Associação do Status Socioeconômico com a - PPGBAIP
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Associação do Status Socioeconômico com a - PPGBAIP
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS ASSOCIAÇÃO DO STATUS SOCIOECONÔMICO COM A SOROPREVALÊNCIA DAS HEPATITES B E C EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA MESORREGIÃO DO MARAJÓ, PARÁ RENATA GLAUCIA BARROS DA SILVA LOPES Belém-Pará 2015 RENATA GLAUCIA BARROS DA SILVA LOPES ASSOCIAÇÃO DO STATUS SOCIOECONÔMICO COM A SOROPREVALÊNCIA DAS HEPATITES B E C EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA MESORREGIÃO DO MARAJÓ, PARÁ Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos R. Vallinoto Belém-Pará 2015 RENATA GLAUCIA BARROS DA SILVA LOPES ASSOCIAÇÃO DO STATUS SOCIOECONÔMICO COM A SOROPREVALÊNCIA DAS HEPATITES B E C EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA MESORREGIÃO DO MARAJÓ, PARÁ Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Rosário Vallinoto Laboratório de Virologia, ICB-UFPA Banca Examinadora: Prof. Dr. Luiz Fernando Almeida Machado Laboratório de Virologia, ICB-UFPA ____________________________________ Prof. Dr. Felipe Bonfim Freitas Instituto Evandro Chagas- IEC/SVS/MS ____________________________________ Profa. Dra. Rosimar Neris Martins Feitosa Laboratório de Virologia, ICB-UFPA ____________________________________ Profª. Drª. Vânia Nakauth Azevedo (Suplente) Laboratório de Virologia, ICB-UFPA ____________________________________ Belém, 04 de Agosto de 2015 “O amor de mãe é o combustível que lhe permite a um ser humano fazer o impossível.” Marion C. Garretty DEDICATÓRIA A Deus pela vida, pela sabedoria e por estar sempre comigo, me amparando em todos os momentos de dúvidas, de medos, de angustias e de alegrias, do meu ingresso até a conclusão deste trabalho. À minha filha, Ana, que veio no meio dessa trajetória para me ensinar muito mais do que eu pensei em aprender nessa vida, que trouxe um sentido melhor e mais colorido para tudo que eu faço e penso, que me encoraja a vencer qualquer limite e dar o meu melhor em tudo e para todos. À minha família que mais uma vez não mediu esforços para me ajudar nesse percurso. Minha Avó Teresinha, minha mãe Edineusa e meu Marido Herison, não pouparam palavras de motivação, companheirismo e doação de seu colo e de seu tempo, exerceram a minha função de mãe, para que assim eu pudesse exercer minha função de mestranda e concluísse este trabalho. Ao meu querido irmão Iury Silva e aos meus amores eternos: meu avô Raimundo Barros (em memória) e a minha tia Marineusa Barros (em memória). AGRADECIMENTOS Ao meu orientador Prof. Dr. Antonio Carlos Vallinoto, que me aceitou como orientanda, obrigada por ser uma referência científica e por ter me proporcionado orientações valiosas que me permitiram concluir este trabalho e crescer cientificamente. Aos professores do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA: Profº Dr. Ricardo Ishak (quem primeiro me acolheu), Profº Drº Luís Fernando Machado, Profª Drª Sandra Lima, Profª Drª. Vânia Nakauth Azevedo e Profª Drª Rosimar Neris, que foram e sempre serão referências científicas para mim, que me cativaram e me formaram como pesquisadora, e que eu irei ser sempre grata por todos os ensinamentos. Ao Profº Drº Felipe Bonfim Freitas, do IEC, que também contribui imensamente com este trabalho. Aos colegas do Laboratório de Virologia, ao PPG-BAIP/ICB/UFPA: Samantha Assis, Mike Santos, Glenda Ferreira, Mª Izete Souza, Bárbara Santana, Samara Gomes, Suzanne Fernandes, William Brito e Angélica Menezes. À Josi e a Dona Teresinha, que me acompanharam e me acolheram como amiga. Aos amigos que conquistei nestes dois anos de mestrado, Samires França, Cintia Aben-Athar e Edilson Sampaio, que dividiram comigo as felicidades e angústias desse trajeto, foram nobres amigos em todo o processo de conclusão desse trabalho; ficará a saudade de nossa convivência e a certeza que ganhei grandes amigos na vida. A todos os indivíduos que participaram desta pesquisa contribuindo para os resultados aqui apresentados. Agradeço ainda as Secretarias Municipais de Saúde dos municípios marajoaras envolvidos no estudo, pelo apoio oferecido durante as expedições e ao Governo do Estado do Pará, pelo financiamento deste projeto via edital FAPESPA. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsa durante o Mestrado. Agradeço todas as pessoas que estiveram ao meu lado para a realização deste trabalho, em especial as minhas queridas amigas, Adriana Pinheiro, Ana Ligian Feitosa, Jamylle Pinheiro e Geyse Lima, as quais não cansaram de me ouvir falar sobre este trabalho e sempre me incentivaram. A todos que direta ou indiretamente ajudaram-me nesta caminhada, muito obrigada. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS............................................................................................................... 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..............................................................................8 RESUMO................................................................................................................................. 10 ABSTRACT ............................................................................................................................ 11 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12 1.1 HISTÓRICO ....................................................................................................................... 13 1.1.1 Vírus da hepatite B ......................................................................................................... 14 1.1.2 Vírus da hepatite C ......................................................................................................... 14 1.2 O VÍRUS DA HEPATITE B ................................................................................................ 15 1.2.1 Taxonomia ...................................................................................................................... 15 1.2.2 Biologia ........................................................................................................................... 15 1.2.2.1 Estrutura morfológica e organização genômica ........................................................... 15 1.2.2.2 Replicação do VHB ...................................................................................................... 17 1.2.3 Aspectos clínicos ............................................................................................................ 19 1.2.5 Diagnóstico laboratorial ................................................................................................ 21 1.2.6 Epidemiologia do VHB .................................................................................................. 23 1.2.6.1 Vias de Transmissão ..................................................................................................... 23 1.2.6.2 Soroepidemiologia ........................................................................................................ 25 1.2.7 Tratamento ..................................................................................................................... 30 1.2.8 Prevenção e controle ...................................................................................................... 31 1.3 O VÍRUS DA HEPATITE C ................................................................................................ 33 1.3.1 Taxonomia ...................................................................................................................... 33 1.3.2 Biologia ........................................................................................................................... 33 1.3.2.1 Estrutura morfológica e organização genômica ........................................................... 33 1.3.4 Aspectos clínicos ............................................................................................................ 36 1.3.5 Diagnóstico laboratorial ................................................................................................ 38 1.3.6 Epidemiologia do VHC ................................................................................................. 38 1.3.6.1 Vias de Transmissão ..................................................................................................... 38 1.3.6.2 Soroepidemiologia ........................................................................................................ 39 1.3.7 Tratamento ..................................................................................................................... 44 1.3.8 Prevenção e controle ...................................................................................................... 45 1.4 VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS ............................................................................... 46 1.5 A MESORREGIÃO DO MARAJÓ ................................................................................... 48 1.6 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 50 1.6.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 50 1.6.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 50 2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 51 2.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................ 51 2.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL E COLETA DAS AMOSTRAS............................... 51 2.3 PROCEDIMENTOS ÉTICOS ............................................................................................ 52 2.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO .................................................................. 53 2.5 SOROLOGIA ..................................................................................................................... 53 2.6 PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS .............................................................................. 54 3 RESULTADOS .................................................................................................................... 55 3.1 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS DA POPULAÇÃO .......................... 55 3.2 SOROLOGIA ..................................................................................................................... 58 3.3 ASSOCIAÇÕES ENTRE OS MARCADORES SOROLOGICOS DOS VHB E VHC COM OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS ............................................................... 60 4 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 57 5 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 67 ANEXO A ................................................................................................................................ 86 ANEXO B ................................................................................................................................ 88 ANEXO C ................................................................................................................................ 89 LISTA DE FIGURAS Página Figura 1- Representação esquemática da morfologia do VHB................................... 16 Figura 2- Representação esquemática do genoma do VHB........................................ 17 Figura 3- Representação esquemática do ciclo replicativo do VHB........................... 18 Figura 4- Representação esquemática das três fases da infecção crônica do VHB.... 20 Figure 5- Padrão sorológico da hepatite B aguda........................................................ 22 Figura 6- Padrão sorológico da hepatite B crônica..................................................... 23 Figura 7- Prevalência de infecção por HBV............................................................... 26 Figura 8- Distribuição da prevalência do HBsAg no Brasil........................................ 27 Figura 9- Estrutura morfológica do VHC.................................................................... 33 Figura 10- Estrutura Genética do VHC....................................................................... 34 Figura 11- Ciclo de replicação do VHC..................................................................... 36 Figura 13- Prevalência de infecção por VHC..................................................... 40 Figura 13- Padrões da prevalência da positividade para o anti-HCV de acordo com a faixa etária................................................................................................................. 41 Figura 14- Prevalência da positividade para o anti-HCV em doadores de sangue nos diferentes estados brasileiros................................................................................. 42 Figura 15- Mapa da mesorregião do Marajó............................................................... 48 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADV Adefovir dipivoxil AIDS Acquired Immune Deficiency Syndrome / Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ALT Alaninoaminotransferase AN Análogos de Nucleotídeos anti-HBc Anticorpos totais para o antígeno de centro do vírus da hepatite B anti-HBe Anticorpos para o antígeno “e” do vírus da hepatite B anti-HBs Anticorpos para o antígeno de superfície do vírus da hepatite B AST Aspartatoaminotransferase CDC Centers for Disease Control and Prevention / Centro de Controle e Prevenção de Doenças CHC Carcinoma hepatocelular DNA Deoxyribonucleic Acid / Ácido Desoxiribonucléico E1 e E2 Glicoproteínas de superfície (1 e 2) EDTA Ethylenediamine tetraacetic acid/ ácido etilenodiamino tetraacético ELISA Enzyme Linked immunosorbent assay EUA Estados Unidos da América do Norte FDA Food and Drug Administration GSHV Ground squirrel hepatitis virus HBcAg Antígeno de centro do vírus da hepatite B HBeAg Antígeno “e” do vírus da hepatite B HBsAg Antígeno de superfície do vírus da hepatite B HIV Human Imunodeficiency Vírus / Vírus da Imunodeficiência Humana IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICTV International Committee on Taxonomy of Viruses IEC Instituto Evandro Chagas IFN Interferon IgG Imunoglobulina G IGHAHB Imunoglobulina humana anti-hepatite B IgM Imunoglobulina M IST Infecções sexualmente transmissíveis kb Quilobase kDa kilodalton LDT Telbivudina LMV Lamivudina mL Mililitros MS Ministério da Saúde NAT Testes de ácido nucleico nm Nanômetro NPHV Hepacivirus NTR Regiões não traduzidas OMS Organização Mundial da Saúde ORF Open Reading Frames RNA Ribonucleic Acid / Ácido Ribonucléico SBH Sociedade Brasileira de Hepatologia SSE Status socioeconômico TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TDF Tenofovir TP Tempo de protrombina TTV Transfusion transmitted vírus VHA Vírus da hepatite A VHB Vírus da Hepatite B VHC Vírus da Hepatite C VHD Vírus da hepatite D VHE Vírus da hepatite E VHG Vírus da hepatite G VTA Entecavir WHO World Health Organization /Organização Mundial da Saúde WHV Woodchuck hepatitis vírus WMHBV Woolly monkey hepatitis B virus FAPESPA Fundação Amazônia Paraense de Amparo a Pesquisa UFPA Universidade Federal do Pará IFPA Instituto Federal do Pará HEMOPA Fundação de Hemoterapia e Hematologia do Pará RESUMO As hepatites causadas pelo VHB e VHC são graves problemas de saúde pública, apresentam elevado potencial de se cronificar e aumentam o risco de afecções hepáticas graves como a cirrose e o carcinoma hepatocelular. Na infância a transmissão vertical e horizontal assumem grande importância, principalmente, nas áreas endêmicas para esses vírus, como na amazônica brasileira, onde está localizada a mesorregião do Marajó, no Estado do Pará. A prevalência destes vírus é maior em áreas mais pobres do globo, o que aponta o status socioeconômico (SSE) como um importante fator de risco à infecção. Este é um estudo epidemiológico do tipo transversal descritivo e analítico, o qual objetivou identificar a soroprevalência das infecções causadas pelo VHB e VHC em crianças e adolescentes de quatro municípios da mesorregião do Marajó, bem como correlacionar esta prevalência com o SSE da população estudada. Foram avaliadas crianças e adolescentes de 0 a 17 anos, dos municípios Anajás, Chaves, Portel e São Sebastião da Boa Vista (SSBV), as quais responderam a questionários socioeconômicos e coletaram amostras de sangue, no período de setembro de 2012 a abril de 2013. Foram realizadas 721 sorologias para o VHB e 756 para o VHC. Para a detecção de anticorpos e antígenos do VHB e do VHC foram realizadas determinações de HBsAg, anti-HBs ,anti-HBc (total) e anti-VHC usando o ensaio imunoenzimático. Os dados foram tabulados e armazenados de acordo com cada município em um banco de dados usando o Software Epi Info versão 7. Para buscar associações entre os marcadores socioeconômicos e a presença dos marcadores sorológicos foi utilizado o Teste Exato de Fisher usando o Programa BioEstat 5.0. O número de significância adotado em todo trabalho foi de 5% (p=0,05). A soroprevalência de anti-Hbc foi de 3,2%; do marcador vacinal anti-HBs (isolado) foi de 53,1%, enquanto 46,9% dos sujeitos estudados apresentaram-se suscetíveis à infecção. A soropositividade do anti-VHC foi de 0,8% e a prevalência de coinfecção VHB/VHC foi de 0,1%. As prevalências encontradas permitem supor que a mesorregião marajoara estudada apresenta uma endemicidade moderada de VHB e baixa de VHC em crianças e adolescentes. Houve uma associação significativa do marcador vacinal e a renda familiar em SSBV, onde a população com renda superior a um salário apresentou maior cobertura vacinal. Desta forma, o