Revista Or Israel Chai

Transcrição

Revista Or Israel Chai
CHAI
Órgão informativo dos alunos do Or Israel College
outubro 2015 | Tishrei 5776 | # 27
OR ISRAEL
OS
CORDEIRINHOS
SE TORNARAM
CARNEIROS
(TALMUD BERACHOT 63a)
OR ISRAEL CHAI | :: 1
:: E N T R E V I S T A
2 :: |OR ISRAEL CHAI
Ouvidoria do Grupo Rendimento - [email protected] - 0800 722 0132 (das 9h às 18h, dias úteis).
:: E D I T O R I A L
CHAI
Órgão informativo dos alunos do Or Israel College
EDIÇÃO 27
outubro 2015 | Tishrei 5776 | # 27
Foto tirada no vale onde
David guerreou contra
Golias , Vale de Elá, Israel
OR ISRAEL
EDITORES
Daniel Vofchuk
Michael Kullock
RESPONSÁVEIS PELO
PATROCÍNIO
Michael Kullock
OS
CORDEIRINHOS
SE TORNARAM
CARNEIROS
(TALMUD BERACHOT 63a)
Jovens Alunos,
Novos Líderes!
Igor Kummer
COLABORAÇÃO
Sra. Vera Muller
Eliahu Zagury
David Zimberknopf
Alunos do Or Israel College
ROSH YESHIVA
Rabino Raphael Shammah
COORDENAÇÃO GERAL
Rabino Chaim Vital Passy
PROJETO GRÁFICO,
DIAGRAMAÇÃO
E EDIÇÃO DE IMAGENS
Equipe Nascente
FOTO DA CAPA
Daniel Vofchuk
David Zimberknopf
REVISÃO
O crescimento físico é algo natural. O bebê é alimentado e, milímetro após
milímetro, seu corpo vai aumentando até se tornar um corpo adulto.
Já o desenvolvimento emocional de cada indivíduo atravessa desafios e obstáculos.
Mas, “por bem ou por mal”, todos amadurecemos.
Mas a envergadura intelectual – e muito mais a grandeza de espírito – depende do
esforço e dedicação do próprio indivíduo. Esse crescimento não é algo óbvio.
A própria Guemará nos conta que Chananya, o maior sábio da geração, que
emigrou da terra de Israel para a Babilônia, desconhecia que os jovens alunos que
deixara na terra de Israel haviam se tornado gigantes da Torá.
Nosso trabalho no Or Israel College é concretizar o potencial de cada aluno,
desenvolver os seus dons da melhor forma e fomentar os que têm capacidade de
liderança em nossa comunidade e no povo de Israel.
Olhando para trás, temos grande orgulho de tantos ex-alunos que influenciam a
trilha da história de Am Yisrael!
Nossa pequena chama da Yeshivá tem um efeito multiplicador. Nossos líderes
se tornaram exemplos e mestres de outros alunos, que por sua vez, novamente,
ocuparam lugares de destaque.
Caro leitor, convido-o a sentir a luz de nossos alunos no “Or Israel Chai”,
Boa leitura!
R. Raphael Shammah
Saul Menaged
TIRAGEM
9.000 exemplares
Rua Gal. Fernando V.C.
Albuquerque, 1011
Granja Viana CEP 06711-020
Cotia SP
Tel.: 11 4613-3440
[email protected]
OR ISRAEL CHAI | :: 3
sumário
03 | EDITORIAL
06 | ENTREVISTA
R. Rafael Schuster
08 | HISTÓRIA
Advogado do Rebe
R. Raphael Shammah
10 | HISTÓRIA
Pêssach em
Bergen-Belsen
R. S.
13 | HISTÓRIA
O Rabino, o
Presidente da
França e o Trono
de Napoleão
Joe Shayo e Daniel
Turnowski, 9º ano do
Ensino Fundamental
16 | HISTÓRIA
Dois Zlotis Para o
Defensor de Israel
Michel Gruenberg,
Boguer da Yeshivá
19 | MÍSTICA
Yeshivat Mekubalim
Beni Sued, 3º ano do
Ensino Médio
22 | ENSINAMENTO
Repense!
Yehudá Shani, 9º ano do
Ensino Fundamental
4 :: |OR ISRAEL CHAI
24 | CULTURA
Teste o seu
conhecimento:
Quem disse a frase?
R. Isaac Shammah e
Israel Chouveke, 1º ano
do Ensino Médio
28 | ENSINAMENTO
Pérolas da Tefilá
Mêlech Ozer
Umoshia Umaguen
Voltando ao Navio
Michael Kullock, 2º ano
do Ensino Médio
30 | ENSINAMENTO
Os Cordeirinhos se
Tornaram Carneiros
Iossef Fuksman, 2º ano
do Ensino Médio
32 | ISRAEL
Israel por nossas
lentes
45 | ENSINAMENTO
Amigos de Verdade
49 | ENSINAMENTO
Caráter: É Caro e
Quem Tem Não
Vende
R. Chaim Vital Passy
52 | HISTÓRIA
Quando Está
Pegando Fogo é
Diferente!
53 | ENSINAMENTO
Qual é o seu
Passuc?
Azriel Tzipel, 8º ano do
Ensino Fundamental
54 | ISRAEL
Imigração Etíope
Guilherme Rabinovitsch,
3º ano do Ensino Médio
34 | EDUCANDO PARA
A VIDA
A viagem para Israel
36 | ENSINAMENTO
O Papel Principal de
Nossa Geração
R. Chaim Vital Passy
39 | HISTÓRIA
Só D’us Sabe!
Michael Kullock, 2º ano
do Ensino Médio
41 | HISTÓRIA
O Mérito do Remá
42 | ENSINAMENTO
Quem é Livre?
Daniel Grinspan, 2º Ano
do Ensino Médio
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:: E N T R E V I S T A
R. Rafael Schuster
Entrevista com o idealizador do site Shiurdiario.com, que
publica as aulas do programa Daf Yomi em português.
também perguntas e respostas, e até
conselhos pessoais no âmbito do estudo.
Baruch Hashem há uma demanda para
isso, e sentimo-nos alegres em poder
oferecer essa espécie de experiência.
O mundo tende a interconectar-se cada
vez mais, portanto, há uma tendência
natural de conectarmo-nos também em
relação ao estudo da Torá, unificandonos de forma útil e produtiva.
Or Israel Chai — O que é o Shiurdiario.
com?
R. Schuster — O Shiurdiario.com é
um projeto com o objetivo de aproximar
pessoas de diversos níveis no estudo
da Torá a uma central de shiurim de
alta qualidade e acessibilidade, tanto
em relação ao conteúdo quanto à
apresentação. Gosto de olhar para o
nosso site como um portal que conecta
os professores de Êrets Yisrael com os
judeus brasileiros em todo o mundo –
um lindo vínculo com o estudo da Torá.
Nesta fase inicial, o nosso site se
especializa em aulas seguindo o ciclo do
Daf Yomi, um programa de estudo do
6 :: |OR ISRAEL CHAI
Talmud que consiste em estudar uma
folha de Guemará por dia. Nosso plano
para o futuro é expandir o site, com a
ajuda de D’us, e fornecer shiurim que
abranjam diversas áreas da Torá.
Or Israel Chai — Quem são os
professores que lecionam no Shiurdiario.
com?
R. Schuster — Temos uma equipe
de professores que residem em Israel
e têm interesse em divulgar o estudo
ao público brasileiro que está longe do
alcance físico, porém muito próximo
por meio desta ferramenta virtual. Esse
vínculo não se limita a shiurim, mas inclui
Or Israel Chai — Como surgiu a ideia
do Shiurdiario.com?
R. Schuster — A ideia surgiu de
forma bastante espontânea. Era uma
época que estava começando o ciclo do
programa mundial Daf Yomi e pensei:
“Puxa, seria muito interessante o desafio
de estudar Guemará no ritmo de um daf
(uma folha) por dia e, ao mesmo tempo,
ensinar pessoas que falam meu idioma,
estando eu aqui em Israel”. O fato de
criarmos uma biblioteca virtual de
shiurim possibilita qualquer indivíduo
com acesso à Internet de seguir o
programa Daf Yomi integralmente
conosco, ou mesmo repor um shiur que
tenha perdido no grupo que frequenta.
Usar a tecnologia a favor da Torá
também é algo que sempre me atraiu.
Conseguimos transmitir o shiur com
alta qualidade de imagem, como se o
aluno estivesse na frente do professor!
Creio que nossa geração recebeu
essas ferramentas digitais justamente
porque há em nossa época uma grande
importância de divulgar a Sabedoria
Divina contida na Torá a todos os
judeus, independente de onde estejam e
como vivem. De fato, não há dúvida que
a maioria do Povo Judeu esta conectado,
de certo modo, à tecnologia digital.
Assim, assistir um shiur online é uma
das soluções para conectar o século XXI
à sabedoria e aos valores eternos da
nossa sagrada Torá.
Or Israel Chai — Quantas pessoas
visitam o site diariamente?
R. Schuster — Baruch Hashem temos
um grande movimento, principalmente
no começo de cada tratado talmúdico.
Em meados de cada tratado temos uma
média de 130 pessoas acessando o site
diariamente (referente ao começo do
ano 2015). Alguns ouvintes seguem
o ciclo do Daf Yomi, enquanto outros
estudam as páginas do Talmud em
seu próprio ritmo. Existem também
ouvintes que estudam a Guemará
sozinhos, porém nos acessam para
esclarecimentos de dúvidas. Enfim, há
inúmeras possibilidades, providas por
D’us por meio da tecnologia atual, para
usar os arquivos virtuais dos shiurim
– cada um as utiliza como mais lhe
convém.
Or Israel Chai — O público que
frequenta o site é exclusivamente do
Brasil?
R. Schuster — Em sua maioria o
público é do Brasil, de diversas partes
do país, e de Israel. Porém também
há ouvintes dos Estados Unidos e
da Europa. Fico feliz quando recebo
e-mails de pessoas afirmando que
começaram a conectar-se à Torá e ao
judaísmo por meio de nossos shiurim.
Não há nada que me dê mais estímulo
para continuar e ampliar o projeto do
que esses relatos!
“Recebemos essas ferramentas digitais porque há em nossa época uma
grande importância de divulgar a Sabedoria Divina contida na Torá a
todos os judeus, independente de onde estejam e como vivem.”
OR ISRAEL CHAI | :: 7
:: H I S T Ó R I A
Advogado do Rebe
O
A maioria das pessoas que frequenta cursos
acadêmicos tem a intenção de conseguir um
emprego melhor para facilitar seu sustento.
Mas há exceções.
ito anos atrás, fui com
meu tio visitar a faculdade de Kiryat
Ono – “Hakiryá Haacademit Ono” ou
“Ono Academic College” – a primeira
instituição educacional de formação
acadêmica que abriu classes especiais
para estudantes charedim (judeus observantes) em Israel.
Segundas e quartas-feiras estudavam
mulheres. Terças e quintas estudavam
homens. Naquela época abriram somente dois cursos: Administração e Direito.
Os cursos eram ministrados em Or Yehudá, um distrito de Tel Aviv próximo da
sede da faculdade de Kiryat Ono.
Visitamos as classes e entrevistamos
dois grupos de estudantes: quatro mulheres e quatro homens. Todas as mulheres usavam peruca ou lenço; eram
bem religiosas. Os homens também:
dois usavam capotas e dois usavam ternos escuros. Todos tinham barba, peot e
usavam chapéus.
Pedimos para cada um deles contar a
razão que os levou a tomar esta iniciativa pioneira na sua comunidade, de estudar para conseguir obter um diploma
acadêmico.
Uma das moças contou-nos sobre a
situação de pobreza que reinava em sua
casa. Que ela pretendia obter um bom
emprego para ajudar sua família. Outra
falou que seu marido estudava Torá durante todo o dia. Ela queria ajudá-lo financeiramente para que ele continuasse
a estudar e, provavelmente, o diploma
a ajudaria a obter um melhor emprego.
Assim por diante, cada um tinha sua
história para contar.
