10 Anos CDES
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10 Anos CDES
Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento 10 ANOS CDES Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES ÍNDICE EDITORIAL Seminário marca 10 anos e debate desafios para o futuro ...................................... 5 MATÉRIAS 1. Dilma Rousseff: “O Brasil não quer voltar ao passado” ............................................ 7 2. O CDES e as transformações brasileiras ................................................................. 10 3. Marcelo Neri: “O Brasil está crescendo com qualidade” ......................................... 13 4. Para diretor da OMC, cenário mundial está mais complexo e menos acolhedor” ... 14 5. Ministros convocam CDES a participar de pacto pela Saúde ................................... 17 6. Rede de Conselhos Econômicos e Sociais da América Latina e Caribe lança Carta de Brasília .................................................................................................... 20 7. O fortalecimento mundial dos conselhos ............................................................... 22 8. Moema Miranda: “Mobilizações nas ruas exigem nova política”............................ 24 9. Secretária da CEPAL: “O Brasil está melhor do que a imprensa diz” ....................... 25 ANÁLISES 1. Luiz Gonzaga Belluzzo: Brasil precisa superar enganos conjunturais e fazer política macroeconômica ........................................................................... 26 2. Milko Matijascic: O processo de desenvolvimento do Brasil na hora da verdade ..... 30 3. Ladislau Dowbor: 10 anos de CDES, em busca de uma nova governança............... 33 4. Laurindo Leal Filho: Comunicação discreta............................................................. 36 5. Marco Aurélio Weissheimer: As contribuições do CDES para o debate da Reforma Política ............................................................................................... 38 6. Flávio Aguiar: Desafios para o CDES no seu 10º aniversário ................................... 41 EDITORIAL Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES Seminário marca dez anos e debate desafios para o futuro Dez anos após substituir uma lógica de governo cujas diretrizes sociais e econômicas, em geral, privilegiavam as orientações e interesses do mercado financeiro internacional em detrimento da distribuição da riqueza e da geração de emprego e renda para a maioria da população, o Brasil atravessa em 2013 um importante período de avaliação dos acertos e desafios dessa nova etapa de sua história. Criado nesta última década, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) promoveu, dia 17 de julho, em Brasília, um seminário para debater propostas e projetos para o futuro do País. O encontro contou com a participação da presidenta da República, Dilma Rousseff; do diretor geral eleito da Organização Mundial do Comércio, embaixador Roberto Azevêdo; do ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Marcelo Neri; da secretária-executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, além de outros convidados de grande relevância. O contexto político que embalou os debates do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento em 2013 não poderia ser mais rico. Além das novas oportunidades e desafios à agenda de desenvolvimento colocadas para o Brasil, também foi discutido o dinâmico cenário global atual. Em relação ao cenário interno, o seminário abordou os desafios do modelo brasileiro rumo a um desenvolvimento inclusivo e sustentável. A discussão contemplou também mudanças recentes vivenciadas pelo País e os impactos das políticas públicas desenvolvidas ao longo da última década em termos de inclusão social, educação e trabalho. Envolver parceiros nacionais e internacionais em um debate conjunto sobre as condições e as estratégias de desenvolvimento brasileiras é um esforço que vem sendo feito ao longo dos seminários internacionais realizados pelo CDES em 2004, 2006 e 2009. Na abertura do primeiro seminário, em agosto de 2004, a exibição do vídeo de uma entrevista realizada dias antes pelo então secretário especial do CDES, Jaques Wagner, com o economista Celso Furtado trouxe ensinamentos sobre a importância da busca por um desenvolvimento acompanhado por distribuição de renda que fundamentaram os trabalhos do CDES nos anos seguintes: “É preciso distinguir crescimento de desenvolvimento. Crescer sem desenvolvimento produz concentração de renda. E concentração de renda é antissocial por definição”, disse Furtado. Outras palavras ditas pelo mestre da economia em 2004 ecoam até hoje nos trabalhos do CDES, como, por exemplo, a crítica à orientação neoliberal: “Planejar o presente e o futuro do País passou a ser coisa do passado. Como você pode dirigir uma sociedade sem saber para onde vai? O mercado é que decide tudo. O País passou a ser visto como uma empresa. A coisa mais importante para o governo de um país são os homens que você vai governar, é a massa da população, não são abstrações. Portanto, é preciso colocar o social à frente de tudo. Se não avançar na criação de emprego e na distribuição de 5 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social renda, estamos andando para trás”, disse. Sobre a missão do CDES, Furtado destacou que “o desenvolvimento é o resultado de um desejo da sociedade, uma construção, fruto da vontade coletiva de uma nação”, mas que “é preciso que ela tenha vontade de fazê-lo”. Crise global Durante a 40ª Reunião Plenária do CDES, a presidenta Dilma saudou os dez anos de atuação do Conselho e disse que as recomendações que dele saíram tiveram um “papel importante em tudo o que foi construído” pelo governo neste período: “Uma característica desse fórum que eu acho importante é o fato de ele ser plural, de ele ter essa capacidade de mostrar diferentes opiniões, diferentes posições, buscar um consenso, mas ao mesmo tempo ser capaz de externá-las”, disse. A presidenta reafirmou no pleno do CDES o compromisso do governo com o aumento da competitividade e dos investimentos: “Eu acredito que esse é um desafio do governo, dos empresários, da agricultura, dos serviços, do setor de educação e do setor de ciência e tecnologia. E ele precisa de vontade política, de diálogo franco e de parceria”. 6 O Seminário Internacional de 2013 foi um novo momento privilegiado de discussão sobre os caminhos para o desenvolvimento do Brasil e do papel que pode desempenhar na nova geopolítica mundial. O contexto global de tentativa de superação da crise econômica e a dinâmica nacional pelo aprofundamento das mudanças positivas no país desafiam mais uma vez o CDES a cumprir o destino que para ele foi imaginado quando criado há dez anos: construir um novo consenso estratégico nacional, de longa duração. MATÉRIAS Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES Dilma Rousseff: “O Brasil não quer voltar ao passado” No último Seminário Internacional sobre Desenvolvimento, a presidenta Dilma Rousseff traçou um panorama das conquistas obtidas pelo Brasil nos últimos dez anos, desde que o CDES foi criado, e incentivou seus integrantes a darem continuidade à missão de debater propostas oriundas dos diversos setores da sociedade brasileira para o desenvolvimento do País. A presidenta afirmou também que o atual momento de reivindicações populares por mais avanços sociais indica que os brasileiros não desejam um retorno ao passado, mas sim o aprofundamento de conquistas que somente foram possíveis a partir da mudança de paradigma do governo, que passou a encarar o combate à desigualdade como prioridade. “Quando nós promovemos a ascensão social – e hoje estamos perto de eliminar a pobreza extrema – sabíamos que isso era só o começo para maiores exigências. Quando criamos um grande contingente de cidadãos com melhores condições de vida e com maior acesso à informação, vimos surgir um cidadão com novas vontades, anseios, desejos, exigências e demandas. Ninguém, neste último mês de várias manifestações, pediu a volta ao passado. Pediram, sim, o avanço para um futuro com mais direitos e mais democracia. Exigiram avanços, e tudo o que ocorreu floresceu justamente em meio a um processo de mudança que estamos fazendo no Brasil há uma década”, disse a presidenta. Dilma lembrou que entre 2003 e 2013 “ocorreu a maior redução da desigualdade dos últimos 50 anos” no Brasil: “Foi nesta década que criamos um sistema de proteção social que vai nos permitir praticamente superar a extrema pobreza. Em um mundo que desemprega, criamos quase 20 milhões de empregos com carteira assinada. Onde os países se endividaram e o déficit público chegou a níveis extraordinários, nós construímos o controle da inflação”, enumerou. Agora, segundo a presidenta, o Brasil quer mais: “Fizemos nestes dez anos o mais urgente e necessário para superar aquele nosso momento histórico, mas agora fomos cobrados a fazer mais. Queremos e devemos fazer mais. Democracia gera o desejo de mais democracia. Inclusão provoca cobranças por mais inclusão. Qualidade de vida desperta o anseio por mais qualidade de vida. Para nós, o fim da miséria e todos os outros avanços conquistados são só o começo. Todos nós queremos mais”, disse. A Presidenta afirmou querer “incorporar empresários e trabalhadores cada vez mais nesse processo” e saudou o papel cumprido 7 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social pelo CDES neste novo momento vivido pelo País na última década: “O CDES merece calorosos cumprimentos pelos dez anos de atividades. Tem sido um interlocutor muito importante do governo, seja por sua capacidade de análise e formulação, seja por sua representatividade. O diálogo travado no Conselho tem sido fundamental, e o Brasil hoje não pode prescindir de canais desse tipo, conectado como o Brasil real. Essa conexão é estratégica para que de fato possamos melhorar as questões de representatividade no Brasil. Este Conselho demonstrou nestes dez anos que, ao representar os segmentos mais diferentes colocou os interesses do País acima de interesses específicos”. Ao assumir a luta contra a desigualdade como prioridade para o País, o CDES, disse a presidenta, ajudou a pavimentar o caminho hoje trilhado pelo governo: “O maior obstáculo ao desenvolvimento era a desigualdade. Ao colocar isso no centro de suas discussões, o CDES deu um passo à frente para que possamos reduzir a desigualdade entre regiões, entre homens e mulheres, entre negros e brancos, entre empresas de diferentes tamanhos, entre setores produtivos, ente cidadãos na base e no topo da pirâmide social. Avançamos muito no combate, mas o CDES nunca deixou de registrar que ainda há um longo caminho a percorrer para que o Brasil seja um país sustentável e justo. Esse processo de avanço não deve, não pode e não será interrompido. Ao contrário, está sendo mantido e ampliado. Estamos vencendo focando nos desafios que queremos superar”. 