SSE deficitário da região estudada refletiria na menor cobertura vacinal e, portanto, em maior suscetibilidade à infecção pelo VHB. Os números de crianças e adolescentes infectados pelos VHB e VHC nessa região, bem como a baixa cobertura vacinal, nos alertam para a intensa circulação desses vírus na mesorregião marajoara estudada. ABSTRACT Hepatitis caused by HBV and HCV are relevant public health problems, having high potential to become chronic and increasing the risk of serious liver diseases such as cirrhosis and hepatocellular carcinoma. In childhood the vertical and horizontal transmission are very significant, especially in endemic areas of these viruses, as in the Brazilian Amazon, where is located the middle region of Marajó, in Pará State. This is a descriptive and analytical epidemiological cross-sectional study, which aimed to identify the prevalence of infections caused by HBV and HCV in children and adolescents in four municipalities of the middle region of Marajó, and correlate it to the SES of the study population. Children and adolescents evaluated were 0-17 years of municipalities Anajás, Chaves, Portel and São Sebastião da Boa Vista (SSBV), which answered a socioeconomic questionnaire and collected blood samples, from September 2012 to April 2013. A total of 721 and 756 samples were submitted to serological screen for HBV and HCV, respectively. For detection of HBV and HCV antibodies and antigens were carried out determinations of HBsAg, anti-HBs, anti-HBc (total) and anti-HCV using immunoenzymatic assay. Data were tabulated and stored for each municipality in a database using the software Epi Info version 7. To seek associations between socioeconomic markers and the presence of serological markers was used Fisher's exact test using BioEstat Program 5.0. The number of significant adopted was 5% (p = 0.05). The seroprevalence of anti-HBc was 3.2%; anti-HBs vaccine marker (isolated) was 53.1%, while 46.9% of the studied subjects presented themselves susceptible to infection. The seroprevalence of anti-HCV was 0.8% and the prevalence of co-infection HBV / HCV was 0.1%. Prevalence rates allow to assume that the studied marajoara middle region has a moderate endemicity to HBV and low HCV in children and adolescents. There was a significant association of the marker vaccine and family income in SSBV, where the population with income higher than a salary had higher immunization coverage. Thus, the SES deficit of the studied area reflects in lower vaccination coverage and therefore a greater susceptibility to HBV infection. The number of children and adolescents infected by HBV and HCV in this region and the low vaccination coverage alert us to the intense viral activity in marajoara mesoregion studied. 12 1 INTRODUÇÃO As hepatites virais são infecções comuns, por vezes graves, que cursam com inflamação e necrose hepática (Brasil, 2005). Há um grande número de vírus, tais como o Citomegalovírus, o Vírus Epstein-Barr, o Vírus da hepatite G (VHG), o Transfusion transmitted virus (TTV), Herpes vírus simples, Vírus da febre amarela, entre outros que podem provocar a doença inflamatória do fígado, porém o termo hepatite viral geralmente refere-se ao agravo ocasionado por cinco vírus hepatotrópicos designados rotineiramente de Vírus da hepatite A (VHA), Vírus da hepatite B (VHB), Vírus da hepatite C (VHC), Vírus da hepatite D (VHD) e o Vírus da hepatite E (VHE) (Tsega, 2000). As hepatites virais representam um importante problema de saúde pública, pelo número de indivíduos acometidos e pela possibilidade de complicações das formas agudas e crônicas (Brasil, 2008). Segundo o mecanismo habitual de transmissão dos vírus, as hepatites são divididas em dois grandes grupos, aquele cujo cuja transmissão se faz pelas vias fecal e oral, englobando as hepatites A e E, e o que é transmitido por meio de outros mecanismos, predominando a via parenteral, representadas pelas hepatites B, C e D (Passos, 2003; Brasil, 2009). As hepatites virais possuem agentes etiológicos que apresentam similaridades do ponto de vista clínico e laboratorial, havendo, porém, peculiaridades epidemiológicas e prognósticas, ou seja, quanto à sua evolução clínica que diferenciam os agentes (Ferreira & Silveira, 2004). Dentre esses, o Vírus da hepatite B (VHB) é o único de genoma DNA e pertence à família Hepadnaviridae. Os demais possuem genoma RNA e estão em diferentes famílias, a saber: Picornaviridae – Vírus da hepatite A (VHA), Flaviviridae – Vírus da hepatite C (VHC), Deltaviridae – Vírus da hepatite D (VHD) e Caliciviridae – Vírus da hepatite E (VHE; Seeger & Mason, 2000; ICTV, 2013). Das cinco hepatites virais conhecidas, as mais importantes para a saúde pública são, sem dúvida, as causadas pelo VHB e pelo VHC. Isso devido à combinação de dois importantes fatores: (1) epidemiologicamente, a relevância dessas infecções deve-se à larga distribuição geográfica e ao enorme número de indivíduos infectados, em praticamente todos os países do mundo (Passos, 2003); e (2) do ponto de vista clínico, ambas apresentam elevada potencial de cronificar e, portanto, aumentam o risco de afecções hepáticas graves como a cirrose e o carcinoma hepatocelular - CHC (Lu et al., 2013). 13 1.1 HISTÓRICO A história das hepatites remonta, provavelmente, aos primórdios da civilização; sendo relatados surtos de icterícia na Babilônia há mais de 2500 anos, e Hipócrates (século IV A.C.) faz referência nos seus escritos à icterícia epidêmica (Freitas, 2003). Na Idade Média a eclosão de epidemias de icterícia estava geralmente associada a cataclismos ou períodos de guerra que ameaçavam seriamente as condições sanitárias (Reuben, 2002; Freitas 2003). Muito se especulou quanto à causa da doença e, em 1865, Virchow (apud Sherlock, 1984) descreveu um doente com icterícia, no qual se observava a obstrução do colédoco terminal por rolha de muco, criando, assim, o conceito da "icterícia catarral". O termo sugeria a ideia de que uma inflamação na região da ampola de Vater levasse a uma obstrução da drenagem biliar (Paraná & Almeida, 2014). Duas novas linhas de investigação vieram ajudar na descoberta da doença: o desenvolvimento de testes laboratoriais de função hepática e a introdução da agulha de biopsia do fígado. A combinação dos estudos laboratoriais com a informação da biopsia hepática confirmou que a icterícia catarral era, na realidade, uma hepatite. A biopsia também foi importante na descoberta da hepatite assintomática, da hepatite anictérica, da hepatite crônica e da cirrose pós-hepatite (Freitas, 2003). As publicações sobre o tema deixava clara a diferença de apresentação de dois tipos de hepatites, que se supunha tivesse na origem um agente infeccioso, mas que apresentavam características clínicas completamente diversas. Os primeiros relatos que temos estão ligados às icterícias que coincidiram com períodos de calamidade pública e social, com deterioração das condições higiênicas da população, sobretudo, nos períodos das guerras. Os relatos que seguiram apontavam notadamente para a associação da hepatite cuja transmissibilidade evocava a via parenteral. Estavam aí inseridos os primeiros relatos de casos de hepatite B (Paraná & Almeida, 2014). A partir de 1956, Saul Krugman e colaboradores passaram a realizar estudos na Willowbrook State School, de Staten Island, New York, uma instituição para crianças com deficiências mentais, onde foram observados vários casos de icterícia. Em suas pesquisas Krugman et al. (1967) caracterizaram dois quadros distintos, os quais nomeou de MS1 e MS2, para referir-se as hepatites A e B, respectivamente. Os trabalhos de Krugman foram minuciosos e deixaram registradas informações importantes a respeito do quadro clinico da doença, período de incubação, alterações de exames laboratoriais, descrevendo a hepatite 14 anictérica e deixando os primeiros relatos a respeito das alterações imunológicas por eles observadas no curso clínico da doença, inclusive com preconização do uso de imunoglobulina para evitar quadros de hepatite. 1.1.1 Vírus da hepatite B Blumberg, um geneticista que trabalhava no National Institute of Health, na Filadélfia, EUA, no decurso de uma investigação iniciada com objetivos completamente diferentes, descobriu no soro de um aborígene Australiano um antígeno que reagia com o soro de dois doentes hemofílicos politransfundidos, ao qual foi atribuído o nome de antígeno Austrália (Blumberg et al., 1965). Outro pesquisador importante na descoberta do VHB foi Alfred Prince (1968), o qual em suas pesquisas para determinar a incidência de hepatite pós- transfusional, em pacientes de cirurgias cardíacas, sugeriu uma associação entre o Antígeno Austrália com o Vírus da hepatite B. Esta associação foi confirmada com as pesquisas de Giles & Krugman em 1969. Dane & Cameron, em 1970, visualizaram pela primeira vez a partícula viral íntegra, que foi denominada “partícula de Dane” e sua identificação como agente etiológico da hepatite B. No ano seguinte Almeida et al. (1971), caracterizaram o antígeno Austrália como componente da superfície do vírus dando origem a sua denominação atual – antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg). 1.1.2 Vírus da hepatite C Apesar da descoberta do VHB e o emprego de testes de rastreio do antígeno do vírus na seleção de hemodoadores casos de hepatites pós transfusionais continuavam a surgir, indicando um outro agente causador (Freitas, 2003). Em 1989, mediante sucessivos estudos de biologia molecular, Qui-Lim-Choo, George Kuo, Daniel Bradley e Michael Hougthon identificaram o genoma do agente viral responsável por 80 a 90% das hepatites pós-transfusionais não-A e não-B. Tal agente foi denominado de vírus da hepatite C e apresenta características biológicas peculiares que o diferenciam dos outros agentes virais hepatotrópicos. 15 No mesmo ano da identificação do VHC, George Kuo et al. (1989) relataram o desenvolvimento de um teste sorológico para a detecção dos anticorpos contra a infecção pelo VHC (anti-VHC total). Estes estudos foram marcantes no campo da hepatologia moderna e representaram um dos maiores avanços no controle da disseminação das hepatites póstransfusionais (Fonseca, 2010). O desenvolvimento de testes sorológicos de detecção do vírus da hepatite C reduziu quase a zero a incidência da hepatite C pós-transfusional (Paraná & Almeida, 2014). 1.2 O VÍRUS DA HEPATITE B 1.2.1 Taxonomia O Vírus da hepatite B (VHB) pertence à família Hepadnaviridae (ICTV, 2013), a qual inclui o gênero Orthohepadnavirus e Avihepadnaviru. O gênero Orthohepadnavirus contém espécies que infectam mamíferos, e são representadas pelo VHB que infecta o homem; pelo Woolly monkey hepatitis B virus (WMHBV) que infecta grandes primatas não humanos; pelo Woodchuck hepatitis virus (WHV), que causa hepatite em marmotas;e pelo Ground squirrel hepatitis virus (GSHV), causador de hepatite em esquilos (Seeger & Mason, 2000;ICTV, 2013). As características comuns aos hepadnavírus incluem o tropismo pelos hepatócitos, a presença de envelope, genoma de DNA de fita dupla incompleta e a utilização da via transcriptase reversa na replicação (Ganem & Schneider, 2001). 1.2.2 Biologia 1.2.2.1 Estrutura morfológica e organização genômica As partículas infecciosas do VHB (partícula de Dane) são esféricas, apresentam aproximadamente 42 nm de diâmetro (Dane et al., 1970) e são circundadas por um envelope lipoprotéico derivado da membrana da célula hospedeira. Em seu interior encontra-se o 16 capsídeo icosaédrico que envolve o genoma do VHB e as enzimas virais, formando assim o core ou nucleocapsídeo (El Khouri & Santos, 2004; Schädler & Hildt, 2009; Figura 1). Figura 1 - Representação esquemática da morfologia do VHB (Perkins, 2002, adaptado). Este capsídeo apresenta duas proteínas antigênicas, a proteína do core (HBcAg) e o antígeno “e” (HBeAg) solúvel do VHB, que é uma proteína não estrutural presente no soro, indicando replicação e infectividade viral. Cada antígeno do VHB (HBsAg, HBcAg e HBeAg) induz a formação de anticorpos específicos que são denominados, anti-HBs, antiHBc e anti-HBe, respectivamente (Ferreira, 2000; Schädler & Hildt, 2009). O VHB tem uma natureza compacta que se deve a sua estrutura peculiar, uma vez que a molécula de DNA é circular, em parte fita dupla com cerca de 3,2 quilobases (kb), mas com uma região de fita simples de extensão variável (Seeger & Mason, 2000). O DNA do VHB possui quatro regiões de transcrição (Open Reading Frame – ORF) denominadas de: a) preS1/pre-S2/S responsáveis pela codificação das proteínas que constituem o envelope proteínas L (Large), M (Midlle) e S (Small), as quais constituem o HBsAg; b) pre-C/C que codificam o HBcAg e HBeAg; c) P, que transcreve a proteína terminal da fita menor de DNA e a polimerase viral; e d) região X responsável pela codificação da proteína X , que apresenta função reguladora, servindo como transativadores de transcrição, importante na replicação viral (Huy & Abe, 2004; Schädler & Hildt, 2009; Figura 3). 17 Figura 2 - Representação esquemática do genoma do VHB (Kao, 2011, adaptado). 1.2.2.2 Replicação do VHB O VHB apresenta um ciclo de replicação muito complexo com a característica fundamental de que a replicação do genoma do DNA é por transcrição reversa de um RNA intermediário, assim como os retrovírus (Ganem & Prince, 2004). Após a entrada, por endocitose, no hepatócito, mediada pela interação entre a glicoproteína de superfície, HBsAg, e o receptor da célula (mecanismo ainda desconhecido), segue-se o desnudamento e a liberação do DNA viral no citoplasma, de onde será transportado para o núcleo (Seeger & Mason, 2000). No núcleo, a ação da DNA polimerase viral converte a cadeia positiva de DNA incompleta em uma molécula de DNA de fita dupla circular e completa (cccDNA) (Seeger & Mason, 2000), que serve como molde para a transcrição de RNA polimerase. A fita mais longa é complementar aos RNA virais e por convenção possui polaridade negativa (fita negativa). Na fita de polaridade positiva, que possui uma região de fita simples, a posição da extremidade 5’ terminal é fixa, enquanto que a posição da extremidade 3’ terminal é variável. A molécula de DNA negativa serve de molde para a síntese da cadeia positiva (Seeger & Mason, 2000; Ganem & Prince, 2004; Beck & Nassal, 2007). 18 Algumas moléculas desse DNA viral formado se integram ao DNA da célula infectada e outras servem de molde para a síntese de vários RNA mensageiros (mRNA), entre eles o RNA pré-genômico, pela ação da RNA polimerase celular. O RNA pré-genômico é transportado para o citoplasma, onde serve de molde para síntese das proteínas do core (nucleocapsídeo), da proteína P e da transcriptase reversa. Esta última liga-se a região terminal do RNA pré-genômico e o complexo formado é envolvido pelas proteínas do core, seguindo-se a síntese da cadeia de DNA negativa sob a ação da enzima (Seeger & Mason, 2000; Ganem & Prince, 2004). Em seguida, o nucleocapsídeo é envolvido pelas proteínas do envelope viral, traduzidas e expressas na membrana do retículo endoplasmático, seguindo-se então o brotamento das partículas virais, através de vesículas secretoras, para fora dos hepatócitos ou transportadas novamente para o núcleo onde se completa a síntese da cadeia positiva reiniciando o ciclo replicativo (Seeger & Mason, 2000; Beck & Nassal, 2007; Figura 3). Figura 3 - Representação esquemática do ciclo replicativo do VHB (Ganem &Prince, 2004, adaptado). 19 1.2.3 Aspectos clínicos A hepatite causada pelo VHB é uma doença necroinflamatória de gravidade variável (Chisari et al., 2010), a qual o vírus não é diretamente citopático para o hepatócito infectado (Guidotti et al., 1995). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO/OMS, 2002) as manifestações clínicas dessa hepatite dependem da idade do paciente no momento da infecção, de seu estado imunológico, e do estágio da doença. O espectro de manifestações clínicas varia de hepatite aguda (incluindo hepatite fulminante) para uma estado de portador “inativo” assintomático com baixa viremia ou para a hepatite crônica progressiva, que pode evoluir para cirrose (com uma taxa de 2 para 5 % em pacientes positivos para HBeAg) e carcinoma hepatocelular- CHC (Villeneuve, 2005; Chisari et al., 2010). O risco de desenvolver doença aguda ictérica causada pelo VHB aumenta com a idade do paciente, sendo inversamente à possibilidade de cronificar (Ferreira & Silveira, 2004). Em recém-nascidos a infecção por VHB resulta em uma taxa de infecção crônica de 90%, em comparação com 30% em crianças infectadas, de 1 a 5 anos de idade, e 5% em adultos (Villeneuve, 2005). Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO/OMS, 2002) o curso clínico de uma infecção por VHB inclui um período de incubação (geralmente 4-12 semanas), doença aguda (2 semanas - 3 meses) e de recuperação para os indivíduos que resolvem sua infecção. Muitas infecções por VHB em adultos não apresentam os sintomas clássicos da icterícia. Indivíduos portadores de HBsAg no sangue por mais de seis meses são consideradas cronicamente infectados pelo VHB (CDC, 2014). Com efeito, em 60% a 80% dos casos, a infecção aguda por VHB é clinicamente assintomática, com uma doença subclínica leve, caracterizada por um aumento do nível de enzimas transaminases - transaminases séricas de alanina (ALT) e aminotransferase de ácido aspártico (AST)- associadas com altos níveis de HBsAg, HBeAg e VHB DNA (Liang, 2009; Dény & Zoulim,2010). Cerca de um terço dos adultos com infecção aguda por VHB desenvolvem sintomas e sinais clínicos de hepatite, que variam de sintomas leves, como fadiga e náuseas, a sintomas mais acentuados, como icterícia e raramente, a insuficiência hepática aguda (Liang, 2009). O curso natural da infecção pelo VHB crônica, em geral, pode ser dividido em três fases: 1) imunotolerante, a qual é mais comum em crianças que adquiriram o VHB em transmissão perinatal ou nos primeiros anos de vida, é caracterizada pela positividade do 20 HBeAg e do HBsAg, de altos níveis de carga viral (VHB DNA), aminotransferases normais ou discretamente elevadas (ALT/TGP e AST/TGO); 2) imunoativa, em que se desenvolve uma resposta imunológica que conduz à necrose dos hepatócitos, caracterizada por níveis de aminotransferases elevadas e pela diminuição da replicação viral, com moderada a severa necroinflamação hepática que pode levar à cirrose e suas complicações; e 3) não replicativa, a qual nota-se a presença no soro de HBsAg, títulos baixos ou indetectáveis de VHB DNA, aminotransferases normais, mínima lesão histológica hepática, curso assintomático e de bom prognóstico (Villeneuve, 2005; Dény & Zoulim, 2010; Figura 4). A terceira fase pode persistir indefinidamente, terminar com a soroconversão do HBsAg ou pode ocorrer reativação da hepatite, sendo caracterizada pelo aparecimento da atividade necroinflamatória do fígado (Lok & Mcmahon, 2009). As complicações da hepatite B crônica incluem progressão a cirrose e insuficiência hepática, carcinoma hepatocelular e doenças extra-hepáticas (poliarterite nodosa, glomerulonefrite e vasculite leucocitoclástica) (Villeneuve, 2005). Imunotolerante Alta infectividade VHB DNA Imunoativa Não replicativa Portador HBsAg UI/mL UI/mL Altamente positivo UI/mL UI/mL negativo Figura 4 - Representação esquemática das três fases da infecção crônica do VHB (Gerlich, 2013, adaptado). 21 1.2.5 Diagnóstico laboratorial Apenas com os aspectos clínicos não é possível identificar o agente etiológico, sendo necessária a realização de exames sorológicos. Os exames laboratoriais inespecíficos incluem as dosagens de aminotransferases (ALT/TGP e AST/TGO) que denunciam lesão do parênquima hepático; nível pode estar até 25 a 100 vezes acima do normal. As bilirrubinas são elevadas e o tempo de protrombina pode estar aumentado (TP>17), indicando gravidade (Brasil, 2010). O diagnóstico com exames específicos geralmente é feito pela pesquisa dos antígenos HBsAg e HBeAg e de anticorpos específicos: anti-HBs, anti-HBc e anti-HBe presentes no soro do paciente, através de ensaio imunoenzimático (ELISA) e pela detecção do DNA genômico e da DNA polimerase, por técnicas de biologia molecular (Ferreira, 2000). O quadro 1 contém os marcadores sorológicos encontrados na infecção pelo VHB. Quadro 1 – Marcadores sorológicos do VHB HBsAg Infecção pelo VHB, tanto aguda como crónica; HBeAg Alto nível de replicação e infectividade do VHB; marcador de resposta ao tratamento; VHB DNA Nível de replicação do VHB; principal marcador para resposta ao tratamento; anti-HBc (IgM) Infecção aguda pelo VHB; anti-HBc (IgG) Infecção crônica pelo VHB ou imunidade; anti-HBs Imunidade ou marcador de vacinação; anti-HBe Replicação e infectividade do VHB; marcador de resposta ao tratamento; anti-HBc (IgG) e anti- Infecção passada; HBs anti-HBc (IgG) e HBsAg Infecção crônica pelo VHB anti-HBc (IgG) e / ou Infecção latente ou oculta. anti-HBs e VHB DNA (PCR) (Liang, 2009, adaptado) 22 Na fase aguda, o VHB DNA seguido por HBsAg e HBeAg são os primeiros marcadores virais detectados no soro. O HBsAg pode ser detectado entre a 1ª-2ª semana ou mais tarde entre a 11ª-12ª semana após a exposição, e a sua persistência é um marcador de cronicidade. O HBeAg se correlaciona com a presença de níveis elevados de replicação do VHB e infecciosidade. Dentro de algumas semanas do aparecimento de marcadores virais, os níveis séricos de alanina e aspartato aminotransferase (ALT, AST) começam a subir e a icterícia pode aparecer (Liang, 2009; Figura 5). HBeAg anti - HBe HBsAg Figura 5 – Padrão sorológico da hepatite B aguda (Brasil, 2008). Os pacientes que desenvolvem hepatite B crônica têm um padrão inicial semelhante dos marcadores sorológicos, com aparência de VHB DNA, HBsAg, HBeAg e anti-HBc. Nestas pessoas, no entanto, a replicação viral persiste e os marcadores HBsAg, HBeAg, e VHB DNA continuam a ser detectáveis no soro, muitas vezes em títulos elevados. O curso subsequente de hepatite B crônica é bastante variável. A maioria das pessoas permanecem HBsAg-positivo durante anos e têm algum grau de lesão hepática crônica - hepatite crônica (Liang, 2009; Figura 6). 23 HBeAg anti - HBe HBsAg Figura 6 - Padrão sorológico da hepatite B crônica (Brasil, 2008). 1.2.6 Epidemiologia do VHB 1.2.6.1 Vias de Transmissão A estabilidade do vírus, variedades nas formas de transmissão e a existência de portadores crônicos permitem a existência e a persistência do VHB na população. As infecções materno-infantil (vertical) e horizontal, nos primeiros anos de vida, ocorrem em regiões de alta endemicidade como África, China e sudeste Asiático. Já em regiões de baixa endemicidade, como Europa, EUA e Austrália, a infecção ocorre na vida adulta, principalmente em grupos de risco acrescido (Brasil, 2010). A transmissão do VHB se faz mediante a exposição percutânea e das mucosas ao sangue e fluidos corpóreos contaminados, entre eles o soro, o sêmen e a saliva. A presença do HBeAg no soro se correlaciona com altas cargas virais, facilitando a transmissibilidade do vírus. Reconhece-se como vias de transmissão a percutânea/parenteral, a sexual, a vertical e a horizontal (Alter, 2003; Ferreira & Silveira, 2004). A exposição percutânea (parenteral) está relacionada ao uso de agulhas ou outros instrumentos invasivos contaminados; transfusão de sangue e hemoderivados; uso de drogas intravenosas; procedimentos odonto-médico- 24 cirúrgicos, bem como acupuntura, piercings e tatuagens, quando não respeitadas as regras de biossegurança (Ferreira & Silveira, 2004). Em adultos, o maior risco da infecção se dá através de atividade sexual de alto risco, tais como práticas sexuais sem o uso de preservativos, o elevado número de parceiros, os anos de atividade sexual e a história prévia de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). Parceiros sexuais de portadores da infecção aguda ou crônica pelo VHB, também são suscetíveis (Alter, 2003). Já em crianças uma importante via é a transmissão perinatal que compreende a passagem do vírus diretamente da mãe para o recém-nascido, usualmente no parto, por meio de contato com sangue, líquido amniótico ou secreções maternas, sendo rara a transmissão via transplacentária, leite materno ou após o nascimento (Passos, 2003). Essa transmissão apresenta risco maior para crianças nascidas de mães com altos níveis de replicação viral, ocorrendo em até 90% dos casos, quando a mãe é portadora de HBeAg, sendo mais frequente nas áreas de maior endemicidade tais como a África e sudeste da Ásia (Ferreira & Silveira, 2004; Khouri & Santos, 2004). A infecção pelo VHB em gestantes constitui um risco sério para o bebê no momento do nascimento. Em geral, quando a infecção é adquirida no período perinatal, há grande possibilidade de se tornar crônica, decorrente da tolerância imunológica própria dessa fase da vida (Ferreira & Silveira, 2004). Sem imunoprofilaxia pós-exposição, cerca de 40% das crianças nascidas de mães infectadas pelo VHB nos Estados Unidos desenvolverão infecção crônica por VHB, onde aproximadamente 25% destes irão à óbito por doença hepática crônica. A transmissão perinatal do VHB pode ser prevenida através da identificação dos indivíduos positivos para o HBsAg e fornecimento de imunoglobulina anti-VHB e vacina contra o vírus para os recém-nascidos dentro de um período de 12 horas após o nascimento (CDC, 2014). Segundo o Boletim epidemiológico das hepatites virais (Brasil, 2012) quanto à provável fonte/mecanismo de infecção, em 2010, excluídos os casos ignorados ou em branco, a provável fonte/mecanismo de infecção mais frequente é o contato sexual (61,3%), seguido de contato domiciliar (13,3%), transmissão vertical (3,0%), transfusão (1,7%), uso de drogas (0,9%), hemodiálise (0,3%), acidente de trabalho (0,3%) e outros (19,0%). 25 1.2.6.2 Soroepidemiologia Apesar de infecção pelo VHB pode ser prevenida através da vacinação a Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO) estima que mais de 240 milhões de pessoas no mundo apresentam infecção crônica pelo VHB, em risco de doença grave e morte por cirrose e carcinoma hepatocelular (CHC). Segundo as estimativas, aproximadamente, 600.000 pessoas morrem anualmente devido às consequências da infecção (WHO, 2013). As estimativas globais de prevalência variam de: (i) baixa (2%) - como é encontrado na Europa Ocidental, América do Norte, Nova Zelândia, Austrália e Japão – (ii) intermediário, como é observada na Europa Oriental (2% - 7%) e Índia (4 %); (iii) alta (> 8%), como o descrito na África, no Sudeste Asiático e na China (15% e 20%), e (iv) muito alta, como encontrado em tibetanos no Nepal, 61% (Shrestha et al.,2002). Estudos têm mostrado uma prevalência do VHB de 6,6%, em Istambul, na Turquia (Erden et al.,2003), 5,1% na Coréia (Lee et al.,2002), 4% em Cingapura (James et al., 2001), e 0,005 % na Província de Guangdong, na China (Huang et al.,2002). Na América Latina, as maiores taxas foram encontradas na República Dominicana (21,4%) e no Brasil (7,9%), seguido pela Venezuela (3,2%) e Argentina (2,1%). Os menores valores foram encontrados no México (1,4%) e Chile (0,6%) (Tanaka, 2000; Figura 7). Ott et al. (2012) encontraram um grande numero de portadores de HBsAg em todas as regiões da África Subsaariana, da Ásia e, em menor medida, na Oceania e América Latina. A maioria das outras regiões com renda alta e média mostrou uma variação de maior e menor endemicidade intermediária de VHB. Apenas algumas regiões demonstraram prevalência abaixo de 2%, entre estas estavam América Latina, América do Norte e Europa Ocidental. De acordo com estes autores houve uma diminuição global na prevalência de HBsAg em grupos etários mais jovens (0 a 14 anos), o que pode estar intimamente relacionado a ampla imunização contra a hepatite B, principalmente em regiões de baixa renda. 26 Alta Intermediária Baixa Figura 7 - Prevalência de infecção por VHB (Gerlich, 2013, adaptado). No período de 1999 a 2011, foram notificados no Sinan (Sistema de Informação de Agravos de notificação) 120.343 casos confirmados de hepatite B no Brasil, sendo a maior parte deles notificados nas regiões Sudeste (36,3%) e Sul (31,6%). Em 2010, a Região Sul apresentou a maior taxa de detecção (14,3), seguida da Região Norte (11,0), enquanto que a Região Nordeste apresentou a menor taxa de detecção (2,5) para esse ano (Brasil, 2012). No Brasil, com toda a sua diversidade étnica, econômica e regional, a infecção pelo VHB também tem distribuição muito heterogênea, com tendência a aumentar no sentido sulnorte (Souto, 1999; Figura 8). O Ministério da Saúde (2010) descreve três padrões de distribuição da hepatite B no Brasil: alta endemicidade, presente na região Amazônica, e em alguns locais do Espírito Santo e oeste de Santa Catarina; endemicidade intermediária, nas regiões Nordeste, Centro-oeste e Sudeste; e baixa endemicidade, na região Sul do país, entretanto, esse padrão não deve ser generalizado (Brasil, 2010). 27 Figura 8 – Distribuição da prevalência do HBsAg no Brasil (Souto, 1999,adaptado). Entre as regiões brasileiras, há variações de prevalência, sendo de 66,1% na Amazônia Ocidental, que é considerada de alta endemicidade para o VHB, 21% em Manaus, 40% no Rio de Janeiro e até 1,2% em Fortaleza. Um estudo realizado em uma comunidade afrodescendente em Mato Grosso do Sul revelou prevalência de 42,7%. Na mesma região, no estado de Goiás uma prevalência de 50,7% foi encontrada em indivíduos com evidência clínica de hepatite (Souto et al., 2004). De acordo com o estudo de Tauil et al. (2012), a mortalidade por hepatite B no Brasil, no período de 2000 a 2009, manteve-se constante, sendo registradas 5.441 mortes pela infecção neste período . Em associação com a hepatite B, outros vírus também assumem grande interesse epidemiológico, em especial o Vírus da hepatite Delta (VHD) e o Vírus da imunodeficiência humana-1 (HIV-1). Na população mundial, estima-se 18 milhões de co-infecções VHB/VHD, com as maiores prevalências em áreas do Mediterrâneo, da África central e da Amazônia ocidental brasileira, peruana e venezuelana (Fonseca, 2002). Trabalhos de revisão sobre a hepatite delta na Amazônia (Braga et al., 2001; Fonseca, 2002), indicam prevalência em torno de 20% em população não indígena e de até 7,7% em grupos de ameríndios, com rotas de transmissão semelhante ao do VHB, predominando a intrafamiliar, percutânea e sexual. No mundo, em especial em áreas endêmicas, a infecção pelo VHD provoca formas graves de 28 hepatite, determinando hepatite fulminante, o agravamento das lesões de hepatite crônica e potenciando a rápida progressão para cirrose (Fonseca, 2002). A coinfecção entre os Vírus da imunodeficiência humana (HIV) e o VHB pode ser justificada pelas vias comuns de infecção ao vírus, principalmente a sexual e a parenteral. O VHB circula em altas concentrações no sangue e, também, pode ser encontrado em outros fluidos corporais, como sêmen e secreção vaginal, sendo 50 a 100 vezes mais infectante que o HIV (Fonseca, 2002). Estima-se que 70-90% dos pacientes soropositivos para o HIV apresentem marcadores sorológicos de infecção pregressa pelo vírus da hepatite B. A infecção crônica pelo VHB ocorre em 5,0 a 10,0% dos indivíduos infectados pelo HIV, ou seja, uma proporção dez vezes àquela observada na população geral (Alter, 2006). O estado imunitário é considerado importante para o declínio e perda de HBsAg, portanto, a co-infecção com HIV influencia desfavoravelmente no curso da hepatite B crônica (Jaroszewicz et al.,2012). Houve uma alta taxa de mortalidade detectada na Região Norte, o qual pode estar relacionada à elevada prevalência de hepatite B nessa região, além da coinfecção/superinfecção por hepatite D, principalmente entre as populações indígenas. Essa região também apresentou maior concentração de óbitos em um grupo etário mais novo (Braga et al.,2001). No ano de 2008, a taxa de mortalidade padronizada por hepatite B foi maior na Região Norte, 0,9 por 100 mil habitantes, seguida da Região Centro-oeste, 0,5 por 100 mil habitantes. A Região Nordeste foi a que apresentou as menores taxas, sendo de 0,1 por 100 mil habitantes de 2000 a 2005 e de 0,2 por 100 mil habitantes de 2006 a 2009 (Tauil et al., 2012). A taxa de prevalência de portadores do HBsAg encontrada em Lábrea (Amazonas) identifica um padrão de endemicidade moderada (3,3%), porém cerca de três vezes maior que a referida para a cidade de São Paulo (Braga et al., 2005). Na região Sul, a região oeste de Santa Catarina apresenta prevalência moderada e o oeste do Paraná, alta endemicidade. Toda a região Sudeste apresenta baixa endemicidade, com exceção do sul do Espírito Santo e do nordeste de Minas Gerais, onde ainda são encontradas altas prevalências (Brasil, 2010). O estudo de Aquino et al. (2008) identificou uma prevalência de HBsAg no Estado do Pará de 3,6%, com predomínio na faixa etária entre 20 a 29 anos, enquanto que o anti-HBc foi observado em 37,7% do total de indivíduos. Assim, as frequências dos marcadores encontradas no Pará foram mais altas que em vários outros estados do país, sugerindo a necessidade de medidas de saúde publica mais eficazes no combate a estes agravos na região. No período de 1999 a 2011, foram notificados no Sinan 15.571 casos de hepatite B na Região Norte (Brasil, 2012), o que corresponde a 13,1% do total de casos no Brasil, a maioria dos 29 quais no estado do Acre (27,7%), seguido por Rondônia (24,5%) e Amazonas (22,8%). Na Amazônia, a promiscuidade domiciliar e as más condições higiênico-sanitárias, associadas a fatores ambientais pouco esclarecidos, geraram um padrão epidemiológico no qual os indivíduos são precocemente infectados (Souto et al., 2004). Quanto às variações da soroepidemiologia da hepatite B em crianças e adolescentes no mundo, Jafri et al.(2006) encontraram uma prevalência de 1,8% no Paquistão; Ali et al. (2009), também no Paquistão, verificaram que a média de AgHBs na população pediátrica é de 2,4%. Alizadeh et al., em 2006, na Republica Islâmica do Irã, verificaram 2,3% para AgHBs e 7,8% para anti-HBc, em indivíduos maiores de 5 anos. Kangin et al. (2010) em seu estudos com crianças e adolescentes da Turquia, nos anos de 2005 a 2008, encontraram prevalência de HB de 8,1%. Clemens et al., entre abril de 1996 e maio de 1997, realizaram um estudo soroepidemiológico, transversal, multicêntrico, baseado na população em 6 países latinoamericanos: Brasil, Argentina, Chile, República Dominicana, México e Venezuela. Eles encontraram um soroprevalência geral de anticorpos anti-HBc no Brasil de 7,9%, e encontraram uma maior prevalência do VHB na região norte brasileira (21,4%), com a infecção pelo vírus observada em idades precoces, com uma soroprevalência de anti-HBc de 3,1% em crianças de um ano de idade, e houve um aumento significativo na taxa de infecção de adolescentes para adultos jovens, com a prevalência de anticorpos anti-HBc quase triplicando. Livramento et al.(2011), que realizou seu estudo com crianças e adolescentes de Santa Catarina-RS, encontrou uma prevalência do VHB de 1,02%; Scaraveli et al.