Revista Or Israel Chai
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Revista Or Israel Chai
CHAI Órgão informativo dos alunos do Or Israel College outubro 2015 | Tishrei 5776 | # 27 OR ISRAEL OS CORDEIRINHOS SE TORNARAM CARNEIROS (TALMUD BERACHOT 63a) OR ISRAEL CHAI | :: 1 :: E N T R E V I S T A 2 :: |OR ISRAEL CHAI Ouvidoria do Grupo Rendimento - [email protected] - 0800 722 0132 (das 9h às 18h, dias úteis). :: E D I T O R I A L CHAI Órgão informativo dos alunos do Or Israel College EDIÇÃO 27 outubro 2015 | Tishrei 5776 | # 27 Foto tirada no vale onde David guerreou contra Golias , Vale de Elá, Israel OR ISRAEL EDITORES Daniel Vofchuk Michael Kullock RESPONSÁVEIS PELO PATROCÍNIO Michael Kullock OS CORDEIRINHOS SE TORNARAM CARNEIROS (TALMUD BERACHOT 63a) Jovens Alunos, Novos Líderes! Igor Kummer COLABORAÇÃO Sra. Vera Muller Eliahu Zagury David Zimberknopf Alunos do Or Israel College ROSH YESHIVA Rabino Raphael Shammah COORDENAÇÃO GERAL Rabino Chaim Vital Passy PROJETO GRÁFICO, DIAGRAMAÇÃO E EDIÇÃO DE IMAGENS Equipe Nascente FOTO DA CAPA Daniel Vofchuk David Zimberknopf REVISÃO O crescimento físico é algo natural. O bebê é alimentado e, milímetro após milímetro, seu corpo vai aumentando até se tornar um corpo adulto. Já o desenvolvimento emocional de cada indivíduo atravessa desafios e obstáculos. Mas, “por bem ou por mal”, todos amadurecemos. Mas a envergadura intelectual – e muito mais a grandeza de espírito – depende do esforço e dedicação do próprio indivíduo. Esse crescimento não é algo óbvio. A própria Guemará nos conta que Chananya, o maior sábio da geração, que emigrou da terra de Israel para a Babilônia, desconhecia que os jovens alunos que deixara na terra de Israel haviam se tornado gigantes da Torá. Nosso trabalho no Or Israel College é concretizar o potencial de cada aluno, desenvolver os seus dons da melhor forma e fomentar os que têm capacidade de liderança em nossa comunidade e no povo de Israel. Olhando para trás, temos grande orgulho de tantos ex-alunos que influenciam a trilha da história de Am Yisrael! Nossa pequena chama da Yeshivá tem um efeito multiplicador. Nossos líderes se tornaram exemplos e mestres de outros alunos, que por sua vez, novamente, ocuparam lugares de destaque. Caro leitor, convido-o a sentir a luz de nossos alunos no “Or Israel Chai”, Boa leitura! R. Raphael Shammah Saul Menaged TIRAGEM 9.000 exemplares Rua Gal. Fernando V.C. Albuquerque, 1011 Granja Viana CEP 06711-020 Cotia SP Tel.: 11 4613-3440 [email protected] OR ISRAEL CHAI | :: 3 sumário 03 | EDITORIAL 06 | ENTREVISTA R. Rafael Schuster 08 | HISTÓRIA Advogado do Rebe R. Raphael Shammah 10 | HISTÓRIA Pêssach em Bergen-Belsen R. S. 13 | HISTÓRIA O Rabino, o Presidente da França e o Trono de Napoleão Joe Shayo e Daniel Turnowski, 9º ano do Ensino Fundamental 16 | HISTÓRIA Dois Zlotis Para o Defensor de Israel Michel Gruenberg, Boguer da Yeshivá 19 | MÍSTICA Yeshivat Mekubalim Beni Sued, 3º ano do Ensino Médio 22 | ENSINAMENTO Repense! Yehudá Shani, 9º ano do Ensino Fundamental 4 :: |OR ISRAEL CHAI 24 | CULTURA Teste o seu conhecimento: Quem disse a frase? R. Isaac Shammah e Israel Chouveke, 1º ano do Ensino Médio 28 | ENSINAMENTO Pérolas da Tefilá Mêlech Ozer Umoshia Umaguen Voltando ao Navio Michael Kullock, 2º ano do Ensino Médio 30 | ENSINAMENTO Os Cordeirinhos se Tornaram Carneiros Iossef Fuksman, 2º ano do Ensino Médio 32 | ISRAEL Israel por nossas lentes 45 | ENSINAMENTO Amigos de Verdade 49 | ENSINAMENTO Caráter: É Caro e Quem Tem Não Vende R. Chaim Vital Passy 52 | HISTÓRIA Quando Está Pegando Fogo é Diferente! 53 | ENSINAMENTO Qual é o seu Passuc? Azriel Tzipel, 8º ano do Ensino Fundamental 54 | ISRAEL Imigração Etíope Guilherme Rabinovitsch, 3º ano do Ensino Médio 34 | EDUCANDO PARA A VIDA A viagem para Israel 36 | ENSINAMENTO O Papel Principal de Nossa Geração R. Chaim Vital Passy 39 | HISTÓRIA Só D’us Sabe! Michael Kullock, 2º ano do Ensino Médio 41 | HISTÓRIA O Mérito do Remá 42 | ENSINAMENTO Quem é Livre? Daniel Grinspan, 2º Ano do Ensino Médio OR ISRAEL CHAI | :: 5 :: E N T R E V I S T A R. Rafael Schuster Entrevista com o idealizador do site Shiurdiario.com, que publica as aulas do programa Daf Yomi em português. também perguntas e respostas, e até conselhos pessoais no âmbito do estudo. Baruch Hashem há uma demanda para isso, e sentimo-nos alegres em poder oferecer essa espécie de experiência. O mundo tende a interconectar-se cada vez mais, portanto, há uma tendência natural de conectarmo-nos também em relação ao estudo da Torá, unificandonos de forma útil e produtiva. Or Israel Chai — O que é o Shiurdiario. com? R. Schuster — O Shiurdiario.com é um projeto com o objetivo de aproximar pessoas de diversos níveis no estudo da Torá a uma central de shiurim de alta qualidade e acessibilidade, tanto em relação ao conteúdo quanto à apresentação. Gosto de olhar para o nosso site como um portal que conecta os professores de Êrets Yisrael com os judeus brasileiros em todo o mundo – um lindo vínculo com o estudo da Torá. Nesta fase inicial, o nosso site se especializa em aulas seguindo o ciclo do Daf Yomi, um programa de estudo do 6 :: |OR ISRAEL CHAI Talmud que consiste em estudar uma folha de Guemará por dia. Nosso plano para o futuro é expandir o site, com a ajuda de D’us, e fornecer shiurim que abranjam diversas áreas da Torá. Or Israel Chai — Quem são os professores que lecionam no Shiurdiario. com? R. Schuster — Temos uma equipe de professores que residem em Israel e têm interesse em divulgar o estudo ao público brasileiro que está longe do alcance físico, porém muito próximo por meio desta ferramenta virtual. Esse vínculo não se limita a shiurim, mas inclui Or Israel Chai — Como surgiu a ideia do Shiurdiario.com? R. Schuster — A ideia surgiu de forma bastante espontânea. Era uma época que estava começando o ciclo do programa mundial Daf Yomi e pensei: “Puxa, seria muito interessante o desafio de estudar Guemará no ritmo de um daf (uma folha) por dia e, ao mesmo tempo, ensinar pessoas que falam meu idioma, estando eu aqui em Israel”. O fato de criarmos uma biblioteca virtual de shiurim possibilita qualquer indivíduo com acesso à Internet de seguir o programa Daf Yomi integralmente conosco, ou mesmo repor um shiur que tenha perdido no grupo que frequenta. Usar a tecnologia a favor da Torá também é algo que sempre me atraiu. Conseguimos transmitir o shiur com alta qualidade de imagem, como se o aluno estivesse na frente do professor! Creio que nossa geração recebeu essas ferramentas digitais justamente porque há em nossa época uma grande importância de divulgar a Sabedoria Divina contida na Torá a todos os judeus, independente de onde estejam e como vivem. De fato, não há dúvida que a maioria do Povo Judeu esta conectado, de certo modo, à tecnologia digital. Assim, assistir um shiur online é uma das soluções para conectar o século XXI à sabedoria e aos valores eternos da nossa sagrada Torá. Or Israel Chai — Quantas pessoas visitam o site diariamente? R. Schuster — Baruch Hashem temos um grande movimento, principalmente no começo de cada tratado talmúdico. Em meados de cada tratado temos uma média de 130 pessoas acessando o site diariamente (referente ao começo do ano 2015). Alguns ouvintes seguem o ciclo do Daf Yomi, enquanto outros estudam as páginas do Talmud em seu próprio ritmo. Existem também ouvintes que estudam a Guemará sozinhos, porém nos acessam para esclarecimentos de dúvidas. Enfim, há inúmeras possibilidades, providas por D’us por meio da tecnologia atual, para usar os arquivos virtuais dos shiurim – cada um as utiliza como mais lhe convém. Or Israel Chai — O público que frequenta o site é exclusivamente do Brasil? R. Schuster — Em sua maioria o público é do Brasil, de diversas partes do país, e de Israel. Porém também há ouvintes dos Estados Unidos e da Europa. Fico feliz quando recebo e-mails de pessoas afirmando que começaram a conectar-se à Torá e ao judaísmo por meio de nossos shiurim. Não há nada que me dê mais estímulo para continuar e ampliar o projeto do que esses relatos! “Recebemos essas ferramentas digitais porque há em nossa época uma grande importância de divulgar a Sabedoria Divina contida na Torá a todos os judeus, independente de onde estejam e como vivem.” OR ISRAEL CHAI | :: 7 :: H I S T Ó R I A Advogado do Rebe O A maioria das pessoas que frequenta cursos acadêmicos tem a intenção de conseguir um emprego melhor para facilitar seu sustento. Mas há exceções. ito anos atrás, fui com meu tio visitar a faculdade de Kiryat Ono – “Hakiryá Haacademit Ono” ou “Ono Academic College” – a primeira instituição educacional de formação acadêmica que abriu classes especiais para estudantes charedim (judeus observantes) em Israel. Segundas e quartas-feiras estudavam mulheres. Terças e quintas estudavam homens. Naquela época abriram somente dois cursos: Administração e Direito. Os cursos eram ministrados em Or Yehudá, um distrito de Tel Aviv próximo da sede da faculdade de Kiryat Ono. Visitamos as classes e entrevistamos dois grupos de estudantes: quatro mulheres e quatro homens. Todas as mulheres usavam peruca ou lenço; eram bem religiosas. Os homens também: dois usavam capotas e dois usavam ternos escuros. Todos tinham barba, peot e usavam chapéus. Pedimos para cada um deles contar a razão que os levou a tomar esta iniciativa pioneira na sua comunidade, de estudar para conseguir obter um diploma acadêmico. Uma das moças contou-nos sobre a situação de pobreza que reinava em sua casa. Que ela pretendia obter um bom emprego para ajudar sua família. Outra falou que seu marido estudava Torá durante todo o dia. Ela queria ajudá-lo financeiramente para que ele continuasse a estudar e, provavelmente, o diploma a ajudaria a obter um melhor emprego. Assim por diante, cada um tinha sua história para contar. O último que entrevistamos foi um chassid de Gur; um rapaz que usava meias pretas longas e calças largas até abaixo do joelho. Ele nos disse: “Eu não vim estudar por problemas de parnassá (sustento). Eu vivo bem financeiramente, mas tenho uma história especial que me levou a procurar este curso de Direito, que estou terminando”. Ficamos curiosos. Com um sorriso, ele começou a contar sua história: “Eu era um avrech que estudava Torá todo o dia. Nós morávamos, minha esposa e eu, no primeiro andar de um prédio, logo acima de uma agência bancária. Era a década de 90, quando começaram a chegar os russos a Israel. Assaltos a ban- “Naquele momento lembrei do que o Rebe havia me dito: ‘Ajudar todo yehudi que me pedisse auxílio’. Só não imaginei que isso aconteceria tão rápido!” 8 :: |OR ISRAEL CHAI cos quase não existiam em Israel. Mas naquela época, com a infiltração da Máfia Russa, ocorreram alguns. “Um desses assaltos aconteceu justo no banco situado embaixo de nosso apartamento. Durante a troca de tiros entre os ladrões e a polícia, uma bala perdida acertou as costas da minha esposa que estava na nossa sala. Ela começou a perder muito sangue e foi levada às pressas ao hospital. “Em estado gravíssimo, provavelmente ela viveria somente mais algumas horas, segundo os médicos. No caso de sobrevivência, provavelmente ficaria paraplégica. “Era sexta-feira, êrev Shabat. Eu estava desesperado e apavorado. Tremendo, liguei para o shamash do Rebe em Jerusalém para conseguir uma berachá. “Vinte minutos depois, o shamash retornou minha ligação. O Rebe – Hagaon Pinchas Menachem Alter, conhecido como Penê Menachem (1926–1996) – dissera que minha esposa voltaria para casa mais rápido do que eu imaginava. “O milagre aconteceu contra a previsão dos médicos. Baruch Hashem minha esposa sobreviveu e, em duas semanas, voltou para casa. Os médicos ficaram pasmos e disseram que não sabiam como explicar sua recuperação. “Em um mês minha esposa já levava uma vida normal. “Então viajei a Jerusalém para visitar meu Rebe e agradecer-lhe por sua berachá e por suas rezas. “O Rebe ouviu-me atentamente e pediu para mim que eu retribuísse, ajudando a todo yehudi que me pedisse auxílio. Logicamente, concordei de imediato. “Quando saí da sala do Rebe, muitos chassidim queriam ouvir como foi o encontro – que durou apenas cinco minutos... “Enquanto eu contava os detalhes da conversa para aqueles chassidim, um yehudi me cutucou nos ombros, dizendo: “– Você é o fulano de tal? Entrei na sala do Rebe logo depois de você. Ele me disse que você poderá me ajudar! Estou com dívidas em dois bancos, minha casa está hipotecada e também devo dinheiro em alguns guemachim (fundos beneficentes de empréstimo). Estou atolado em dívidas e não sei mais como manter minha família. “Logo respondi ao pobre rapaz que deveria estar acontecendo algum engano: ‘Eu não tenho dinheiro para ajudá-lo, sou um simples avrech!’ “Entretanto, o yehudi contestou: “– Mas foi o Rebe que pediu para eu procurar você! Ele foi muito claro. Disse-me para falar com a pessoa que havia entrado na sala para falar com ele antes de mim! Ele disse que você saberia como me ajudar! “Logo lembrei do que o Rebe havia me dito: ‘Ajudar todo yehudi que me pedisse auxílio’. Só não imaginei que seria tão rápido! “Respondi que tentaria ajudá-lo de alguma forma. Fui visitar os diretores dos bancos, renegociei suas dívidas e parce- lei-as a longo prazo. Consegui mais um empréstimo de outro guemach e organizei a vida daquele yehudi. Após dois anos, finalmente, sua vida se normalizou. Restou uma pequena parcela mensal a ser restituída para os credores. Ele respirou novamente, conseguiu voltar a trabalhar com tranquilidade e a sustentar sua família com dignidade. “Resolvido! “Mas, após este caso, outras três pessoas vieram me procurar com seus problemas financeiros. E depois, mais algumas a cada ano. “Acabei me tornando uma visita frequente a diretores de bancos para negociar as dívidas destas pessoas. “Nas idas e vindas desta minha ocupação, tomei conhecimento de boas oportunidades em um novo ramo de trabalho. Fiquei sabendo de apartamentos que os bancos confiscam de devedores e vendem em leilões públicos. Estas oportunidades viraram minha parnassá. Imaginei que seria um bom negócio comprar, reformar e vender estes apartamentos com lucro. Comecei comprando um apartamento por ano. Hoje compro, reformo e vendo três apartamentos por ano. “Agora que vocês conhecem minha história, podem entender por que estou estudando nesta faculdade. Vim aqui para estudar Direito. Como advogado, imagino que serei mais eficiente em ajudar nos casos de amigos endividados. “Estou me formando como advogado para poder ajudar melhor os outros – não para facilitar meu sustento. “Nunca vou esquecer que o Rebe pediu que eu retribuísse sua berachá, ajudando a todo yehudi que me pedisse auxílio.” R. Raphael Shammah OR ISRAEL CHAI | :: 9 :: H I S T Ó R I A Pêssach em Bergen-Belsen Um dos poucos rebes chassídicos que sobreviveram aos campos de concentração, o Bluzhever Rebe, passou por histórias heroicas e significativas. E m certa ocasião, o Bluzhever Rebe (1889–1989) estava no campo de concentração de Bergen-Belsen, onde muitos judeus conseguiam cumprir algumas mitsvot. Rav Chaim Biniamini Shelita, fundador da yeshivá de Petrópolis, sobrevivente de Bergen-Belsen, contou várias vezes que lá os prisioneiros eram divididos por países de origem – húngaros, holandeses, etc. Apesar de que havia vários arames farpados entre os grupos, em Purim contrabandearam uma Meguilá dos holandeses para os húngaros. E em Rosh Hashaná conseguiram enviar um shofar dos húngaros para os holandeses. Pêssach se aproximava em Bergen -Belsen. Mas como os judeus poderiam 10 :: |OR ISRAEL CHAI sonhar em conseguir alguma matsá? Um grupo de judeus aproximou-se do Bluzhever Rebe, comentando o quanto seria maravilhoso se conseguissem preparar algumas matsot antes de Pêssach. O sábio, pensativo, disse que iria tentar conseguir o necessário. Um dos alemães comandantes do campo, Hans, já tinha ido algumas vezes conversar com o Rebe sobre assuntos de filosofia mas, lógico, sempre de forma totalmente sigilosa. Na primeira ocasião em que conseguiu se comunicar com Hans, o Rebe perguntou-lhe se poderia conseguirlhes um forno, farinha e água para um ato religioso extremamente importante para as pessoas de seu barracão. O ale- mão arregalou os olhos incrédulo, mas acabou dizendo que veria o que poderia fazer por eles. Alguns dias depois, o comandante disse ao Rebe que lhe enviasse dois judeus para retirar com um carrinho de mão, um pequeno forno, um saco de farinha e um galão de água em determinado local. A notícia se espalhou e todos perceberam que um milagre estava acontecendo na véspera de Pêssach. Muito cedo pela manhã, antes de saírem para o trabalho forçado, alguns yehudim começaram os preparativos para a realização das tão sonhadas matsot. Em pouco tempo a primeira massa foi colocada no forno, dando início à produção. Pouco depois, o comandante Hans se aproxima rapidamente e entra no barracão. Pegando todos de surpresa, ele começa a esbravejar: – Quem tentou contrabandear uma carta com a mulher grávida que foi levada ontem ao hospital? – Perguntou o alemão irritado. – Quem foi? Rebe, você deve saber! Você tem vinte e quatro horas para me dizer, ou será morto. Saiba que, por causa disso, fui rebaixado de meu posto! É assim que vocês me retribuem?! O Rebe esperou o nazista parar de berrar e respondeu calmamente: – Eu não sei quem fez isso. Desconheço totalmente este fato. Mas, mesmo que soubesse, não iria delatá-lo. Se quiser, pode me matar agora. Felizmente o alemão não atirou. Mas, num acesso de fúria, destruiu totalmente o forno e fez questão de sujar toda a farinha remanescente. O sonho acabara... Sobraram umas poucas matsot guardadas que haviam sido retiradas do forno antes do inimigo chegar. “Aqueles que representam o futuro de nosso povo é que deveriam comer a matsá! Se eles puderem cumprir essa mitsvá em Bergen-Belsen, vão levá-la consigo para o resto de suas vidas.” OR ISRAEL CHAI | :: 11 :: H I S T Ó R I A 12 :: |OR ISRAEL CHAI Unidos. Entre eles, o Bluzhever Rebe e a mulher que sugerira a distribuição das matsot para as crianças. Certa vez, aquela senhora, que mantinha contato com este grande líder, telefonou-lhe dizendo que haviam lhe proposto um shiduch, um potencial pretendente para se casar com ela, de nome Yisrael Shapiro. Como ela não sabia quem era o indivíduo e não conhecia ninguém que pudesse ajudá-la, perguntou ao Rebe se ele poderia averiguar se aquele seria um bom shiduch. – Yisrael Shapiro é um bom judeu. É um bom shiduch para a senhora – logo respondeu o sábio ao telefone. – Pode ir se encontrar com ele, e que seja com grande berachá. Quando ela compareceu ao encontro marcado, espantou-se ao descobrir que Yisrael Shapiro era, nada mais nada menos, que o próprio Bluzhever Rebe! Ele se casaram, mas não tiveram filhos. O Rebe cuidou do filho de sua nova esposa como seu próprio filho. O sábio viveu 100 anos e exerceu grande influência na comunidade judaica dos Estados Unidos após o Holocausto. Faleceu no Brooklyn em 1989 e foi enterrado com grande honra em Jerusalém. Aquele jovem, que comeu a matsá no barracão de Bergen-Belsen, tornou-se o próximo rebe, herdeiro da chassidut de Bluzhev – o Rebe Tzvi Yehuda Shapiro. R. S. Matzav.com/Photos: JDN Quando ele saiu do barracão, começou uma discussão sobre quem deveria, entre todos os judeus do acampamento, ter o mérito de comer as matsot que restaram. Muitos indicaram o Rebe. Ele que tinha se colocado em perigo para conseguir a farinha e o forno. Outros argumentavam que deveriam honrar os mais velhos que se encontravam entre eles. Por fim, o Rebe decidiu que os mais idosos dentre os presentes teriam prioridade. Somente os dois ou três mais velhos indivíduos dentre todos, poderiam fazer a mitsvá de comer um pedaço de matsá em Pêssach! Neste momento, uma voz se fez ouvir do outro lado do barracão: – Bin’arênu uvizkenênu. Bin’arênu uvizkenênu! (Com nossos jovens e com nossos anciões) – começou a exclamar uma senhora. – Quando Moshê pediu ao Faraó para ir comemorar a festa de D’us no deserto, antecipou as crianças aos idosos. Eu acho que meu filho, que representa o futuro de nosso povo, é que deveria comer a matsá! Porque nós temos a esperança de que seremos libertados em algum momento. E não sabemos o que vai acontecer para nós neste mundo destruído. As pessoas podem se extraviar. As crianças podem se extraviar. Mas, se eles puderem cumprir essa mitsvá de matsá agora, neste Pêssach em Bergen-Belsen, eles vão levá-la consigo para o resto de suas vidas! O Rebe virou espantado para aquela senhora e, após um breve silêncio, afirmou: – Esta senhora tem razão. Procurem os mais jovens, as crianças! Em 15 de abril de 1945 a libertação chegou a Bergen-Belsen. Assistidos pela organização americana Joint (American Jewish Joint Distribution Committee), muitos dos sobreviventes emigraram para os Estados O atual Bluzhever Rebe acendendo a primeira vela de Chanucá 16 de dezembro de 2014 :: H I S T Ó R I A O Rabino, o Presidente da França e o Trono de Napoleão Uma grande surpresa tomou conta dos presentes durante a visita do Rabino Mordechai Eliahu zt“l ao presidente da França Jacques Chirac. C om grande cuidado, a embaixada de Israel na França preparara a visita do rabino-chefe sefaradi, Rav Mordechai Eliahu zt”l, ao Palácio l‘Élysée para encontrar o presidente da França, Jacques Chirac. Todos sabiam sobre as opiniões fortes que o rabino-chefe tinha sobre a soberania judaica em Êrets Yisrael, e tentaram fazer o máximo que puderam para garantir que a visita fosse cordial e pacífica. O presidente da França explicou que, embora não estivesse no protocolo, decidiu prestar uma homenagem especial ao Rav Mordechai Eliahu zt”l, condecorando-o com um medalhão de ouro do governo francês. OR ISRAEL CHAI | :: 13 :: H I S T Ó R I A Naquela época, a relação entre Israel e França era tensa. O presidente Chirac não era considerado um amigo de Israel e, em geral, era tido como um defensor dos países árabes. De várias formas pressionou Israel a abrir mão de territórios em Êrets Yisrael e a entregar até mesmo grande parte de Yerushaláyim. Com isto em mente, a preocupação que a embaixada tinha a respeito da visita oficial do Rav Mordechai Eliahu zt”l ao Palácio l’Élysée era compreensível. Eles acreditavam que o rabino não estava acostumado com a arte da diplomacia. Ele era conhecido por expressar suas opiniões de forma transparente, sem muita “enrolação”. Os diplomatas israelenses estavam preocupados que as palavras do sábio pudessem agravar a tensão entre os países. Antes da reunião com o presidente, o sábio foi convidado a uma visita especial ao museu do Louvre, para conhecer mais sobre a história e a cultura da França. Durante o “tour”, Rav Eliahu ouviu as explicações dadas e seguiu ao longo de várias exposições. Quando chegaram ao trono de Napoleão Bonaparte, o rav parou e virou-se para os que o acompanhavam, perguntando: – Quando Napoleão morreu? As autoridades francesas esconderam sua surpresa com a pergunta do visitante e começaram a explicar ao Rav Eliahu quem era Napoleão e que ele falecera em 1821, exilado em uma ilha, quando tinha 51 anos. O rav ouviu com atenção e continuou a perguntar: – E o seu trono esta à venda? Os membros da embaixada não sabiam o que fazer com seu embaraço. Novamente as autoridades francesas fingiram naturalidade com a pergunta. 14 :: |OR ISRAEL CHAI Logo responderam que, obviamente o trono não estava à venda. “Este é um tesouro histórico muito precioso. E nossos tesouros históricos não estão à venda”, disseram eles. De lá, passaram por outras exposições, até chegar aos móveis que pertenceram ao rei Luís XIV. Mais uma vez o rav perguntou: – Quem era Luís XIV? A esposa do rav, a Rabanit Tsvia, não entendeu por que o rav perguntou algo tão óbvio sobre a mais longa monarquia da história europeia. Mas o rav logo olhou para ela, fazendo-a entender que sua pergunta tinha um propósito específico. Com o máximo de etiqueta, os integrantes da escolta francesa tomaram algum tempo para explicar-lhe fatos históricos sobre o absolutista “Rei Sol”, que governara a França há 300 anos. Novamente o rav ouviu as explicações demonstrando grande interesse e depois perguntou: – O rei foi uma boa pessoa? Os franceses responderam: “Ele tinha um caráter duvidoso. Mas esta é a nossa história, estamos orgulhosos dela e nós a respeitamos”. O rav acenou com a cabeça e continuou. A visita ao museu chegou ao fim e o grupo dirigiu-se para cumprimentar o presidente francês. O encontro frente às câmeras foi aberto com saudações e bênçãos para o rav por ocasião da sua visita. Finalmente, o rabino foi convidado a falar. Próximo a ele estava um indivíduo da Embaixada de Israel, que iria traduzir suas palavras para o francês. Na abertura de seu discurso, Rav Eliahu descreveu sua visita ao Museu do Louvre. Ele detalhou o constrangimento de seus anfitriões ao ouvirem sua per- gunta sobre o trono de Napoleão... e se estava à venda. Todos os presentes caíram na gargalhada. O rav citou também a resposta que lhe foi dada de que “artigos históricos não estão à venda”. Neste ponto do discurso, a rabanit percebeu que o tradutor não estava sendo cuidadoso em sua tradução. Ele estava tirando a objetividade das palavras do rav. Discretamente ela levou o fato ao conhecimento do marido. O rabino então, pediu desculpas pelo seu “vocabulário rabínico” e sugeriu que o rabino chefe da França traduzisse suas palavras, pois era importante para ele que o presidente entendesse suas palavras com precisão. E seu pedido foi atendido. Os presentes não estavam entendendo onde o rav queria chegar. No entanto, logo todos puderam ouvir as palavras contundentes do rav: – Eu percebi o vosso respeito para com o trono de Napoleão Bonaparte, que viveu há 200 anos atrás. Assim também, o vosso respeito pelo nome do Rei Luís XIV que, como mencionado, era um rei que possuía uma ética duvidosa. Este respeito é justificado, uma vez que esta é a vossa história. Estes são os representantes de sua tradição. Vocês têm orgulho dela e devem respeitá-la. Alguns poucos presentes já começaram a entender a intenção do sábio. E ele continuou: – Obviamente vocês esperavam também que eu deveria conhecer e respeitar a história da França, apesar de eu viver em Israel. No entanto, minha pergunta é a seguinte: Não é lógico que nós, os judeus de Israel, também devamos conhecer e respeitar a nossa própria história? Além disso, seria um exagero esperar que vocês também respeitassem nossa história? Pois nossa história nos ensina que D’us nos deu a Terra de Israel. Ela é a nossa propriedade histórica. Depois de Moshê vieram os reis David e Shelomô, que governaram em Yerushaláyim, capital de Israel. Por que deveríamos respeitar os seus reis e vocês não deveriam respeitar os nossos? Havia um silêncio absoluto no salão quando o rabino concluiu suas palavras: – Certamente vocês não venderão o trono de Napoleão. Mas será que nós devemos vender Yerushaláyim, que tem servido como o coração da nação judia por milhares de anos? Os corações dos membros da embaixada de Israel se agitaram. Eles aguardavam as reações furiosas do Presidente Chirac e seu gabinete. No entanto, a resposta francesa foi surpreendente. Quando o rav terminou seu discurso, a multidão se levantou e saudou o rabino com uma prolongada salva de palmas. As palavras do rav causaram uma tremenda impressão no Presidente Chirac. Ele agarrou a mão do rabino com emoção e não a soltou por um longo tempo. Naquele momento, o presidente se virou para seus assistentes e sussurrou algo em seus ouvidos. Os membros da embaixada de Israel ficaram chocados ao ouvir que o presidente pediu ao rav que esperasse mais um pouco no palácio. Ninguém sabia o propósito daquele pedido, até que um dos atendentes do presidente voltou com uma pequena caixa em suas mãos. O presidente da França explicou a todos os presentes que, embora não estivesse no protocolo, resolvera prestar uma homenagem especial ao Rav Mordechai Eliahu zt”l. Após ouvir o discurso de seu visitante de uma maneira que ele nunca tinha escutado alguém falar antes em sua vida, decidiu homenageá-lo com um medalhão de ouro que o gover- no outorga apenas aos chefes de estado. Aos olhos da plateia emocionada, o Rav Mordechai Eliahu zt”l foi condecorado com um medalhão de ouro do governo francês em meio a aplausos e vozes de aprovação. Todos se impressionaram com o verdadeiro orgulho judaico, que desperta respeito e é valorizado até mesmo por uma pessoa que até então era considerada contrária à política israelense. Graças àquele discurso do Rav Mordechai Eliahu zt”l, a partir de então, o Presidente Jacques Chirac mudou sua opinião sobre os judeus e sua política. Joe Shayo e Daniel Turnowski, 9º ano do Ensino Fundamental OR ISRAEL CHAI | :: 15 :: H I S T Ó R I A Dois Zlotis Para o Defensor de Israel Uma impressionante história com o grande sábio Rabi Levi Yitschak de Berditchev, o “Advogado de Israel”. E xistiram muitos rabanim importantes que ficaram conhecidos como grandes protetores do nosso povo em momentos de dificuldade. Alguns deles foram dotados de heroísmo e coragem inigualáveis. Outros, ficaram conhecidos pela