O último que entrevistamos foi um
chassid de Gur; um rapaz que usava
meias pretas longas e calças largas até
abaixo do joelho. Ele nos disse: “Eu não
vim estudar por problemas de parnassá
(sustento). Eu vivo bem financeiramente, mas tenho uma história especial que
me levou a procurar este curso de Direito, que estou terminando”.
Ficamos curiosos. Com um sorriso, ele
começou a contar sua história:
“Eu era um avrech que estudava Torá
todo o dia. Nós morávamos, minha esposa e eu, no primeiro andar de um prédio,
logo acima de uma agência bancária. Era
a década de 90, quando começaram a
chegar os russos a Israel. Assaltos a ban-
“Naquele momento lembrei do que o Rebe havia me dito:
‘Ajudar todo yehudi que me pedisse auxílio’. Só não imaginei
que isso aconteceria tão rápido!”
8 :: |OR ISRAEL CHAI
cos quase não existiam em Israel. Mas
naquela época, com a infiltração da Máfia Russa, ocorreram alguns.
“Um desses assaltos aconteceu justo no banco situado embaixo de nosso
apartamento. Durante a troca de tiros
entre os ladrões e a polícia, uma bala
perdida acertou as costas da minha esposa que estava na nossa sala. Ela começou a perder muito sangue e foi levada
às pressas ao hospital.
“Em estado gravíssimo, provavelmente
ela viveria somente mais algumas horas,
segundo os médicos. No caso de sobrevivência, provavelmente ficaria paraplégica.
“Era sexta-feira, êrev Shabat. Eu estava desesperado e apavorado. Tremendo,
liguei para o shamash do Rebe em Jerusalém para conseguir uma berachá.
“Vinte minutos depois, o shamash retornou minha ligação. O Rebe – Hagaon
Pinchas Menachem Alter, conhecido
como Penê Menachem (1926–1996) –
dissera que minha esposa voltaria para
casa mais rápido do que eu imaginava.
“O milagre aconteceu contra a previsão dos médicos. Baruch Hashem minha
esposa sobreviveu e, em duas semanas,
voltou para casa. Os médicos ficaram
pasmos e disseram que não sabiam
como explicar sua recuperação.
“Em um mês minha esposa já levava
uma vida normal.
“Então viajei a Jerusalém para visitar
meu Rebe e agradecer-lhe por sua berachá e por suas rezas.
“O Rebe ouviu-me atentamente e pediu
para mim que eu retribuísse, ajudando a
todo yehudi que me pedisse auxílio. Logicamente, concordei de imediato.
“Quando saí da sala do Rebe, muitos
chassidim queriam ouvir como foi o encontro – que durou apenas cinco minutos...
“Enquanto eu contava os detalhes da
conversa para aqueles chassidim, um
yehudi me cutucou nos ombros, dizendo:
“– Você é o fulano de tal? Entrei na
sala do Rebe logo depois de você. Ele me
disse que você poderá me ajudar! Estou
com dívidas em dois bancos, minha casa
está hipotecada e também devo dinheiro em alguns guemachim (fundos beneficentes de empréstimo). Estou atolado
em dívidas e não sei mais como manter
minha família.
“Logo respondi ao pobre rapaz que
deveria estar acontecendo algum engano: ‘Eu não tenho dinheiro para ajudá-lo,
sou um simples avrech!’
“Entretanto, o yehudi contestou:
“– Mas foi o Rebe que pediu para eu
procurar você! Ele foi muito claro. Disse-me para falar com a pessoa que havia
entrado na sala para falar com ele antes de mim! Ele disse que você saberia
como me ajudar!
“Logo lembrei do que o Rebe havia me
dito: ‘Ajudar todo yehudi que me pedisse auxílio’. Só não imaginei que seria tão
rápido!
“Respondi que tentaria ajudá-lo de alguma forma. Fui visitar os diretores dos
bancos, renegociei suas dívidas e parce-
lei-as a longo prazo. Consegui mais um
empréstimo de outro guemach e organizei a vida daquele yehudi. Após dois
anos, finalmente, sua vida se normalizou. Restou uma pequena parcela mensal a ser restituída para os credores. Ele
respirou novamente, conseguiu voltar a
trabalhar com tranquilidade e a sustentar sua família com dignidade.
“Resolvido!
“Mas, após este caso, outras três pessoas vieram me procurar com seus problemas financeiros. E depois, mais algumas a cada ano.
“Acabei me tornando uma visita frequente a diretores de bancos para negociar as dívidas destas pessoas.
“Nas idas e vindas desta minha ocupação, tomei conhecimento de boas
oportunidades em um novo ramo de
trabalho. Fiquei sabendo de apartamentos que os bancos confiscam de devedores e vendem em leilões públicos. Estas
oportunidades viraram minha parnassá.
Imaginei que seria um bom negócio
comprar, reformar e vender estes apartamentos com lucro. Comecei comprando um apartamento por ano. Hoje compro, reformo e vendo três apartamentos
por ano.
“Agora que vocês conhecem minha
história, podem entender por que estou
estudando nesta faculdade. Vim aqui
para estudar Direito. Como advogado,
imagino que serei mais eficiente em ajudar nos casos de amigos endividados.
“Estou me formando como advogado
para poder ajudar melhor os outros –
não para facilitar meu sustento.
“Nunca vou esquecer que o Rebe pediu que eu retribuísse sua berachá, ajudando a todo yehudi que me pedisse
auxílio.”
R. Raphael Shammah
OR ISRAEL CHAI | :: 9
:: H I S T Ó R I A
Pêssach em
Bergen-Belsen
Um dos poucos rebes chassídicos que sobreviveram
aos campos de concentração, o Bluzhever Rebe,
passou por histórias heroicas e significativas.
E
m certa ocasião, o Bluzhever Rebe (1889–1989) estava no
campo de concentração de Bergen-Belsen, onde muitos judeus conseguiam
cumprir algumas mitsvot.
Rav Chaim Biniamini Shelita, fundador
da yeshivá de Petrópolis, sobrevivente
de Bergen-Belsen, contou várias vezes
que lá os prisioneiros eram divididos
por países de origem – húngaros, holandeses, etc. Apesar de que havia vários
arames farpados entre os grupos, em Purim contrabandearam uma Meguilá dos
holandeses para os húngaros. E em Rosh
Hashaná conseguiram enviar um shofar
dos húngaros para os holandeses.
Pêssach se aproximava em Bergen
-Belsen. Mas como os judeus poderiam
10 :: |OR ISRAEL CHAI
sonhar em conseguir alguma matsá?
Um grupo de judeus aproximou-se do
Bluzhever Rebe, comentando o quanto
seria maravilhoso se conseguissem preparar algumas matsot antes de Pêssach.
O sábio, pensativo, disse que iria tentar
conseguir o necessário.
Um dos alemães comandantes do
campo, Hans, já tinha ido algumas vezes
conversar com o Rebe sobre assuntos de
filosofia mas, lógico, sempre de forma
totalmente sigilosa.
Na primeira ocasião em que conseguiu se comunicar com Hans, o Rebe
perguntou-lhe se poderia conseguirlhes um forno, farinha e água para um
ato religioso extremamente importante
para as pessoas de seu barracão. O ale-
mão arregalou os olhos incrédulo, mas
acabou dizendo que veria o que poderia
fazer por eles.
Alguns dias depois, o comandante disse ao Rebe que lhe enviasse dois judeus
para retirar com um carrinho de mão,
um pequeno forno, um saco de farinha e
um galão de água em determinado local.
A notícia se espalhou e todos perceberam que um milagre estava acontecendo na véspera de Pêssach.
Muito cedo pela manhã, antes de
saírem para o trabalho forçado, alguns
yehudim começaram os preparativos
para a realização das tão sonhadas matsot. Em pouco tempo a primeira massa
foi colocada no forno, dando início à
produção.
Pouco depois, o comandante Hans se
aproxima rapidamente e entra no barracão.
Pegando todos de surpresa, ele começa a esbravejar:
– Quem tentou contrabandear uma
carta com a mulher grávida que foi levada ontem ao hospital? – Perguntou o
alemão irritado. – Quem foi? Rebe, você
deve saber! Você tem vinte e quatro horas para me dizer, ou será morto. Saiba
que, por causa disso, fui rebaixado de
meu posto! É assim que vocês me retribuem?!
O Rebe esperou o nazista parar de
berrar e respondeu calmamente:
– Eu não sei quem fez isso. Desconheço totalmente este fato. Mas, mesmo
que soubesse, não iria delatá-lo. Se quiser, pode me matar agora.
Felizmente o alemão não atirou. Mas,
num acesso de fúria, destruiu totalmente o forno e fez questão de sujar toda a
farinha remanescente.
O sonho acabara... Sobraram umas poucas matsot guardadas que haviam sido retiradas do forno antes do inimigo chegar.
“Aqueles que representam o futuro de nosso povo é que deveriam comer
a matsá! Se eles puderem cumprir essa mitsvá em Bergen-Belsen,
vão levá-la consigo para o resto de suas vidas.”
OR ISRAEL CHAI | :: 11
:: H I S T Ó R I A
12 :: |OR ISRAEL CHAI
Unidos. Entre eles, o Bluzhever Rebe e
a mulher que sugerira a distribuição das
matsot para as crianças.
Certa vez, aquela senhora, que mantinha contato com este grande líder,
telefonou-lhe dizendo que haviam lhe
proposto um shiduch, um potencial
pretendente para se casar com ela, de
nome Yisrael Shapiro. Como ela não sabia quem era o indivíduo e não conhecia
ninguém que pudesse ajudá-la, perguntou ao Rebe se ele poderia averiguar se
aquele seria um bom shiduch.
– Yisrael Shapiro é um bom judeu. É
um bom shiduch para a senhora – logo
respondeu o sábio ao telefone. – Pode
ir se encontrar com ele, e que seja com
grande berachá.
Quando ela compareceu ao encontro
marcado, espantou-se ao descobrir que
Yisrael Shapiro era, nada mais nada menos, que o próprio Bluzhever Rebe!
Ele se casaram, mas não tiveram filhos. O Rebe cuidou do filho de sua
nova esposa como seu próprio filho. O
sábio viveu 100 anos e exerceu grande
influência na comunidade judaica dos
Estados Unidos após o Holocausto. Faleceu no Brooklyn em 1989 e foi enterrado com grande honra em Jerusalém.
Aquele jovem, que comeu a matsá no
barracão de Bergen-Belsen, tornou-se o
próximo rebe, herdeiro da chassidut de
Bluzhev – o Rebe Tzvi Yehuda Shapiro.
R. S.
Matzav.com/Photos: JDN
Quando ele saiu do barracão, começou
uma discussão sobre quem deveria, entre
todos os judeus do acampamento, ter o
mérito de comer as matsot que restaram.
Muitos indicaram o Rebe. Ele que tinha
se colocado em perigo para conseguir a
farinha e o forno. Outros argumentavam
que deveriam honrar os mais velhos que
se encontravam entre eles.
Por fim, o Rebe decidiu que os mais
idosos dentre os presentes teriam prioridade. Somente os dois ou três mais velhos indivíduos dentre todos, poderiam
fazer a mitsvá de comer um pedaço de
matsá em Pêssach!
Neste momento, uma voz se fez ouvir
do outro lado do barracão:
– Bin’arênu uvizkenênu. Bin’arênu
uvizkenênu! (Com nossos jovens e com
nossos anciões) – começou a exclamar
uma senhora. – Quando Moshê pediu ao
Faraó para ir comemorar a festa de D’us
no deserto, antecipou as crianças aos
idosos. Eu acho que meu filho, que representa o futuro de nosso povo, é que deveria comer a matsá! Porque nós temos a
esperança de que seremos libertados em
algum momento. E não sabemos o que
vai acontecer para nós neste mundo destruído. As pessoas podem se extraviar. As
crianças podem se extraviar. Mas, se eles
puderem cumprir essa mitsvá de matsá
agora, neste Pêssach em Bergen-Belsen,
eles vão levá-la consigo para o resto de
suas vidas!