(2011) encontraram uma prevalência de anti-HBc de 1,4% entre crianças e adolescentes escolares de São Paulo, e Ciacciai et al.,(2014), identificou uma prevalência de marcadores sorológicos reagentes para hepatite B de 0,13% também em São Paulo. Na região amazônica pesquisas com crianças e adolescentes encontraram altas prevalências de HB, como o de Bensabath et al. (1987) e Souto et al.(1998). As pesquisas de Assis et al.(2004), Souto et al . (2004) e Braga et al. (2005), encontraram prevalências de VHB em crianças na Amazônia brasileira, respectivamente, de 11,1%, 6,6% e 26,9%. 30 1.2.7 Tratamento Não existe tratamento específico para a forma aguda. Se necessário, apenas sintomático para náuseas, vômitos e prurido. Como norma geral, recomenda-se repouso relativo até, praticamente, a normalização das aminotransferases. Dieta pobre em gordura e rica em carboidratos é de uso popular, porém seu maior benefício é ser mais agradável para o paciente anorético. A única restrição relaciona-se à ingestão de álcool, que deve ser suspensa por seis meses, no mínimo, sendo preferencialmente por um ano. Medicamentos não devem ser administrados sem recomendação médica, para não agravar o dano hepático. As drogas consideradas “hepatoprotetoras”, associadas ou não a complexos vitamínicos, não têm nenhum valor terapêutico (Brasil, 2010). Os preditores mais importantes de cirrose ou carcinoma hepatocelular, em pessoas que têm infecção crônica pelo VHB, são o VHB DNA e os níveis de ALT no sangue, os quais estão persistentemente elevados. Outros fatores de risco incluem a infecção pelo genótipo C do VHB, gênero masculino, idade avançada, história familiar de carcinoma hepatocelular, e co-infecção com HIV ou VHC (Belongia et al.¸ 2008). A forma crônica da hepatite B tem diretrizes clínico-terapêuticas definidas pelo Ministério da Saúde, e devido à alta complexidade do tratamento, o acompanhamento e manejo dos efeitos colaterais, devem ser realizados em serviços especializados (Brasil, 2010). Os principais objetivos do tratamento anti-VHB são para evitar o desenvolvimento de doença progressiva, especificamente cirrose e insuficiência hepática, bem como o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular e subsequente morte (Belongia et al.¸ 2008). Os pacientes com complicações crônicas exigem tratamento antiviral urgente. Uma melhora clínica significativa pode ser associada com o controle da replicação viral. Em pacientes com doença hepática muito avançada deve ser considerado o transplante de fígado. Fatores do hospedeiro e virais, além de co-infecção com outros vírus, em especial o VHC, o HIV ou a infecção satélite pelo VHD, em conjunto com outras co-morbidades, incluindo o uso de álcool e exposição à aflatoxina B1, pode afetar o curso natural da infecção pelo VHB e a eficácia das estratégias antivirais (Dény & Zoulim, 2010). Os fármacos atualmente disponíveis são divididos em dois grupos principais: imunomoduladores que incluem o interferon (IFN) alfa e o interferon peguilado (Peginterferon), e Análogos de Nucleotídeos (AN), tais como a lamivudina (LMV), o adefovir dipivoxil (ADV), o entecavir (VTA) , o tenofovir (TDF) e a telbivudina (LDT). Estas terapias 31 aprovadas estão associadas a melhorias nos biomarcadores, incluindo o VHB DNA, perda de HBeAg ou soroconversão, com diminuição dos níveis de ALT, e melhora da histologia hepática (Dény & Zoulim, 2010; Price, 2014). Os objetivos do tratamento são para suprimir a replicação viral, alcançando o nível mais baixo possível, desse modo diminuindo a progressão da doença hepática e prevenindo o aparecimento de complicações. O desfecho ideal da terapia é a sustentada perda de HBsAg com soroconversão para anti-HBs. Isto pode indicar a proteção imune evitando recaídas viral na maioria dos pacientes (Dény & Zoulim, 2010). O progresso no tratamento contra o VHB com o desenvolvimento dos análogos nucleotídeos (AN), tem melhorado a evolução de pacientes com cirrose descompensada e impedindo a recorrência pós-transplante (Cholongitas & Papatheodoridis, 2013). 1.2.8 Prevenção e controle Medidas de controle e prevenção incluem a profilaxia pré-exposição, pós-exposição; o não-compartilhamento ou reutilização de seringas e agulhas; triagem obrigatória dos doadores de sangue; inativação viral de hemoderivados; praticas sexuais seguras com uso de preservativos, inclusive minimizando o número de parceiros; e medidas adequadas de biossegurança nos estabelecimentos de saúde (Brasil, 2010). A vacina tem um excelente histórico de segurança e eficácia, desde 1982, mais de um bilhão de doses de vacina contra a hepatite B têm sido utilizadas no mundo inteiro (WHO, 2013). A vacinação é o método mais eficaz para a diminuição na prevalência de infecção por VHB, portanto seu objetivo é o de reduzir a prevalência de portadores de hepatite B crônica, assim como prevenir a ocorrência de hepatite B aguda (Known & Lee, 2011). No Brasil, os estudos realizados a partir da década de 1990 indicam redução na endemicidade da infecção pelo VHB, isso se deve, provavelmente, à instituição, em 1998, da vacinação universal contra hepatite B para menores de um ano e a posterior ampliação, a partir de 2001, de sua oferta gratuita para menores de 20 anos (Tauil et al., 2012) e mais recentemente para adultos até 49 anos (Brasil, 2014). O padrão de endemecidade vem se modificando com a política de vacinação contra o VHB, iniciada sob a forma de campanha em 1989, no estado do Amazonas, e de rotina a partir de 1991, em uma sequência de inclusão crescente de estados e faixas etárias maiores em função da endemicidade local (Brasil, 2010). Taiwan foi o primeiro país a começar com a 32 vacinação infantil universal em 1984. Naquela época, a taxa de transmissão perinatal era extremamente elevada, com uma taxa de portadores de HBsAg de 10%. Vinte anos depois do inicio da vacinação, apenas 1,2% das pessoas eram portadoras do HBsAg (Su et al., 2012). Embora carcinoma hepatocelular seja uma doença, que afeta principalmente pessoas de idade avançada, o impacto da vacinação rapidamente se tornou evidente em crianças e adolescentes, pois sua incidência caiu significativamente de 0,57 para 0,17 em 100.000 pessoas/ano após o início da vacinação em massa. Assim, a vacina para hepatite B foi a primeira vacina eficaz contra uma forma específica de câncer (Chang et al., 2009), diminuindo a incidência da infecção e dos casos de doença hepática crônica e/ou do câncer de fígado (Known & Lee, 2011). Vacinas contra hepatite B têm sido avaliadas em ensaios clínicos para determinar o nível de proteção dos anticorpos (anti-HBs) formados. As pessoas que respondem a vacina com títulos de anti-HBs de 10 IU/mL ou mais são protegidas contra a infecção aguda e crônica. A resposta de anticorpos à vacina é de 90% em adultos saudáveis e de 95% nos recém-nascidos, nas crianças e nos adolescentes (Known & Lee, 2011). No Brasil, a vacina contra hepatite B está disponível no SUS para faixas etárias específicas e para indivíduos em situação de maior vulnerabilidade. Em recém-nascidos, a primeira dose da vacina deve ser aplicada logo após o nascimento, nas primeiras 12 horas de vida, para evitar a transmissão vertical. O esquema básico de vacinação é de três doses, com intervalo de um mês entre a primeira e a segunda dose e de seis meses entre a primeira e terceira dose. O volume a ser aplicado é de um mL, em adultos, e 0,5 mL, em menores de 11 anos, a depender do laboratório produtor (Brasil, 2010). Imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB) é preparada a partir de plasma humano de indivíduos que contêm um elevado título de anticorpos anti-HBs, sendo recomendada como profilaxia pós-exposição, em situações de risco, tais como: exposição perinatal, exposição da membrana mucosa ou percutânea ao vírus, e exposição sexual com um portador de VHB. É também usado para reduzir o risco de infecção por VHB recorrente após o transplante de fígado (Brasil, 2010, Know & Lee, 2011). 33 1.3 O VÍRUS DA HEPATITE C 1.3.1 Taxonomia O Virus da Hepatite C (VHC) é a única espécie do gênero Hepacivirus que por sua vez pertence à família Flaviviridae, (ICTV, 2013). O VHC naturalmente infecta apenas humanos e chimpanzés (Kapoor et al., 2011). 1.3.2 Biologia 1.3.2.1 Estrutura morfológica e organização genômica O VHC possui diâmetro de, aproximadamente, 55 a 65 nm, seu capsídeo é icosaedríco, formado pela proteína C (core) e o envelope contendo dois tipos de glicoproteínas de superfície, E1 e E2 (Szabó et al., 2003; Figura 9), tem genoma RNA de fita simples, de polaridade positiva, com, aproximadamente, 9.600 nucleotídeos, flanqueada pelas regiões não traduzidas (NTR) 5’ e 3’(Szabó et al., 2003; Chen & Morgan, 2006). Contém uma longa e única janela de leitura aberta - ORF (open reading frame), que codifica uma poliproteína com 3.010-3.033 aminoácidos (Lohmann et al., 2001; Szabó et al., 2003). Envelope Glicoproteínas – E1 e Capsídeo E2 RNA viral Figura 9 - Estrutura morfológica do VHC (Perkins, 2002, adaptado). 34 Esta proteína posteriormente é clivada, mediante a ação de enzimas virais e do hospedeiro, e dá origem a três proteínas estruturais (C, E1 e E2), que parecem estar ligadas a funções específicas como fusão com a membrana celular e escape imune e sete não-estruturais (NS1, NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e NS5B; Figura 10), da parte restante da proteína, envolvidas nos processos de clivagem da poliproteína e na replicação viral (Lohmann et al., 2001; Szabó et al., 2003; Lyra et al., 2004 ). Figura 10 - Estrutura Genética do VHC (Anzola & Burgos, 2003, adaptado). A proteína C (core) é a primeira proteína estrutural a ser traduzida e está envolvida na formação do nucleocapsídeo viral, a qual constituída de uma seqüência de 191 aminoácidos altamente conservada e possui um peso molecular de 20 kDa (Rosenberg, 2001). A proteína do core tem numerosas funcionalidades que envolvem a ligação do RNA, imunomodulação, a sinalização celular, potencial oncogênico e autofagia. A Proteína do core do VHC também se associa com os corpúsculos lipídicos ou adipossomas, onde é feita a montagem do VHC (Kim & Chang, 2013). É ainda importante na prática clínica, pois é imunogênica, interagindo com numerosas proteínas celulares, induzindo resposta imune celular e humoral; e atua como marcador indireto de replicação viral (Bouvier- Alias et al., 2002). A glicoproteína E1 é usada para propósitos clínicos nos testes de genotipagem (Lyra et al., 2004). A E2 apresenta uma região hipervariável 1 (HVR1), sendo a região mais variável do genoma, contribuindo para o escape viral aos anticorpos neutralizantes do sistema imune do hospedeiro (Szabó et al., 2003) e contribuindo também para a persistência do VHC (Kim & Chang, 2013). Os genes não estruturais codificam proteínas cuja designação segue a ordem de tradução de NS1 a NS5. Algumas destas proteínas constituem o sistema enzimático necessário à replicação viral, e outras têm funções de ligação às células do hospedeiro, 35 desempenhando um papel importante na persistência da infecção, segue o quadro com as proteínas virais e suas respectivas funções (Bartenschlager & Lohmann, 2000; Quadro 2). Quadro 2 - Proteínas do VHC e a suas funções Proteína Core (C) E1 E2 NS1 NS2 Função Proteína de ligação ao DNA, forma o capsídeo viral. Glicoproteína de envelope Glicoproteína responsável pela ligação aos receptores celulares. Funciona como um possível canal iônico de cálcio. Juntamente com a proteína NS3, cliva o local entre as proteínas NS2 e NS3. Componente da protease NS2-3 e da NS3-4A, responsável pela clivagem NS3 de poliproteínas. Desempenha também funções de NTPase e de helicase. Cofator da protease NS3-4A. NS4A Responsável pela associação do complexo de replicação. Possíveis NS4B funções de inibição da síntese celular e indução da interleucina 8. Papel importante na replicação viral através da formação do complexo de NS5A replicação e na regulação das vias celulares. RNA polimerase dependente de RNA. Responsável pela síntese das NS5B cadeias positivas e negativas de RNA. Fonte: Tan et al. (2002) e Tan (2006), adaptado. Na última década, a compreensão básica de virologia e ciclo de vida do HCV tem avançado consideravelmente com o desenvolvimento de sistemas de cultura de células (Kim & Chang, 2013). O VHC é um vírus de RNA que não se integra no DNA da célula hospedeira e seu ciclo de replicação inclui a ligação viral, a entrada, a fusão, a tradução do RNA viral, processamento pós-tradução, replicação do VHC, montagem viral e liberação do VHC. Cada uma dessas etapas fornece alvos potenciais para novas terapias antivirais para curar a infecção por VHC e evitar as consequências adversas da doença hepática progressiva (Kim & Chang, 2013; Figura 11). 36 Figura 11 - Ciclo de replicação do VHC (http://www.tibotec.com/ content/backgrounders/www.tibotec.com/hcv_lifecycle.html, adaptado). 1.3.4 Aspectos clínicos Duas características da história natural do VHC conferem à doença uma enorme importância médico-sanitária: o longo período em que a infecção permanece completamente assintomática, e a sua capacidade de se tornar crônica em até 85% dos infectados, elevando o risco de desenvolvimento de complicações graves, como cirrose hepática e câncer de fígado. A hepatite C vem sendo apontada como a mais importante pandemia desse início de século 21, sendo responsável já pela maioria dos casos de transplantes de fígado em inúmeros países (Ferreira & Silveira, 2004; Passos, 2006). O período de incubação da hepatite C varia de 15 a 150 dias (média de 50 dias), com um período de transmissibilidade que se inicia com uma semana antes dos sintomas 37 aparecerem e se mantem enquanto o paciente apresentar RNA-VHC detectável (Brasil, 2010). Embora seus sintomas clínicos sejam similares aos de outras formas de hepatites agudas virais, alguns sintomas aparecem somente em um terço dos indivíduos com hepatite aguda por VHC, visto que esta geralmente é assintomática. Além disso, o VHC raramente causa hepatite fulminante (Zen, 2003). A hepatite aguda C é definida como sinais clínicos ou sintomas de hepatite e (ou) soroconversão de anticorpos dentro de seis meses de exposição presumida. Apenas 16% dos pacientes são sintomáticos. Os sintomas podem incluir fadiga / letargia, mialgias, febre baixa, náuseas e vómitos, dor no quadrante superior direito e icterícia. Aproximadamente 25% dos pacientes vai eliminar a infecção espontaneamente no prazo de seis meses após a infecção, mas 75% evoluem para hepatite crônica. Icterícia, hepatite sintomática, e a presença do genótipo IL28B, estão associados com a eliminação espontânea da infecção. Anticorpos não são protetores e os pacientes podem ser infectados novamente com os mesmos ou outros genótipos do VHC após re-exposição (Holmes et al., 2013). A manutenção do RNA-VHC por mais de seis meses após a infecção caracteriza a infecção crônica (Ferreira & Silveira, 2004) que é geralmente assintomática, mas podem ter sintomas inespecíficos como fadiga, náuseas e desconforto no quadrante superior direito, estes sintomas não se correlacionam com a gravidade da doença ou progressão. Os fatores associados à progressão mais rápida da doença incluem a ingestão significativa de álcool (> 40 g/L), a co-infecção com hepatite B ou HIV, idade acima de 40 anos na aquisição da infecção, gênero masculino, o uso da maconha e obesidade (Holmes et al., 2013). Em média, de 25 a 30% dos pacientes evolui para formas histológicas graves, num período de 20 anos. Esse quadro crônico pode ter evolução para cirrose e hepatocarcinoma, fazendo com que o VHC seja, hoje em dia, responsável pela maioria dos transplantes hepáticos no Ocidente. O uso concomitante de bebida alcoólica, em pacientes portadores do VHC, determina uma maior propensão para desenvolver cirrose hepática (Brasil, 2010). A co-infecção pelo VHC e pelo HIV é relativamente frequente entre os usuários de drogas ilícitas e entre os hemofílicos, ocorrendo entre 50% e 75% dos casos (Ferreira & Silveira, 2004). Estas infecções apresentam similaridades em seu mecanismo de transmissão, o que justifica a frequência de co-infecções (Holmes et al., 2013). A presença da infecção pelo HIV parece acelerar a evolução da infecção crônica pelo VHC para a cirrose e para a descompensação hepática, principalmente entre os mais imunodeprimidos. A resposta virológica sustentada ao tratamento com interferon alfa e ribavirina é inferior àquela encontrada em monoinfectados pelo VHC (Ferreira & Silveira, 2004). 38 1.3.5 Diagnóstico laboratorial Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2010) apenas com os aspectos clínicos não é possível identificar o agente etiológico, sendo necessário a realização de exames sorológicos para o diagnostico da infecção. Os exames laboratoriais inespecíficos incluem as dosagens de aminotransferases – ALT/TGP e AST/ TGO – que denunciam lesão do parênquima hepático. A definição do agente é feita pelo marcador sorológico anti-VHC, o qual indica contato prévio com o agente, entretanto não define se é infecção aguda ou pregressa, assim como, se evolui para cura espontânea ou ocorre a cronificação. A presença do vírus deve ser confirmada pela pesquisa qualitativa de VHC-RNA. Existem dois tipos de testes sorológicos: os que adotam a técnica ELISA, de alta sensibilidade, usados no rastreamento da infecção; e os que utilizam a técnica immunoblot, de maior especificidade, denominados por isso suplementares ou confirmatórios. Em relação às técnicas de biologia molecular, existem vários testes. Um deles possibilita a detecção do RNA do vírus, sendo útil para estabelecer o diagnóstico de infecção em situações específicas, como na fase inicial da infecção, em pacientes imunossuprimidos ou com baixa probabilidade de estarem infectados; e manejo terapêutico. Outros testes de biologia molecular possibilitam determinar a carga viral, mediante amplificação do alvo, como na reação em cadeia de polimerase (PCR), ou amplificação de um sinal, como na técnica do DNA ramificado (branched DNA) (Brandão et al., 2001). 