genialidade, elevado conhecimento e emuná imbatível. Porém, apenas um ficou conhecido como “Sanegoran shel Yisrael” – O Advogado de Israel: o grande sábio “Kedushat Levy”. Conhecido por muitos como Rabi Levi Yitschak ben Sara Sossie zt”l, o Berditchever Rebe conseguia encontrar um ponto positivo até no yehudi mais 16 :: |OR ISRAEL CHAI afastado e desligado da Torá. Mas vamos aos fatos. Rabi Levi Yitschak de Berditchev nasceu no ano de 1740 (5500) em uma família prestigiada no conhecimento da nossa Torá. Desde muito cedo, o futuro rebe já demonstrava um nível de inteligência inigualável. Seus pais – Rabi Meir de Husakov e sua esposa Sara Sasha – souberam aproveitar e encaminhar bem o filho nos caminhos sagrados de nosso povo. Rabi Levi Yitschak casou cedo com a Rebetsin Perl zt”l, neta do Rav Yitschak Meir Frenkel zt”l, rabino chefe de Pinsk, uma cidade que pertencia à Polônia e hoje faz parte da Bielorrússia. Como bachur recém-casado, o jovem Levi Yitschak demonstrava uma crescente vontade de estudar chassidut junto ao grande Maguid de Mezeritch zt”l, aluno direto do Báal Shem Tov zt”l. Isso não passou despercebido do seu sogro, que provinha de uma famosa família lituana – que geralmente se opunha ao movimento chassídico. Apesar de seu sogro tentar impedi-lo, Levi Yitschak foi para Mezeritch estudar chassidut. Lá, tornouse amigo de duas grandes personalida- des do chassidismo: o Rebe Shneur Zalman de Liadi, também conhecido como Alter Rebe de Chabad-Lubavitch zt”l e o Rebe Shmelke de Nikolsburg zt”l. Com apenas vinte e um anos, Rabi Levi Yitschak foi convidado para ser o rav da cidade de Ritchvol (Ryczywól). Aos vinte e cinco foi nomeado rav de Zelichov e, aos trinta e seis, foi nomeado rabino chefe de Pinsk, posto anteriormente ocupado pelo avô de sua esposa. Aqueles anos conturbados foram palco do crescente movimento da “hitnagdut” – oposição ao movimento chassídico – composto por yehudim que não concordavam com as ideias dos chassidim, por espalharem segredos muito profundos da Cabalá para as grandes massas de Benê Yisrael . Pinsk não foi exceção. Num piscar de olhos, a cidade estava cheia de mitnagdim, que combatiam abertamente seus irmãos chassidim. Procurando sair dos olhos do confronto, Rabi Levi Yitschak fugiu para a cidade de Berditchev, na Ucrânia. Quando chegou, começou a receber visitas de grandes admiradores e yehudim que desejavam segui-lo. Assim nasceu a chassidut de Berditchev. De todas as regiões fluíam pessoas para passar Rosh Hashaná e Sucot em Berditchev. O Rebe ficou conhecido pelo seu profundo carisma e amor por Benê Yisrael. Estava sempre advogando pelo seu povo perante D’us. Muitas vezes se empenhava em longas rezas e “discussões” com os Céus para anular decretos difíceis sobre Am Yisrael. Ficou conhecido também pelo grande amor e empolgação às mitsvot. Contase que, certa vez, o Rebe passou a noite toda acordado na sua ânsia para colocar tefilin novamente, depois dos nove dias de Sucot. Em 1795 Rabi Levi Yitschak lançou o – Rebe! Eu lhe imploro! Vendi tudo o que tinha. Por favor, inclua meu nome e o de meu filho em sua orações, pois não tenho mais que essas duas moedas! OR ISRAEL CHAI | :: 17 :: H I S T Ó R I A grande livro que o imortalizaria, o “Kedushat Levy”, um compêndio de dois livros: o primeiro tratando de explicações e comentários sobre a Torá e os chaguim e o segundo comentando o Pirkê Avot e a chassidut em geral. Rabi Levi Yitschak faleceu no ano de 1809, no dia 25 de Tishrei. Até hoje, a cidade de Berditchev é palco de milhares de yehudim que desejam rezar no lugar de descanso do “Amante de Israel”, pedindo-lhe para interceder em seu nome nos Céus, assim como era seu costume durante sua vida terrena. Existem muitas histórias sobre a grandeza do “Sanegoran shel Yisrael”. Trazemos uma dessas maravilhosas pérolas, que evidenciam a dimensão deste nobre personagem: Era um frio êrev Yom Kipur. Já nevava em Berditchev. Naquele ano, estranhamente, o Rebe decretou que qualquer yehudi que quisesse ter seu nome incluído nas suas tefilot deveria, incondicionalmente, pagar duas moedas – dois zlotis. Deu ordens explícitas a seu shamash (ajudante) que não receberia ninguém que não contribuísse com esta quantia. Perante os olhos perplexos dos moradores da cidade, Rabi Levi Yitschak se recolheu e esperou os donativos. Filas e filas de yehudim que se esforçaram para conseguir o dinheiro se formavam perante a sala do Rebe naquelas horas decisivas antes do Dia do Julgamento. De repente, uma senhora viúva com a veste em trapos, chegou chorando perante o shamash e implorou sua piedade, para que ela e seu filho fossem incluídos na lista de tefilot do Sanegoran. Impávido, o shamash recusou o pedido daquela pobre senhora. Após mais insistências, consultou novamente o 18 :: |OR ISRAEL CHAI Rebe, que confirmou a necessidade do pagamento dos dois zlotis para ter o nome incluído na lista de orações. Avançava a tarde e a hora de Kal Nidrê se aproximava. A fila havia se esgotado e as moedas arrecadadas foram guardadas para serem distribuídas para tsedacá logo depois de Yom Kipur. Ao terminar todas as tarefas, o shamash perguntou ao Rebe se ele já estava pronto. O sábio respondeu que ainda não, pois estava esperando mais uma pessoa, que chegaria em breve. Faltando menos de quinze minutos para o santo Dia do Perdão, aquela mesma senhora viúva se esgueirou pela neve gelada ucraniana, chegando ao recinto do Rebe. Na frente dos olhos incrédulos do shamash e do Sanegoran, ela tirou dos trapos que vestia duas luzentes moedas. – Rebe! Eu lhe imploro! Vendi tudo o que tinha. Por favor, a única coisa que me importa é a sua tefilá. Adicione meu nome e o de meu filho, pois não tenho mais que essas duas moedas! Mais uma vez o Rebe recusou: – Ou um ou outro... A senhora pode escolher – disse, dando as duas moedas para o ajudante. A viúva chorou e disse com a voz embargada entre lágrimas: – Pois que seja meu filho! Que ele tenha um ano bom, um shiduch com uma boa esposa e seja um grande talmid chacham! Ao ouvir isto, Rabi Levi Yitschak, com lágrimas nos olhos, exclamou: – Ribonô shel Olam! É disto que nós precisávamos neste momento! Olhe bem o que uma pobre viúva está disposta a fazer pelo seu filho! Ela vendeu tudo o que tinha por seu filho! Isto vale muito mais que todo o dinheiro do mundo! E o Senhor, D’us? Aprecie a grandeza de Teu povo! Aceite as orações de Teus filhos e perdoe-nos neste dia! Com isso, imediatamente iniciou-se a oração de Kal Nidrê. * * * Eis uma das máximas do Kedushat Levy: “A vontade de Benê Yisrael – e em especial dos tsadikim – tem o poder de quebrar os decretos de Hacadosh Baruch Hu. O mundo foi criado em honra dos tsadikim, e eles têm o poder, outorgado por Hashem, de mudar as decisões que serão decretadas para todo o mundo.” Por isso, tentemos melhorar nossas tefilot neste novo ano de 5776. Está em nossas mãos o poder de mudar o mundo! Além disto, existe uma grande segulá do Rabi Levi Yitschak de Berditchev, que muitos desconhecem, apesar de estar ao alcance de todos: a tefilá que se faz entre Arvit de motsaê Shabat e a Havdalá, chamada de “Got fun Avraham” (Elokê Avraham – o D’us de Avraham). Esta oração pode ser encontrada em quase todos os sidurim ashkenazim. É recomendável que todos a recitem. Ela possui um poder incrível. É sabido que muitas grandes realizações aconteceram por intermédio dela! Em momentos de apuros, outra segulá é dedicar algum valor para tsedacá leiluy nishmat Rabi Levi Yitschak ben Sara Sossie zt”l. Shaná Tová Umtucá! Que este novo ano de 5776 seja o ano da gueulá final! Que pelos méritos deste tsadic, e de todos os tsadikim, possamos ver Yerushaláyim habnuyá e grande hatslachá em todos os campos! Michel Gruenberg, boguer da Yeshivá :: M Í S T I C A Yeshivat Mekubalim Uma visita à yeshivá de mekubalim “Sháar Hashamáyim” em Jerusalém. O ímpeto para fundar a yeshivá Sháar Hashamáyim foi gerado por um sonho experimentado por dois notáveis rabinos de Jerusalém na mesma noite, em 1906. OR ISRAEL CHAI | :: 19 Q :: M Í S T I C A uando o Rav Yitschac Luria ( Jerusalém, 1534 – Safed, 1572), mais conhecido como Arizal, dirigiu-se a dois sábios de Jerusalém e implorou para que eles abrissem uma yeshivá para o aprendizado da Cabalá, ele prometeu que o estudo da Torá oculta traria a Presença Divina de volta a Jerusalém. Quinhentos anos depois, em uma esquina sossegada, não muito longe do movimentado Shuk Machanê Yehudá, em Jerusalém, os alunos da Yeshivat Sháar Hashamáyim continuam a refletir a maravilhosa luz revelada por Rabi Shim’on bar Yochay. Segue abaixo o relato de um repórter da revista Mishpachá em visita à yeshivá de mekubalim “Sháar Hashamáyim”: À medida que caminho pela pequena sala no primeiro andar da Yeshivat Sháar Hashamáyim nessa noite fria em Jerusalém, a primeira coisa que ouço é o tilintar de moedas. Observando em volta, vejo o Rosh Yeshivá Rav Reuven Gross Shelita, que me convidou a visitar esse santuário da Cabalá, rodeado por um minyan de senhores. Todos eles sentados em silêncio absoluto, esperando o rabino terminar a cerimônia de “Pidyon Hanêfesh”. Rav Gross pronuncia uma série de combinações de nomes sagrados que acompanham o jorrar de moedas de prata datadas de 1960 – uma moeda a cada nome. Primeiro os nomes que representam Justiça. Depois, os nomes que representam Misericórdia. Logo, os nomes de duas pessoas que estão com 20 :: |OR ISRAEL CHAI a saúde em estado crítico serão citados. Antes de citar os nomes das duas pessoas doentes, um pequeno pedaço de papel é passado de mão em mão. Quando as moedas correspondentes aos doentes são colocadas na mesa, todos os cabalistas presentes começam a rezar pela pronta recuperação dos donos dos nomes que estão escritos nos papéis amarelados. Com o fim da cerimônia, Rav Gross – que dirige a yeshivá com a ajuda do Rav Yaacov Meir Schechter Shelita e do Rav Gamliel Rabinowitz Shelita – me chama para começarmos a entrevista. Por mais que ele enfatize que a yeshivá não ocupa sua maior parte do tempo neste tipo de cerimônia, alunos procurando por encantamentos, amuletos e misticismo ainda aparecem por aqui com frequência. As pessoas misturam Cabalá com “hocus pocus”. Mas na Cabalá não existe mágica. Existe, isto sim, a santidade dos nomes sagrados de D’us que, pronunciados com pureza, revelam neste mundo forças especiais. Rav Gross diz que a yeshivá não é para esse tipo de coisas. Mas ele explica que existe uma tradição conhecida pelos mekubalim: quando uma pessoa está fatalmente doente, a “imagem de D’us” que existe em cada pessoa abandona seu corpo. No Tehilim consta (39:7): “Somente com a Sua (Divina) imagem o homem andará”. Em outras palavras, a “imagem Divina – tsêlem Elokim” com a qual o homem foi criado, é o que mantém a alma no corpo, e o que torna possível uma pessoa viver. Quando a situa- ção está muito crítica, para ser poupado da morte, o indivíduo deve receber uma nova imagem Divina. O Rashash – Rav Shalom Sharabi zt”l (1720–1777) – um dos maiores mestres das cavanot (meditações), revelou que essa cerimônia deve ser realizada com 160 moedas de prata, já que esta é a numerologia da palavra “tsêlem” (imagem) e também de “kêssef” (prata). Por mais que o rosh yeshivá seja evasivo e evite falar sobre os resultados deste “tratamento”, ele relata alguns casos. Mais tarde, um aluno mais velho chega e discretamente me conta: “O rosh yeshivá é muito modesto e não lhe contou nem uma pequena parte do que costuma acontecer por aqui. Já vimos maravilhas! Pessoas saindo de situações terríveis ilesas!... O Pidyon Hanêfesh (nome da cerimônia) já salvou muitas vidas. Ele costuma brincar que poderia abrir uma barraquinha e oferecer milagres... Porém isso não é a yeshivá; estamos aqui para aprender Cabalá e não para fazer milagres!”. O bêt midrash da yeshivá está aberto para qualquer um. Mas somente os muito estudados no Talmud podem começar a estudar o “nistar” – a parte oculta da Torá. Outro critério para estudar o nistar na Yeshivat Sháar Hashamáyim é que o aluno deve se elevar espiritualmente ao nível de ignorar os prazeres e necessidades mundanas, além de ter uma base prévia dos conceitos da Cabalá. Quando alguém não atinge todas essas exigências, mas apenas algumas delas, e já tem nível para iniciar seus es- 1 2 3 4 5 6 1. Rav Shalom Sharabi zt”l. 2. Rav Chayim Yehudá Leib Auerbach zt”l. 3. Rav Shimon Horowitz zt”l. 4. Rav Reuven Gross Shelita. 5. Rav Yaacov Meir Schechter Shelita. 6. Rav Gamliel Rabinowitz Shelita. tudos de Cabalá, o Rav Chayim Uri Brezel ministra-lhe palestras de “introdução para iniciantes”. Se a Cabalá deve ser estudada pelo público geral ou somente por um grupo seleto de sábios, é uma discussão muito antiga. Mas, até os que apoiam a primeira opção concordam que é necessário ter uma base sólida nos estudos da Torá e da Guemará. O aprendizado para o público geral se limita a alguns conceitos básicos e introdutórios da Cabalá. Em 1906, quando Rav Chayim Yehudá Leib Auerbach (o pai do famoso Rav Shlomo Zalman zt”l) dirigiu a yeshivá, ele impôs que, para cada hora de Cabalá a ser estudada, uma hora de Guemará também fosse estudada. Ele não queria que os alunos passassem o dia dedicando-se somente aos estudos místicos. A Cabalá requer conhecimentos prévios e profundos dos temas centrais da Torá, como o Chumash, Guemará e halachá. Ao andar um pouco mais pelo bêt midrash, noto a presença do Rav Yitschak Schwadron, filho do famoso “Maguid de Jerusalém”, Rav Shalom Schwadron (Jerusalém 1912–1997), sentado com uma Guemará aberta em sua frente. – Você não está estudando Cabalá?! – Perguntei perplexo. Mas ele nem escutou. Mais tarde fui informado que ele não estuda Cabalá em público, mesmo carregando o legado de seu bisavô, o grande rabino Rabi Shalom Mordechay Schwadron zt”l (1835–1911), conhecido como o “Maharsham”, uma das maiores autoridades haláchicas de sua geração. Em uma breve conversa com o Rav Yitschak Shwadron, ele me fez o seguinte relato impressionante: “Tudo começou com um sonho no ano de 1906. Meu avô, Rabi Chayim Yehudá Leib Auerbach (1883–1954), era um jovem estudante quando o Arizal se revelou num sonho para ele e perguntou: ‘Por que os ashkenazim não estudam a Torá oculta? Vá e abra uma yeshivá para mekubalim!’