www w.dol.in nf.br

Transcrição

www w.dol.in nf.br
www
w.dol.innf.br Maconh
ha medici nal: da ciê
ência à hip
pocrisia
Mani Indiana Fu
unez *
Paulo Gustavo
G
Ba
arboni Danttas Nascime
ento **
Um enorm
me progresso
o científico nas últimas décadas crriou um problema
que p
precisa ser discutido de
evido aos vá
ários questio
onamentos éticos
é
feitoss ao proporm
mos o
uso m
medicinal de plantas do gênero cann
nabis e a química de seu
us metabólito
os secundárrios. O
momento da disc
cussão é ago
ora!
As plantas
s do gênero cannabis (sa
ativa; indica; ruderalis) são arbustos com
um rrápido cresciimento anua
al, possuindo
o flores espessas, densas e adesiva
as que prod
duzem
substtâncias psico
oativas. É o psicoativo i legal mais utilizado
u
e te
em uma long
ga história de
d uso
medicinal, recrea
ativo e indus
strial. Além disso, seus caules fibros
sos são usad
dos para pro
oduzir
roupa
as e corda
a. A primeiira evidênciia física de
e que a maconha
m
foii utilizada como
medicamento data do antigo
o Oriente Mé
édio, sendo relatada po
or cientistas de Israel. Foram
F
desco
obertos resíd
duos da drog
ga com o essqueleto de uma menina
a que apare ntemente morreu
m
no pa
arto 1.600 anos
a
atrás. A conclusão foi de que,, provavelme
ente, a macconha foi utilizada
na te
entativa de acelerar
a
o pa
arto, bem co mo aliviar a dor.
Quando estudamos
e
a história da
d maconha fica fácil perceber qu
ue na
proib
bição de seu uso médico
o não há na
ada de cienttífico, mas, sim, de ideo
ológico. De droga
mara
avilhosa cheg
gou a ser co
onsiderada a “Erva do Diabo”,
D
com uso proscrito
o pela Convenção
Única
a de Entorpe
ecentes da ONU, em 19
961, assinad
da por mais
s de 200 pa íses, colocando a
canna
abis numa lista, junto com
c
a heroín
na, como drroga particullarmente pe
erigosa. O Ca
anadá
se to
ornou, em 2001,
2
o prim
meiro país a legalizar o uso da cannabis
c
parra tratamen
nto de
doenças crônicas
s. Em 1999, o país já ha
avia aprovad
do o uso, ma
as com perm
missão espec
cial. A
partirr de 2001, já
á com a nov
va regulame
entação, é pe
ermitido que
e pessoas em
m estado terrminal
ou po
ortadores de
e doenças crrônicas cultiv
vem e utilize
em a planta. Outros paísses como os
s EUA,
Inglaterra, Suéciia e Austrália vêm se m
mostrando dispostos
d
a seguir o me
esmo camin
nho já
trilha
ado pela Hola
anda, Suíça e Bélgica, q ue também liberaram o uso terapêu
utico da drog
ga.
A cannabiis contém p
pelo menos 66 composttos, chamad
dos canabinóides.
Deste
es, o mais conhecido é o delta--9-tetrahidro
ocanabinol (THC),
(
princcipal constituinte
psico
oativo da ma
aconha. Outrro canabinói de muito es
studado que não tem atiividade psico
oativa
canabidiol (C
CBD), capaz de potencia lizar a ação do THC. O canabidiol
c
m
modula o efeito do
éoc
delta-9-THC de ta
al maneira que
q
este gerra menos ans
siedade e ag
ge por um te
empo maior.
Os canab
binóides atu
uam em do
ois tipos de
d receptore
es para lig
gantes
endógenos (como a anandamida, o 2-a
arachidonoil--glicerol e o palmitoil-ettanolamida, entre
outro
os): receptorres tipo CB1
1, encontrad os nos term
minais de neu
urônios centtrais e perifé
éricos,
os qu
uais modulam a liberaçã
ão de media
adores; e receptores tipo CB2, exprressos em células
c
imunes, os quais podem mod
dular a libera
ação de citoc
cinas.
