o bairro de vila mariana - Museu da Cidade de São Paulo

Transcrição

o bairro de vila mariana - Museu da Cidade de São Paulo
historia dos bairros de sao paulo
o bairro de
vila mariana
pedro domingos masarolo
prefeitura municipal . sccrctaria de educacao e cultura
departamento de cultura
,h ped o ;tl ll;t) -
Parte da IMi:md.l da ..h ..nid, .
Pall li~l a .
o
BAIRRO
DE VILA MARIANA
Pedro Domingos Masarolo
escreveu
stoRIE
HIST 6RIA DOS
BAIRROS
DE SAO PAULO - VIII
LBN
1155 260
981. <iJ-l
M 3 '3<l b
..Jl.-·3
Seg undo pr em io do III Concurs o
Municipal de Hlst6r ia dos Bair ros de
Sao Pa ulo, pr omovido pelo De part ame nto de Cultura da Secreta ria de
Edu c a ~a o e Cultura da Prefeitura do
Municipio de Sao Pa ulo, e outorg ado
pe la Comis sao Julgadora assim constituida : Dr. Ped ro de Oliveir a Ribei·
ro Neto, Dr. Pedro Bra sil Bandecchi
e Dr . J ose Ped ro Leite Cordeir o.
INDICE
11
13
1770
A Estrada ,10
15
~ IM
177 1- 11'120
.
18·10
18
.
.
19
21
HI7H -
22
A ColOni a
A Estrada C,lrri l (l,' F"TTO tit' Sa il Paulo 11 San to Amaro
26
o
34
Hall('O Uni,in
O s Bonnnl
.
as
o
.
37
Ilalislllu do Hairro
Casamento
o
,0 En t(~rro
39
Xlatadonro
41
.
Impor ta m-ia do Hairro em 1888
45
A Ind ustria Pionoiru do Bair m
4S
Os T r ipettos
.
Atas <In Camara Municipal de Sao Puulo lflR7- 1HS8
~ Iais
Imtgrantcs
A Familia Nose
. . . . . . . . . . . .. . .
.
.
.
49
54
,,6
57
Como.'·rd n e lJi slnu;o..,s da Vila
Luiz Perini
62
o Camin ho para u Crdudc
.,
63
o Cartono d,' Paz
.
""
In stitute D. Ana Hnsu
A Linha de Bondes Vila Xlariuna a Pinheircs
"7
Carlos Petit
69
" Dona
o,
~ l ar i(lllinll a"
70
71
l'or tllgu('ses
Ann de WOO
73
~ho n lJu
75
o
da Es trada
7"
Parquc Ibirapucra
Xotas suhre um Batrrn de San Paulo
.
80
o , Alelllaes
Alas da Cdmaru :\Iunieipal
o
77
WOO
( ' 11\
C
1903
82
85
Pumiso
Atuais Nomes d e Antig,ls Huns
87
o " Bns'lilc da Srnide"
80
As Escolus Italianas H)OO
.
94
Aspctos Gera is em 19 18
Os
N"OSSllS
o
102
T ipos Pftorcscos
Netas de 1924
Kosso F armaceutico
91
.
104
107
Xotas d e 1930-19-10
108
Condusiio
109
AG RA DEC IMENTOS ,
Aos bons velhinhos do balrr o qu e possibilitaram a
feit ura destc trabal ho.
A minha filha Irene que cooperou oeste livre .
As funclon arias do A rquivo Histor ico Municipal qu e
fr anqucaram a Hiblioteca da Reparticao.
Ao fotografo T eixeira, aqu i do bairro, qu e batcu as
vistas atuals.
A Secretaria de C ulture . Espo nc s c Tunsmo, que forncceu as fotog raCias antigas que ilustram este t rabalho.
A I'RESEN T A I;A O
No primeiro r segundo concursos de "H istoria dos
Boirros" patrocinudu " d o Departamento de Cultura cia
Prei euura MUll id lmJ de Suo Paulo niio COllcorrell a ites
trabalno sob re () bu'rro de Vila Mariana. Natura/mente
/1(10 poderia ficar animo
Alguem uria qUi' apresentar 'ambh" a sua hisuiria.
Poderia tentar /0:;-10. Tinha essa obrigariio mm qua/quer [ilho do boirro. Niio coniund ir t".utJ minha amizude
para com 0 lugar em que " asci com bairrismo. Eu aqui
fUUCi, vi i azer 0 11/ell bair ro. Cada li ma de SIlas ruas ;
lima tembranca, cada praca 0 11 recanto uma saudade de
minita ill/ancia e iuve mude.
£ ste trabalho Il Cio e lima per u literdria e " em uma
obra de hisuuia, porem e ieita de pesq uisus honestas e
faboriosas. Ttlli'e: mio tenha iicado como ell quisera qu e
iicasse, niio obstante
um documenuirio para a posteridade e uma homenagem ClO bairro em que nasci,
e
Peco aos entendidos benevottncta c
(lOS
Ieigos que
°
lerem, compreensao.
Nascido t' criado em Vi/a Mariana, tendo ucompa nhado a sua evoluciio " estes tdtirnos cinqiienta (mos, procure; tamb rm desvendar-the a vida anterior e, iuntando
as duas rpocas, realizor um estudo para que lIIe /l .\ ccm-
o
B:\IRRO D E ' ·I L :\.
M .\R I .\ ~ :\
II
temporaneos l' o.~ iovcns pudessetn iicar (I par de CO/l/O
nosceu e como viveu ale agora 0 bairro de Vi/a Mariana.
Qu anto ii primeira parte deste lraba/ho muitas CO Il suhas faram ieuas no Bibfioteca e A rquivo M unicipat,
porem, com poucos resultados. 0 I IO.H O toirro e hislbricamente fa/ando 1lI} l'(J l' fJOUCO dele consta nesses arquivos.
Uma au (m ira Doariio de Datas de Tetras, porem
sem locafizare1o ceria ou deilnida; todos dda COII/O divisas IlOme,\' de pessoas anteriormente aq uinhoadas, sem citar
ponto de referenda. Outras fa/am de Datos iazendo divisas com 0 "Camintio cia Carro" para Santa Amaro, porem
tamb em mia duo (/ altura do mesmo, e esse "Caminho do
Carro" era tiio comprido . . .
Reieri ncias do nosso bairro em A tas do Camara
Municipal de Stio Paulo, ,W) depots de i 887 e que comecam
a aparecer com grande pobrera de detolhes e assim me.l'mo tendo como onietivo 0 Matadouro Municipal ali instaiada l'm /886 .
Recorrendo cntiia a outras iontes, no testem unho lie
veihos moradores ainda ~'i~'os, os IiI limos imigrantes italiunos, id quase no fim da villa, e que ioi possivet reconstruir grande parte da historia antiga de Vila Mariana.
Fclitmente ainda se chegou a temp o de ouvi-tos porque, mais para diante nada mais se poderia iazer e entao
a vida anterior (10 bairra [icaria para sempre, qtmse toda,
no escuridiio.
A ssim e que de 1875 a 1915 tem-se dodos mois 0 11
mellos scguros da sua [onnaciio e evoiucoo.
Qu aruo a parte que se reiere ao per/ado de / 9/ 8 ale
1970 e 0 relalo aprosimado tanto quanta possivet, do que
vi e conheci desde a minha infdllcia ale os dias tn esentes.
o
12
o
AU TOR
HAlRRO D E VI LA :\IAR IA:"IA
17 70
1770 - Brasil-Colonia c ja a Vila de Piratinlnga,
Oli nda jovcm, rcunia ao seu redor ou tras Vilas e Fregucvias, uma s ma is pcrto, outras mais longc, algumas com
relative c primitive progrcsso, cnqua mo outras apc nas
con tando as anus q ue passavam . Hevia Plnh ciros de s
Sardlnh as, 0 Embu dos Lem cs, Osasco e Carapicuiba de s
Ra poso Tavares, a Frcguesia do 0 de Manuel Prete , a
Pcnha de Fr anca e Sao Miguel do s Jesuttas. Sant o Amaro
dos Bclchior de Pont es c Borba Gala C ou tras mais csquccidas.
Eram essas as Vilas mais con hecidas e j a povoa das
pelas gen tes de Pirannin ga ou de Sao Vicente ou mesmo
da antiga San to And re da Borda do Ca mpo c tambem
com mu itos escravo s ind ios. Estava rn no Cadastre da Ca-
mara de Sao Paulo c para etas cram nomeados capitac-s
que respondiarn pelas mesmas. comunicando e asscr uando
os fat es acontecido s, scndo suas paroq uias providas de
padr es. Dclas sc possucm cscritas ja daq uclcs tempos, podcndo-sc reconstruir-sc as suas historias mcsmo Ieitas em
trcchos espa rsos. No enta nto comprovan tes do qu e foi 0
bairro de Vila Mariana naqucl es tempos nao existe, porqu e ali poucos moradorcs havia.
o
BAIRRO DE VIL\
~H RI :\S :\
13
Era a pcnas con hccidn como 0 " Meio Caminho do
Ca rro" c, Iii pclo a no de 1850 era dcsignada por "C ruz
das A lma!'>" .
o "Caminho do Ca rro" jii existia nos anos de 17701800 . Muilas Datas de Terra de sscs anos falam de sitios
fuzcndo divisa s com 0 "Ca minho do Ca rro" pa ra Santo
Ama ro. Uma dclas, de nome csquisito, Iazla divisa justamente com 0 Morr o Vermelho. "Carnin ho do Ca rro", C6 r~
rcgo do Ipira nga e Cbaca ra da Glo ria, tend o sua scdc
ondc hcjc se localiza a T ents C1ube, antiga chacara do
olralmclogista Pinhatari.
"A li os cscravos cram cspanca dos ate ficarem dcscadcirados. Scnbo rcs de ncgros para lri
mandavam os seus escravos "vadlos" pa ra terem corrctivo. pagando para isso uma taxa ao
do no dessc sftic." ( 1)
Ccmccav a esse "Caminho do Ca rro" no la rgo da
Polvora. Libcrdadc, c dcpois de tcr subido a at ual Ru a
Vergueiro beirando 0 Mor ro Ve rmclho e passa ndo pelo
alto das riba ncciras das vcrtcntcs do An hangabau, no Vale
Itororo, chcgava no asscnto da Ru a Parafsc .
Dali pa ra frc ntc pcrcorria entao a Ru a Dom ingos de
Morais ute a R ua Lu is G 6is, ondc dobrando
dircita
ent-rava no bairro de Miran dopolls. La na baixada havia
urn pequeno co rrego e uma velha casa ondc carre iros c
tropciros desca nsava m os ani mais e fazia m pouso qua ndo
o sol ja dcclinava. Esse local c atualmente 0 fim da R ua
Urutuba, no subdistrito do Bosque da Saude. A inda hoje
lui ncssc loca l vestigios da A ntiga "Estrada do Ca rro".
o cor rcgo foi canalizado e a vclha casa demolid a, porcm
ainda existe urn peq ueno trec ho desse camin ho que atravcssando a Alameda dos Gnatas para logo adia ntc.
a
(1) Sao Paul o Ant igo (Bibliutcca Mun icipal ).
14
Antonio Egid io Marttus, 19 11· 1912.
0 e.uuno D E VIL.A
~ IA IU:\ :'OA
Essa pcqu cna rua tcm 0 nome de "Rua da Divlsa".
Essa designac nc e dcvida a tcr esse caminho scrvldo 3:C
dive rsos an os atras de d ivisa entre os municf pio s de Sao
Paulo e Santo A maro, como alias todo esse "Cami nhc do
Ca rro" era cons iderado a divisa entre as dais municlpios
desdc aq uelas epocas longinquas.
Seguindo para a Irent c ia depois sc junta r com outro
caminho hi no Pinhaiba (J abaqu ara ), atravessando os
Ca mpos de Congonhas ate a Vila de Santo Ama ro .
o cami nho que se juntava a ele no Jabaquara vinha
de Sao Bern ardo, passando po r Piraporinha ( PUAPUR INHO) e Curral G rande (V ila Conccicao, dcpois Diadcrna ) c Tab uilc.Z ]
"A EST RA DA DO MAR"
Out ro carninhc de carros tambcm era usado pclos tropciros c carros para chcgar ao caminho do lite ral de s
J esuita s c tarnbem para nting ir 0 C urrul G rande, Tabufio.
San to A maro c Sao Bernardo.
Safa ele tambem da " Estrada de Carros" de San to
Amara, na altura da atu a l Rua Co rreia Dias. Seguindo
pa r clc ia-se ate Sao Joao Climaco, c dali para 0 mar. t '' )
Porern, ant es cncon trava-se a estrada do Ca pitao Cursino e scgulndo por esse caminho e atravessando 0 at ual
Jardim da Saudc e 0 bai rra de Vila Morais era atlngido
o Ar raial do Curra l Gr and e, de cndc saiam cntfio caminhos para Santo A maro e Sao Bernardo .
Esses caminhos, sc assim podcriam chamar , cram
vcrcdas ladeadas de campo s e nos lugarcs de terr a melhor,
ccrradocs e arvorcs grandes. A designacao era "c aminhos" .
porcrn nao pas savam de picadas feitas no mcio de matas e
f1 orestas. Eram trilhas de carros c de bcstas, anttga s pas(2) I'lanta tin
~ltlll ki pi o
de Sil" Paulo, 19nJ [scm autor).
(Arqutvo Mnntcipal ).
(3) " I'I.A;-':" - IIlstliria - Ci(\a(k de S. Paulo pOl Afonso A. de Freitas. (Arquivo ;<,Illnid pal ).
o IU IHn o D E \'I1.A ;<'IARIAX..\
l R()()-1874 ,
15
a
sagens feitas pclos homcns que tinham ido
procura de
ouro e do bu gre par a esc rav izar.
Com 3 ou 4 metros de lar gura , a conscrvacao deles
era fcita pclos sulcos des rodeiros do car ro e pelas pat as
des bo is, qu e por ali passavarn de vez em quand o. Slnuosos, po rem era precise dcsvla r de arvores gran des, pantano s e aguas. Nfio cxistiam pontes, os corregos cram
tra nspostos a va u, nas suas cabccctras de meno s agua e
rios gra ndee cra m co ntor nados e acompan hedos no sc u
curso. Camlnhos infind os. scgutndc scmpre a frcntc pur
subidas e dcscidas, ma ts a u menos num mesrno rumo.
"Urn desscs cam inhos foi par mim percur·
rido a cavalo q uand o mcni no, hi pelo a no de
1919 , do Ja baq uar a a te a Vila Con ccicao.
Ja ncsse tempo nfio era mais usado pclos
car ros de bois, porcm , por carrcc as de ca rvociros, estava m melhorados. Gastamos um dla inteiro para ida e volta.t'(" )
ln d icios que ja cxlstiarn moradorcs po r aqueles Iados
dao-nos noticias as csc rlturas lavradas ncssa epoca por
Francisco Ra poso - prero Iorro - a Inacio Fer reira de
Oliveira, conforme assento na Paroquia de Santo Am aro.
A node 1771.
Ditas tetr as cra m 0 sftio Othos-d' Agua, localizada s
dentro da F azcnda "Ressaca" no hoje ba irro da Ag ua
Funda, nas mar gens do s ribcirces Ipiran ga e T apcr a.t")
Logicamentc e de presumlr-sc qu e as caminhos da
dita fazcnda cra m dois : Urn, indo para Santo Amaro, passando pclo Ta buao c out ro pa ra a cid ade, sublndo ate a
estrada do Cu rsino pa ra ali encontrar a Estr ada do Mar.
Nfio cons ta que naqucles tempos cram usad os outros. 0
vale do Ribciriio do l pira nga era ala gadico c na cpoca
das eguas lmpr an cavel ; quant o aos ca mlnhos pelo espigao
do Ja baquara, s6 multo dc pois seriam abc rtos.
E ssas mesma tcrr as da Fa zcnda "Rcssaca'' mais ta rde
passa ram as maos de urn ta l Lazaro Piques, qu e tambem
16
o
1J..\. IRItO DE VI r.A
~ IAR IA~.\
as vendeu. Co nsta qu e Laza ro Piq ues era leiloeiro de escravos no Largo da Memoria c morador do largo qu e
ado to u 0 nome e que hojc e a Praca das Bandeiras.
o qu e acima se procura csclarcccr c que a sitic onde
hoje se localiza 0 balrro de Vila Mari ana ja naqucla e poca
era conhecido. Por ali passavam pela velha estrada nao
so viajantcs que demand avam ao liter al, como tambern ja
possufa moradorcs vizinhos qu e mais tarde viriam a se
asscntar ali.
De faro, os primeiros moradores do bair ro consta que
vieram do Ta buao, rnais ou menos em 1820, e se csta bcleccra m num campo junto a estrada . hoje totalm cntc ocupado
pcla caixa de agua do bairro , segundo 0 tcstcmunho de
imigrnntcs europc us aqu i chcgados em 187 8. Co nta m elcs
que encontraram no largo diversas casas c moradores antigcs, mnitos dos qu ais mcsticc s, ali nasc tdos c criados.
Dizia-sc naquele tempo que a s restos de umas casas
de taipas e urn p<X;0 em r uinas pcrtenccra a familias vinda s do T abuiio h:i rnais de cinqucnta anos.
Segundo as mesmas na rratives 0 loca l era co nhccid o
como " Rancho dos Tropeiros" e ali era parada de trop es
de burros e cargueiros vindos de Soroca ba, Parnaiba e
Itu , que pcrnoitavam , pa ra no dia seguinte rumar pa ra
Sao Bernardo e Santos. 0 local era urn grande campo com
ccrcado de paus para prendcr os anima is. Goiabciras e
pitangueiras tam bern havia mu itas, alcm de out ras grandcs
arv orcs qu e faziam sc mbra aos viajantes c an imais.
A inda hojc Ja cstd uma dessas arvores, no fundo de
uma escola [aponesa - deveria scr tombada pela Prefeitura - ; e urn marco, c foi justa mentc ao redor dela que
teve infcio urn dos grandee bairros da Ca pital, que is Vila
Ma riana.
Dizia-sc tumbem que du rante a Guerra do Paraguai
o local servia de descanso as tropas vindas do inte rior e
que se dirigiam a San tos, dcpol s de ter subido de Pinhciros
e cncuna do a viagcm cvit ando a volta pela cldade .
Tam bem fala va-sc qu e tinha sido pousc de posnl hoes
q ue faziam a corrcio pa ra Santos, tend o um deles morado
o
HAIR RO DE VILA ;\IAIU A:\'A
17
em sitio vizinho, ali pclos lados do hojc Largo An a
Ras a.
Loglcamente, vrajantcs vindos do litoral teriam que
forcosam ente passar po r aquelc sitio para se dirigirem as
zonas de Soroca ba. pois dali romavam 0 caminho de Pinheiros e assim encun ava a viagem. Os qu e tam bCm vinham da cidade, depo is de palmilharem a velha Estrada
do Mar, chcgavam com mais ou meno s uma legua. descan sand o no "Pou so", para dcpois ..eguir viagcm . Tod as as
viagc n.. naqucles tem pos cram feitas du rante 0 dia . Ninguem sc avcn tu rava por aqueles ermos dcpois de cscurece r. 0 " Ra ncho" acolhia a todos.
177 1- 1820
Os anos q ue mcdcia rn entre as duas datas ..Iio muitos. A primcira data e 0 marco asslnala ndo habit ame s por
aq uelas par agcns. A scgunda e 0 testemunho de qu e mais
ou menos nessa epoca cxlstiam mo radores rcsidcntcs ali
no largo da C atxa de A gua. que e 0 centro do bairro c
que 0 local j a era con hecido por muitos. Con sidcrando
o padr ao de vida naquelcs tempos. a nenhum a cullura dos
hab itan tes, scm recursos de cspecie algurna. pobres. eonheeendo ape na s 0 CSp31;O em qu e viviam. e Iacil compreender a sua indole e os scus costumes. 0 povo qu e rnorava
na vila era pouco, c mu ito poucos cram tam bem os qu e
se aventur avam a vivcr fora de burgos habitados levando
sua familia, sujcitando-se a doencas - as mais comuns
cram suficien tcs pa ra liqdida-los - 30 sacr jflclo naqueles
crmos, scm rccursos c scm scgura nca rncsmc de suas vidas.
Os po ueos q ue hi moravam pla ntavam peq ucnas roca s
para scu magro gusto. Cacando a modu dos bugrcs, vcstin do c calcandc q ualqu cr coisa nfio scntiam 0 tempo
(4) II t' 1I 1 i n i S('t~lId as d n ,Iutur - 19HJ .
(5) A~'au de Q Ilt·sto...~ de k lTas e m litl;;io . . .
:-' Iaria no Faguntlt·s e ~l i f,'11 ..1 Estl-fa nu - 19:29.
"
o
~'nt rc
Alltonio
8 .\ IRRO Ut: \'I L.\ \HR I"':-\ :\
passer. Em lugares etas tados 0 brancc e 0 indio vrvram
junt os e muitos brancos tomavam mulhcr ind ia para companheira. Brancas cra m raras fora das vilas. Ainda naquela epoca muitos homens moradorcs de Piratininga se
aventuravam pclos mates longinquos em busca de ou ro.
A Iavoura nao os at rata. preferindo afunda r-se naqu eles
fins de mundo. a proc ura de riqueza.
Isso contri buia para 0 atraso da s vilas c suas rcdo ndezas. 0 marasma e a cstagnacao do minavam os sjtlos. 0
tempo passava. n50 se contavam as dias ou semanas naquel as epocas. scmcntc as cstacocs do ana , SO imcrcssava
o tempo da s aguas para as pcqu cnas c raras plantacoes
qu e muitos P<)U CO S faziam . a s suios a u vilas naqu cles
tempos Iicavam unos c anas scm mudar de aspccto a u
aurnenta r 0 povo. Seus moradores morriarn cedo.
1840
Nessa epoca, ja no segundo imperio e qu e comeca a
viver a Provincia de Sao Pa ulo e suas vilas. Tcrminada s
as revoltas surgidas nas divcrsas Provincias do Pais durante a regencia, os governa ntes podem ent ao pcnsa r em
melhorar a vida do povo e da nacao. Services publicos
surgem e novas estradas sao feitas. T ambem procura-se
me1horar e cons erva r as j d existentes . As vilas se a proximam da cidadc c se ligam umas as outras. Mais viajantes
e mais comercio e com eles 0 interesse se acen tua. A
miseria e a igno rancia vao se afastando do povo e des
lugares. A nossa vclha Estrada do Mar tern agora mu ito
mais importancia, trilham por cia carros de bois com seus
alegres e pccu liares chiados c tropas de carguclros por cia
transitam .
a s snios ficam rna is conhecldos, e mals rnoradcrcs
sc estabclcccm. Li c fucil sc chcgar ao " Rancho des Tr opetros" .
Saindo da Libcrdade, dcpois passando pelo Morr o
Vcrmclho c seguindo pclo espigao da at ual Domingos de
o
B:\ IR RO D E " IL:\
~ I :\IU .\:\' A
19
Morais se alcanca 0 campo das Pita ngueiras, como tambern era conhecido 0 " Pouso", e dali para diantc, ja refeiros, seguiam em dcmanda do litoral. T ambem de Osasco
c Pinhciros, depois de passar pelo sitio do Bibia no ( 8 lB I ),
depois da encr uzilhada de San to A maro c da Capellnha,
margeando 0 campo do Barreto (I bir apu era) e subindo
o cam inho ( hoje Rua Franca Pinto ) tambe m podia-sc
chega r ao " Ra ncho" pa ra pemoitar. Passa va m por ali nao
sO viaja ntes c ca rguciros, tambem negros vindos do lito ral
e dcstinados
lavoura do Interior. 0 cscravo indio nao
dcra ccrto. t ic Oli o se acostumava ao trab alho. Prcferia 0
mat o, a caca, a pcsca. Ja havia nesse tempo muita lavoura
no Interi or e c ram ncccssdrios braces par a 0 cultivc e 0
negro era ncssa epoca 0 n.-curso
.
a que recorriam os fazendeiros e sitiantes. 0 nOSMl futuro bairro cada vez mais
progride, naturalmente. devagar, de aco rdo com a epoca.
Comecam a se form a r ac seu rcdc r familia s grandes. Sitlos se abrem com algumas culturas e ca minhos de scrvidao tambcm. Sao as futuras ruas do que urn dia sera 0
bairro. 0 cspigno do Ja baqua ra tam bern comcca a ser
hab itado e divcrsas familias jii se instala ram naqu clas paragens. Na A gua Funda ja estao abe nas muitas trilhas em
direcao a cidade passa ndo pelo Jabaqua ra e tambem novos
cam inhos pa ra Santo Ama ro, Pira porinha e Sao Berna rdo .
H nao e aqu elc malo Iechado sO com trilhas de b ichos de
cinqUenta anos atraas.
Ali se instalaram os Maria-ios. Seus parentes, os Fa gundes, moram no Ja baquara. No Bosque da Saude e Vila
G umcrci ndo ta mbcm os Fagund es e os Resendes. Os Vaz,
ali pelos laGOS da hoje Avenlda Estela e ba ixada da Rubem
Berta e Vila Clemen tine.
Estes bairros nao existiam ainda naq uela epoca e sao
cltados a pcnas para dar uma ldeia mals ou menus dos
loca is.
Eram as famil ias mais conhecidas ou com maior
nu mer o de mcmbros. Havia mui tas outras q ue po r serem
menos falad as ou po r nile se tercm Iixado no lugar, com
o tempo tivera m os seus nomes esquecidos.
a
20
o
BAllt KO DE \'1 1.'\
~I AR I.4.:'\ .4.