1.3.6 Epidemiologia do VHC 1.3.6.1 Vias de Transmissão Antes da década de 1990, as principais vias de infecção pelo VHC ocorriam pela transfusão de sangue, procedimentos de injeção inseguros e abuso de drogas por via intravenosa. Estes modos de aquisição são estimados a representar cerca de 70% dos casos em países industrializados. Evidências epidemiológicas mostram que uma onda de infecção pelo VHC ocorreu no período 1945-1965 nos países ocidentais, devido um aumento no uso de 39 injeções, hemoderivados e drogas ilícitas, após a Segunda Guerra Mundial (Ferreira & Silveira, 2004; El-Shabrawi & Kamal, 2013). A triagem de hemoderivados para o VHC por meio de ensaios imunoenzimáticos e agora, em um número crescente de países, por meio de testes de ácido nucleico (NAT) tem praticamente erradicado a transfusão do VHC por transfusão. Atualmente, as novas infecções por VHC são principalmente devido ao abuso de drogas por via intravenosa ou nasal, e em menor grau para procedimentos médicos ou cirúrgicos inseguros (El-Shabrawi & Kamal, 2013). Porem nos países em desenvolvimento, a triagem insuficiente de sangue, hemoderivados e exposição parenteral continuam sendo as principais causas de transmissão do VHC. O uso inseguro e reutilização de material de injeção em hospitais ainda é uma ameaça em muitas partes da África (Alter, 2007; Zaltron et al., 2012). A transmissão sexual é pouco frequente e ocorre principalmente em pessoas com múltiplos parceiros e com prática sexual de risco (sem uso de preservativo), sendo que a coexistência de alguma IST constitui-se um importante facilitador dessa transmissão (Brasil, 2008; 2010). O risco de transmissão heterossexual é baixo, enquanto os dados recentes indicam que a atividade homossexual masculina promíscua está relacionada com maior risco de infecção por VHC (Alter, 2007; Zaltron et al., 2012). A transmissão vertical do VHC é relatada ocorrer em cerca de 5% dos casos, principalmente no período intra-uterino tardio, no parto ou no período perinatal (El-Shabrawi & Kamal, 2013). Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2010) a média de infecção em crianças nascidas de mães VHC positivas é de, aproximadamente, 6%. A transmissão pode estar associada à duração do trabalho de parto, ao genótipo e à carga viral materna elevada. Apesar da possibilidade da transmissão pelo aleitamento materno (partículas virais foram demonstradas no colostro e leite materno), não há evidências conclusivas de aumento do risco à transmissão, exceto na ocorrência de fissuras ou sangramento nos mamilos (Brasil, 2010; El-Shabrawi & Kamal, 2013). 1.3.6.2 Soroepidemiologia Independente da via de transmissão as estimativas apontam para prevalência global em torno de 2% a 3%, ou seja, entre 123 milhões e 170 milhões de pessoas infectadas pelo VHC em todo o mundo (Wasley & Alter, 2000; Alter, 2007). O VHC é a principal causa de morte 40 de 350.000 pessoas a cada ano, representando também a principal razão para o transplante de fígado (Zaltron et al., 2012). Apesar da infecção pelo VHC ser considerada endemia mundial, existe uma grande variação geográfica de sua distribuição (Wasley & Alter, 2000; Alter, 2007). A prevalência varia de consideravelmente baixa (<2,5 %) na América do Norte, Europa, Austrália e Extremo Oriente, intermediária (2,5% a 10%) em alguns países do Mediterrâneo, América do Sul, África e Oriente Médio e alta prevalência (> 10%) no Egito, Burundi, Gabão, Camarões, Ruanda, Guiné, Bolívia, Mongólia, com uma tendência de aumento constante norte-sul. Estima-se que na Europa, nove milhões de pessoas são afetadas pela hepatite C crônica e 86.000 pessoas morrem a cada ano por causa de infecção pelo VHC. Neste continente, cerca de 60-70% dos casos de carcinoma hepatocelular são causados por VHC e dados de vários países europeus sugerem que a mortalidade por câncer de fígado está aumentando (Zaltron et al., 2012, Figura 12). Prevalência da infecção por VHC Figura 12 - Prevalência de infecção por VHC (WHO, 2008, adaptado). Existe um número limitado de trabalhos relacionando a prevalência da infecção pelo VHC às diferentes faixas etárias, e esses demonstram não apenas as variações regionais, mas 41 temporais que refletem épocas de maior risco de transmissão do VHC em cada região. Nesses trabalhos percebem-se ao menos três padrões epidemiológicos distintos (Figura 13). O primeiro deles ocorre em países como Estados Unidos e Austrália, em que há maior prevalência do VHC na população entre 30 e 39 anos e menor prevalência nas pessoas abaixo de 20 e acima de 50 anos, nesse caso, especula-se que as maiores taxas de transmissão do positivo (%) Anti – VHC VHC tenham acontecido em um passado recente, entre 10 e 30 anos (Wasley & Alter, 2000). Figura 13 – Padrões da prevalência da positividade para o anti-VHC de acordo com a faixa etária (Wasley & Alter, 2000, adaptado). Outro padrão ocorre na Turquia, Espanha, Itália, Japão e China, onde a maioria dos infectados pelo VHC estão acima dos 50 anos, o que pode indicar maior risco de infecção em um passado distante, aproximadamente entre 40 e 60 anos. O terceiro padrão é aquele que ocorre no Egito, em que há aumento do número de casos com a idade e ao mesmo tempo grande número de casos em todos os grupos etários, indicando risco aumentado de transmissão em um passado distante que se mantém de forma contínua (Wasley & Alter, 2000; Alter, 2007). O Brasil é um país de proporções continentais e, portanto, com grandes variações demográficas, sociais e culturais entre as diferentes regiões. Um inquérito realizado pela Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) revelou que dos 1.173.406 doadores de sangue avaliados, 14.527 (1,23%) foram reativos para o anti-VHC. A Figura 14 exibe a distribuição espacial da prevalência de positividade para o anti-VHC segundo os Estados (SBH, 1999). 42 Figura 14 – Prevalência da positividade para o anti-VHC em doadores de sangue nos diferentes estados brasileiros (SBH, 1999). As maiores taxas de prevalência foram observadas nos Estados da região Norte (2,12%). A região Sul, por sua vez, mostrou baixa prevalência de positividade para o antiHCV (0,65%). As regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste apresentaram taxas intermediárias, 1,04%, 1,19% e 1,43%, respectivamente (SBH, 1999). No entanto segundo Martins et al. (2011) a utilização de um grupo específico como os doadores de sangue limita a extrapolação dessas estimativas para a população geral. Em 1998, um estudo de base populacional publicado por Focaccia et al., relataram prevalência de 1,42% de positividade para o anti-VHC em 1049 residentes do município de São Paulo. As maiores prevalências foram observadas nos indivíduos acima de 30 anos, sendo o pico de 3,8% observado na faixa etária entre 50 e 59 anos. A maior prevalência de hepatite C observada após os 50 anos de idade sugere infecção em um passado distante, sendo possível um deslocamento gradual entre as faixas etárias, com tendência de a maioria dos casos se concentrarem entre os idosos (Focaccia et al.,1998). Oliveira-Filho et al. (2010) encontraram uma soroprevalência de anticorpos contra o VHC de 0,22% no Pará (PA). Estes números diferem do que foi relatado em estudos 43 anteriores entre doadores de sangue neste mesmo Estado, 0,5-2 % (SBH 1999), confirmando que o Estado do Pará pode ser considerado de baixa endemicidade para a infecção pelo VHC (≤ 2 %). Em um estudo realizado na comunidade ribeirinha da ilha do Pacuí no município de Cametá, no Estado do Pará, foi encontrada uma taxa de 8,8% para anti-VHC, o que caracteriza a comunidade estudada como uma região de elevada prevalência de VHC. Supõese que, em comunidades ribeirinhas, a prevalência de infecções causadas por VHC pode ser diretamente relacionada com fatores demográficos, socioeconômicos, características culturais, históricas e genéticas entre a população estudada, assim como a outros desconhecidos (Oliveira et al.,2011). Quanto às variações da epidemiologia da hepatite C em crianças e adolescentes no mundo, Kangin et al. (2010) encontraram uma prevalência de anti-VHC de 0,5% nas crianças de 0-14 anos na Turquia; El-Shabrawi et al. (2013) observaram que prevalência da infecção pelo VHC em crianças varia de 0,05% a 0,36% nos Estados Unidos e na Europa; até 1,8% a 5,8% em alguns países em desenvolvimento. De acordo com Uhanova et al. (2012) a maior prevalência de HCV está na África Subsaariana (5,3%), seguido do Mediterrâneo Oriental (4,6%), Pacífico Ocidental (3,9%) e Sudeste da Ásia (2,15%). No Brasil Focaccia et al., em 1998, encontraram uma prevalência do anti-VHC, no município de São Paulo, de 0% em crianças de 2 a 4 anos, de 0,93%, no grupo etário de 5 a 9 anos e de 0%, nos adolescentes de 10 a 14 anos. Segundo o Relatório do Grupo de Estudo da Sociedade Brasileira de Hepatologia (1999), com dados oriundos dos Estados Amazonas, Bahia e Mato Grosso, o anti-VHC na população de escolares foi de 0,20%. Ciacciai et al. (2014) encontraram uma prevalência para o VHC de 0,02% (1 caso) entre 4.680 crianças e adolescentes de São Paulo. Voigt et al. (2010), Livramento et al. (2011) e Scaraveli et al. (2011) não encontraram nenhum caso de hepatite c entre as crianças e adolescentes examinadas em suas pesquisas no sul do Brasil. Villar et al. (2014) encontraram prevalência de 0,2% no Rio de Janeiro, no período de 1999 a 2012. Menegol & Spilki (2013) encontraram prevalência de 0,7% entre as crianças de 0 a 10 anos na região Sul brasileira. Na Amazônia brasileira Aquino et al. (2008) encontram prevalência de 3,2% entre crianças de 0 a 9 anos no Pará. (positividade aos marcadores do VHB, excetuando-se o anti-HBs de forma isolada e ao anti-VHC simultaneamente). 44 1.3.7 Tratamento A infecção pelo VHC é uma doença curável e a erradicação viral evita as complicações hepáticas a longo prazo da infecção (Holmes et al.,2013). O objetivo do tratamento é conseguir uma resposta virológica sustentada, ou seja, não ter RNA viral detectável após a conclusão da terapia anti-viral, consequentemente melhores resultados clínicos, menores taxas de morbidade e mortalidade por todas as causas, e de estabilização ou mesmo de melhora da histologia hepática (Dugum & O’shea, 2014). Na última década, o tratamento padrão de atendimento para a infecção tem sido a terapêutica dupla com ribavirina e interferon peguilhado- peg- IFN + RBV (Holmes et al.,2013). Os regimes de tratamento estão evoluindo rapidamente. Os dois primeiros agentes antivirais de ação direta (DAAS) para o genótipo 1 (VHC -1) foram aprovados pelo Food and Drug Administration (FDA), em 2011 ( Dugum & O’shea, 2014). Estas duas drogas, o telaprevir e boceprevir são inibidores da protease NS3 de VHC, que é necessária para a replicação viral. (Holmes et al.,2013). Quando são usadas em combinação com peg-interferon e ribavirina, até 75% dos pacientes com genótipo 1, que não tiveram tratamento prévio, podem atingir uma resposta virológica sustentada (Dugum & O’shea, 2014). Ambas as drogas devem ser utilizados em combinação com PEG - IFN + ribavirina para prevenir a resistência a medicamentos. A terapia tripla com telaprevir ou boceprevir aumentou significativamente as taxas de cura (40-50 % e 70-75%), e oferece a possibilidade da terapia de curta duração em aproximadamente 50 % dos pacientes. A terapia tripla também é eficaz para pacientes que falharam anteriormente na terapia dupla com peg- IFN + RBV . Peg -IFN + RBV continua a ser o padrão de atendimento para todos os outros genótipos do VHC (Holmes et al., 2013). Infelizmente, os regimes de tratamento atuais são muitas vezes mal tolerados, nem todos os pacientes são candidatos à terapia, e a seleção adequada do paciente é importante. Pacientes com cirrose tem um risco maior de eventos adversos ao tratamento. Pacientes com cirrose descompensada não pode atualmente ser tratado. Eles devem ser encaminhados para um centro terciário para avaliação. O tratamento também é contraindicado em pacientes com algumas doenças autoimunes, e com doença psiquiátrica significativa ou instável, principalmente psicose e depressão grave. Como o tratamento com interferon bem sucedido requer bom cumprimento e revisão regular, os pacientes isolados ou socialmente instáveis 45 podem ter dificuldades para completar o tratamento. Isso inclui os sem-teto, os presos recentemente liberados e usuários de drogas injetáveis (Holmes et al., 2013). A necessidade de melhorar a taxa de resposta virológica sustentada, encurtar a duração do tratamento, evitar efeitos secundários graves, melhorar a eficácia no tratamento de doentes infectados com outros genótipos do que 1, e, mais importante, eliminar a necessidade de interferon alfa e os seus efeitos adversos graves têm impulsionado o desenvolvimento de novos agentes antivirais de ação direta, incluindo os dois novos medicamentos aprovados pela FDA em 2013, sofosbuvir (um inibidor de polimerase) e simeprevir (um inibidor de protease de segunda geração), os quais abrem a porta para um regime de tudo-oral, potencialmente evitando interferon e seus efeitos colaterais severos. Outros antivirais de ação direta estão em desenvolvimento. (Dugum & O’shea, 2014) 1.3.8 Prevenção e controle Como não há vacina e não há profilaxia pós-exposição para VHC a redução da infecção (e das doenças a ela relacionadas) requer a implementação de atividades de prevenção primárias e secundárias. As primárias, para reduzir a incidência da infecção, podem ser alcançadas através de um seguro fornecimento de sangue, uso de agulhas descartáveis e outros ajustes com o material pérfuro-cortante, e diminuindo o número de pessoas usuárias de drogas ilícitas. As medidas secundárias são voltadas para diminuir o risco de hepatopatia e de outras doenças entre os portadores do VHC (Ferreira & Silveira, 2004; El-Shabrawi & Kamal, 2013). Para que se iniciem atividades de prevenção secundária e terciária é necessária à identificação dos indivíduos anti-VHC infectados, pois essas se destinam a reduzir o risco de transmissão e a evolução para hepatopatia crônica. A prevenção deve focalizar o aconselhamento de pessoas que usam drogas ou que estão em risco de uso, e aquelas com práticas sexuais também consideradas de risco. Aconselhamento e testes laboratoriais devem ser conduzidos em locais ou situações onde indivíduos de risco são localizados, como, por exemplo, prisões, clínicas de IST, indivíduos infectados com HIV ou com AIDS, instituições de usuários de drogas ilícitas, de doentes neurológicos e mentais (Ferreira & Silveira, 2004). Como parte dos esforços de prevenção secundária, as pessoas infectadas pelo VHC devem ser encaminhadas para avaliação médica e tratamento antiviral, e os programas que assegurem o acesso a esses serviços devem estar no local. A educação em saúde é também 46 essencial para reduzir a carga viral e os programas específicos devem ser fornecidos para aumentar a consciência pública sobre a transmissão e prevenção da infecção (El-Shabrawi & Kamal, 2013). Embora o risco de transmissão sexual seja pequeno, essa informação deve ser repassada para casais discordantes. Entretanto, como forma de prevenção de IST, incluindo a Hepatite C, o uso de preservativo deve ser estimulado. O portador não deve fazer doação de sangue. Os profissionais devem seguir as normas de biossegurança nos estabelecimentos de saúde e em lojas de tatuagens e piercing. Em exposições com paciente-fonte infectado pelo VHC e pacientes com fonte desconhecida, está recomendado o acompanhamento do profissional de saúde. Também se recomenda a vacinação contra as hepatites A e B a fim de evitar complicações e devido a vias de transmissão comum - VHB (Brasil, 2010). Um dos principais obstáculos para a erradicação / redução da carga de VHC é a falta de vacina, onde uma vacina eficaz permanece indefinida ate o momento. O VHC se transforma rapidamente e existe uma família complexa de vírus mutantes em cada indivíduo infectado, permitindo que o vírus escape do controle pelo sistema imunitário. Isto faz com que seja difícil de identificar para qual porção do vírus deve ser direcionada o desenvolvimento de uma vacina (El-Shabrawi & Kamal, 2013). 