O Rebe virou espantado para aquela senhora e, após um breve silêncio, afirmou:
– Esta senhora tem razão. Procurem
os mais jovens, as crianças!
Em 15 de abril de 1945 a libertação
chegou a Bergen-Belsen.
Assistidos pela organização americana Joint (American Jewish Joint Distribution Committee), muitos dos sobreviventes emigraram para os Estados
O atual Bluzhever Rebe acendendo a primeira vela de Chanucá
16 de dezembro de 2014
:: H I S T Ó R I A
O Rabino,
o Presidente
da França
e o Trono de
Napoleão
Uma grande surpresa tomou conta
dos presentes durante a visita do
Rabino Mordechai Eliahu zt“l ao presidente
da França Jacques Chirac.
C
om grande cuidado, a
embaixada de Israel na França preparara
a visita do rabino-chefe sefaradi, Rav
Mordechai Eliahu zt”l, ao Palácio l‘Élysée
para encontrar o presidente da França,
Jacques Chirac.
Todos sabiam sobre as opiniões fortes que o rabino-chefe tinha sobre a
soberania judaica em Êrets Yisrael, e
tentaram fazer o máximo que puderam
para garantir que a visita fosse cordial
e pacífica.
O presidente da França explicou que, embora não estivesse no protocolo,
decidiu prestar uma homenagem especial ao Rav Mordechai Eliahu zt”l,
condecorando-o com um medalhão de ouro do governo francês.
OR ISRAEL CHAI | :: 13
:: H I S T Ó R I A
Naquela época, a relação entre Israel
e França era tensa. O presidente Chirac
não era considerado um amigo de Israel e, em geral, era tido como um defensor dos países árabes. De várias formas
pressionou Israel a abrir mão de territórios em Êrets Yisrael e a entregar até
mesmo grande parte de Yerushaláyim.
Com isto em mente, a preocupação
que a embaixada tinha a respeito da
visita oficial do Rav Mordechai Eliahu
zt”l ao Palácio l’Élysée era compreensível. Eles acreditavam que o rabino não
estava acostumado com a arte da diplomacia. Ele era conhecido por expressar
suas opiniões de forma transparente,
sem muita “enrolação”. Os diplomatas
israelenses estavam preocupados que
as palavras do sábio pudessem agravar
a tensão entre os países.
Antes da reunião com o presidente, o
sábio foi convidado a uma visita especial ao museu do Louvre, para conhecer mais sobre a história e a cultura da
França.
Durante o “tour”, Rav Eliahu ouviu as
explicações dadas e seguiu ao longo de
várias exposições. Quando chegaram
ao trono de Napoleão Bonaparte, o rav
parou e virou-se para os que o acompanhavam, perguntando:
– Quando Napoleão morreu?
As autoridades francesas esconderam
sua surpresa com a pergunta do visitante e começaram a explicar ao Rav Eliahu
quem era Napoleão e que ele falecera
em 1821, exilado em uma ilha, quando
tinha 51 anos.
O rav ouviu com atenção e continuou
a perguntar:
– E o seu trono esta à venda?
Os membros da embaixada não sabiam o que fazer com seu embaraço.
Novamente as autoridades francesas
fingiram naturalidade com a pergunta.
14 :: |OR ISRAEL CHAI
Logo responderam que, obviamente o
trono não estava à venda. “Este é um tesouro histórico muito precioso. E nossos
tesouros históricos não estão à venda”,
disseram eles.
De lá, passaram por outras exposições, até chegar aos móveis que pertenceram ao rei Luís XIV.
Mais uma vez o rav perguntou:
– Quem era Luís XIV?
A esposa do rav, a Rabanit Tsvia, não
entendeu por que o rav perguntou algo
tão óbvio sobre a mais longa monarquia
da história europeia. Mas o rav logo
olhou para ela, fazendo-a entender que
sua pergunta tinha um propósito específico.
Com o máximo de etiqueta, os integrantes da escolta francesa tomaram
algum tempo para explicar-lhe fatos históricos sobre o absolutista “Rei Sol”, que
governara a França há 300 anos.
Novamente o rav ouviu as explicações
demonstrando grande interesse e depois perguntou:
– O rei foi uma boa pessoa?
Os franceses responderam: “Ele tinha
um caráter duvidoso. Mas esta é a nossa
história, estamos orgulhosos dela e nós
a respeitamos”. O rav acenou com a cabeça e continuou.
A visita ao museu chegou ao fim e o
grupo dirigiu-se para cumprimentar o
presidente francês.
O encontro frente às câmeras foi aberto com saudações e bênçãos para o rav
por ocasião da sua visita.
Finalmente, o rabino foi convidado a
falar. Próximo a ele estava um indivíduo
da Embaixada de Israel, que iria traduzir
suas palavras para o francês.
Na abertura de seu discurso, Rav
Eliahu descreveu sua visita ao Museu do
Louvre. Ele detalhou o constrangimento
de seus anfitriões ao ouvirem sua per-
gunta sobre o trono de Napoleão... e se
estava à venda. Todos os presentes caíram na gargalhada. O rav citou também
a resposta que lhe foi dada de que “artigos históricos não estão à venda”.
Neste ponto do discurso, a rabanit
percebeu que o tradutor não estava sendo cuidadoso em sua tradução. Ele estava tirando a objetividade das palavras
do rav. Discretamente ela levou o fato
ao conhecimento do marido. O rabino
então, pediu desculpas pelo seu “vocabulário rabínico” e sugeriu que o rabino
chefe da França traduzisse suas palavras, pois era importante para ele que
o presidente entendesse suas palavras
com precisão. E seu pedido foi atendido.
Os presentes não estavam entendendo onde o rav queria chegar. No entanto, logo todos puderam ouvir as palavras contundentes do rav:
– Eu percebi o vosso respeito para
com o trono de Napoleão Bonaparte,
que viveu há 200 anos atrás. Assim
também, o vosso respeito pelo nome
do Rei Luís XIV que, como mencionado,
era um rei que possuía uma ética duvidosa. Este respeito é justificado, uma
vez que esta é a vossa história. Estes
são os representantes de sua tradição.
Vocês têm orgulho dela e devem respeitá-la.
Alguns poucos presentes já começaram a entender a intenção do sábio.
E ele continuou:
– Obviamente vocês esperavam também que eu deveria conhecer e respeitar
a história da França, apesar de eu viver
em Israel. No entanto, minha pergunta é
a seguinte: Não é lógico que nós, os judeus de Israel, também devamos conhecer e respeitar a nossa própria história?
Além disso, seria um exagero esperar
que vocês também respeitassem nossa
história? Pois nossa história nos ensina
que D’us nos deu a Terra de Israel. Ela
é a nossa propriedade histórica. Depois
de Moshê vieram os reis David e Shelomô, que governaram em Yerushaláyim,
capital de Israel. Por que deveríamos
respeitar os seus reis e vocês não deveriam respeitar os nossos?
Havia um silêncio absoluto no salão
quando o rabino concluiu suas palavras:
– Certamente vocês não venderão o
trono de Napoleão. Mas será que nós
devemos vender Yerushaláyim, que tem
servido como o coração da nação judia
por milhares de anos?
Os corações dos membros da embaixada de Israel se agitaram. Eles aguardavam as reações furiosas do Presidente Chirac e seu gabinete. No entanto, a
resposta francesa foi surpreendente.
Quando o rav terminou seu discurso, a
multidão se levantou e saudou o rabino
com uma prolongada salva de palmas.
As palavras do rav causaram uma
tremenda impressão no Presidente Chirac. Ele agarrou a mão do rabino com
emoção e não a soltou por um longo
tempo. Naquele momento, o presidente
se virou para seus assistentes e sussurrou algo em seus ouvidos. Os membros
da embaixada de Israel ficaram chocados ao ouvir que o presidente pediu
ao rav que esperasse mais um pouco
no palácio. Ninguém sabia o propósito
daquele pedido, até que um dos atendentes do presidente voltou com uma
pequena caixa em suas mãos.
O presidente da França explicou a
todos os presentes que, embora não estivesse no protocolo, resolvera prestar
uma homenagem especial ao Rav Mordechai Eliahu zt”l. Após ouvir o discurso
de seu visitante de uma maneira que ele
nunca tinha escutado alguém falar antes em sua vida, decidiu homenageá-lo
com um medalhão de ouro que o gover-
no outorga apenas aos chefes de estado.
Aos olhos da plateia emocionada, o Rav
Mordechai Eliahu zt”l foi condecorado
com um medalhão de ouro do governo
francês em meio a aplausos e vozes de
aprovação.
Todos se impressionaram com o verdadeiro orgulho judaico, que desperta
respeito e é valorizado até mesmo por
uma pessoa que até então era considerada contrária à política israelense.
Graças àquele discurso do Rav
Mordechai Eliahu zt”l, a partir de então,
o Presidente Jacques Chirac mudou sua
opinião sobre os judeus e sua política.
Joe Shayo e Daniel Turnowski,
9º ano do Ensino Fundamental
OR ISRAEL CHAI | :: 15
:: H I S T Ó R I A
Dois Zlotis Para o
Defensor de Israel
Uma impressionante história com o grande
sábio Rabi Levi Yitschak de Berditchev,
o “Advogado de Israel”.
E
xistiram muitos rabanim importantes que ficaram conhecidos
como grandes protetores do nosso povo
em momentos de dificuldade. Alguns
deles foram dotados de heroísmo e coragem inigualáveis. Outros, ficaram conhecidos pela genialidade, elevado conhecimento e emuná imbatível. Porém, apenas
um ficou conhecido como “Sanegoran
shel Yisrael” – O Advogado de Israel: o
grande sábio “Kedushat Levy”.
Conhecido por muitos como Rabi
Levi Yitschak ben Sara Sossie zt”l, o
Berditchever Rebe conseguia encontrar
um ponto positivo até no yehudi mais
16 :: |OR ISRAEL CHAI
afastado e desligado da Torá.
Mas vamos aos fatos.
Rabi Levi Yitschak de Berditchev nasceu no ano de 1740 (5500) em uma
família prestigiada no conhecimento da
nossa Torá.
Desde muito cedo, o futuro rebe já
demonstrava um nível de inteligência inigualável. Seus pais – Rabi Meir
de Husakov e sua esposa Sara Sasha
– souberam aproveitar e encaminhar
bem o filho nos caminhos sagrados de
nosso povo.
Rabi Levi Yitschak casou cedo com a
Rebetsin Perl zt”l, neta do Rav Yitschak
Meir Frenkel zt”l, rabino chefe de Pinsk,
uma cidade que pertencia à Polônia e
hoje faz parte da Bielorrússia.
Como bachur recém-casado, o jovem
Levi Yitschak demonstrava uma crescente vontade de estudar chassidut junto ao
grande Maguid de Mezeritch zt”l, aluno
direto do Báal Shem Tov zt”l. Isso não
passou despercebido do seu sogro, que
provinha de uma famosa família lituana
– que geralmente se opunha ao movimento chassídico. Apesar de seu sogro
tentar impedi-lo, Levi Yitschak foi para
Mezeritch estudar chassidut. Lá, tornouse amigo de duas grandes personalida-
des do chassidismo: o Rebe Shneur Zalman de Liadi, também conhecido como
Alter Rebe de Chabad-Lubavitch zt”l e o
Rebe Shmelke de Nikolsburg zt”l.
Com apenas vinte e um anos, Rabi
Levi Yitschak foi convidado para ser o
rav da cidade de Ritchvol (Ryczywól).
Aos vinte e cinco foi nomeado rav de
Zelichov e, aos trinta e seis, foi nomeado rabino chefe de Pinsk, posto anteriormente ocupado pelo avô de sua
esposa.
Aqueles anos conturbados foram
palco do crescente movimento da
“hitnagdut” – oposição ao movimento
chassídico – composto por yehudim
que não concordavam com as ideias
dos chassidim, por espalharem segredos muito profundos da Cabalá para
as grandes massas de Benê Yisrael .