Ao findar a guerra 0 Irnpcrado r faz doacoes de sulos
aos scldados que voltava m do Paraguai {Voluntaries da
Pritria ) ou as famflias dos que I:i ficar arn. Muitos outros
tambern foram aquinhoados cntao com terras nacionais
naq uclas paragcnsIMIGRA NT ES
1870 - A Europa esta vn supcrlotado c pobr e. Muitos palscs cram obrigados a dlspersar scus filhos por outras terras, procurand o assim aliviar os q ue la ficaram. Os
mais cora josos e afcitos ao trabalho agricola, se lancavam
pclo mundo. procur ando quase todos eles os paises da
America, na esperance de urn dia podcr alcancar 0 que
em sua Patrla nunca podcriam couscguir. Ouviram sempre
d izcr que as novas tcrrus cram muito boas, extcnsas e que
os que vicram antes deles ja estavam ricos. Geralmente os
estrangeiros que aqui habitavam quando escreviam a seus
parcntes longlnquos contavam suas esperancas c seu ottmismo, nunca esqucccndo de alard ea r, como c natural,
muito mats do q ue a realidadc . Vinham antes os homcns
deixando hi a mulhcr, filhos au pais para depois ruand alos buscar. Os que conscgulam ajuda dos govemos traziam
toda a familia e iam diretamente para as fazendas do
interior , geralmenrc cuidar do cultivo do cafe, 0 trabalho
nas fazendas era feitc pelo cscravo negro, porem a campanha para a sua libcrta(ao ja ncssc tempo era grande,
,' A Lei do Ventre Livre" ja vingara. Os fazcndeiros viam,
prcocupados, 0 lim proximo da escravidao . A lalta do
brace negro na lavoura serla a ruina de suas fazendas. 13.
havia nessa epoca muita cultura de cafe no Vale do Paraiba e em outras zonas da Provincia, principalmente nas
chamada s tcrras " roxas". B nessa altura q ue 0 Senado r
verguelro, urn dos maiores Iazendciros c tambern politico
influente junto ao Imperador, lorna as primciras medidas
para a vinda eo Brasil de Imigrantcs da lt alia, da Alemanha e ourros paises europe us por conta do governo brasileiro. Ja habitavam em Sao Paulo muitos estrangeiros,
21
vindos as suas cx pcnsas. No Bras. na Mecca baixa, no
Bo rn Retir e , no Bcxiga. geralm enrc estavam Instalados
mui tos italianos. Em Sa nto Am a ro. a lcmaes. Tambem no
Bras muitos espanhcis . Em outros bai rros. po rem, em menor mimcro. ta mbe m hav ia imigrantes.
lX78 -
A "CO LO:" IA"
Dcsra part e em di ant e da nossa hlstoria sobre 0 ba irro
de Vila Ma riana 0 qu e vai aqui cser ito poueo esta docu mcntado em a rq uivos, e ta mbe m poueo e co nhccido por
historiador cs. A s nossa.s dcsc rlcccs agora vao scguir acorn pa nhan do 0 testcmu nho vivo do s antlgos moradores locals,
vctblnho s sim ples c stnccros, aindn com boa memori a, que
conta m coisas c Iatos at e com entuslasmo c alcgrla, sabcndo
que algu ern csta intercssado em o uvlr-lhcs os casas de sua
[uventudc . Con tam 0 q ue viram e 0 q ue passara m. Co nram .
tambcm , 0 qu e ouv iram , quando mocos, d DS mais velbos.
o prim eiro nucleo de estrangeiros a se Iixarem em
Vila Mariana foi de itahanos do nort e ( Ma nt ua ) em 18 78.
Por conccssao do impe ra dor, urn grupo de umas 20
farnilias vicra m a sc cstabel ecer ondc hojc e 0 J ardim
da Glori a. naquelc tempo chamado Chdcara da Gloria .
Essa vila ficavu na s ma rgcns do Ribcinio lpiranga, entre
o atua l ba irro do Ipira nga e 0 cspigao da ho je A ven jda
Lins de Vascon celos, ao lado dircito do cmao !tit io do
Francisco Possjdonio. esse bern pro ximo a hojc Igrc]a
Margarida Ma ria. Foi dad o a cada familia urn lote de
terra o ndc a mcsma pudc sse eo nst ituir a sua morad a e
cultivar urn pcqu cno troche , para assim podc r abasteccr
os morador es da s rcdondczas c ta mbcm a cid adc, co m
legumes c fru tas. Fato intere ssante : nesse tem po j a se
pcnsava em eriar "cint urfio verde" q ue mais ta rde pod cria
a bastcccr a cldad c. Essas famflia s vi...das de sua pa tria
co m pcqucnjssjmas eeonom ias co nscg uira m. aiudando-se
uma s as outra s. formar suas chacaras e pom ares. e mcsmo
22
o
8 .4. 11\1\0
D1~ \' 1I ~4.
' I.4.R I.4.:".4.
•s
~
~
1
~ 1=
-e
0
•
algoma roca. 0 terr ene do vale era acide ntado, porem a
terra era regularmenre boa e possu ia boas aguas. Posslvclmente lenha sido fcito ali 0 primeiro pla ntio de uva no
bairro.
T inham elcs pcqucnas criacocs c algum animal de
tiro, com os q uais transpo rtavam os seus prod utos pa ra
lugares mais dls ta ntcs.
Era essa genre afeita ao tr abalho da terra. romando
parte no labo r diane nao sO 0 hom em, mas tembem muIheres e cria ncas, indo 0 rude Irabalho de sol a sol. A esse
peq ueno po vo cab cria logo mais lomar parte impo rtant c
no povoam cnto do bairro qu e iria nasccr na s proximidades. Por mcio delcs qu e vicr am mais imigrantes para a
Iutura Vila Mariana. Muiros tinham la na terra distan te
pais, irmaos, pa rentes c ernigos aos qu ais mandavam as
suas cart as - todos elcs se corrcspondiam com os pa rcntes lo nginquos. Para aquelcs qu e niio sabiam escrever,
sempre havia urn patricio cscnv ao . Co ntavam etcs das suas
lutas, porcm tambem dlziam de suas cspcrancas. da terra,
e da gente boa qu e aqui cncon traram. 0 nome de algumas
dcssas familias de pionclros ficaria da li para diante fazendo parte da comun idade do novo baiera . Havia entre
eles os Verdi, os Morcti. os Paulcti. os Modesto, os Cusin,
os Noce, os G rand i, os Cerotas, os Stopa, os Botccchia,
os T alacolo c muitos outros.
Desscs antigos imigrant es que aqui vicram mocos ncnhum deles mais exisle, porem os scus nomes constam nos
ant igos tumulos do Ccmitcrio de Vila Marian a, e seus desccndentcs, ainda mu itos deles habitam a nosso bairro.
De pois q ue esses colonos aq ui se estabelcceram ficou
o nosso ba irro ja con hccido em Sao Pa ulo com a nome
de "Colonia" .
Niio mais seria conhecidc como antigamcmc de "C ruz
dns Almas" . Seria a " Colonia" ai nda por mu itos anos
rnesmo depois do bai rro ter tornado 0 nome de " Vila Mariana" .
"A dcsignacao dc " Cruz da s Almas" , como
cram co nhccidos estes sitios, segundo narr am os
c
r nais antigos. orlginou-sc do faro de duas cr uzcs
plantad as nas proximid ades da Rua Afonso
Cclso, num atalho de carros. que dcssa rua ia
dar na Ru a San ta C ruz.
Nequelc local. dizia-se, foram assasslnados
dais Irmaos tropeiros. Bssc crime fora atribuido a quilom bolas ou assalta ntcs de cstrada ja
M dczcnas de anos passados.
E interessante notar tambem que a Rua
Af onso Celso antes tin ha 0 nome de Santa Cruz
c a atu a! Rua Santa Cr uz era charnada Bela
Vista. Naturalmcn:e, lssc sc rclacio na com a
locallzacno daq uclas cruzes na cstrnda . Quando
mcnino muitas vezcs passel pe r cssas cruzcs. a
local era urn an tigo trecho do caminho de carro s rodcadc de mala. porcm as cruzcs cstavam
scmpre no limpo e. pcrto dclas. qu adr os e Iiguras de santos. Muita genre ali accndia vclas.
Hoje clas nao rna is exisrcm. Em seu redor foram edific ados predl os de residencies e, sc nao
me cngano. nesse local foi edificado 0 G rupo
Escolar Klabin Segal".(1)
A EST RA DA CA RRI L DE FERRO D E
SAO PA ULO A SA;-';TO A MARO
Em 1886 urn fato auspicioso vern dar mais vida e
impo rtancia ao nosso ba irro.
I:: a estrada de ferr o q ue, saindo da Libcrdade vai
ate Santo Amaro. passando pete centro do bai rro de Vila
Mariana. De S50 Pa ulo a Santos ja trafegava a cstrada
agora de uma companhia ingtesa por em construfda pclo
brasllciro Barno de Malia. Era esse na epoca 0 tr unspor tc
mais rapidc c mais cuno d o que surg ira. 0 Rio de Janeiro
ta m bern possuia a cstrada Rio-c- Pctro polis e em outras pro-
en
2.
II t'lll i l1 i '('t~ nd :ls
ti n autor -
19 19.
o 8 ..\lRnO D E ' ·I L -\. \ 1..\81 ,. \\, ,-\
vincias sc cogitava ou sc construfa outras tambern. Estavamos na era da locomot ive au "trcm de ferro", como
nossa gente a chamava. A vida de Santo Amaro esta va
nessc tempo em franco progresso. Havia ali multa cultura
c muita crincao. Era 0 trabal ho dos colonos alemacs, ajududes por nossos caboclos que a pa recia . T amb em 0 treeho
que a estrada ia percorrer possufa ja muhos moradorcs
garantindo assim passageiros e cargas. A lenha, 0 combustivcl usado na epoca, viria a ser transpo rtada por cia, pols
a zona de Santo Ama ro era a maior fornecedo ra da cidadc,
tra nsportc esse que era feito ate ali por carro de ho i.
feito 0 aterro do v erguciro, onde hoje estii 0 parcdao
com grades de ferro. No Morro Vermc1ho, ali no San to
Agostinho, sao feitos maio rcs cortes e assentados os tr iIhos, saindo 0 trem da cstaceo inicial, q ue era em frente
a Rua Sao Joaq uim, ondc hoje e uma estacao de fo r~ a
da Light e, subindo a atual Rua Vergueiro , chegava ate
a Rua Paratso. Dali seguia em linha quase reta numa paralela a Estrada do Vergueiro, porcm ap roveitan do 0 terrene
rnais alto daqueles sftios, la pela hoje Ru a Domingos de
Morais ate 0 largo que mats tarde teve 0 nome do bai rro.
No largo de Vila Mariana, prcclsamentc ondc hojc csta
situada a velha estacao de s bcn dcs, constru iu a E strada
as suas oficinas de rcparos de maquinas e vagoes. Desse
largo cntiio sara urn ramal pa ra 0 bairro do Ca m bucl.
Esse ramal cntrava na hoje Rua Ncto d.e Araujo, seguia
dcpois pela a tua l Avenida Lins de Vasconcelos, que tambern tevc qu e sec aterrada para proporcionar leito plano
e dali ia em dirccao ao largo principal dessc ba irro.
Nao parava pcrem ali 0 trecho. Seguindo , 0 teem la
cntao pcla ba ixada do Gllcerio ate 0 Mercado Mun icipal
na Rua 25 de Marco.
De Vila Mariana continuava 0 tronco para diante e
na altura da atual Rua Scna Madu reira sa ia out ro ram al.
Esse era 0 trccho que, da pa rad a dcnomin ada "Chave",
seguin ate 0 Matadouro Muni cipal qu e cstava scndo conslruido.
-a
28
o
BAIRHO DE VII .A
~ IAH IANA
,,
"
<
~ -e"
"~
5
~
0
."
2
0
'"
~
•
~
0
e,
0
-e
" "
c,
en
i-"
"
",
0
0
"
• ~
'E
o" '"0
s
~
;E
," "1 -e
0
'0 " s
"00
8 <
~
,
0
-c
" ec
" '"e
~ ;
"
5
~
, '"g
-e
"
e
"v
'~
0
"e z0
.
i ,,"
.s" s
Id a tumbcm a cstra da de ferro transporter a ca rne
verde do novo Mata douro para 0 tenda l do Largo Sao
Paulo . Pa r curiosidadc: esse tcndal foi dcpois demolido
c em seu lugar construfdo 0 Teatro Sao Paulo. Agora esse
tambem foi dcmolido para dar lugar a urn viaduto que
ira ligar duas partes da cidade.
Voltando ao nosso trem, esre depois de dcixur a
parad e "Chavc" fazia outra parada logo ad ianle. Era a
parade da Capcla da Saridc. naquclc tempo uma pequcna
capcla com q uarro parcdes. simples e pobre, onde 0 povo
ia rczar aos dom ingos quando vinha a paroco da cidadc ou
de Santo Amaro oficiar a missa. Nao estava propriamcntc
no lugar de hojc, porem urn poueo mais perto da Rua
Santa Cruz. A purada scguintc era a Parada Bosque, na
atual Praca dol Arvorc. Out ra parad e era a Estacao Nova,
no antigo Parq ue Imperial, ondc hojc a Light possui uma
estacao de alta tensdo. Dcpois, vinha uma cstacao de ccrta
impo rtancia - era a do Encontro. Ali havia um chcfe
que rnanobrava 0 tra fego das composicoes que vinham de
Santo Amaro c tambern da va a linha para os trcns procedentes da cidadc, ea rn rclcfone ligado as cstacocs de Vila
Mariana e de Volta Rcdonda. A linha da Ferrocarril era
slngcla e nao possuia 0 sistema moderno de "Estate", que
ainda nessc tempo niio era usado no Brasil, scndo 0 service de seguranca fcito imicamcntc pclo telcfonc particular
das estradas de ferro.
Bssa estacao sc localizava no fim da Avenida Jabaquara, proximo ao atual Aero porto de Congonhas. Ao
partir dali , a trcm chcgava emao a proxima parada que
era Elias Chaves, atr avcssando a tual pista do Acroporto
que naquele tempo era 0 suio da familia Elias Chaves.
Adian te er uac era a parad a do Buraco do Pcixc - atual
bairro do Aeroporto - local onde havia uma agua que
muitas vezes, quando a composicao q ue vinha de Santo
Amaro com muita earga, gastando rnuito vapor au por
motivo de algum vazamcnto na calde ira , sc abastecia ali
de agua para poder seguir viagem. Essa agua era tirade
aos baldes c posta no rcscrva torto da maquin a pclos pro:JO
o
RA IR BO D E \'11.:\
~ t A IHA ~ A
pries Iogutstas c maqulnlstas ou mcsmo pclos passagciros.
A seguinte nne era uma parada. E ra outra cstacao tambern com chcfe e tclefone: a Volta Redonda . Dcpols vinha
a parada Cordeiro, e a seguintc a pa rad a Galinh eiro a tual Vila Helena (esse nome fo i dado pclo motivo de
ali existir uma granja) . Ma is duas parada s : a do Alt o da
Boa Vista, onde hojc c a C t nicara Flor a, e Sao lose, r -crto
do Co nvento do mesmo nome que la csta ate hoje, antes
de chegar a estacac term inal que era Santo A maro .
O local era ondc at ualmc ntc csta localizado uma casu
de fcrca da Light, 0 G rupo Escolar "Li nen Prestcs" e 0
Co rpo de Bombciros de Santo A ma ro.
Ocup ava a estacao, armazern c patio toda a quadra.
Havia 0 depo sito de lcnba. a caixa de agua, manguciras
para ca rregamcnto de animais, pat io pa ra a carga c descarga de carros de bois, e oficina r nccdnic a para conserto
de mdquinas e vagocs. Essa Hnha de ferro tinha bit ola de
trilhos de 60 em entre elcs.
As composicoes geralmente cram Iormadas de quatro a seis vagocs c eorria na vcloclda dc de mais ou rncnos
40 quilcmctros horririos. Os vagocs de passagciros normal mente cram dois, os outros de carga.
o engcnheiro residcntc era a Dr. Albino Borba. Os
chcfcs de trcrn cram os Srs. Pamplona c Gomes. Na Esta~ao de Enco ntro era chcfe a Sr." Mari a Bonani c na de
Santo Amaro 0 Sr. Henrique Polidoro Borba.
T ranscrcvcmos aqui urn trecho do livre de A ntonio
Egidio Mart ins, Sao Paulo Antigo, sobre cssa estrada de
ferro.
"E m meados de 1883 dcu-sc 0 princip ia
a construcao da linha da Compa nhia Ca rris de
Ferro da Ca pital a Santo A ma ro, da q ual era
supcrintendcntc a Engenhciro Alberto Kullman
e que ficou concluida em 1886, rcalizando-sc,
com a asslstencla do Senado r Alfr edo Correia
de Oliveira, Prcsidcnte da Provincia, a inauguracao oficial da linha no dia 14 de marco do
mesmo ana e a do ramal do Matad ou ro, dcpois
:1:2
o RAmBO DE VILA
' IARIA~A
de concluld as as ob ra x de constr ucno da mcsma.
foi pelo Presidcnrc da Provincia autonzada. a
23 de scrcmbro de 1887 . sua abe rtura ao trafego, sendo que, atualmcnt c. rodas as rcscs a bat ide s naquclc Matadouro sao trazida s em carros
cspcciais pa ra 0 te nda l situado no La rgo dos
Ingleses, hoje Sao Paulo .t't ")
" 0 BA NCO UN l AO"
Mais ou mcnos em 1884 , uma compa nbia. conctiluida por nacionais c esrrangciros . da qu al fazia parte
ta mhem a fam ilia Ktabin como maior acionista , foi funda da com a denominacao de Banco U niao.
Dcstinava-se cia a fazer melhoramentos na cidade
qu e ia surgindo. J:i estava a vista, para os qu e tinham
clar cza de visao , a grande metr6 pole do futuro. 0 govem o
im perial cornccara a const rucao de uma univcrsidadc para
Sao Pa ulo. la pelos lades do at ual ba irro do Ipir a nga.
Fazla-se a espla nada par a 0 asse nto do predlo, com muito
movimemo de terra e gra nde mimcro de opcrarios e
carrocas.
Moradorcs vizinhos, dentes das lm cncocs do Gover no. agora davam muito valor as sues rcrras. pois iriam
Iicar mu ito proximos a nova parte da cidadc de Sao Pa ulo
que segundo cre nca gcral, serla nas imedlacoes da un iversidadc. A companhia Uniiic ta mhem prctendcndo tamar
pa rte na valorlzacao do bai rro propOe a compra de tcr ras
a muit os habitan tes locals. Co nscguc cia assim, entre
outras. tod as as terras da antiga Colonia des Italiunos.
Est es, na tu ralmenrc com ho ns Iucros. pois nunca tinham
visto tanto dinheiro, dci xum os scus sftios e quasc na sua
totali dade constrocm novas rncradas no nasccntc ba irro
de Vila Ma ria na. que tam bem ja progredia. Muitos delcs
VSj Sao Paul o Ant igo - An tonio Egidi o
(l\ ibliolt-(:a ~[ LLni t"i p;ll ) .
o
~ 1<Lrtins
- 191 1· 19 12.
8 :\ I "RO D E \'I Ll, \1 :\"1 .4.;\.-\
sc csta bclcccm com casas come rcia ts e outros sc tra nsforma m em opcra rlcs na cstrada de ferro em construcno.
Porem, q uasc na conclusao do predio da nova univcrsidade ha uma reviravolta.
o arquitcto construtor da cscola, por sinal um italiano, pa recc csqucccr a que sc dcstina va 0 predio . As salas
fieam escuras e as outra s par tes do rncsmo nao se adaptavam ao fim destinado. Dcra mai s importancla
pa rte
des Iachada s e vista s. 0 interior e acanhado, scm luz c
com pou eo a r. Surge 0 impasse. Agora nao se pod cria
instalar ali 0 que fora planejado, e como Sao Pa ulo ainda
nao tinha urn Museu e aproveitando 0 mot ive de tcr sldo
ali 0 local do at o historico da lndepc ndencia da Nac;ao,
e 0 predio transformado em urn museu.
T inha 0 Banco Unlao comprado ja muitas rcrras no
local. Ouase todo 0 vale do Ipiranga, dcsde as prox imida dcs do Museu ate a atual Rua Luis Gois em V ila Mariana. Dcpois do vale tambem comprara ou tra s alcm da s
vertentcs do mcsmo.
Co m a brusea m udanca da sit uacao a com panbia
nfio pede prosscguir e cnccr ra as suas ativida dcs. 0 prejuizo e quasc tota l. A familia Klabin cntao fica com 0
accr vo e to rna-se prop rictaria daquelas tetr as.
Por muit os anos fieam cssas areas dcsc rtas. O s
Kla bin sao muito ricos c nao precisa m dispor da s mcsm as.
Espera m q ue 0 progrcsso de a cla s valor pa ra assim poder
rcssarcir-sc dos preju izos. Ate hoje a grande maioria dessa
area continua scm construcocs. Foi nclas que sc insta lou
a F avela do Vcr guciro. Agora, ja livre dcssa fa vela, continua no cnta nto a ar ea ainda descrt a entre os bairros de
Vila Ma riana e Ipi ra nga.
a
"O S BONANl"
Par a os lados do a tual bairro do Jahaqu ara, qu e naqu clc tempo fazia pa rte de V ila Ma riana , rnorava uma
familia tambcm vinda do norte de Iralia . Eram os Bonani .
() u.unno DE VILA
~ I A HI A:\'A
3.'5
Francisco Bonani, casado com Dona Paulina Bonanl.
aq ui chegou em 1887. I::le era 0 unico cstrangeiro por
aq ueles sitios e se estabelccera com urn pequeno ncgoclo
em frente a Estacao do Encontro. 0 Jabaquara possuia
bern poueo s habitantes. 0 lugar era ainda bruto. A
venda aba stecia alguns poueos caboclo s da redond eza e
passantcs da Agua Funda e de Santo Amaro.
A casa dos Bonan i tambern era pouso de trcpciros
que vindos dos lados de Sorocaba tra z'am carga de fumo
c tropas de burro s para vender em Sant os. Depots de
urn ou da is dias de descanso scguiam .rumo ao Taboiio
e Pirapor inha, fazendo 0 seguinte pouso no Rio Grande,
para depois, descendo a Serra. chegar ao lite ral. Fni
cssa familia a que constr uiu a primeira olaria naqu elas
paragens e tambe m uma scrrarla nas margens do corrcgo
Olhos-d'Agua.
Segundo 0 relata do Sr. Emilio. filho do falecido Fr ancisco Bonani, a ola rta fabricava os melhores tijolos das
redondezas e fomcccu esse mat erial a muitas construcoes
de Vila Mar iana.
Qua nto a serruria. csta nne possuia maqu tnas. n trabalho era feito a brace de homcm pete antigo sistema do
scrrotao a dua s pessoas. Depois de a lora ester apoiada
num cavaletc, urn homem ficava em cima e outro embaixo
para puxar 0 dito scrrotao. A propria mac do Sr. Emilio
ajudava a scrrar cssas toras c tambern a derrub ar as rnadeiras no mato junto com 0 filho. Dona Paulina Bonani
viveu ate a ldade de 102 an os. As matas do Jabaquara
ainda sertao possuiam muita madeira de lei. ate cedro
e tambem toras com 1 metro de circunferencia . Essa
serrarta, com quatro ou cinco cmpregados, produzia material para construcocs q ue era cnviado a urn deposito no
Paraiso e tamb em Iomecia dorrnentcs para a Estrada de
Ferro. Dcpois, com a chegada da Forca Eletrica foram
mon tad as maq uinas e cssa scrraria funcionou ate termina r
toda a madeira exlstcnte nequclas ma tes. Damos aq ui,
a titulo de curiosidadc e tambem para que rique registrado, urn fato incdito c interessante para aquelcs tempos:
o
HAIRRO D E VI LA :\IA IH Al'"A
a Sr." Ma ria Bonani, filha do Sr. Francisco Bonani, era
o chcte da Estacjo do Encontro. Era ela que dirigia a
Bstacao e que or lcntava 0 movimcnto des trens naque le
trccho da cstrada .
Com muita razao podc-sc dizcr q ue essa familia de
trabal hadorcs podena tcr side a propricni ria de qu asc
toda s as terras dessc ba irro c nao 0 foi pe r ter seguido
scmpre a linha da rctidac e honestidade, q uand o outros
ja naquelc tempo grilavam tcrras, ccrca ndo e sc apropriando do que nao era seu. Cabe pois a essa familia
de pioneiros e quasc desbravadorcs daqucle s sitios 0 direito de screm rcconhecidos como os t undadorcs do grand e
bair ro q ue hojc e 0 Jabaquara.
o at ual chcfe dcssa familia, Sr . Emilio Bonani, agora
com 75 enos de idad c, com a saudc urn tanto abalada,
porem com lucldez, ai nda orie nta e ajuda os filhos em
scus negocios.
Tambem a atua l Cidade Vargas muito dcvc a esse
cidadiio. Foi elc quem derr ubou as mata s ainda vlrgens
daqu elc local c ergueu a maioria da s casas do novo bairro .
o
BAT/ SMO DO BA IRRO
1885 - Por esse tempo a Vila ja regularmente movimentada possufa algumas casas de ncgocio . Erarn poucas e mal sortida s. Os moradorcs abastcciam -sc Iii pcla
Libcrdadc ou mcsmo no Mercado Municipal onde iam
mais ou menos uma vcz po r mes de ca rroca ou de trem.
o bai rru era ainda conhecido como a Colonia dos Itallanos.
A nossa Vila, ncssa epoca , nfio passava de uma
pequ cna area em form a de triangulo com inkio no Mar co
de Meia Legua , pertencente a Ircgucsla da Sc, cncravada
entre os bairr os do Ipiranga, Camb ucl e as Vilas de Santo
Ama ro e Sao Bernardo. 0 scu pon to extremo era na
Pinhaiba ( Jabaqu ara ) e Curral G rande- (M unicipio- de
o
HAIRRO D E VILA
~IARIA:"l"A
37
Diadcmu, antiga Vila Concclcao) . So dali a dcz a nos
viria a ter 0 scu ca rtori o de paz e fica riam dcllncadas
as sua s d jvisas e marcados os sells lirnites.
No entanto 0 La rgo da Estacf io e suas imcdia coes
er a ja na epoca 0 local mu's importantc daqucla zona,
ond c havia 0 malo r numcro de moradorcs. na sua maioria
italianos que , com a cultu ra e expene ncia tra zidas de suas
patrias, tra n-Ior mavam rapid a ment c aquel es crmos em
locai s civilizadas e habitaveis. Moradores da Chacara da
Gloria, Dcodoro, Matado uro, Ibir a puera, J abaqu ara, Agua
Funda , Tabufi o, Vila de Nossa Scnhora da Saud e, Vila
Con ccicao. Multos de outros ba irros como Ca mb ucl,
Ipir an ga, Sa nto Ama ro, Sao Be rna rdo e mesmo do Paralso
vinbam ali rcalizar ncgocics e visita r scus patrlclos. E
dcssa-dat a 0 primciro totcamcnto do balrro feito pclo enlao Banco Comcrcial. Sao Iotcadas ar eas ali no fut uro
La rgo de V ila Ma riana, surgindo cntao 0 Lar go TeoJ oro
de Ca rval ho, ru as do Progrcsso, Dona lnacla , Dona Brigida , Dona JUlia c cutras.I'')
Foi ncssc a no qu e chegou Vila urn cidadiio chamado Ca rlos Eduardo de Paula Petit. Era filho de boa Iarnilia radicada no bai rro da Consolacao. 0 pai era frances
e a mac de or igem portu guesa : Don a Ana, T inha ele passado a sua [uv entudc naqu cle bair ro e feito divc rsos cstudos
inclusive 0 de scmina rlsta, tendo aba ndonado esse curso
lis vespcras de pOr batl na .
