CORREIO DA
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AESE Escola de Direcção e Negócios Publicação: quinzenal Director: J.L.Carvalho Cardoso Editor e Proprietário: AESE Impresso por: Cromaticamente Depósito legal: nº 21228/88 Preço: e 1 22º Ano CORREIO DA AESE Nº 511, 15-6-2009 DOCUMENTAÇÃO LEITURAS P ARA TODOS OS BOLSOS PARA Em tempo de crise, as editoras esmeram-se para não perder leitores. Por um lado, potencia-se o livro de bolso, que tem um peso cada vez mais importante na indústria editorial. Por outro, algumas editoras lançam colecções especiais a preços muito económicos, adaptando-se assim às possibilidades do leitor. Não parece que em nenhum destes casos o preço dos livros seja uma razão para ler ou não ler. Nuria Cabutí, directora de comunicação do grupo Random House Mondadori, a que pertence a Delibros, a colecção de livros de bolso que mais vende em Espanha, defende que «o livro de bolso será uma das chaves para enfrentar a crise, e já está a ter vendas enormes. 2009 será o ano do livro de bolso». Cómodos, flexíveis, instantâneos Desde que em 1935 a editora Penguin Books popularizou os seus paperbacks, o livro de bolso foi adquirindo mais peso na indústria das editoras de livros e modificou a oferta e a procura de livros. Trata-se de um fenómeno editorial ligado à sociedade de massas, pois o livro de bolso nasce com a vocação de democratizar e socializar a leitura. As tiragens das edições em formato de bolso costumam ser bastante mais amplas que as normais, com o objectivo de ganhar mais leitores e tornar mais rendível a vida destes livros, cujos preços costumam situar-se em cerca de metade dos normais. 60% dos compradores inclinam-se para o livro de bolso precisamente devido ao preço mais acessível. De facto, muitas vezes, os livros de bolso fornecem uma segunda oportunidade aos best-sellers e oferecem a baixo preço uma selecção do melhor de cada editora. Embora haja de tudo, o livro de bolso tem um marcado carácter popular, mais ligado ao mercado do entretenimento que à cultura elitista. As suas colecções costumam estar divididas nos géneros mais comerciais: policial, intriga, terror, aventuras, ficção científica, e ultimamente irromperam em força a comédia e a chick-lit (género de romance leve para raparigas, do tipo O Diário de Bridget Jones ou Sex and the City). Contam cada vez mais nas vendas Que em cada dia que passa os livros de bolso têm mais importância no sector pode ver-se igualmente no espaço que já ocupam nas livrarias, bastante mais visível, e na redução do tempo entre a edição trade (normal) e a de bolso, embora, por exemplo, em Espanha, ainda demore mais que noutros países (cerca de sete meses). Além disso, o livro de bolso, ao abrir o mercado a um público mais amplo, tem também mais canais de comercialização e de distribuição. Na Alemanha, os livros de bolso representam até 55% das vendas do sector; em Inglaterra, 45%; em França, 40%. Em Espanha, embora tenha havido iniciativas interessantes no século XX, como as colecções Austral e a da Alianza, entre outras, foi sempre uma modalidade pouco potenciada para editoras, que deram preferência a outras formas de negócio. No entanto, a partir do ano 2000, as editoras lançaram-se com vigor neste mercado, ao verificarem como aumentavam as vendas. Agora, o livro de bolso representa cerca de 13,5% do total dos exemplares vendidos e 6,5% da facturação total, com 5232 títulos (7,6% do total de títulos) e mais de 38 milhões de exemplares. E está a crescer. Origem da literatura portátil Costuma citar-se 1935 como o ano de nascimento do livro de bolso, quando na Grã-Bretanha, pela mão da Penguin Books, aparecem os paperbacks, livros com um formato diferente da edição normal, em encadernações ligeiras com capas de papel, manejáveis, flexíveis, baratos. Os primeiros títulos foram obras de Agatha Christie, Ernest Hemingway e André Maurois. O lema escolhido para o lançamento desta colecção reflecte acertadamente a sua filosofia: «Bons Livros Baratos». A fórmula deu resultado e começou rapidamente a desenvolver-se em diversos países. Em França, em 1953, surge a colecção Le Livre de Poche, graças à iniciativa da editora 