Pinsk não foi exceção. Num piscar de
olhos, a cidade estava cheia de mitnagdim, que combatiam abertamente seus
irmãos chassidim.
Procurando sair dos olhos do confronto, Rabi Levi Yitschak fugiu para a
cidade de Berditchev, na Ucrânia. Quando chegou, começou a receber visitas de
grandes admiradores e yehudim que desejavam segui-lo. Assim nasceu a chassidut de Berditchev.
De todas as regiões fluíam pessoas
para passar Rosh Hashaná e Sucot em
Berditchev.
O Rebe ficou conhecido pelo seu profundo carisma e amor por Benê Yisrael.
Estava sempre advogando pelo seu povo
perante D’us. Muitas vezes se empenhava em longas rezas e “discussões” com
os Céus para anular decretos difíceis sobre Am Yisrael.
Ficou conhecido também pelo grande
amor e empolgação às mitsvot. Contase que, certa vez, o Rebe passou a noite
toda acordado na sua ânsia para colocar
tefilin novamente, depois dos nove dias
de Sucot.
Em 1795 Rabi Levi Yitschak lançou o
– Rebe! Eu lhe imploro! Vendi tudo o que tinha. Por favor,
inclua meu nome e o de meu filho em sua orações,
pois não tenho mais que essas duas moedas!
OR ISRAEL CHAI | :: 17
:: H I S T Ó R I A
grande livro que o imortalizaria, o “Kedushat Levy”, um compêndio de dois livros: o primeiro tratando de explicações
e comentários sobre a Torá e os chaguim e o segundo comentando o Pirkê
Avot e a chassidut em geral.
Rabi Levi Yitschak faleceu no ano de
1809, no dia 25 de Tishrei. Até hoje, a
cidade de Berditchev é palco de milhares de yehudim que desejam rezar no
lugar de descanso do “Amante de Israel”, pedindo-lhe para interceder em seu
nome nos Céus, assim como era seu costume durante sua vida terrena.
Existem muitas histórias sobre a grandeza do “Sanegoran shel Yisrael”. Trazemos uma dessas maravilhosas pérolas,
que evidenciam a dimensão deste nobre
personagem:
Era um frio êrev Yom Kipur. Já nevava
em Berditchev.
Naquele ano, estranhamente, o Rebe
decretou que qualquer yehudi que quisesse ter seu nome incluído nas suas tefilot deveria, incondicionalmente, pagar
duas moedas – dois zlotis. Deu ordens
explícitas a seu shamash (ajudante) que
não receberia ninguém que não contribuísse com esta quantia.
Perante os olhos perplexos dos moradores da cidade, Rabi Levi Yitschak se
recolheu e esperou os donativos.
Filas e filas de yehudim que se esforçaram para conseguir o dinheiro se
formavam perante a sala do Rebe naquelas horas decisivas antes do Dia do
Julgamento.
De repente, uma senhora viúva com
a veste em trapos, chegou chorando perante o shamash e implorou sua piedade,
para que ela e seu filho fossem incluídos
na lista de tefilot do Sanegoran.
Impávido, o shamash recusou o pedido daquela pobre senhora. Após mais
insistências, consultou novamente o
18 :: |OR ISRAEL CHAI
Rebe, que confirmou a necessidade do
pagamento dos dois zlotis para ter o
nome incluído na lista de orações.
Avançava a tarde e a hora de Kal Nidrê se aproximava.
A fila havia se esgotado e as moedas
arrecadadas foram guardadas para serem distribuídas para tsedacá logo depois de Yom Kipur.
Ao terminar todas as tarefas, o shamash perguntou ao Rebe se ele já estava pronto. O sábio respondeu que ainda
não, pois estava esperando mais uma
pessoa, que chegaria em breve.
Faltando menos de quinze minutos para o santo Dia do Perdão, aquela mesma senhora viúva se esgueirou
pela neve gelada ucraniana, chegando
ao recinto do Rebe. Na frente dos olhos
incrédulos do shamash e do Sanegoran,
ela tirou dos trapos que vestia duas luzentes moedas.
– Rebe! Eu lhe imploro! Vendi tudo o
que tinha. Por favor, a única coisa que
me importa é a sua tefilá. Adicione meu
nome e o de meu filho, pois não tenho
mais que essas duas moedas!
Mais uma vez o Rebe recusou:
– Ou um ou outro... A senhora pode
escolher – disse, dando as duas moedas
para o ajudante.
A viúva chorou e disse com a voz embargada entre lágrimas:
– Pois que seja meu filho! Que ele tenha um ano bom, um shiduch com uma
boa esposa e seja um grande talmid chacham!
Ao ouvir isto, Rabi Levi Yitschak, com
lágrimas nos olhos, exclamou:
– Ribonô shel Olam! É disto que nós
precisávamos neste momento! Olhe
bem o que uma pobre viúva está disposta a fazer pelo seu filho! Ela vendeu tudo
o que tinha por seu filho! Isto vale muito
mais que todo o dinheiro do mundo! E
o Senhor, D’us? Aprecie a grandeza de
Teu povo! Aceite as orações de Teus filhos e perdoe-nos neste dia!
Com isso, imediatamente iniciou-se a
oração de Kal Nidrê.
* * *
Eis uma das máximas do Kedushat Levy:
“A vontade de Benê Yisrael – e em especial dos tsadikim – tem o poder de
quebrar os decretos de Hacadosh Baruch
Hu. O mundo foi criado em honra dos tsadikim, e eles têm o poder, outorgado por
Hashem, de mudar as decisões que serão
decretadas para todo o mundo.”
Por isso, tentemos melhorar nossas
tefilot neste novo ano de 5776. Está
em nossas mãos o poder de mudar o
mundo!
Além disto, existe uma grande segulá do Rabi Levi Yitschak de Berditchev,
que muitos desconhecem, apesar de
estar ao alcance de todos: a tefilá que
se faz entre Arvit de motsaê Shabat e a
Havdalá, chamada de “Got fun Avraham”
(Elokê Avraham – o D’us de Avraham).
Esta oração pode ser encontrada em
quase todos os sidurim ashkenazim. É
recomendável que todos a recitem. Ela
possui um poder incrível. É sabido que
muitas grandes realizações aconteceram por intermédio dela!
Em momentos de apuros, outra segulá é dedicar algum valor para tsedacá
leiluy nishmat Rabi Levi Yitschak ben
Sara Sossie zt”l.
Shaná Tová Umtucá! Que este novo
ano de 5776 seja o ano da gueulá final!
Que pelos méritos deste tsadic, e de todos os tsadikim, possamos ver Yerushaláyim habnuyá e grande hatslachá em
todos os campos!
Michel Gruenberg, boguer da Yeshivá
:: M Í S T I C A
Yeshivat
Mekubalim
Uma visita à yeshivá de mekubalim
“Sháar Hashamáyim” em Jerusalém.
O ímpeto para fundar a yeshivá Sháar Hashamáyim foi gerado
por um sonho experimentado por dois notáveis rabinos
de Jerusalém na mesma noite, em 1906.
OR ISRAEL CHAI | :: 19
Q
:: M Í S T I C A
uando o Rav Yitschac
Luria
( Jerusalém,
1534 – Safed, 1572), mais conhecido
como Arizal, dirigiu-se a dois sábios
de Jerusalém e implorou para que eles
abrissem uma yeshivá para o aprendizado da Cabalá, ele prometeu que o estudo
da Torá oculta traria a Presença Divina
de volta a Jerusalém.
Quinhentos anos depois, em uma esquina sossegada, não muito longe do
movimentado Shuk Machanê Yehudá,
em Jerusalém, os alunos da Yeshivat
Sháar Hashamáyim continuam a refletir a maravilhosa luz revelada por Rabi
Shim’on bar Yochay.
Segue abaixo o relato de um repórter
da revista Mishpachá em visita à yeshivá de mekubalim “Sháar Hashamáyim”:
À medida que caminho pela pequena sala no primeiro andar da Yeshivat
Sháar Hashamáyim nessa noite fria em
Jerusalém, a primeira coisa que ouço
é o tilintar de moedas. Observando em
volta, vejo o Rosh Yeshivá Rav Reuven
Gross Shelita, que me convidou a visitar
esse santuário da Cabalá, rodeado por
um minyan de senhores. Todos eles sentados em silêncio absoluto, esperando o
rabino terminar a cerimônia de “Pidyon
Hanêfesh”.
Rav Gross pronuncia uma série de
combinações de nomes sagrados que
acompanham o jorrar de moedas de
prata datadas de 1960 – uma moeda
a cada nome. Primeiro os nomes que
representam Justiça. Depois, os nomes
que representam Misericórdia. Logo, os
nomes de duas pessoas que estão com
20 :: |OR ISRAEL CHAI
a saúde em estado crítico serão citados.
Antes de citar os nomes das duas
pessoas doentes, um pequeno pedaço
de papel é passado de mão em mão.
Quando as moedas correspondentes aos
doentes são colocadas na mesa, todos
os cabalistas presentes começam a rezar pela pronta recuperação dos donos
dos nomes que estão escritos nos papéis
amarelados.
Com o fim da cerimônia, Rav Gross –
que dirige a yeshivá com a ajuda do Rav
Yaacov Meir Schechter Shelita e do Rav
Gamliel Rabinowitz Shelita – me chama
para começarmos a entrevista.
Por mais que ele enfatize que a yeshivá não ocupa sua maior parte do tempo
neste tipo de cerimônia, alunos procurando por encantamentos, amuletos
e misticismo ainda aparecem por aqui
com frequência. As pessoas misturam
Cabalá com “hocus pocus”. Mas na Cabalá não existe mágica. Existe, isto sim,
a santidade dos nomes sagrados de D’us
que, pronunciados com pureza, revelam
neste mundo forças especiais.
Rav Gross diz que a yeshivá não é
para esse tipo de coisas. Mas ele explica
que existe uma tradição conhecida pelos mekubalim: quando uma pessoa está
fatalmente doente, a “imagem de D’us”
que existe em cada pessoa abandona
seu corpo. No Tehilim consta (39:7):
“Somente com a Sua (Divina) imagem o
homem andará”. Em outras palavras, a
“imagem Divina – tsêlem Elokim” com a
qual o homem foi criado, é o que mantém a alma no corpo, e o que torna possível uma pessoa viver. Quando a situa-
ção está muito crítica, para ser poupado
da morte, o indivíduo deve receber uma
nova imagem Divina.
O Rashash – Rav Shalom Sharabi zt”l
(1720–1777) – um dos maiores mestres
das cavanot (meditações), revelou que
essa cerimônia deve ser realizada com
160 moedas de prata, já que esta é a numerologia da palavra “tsêlem” (imagem)
e também de “kêssef” (prata).
Por mais que o rosh yeshivá seja evasivo e evite falar sobre os resultados deste
“tratamento”, ele relata alguns casos.
Mais tarde, um aluno mais velho chega e discretamente me conta: “O rosh
yeshivá é muito modesto e não lhe
contou nem uma pequena parte do que
costuma acontecer por aqui. Já vimos
maravilhas! Pessoas saindo de situações
terríveis ilesas!... O Pidyon Hanêfesh
(nome da cerimônia) já salvou muitas
vidas. Ele costuma brincar que poderia
abrir uma barraquinha e oferecer milagres... Porém isso não é a yeshivá; estamos aqui para aprender Cabalá e não
para fazer milagres!”.
O bêt midrash da yeshivá está aberto
para qualquer um. Mas somente os muito estudados no Talmud podem começar a estudar o “nistar” – a parte oculta
da Torá. Outro critério para estudar o
nistar na Yeshivat Sháar Hashamáyim
é que o aluno deve se elevar espiritualmente ao nível de ignorar os prazeres
e necessidades mundanas, além de ter
uma base prévia dos conceitos da Cabalá. Quando alguém não atinge todas
essas exigências, mas apenas algumas
delas, e já tem nível para iniciar seus es-
1
2
3
4
5
6
1. Rav Shalom Sharabi zt”l. 2. Rav Chayim Yehudá Leib Auerbach zt”l. 3. Rav Shimon Horowitz zt”l. 4. Rav Reuven Gross Shelita.
