01-11-2012 - Contaminação de trabalhadores por mercúrio expõe

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01-11-2012 - Contaminação de trabalhadores por mercúrio expõe
01-11-2012 - Contaminação de trabalhadores por mercúrio expõe falhas na produção industrial
Qui, 01 de Novembro de 2012 13:44
A utilização de mercúrio em indústrias química, elétrica e eletrônica abre a discussão sobre a
própria forma de organização dos processos de produção. Metal extremamente tóxico, a
exposição ao mercúrio coloca em risco a saúde dos trabalhadores desses setores.
No mês de setembro, o Ministério Público do Trabalho (MPT) entrou com uma ação civil
pública contra a fabricante de lâmpadas elétricas Osram Brasil. O órgão pede indenização a
dezenas de trabalhadores que contraíram “mercurialismo metálico crônico ocupacional”.
Em decorrência da doença, os trabalhadores desenvolveram graves problemas neurológicos e
neuropsiquiátricos como, fraqueza, depressão e mudança de comportamento, perda de
memória, nervosismo, desmaios e perda de dentes.
Para entender o mercurialismo metálico e suas conseqüências para a saúde do trabalhador, a
Radioagência NP entrevistou a professora Marcilia Medrado Faria da Faculdade de Medicina
da USP e do Serviço de Saúde Ocupacional do Hospital das Clínicas.
Para ela, que já atendeu mais de 350 casos de intoxicações crônicas pelo mercúrio, a
legislação da saúde ocupacional nesta área não é seguida pelas empresas. Além de muitos
trabalhadores não terem uma cobertura médico-social, que também é prevista em lei.
Marcilia, no acompanhamento dos casos de mercurialismo metálico, o que chamou mais sua
atenção?
Marcilia de Araújo Medrado Faria - É o que normalmente se conhece, desde a idade média,
sobre os problemas [de saúde mental] determinados pelo mercúrio. Você tem dois tipos de
mercúrio: o mercúrio inorgânico, que é metálico, que são os vapores e dá um efeito a longo
prazo, crônico [e, também um efeito agudo]. E você também tem o mercúrio orgânico
[determina intoxicação pela ingestão principalmente de peixes e pescados]. Eles podem dar
dois tipos de alteração, que são mais comuns, mas basicamente o órgão alvo que o mercúrio
atinge é o sistema nervoso central. Como ele atinge o sistema nervoso central podem ocorrer
duas síndromes: síndromes mais relacionadas à área neurológica ou síndromes mais na área
neuropsicológica. Eu tenho paciente dos dois tipos, mas tem mais as manifestações
neuropsicológicas, que dão alterações cognitivas, alterações de coordenação motora e
alterações na esfera psíquica. Do ponto de vista do psíquico, eles [os pacientes] têm
irritabilidade, ansiedade, depressão, e às vezes alucinação, delírio. Do ponto de vista mais
neurológico, às vezes tem problemas motores, problemas de cefaléia (dor de cabeça),
tremores. Então, é uma série de manifestações que se enquadram nessas três áreas.
Normalmente, como ocorreram as contaminações por mercúrio desses trabalhadores?
MF: A grande maioria são indivíduos que trabalham na indústria e que no processo de trabalho
há contato com o mercúrio. A grande maioria é de indústria de produção de lâmpadas, que
utilizam mercúrio no processo [produtivo], mas podem ser indústrias de cloro-álcalis, que o
mercúrio é utilizado, e outras indústrias como a de monômetros. Eu também tenho indivíduos
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[pacientes] da área de saúde que trabalharam limpando manômetros, que mede pressão
arterial, eles [esterilizavam e] esquentavam esse mercúrio e se contaminaram. E tem um grupo
grande de dentistas. Aqui em São Paulo, realmente, é o pessoal que trabalha em indústria,
agora você tem uma contaminação grande em garimpos.
O sistema público de saúde tem estrutura para atender as pessoas contaminadas?
MF: Esse serviço de saúde ocupacional é um serviço do Hospital das Clínicas. Então, desde
1997, a gente tem atendido, faz uma bateria de exames que são caros, de avaliação de
sistema nervoso. Nós temos feito em todos [os pacientes], mas há demora. Há uma
necessidade de uma melhora, mas eles passam por uma bateria que envolve exames de
imagem, exames de campo visual, auditivo e um acompanhamento. Esses pacientes precisam
de acompanhamento psiquiátrico.
É possível ter uma desintoxicação total do mercúrio?
MF: Olha, é muito difícil porque o tratamento termina sendo mais um tratamento sintomático. A
ansiedade que eles têm, a depressão, as dores que eles têm. Porque como o mercúrio se
deposita no sistema nervoso. [Nos casos no curso da exposição] quando o mercúrio está
circulando, às vezes, pode usar substâncias que são chamadas “quelantes”. Mas em uma
forma crônica é complicado, como é que você vai mobilizar esse mercúrio que está no sistema
nervoso? Então, até agora não está muito claro se vai melhorar ou não, por conta que esse
mercúrio vai ser depositado em células que são neurônios ou outras células básicas do sistema
nervoso.
No geral, as empresas têm garantido a segurança do trabalhador que tem contato com o
mercúrio?
MF: Nas décadas de 1980 e 1990, a contaminação foi muito grande. Os pacientes tinham
mercúrio distribuídos, jogados, eles viam. Eles colocavam a comida em cima de vapor de
mercúrio. Parece que houve uma melhora, porque houve uma fiscalização do Ministério do
Trabalho, mas a melhora ainda não é total, tem casos recentes de contaminação. No modo
geral, nem os diagnósticos [dos trabalhadores possivelmente contaminados] as empresas
facilitaram. Foram os órgãos públicos que viram [esse problema]. Em alguns casos as
empresas têm afastado [os trabalhadores], mas muitos casos a empresa não afastou e quando
vai para o INSS, como precisa conhecer o problema, se o médico que atende não conhece o
individuo pode ficar com a sintomatologia, com o problema crônico, com a questão
incapacitante, sem uma cobertura social. Porque se tem uma legislação da saúde ocupacional,
sem se ter direito a essa cobertura.
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Da Rádio Agência NP
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