Ca sou ncssc mesmo ano com a profcssera D. Mar ia,
"Mariq uinha", como er a chamada na intim idadc , c que
lecionava na Vila de Santo A maro.
Homem de boa cultura e m uitos con hccimcnto s, logo
conseguiu a locatlza cao de uma escola publ ica no bai rro ,
ondc sua cspos a, agora ccnhccld a como " Dona Mariqu inba" Petit, passou a ensinar as primeiras let ras as poueas
criancas dali.
a
(9) ~ I <lpa do Lotc anu-nto de Vila Xlatiana, fctt o pe!o Banco
COIll('r{'i" I, ('Ill lf1SH, jArfluivo ~ I u nici pal ).
o B:\lHnO DE VIL:\ \lAIUA:'<\.-'\
Na Rua Verguciro 0 casa l construiu sua rcsidencia.
que flcava em Ircnte ao antigo cam po das Pitanguciras,
ondc hoje esta localizad a a Caixa de Agua.
Tratou ele em scguid a de dar uma dcnom inacao ao
hair ro, q ue ai nda nao tinha nome, 0 qu al r6sse cfcnvamente conhccido, e q ucrendo tambem preslar homenagem
a sua mae e a sua esposa, juntou 0 nome da s duas, Maria
e Ana. form ando urn so, reccbendo assim a Vila a designacao de " Vila Mariana", com dois " I" c dois " 0 ", como
sc usava cntao, e ate agora 0 bairro conserve esse nome,
porern simplificado na nova ortografla.
Dessc hcm cm, que foi urn bencmer uo do nosso bairTO, c de Dona " Mariquinha" , que foi a nossa primcira
pro tessora, Ialarcmos mals ndiantc.
CASAMENTO E ENTE RRO
Os casamentos cram Ieitos no Carton o da Libcrdade.
Os noivos e comitiva, qu ando se tratava de Iamilias mais
ou menos abonadas. freravam um trem com alguns vagocs
para ida e volta a cidade.
Os mais pob rcs. po rem, tomavam 0 trem no hcrario
comum, e depois da cerlmonia espcrava m as vezcs ate
algumas horas , qu ando entao 0 trcm de Sao Joaquim vinha
para leva-los de volta a Vila.
o casa mento rcligloso era Ieito na Paroq uia de Santo
Amaro, ou na cidadc. por em na epoca po uca gcntc usava
esse cos tume. Achavam que tendo casado no ca rtorio
ja era suficientc. Nao havla "l ua-de-mcl", pois no d iu
scgulntc ao casamcntc cad a urn ocupa va-se de scus alazercs normals, e a vida contin uava .. .
Tam bcm nao possuia aind a a nossa Vila ccmitcrio.
Os cnterros cra m Icitos no Cemlterlo da Co nsolacno. 0
dcfunto era lcvado a brnco. Niio existiam carros tunebrcs e. a nao scr em casos cspcciais q uando 0 mo rto era
mu ito pesado, entao era tran sportado numa car roca com
o
" .\tRltO DE \'11 ..\
~1.\1lI ." ~ ."
3.
J
J)
1~
I
acompa nhamcnto a pe. Os caixocs cram comprados na
Casa Rod ovalho, na Rua da Mecca. ou cram fcitos pa r
carplnt ciros da Vila .
Gcratmcntc 0 caixjio era t ransportado por qu atro
pcssoas. passando-sc dois paus po r ba ixo do mesmo, um
na frcn:c c ou tre at ras, scndo as pontes desscs p ;LU S apoiade s nos om bras de quatro horncns. Durante 0 trajcto
se revesavam. pois 0 car ninho era longo e indo dcvagar
como e natural gastavam-sc rnuitas horas. Era seguida
a Rua Dom ingos de Morais, Rua Paraiso c Avenida PauHsta que, naq uela epoc a. nao passava de uma cstrada abcrta hii pouco no mcio do mato. Depois, hi na encruzilhada do caminho que vinha da Vila Plnhciros, desciam e
chcgav a rn ao ccmiterto.
Essa obngacao. como era considerada naq uclc tempo,
oeupava
dia intciro dos aeompanhantes. Muitos delcs
j a lcva vam a respective matu la (saco de pane com alimenres ) , pois nfio encontrariam pelo caminho ondc comer.
Em Irentc ao ccmitedo havia urn botcqulrn com "pinga
boa", ondc a comitivn "m atava 0 bicho" dcpois do enterramento c emao muito s "sobrava m", ehegando de volta
a Vila a noite ou mcsmo de madrugada .
°
o
M A TAlJOURO
1887 Ncssc ano comccou a funcionar 0 novo
n:ata dou ro municipal do nosso bai rro . A mata nca dos
bois era antes Icita no antigo mutadou ro, localizado na
Rua Humaita, no ba irro da Liberdudc. As manguclras
para gua rda das reses era no Vale do H OfO n ) , ali pclos
lades do antigo Moringuinho. 0 cor rcgo que cntao ali
corria serv ia de bcbcdouro aos animais c tam bem com a
rncsma agua eram Javadas dia riamcnte as lnstalacoes.
Estava elc muito pcrto da cidade e tambern agora jn obsoleto nilo atendia rnais as ncccssidadcs da pop ulacao. As
rcscs, dcpois de abatidas c llmpas, cram transportada s cm
o UAIR HO DE VILA MAn IA,," A
ca rrocas para 0 tcndal do Largo Sao Pa ulo, ondc o s acaugues sc abasteciarn.
novo metadouro localizou -se ond c hoje 0 bairro
de Vila Clem entino. Agora essa antiga construcao e utilizada pcla prefcitura como deposito de mat erials.
Chegava-sc a elc pete antigo caminho do matadouro
( hoje Rua Franca Pinto ) e pela esrrada da linha do trent
( ho]c Sena Madurcira ). As boia da s para 0 corte vinham
uma s do lplra nga e outr as da Lapa . As qu e vinham do
lpiranga cram dcscarregada s nessa cstaca o e de pois pcla
Estrada do v crgueiro, ruas Co nde Inaja e Domingos de
Morais, cnrra vam pela Scna Mad urcira. at e as rnangucira s
qu e Iicavam pro xtmas do matadouro. ali aguardundo 0 d ia
do sacnf fcio. A passagcm das boia das pclo bairro era
scrnpre urn a co ntccimcnt o. Os bois, j a cansado s pcla
viagcm de trcm, vinham pela cstrada cspnvorldos como
uma avalanche. 0 povo. ao grito: "a boiada". coma e
sc escondia atnl s do primciro ccrcadc que cncontrassc a
frentc ou cntrava na primclra po rta quc achassc ebcrta.
No mclc da bo iada cram comuns bois bravos e muitos Ca SOS houve de acidcntes com popul ares. Vinham
elcs num tropcl e em meio a poeir a c s boiadciros a cavalo
de urn para outro lad o csporeando os animals, gritando e
bramindo os cbicotcs. £SIc cspctdculo dav e a impr cssao de
uma lcgiao de dcmonlcs saldos do inferno. Os bois qu e
vinham da Lapa tambe m eram trazidos da mesma forma.
Ao descmbarcar na esta c;ao eram entdo tr azidos para os
Jados do ccmiter io (A La pa da C ity n50 cxlsiia ainda) e
dal i seguindo a Estrada das Corujas e os campos do Pedro
Cnste. dcpois de atravcssarcm a Rua Teodoro Sampaio
cntravam na est rada do Bibi e dcpois pclo Ibira puera
chegava m as mangueiras. 0 predio do matado uro era
uma boa construcno para aq uelcs tem pos. Paredes com
tijclos a vista, bern asscntados e ate com artc, davarn born
aspccto. As part es intcma s cram amplas c as lnstalacoes
de mata nca mats modcmas que as do antigo. Dcpois do
abate a carne verde era tambern tr anspc n ada pa ra 0
mesmo tcndal do Largo Sao Pa ulo. Ago ra esse tr ans-
o
c
o
B:\IRRO DI': " ILA U"RI.\:"ri:\
porte era feito de trcm ate a estacao de Sao Joaquim c
dali entao, em carrococs apropriudos . ate 0 tcndat. Ao lade
do maradouro, pouco tempo dcpols foi constr ufdo ta mbc m
o cu rtume. de ondc saia urn corrcgo de agua scmpre tinta
de sanguc (0 Corrcgo do Sapa teiro ) . Nas imcdia coes e
sobrc 0 prcdio do matadouro scm pre havia muitos urubus .
Co mo se pode imaglnar, em toda aqucla area scntia-sc 0
mau cheiro provcnie ntc do mat adouro e do curt umc. ( No
local do cortumc foi constr ufdo agora uma cscola do
SENA I. )
o largo em frent e ao matadouro ( hoje Largo Senador
Raul Cardoso ) era bcm gran de. No meio dele uma paineira c em um dos lade s urn bambual. Alguns bote quin s
c ambulan tcs faziam scu comcrcio -. Ali se rcunlam openlrl os do matadou ro e do curtume com suas roupas com
marcas de sangue, facas de trabalho na cintura. Nao
cra m figuras agra davels a vista . Marchantcs, tripci ros,
earroceiros c mesmo mulhcres c criancas. Cachorros entao , havia ali ba ndos deles.
Os bois cram sacr tftcados a golpc s de lance na nuca,
por urn magarcfe que ficava no alto de uma plataforma
sabre a cor redor para ondc os bois eram tangidos. Ali
a animal dcrrcava ja sobrc urn carro que entdo era t ran sporta do para 0 salao dc ca mcio . 0 lugar da matanca era
publ ico, qualqu er pcssoa pod ia assistir . Multa gente vinha da cidad c beber sanguc q uente de bot, puis acrcditava-se entao q ue pcssoas anemicas au fracas tcriam com
aquela pr atica grandcs mclhoras ou podcriam ate obtcr
a cura de vcz. 0 deposito da s rcscs vinda s do interio r
Iica va na Rua das Manguclras. ao lado dir eito do matado uro . 0 local era justa mente em frentc a uma pcque na
pra <;a que hojc 1:\ cxistc, no meio do qua l crguc-sc uma
hi pidc em homenagem ao soldad o cxpcdlcio nario brasileiro da ultima guerra europeia.
Tambem na csquina dcssa praca ai nda existc uma
vclha casa, propricdadc da Prcfcnura. que data des primeiros tempos do Matadou ro.
o RAmBO DE VILA
~ IA R IA ;';A
43
Tran screvercmos a A ta Ina ugural desse Matadou ro :
"A ta de ina uguracao do Ma tado urc Publico desta Capital recentementc concluldo na varzea de San to Amaro.
An o do Na sciment o de N. S. Jesus Cristo
de mil oi tocentos e oitcnta e sctc. scxagesimo
sexro da Indepcndencia e do Imperio.
Aos cinco dia s do mel de Janeiro do dito
ano, nesta imperial cidade de S. Pa ulo, no lugar
ondc sc acha a edificic do novo Matadouro as
duas e meia da tarde. ahi reunidos as Exmos.
Presidcnre da Provincia, Bani a de Pa rnahiba , a
Ca mara Municipal compo sta do sr. Prcsidentc,
Dr . A ntonio Dutra Rodri gues e lias srs. v creadorcs Rafael A rguiar de Bar ros, Manocl Lopes
de Oliveira , A ntonio da Costa Moreira, Aquilino Leite do A ma ral Coutinho, Luiz Rodr igues
Ferreira. Co rncndador Joaquim Fernandes Cou linho Sobrinho, Antonio Paes de Bar ros, Comendado r Ant onio Ga briel e Francisco Nicolau
Barnil, aut oridad es civis e militar es, foi inaugurado 0 Matadouro Publico. para 0 fim de que
sc destine na for ma do respective regulam ent o,
abrind o Sua Exa. 0 sr. Presidcnte da Provincia
os portocs do csrabelccimcnto . E neste ato 0
Presidente da Cam ara Municipal resolvido dotar estc Municipio como urn mat adouro q ue
contivessc toda s as condicoes cxlgidas e achando-se findo 0 seu quatncnlo resolve inaug urar
hojc 0 service de mara nca, embor a nfio estivesse
e tc intcgr almcntc concluido.
Concluida a cerlmonia de Inauguracao se
lavrou a prcscme ata qu e Ioi assinada pclo sr.
Presldente da Provincia't.tt" )
(10) "Alas da Camara da Ci<!'ule til'S. l' ll"l " _
H187" - I"i~ , 7 (. ~. ( Ar< Jllivo .\l llnidpaL)
o
an t) de
HAIRRO DE \'I L.\ .\URI.-\:'oi'.\
Transcrcvemos aqui tambem outre trecho do livro
Sao Paulo Antigo de Antonio Egidio Martins a respclro
do Matado uro.
"As aguas do tanq ue do Matadouro Publico que corriam no Anhan gabau, que cntao atra vessava 0 largo do Bcxiga, na ponte do Luccna
( Piques) c proximo ao mcrcado de S. Joao c
na ponte do Miguel Carlos, na rua Florenc!o dc
Abreu, exalavam, em ccrtas hora s do dia, cheiro
Insuportavel, sendo estc urn dos motivos que fez
com que a Ca mara resolvcssc mudar 0 Mala douro da rua Humaita, para 0 que mandou
construir outro na Vila Mariana, e que a 3 de
janeiro de 1887 foi inaugurado, sendo que a
planta do mcsrno foi confcccionada pelo cngcnheiro Alberto Kullman. A Camara Municipal,
autorizada pela lei n.v 6 1, de 4 de maio de 1879
mando u vender em hasta publica, os pcquenos predios que possuia na ladelra do Carmo,
aplicando 0 produto liquido des mesmos na
construcao do novo Matadou ro de Vila Mariana" .( 11)
IMPORTANCIA DO BA IRR O EM 1888
o bairro ncssc tempo ja havia progredido bastante.
As oficinas da Ferro Carri l Sao Paulo a Santo Amaro,
Escola Publica do Estado na Rua Verguciro, ondc era
professora "Dona Mariquin ha".
Dutra cscola italiana, a do Vilafra nca, porto da Rua
da Saudade. Delegaeia de Policia na Rua Vergueiro. Fabrica de f6sforos na Rua Domingos de Morais. 0 Hotel
" Roma Inatingibili" e 0 Parque de Vila Mariana.
l I] Sao Pnulo Antigo [Biblioteca
o
Antonio
(0: . xt arnns -
1911-1912.
~ l u n ici p. . tl .)
BAIR RO DE VILA MAIHAIX A
45
Os costumes do s moradores do ba irro porcm continuavam os mesn:os. A noire. em dia s da scmana, todos
do nn iam Cl.-UO pa ra economize r queroscne .
A malorl a do povo fazia as suas compras pa ra 0 mes
inteiro, no mercad o municipal na cidadc , onde os gencros
cram mais baratos.
T omavam 0 rrem cedo com sacolas e cestas c volt ayam no Irem da tarde. 4 trens po r dia circulavam do
Largo da Estacao a cstacao da Rua Sao l oaquim. 0 trajete do mercado, que ficava ria R ua Vint e e Cin co de
Marco, ate ali era Ieito a pe. com a mercadoria as costas.
Pelo Cam buci tumbem podia-so ir ao mercado, embarcando ali no Lar go da Estacao no rama l que ia ate 0
Lar go do Ca mbuci e rJepo is dali 0 tr em scgula para a
Rua Vinic e Cinco de Marco, onde havia a cstacflo terminal.
A cc ncepcao do pc vo naquclc tempo era que se mentc Iazcndo muita eco nomic podia-so ficar rico.
Econ omlzavam em roupas. passcios e mcsmo na propria afimcntacao. Q uase todos elcs imlgran tcs, vindos de
suas pat rias pobrcs c supc rpovoadas. tendo la passado
muitas privacoes, almejava m aqui juntar dinhcirc para
depois voltar, em visita aos sees parcnres c tcrras longfnquas.
o Largo da Estacao, ja agora dcnomin ado Lar go de
Vila Mariana, era 0 cent ro das atividades do ba irro. Ali,
nas oflci nas da Fcrrocarr il trab alhavam dcz ou doze ope rarios entre mccantcos. fcrr eiros, carpl ntciros c bracais.
Era conium ver-se dlanamcrue no la rgo carros de
bois carrcgados em dcmanda a cidadc, ou vazios, ja de
volta.
Os carrciros, alguns deles com a" culcas arr cgacadas
ate 0 joclho c canusas multo remcndadas, toma vam nos
botequins ca fe com pflo. rctr esco de ca pite ou lamar indo.
Dificilmcntc cachacu.
O uase todos r nagros, cum a pa rencia de csta rem mal
alimentados. Er a genre simples c boa, 0 tipo de s nossos
o
B:\.IRRO D E VI L:\.
~U.RJ..\.:'\:\
antigo, cai piras. As vezcs vinha m com suas Ie mllias,
m uthcrcs c c rlancas, todos com scus peculia res costu mes
e vcstua rlos.
Passagciros dos trcns tambern paravam no lar go para
fazcr batdeacao, cspera dos trens para 0 des tine .
Pa ra Santo A ma ro havia dols trens que Iaziam viagem de ida e VOIt 'l diariamcntc. Para 0 Mat adou ro
havia mais: Ires que iam c Ires que volt a vam. No ra ma l
do Cam buci so havia dois , ida c volta . Proccdcntc da
cldade, chegavam q uatro trens por dia .
No lar go se reunia genic do bairro pa ra scus ncgocios e comp ras. Ncsse tem po os opcra nos cspccializados.
cspccialmcntc em ccn stru ccc s, vinham da cld ade.
a largo era de terr a bat lda. em alguns luga res havia
dcpressocs do terrene , que em tempo de c huvas tra nsfermavam-se em lagoas.
As casas, com pintura simples, caiadas. As pones
e junclas cram pimadas com oleo de pcixe com cc rantes.
Dcmoravam mu ito pa ra sccar c dcpois de urn mes ainda
mal se tolerava 0 seu odo r.
Tinra boa era a estra ngeira. porem custava multo
caro.
a s Iclhados das casas cra m Ieitos gcralmentc com
madeira qu ase em bruto e cascas de eoq uciros. As tclh as
cram tipo Italia no, qu e semp re corriam e da vam goteiras.
A tclha tipo Irancesa vinha de Marselha e pouca geme
pod ia compra-la.
A lgumas dcssas casa s ainda existcm no local, mcsmo
ali no Largo, porem rcpar adas. outras. na Ru a v erguciro.
esrdo agora scndo demolidas.
Bern no meio do La rgo de V ila Mariana localiza va-se
o quiosque. Era de meu avo. Ali traba lhavam meu t io e
minha mac, cntao com quatorze anos de idad e.
Era uma construcao circula r de madeira, cobcrta
com telhas de zinco. Possuta tres janelas que se a br ia m
pa ra baixo e scrvia m de balcao . Scrvia-se cerveja , rcfres-
a
cas e bebidas e tambem prates sortidos.
o
HA IH HO
J)l.; VlI.:\
~ H IH :\ ~ ;\
Ali Iaziam suas refcicocs viajantcs, vcndcdorcs da
cidadc. emprega dos da Ferro Carril c artesfios vindos de
fora.
Abria as cinco hora s da manhn e Iechava rnais a u
menos as nove horas da noire.
o largo a nc ite era iluminado por lampiocs de querosenc au azeite de peixe pcndurado s em postes nas csquinas. A Estacao e os ncgocios usavarn 0 mcsrno sistema.
As ruas vizinhas ao largo cram tod as csburacada s.
Em tempo de chuva as pessoas tinha m de andar cncostada s as cercas. agarrando-sc nelas para niio cair nos
charcos formado s nos leitos das ruas .
As carrocas e carros de bois, quando encalhavam,
delxavam dcpois buracos t50 grandcs que qua se caberia
um a pessoa d cn tro detcs.
A IND OST RIA PI O NEI RA DO BA IRRO
18 88 - Ncsse ano foi constru ida a Fab rica de F{lSIorcs que Iuncic nariu 32 ancs em nossc hairro. Era a
unica industria exlstentc alcrn da Fsibrica de Ccrvc]a la
no Largo Guanaba ra. Ocupava cia uma (rente na Rua
Domingos de Morais. entre a , Ru as Fran ca Pinto e atual
Joaq uim Ta ve ra. Em profundidad c tinha mais au menus
150 metros. Nela trabalhavam umas 50 pe......oas, entre
homens. mulhcres c crlancas.
o forte mesmo era m os meninos de to anos para
cima e mulheres, sotteiras e casadas. Na epoca era essa
mao-dc-obra muito mais bara ta do que a dos homens.
Os meninos ganha vam 300 reis por dia. 0 periodo
de trabalho era das 6 da manha as 17 da tarde. A companhia era cstrangclra, tendo como dlrctor 0 Engenhciro
Elsemba k. Trabalhou essa fabrica ale 0 ano de 1920,
sendo posteriormente dcmolida e em seu luger foram feilas casas de comcrcio e na csq uina da Rua Joaquim T avera
urn cinema : 0 Tcat ro Penix. Ha tempos tam bem 0 cine48
o
BAIIUlO D E VI LA MAH IA l'O A
rna foi demolido c essa area csta vaga, naturalm ente a
espera de predio de apnrtamcntos.
Ou ase todos os antigos moradores do bairro trabaIharam ncssa fabrica duran te a sua mocidade.
Naqucles tempo s nne havia cscolha. 0 bai rro era
pob re e muito pouco traba lho ha via em outros setores,
onde se pudcssc ganhar algum dinheiro.
" OS TR IPEIRO S"
Com a mudanca do Matadou ro Mun icipal para a
Vila Mariana, vieram tambem numerosos ltalianos do SuI
da Peninsula que faziam 0 comercio de miudos de bol
por meio de carrocinbas ap ropriadas. leves, puxadas por
urn s6 animal e que an teriormente rcsldlam no bairrc do
Bcxiga, nas imediacoes do antigo Matadouro. Faziam
eles esse comerclo em quase todos os bai rros da capita l
daquele tempo . T inham 0 seu codigc de hon ra , cada urn
tinha sua zona certa, onde outro tripeiro nao pod ia entrar.
Era cssa mercador ia mais barata que a carne-verde e fam ilias de poueos rccursos cra m os seus fregueses ma is asslduos.
Agora a matadouro, com mais capaclda de de matan ca. com maior producao de miudos, animou as "t rlpeiros"
aq ui estabelccidos a chama rem mais pat rfcios da longingua terra para tambern virem aqu i dedicarem-se no mesrno
ramo de comercio que, diga-sc de passagem, era bern
lucra tive. Assim, nos anos que se seguiram muito aumentou 0 numcro desses italianos rcsidentes no entiic bairro
do Matado uro.
Sabre a modo de vida c costumes dessa populacao
com a qua l pouco convlvl, njio me scria possfvcl cscrevcr
sobrc eles sem 0 concurso de algucm que as conhcccssc
a fundo, e que posslvelmentc tam bem tlvesse relacocs de
parcntcsco.
Ninguem melhor do que 0 mcu am igo Nuncio Nastari, antigo e qucr ido cidadfio dessc lado do bairro de
o
BAIRRO DE VILA
~I A R I AN A
49
Vila Mariana, de familia tradicional c co nhecida, foi por
mim convidado para fala r sobre esses elementos tambem
plonelros c for madores do nosso bai rro .
T ran scrcvcrnos aqui a sua dcscr tcao :
"Niio tcnho a cxatu nocao de quand o 0 Mat adouro
M unicipal sc Ira nsfer iu da antiga Rua Humaita, na Bela
Vista, para a Vila Mariana, mais precisamente pa ra a Vila
Clem entine. no La rgo do Matadouro, hoje La rgo Senador
Raul Cardoso. Deve tcr sido em fins do seculo passad o
cu no inicio do seculo atual.
Os italianos que se instalaram em Vila Mariana e
cspccialm cntc nas atua is ruas Rio Gr ande, Franca Pinto.
H umbcrto I, Joaquim T dvora. Alvaro Alvim c adjacencies,
cram quasc todos oriund os da Provincia de Salerno e mais
cspccdic amente daquel a parte montanh osa conhccida por
Cilento. E verdade que hav ia as excecocs. como calabreses, erc., mas dc lima form a gcral cram salemitanos c
a grande maio ria era de Casteflabate. terr a que de u os
natais ao grande pionclro da industr ia nacion al, 0 Conde
Francisco Matarazzo .
Todos ou quasc rodos sc ent rcgaram de cor po e alma.
seja como don os ou como empregados, ao comcrcio de
mlud os c passa ram a consrituir a classe dos "tnpeiros".
Se exa minarmos mais minuclosamentc. chegariamos
a conclusao de que esse nuclco de imigrantes era form ado,
por assim dizcr, de uma s6 familia, pois os qu e nfio cram
parcntcs entre si cram ligados pclo parcntcsco cspirltual
por melo do compad rado.
Entre essas familias citam-sc os Monzillo. os Nastari,
as de Pa ula, os de Ma uro, os Matarazzo (nao cram parcntcs do Co nde Matarazzo, pols cram de Pcrdifumo ) , os
G allucci, os Mar tuscclti, os Razzo. os Maland rino, os
Pugliese, os Signor elli, Gr eco, De Clra. Nigro, Palmigianl,
Com enale, Pascale, Acqu aviva, Passaro, A bate, os Loschiavo, os Trotta, os Pad ula, os Ianni, os Conte, os Rossi.
os T orres, os Gua riglia, os Ciardi. os Malzone, os Salzan o,
50
o
8 :\lRRO DE \"I I...\.
~ I .\.R I :\S .\
os Amato, os Florio, os Villano, os Perone, os Siciliano,
os Ferruzzi, os A nnun ziata c mu itos outros cujos nam es
nao me ocorrcm e pccc descul pas pcla involuntaria
omi ssfio.
a ccmercio dos miud os tomou-sc urn neg6eio lucrativc c se todos os "trlpciros" tivcsscm observado urn regime de eeonomia, nao vai nenhum cxagero ao afirmar-se
que tcd os seriam riq ufssimcs.
a s "tripeiros" cilent anos tro uxeram de suas aldeias
e cidadcs todos as costumes e todas as usancas, c a "canzone cilcnta na" era 0 prato prcferido em tod as as reunifies
fcstivas como casa rncmo s, batizados. anlversarios, Icstas
religiosas, ete.
a s versos, as palavras que compunham as ce uczes
cilentana s. cnccr ram em sl a mais profund a filosofia da
vida. a jogo do "cncio cavallo'' era uma cspcclc de
disputa entre dols ou mais adversar ies e sc consistia no
grupo ou no individuo que rnais longc at irava urn queijo,
impo rta do da Italia , que tinha forma oval, com uma pcqucna cabc ca, que era segura pcla mao do atira do r. a
vcnccdor era a pessoa ou 0 grupo que c hcgava primeiro,
ou melhor, qu e alcancassc primciro uma dctcrminada distancia .