5. Rav Yaacov Meir Schechter Shelita. 6. Rav Gamliel Rabinowitz Shelita.
tudos de Cabalá, o Rav Chayim Uri Brezel ministra-lhe palestras de “introdução
para iniciantes”.
Se a Cabalá deve ser estudada pelo
público geral ou somente por um grupo
seleto de sábios, é uma discussão muito
antiga. Mas, até os que apoiam a primeira opção concordam que é necessário ter uma base sólida nos estudos
da Torá e da Guemará. O aprendizado
para o público geral se limita a alguns
conceitos básicos e introdutórios da
Cabalá.
Em 1906, quando Rav Chayim Yehudá Leib Auerbach (o pai do famoso Rav
Shlomo Zalman zt”l) dirigiu a yeshivá, ele
impôs que, para cada hora de Cabalá a
ser estudada, uma hora de Guemará também fosse estudada. Ele não queria que
os alunos passassem o dia dedicando-se
somente aos estudos místicos. A Cabalá
requer conhecimentos prévios e profundos dos temas centrais da Torá, como o
Chumash, Guemará e halachá.
Ao andar um pouco mais pelo bêt midrash, noto a presença do Rav Yitschak
Schwadron, filho do famoso “Maguid de
Jerusalém”, Rav Shalom Schwadron (Jerusalém 1912–1997), sentado com uma
Guemará aberta em sua frente.
– Você não está estudando Cabalá?!
– Perguntei perplexo. Mas ele nem escutou.
Mais tarde fui informado que ele
não estuda Cabalá em público, mesmo
carregando o legado de seu bisavô, o
grande rabino Rabi Shalom Mordechay
Schwadron zt”l (1835–1911), conhecido
como o “Maharsham”, uma das maiores
autoridades haláchicas de sua geração.
Em uma breve conversa com o Rav
Yitschak Shwadron, ele me fez o seguinte relato impressionante:
“Tudo começou com um sonho no ano
de 1906. Meu avô, Rabi Chayim Yehudá Leib Auerbach (1883–1954), era um
jovem estudante quando o Arizal se revelou num sonho para ele e perguntou:
‘Por que os ashkenazim não estudam
a Torá oculta? Vá e abra uma yeshivá
para mekubalim!’.
“O sonho se repetiu algumas vezes, e
isso o abalou tanto, que ele decidiu ir
conversar com seu amigo Rav Shimon
Horowitz, um cabalista de Jerusalém.
“Enquanto andava até sua casa, encontrou este mesmo amigo na rua. Para
sua enorme surpresa, ele afirmou ter
tido o mesmo sonho, onde o Arizal insistia que ele trouxesse de volta a Shechiná
(a Presença Divina) para Jerusalém por
intermédio do estudo da Cabalá. O Rav
Shimon Horowitz também ficara impressionado com o sonho e decidira ir
conversar com meu avô. E foi assim que
os dois se encontraram, de madrugada,
no meio do caminho! Apesar do horário,
eles decidiram levar o caso ao Rav Shemuel Missalant, que os instruiu a relatar
todo o acontecido aos grandes sábios da
Polônia, detalhando o sonho.
“Assim, foi enviada uma carta para o
grande Rav Chayim de Brisk e para o
Rav Chelcat Yoav. Ambos responderam
que eles tinham a obrigação de abrir a
yeshivá imediatamente.
“Logo após o recebimento da resposta”,
concluiu Rav Yitschak Shwadron, “meu
avô ajudou a fundar uma yeshivá para
o estudo da Cabalá, a Yeshivat Sháar
Hashamáyim. E hoje em dia, aqui estou
eu, estudando nesta mesma yeshivá!”
Neste momento o Rav Gross se aproximou de mim e disse que a visita já estava no fim.
Antes de me despedir, solicitei que ele
me desse uma rápida definição do que
é a Cabalá. Com sua voz suave, o rabino
me encarou e disse:
“A Cabalá se baseia em conceitos e detalhes, e não nos rituais exibicionistas.
Cabalá significa conhecer o Criador e
desenvolver um constante amor por Ele
– praticar todas as mitsvot com a mais
pura e verdadeira intenção contida em
cada preceito.
“Um mekubal é alguém que entende
que tudo o que ele faz neste mundo
tem influência nos mundos espirituais
elevados, seja aprimorando-os ou destruindo-os, chás veshalom.”
Beni Sued, 3º ano do Ensino Médio
Texto extraído da Revista Mishpachá
com autorização
OR ISRAEL CHAI | :: 21
:: E N S I N A M E N T O
Repense!
Objetivo é aquilo que incentiva o homem.
É aquilo que o guia na vida.
É aquilo que define quem ele realmente é.
Qual é o seu objetivo?
M
uitos de nós têm como
prioridade na vida serem ricos. Parece-nos que
o dinheiro compra a felicidade. Também temos
como prioridade sermos famosos. Parece-nos que
a fama atrai a amizade. Temos como prioridade
sermos poderosos. Parece-nos que a superioridade nos trará o respeito.
Porém, o que realmente queremos? O que é de
fato importante?
Eis uma pequena parábola sobre este assunto:
“Certo dia, dois homens decidiram construir
suas próprias casas. Porém, sua ideologia não era
22 :: |OR ISRAEL CHAI
a mesma. Um deles queria que sua casa
fosse a mais atraente do bairro, ao contrário do outro, que dedicava-se mais
ao seu interior.
“Após finalizarem suas obras, não se
podia acreditar que os donos começaram suas construções no mesmo momento. Um deles conseguiu despertar a
inveja de todos aqueles que o viam. Ele
havia usado o melhor que o dinheiro
pode comprar. Usou tintas importadas
e contratou um jardineiro internacionalmente famoso para cuidar de seu jardim.
Ao contrário da casa do outro que, aparentemente, não tinha nada de especial.
“A diferença verdadeira só podia
ser contada por aqueles que entraram
naquelas casas. Certamente que, por
fora, a casa do primeiro construtor era
linda! Porém, ao entrar na casa, eram
vistas pequenas rachaduras nas paredes e vazamentos no teto. Toda a maravilhosa aparência externa não passava de uma grande mentira, uma ilusão.
“Já o exterior da outra casa não fazia justiça ao seu interior. Por fora
ela aparentava ser somente uma casa
simples. Porém, ao entrar, percebiase o quanto se estava enganado. Seu
dono havia decorado-a como o interior de uma belíssima mansão. Ele
não se importava com a opinião dos
outros que a viam por fora. O importante é que ele era feliz no interior de
sua casa – mesmo que os outros não
soubessem.”
* * *
Nossa vida é como uma casa. Do mesmo modo que pintar uma casa por fora
com tintas importadas não fará com que
seu interior seja mais bonito, uma vida
repleta de dinheiro e poder não será necessariamente agradável “por dentro”.
Reconstrua sua “casa”. Dedique se ao
seu interior. Faça com que ela seja bonita para você, independentemente do
que os outros veem.
Coloque amor dentro da sua casa.
Mesmo que seu exterior não seja tão
bonito, faça com que seu interior seja
maravilhoso!
No final, a luz de sua beleza interior
transbordará pelas janelas!
Yehudá Shani, 9º ano do
Ensino Fundamental
O construtor não se importava com a opinião dos outros
que viam a casa por fora. O importante é que ele era feliz,
mesmo que os outros não soubessem.
OR ISRAEL CHAI | :: 23
:: C U L T U R A
Teste o seu
conhecimento:
Quem disse a
frase?
24 :: |OR ISRAEL CHAI
Frases de personalidades
Rabínicas
1
‫ יוסיף‬,‫במידה שיוסיף בניין היישוב‬
‫חורבן השכל‬
Na proporção que se aumenta a construção do materialismo, aumenta-se a
destruição da alma.
O homem deve escolher em que campo
investir na vida, sendo que material e
espiritual visam ser dominantes e são
inversamente proporcionais.
O Chatam Sofer escreve que este conceito se refere somente à vida fora da
Terra de Israel, pois o desenvolvimento
da Terra de Israel é, por si, um mandamento Divino e faz parte do trabalho espiritual de cada um.
a) Ramba”n
b) Rabi Bachyê ibn Pacuda
c) Rabi Yossef Albo
2
‫ישראל באומות כלב באיברים‬
Israel entre os povos é como o
coração entre os órgãos.
Apesar de prezarmos por nossa particularidade, esta separação visa o desenvolvimento de uma mensagem universal, a
criação de um polo de influência espiritual e moral para toda a humanidade.
a) Rabi Yossef Albo
b) Ramba”n
c) Rabi Yehudá Halevi
Muitas vezes tentei fugir de mim,
mas onde eu ia, lá eu estava.
OR ISRAEL CHAI | :: 25
:: C U L T U R A
3
‫אחרי המעשים נמשכים הלבבות‬
Atrás dos atos seguem os corações.
O autor usa este conceito para explicar
o fato de a Torá ordenar muitas mitsvot
para lembrarmos da Saída do Egito e não
se limitou com o simples mandamento
de lembrar Yetsiat Mitsráyim.
de Aristóteles com relação a assuntos
“abaixo do céu” (questões físicas), mas
não em relação a assuntos “acima do
céu” (questões metafísicas).
a) Ramba”m
b) Ramba”n
c) Rabi Yossef Albo
6
A) Ramba”m
b) Sêfer Hachinuch
c) Rabi Yehudá Halevi
4
‫אין אומתנו אומה אלא בתורתה‬
Nossa nação é uma nação somente
por sua Torá.
Nações em geral são definidas por ligação geográfica, étnica ou social. Quanto
ao Povo Judeu, a religião faz parte de
sua própria definição e identidade. Este
é um dos segredos de sua sobrevivência,
mesmo tendo passado por lugares e situações tão diferentes.
‫חיי נשמות אויר ארצנו‬
Vidas de almas, ar de nossa Terra
(a Terra de Israel).
a) Rabi Yehudá Halevi
b) Ramba”n
7
‫כפי מה שיחסר לאדם ידיעות משארי‬
‫החכמות – לעומת זה יחסר לו מאה‬
‫ידות בחכמת התורה‬
A) Rav Saadya Gaon
b) Ramba”m
Torá.
a) Rav Avraham Yitschac Kook
5
‫שמע האמת ממי שאמרה‬
b) Mahara”l de Praga
26 :: |OR ISRAEL CHAI
Esta foi a resposta do rebe ao ser
questionado como conseguia ficar
tantas horas recebendo indivíduos que
vinham se aconselhar com ele.
a) Báal Shem Tov
b)Rabi Menachem
Lubavitch
Mendel
de
c) Rabi Levi Yitschac de Berditchev
Frases de Sabedoria Geral
10
D’us nos deu dois ouvidos e uma
boca – para ouvirmos mais e falarmos
menos!
a) Dalai Lama
b) Isaac Newton
c) Albert Einstein
11
8
tenha dito!
Em outra fonte, ele explica que podemos
aceitar perfeitamente os ensinamentos
‫כאשר סופרים יהלומים לא מתעייפים‬
Quando se conta diamantes não se
cansa.
c) Gaon de Vilna
Ouça a verdade de quem quer que a
O autor justifica o fato de ter mesclado
ensinamentos de Aristóteles em seu livro, apesar de que, em relação a algumas questões fundamentais, este tenha
uma posição contraditória aos princípios do judaísmo.
9
c) Rav Saadya Gaon
Conforme faltar ao homem o conhecimento de outras sabedorias, faltará
cem vezes mais no entendimento da
c) Ramba”n
c) Rabi Nachman de Breslav
‫אין שלם מלב שבור‬
Você nunca chegará ao seu objetivo
se parar para cada cachorro que latir
no seu caminho!