. “O sonho se repetiu algumas vezes, e isso o abalou tanto, que ele decidiu ir conversar com seu amigo Rav Shimon Horowitz, um cabalista de Jerusalém. “Enquanto andava até sua casa, encontrou este mesmo amigo na rua. Para sua enorme surpresa, ele afirmou ter tido o mesmo sonho, onde o Arizal insistia que ele trouxesse de volta a Shechiná (a Presença Divina) para Jerusalém por intermédio do estudo da Cabalá. O Rav Shimon Horowitz também ficara impressionado com o sonho e decidira ir conversar com meu avô. E foi assim que os dois se encontraram, de madrugada, no meio do caminho! Apesar do horário, eles decidiram levar o caso ao Rav Shemuel Missalant, que os instruiu a relatar todo o acontecido aos grandes sábios da Polônia, detalhando o sonho. “Assim, foi enviada uma carta para o grande Rav Chayim de Brisk e para o Rav Chelcat Yoav. Ambos responderam que eles tinham a obrigação de abrir a yeshivá imediatamente. “Logo após o recebimento da resposta”, concluiu Rav Yitschak Shwadron, “meu avô ajudou a fundar uma yeshivá para o estudo da Cabalá, a Yeshivat Sháar Hashamáyim. E hoje em dia, aqui estou eu, estudando nesta mesma yeshivá!” Neste momento o Rav Gross se aproximou de mim e disse que a visita já estava no fim. Antes de me despedir, solicitei que ele me desse uma rápida definição do que é a Cabalá. Com sua voz suave, o rabino me encarou e disse: “A Cabalá se baseia em conceitos e detalhes, e não nos rituais exibicionistas. Cabalá significa conhecer o Criador e desenvolver um constante amor por Ele – praticar todas as mitsvot com a mais pura e verdadeira intenção contida em cada preceito. “Um mekubal é alguém que entende que tudo o que ele faz neste mundo tem influência nos mundos espirituais elevados, seja aprimorando-os ou destruindo-os, chás veshalom.” Beni Sued, 3º ano do Ensino Médio Texto extraído da Revista Mishpachá com autorização OR ISRAEL CHAI | :: 21 :: E N S I N A M E N T O Repense! Objetivo é aquilo que incentiva o homem. É aquilo que o guia na vida. É aquilo que define quem ele realmente é. Qual é o seu objetivo? M uitos de nós têm como prioridade na vida serem ricos. Parece-nos que o dinheiro compra a felicidade. Também temos como prioridade sermos famosos. Parece-nos que a fama atrai a amizade. Temos como prioridade sermos poderosos. Parece-nos que a superioridade nos trará o respeito. Porém, o que realmente queremos? O que é de fato importante? Eis uma pequena parábola sobre este assunto: “Certo dia, dois homens decidiram construir suas próprias casas. Porém, sua ideologia não era 22 :: |OR ISRAEL CHAI a mesma. Um deles queria que sua casa fosse a mais atraente do bairro, ao contrário do outro, que dedicava-se mais ao seu interior. “Após finalizarem suas obras, não se podia acreditar que os donos começaram suas construções no mesmo momento. Um deles conseguiu despertar a inveja de todos aqueles que o viam. Ele havia usado o melhor que o dinheiro pode comprar. Usou tintas importadas e contratou um jardineiro internacionalmente famoso para cuidar de seu jardim. Ao contrário da casa do outro que, aparentemente, não tinha nada de especial. “A diferença verdadeira só podia ser contada por aqueles que entraram naquelas casas. Certamente que, por fora, a casa do primeiro construtor era linda! Porém, ao entrar na casa, eram vistas pequenas rachaduras nas paredes e vazamentos no teto. Toda a maravilhosa aparência externa não passava de uma grande mentira, uma ilusão. “Já o exterior da outra casa não fazia justiça ao seu interior. Por fora ela aparentava ser somente uma casa simples. Porém, ao entrar, percebiase o quanto se estava enganado. Seu dono havia decorado-a como o interior de uma belíssima mansão. Ele não se importava com a opinião dos outros que a viam por fora. O importante é que ele era feliz no interior de sua casa – mesmo que os outros não soubessem.” * * * Nossa vida é como uma casa. Do mesmo modo que pintar uma casa por fora com tintas importadas não fará com que seu interior seja mais bonito, uma vida repleta de dinheiro e poder não será necessariamente agradável “por dentro”. Reconstrua sua “casa”. Dedique se ao seu interior. Faça com que ela seja bonita para você, independentemente do que os outros veem. Coloque amor dentro da sua casa. Mesmo que seu exterior não seja tão bonito, faça com que seu interior seja maravilhoso! No final, a luz de sua beleza interior transbordará pelas janelas! Yehudá Shani, 9º ano do Ensino Fundamental O construtor não se importava com a opinião dos outros que viam a casa por fora. O importante é que ele era feliz, mesmo que os outros não soubessem. OR ISRAEL CHAI | :: 23 :: C U L T U R A Teste o seu conhecimento: Quem disse a frase? 24 :: |OR ISRAEL CHAI Frases de personalidades Rabínicas 1 יוסיף,במידה שיוסיף בניין היישוב חורבן השכל Na proporção que se aumenta a construção do materialismo, aumenta-se a destruição da alma. O homem deve escolher em que campo investir na vida, sendo que material e espiritual visam ser dominantes e são inversamente proporcionais. O Chatam Sofer escreve que este conceito se refere somente à vida fora da Terra de Israel, pois o desenvolvimento da Terra de Israel é, por si, um mandamento Divino e faz parte do trabalho espiritual de cada um. a) Ramba”n b) Rabi Bachyê ibn Pacuda c) Rabi Yossef Albo 2 ישראל באומות כלב באיברים Israel entre os povos é como o coração entre os órgãos. Apesar de prezarmos por nossa particularidade, esta separação visa o desenvolvimento de uma mensagem universal, a criação de um polo de influência espiritual e moral para toda a humanidade. a) Rabi Yossef Albo b) Ramba”n c) Rabi Yehudá Halevi Muitas vezes tentei fugir de mim, mas onde eu ia, lá eu estava. OR ISRAEL CHAI | :: 25 :: C U L T U R A 3 אחרי המעשים נמשכים הלבבות Atrás dos atos seguem os corações. O autor usa este conceito para explicar o fato de a Torá ordenar muitas mitsvot para lembrarmos da Saída do Egito e não se limitou com o simples mandamento de lembrar Yetsiat Mitsráyim. de Aristóteles com relação a assuntos “abaixo do céu” (questões físicas), mas não em relação a assuntos “acima do céu” (questões metafísicas). a) Ramba”m b) Ramba”n c) Rabi Yossef Albo 6 A) Ramba”m b) Sêfer Hachinuch c) Rabi Yehudá Halevi 4 אין אומתנו אומה אלא בתורתה Nossa nação é uma nação somente por sua Torá. Nações em geral são definidas por ligação geográfica, étnica ou social. Quanto ao Povo Judeu, a religião faz parte de sua própria definição e identidade. Este é um dos segredos de sua sobrevivência, mesmo tendo passado por lugares e situações tão diferentes. חיי נשמות אויר ארצנו Vidas de almas, ar de nossa Terra (a Terra de Israel). a) Rabi Yehudá Halevi b) Ramba”n 7 כפי מה שיחסר לאדם ידיעות משארי החכמות – לעומת זה יחסר לו מאה ידות בחכמת התורה A) Rav Saadya Gaon b) Ramba”m Torá. a) Rav Avraham Yitschac Kook 5 שמע האמת ממי שאמרה b) Mahara”l de Praga 26 :: |OR ISRAEL CHAI Esta foi a resposta do rebe ao ser questionado como conseguia ficar tantas horas recebendo indivíduos que vinham se aconselhar com ele. a) Báal Shem Tov b)Rabi Menachem Lubavitch Mendel de c) Rabi Levi Yitschac de Berditchev Frases de Sabedoria Geral 10 D’us nos deu dois ouvidos e uma boca – para ouvirmos mais e falarmos menos! a) Dalai Lama b) Isaac Newton c) Albert Einstein 11 8 tenha dito! Em outra fonte, ele explica que podemos aceitar perfeitamente os ensinamentos כאשר סופרים יהלומים לא מתעייפים Quando se conta diamantes não se cansa. c) Gaon de Vilna Ouça a verdade de quem quer que a O autor justifica o fato de ter mesclado ensinamentos de Aristóteles em seu livro, apesar de que, em relação a algumas questões fundamentais, este tenha uma posição contraditória aos princípios do judaísmo. 9 c) Rav Saadya Gaon Conforme faltar ao homem o conhecimento de outras sabedorias, faltará cem vezes mais no entendimento da c) Ramba”n c) Rabi Nachman de Breslav אין שלם מלב שבור Você nunca chegará ao seu objetivo se parar para cada cachorro que latir no seu caminho! Não há algo mais completo que um coração quebrado. a) Winston Churchill O homem é incompleto por definição, e sua maior completitude consiste no maior reconhecimento desta situação. c)Dwight D. Eisenhower (presidente americano) a) Báal Shem Tov b) Rebe de Kotsk b) Lula 12 Muitas vezes tentei fugir de mim, mas onde eu ia, lá eu estava. a) Sigmund Freud b) Viktor Frankl השלום יבוא כשהערבים יאהבו את בניהם יותר מששונאים את בנינו A paz virá quando os árabes amarem os seus filhos mais do que odeiam os nossos. a) Golda Meir c) Tiririca b) Isaac Rabin c) Moshê Dayan Frases relacionadas com a História de Israel 13 אם תרצו אין זו אגדה Se vocês quiserem, isto não será uma lenda. Em resposta aos céticos, que viam no projeto de criação de um Estado Judeu um sonho irreal. a) Zeev Jabotinski b) Theodor Herzl c) David ben Gurion 18 15 16 Eles (os “pioneiros”) se inspiram em ideias que, não somente que não podem ressuscitar um povo morto, como poderiam matar um povo vivo. Criticando a ideologia de grande parte do movimento sionista, que rompia com a tradição judaica e visava a criação de um “novo povo”, absolutamente diferente daquele que viveu na diáspora. a) Rebe Yoel Teitelbaum de Satmer b) Chazon Ish c) Rav Avraham Yitschac Kook As nações podiam escolher entre a guerra e a desonra. Escolheram a desonra – e receberão a guerra. Criticando o Acordo de Munique, onde as grandes potências assinaram um acordo de paz com a Alemanha Nazista, apesar de esta ter descumprido os termos assinados no fim da Primeira Guerra Mundial. a) Albert Einstein b)Dwight D. Eisenhower (presidente americano) c) Winston Churchill 19 Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, digam ao povo que fico! a) Dom Pedro I b) Getúlio Vargas c) Lula 14 a) Ezer Weizman b) Berl Cazenelson c) Menachem Begin 17 I Have a Dream Frase central em um de seus discursos mais famosos. a) George Washington Por R. Isaac Shammah e Israel Chouveke, 1º ano do Ensino Médio b) Martin Luther King c) John F. Kennedy Respostas: Êrets Yisrael (será nossa) não pelo mérito da força, mas sim pela força do mérito! Frases relacionadas com a História Geral 1) b; 2) c; 3) b; 4) a; 5) a; 6) a; 7) c; 8) b; 9) b; 10) c; 11) a; 12) c; 13)b; 14) c; 15) a; 16) c; 17) b; 18) c; 19) a. אלא,ארץ ישראל לא בזכות הכוח בכוח הזכות OR ISRAEL CHAI | :: 27 :: E N S I N A M E N T O Pérolas da Tefilá Mêlech Ozer Umoshia Umaguen Voltando ao Navio D urante nossa vida podemos recitar partes lindas das nossas orações sem nunca darmo-nos conta de sua beleza. Um exemplo disso aparece no final da primeira berachá do Shemoná Esrê, onde recitamos as palavras “Mêlech ozer umoshia Umaguen – O Rei que auxilia, que salva e que protege”. Analisemos o significado de cada uma destas palavras. Qual a diferença entre auxílio, salvação e proteção? Ozer – auxílio – refere-se a algo que estamos realizando, mas com certas dificuldades e obstáculos, e para terminar nossa meta necessitamos de uma ajuda, “um empurrãozinho”, enfim, um auxílio. 28 :: |OR ISRAEL CHAI Na Shemoná Esrê recitamos três vezes por dia: “o Rei que auxilia, que salva e que protege”. Certamente há uma grande diferença entre estas três situações. Muitas vezes sentimos ser necessária uma “energia extra” para vencermos obstáculos que aparecem no dia a dia. Umoshia – salvação – refere-se a uma situação na qual estamos com um problema que não conseguimos resolver. É uma circunstância na qual já nos complicamos, uma “enrascada” da qual não temos forças para nos libertarmos. A salvação só acontece quando vem alguém de fora e salva-nos – tira-nos do “fundo do poço”. Uma salvação pode se referir ao plano físico e material ou aos caminhos e desafios da alma em nossa avodat Hashem – nosso serviço ao Criador. Às vezes sen- timo-nos como se tivéssemos sido jogados de um navio em mar aberto. Nesta situação, pedimos para D’us nos jogar uma corda ou uma boia salvadora para tirar-nos do redemoinho e recolocar-nos a bordo do navio, sãos e salvos, para que continuemos nossa trajetória de elevação espiritual. Finalmente, Umaguen – proteção – diz respeito a oportunidades nas quais o eventual perigo ou problema nem chega até nós. São situações nas quais nós continuamos em nossa trajetória, sem darmo-nos conta que algo estava prestes a atingir-nos. Nestas circunstâncias, a proteção Divina é como um escudo que evita que o mal nos atinja. Esta proteção traz-nos estabilidade para que não sejamos suscetíveis a esses males. Nesta berachá reconhecemos que D’us sempre está por trás de nossos atos, ajudando-nos para que nossos planos se realizem da melhor forma segundo Seu julgamento. Mesmo quando erramos e complicamo-nos, sabemos que podemos apelar para D’us nos tirar da dificuldade na qual nos colocamos. Ao mesmo tempo, estamos cientes de que existem dezenas de perigos com grande probabilidade de atingir-nos dos quais somos defendidos pela proteção Divina, muitas vezes sem mesmo nos dar conta. Michael Kullock, 2º ano do Ensino Médio Quando nos sentimos jogados de um navio em mar aberto, necessitamos que joguem-nos uma boia salvadora para tirar-nos do redemoinho e recolocar-nos a bordo do navio sãos e salvos. OR ISRAEL CHAI | :: 29 :: E N S I N A M E N T O Os Cordeirinhos se Tornaram Carneiros (TALMUD BERACHOT 63a) C onsta no Pirkê Avot (Ética dos Pais 4, 3): “Ele (Ben Azay) costumava dizer: “Não despreze ninguém e não rejeites nada, pois não há homem que não tem sua hora e não há coisa que não tem seu lugar”. Esta mensagem também foi transmitida pelo mais sábio dos homens, Shelomô Hamêlech , no livro de Cohêlet (Eclesiastes): “Todo homem tem seu momento destinado”. Este ensinamento pode ser constatado claramente analisando a história de nosso povo. Lembremos brevemente alguns exemplos. Yossef, o filho talentoso e predileto de Yaacov, sempre foi “o excomungado dos irmãos” (vide Bereshit 49:26). A aversão 30 :: |OR ISRAEL CHAI Quem pode desconsiderar um futuro brilhante? dos irmãos a ele chegou a tal ponto que os irmãos não conseguiam sequer cumprimentá-lo. Ele foi jogado num poço e depois vendido a uma caravana de yishmaelim. Yossef acabou sendo levado ao Egito e vendido ao ministro Potifar. Logo no segundo ano de sua estadia no Egito, foi jogado num calabouço. Yossef estava sozinho num país estranho sob situações adversas e aparentemente abandonado por todos. Mas, após doze anos, quando parecia que seu futuro estava perdido, tornou-se repentinamente o vice-rei, aquele que conseguiu abastecer com alimentos o mundo inteiro e salvá-lo da fome e da morte (Ramban sobre Bereshit 42:6). Vejamos outro exemplo de alguém que foi enquadrado numa situação parecida. Moshê Rabênu era um príncipe no Egito. Fora criado por Batya, filha do Faraó, e tinha um futuro garantido como o sucessor do Faraó daquela época. Porém, ele largou tudo para salvar um israelita que estava apanhando de um egípcio. Após matar o opressor, Moshê até precisou fugir do país. Naquela circunstância, parecia tudo perdido para Moshê. Parecia que aquela atitude comprometera seu futuro. Porém, quando ele estava cuidando do rebanho de seu sogro, D’us Se revelou a ele, encarregou-o de tirar o Povo de Israel do Egito e, posteriormente, de receber a Torá no Monte Sinai. Inúmeros exemplos podem ser encontrados no Tanach de indivíduos que foram primeiramente desprezados e, posteriormente, tornaram-se homens que mudaram toda a história: Guid’on, Yiftach, Shaul, David e muitos outros! Porém, há mais um exemplo na época do Talmud que chama a nossa atenção. Rabênu Yoná, comentando o Pirkê Avot (Ética dos Pais 1, 1) traz um ensinamento da Escola de Hilel: “Deve-se ensinar Torá a qualquer judeu (mesmo que aparentemente não tenha muitas qualidades)”. Vale a pena ensinar a 100 alunos, para que saiam deles 10 que se sobressaiam; e 10 para que se sobressaiam 2. E até mesmo quem tem dois alunos não pode abrir mão de nenhum deles pois, quem sabe, talvez um deles se destacará no futuro. E assim aconteceu com Hilel, que certa vez reuniu todos os seus alunos e perguntou-lhes antes de começar a aula: “Estão todos os alunos presentes?”