E 0 camaval cntao , com suas pitorcscas figuras, eada
qual rcprcscnrando sua par te, como sc Iossc em urn palco
de teat ro.
T udo era tao pu ro, tao esponta nco, que dava gosto
a quem escrcvc estas linhas, ja septuage nario, lemb rar com
req uintcs de sa uda dcs aq uelcs tempos que nee voltam
jama is, mas scmpre vivos c prcscntcs na sua memoria.
Como dlsse, as costumes do Cilento foram tra nspla ntados em Vila Mari ana, e nao somc ntc as costumes, tambern as mentalidades nao mudaram, e, como no C ilento ,
asslm em Vila Mariana vicejou a invcja, 0 odic e 0 odic
gerou 0 crime.
Nao e minha intencao citar nomes e fates. que requerem uma concatenacao de da tes e cpisodios, mas nao
o
IHIHHO DE VILA
~ IA IUA :\'A
51
posse dcix ar de externas toda a minha repulse aos cri mes,
os mais ter nficantes, que fizera m mergulhar no luto e
na dor divcrsas Iamilia s. E 0 que C mais lerrificante ainda
e que esscs crimes nao foram praticados para lavar a
honra manchada , que de cert o modo cncontrariam justificat iva. Crimes, scm razao de scrcm, prarlcado s par uma
pala vra. urn mal-cntendldo enfim. Cita-se urn fato : urn
"tripciro" ficou de moita varies noites seguldas, armad a
de cspingar da. calibre 16 (essa era a ar ma usada por qu asc
todos ) , em frcnt e a casa de seu desafeto, pa ra assim que
safsse a por ta a rnat ar. E por que? Pasmcm! Porquc, no
Matadou ro Muni cipal, 0 co itado, ja sentenciado a mot te,
sc havia an tecipado no carregamento de visceras de hoi.
E 0 crime tcria sido comerldo. sc os par entes do vlsado,
sa bcdc rcs do fato, nao Ihe tlvessem avlsado que sc vinga ria m.
Foram todos pratl cad os a tratcao c em cmboscadas,
scm a minima possibilidadc de dcfesa da vltima, c ficaram
todos impuncs, pois os qu e sa blam de algo nao sc ar riscavam a de luta r, pois tc rmarn a vinganca. Mas dcixemos
csta cronic a negra , pa is dcla nao nos podfamos a usentar,
e sc ass lm 0 flzcsscmos nao csta rfamos scndo perfeitos em
no ssa historia. Volta mos aos primc rdio s de Vila Mariana.
a Ialecido Dr. Morais Dantas, cujo primeiro nom e
nao recordo, possufa urn terrene na Rua H umberto I , que
media 50 ( ctnqu cnta ) metros de Irente por 100 (cern )
metros da frente aos fundos, mostr ou-se um dia t ragm ento
da histcria de Vila Mariana :
Dois irmaos ponu guescs, os Vaz Por te , possulam
uma grande area de te rreno, denominada Chacara da Boa
Vista , que sc Inlciava na at ual Rua Jose A nton io Coelho
e tcrminava pelos lados da tua l lgreja N. S." da Saude.
Os Vaz Porto, des quai s urn era casado e outro vivia
mar italm cme com uma mulher, vendcr am a citada C hacara da Boa Vista ao Sf. Jose An tonio Coelho , qu e a
lotcou, e surgiram cntao as Ruas Central, G aribaldi, dos
52
o
BAJnRO D E VIL A MARIANA
Italia nos, ctc., hoje Ru as H umbcrto I, Rio G ra nde e A lvaro Alv im, que antes sc cham ou Ru a do Matadouro .
o Sr. Jose An tonio Coelho, depois de rcr tornado
posse da a rea, tevc qu e pagar rnais uma quarta pa rte do
valor da com pra, pais a mulher que vivia maritalment e
com urn de s vaz Por to, depois da mor tc destc, rcivindicou
seus direitos de mulher legitime ( nao sa bernos como conseguiu prova r) e a Sr. Jose A nton io Coelho achou de
born alvit re a tender a essa rclvindicacao, a fim de evita r
complicacccs, pais boa pa rte do terreno j:l havia side
vend ida.
Os lotes padrces medlam 12 (doze metros de frcntc,
por 100 (cern) metros da fre nte aos fundos e cram vcndidos em lcilao aos dom ingos c fcri ados e a cada lat e
vcndidc uma bandinha de cinco ou seis figuras toeava urn
dobrado, anuneiando a cfetiv acao da venda e em segu ida
era peste em lciliio urn novo lat e.
A cada venda 0 Sr. Jose An ton io Coelho fomecia
no comprado r uma escrltura de mao e, ao falceer nosso
progenitor , em 1936 , entre as documentos que fora m ap resentados par a inventano e respect iva partil ha, havia a compra de um tercena de doze par cern, adquirido de urn tal
Bara ldi, 0 qua l, por sua vez, 0 ha via adq ulr ido em lcilfio
e aprescntava uma cscritura de mao, dada-lhc pelo Sf. Jose
Antonio Coel ho.
o a mbic ntc colonial dcssa pa rte do nosso bairro ja
desap areccu ha tempos , e hojc vanes racas fazem pa rte
des moradorcs. No que conceme aos desce ndcntcs dos
cllcntancs, ja em sua tcrcelra gcracao , ccnstit uc m em
grande pa rte de cida daos pcrtence ntes a tcdas as classes
sociais. Nas profissocs liberals, no comercio, oa indu stria,
cnfim, em rodos os ramos da atividade human a dcstacamse estes scus herdeiros, nao nos costumes retrograde s, mas
na intcligencla e no trabalho proficuo des antcpa ssado s.t «)
(*l
o
Escrita pelo Sr. xtun cto
x.et.m
RAIR BO DE VILA :\IAIUA:"i' A
em 14 de abr tl de 1970.
53
ATA S DA CA MARA M UNICIPA L DE SAO PA ULO
1887- 1888
19 de ahril de / 887. Na Scssao da Cama ra Mun icipal de Sao Paulo e lida uma indicacao citando pcla
prim eira vez 0 nome do bairro de Vila Mari ana.
£ verdade que essa indicacao nao diz dire tamcnre
whee os intcr esses do ba irr o, mas tao-somente sab re a
co nstrucao de urn buclro no aterro da rua qu e val de
Vila Mari ana ao Mat adouro Municipal, po rcm tem-sc a
ccrtcza que agora 0 nome do R OSSO baiera ficara registrado
nos Anais da Ca mara de Sao Pa ulo c daqui par a a frente
sera mais vezcs citado naq ucla casa de gcvemo :
" Indico que se race per adminlstracao a
constru cao do boe iro do aterrado da rua que
vac da Vila Mariana ao novo Maladouro, fica ndo 0 Dr . Bngen hciro da Camara cncarrcgndo dcssc scrvtco, aprcsentan do prlrncirumente 0 orcamc nro da obra . - Sao Paul o, 19
de A bril de 1887 - Vitori no Gon calves Ca rmilo" . ( 12)
Des sa da ta em diante outra s indicacoes sao Ieitas,
porem nao corn rcferencia direta ao bai rro. ma s sim no
Ma taduro Mu nicipal . prop rio da C ama ra Municipal , ondc
cia tinh n Interesse, dir ctos c tambcm porq uc a li ago ra j.!
trabalhavam muitos Iuncionan os scus, era urn cstabcl ecimen to q ue dizia rcspcito aos inreresses da pop ulacao do
M unicipio, rcsponsavel pelo ab astccimenro da came-verde
aos seus habitant es.
Aqui vai ta rubern tra nscr ito ou tra indiea, ao da Cflmara .
" Indico qu e csta Cam ara repr escnte ao Ministcrio da A gricult ura por intcrm edio do Mi(12)
At a~
da camara Municipa l - ano de l88i -
pa~.
122.
(ArtIUh"o ~ llIn id pal. )
o
R..\ IItR O O F. \ 'I I.A \I ARI A:'\ A
nisrer ic do Imperio que nao convem a contlnua cao da vcnd a de terras da "Varzea de
Santo Amaro (bairro do Matadourc) por
con stituirem tais terr as a urn campo des moradorcs do municipio e
apascentacao do
gada, de corte dia ne - Sessao de 29 de Novem bro de 1887 Vicente Ferna ndo Silva" . ( U )
a
Esta Indicacao refere-se ao atual Parq ue lblr apuc ra.
proprio nacional, ondc cram postas as boladas cxccdcnt es
a mag ras vindas do interior pa ra refazer-sc c assim tambern para ter 0 Mat adouro Mu nicipa l urn estoq uc de reses
de corte, pa ra sc suprir na falta Oll dc mora de remcssas
vinda s do interior.
A seguir da mos aqui a cop ia de outro rcq ucrimcnto
qu e tambem diz respcito ao nosso ba irro do uno de 1888 .
" Rcqucrimcnto de Ant onio Augusto Redond o em que pede 0 pegamcnto da caucao
q ue dcixara nos cotres municipals para gara ntia do nivelam cnto executado pelo mcsmo em
a ru a Nova do Maradouro.
Despocho : I:: esta Ca mara de pa recer
que seja pa ga ao rcferido empreiteiro a quantia de 4205000 ( quatroccntos e vinic mil rels ) ,
de con form idade com a informacao do Dr.
Engcnb ciro da Cont ad ori a.
Sala de s Scssoes, 18 de Dczembro de
1888 - Jose Mendes da Silva" . (It )
A r ua rcfcrida e a at ual Franca Pinto. 0 service
Icito foi um nivela mcnto, isto e, abe ulamcnto da pa rte
(13) Alas da c"nwrtl Municipal de Sao 1':11110 - ano 1887
(Ar,!uivo ~ h m i('ip<\l. )
(14) Atas da Ca mar a ~ I u n idpal lie Sao Paulo - ano l RRS
p<\.~. 373 - (Ar'luivo \l unk ip.11.)
p<ig. 339.
o
B:\IRRO DE VILA \ 1.-\RI :\ :"<i:\
55
carroc avcl da mcsma rua c dctincamcnto das sarjetas para
cscoamcnto de aguas plu viais . Simples service de movimenlo de terra, com homens c cacan.bas na rua que ate
entao era lim simples caminho.
MA IS IMI G RA NT ES
Nessc mcsmo ano, 0 da Lei Aurea. mais imigrantes
chcgam ao Brasil.
De agora em diante 0 afluxo de trabalhadorcs estrangciros para 0 cultivo de nossa terra, uns por conta do
governo C outros a sua prop ria custa, scria enorrnc.
Os cscravos ncgros aba ndona m quasc todas as fazcndas. Depcis de tantos anos de escravideo, dcsde scus
pais c avos, tratudos como bestas, proprlcdade de outros
homens, nfio podendo dispor do seu proprio corpo, renasccram com 0 fim de sua cscravidao . Livrcs como os
outros homens, podendo andar a vontadc cornu a s passaros c os bichos da f1o resta, scm prestar cen tas aos brancos
c sem correntes e cadeados. nao mais se sujeitaram a
labuta da terra untie tanto pcnaram sob 0 chicote do feitor.
A nacao sofrc quase urn colapso . As lavouras e as
colhcitas das fazendas parcialmente perdidas, leva multo
fazendciro it ruina, porcm. 0 trabalho ard uo c conscicnte
dos cmigrantes j a aqui estabclccidos e des que logo viriam
conscgue eq uilibrar c contc rnar a sltuacno na Provincia
de S. Paulo. Para 0 nosso bairro tambem muita gcnte
nova chcga. Sao outros italianos, parcntcs ou conterrancos dos que aqui cstao.
Sao os Parola, os Pavan, os Zaneti, as Piovcrsan, os
Vigna, os Ruge, os Orio, os Perini, os Galdier i, cs Tramboni, os Olivieri, os Mani, os Olivan, os Zucari, os Ca lgaro, os Vazoni, c muitos outros, dczcnas de families, que
agora, depols de tantos anos, e dificil lcmbrar os scus
nomes. Sc Iossemos registra r aqu i tcdos etcs, seria preciso muitas paginas, porque dcveriamos tambem, eorn
justice, fazer a biografia de cada uma dessas Iamilias de
56
o
BAIRRO DE VILA MAIHA XA
tr abalhadores honcstos e ord ciros qu e aq ui vieram pa ra
progred ir e assim engrandecer a nossa Pat ria.
A esses todos e nos qu e aqui nao constam, as nossas
bcmcnagens c grati dao, pclo q ue fizcra m e pclo qu e aqui
criaram.
Essas novas lcvas de itatianos qu e agora chcgavam,
juntando-se aos outros ja radicados vao coope rar para 0
progresso de nosso bairro e dar a ele 0 cu nho nlndamente
italiano que rcve nos primcrdios de sua Iundacao.
A FA MILIA NOSE
a casa l Luiz Nose e Joseflna Padovani Nose, naturais de Vero na, norte da Italia , chcgar am ao Brasil em
1887. Ele, opcrdrio espccializado c cia partcira diplomada em sua terra natal. Com eles tarnbem vcio urn Iilho,
Pedro Nose, cntao com 10 anos de idad e.
Radic ados em nosso bal rro, D. Joscfina logo inicia
a sua nobre profissno, atendendo os rnorado res de Vila
Mariana. lugarcs proximos e tambem a Vila de Sant o
Amaro.
Ant es aq ui so havia mulh eres pratlcas ncsse mister
que. naturalmente, muitas vezes punham em risco a vida
das pacicntcs e das criancas que iam nascer.
At endendo em qu alqu er dia e a qu alqu er hora da
noite, com qualq uer tempo, naqucla epoca de conducao
dificil e em viagens pcn gosas, nunca deixou de socorrer
quem prccisasse de scus services e de sua capacidad c profissional, mesmo aquelcs qu e nada podium pagar .
Mui ta genic de hoje ndo sabc qu e esta mulhcr prestativa e compctcntc Ioi a primeira part elra do nosso bairro,
ao qual scrviu ate 0 ana de sua rnortc - 19 11.
a marido, Lulz Nose, logo q ue aqui chegou dedicou-se ao ramo de cla ria. Fazia tijolos la pclos lade s do
Maladouro, rnais propr larncntc no bair ro do Sapo, nas
margens do c6rrego do Sapateiro. Esse homcm tambem
pode-s e conside rar ler sido urn bcne merito do bairro . Era
o
8 ."I RRO DE \'IL."
~ I :\RHX :\
57
elc quem conscrtava as nossas esbura cadas ruas com suas
cacam bes da olarla, sem nunca ter receb ido des pod ercs
publicos ou de particulares rcmun eracao alguma. Fazia
lsso de livre vontadc. pete prazcr de fazer 0 bern a coletividade .
Depois da morte de D. Josefina, toma seu lugar a
filhu, Dona Romilda Nose, que tambern tendo se Iormado
na mcsma profissao da sua mac, com dcdicacao scrviu
o nosso bairro ate 0 ano de 196 1.
Passamos agora a falar tambem do Sr. Pedro Nose.
Ao chegar, ainda menino cmprcga-sc na Iabrica de fosforos aq ui do bair ro. Qua ndo ja moco, dcdica-se a diversas profissocs e par fim it prcfissao de sapateiro .
Bsse cidadfio, ainda vivo, com saude e lucidcz C,
pode-sc dizcr, agor a, 0 mais vclho morado r de Vila Ma·
riana .
Esta atualmente com a idade de 94 ano s. B solteiro, vlvendo em comp anhia de seus sobrinhos. Nunca se
afasrou destc bair ro, complctando, asstm, 84 anos de tlnmicilio em Vila Mariana.
Elc viu nasccr 0 bal rro, viu os seus progressos e
acompanhou a sua vida, duran te quase urn seculo, tendo
sua boa memoria nos esclarecido em muitos pont os destc
nosso tra balho.
~Ie viu 0 nosso carro de boi, 0 ncsso trenzinho, os
nossos bondes, os nossos 6nibus, e n6s, sc pudesscmos,
pararfamos a tempo para que esse born velhinho vissc
tambern 0 nosso mcd cm o Metro,
COMf; RC IO E D1 ST RAl;:AO DA VILA
Com a chcgada de rnais imigrantcs do norte c do
suI da Italia, muito aumc ntou 0 movimento do nosso
bai rro. Viera m eles com suas familias numcrosas habitar as ruas ja exlstentes e ab rir outra s.
Assim ficaram rnais povoad as as ruas Domingos de
Morais. Est rada Vcrgueiro. Dona Inacia, do Progrcsso,
58
o
HAIRIU) D E VII ,A
~ 1.4, HIA NA
Donn Lucia ~ l as;lI".l IIJ, umu das ma is unugns morudoras do nos su bntrro,
mae (10 autor de.' lc trabalho,
Sao Pedro, Dona J ulia, da Saudadc, Carlos Pet it, Central,
Giuseppe Garibald i, Santa Cr uz, do Matadouro, Fo ntes
Ju nior, Machado de Assis, Ja baquara, do C ur tum e, Jose
A ntonio Coelho e muitas outras.
e sse grande afluxo de imlgran tcs pa ra 0 Estado de
S. Pau lo e naturalmente tumlnim par a 0 1I0 SS0 bai rro S(l
pararla agora Ii pclos alios de 190 0-1 905.
A ccramica do Pongil upi. na anriga Colonia . a bcira
do Cc rrego do Ipiranga, Irabalhava naqu clc tempo. A inda
pod c-sc ve-la hojc jn. em rulnas. no rneio de uma rnoit a
de cucalip ros.
Funcionou ela dur ante muitos alios tamb cm dcpois
Iabricando telha s francesas sob a dirccdo de ou lros propr lcrari os.
O utras ccramica s jn. esravam trabalhando. A do Roberto Parola, na Rua Machado de Assls; a do Luiz Nose,
no Maladou ro e tambem a do Bonani, 1:1 no Jabaquara.
No setor comcrcial havla 0 ar mazem do Cesare Brinati, na csqulna da Rua Vergueiro, e pcrt o da loja de fazcndas de O restes Brinati; 0 acouguc do Felipe Bern i,
no largo; a padaria de Dona Dora na Rua Vergueiro ; a
Parque de Vila Mariana tam bem no largo ; a Floricultura
de s Flora, na Rua Domingos de Mo rais, a quitanda dos
Costab ile Gald icr i e 0 quio squc do Longucto no rneio
do largo ond c era scrvido cafe, bebidas e lanchcs. O utrcs
ncgocios eslavam localizados nas pro ximidadcs da estacao
da Ferro Caml c do largo de Vila Mariana.
Adiante, scguindo a Domingos de Morais, em direciio a cidadc havia 0 hotel, grande para aquelc s tempos
que hospcdava viaja ntcs chegados do interior da Europa,
que iriam sc esta bclecer ali. T ambem perto havia uma bospcda nn qu e a brigava famflias recem-chcgadas q ue aguardavant moradias.
A igreja do bai rro ficava afastada do centro. Localizada alcm da Cha ve. rama l da Estra da de Ferro q ue ia
para 0 Matad our o, a capcla de Nossa Senho ra da Saud e
era peq uena e de dificil accsso. Vez ou outra havia reza
e todos os domingos uma so missa.
60
o namno DE VIL A
~ I A R l AN :\
Igrejas de outras rcligiocs nfio havia, mesmo porquc,
naq uelc tempo , a maior ia do po vo do bairro era Italian o ;
profcssavam todos a rcligiao catolica .
Esportes rambem nao era m prati cados , salvo um ou
outro campo de "bochas". De futcbol nem sc fala va.
Todos os jovens, mocos c mecas, Ircq ttcntavam os
saloes de bailes cxistentcs q ue eram 0 unico divertimento
naqu e1es anos .
Esses salocs , na epoca, eram a pro ximad amente quatro . Havia 0 baile do Pa rqu e da Vila Marian a, 0 do
Hotel Roma Inat ingibiti, 0 do Far a bulini, 0 da Socieda de
Fila rmonic a Giu scpc Ga ribald i, c ma is outro salilo na
Rua Fra nca Pinto, esquina da Ru a H umbcrto I, 0 do Loschiavo ou Fa rina.
Aos domingos, vcz ou outra, havia cspetaculos de
mar lonete s no Parque de Vila Mariana ( ho]e ali esta instalada a Pani flcadora A . B . C . ) .
De tempos em tem pos havia grandee festas, reunioes
da ncantcs, no salfio do Parque. V inh a gcntc do Ca mbud, do Ma tadou ro, do Jabaquara e redo ndczas. 0 bailc
comecava a tardinha e ia ate as 10 hor as da noite, qua ndo
cntao 0 povo se recolhia para suas casas, indo em grandcs
gr upos confor me a zona que morava m, can ta ndo e brinca ndo pelas cstra das.
Bsses dias era m a nsiosamcnte espcrados pcla mccada
e tambem pelos ncgoclant cs. Tod o mu ndo bebia e cornia
nos negocios do largo . Alguns ncgociantes ehegava m a
fazer fcrias de cern mil-reis.
Naq uele tem po a cervcja G ua nabara custava trezentos reis . 0 copo de pinga cheio duz entos reis, 0 capile,
ta rnari nho ( hoje groselha) cern reis, 0 siffio ( agua gaseificada) , para rebater as libacocs, custava duzcnros reis.
Refrigerant es engarrafados nao existia m. O s Irequ cntadores desscs bailes que nfio tinham bons dentes ou
tinham ma u halite, usavam "sensen" ( pas tilhas para pcrfumar a boca) . D cntistas no bair ro nao havia na epoc a.
Poucos usava m ro upa de casemira; calcava m sa patos
o
BAJRRO DF: VIL A
~ IAR IA~ A
"'
ord ina rius. alguns at e de couro cru. Urn a u ou tre usava
camisa bra nca, a maior ia de pane ba ruto .
Aq uelcs cram tempos de poueu din hclro, pcuco trabalho c mal remu nerado ; nao havia na Vila gente rica,
so pob res ou remediados. Circulava a mocda de urn
vintem, isto e, cinco vintcns para formar urn tostao . Urn
prato sor tido custava trezentos reis. A passagem de trem
ate a cidade ou ao Cambu ci custava 400 reis.
LU IZ PE RINI
Quem fossc do largo de Vila Marian a para 0 Jabaquara em 1887, cncontra na. urn poueo alem da C have
do Matadou ro c logo dc pois da parad a do trem da igrcjinha de N. S.a da Saud e, na altura da atual Rua Luis
Goes, a venda do Luiz Perini.
Locallzada na cncr uzilhada das cstra das, uma que
ia a Sant o Am aro. outra que ia ao Ja baq uara c a out ra ,
a da Ressaea, que comccava naquclc ponto c ia para 0
Ta buao. Pira por inha c Silo Bernardo, era parad a qua sc
forca da de passa ntcs. tropciros e carreiros que ali descansava m e faziam as suas pareas rcfclcoes.
T inha ele vindo co m sua familia do norte da Italla
em 1886, e depo is de rcsidir algum tempo em Vila Ma rian a loealizara-sc ali com um pequcnc ncgocio, sendo
naq uela epoca 0 unico morador da cstrada da Saude.
Horncm honra do e de bo ns p rinclplos, era respe itado
e bcnquisro pclos pou ccs mora dorcs da redondcza e tambern pelos seus pat rlclos da Vila que aos do mingos lam
em gr upos de cacado rcs vasculhar as matas vizinhus. Logo
ali adian tc, nas baix ada s da Rua Luis Gels, em grctoes
que la existiam era morada de caca grossa.
Ao lade da venda tam bern tinha ele urn depo sito de
carvao q ue supria 0 povo da Vila. Esse carvao era tra aldo
pcla estrada da Rcssaca. hi das banda s do Tabuao e Pirapon nha. em lombo de burro.
(;2
o
IUIlHlO DE VIL A \ IARIA:\''\
A cstrada da Ressaca que passava na parte baixa do
Bosqu e da Sande nao tinh a condtcocs para carros e era
usada tao-somentc pa r tropciros.
SO burro grande supo rtava par aqu elcs camin hos a
carga de q uarro sacos de carva o.
Essa vendi nha cxisnu no local ate 0 ana de 1930,
epcc a em que foi rcformada, retirando-sc da li os antigos
mo rador es.
Hoje em seu lugar csni 0 mesmo predio, porem complctamcnt c d iferente e scus atuais prop nct ario s cxploram
o ramo de padaria.
o
CA MINHO PARA A C IDA DE
Saindo do Largo da Esta cao pela Rua Domingos de
Morais, ladcando as oflcinas da Fcrrocarr il enco ntrava-sc
o negocio do Longucto. 0 Hotel "Roma Inatingibili" , a
hospedaria do Fa rab ulini e dcpois a R ua do Matadouro. A
scgulr vinha a fab rica de fosforos ondc era gerente urn
italiano. O restes Accrbi, c no lado conmirio apenas urn
boteq uim ja na esquina da Rua Fontes Junior. Mais tard e
esse mesmo botcq uim tran stormou-sc em rcstau rante, do
q ual era proprieta no tam bern um picneiro do bai rro, 0 Sr.
R uge Arleodoro. Seguindo a linha do trem pela mesma
Domingos de Morais, q ue com a paralela a Estrada vergueiro, encontrava-sc dcpois, no lade direito , alguns mo radorcs c no lado esqucrdo a chiicara de s padre s. Estes morador es tnham suas casas sepa radas uma da s ourras pa r
grandes claros com terrenos vazios cercados com fios de
aram e. Vivia numa dclas 0 Carlos Binat i, carrocciro que
fazia q uase tedas as mudan cas do povo da Vila, e tam bern
Sr. Francisco Nose, que cxercia a mcsma profissao. A proxima rua, scguindo em Irente, era a Rua J abaqu ara.
Essa rua, saindo da Domingos de Mor ais so ia ate a
Rua Central, porque logo abaixo, alem dessa rua, cncontr ava-se urn corrego, tr ibutaric do Cor rego do Sapatcl ro,
°
{} BAIHRO D E VIL A
~ IA IHAl'\ A
que nasccndo na chacara dos Padres dcpois de passar
pclo sitio de D. Virginia ia dcsaguar no segundo , la nos
campos do Iblrapncra.
Nessc mcsmo ponte , voltando-se a Rua Domingos
tie Morais cxisna um campo com vegctacao rasteira que
ia ate a Estrada do Verguelro. Ali na baixada era 0
deposito de Iixo da Vila, trazido em dias altcmados pa r
urn carrocc iro que cobrava des rnc radorcs uma pequcna
taxa pa r esse service . Er a aquelc local 0 at ual Lar go A na
Rosa. 0 lixo era depo sitado na margem da Rua Vergueiro
ondc havia uns grotocs com grandes arvorcs, local esse
que dcsdc ha muitos anos tinha a dcnomi nacso " Malo
Gr osso" c fazia par te de urn sitio que tinha comeco no
Morro V ermetho.