8 Críticas infundadas Dilma criticou o que qualificou como críticas infundadas a atual situação do País: “Aproveito para repelir as posturas pessimistas contra a economia brasileira em um futuro próximo. Os dados desmentem esse pessimismo, hoje temos melhores condições do que tivemos em anos passados. Não estou dizendo que não temos que melhorar, mas temos a força necessária para superar os desafios”, disse. Ao falar das “parcerias e concessões que estão atraindo investidores”, a presidenta citou a 11ª rodada da ANP, que teve recorde de participação com 39 empresas de doze países, e da “expectativa positiva para outubro”, quando será realizada a rodada de leilão do pré-sal. Dilma citou ainda os dois leilões de energia elétrica ocorridos em maio e junho e as novas regras aprovadas para os portos brasileiros: “O País precisa enfrentar seus custos e o desafio de transformar o ambiente de negócios. Haverá um anúncio público de 50 terminais de uso privativo, o que indica que esse processo será também bem-sucedido ao abrir a participação de investimentos privados de nosso País”, disse, antes de afirmar que novos investimentos serão feitos entre agosto e dezembro nas rodovias, ferrovias e aeroportos. A presidenta garantiu aos conselheiros do CDES que a inflação está sob controle: “A inflação vem caindo de forma consistente nos últimos meses e temos certeza de que vamos fechar o ano com a inflação dentro da meta. A solvência do Estado brasileiro está garantida. Podemos ter a certeza de que o Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES Brasil tem uma situação de solvência e robustez fiscal. A dívida líquida é muito menor do que há dez anos e o déficit da previdência está em torno de 1% do PIB, um dos menores da década, assim como as despesas do governo. Os números reais mostram que é incorreto falar de descontrole da inflação ou das despesas do governo. É desrespeito aos dados ou à lógica, para dizer o mínimo. A exploração parcial dos fatos confunde a opinião pública e visa criar um ambiente de pessimismo. Trata-se de um barulho muito maior do que o fato. Temos problemas, sim, mas a situação é muito melhor do que no passado”. necessárias para dar respostas à nova realidade brasileira, inclusive o ambiente político criado pelas manifestações de junho. Enfatizei que era necessário ouvir a voz das ruas, interpretar e perceber que tinham um norte bem diferente das manifestações que vemos no mundo. Aqui, é uma questão de mais direitos sociais, mais valores públicos, éticos e de maior representatividade. É meu dever traduzir essas demandas em ações práticas do governo. Não devemos nem podemos ficar indiferentes, mas ter a humildade de reconhecer que lutar por mais direitos é algo que só honra o nosso País”. Pactos Dilma apresentou oficialmente ao CDES os cinco pontos do pacto que propôs à sociedade brasileira após as recentes manifestações: responsabilidade fiscal; reforma e planejamento urbano; educação; saúde e reforma política. Antes de serem apresentados ao CDES, os cinco pontos foram discutidos pela presidenta com lideranças do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e dos movimentos sociais. “A reunião do CDES tem uma pauta muito importante, que é discutir as ações 9 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social O CDES e as novas transformações brasileiras Os conselheiros Clemente Ganz Lúcio (DIEESE), Sérgio Haddad (ONG Ação Educativa), Jackson Schneider (Embraer) e Nair Goulart (Força Sindical) defenderam, no Seminário Internacional sobre Desenvolvimento, o papel do CDES como espaço de diálogo, envolvendo diferentes atores, para apontar soluções efetivas para problemas e para a realização das transformações necessárias para o País. “A mensagem vinda das ruas é a de que o País precisa passar por uma nova onda de transformações, que devem ter como alvo o bem-estar social, a qualidade de vida, o bem viver”, defendeu Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (DIEESE). “É urgente revitalizar instituições da vida pública capazes de revigorar o Estado brasileiro”, pontuou o conselheiro que participou do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento. Para que isso ocorra, ele defendeu que a reforma política precisa ser a prioridade número um, com mudanças no funcionamento dos partidos e no sistema eleitoral, além de ampliação do papel da sociedade nos processos propositivos e reiterativos. “A reforma política também requer o fortalecimento das instituições criadas nos últimos anos, como os conselhos, fóruns e conferências, para a elaboração de políticas públicas, controle e muitas vezes até gestão das próprias políticas pública”, acrescentou o diretor do DIEESE. Em sua intervenção, Clemente ainda retomou momentos históricos do Conselho. Lembrou que no início do órgão, 10 após pedido do então presidente Lula, foram apresentadas pelos conselheiros 300 diretrizes em prol do desenvolvimento do país, o que foi depurado para pouco mais de duas dezenas. Destacou também temas pelos quais o Conselho se debruçou ao longo dos anos, entre eles combate à desigualdade e reforma tributária. E, diante da presidenta Dilma, manifestou apoio aos pactos nacionais propostos após as manifestações de junho, como na saúde, educação e mobilidade urbana. Plano Nacional de Educação Coordenador de projetos estratégicos da ONG Ação Educativa e Conselheiro do CDES, Sérgio Haddad defendeu, no Seminário Internacional sobre Desenvolvimento, a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), enviado ao Congresso pelo governo federal em dezembro de 2011 e que ainda aguarda apreciação. O PNE apresenta dez diretrizes objetivas e 20 metas, seguidas das estratégias específicas de concretização até 2020. O projeto de lei determina também a ampliação progressiva do investimento público em educação a 10% ao final do período. Haddad defendeu o uso dos royalties do petróleo como forma de atingir essa meta. Ao falar em nome do Conselho, Haddad explicou que o tema da educação foi o primeiro consenso obtido nas discussões do CDES. O tema seria tratado não apenas como base para geração de “mão de obra e crescimento econômico”, mas também para o “desenvolvimento político, social, cultural e ambiental”. Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES O coordenador da Ação Educativa disse ainda ser necessário uma “visão sistêmica da educação”. Isso significa pensar nas relações entre ensino infantil, fundamental, médio, superior e técnico. Ou seja, o ensino superior melhora a qualidade do ensino oferecida por professores, assim como um maior grau de escolaridade dos pais pode ajudar os filhos em sua trajetória na escola. Conselheiro Clemente Ganz Lúcio (DIEESE) Mas há mais desafios pela frente, na visão de Haddad. Um deles trata-se da desigualdade regional, ainda apontada nos indicadores, apesar dos “esforços recentes” do poder público. “A educação não pode ser fator de reprodução de desigualdade”, reforçou o conselheiro. Um segundo desafio diz respeito à superação das dificuldades de coordenação entre União, estados e municípios na gestão da educação. Segundo Haddad, há cidades com escolas geridas por um desses atores, com regimes diferentes para os alunos e também professores, em termos de plano de carreira e salários. “Temos de avançar na corresponsabilidade entre todos”, defendeu. Conselheiro Sérgio Haddad (ONG Ação Educativa) Conselheiro Jackson Schneider (Embraer) Desenvolvimento sustentável O conselheiro Jackson Schneider, vice-presidente na Embraer, falou sobre o crescimento econômico pela via do investimento, defendendo um desenvolvimento sustentável, com inserção social e disponibilidade de serviços de alta qualidade: o aumento dos investimentos produtivos deve se aliar à Conselheira Nair Goulart (Força Sindical) 11 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social melhoria de infraestrutura e ao investimento em educação. Urbanização e mobilidade Schneider alertou para a interdependência global, o quadro de crise internacional e os frequentes fatores de instabilidade que dificultam o propósito de o País aumentar a taxa de investimento. O conselheiro citou diversas medidas de longo prazo adotadas pelo governo brasileiro – desoneração de setores, ajuste de câmbio, queda de juros, entre outras – que buscaram diminuir os custos de produção das empresas, com o intuito de desencadear um ciclo virtuoso de investimento e aumento de produtividade. Apesar das evoluções positivas, ele alertou para o fato de o Brasil ainda ser um país caro para investir, com um ambiente regulatório que desestimula o empreendedorismo e os investimentos. razão de a vida urbana ainda ser orientada Para o conselheiro, a infraestrutura é uma área em que muitos investimentos podem ocorrer e que pode “destrancar” os investimentos em outros setores. Ao encontro de debates do CDES, as soluções passam pelas medidas que o governo está tomando: trabalho com o setor privado por meio de concessões e PPPs. Ele também colocou a qualificação de mão de obra e a simplificação tributária como essenciais. Schneider destacou ainda a necessidade de esforço efetivo entre governo, legislativo e sociedade, para solução dos problemas que são de todos. 12 Já a conselheira Nair Goulart indagou a pelos imperativos de interesses de poucos, mesmo com a construção de tantos fóruns de diálogo, avanços legais, nestas décadas de redemocratização do Brasil: “não há como deixar de lado o debate sobre a questão urbana brasileira e as políticas públicas que façam prevalecer o interesse da maioria”, afirmou. Nair Goulart observou que, ao longo do século XX, o Brasil sofreu um rápido processo de urbanização, que aliou a expulsão da população rural à ocupação das grandes cidades. Como pesada herança deste processo, as desigualdades sociais ficaram ainda mais evidentes nos grandes centros urbanos do País. Frente a esse quadro, defendeu, é preciso adotar estratégias locais, com investimento, planejamento urbano, adoção de transportes públicos de qualidade, com redes de drenagem e saneamento, em ações articuladas entre os vários entes federativos. Nair também indicou a necessidade de adotar programas de mobilidade urbana sustentável, no intuito de favorecer o transporte coletivo de massa, expandir ciclovias e estimular caminhadas, em articulação com projetos de desenvolvimento urbano e de uso do solo. Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES Marcelo Neri: O Brasil está crescendo com qualidade anos o país não apenas cresceu, mas também distribuiu melhor sua riqueza. De acordo com ele, esse é um fator relevante porque reflete a “impressão digital” desenvolvida pelo CDES nos últimos anos. É uma situação diferente daquela dos países desenvolvidos afetados pela crise internacional. Recém-chegado de um seminário na Grécia, Neri relatou a dificuldade daquele país, onde o Ao fazer sua intervenção no Seminário salário real caiu 50% em cinco anos e a taxa de Internacional sobre Desenvolvimento, realizado desemprego atinge 27%. O Brasil, em direção em Brasília, no dia 17 de julho, para celebrar oposta, elevou seu rendimento médio em 40% os dez anos do Conselho de Desenvolvimento no mesmo período e o desemprego está na Econômico casa dos 5% - considerado pleno emprego. e Social da Presidência da República, o ministro Marcelo Neri (Secretaria de Assuntos Estratégicos), que também é secretário-executivo do Conselho, tratou de analisar o crescimento econômico recente do País. Não apenas sobre o quanto o Brasil tem crescido, mas também que tipo de crescimento tem sido esse e como ele reflete na vida das pessoas. O secretário-executivo do CDES se referiu também aos índices de felicidade, lembrando que o Brasil segue entre os países mais felizes – era o décimo-oitavo – entre 160 nações pesquisadas. Ele destacou o fato de que os brasileiros estão entre os mais otimistas quanto ao futuro – “um traço de nossa Neri mostrou que os setores mais pobres personalidade”. No entanto, a nota dada da sociedade brasileira estão mais próximos, ao País costuma ser um pouco mais baixa, em termos de renda recebida, dos setores mais revelando certo descompasso entre esperança ricos. Isso significa, portanto, que nos últimos e realidade. 