. Logo responderam-lhe: “Sim!”. Mas em seguida se levantou um dos alunos e disse: “Estão quase todos! Falta apenas um, que é o menor deles”. Ouvindo que o menor de seus alunos não estava presente, Hilel disse: “Chamem-no, pois este pequeno aluno será o futuro líder do povo, e é ele que salvará o judaísmo na época das dificuldades (na época da destruição do Templo)!”. Esse “pequeno” aluno, que se chamava “Yochanan”, tornou-se o grande “Raban (o grande rabino) Yochanan ben Zakay”, um dos maiores líderes que nosso povo já teve. “Pois os cordeirinhos se tornaram carneiros”. Os indivíduos nunca podem se achar incompetentes, incapazes, inúteis ou supérfluos. Sempre devem procurar em si qualidades, por meio das quais poderão contribuir com o mundo. Cada um de nós é como um diamante, que apenas aguarda um raio de luz para brilhar! O futuro guarda grandes surpresas para a vida de cada um de nós, assim como ninguém diria que um diamante provém do carbono! 2º ano Iossef Fuksman, do E nsino M édio “Chamem-no, pois este pequeno aluno será o futuro líder do Povo de Israel e salvará o judaísmo na época das dificuldades!” OR ISRAEL CHAI | :: 31 :: I S R A E L 1 2 3 4 5 6 (1) Desabafos de esperança e legado, escritura na parede de Atlit, Israel. (2) Uma amostra da criatividade Divina. (3) Terra de Israel, superação e cercas no chão. Hoje a nossa maior conquista. (4) Nos túneis do passado, Min’harot Hacôtel. (5) Perto da Luz todos somos anulados, Neguev, Israel. (6) Vista da Fortaleza de Massada, Israel. 32 :: |OR ISRAEL CHAI 7 8 9 10 11 (7) e (8) Religião, o jogo de nossas vidas, Loja das velas em Tsefat. (9) Muitos dizem que Israel é apenas um deserto. É muito mais do que um deserto. É o deserto que D’us nos deu. (10) Sem Sol não há vida, Neguev, Israel. (11) Israel, a Luz de Am Israel. OR ISRAEL CHAI | :: 33 :: E D U C A N D O PA R A A VIDA 12 13 14 15 16 (12) Na maravilhosa Praga. (13) Rosh Yeshiva de Merkaz Harav, Rav Yaacov Shapira, em visita à Yeshivá. (14) Das ruínas a caminho de Israel, saindo do campo de Majdanek, Polônia. (15) Aprendendo um pouco de Geografia, deserto do Golan, Israel. (16) Vivendo o passado, Min’harot Hacôtel, Israel. 34 :: |OR ISRAEL CHAI 17 18 19 (17) Nas belezas do Sul de Israel. (18) Sobre um Merkavá 4, o mais moderno tanque Israelense, Latrun, Israel. (19) Álbum de nossos heróis, campo de Birkenau, Polônia. OR ISRAEL CHAI | :: 35 :: E N S I N A M E N T O O Papel Principal de Nossa Geração N Nada obtém sucesso duradouro neste mundo sem ser antecedido por uma tefilá. o livro “Shearim Betfilá”, o Rabino Shimshon David Pincus (1944–2001) cita a seguinte questão do grande sábio Rabino Yeshayá Halevi Horowitz (aprox. 1565–1630), conhecido como Shelá Hacadosh: “Por que Am Yisrael pronuncia tantas preces, mas seus pedidos não são atendidos?”. E a resposta do Shelá Hacadosh é surpreendente: “Porque não sabem rezar!” O que, de fato, significa esta afirmação? Como pode ser que não sabemos rezar? Temos sidurim nos quais constam todas as tefilot! E todos lemos as orações escritas nos sidurim. Pronto! O que mais deveríamos fazer? Afinal, fazemos as três rezas diárias comuns e as especiais dos shabatot e dias festivos. O que o Shelá Hacadosh quis dizer com isso? Será que nossa pronúncia não é correta? 36 :: |OR ISRAEL CHAI Um potencial desperdiçado Quando usamos nossas preces de forma incorreta, desperdiçamos o seu verdadeiro potencial. Trata-se de algo muito precioso. Talvez as orações sejam aquilo que temos de mais precioso e que depende somente de nós – conversar com o próprio Criador do Universo! Imaginemos uma pessoa que juntou suas economias de toda a vida de trabalho, e resolveu trocar o seu velho carro por um carro novo. Um carro moderno, automático, com vidros e travas elétricas, ar condicionado... enfim, com todos os opcionais de fábrica. Logo ao sair dirigindo da concessionária, este indivíduo sente uma emoção indescritível. O cheiro do estofado novo lhe traz lembranças de sua juventude. Porém, uma buzinada histérica o acorda do sonho, quando ouve um grito pela janela: “Anda tartaruga!” O sujeito não conseguia andar mais rápido. Estava acostumado com a velocidade máxima de seu antigo veículo. O máximo que ele alcançava era 60 km/h. Nem sabia que o novo carro atingia altas velocidades. Aos poucos, foi começando a entender o que o novo automóvel era capaz de fazer – ele atingia velocidades mais altas, era mais silencioso, mais estável... Não usar corretamente nosso potencial é um desperdício enorme. Podemos proferir orações que são mais potentes que “foguetes” nos céus! Palavras certas nos lugares certos Aprender a rezar significa aprender a comunicar-se com Hashem – elogiando, louvando, agradecendo e pedindo. Tudo tem seu jeito e sua forma de ser manifestado. Quando o assunto é falar com Hashem, além de usar as palavras corretas pen- Por que precisamos rezar para D’us se Ele conhece nossos problemas e sabe exatamente tudo o que precisamos? OR ISRAEL CHAI | :: 37 :: E N S I N A M E N T O sando na devida tradução e nas cavanot necessárias, não podemos desperdiçar o mais importante – que as palavras saiam do coração! Também existe o momento adequado em nossas preces para falarmos da nossa maneira, com nossa própria linguagem. Poderíamos imaginar, por exemplo, que na segunda berachá da Amidá, quando pronunciamos as palavras “verofê cholim” – que cura os enfermos – seria o momento de pedir cura para um ente querido. Poderíamos até “aproveitar” para citar uma lista contendo vários nomes de pessoas que necessitam de uma pronta recuperação. Porém, de fato, esse não é o local correto para pedidos. O momento propício para isso é no final da Amidá, antes do último “Yihyu Leratson”. Outro local adequado, em casos de doenças mais graves, poderia ser inserir os pedidos no parágrafo que começa com “refaênu” (apesar de que há controvérsias entre os legisladores se este é o local adequado para essas inserções) ou no parágrafo “Shemá Colênu”. Durante a segunda berachá da Amidá, portanto, não devemos fazer pedidos de cura. Ela não é uma berachá de pedidos, mas sim de louvores a Hashem. Imagine que alguém lhe tenha feito um grande favor e, antes de agradecer seu benfeitor, você já se dirija a ele pedindo algo novamente. Este não é o momento propício de pedir. Por isso, devemos aprender como proferir palavras certas nos lugares certos durante nossas tefilot. A importância de expressar os pedidos Mesmo que D’us sabe precisamente o que necessitamos, ainda assim devemos 38 :: |OR ISRAEL CHAI rezar e pedir-lhe tudo que precisamos. O grande rabino Rav Moshê Chayim Luzzatto (1707–1746), autor de obras famosas como Messilat Yesharim e Dêrech Tevunot, traz em sua grande obra Dêrech Hashem (Caminho de D’us) um importante conceito: “Mesmo que o homem mereça algo por uma benfeitoria realizada ou uma recompensa pelos méritos de seus antepassados, esse bem fica guardado até que ele peça por isso”. Portanto, precisamos rezar para conseguir o que necessitamos. Mesmo que o Criador tenha plena consciência de todas as nossas necessidades e das necessidades do mundo inteiro, mesmo assim dependemos de nossas preces. Precisamos rezar – e rezar por tudo. Nada sai dos Céus por ordem do Criador sem passar pelo portal das orações. Imaginemos o exemplo de um pai que é um conceituado cardiologista. Seu filho, com problemas de pressão alta e dor no peito, fica de cama por vários dias. Os médicos não conseguem resolver o problema do rapaz. Finalmente, um de seus amigos pergunta: “Seu pai não é cardiologista? Por que ele não está aqui para curar-lhe?” O filho responde: Porque eu ainda não disse para ele que estou doente!” Assim também D’us prefere Se comportar. Enquanto não “contamos” a Ele que estamos com problemas, enquanto não pedimos que Ele nos ajude, é como se Ele não soubesse. Consta no Tehilim 130: “D’us, ouça minhas preces, direcione Seus ouvidos para minhas súplicas!” Apesar de que Hashem conhece nossos problemas e sabe de nossas necessidades, prefere usar Sua “audição” para depois responder nossas preces. Precisamos rezar e pedir tudo o que necessitamos. Uma prova deste conceito pode ser verificada estudando sobre os dias da Criação do Mundo. Apesar de que as plantas foram criadas no terceiro dia, elas só cresceram depois que D’us criou Adam Harishon, no sexto dia. Foi quando Adam reconheceu a importância de rezar e pediu que Hashem enviasse chuvas para as plantas crescerem. O papel da geração que antecede o Mashiach O principal aluno do Arizal, Rabi Chayim Vital zt”l (1542–1620), escreveu que na geração da vinda do Mashiach a reza terá papel primordial para a sua chegada. Cada geração tem seu papel, e o da geração do Mashiach é rezar. A tal ponto a reza é importante que, se juntarmos todos os méritos, sofrimentos, esforços e Kidush Hashem, ainda assim o Mashiach não se revelará a não ser por meio da tefilá! Cada geração tem seu papel, cada época tem sua função especial. Nós devemos estar atentos a essas obrigações sem abrir mão de nossas outras responsabilidades importantes. Assim ocorre também nos chaguim (as grandes festas). Cada festividade judaica tem sua mensagem e sua mitsvá especial. Em Rosh Hashaná, por exemplo, a mitsvá do dia é tocar o shofar. Apesar de que o estudo da Torá é a mitsvá mais importante no judaísmo, não poderíamos deixar de escutar o toque do shofar para ficar estudando Torá. Em relação a nossa geração, mesmo que a reza tenha um papel primordial, o estudo da Torá também não deve enfraquecer. O papel principal de nossa geração é fortificar a tefilá sem prejudicar o estudo da Torá! R. Chaim Vital Passy :: H I S T Ó R I A Só D’us Sabe! Uma belíssima história com o gadol hador sobre a virtude de ceder algo para o próximo. O Gaon Gadol Hador Rav Yossef Shalom Elyashiv zt”l desempenhou o papel de pilar do nosso povo num período de muita escuridão. Ele viveu até os 102 anos de idade, falecendo em 2012. A história a seguir aconteceu há 13 anos, quando o rav já contava com 92 anos de idade. Naquele ano o rav adoeceu devido a um problema no coração e foi internado no Hospital Hadassa, em Yerushaláyim. Para que fosse bem tratado, seus discípulos contrataram um expert da área, um “Meu filho foi um herói. Descartou meses de preparo da leitura da Torá em prol da paz em Am Yisrael. Naquele Shabat ele não leu a parashá, mas ela nunca foi descartada dos planos celestiais.” OR ISRAEL CHAI | :: 39 :: H I S T Ó R I A renomado especialista norte-americano, que aceitou viajar até Israel especialmente para tratar do sábio. Nesse meio-tempo, alguns familiares e alunos mais próximos do rabino organizaram um minyan no quarto em que ele estava. Após providenciarem um Sêfer Torá, sidurim, chumashim e todo o necessário para fazerem daquele quarto uma sinagoga, ainda precisavam de alguém para ler a Torá no Shabat. Uma senhora que estava internada naquele hospital, no mesmo corredor que o rabino, sugeriu que seu filho poderia ler a Torá . Ela disse que se tratava justo da parashá do seu bar mitsvá e que, sem dúvida, ele poderia ler para o minyan do rav. Sem que ninguém soubesse, a mulher pediu ao seu filho que, após ler para o minyan do rabino, pedisse a ele que desse uma bênção para ela se curar. Na data marcada, lá estava o jovem bachur no quarto do rabino, rezando junto com ele. De fato, o jovem leu na Torá de forma excepcional. Após a tefilá o rabino chamou o garoto para cumprimentá-lo. Agradeceu pela nobre atitude de ceder seu tempo e, no final, perguntou se ele precisava de alguma berachá . O jovem respondeu que sim. Disse que sua mãe estava doente, com um problema no coração. Que ela estava lá “no fim do corredor” e necessitava da sua berachá. O rabino aceitou prontamente o pedido do rapaz e deu sua bênção para que a senhora se recuperasse prontamente. Além disso, cedeu também, por algumas horas, os cuidados de seu médico particular. De fato, a mulher se curou e vive até hoje. Quando questionada sobre como 40 :: |OR ISRAEL CHAI mereceu tal salvação, a senhora explicou que seu filho tinha nascido como resultado de uma berachá anterior do Rav Elyashiv. Que ela ficara muitos anos sem ter filhos, e só deu à luz após ganhar uma berachá do Rav Elyashiv. Além disso, ela contou a seguinte história: “A época do bar mitsvá para um jovem é algo surpreendente. Anos de preparo, inúmeras revisões da leitura da Torá, estudo de muitas rezas e halachot, etc. Para os pais os esforços não são menores: reservar a sinagoga, escolher o buffet, o menu, a decoração, contratar o fotógrafo, a banda, o salão, preparar o convite, comprar roupas novas para toda a família e... assinar muitos cheques. Com meu filho não foi diferente. Esses meses passaram muito rapidamente e, após ter feito tudo isso, o grande dia chegou. “Havíamos reservado a leitura da Torá em uma sinagoga com o gabay com bastante antecedência. Estava tudo certo, mas algo de incomum aconteceu. Naquele Shabat , outra família entrou na sinagoga com um jovem que também fazia bar mitsvá . Estavam todos bem vestidos e muito contentes. No começo imaginamos que eles estavam vindo participar da nossa alegria. Mas logo percebemos que nenhum de nós jamais havia visto eles em toda nossa vida! Após uma troca de olhares percebi o que havia acontecido: a sinagoga tinha mais de um gabay . Provavelmente, por um mal entendido, eles reservaram a leitura da Torá para dois jovens que comemoravam seu bar mitsvá. E agora, o que fazer? Duas famílias, dois jovens para ler na Torá a parashá de seu bar