Dali para frentc, seguindo sempre a R ua Domingos
de Morais, cram as tcrras de Jose A ntonio Coelho, isto e,
do lado csqucrdo do "Caminho do Carro", G randes areas
vaz ias ate encontra r a Rua Jose A ntonio Coelho ha pou cos anos aberta e que dava safda pa ra a Estra da do Ca ngUl;u, e para a Vila dos Pinheiros. justarnente na cncr uziIhada ondc cxistia uma ca pelinha c de onde saiam os caminhos para Pinhciros c Santo A maro,
Fo i nessa Rua Jose Antonio Coe lho que se localiza ram os primeiros alcmacs vindos no nosso bairro c que
Iala rcmos delcs num capitulo a parte,
Scguindo pclo cspiga o rur no (I cldade , depois dcssa
rua encontrava-sc a chaca ra de " 0 , Marian ne" , da familia
do Engenheiro Alfredo Kuhlman,
Ha uma versao que foi dessa chacara " Marianne"
que sc originou 0 no me de nosso bairro, porem suponho
que nisso hri cngano.t !- )
Na Irentc dcssa chacara a Rua Domingos de Morais
sc juntav a il Rua v erguciro. Iorma ndo urn largo comprido
que logo adia nte sc alarg ava tomando a dcnominacdo de
Largo G uanaba ra. nome esse q ue Ihe vcic da Cc rvcjada
G uana bara des Irmaos Fausto c Carlos Sehimt que fun(14)
Xotu {lll Autor.
o nA Hmo DE VI L A
~ tA ln A N A
clonava no local. Dcpois dessc largo encontrava-sc a Rua
Paraiso que de u nome a esse bai rro. Er a ali 0 anti go sitio
do Co nego F idelis. e as nasccn tes do cortege An hanga bau nos anos de IlU)()"187 4 .e ~)
Depois, dcsccndc pete Rua v crgociro, co lado do
Morro Vermclbo. ad iantc encomrave- sc 0 aterro do Verguciro, ja divisa da Liberdad e c a cidade.
" 0 CA RTO RIO DE PA Z"
1896 - l! ncssc ano reconhecid o oficialrncntc 0 distrite de Vila Mariana. Prcclsamente a 8 de janeiro c eriado
o Car tono e Registro C ivil de nosso ba irro. Scu primciro
un cial foi Jc ao N cpom uccno de Sousa, vclhc morador e
de or igem da antiga familia dos Nepomuccno, sitia ntcs das
baixadas do Morro Ver mclho . Multo relacionado c eonhccldo, era de prortssao barbciro. Esse pnmclro cartorio
comeco u a Iunclonar na Rua Vergueiro. proximo ao local
onde hoje e 0 Hospital do SAMDU, ant es do pareda o da
Vcrgueiro.
As divisa s de ju r isdi ~ao desse Cartorio possivelme nte
trnham side dclineadas na epoca, porem. apc sa r das pesq uisas Ieita s. nadu ncssc scnt ido se enco ntrou .
o at ua l oficial do registro tambem nunca soube qu ais
cram c nao possu i documcntacao quc cscla rcca . Qu and o
lhe pcrgunramos sc por acaso tinha uma ideia sobrc 0 assunto. elc nos rcspo ndeu : "Crelo que afora 0 Ipiranga,
Ca mbuc l, SC e Santo A maro , 0 resto tude pcrtc ncla a este
"car tc rio". Supocm-sc q ue esse cartorio sc localizava [ustamente na divisa norte. e ao sui ia alem do utuul bairr o
do Jabaqua ra.
Por curiosidadc anota mos os scus dois primciros asscntamentos. 0 primeiro, de Ialccimc nto: A ngela Stopa,
(13) I ) L\ ~ - lI i, ti,r ia - Citl.I.I.· .1,· S. 1';11l10, pur
.1" Fr eitas , 11# 10 - 18 74. [Arquivo ~ Iun id p,al. )
o 8.-\IR RO m : VI L A
~I.\n l.\~:\
,\ f"",,, ~I.
65
obito em 11·1· 1896 ; e 0 pr imciro nasdmcmo : Faus:o
T romboni : em 14·1 ·1 896.
Passou esse cart ono po r diversas mudan cas de loca l
c hojc funciona na Run Domingos de Mora is, scndo scu
atual ofkin I a Sr. A nto nio Paulo Antunes.
" I:\ ST ITUTO
DO ~A
A NA ROSA"
1896 - No at ual Lar go Don a Ana Rosa situava-se
o "Institute Dona A na Rosa" , lnstnuicao bcnementa, destinada a am parar, dar lnstrucao clcmcnta r c profissio nnl a
mcninos orfgo s.
Entravam elcs aind a pcq uenos para 0 mesmc c salam
com a idade de dczoito anos aptos para enfrcnrar a vida e
com qu alidadcs de cidad aos . Era uma institukao partic ular
e ainda hoje funciona no bairro de Vila SOnia com os
mcsrncs princf pios as cxpcn sas de dcsccnd cntcs do Barn o
de Sousa Ou circs.
T ranscrcvo aqui uma cronica nessc scntido do cscrltor Antonio Egidio Martins sobrc esse educanda rio em
1911 :
"0 Comendador Jose Manuel de Fr anca .
que foi sepu ltado na Igreja do Rccolhirnento
da LUl, era nat ura l de G uaratln gueta c irm jio
do Ca pitao Manuel Jose de Franca. Ialecido
em 2 de ab ril de 1865. e dcixcu, como seu irmao, cc nside nive l fort una, havendo 0 seu resta menteiro. com a coadj uvacdo de outras pes·
sons de sua con f ianca, levado q uatr o dias a
conta r a grand e quantidede de di nheiro que 0
capitao Franca dcixou.
D. Ana Rosa de Ar a ujo, falecida a 9 de
junho de 1872 , na idadc de 86 ano s, era cunhada daquelc s cupitalistas. lcgando a mesma scnhora uma avultada qu ant ia pa ra scr aplicada
na Iundacao. ncsta Capital. de urn estabelecimente de cnsiuc pa ra os pobres. 0 qual. sob 0
66
o
MIRRO DE ' ·ILA
~ 1 ..
\RI.";Ii .-\
T itulo de " lnstituto D. Ana Rosa" foi. a 8 c::
ab ril de 1875, fundado por scu tcsta mcntciro,
Scnador Barile de Sousa Oueiros, havc ndo 0
mesrno Instituto f uncionado. nos primeiros
tempos de sua cxlstencla, no grande predio da
Ru a Scnador Ouciros, depois no Convcnto do
Ca rma. ccdido pclo scu respective prior, Frei
A ntonio da Virgcm Maria Luis Barreto.
o mesmo Institute D. A na Rosa csta
funcion ando hojc em bo nito e gra nde edi fieio
cc nstrufdc ha poueos unos, em Vila Maria na,
e c xereendo com muita dedlcacao c zelo 0
ca rgo cargo de diretor do referido csta belcciment o 0 cid adao Dionisio Caio da Fon seca qu e,
em 1881, POSSUIa e di rigia na cid adc de Rio
Claro urn importantc colcgio de tnstrucao pr imaria c sccunda ria." (HI)
Esse cstabclccimcnto ocupava toda a frente do Largo
Dona A na Rosa oa Rua Ver gueiro c seu terr eno ia ate
as baixadas da Actimacao. Foi dcmo lido rnais ou menos
em 1940. Em seu lu gar ergucm-se predios comcrciais e
de apartamcntos e tam bem ali foram ab erta s ruas que
ligam V ila Mariana ao ba irro da Aclimacao.
A Ll NHA DE BONDES DE v. MARIANA
A PINH EIR O S
De Vila Ma riana para outros bai rros 0 tra nsporte
pub lico de passagciros era feito, em 1890, sc mente pcla
Fcr rocar ril, que servia os balr ros do Jabaq ua ra, Ca mbuci,
Matadouro e Vila de San to A maro. porem co m a recente
abe rtu ra da Rua l ose Antonio Coel ho, qu e ene urtava 0
eaminho pa ra 0 bairro de Pinhclros, urn grupo de capita(16) "Silo Paulo Antigo" vol ume 1911 - 19 12 - Hto.
o DAlRn O
D~
VILA
~IAH IA :'IJA
Antonio EgiJ io
~ lart i n s
-
II
llstas, com 0 lim talvez de valorizar terras de sua propriedade, propoem a Camara a instalacao de uma linha de
bondcs a burro ou a vapor de Vila Mariana a Vila de
Pinheiros, atravcssando as baixadas da Avenida Paulista e
Varzea de Santo Amaro. As companhias de bondes do
Born Retire c Bela Vista, c a Companhia Carris de Ferro
Sao Paulo a Santo Amaro se opoem a esse projeto, tachando-o de prejudicial aos seus intcresses e ncsse sentido of id am a Camara, conscguindo tomar scm efcito 0 projeto
dcssa nova linha de transportee coletlvos.
Aqui dames, a titulo de curtosldade, os despachos da
Camara:
"A Comissao de Justice, cxaminando a
pcttcao da Companhia do Born Retiro e Bela
Vista, chama a atencao da lntendencia para 0
contrato celcbrado entre ela e 0 Govemo para
a constituicao de linhas de bondes, alegando
que a pcticao de Abilio Soares, Jorge Eisemback e Jose Antonio Coelho de uma linha de
bondcs pa ra a Vila dos Pinhciros e na rua
Angelo de Abreu, na Vita Mariana, ofende 0
direito da pcticionaria, porque cssa Iinha ira
passar poc algumas ruas que seriio servida s
pela pcticionaria e outras do scu contrato. A
comissao e de parecer, a vista da clausula 23
do contrato da Companhia de Bondes do Born
Retire c Bela Vista, que nada ha a opor".
Hipolito da Silva - Manuel Lopes de
Oliveira" (17 )
A seguinte
ea
pcticao da Ferrocarril:
"A Comissao de Justica, cxaminando a
peticao da Companhia Carris de Ferro Sao
(17)
(I 8)
niei pal.)
Alas &1. Camara
Ata s da Cdmaru
1890.
1890 -
(Ar'l " IVO ~ lll n lcipal.)
pllg. 184.
(Arquivo
o BAilmO D E VILA
~ 1 1l -
~ IA lU A:'IIA
Paulo a Santo Am aro , e de parccer qu e a Hnha
de bo ndes pcdida po r Jorge Eisemback, Jose
A nton io Coelh o e A bilio Soares vern lesar d ireiros, porq uanto seu co ntrato diz, no art igo 12
que "du rante 0 prazo, de prlvilegio nao se
con cede d a outra s Iinhas para as baixadas do
Matadouro".
Paco Mu nicipal,
1890".( '" )
1.0 de
Agosto
de
E assim fica scm cfciro esse mclhoramento qu e, mcsmo que Iossc fcito com ob jctivo de intcresscs pcssoais.
viria ad iantar 0 progresso dos atuais bairros do lbira puera,
Jardim A merica, Jardim Pa ulista e Pinh ciros.
CA R LOS PETIT
Era a Iigura mals lm port ante do bair ro . De boas. manciras, fala man sa e cduc ado, con hecedor de leis c de
politicos, era relacionado com muitos horncns do govemo .
Estatu ra regular, trajando s.empre de casimira, gravata,
sa patos cngraxad os, rcquin tcs esses que dificilmcnte eram
usados por cidad aos de Vila Mari ana naqu cles tempos.
Con bccla todo mundo, gra ndes e pcqu cnos. Tod os a ele
rccorriam pa ra resolver seus casos pa rticula res ou ncgocios da Vila, A todos elc atendia com bcnevolencia e intcressc e gcralmentc rcsotvia sanstatoriamente.
Por sua ir nerfcrencia era dcvida a instalacao da (mica
indus tria no baiero, a Iab rica de f6sforos. Honesto, sa bia
fazcr amigo s e atra ir slmpatlas. Era ele praticamente 0
delcga do, juiz de paz, foi vcreador em du as legislaturas,
possuia pate ntc de tcncntc-coroncl da Guarda Nac ional e
po r ultimo ocupou 0 cargo de adminis trador do cemlte rio
de Vila Mariana .
Duran te trin ta anos trabalhou pclo bair ro, sem visar
scus intcresses part tcularcs. Ainda a elc em vida foi dad o
o
8 :\IRHO DE \ 'IL.\. ~HR HS .\.
69
o seu nome a uma rua do bai rro proxima a sua rcsidencia
em 1903 .
A atual Rua Carlos Petit dcnominava-se ate esse ano
Ru a Hu mberto I. Nesse ano porem passou a dcnomina r-se
Car los Petit, e 0 nome de Humberto 1 foi transferldo a
antiga Rua Cent ral do bairro dos "t ripciros".
Sempre morou no scu sobradao da Rua Vcrguciro em
frente a caixa de agua. prcdio esse agora demolido para
da r passagcm ao metro. La era ta mbem a antiga Delcgacia de Polfcia c a escola publica mista de "Dona Mariquinha". Falcc cu esse cmerito cidadao em 1922, com 58 anos
de ldadc, dcixando divcrsos Iilhos, entre elcs 0 Sr. Nillon
Petit, que tam bern muit os services prestou ao bairro c aq ui
ainda reside, na rua que leva 0 nome de scu progenitor.
" DONA MARIQU I NHA"
Maria Bittencourt Paula Petit. csposa do Sr. Carlos
Petit, era a profcssora da Vila, formada pela Eseola Norma l do Estado, j5. tendo lcclonado tarnbcm na Vila de
Santo Amaro . De porte alto, rnagra. cnergica. porcm boa,
fazia questao que as suas crtancas aprendcsscm a lcr c
cscrcvcr. A escola era mista, mcninos c mcninas. no r ncu
tempo em 19 18, uns trinta. nurn so pcrfodo.
Muitos moradorcs da vila nao mandavarn scus filhos
a escola. poueos davam valor a instrucao naqueles tempos. Tambem muitos poueos detcs tinha m instrucao, q uasc
todos s6 sabiam assinar com diflculdade 0 nome e alguns
delcs ncm isso. Faziam questao, isso stm, saber contar dinhciro. A cseola era Ircq uenrada por aluncs de divcrses
idadcs, sendo os mcno res gcralmcntc com 10 ano s. Havia
rapazinhos j a com buco eursando 0 2.° c 3.° elementar. As
meninas, porem cram pequenas, as maiores com uns 12
anos. Unltorm es nao havia. Cada urn ia com a roupa que
tinha. A lguns iam calcados, outros dcscalcos. A maior ia
era gentc pobre e muitos mo ravam rclativamcntc lcngc.
Familias r nais abo nadas, mandavam seus filhos cstuda r na
70
o
R \ IIIT10 D E VI L. \
~IAHlAl'\A
cldadc. A sala de aula era na parte superior do sobradao
e de l:i en xergava-sc 0 quintal com a criacao e 0 pomar da
profcssora , tudo cuidado por cia mesma. Ao terminar 0
ano lctivo dava cia presentee aos alunos, frutas do seu
quintal e doce caseiro por cla Icito.
Por volta do ana de 1920, co nstruido 0 at ual Grupe
Escolar " Marechal Floriano", na Rua Domingos de Mora is, esqu ina da Rua Dona Julia e, a nossa cscolinha j:i
extinta, passa "D ona Mariqu inha" a fazer parte do co rpo
doccntc dessc estabclc cimento.
Lccionou a boa mestra durante 40 anos, e ate hojc,
multos de seus alunos, jn. agora entrados em anos como cu,
lembram, com saudadcs, da sua escolinha e da nob rc pro fessora.
OS PORTUGUESES
T ambem cstabclcccram-sc no nosso bair ro port ugucscs por volta do ano de 1900. Muitos deles vieram de outras zonas onde cram ma is numerosos como Pinhciros e
Pa nic Gra nde, locals de cxtracao de ar eia, mister cxercldo
naqucle tempo quase exclusivamente pa r homens dcssa
nacio nalidadc . Alguns poueos linham vindo da terra natal.
Form aram elcs 0 seu nuclco pr incipal pclos lade s do antigo
"Tanq ue Sant'Ana (dcpols dcno minado "Pe de Boi") e
atua lmcntc Vila Gumcrcindo.
Esse local ficava na baixada na Rua Santa C ruz, nas
rnargens do Ribcirao Ipiranga. Ali dedicavam-se ao cult ivo
da terra , plan tando verduras c florcs.
Possulam elcs tambem vacas lcitciras, aprovcita ndo
as cncostas do vale que cram rices em pastagcns. Dcnomlnavam-sc aquelas paragens "Tanque Sant'A na" pelo motivo de que ha anus passados tcr side ali a dgua do Ribciriio Iplranga represada par an tigos rnoradorcs com 0
fim de formar aguada para a crlacnc .
Formara-se urn grande lago com rnuita vcgctacao
aquatica q ue cobna quase totalmcnte a superficie das aguas
o H!\mHO DE V I L A
~ I A ln A ~A
71
por uma grande cxtcnsao. niio so do lago como de grande
parte do prop rio ribcirfio.
Moradores da Vila e das rcdondezas iam ali pcscar
e banhar-sc; porem, devido aos acidentes aeonteeidos, ondc
muitos dcixaram a vida, com 0 tempo fieou 0 local cvitado
c q uasc esquecido des moradores da Vila.
Era comum vcrcm-sc esscs verdurerios e leitciros durante a parte da manha pcreorrcrem as ruas da Vila. as
primciros com carrinhos puxados por urn animal. carregados com verduras de diversas qualidadcs e, as scgundos, as lciteiros, com latocs de folha-de-flandrcs as costas
c a tiracolo numcrosas canccas de tamanhos varlados.
Eram essas as medidas aferidas pela Prefcitura, para
mcdir certo a quan tidadc de leite pcdida pclos fregueses.
Entre esscs vcndcdorcs de leire havia ta rnbem os desoncstos que adicionavam agua ao lcite ou alteravam as
mcdidas, e, vez por outra, quando os fiscais do Municipio
faziam dihgencias de Iiscnlizacao para conferir 0 tcor do
lcitc au a capacidadc das medidas esses maus comcrcianles cntao fugiam, delxando no local scus latccs e mcd idas
qlle eram rccolhidos ao deposito da Prcfcitura.
Tinham esscs portugueses a seu proprio modo de vida.
a parte dos rnoradores da Vila, porq ue os costumes e lingua
difcrentcs dos ltaflanos eram urn impccilho, naqueles tempos de pouea instrucao e quase nenhum convivio social.
Cuidavam elcs das suas chricaras c criacocs, tra balhando durante a semana tcda nessa lida pesada e bruta.
de manhii a noite, uns como patrocs, outros como emprcgados, procurando amcalha r urn dinheiro para urn dia ir a
terrinha matar saudades, au prcparando urn futuro melhor
para si e sua familia, nao sc envolvendo em assuntos que
nao f6ssem de scus patrfcios.
Aos domingos, as mais mocos juntavam-sc em urn
salfic de baile na Estrada Vcrguciro, 0 "H crois do Mar" (l 9)
(19)
g sse nome Ioi dado no salao pd o fato de estar
~lc
locali zado na an tiga Estrada do ~ I a r, ],ojc Estrad a d o VC'rgul'iro.
72
o
UAIBHO DE VIL .\
~ I A HI:\X ."
cali se divcrtiam ate a tardinha. Havia tambem a s que
nem esse baile freqUentavam, prcfcrindo ficar descansando
da labuta da semana. Era muito eomum ouvlr-sc tcda a
tarde des domingos, vindas das chacaras, a s acordcs da..
musicas desscs portugueses. dando vaza a sua nostalgia
em guitarras ou sanfonas de oito baixos.
Com 0 andar des anos foram elcs se cspalhando por
tod o 0 vale do l piranga c, depois, aos poueos essas chaceras foram cxtinguindo para dar lugar as habitacocs que
iam surgindo. corn a aumcnto do povo naquclc bairro.
Ainda hoje algumas chacaras de vcrduras la cxistcm, nas
baixadas da Estrad a do Vcrguclro.
Seus dcsccndcntcs. ja com mais Instrucao, nao quizcram seguir 0 duro traba lho de scus pais, prcferiram 0
comcrcio, 0 traba lho de artifices ou profissao liberals e sc
intcgrando com os outros habitantcs do bairro, tambem
multo coopcraram para 0 dcscnvolvimcnto de Vila Mariana.
ANQ DE 1900
Esta data marca diversas modiftcacoes imponantcs
para 0 nosso bairro. Muitas de suas ruas, as princlpais e
o largo tinham sido scrvidas por Iluminacao publica com
lamplocs de gas e a luz eletrica domiciliar tambem ja
ehegando. Construla-se uma rica residencia na Rua Domingos de Morais, logo adiantc da Chacara Flora. Tinha
ela side uma especie dc casa de campo, com crlacao de
galinhas e agora, depots de grandcs reformas torna ra-se
a mais bonita casa do bairro e era propriedadc do Conde
Oueirolo, gerentc ou socio do Banco Joao Brfcola.
. Tambcm na parte comcrclal ja esrava 0 bairro bern
dcscnvolvido. Muitas lojas novas, inclusive uma Iarmacia
tinha side montada . Ja nao era preciso os morado res man-
o
saliio era urn ha rracao de madeira pcgado oo predio de uma
vcnda, no local node dcpo is se formou a Favela do Vcrgtwiro.
o saldn j{\ nao exist!', porem 0 prCdio da vcnda, qu ase em min as,
ntnda Li esta. [Nota do nntor).
o DAIR nO DE VILA
~ IAR IA NA
73
dar avia r rcccitas ou eomp rar scus remedies na cidade, na
Iarrnacia Cri stini la na Rua Alva res Pcnteado.
med ico, Dr. A lfio Martclcti. tumbem dava suas co nsultas em dla s attcm ados ali no la rgo, csq uina da Rua
vergucirc pcgad o
venda do Cczarc Br inatl .
A oficina de carp tntana do Chlnagfia. na Rua Do m ingos de Mo ra is, fabricava movcis c a oficina mccanica do
ldoschcro, na Rua Vcrguciro. fa bricava peens c mater ials
de ferro para co nstrucocs.
Havia tambcrn 0 mcrcado de burr os na Rua F ra nca
Pint o, esq uina da Humberto L
Divcrsocs no balr ro po rem conti nuavam as mcsmas.
J ogos de bochas e de cartes pa ra os velhos e os bailcs
frcqilenta dos pcla gente mais mcca. No Parqu c de Vila
Ma riana da ncava -se todos os do mingos. co m o saljio abcrto
c publico. Os eav alhe iros pagavam uma tax a, isto e, ao
cntrarcm co mpravam urna senha qu e custava qui nhc ntos
reis c dava d jrcito aos bailcs daq uele dia, das 16 as 22
hora s. Duas o u Ires vezcs d urante cssa rcuniiio dancan:c
as con tradancas para va m na mctad c e cram vcrl fica das a s
scnhas qu em nao a ti nha e ra ob rigado a eo m pra r uma au
o
a
dcixar a sauo.
A s dam as nao podiam da r " tabua'', isto e, nao pod ia
rccusa r 0 pcdldo dos cavalheiros pa ra dancer. Se recusassc era convidada a dclxa r 0 satao de baile . As vezes, po r
esse mot ive . ou q ue di vcrsos ca valh ciros descjasscm da ncar
co m a r nesma dama dava altc rca cao no salao. porem scm
graves conscq uenclas. Nin guem po rtava arrnas, cra m todos
genre sim ples e conhccida, q ua ndo mu ito, a caso era resolvido com alguns sopa pos .
O s o utros baite s. 0 da F ilarmonica Giuseppe Gari baldi. 0 do Loschia vo, 0 do Far ina C 0 do Farabuli ni,
tambem fazia m as suas reunioes. porem nao rodos as do min gos.
Porem estc a no maroa urn fato pa r si so mu ito importa nte. t a ter mlno da Co mpanhia Ferro Carril Sao
Pau lo a Santo Ama ro. Essa cstrada q ue, pod c-sc dizer, foi
a propul so ra do hai rro de Vila Mar ia na, agora ia dcixar
74
o namnn
D E V I L A \ I AIU A:'oI A
de tr afegar. A Companhia, em dificutdades flnanc elr as. c
arrema tada pcla Light. Isso nao era de estranhar por quanto cssa est rada nunca dera luero ao scu proprietario,
A lfredo Kuhlma nn. que no comeco tinha-sc associado a
Eu sebio da Camara Lea l c este pouco dcpois deixo u a
socicdadc, na tu ralmen te tend o pcrcebido pouc o futuro na
mesrr.a. A pcrtinacia de Kuhlma nn po rem con scguira Iazela Iuncionar dura nte esscs qu inze a nos. Assim 0 trcc bo
para a cidade e pa ra 0 Mata douro iria m scr logo servidas
por bondcs cletncos a cargo da companhia canadense.
Qu anto ao ramal do Ca mbuci M tempos ja tinha sido intcrr om pido.
o Irem continuaria porcm ale 0 ana de 1913 a scrvir a trccho de Vila Mariana a Santo Santo A maro, sob
a dl recao da Ligh t. Essa demora pa ra tam bcm scrvlr a
Vila de Sant e Am aro com bondes eletr lcos prcndia -sc ao
Iato de agora aqucla linha m udar 0 trajcto. Em luger de
seguir pclo J nbaqu a ra. iria pcla varzea de Sarno Am aro. c
rnuitos cortes, aterrcs e pontes deveriam scr Icitos ncss c
tem po em qu e nao havia maqu inari a; so braces de bomens
e tra nspor tcs com anim als.
E justo aqui Icmbrar mos ta mbcm os homens que du ra nte esses qu inzc anos. jun to com 0 Engcnhciro Kulhma nn,
coo peraram e deram 0 melhor de si ncssa pequ ena estrada
de ferro de sa udosa lcmbra nca . Alem dos che fes de trc ns
e chefes de estacao ja citados em outre ca pit ulo, 0 Sr.
Gus tavo Ravacbc. chefe das oficinas. e os maq ulnistas Joao
Mazinl. Moren , Trombon i e Pauleto.
NIION IIO DA ESTRADA
Era esse
0
nome por que era conhccidc
0
morador
d~
urn sitio situadc ent re as ruas da Saudadc e Sena MOl·
durci ra, na bcira da " Estrada do Ca rro" que ia par a Santo
A ma ro . Na tura l dcssa Vila. era solteiro e vivia em compa nhia de sua vclha mac. D. Mariqutnha, cuidando de
pcquena roca e de algumas vacas de leite que possufa.
o
8:\IRRO D E YI Lt.. :\1.-\RL\ :'Ii.-\
75
Vendia lenha e tam bem leite ao s morado rcs do bairro.
Homem simples e dado e ra a migo de tod o mundo das redondezas.
Seus co nterra ncos. quando de passagcm po r ali viajando pa ra a cidadc com carros de bo is. paravam pa ra
desca nsar ou mesmo pa ra pern oitar.