Os recepttores canabiinóides enco
ontram-se amplamente
a
e distribuídos nos
tecido
os de mamífferos, fato que
q
justifica a complexid
dade dos efe
eitos dos can
nabinóides. O uso
de esquizoffrenia,
da ca
annabis pod
de induzir dependência
d
a, impulsos agressivos, episódios d
desco
ontrole da pressão
p
arte
erial e distú
úrbios circulatórios, perrturbações n
na capacidad
de de
calcular tempo e espaço, pre
ejuízo na me
emória e na atenção. Alé
ém disso, o uso crônico reduz
os nív
veis de testo
osterona, o que pode in
nfluenciar na
a aparência e na fertilida
ade do homem. É
neces
ssário lembrrar, ainda, que a cannab
bis contém mais
m
alcatrão
o carcinogên
nico que o cigarro
e, po
ortanto, ela facilita
f
o surg
gimento de e
enfisema e câncer
c
pulmonar.
O uso terapêutico
t
para o trratamento da náusea foi desco
oberto
acide
entalmente por
p jovens da
a Califórnia que tinham leucemia e usavam macconha de ma
aneira
recre
eacional, con
ncomitantem
mente com aplicações quimioteráp
q
icas. Os jov
vens passarram a
descrrever para se
eus médicos
s que as náu
useas e vômitos desaparreciam quand
do estavam sob o
efeito
o da droga.
1 www
w.dol.innf.br A fome exagerada
e
q
que o sujeito tem depois de utiilizar a maconha
(também conhec
cida popularm
mente como
o “larica”) fo
oi explorada também. Esstes efeitos foram
comp
provados gerando a pattente do me
edicamento Marinol, ind
dicado para o tratamen
nto da
caque
exia, a perda
a exagerada
a de peso qu e ocorre no câncer e na AIDS.
O primeiro antagonissta de recep
ptor canabinóide rimona
abant foi de
escrito
em 1
1994. Esta droga bloqu
ueia seletiva
amente o re
eceptor CB1, causando a diminuiçã
ão da
inges
stão alimenttar e, cons
seqüentemen
nte, a regu
ulação do ganho
g
de p
peso corporral. A
preva
alência mun
ndial de obe
esidade vem
m aumentan
ndo dramatic
camente, e tem um grande
impacto na saúde pública. A falta de
e medicame
entos eficaze
es e bem ttolerados para o
tratamento da obesidade tem levad
do à um crescente interesse em pesquiisa e
desen
nvolvimento de antagonistas canabi nóides.
Os medic
camentos d erivados da
a cannabis já são co mercializado
os no
exterrior, para o tratamento das mais v
variadas condições. O THC é vend
dido em cáp
psulas
gelatinosas, dada
a a sua natu
ureza lipídicca. Há, tamb
bém, um canabinóide siintético, cha
amado
Nabilone, utilizad
do no Canad
dá. Acabou de ser lançada na Inglaterra e tam
mbém no Ca
anadá
uma mistura de duas variedades de ma
aconha, send
do ambas de
e Cannabis ssativa. Uma delas
produ
uz canabidio
ol, que é o prrecursor do T
THC, e outra
a possui alto
o teor de THC
C. A firma in
nglesa
GW P
Pharmaceutiicals faz dois extratos d
dessas planttas. A estra
atégia é missturar os dois, de
mane
eira a ter um
ma quantida
ade adequad
da do canabidiol e do TH
HC. Essa miistura, cujo nome
come
ercial é Sativ
vex, pode se
er adquirida no formato
o de bombinhas, como a
as de asma,, para
usar direto na boca.
b
Cada dose
d
libera cinco miligrramas do TH
HC. Seu uso
o é indicado
o para
dores
s neuropátic
cas, náuseas
s e vômitoss da quimiotterapia do câncer,
c
caqu
uexia e esclerose
múltipla.
Elisaldo Carlini comen
nta, no site www.cannabismedicina l.org.br: “Hoje, a
maco
onha e seus
s derivados são reconhe
ecidos como
o medicame
entos em pe
elo menos quatro
q
paíse
es. Nesses, já
j existem medicamento
m
os para trattamento de náuseas e v
vômitos causados
pelos
s anticancerrígenos, da caquexia ( enfraquecim
mento extrem
mo) aidética
a e canceríígena,
dores
s crônicas neuro e miop
páticas, com
mo aquelas que
q
ocorrem na esclerosse múltipla, entre
outra
as patologias
s. Um desses
s medicamen
ntos já está sendo exportado para o
outros 24 países”.