mitsvá, mas apenas uma sinagoga. Apenas uma leitura... “Conversei um pouco com meu marido e chegamos à conclusão que o outro clã era visivelmente menos religioso. Se insistíssemos pelo nosso direito à leitura da Torá, eles julgariam todos os religiosos de uma forma terrível. Após consultar nosso filho, ele aceitou “ceder” a leitura da Torá para o outro jovem. Meu filho foi um herói. Descartou meses de preparo da leitura da Torá e toda a empolgação daquele momento tão especial de sua vida em prol da paz em Am Yisrael. “Marcamos uma nova leitura da Torá para meu filho algumas semanas depois. Ele se esforçou muito para preparar uma nova leitura em poucas semanas. “Naquele Shabat do mal-entendido, meu filho não leu a parashá que tinha preparado com tanto carinho. Mas essa parashá que cedemos àquela família jamais foi ‘descartada’ dos ‘planos celestiais’. Meu filho ganhou a grande honra e o mérito de lê-la para ninguém menos que o Gadol Hador, Harav Hagaon, Morênu Harav Yossef Shalom Elyashiv Shelita lá no hospital; e foi por intermédio dela que eu me salvei.” Hacadosh Baruch Hu nunca se esquece dos nossos esforços e sacrifícios. Quando realizamos uma boa ação, ela fica carimbada nos registros Divinos para sempre. Em algum momento definido por D’us, recebemos a recompensa, que pode vir por meio das mais inusitadas maneiras. O nosso dever é simples: realizar boas ações. O que vem depois, só D’us sabe! Michael Kullock, 2º Ano do Ensino Médio :: H I S T Ó R I A O Mérito do Remá Qual foi o mérito do Remá para ser considerado o grande legislador das leis judaicas conforme o costume ashkenazi? O Rav Moshê Isserlis de Cracóvia, o Remá Remá, Rav Moshê Isserlis de Cracóvia, é o principal legislador dos ashkenazim. Suas decisões, entre inúmeras opiniões, são aceitas por todos os legisladores ashkenazim até os dias de hoje e levada em consideração também por legisladores sefaradim. No entanto, na sua própria geração havia grandes sábios que se opunham à sua obra. O Maharshal, Rav Shelomô Luria de Lublin, por exemplo, sustentava que as leis deveriam ser acompanhadas das análises das fontes do Talmud e não como vereditos resumidos. Houve outros sábios que também discutiram suas decisões. Qual foi o mérito do Remá para que, no final, suas palavras fossem aceitas por todos? Seu grande mérito foi a humildade! Aqueles eram dias de compilação das opiniões dos rishonim, que enriqueceram e desenvolveram o mar de ideias que consta no Talmud. Rav Yaacov ben Asher compilou o livro “Arbaá Turim”, também conhecido como Tur, onde havia reunido as principais ideias dos rishonim, mas era necessário explicá-las e mostrar como elas foram extraídas do Talmud. O Remá se dedicou, durante anos, a escrever uma obra que se constituísse num resumo do Arbaá Turim – o Darkê Moshê. Mas, antes que ele a finalizasse, chegou até suas mãos a obra do Rav Yossef Caro, habitante de Tsefat na terra de Israel. Era impressionante! Uma obra paralela ao seu trabalho de anos, e já estava terminada! Ao tomar conhecimento da obra Bêt Yossef do Rav Yossef Caro, o Remá guardou seus manuscritos e decidiu não publicá-los na íntegra. Em vez disso, publicou somente poucas observações sobre o trabalho do Rav Yossef Caro zt”l. Eram observações que traziam as ideias dos rabinos da Alemanha ou dos costumes dos ashkenazim que precisavam ser esclarecidos ou enfatizados. Que grandeza! Que humildade! Em alguns livros consta que a história se repetiu em mais uma oportunidade. Todos tinham a necessidade de um código da lei prático. As pessoas já não eram tão estudiosas a ponto de saber extrair sozinhas a lei do Talmud. O Remá decidiu então escre- ver um livro com um resumo do que se faz na prática, baseado na obra do Rav Yaacov ben Asher. Algo que definisse claramente como se comportar no dia a dia. Um trabalho de anos. E, novamente, chegou até ele a obra Shulchan Aruch, o código de leis prático escrito pelo Rav Yossef Caro. Shulchan Aruch literalmente se traduz como “mesa posta”, indicando que o livro traz a lei de forma pronta para ser cumprida. O que fazer? Seu trabalho estava quase pronto. Novamente o Remá escondeu o seu trabalho, abrindo mão de sua originalidade e decidiu escrever apenas observações (hagahot) sobre o Shulchan Aruch, no lugar onde o costume dos ashkenazim era diferente da decisão do Rav Yossef Caro. Chamou esta obra de “Mapá” – que literalmente significa “toalha de mesa” – uma alusão a um complemento para a “mesa posta”. Tamanha humildade e compromisso com a verdade deram o mérito a Rav Moshê Isserlis, o Remá, para ser o possec decisivo para as comunidades ashkenazitas. O Remá se dedicou durante anos a escrever o Darkê Moshê. Quando tomou conhecimento da obra Bêt Yossef já finalizada, guardou seus manuscritos e decidiu não publicá-los na íntegra. Que humildade! Que grandeza! OR ISRAEL CHAI | :: 41 :: E N S I N A M E N T O Quem É Livre? Como definir a verdadeira liberdade? N a Torá encontramos três grupos de mitsvot: os chukim, os mishpatim e as edot. O primeiro grupo é o das mitsvot chamadas de chukim. São leis acima da lógica humana, como por exemplo a proibição de misturar carne com leite ou a proibição de usar lã e linho numa mesma roupa. Mishpatim são leis com uma explicação e lógica, como respeitar o pai e a mãe, não roubar e não matar. Por fim, as mitsvot chamadas de edot lembram-nos e testemunham algo do passado, com o intuito de vivenciarmos suas mensagens no presente, como por exemplo, o Shabat , comer matsá em Pêssach e morar em cabanas nos dias de Sucot. Em Pêssach lembramos a Saída do Egito e revigoramos nosso sentimento de liberdade. Em Shavuot revivemos o recebimento da Torá e recebemos novas energias para o seu cumprimento e estudo. Em Sucot habitamos em 42 :: |OR ISRAEL CHAI Edelstein cabanas, lembrando a proteção Divina no deserto a caminho de Israel – e fortalecemos nossas qualidades de fé e confiança no Todo-Poderoso. Mas como podemos sentir tudo isso nos dias de hoje, milhares de anos após a Saída do Egito? Em relação à liberdade, vários filósofos perseguiram o grande desafio de definir o que significa a “real liberdade”. Baruch Espinoza foi um filósofo judeu excomungado pelo tribunal rabínico de Amsterdã no século XVII. Ele afirmava que a verdadeira liberdade de um indivíduo é viver seguindo sua natureza. Para Arthur Shopenhauer, um filósofo alemão do século XIX, não existe um homem 100% livre. Para Carl Marx, o revolucionário alemão fundador da doutrina comunista moderna, também judeu, a liberdade não existe sem o mundo material. Não somente filósofos buscaram resolver essa questão; a humanidade, em geral, também esteve sempre em Mendelevitch Sharansky Futerfas Alguém que constrói um mundo espiritual e um ideal para viver pode se sentir livre mesmo estando numa prisão. Certamente é mais livre do que os “escravos da sociedade e de seus próprios vícios”. OR ISRAEL CHAI | :: 43 :: E N S I N A M E N T O busca desta resposta, como por exemplo, a Revolução Francesa, que tinha a liberdade como um de seus lemas. Imaginemos o caso hipotético de um prisioneiro específico que permaneceu por 20 anos na cadeia, quando finalmente chega o dia de sua libertação. O que será que ele sente nesse grande dia? Lógico que ele deve sentir uma alegria imensa e um sentimento de liberdade plena! Ele é colocado na rua, “totalmente livre”! No começo de sua maravilhosa vida livre, ele se sente muito bem. Mal pode conter sua felicidade transbordante. Porém, ele não tem familiares. Não tem para onde ir. Assim, passados quinze minutos livres, suas preocupações por sobrevivência já o fazem começar a despertar para a realidade. Logo ele começa a sentir fome, e não imagina como conseguir alimentos. Ele se dirige a um ponto de ônibus e sobe no primeiro ônibus que aparece. Chega no centro da cidade, começa a procurar algo para comer. Põe-se a observar as novidades do mundo... Surpreendese com a nova tecnologia – que ele praticamente não acompanhou nos últimos 20 anos de prisão. Sem conseguir alimentação, sem ter para onde ir, a quem apelar, começa a imaginar que a liberdade não é tão boa quanto ele pensava. Começa a escurecer... ele precisa de um lugar para dormir, um emprego para conseguir sustentar-se, amigos, etc. Talvez fosse melhor voltar ao presídio e abrir mão da tão sonhada liberdade?... Para nós, judeus que passamos por vários cativeiros, o que significa a verdadeira liberdade? Encontramos na Torá a história de Yossef Hatsadik, que foi vendido pelos irmãos a mercadores que levaram-no 44 :: |OR ISRAEL CHAI ao Egito e foi colocado em uma cadeia após passar pela casa do Potifar, um ministro egípcio. Mesmo na cadeia, Yossef Hatsadik sempre tinha um sorriso no rosto, muito tranquilo. Isso despertou a simpatia do chefe da prisão, levando-o, no desenrolar dos fatos, a tornar-se vice-rei do Egito. Como Yossef era capaz de sorrir na prisão? Como era capaz de ser simpático com as pessoas depois de tudo que passara? A resposta é que o conceito de liberdade depende muito mais da situação interna do indivíduo do que das condições externas. Alguém que constrói um mundo espiritual e um ideal para viver – e sabe como e por que viver – pode se sentir livre mesmo estando numa prisão. Certamente pode se sentir mais livre do que alguém que é escravo da sociedade e de vícios, apesar de estar “livre”, circulando por aí. Este conceito foi comprovado ao logo de toda a história judaica. Basta citar alguns presos da antiga União Soviética, como Natan Sharansky (o primeiro preso político libertado por Mikhail Gorbachev), Yuli-Yoel Edelstein e Yossef Mendelevitch. Cada um deles, em sua história particular, mostrou estar livre mesmo confinado nas piores prisões. Vejamos, neste contexto, um pouco da história de Rav Menahem Mendel Futerfas (1906–1995), que foi preso e deportado para a Sibéria por participar de ações que salvaram milhares de judeus da Rússia nos anos da Cortina de Ferro. Mesmo nas situações mais difíceis, ele manteve seu espírito elevado. Logo que chegou em seu campo de trabalhos forçados, declarou que não trabalharia no Shabat. Apesar de brutalmente ameaçado, nada e ninguém conseguiu mudar sua decisão. Histórias e mais histórias são contadas sobre sua fé inabalável! Certa vez, quando Reb Mendel Futerfas estava preso na Sibéria, outros prisioneiros começaram a planejar uma fuga. Logo eles se dirigiram a Reb Mendel, reclamando que ele não participava das reuniões. Os outros prisioneiros começaram a imaginar que ele era um espião russo, pois não demonstrava qualquer preocupação com a difícil situação local. Um dos líderes da equipe que planejava a fuga questionou sua conduta. Foi aí que o rabino explicou: “Todos vocês foram presos por algum crime praticado. Esse aí roubava; mas agora não rouba mais, pois está na prisão. Aquele outro contrabandeava; mas não contrabandeia mais. Aquele outro era sonegador de impostos... E eu? Vocês sabem por que estou aqui?” Todos ficaram apreensivos para escutar o crime de Reb Mendel. E ele logo respondeu: “Fui preso por estudar a Torá e ser fiel aos seus princípios. Mas mesmo estando aqui, continuo estudando a mesma Torá e acreditando em tudo que acreditava antes! Um yehudi possui uma herança maravilhosa e sagrada, que carrega consigo independente de seu status ou lugar. A Torá outorga a todo yehudi o sentimento de liberdade, independente de qualquer situação externa. Sinto que sou livre e, em qualquer lugar, estou sob a proteção Divina!”. Em Pêssach recebemos o status de liberdade, em Shavuot recebemos a Torá, que nos liberta, e em Sucot ganhamos o sentimento de proteção Divina! Daniel Grinspan, 2º Ano do Ensino Médio, baseado na sichá proferida pelo R. Chaim Vital Passy na Yeshivá Or Israel :: E N S I N A M E N T O Amigos de Verdade “Sem amigos ninguém escolheria viver, mesmo que tivesse todos os outros bens.” T odos nós temos amigos a quem confiamos nossos segredos, com quem atravessamos tristezas e alegrias, compartilhamos nossos sofrimentos, divertimo-nos, pedimos conselhos e auxílio. Analisando o assunto com atenção notaremos que, para existir, a amizade depende de determinadas situações. Normalmente um indivíduo não vê o próximo com simpatia imediatamente ao conhecê-lo. Mas existem condições que propiciam a união entre as pessoas. Am Yisrael possui, por natureza, valores e sentimentos em comum que facilitam e aproximam um indivíduo ao outro. Certamente o amigo ideal é aquele que quer o seu bem e não espera nada em troca. Essa realidade é mencionada no Pirkê Avot, a Ética dos Pais (5, 16): “Todo Sendo que o exemplo perfeito de amizade é a de David com Yonatan, é necessário entender no que se baseia esta ligação tão profunda e bela – que nunca termina. OR ISRAEL CHAI | :: 45 :: E N S I N A M E N T O amor que depende de algum motivo, quando este desaparece, o amor também termina. Mas se o amor não depende de algum motivo, ele nunca cessará”. À primeira vista, a Mishná nos transmite algo óbvio. Por isso o taná (compilador da Mishná) nos traz um exemplo logo em seguida: “Qual é o amor que independe de um motivo? O amor entre David e Yonatan”. David e Yonatan possuíam uma razão para serem rivais. David era candidato a reinar no lugar de Yonatan, que era filho do Rei Shaul (Shemuel 1 16:13-14). Mas, apesar disto, os dois criaram uma amizade que não dependia de motivos – e por isso formam o exemplo ideal de amizade no Tanach. Sem ter o que falar Você se sente bem ao lado de um amigo quando não tem o que falar? Todos nós sabemos como é encontrar um amigo quando não temos o que falar. Quando alguém avista um amigo, mas não consegue encontrar um assunto para conversar com ele, é muito comum que o indivíduo tente disfarçar, fingindo que não viu o outro ou que está ocupado naquele momento. Este procedimento é tão comum, que o fazemos sem perceber. Esta conduta é uma indicação da superficialidade desta amizade. Tentar evitar a companhia de um amigo apenas por falta de assunto, por vergonha de encontrá-lo sem ter sobre o que conversar, demonstra que a amizade não é profunda. Amigos “de verdade” não devem sentir vergonha de permanecer juntos e se sentirem bem mesmo sem estar conversando. Como o exemplo perfeito de amizade é a aquela entre David e Yonatan, é ne- 46 :: |OR ISRAEL CHAI cessário entender no que se baseia esta ligação tão profunda e bela – que nunca termina. Adquira um amigo A importância de ter um bom amigo íntimo é mencionada em outra Mishná (Pirkê Avot 1, 6): “Adquira um amigo” – ou seja, faça o máximo para conseguir um amigo de verdade. O Rambam, no seu comentário sobre essa Mishná, cita as palavras de