13 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Para diretor da OMC, cenário mundial está mais complexo e menos acolhedor Cinco anos depois da crise econômico- Houve um início de redesenho da arquitetura de -financeira internacional de 2008, o mundo governança global com mudanças na estrutura é do Fundo Monetário Internacional (FMI), como mais complexo e menos acolhedor. a a transferência de cotas dessa instituição para emergência de novos atores globais não países com economias emergentes dinâmicas governamentais com capacidade de mobilização como o Brasil. No entanto, ressaltou Eduardo social e formação de opinião. Menos acolhedor dos Santos, há ainda forte resistência às porque a crise fez surgir formas mais sofisticadas mudanças e permanece um forte déficit de de protecionismo e novos países com poder representação nestas instituições. Para ele, decisório nas instâncias de governança global. o maior risco hoje é a ameaça de esfacelamento Essas foram as principais conclusões do painel de autoridade do Conselho de Segurança “Transformações no contexto global e os desafios da Organização das Nações Unidas (ONU). para a governança”, que abriu o Seminário “A reforma desse conselho é inadiável e é Internacional sobre Desenvolvimento de 2013. uma condição para assegurar a possibilidade Mais complexo porque se consolidou O embaixador Eduardo dos Santos, ministro de Relações Exteriores em exercício, destacou o aumento de complexidade do cenário de governança internacional, com o surgimento de novos atores não governamentais. Outra novidade importante nos últimos anos foi a mudança no processo decisório mundial, da qual a eleição do brasileiro Roberto Azevêdo para a direção-geral da OMC é um exemplo. O embaixador citou ainda a consolidação do G-20 como fórum de líderes, após a crise de 2007-2008. “Esse grupo assumiu escopo e significado mais amplo a partir de 2002, com o reconhecimento da insuficiência do G7 e do G8 para lidar com a crise”. governança diplomata brasileiro. O retorno do protecionismo O diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, apresentou alguns elementos para justificar a tese de que o mundo se tornou um lugar menos acolhedor. Ele tomou o ano de 2008, que marca o início da crise econômico-financeira internacional, como a referência central dessa análise. Segundo Azevêdo, os cinco anos de lá para cá são importantíssimos pelos efeitos que apresentaram. Em primeiro lugar, destacou, o protecionismo voltou de maneira mais de subsídio à exportação, de cotas restritivas internacional ou outras medidas facilmente identificáveis. incluíram países em desenvolvimento, como Hoje o protecionismo é mais sofisticado, o Brasil, nas mesas de tomadas de decisões. como as políticas estatais de apoio a setores 14 na representatividade do Conselho”, defendeu o sofisticada. “Não é o protecionismo tradicional, De um ponto de vista concreto, as mudanças do multilateralismo e diminuir o déficit de Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES fragilizados (setor financeiro, setor automotivo, tudo isso aumenta o quadro de incerteza no por exemplo) e outros tipos de subsídios cenário mundial. domésticos. Os países que têm mais recursos para apoiar suas empresas e seus empregos, estão agindo nesta direção. O protecionismo tradicional não é o único que existe”. Esses países emergentes, lembrou ainda Roberto Azevêdo, foram muito resistentes no momento da crise. “Foram as economias que conseguiram crescer. São os países que Segundo efeito apontado pelo diretor- até hoje têm taxas de desenvolvimento mais -geral da OMC: com as novas tecnologias, altas. As moedas desses países são valorizadas. o volume de capital que atravessa as fronteiras Há um impacto negativo dessa valorização é muito maior. Apesar da crise de 2008, admitiu sobre as exportações, mas é um dado novo Azevêdo, pouco se mudou em termos de com importantes repercussões na capacidade governança financeira. “O mundo financeiro de investimento dessas nações. A China hoje segue tão pouco regulado quanto era em tem hoje um estoque de investimentos de 2008. Pouco ou nada mudou”. 1,2 trilhões de dólares. Hoje, uma em cada Em terceiro lugar, os países desenvolvidos estão crescendo mais devagar. A superação da quatro grandes transnacionais estão sediadas em países do Sul”, exemplificou. crise de 2008 vai demorar e, em muitos casos, Mas esse aumento de influência e se dará em um quadro de desemprego alto, poder tem uma contrapartida no plano o que exacerba muito a sensibilidade política dos da países onde isso ocorre. A crise orçamentária “Países como o Brasil não são mais vistos na zona do euro, as crises políticas em várias como regiões e o surgimento dos países emergentes, precisam de ajuda. Nas mesas de negociações, responsabilidade, países em ressaltou Azevêdo. desenvolvimento que 15 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social também, cenário de grande incerteza onde os chamados abrindo novos mercados, comprando mais, países emergentes têm um papel muito maior. compartilhando responsabilidades nos fóruns “O espaço de negociação se tornou muito de governança global”. Essa nova realidade mais estreito. Nós temos mais voz, mas agora traz estamos negociando entre pares, para ganhar são chamados algumas a contribuir interrogações, acrescentou. “Esse mundo emergente está se agregando ao mundo desenvolvido ou está se erguendo como um contraponto a esses países?” A pergunta ainda está em aberto, assinalou. A conclusão disso tudo, enfatizou o diretor-geral da OMC, é que se trata de um 16 algo tem que ceder algo. O mundo é hoje um lugar menos acolhedor para questões de desenvolvimento. Isso significa que o trabalho de fóruns como este do CDES é fundamental para enquadrar o debate do desenvolvimento em um âmbito mais humano e social, e não só na dimensão econômica”, disse Azevêdo. Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES Ministros convocam CDES a participar de pacto pela Saúde Os ministros da Saúde, Alexandre Padilha, e da Educação, Aloizio Mercadante, convocaram os integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) a auxiliarem o governo no debate e formulação das políticas públicas que visam o aumento do número de médicos no Brasil e a ampliação do atendimento em todas as regiões e para todas as camadas sociais do País. Ao lado da presidenta Dilma Rousseff, que defendeu um pacto social pela saúde, Padilha e Mercadante participaram do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento. Ambos defenderam junto aos conselheiros e às conselheiras as mudanças recentemente anunciadas para o setor. Padilha afirmou que a área de saúde representa hoje 30% dos investimentos em inovação tecnológica realizados pelo país, e que o governo tem investido no aumento dos serviços e no aprimoramento da gestão: “Nos últimos cinco anos, aumentamos em 70% os serviços e em 45% os equipamentos que dependem exclusivamente de médicos. Aumentamos em 17% o número de leitos e em apenas 14% o número de médicos”, disse. O ministro apresentou outro dado que, segundo ele, revela a necessidade que o Brasil tem de mais médicos: “Nos últimos dez anos, geramos 143 mil primeiros empregos de carteira assinada para médicos e formamos 93 mil médicos. Geramos, portanto, 50 mil postos a mais do que nossa capacidade atual de formação”. Nos últimos dez anos, segundo Padilha, o Brasil multiplicou por quatro seu investimento per capita em saúde. Apesar disso, diz o ministro, “a oferta de médicos no País é crítica” e muitos hospitais brasileiros funcionam sem número suficiente de médicos: “O Brasil tem poucos médicos e eles são mal distribuídos. Vinte e dois estados brasileiros estão abaixo da média nacional de 1,2 médicos para cada mil habitantes, que já é baixa. Cinco estados se encontram em situação de alta escassez, com menos de um médico para cada mil habitantes, e mesmo dentro dos estados a situação é desigual. No passado não formamos os especialistas de que precisávamos”. O aumento do número de médicos formados, segundo Padilha, terá um “enorme impacto social” em todo o país: “Precisamos dar oportunidade ao jovem negro, da periferia, do interior, da classe média baixa. Dar oportunidade ao médico que quiser se especializar. Precisamos também mudar a formação médica, por isso é importante a adoção do segundo ciclo de formação com o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS)”, disse. O ministro afirmou ser fundamental a participação dos diversos setores da sociedade no debate sobre o pacto pela saúde: “O CDES é um espaço privilegiado para essa discussão, que deve ser movida pelo interesse nacional e não por interesses corporativos”. Novos médicos O ministro Aloizio Mercadante falou sobre a necessidade de aumentar o ingresso de novos médicos no mercado de trabalho brasileiro 17 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Ministro Alexandre Padilha Ministro Aloizio Mercadante a partir do aumento do número de vagas sendo debatido no Ministério da Educação e no Conselho Nacional de Educação, com provável aplicação a partir de 2015: “Esse ciclo será feito em forma de serviços que serão prestados no SUS. Não é uma iniciativa inédita nem, absolutamente, uma coisa específica do Brasil, pois é praticada em pelo menos 13 outros países, inclusive em alguns que são referências em serviços de saúde”, disse. Mercadante anunciou que, enquanto estiverem prestando serviços ao SUS, os médicos em segundo ciclo de formação receberão bolsa de auxílio financeiro e supervisão acadêmica. Além disso, serão obrigatoriamente alocados em unidades próximas à sua região e terão sua prestação de serviço vinculada à residência médica. nas faculdades de medicina em todo o Brasil. Nos últimos dez anos dobrou o ingresso de estudantes de que formou 14.634 assim, sob qualquer medicina no médicos: parâmetro País, “Ainda que a gente analise, faltam médicos no Brasil. Temos que ter uma política pública para uma melhor distribuição dos médicos no Brasil, pois eles estão muito concentrados”, disse. Mercadante afirmou que “existem dois caminhos para melhorar a oferta de médicos” no Brasil: “Um deles é o Revalida, que é uma prova que todo médico faz e todo médico estrangeiro que quiser trabalhar aqui terá de fazer, que não é nem mais nem menos do que é exigido do estudante de medicina no Brasil. O outro é o programa Mais Médicos, que trará mais médicos para trabalhar no Brasil, nas condições que o Ministério da Saúde está desenvolvendo”. O ministro falou também sobre a adoção do segundo ciclo de formação, que está 18 Políticas afirmativas A polêmica criada em torno das propostas do governo para o aumento do número de médicos foi comentada por Mercadante: “O debate sobre esses dois anos de formação Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES complementar dos médicos é intenso. Da mesma forma que o debate sobre o ProUni, quando sofremos grande resistência, inclusive uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a alegação de que iríamos comprometer a qualidade do ensino. Hoje, os alunos do ProUni têm desempenho muito próximo dos demais alunos. Também sofremos resistência quando fizemos o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou defendemos a adoção da política de cotas nas universidades”. As políticas afirmativas do governo na área de educação, segundo Mercadante, sempre foram alvo das críticas das elites. Como resposta, ele citou os 24 mil estudantes de medicina que atualmente recebem bolsas do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES): “Os alunos pobres e carentes do FIES só têm condições de concluir seu curso de medicina com a bolsa que recebem. Depois, para pagar esse financiamento, precisarão de oito anos de serviços no SUS. Mas, para isso não houve crítica. Sabem por quê? Porque são pobres”, encerrou o ministro. 19 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Rede de Conselhos Econômicos e Sociais da América Latina e Caribe lança Carta de Brasília Realizada no dia 18 de julho, em Brasília, na sequência do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento, a Oficina da Rede de Conselhos Econômicos e Sociais da América Latina e Caribe (CESALC) reuniu representantes de nove países da região, além de convidados europeus, em mais uma rodada de aproximação global entre os conselhos sociais e instituições similares. Ao fim da Oficina, seus participantes aprovaram a Carta de Brasília, documento que se compromete a “fortalecer a CESALC como um instrumento de diálogo e de troca de saberes, possibilitando a difusão das experiências existentes e estabelecendo uma agenda de temas de interesse comum de debates”. Assinada por representantes dos conselhos econômicos e sociais do Brasil, Argentina, México, Honduras, Panamá, República Dominicana, Guatemala, El Salvador e Curaçao, a Carta 20 reitera o compromisso com o fortalecimento de cada membro da CESALC, “compreendendo as peculiaridades de cada um e os desafios comuns e buscando promover processos de aperfeiçoamento e de inovação do instrumento e a difusão dos impactos dos resultados do diálogo”. Os presentes à Oficina também se comprometeram a “participar da administração da CESALC, contribuindo para a sua consolidação e estabelecendo um modelo de gestão compartilhada, bem como uma agenda anual de atividades organizadas conjuntamente ou por um determinado membro da Rede” e a “contribuir para a divulgação das experiências dos conselhos econômicos e sociais, suas propostas e resultados no Portal da CESALC, instrumento a ser permanentemente fomentado por todos os membros da Rede e que visa facilitar e o fluxo das informações”. Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES A Carta de Brasília traz ainda três recomendações que devem nortear as ações da CESALC nos próximos anos: i) o fortalecimento do modelo de governança participativa e dos conselhos, garantindo seu funcionamento e representatividade; ii) o fortalecimento dos atores e organizações da sociedade, garantindo protagonismo nos processos de participação; e iii) a criação de novos conselhos econômicos e sociais e instituições similares em países latino-americanos e caribenhos. e a capacidade de definir de forma participativa os grandes rumos do desenvolvimento”. Diálogo Além dos representantes dos conselhos econômicos e sociais dos nove países da região, também participaram da oficina da CESALC o Programa EUROsociAL da Comissão Europeia; o Conselho Econômico e Social da Espanha; o Banco Mundial; a Câmara Cívica da Federação Russa; a Associação Internacional de Conselhos Econômicos e Sociais e Instituições Similares (AICESIS); o Conselho Nacional de Economia e Trabalho (CNEL) da Itália; e o Centro Nacional de Planejamento Estratégico do Peru (CEPLAN). A Oficina da CESALC foi dividida em três mesas de diálogo, realizadas ao longo do dia com os temas: potencial e oportunidades, eixos de atuação e governança e gestão. As mais importantes considerações feitas pelos representantes dos países da América Latina e do Caribe durante as mesas de diálogo referem-se à afirmação de que a criação de conselhos econômicos e sociais e instituições similares na região “tem contribuído para ampliar a interlocução entre os governos e a sociedade O documento afirma que “as contribuições dos conselhos econômicos e sociais devem favorecer a qualidade das ações dos governos e produzir resultados concretos nas políticas públicas”, e que “a pluralidade da composição dos conselhos econômicos e sociais e instituições similares permite que o diálogo seja enriquecido pela diversidade das visões e perspectivas e gere pactos”. 21 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social O fortalecimento mundial dos Conselhos Econômicos e Sociais Desde sua criação há dez anos, um dos principais objetivos do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) é promover o debate internacional sobre as questões ligadas ao desenvolvimento a partir de uma ótica de cooperação e entendimento entre os diversos países que buscam o caminho da sustentabilidade e da inclusão social. Um balanço sobre o avanço dessa cooperação foi realizado por alguns representantes estrangeiros que participaram em Brasília do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento organizado pelo CDES. Secretário geral da Associação Internacional de Conselhos Econômicos e Sociais e Instituições Similares (AICESIS), o francês Patrick Venturini revelou sua “grande satisfação” com o fato de o CDES estar completando dez anos de atividades e afirmou que o exemplo dado pelo Brasil ao instituir esse espaço privilegiado de diálogo entre os diversos setores representativos da sociedade serviu como “importante estímulo” para que outros países buscassem experiência semelhante: “Em 1999, tínhamos 25 países na mesa de negociações da AICESIS. Atualmente, temos 71 países, sendo dezenas de países da América Latina e com cada vez mais países da Ásia. Cada país tem buscado mobilizar suas forças sociais e temos conseguido realizar trocas de experiências muito boas”, disse. Representante residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, o argentino Jorge Chediek afirmou que o fortalecimento de conselhos econômicos e sociais nos países da América Latina contribuiu 22 Patrick Venturini (AICESIS) Jorge Chediek (PNUD) Julián Ariza (Conselho Econômico e Social da Espanha) Gustavo Porras (Conselho Econômico e Social da Guatemala) Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES para o surgimento de políticas econômicas e macroeconômicas inovadoras na região: “Estamos criando novas formas de fazer política e desenvolvimento, e muitas dessas políticas não serão implementadas pelos tradicionais marcos do Estado. Por isso, achamos que o processo desenvolvido no Brasil, tanto de realização das conferências setoriais quanto da atuação do CDES é tão importante, por romper com as estruturas da política clássica”. Chediek anunciou que na próxima semana serão apresentados os resultados de um estudo, realizado em parceria entre o PNUD e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com índices de desenvolvimento humano das cidades brasileiras: “Para cada prefeitura, foram analisados 130 dados diferentes. Este será mais um instrumento de apoio ao desenvolvimento e à implementação das políticas sociais no Brasil”, disse. Representante do Conselho Econômico e Social da Espanha, Julián Ariza fez uma comparação entre as situações de seu país, mergulhado em crise econômica desde 2008, e o Brasil, que vem enfrentando os efeitos da mesma crise com políticas de estímulo ao consumo e ao desenvolvimento: “O presidente do Banco Central europeu disse recentemente que o estado de bem estar social na Europa está morto. Está acontecendo uma mudança do modelo social na Europa. Ao objetivo de correção do déficit, se atrelaram todos os demais, inclusive o emprego. Na Espanha, vivemos uma nova distribuição do emprego e das riquezas, com enorme desigualdade”, disse. Ariza, no entanto, afirmou que o Conselho espanhol continua seu trabalho: “Seguimos tendo confiança nesse diálogo institucionalizado e no futuro de nosso País”, disse. Um exemplo de avanço social ocorrido nos últimos anos foi relatado por Gustavo Porras, presidente do Conselho Econômico e Social da Guatemala. Entre as conquistas guatemaltecas citadas por Porras, estão o aumento da participação dos indígenas e das mulheres nos processos políticos e sociais, a profunda mudança de paradigma na educação, com 98% das crianças matriculadas na escola e o aumento da organização de base local: “Estes capitais sociais fazem da Guatemala cada vez menos uma sociedade oligárquica”, disse. 23 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Moema Miranda: “Mobilizações nas ruas exigem nova política” A sociedade que emerge dos protestos em todo o mundo – Primavera Árabe, Occupy Espanha, Occupy Wall Street – e a recente onda de manifestações no Brasil exige uma nova política, capaz de trabalhar com representações plurais e superar a divisão de classes. Essa é a avaliação de Moema Miranda, diretora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), que participou da Oficina da Rede de Conselhos Econômicos e Sociais da América Latina e Caribe, em Brasília, no dia 18 de julho. “Não muito tempo atrás nós pensávamos que as pessoas que tomaram o poder representavam o trabalhador ou o empresário, exclusivamente. Mas hoje em dia há trabalhadores e mulheres, ou negros, ou índios, e nós temos de encontrar um diálogo e interesses comuns a todos esses perfis”, afirmou ela. Outra novidade dos tempos recentes apontada por Miranda trata-se da crescente importância da variável ambiental nos temas relacionados ao desenvolvimento e à luta por justiça social. Nesta equação, não é mais suficiente crescer a economia e distribuir a riqueza para que um país ou uma região sejam mais iguais, mas, sim, é necessário sempre considerar o impacto do desenvolvimento sobre o meio ambiente. “Tivemos muitos avanços no Brasil, mas continuamos a ser um país extremamente injusto. Há muita pobreza e é preciso criar oportunidades para todos. Mas temos que reduzir os efeitos sobre a nossa ‘mãe gentil’, como diz nosso hino nacional”, disse ela. 24 Além disso, sua avaliação é a de que as instituições precisam desenvolver ferramentas para estimular o diálogo entre diferentes interesses. Mas, infelizmente, não existe uma fórmula que garanta o sucesso. Seria necessário inovar no formato e nas metodologias. “Se há alguma coisa nova sobre a qual refletir, não podemos ter medo de cometer erros, precisamos experimentar, nos permitir não ter certezas”, provocou Miranda, diante dos participantes da oficina que buscavam justamente ampliar suas conexões. Nessa lógica, o diálogo torna-se imperativo, “porque é o espaço em que nós colocamos nossas convicções diante do outro para que se transformem em dúvida”, defendeu. Na última década, o Brasil passou por um processo de redução da desigualdade, crescimento do nível de emprego e aumento de renda das famílias. Mesmo assim, o mês de junho de 2013 foi marcado por uma série de manifestações populares nas ruas de diversas cidades brasileiras, tendo como alvo o poder público e os políticos. Diante desse cenário, Moema Miranda defendeu a necessidade de adotar uma postura aberta e ousada diante dos problemas sociais expostos pelas manifestações para conseguir criar novas institucionalidades e práticas políticas capazes de dialogar com essas demandas. Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES Secretária da CEPAL: “O Brasil está melhor do que a imprensa diz” Apesar da deterioração da expectativa de economistas e empresários sobre o Brasil, a mexicana Alicia Bárcena Ibarra, secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), avalia que a saúde econômica do País é boa. Segundo ela, diversos indicadores brasileiros seguem superiores aos de outros países latino-americanos e aos das nações desenvolvidas. Bárcena participou do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento, em Brasília, que celebrou os dez anos de existência do CDES, no dia 17 de julho. A secretária-executiva da CEPAL afirmou que, diante da persistência da crise internacional, com recessão na Europa, baixa expansão nos EUA e desaceleração da China, o Brasil está menos exposto do que outras nações latino-americanas. Isso porque seu PIB depende menos de exportações, ingressos de turismo e remessas de nativos no exterior. Em 2013, a CEPAL estima uma expansão para o Brasil de 2,5%, pouco abaixo da média da América Latina, na casa dos 3%. O país da região que mais deverá crescer será o Paraguai, com 12,5%, puxado por uma extraordinária colheita de soja. O sinal de que há exagero negativo na análise sobre a economia brasileira também vem dos estrangeiros: o Brasil lidera com folga o recebimento de investimentos estrangeiros diretos em 2012, com US$ 65 bilhões. Na sequência estão Chile, Colômbia e México. “Os dados provam que o Brasil segue muito atrativo para os investimentos. Fizemos uma análise para entender em que setores são aplicados esses recursos e descobrimos que boa parte segue para o ramo manufatureiro, não extrativo, o que é muito positivo”, explicou Bárcena. “O Brasil está melhor do que a imprensa diz”, resumiu ela. Ao analisar a crise internacional, a economista mexicana criticou a política de austeridade na Europa e elogiou os governos latino-americanos por não terem optado por esse caminho. Para ela, essa escolha é fruto de mobilizações sociais que permitiram a quebra do paradigma de décadas anteriores, em que a “consolidação fiscal” era a base do processo. “Promover a igualdade implica reconhecer direitos e romper com um paradigma econômico que elevou a desigualdade”, afirmou. Bárcena reforçou que milhões saíram da pobreza na região, a maior parte no Brasil, onde 40 milhões deixaram essa condição. Hoje, segundo ela, a América Latina é mais resistente às crises do que o mundo desenvolvido. Para que a região avance ainda mais, Bárcena defendeu mais crescimento econômico, desde que baseado na sustentabilidade ambiental, e a recusa da consolidação fiscal como uma política absoluta. Além disso, enfatizou a necessidade de investir ainda mais em proteção social universal à população e uma estrutura com melhor distribuição dos fatores produtivos. 