em Vigo na conferência de imprensa de apresentaçom do colectivo de imigrantes dominicanos para posteriormente realizar umha visita guiada polos
locais da CIG. A sessom do dia finalizou com um acto público
no centro social Baiuca Vermelha de Ponte Areias.
No dia anterior, 14 de Abril, Isa Conde interveu na Corunha num acto público organizado conjuntamente por BRIGA e
AGIR, dando a conhecer o projecto libertador da insurgência
colombiana e a necessidade da solidariedade internacionalista para fazer frente à estigmatizaçom que padecem as
FARC-EP pola manipulaçom mediática a que se vê submetida
polas grandes agências de (des)informaçom.
Intervençom cubana e dominicana
Elena Martínez Canals, do Partido Comunista de Cuba,
apresentou a situaçom do seu país e as contribuiçons da
experiência cubana para a causa anti-imperialista e para a
revoluçom internacional. A sua intervençom foi centrada em
explicar a heróica resistência e exemplo aos povos do mundo
que durante décadas, basicamente nos piores anos do “período especial” posteriores à queda do muro de Berlim, tem
sido capaz de manter o povo cubano.
O histórico dirigente comunista dominicano Narciso Isa
Conde realizou umha exposiçom de grande profundidade teórica sobre a crise do socialismo ‘irreal’ derrotado a finais
Actos de Néstor Kohan e Elena Martínez Canals
do século passado, e sobre a onda de revolta popular que se
estende polo continente americano, incidindo na necessidade de dar forma orgánica e internacional ao movimento antiimperialista, situando o objectivo revolucionário socialista no
horizonte continental.
Narciso Isa Conde expujo também a experiência da Coordenadora Continental Bolivariana como exemplo da cons-
truçom de um espaço internacional para a confluência e a
coordenaçom das luitas.
À sessom matutina assistiu Miriam Arestuche, em representaçom do consulado de Cuba na Galiza, desculpando
a ausência do cônsul, por doença. Também participou o cônsul da República Bolivariana da Venezuela na Galiza, Pedro
Ugueto Rosario.
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por gastos de envio.
O teórico marxista argentino participou em Vigo na
tarde do 14 de Abril num acto organizado pola CIG sobre a
vigência do pensamento de Che Guevara. Durante a manhá,
tinha sido recebido por umha delegaçom da central que lhe
mostrou as instalaçons sindicais.
Já na terça-feira 15, Elena Martínez Canals falou num
acto público sobre os reptos e perspectivas da Revoluçom
Cubana. Foi na Faculdade de Geografia, Arte e História de
Compostela, com importante assistência de jovens.

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