Aristóteles: Há três tipos de pessoas que procuram a amizade do próximo: a. Aquela que visa vantagens, algum proveito. b. A que visa seu próprio bem estar, conforto ou segurança. c. A que age por idealismo, por ser virtuosa. A amizade daqueles que visam vantagens pode ser exemplificada pela amizade entre dois sócios, ou entre um rei e seus súditos. A amizade daqueles que visam seu bem-estar e conforto pode ser exemplificada pelo caso de alguém que busca a companhia de pessoas carismáticas, agradáveis, “boas companhias”. Porém a “amizade perfeita” é aquela gerada pelo idealismo, onde ambos – pelo simples fato de serem bons – desejam e praticam o bem ao próximo. Um bom exemplo pode ser o da amizade entre um professor e seu aluno. Rabi Ovadyá Mibartenura esclarece a chave para responder onde encontrar este nível ideal de amizade: o amor que independe de um motivo é o amor entre tsadikim e chachamim – justos e eruditos da Torá. Ele cita o exemplo de David e Yonatan e explica que a amizade entre eles era direcionada exclusivamente para o cumprimento da vontade de D’us. Neste mesmo sentido, o Rambam (Demay 2, 3) também explica por que em vários lugares da Mishná e da Guemará os chachamim são chamados de “chaverim” – amigos. Ele nos diz que o relacionamento entre os chachamim constitui a amizade verdadeira, pois ela é leshem Shamáyim – em nome dos Céus. Ou seja, é uma amizade com sentimentos puros, sem outros interesses próprios. Amigo para quê? Rabênu Yoná, em seu comentário sobre o Pirkê Avot, também aborda a questão dos amigos verdadeiros. A Mishná (Avot 1, 6) diz: “Yehoshua ben Perachyá diz... adquire para ti um amigo”. Sobre isso, Rabênu Yoná cita as três principais funções de um verdadeiro amigo para ajudar-nos a alcançar um maior nível espiritual: 1. Estudar Torá: Em vários lugares os sábios nos transmitem a importância de estudar com outra pessoa: Em Avot (3, 2): “Duas pessoas com palavras de Torá entre elas terão a Shechiná (a Presença Divina) presente”. Em Avot (6, 6): “A Torá é adquirida por meio de quarenta e oito qualidades”. Uma delas é um bom vínculo com os colegas. Sobre isso, o Meam Loez explica que geralmente o indivíduo tem vergonha de perguntar algo para seu rabino, mas não para seu colega. Por isso é indispensável possuir bons amigos. Em Taanit 7a: “Disse Rabi Chaniná: ‘Bastante aprendi de meus mestres, [porém] mais ainda de meus colegas’”. 2. Cumprir mitsvot: Amigos devem estar sempre planejando estratégias para se livrar de processos negativos. Dentro desse contexto, um amigo deve sempre estar advertindo o outro a seguir no caminho correto. Além disso, Rabênu Yoná prossegue explicando por que a advertência de um amigo é mais eficaz do que a avaliação da própria pessoa: “Mesmo que seu amigo seja menos rigoroso no cumprimento das mitsvot e às vezes também tropece, quando o vir prestes a pecar, ele o advertirá, pois quando o indivíduo não tem interesse próprio, consegue analisar melhor a situação”. Sobre ser repreendido, a Mishná (Avot 6, 6) também cita o seguinte dentre as quarenta e oito qualidades com as quais a Torá é adquirida: “ame a repreensão”. Em Avot Derabi Natan (29, 1) cons- OR ISRAEL CHAI | :: 47 :: E N S I N A M E N T O ta um ensinamento surpreendente sobre o valor da repreensão: “Se um indivíduo tem amigos; uma parte deles o repreende e a outra parte o louva. Ele deve amar os que o repreendem e odiar aqueles que o louvam, porque os que o repreendem encaminham-no ao Mundo Vindouro, enquanto que os que o louvam podem tirá-lo do mundo”. É tão importante ter alguém que nos repreenda e advirta, que o Maharshal, Rabi Shelomô Luria, mesmo quando já estava na posição de rabino da cidade, apontou alguém para repreender-lhe diariamente. 3. Aconselhar: O indivíduo precisa de alguém para aconselhar-se e contar seus segredos sem se preocupar que eles sejam passados adiante. O Rei Shelomô retrata esse aspecto do amigo em seu livro Cohêlet (4:9-10): “Melhor são dois do que um... pois se caírem, um erguerá o outro”. O Meam Loez traz o seguinte exemplo sobre este conceito: “Uma pessoa que caminhava na escuridão caiu em um buraco e não conseguia sair sozinho. Após alguns instantes, outro indivíduo caiu no mesmo buraco. Nenhum dos dois tinha condições de sair sozinho. Assim, um deles sugeriu para seu companheiro, que estava praguejando: ‘Um de nós pode erguer o outro, ajudando-o a sair daqui. Depois, o que saiu poderá jogar uma corda para salvar o que ficou’”. Nem sempre temos força para nos erguermos sozinhos dos problemas – financeiros, familiares, psicológicos ou até no estudo da Torá. Muitas vezes ne- cessitamos da força e do apoio de outra pessoa para nos levantar! Escolha seu Amigo Verdadeiro Como adquirir uma amizade verdadeira? No tratado de Dêrech Êrets Zutá consta: “Se o indivíduo deseja se conectar com seu amigo, que faça o possível pelo bem dele”. Devemos sempre estar atentos e empenhados em adquirir amigos verdadeiros, pessoas altruístas com metas espirituais elevadas, para que possamos, juntos, chegar a níveis superiores e próximos a D’us no maravilhoso caminho da Torá sob a orientação de nossos sábios. “A amizade de um único ser humano inteligente é melhor do que a amizade de todos os insensatos” (Demócrito). Novo Lifan X60 5 A��� �� �������� 1 A�� �� ������ ������ N� ����� �� ��� ����� ������� ������ ���� �������� ������ *�� ������ �� ������� 0�� 14/15 15/15 48 :: |OR ISRAEL CHAI :: E N S I N A M E N T O Caráter: é Caro e Quem Tem Não Vende “No início é difícil, mas depois a gente acostuma.” H oje em dia, nossos jovens olham o noticiário e já estão acostumados com as terríveis notícias que aparecem diariamente. Assassinatos, corrupção, terrorismo e tudo o que serve de mau exemplo. Já nos acostumamos ao “mau cheiro” do noticiário. Nossa crítica até perde seu valor devido à notoriedade de tanto horror. Já estão virando moda vídeos postados em redes sociais por organizações terroristas com violência explícita. Não se assuste se um jovem que assistiu alguns deles faça um comentário do tipo: “Você viu que legal o que fez aquele terrorista?”. Para trabalhar o caráter é preciso Com a má educação pode-se transformar um ser humano em um inseto. Com a boa educação pode-se transformar um inseto em gente. Esse é o poder da educação e da influência dos líderes e professores! OR ISRAEL CHAI | :: 49 :: E N S I N A M E N T O alertar para o perigo de não nos acostumarmos com os maus exemplos que a vida nos apresenta. Não podemos nos acostumar com o “mau cheiro” do cotidiano. Devemos procurar ser alunos de Avraham Avínu, e não de Bil’am Harashá. Bil’am foi um líder dos outros povos, dotado de péssimas características, que tentou de todas as formas amaldiçoar o povo judeu. Como consta no Pirkê Avot (Cap. 5, mishná 19): “Todo aquele que possui essas três características: olhar positivo, humildade e modéstia é considerado aluno de Avraham Avínu”. Enquanto que aquele que possui as três características opostas é considerado aluno de Bil’am Harashá. O Pirkê Avot usa o termo “aluno”, considerando que o indivíduo aprendeu esse comportamento recebendo influência de seus mestres. Isso é verdadeiro 50 :: |OR ISRAEL CHAI tanto para os valores positivos quanto que para as más características. Pela lei da Torá, uma pessoa que rouba algo escondido deve devolver o produto do roubo em dobro. Caso não tenha dinheiro suficiente, deve trabalhar como escravo na casa de uma família estruturada até restituir o valor roubado. Ajudar uma pessoa que cometeu erros a recuperar-se, deve ser feito implantando a ela bons valores, por meio de bons exemplos e uma influência positiva. Para que o indivíduo adquira um bom caráter desde cedo é necessária uma boa educação familiar e social. As pessoas assimilam bons valores em casa, com os pais; mas esses valores são colocados à prova a cada minuto, quando estão num ambiente social, seja na escola, no trabalho ou simplesmente passeando na rua. Quando, por exemplo, uma criança aprende que jogar lixo no chão do seu quarto é algo prejudicial e não educado, esse mesmo valor é colocado à prova quando vai à rua e vê um adulto jogando sua latinha de refrigerante no chão e não na lata do lixo. É impossível um indivíduo não ser influenciado pelo meio ambiente. Além disso, existe uma tendência natural de termos vontade de fazer o que todos ao nosso redor fazem, pois achamos que isso é o correto. Se, ao nosso redor, a sociedade possui valores negativos e pratica-os, é difícil manter-se íntegro. Estar envolto de bons exemplos é um grande passo para adquirir-se bons valores e caráter! Quem são nossos exemplos? Quem são nossos professores? Certa vez, o Maguid Midubna relatou que, na sua juventude, teve de ir ao médico por causa de uma dor de garganta. No consultório, o médico questionou se ele tinha o hábito de fumar, pois queria aproveitar a oportunidade para advertir o jovem sobre os males que o cigarro provoca. O Maguid, atentamente escutando os conselhos e orientações do médico, percebeu que na mesa havia um cinzeiro com um cigarro aceso. Não conseguindo controlar-se, perguntou ao doutor se ele fumava. Logo ao ouvir a pergunta do rapaz, o médico foi incisivo e disse irritado: “O que você tem a ver com minha vida particular?”. Naquela oportunidade o Maguid percebeu que era um disparate o médico aconselhar algo que ele próprio não fazia, e aprendeu uma grande lição: “Quando queremos influenciar alguém, devemos ser, antes de tudo, um bom exemplo”. Durante o processo de ascensão do regime nazista, seus líderes aos poucos foram ganhando poder e lugar de destaque na sociedade. Os comícios estavam cada vez mais cheios de seguidores do regime. A estratégia principal logo naquela fase inicial era influenciar os estudantes. Foi na escola que o regime nazista ganhou fama e espalhou-se. As crianças absorveram desde pequenas os princípios nazistas e os valores invertidos para formar uma sociedade racista. Com a má educação pode-se transformar um ser humano em um inseto. Com a boa educação pode-se transformar um inseto em gente. Esse é o poder da educação e da influência dos líderes e professores! Para não nos influenciarmos, devemos enraizar nossos valores positivos de forma que se tornem hábitos comuns – como escovar os dentes todos os dias. Quem adquiriu tal hábito e entende que é algo importante, está bem preparado para enfrentar um meio onde esse comportamento não é comum. Esse indivíduo continuará a escovar os dentes mesmo que ao seu redor não o façam. Porém, por quanto tempo conseguimos nos preservar de más influências? Pensando nisso, outro caminho ainda mais seguro para evitar a decadência, é reforçar diariamente o valor e a importância de cada bom hábito que possuímos. Dessa forma nos protegemos ainda mais das influências do meio ambiente nocivo. Com relação a Am Yisrael, temos um código absoluto de valores dentro da Torá. Ela deve ser estudada diariamente. Desta forma, todos os seus valores são constantemente reforçados. São princípios que provaram-se benéficos e verdadeiros desde sua outorga. Quando somos educados desde crianças a valorizar a Torá, estamos de certa forma enraizando todos os seus valores positivos em nossa personalidade. A construção do bom caráter de um indivíduo depende desse estudo. Assim, o melhor conselho para quem procura aprimorar-se é: Estude a Torá para ter um bom caráter e boas virtudes! R. Chaim Vital Passy OR ISRAEL CHAI | :: 51 :: H I S T Ó R I A Quando Está Pegando Fogo é Diferente! O Gaon Rav Yitschak Zeev Soloveitchik zt”l (1886–1959), conhecido como o “Griz”, foi o líder da comunidade charedi de Êrets Yisrael na época do pós-guerra. Um dos frequentadores da sua casa também era muito próximo do Rav Isser Zalman Meltser zt”l (1870–1953), o famoso rosh yeshivá da Yeshivá Ets Chayim em Jerusalém. Este yehudi costumava levar recados do Griz para o Rav Isser Zalman e vice-versa. Certa vez, o yehudi presenciou o Griz declarando sua admiração pelas obras sagradas do Rabino Naftali Tsvi Yehuda Berlin (1816–1893). O Rabino Naftali Tsvi Yehuda, também conhecido como o “Netsiv”, foi o último rosh yeshivá de Volojin, a mãe e a primeira de todas as yeshivot da Lituânia. O yehudi viu o Griz balançando a cabeça e exclamando com uma fisionomia de espanto: – Como um ser humano é capaz de criar tanto?! Como é capaz de escrever tantas obras abrangentes e com tamanha profundidade em seus anos de vida?! No dia seguinte, quando o yehudi entrou na casa do Rav Isser Zalman, o sábio perguntou-lhe se tinha ouvido alguma Ven es vet brenen is es anders! novidade na casa do Griz. Após contar em detalhes o questionamento do Gaon Rav Soloveitchik sobre a grandeza da obra do Netsiv, o Rabino Isser Zalman – que foi aluno do Netsiv em Volojin – ficou pensativo por alguns momentos e depois contou o seguinte episódio: – Certa vez houve um incêndio na minha aldeia na Lituânia e várias casas de madeira foram tomadas por enormes chamas. Vi todos os moradores fugindo para longe daquela região, carregando consigo o que podiam. De repente, vi o padeiro Yankale, que era magrinho como um prego, saindo de um armazém com dois idosos bem gordos nos ombros – cada um pesando pelo menos 120kg. Yankale os salvou, carregando-os correndo para fora da zona de perigo. Quem poderia imaginar que o pa- Quem poderia imaginar que o padeiro Yankale, magrinho como um prego, tinha força para carregar dois idosos nos ombros? 