Agora esse propricdadc cstava rcduzi da . Fora muito
maior em tempos ides e dela Jazia parte a atual Rua Fran cisco Cr uz, qu e era urn atal ho de tropas vindas das bandas
de Pinheiros e que ali tin ham urn rancho de pouso a ntes
de cntrar na Estra da do Mar. T amb em ncssc sitio existira a velha "Capclinha das A lmas", na Estrada do vc rguciro, ent re as ruas Fr ancisco Cruz c Inaja.
Agora com a cstrada de ferr o d ividindo cssa propri edade ao mcio, torna uquelc trccho do "Cumlnho do Ca rro" cm scrvidilo publica. ligando a Rua Domingos de
Morais a Estrada da Saude. Aos poucos c aos pcda cos
vai sendo vend ida cssa parte a esqucrda da " Estrada do
Ca rro", fica ndo 0 prop rlcta rlo somcmc com 0 lado direito
ainda po r m uitos anos mais, ate que 0 progresso ta mbem
nao mais permitiu gra ndee a reas vazias e aos poucos vaose ali construlndo rc....idencia s.
o
PA RQ UE IBl RAPUE RA
Na zona do lbir apucra. a gra nde a rea que scrvira de
paste as bo iadas vinda s do Interior c destinadas ao Matedouro Mun icipal era agora urn ca mpo descrto. uma planieie que sc cnxergava de longc, scm urn a nimal au mesmo
um morador .
T er rene plano. cnxameado de monticulos de cupins,
com urn ca pim bern rate, sem uma moila a u touccir a, era
retrat o fiel de cam pina. De quando em qua ndo nas par tes
mais umldas pequ enos lagos rasos. feiros aln da naquelcs
antigos tem pos. pa ra matar sedc do gado , pareciam como
pontes pratc ado s qucb ra ndo a monotonia da vlsao .
76
o
B.-\IRRO Il l': \"11...\
\t\lH"~ ."
Para q uem olhasse pa ra aquele s lad es da antiga Rua
do Cur tume, dati de pcr to do atual Institute Biologtco,
vcria hi no lim , encos tado no Corrcgo do Sapateir o, uma
fileira de pcquenos cucaliptos que delimita vam aquel c
imenso terren o.
At ras dessas arvores havia moradas de chacareiros
e cnacao de gado leitciro. Pelo outro lado, ao nort e,
faziam cssas ter ras divisa com outras tambe m do Bstado,
separadas por urn pequ eno corrego trlbut ano do Sap ateiro denom inad as Invernada dos Bombeiros, c com a rua
Abilio Soa res qu e dcscmbocava na A venida Brigadeiro
Lui s An tonio, um po ueo acima da encr uzilhada da Capelinha , dconde safam os cami nbos de Pinheiros e Sant o
Am aro. Pclo lado sui ter minava esse grande campo na
antiga Rua Fr an ca Pinto, que ncssc treeho era desabitada .
Algumas dezcnas de anos arras urn grupo de par t tculares quis se apo ssar dessas terras fazcndo uso de cscrit uras falsas. em prejuizo do Estado e do povo . porem
na o tiveram exito. Aqu elc pedido da Cama ra de Sao
Paulo em 1887 fazendo apelo ao Ml nister io do I mperio
"q ue f6ssem suspensas as vendas de tcrras na varzca de
Santo A maro po r se dcsti nar 0 local a apascentar 0 gado
e urn campo para a povo", cstava ccrto ; 0 Ibirapuera tornou-se de fato urn "campo para 0 povo".
~st e e 0 antigo retrato do nosso atua l Pa rque Ibirapuera, tambem denomi nado "Campo do Barreto" , hoi clnqu cnra anos habitado so por coruj as e bern-te-vis. As
co rujas, por serem aves ariscas qu e nao gostam de genre,
nne mais existem ali, foram embora, porem os bera- te-vis,
que siio mais "se m-vergonha'', ainda hi cstao contentcs
da vida, a bcira do lago.
NOTA S SOBRE UM BA IRRO DE SAO PA ULO
Na scido no bairr o de Vila Marian a, na Rua Dona
J ulia, em 190 8, fui com minha fam ilia de r nudanca para
Plnhciros em 19 14, resldlnd o ali ate 0 ano de 1918.
o
8AIRRO DE YIL.o\
~IA IH A ~' A
"
Sao vagas minims lcmb ra nca s da quclc tem po, porcm
tendo volt ado aquelc ba irro dep ots. por diver sa.. vezcs,
fixei aspectos e luga rcs que me facilita m cscrever sa bre
o assunto .
Mo ra va mos no fim da Rua Fcm ao Dlas. pcn o da
a ntiga Estrada das Ccrujas. Meu pai, tendo tide rcvezes
em negoclos trabalhava nessc tempo com trans portc de
arcia e pcd regulho q uc retirava do porto des Vaz. Possuta ele tres ca rrocas e era auxiliado pa r ca rnara das. Minha
mae, pa ra mclhorar as condicocs da fami lia mon ta ra uma
peque na venda na mcsma casa ondc moravam os. Os
tempos era m de pcnuria. Nao ha via tra balho e nem
di nhciro. Ali os moradores era m todos po brcs e ignorantcs. Havia Iii muitos caboclos, alguns parentcs des anti gcs Lcmcs, que tocavam pcqucnas rocas c vend-am icnha
aos moradores do balr ro. As ruas nac eram calca das c
ncm rncsmo arr uadas. S6 te rra preta c muitos pantanos.
Havia a chamada Rua de Baixo, a Rua do Sumid ouro, a
Ru a des Padres e outras de na mes esquisitos qu e nao me
vern it mente.
o lar go, tam bcm scm calc arncnto, em tem po de chuva transform ava- se num barreiro. onde a bondc fazia a
ba tao de volta it cidadc. Ha via alguns poucos ncgccios
c a igrcja onde e u fui batlzado. T am bem logo alc m do
la rgo, perto da Rua Area Verde, que no tempo era a miis
irnpo rtantc, ja exisna 0 "mer cado de s caipl ras" , onde
era m vendidas aves, palmitos e alguns cereals que sitla nles traziam do Morurnb i, do Embu e de Itapccerica.
As vezcs, aos domingos, urn desses ncgocios dave
espct ac ulo de Ma rionctcs com 0 "J oao Mi nhoca".
De tempos ern tempos a par ecia por la urn circo. Era
uma testa para a molccadu c urn aco ntecimcn to pa ra a
bairro . 0 palh aco percorria as ruas enqu a nto 0 circo
pob re estava scndo montadc , c com toda a cnancada
ucompa nhando ia ele canta ndo :
- " 0 palhaco 0 que e?"
E nos respo ndlamos:
o
BA IRRO DE VlL ,\ :'< I.\JU ..\I"i"A
"J:; Iadrao de mulh cr". E asslm po r dian tc, por
quase toda aqu ela redon deza, Iazcndo com seus diros a
propaganda do scu circo e do cspetaculo.
Na nossa rua , a Fcrn fio Dtas, ha via ao todo uns
qulnze morador es. Logo no comeco dcla, uma pequcna
pout c de madeira, m uito tosca . sa bre urn cc rrego; logo
depois, um grupo de q ual ro casas vclhus, em scg uida a
igreja do s protesta ntes c alem desta uma casa gra nde dentrc de urn ample cercado de a ra me farp ado ; a seguir. na
primeira esquina. a capclln ha rcplcta de imagens de sa ntos
e locos de vclas. Depo's de r nais dua s casas a nossu,
com duas portas c urr. a junela na Irentc. Mais d uas casa s
velhas c a l terminava a rua pa ra com ccar a Estrada des
Co ruja s, que ia em dlrccao a Lar a. Entre as mo radas
aqu i descritas sempre havia gra ndes espa<;os vaz tos com
brcjos c capociras.
A nossa casa, de tiiolos, possufa tam bcm urn quintal
gra nde que ia. nos fund os. ate a out ra rua, a Rua de Baixo,
que era 0 co meco da ant iga va rzea do Rio Pinhciros, com
mcitas de ca pim c brejos. Desscs brejos por algumas
vezcs vicram cob ras vcncnosa s. tendo lima dclas pcnetra do ate uma dcpcndencia da casa. scndo por Providencia Divine pcrccbida a tempo c mor ta a tiros.
o ncgocio que minha n:ac dlrigia muito po ueo rcndia . O s moradores das rcdondczas nile tinham condicocs
de fazer despcsas.
O ucroscne, sal, acucar, sa bno e plnga era o for te
do ncgc cio .
Ba ns fregueses gas tavam 30 a 40 mil-reis por meso
As crlancas Ircqucntavam 0 grupo cscola r da Ru a Butanta
c duas cscolas mistas que q uase nunca funcio navam por
falta de professors . Nos, os molcqucs, qua sc nfio Iamos
it a ula. Cabulavamos 0 r ues intciro. indo nad ar na varzca
ou cacar passa rinh os nos campos do Pedro C rtsti ou no
sitio de N h6 Paulino, urn hom caipiru, dono do "S nlo
do Buraco".
Esse N h6 Paulino tinha laces de pa rcntcsco com os
Sardin has . No fim dessc 1918, esuiva mos de volta a
o
HAIKRO D E VILA MAR lASA
,.
Vila Mariana. As tres carrocas carrcgadas com a mudanca vieram pela antiga Estrada do Bibi, naquela e poca
epoca eheia de buraeos, onde as pcq uenos corrcgos eram
passado s a va u c as grandes ar vorcs q ue ladcavam a cstrada cobria m-na inteira mentc com suas ramagens.
NOTA: Esta pcqucna dcscrlcao do bairro de Pinhciros e feita sc mcn tc para dar uma idcia do que cra m os
bal rros de Sao Paulo .
O uase todos eles pobres, estava rn nas mesmas condicocs no rim da Primeira Gr ande G uerra. Hojc 0 bairro
de Pin heiros e urn dos mals lmportantes da Ca pital, assim
como outros qu e ha cinqucma anos Oli o passavarn, pode-sc
dizer, de nucleos a u vilas scm cxprcssao.
as
A LEM AES
Nus terras do Sr. Jose A ntonio Coelho. que antes
tinham pertencido aos lrmaos Vaz, esse cidudao ahriu
di vcrsas ruas e tambem uma que levava . a scu nome.
Nao foi possivel deseobrir a proccdencia anterior aos Vaz.
Consultando Datas de Tcr ras no Arquivo Municipal
dcsdc 0 ano de 1850 em diantc, nada a par eeeu ; porcm
em mapa de 1897.e ' ) podc-sc ver uma lagoa nos fundo s
da R ua Pclotas, que atualm entc naomais cxlste, c voz popular diz que ali era 0 sitio de " Dona Virginia" .
Essa area ta mbem fez parte das terras do Sr. Jose
An tonio Coelho. Provavclmcntc esse sitio era anterio r
aos Vaz. Par elc passava 0 corrego que na scendo na
C luicara des Padres ri a Rua Domingos de Morais alim cnta va esse lago, e dcpois, atrav essando a Ru a do C urt ume,
ia sc junta r ao Cc rrcgo do Sapat ciro hi nos campos do
l blra puera.
Ncssc suio de " Dona Virgfnia" havia multa culture
de cana e ccrcais tocado por escravos.
(20) ~ Iapn Geral dil C,ll, it,ll de S. Paulo - Orl-\aniz,Hlu sub
a (J in'~'ii<l do Dr. G"TlWS Card im - 1897 . (Anl" ivo ~ Iun id pal. )
80
0 8.\11\1\0 D E VILA
~ I A RI A;\' A
Possufa mo njolo. anlmais e casas de taipa. A ntlgos
morad ores da Rua Pelotas contam que no fundo de urn
J esses lotes qu e fazia divisa com esse c6rrego, adquirido do Sr. Jose A. Coelho, foi cncontrado urn local
co m muilas ossad as humanas a pouca profundida de, conclut ndo-sc qu e ali fora 0 cemirerlo de s morad ores dessc
sitio e de scus inumeros cscravos.
A Rua Jose A. Coelho e suas imediacocs j a em 1903
cra basrantc habit ada por cidad aos alemiies. Os prime iros
qu e ali vicram proccdiam de Santa Ca tarina, sendo picneiro 0 Sr. Vicente Somm er que, vindo de sua pdtria cornu
imigra nte dcstinado aquclc Estad o e nao tendo cncontrado ali condicocs, sc tra nsferiu pa ra Sao Paulo com
sua familia , csrabclcc endo-sc na Rua Jose An tonio Coelho.
Depo is dele outros tambern de San ta Catari na vicram
asslm como imlgrantes qu e nao sc Iixaram na Vila de Sa n to
Amaro, chegaram para aumcnrar aq uele nucleo e, mals
tarde, novas cidad iios alemiies da cidadc e mesmo da sua
terr a natal ali sc csta bclcciam .
Possufam elcs sociedades rccrcativas e seus clubcs
de jogos, onde era mu ito comum a prat ica do "bo liche".
Em 1903 c fundada e instalad a na R ua Jose A. Coelho a cscola alcma, pcla cntao Sociedade Escotar , cntidade
essa fundada por T heod or Henn ies. 0 prirnciro professor dessa escola e durante 27 anos. foi Johan cs Keller.
Em 1940 passa estc csta bclccimcnto. i:i agora com curse
ginasia l c corncrclal , a denominar-sc "Colegio Benjamirn
Co nsta nt", com nova sedc 11 Rua Eca de Oucir6s .( ~ I)
Dcdicavam-sc esscs alcmacs ao trato da terra em
diversas chacaras e como opcnirics na cidnde, nas rcdondezas e na Cervejaria G uanabara . Em 19 16 e ali instalada
a fubricn de chocolate "Lacta" c po r volta de 19 19 a
estamparia Caravelas, esla agora ampliada, de propr iedade
do Sr. Joao M iiller Caravclas. Q uanta a Iabrica de cho colate agora so [a cxistc 0 predio, tendo a mesma se mu(21)
:'\nta s do Instituto Historicc H ans Stade».
o H:\mH O D E V I LA :\1.4. IU ..\ ~ :\
81
da do para a balrro do Booklyn Paulista , depo is de tcr
sido adquirlda pclo Sr. Adcma r de Barros,
Atualmcntc poueos dcsccndcntcs daq uclcs vclhos mora dor es esta o esrabelccld os no local. O uase todos mudaram-se a u tra nsferiram-se para ou tros balr ros.
AT AS DA CA MA R A EM 1900 E 1903
E em data de 1.0 de fevercl ro de 1900 qu e pela primeira vez a C amara de Sao Pau lo tra ta de ass untos direramente ligado s a Vila Ma ria na, desde que 0 nosso hairro
passou a Distr ito de Paz em 1896. An tes dcssa da ta tarnbern nao exlste arc algum com rcte rencia ao nosso balr ro.
a nao ser com refer enda ao Matadouro Municipal.
Dem os abaixo Ires desscs atos:
"O ficio da Prcfcituru comunicando haver
prov idenciado a ca pinac ao das ruas de Vila
Ma ria na e conscnos nas ruas que sc d irigem ao
l piranga c do Ver guciro, pcdld os pclos mora-
dores" (22) ,
Ou tra ata tra ta da cria ciio de d uas cadci ras de clas -
se e1ementar :
"I ndicac ao n.? 19 1"
T endo as mo radorcs da Vila Mariana me
pcdido pa ra solic itar dessa Camara a crlacao
de dues cadei ras de curse primano , uma do
sexo masculin e e outra do scxo feminine, para
a que nos enviar a m 0 abaix o ass inado que
tcnho a hon ra de submeter a dccisao de me us
ilustrcs colcgas, e me pa rccendo de toda a
J ustica a justa aspir ace o daq uclcs moradores,
(22) Atas da Camara ~ Iuuil'ip'l l de S. Paulo - ano de 1900
. (p{lg, 36),
82
0 HAIR RO D E VILA
MARIA~A
cu cnvio a mesa 0 mcncionado ab aixo assinado c PC\;O ao sr. Prcstdcntc da Ca mara para
submeter a ldela ao estudo de uma comissao
para 0 etelto de scr formu lado urn projctc
criando aquelas cadelras.
S. Pa ulo -
1.° de Ieverelro de 1900
Scrafim Lcmc" (2:1) .
Para rne1horar 0 ca minho da cidad c a Vila Mariana
onde no aterro do Vergueiro cram inume ros os desastres
com ca rros c ca rrocas q ue por ali transitavam e a presentada uma mocao para qu e Iossem Icltos 0 ::; necessaries
mclhoramentos.
"Parecer n.O 59"
A Comissao de O bras Municipais, cxam inando os pa peis rcterentes a melhc ramentos na
rua v erguclro e contin uacao ale a rua Paraizo
nao ped e deixar de aplaudir a rculizacao dessc
melhoramento como sendc urn des que mais sc
recomenda pela sua utilidadc c urgencia.
Trata-sc de da r ccmuncecso a par te import antissima da cidadc c que muito sc resscnte dcssa ncccssidadc, c de garan tlr a vida
dos que po r ali transitam contra os co ntinuos
dcsastres q ue sc tern dado no aterro da rua
v crguciro.
A parte mais dlspcndio sa consta no mcio
do mcsmo aterro. orcada em 136 .995S45,
ob ra esta capital nos mclhoramen los de q ue
necessita essa parte da cidad e.
Sao Paulo, 17 de J unho de 1900
Ola vo Egidio rafim Lcm e". e ~ )
( pa ~.
J050 Pcntcado -
Sc-
(23) A la~ Ita Camara d a Ci l!;Uk' d. , Sao 1' :11110 - ann 1900
36).
(.2: -1) .\ I;lS da C amara de S. 1"1lI10 - allll m oo ((1Iig. 226).
o IH .llm o DE VI L A
~ IA IUA jU
Sendo 0 bairr o ainda em 1903 desprovido de cemiterio, 0 Banco Uniao faz a doacao a Cama ra Municipal
de urn terrene necessario a esse fim:
" Parecer
190 3".
n."
8, de 5 de dezembro de
A Com issao de Higiene, tomando em
considcracao a necessidadc de se fazer no
bairro de Vila Marian a urn cemiteno Municipal e a doacao Icita pclo Banco Uniao de Sao
Paulo de urn tercena que sc presta a esse fim,
e de parccer que seja aprovado 0 ato da Prefeitura a que se refercrn os papcis junto.
Nessc scutido e cntiio baixado pcla Camara 0 decreta
que cri a 0 atua l ccmiteric situado na Avenida Lin s de Vasconcelos.
"A rt. 1. 0 - £ aprovado 0 Ate do PreIeito pclc qua l adq ulre, por doacao feita pelo
Banco Unlao de Sao Paulo, urn terrene na
Vila Dcodoro com uma area de 14.290m:!
para 0 fim de ser construldo urn cermreno
que sirva para os bairros de Vila Mar iana,
Cambuci, Ipiranga e Vila Dcodorc, podcndo
dispcnder ate a quantia de quarenta comes de
reis com 0 (echo do terr en e, e mais ob ras que
forem necessaries. Art. 2.° Rcvogam-sc as
d ispo sicoc s em contra rio.
S50 Pau lo, 5 de dczembro de 1903
Fr ancisco A. da C. Horta J unior" - (:!~ )
Qu anta ao orcamcnto fixad o pcla Camara Mun icipal
para melhoria c services a serem feitos nos hairros da
Capital, contando cia para isso com uma verba de 1. 000
(25)
(ra g. 435).
Alas
da Camara
~ hm icip;\1
de S. Paulo - auo de 1903
centes de reis. assim distn bufa ncssc ana
nat uralmente de acordo com 0 mimerc
de cada bairro. A Vila Maria na, qu e
contava com 6 .000 habitantes, coube a
30 .000$000.
~ QUAD RO
I'AKA
F rt' gut"sia
B,~
Consolucao
Sta. Efig:enia
Sui d a Se
:\"llrte da S{O
Santana
\'. ~ Ia riana
DI~IRIBUl C;AO
Popul~io
DE
a im portancia,
de habitan tes
naqucla epoca
impo rta ncia de
~ I ELI IORA~ IEl\'TOSw
7 . ()(x1
300 .000
2.30.000
200 . ()(MI
150. (MX)
3.'i . OOU
35 .000
6 .000
JO. (MMl
60 . 000
SO. OUO
40 .000
30 . 0UO
7 .0UU
Propo~io
Q uo ta
1 . 000. (MM j"
30%
25%
20%
15%
3,1%
3, 1%
3. 2%
(~ U)
No mcsmo ano, ccntava tambem Vila Mariana com
334 elcltores divididos em 2 seccocs (21) .
o
" PA RA ISO "
A parte de Vila Ma ria na, dcsde a Rua Jose Antonio
Coel ho at e a Avenida Paulista. assim como as baixadas
da Rua Paraiso ate 0 Jardim da Aclimacao e a parte opus ta do Espigao ate a Ibirapuera, de nominavam-se "Parafso"
ja em 1900.
o Largo Guanabara ainda nao era catcado e tam bem
nao tinha igreja . somc nte urn campo de terr a ondc a molecad a jogava bola.
A Iabri ca de ccrvcja em frente e, ao redor, diversas
casas de mo rada. A Rua Par afso era bern habnada c a
Aven ida Pau lista, ainda em chao, porem. apcdregulhada
c arborlzada, contava j a com dlversas casas boas.
Quanto as partes que dcsciam para a Varzca do l birapue ra cstavam as ruas scndo abcrtas c alguns mora dores
(26) Atas d a Camara de Sao Paulo - ano de 1900 (p:tg. 326).
(27) Atas da Cdmnra de Sao Paul o - ana de 1900 (pag. 24).
csparsos ja ali residiam em pequ cnas chacaras. algumas
delas antig as, com velhos morad orcs, pionciros daqu clas
paragen s.
Do lado da baixada da Rua Parafso. csra tcrmi nava na
Rua A penlnos com regular num ero de habltan tes. italia nos
imigrant es, qu e ali form avam 0 ba irro do Mor ro Vcrmelho.
Alem dessa rua, dcscend o. sO pirambciras e a scde de urn
antigo sitio, de nome csquisito, depois matas e co rregos
ate 0 qu e seria 0 Jardim da Aclimacao.
•
Hem 1916. 0 Largo Gu anabara. cspcrandc ainda calcamento, possul uma igrcja: Santa G cncr osa.
A Ccrvcjur ia G uanabara tinha side ampliada e trabaIhava com muit os empregados , quase todos nlcmiics, moradorcs na R ua Jose Antonio Coel ho , A chacura de Don a
" Marianne" t inha dcsuparecido e em sell lugar surgira a
Colegio A nglo-B rasllclro. Ncssc largo ja havia cntao muitos moradorcs c casas ccm erciais. Entrando na primcira
rua qu e pa rtia desse loca l, a Rua Tom as Ca rvalhal, e. depois de tcr a rravessado as ruas Cu bant o c Oscar Porto. csta
ladeada de cbdcaras de verduras. logo adiantc topava-sc
entao com 0 campo de futebo l do G uanaba ra. a agremia1;3.0 mais for te daqu ela zona.
Depots dessc campo lerminava a rua c pa ra alem so
capoci ras. Essa rva ja era muito habitada como tambem
a Rua Cubatao qu e, saindo da Avemd a Brigadeiro Luis
A ntonio ia tcrmlnar na Rua Jose Antonio Coel ho .
As rua s do Bugre, do Bispo e Bernardino de Cam pos
possuiam nessc tempo jli alguma s casas ricas, prcnu nciando que aq uelc scna urn bairrc residencial pa r excclencia.
A rua scguintc qu e partindo da Rua Para ISO ia uo campo
do Ibira pucra era a Abilio Scares. Nessa rua, na csquina
da C ubatao , localizava-se a Metal urgica " La Fon te' e na
csquina de baixo, Rua Oscar Porto, 0 Colcgio Anglo-Dule y,
logo a frente a Iabrica de slnos c mals alem a fubrica
de borracha "Fanubor ".
Dali paradian tc p. era cstrada com cscassos moador es c mates dos dois lades, ate cncontrar-sc com a Ru a
Jose Ant onio Coelho, 1<1 no fim. formando com csta uma
so para dcsembocar na Avcnida Brigadeiro Lu is Antonio,
contomando a Invernada do s Bombciros.
A Rua C ubatno, ja calcada em parte, dava safda na
baixada da Avcnida Pa ulista c r nuitas novas runs.
A pri ncipal do bairro, porem. era a Avenida Pa ulista .
J {i calcade, com bondcs cor rcndo par cla desde 190 1 ou
1902, possufa cntao m uitas casas de gentc rica, dcstlnandosc a scr a pr incipal avenida rcsidc ncia l da capital pau lista . J5. ncla tin ham side const rufdos 0 Grupe Escolar
Rod rigues Alves , 0 Hospital San ta Ca ta rina c 0 Institute
Pasteur. Em cpocas de carnaval ali se fazia 0 cors o de
ca rros alegoricos.
Ouanto ao lado de baixo da Rua Par aiso esrava a
R ua Apenlnos, qua se to talm cntc construfda . Mais aba ixo
as mcsmas pirambclras, matas e corrcgos de cinqtlcnta
anos atras, tet ras cssas que tin ha m sido na quclcs longlnquos tempos lavrada s pclo escravo preto, e 1<1 no fundo.
as ruas Nilo c Chul c a chacara do oftalmologista Pinhata ri, antiga sedc do sitio de nome csqulslto ondc surrava m
ate dcsca deirar os cscra vos negros a mando e a pagamento de ourros donos de sfrios das rcdondezas. Ma s abaixo
no vale , 0 Jard im da Aclimacno, antiga scdc da Soclcdadc
Hipiea Pauli sta.
Ncssc charna do ba irro do " Parafso", dcsdc 0 seu
comeco , vicram para ali numcrosos habhantcs sfrlos e Iibanescs, e com 0 tempo mals chcgaram, forma ndo ali hoje
urn regular nucleo de cidadaos dcssa nacionalidade, tendo
tamhem at ualmente construfdo a sua igrcja .
ATUA IS NO MES DE ANTIGAS RUAS
Damas aqui agora alguns dos antigos nam es pclos
qua is cra m con hecldos at e os a nos de 1900- 191 0 dlvcrsas
ruas do nosso bair ro.
o HAlIlHO DE " 1l.A
~ I A n I A!'\A
87
Rua Vergueiro: - (Antiga Estrada do Carro )
Nicola u de Campos Verguciro, po rtugues, bacharel,
fazendeiro. Reprcscntante de Sao Paulo nas Cortes
Portuguesas em 1822. Scnado r por M inas em 1822.
Ministro da F azcnda e da J ustica durante a Regencia, P rofessor da Escola de Dircit o de Sao Pa ulo de
1837 a 1842. Falecido em 18-9-1 859.