25 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social ANÁLISES Belluzzo: Brasil precisa superar enganos conjunturais e fazer política macroeconômica Maria Inês Nassif (*) O Brasil saiu-se “muito bem” da crise financeira mundial de 2008, mas ainda tem que enfrentar sérios problemas, como “a relação perversa entre juros e câmbio”, a saída do País de sua estrutura de fornecimento e a precariedade de sua infraestrutura. É o que pensa o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, para quem a presidenta Dilma Rousseff tem uma visão clara do que deseja para o País a longo prazo, mas terá de enfrentar fortes obstáculos para concretizar um projeto de futuro. Um deles é a dificuldade dos agentes econômicos de privilegiar as decisões conjunturais às de caráter macroeconômico. Um engano dessa visão conjuntural, por exemplo, é tomar a desindustrialização do País como uma transição para uma “economia de serviços”. “Isto é uma fuga da realidade”, adverte o professor. Estados Unidos e Europa, que viveram desse engano nas últimas décadas, hoje se empenham em se reindustrializar, tentando levar, de volta, as empresas que saíram de seus países para o mundo, atrás de maiores vantagens para produção. O Brasil precisa não apenas retomar sua industrialização, mas fazer sua reintegração produtiva no mundo, diz Belluzzo. Nessa reacomodação interna e externa, deve inclusive rever questões como o protecionismo. Não é nada fora de propósito, por exemplo, a presidenta querer exigir das empresas que vão explorar o Pré-Sal um alto grau de conteúdo nacional. Os planos para o futuro, todavia, não podem prescindir de uma atenção especial à educação – não propriamente a educação técnica, mas a educação humanista, aquela que dê elementos para o cidadão entender e julgar. “É preciso formar cidadãos, para que não se forme o especialista idiotizado”, diz. Belluzzo considera importante a consolidação de uma cultura democrática de debate em espaços de “controvérsia e discussão”, a exemplo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – e para que eles funcionem, o fundamental é a diversidade de formação e de pontos de vista. Espaços de mediação Para Belluzzo, a democracia não pode se resumir exclusivamente ao voto. Os espaços de controvérsia e discussão fazem parte do processo democrático. “A cidadania é o exercício permanente de participação”, afirma. No Brasil, todavia, instâncias intermediárias, destinadas a aproximar o escolhido pelo voto e o cidadão, não são levadas muito em conta. “Essas práticas foram construídas pelos governos do PT e num período ainda mais recente nos descuramos um pouquinho da importância dessas práticas”, afirmou o economista. Exemplos positivos dessas práticas são o Orçamento Participativo e os conselhos. “Os conselhos têm representação do todo, portanto são fundamentais para a construção da vida democrática”, diz Belluzzo. (*) Jornalista e professora de comunicação na Faculdade Cásper Líbero/SP. 26 Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES E são particularmente importantes num Estado que ganha complexidade, e onde a burocracia tende a se tornar autônoma. grave, se ocorre a desvalorização cambial; e uma infraestrutura atrasada que onera muito fortemente a exportação do País. Para que o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) funcione, o fundamental é a “diversidade de pontos de vista e de formação”, opina. Para Belluzzo, o Brasil se comportou “razoavelmente bem” no pós-crise de 2008 – “aliás, acho que muito bem”, retifica – e a presidenta Dilma tem feito um grande esforço para quebrar essa “relação perversa” entre juros e câmbio, que é um “convite para que as empresas tomem empréstimos em moeda estrangeira”. “Nós já assistimos esse filme várias vezes, provavelmente desta vez não vamos sofrer tanto, porque temos US$ 375 bilhões de reservas”, ressalva. De qualquer forma, é uma equação que traz um alto grau de instabilidade. Papel de coordenação do Estado “A tentativa de separar o Estado e o mercado é uma dicotomia falsa”, afirma Belluzzo. “Como dizia Fernand Braudel, não há capitalismo sem Estado.” E a agenda do Estado, segundo ele, tem de ser a de coordenar um mercado que não tem tendência a gerar bons resultados do ponto de vista da equidade; não tem tendência à estabilidade; nem permite projetar uma economia de longo prazo. O Estado deve restabelecer suas três funções: de “corretor de desigualdades”; de “evitar o excesso de instabilidade econômica”; e de planejar a longo prazo. Reformas estruturantes Belluzzo, Delfim Netto e o ministro Guido Mantega se reúnem regularmente para debater a economia. As preocupações se concentram em três questões, segundo Belluzzo: “a relação perversa que o Brasil tinha entre a taxa de juros e o câmbio, com câmbio muito valorizado e taxas de juros muito altas”; em decorrência, a saída da “estrutura de fornecimento” do País (o fornecimento interno passa a ser feito pelo exterior), que tem um efeito inflacionário potencialmente A infraestrutura brasileira estagnou na década de 1970, na crise da dívida externa brasileira, e hoje exibe enormes gargalos. É um enorme ônus para as exportações brasileiras, afirma o economista. A presidenta Dilma “tem clara a questão de longo prazo”, diz Belluzzo, mas enfrenta uma série de dificuldades, inclusive a de governar em um momento em que a conjuntura “tapeia”, ou seja, obscurece, a questão mais importante que é macroeconômica. Um dos enganos colocados pela conjuntura, exemplificados por Belluzzo, é a falsa ideia de que a economia brasileira vai se tornar uma economia de serviços. “Esta é uma fuga da realidade”, afirma. “Os americanos e os europeus, neste momento, estão desesperados para se reindustrializar”. 27 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social “Durante 30 anos marcamos passo na questão da industrialização”, afirmou. Nessas décadas, a indústria mundial mudou completamente e hoje está concentrada na Ásia e na China. As cadeias produtivas foram internacionalizadas. “E o Brasil ficou à margem do processo de internacionalização produtiva”, afirma. Para Belluzzo, a reintegração produtiva do País recoloca, neste momento, a questão do protecionismo. Dilma defende, por exemplo, que a exploração do petróleo na camada de Pré-Sal seja condicionada a uma forte demanda de conteúdo nacional. “Aí os conservadores dizem: não, isso é coisa atrasada. Não é atrasada: eles que são atrasados, pois na verdade, para manter e desenvolver e até atrair o capital estrangeiro (...) você precisa desse tipo de política”, afirma. E o fato é que, desde os anos 1970, o Brasil vive um declínio sistemático da indústria. A questão a ser resolvida num processo de desenvolvimento, para Belluzzo, é a educação – não necessariamente a educação técnica, mas fundamentalmente a educação cidadã. “É preciso a formação de cidadãos, para que não se forme o especialista idiotizado”, diz. “Você não pode ter um país desenvolvido sem ter um cidadão capaz de compreender”. “O meu maior medo”, diz Belluzzo, “é que o Brasil vire um país rico, próspero, mas com uma população insuficientemente formada e com baixo nível cultural”. Isto, segundo ele, não é defender uma ilustração das pessoas, mas “a capacidade de compreensão e de julgamento”. 28 Estado de Bem-Estar foi derrotado “O neoliberalismo não é um produto de [Ronald] Reagan ou [Margareth] Thatcher, é produto da derrota da luta social. Foi essa derrota que permitiu a ascensão de Reagan e de Thatcher”, afirma o professor. Ele aponta que, em no final dos anos 1960, meados dos anos 1970, “começou a haver um certo incômodo (...) com o poder dos sindicatos, com a interferência do Estado, ou seja, as classes dominantes e dirigentes começaram a se sentir incomodados dentro do espartilho que o Estado lhes colocava, com o poder do sindicato de reivindicar etc.” A primeira coisa que Reagan e Thatcher fizeram, o pontapé inicial para a retomada do liberalismo, foi derrotar os sindicatos. “Esse foi o fator fundamental e aí começaram as liberações, começaram a flexibilizar o mercado de trabalho, fizeram a liberação financeira etc.” Pior que 1929 A crise de 2008 repôs um problema tratado há 70 anos: a coordenação do sistema monetário internacional. Descortinou um sistema onde a coordenação torna-se impossível, na medida em que os Estados Unidos, país gestor da moeda de reserva, não assume responsabilidades globais e os países que não têm moeda conversível pagam pelo choque de qualquer mudança na política econômica norte-americana. “Não é possível que os Estados Unidos, que são os gestores da moeda de reserva e, Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES portanto, têm responsabilidades globais, tomem decisões em função de seus interesses que desorganizam a economia de todo o mundo”, diz Belluzzo. “Você não faz nada de errado, mas você leva o choque de qualquer mudança na política americana”. Para o economista, a crise atual remete à mesma discussão sobre o sistema monetário que se repete há 70 anos, sem que nada importante tenha efetivamente acontecido. Como as instituições multilaterais não cumprem o papel regulador, “cada um toma a atitude que acha conveniente”. “Não aconteceu nada em relação aos desequilíbrios internacionais, nem à questão da regulamentação ou do controle do sistema financeiro”, conclui. A grande crise do Século XXI também traz como desvantagem o fato de não ter produzido nada de novo, ao contrário da crise de 1929, que resultou em reformas importantes. “Os governos [apenas] protegeram seus sistemas bancários, impediram o que seria catastrófico, uma brutal desvalorização (...), mas não fizeram mais nada. Deixaram tudo como está.” Uma religião chamada economia “A economia é uma forma de conhecimento que, hoje em dia, se aproxima muito da religião, porque transformou certas coisas em dogmas”, afirma Belluzzo. E esses dogmas dominam as cabeças da maioria dos economistas formados nas melhores escolas americanas e europeias. O domínio ideológico da escola econômica neoliberal tem o poder de impedir grandes mudanças, segundo o professor. “Hoje se pode fazer pouca coisa para avançar, mas não se pode vencer o que está encastelado nas finanças e nas universidades que servem às finanças”, diz Belluzzo. Essa predominância constitui um verdadeiro “bloqueio ideológico” que, somado a debilidades do Estado atual de fazer mudanças, produzem uma grande dificuldade de governos de fazer política. “Você não tem mais um Estado capaz de fazer política”, diz Belluzzo. “O Estado americano, por exemplo, não passa de um comitê de empresas”, afirma. A exceção fica por conta do Estado chinês: “Ali se pode ganhar dinheiro à vontade, só que nas políticas de longo prazo do governo chinês ninguém mexe”. 29 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social O processo de desenvolvimento do Brasil na hora da verdade Milko Matijascic (*) O Seminário Internacional sobre Desenvolvimento promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social em comemoração aos seus dez anos de funcionamento discutiu temas da maior relevância com convidados de grande qualidade analítica. O evento foi pautado pela preocupação com o processo de desenvolvimento e as apresentações refletiram inequivocamente o impacto das manifestações ocorridas desde junho de 2013 por todo o Brasil. A dicotomia entre a formulação de estratégias de longo prazo e reivindicações populares reflete a atmosfera das discussões e marca os dilemas que pautam a formulação de políticas públicas hoje. A dicotomia entre a conjuntura e o longo prazo permearam o seminário e o esforço que se faz necessário visa compreender essas interações sem gerar dualidades que pouco ajudam a lidar com os fatos. Em diversas falas ficou claro que as opções adotadas pelo Brasil, ou seja, elevar o valor do salário mínimo e distribuir renda para as famílias mais carentes, além de ter apresentado um importante resultado social, com a redução da pobreza e reforço do mercado consumidor, coroado pela redução da informalidade e pelos baixos patamares de desemprego, também foi decisiva para enfrentar com sucesso a crise desencadeada em 2008. Ao recusar os ditames da austeridade como um fim em si e estimular a renda familiar, foi possível incentivar a demanda efetiva e reforçar a influência econômica do Brasil. Decorre daí que o Brasil, ao contrário da Europa e da América do Norte, não apresentou recessão, elevação do desemprego e precarização do mercado de trabalho. A rota foi oposta. Apesar de serem duramente criticadas, as medidas para reduzir a incidência de tributos e o estímulo ao crédito evitaram que o “tsunami financeiro” deteriorasse a economia brasileira. Assim, se é possível falar em estratégias de desenvolvimento e, mais importante, na busca de bem-estar social em condições sustentáveis para o meio ambiente, que são os seus predicados indissociáveis, isso se deve ao papel que o social exerceu para não destruir o arcabouço econômico. Romper com a dualidade entre econômico e social e compreender o seu caráter simbiótico foi a contribuição brasileira mais importante da contemporaneidade e largamente reconhecida por parceiros internacionais e pela esfera multilateral. Entretanto, o sucesso gerou problemas, como é bem sabido. Uma economia dotada de um nível de atividade tão elevado e que teve pouco investimento em bens e serviços destinados às populações com menor renda até a virada do milênio criou gargalos sérios (*) Doutor e Mestre em Economia pela Unicamp, onde atuou como pesquisador (1995–2003). Foi chefe da Assessoria da Presidência do IPEA (20082011) e assessor especial do ministro da Previdência (2004 – 2005). Atua como diretor de Pesquisa sobre a política social nos BRICS para a AISS, onde integra o Comitê Editorial da Revista Internacional de Seguridade Social desde 2008 (conceito A2 no Qualis CAPES). 