1001 Nuits, e continua a ser um sector que consegue uma significativa percentagem da fatia editorial, com 400 colecções de livros de bolso e editoras com larga experiência no sector como Pocket, Folio, Points, J'ai lu e Livre de Poche. Nos Estados Unidos, editoras tão importantes como Harper Collins, Random House e Dover conseguiram popularizar os pocket books e convertê-los num grande negócio, antes e agora. Além disso, o livro de bolso admite experiências e modalidades. Nos anos 90, em Itália, ficaram na moda colecções de livros mais baratos que um jornal. A mais inovadora foi a Millelire-Stampa Alternativa, que chegou a atingir números milionários na edição de alguns clássicos. A fórmula estendeu-se a outros países. Por exemplo, em Espanha, nasceu a Alianza Cien, que oferecia textos manejáveis, curtos, a 100 pesetas o exemplar, de autores de prestígio. Alguns títulos venderam mais de 300 000 exemplares. O livro de bolso em Espanha Em Espanha, uma das editoras pioneiras do livro de bolso foi a Espasa Calpe, com a sua colecção Austral. Nasceu em 1937 (o seu primeiro livro foi La Rebelión de las Masas, de José Ortega y Gasset) e ainda hoje continua a oferecer a um preço muito económico o seu valioso fundo editorial. A Alianza, outra das mais populares, nasce em 1966 e continua a ser outra editora de referência. Correio da AESE Mas a partir do ano 2000, os concorrentes tomaram conta do mercado, graças à sua pertença a grandes grupos editoriais. A Debolsillo, do grupo Random House Mondadori, editou cerca de 2000 títulos desde o seu aparecimento em 2002, alguns dos quais sem passarem antes pela edição normal. Especializou-se no best-seller, com autores de muita saída, como Ken Follet, Stephen King e Julia Navarro. Também tem uma colecção de sucesso, Cisne, de novela romântica. A Debolsillo é a colecção líder em Espanha, com uma quota de mercado de 42%. A Punto de Lectura, do grupo Santillana, publicou em seis anos mais de 1000 títulos e 20 milhões de exemplares. No seu catálogo encontram-se todos os géneros literários. É notória a quantidade de autores espanhóis e latino-americanos: Bernardo Atxaga, Manuel Rivas, Luis Mateo Díez, Rosa Mantero, Arturo Pérez-Reverte, Mario Vargas Llosa, Cabrera Infante, Julio Cortázar... A Punto de Lectura detém uma quota de mercado de 25%. A Booket é a editora de bolso do grupo Planeta. Entre os seus títulos predominam também os subgéneros narrativos e as colecções de autor: Matilde Asensi, J. J. Benítez, Paulo Coelho, Antonio Gala, Eduardo Mendoza, Terenci Moix e Ruiz Zafón. Crimen y misterio, uma das suas colecções, já vendeu mais de meio milhão de exemplares. As vendas da Booket atingem 8% da quota de mercado. Outras iniciativas interessantes são o selo Quinteto, integrado pelas editoras Anagrama, Tusquets, Península, Salamandra e Edhasa. E o Puzzle, de que fazem parte Urano, Umbriel e Titania. Depois encontramos os selos específicos de algumas editoras: Byblos (grupo Zeta), Compactos (Anagrama), Fábula (Tusquets), La Esfera de los Libros... E as colecções económicas implementadas pela RBA (Serie Negra), Seix Barral (Únicos), etc. Oportunidade para pequenas editoras Em tempo de crise, algumas editoras aguçaram o engenho para lançarem colecções muito económicas. É o caso, por exemplo, da nova editora Alfabia, fundada pela jovem Diana Zaforteza, antes editora na Alpha Decay. A sua aposta mais barata é a colecção Los Cuadernos Alfabia, uma biblioteca de bolso que oferece livros ao preço de 3,20 euros. Os primeiros autores desta colecção são Enrique Vila-Matas, José Carlos Llop e Juan Antonio Masoliver Ródenas. Também chama a atenção o aparecimento da editora ES. Os seus editores dizem procurar «que o 2 livro se converta num bem de primeira necessidade». Para o conseguir, o preço não vai ser problema: 3 euros. E não se trata de livros de usar e deitar fora. No desenho e no formato têm em conta que se estão a dirigir a um leitor com pouco tempo, com pouco dinheiro e a quem devem ser oferecidos livros curtos, directos e imediatos. Também têm como objectivo encontrar um espaço nos hipermercados. E nas suas novidades há de tudo: Obama, literatura, viagens, ensaios, gastronomia... Outra