Rua Domingos de Morais: - ( A ntlga Estrada do Carro )
- Domingos Correia de Morais, nascido em T iete
- engcnhciro po r Jl HACA E . U . , da A merica do
No rte. T cve atividadcs na Companhia Cantarcira
de Esgotos - 1883. Prcsldcntc da Companhia de
Bondcs de S. Pau lo, vcrcador. scnado r c Vice- Presidente do Estado. Falccido em 15-2-1 9 17.
Estrada do V ergueiro:
1840 ) .
A v. Estela : -
(A ntiga Estrada do Mar
(A ntiga rua " B" ).
A v. Rodrigues A lves: - (Antiga Rua Jabaq uara, primeiro trccho - Rua do Curtu rnc, segundo trecho ) Francisco de Pa ula Rodrigues Alves, natural de Guaratlngucra bacharel, dcputado prov incial e presiderite do Bsta do 1887, 1888 e 1900-1 902 Presidente da Republica - 1902 - 1906 . Negoc iou 0
Tr atado de Pctr cp olis. Exterminou a febrc ama rela
no Rio de Ja neiro, faleceu em 16-) - 19 18.
Rua Joaquim Ti ivora: - (Antiga Rua Fon tes J unior )
Joao Tavera do Nasci mento Fe rnandes, general.
Fez parte da Coluna Prcstcs em 1924. Tomou parte na revolucao de 19 30, Ministro da Agricultura.
Nasccu no Ceara em 189 8.
Rua Franca Pinto : - (Antigo camlnho do Matadouro)
- Co ronel Franca Pinto.
Rua Carlos Petit: - (Antiga Rua Humberto I) - Carlos Eduardo de Pa ula Petit. Vcreador, tenente-co-
ss
o
B:UR HO D E VI LA \ IAHUi'oiA
roncl da G uarda Nacional, Primeiro Ad ministra do r
do Cemiterio de Vila Mariana.
Rua Dr. Nero de A rmijo: - (Antiga Rua do Progrcsso )
- Dr. Neto de Araujo - Advogado, Presidcntc do
Banco do Estado - 1892.
Av. Lins de Vasconcelos ; - (Antiga Rua Sao Pedro ) ( trecbo ) - Luis de Oliveira Vasconcelos - na scido
em Alagoas, bacharel. Presidcnte da Provincia do
Maranh ao - 1878· 1880 .
Rua Madre Cobrini: -
( An tiga R ua Dr. Pinto Fcrr az) .
Rua Dr. Pinto Ferraz : -
(An tiga R ua da Saudadc) .
R ua Major M aragtlano : -
R ua Ar/ur Alvim: -
(Antiga Rua da Boiada} .
( A nt iga Rua do Matadouro).
Rua A fonso Celso : - (Antiga R ua Sta. Cruz) - Afon so
Cclso de Assi s Figueiredo, nascido em 1860. Bacha rcf cscr itor e pacta. Falcc ido em 1938.
Rua San/a Cruz: Rua Tirso Martins: -
(Antiga Rua Bela Vista) .
(Antiga Rua da F lorcsta ) .
Rua Dr. Diogo de Faria : Rua Humberto I : Rua
Rio Grande: -
(Antiga Rua Central ).
(Antiga Rua G iuseppe Ga riba ldi ) .
R ua Repllhlica de Israel: -
R ua Tangara: _
(Antiga Rua do Gado) .
( Antiga Rua do T anqu e) .
(Antiga Rua do Cu rtume) .
A v. I obaquara : - (Antigo Ca minho do Ca rro e depois
Av . da Sande) .
Prar tl da Arvore. -
( An tigo Largo da \.8 SCCl;:1iO) .
Av. Brig. Luis A ntonio : - ( A ntigo caminho de Santo
Ama ro 1.0 trccho. Estrad a do Cagucu _ 2.0
trec ho) .
o BAmRO D E VIL A :\IAIUANA
89
A ~' .
R ep/iblica do Libono: ingto n Luis ) ,
a
( A r uiga A uto- Estrudn w ash-
""BOSOUE DA SA ODE""
Era ern 191 8-1920 0 passeio publico mu ito Irequ entado pelos pa ulista nos que poucos locais linham para passa r 0 dom ingo. Foi estabclccida pcla Light uma linha
de bo ndes dir cta q ue pa rt indo do largo da Se de hora ern
ho ra ia ate esse logradouro. Loc alizado e ntre as at uals
avenldas Bosqu e da Sa ude c Agua Fundat v") era form ado de grande cxtcnsao de rnata com caminhos em todas
as di rccocs dcnt ro dela . Velhas arvorcs com cipos penderide e parasites era 0 cnca nto do visitant c c tam bem
urna fcsta pa ra as cria ncas que sc bala ncavnm nos cipos
e trcpava m nas arvores menorcs. Nao havia guar das-Ilorestais como nos parques de hoje c isso contn buta para
da r a imp rcssiio aos visitan tcs de csta r dcnt ro de uma
mate virgcm.
Nas c1a reiras e ncontravam-se ra nchos tosccs feitos
com paus e cipcs, cobc rtos com fOlhas de coq uciro c nas
baixad as encon travam-sc pcquenos corregos de dgua
fresca .
Na pa rada do bonde , com balao de volta dent ro do
propri o bosque, ba r c cavalin hos de pau gira ndo dentro
de urn grand e galp ao completavam a alcgria des visitantes.
O rganizava m-sc gru po s de pcssoas e de familias para
la Iazercm piqucnlqucs c tambcm escolas leva vam scus
alunos para esse passeio. Dura nte uma dczcna de anos
csteve ab erto ao pub lico c depo is, rctalhado em lotes,
pa ra novas moradia s, s6 Iicou ali urn ba r c dancing notumo muito frcqiicnta do pa r alc mfic s. Ho]c cssa ar ea
csta tod a cd ificuda .
(28) 0 loc:a1 mu le l '<lj\~ se cncont ram 0 cm cma F.slrela e
o dq xis ito da ('.omp ,mllia Ant,lrt ica sltunva-se dent ru desse bosque.
!JO
o
B:\ IRRO DF. \'ILA
~U, R I." S ."
AS ESCO LAS ITALI A NAS CO BA IRR O EM 1900
o Esta do n50 mais conscguia acompa nha r cntnc as
ncccssidadc da ed ucacao , r nesmo etement a r, dos hab itan tcs da j{i gra nde cidadc de Sao Pa ulo em 1900. Necessa ria se tor nou aos imigran tcs aqui chcgados a te cssn
data provcrem cscola s pa ra scus filhos c, naturalmcntc.
recorrcndo aos profcssorcs de sua or igem que com etes
tambcm vic ra m ha bita r as novas tenus, forma ra m as suus
escolas.
Assim, em q uasc todo s os balr ros se cria ra m cscolas
estrangcir as que ensinam aos alunos a lingua de ongcm
de scus pais.
Em Vila Mariana fora m instala das duas, afo ra a ja
cxlstcntc do vitafranca.
Foram elas " Regina Mar ghcrita" c " Reg ina Elena" .
A pri mcira er a regida pelo Pro fessor Fran cisco Spera e
situada na Rua Major Maraglian o, csquina da Rua H umberto I. E ra auxiliado por sua csposa. a "maestr tna" .
C0ll1 0 era chamada.
A scgunda " Regina Elena" , tinha
por pro fessor a Sr. Dom ingos Torre, e situava-sc na R ua
Franca Pinto, num velho casa rao que foi dcmolido, tra nsfcr indo-sc cssa escola entao pa ra a mesma rua, pore m
agora na esquina da Rua Major Maragliano. scndo a Professo r Dom ingos Torre a uxiliudo no seu trabalho pa r uma
protcssc ra .
Frcq ucntci eu tambcm a cscola do Professor Spera
po r uns tempo s, em 19 19, a " Regina Marghcnta'' . Co m
uma classc de cerca de 40 alunos do 1.° ao 4 .° ana, lccionava 4 horas pa r dia. 0 rnetod o era 0 antigo. A prendia-sc soletra r letra po r Ietr a, que 0 professor mostr ava
na ca rtilha, usando pa ra isso sa bre 0 llvro urn pedaco
de papclao grosse com urn quadradinho em que so ap arecia uma letra ou uma silaba .
Aos alunos mais adlantados ma ndava cop iar trecho s
de s livrcs enqua nto e nsinava os mais atr asados a sclc trar.
S6 brc 0 movimcnto de imigrantcs italia nos cm nosso
Estado tra nscrcvemos aqui um a rtlgo do jornalista Fran -
() uamno OF. VILA
~ t A IU A X :\
cisco Petina ti, que da uma ideia clar a de com o con scguiram se instalar em noss a Ca pital, formand o em cada local
o seu gr upo ou 0 scu nuclco.
" Em 1886 Sao Pa ulo nao alcancava 100
Mas no reccn seamentc de
1901 alcancava alem de 300 mil. Em 15
a nos local iza ram- se em Sao Paul o 200 mil itallanos. Ha via nessa epoca qu atro jornais
diaries dcssa lingua. Faniu ta, Tribuna ttatiaua.
II Secolo, CAmilli; 6rgao socialis ta estc ult imo.
e um numcro avultado de pcnodicos scmanais.
entre etcs 0 Irrcvcr cntc Cora Dura, de Vila Mariana, bcrco do gra nde Voltolino. 0 muior carlcaruristn da epoca .
A mcdid n que nos bai rros cxlstcntcs
la m-sc csgota ndo a capacidadc dos alojamcntos, outros bairros floresciam em todos os
lados da cidade. 0 surto do "B exiga" e pdgina digna de pesquisas pelos ca racterfsticos
de Improvisacao e do incgavet scnso urban isrico de uma planjfl ca cao.
Nos distritos da parte baixa. nas tra vessas e nos heros do velho Bras e do Par i. pro speraram 0 cortico, recurso providcncial do
mil habit antes.
balance opc rdrlo.
Mas a to rren te huma na aum cnta va a
olhos vistos. transbo rdava . atingia zonas distame s, ja rasgados pclcs trilhos da Light, forma ndo nova s aglomera cocs nas altu ras de
Sa nta na. nas varzeas do Born Retire. nas colinas da Agua Branca c da La pa c tambcm em
Vila Ma riana, num ritrno inccssa ntc e tcbrll .
A vila sclsccnnsra des bandcir a ntcs, a mod csta
Camara do Pr imciro Im peio, 0 irrcquieto mu ni-
o
B:\IRI\O D E \'I Lo\ )I :\ 8I :\ :'<l:\
.3
ClplO do Segundo Reinado, ava nca va para as
posicecs de grande mctropol c.rt w)
AS PECTOS GERA IS E M 191 8
/9/8 - Nessc ano. a gripe cspanhola qu e em outros
bairros como 0 Bcxiga, 0 Bras. a Mecca, 0 Born Retire, fez
muitas vmm as, no nosso quase nao delxou rastr o preto.
A pouca densldad c da popul acao e a salubr ida de do loca l
talvez tenham comribufdo par a q u~ tivesscmos pOUCO$
cbitos.
As nossas ruas nao cram calcad as. islo C, era upc nas
a Domingos de Morais al e 0 Lar go da Estncfio . Dali para
urn pouco adlantc era upcdrcgulhadc urn pcqucno trccho
e dcpois, terra bat ida po r carrocas e an imals ate 0 Ja ba quara. Oa auriga C have do Matad ouro ate a Rua LUIs
Gois urn ou outro morador, inclusive uma vcndin ha na
csquina dn Run Padre Machado. 0 maior movimcnto
dcssa venda cram os passantes qu e ali cnrravam pa ra
pedir agua. 0 propnetario. urn ponuguss . ja enfadado
com isso, mandou colocar urn ca no co m saida para a
rua e quem quisessc bebe r era so ba ter no d ito can e qu e
ele 13. de dentro a bria a torn eira. fica ndo as-im os magros
tr egucses fora da venda e nao tendo elc 0 trahalho de
laver os copos_
Dali pa ra diant c, dcpois da venda do Luiz Perini.
sO um morador proximo a Praca da A rvore. Para Irent c.
na baixada da Rua G ravi. a bclra de um pcqucno cortege,
alguma s casas de lavadciras. No at ual Largo C arn eiro da
C unha uma s poucas casas. A segulr ale a venda do
Bonani, no J ubaq uara. 56 campo de mato rastcir o e
barba-dc-bodc.
Pcla Avcnida Jahaquara circulava 0 bond c que ia
do Largo da Se at e 0 Parq uc Jab aqu ara, fazendo ponte
(29) Arti ~o d.. Fm nd s<:o Pctinatt, pllh lil'll(I.I n.. :\ ,-a" ' la, t'lll
marco d~' ton .
9..
0 tUlRlIO DE \'11..\ \BRHX:\
final em frcnt c a vcnda do Bon ani. Os tr ilhcs cstavarn
asscmndos no mcio du avcnida . ncssc tempo ja largo c
ao lado havia 0 eaminho de car roca s. Matos e touccira s
de cap iru aeo mpa nhava m rode 0 tr ajcto at e 0 rim da linha
c nao era raro ra mos bate rcm no rosto des passagcircs.
Os bondcs que circulavam cram dols, urn qu e la e outre
que voltava em Iinha singcla, er uzando em fren tc da Igrcja
da Saude.
A espe ra dos passagelros para tomar estes bo ndcs
era de, rnais c u mcnos, uma hora , em siruacao normal.
lsso no cn tanto nao aborreeia os poueos rnoradores da quelcs tempos, elcs poueo usavam esse tra nsporte porque
diflcilmcntc iam it cidadc, c era normal viajarem ncsses
colctivos somentc oito ou dcz pcssoa s. Para os lade s do
Mat adouro a estra da saindo da "Chavc" era ta mbern de
ter ra at e 0 Largo do Matadouro.
Ncssc trccho cram cscassos os moradorcs, havendo
divcrsas chacarus de vcrduras c frut as e alguma s casas
antigas. 0 Largo do Matadouro, j a calcado ncssc tempo ,
contava com diversas casas de ncgocio. E ssa linha de
bondc era ma is provida , eireulando dois , urn em eada
sentido c a cspcra era de rnais ou menos meia hora.
Sara elc do Largo Sao Francisco percorrendo a Av . Hrigadciro Luis A nto nio, Av. Paulista, Ruas Parafso. Domingos de Morais, Av. Rod rigues Alves, Rua do Curtumc e
La rgo do Matadou ro, seguindo a Ircnte ate a "Chavc''
c dcpo,s volta ndo pclo mesmo caminho. Tambcm carregava este bo ndc geralment c urn reboquc, au "Care-dura",
pagando-sc nelc a metade do prcco do bonde comum e
pude nda viajar mcsmo dcscalco , que nos bond es comuns
nao era permitido. Ncsscs pagava-sc duzcntos reis c n50
cram accito s passageiros dcscalcos : tolerav a-se , pc rcm, a
de tamancos.
Para 0 bai rro do Cambuci, quem n50 quisessc dar
a volta pcla cldadc tcria que ir ape, nao ha vla mals 0
trenzinho e a Light nao cstcnde ra bo ndcs ncssc ram al.
Entrando-sc pela Rua Sao Pedro encontrava-sc logo
a venda da Fani O rio. dcpois de urn grupo de scis pequ e-
°
o IM.m HO D E VIL A ~ I A H l.\:'\A
!J5
nas casas lguais, a pada ria Brasil, a rnals antiga do bair ro,
j a pc rto da Rua Vcrguciro . Atravessand o cssa rua , urn
po ueo ruais adia nte, encontrav a-sc a R ua Dr. Neto de
Araujo, rnai s uma casa velha isolada c er uao a es trad a
q ue ia a o ccmlte rio.
Desse ponto ale a nccrc pole, numa distancia de rnais
au mono s urn q uil6metro, ncnhuma casa mais hav ia alent
da casa do co veiro que fica va qu ase em frente do ce miter lo.
Esse tr ccho era 0 an tigo caminho da estrada de ferro
que ia ao Cambuci. Dali para diuntc, segulndo a ent no
Lim de Vasconcelos pa r mais dai s quilcrnct ros, chegavasc ao largo principal J esse ba irro. Esse caminho era
mu ito usado pelos rnoradores da Vila em Finados, quando
iam visitar os seus monos. Essa estra da era 0 espigj o
divisor do nosso bairro com 0 Ipiranga, de onde dcscla,
do lado dircito 0 caminho para 0 Ribclrao do Ipiranga e
do lado esq uerdo para as vcrtcn tes do C6rr cgo da Acli macae, no antigo sftio que tl nh a sc u com eco I<i pclos lad e s
do Mo rro V crmclh o.
Justifica-sc 0 fat o de nfio haver mo rador es naquelc
Irecho da cstrada porque, hav cn do gra ndes areas va zias,
os habitantcs preferia m mora r em lugarcs ondc nao vissc
dia riam cnt e defuntos pa ssa ndo pela po rta de sua cas a. Os
cnterros enteo cram feitos a pe, geralmcnte com muitos
acompan hantes. No cemireno de Vila Mariana cram entcrrados tambem moradorcs do Cam buci e Ipiranga e os
cam inhos vindos daquel cs lados cram dcsertos e scm ma rad ores tambem .
A estrada era d e ter ra vcrm clha c par a aqnele local,
mcsmo em Finados, nao havia co nduca o colctiva a nao
ser uma ou out ra ca rroca emprc gad a no service de \cnha
c nj olos q ue Iazia ncssc dia 0 transport c de pcssoas conhccid as ou de scus proprietaries. As vezcs viam-se ncssa
estrad a anima is, burros e vacas, pcrt cncent es ao sitio do
Chi co Possldonlo qu e possufa lcltena e tambcm olaria
pclos lade s da Chacara da Gloria, sendo sua casa locali96
o
BAIIIHO D E VILA MAIU ANA
zada bern proximo onde hojc esta cng ida a Igreja de Santa
Margarida Maria. Em tempo seco era Iacil a ida ao ccmiterio, porem, nas aguas. era dificilima.
Em d ias de Finados, naquclcs tempos em que todos
achavam que era obrigacao visitar lO cUS mono s, 0 povo
do Cambuci, l piranga c Vila Mariana lotava completemente aqucla estrada e 0 cemirerlo. Novembro, porem,
e 0 mes das chuva s: era quase ccrto nesse dia fazer mau
tempo e entao aquelc s camln hos cscorregadios e com
grandee charcos scm urn luger para abrigar-sc cram uma
calamidade.
*
o largo da estacao tinha mclhorado multo ncsscs
vinic anos, naquela epoca em que as mudancas de aspccto de urn lugar nao cram rapidas como agora. era seguindo
o ritmo regular e demorado, de acordo com 0 aumcnro
da populacao, q ue se fazia paulatlnamente, quando os
habitnntes n50 mudavam de urn lugar para outre ra pldamente e tambcm com 0 pouco dinhciro circulantc naqucla
epoca . com a Primeira Grande Guerra de pcrmeio que
nao deixara de ter reflcxo em nosso Eslado. Asslm mesmo, por em, houve alguma tran storma cao, podia- se ja ver
novos negocios funciona ndo e maior movimcnto de babitantes. A esracao des bondes construida em 1912, com
scus carros e cmprcgados, tanto nas oticinas como nos
transpc rtcs aumcntavam 0 movimcnto local. 0 parqu c
de Vila Mariana, agora mc1horado e aumcnta do. 0 dcposlto de bebidas do Amcrico v azonl. mais dois armazens,
o quiosque de meu avo. que nao cstava mais no meio do
largo; agor a fOra tran sformado em bar em Ircntc a estat;;ao na Rua Domingos de Morais, salao de barbciro, outros
dais bares, ja davam urn melhor aspccto ac luger.
Seguindo em direcfio a cidade na Rua Domingos de
Morais, a Dclegacia de Pollcia, no vclho sobradao do
Pnngilupi, tambem servia de alojam ento as Iamflias do
interior vindas a Capital para fazcr tratam cruo no Instituto Pasteur.
o
B:\IIH10 DE Y IL....
~B R I:\~ ....
Adiantc, Joja de faze ndas c a rmarinho, mais dois
bares, e a fa rmacia. Dcpois a Joja de sapa tos do Zanett i,
a fabrica de colcboes, a Iabrica de fosforos, 0 cinema do
Vicente Avella, qu e passa va fitmes mudos de Tom Mix e
Ca rlitos, a restaura nte do Ru gc Artcod oro e ta m bern 0
Campo do Sao Bento F . C .
DaB pa ra di ante outro t recho com casas boas e dcpois
o la rgo que ainda nao estava ajardinado c 0 l nstituto
Ana Rosa.
Nesse largo comecava a Avenida Rod rigues Alves na
qual entravam os bon dcs para 0 Matad ouro e Santo Am aro. 0 bondc do Matadou ro era a comum como 0 usad o
nas outras linhas, por em, 0 da Linha de Santo A maro
era di fcrente. Muito maior do que os outros. fechado
como urn vagao de estra da de ferro e uma por ta de ferro
de ent rada e outra de salda, era pintad o de a mare lo e
gcralmcnte tra zia urn reboqu c quase do seu taman ho.
No comeco a po vo chamava-o de "Galola de T at u'',
pa r scr todo elc fechado, so com ja nclas perto das asscntos c dcpois 0 denomi naram de " Perigo Am a rclo", devido
a gra nde velo cldade que desenvolvia qu ando estava na sua
linha , logo depols do Instituto Biol6gico.
T rafega va ele ate Santo A maro fazendo poucas paradas c uma media de 80 quilometro s por hora.
Tinha ta mbem esse bondc um modo pecul iar de ass inalar a sua aproximacao. Era urn apito grosso e soturno, parecendo trom pa de bo iadei ro.
*
o aba stecimento de agua no bairro comccou por vol-
ta de 1915- 19 17. vinda da Ca nta rcira ou de Co tta para a
calxa de agua da Rua Vcrguciro, ncssc tempo ja construida.
As redcs cram distribu idas pelas ruas mais habitadas.
A cob ranca da taxa de agua era a domicilio, pagand o
de acc rdo com 0 tamanho do predio e sendo essa cobranca feita mcnsalmcnt e pa r funcion a nos da Repa t ricfio de
o DAIHRO DE n L A ~l:\RIA NA
99
Aguas, que tinham uma porccn-agcm pclas cobrancas feitas. Na nossa zona havia tambem um manancial na Agua
Funda que fornecia ha tempos agua para a Varzea do
Gliceno e irncdiacocs do Mercado Municipal da Ruu 25 de
Marco. Construfdo mals ou menos no ano de 189 8 pela
Companhia Cantareira com a intcncao de rctorcar 0 abastecimento de agua da cidade, ap rovcitando as vcrtcntcs
do C6rrego do Ipiranga nas suas cabccciras, pareee que
niio deu resutrado, porque ali so foi feito um tanqu e relativamcntc pequeno e dele sara uma rede de 8 polcgadas.
assentada na margem do C6rrego do Ipiranga e acornpanhando a scu cuso ate a Rua 25 de Marco. tendo no
tanque como em scu trajcto bombas para 0 recalque.
*
As industries aqui estabelccidas nos anos de 19 181920 eram poueas, alern da Fabr tca de F6sforos, [a em
fase de exnncso, a Fabrica de Chocolate e a Ccrveja ria.
Exlstlam dois curtumes ali perto do Matadouro c tamhem
a Itibrica de banha da Rua do Curturne, no fim da Rua
Pelotas. A fabrica de salames do Bichoft. no fim tin Rua
Pinto Ferraz. A fabrica de pasta para calcados "Duas
Ancoras'', na Rua Franca Pinto. A Iabrica de Pianos Brasil, na Avcnida Estela. A Iabrica de sabao na Rua Franca
Pinto.
Algumas oficinas r nccanicas e carpintarias. Os
nucleos rcsidenciais localizavam-se geralmente perto das
ruas principals ondc trafcgavam as bondcs, unlco meio
de locomocao e transporte, pois materiais pcsados para
construcao como arcia, pedregulho, tclhas e tijolos, assim
como cal que vinha do interior , e cimento em barricas
que proeedia do esrrangciro, eram transportados por carre s de ca rga da Light que os descarregava junto aos scus
trilhos. Dali para d iante, ate 0 local das cc nstrucoes. era
transportado por carrocas com dais ou Ires animais. Esses
vcfculos pouca carga pcgavam. por nao sercm carros rcforcados c tam bern as animais n50 suportavam grandcs
1011
() IIAlHnO D E VIL A :\IAIUA:"iA
disrancla s pelas ruas sempre em mas condlcocs de conscrvacao pa r scrcm poueo usadas. Asslm depois de dois
a u tres,quilometros das linhas do bairro poueo sc cc nstr ufa
c mesmo q ue 0 Iosscm cra m construcoes pequ enas, ernpregan do poueo ma terial, nca ndo desse modo os lotes de
ter rene mais afastado s tra nsformad os em chdcaras ou
mcsmo dclxados na ca pocira au no mato.
Nas proximid adcs das llnba s de bond c ja era gra nde
o numero de casas, havendo algumas de born aspecro e
comodas.
J:. nessc a no que fica pronta tam bcm a mansao
da fa milia Kla bin, na Ru a Afonso Celso. Para aq uele
tempo creio que era a rnais mod crna resid encia do ba irro.
Con str ufda em uma glcba da s rnuitas tet ras da quela fami Iia, era ccrcada por urn gra nde jard im, ocu pando a consrr ucao assobradada uma gra nde a rea . La pelos fundos
possufa ainda c hrica ra e pomar rodcados de e ucaliptos c
cip rcstes e faehada com mou rocs c cerca de a ramc far pado
com vilas bern lar gos, cir cun dada por terras c matas dos
rncsmos prop rietar ies. Pelos anos de 1924 a te 1928 essa
chaca ra ja produzia multa Ir uta, lara njas. r nui'os abaca xis
e uvas, que cram a Festa da crla ncada da rcdondeza daqueles tempo s.
la m elcs ali furta r cssas frutas quasc diariam cn'c c
ra rarne ntc cram apa nhados pclos cmpregadcs de s Klabin;
quando isso acontccla. os homens faziam mui to cscfindale c davam consclhos e os mol equcs safam lampciros.
sem ao meno s Ieva rcm urn puxao de orc lhas.
Logicam entc, alguns dias dcpois voltavam a s meninos ( incl usive eu ) , mais conlia ntcs, a mcsma pratica.
Esses cmprcgados cra m estrangclros. pouco falavam
a nossa lfngua, po rem cra m pessoa s boas e hum ana s.
A gora, dcpc is de 50 anos, est a sonde cssa munsfio demolida c no local sao construfdos prcdios de a par tamc ntos.
a
*
No que sc rcferc
parte religiose esta va 0 bairro
com duas paroquias. Igrejas de outra rcligiao nao havia.
o
BAIIUlO DE YI LA ~IAIUA :oi'A
10 1
A paroquia de Nossa Scnhora da Saud e, auriga capelin ha agora tra nsfo rmada em lgrc]a, oeupava uma boa
area de terrene , fazendo di vlsa com a Rua Santa C ruz;
iam os seus fundos ate a Rua Afo nso Celso. J unto it igre]a
as acomodac ocs do paroco enos fundo s chacara com vcrduras, havendo tambern urn pa tio onde cram realizada s
as festas e qucrmcsscs.
