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Painel: A Expressão Gráfica como Linguagem Transversal O ART NOUVEAU GEOMÉTRICO E GRÁFICO DE GUSTAV KLIMT Angela Ancora da Luz Escola de Belas Artes - UFRJ [email protected] Resumo A marca distintiva do Art Nouveau é a linha assimétrica e dinâmica que, de um modo geral, termina como um golpe de chicote no ar. Ela possui a faculdade de sublinhar a estrutura da forma e lhe conferir uma identidade mais gráfica. Sua força se observa no contraponto com o impressionismo, que abdicara do desenho para privilegiar a cor pura, propondo a justaposição de pinceladas diretamente na tela. “É no olho do observador que a obra se completa”, diria Monet. A mistura ótica acontece no ato da contemplação, portanto, a elaboração das cores escolhidas pelo artista não se dá mais na sua palheta e sim no olho do fruidor. Numa outra vertente, o Art Nouveau se revela mais próximo aos anseios industriais, a necessidade de difusão de imagens gráficas que pudessem ser multiplicadas rapidamente. Surge com alma decorativista, buscando o primado da linha de contorno que enclausura e determina a forma, opondo-se desta maneira aos excessos da fragmentação impressionista. O primeiro quarto do século XX foi marcado pelo Art Nouveau, que floresceu nos diferentes cantões da Europa de acordo com algumas concepções particulares. Sua expansão se deu internacionalmente, mas não simultaneamente. Na região franco-belga ele foi eminentemente floral, inspirado no mundo vegetal. É possível que seja o mais conhecido, pela caligrafia decorativista e ilustrativa de Alphonse Muchà. Na Escócia predominou o caráter literário e simbólico, com destaque para a Inglaterra a partir de Aubrey Beardsley. A Escandinávia cultivou o motivo animal, com cisnes e serpentes, mas na Alemanha e na Áustria, ele surge com caráter construtivo e geométrico, eminentemente gráfico. É o Jugendstil. O nome surge em 1896, com a publicação da revista Jugend (jovem), fundada por Otto Eckmann, ligando-se ao design gráfico, na mais autêntica tradição alemã, cujas origens remontam ao Renascimento com as xilogravuras de Albrecht Dürer. Assim, o “Estilo Jovem”, tradução literal do termo, corresponde ao Art Nouveau francês e belga, porém sua poética é revelada pelas características gráficas que lhe são inerentes. O austríaco Gustav Klimt será o responsável por criar uma arte de impregnação construtiva aliada à sinuosidade da linha nervosa e orgânica do Art Nouveau. O cartaz que o artista apresenta na primeira exposição da Secessão de Viena já se caracteriza pela ausência de profundidade, sinalizando a batalha entre a forma do corpo, a estrutura da linha e a superfície plana. Ou seja, já anuncia pressupostos gráficos. Nele, a chama que acende sua pintura se dá a partir da submissão do homem a seus instintos, notadamente os eróticos, que por sua vez incendeiam a imaginação do artista enquanto multiplica corpos sinuosos. Ao centro de suas composições sensuais destaca-se a mulher. Na primeira década do século XX Klimt atravessa a chamada “fase dourada”. Podemos pensar num duplo sentido de significado, pois de um lado está a grande proeminência de sua arte naquele período e de outro o fato de ter desenvolvido uma técnica na qual associava o ouro, a prata e o papel cintilante às cores de sua palheta. Com isto, ele antecipa técnicas de mistura de materiais que seriam utilizadas pelos cubistas sintéticos da década de 1920. Klimt não abandona sua fixação pelos corpos sinuosos e até dramáticos de suas figuras, notadamente as femininas. Ele emprega o contorno com a linha para evidenciar a forma e, neste ponto, se mantém dentro do Art Nouveau, interligando os corpos em abraços, beijos, ou simplesmente no contato da pele. Em alguns momentos vai tangenciar o expressionismo, principalmente no final de sua vida. Na fase dourada ele veste seus personagens com longos mantos, cobrindo-os ou revelando a nudez dos corpos. Nestas vestimentas, no chão e nas paredes, que se abrem como espaços em suas composições para a construção gráfica, Klimt elabora os elementos que se ajustam uns aos outros, subvertendo o espaço cúbico em busca do planar, que satisfaz ao desejo construtivo de sua arte. A transversalidade da pintura de Gustav Klimt nos leva a repensar conceitos sobre a expressão gráfica presente na arte e na ciência, como parte do conhecimento humano, razão e emoção, assunto que discutimos durante o GRAPHICA 2011, por entendermos sua significação no contexto da presente proposta. Perfil da palestrante Historiadora e Crítica de Arte atuando no Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da EBA/UFRJ. Diretora da Escola de Belas Artes da UFRJ de 2002 a 2010. Mestrado em Filosofia, (Estética) pelo IFCS/UFRJ. Doutorado em História, (História Cultural), pelo IFCS/UFRJ. Área de pesquisa: História da Arte Moderna e Contemporânea. Livros publicados: A fabulação trágica de Portinari na fase dos Retirantes (Programa Editorial SR-2.UFRJ.RJ, 1986) Anna Letycia, Série Artistas Brasileiros (São Paulo, EDUSP. 1998); História da Arte no Brasil: textos de Síntese (1999. RJ.UFRJ), republicado em 2008 pela Editora UFRJ; Uma breve história dos salões de arte – da Europa ao Brasil (2005, RJ. Caligrama), que recebeu o prêmio “Sergio Milliet” de 2006 conferido pela ABCA. Membro do Comitê Brasileiro de História da Arte – CBHA; da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas – ANPAP; da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA; da Associação Internacional de Críticos de Arte – AICA e da International Association for Aesthetics – IAA. Ocupa a cadeira 12, benemérita de Benevenuto Berna, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, seção RJ – IHGB–RJ.
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