1.4 VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS O status socioeconômico (SSE) esta relacionado com a posição do indivíduo na sociedade e pode basear-se em critérios como a educação, ocupação, renda e habitação (Yun et al., 2010; Omland et al., 2013). Estudos transversais nos Estados Unidos, Porto Rico, Noruega e França encontraram associações entre diferentes marcadores SSE e a prevalência de HCV, esses estudos encontraram um risco aumentado de infecção pelo HCV em pessoas com baixo SSE (Perez et al., 2005; Meffre et al., 2010). Yun et al. (2010) pesquisaram os efeitos independentes e combinados do status socioeconômico (SSE), hepatite viral, e de outros fatores de estilo de vida no risco de carcinoma hepatocelular (CHC) entre os coreanos. Os pesquisadores encontraram o SSE como um preditor independente e sinérgico de CHC, bem como o consumo abusivo de álcool que também mostrou um efeito combinado com baixos SSE sobre o risco de CHC. A prevalencia elevada de doenças infecciosas em aereas menos favorecidas socioeconomicamente nos leva a associar os baixos SSE com o risco de infecção pelos VHB e 47 VHC. O estudo de caso controle realizado por Omland et al. (2013) buscou a associação do SSE (ocupação, renda e escolaridade) com o risco e o prognóstico de infecção pelo VHC. Os autores verificoram que o baixo SSE foi associado com aumento do risco de infecção pelo HCV, e a um mau prognóstico em pacientes infectados com o virus, com aqueles que recebem uma pensão de invalidez em risco particularmente elevado de morte quando comparados aos pacientes empregados. Dowd et al. (2010) estudaram a relação entre a carga de infecções crônicas, dentre elas as causadas pelo VHB e VHC, e condições socioeconômicas em crianças norte-americanas e referiram que a renda familiar é significativamente associada com a probabilidade de infecção persistente em crianças, bem como infecções múltiplas. Elevadas cargas de infecções crônicas podem levar à inflamação aumentada e desenvolvimento precoce de doença crônica e mortalidade. No Brasil outras pesquisas buscaram associação do SSE com os marcadores virais do VHB e VHC em crianças e em adolescentes (Clemens et al., 2000; Assis et al., 2004; Jafri et al., 2006; Livramento et al.; Scaraveli et al, 2011; Ciacciai et al.; Oliveira et al., 2014). Porém nenhum destes foi realizado na mesorregião marajoara, uma região da Amazônia brasileira que encontra baixo nivel socioeconomico e poucos dados de doenças infecciosas registrados, o que dificulta o conhecimento da real situação epidemiologica da região. Levando em consideração estes fatos e acrescido que a maioria dos estudos de soroprevalência de hepatites B e C da região amazônica serem voltados para a população adulta, este estudo se propõem a estudar a soroprevalencia entre crianças e adolescentes bem como associa-las ao SSE nessa região. Segundo Martins et al. (2011) a identificação de padrões específicos de prevalência da infecção pelo VHC nas diferentes faixas etárias demonstra, provavelmente, características epidemiológicas peculiares de cada região. O reconhecimento do padrão de prevalência nos diferentes países e localidades pode permitir maior eficácia das medidas de detecção e de controle da infecção pelo VHB e pelo VHC. Nas populações onde não se reconhecem como grupos de risco para as infecções pelos VHB e VHC, como no caso de crianças e adolescentes, o estudo da epidemiologia, dos mecanismos de transmissão e dos riscos torna-se mais difíceis, porém de grande relevância nas aeras de grande circulação dos vírus, como no caso da região amazônica. 48 1.5 A MESORREGIÃO DO MARAJÓ A mesorregião marajoara, considerada uma das principais polos turísticos do Estado do Pará (figura 15) é formada por 16 municípios, compreendendo ainda as ilhas Caviana, Mexiana e Gurupá. A hidrografia da região é composta por inúmeros rios, igarapés, lagos e furos que entrecortam a ilha em todas as direções e representa fonte de subsistência, de alimentação e de transporte para a maior parte da população (Brasil, 2010). Figura 15 – Mapa da mesorregião do Marajó (SEIR/GeoPARÁ, 2007) De acordo com o Relatório Analítico do Território do Marajó (2012) os indicadores socioeconômicos e culturais mostram que a região do Marajó foi historicamente abandonada pela ausência ou baixa capilaridade das políticas públicas, de serviços infraestruturais e de equipamentos coletivos de promoção e proteção social voltados ao desenvolvimento sócioterritorial, o que produziu problemas de ordens diversas, como fome, miséria, altos índices de malária, em determinados municípios, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Há um isolamento dessa região causado pelo modelo de desenvolvimento concentrador de renda e de serviços públicos na capital do estado do Pará, deixando a 49 mesorregião marajoara distante dos eixos rodoviários estratégicos que cortaram a Amazônia em direção aos grandes projetos agrominerais e agropastoris. O IDH (índice de desenvolvimento humano) de Belém, a capital do Estado, é de 0,746, enquanto que nos municípios marajoaras estudados não ultrapassam 0,558 (IBGE, 2010). Dos municípios marajoaras Chaves possui maior extensão e menor densidade demográfica (1,61habitantes/Km²). Enquanto que a densidade demográfica em São Sebastião da Boa Vista é de 14,03 habitantes/Km², seguidos de Anajás com 3,58 habitantes/Km² e de Portel com 2,06 habitantes/Km². A distribuição da população do Marajó apresenta pequeno predomínio (56,59%) da população rural, sendo 16% a média nacional (IBGE, 2010). Segundo o Relatório Analítico do Território do Marajó (2012) a baixa capacidade de geração de emprego e renda nos municípios do Marajó, aliada ao fato da maior parte da população encontrar-se nas classes menos favorecidas economicamente fazem com que os Programas como Bolsa Família – BF e o Benefício de Prestação Continuada – BPC se constituem elementos essenciais na composição da renda familiar marajoara. A situação de saúde do Marajó não é diferente da situação socioeconômica, segundo a divisão da Secretaria Estadual de Saúde a região está representada por dois Centros Regionais de Saúde – 7º e 8°, no qual a assistência na Atenção Básica é deficiente e a alta rotatividade dos profissionais de saúde dificulta a implantação das Estratégias Saúde da Família em todos os municípios (Relatório Analítico do Território do Marajó, 2012). A ilha do Marajó esta inserida na região amazônica brasileira, onde autores relataram altas prevalências do VHB e do VHC (Souto et al., 2004; Khouri et al., 2005; Aquino et al., 2008), sugerindo uma alta circulação desses vírus nessa região e com isso risco de infecções em idades mais precoces. Associada à isto a região marajoara não foi alvo de pesquisas relacionadas a prevalência de VHB e VHC em crianças e adolescentes. 50 1.6 OBJETIVOS 1.6.1 Objetivo geral Determinar a prevalência das infecções por VHB e VHC nos municipios de Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista e Portel na mesoregião do Marajó, correlacionando com o status socioeconômico e os fatores de risco à infecção. 1.6.2 Objetivos específicos -Descrever a soroprevalência das infecções por VHB e VHC nas populações estudadas; -Verificar a cobertura vacinal anti-VHB nas populações estudadas; -Descrever as características socioeconômicos das populações avaliadas; -Buscar associações entre os marcadores socioeconômicos e o risco de infecção pelos agentes infecciosos. 51 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 TIPO DE ESTUDO Foi realizado um estudo epidemiológico do tipo transversal descritivo e analítico, que buscou associação das variaveis socioeconomicas gênero, idade e renda familiar com os marcadores sorológicos dos VHB e VHC em crianças e adolescentes. 2.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL E COLETA DAS AMOSTRAS As coletas das amostras biológicas e das informações epidemiológicas foram obtidas através de expedições à mesorregião do Marajó, no período de setembro de 2012 a abril de 2013. Estas expedições fizeram parte do cronograma do projeto “Marcadores epidemiológicos em saúde no Arquipélago do Marajó”, o qual esteve sob a Coordenação Geral do professor Dr. Ricardo Ishak, aprovado no Edital 023/2009 da FAPESPA, de caráter interinstitucional e multidisciplinar, envolvendo diversos grupos de pesquisa pertencentes a Universidade Federal do Pará (UFPA), ao Instituto Federal do Pará (IFPA), ao Instituto Evandro Chagas (IEC) e a Fundação de Hemoterapia e Hematologia do Pará (HEMOPA). Objetivo principal do projeto foi definir a situação epidemiológica de vários eventos da área de saúde humana, no Marajó, particularmente, nos municípios de Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista e Portel, onde há poucas informações epidemiológicas de diversas doenças infecciosas, dentre as quais as infecções causadas pelo VHB e VHC. Vale ressaltar que o acesso aos quatros municipios é apenas hidroviário, contribuindo para certo isolamento destes em relação à capital do Estado. Além do mais não há pesquisa de soroprevalencia de VHB e VHC em crianças e adolescentes nestes municipios. Este conhecimento porderá nortear ações de melhorias de condiçoes sociais e em saúde das populações dos municipios estudados. O total das amostras coletadas obedeceu aos cálculos de amostragem usando o Software BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2008), usando-se o cálculo do tamanho amostral para proporções, com poder de teste 0,90 e nível alfa de 0,01. Participaram da pesquisa, por demanda espontânea 2.046 homens, mulheres e crianças. Das 811 crianças e adolescentes 52 participantes 721 realizaram sorologia para VHB e 756 para VHC. As crianças e adolescentes participantes do estudo foram entrevistadas individualmente por um membro do projeto, responsável pela coleta das informações, que em seguida direcionava o participante ao local de coleta de sangue. O questionário foi aplicado nas residências do participante, nos postos de saúde e hospitais, ele continha perguntas abertas e fechadas referentes a identificação, gênero, idade, renda, escolaridade, ocupação, comportamento sexual, uso de drogas endovenosas, entre outras (APENDICE A). As amostras de sangue total (5 mL) foram coletadas em sistema à vácuo em tubos contendo EDTA como anticoagulante. A massa celular e o plasma foram separados por centrifugação ainda nos municípios marajoaras e armazenadas a -20ºC até que chegassem a Belém. Todos os testes sorológicos e moleculares foram realizados nas dependências do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciência Biológicas da UFPA. As variáveis socioeconômicas estudadas foram gênero, idade e renda familiar. Apesar dos questionários apresentarem campos sobre ocupação e escolaridade estes não foram preenchidos principalmente entre os mais jovens, o que dificultou a associação dessas variáveis com os marcadores sorológicos. Quanto as variáveis comportamentais (relacionadas à sexualidade e ao uso de drogas ilícitas) uma minoria da população respondeu este campo. A grande maioria da população estudada realizava a coleta dos dados juntamente com seus pais ou responsáveis o que pode ter influenciado a coleta. 2.3 PROCEDIMENTOS ÉTICOS Os indivíduos selecionados foram informados sobre os objetivos da pesquisa e deram seu consentimento, após todos os esclarecimentos, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE (ANEXO B). No caso da população do nosso estudo, a assinatura do TCLE foi realizada pelos pais ou responsáveis no momento da coleta. O presente projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará, com parecer 0003.0.324.000 – 10 (ANEXO C), conforme prevê a resolução no. 196/96 do Conselho Nacional Saúde, que trata de pesquisa em seres humanos vigente no momento da aprovação. 53 2.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO Foram adotados os seguintes critérios para inclusão dos indivíduos: a) Crianças de 0 a 12 anos; b) Adolescentes de 13 a 17 anos e c) Residentes nos municípios de Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista e Portel. Foram excluídos os indivíduos que não obedecerem a esses critérios, a saber: a) Pessoas com idade superior a 17 anos; e b) Indivíduos que não residem nos municípios selecionados. 2.5 SOROLOGIA Os dados sorológicos foram obtidos a partir de um banco de dados desenvolvido por membros do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará, que fazem parte do Projeto “Marcadores Epidemiológicos em saúde no Arquipélago do Marajó”. Para a detecção de anticorpos e antígenos do VHB foi realizado determinações de HBsAg, anti-HBs e anti- HBc (total) usando o ensaio imunoenzimático do tipo ELISA (Symbiosys, Brasil; Winer lab, Argentina). Foram examinados apenas 15 amostras para a presença de HBsAg, devido a quantidade de Kit disponíveis, e de ser priorizado os grupos etários de maior risco de infecção, contemplados em outro estudo pertencente ao projeto. Foram examinadas 721 amostras para a presença de anti-Hbs e anti-HBc. Os testes para determinação do HBsAg e do anti-HBs baseiam-se no princípio tipo sanduíche, não competitivo. Quando da interpretação do resultado dos testes, o aparecimento de cor indica a presença de HBsAg ou do anti-HBs, ao passo que a falta de cor ou pouca cor sugere a sua ausência. Para a determinação do anti-HBc, o teste é baseado num princípio único de inibição competitiva. Ao término do teste, o desenvolvimento de cor sugere a ausência do anti-HBc e o não aparecimento de cor ou apenas o aparecimento de uma coloração tênue, sugere a presença do anti-HBc. Em todos os testes foram obedecidas as recomendações do fabricante. Foram examinadas 756 amostras para a presença de anti-VHC, utilizando-se também o ensaio imunoenzimático do tipo ELISA (Symbiosis Diagnóstica Ltda, Brasil), conforme as recomendações do fabricante. 54 2.6 PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS Os dados coletados através de questionários epidemiológicos foram tabulados e armazenados por cada município em um banco de dados usando o Software Epi Info versão 7 (Centers for Disease Control and Preventionn, 2015) e posteriormente fora analisados. Para buscar associações entre os marcadores socioeconômicos (gênero, idade e renda familiar) e a presença dos marcadores sorológicos do VHB e VHC foi utilizado o Teste Exato de Fisher usando o Programa BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2008). O número de significância adotado em todo trabalho foi de 5% (p=0,05). 55 3 RESULTADOS 3.1 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-DEMOGRÁFICAS DA POPULAÇÃO Na população avaliada no Marajó, houve predomínio do gênero feminino e da faixa etária mais baixa (0 a 12 anos). Cerca de 56% daqueles submetidos ora à sorologia para VHB (n= 721) ora VHC (n= 756) eram mulheres. Em ambos os testes sorológicos foi mais expressivo o percentual de crianças, variando entre 76 e 77%, respectivamente para cada agente testado (Tabelas 1 e 2). Quanto à renda familiar 551 participantes, que realizaram sorologia para o VHB, forneceram esta informação, sendo que 323 (58,6%) alegaram renda de um até três salários mensais; 219 (39,7%) declararam possuir provento menor que um salário mínimo mensal e apenas 9 (1,6%) afirmaram receber mais de três salários (Tabela 1). Dos 570 participantes que realizaram sorologia para o VHC e que responderam à esta questão, 332 (58,2%) alegaram renda familiar de um até três salários (Tabela 2). Dos participantes que realizaram sorologia para o VHB menos da metade (352) preencheram o campo referente à ocupação, destes 96,0% (338) eram estudantes, o mesmo foi observado entre aqueles que realizaram sorologia anti-VHC, no qual 354 participantes forneceram esta informação, sendo 96% (340) estudantes. O grau de escolaridade observado com maior frequência foi o ensino fundamental incompleto, tanto entre os participantes que realizaram sorologia para o VHB (49,3%; 265/538), quanto entre os que realizaram sorologia para o VHC (48,2%; 267/554). 56 Tabela 1 – Caracterização do perfil sóciodemográfico das populações avaliadas para a infecção pelo VHB, na mesorregião do Marajó. Perfil Sóciodemográfico Anajás N (%) Chaves N (%) Portel N (%) SSBV N (%) N (%) População 120 (16,6) 165 (22,9) 322 (44,7) 114 (15,8) 721 (100) Masculino 51 (42,5) 62 (37,6) 158 (48,1) 45 (39,5) 316 (43,8) Feminino 69 (57,5) 103 (62,4) 164 (50,9) 69 (60,5) 405 (56,2) 0 a 12 anos 88 (73,3) 125 (75,8) 241 (74,8) 96 (84,2) 550 (76,3) 13 a 17 anos 32 (26,7) 40 (24,2) 81 (25,2) 18 (15,8) 171 (23,7) Menos de 1 salário mínimo 34 (28,3) 65 (39,4) 72 (22,4) 48 (42,1) 219 (30,4) 1 a 3 salários mínimos 29 (24,2) 67 (40,6) 197 (61,2) 30 (26,3) 323 (44,8) Gênero Idade Renda Familiar 4 a 6 salários mínimos 0 1 (0,6) 8 (2,5) 0 9 (1,2) Não sabe 7 (5,8) 2 (1,2) 3 (0,9) 0 12 (1,7) 50 (41,7) 30 (18,2) Sem informação* 42 (13) 36 (31,6) 158 (21,9) 57 Tabela 2 - Caracterização do perfil sóciodemográfico das populações avaliadas para a infecção pelo VHC, na mesorregião do Marajó. Perfil Sóciodemográfico Anajás N (%) Chaves N (%) Portel N (%) SSBV N (%) N (%) População 126 (16,7) 165 (21,8) 339 (44,8) 126 (16,7) 756 (100) Masculino 54 (42,9) 62 (37,6) 163 (48,1) 49 (38,9) 328 (43,4) Feminino 72 (57,1) 103 (62,4) 176 (51,9) 77 (61,1) 428 (56,6) 0 a 12 anos 94 (74,6) 125 (75,8) 257 (75,8) 107 (84,9) 583 (77,1) 13 a 17 anos 32 (25,4) 40 (24,2) 82 (24,2) 19 (15,1) 173 (22,9) Menos de 1 salário mínimo 33 (26,2) 65 (39,4) 76 (22,4) 55 (43,7) 229 (30,3) 1 a 3 salários mínimos 30 (23,8) 67 (40,6) 205 (60,5) 30 (23,8) 332 (43,9) Gênero Idade Renda Familiar 4 a 6 salários mínimos 0 1 (0,6) 8 (2,3) 0 9 (1,2) Não sabe 7 (5,6) 2 (1,2) 3 (0,9) 0 12 (1,6) 56 (44,4) 30 (18,2) 47 (13,9) Sem informação 41 (32,5) 174 (23) 58 3.2 SOROLOGIA A soroprevalência de anti-HBc encontrada em crianças e adolescentes nos quatros municípios marajoaras foi de 3,2%. A prevalência deste marcador foi maior em Portel (3,7%), seguido de Chaves (3,6%), São Sebastião da Boa Vista (2,6%) e Anajás (1,7%) (Tabela 3). Dos participantes, 2,8% apresentaram positividade exclusivamente para os marcadores sorológicos que indicam exposição prévia a esse vírus, enquanto que 0,3% demonstraram infecção aguda em fase final ou hepatite crônica pelo VHB. A imunização ao VHB (anti-HBs positivo isoladamente) foi observada em 53,1% dos participantes enquanto 46,9% dos sujeitos estudados apresentaram-se suscetíveis à infecção (Tabela 4). O município com a maior cobertura vacinal foi SSBV (58,3%), seguido de Portel (53,1%), Anajás (53%) e Chaves (49,3; Tabela 3). No que diz respeito à prevalência do VHC essa foi maior em Chaves (1,2%), seguido de Anajás e São Sebastião da Boa vista (0,8%), sendo menor em Portel (0,6%; Tabela 3). A soropositividade global ao anti-VHC foi de 0,8% (6/750). No que se refere, a co-infecção VHB/VHC a prevalência foi de 0,1% (1/717; Tabela 4). 