A outra era a paroqula de Santa Generosa . T erminada
em 19 15, ficava no fundc do Largo Guanabara, da ndo a
sua parte posterior para a Rua Bernardino de Campos,
tambe m com moradia par a 0 paroco c rodcada de jardim.
Essa igreja foi no ano passado dcmollda pcla Prefeitura paea dar passagem , em plano inferior, a Aven ida
23 de Maio, avenida cssa que sc dinge ao Ibirapucra e
ao Aeroporto c tam be rn a outra s avenidas que liga m Vila
Ma riana e Av . Pau lista, fieando esse anti go la rgo urn sislema de anel rodoviarlo.
A outra casa religiose cxistcntc cntao nao era pa roquia e sim 0 convento da Or dcm da Visitacao de Santa
Maria, co nstruida na Ru a Dona lnacia Vchoa, em 191 6,
sob a dirccao da Madre Maria de Sales Dinis. Sup eriora
da Ordcm, falcd da em 18 de outubro de 1943. Esse eonvento C 0 cla ustro da s Irmas da Vlsl tacao de Santa Ma ria
e que csta subordinada it Paroqula de Santa Margari da
Maria de Alaeoque .
OS NOSSOS T IPO S P1TO RESCOS
o bairro tarnbern possufa na e poca os seus tipo s
pitorescos e peculiares como todas as Vilas de Sao Paulo.
Aqui vai a dcscrlcao de alguns deles. dos quais ainda recordo e que ficara m gravados na minha memoria.
o "Bcrsagliere" - Vend cdor de amc ndoim , moradcr
no Ipiranga, po rern fazia 0 seu comercio em nosso bai rro.
Napolitano, de port e alto e magro, cscuro como as
homcns de sua raca, era emp regado bra cal da Light c aos
1 ~2
o RAm n o OE VILA :\IAIHANA
domln gos vcndia a sua mcrcadora. carr cgando dos cestos,
um em cada bra co, pcrcorrcndo quase todo 0 bai rro . Dizia
elc, na sua lingua original, dif fcil de ent cnd cr c misturando palav ras cm pot ugues. que na mocidade tin ha fcito
lti na Ita lia cam panhas com Gari baldi contra os austria cos. Aos do mingos c feriados era infalivel a sua presence
no ba irro com a pon tualldadc de urn relogio; passava e xatame ntc ao mcio- dia na rua onde eu morava. De la nge
ouvia -se a scu prcgao cstr ide nte c comprido:
- " M endoim Tu rradu'' ...
Dcsaparcccu esse vcndcdor de amcndoi m do ba irro
por volta do ana de 1930.
o "Periquito : - Filho do bair ro, era 0 operador
do cinema A polo, do Vicente Ave lla. De cstatura pcq uena,
era urn tipo quc nd o c conbccido de todos, grandes e pequenos, especialmentc as ultimos aos qua is scmpre ajeitava a entrada ao cspctaculo, mcsmo qu ando nao tinha m
os quinhcntos reis pa ra pagar.
Scmpre mo rou no bairro, e de familia muito conhec ida
c cstimada e e provavelmcntc mais vclho do que cu. Dele
conrou-me a T avares fato muito cngrac ado: tendo havido
ha muitos anos uma competicao de atlctismo, "A corrida da
Volta de Vila Mariana", a " Pcriquito" nela torno u parte.
Ncsse tempo havla ainda 0 Matadc uro e as manguelras on de cram guardado s os bois, scndo comum urn au
outre J esses animais fugircm e tica rem ali pelas redondczas.
o nossc arlet a, cnvergando camisa vermelha, sai na
corr ida junto aos outros, porc m nao lcva ndo mu ita vantagcm. Ao passa r, porem, pcrtc das rnangueir as, urn hoi
cxtra viado, vcndo-o, pos-se a persegui-Io, e cnta o 0 nosso
" her6i a f6n; a" vcncc a la i cc rrida.
At uatmcnte creio q ue ainda tra balha num des cinemas do bai rro. scndo ae talvcz 0 mais velbo operad or de
maquinas cincmatograflcas de Sao Pau lo.
o
"Pastelciro" - Mulato gordo e forte, vendia pasteis no bairro ja ha mulros anos. A sua mercadoria agradav a pa r ser bcm Icita e cascira .
o IHIHBO In: VILA M A R I A ~ A
10:1
T odos com pravam dele. na rua, nas rcsld encias, e
casas comerciais. Morave no " Ma kale", local esse situado
no fim da Ru a Jorge T ibiri«a e assim denominado po r se r
habitado quasc cxclusivamente po r genre de cor.
Dcpois dessc ano tam bem nao foi mais visro. Dizia se que mud ar a pa ra 0 Interior do Estado.
o "Pipeto" - Era outre tipc plto resco do bai rrc
entre os anos de 19 15- 19 30.
Era italia no do nort e c bcbia como urn gamba . Sempre com 0 cacblmbo no ca nto da boca, era 0 homcm "Iaz
tude". Cava va pecos de ugua ou fossas-ncgras, Iazia capinacocs, plamacocs de vcrd uras ou de jar dim, limpcza
de quintals ou casas. Numa ma nha dessc ano de 1930 fol
cnco ntrado mort o em scu barraco , vitima de indlsgcstao.
o "M ineiro" - Cabo clo abugrado, moru va hi pclos
lados da Agua Funda. Era cacador profission al, trazia 13
de sua zona passuros c pcqu cnos pcqucnos animals sitvestres q ue apanhava nos seus tacos pa ra vende r no Largo
da Estacao, nos anos de 19 10 a 19 18. Era am igo de todos
os cacadorcs da Vila enos, mol cqu cs, viviam os ao redor
de suas gaiolas e viveiros on dc exp unha os a nimal s it vcnda .
Era elc 0 "cachorreiro" dos caca dores. isto e. tomava
conta c treinava a s cac horros que cram deixados em sua
casa par a amcstra-los nas cacadas.
Morr eu no a na de 191 8. picado por cob ra vencnosa nas mates de Sao Bernar do, segundo diz iam os moradores da Vila.
NOTAS DE 1924
A na da Rcvolucdc cnca becada pclo General Isidore
Dias Lopes. Capitao Luis Ca rlos Prestos e Tc ncnte Cabanas .
Nosso ba irro pou eo sofrcu com cia , hou vc alguns tirorelos espa rsos hi pclos lades da Acllmu cno. Lins de Vasconcelos c tumbcm Avenida Pa ulista. Tivcm os urn morto
ent re os habir antcs.
'04
o
B:\I RRO D E \"IL-\
~1 :\R I.-\.\' _-\
o gcrcnrc do rccem-Inaugurado cinema Penix, moradar na Rua Fon tes J unior, ao sair a porta de sua casa
uma mann a e a ting ido pa r uma bela pcrdlda dispar ad a
pclas armas dos soldados da poHcia mineira qu e er uao
tinha ocupado 0 bairro na retirada das trop as rcvoltosas
para Mato Grosso. Bern pouc os mora dore s sc co nscrvav am
em suas casas naquelc fim de rcvol ucao .
T odos elcs. tcmcndo as trope.. de ocupacao, especialmente famil ias onde havia mulbcrcs. tinha sc rctirado para
lugarcs ondc os solda dos nao iriam, assl m como San to
Am aro , Pinheiros. Emhu c outros. lugares esscs que nao
rc prcscntavam ob jetivo militar. Afora fios clctricos par tides cspalhados pclas calcada s c alguma s pilhagcns Icitas
pa r esse soldados outras conscquencias maiores nao hou ve.
•
I:: dcpois dcssa data que comcc am a apa reccr os tran spones coletivos pclo faro de os bond cs nao terem comece de a tr afegar logo dcpois de findo 0 movlmcnt o revolu cionario. Naturalm ente as insratacoes de Light tinham side
a tlngidas par estc movimcnto c estava m em reparos. 0
primeiro colctlvo qu e con hccl foi lim automovcl grande
ma rca Hudson, adaptado com alguns buncos de madeira
no seu int erior e que fazia a transpor tc de passagclros,
uns 8 ou 10, e ia da Praca da Arvore a'e 0 La rgo da Se.
Ta mbem camin hoes de transportc com ccam a apa rcccr
mais au rncnos ncssa cpoca.
Logo a scguir ou trcs colctlvos vieram, mcsmo depoi s
de normalizad os os tran sportes eletric os e seguida mcntc,
cada vez n:ais mclhoraJos c com maio r cap acidade de
tra nspcrte de pa ssagciro s, comecam a scrvir a populacao.
Era a transformacflo do transpo rtc q ue sc iniciava.
Comecada para atcndc r a uma sltuacao ano rmal, lornavase agora natural e necessaria ao dcsenvolviment o e ao progresso que iria dilatar a area habitada abr indo novos sitios
para os moradorcs de S.io Pa ulo, que podiam agora fazer
o
HA IR I{O D E \'I l.A
~ IA IHAX :\
105
suas moradas rresmo longc dos tr ilhos des bo ndcs contendo com os recursos dos ROVOS transpor tcs.
A Rossa Vila jii contava ncssa epoca com muitas ruas
calcadas de par alelepiped os. Uma casu de espctaculos. a
Teatro Peni x, na Rua Domingos de Morais. esquin a da
Rua Fontes Junior. onde a Fabrica de Fosforos ja demolida dcra lugar a esse cinema e a d ivcrsas casas co-
merciais.
Pclos lados da Avcnida Paullsta tambe m sc constru ira
predios co m divcrsos andares , prenunciando ja cntac 0
que seria esse trccho do distrito em future proximo.
La pclo Jubaq uara ab riam-sc lorcamcntos em dirccao
a Indiancpolls e ourras zonas vizinhas. 0 que utrasa cssa
pa rte do bai rro sfio os "grilciros", urn deles cst rangcirc
muito conhccido. cujo nome aqu i nfio n-cncionumos para
que ele rique csqu ccido de vez, tendo fcito grande fortuna
para seus hcrdcir os. qu e atualmente sao pouco relcmbrados e que nada flzcrarn pclo bairro.
•
A Vila Clcmcntino tambcm er...-scc bastamc durante
esse tempo. A parte proxima ao Matadouro e suas redon dezas estao bastante ampliadas. Ja nao sc Iala mals ali dos
crimes qu e antigamcntc ocorriam naq uela zona . As areas
que Iicaram ainda em campos sao tomadas por rebanhos
de cameiros e as balxadas Irescas tr ansformadas em chacaras de verdure.
A Rua Franca Pinto, principal ar teria qu e sc dirigia
aquele local cstava toda calcada c grandcs carrococs fcchades , puxad os por quatro cavalos de grande por te, agor a
transportavam a carne-ve rde dcstinadu aos acougucs da
cidad c. 0 antigo Tcndal do Largo Sao Paulo ja nao exlstia, scndo agora no proprio Matadou ro d istnbuidn cssa
mercadoria aos rnarcha mcs. Nessa rua os terrenos ainda
nao construidos cram gcratmentc ocupados por chacaras
de Ilores. Ouase no rim dcla. junto a nova Rua Aurea,
Iicava 0 campo de futebol do bairro .
106
o
B:\IRRO DE \'I L....
~ I.-\ R I .....
x....
Era 0 campo do Humbcrto I, clubc esse que congrega va quase tod os os ha bitante s daquclas redondczas c
tambem 0 da Vila. 0 Clube Sao Bento, na Rua Fontes
J unior, jun to a Domingos de Morais, tinha hri muito desaparecido .
Esse Humbcn o I, nascido na Rua Franca Pinto, e 0
atual Clu be Vila Mariana. com predio prop rio, atualmente
sediado na Rua Domingos de Morais; e a mais importan te
agremiacao do bairro .
o
I'O SSO FARMAC£UTICO
o nome de urn ho mcm bcncmerito do bair ro c qu e
n50 pode ser csquccido e 0 do que foi 0 nosso Iarmace utico, 0 "Chlquinh o". Francisco Tavares de Oliveira Filho,
natura l de l taqucra. ondc nasceu em 1875, form ando-se
pela Escola de Fa rmucia, Odont ologia c O bstetnca du Rua
Tres Rios, em 191 8. Trabalhou dcpois de sua form atu ra
no Interior, vindo pa ra Vila Mari ana em 192 0 .
Como cmpregado ria Iarmacia do Or. G ama , qu e 0
cntao medico do bairro possuia na Rua Franca Pinto,
tornou-sc co nhceido e algum tempo dcpois, it custa de sacriffcios e com euxffio de alguns amigos, conscguc torn ar5C prop rictano da mcsma. transfcrindo-a cmeo pa ra a Rua
Domingos de Morais, perto da cstacao dos bondes da Light.
Era esse Iarmaceutico 0 "med ico" dos pobres do
ba irro ; alias muitos acredi tavam qu e ele fOsse formado em
Medicina. Com grande pnitica, competencia c dcdic acao
receitava e cuidava de doentes mesmo graves, at cndcndoos a qualquer hor a da noite c em qualquer dia.
A sua cspcclalidadc era 0 trat a mento de criancas. De
longe, de outros bairros, como do Cambuci, Ipiranga, l birapucra, Vila Clcmentino, Bosque de Saudc e outros vinham doentes para scrcm mcdicados, cmpcnhando- sc elc
a curar esscs pacic ntcs. alguns mesrno pobres. sabcndo que
nada the podcriarn pager. A qualquer hora do din pod ia-sc
vcr em sua (ar mad a mulheres com criancas no colo espeo
8 :\lRRO DE \ ·IL -\. M.UH.\S..\
107
rando a sua vez pa ra sercm atendida s, na ccrtcza de salrcm
dal i com scus filhos bern rncdicados.
Durante qua rcnta anos esse abn egado cida dao tra baIhou pclo povo do bairro qu e, rcconhecldo. scmpre 0 lembrarti. Agora cssa Iarmricia, no me-mo local, sob a dtrccao
de seus filhos, continua a prcstar services a Vila Marian a.
Falcccu esse nosso vclho farmaceutltco a 23 de julho de
196 1.
NOTAS DE 1930-1940
Com eca out ra era para Vila Mariana. Poueas areas
vazins e algumas runs surgindo com a ab crtura de lotcamento em terrenos grandes, os ultimo s cxistentcs na part e
central, sao pron tamente construfdos. ficando depots disso a
parte velha do bairro praticamcnte estagnada. Multos meios
de transpo rtc c loccmocao para fora ds ssc centro levam a
po pulacao para onde os lcte s de terra sao mais ba rato s,
com facilidades de aquisicao e com arr uamentos modcmos.
Os dcscendcn tcs dos vclhos mora dore s da Vila comeearn entao a formar nc vos bai rros, satelircs do an tigo.
Surge 0 Bosqu e da Saudc. A Light cstend c as suas
Iinhas ate alcm. para as terras de urn novo ba irro, 0 Jardim
da Saudc. B rasgada a Av. Bosque da Saud e que atravessa
a antigo "Bosque" c vai ate a Estrada do Cursino . E formada a Vila Mo rais. Pclos lados da s ruas Machado de
Assis, no fim dcla. na baixada da Aclimacno. tambc m silo
feitos loteamento s, c na antiga C hacara da Gloria surge 0
novo bairro Jardim da Gloria . 0 antigo T anq uc Santa na
au Pe de Hoi e agora Vila G umercindo. Pelos lados do
Jabaq uara j:i entram as onibus na antiga cstrada para Sao
Bern ardo c revive a vclha Vila Concctc ao . Eldorado e
Agua Funda. Sao esses lugares mais afnstados, porem, estao no alcance da balsa do opera rio e aquelcs lados comcca m a ter afluxo de mo rado rcs. Pclos lados das antigas
ola rias do Bonani, local ondc se tizcra m as primeiras eor rida s de automovel em Sao Paulo, sao abertas ruas e se
constrocm tarnbcm.
I O~
o
BAIIHlO DE VILA
' I A IU .~:'oi A
No antigo campo de Co ngonha s sao iniciados trabalhos. ja bern ad iantados do futuro aeroporto de Sao Paulo.
Na varzea de Santo Amaro. nos ca mpo s do Ibira pu cra.
se formava 0 bairro com esse nome , scndo ali construfdo
o Institute Biol6gico c a Casa de Recalque das aguas da
Repr esa Guarapiranga. que abas tece gran de parte da cidadc
de Sao Pa ulo. Tambem 0 Bstado da inicio ncsses ca mpo s
as obras destin adas a forma r 0 Parq uc des Paulistanos.
Para as lados do Paralso e A v. Pauflsta avulta 0 numero
de grandcs predios cm dtrccao a cidade, parcccndo q uercr
se junta r a csta.
•
JU tcrmlnara a sistema de ilumlnaciio publica a gas;
I;im padas elet ncas pcndcnrcs de brace s flxados nus postcs
substituiam os antigo s lampio es.
Ouase tod as as runs agora sao provid es de rede de
agua e algumas dclas j a tcm tam bern redc de csgotos.
Vao ass tm scndo Iransformados os as pectos gerais de
toda a regiao . Co m muita dificuldade sc conscgue acompan har seu ritmo dcscrcvendo essas modiflcacocs. Succdem-se melhoramentos e novas gra ndcs constr uccc s. Os
individuos perdem-sc no ccnario e no turbilhac dcssas novas transformacoes materia is. rapidas e indifcrentes.
Vila Marian a, a pcqucna Vila dos imigra ntcs italla nos.
co m cercas de espinheiros plantadas pclo cscravo indio e
valos divisorios de terr as cavados pelo escravo pret o j a nao
C 0 bairro da s modcstas casas de 1900 ; e agora tran sferrnada em zona de hospitais, indu strias c la boratories de
prod utos Iarmaceutlcos qu e em gra nde qua ntidadc cstiio
se insta land o nele. As cdlficacoc s se sucedcm. Nao cxlstcm
rnais claros. ~ 0 ba irro qu e sc junta It cidadc e que breve
sera dilu ldo na grande metr 6pole.
CO NC LUSAO
Dividind o com a Liberdad c e Bela Vista ao Norte,
Ind ian6polis e Bosque da Saudc ao Sui. Ipiranga c Aclima -
o
B:\IRRO DE Y1LA
~HHH:'\ :\
109
Vista d a zona da Adima<;iio (' ~ I ad) ad() de Assis.
Vist,1 da parte eentrul.
o
~ ktn)
vm COllSt llld i, u
*•.
I
J
I
I
I
•
I
I
I
• •
•
• "
I
I
I
\ ' b la da zona do Ih impul'ra.
J
r;ao a Est c, e Jardim Paullsta a O este, a nosso bai rro tcm
seus limites nos segutntes pon tos :
Panindo da esquina da Rua Verguciro , subindo a
Ru n Parafso, scguindo a Av. Pau lista at e a Av. Hrigadeiro Luis An tonio, por esta dcsccndo at e a Rua Repu blica do Lfbano, dela entrando na ar uiga do Fra nca Pinto
e scgutndo par esta, dcpois de at ravessar a antiga linhn
do bond e de Santo Ama ro c Av. Rubem Berta, scguindo
cntao pela Rua Sena Mad ureira e por cssa ate a Rua Domingos de Morais, seguindo pcla mcsma em direcao a cidad e ate a Rua Santa Cr uz, cntrando ncla c atravcssando
a Estrada do Vcrguei ro, da li dcscendo para 0 Jardim da
G loria c scguindo em llnh a reta em dirccao
Igreja de
Santa Margarida Ma ria. dali seguindo depots as muros do
ccmiterio de Vila Ma riana ate as divisas do Ja rdim da
Aclim acao , conromando essas divisas ate 0 co rrc go que
descc do Parafso e subindo par elc at e a Ru a Chui c depols subindo a Rua Paraiso ate a esqul na da Rua Vcrguciro, ponto de pa rtida dcssas divisas.
Toda cssa area, dcntro da s divlsas citadas pcrtencem
ao nosso ba irro qu e, dlga- sc, e bern grande.
Cita r agora aqui, dcssa data em dia ntc, as cscola s. as
igrcjas, a s estabe lccim ento s co mcrcials e de credit o, as repanlcocs do Estado, as Industrlas, as casas de sa udc, as
hospitals, os gra ndcs prcdios, as mod cmas avcnidas qu e
estao scndo construfda s, os cam inho s para 0 met ro
que estao scndo feitos no nosso ba irro , os predios antigos
que foram e a s qu e cstao scndo demolidos, tudo isso nao
cabc riam nesse trab alho.
Seri a nccessario fazer outro, talvez malor, para COO1portar esse mate rial. A parte nova do bai rrc , au melhor,
a sua historic dcsta data em diante, c fticil de reconstituirsc a quatqucr tempo, csta anotada e registrada em estatfsticas, bibliotecas e repa rticoes do Estado.
A nossa intcncao, fazendo esse peq uenc trabalho. foi
trazer a lume a historia annga de Vila Mariana, a qu e
era poueo conhccida , a qu e csta va dcsapa rcccndo de todo
com 0 passar de s anos.
a
112
o BAm RO DE Vt LA
~ I A IUA1'JA
DADOS DE ANT ICOS
~ IOHADOHES
AOS Q UAIS
DEVE~IOS
A HEALIZAQAO D£STE THABALHO
Do na Lucia Mnsurolo : - Nas cida na Itali a. Veio ao Brasil de
1886 , com 14 an os de idad e, e e moradora no bairro desde
essa cpoca. T e m atua lmc nte 88 anos, e resid e it Hua Borges
Lagoa .
Pedro Nose . - Nasci do nu It alia. Veio ao Bras il com 10 anos de
idad e e e mor ad or no bairr o desd e 1886. Con ta agora com 84
anos de ida de . Filh o de Luis Nose e de dona [ osefina Nose,
pr imeira part eira no Bairr o,
joao Mazini: - Nascid o na It ali a. Veio ao Brasil com 11 anos de
idade e reside no bairro desde 1888. Esta ago ra com 93 an os.
Er a maquinista da antiga F erro Carril e atualm ente resid e a
Rua Maj or Maragliano.
NiIton Petit: - Nascid o no bairro . Filh o de Carlos Eduardo de
Paul a Petit e de dona Maria Biten court de Paula Petit. Conta
86 anos de idade e c morador a Ru a Carlo s Petit.
Nuncio Nastari: - Brasileiro , nas cido no bair ro. Cont a 68 anos
de idadc e resid e a Hua I-Iumberto 1.
Emilio Bonani: - Nasc ido no bairro , filh o de F ra ncisco Bonani,
o prim eiro mo rador estr ange iro no Jab aqu ara. Es ta com 75
an os de idad c, e resid e a Av. Jab aqu ara .
o
BAIRRO DE VILA MARIANA
113
~ I a ria
Torn' : - Italian.., . ViI'IV:1 {lll profesmr Du mi ll).!;,)s Torre,
74 :m"" de idndc {' resid,' lin I", iuo (1" 'i(I" " uno d e
190Cl, Domicilia da atllalnw nt,' a Hila ~ hljor ~ l am ~li,mo.
{~mt ;1
Sl"nhor e Sra-. Villan i, - Hl"~idl'lll t"1II nosso 1>;l irr u dcs dc mil;) {'
dOlnidli ados utualnn-nn- ;! Iran 'ss;! Frunen Pint o.
Dr, Vift'llll' SomnM'r: - :";lsc:idu
lit) Bair ru, 6.':1 alltlS de iU.I,I" . Filhu
(I" Vice nt e S..nnm-r (' rcsidcntc a Hila Pclot as.
~ lnr ill :
Ir m as do Convento da \ 'hi tlll; iio de St a,
1111:1 Don a Inacla Uchoa {'Ill 19 1f!,
-
Conslru;.lu it
I )( X:: U ~I E~T . \II IO :
Qu {'sl il("< d e tcrrus entre An lo ni,.
Estl'flll1<l - Bnx:hur a imp n .,.,'a
~I ,l r;an"
l'1ll
Fa~llnd., ..
{'
\ l i~u{'1
19".29,
AI,ls da Cu.nna ru \ hm kipal dc Silo Paulo (Ar' l" ivo \ Iullidpal).
Anas de 18.,)(I- H)(l5
- l'l.m'lI isloria" - Cid. ldt· de S;i n Paul o, po r Afull'i() :\. f' r.. ila-.. ISOO, 1874 (Ar< luivo \ Illllidpa ij.
\ Iapa do Lotc unu-uto dr- Vila \ I,lri;lIla 1886 (Arq uiv,) ~ l ll nic:i pilll.
Plunra do
~ hmkipio
Banco C UIlll'rd 'll -
de S;i o Paul o 19(13 (s{'m <I utu r) (Arq u i\'o \1,,-
nici pal).
Plallta da cidadl' de Sao Pa ulo - Fcita sob ori(·olal;;i.o dn Dr .
GoTTK"S Cardrm 1896 (Ar' lui\'o \I unidpal l.
"Sao Paulo AntiA" " - Aoton i.. Egid io
cipal).
'I'
~ l artiTlS
(Bihiintee'l ~ I un i ­
o 8 .-\IHno D E nL.-\
~l.-\ lU .-\X .-\
E sta tib ra foi l'OIllIX)!;la e tcrmincu- se sua
impro:ssao no 1lH.':.s de marco de mil novet -eotos e sd c:n ta e m il nas Ofidnas de Ar _
u-s C rMicas Bis<ml i S. A.• sendc Prefejto
do :\Iunid pio de Sao Paulo 0 Enf;.o J ""'-~
Carlo.' lie Fig'll'irt'{l" FI'mI1. I' S.'crl'l:·\r io
de Educ :l\'ao e Culture 0 Prof. Xathun""1 P"r..ira de Sou za, Dini or do D epartauwute til' Cullura 0 D r. Ratmundo til'
~ lelll'ZI'S c Chd", . 10 ..\ rquivo IIi~tnrk'll 0
Prof. Edua rdo de J. ~1. do x ascimentc e
eom ~,btcnda Ti"'C1lica do Sr. J~ dos
Santo... Integra ela a serk de Illonografias
innruladas lIistoria dos Bairrc s de Sao
I'a ul" . oscolhtdus .'111 CO I1l'\1fSO pllhlk u e
premiudas pelo I>lrmrtallll'nto de Cuhura
dn St'l.'rdaria de t.d ucadio e Cultur a du
Prcf enura do ~ l un idpio de Sao l' ,mlo.
Edi..-ao do llt'r:utanlt'nto d e Cultura d a
Secrct art a de Ed uca\-io e Cultura da Pref citura do ~lun id pio de Sao Paul o · 1971.
LBN
1155260

Documentos relacionados