30 Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES e por isso mesmo, insatisfação popular. Daí o foco apresentado pelos ministros da Saúde, Alexandre Padilha, e da Educação, Aloizio Mercadante para propor medidas concretas e reverter as dificuldades atuais. A precariedade no atendimento à saúde e o sofrível desempenho da educação, tão questionados pelas manifestações populares, ensejaram o foco em medidas de curto prazo para contratar e aperfeiçoar a formação dos médicos e a destinar recursos do pré-sal para melhorar a educação no Brasil. Os ditames de curto prazo também não foram negligenciados pela presidenta Dilma Rousseff ao colocar entre os cinco pactos nacionais, as áreas de saúde, mobilidade urbana, educação, responsabilidade fiscal e controle da inflação que representam também, é bom dizer, desafios para o desenvolvimento brasileiro. Obviamente, ao mesclar ações imediatas e de prazo maior é dado o reconhecimento que não é possível atingir metas de longo prazo sem que existam controle e condições de governança no curto prazo. Esse é o falso tipo de dualismo que os meios de comunicação reproduzem à exaustão, cujo mote é afetar o estado de confiança de quem pretende investir. Apesar disso, o sucesso das políticas de reforço à renda tem limites. A preferência pela transferência de renda não garante o atendimento das necessidades familiares dos trabalhadores. É preciso haver recursos para investir e prover serviços, pois as carências de infraestrutura econômica e social são gritantes. Transferir renda para que o indivíduo possa adquirir os bens e serviços, é incompatível com o nível de renda per capita e sua evolução projetada para médio e longo prazo. Imaginar que a iniciativa privada, com uma estrutura de preços e as margens de lucro como praticadas no Brasil, associada ao perfil de distribuição de renda vigente possa atender a todos é uma utopia nada realista. Pior, ela pode gerar novas formas de exclusão e colocar em risco uma democracia baseada no atendimento universal e na igualdade de oportunidades. A iniciativa privada não consegue atender as populações mais humildes para adquiri planos de saúde ou vagas em escolas particulares, por exemplo. Essa situação afeta mais de dois terços da população brasileira e não será revertida tão cedo, mesmo considerando uma aceleração da velocidade de crescimento econômico com rápida melhoria na distribuição de renda. Ou seja, o Estado precisa garantir a provisão de bens e serviços num contexto pautado pela solidariedade e pela universalidade, conforme prevê a Constituição Federal. Além disso, essa necessidade é especialmente premente, porque se os serviços públicos estão sob severa crítica, os serviços da iniciativa privada também não atingem os níveis de excelência necessários, e, para melhorar, precisam se tornar ainda mais caros. Esse tipo de preocupação permeou as apresentações de Alicia Bárcena, secretária-executiva da CEPAL e, com um foco mais financeiro e menos estrutural, de Rogério Studart - diretor executivo do Banco Mundial para Brasil. Embora os autores sejam favoráveis 31 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social à evolução da economia brasileira, não esconderam que as carências de infraestrutura representam um entrave para elevar níveis de produtividade e assegurar a competitividade que, em última instancia, são essenciais para gerar bem-estar. A melhoria da situação social ainda não se traduziu numa inserção internacional de maior qualidade e coloca em risco a viabilidade de um desenvolvimento sustentável, sustentado e equânime. Para complicar a situação, isso se coloca num momento em que o cenário internacional está se modificando, porque os termos de troca do Brasil já não atingem uma situação tão favorável quanto a de anos atrás e os potenciais frutos do pré-sal e dos demais investimentos na economia ainda não começaram a apresentar os seus efeitos positivos. Além disso, conforme apontou embaixador Roberto Azevêdo, diretor geral eleito da Organização Mundial do Comércio, o Brasil não é mais considerado um país em desenvolvimento e sim um país emergente. Isso modifica o seu grau de responsabilidade na cena internacional, mas, por outro lado, ainda não incorporou o País nos espaços de decisão e liderança como o Conselho de Segurança das Nações Unidas ou o G-8, que congrega as economias que mais influenciam a governança internacional. 32 Para poder gerar um processo de desenvolvimento efetivo será preciso enfrentar entraves estruturais que, em última instância, requerem o rompimento das estruturas arcaicas engendradas pela modernização conservadora desde os anos 1960. Será necessário redistribuir renda com uma tributação progressiva, que desestimule a especulação e valorize a produção e, ao mesmo tempo, privilegie o gasto público destinando-o de forma prioritária a programas universais de qualidade. Somente com esse círculo virtuoso será possível elevar a competitividade e gerar condições de bem-estar e romper o círculo vicioso da modernização conservadora que reforça a heterogeneidade estrutural. A persistência do ideário da modernização conservadora reforça as desigualdades e inviabiliza uma maior harmonia entre famílias, mercado e Estado que, segundo o historiador Fernand Braudel, foi o que possibilitou o progresso da civilização. Se o Brasil puder romper com essas dificuldades, o que exige maturidade e disposição para enfrentar os beneficiários da velha ordem patrimonialista, será possível consolidar a democracia e atuar de forma mais efetiva e desenvolta na cena internacional para apoiar e estimular os parceiros em sua própria luta para construir o desenvolvimento segundo a sua própria dinâmica histórica. Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES Dez anos de CDES: a busca de uma nova governança Ladislau Dowbor (*) O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), faz todo sentido em termos institucionais. Por mais que tenhamos diversos segmentos representados no Congresso, nada substitui o contato direto entre sindicalistas, empresários, administradores públicos, movimentos sociais – na construção de pactos, na elaboração de propostas. De certa forma, trata-se de desintermediar o Estado, permitindo que os atores interessados se escutem e se acertem sem os profissionais da intermediação. E uma vez que se chega a um acordo, as propostas podem seguir para o Congresso, cujo papel é justamente legislar, com a diferença que as leis assim enraizadas no consenso entre quem as vai aplicar, “pegam”, no melhor sentido. Hoje já temos numerosos CDES em estados e municípios, construindo gradualmente uma governança mais participativa. Comemorar 10 anos do primeiro Conselho, fazer um balanço dos avanços e das dificuldades nesta ampla reunião dos conselheiros, e com presença da Presidenta, do vice-presidente e de numerosos ministros, é no mínimo estimulante. Trocar experiências com outros conselhos semelhantes que já se constituíram em numerosos países da América Latina também ajuda. Mas mais interessante ainda é constatar, nas diversas intervenções, inclusive a da presidenta Dilma, em que ponto 1 estamos todos enfrentando a necessidade de repensar a política. De forma mais ou menos explícita, sentimos todos que o “esquemão” herdado, com Estados fragilizados em termos poder e atrasados em termos de gestão; um mundo corporativo transnacional, em particular na área financeira, que adquiriu dentes políticos poderosos e se movimenta praticamente sem controles, pois não há governo mundial; um sistema multilateral ultrapassado, que leva inclusive a reuniões de precária formalidade dos sete, dos oito ou dos 20; e de movimentos sociais que buscam tapar os buracos mais trágicos nas áreas sociais – este esquemão simplesmente não atende aos desafios. O desafio não está na falta de recursos, e sim no próprio processo decisório sobre o seu uso. A questão da governança está colocada por toda parte. Na União Europeia que penaliza as populações para premiar especuladores financeiros. Nos Estados Unidos onde desde 2010 é legal as corporações comprarem os políticos – temos o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar, resume Hazel Henderson, e onde a espionagem das populações é generalizada ainda que ilegal. E o que falar das economias mais frágeis onde fazer a política corresponder ao que são as necessidades das populações está cada vez mais difícil? Por toda parte está se discutindo como financiar as campanhas eleitorais, como regular o mundo financeiro, como controlar os paraísos fiscais, como democratizar a mídia, como repensar o papel das mídias sociais e da (*)1Professor titular no Departamento de Pós-Graduação da PUC/SP nas áreas de economia e de administração, e da Universidade Metodista de São Paulo, e consultor para agências das Nações Unidas, governos e municípios. 33 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social conectividade. Claramente, quando se fala em reforma política, já não falamos em muletas, e sim numa visão sistemicamente diferente. Democracia de verdade, transparência, prestação de contas dos grupos corporativos, informação livre e plural e assim por diante. Herdamos no Brasil, como em outros países, máquinas públicas estruturadas para administrar privilégios, mais do que para prestar serviços e assegurar os equilíbrios políticos, sociais e econômicos indispensáveis para uma vida civilizada. Nesse processo, estão ausentes os pobres, que representam a ampla maioria. Estão ausentes as futuras gerações, que herdarão os nossos desmandos, em particular com a mudança climática, contaminação e outros dramas. E está ausente a natureza, espoliada e silenciosa. No confronto entre a política formal e a voz das ruas, desenha-se o hiato crescente. De certa forma, o conjunto de grandes avanços que se constatou em uma década, com redução da pobreza, quase pleno emprego, apoio ao pequeno e médio produtor e assim por diante, gera pelo seu próprio sucesso a necessidade de enfrentamentos estruturais: sistema tributário regressivo, processo eleitoral deformado, judiciário opaco e travado, sistemas de gestão ultrapassados, relações público-privadas que deformam o processo, as organizações da sociedade civil que ainda esperam o seu marco regulatório. As reformas eternamente adiadas estão chegando à maturidade. Os movimentos sociais poderão, eventualmente, ajudar no parto. 34 As diversas intervenções nesta reunião do CDES refletem a meu ver este pano de fundo. O embaixador Eduardo dos Santos (ministro em exercício das Relações Exteriores) constata que geramos uma globalização econômica mas não geramos a governança global correspondente. Marcelo Neri (ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos e secretário executivo do CDES) se refere à necessária combinação do crescimento econômico e da redução das desigualdades. Roberto Azevêdo (diretor geral da OMC) se refere à crise mundial que continua a ser a referência central, e ao fato que o sistema que a gerou continua tão desregulado como antes. Aloizio Mercadante (ministro da Educação), com base na questão de formação de médicos, mostra em números a necessidade de tomar agora medidas com visão no longo prazo, e por tanto de resgatar o papel do planejamento. Alexandre Padilha (ministro da Saúde) aponta a importância crescente da saúde, e a necessidade de ultrapassar os interesses corporativos frente às necessidades do país. Sérgio Haddad, conselheiro do CDES, explicita os desafios da educação, que não podem constituir um fator de reprodução das desigualdades, e apresenta como desafio a articulação entre os sistemas federal, estadual e municipal. Nair Goulart, conselheira do CDES, apresenta a necessidade de se investir no planejamento urbano e o papel particular das cidades médias onde a lição dos impasses gerados nas metrópoles pode gerar uma outra política. Jackson Schneider, conselheiro do CDES, falando sobre o crescimento pelo investimento, apresenta as necessidades de Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES outra governança nas relações com o mundo interesses encastelados. Quanto à desigualdade, empresarial. é caracterizada como “impeditivo estrutural do eixos desenvolvimento”. Figurou em praticamente permearam todas as discussões: a governança, todas as intervenções, como eixo básico de e a igualdade. O Conselheiro Clemente Ganz orientação das