Não há algo mais completo que um
coração quebrado.
a) Winston Churchill
O homem é incompleto por definição,
e sua maior completitude consiste no
maior reconhecimento desta situação.
c)Dwight D. Eisenhower (presidente americano)
a) Báal Shem Tov
b) Rebe de Kotsk
b) Lula
12
Muitas vezes tentei fugir de mim, mas
onde eu ia, lá eu estava.
a) Sigmund Freud
b) Viktor Frankl
‫השלום יבוא כשהערבים יאהבו את‬
‫בניהם יותר מששונאים את בנינו‬
A paz virá quando os árabes amarem os
seus filhos mais do que odeiam os nossos.
a) Golda Meir
c) Tiririca
b) Isaac Rabin
c) Moshê Dayan
Frases relacionadas com
a História de Israel
13
‫אם תרצו אין זו אגדה‬
Se vocês quiserem, isto não será uma
lenda.
Em resposta aos céticos, que viam no
projeto de criação de um Estado Judeu
um sonho irreal.
a) Zeev Jabotinski
b) Theodor Herzl
c) David ben Gurion
18
15
16
Eles (os “pioneiros”) se inspiram
em ideias que, não somente que não
podem ressuscitar um povo morto,
como poderiam matar um povo vivo.
Criticando a ideologia de grande parte
do movimento sionista, que rompia com
a tradição judaica e visava a criação de
um “novo povo”, absolutamente diferente daquele que viveu na diáspora.
a) Rebe Yoel Teitelbaum de Satmer
b) Chazon Ish
c) Rav Avraham Yitschac Kook
As nações podiam escolher entre a
guerra e a desonra. Escolheram a
desonra – e receberão a guerra.
Criticando o Acordo de Munique, onde as
grandes potências assinaram um acordo
de paz com a Alemanha Nazista, apesar de
esta ter descumprido os termos assinados
no fim da Primeira Guerra Mundial.
a) Albert Einstein
b)Dwight D. Eisenhower (presidente americano)
c) Winston Churchill
19
Se é para o bem de todos e felicidade
geral da nação, digam ao povo que
fico!
a) Dom Pedro I
b) Getúlio Vargas
c) Lula
14
a) Ezer Weizman
b) Berl Cazenelson
c) Menachem Begin
17
I Have a Dream
Frase central em um de seus discursos
mais famosos.
a) George Washington
Por R. Isaac Shammah e
Israel Chouveke, 1º ano do Ensino Médio
b) Martin Luther King
c) John F. Kennedy
Respostas:
Êrets Yisrael (será nossa) não pelo
mérito da força, mas sim pela força
do mérito!
Frases relacionadas com a
História Geral
1) b; 2) c; 3) b; 4) a; 5) a; 6) a; 7) c; 8) b;
9) b; 10) c; 11) a; 12) c; 13)b; 14) c; 15) a;
16) c; 17) b; 18) c; 19) a.
‫ אלא‬,‫ארץ ישראל לא בזכות הכוח‬
‫בכוח הזכות‬
OR ISRAEL CHAI | :: 27
:: E N S I N A M E N T O
Pérolas da Tefilá
Mêlech Ozer
Umoshia Umaguen
Voltando ao Navio
D
urante nossa vida podemos recitar partes lindas das nossas
orações sem nunca darmo-nos conta de
sua beleza. Um exemplo disso aparece
no final da primeira berachá do Shemoná Esrê, onde recitamos as palavras
“Mêlech ozer umoshia Umaguen – O Rei
que auxilia, que salva e que protege”.
Analisemos o significado de cada uma
destas palavras. Qual a diferença entre
auxílio, salvação e proteção?
Ozer – auxílio – refere-se a algo que
estamos realizando, mas com certas dificuldades e obstáculos, e para terminar
nossa meta necessitamos de uma ajuda,
“um empurrãozinho”, enfim, um auxílio.
28 :: |OR ISRAEL CHAI
Na Shemoná Esrê recitamos três
vezes por dia: “o Rei que auxilia,
que salva e que protege”.
Certamente há uma grande diferença
entre estas três situações.
Muitas vezes sentimos ser necessária
uma “energia extra” para vencermos
obstáculos que aparecem no dia a dia.
Umoshia – salvação – refere-se a
uma situação na qual estamos com um
problema que não conseguimos resolver. É uma circunstância na qual já nos
complicamos, uma “enrascada” da qual
não temos forças para nos libertarmos.
A salvação só acontece quando vem alguém de fora e salva-nos – tira-nos do
“fundo do poço”.
Uma salvação pode se referir ao plano
físico e material ou aos caminhos e desafios da alma em nossa avodat Hashem
– nosso serviço ao Criador. Às vezes sen-
timo-nos como se tivéssemos sido jogados de um navio em mar aberto. Nesta
situação, pedimos para D’us nos jogar
uma corda ou uma boia salvadora para
tirar-nos do redemoinho e recolocar-nos
a bordo do navio, sãos e salvos, para que
continuemos nossa trajetória de elevação espiritual.
Finalmente, Umaguen – proteção –
diz respeito a oportunidades nas quais o
eventual perigo ou problema nem chega até nós. São situações nas quais nós
continuamos em nossa trajetória, sem
darmo-nos conta que algo estava prestes a atingir-nos. Nestas circunstâncias,
a proteção Divina é como um escudo
que evita que o mal nos atinja. Esta proteção traz-nos estabilidade para que não
sejamos suscetíveis a esses males.
Nesta berachá reconhecemos que
D’us sempre está por trás de nossos
atos, ajudando-nos para que nossos planos se realizem da melhor forma segundo Seu julgamento.
Mesmo quando erramos e complicamo-nos, sabemos que podemos apelar
para D’us nos tirar da dificuldade na
qual nos colocamos. Ao mesmo tempo,
estamos cientes de que existem dezenas
de perigos com grande probabilidade de
atingir-nos dos quais somos defendidos
pela proteção Divina, muitas vezes sem
mesmo nos dar conta.
Michael Kullock,
2º ano do Ensino Médio
Quando nos sentimos jogados de um navio em mar aberto,
necessitamos que joguem-nos uma boia salvadora para tirar-nos do
redemoinho e recolocar-nos a bordo do navio sãos e salvos.
OR ISRAEL CHAI | :: 29
:: E N S I N A M E N T O
Os
Cordeirinhos
se Tornaram
Carneiros
(TALMUD BERACHOT 63a)
C
onsta no Pirkê Avot
(Ética dos Pais 4, 3): “Ele (Ben Azay)
costumava dizer: “Não despreze ninguém e não rejeites nada, pois não há
homem que não tem sua hora e não
há coisa que não tem seu lugar”. Esta
mensagem também foi transmitida
pelo mais sábio dos homens, Shelomô
Hamêlech , no livro de Cohêlet (Eclesiastes): “Todo homem tem seu momento destinado”.
Este ensinamento pode ser constatado claramente analisando a história
de nosso povo. Lembremos brevemente alguns exemplos.
Yossef, o filho talentoso e predileto de
Yaacov, sempre foi “o excomungado dos
irmãos” (vide Bereshit 49:26). A aversão
30 :: |OR ISRAEL CHAI
Quem pode desconsiderar
um futuro brilhante?
dos irmãos a ele chegou a tal ponto que
os irmãos não conseguiam sequer cumprimentá-lo. Ele foi jogado num poço
e depois vendido a uma caravana de
yishmaelim. Yossef acabou sendo levado ao Egito e vendido ao ministro Potifar. Logo no segundo ano de sua estadia
no Egito, foi jogado num calabouço. Yossef estava sozinho num país estranho
sob situações adversas e aparentemente
abandonado por todos. Mas, após doze
anos, quando parecia que seu futuro estava perdido, tornou-se repentinamente
o vice-rei, aquele que conseguiu abastecer com alimentos o mundo inteiro
e salvá-lo da fome e da morte (Ramban
sobre Bereshit 42:6).
Vejamos outro exemplo de alguém
que foi enquadrado numa situação parecida. Moshê Rabênu era um príncipe no
Egito. Fora criado por Batya, filha do Faraó, e tinha um futuro garantido como
o sucessor do Faraó daquela época.
Porém, ele largou tudo para salvar um
israelita que estava apanhando de um
egípcio. Após matar o opressor, Moshê
até precisou fugir do país.
Naquela circunstância, parecia tudo
perdido para Moshê. Parecia que
aquela atitude comprometera seu futuro. Porém, quando ele estava cuidando do rebanho de seu sogro, D’us
Se revelou a ele, encarregou-o de tirar
o Povo de Israel do Egito e, posteriormente, de receber a Torá no Monte
Sinai.
Inúmeros exemplos podem ser encontrados no Tanach de indivíduos que
foram primeiramente desprezados e,
posteriormente, tornaram-se homens
que mudaram toda a história: Guid’on,
Yiftach, Shaul, David e muitos outros!
Porém, há mais um exemplo na época do Talmud que chama a nossa atenção. Rabênu Yoná, comentando o Pirkê
Avot (Ética dos Pais 1, 1) traz um ensinamento da Escola de Hilel: “Deve-se
ensinar Torá a qualquer judeu (mesmo
que aparentemente não tenha muitas
qualidades)”. Vale a pena ensinar a 100
alunos, para que saiam deles 10 que se
sobressaiam; e 10 para que se sobressaiam 2. E até mesmo quem tem dois
alunos não pode abrir mão de nenhum
deles pois, quem sabe, talvez um deles
se destacará no futuro. E assim aconteceu com Hilel, que certa vez reuniu
todos os seus alunos e perguntou-lhes
antes de começar a aula: “Estão todos
os alunos presentes?”. Logo responderam-lhe: “Sim!”. Mas em seguida se
levantou um dos alunos e disse: “Estão
quase todos! Falta apenas um, que é o
menor deles”. Ouvindo que o menor de
seus alunos não estava presente, Hilel
disse: “Chamem-no, pois este pequeno
aluno será o futuro líder do povo, e é
ele que salvará o judaísmo na época das
dificuldades (na época da destruição do
Templo)!”. Esse “pequeno” aluno, que se
chamava “Yochanan”, tornou-se o grande “Raban (o grande rabino) Yochanan
ben Zakay”, um dos maiores líderes que
nosso povo já teve. “Pois os cordeirinhos se tornaram carneiros”.
Os indivíduos nunca podem se
achar incompetentes, incapazes, inúteis ou supérfluos. Sempre devem
procurar em si qualidades, por meio
das quais poderão contribuir com o
mundo. Cada um de nós é como um
diamante, que apenas aguarda um
raio de luz para brilhar!
O futuro guarda grandes surpresas
para a vida de cada um de nós, assim
como ninguém diria que um diamante
provém do carbono!
2º
ano
Iossef Fuksman,
do E nsino M édio
“Chamem-no, pois este pequeno aluno será
o futuro líder do Povo de Israel e salvará o
judaísmo na época das dificuldades!”
OR ISRAEL CHAI | :: 31
:: I S R A E L
1
2
3
4
5
6
(1) Desabafos de esperança e legado, escritura na parede de Atlit, Israel. (2) Uma amostra da criatividade Divina. (3) Terra de Israel,
superação e cercas no chão. Hoje a nossa maior conquista. (4) Nos túneis do passado, Min’harot Hacôtel. (5) Perto da Luz todos
somos anulados, Neguev, Israel. (6) Vista da Fortaleza de Massada, Israel.
32 :: |OR ISRAEL CHAI
7
8
9
10
11
(7) e (8) Religião, o jogo de nossas vidas, Loja das velas em Tsefat. (9) Muitos dizem que Israel é apenas um deserto. É muito mais
do que um deserto. É o deserto que D’us nos deu. (10) Sem Sol não há vida, Neguev, Israel. (11) Israel, a Luz de Am Israel.
OR ISRAEL CHAI | :: 33
:: E D U C A N D O
PA R A
A
VIDA
12
13
14
15
16
(12) Na maravilhosa Praga. (13) Rosh Yeshiva de Merkaz Harav, Rav Yaacov Shapira, em visita à Yeshivá. (14) Das ruínas a caminho
de Israel, saindo do campo de Majdanek, Polônia. (15) Aprendendo um pouco de Geografia, deserto do Golan, Israel. (16) Vivendo
o passado, Min’harot Hacôtel, Israel.