Entretanto
o, a aprovaçção da cann
nabis como medicamen
nto ainda te
em de
superrar outros entraves, além
a
dos p
problemas legais. Um exemplo d
das adversidades
encon
ntradas parra o uso da
a cannabis como mediicamento ve
em dos EUA
A. No estad
do de
Michigan, seu us
so medicinal é legalizado
o e mesmo assim, recen
ntemente, u
um empregado da
mitido porque
e falhei em uma triagem
m de drogas
s", diz
rede WalMart foi demitido - "Eu fui dem
Josep
ph Casias, de
esempregad
do. Em 2008
8, ele foi eleito empregad
do do ano na
a loja do Wa
alMart
em B
Battle Creek,, apesar de sofrer com um tumor in
noperável no
o cérebro. C
Casias diz qu
ue usa
maco
onha legalmente para aliviar
a
sua d
dor, como re
ecomendado
o pela junta
a de médicos que
acom
mpanha seu caso.
c
"Isso ajuda
a
treme
endamente", diz ele. "Eu
u só uso ele para parar a dor.
Para me fazer se
entir como uma pessoa m
mais conforttável e ativa. Durante se
eus cinco an
nos no
WalM
Mart, Casias diz que passou a traba lhar todos os
o dias, dete
erminado a sser o melhor. "Eu
dei-lh
hes tudo", diz
d ele. "110
0 por cento a cada dia””. “Qualquerr coisa que me pediram
m para
fazerr, eu fiz. E fiz
z mais do qu
ue eles me p
pediram para
a fazer. 12 a 14 horas po
or dia".
Mas, em novembro passado, Casias
C
torce
eu o joelho
o no trabalho. A
maco
onha foi detectada nos exames de rotina que se seguem após aciden
ntes de trab
balho.
Casia
as mostrou aos
a
gestores
s do WalMarrt seu cartão estatal de
e uso de ma
aconha medicinal,
mas e
ele foi demittido mesmo assim.
Em um e--mail a parttir da sede, o porta-voz
z do WalMarrt, Greg Ros
ssiter,
explic
cou a polític
ca da empre
esa. Ele afirrma: "Em alguns
a
estados, como M
Michigan, onde as
presc
crições para a maconha podem ser obtidas, a entidade
e
patronal pode a
ainda aplicar uma
política que requ
uer a cessaç
ção da ativiidade na seqüência de um teste d
de droga pos
sitivo.
2 www
w.dol.innf.br Acred
ditamos que
e nossa política está e
em conform
midade com a lei e ap
poiamos dec
cisões
basea
adas na políttica”.
"Não, nun
nca cheguei a trabalhar sob a influê
ência, nunca ", diz Casias
s. "Eu
não a
acho que é justo. Porq
que eu tenh o uma cond
dição médica, eu não p
posso traballhar e
suste
entar minha família?"
Além destte relato, m
muitos outro
os aconteceram pelo m
mundo afora
a. Em
comu
um, somente
e o preconce
eito e o assé dio moral infligido aos usuários
u
de u
um medicam
mento.
Desta
as tristes his
stórias podemos concluirr que a discu
ussão do uso medicinal da cannabis
s deve
se estender mu
uito além do campo ccientífico, trrazendo os mais difere
entes setore
es da
sociedade para um
u debate profundo,
p
qu
ue não deve
e se restring
gir ao mero aspecto leg
gal ou
farma
acológico. O preconceitto e a irres ponsabilidad
de de seu uso
u
talvez ssejam as maiores
batalhas para aqueles que de
efendem o s eu uso medicinal.
Bibliografia utillizada
 Marcolin,, N., Zorzetto, R. O uso medicinal da
a maconha, entrevista d
de Elisaldo Carlini.
C
Pesquisa Fapesp, 168
8 Fevereiro 2
2010;
 Ferreira, S., Ting, E. Maconha: u
uma discussã
ão internacio
onal. Editori al DOL, sete
embro
de 2003. www.dol.inf.br
 Villarreal, C. F. Can
nnabis sativa
a: erva med
dicinal? . Ed
ditorial DOLL, maio de 2004.
www.dol..inf.br
 Dawson, P., Graban, C. Walmarrt fires Mich
higan man for
f
using m edical marijjuana.
http://ww
ww.wzzm13.com/news/n
news_story.aspx?storyid
d=119421&ccatid=14# Poste
d: 3/11/2
2010.
ww.erowid.o
org/plants/ca
annabis/cann
nabis.shtml
 http://ww
* Pro
ofessora Adjjunta na áre
ea de Enferm
magem e Fa
armacologia da Faculdad
de de Ceilân
ndia Unive
ersidade de Brasília
** B
Bacharel em
m Química com
c
Atribuiçções Tecnológicas, Mes
stre e Douttor em Ciências,
Profe
essor Adjunto
o de Química
a na FCE-UN
NB
3