editora, Navona, lançou a sua colecção Reencuentros, que «se propõe devolver à actualidade obras de grandes autores, em novas traduções, perdidas no tempo ou pouco conhecidas». As obras já publicadas explicam bastante bem este interessante projecto editorial. Reeditou várias obras de John Steinbeck, Jack London, R. L. Stevenson, Mark Twain, Joseph Conrad, Francis Scott Fitzgerald, Friedrich Dürrenmatt, Erskine Caldwell... A própria Fnac quando se instalou, quis aplicar a experiência da casa-mãe, tendo lançado cerca de 200 títulos em parceria primeiro com a Dom Quixote e mais tarde com a Asa. Os resultados não foram os esperados. As pessoas são reticentes face à má qualidade de muitos livros que foram editados neste formato, e isso criou um estigma. Também o facto de não serem novidade, bem como a falta de divulgação das colecções, pois não tem havido uma aposta sustentada nem consistente. Há ainda a acrescentar os custos cada vez mais elevados dos espaços comerciais, além do enorme número de títulos publicados. Cada centímetro de exposição é cuidadosamente calculado pelo livreiro, que, na soma de todas as parcelas, não se sente estimulado a vender livros de bolso. Também a editora Menoscuarto, especializada no relato curto, estreou uma colecção, Entretanto, em que vão aparecer jóias literárias em pequeno formato e com qualidade. Serão textos breves da literatura universal, editados num tamanho cómodo e manejável, sem afastar épocas nem géneros. As suas intenções são assim explicadas: «O sugestivo nome da colecção quer sublinhar precisamente a vontade de proporcionar obras de inegável interesse e grata leitura, sepultadas num mercado editorial marcado pela proliferação de títulos e numa sociedade com excesso de informação.» De qualquer maneira, saliente-se que existe todavia alguma tradição em Portugal da edição em livro de bolso. Por exemplo, a colecção Três Abelhas, iniciada nos anos 40 por José Cardoso Pires e Victor Palla, a colecção Unibolso, com um catálogo notável, tendo feito chegar a grande literatura nacional e internacional a uma faixa muito alargada da população, a colecção Miniatura, de Livros do Brasil, que editou 400 títulos, as colecções Livros RTP, Livros de Bolso Europa-América e as colecções de bolso dos Estúdios Cor e da Portugália, e ainda da Ulisseia e a Biblioteca Arcádia. O primeiro título da colecção é Sólo para fumadores, do peruano Julio Ramón Ribeyro (1924-1994), onde aparecem três dos melhores relatos deste autor. A colecção continua com dois clássicos da literatura universal: traduções em castelhano de O Alienista, do brasileiro Machado de Assis (1839-1908), e de Traité des Excitants Modernes, de Honoré de Balzac, um ensaio sobre o álcool, o açúcar, o chá, o café e o tabaco, que lhe serve para estudar a sociedade do século XIX. Igualmente numa colaboração inédita entre editoras portuguesas, a Assírio & Alvim (grande editora de livros de poesia), a Cotovia (que tem publicado clássicos, teatro ou literatura brasileira) e a Relógio D'Água (que tem no seu catálogo poesia portuguesa e livros do pensamento contemporâneo) lançaram uma colecção de livros de bolso, reunindo alguns dos principais autores clássicos e contemporâneos. Com imaginação, além disso, outras pequenas editoras, como Norte-Sur, Alhenamedia, Siete Noches, etc., juntam-se com as suas propostas ao desafio de tornar a crise mais leve para os leitores. São títulos mensais, repartidos pelos géneros de ficção narrativa, poesia e ensaio. Preço barato e com qualidade de tradução, rigor na fixação do texto e o grafismo característico das três editoras participantes no projecto. Em Portugal Pretendem uma alternativa cultural à avalanche de romances de enredo esotérico e aos ensaios que se dissolvem na espuma dos dias. Em Portugal, país com baixo índice de leitura e economia até há pouco deprimida e agora em plena recessão, não existe uma cultura do livro de bolso. Os portugueses têm uma noção pouco utilitária do livro. 