34 :: |OR ISRAEL CHAI
17
18
19
(17) Nas belezas do Sul de Israel. (18) Sobre um Merkavá 4, o mais moderno tanque Israelense, Latrun, Israel. (19) Álbum de nossos
heróis, campo de Birkenau, Polônia.
OR ISRAEL CHAI | :: 35
:: E N S I N A M E N T O
O Papel
Principal de
Nossa Geração
N
Nada obtém sucesso
duradouro neste mundo sem
ser antecedido por uma tefilá.
o livro “Shearim Betfilá”, o Rabino
Shimshon David Pincus (1944–2001) cita a seguinte questão do grande sábio Rabino Yeshayá
Halevi Horowitz (aprox. 1565–1630), conhecido
como Shelá Hacadosh: “Por que Am Yisrael pronuncia tantas preces, mas seus pedidos não são
atendidos?”. E a resposta do Shelá Hacadosh é surpreendente: “Porque não sabem rezar!”
O que, de fato, significa esta afirmação? Como
pode ser que não sabemos rezar? Temos sidurim
nos quais constam todas as tefilot! E todos lemos
as orações escritas nos sidurim. Pronto! O que
mais deveríamos fazer?
Afinal, fazemos as três rezas diárias comuns e
as especiais dos shabatot e dias festivos. O que o
Shelá Hacadosh quis dizer com isso? Será que nossa pronúncia não é correta?
36 :: |OR ISRAEL CHAI
Um potencial desperdiçado
Quando usamos nossas preces de
forma incorreta, desperdiçamos o seu
verdadeiro potencial. Trata-se de algo
muito precioso. Talvez as orações sejam
aquilo que temos de mais precioso e que
depende somente de nós – conversar
com o próprio Criador do Universo!
Imaginemos uma pessoa que juntou
suas economias de toda a vida de trabalho, e resolveu trocar o seu velho carro
por um carro novo. Um carro moderno,
automático, com vidros e travas elétricas, ar condicionado... enfim, com todos
os opcionais de fábrica.
Logo ao sair dirigindo da concessionária, este indivíduo sente uma emoção
indescritível. O cheiro do estofado novo
lhe traz lembranças de sua juventude.
Porém, uma buzinada histérica o acorda
do sonho, quando ouve um grito pela janela: “Anda tartaruga!”
O sujeito não conseguia andar mais
rápido. Estava acostumado com a velocidade máxima de seu antigo veículo. O
máximo que ele alcançava era 60 km/h.
Nem sabia que o novo carro atingia altas velocidades.
Aos poucos, foi começando a entender o que o novo automóvel era capaz
de fazer – ele atingia velocidades mais
altas, era mais silencioso, mais estável...
Não usar corretamente nosso potencial é um desperdício enorme. Podemos
proferir orações que são mais potentes
que “foguetes” nos céus!
Palavras certas nos lugares certos
Aprender a rezar significa aprender a
comunicar-se com Hashem – elogiando,
louvando, agradecendo e pedindo. Tudo
tem seu jeito e sua forma de ser manifestado.
Quando o assunto é falar com Hashem,
além de usar as palavras corretas pen-
Por que precisamos rezar para D’us se Ele
conhece nossos problemas e sabe exatamente
tudo o que precisamos?
OR ISRAEL CHAI | :: 37
:: E N S I N A M E N T O
sando na devida tradução e nas cavanot
necessárias, não podemos desperdiçar o
mais importante – que as palavras saiam
do coração!
Também existe o momento adequado em nossas preces para falarmos da
nossa maneira, com nossa própria linguagem.
Poderíamos imaginar, por exemplo,
que na segunda berachá da Amidá,
quando pronunciamos as palavras “verofê cholim” – que cura os enfermos –
seria o momento de pedir cura para um
ente querido. Poderíamos até “aproveitar” para citar uma lista contendo vários nomes de pessoas que necessitam
de uma pronta recuperação. Porém, de
fato, esse não é o local correto para pedidos. O momento propício para isso
é no final da Amidá, antes do último
“Yihyu Leratson”. Outro local adequado, em casos de doenças mais graves,
poderia ser inserir os pedidos no parágrafo que começa com “refaênu” (apesar de que há controvérsias entre os
legisladores se este é o local adequado
para essas inserções) ou no parágrafo
“Shemá Colênu”.
Durante a segunda berachá da Amidá,
portanto, não devemos fazer pedidos de
cura. Ela não é uma berachá de pedidos,
mas sim de louvores a Hashem. Imagine
que alguém lhe tenha feito um grande
favor e, antes de agradecer seu benfeitor, você já se dirija a ele pedindo algo
novamente. Este não é o momento propício de pedir.
Por isso, devemos aprender como
proferir palavras certas nos lugares certos durante nossas tefilot.
A importância de
expressar os pedidos
Mesmo que D’us sabe precisamente o
que necessitamos, ainda assim devemos
38 :: |OR ISRAEL CHAI
rezar e pedir-lhe tudo que precisamos.
O grande rabino Rav Moshê Chayim
Luzzatto (1707–1746), autor de obras
famosas como Messilat Yesharim e Dêrech Tevunot, traz em sua grande obra
Dêrech Hashem (Caminho de D’us) um
importante conceito: “Mesmo que o homem mereça algo por uma benfeitoria
realizada ou uma recompensa pelos
méritos de seus antepassados, esse bem
fica guardado até que ele peça por isso”.
Portanto, precisamos rezar para conseguir o que necessitamos. Mesmo que o
Criador tenha plena consciência de todas as nossas necessidades e das necessidades do mundo inteiro, mesmo assim
dependemos de nossas preces. Precisamos rezar – e rezar por tudo. Nada sai
dos Céus por ordem do Criador sem passar pelo portal das orações.
Imaginemos o exemplo de um pai que
é um conceituado cardiologista. Seu filho, com problemas de pressão alta e
dor no peito, fica de cama por vários
dias. Os médicos não conseguem resolver o problema do rapaz. Finalmente,
um de seus amigos pergunta: “Seu pai
não é cardiologista? Por que ele não
está aqui para curar-lhe?” O filho responde: Porque eu ainda não disse para
ele que estou doente!” Assim também
D’us prefere Se comportar. Enquanto
não “contamos” a Ele que estamos com
problemas, enquanto não pedimos que
Ele nos ajude, é como se Ele não soubesse.
Consta no Tehilim 130: “D’us, ouça
minhas preces, direcione Seus ouvidos
para minhas súplicas!”
Apesar de que Hashem conhece nossos problemas e sabe de nossas necessidades, prefere usar Sua “audição” para
depois responder nossas preces. Precisamos rezar e pedir tudo o que necessitamos.
Uma prova deste conceito pode ser
verificada estudando sobre os dias da
Criação do Mundo. Apesar de que as
plantas foram criadas no terceiro dia,
elas só cresceram depois que D’us criou
Adam Harishon, no sexto dia. Foi quando Adam reconheceu a importância de
rezar e pediu que Hashem enviasse chuvas para as plantas crescerem.
O papel da geração que
antecede o Mashiach
O principal aluno do Arizal, Rabi
Chayim Vital zt”l (1542–1620), escreveu que na geração da vinda do Mashiach a reza terá papel primordial para a
sua chegada. Cada geração tem seu papel, e o da geração do Mashiach é rezar.
A tal ponto a reza é importante que, se
juntarmos todos os méritos, sofrimentos, esforços e Kidush Hashem, ainda
assim o Mashiach não se revelará a não
ser por meio da tefilá!
Cada geração tem seu papel, cada
época tem sua função especial. Nós devemos estar atentos a essas obrigações
sem abrir mão de nossas outras responsabilidades importantes.
Assim ocorre também nos chaguim
(as grandes festas). Cada festividade
judaica tem sua mensagem e sua mitsvá
especial. Em Rosh Hashaná, por exemplo,
a mitsvá do dia é tocar o shofar. Apesar
de que o estudo da Torá é a mitsvá mais
importante no judaísmo, não poderíamos
deixar de escutar o toque do shofar para
ficar estudando Torá.
Em relação a nossa geração, mesmo
que a reza tenha um papel primordial, o
estudo da Torá também não deve enfraquecer. O papel principal de nossa geração é fortificar a tefilá sem prejudicar o
estudo da Torá!
R. Chaim Vital Passy
:: H I S T Ó R I A
Só D’us Sabe!
Uma belíssima história com o gadol
hador sobre a virtude de ceder algo
para o próximo.
O
Gaon Gadol Hador
Rav Yossef Shalom Elyashiv zt”l desempenhou o papel de pilar do nosso
povo num período de muita escuridão. Ele viveu até os 102 anos de idade, falecendo em 2012.
A história a seguir aconteceu há
13 anos, quando o rav já contava com
92 anos de idade. Naquele ano o rav
adoeceu devido a um problema no
coração e foi internado no Hospital
Hadassa, em Yerushaláyim. Para que
fosse bem tratado, seus discípulos
contrataram um expert da área, um
“Meu filho foi um herói. Descartou meses de preparo da leitura da
Torá em prol da paz em Am Yisrael. Naquele Shabat ele não leu a
parashá, mas ela nunca foi descartada dos planos celestiais.”
OR ISRAEL CHAI | :: 39
:: H I S T Ó R I A
renomado especialista norte-americano, que aceitou viajar até Israel especialmente para tratar do sábio.
Nesse meio-tempo, alguns familiares e alunos mais próximos do rabino
organizaram um minyan no quarto
em que ele estava. Após providenciarem um Sêfer Torá, sidurim, chumashim e todo o necessário para fazerem daquele quarto uma sinagoga,
ainda precisavam de alguém para ler
a Torá no Shabat.
Uma senhora que estava internada
naquele hospital, no mesmo corredor
que o rabino, sugeriu que seu filho
poderia ler a Torá . Ela disse que se
tratava justo da parashá do seu bar
mitsvá e que, sem dúvida, ele poderia
ler para o minyan do rav.
Sem que ninguém soubesse, a mulher pediu ao seu filho que, após ler
para o minyan do rabino, pedisse a
ele que desse uma bênção para ela se
curar.
Na data marcada, lá estava o jovem
bachur no quarto do rabino, rezando
junto com ele. De fato, o jovem leu na
Torá de forma excepcional. Após a
tefilá o rabino chamou o garoto para
cumprimentá-lo. Agradeceu pela nobre atitude de ceder seu tempo e, no
final, perguntou se ele precisava de
alguma berachá . O jovem respondeu
que sim. Disse que sua mãe estava doente, com um problema no coração.
Que ela estava lá “no fim do corredor”
e necessitava da sua berachá. O rabino aceitou prontamente o pedido do
rapaz e deu sua bênção para que a
senhora se recuperasse prontamente.
Além disso, cedeu também, por algumas horas, os cuidados de seu médico
particular. De fato, a mulher se curou
e vive até hoje.
Quando questionada sobre como
40 :: |OR ISRAEL CHAI
mereceu tal salvação, a senhora explicou que seu filho tinha nascido
como resultado de uma berachá anterior do Rav Elyashiv. Que ela ficara
muitos anos sem ter filhos, e só deu à
luz após ganhar uma berachá do Rav
Elyashiv.
Além disso, ela contou a seguinte
história:
“A época do bar mitsvá para um jovem é algo surpreendente. Anos de
preparo, inúmeras revisões da leitura
da Torá, estudo de muitas rezas e halachot, etc. Para os pais os esforços
não são menores: reservar a sinagoga,
escolher o buffet, o menu, a decoração, contratar o fotógrafo, a banda,
o salão, preparar o convite, comprar
roupas novas para toda a família e...
assinar muitos cheques. Com meu
filho não foi diferente. Esses meses
passaram muito rapidamente e, após
ter feito tudo isso, o grande dia chegou.
“Havíamos reservado a leitura da
Torá em uma sinagoga com o gabay
com bastante antecedência. Estava
tudo certo, mas algo de incomum
aconteceu. Naquele Shabat , outra
família entrou na sinagoga com um
jovem que também fazia bar mitsvá .