59 Tabela 3 – Soroprevalência de anti-HBc, anti-HBs e anti-VHC de acordo como município de origem, no Marajó, ano 2013. Anajás N (%) Chaves N (%) Portel N (%) SSBV N (%) Total N (%) Anti-HBc Positivo 2 (1,7) 6 (3,6) 120 (3,7) 3 (2,6) 23 (3,2) Negativo 118 (98,3) 159 (96,4) 310 (96,3) 111 (97,4) 698 (96,8) Total 120 (100) 165 (100) 322 (100) 114 (100) 721 (100) Anti-HBs Positivo 61 (53) 72 (49,3) 163 (53,1) 63 (58,3) 359 (53,1) Negativo 54 (47) 74 (50,7) 144 (46,9) 45 (41,7) 317 (46,9) 115 (100) 146 (100) 307 (100) 108 (100) 676 (100) Positivo 1 (0,8) 2 (1,2) 2 (0,6) 1 (0,8) 6 (0,8) Negativo 125 (99,2) 163 (98,8) 337 (99,4) 125 (99,2) 750 (99,2) Total 126 (100) 165 (100) 339 (100) 126 (100) 756 (100) Total Anti-VHC Tabela 4 – Marcadores sorológicos do VHB e VHC entre crianças e adolescentes, no Marajó, ano 2013. HBsAg + Anti-HBc + + + Anti-HBs + - Anti-VHC - N 7 13 2 - + - - - - + + + 4 1 + + + 1 356 317 Interpretação Imunidade, contato prévio com o VHB Fase aguda final ou hepatite crônica Imunidade vacinal ao VHB Suscetíveis à infecção pelo VHB Infecção pelo VHC Imunidade vacinal ao VHB e infecção pelo VHC Infecção pelo VHB e VHC % 2,8 0,3 49,4 44 0,5 0,1 0,1 60 3.3 ASSOCIAÇÕES ENTRE OS MARCADORES SOROLOGICOS DOS VHB E VHC COM OS INDICADORES SOCIOECONÔMICOS A soroprevalência do anti-Hbc foi de 3,9% (16/405) no gênero feminino e de 2,2% (7/316) no masculino. Em relação à faixa etária, a prevalência deste marcador foi de 4,1% (7/171) entre os adolescentes e de 2,9% (16/550) entre as crianças de 0 a 12 anos. Quanto à renda, a prevalência foi de 2,3% entre os que tinham renda familiar inferior a um salário, e de 4,2% entre os que tinham mais de um salário mínimo. Não houve associação significativa ente a presença do marcador anti-HBc e as variáveis estudadas em nenhum dos municípios (Tabela 5). O marcador anti-HBs teve maior prevalência entre os sujeitos do gênero masculino (55,2%), entre os adolescentes (56,7%) e entre os que recebiam mais de um salário mínimo (55,3%). Houve associação significativa em SSBV entre o marcador vacinal e a variável renda familiar (p-valor= 0,0519; Tabela 6). Foi encontrada maior prevalência do anti-VHC entre os participantes do gênero feminino (1,2%; masculino: 0,3%), entre os adolescentes (1,2%; crianças: 0,7%) e entre os que recebiam provento de mais de um salário mínimo (0,9%; menos de um salário: 0,4%). Não houve uma associação significativa entre os indicadores socioeconômicos e a soroprevalência de VHC em nenhum dos municípios (Tabela 7). Quanto ao comportamento sexual, dos 23 casos positivos para VHB apenas 2 apresentavam atividade sexual ativa, um em Anajás, do gênero masculino, com 17 anos, sem parceiro fixo, e que afirmou usar preservativo em todas as relações; e outro em Portel, do gênero feminino, com 16 anos, parceiro fixo e que afirmou não usar preservativos em todas as relações. Dos 6 casos positivos para VHC nenhum apresentava atividade sexual ativa. 61 Tabela 5 - Associação de anti-HBc com as características sóciodemográficas da população estudada, de acordo o município de origem, na mesorregião do Marajó. Variáveis Anajás Chaves Portel SSBV Anti-HBc+ (%) Anti-HBc+ (%) Anti-HBc+ (%) Anti-HBc+ (%) Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Masculino 1 (2) 50 (98) 1 (1,6) 61 (98,4) 4 (2,5) 154 (97,5) 1 (2,2) 44 (97,8) Feminino 1 (1,5) 68 (98,5) 5 (4,9) 98 (95,1) 8 (4,9) 156 (95,1) 2 (2,9) 67 (97,1) p-valor* 1,000 Gênero 0,4113 0,3795 1,000 Faixa Etária (anos) 0 a 12 0 88 (100) 5 (4) 120 (96) 8 (3,3) 13 a 17 2 (6,3) 30 (93,7) 1 (2,5) 39 (97,5) 4 (5) p-valor* 0,0695 1,0000 233 (96,7) 77 (95) 0,5050 3 (3,2) 93 (96,8) 0 18 (100) 1,000 Renda Familiar <1 salário 0 34 (100) 0 65 (100) 4 (5,6) 68 (94,4) 1 (2,1) 47 (97,9) >1salários 2 (6,9) 27 (93,1) 3 (4,4) 65 (95,6) 8 (3,9) 197 (96,1) 1 (3,3) 29 (96,7) Sem informação** 0 57 (100) 3 (9,4) 29 (90,6) 0 45 (100) 1 (2,8) 35 (97,2) p-valor* 0,2079 *Exato de Fisher ** Não utilizado para cálculos estatísticos 0,2447 0,7367 1,0000 62 Tabela 6 - Associação de anti-HBs com as características sóciodemográficas da população estudada, de acordo o município de origem, na mesorregião do Marajó. Variáveis Anajás Chaves Portel SSBV Anti-HBs+ (%) Anti-HBs+ (%) Anti-HBs+ (%) Anti-HBs+ (%) Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Masculino 27 (56,3) 21 (43,7) 30 (54,5) 25 (45,5) 79 (52) 73 (48) 29 (65,9) 15 (34,1) Feminino 34 (50,7) 33 (49,3) 42 (46,2) 49 (53,8) 84 (54,2) 71 (45,8) 34 (53,1) 30 (46,9) p-valor* 0,5760 Gênero 0,3936 0,7322 0,2343 Faixa Etária (anos) 0 a 12 44 (51,8) 41 (48,2) 50 (46,7) 57 (53,3) 118 (51,3) 112 (48,7) 54 (60) 36 (40) 13 a 17 17 (56,7) 13 (43,3) 22 (56,4) 17 (43,6) 45 (58,4) 32 (41,6) 9 (50) 9 (50) p-valor* 0,6759 0,3515 0,2938 0,4454 Renda Familiar <1 salário 18 (56,3) 14 (43,7) 29 (49,2) 30 (50,8) 34 (50,7) 33 (49,3) 21 (44,7) 26 (55,3) >1salários 15 (55,6) 12 (44,4) 32 (51,6) 30 (48,4) 106 (54,4) 89 (45,6) 19 (70,4) 8 (29,6) Sem informação** 28 (50) 28 (50) 11 (44) 14 (56) 23 (51,1) 22 (48,9) 23 (67,6) 11 (32,4) p-valor* 1,000 *Exato de Fisher ** Não utilizado para cálculos estatísticos 0,8564 0,6708 0,0519 63 Tabela 7 - Associação de anti-VHC com as características sóciodemográficas da população estudada, de acordo o município de origem, na mesorregião do Marajó. Variáveis Anajás Chaves Portel SSBV Anti-VHC+ (%) Anti-VHC+ (%) Anti-VHC+ (%) Anti-VHC+ (%) Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Masculino 1 (1,9) 53 (98,1) 0 62 (100) 0 163 (100) 0 77 (100) Feminino 0 72 (100) 2 (01,9) 101 (98,1) 2 (1,1) 174 (98,9) 1 (2) 48 (98) p-valor* 0,4286 Gênero 0,5280 0,4993 0,3889 Faixa Etária (anos) 0 a 12 1 (1,1) 93 (98,9) 1 (0,8) 124 (99,2) 1 (0,4) 256 (99,6) 1 (0,9 ) 106 (99,1) 13 a 17 0 32 (100) 1 (2,5) 39 (97,5) 1 (1,2) 81 (98,8) 0 19 (100) p-valor* 1,0000 0,4272 0,4258 1,000 Renda Familiar <1 salário 1 (01,6) 32 (50,8) 0 65 (100) 0 76 (100) 0 55 (100) >1salários 0 30 (47,6) 1 (1,4) 68 (98,6) 2 (0,9) 211 (99,1) 0 30 (100) Sem informação** 0 63 (100) 1 (3,2) 30 (96,8) 0 50 (100) 1 (2,4) 40 (97,6) p-valor* 1,0000 *Exato de Fisher ** Não utilizado para cálculos estatísticos 1,0000 1,0000 1,0000 57 4 DISCUSSÃO Este estudo buscou avaliar as o risco de infecção pelo VHB e pelo VHC associado aos fatores socioeconômicos de uma população composta por crianças e adolescentes de quatro municípios da mesorregião do Marajó-Pará. Nesse trabalho a maioria da população era constituída por mulheres, semelhante aos estudos realizados com crianças e adolescentes de Assis et al. (2004), Jafri et al. (2006), Scaraveli et al.(2011), Livramento et al. (2011) e de Villar et al. (2014). Diferente deste estudo, o gênero masculino foi o mais frequente na população estudada por Kangin et al. (2010), e os dados fornecidos pelo IBGE no ultimo censo (2010) afirmam que a maioria das crianças e adolescentes nestes quatro municípios eram do gênero masculino. A população estudada também teve grande maioria composta por crianças de 0 a 12 anos, semelhante à população descrita nos estudos de Livramento et al. (2011) que foi recrutada nos Postos de Saúde, e de Villar et al. (2014) nas escolas do Rio de Janeiro. O fato do recrutamento neste estudo ter sido voluntário, principalmente realizado nos serviços de saúde dos municípios, pode justificar o predomínio de infantis, que teriam sido levados aos postos de coleta pelas mães. De maneira geral, isto pode ter refletido no fato da população estudada ser constituída eminentemente mulheres e crianças, em detrimento de homens e adolescentes; pois se acredita que as mães levavam seus filhos mais jovens consigo, enquanto muitas vezes, filhos mais velhos e maridos estariam envolvidos nas atividades laborais. Muitos questionários não apresentavam informações quanto à ocupação, provavelmente devido à faixa etária da população estudada, porém a notória maioria dos que responderam este campo eram estudantes. Quanto ao grau de escolaridade percebe-se que a maioria da população, que respondeu a este campo, possuía o ensino fundamental incompleto, o que condiz com a idade da população estudada e com o censo escolar 2012 segundo o IBGE, o qual apresenta maior numero da população desses municípios matriculados no ensino fundamental. Devido o grande número de questionários sem a informação da escolaridade (talvez pelo fato da maioria dos participantes serem crianças e não estarem matriculados em escolas) estes dados não foram utilizados nos cálculos estatísticos. A renda familiar predominante no estudo foi de um até três salários mínimos. Neste estudo a prevalência geral de VHB dos quatro municípios foi de 3,2%, resultado maior que o encontrado em crianças e adolescentes no Paquistão (Jafri et al., 2006; Ali et al., 58 2009) e no Irã (Alizadeh et al., 2006), países asiáticos onde há uma endemicidade intermediaria deste vírus e que apresentam características sócioeconômicas semelhantes aos do nosso estudo (países em desenvolvimento, com a agricultura sendo base da economia). Livramento et al. em 2011 encontraram soroprevalência de VHB em crianças e adolescentes de 1,02%, no Estado de Santa Catarina-RS, Scaraveli et al., no mesmo ano, encontraram 1,4% em São Paulo, e Ciacciai et al., em 2014 de 0,13%, também em São Paulo. Clemens et al. (2000), em seu estudo multicêntrico, relataram maior prevalência de VHB na região norte do Brasil, com 3,1% de soroprevalência de anti-HBc em crianças de um ano de idade. Nosso trabalho encontrou prevalência maior que as encontradas na região sul e sudeste brasileiro, ratificando que a região amazônica apresenta áreas com elevadas taxas de prevalências pelo VHB (Bensabath et al., 1987; Souto et al., 1998; Assis et al., 2004; Braga et al., 2005). Apesar dos estudos anteriores (Souto et al., 2004; Assis et al., 2004; Braga et al., 2005) encontrarem prevalências maiores em crianças e adolescentes na região amazônica, a prevalência encontrada neste estudo mostra que o número de crianças e adolescentes já expostos ao vírus não é desprezível, permitindo supor que a população estudada apresenta uma endemicidade moderada de VHB. A imunização pode ter influenciado na diminuição da prevalência deste vírus nessa região, porém a prevalência encontrada no nosso trabalho ainda é considerável, principalmente quando comparadas as outras regiões brasileiras. A prevalência do marcador anti-HBs, de forma isolada, foi de 53,1%, enquanto 46,9% dos sujeitos estudados apresentaram suscetibilidade á infecção pelo VHB. Este resultado foi maior que o encontrado em estudos similares realizados por Livramento et al. (2011), na região sul do brasil, que encontrou prevalência deste marcador de 48,6%, e por Villar et al. (2014), a qual encontraram, no Rio de Janeiro, prevalência de 24,1% deste marcador de forma isolada. Porém essa cobertura vacinal encontrada é baixa, assim como a encontrada por Branco et al. (2014) também na região amazônica. A cobertura total da vacina nos quatros municípios foi inferior à cobertura média nacional de 82,60%, observado em estudo realizado com 17.295 crianças brasileiras em todas as capitais (Barata et al., 2011). De acordo com Barata et al. (2011) a cobertura da vacina recomendada pelo MS varia entre 90% (por BCG e rotavírus) a 95% (todas as outras vacinas). Vale frisar que apenas algumas capitais brasileiras conseguiram atingir essas metas, principalmente no Sul do país (Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba), e as cidades de Brasília, Cuiabá e Teresina. 59 Apesar da disponibilidade da vacina na rede de saúde pública para todas as crianças no momento do nascimento, a cobertura vacinal ainda é baixa, especialmente entre adolescentes (Compri et al., 2012). Sabe-se que a implantação do esquema de vacinação contra o VHB no Brasil ocorreu na década de 1990, o que faz pensar que este seja o motivo da redução da prevalência desta infecção nos mais jovens. O estudo de Voigt et al. (2010), em Santa Catarina, observaram cobertura vacinal na população estudada de 90,36% e uma prevalência de VHB de 0,52%. Ciacciai et al. (2014), em São Paulo, não encontraram nenhuma criança de 0 a 10 anos com sorologia positiva para o VHB, e nos adolescentes foi encontrada uma baixa prevalência desse vírus (0,13%), já a cobertura vacinal da população foi de 97,3%. Villar et al. (2014) realizaram uma pesquisa com crianças e adolescentes do Rio de Janeiro de 1999 a 2012 e constataram êxito da introdução da vacina VHB no Programa Nacional de Imunizações do Brasil, pois notou-se grande impacto sobre a redução da prevalência de marcadores do VHB entre as crianças. Durante os anos da a soroprevalência do anti-HBc caiu pela metade entre os avaliados. O estudo realizado em 2008 por Tonial et al. (2011) também revelam o impacto da vacinação sobre a prevalência do VHB; os autores encontraram uma prevalência do marcador vacinal de 83,57%, enquanto do anti-HBc foi de 1,1%; bem como Scaraveli et al. (2011) a qual observaram prevalência de 87,6% do marcador vacinal e de 1,4% da infecção. Khouri et al. (2005) encontraram uma prevalência de VHB de 61,79% na região amazônica, entre pessoas de diversas idades, e constataram uma baixa cobertura vacinal na população estudada (13,3%). Os resultados desses estudos (Khouri et al., 2005; Scaraveli et al.; Tonial et al., 2011; Villar et al., 2014) refletem a relação direta entre a cobertura vacinal deficitária e maior prevalência do VHB. Entretanto Souto et al. (2004) encontraram na região amazônica uma prevalência de 77,6% do marcador vacinal anti-HBs em crianças de 2 a 10anos e de 6,6% do anti-HBc. Livramento et al. (2011) apesar de encontrarem em seus estudos menor cobertura vacinal que o nosso estudo, identificaram também menor prevalência do VHB que o encontrado na mesorregião do Marajó. Souto et al. (2004) e Livramento et al. (2011) ressaltam que áreas com maior endemicidade viral apresentam riscos proporcionalmente aumentados para a infecção e por esse motivo, necessitam de investimento prioritário no controle vacinal para o VHB. Quanto ao VHC, uma maior prevalência foi observada em Chaves (1,2%), seguido de Anajás e São Sebastião da Boa vista (0,8%), sendo menor em Portel (0,6%). A soropositividade global ao anti-VHC na mesorregião do Marajó foi de 0,8% (6/750), maior 60 que a encontrada em outros países, como nos estudos de Kangin et al. (0,5%), em 2010 nas crianças de 0-14 anos na Turquia; e de El-Shabrawi et al. (2013) que referiu que a prevalência em crianças varia de 0,05% a 0,36% nos Estados Unidos e na Europa. A prevalência encontrada nos municípios marajoaras é menor que as encontradas na África Subsaariana (5,3%), no Mediterrâneo Oriental (4,6%), Pacífico Ocidental (3,9%) e Sudeste da Ásia (2,15%; Uhanova et al., 2012). A maior prevalência do VHC em países em desenvolvimento, em relação aos desenvolvidos, pode estar associada com as questões econômicas dessas regiões, nos levando a supor que áreas menos favorecidas economicamente, como a mesorregião marajoara, teriam maior risco à infecção pelo VHB. Importante salientar que no Brasil também há variações de prevalências, com as regiões menos desenvolvidas apresentando maiores prevalências do VHB. Quanto à soroprevalência do VHC encontrada no Brasil, alguns resultados foram menores que o encontrado no nosso estudo. Ciaccia et al. (2014) encontraram uma prevalência de 0,02% (1 caso) entre 4.680 crianças e adolescentes de São Paulo; Voigt et al.(2010), Livramento et al. (2011) e Scaraveli et al. (2011) não encontraram nenhum caso de VHC entre as crianças e adolescentes examinadas em suas pesquisas no sul do Brasil; Villar et al. (2014) encontraram prevalência de 0,2% no Rio de Janeiro, no período de 1999 a 2012; e Menegol & Spilki (2013) encontraram prevalência de 0,7% entre as crianças de 0 a 10 anos na região Sul brasileira. Na Amazônia brasileira foi encontrada prevalência mais alta do VHC, Aquino et al. (2008) encontraram prevalência de 3,2% entre crianças de 0 a 9 anos no Estado do Pará. Os estudos de Aquino et al. (2008), Voigt et al.(2010), Livramento et al. (2011), Scaraveli et al. (2011) e Ciacciai et al. (2014) ratificam a diferença de prevalências encontradas em nosso país, com regiões menos favorecidas economicamente com maiores prevalências do VHB. A prevalência de VHC encontrada nos quatros municípios da mesorregião marajoara nos permite supor que estes têm baixa prevalência do vírus nas crianças e adolescentes (<2,5%; WHO, 2004; Zaltron et al., 2012). Entretanto nosso resultado foi maior que o encontrado por Oliveira – Filho et al. (2010) ao avaliarem doadores de sangue no Pará, com idade compreendida entre 18 e 29 anos, a qual encontraram uma prevalência de VHC de 0,2%. Levando em consideração que a população do nosso estudo tem idade com menor risco à infecção pelo VHC que a população estudada por Oliveira – Filho et al. (2010), a prevalência encontrada em nossa pesquisa reforça a necessidade de atenção para a endemicidade viral no Estado do Pará, principalmente na região estudada. 