políticas, e em particular na fala Lúcio aponta claramente a reforma política de Alícia Bárcena, da CEPAL, que explicitou como “a mãe de todas as reformas”, pois é o conceito de uma “mudança estrutural pela a que permite que se resgate a orientação igualdade”. Governança mais democrática, geral na mudança do processo decisório, no transparente e participativa, buscando a uso mais racional dos recursos, na articulação construção de um país menos desigual. Para mais equilibrada dos agentes sociais. É ela este que foi um seminário internacional sobre que permitirá as outras reformas, travadas por o desenvolvimento, trata-se de uma boa visão. Denominador comum? Dois 35 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Comunicação discreta Laurindo Leal Filho (*) A presidenta Dilma Roussef falou durante uma hora, no dia 17 de julho, para um auditório repleto no Itamaraty, formado por integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) da Presidência da República, o “Conselhão”, criado pelo ex-presidente Lula, que comemorava dez anos de existência. Defendeu com bons argumentos os cinco pontos apresentados por ela como resposta às manifestações de junho, ocupando com isso a maior parte do seu pronunciamento. Quase “en passant” tocou numa das questões mais delicadas do seu governo e pouco comentadas, tanto por ela como pelo próprio Conselho: a comunicação. Disse a presidenta: “a informação parcial, da forma como é explorada, confunde a opinião” e, em seguida “a informação parcial visa criar um ambiente de pessimismo” (por coincidência na noite anterior um gráfico enorme exibindo a palavra “pessimismo” ilustrava mais uma análise pessimista de um comentarista da GloboNews). Na oportunidade, comentei o fato para a TV Carta Maior. Lembrei que ao Conselhão, nesses dez anos, pouco temas escaparam ao debate. Assuntos importantes, sensíveis à vida do País, estiveram sempre nas pautas de discussão, sendo a comunicação uma exceção significativa. Ressaltei que de pouco adiantavam as análises, as sugestões e mesmo as propostas feitas pelos conselheiros se, para chegarem à sociedade, são obrigadas a passar pelo filtro da mídia conservadora, avessa às políticas econômicas e sociais implantadas nas gestões Lula-Dilma. As frases da presidenta, antes mencionadas, deveriam servir de alerta, não só aos integrantes do Conselhão, mas principalmente a alguns membros do próprio governo. Quando ela fala em “informação parcial” que “confunde a opinião” torna-se necessário revelar os sujeitos dessas ações, o que – convenhamos – não é tarefa difícil. Basta abrir os jornalões, ouvir alguns comentaristas de rádio ou assistir a um noticiário de TV para encontrá-los. O alerta da presidenta não pode cair no vazio. A começar do CDES que pelo pouco que vi precisa receber dois empurrões para entrar nesse debate: o primeiro de esclarecimento sobre o papel da mídia. Ao que tudo indica o órgão reproduz a vaga ideologia liberal do século 19, entendendo que a mídia paira sobre os conflitos sociais e de classe, daí ser chamada equivocadamente de quarto poder, quando na verdade é um poder tão ou mais poderoso que os poderes da República. E depois dos esclarecimentos, o empurrão político capaz de tirar da frente os temores de enfrentar o baronato midiático. Não tenho ilusões de que esse segundo empurrão terá de ser dado forçosamente pelos sindicalistas e integrantes de movimentos sociais com assento no Conselho. Essa convicção se consolidou quando vi que, ao final do primeiro dia de reuniões, (*) Sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). 36 Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES quando a palavra foi aberta aos conselheiros, só três se inscreveram, não por coincidência os três representando os setores mencionados. Estava presente à reunião um número significativo de ministros das mais importantes pastas. Dois deles, Mercadante, da Educação e Padilha, da Saúde, apresentaram dados importantes em defesa dos projetos para o ensino e a prática da medicina lançados pelo governo. Dados que são mostrados de maneira “parcial” ou visivelmente manipulados pela mídia. Será que o alerta da presidenta não motivará todos os ministros a se preocuparem com a distorção ou a invisibilidade de que são vítimas seus projetos e ações? E a articular com os responsáveis diretos pela comunicação do governo a revisão de tudo o que tem sido feito até aqui nessa área? Voltando ao Conselhão, o melhor presente que ele poderia dar à sociedade na comemoração dos seus dez anos de existência seria a formulação da proposta de uma política nacional de comunicação, envolvendo amplos setores do governo, capaz de aproximar o governo da sociedade, dispensando intermediários que tornam as informações parciais, criando um “ambiente de pessimismo” no País. 37 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social As contribuições do CDES para o debate da Reforma Política Marco Aurélio Weissheimer (*) Os recentes protestos e manifestações que levaram milhares de pessoas – em sua maioria, jovens – às ruas do Brasil no mês de junho evidenciaram, entre outras coisas, a necessidade de uma Reforma Política abrangente e profunda no Brasil. As críticas ao atual modelo de representação política no País apontaram para um conjunto de problemas históricos ainda não resolvidos. Amplamente discutido no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o tema Reforma Política mereceu especial destaque entre 2006 e 2007, com a realização de diversas reuniões do grupo de trabalho criado para aprofundar o tema e um grande seminário que reuniu lideranças do Congresso Nacional, intelectuais e representantes de diferentes setores da sociedade. Esse encontro resultou em um parecer do CDES sobre a reforma política que foi encaminhado ao presidente da República em julho de 2007. No documento, os conselheiros reconheceram que as decisões centrais envolvendo a reforma política são uma atribuição do Congresso, mas defenderam a participação do conjunto da sociedade neste processo. Também se manifestaram pela urgência e prioridade de aprovar mudanças que fortalecessem os partidos políticos, aumentassem o grau de representatividade dos mandatos e assegurasse a soberania dos cidadãos e cidadãs no sistema democrático brasileiro. A contribuição do CDES para o debate sobre a Reforma Política se organizou em torno de três eixos: o aperfeiçoamento da democracia representativa, o fortalecimento da democracia direta e da democracia participativa e a reforma do processo orçamentário. Alguns consensos foram obtidos: normas para coibir as trocas de partido no Parlamento e incentivos para a disciplina e a fidelidade partidária; regras para o uso da imunidade e do foro privilegiado dos parlamentares; regulamentar os princípios constitucionais que preveem a realização de plebiscitos, referendos e iniciativas populares; possibilidade de revogação de mandato mediante consulta popular (o chamado “recall”) e definição de novas regras para a escolha dos suplentes de senadores. Além destes, outros dois pontos foram objeto de uma forte convergência entre os conselheiros: a defesa do financiamento público das campanhas e da adoção do voto em lista fechada ou em lista flexível, na qual o eleitor pode alterar a ordem proposta pelo partido. Apontado como essencial para combater o personalismo e para fortalecer os partidos, o voto em lista recebeu uma qualificação para evitar distorções, a saber, a adoção de processos internos mais democráticos nos partidos e redução da interferência das estruturas hierárquicas superiores na formação das listas. No parecer entregue à Presidência da República, o CDES defende que “um processo de reforma política contribui estruturalmente (*) Jornalista, bacharel e mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 38 Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES para o desenvolvimento do País e para o aperfeiçoamento de nossa democracia”. O tema da Reforma Política, destaca ainda o parecer, é um caminho para aperfeiçoar as relações entre Estado e Sociedade e solucionar os problemas enfrentados pelos poderes constituídos. Esse tema, acrescenta o documento, diz respeito ao conjunto da sociedade e aos poderes constituídos, cabendo, portanto, também ao governo e ao presidente da República em particular, a iniciativa em relação a ele. Entre os problemas a serem enfrentados por uma reforma desta natureza, o CDES destacou a corrupção política e a desigualdade de oportunidades entre partidos e candidatos, em função das diferenças de poder econômico, de gênero e etnia. O parecer aponta também a necessidade de regulamentar mecanismos inscritos do artigo 14º da Constituição Federal, como plebiscito, referendo, iniciativa popular e consulta popular para revogação de mandato. “Quem tem o poder de exercer o poder?” O debate no Seminário Internacional sobre Desenvolvimento deixou claro que a agenda da reforma política não se resume à esfera eleitoral. José Antonio Moroni, membro do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) e conselheiro do CDES, defendeu que a sociedade precisa avançar na concepção do que seja a reforma política. É importante pensar, frisou, no fortalecimento dos processos democráticos, onde a democracia direta e a democracia participativa têm papeis fundamentais. Moroni elencou um conjunto de questões que apontam para essa direção: “na verdade, quando estamos abordando a reforma política estamos discutindo o poder. Quem exerce o poder? Em nome de quem se exerce o poder? Quais são os mecanismos que se tem do controle do poder? Quem tem o poder de exercer o poder”. Na mesma direção, o conselheiro Artur Henrique da Silva Santos, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), defendeu que o movimento sindical e os movimentos sociais não podem abordar a reforma política apenas sob a ótica da política eleitoral, sendo necessário também incorporar o debate sobre a introdução de mecanismos de participação popular e de democracia direta. O sindicalista também apontou a definição dos orçamentos públicos como elemento estratégico na agenda da Reforma Política: “Não basta fazermos um amplo debate sobre a questão da participação popular se nós não tivermos mecanismos e instrumentos de controle social eficazes para que as decisões a respeito dos principais investimentos no orçamento público passem por uma deliberação por parte da população. O orçamento não deve ser visto apenas como uma peça que visa à definição dos gastos, mas como uma instância de definição das prioridades de gastos no orçamento federal, estaduais e municipais. Isso, sim, é democratizar o poder”. Resumo das propostas do CDES As contribuições desse conjunto de debates promovidos pelo CDES em torno do 39 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social tema da Reforma Política podem, assim, ser divididas em três grandes blocos: 1. Aperfeiçoar o sistema partidário e os processos eleitorais, combatendo a desigualdade de oportunidades entre partidos e candidatos, em função das diferenças de poder econômico, de gênero e etnia; contemplando a democratização dos processos internos aos partidos para seleção de lideranças e candidatos; as regras sobre formação de coligações, migração partidária, eleição de suplência, imunidades e foro privilegiado; cláusula de barreira, e financiamento de campanha. Existe convergência no CDES sobre a necessidade do financiamento público das campanhas. 2. Envolver a regulamentação dos mecanismos inscritos no artigo 14º da Constituição Federal, como plebiscito, referendo, iniciativa popular e consulta popular para revogação de mandatos. De acordo com os debates realizados pelo CDES e as informações 40 aportadas, ainda há muito espaço para a ampliação da participação popular na democracia brasileira. 3. Abranger o aperfeiçoamento da relação entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo no que se refere ao processo de elaboração e execução do orçamento para aumentar a transparência e reduzir as vulnerabilidades que levam a distorções na aplicação dos recursos públicos que são, em última instância, arrecadados da própria sociedade. Para isso, é necessário aperfeiçoar as regras de elaboração, de processamento legislativo, e de execução do Orçamento, de modo a promover a democratização no uso dos recursos fiscais e parafiscais; a criação de mecanismos de participação e de controle social, com amplo acesso às informações em todo o ciclo orçamentário na União, estados e municípios, e nas regras para apresentação de emendas parlamentares. Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES Desafios para o CDES no seu 10º aniversário Flávio Aguiar (*) Olhando-se a linha do tempo exposta no site do CDES1, tem-se uma ideia da extensão e da intensidade da pauta do Conselho. Ao longo de sua existência o CDES abordou uma gama impressionante de temas ligados às conjunturas nacional e internacional. Seus temas abrangem o mundo do trabalho, a busca da equidade social, a educação, as condições e busca de investimentos necessários ao Brasil, apoio à micro e média-empresa, aumento da representatividade do Conselho Monetário Nacional, reforma política, reforma tributária, bioenergia, habitação, agricultura, aviação civil, Código Florestal. Pode-se dizer que não houve área da vida brasileira, dentro do contexto político, social e econômico mundial, que ficasse fora das sucessivas pautas do Conselho. Pautando-se sempre pelo auxílio à construção da governança brasileira, os debates do conselho frequentemente implicaram a adoção – em parte ou no todo de suas sugestões – de políticas de Estado no nosso País. Agora, marcando os seus dez anos de existência, o Conselho realiza seu “Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES”. Duas são as linhas mestras de sua pauta: I. Desafios da Governança Global: tema dividido em três subtemas: a) O contexto internacional que emerge no pós-crise; b) a governança e instituições para o desenvolvimento; c) a exportação de tecnologias sociais brasileiras; II. Desenvolvimento inclusivo e sustentável: desafios do modelo brasileiro, tema subdivido em dois: a) mudanças recentes - os avanços sociais, os cenários econômicos e os desafios da sustentabilidade; b) impactos de políticas públicas inclusão, educação, trabalho. Na primeira linha mestra, destaca-se a questão da crise econômico-financeira mundial. Será que já estamos vivendo uma situação internacional “pós-crise”? Há sérios indicadores de que não é este o caso. Segundo indicações do World Economic Situation and Prospects (WESP 2013), da ONU, o fim da crise não está próximo. A União Europeia continua vivendo em situação de insolvência parcial, mas duradoura, sem visão de luz no fim do túnel. A recessão da maioria das economias do continente contribui para uma instabilidade econômica mundial, inclusive no Brasil. Os Estados Unidos tardaram em encetar uma tímida (diante do seu gigantismo) recuperação de empregos e da economia. Mas seus movimentos de saída da crise recessiva também podem contribuir para a desestabilização econômica e do fluxo de capitais em relação aos países emergentes. Neste cenário, os BRICS e o Brasil (neste grupo (*) Correspondente internacional da Carta Maior e de outras publicações em Berlim. Tradutor e escritor, é autor e organizador de dezenas de livros. Foi professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo (USP). 1 <www.cdes.gov.br> 41 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social em destaque), ganham importância. Ou seja, o cenário pós-crise ainda está sendo construído, é um verdadeiro “work in progress”, e o conselho terá de considerar este desafio. Isto nos leva a um segundo item. A situação política global exige visões estratégicas de longo prazo em lugar de uma governança exercida numa espécie de estabelecimento de micro prazos destinados a aliviar as cargas de adrenalina que as sucessivas oscilações financeiras despejam cotidianamente nos mercados, nos países e nos cidadãos. O cenário político internacional é o de aprofundamento de velhas e novas crises, com os conflitos do Oriente Médio arriscando uma regionalização de efeitos imponderáveis. Em que medida poderá o CDES tornar-se um vetor do estabelecimento de visões macroestratégicas de longo prazo para a sociedade, o governo e o Estado brasileiro, levando em conta a crescente visibilidade e importância do nosso país no contexto global? Neste contexto, o conselho deve se manter atento ao cenário global e àquilo que possa resultar em constrangimentos para estratégias da economia e da política brasileiras. Os cenários externos implicam em discussões que busquem um novo modelo de governança a partir das instituições criadas em Breton Woods e para além dessas. A recente crise reafirmou a percepção de que estas instituições estão em xeque. Esta situação de incerteza afeta nossas pretensões em relação a novos espaços que o Brasil vem ocupando, e os novos modelos que possam ser mobilizados a partir 42 de instituições como BRICS, OMC, FAO, BID, BIRD, FMI, OEA, e/ou outras que compõem o arcabouço da geopolítica internacional. O Brasil é reconhecido por diferentes organismos internacionais como produtor e praticante de tecnologias sociais de ponta, com seus programas de redução da pobreza e da miséria, por exemplo. Poderá tal capacitação tornar-se o vetor de um fluxo internacional que ajude a formular políticas globais que vão da produção de alimentos à inclusão digital? Com que redes poderá o Brasil contar, ou quais construir, para ultimar tais objetivos e aperfeiçoar a presença proativa do nosso país no cenário internacional? O Brasil tem feito pressões no sentido de amparar um novo modelo de governança global, mudando regras existentes, prioridades de funcionamento, ou cotas de poder de voto, como no caso do FMI, criando novos padrões de conduta na política internacional e aprofundando vetores de articulação, como no caso das negociações multilaterais e bilaterais. Estes são sem dúvida eixos de fortalecimento de nossa presença externa e que paralelamente representam espaços para a replicação de experiências nacionais exitosas. Essas mudanças são acompanhadas de novos desafios internos como, por exemplo, os desafios postos à Agência Brasileira de Cooperação (ABC) - que ao longo dos últimos dez anos vem trabalhando em consonância com ministérios, empresas e fundações públicas brasileiras, como o MDS, a FIOCRUZ, a EMBRAPA, o INPE etc. Não há dúvida que ainda Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES estejamos no início de uma nova fase para as relações internacionais brasileiras, mas este caminho vem ganhando fôlego, e o conselho deverá estar atento a esta nova configuração. Estes itens ajudam a informar sobre o debate do segundo tema-chave e de seus subtemas. Ao considerarmos a presente situação brasileira, nos deparamos com duas ilusões dilemáticas. A primeira diz que “nada mudou” no nosso País. A segunda, que “tudo mudou” completa e radicalmente. A primeira leva ao desânimo ou à contestação linear de “tudo o que aí está”: política, políticos, partidos, instituições de governos e de Estado, etc. E pode até servir de caldo de cultura que justifique uma negação da instabilidade institucional necessária ao desenvolvimento social, econômico, político, cultural e democrático do País, justificando desde a descrença niilista até o vandalismo nas ruas. A segunda (o “tudo mudou”) torna-se a (in) formadora de uma cegueira para a permanência de problemas, mazelas, insuficiências que atravancam o desenvolvimento da cultura cidadã igualmente necessária àqueles objetivos de desenvolvimento nas cinco frentes anteriormente citadas. Há muito o que fazer no País, há muito o que melhorar em todas as frentes da vida brasileira, inclusive, é claro, nos três quesitos destacados pela pauta: inclusão, educação, trabalho. Nos seus dez anos de existência, o CDES entendeu que não se pode tratar a situação brasileira com maniqueísmos. Há um processo de mudança em curso – com algumas conquistas realizadas e outras tantas ainda por realizar. Contudo, algumas conquistas são emblemáticas – como a eliminação da pobreza extrema, a diminuição das desigualdades, e outras tantas análises que possamos vir a fazer e que espelham um amadurecimento da sociedade brasileira. Nesta leitura, destacar alguns dados é importante: • o indicador de pobreza multidimensional que mede a situação do Brasil caiu para 2.7% (ONU – RDH 2013). • a pobreza caiu 57%, entre 2003 -2011, considerando como referência US$ 2 por pessoa/dia ajustado pela paridade poder de compra PPP2. As conquistas recentes de combate à pobreza nos últimos 10 anos espelham o crescimento da renda de 48% da população mais pobre e uma consequente queda na desigualdade da ordem de 52%. A redução da pobreza pode ser explicada pela combinação do crescimento da renda e queda da desigualdade. • a redução das desigualdades medida pelo GINI de renda (Y) no Brasil (0,594 em 2001 e 0,527 em 2011), na década passada, pode ser decomposta, pela PNAD, da seguinte forma: trabalho, 58%; previdência, 19%; Bolsa Família, 13%; BPC (Benefício de Prestação Continuada) 4%; outras ,6%. 2 <http://www.cps.fgv.br/ibrecps/queda_da_miseria/Apendice_fim.pdf> 43 Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social • a renda média do trabalho cresceu 5,1%, em 2012. Apesar da trajetória positiva dos últimos 10 anos, persistem grandes desafios coletivos em nosso País, cujo atendimento exige uma combinação de ações imediatas com visões de longo prazo e sustentabilidade atentas para: as desigualdades territoriais, as sociais, entre outras; a criminalidade; a melhoria no acesso aos bens e aos serviços públicos – com especial atenção à educação, ao sistema público unificado de saúde e à mobilidade urbana. Na frente externa, o Brasil não pode se descuidar em relação a seu papel e responsabilidade de proa em relação a seus vizinhos: é do nosso interesse desenvolver o nosso país de forma compartilhada com o espaço geopolítico próximo. Na equação do desenvolvimento os diversos setores da economia devem ser vistos como fortes aliados. No presente, a preocupação com o papel da indústria 44 nacional e a competitividade ganha força, e tem encontrado espaço de forma permanente nas reuniões do CDES. Merece atenção especial por ser alvo de uma preocupação transversal – sendo estratégico tanto ao modelo de desenvolvimento interno, como na busca do fortalecimento da economia nacional através da conquista de novos mercados. O conselho vem debatendo e vai continuar a debater o nível e a direção dos investimentos e os resultados do crescimento da economia, que resultem em aumento de produtividade e na restruturação de cadeias produtivas que possam gerar bens de maior valor agregado. Na opinião do conselho, o debate do modelo de desenvolvimento, os novos impulsos aos investimentos e os resultados da economia devem sustentar e fortalecer as conquistas sociais dos últimos anos. Caberá, portanto ao conselho avaliar-se como vetor proativo de tais desafios. A ele, portanto, a palavra. Revista do Seminário Internacional sobre Desenvolvimento – 10 anos CDES Promoção, Organização e Realização Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (SEDES) EXPEDIENTE Publicação de responsabilidade da Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (SEDES) da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República. Novembro de 2013 Presidenta da República Dilma Rousseff Ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos Marcelo Neri Secretário da SEDES Ronaldo Küfner Secretária Adjunta da SEDES Maria Luiza Falcão Diretores Betina Ferraz José Aparecido Ribeiro Gerentes e Assessores Alexandre Dantas e Sousa Cristina Ribeiro Fernandes Quadra Rocha Eduardo de Almeida Gabriela Guedes Ferreira Prates Gustavo Henrique Concentino Ramos Hilta Figueiredo de Moraes Maria França e Leite Velloso Raquel de Albuquerque Ramos Endereço para correspondência Anexo I – Ala “B”, sala: 202 – (61) 3411.2199 / 3393 Brasília – DF – CEP: 70.150-900 [email protected] www.cdes.gov.br Coordenação da publicação pela SEDES Maria França e Leite Velloso Raquel de Albuquerque Ramos Produção de conteúdo Carta Maior Publicações, Promoções e Produções Equipe da Carta Maior Joaquim Ernesto Palhares Flavio Wolf Aguiar Aline Sasahara Marcel Gomes Katarina Peixoto Marco Weissheimer Ladislau Dowbor Laurindo Leal Filho Milko Mtijascic Luiz Fernando Schwarz Mauricio Thuswolhl Rodrigo Mendes Naira Hofmeister André Moraes de Oliveira Julia Saldanha Aguiar Eduardo Febbro Marcelo Justo Fabio Nassif de Souza José Luis Rezende Leandro Campos Lopes Mauricio Ortega Rafael dos Santos Brito André Roschel Caio Junqueira Fotos Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (SEDES) e Carta Maior Projeto gráfico, diagramação e impressão Gráfica e Editora Ideal Ltda. 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