52 :: |OR ISRAEL CHAI deiro Yankale tinha essa força?! Mas quando está pegando fogo é diferente! Depois de contar este incidente, Rav Isser Zalman concluiu: – Quem conheceu o Netsiv e viu o seu estudo da Torá, entende que, para ele, a situação era sempre como se estivesse “pegando fogo”! Dias depois, o yehudi contou a resposta do Rav Isser Zalman para o Griz, que disse sorrindo: – Isser Zalman tem razão! Isser Zalman tem razão! Quando está pegando fogo é diferente! Ven es vet brenen is es anders! Ouvido do Rav Baruch Mordechai Ezrachi Shelita – Rosh Yeshivat Ateret Israel :: E N S I N A M E N T O Qual é o seu Passuk? Qual a origem do costume de recitar, no final da Amidá, um passuk que começa com a primeira letra de seu nome e termina com a última? C onsta no livro de Michá (6:9): “vetushiyá yir’ê shemecha – e o homem que é sábio tem consideração por Seu nome”. Sobre estas palavras, Rashi comenta o seguinte: “Daqui (aprendemos que) quem fala todo dia um passuk que começa e termina com as letras do seu próprio nome, a Torá o salvará do castigo do Guehinam”. O Shulchan Aruch (Ôrach Chayim 122) também cita este costume em nome do livro “Eliyá Rabá”. Sobre isso, o livro “Zera Côdesh” explica que o nome do yehudi está ligado com a raiz de sua alma, a faísca Divina que existe em cada um de nós. Mas, às vezes, essa essência pode ser dominada por forças contrárias à santidade. Assim, por meio da recitação de um passuk da Torá ligado ao nosso nome, temos o mérito de manter esta faísca Divina livre de más influências. Já o Rabi Yeshayá Halevi Horowitz (Praga, 1565 – Tibérias, 1630) conhecido como “Shelá Hacadosh”, acrescenta a seguinte explicação sobre este costume: “Assim que o indivíduo falece, perguntam-lhe qual o seu nome. Mas, por algum motivo, neste momento as pessoas esquecem do seu próprio nome, o que causa a elas um desconforto. Existe uma forma de não esquecer do próprio nome após o falecimento: todos os dias no final da Amidá, antes do segundo ‘Yihyu Leratson’, deve-se pronunciar um versículo que começa com a primeira letra do seu nome e termina com a última letra. E se recitar um passuk que contenha seu nome já basta.” o seu ser se torna espiritual”. No mundo espiritual o que prevalece são os bons atos e as mitsvot que o indivíduo praticou durante sua vida. Tudo aquilo que a pessoa fez em prol dos outros é o que importa, e tudo aquilo que fez para si torna-se secundário. Sendo assim, “não se lembrar do próprio nome” significa esquecer um pouco de si. Mas a Torá que a pessoa estudou para si em vida certamente a acompanha no Mundo Vindouro. Portanto, recitar o passuk da Torá, ligando seu nome ao estudo da Torá, faz com que seu nome seja lembrado mesmo quando a alma está sendo julgada no Tribunal Celestial. Por que a pessoa esquece o seu próprio nome? Azriel Tzipel, 8° ano do Ensino Fundamental O que significa “esquecer seu nome” no Dia do Julgamento? Consta nos livros de mística judaica que, após o falecimento da pessoa, “todo Meu passuk é (Tehilim 104:12): Alehem of hashamáyim yishcon miben ofaim yitenu col. Quando o indivíduo falece, perguntam-lhe qual o seu nome. Por algum motivo, as pessoas esquecem do seu próprio nome, o que causa-lhes um desconforto. OR ISRAEL CHAI | :: 53 :: I S R A E L Imigração Etíope Uma história escrita com bravura, determinação e lágrimas. 54 :: |OR ISRAEL CHAI O lá, meu nome é Mose. Moro na cidade de Mevassêret Tzion, uma cidade muito próxima de Jerusalém. Hoje posso dizer que moro em um país que é majoritariamente composto por pessoas da mesma religião que eu. Hoje posso dizer que sou um israelense! Desde pequeno, vivia somente com minha mãe e meus irmãos. Meu pai foi morto quando eu ainda era muito jovem. Minha família sempre foi diferente do que a maioria das pessoas do meu país de origem costumava ser. Lá, simplesmente éramos iguais e, ao mesmo tempo, diferentes. Iguais porque éramos todos agricultores. Porém, nos chamavam de “falashas”. Para dizer a verdade, eu não sabia muito bem o que isso signifi- cava. Mas, de vez em quando aconteciam coisas que só na minha tribo sucediam. Um dia por ano comemorávamos a Saída do Egito – diziam-me que há muito tempo atrás nós morávamos no Egito. Além disso, nós sempre ansiávamos a “volta” para Jerusalém – que diziam ser o melhor lugar do mundo. Infelizmente, a vida não era fácil para nós falashas. Todos ao nosso redor nos odiavam, queimavam nossas ocas e matavam pessoas de nossa tribo. Não pude viver muito com meu pai, mas sempre soube que ele foi um homem de muita fé. Lembro-me sempre de que, uma vez por ano, ele se sentava comigo a noite toda e contava a história de nossos antepassados. Infelizmente, num ataque a nossa tribo ele foi atingido por uma flecha e nunca mais voltou. Aos 12 anos de idade, recebi a notícia de minha mãe que teríamos que fugir com toda nossa aldeia até o Nilo Azul – um rio que faz fronteira com o Sudão – e de lá iríamos voar até a sonhada Jerusalém. Voar?! Jerusalém?! Isso tudo, de verdade, nunca tinha passado pela minha cabeça. A fuga foi de fato muito complexa. Levamos tudo o que tínhamos – por mais que não fosse muita coisa. Durante dias andamos sem saber ao certo que rumo estávamos tomando. Minha mãe infelizmente não aguentou. Morreu, assim como várias outras pessoas, abrindo um buraco em minha vida. Será que valeria “A coisa grande começou a correr e, depois, voar! Não sabia se sentia medo ou alegria. Mas finalmente estávamos indo para Jerusalém!” OR ISRAEL CHAI | :: 55 :: I S R A E L A Operação Salomão A Etiópia virou praticamente uma “terra de ninguém” naqueles dias de maio de 1991. O ditador Mengistu já não estava no poder quando Israel mobilizou uma frota de aeronaves militares e civis para resgatar os judeus etíopes em Adis Abeba, antes que a cidade fosse ocupada pelos rebeldes. Como era preciso levar o máximo possível de pessoas, quase todos os aviões da ElAl tiveram seus assentos removidos e foram configurados como cargueiros. Dessa forma, poderiam levar muito mais gente. Em um dos Boeing 747 da El Al, o comandante pretendia embarcar 760 passageiros. Logo que verificou o estado em que estavam os refugiados, magros e desnutridos, autorizou o 56 :: |OR ISRAEL CHAI embarque de mais pessoas, pois não haveria o risco de excesso de peso. Em apenas 37 minutos, um total de 1087 refugiados embarcou no avião. Muitas crianças pequenas embarcaram escondidas embaixo das saias das mães, elevando o total para 1120 pessoas a bordo. Como dois bebês nasceram durante a viagem, o número total de pessoas transportadas elevouse a 1122, o maior número de passageiros carregados em um único voo em toda a história da aviação. A operação de resgate foi concluída em apenas 36 horas, com grande sucesso. Nada menos que 14.325 pessoas foram resgatadas em segurança entre os dias 23 e 24 de maio de 1991. Cento e quarenta refugiados tiveram que ir para o hospital depois dos voos. a pena mesmo isso tudo que estávamos fazendo? Após atravessarmos o rio Nilo Azul, deparamo-nos com muitas luzes fortes e pessoas vestidas com as roupas do exército da Etiópia. Mandaram todos subirem dentro de uma coisa muito grande – que depois vim a saber ser de fato um avião. Assim como todos que estavam ali, fiquei assustado. Literalmente joguei minha sorte para o ar. Dez minutos depois, a coisa grande começou a correr e, depois, voar! Não sabia se sentia medo ou alegria. Mas estávamos realmente voando. Quer dizer, finalmente estávamos indo para Jerusalém! Após algumas horas de vôo, finalmente descemos. Eu estava muito cansado, porém com um semblante de felicidade Alunos da Yeshivá Or Israel em visita ao Centro de Absorção de Etíopes em Mevassêret Tzion estampado no meu rosto. Todos dentro da grande coisa falavam que voltamos para a Terra de Israel. Todos diziam que tínhamos voltado para a querida Jerusalém. Logo que cheguei, constatei um país totalmente diferente do que eu estava acostumado a ver na Etiópia. Pessoas com roupas diferentes das minhas, andando dentro de coisas menores que não voavam – eram “carros”. Havia pessoas de todas as etnias: brancas, negras, asiáticas. Quando cheguei em nosso abrigo, estava desnutrido. Todos pareciam felizes por estarmos lá. Tratavam-nos como irmãos. Logicamente, foi difícil aceitarem-nos. – e até hoje em dia lutamos por direitos melhores. Mas, com certeza sabíamos que estávamos num lugar definitivamente diferente, especial. Aos poucos fui aprendendo o alfabeto hebraico: primeiro o álef, depois o bêt... e sem sentir, já sabia identificar as palavras. Aprendi também o que era fazer “compras” no supermercado. Lá no abrigo ensinaram-me que existem coisas chamadas “produtos de limpeza” e que não podíamos comê-los, por mais que estivessem desenhados neles um limão ou uma laranja. Nunca mais tirei leite de uma vaca; ele já vinha numa caixa difícil de abrir com a mão. Fui aprendendo... Colocaram-me numa escola e, após alguns anos, comecei a trabalhar no mercado financeiro. Agradeço até os dias de hoje pelas palavras de meu pai quando pequeno e pela perseverança de minha querida mãe. Com certeza, hoje eu testemunho o que vocês sempre sonharam presenciar. Hoje eu moro em Jerusalém; sou um israelense. Hoje eu estou na terra de nosso povo, a Terra de Israel! História contada por um dos chefes do Centro de Absorção de Etíopes em Mevassêret Tzion, Israel. Histórico Beta Israel (Casa de Israel) - Este é o nome da comunidade judaica de “Kush” – Etiópia. Eles estavam espalhados por mais de 500 aldeias, por um imenso território, entre as populações muçulmanas e cristãs. Os integrantes desta comunidade vêm seguindo os preceitos da Torá desde “Passamos a compreender a responsabilidade que devemos ter em relação a nossos irmãos e a obrigação de agir socialmente nas comunidades em que vivemos.” OR ISRAEL CHAI | :: 57 :: I S R A E L os tempos antigos, de maneira um tanto curiosa. Tragicamente, muitos deles pereceram devido a uma insurreição na Etiópia. Mas os remanescentes emigraram para Israel. Foram transportados em aviões fretados pelo governo de Israel em 1983 e 1991. A jornada de resgate dos judeus da Etiópia de volta a Israel começou na década de 1950. As ondas imigratórias dos judeus etíopes são as seguintes: Abeba (que inclui a operação Salomão). 1953–1965: Em 1953, a Agência Judaica nomeou o Rabino Shmuel Beeri como o primeiro emissário da Agência Judaica para a Etiópia. Ele estabeleceu a primeira Escola Hebraica para os judeus etíopes na cidade de Asmara. Entre 1955 e 1965, cerca de 30 adolescentes judeus etíopes, conhecidos como o “Grupo Kfar Batyá”, foram levados para Israel. Lá eles foram treinados para serem emissários da Agência Judaica, e voltaram para suas comunidades como professores habilitados e altamente treinados. Enquanto isso, eram criadas clínicas médicas dentro dessas comunidades para servir a população judaica – das quais, muitos integrantes estavam aguardando aprovação para aliá. Depois de discussões haláchicas, as autoridades israelenses decidiram, em 14 de março de 1977, que a Lei do Retorno se aplicasse também à comunidade Beta Israel (esta é a opinião do Rav Ovadyá Yossef zt”l e do Rav Mordechai Eliahu zt”l). O gabinete de Israel, em cooperação com o governo dos Estados Unidos, montou operações para transportar pessoas para Israel. Essas atividades incluíram a “Operação Brothers”, no Sudão, entre 1979 e 1990 (isso inclui as principais operações: Operação Moisés e Operação Josué) e, na década de 1990, em Adis 1984–1985 A “Operação Moisés” ajudou a ida de 6.364 judeus dos campos de refugiados do Sudão para Israel através de países intermediários – a pé, de aviões e barcos. 58 :: |OR ISRAEL CHAI 1977–1987 Até 1977, era permitido aos judeus da Etiópia emigrar para o Estado Judeu. Quando o ditador Mengistu Haile Mariam chegou ao poder, este direito foi negado e a imigração se tornou secreta. Os primeiros refugiados percorriam todo o caminho até Israel a pé, quase sem qualquer ajuda. 1988–1991 Entre novembro de 1988 e maio de 1991, dezenas de milhares de “falashas” se aproximaram de Adis Abeba, o centro de atividades para aliá na Etiópia. A “Operação Salomão” foi uma manobra aérea para o resgate dos judeus da Etiópia. Em maio de 1991, 14.325 judeus etíopes chegaram a Israel a bordo de aeronaves do Exército de Defesa de Israel, da El-Al, e da Ethiopian Airlines. Durante a operação, o IDF, a Agência Judaica, o Joint Distribution Committee e o Mossad uniram forças. Com ajuda da mediação norte-americana, o governo de Israel chegou a um acordo com Mengistu e com os rebeldes, permitindo que o resgate ocorresse dentro de 36 horas. 1992–1997 De 1992 até 1997, o governo de Israel, juntamente com a Agência Judaica, assistia judeus etíopes da Província de Qwara para chegarem ao Estado Judeu. Desde junho de 2008, a Agência Judaica, a pedido do Governo de Israel, continua a tornar a aliá da Etiópia possível, de acordo com a Lei do Retorno de 1970, emenda “Zera Yisrael” sobre os judeus da Etiópia. 2010–2013 Por decisão do governo, a imigração de “Zera Yisrael” continuou com a “Operação Asas de Pomba”, que iniciou em 29 de outubro de 2012. Esta foi a última onda de aliyá da Etiópia e do “Chifre da África”. Guilherme Rabinovitsch, 3º Ano do Ensino Médio Depoimento Meu pai, Alberto Rabinovitsch, esteve presente em um dos últimos vôos de imigração dos etíopes a Israel. Segue um depoimento dele: “Em 2014 tive a oportunidade de ir a Israel em uma promoção da Ethiopian Airlines. Ao embarcar em Adis Abeba, Etiópia, rumo a Tel Aviv, percebi um grupo enorme de pessoas desnutridas, carentes e muito necessitadas indo para Israel. “Tempos depois levei meus filhos, em visita organizada pelo Keren Hayessod, ao Merkaz Klitá de Mevassêret. Para minha surpresa, naquela oportunidade fiquei sabendo que aquele vôo havia sido um dos últimos organizados por Medinat Yisrael para a imigração de yehudim etíopes. Sentimos naquele momento a enorme importância que cada yehudi no mundo possui – onde quer que esteja. Também compreendemos a responsabilidade e o compromisso que devemos ter em relação a todos os nossos irmãos, bem como a obrigação de pensar e agir socialmente nas comunidades em que vivemos e ao redor de todo o mundo.” OR ISRAEL CHAI | :: 59 Agradecimento Obrigado a todos os doadores mensais, doadores anuais, apoiadores do “Or Israel Chai”, da viagem “Educando Para a Vida” e participantes do Dinner comemorativo de 25 anos do Or Israel College. Que o mérito do estudo da Torá traga a todos saúde, berachot e muitas alegrias! A Ezrat Nashim (ala feminina da sinagoga) da Yeshivá está disponível para dedicação em honra a um ente querido. 60 :: |OR ISRAEL CHAI Ouro Família Safra Advance Têxtil Banco Daycoval S/A Anônimo Prata David B. Cohen e Família Lenoxx Sound Salim e Ariela Mansur Anônimo OR ISRAEL CHAI | :: 61 Bronze Alexandre e Claudia Diament Edmond Karaguilla e Filhos Isaac Sutton e Família Programa de Bolsas Ieladim - Unibes (Gabriel Zitune) Rina Hamoui, Filhos e Netos Sion Diwan e Família Vitacon Anônimo Amigos do Fundo de Apoio Família Benchimol Família Katz Família Kummer Família Landau Família Skall 62 :: |OR ISRAEL CHAI Família Weinberg Maya e Joseph Nigri e Família Rojemac e Família Anônimo Anônimo Anônimo HÁ 53 ANOS CONSTRUÍMOS O BEM E TRANSFORMAMOS EM REALIDADE O QUE AINDA NÃO SE VÊ. Nossa história se fortalece a cada obra realizada. Hoje, mais de 200 mil famílias vivem em nossos empreendimentos. Afinal, mais do que prédios, fazemos o lugar onde muitos sonhos se realizarão. Com coragem, ética e inovação. Esse é o jeito de ser Cyrela. Foto do banco de imagens da Cyrela cyrela.com.br Cyrela Brazil Realty: Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 1.455 – 3º andar – Itaim Bibi – CEP 04543-011 – São Paulo/SP – Secovi 878 – Creci J-17.592.