61 Voigt et al., 2010, Livramento et al., 201; Scaraveli et al., 2011; Villar et al., 2014 não encontraram casos de co-infecção VHB/VHC em suas análises, diferente do que foi encontrado em nossa pesquisa, na qual a prevalência de co-infecção VHB/VHC foi de 0,14% (1/717). A maior prevalência de co-infecção identificada em nosso estudo pode estar relacionada com as maiores prevalências de VHB e VHC encontradas na mesorregião marajoara em relação às regiões estudadas por Voigt et al., 2010, Livramento et al., 201; Scaraveli et al., 2011; Villar et al., 2014. Ao associar as soroprevalências dos marcadores anti-HBc, anti-HBs de forma isolada e anti-VHC com o status socioeconômico encontramos uma soroprevalencia do anti-HBc maior entre o gênero feminino, assim como o estudo realizado por Scaraveli et al. (2011). Já nas pesquisas de Jafri et al. (2006), Kangin et al. (2010), Compri et al. (2012), Ciacciai et al. (2014) e Villar et al. (2014) a frequência de positivos para o VHB foi maior entre os participantes do gênero masculino. O marcador anti-HBs teve maior prevalência entre os sujeitos do gênero masculino, assim como os resultados de Scaraveli et al. (2011) e Ciacciai et al. (2014). Quanto a presença do marcador anti-VHC, também, foi mais prevalente entre os participantes do gênero feminino, o mesmo foi encontrado nos estudos de Kangin et al. (2010) e Ciacciai et al. (2014). Por outro lado os estudos de Jafri et al. (2006) e Villar et al. (2014) encontraram mais sujeitos masculinos anti-VHC positivos. Não houve associação significativa entre a presença dos marcadores anti-HBc, anti-HBs e anti-VHC e o gênero em nenhum dos municípios estudados, bem como as pesquisa realizadas por Assis et al. (2004), Compri et al. (2012) e Villar et al. (2014). Também não houve associação significativa entre as faixas etárias e a presença dos marcadores virais, apesar da prevalência desses marcadores predominarem entre os adolescentes. Kangin et al. (2010) observaram que a prevalência do anti -HBc aumentou gradativamente com a idade. Ciacciai et al. (2014) e Villar et al. (2014) também encontraram prevalência maior do VHB entre os adolescentes, bem como Aquino et al., em 2008, que encontraram uma prevalência de 0,9% de anti-HBc em crianças de 0 a 9 anos e de 6,0% em pessoas de 10 a 19 anos, no Pará; e Clemens et al., em 2000, que encontraram nas quatro regiões do Brasil um aumento significativo de anti-HBc na adolescência. Clemens et al. (2000) observaram um aumento na soroprevalência para o VHB na adolescência e a relacionaram ao inicio da atividade sexual, que é uma significativa via de transmissão deste agente, porém em nosso estudo apenas 2 dos 23 casos positivos para o marcador anti-HBc relataram vida sexual ativa, e portanto não é possível associar prevalência 62 do marcador anti-HBc ao comportamento sexual. Outro fator importante que devemos levar em consideração, ao analisar a prevalência do VHB em crianças e adolescentes, é a vacinação. Sabe-se que a implantação do esquema de vacinação no Brasil foi na década de 1990, o que poderia estar relacionada a menor prevalência do VHB entre as crianças nascidas a partir desta década. O êxito da introdução da vacina anti-VHB para o Programa Nacional de Imunizações do Brasil tem tido um grande impacto sobre a prevalência de marcadores do VHB entre as crianças e adolescentes. Os resultados da pesquisa de Villar et al. (2014) mostraram que a vacinação universal de lactentes contribuiu diretamente para a redução da prevalência de HBsAg e anti-HBc, durante os anos de coleta. Livramento et al. (2011) acreditam que a vacinação refletiu na menor prevalência do VHB em crianças, Ciacciai et al. (2014), também, atribuíram à vacinação o fato de não encontrar nenhuma criança portadora do marcador de hepatite B em seu estudo. O marcador vacinal anti-HBs isolado foi mais prevalente entre a população de 13 a 17 anos em nosso estudo, o que pode estar associado com o fato dessa faixa etária conter mais participantes com o esquema vacinal completo. Kangin et al. (2010) observaram que a prevalência do anti-HBs isoladamente aumentou gradativamente com a idade, e associaram isto à vacinação nacional eficaz e rotineira contra a hepatite B. Nesse trabalho o VHC foi mais prevalente entre os adolescentes do que entre as crianças, bem como nos estudos de Jafri et al. (2006) e Villar et al. (2014), os quais constataram o aumento proporcional da prevalência do anti-VHC com a adolescência. As maiores prevalências dos VHB e VHC são encontradas nos adolescentes provavelmente devido às rotas de transmissão desses vírus (principalmente as vias sexuais e parenterais), bem como ao maior tempo de exposição aos fatores de risco desse grupo, principalmente quando levamos em consideração a via horizontal (Kangin et al., 2010; Livramento et al., 2011; Villar et al., 2014). O caráter transversal deste estudo, somado a dificuldade de acesso à história familiar e aos marcadores sorológicos dos contatos intradomiciliares dos participantes, constituem fatores limitantes à determinação dos mecanismos de transmissão dos vírus. Porém devido à população estudada ser de crianças e adolescentes e ao número pequeno de participantes com vida sexual ativa, a via vertical e horizontal se tornam importantes vias de disseminação dos VHB e VHC (Assis et al., 2004; Kangin et al., 2010; Compri et al., 2012; Ciacciai et al., 2014). De acordo com Passos et al. (2003) a transmissão perinatal é uma importante via para 63 o VHB em crianças, além do mais essa via ganha maior relevância em áreas de alta endemicidade como na região amazônica. O contato domiciliar (via horizontal) é a segunda provável fonte de infecção segundo o Boletim Epidemiológico realizado em 2010 (Brasil, 2012). Assis et al. (2004) relataram que em um município da Amazônia brasileira, de endemicidade moderada de HB, a transmissão horizontal foi a principal forma de infecção na primeira década de vida. Compri et al. (2012) encontraram alta prevalência do VHB em familiares de crianças e adolescentes com o vírus, ratificando a importância dessa via entre os mais jovens. Já quanto ao VHC a transmissão vertical tem pouca importância (El-Shabrawi & Kamal, 2013). Oliveira et al. (2011) relataram que o ambiente familiar é um dos principais reservatórios para VHC e, assim, contribui para sua disseminação e propagação. Apesar da transmissão intrafamiliar do VHC ser considerada como uma via não significativa de transmissão, o mesmo estudo demonstrou taxas expressicas de prevalência de anti-VHC em familiares de pacientes com VHC crônica e /ou em contatos domiciliares de indivíduos antiVHC positivo. Importante salientar que não houve nenhum participante com relato de uso de drogas ilícitas e nenhum dos positivos para o VHC tinham vida sexual ativa. Clemens et al., em 2000 encontraram 3,1% das crianças soropositivas para anticorpos anti-HBc com um ano de idade, sugerindo a transmissão vertical; também 24,5% das crianças entre 1 e 10 anos eram soropositivas para anticorpos anti-HBc em Manaus, o que é típico de uma região de alta endemicidade onde a transmissão vertical e a horizontal precoce são importantes vias de infecção. Outros autores referem que a infecção da hepatite B é mais comumente transmitida em crianças através da rota horizontal (Fonseca, 1988; Odusanya et al., 2005). Compri et al. (2012) identificaram entre 118 familiares de crianças e adolescentes, que 58 eram mães e 52 delas (44,07%) apresentam marcadores de contato prévio pelo VHB, além de 30 (25,42%) serem portadoras de infecção crônica e 13 (11,02%) eram HBeAg positivas, estes resultados são relevantes, uma vez que a transmissão vertical é uma importante via dessa faixa etária e o risco de transmissão vertical aumenta com o aumento da carga viral materna. Ainda nesse estudo (Compri et al., 2012) 38 familiares (32,20%) possuíam o marcador antiHBc, o que dá ainda mais suporte a hipótese da disseminação do VHB intrafamiliar. Kangin et al. (2010) identificaram em suas pesquisas alta prevalência do HBsAg e do HbeAg nos participantes com menos de 5 anos, sugerindo a infecção vertical como importante via do VHB. Ciacciai et al. (2014) identificaram que cinco dos seis alunos com sorologias reagentes para hepatite B tinham pelo menos um familiar com um marcador 64 positivo, sugerindo assim que o ambiente familiar possa ter contribuído para a disseminação do vírus. Assis et al. (2004) afirmaram que o VHB apresenta ainda formas mal definidas de contágio, como a que ocorre no ambiente domiciliar entre pais, filhos e irmãos. Alguns hábitos intradomiciliares, como os de compartilhar o prato, talheres e copo durante refeições foram muito frequentes em sua pesquisa: 284 crianças (58,3%) apresentaram esse comportamento. Trezentas e sete crianças (63,0%) relataram uso comum de toalhas e roupas e 273 (56,1%), o hábito de dormir na mesma cama com outros familiares. Oliveira et al. (2011) ao compararem os marcadores sorológicos para HCV e os fatores de risco na população ribeirinha na Amazônia, concluíram que o ambiente familiar é um dos principais reservatórios para HCV o que contribui para a sua propagação. Os pesquisadores alertaram ainda o fato de 72% dos indivíduos compartilharem instrumentos de manicure entre os membros da família. Oliveira Filho et al. (2014) nos seus estudos epidemiológicos com população não usuária de drogas injetáveis, no Estado do Pará, cogitaram que o convívio diário, com o uso compartilhado de utensílios, como aparelho de barbear descartável e material de manicure, eram uma importante via de transmissão do VHC. A alta endemicidade do VHB nas regiões pobres do mundo levou à associação entre os baixos níveis socioeconômicos aos fatores relacionados à transmissão do vírus. Omlande et al. (2013) em um estudo de caso controle com 3016 infectados com VHC e com 15.080 controles, identificaram que o baixo status socioeconômico estava associado com o aumento do risco de infecção pelo VHC, bem como a um pior prognóstico. Em nosso estudo as variáveis gênero e idade não apresentaram diferença significativa quando associadas à positividade dos marcadores sorológicos em nenhum dos municípios estudados; e quanto à renda, houve resultado significativo quanto à associação da renda familiar e a presença de positividade do marcador anti-HBs em SSBV. Baixa escolaridade e / ou baixo nível sócio-económico, também tem sido associada com a prevalência de uma série de doenças infecciosas, no estudo de Jafri et al. (2006) a escolaridade dos pais teve influencia na positividade dos marcadores pra VHB e VHC, tais pesquisadores identificaram baixa escolaridade dos pais de crianças com marcador positivo para estes vírus. Diferente do que encontramos em nosso estudo, Ciacciai et al. (2014) não encontraram nenhuma associação dos marcadores sorológicos com o nível socioeconômico. Assis et al. (2004) também não encontraram associação de positividade entre marcadores do VHB e condições econômicas, nível de escolaridade dos pais, condições higiênico sanitárias ou 65 número de cômodos do domicilio, porém encontraram uma associação entre o maior número de moradores e a presença de marcadores da hepatite B, sugerindo que as condições culturais, econômicas e sanitárias influenciam, mas não determinam, isoladamente, a disseminação do VHB. O baixo nível socioeconômico ou de escolaridade podem refletir diretamente na saúde dos indivíduos, haja vista que muitas informações podem não serem bem compreendidas, inclusive aquelas relativas à imunização e sua importância no controle de doenças infecciosas. Oliveira et al. (2014) ao analisarem fatores associados à cobertura vacinal em crianças menores de cinco anos identificaram a importância de fatores sociodemográficos, familiares e individuais como barreiras à vacinação completa. Branco et al. (2014) estudaram a associação da vacinação e o status socioeconômico de uma população na Amazônia e encontraram uma população com condições socioeconômicas desfavoráveis, vivendo principalmente em casas de madeira, e com uma renda mensal inferior a um salário por mês, nas quais estas condições foram fortes preditores de vacinação incompleta. O estudo realizado por Egondi et al. (2015) corrobora ao encontrarem associação da situação vacinal e nível socioeconômico, afirmando que a taxa vacinal em crianças pobres era menor que a taxa vacinal global, mostrando que os mais pobres eram mais propensos à esquemas vacinais incompletos. Moraes & Ribeiro (2008) relataram que em geral, segmentos populacionais com níveis econômicos e socioculturais mais baixos estão associados a menores coberturas vacinais. E ainda Branco et al. (2014) afirmaram que crianças nascidas ou que viveram em áreas rurais / ribeirinhas da Amazônia eram significativamente mais propensas a terem vacinação incompleta, enquanto a residência em áreas urbanas representou um fator protetor à cobertura vacinal. Nosso estudo identificou uma baixa cobertura vacinal na população avaliada. Além disso, houve associação significativa entre a presença do marcador vacinal e a renda familiar em SSBV, o município com maior Índice de Desenvolvimento Humano - IDH (IBGE, 2010) e também com maior cobertura vacinal dentre os estudados. Este resultado permite inferir que a baixa cobertura vacinal encontrada na maioria dos municípios estudados pode estar relacionada com a renda familiar mais baixa. Desta forma, o status socioeconômico deficitário refletiria em maior suscetibilidade à infecção pelo VHB. 66 5 CONCLUSÕES Foi identificada em nosso estudo uma maior prevalência de VHB do que VHC, sendo a co-infecção VHB/VHC observada em 0,1% da população investigada. A imunização vacinal ao VHB foi observada em 53,1% dos participantes enquanto 46,9% dos sujeitos estudados apresentaram suscetibilidade á infecção. As prevalências dos VHB e VHC encontradas nesse trabalho nos permite supor que a mesorregião do Marajó estudada apresenta endemicidade moderada para o VHB e baixa para o VHC. A cobertura vacinal anti-VHB nos municípios estudados foi menor do que o recomendado pelo Ministério da saúde, deixando essa população mais exposta ao VHB. As variáveis socioeconômicas (gênero, idade e renda familiar) não foram significativamente associadas à presença dos marcadores virais (anti-HBc e antiVHC). Os resultados sugerem que a renda familiar possa influenciar no status de imunização vacinal contra o VHB. 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALI, S.A., DONAHUE, R.M., QURESHI, H., VERMUND, S.H. Hepatitis B and hepatitis C in Pakistan: prevalence and risk factors. International Journal of Infectious Diseases 13(1): 9-19, 2009. ALIZADEH, A.H., RANJBAR, M., ANSARI, S., et al. Seroprevalence of hepatitis B in Nahavand, Islamic Republic of Iran. Eastern Mediterranean Health Journal 12(5): 528-37, 2006. ALMEIDA, D. Importância clínica dos genótipos do vírus b. Gazeta Médica Da Bahia 79(15): 39–40, 2009. ALMEIDA, J. D., RUBENSTEIN, D., STOTT, E. J. New antigen-antibody system in Australia-antigen-posi. Lancet 4(2): 1225–7, 1971. ALTER MJ. Epidemiology of hepatitis B in Europe and worldwide. Hepatology 39: S64– S69, 2003. ALTER, M. J. Epidemiology of viral hepatitis and HIV co-infection. Journal of Hepatology 44(1): S6–9, 2006. ALTER, M. J. Epidemiology of hepatitis C virus infection. 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Para que eu decida em participar ou não da pesquisa foram prestadas as seguintes informações: 3. O pesquisador responsável é o Prof. Dr. Ricardo Ishak, Biomédico, Professor Titular da Universidade Federal do Pará. 4. O objetivo da pesquisa é o de aumentar o conhecimento vigente acerca das condições de saúde nos municípios de Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista e Portel, referentes a saúde da criança, doenças transmissíveis, alimentação e nutrição, saúde reprodutiva, práticas tradicionais de costumes terapêuticos, a influência do meio ambiente na saúde, doenças crônicas (câncer cervical e outras neoplasias e medidas de atenção à saúde. 5. Durante a pesquisa o paciente deverá responder a um questionário, fornecerá uma amosta de sangue para exames diversos de laboratório e de uma amostra de fezes. 6. Essa pesquisa não oferece riscos; as práticas são de uso rotineiro e apenas uma pequena quantidade de sangue (10mL) será coletada para a detecção de anticorpos, marcadores genéticos e exames bioquímicos de rotina. 7. Na colheita de material biológico serão utilizados materiais esterilizados descartáveis, como agulhas, seringas, que não oferecem risco para o sujeito da pesquisa. 8. Ninguém é obrigado a participar da pesquisa, assim como poderá deixar a pesquisa no momento que quiser, pois não haverá prejuízo pessoal por esta causa. 9. Não haverá nenhum tipo de despesas para participação da pesquisa, assim como não haverá nenhuma forma de pagamento para participação. 10. O grande benefício desta pesquisa para todos os que participam, ou não, é propiciar a apresentação de resultados que poderão ser utilizados para a melhoria das condições de vida humana, nos municípios alvo e expandidos para a larga extensão territorial do Marajó. 11. A participação na pesquisa é sigilosa, isto significa que, somente os pesquisadores ficarão sabendo de sua participação. Os dados utilizados na pesquisa terão uso exclusivo neste trabalho, sem a identificação individual do participante. _______________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Declaro que li as informações acima sobre a pesquisa, que me sinto perfeitamente esclarecido(a) acerca do conteúdo da mesma, assim como seus riscos e benefícios. Declaro ainda que, por minha livre vontade, aceito participar da pesquisa cooperando com a coleta de material para exame. _________, ____ / _____ / _____ Prontuário:______________ ___________________________ Assinatura do participante Protocolo: Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Laboratório de Virologia, Fone: (91) 3201-7587 e-mail: [email protected] 89 ANEXO C
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