3 A distribuição é assegurada em conjunto pelas três editoras, vendendo os livros nas melhores livrarias em cada localidade. Haverá também obras que não fazem parte do catálogo das três editoras fundadoras. Correio da AESE Afirmam que para conseguir um bom preço são precisas grandes tiragens, com boa vontade dos intervenientes, com autores e editores a ganharem menos. Alguns dos livros lançados por estas três editoras em conjunto: Ilíada, de Homero; Dom Quixote de la Mancha, de Cervantes; Mensagem, de Fernando Pessoa; Contos de São Petersburgo, de Gogol; Orlando, de Virginia Woolf; O que é a Filosofia?, de Ortega y Gasset. Também a Dom Quixote lançou a colecção Booket. A ideia é combinar preço, formato e acessibilidade de forma a tornar o livro um objecto mais próximo dos portugueses, com leitura acessível a todos. Aposta em reedições de autores portugueses e internacionais, para que a leitura de grandes obras possa ser feita por todos. Refira-se que o grupo Leya lançou uma colecção de livros, com o nome de BIS, com destaque para os autores portugueses em grandes obras intemporais. Apostam ainda na dimensão e no design desses livros. No percurso histórico de Portugal na debilidade do livro de bolso, houve uma excepção: os livros policiais (por exemplo, as colecções Vampiro e Xis). A. T. A CIÊNCIA HUMILDE. ECONOMIA P ARA CID ADÃOS PARA CIDADÃOS Uma vez imerso numa crise económica como a actual, o cidadão pode interrogar-se sobre as razões que levam os economistas, sempre com sábias explicações a posteriori, a serem incapazes de prever e prevenir as crises a tempo. Para compreender as dificuldades de previsão da economia, é útil ler um dos capítulos do livro La Ciencia Humilde. Economia para ciudadanos (Alfredo Pastor, Ed. Crítica, Barcelona, 2007), em que se fala das crises e bolhas especulativas. Afirma que as autoridades têm nas suas mãos os meios para evitar a formação de uma bolha ou a geração de uma crise, mas aplicar esses meios tem os seus custos políticos, sociais ou mesmo económicos, e podem preferir não o fazer. Este livro de Alfredo Pastor, doutorado em Economia pela Universidad de Barcelona e pelo MIT, e hoje professor no IESE, nasce da experiência de ensinar Economia em escolas de negócios. Portanto, dirige-se a pessoas que, sem pretenderem ser economistas profissionais, querem saber como podem ser afectadas pelos fenómenos de que ouvem falar diariamente: inflação, desemprego, desequilíbrios da balança de pagamentos, a taxa de juros e a taxa de câmbio, a globalização... São temas, portanto, próprios da perspectiva macroeconómica. A obra acaba com um capítulo dedicado a três assuntos menos habituais em livros deste estilo: o papel do Estado numa economia de mercado, a distribuição do rendimento mundial e a natureza das leis do mercado. reconhece que o mercado dá eficácia, não igualdade. E interroga-se se, depois de uma época de intervencionismo estatal exagerado, não estaremos a ir demasiado longe em sentido oposto. Defende que a globalização é um fenómeno irreversível, que trouxe mais vantagens do que prejuízos; mas sustenta que deve ser guiada por governos, grandes empresas e organizações de trabalhadores, que marquem os limites do terreno de jogo. E faz uma advertência onde o economista se situa em paralelo com o moralista: «É verdade que a miséria embrutece, mas a procura da riqueza de forma insaciável embrutece igualmente.» Agora que o FBI lança as suas redes entre os especuladores das hipotecas lixo, não é um conselho de desprezar. O enfoque de Alfredo Pastor pode resumir-se em clareza na exposição, que permite assimilar o essencial sem complicações técnicas; reconhecimento do que a economia ignora; e aceitação de que «para qualquer problema importante a economia só pode oferecer uma solução parcial; para a completar têm de intervir outros elementos». Uma ciência humilde, é o que se constata. Também é de agradecer que a exposição seja acompanhada de exemplos actuais e que reavive a confiança do leitor em que ainda existem professores de Economia capazes de escrever bem. Pastor defende que a economia de mercado ganhou a batalha da prosperidade, mas também Associação de Estudos Superiores de Empresa l Administração: Calçada de Palma de Baixo, 12 - 1600-177 LISBOA - Tel.: 21 722 15 30 - Fax: 21 722 15 50 – I. A. E-mail: [email protected]