Estavam todos bem vestidos e muito
contentes. No começo imaginamos
que eles estavam vindo participar da
nossa alegria. Mas logo percebemos
que nenhum de nós jamais havia visto eles em toda nossa vida! Após uma
troca de olhares percebi o que havia
acontecido: a sinagoga tinha mais de
um gabay . Provavelmente, por um
mal entendido, eles reservaram a
leitura da Torá para dois jovens que
comemoravam seu bar mitsvá. E agora, o que fazer? Duas famílias, dois
jovens para ler na Torá a parashá de
seu bar mitsvá, mas apenas uma sinagoga. Apenas uma leitura...
“Conversei um pouco com meu marido e chegamos à conclusão que o
outro clã era visivelmente menos religioso. Se insistíssemos pelo nosso direito à leitura da Torá, eles julgariam
todos os religiosos de uma forma terrível. Após consultar nosso filho, ele
aceitou “ceder” a leitura da Torá para
o outro jovem. Meu filho foi um herói. Descartou meses de preparo da
leitura da Torá e toda a empolgação
daquele momento tão especial de sua
vida em prol da paz em Am Yisrael.
“Marcamos uma nova leitura da
Torá para meu filho algumas semanas
depois. Ele se esforçou muito para
preparar uma nova leitura em poucas
semanas.
“Naquele Shabat do mal-entendido, meu filho não leu a parashá que
tinha preparado com tanto carinho.
Mas essa parashá que cedemos àquela família jamais foi ‘descartada’ dos
‘planos celestiais’. Meu filho ganhou a
grande honra e o mérito de lê-la para
ninguém menos que o Gadol Hador,
Harav Hagaon, Morênu Harav Yossef
Shalom Elyashiv Shelita lá no hospital; e foi por intermédio dela que eu
me salvei.”
Hacadosh Baruch Hu nunca se esquece dos nossos esforços e sacrifícios.
Quando realizamos uma boa ação, ela
fica carimbada nos registros Divinos
para sempre. Em algum momento definido por D’us, recebemos a recompensa,
que pode vir por meio das mais inusitadas maneiras. O nosso dever é simples:
realizar boas ações. O que vem depois,
só D’us sabe!
Michael Kullock,
2º Ano do Ensino Médio
:: H I S T Ó R I A
O Mérito
do Remá
Qual foi o mérito do Remá para ser considerado
o grande legislador das leis judaicas conforme
o costume ashkenazi?
O
Rav Moshê Isserlis de Cracóvia, o Remá
Remá, Rav Moshê Isserlis de Cracóvia, é o principal legislador dos ashkenazim. Suas decisões,
entre inúmeras opiniões, são aceitas por
todos os legisladores ashkenazim até os
dias de hoje e levada em consideração
também por legisladores sefaradim.
No entanto, na sua própria geração havia
grandes sábios que se opunham à sua
obra. O Maharshal, Rav Shelomô Luria
de Lublin, por exemplo, sustentava que
as leis deveriam ser acompanhadas das
análises das fontes do Talmud e não como
vereditos resumidos. Houve outros sábios
que também discutiram suas decisões.
Qual foi o mérito do Remá para que, no
final, suas palavras fossem aceitas por
todos?
Seu grande mérito foi a humildade!
Aqueles eram dias de compilação das
opiniões dos rishonim, que enriqueceram e desenvolveram o mar de ideias que
consta no Talmud. Rav Yaacov ben Asher
compilou o livro “Arbaá Turim”, também
conhecido como Tur, onde havia reunido as principais ideias dos rishonim,
mas era necessário explicá-las e mostrar
como elas foram extraídas do Talmud.
O Remá se dedicou, durante anos, a escrever uma obra que se constituísse num
resumo do Arbaá Turim – o Darkê Moshê.
Mas, antes que ele a finalizasse, chegou
até suas mãos a obra do Rav Yossef Caro,
habitante de Tsefat na terra de Israel.
Era impressionante! Uma obra paralela
ao seu trabalho de anos, e já estava terminada!
Ao tomar conhecimento da obra Bêt
Yossef do Rav Yossef Caro, o Remá guardou seus manuscritos e decidiu não publicá-los na íntegra. Em vez disso, publicou somente poucas observações sobre
o trabalho do Rav Yossef Caro zt”l. Eram
observações que traziam as ideias dos
rabinos da Alemanha ou dos costumes
dos ashkenazim que precisavam ser esclarecidos ou enfatizados.
Que grandeza! Que humildade!
Em alguns livros consta que a história se
repetiu em mais uma oportunidade. Todos
tinham a necessidade de um código da lei
prático. As pessoas já não eram tão estudiosas a ponto de saber extrair sozinhas a
lei do Talmud. O Remá decidiu então escre-
ver um livro com um resumo do que se faz
na prática, baseado na obra do Rav Yaacov
ben Asher. Algo que definisse claramente
como se comportar no dia a dia. Um trabalho de anos. E, novamente, chegou até
ele a obra Shulchan Aruch, o código de leis
prático escrito pelo Rav Yossef Caro.
Shulchan Aruch literalmente se traduz
como “mesa posta”, indicando que o livro traz a lei de forma pronta para ser
cumprida.
O que fazer? Seu trabalho estava quase
pronto. Novamente o Remá escondeu o
seu trabalho, abrindo mão de sua originalidade e decidiu escrever apenas observações (hagahot) sobre o Shulchan
Aruch, no lugar onde o costume dos
ashkenazim era diferente da decisão do
Rav Yossef Caro. Chamou esta obra de
“Mapá” – que literalmente significa “toalha de mesa” – uma alusão a um complemento para a “mesa posta”.
Tamanha humildade e compromisso com a verdade deram o mérito a
Rav Moshê Isserlis, o Remá, para ser o
possec decisivo para as comunidades
ashkenazitas.
O Remá se dedicou durante anos a escrever o Darkê Moshê. Quando tomou
conhecimento da obra Bêt Yossef já finalizada, guardou seus manuscritos e
decidiu não publicá-los na íntegra. Que humildade! Que grandeza!
OR ISRAEL CHAI | :: 41
:: E N S I N A M E N T O
Quem É Livre?
Como definir a verdadeira liberdade?
N
a Torá encontramos
três grupos de mitsvot: os chukim, os
mishpatim e as edot.
O primeiro grupo é o das mitsvot
chamadas de chukim. São leis acima
da lógica humana, como por exemplo
a proibição de misturar carne com
leite ou a proibição de usar lã e linho
numa mesma roupa.
Mishpatim são leis com uma explicação e lógica, como respeitar o pai e a
mãe, não roubar e não matar.
Por fim, as mitsvot chamadas de
edot lembram-nos e testemunham
algo do passado, com o intuito de vivenciarmos suas mensagens no presente, como por exemplo, o Shabat ,
comer matsá em Pêssach e morar em
cabanas nos dias de Sucot.
Em Pêssach lembramos a Saída do
Egito e revigoramos nosso sentimento
de liberdade. Em Shavuot revivemos
o recebimento da Torá e recebemos
novas energias para o seu cumprimento e estudo. Em Sucot habitamos em
42 :: |OR ISRAEL CHAI
Edelstein
cabanas, lembrando a proteção Divina no deserto a caminho de Israel – e
fortalecemos nossas qualidades de fé e
confiança no Todo-Poderoso.
Mas como podemos sentir tudo isso
nos dias de hoje, milhares de anos
após a Saída do Egito?
Em relação à liberdade, vários filósofos perseguiram o grande desafio de
definir o que significa a “real liberdade”.
Baruch Espinoza foi um filósofo judeu excomungado pelo tribunal rabínico de Amsterdã no século XVII. Ele
afirmava que a verdadeira liberdade
de um indivíduo é viver seguindo sua
natureza. Para Arthur Shopenhauer,
um filósofo alemão do século XIX, não
existe um homem 100% livre. Para
Carl Marx, o revolucionário alemão
fundador da doutrina comunista moderna, também judeu, a liberdade não
existe sem o mundo material.
Não somente filósofos buscaram
resolver essa questão; a humanidade,
em geral, também esteve sempre em
Mendelevitch
Sharansky
Futerfas
Alguém que constrói um mundo espiritual e um ideal para viver pode se
sentir livre mesmo estando numa prisão. Certamente é mais livre do que
os “escravos da sociedade e de seus próprios vícios”.
OR ISRAEL CHAI | :: 43
:: E N S I N A M E N T O
busca desta resposta, como por exemplo, a Revolução Francesa, que tinha a
liberdade como um de seus lemas.
Imaginemos o caso hipotético de
um prisioneiro específico que permaneceu por 20 anos na cadeia, quando
finalmente chega o dia de sua libertação. O que será que ele sente nesse
grande dia? Lógico que ele deve sentir
uma alegria imensa e um sentimento
de liberdade plena! Ele é colocado
na rua, “totalmente livre”! No começo de sua maravilhosa vida livre, ele
se sente muito bem. Mal pode conter
sua felicidade transbordante. Porém,
ele não tem familiares. Não tem para
onde ir. Assim, passados quinze minutos livres, suas preocupações por
sobrevivência já o fazem começar a
despertar para a realidade. Logo ele
começa a sentir fome, e não imagina
como conseguir alimentos. Ele se dirige a um ponto de ônibus e sobe no
primeiro ônibus que aparece. Chega
no centro da cidade, começa a procurar algo para comer. Põe-se a observar
as novidades do mundo... Surpreendese com a nova tecnologia – que ele
praticamente não acompanhou nos
últimos 20 anos de prisão. Sem conseguir alimentação, sem ter para onde
ir, a quem apelar, começa a imaginar
que a liberdade não é tão boa quanto
ele pensava. Começa a escurecer... ele
precisa de um lugar para dormir, um
emprego para conseguir sustentar-se,
amigos, etc. Talvez fosse melhor voltar ao presídio e abrir mão da tão sonhada liberdade?...
Para nós, judeus que passamos por
vários cativeiros, o que significa a verdadeira liberdade?
Encontramos na Torá a história de
Yossef Hatsadik, que foi vendido pelos
irmãos a mercadores que levaram-no
44 :: |OR ISRAEL CHAI
ao Egito e foi colocado em uma cadeia
após passar pela casa do Potifar, um ministro egípcio. Mesmo na cadeia, Yossef
Hatsadik sempre tinha um sorriso no
rosto, muito tranquilo. Isso despertou a
simpatia do chefe da prisão, levando-o,
no desenrolar dos fatos, a tornar-se vice-rei do Egito. Como Yossef era capaz
de sorrir na prisão? Como era capaz de
ser simpático com as pessoas depois de
tudo que passara?
A resposta é que o conceito de liberdade depende muito mais da situação
interna do indivíduo do que das condições externas. Alguém que constrói
um mundo espiritual e um ideal para
viver – e sabe como e por que viver
– pode se sentir livre mesmo estando
numa prisão. Certamente pode se sentir mais livre do que alguém que é escravo da sociedade e de vícios, apesar
de estar “livre”, circulando por aí.
Este conceito foi comprovado ao
logo de toda a história judaica. Basta
citar alguns presos da antiga União
Soviética, como Natan Sharansky (o
primeiro preso político libertado por
Mikhail Gorbachev), Yuli-Yoel Edelstein e Yossef Mendelevitch. Cada um
deles, em sua história particular, mostrou estar livre mesmo confinado nas
piores prisões.
Vejamos, neste contexto, um pouco
da história de Rav Menahem Mendel
Futerfas (1906–1995), que foi preso e
deportado para a Sibéria por participar de ações que salvaram milhares de
judeus da Rússia nos anos da Cortina
de Ferro.
Mesmo nas situações mais difíceis,
ele manteve seu espírito elevado.
Logo que chegou em seu campo de
trabalhos forçados, declarou que não
trabalharia no Shabat. Apesar de brutalmente ameaçado, nada e ninguém
conseguiu mudar sua decisão. Histórias e mais histórias são contadas sobre sua fé inabalável!
Certa vez, quando Reb Mendel Futerfas estava preso na Sibéria, outros prisioneiros começaram a planejar uma
fuga. Logo eles se dirigiram a Reb Mendel, reclamando que ele não participava das reuniões. Os outros prisioneiros
começaram a imaginar que ele era um
espião russo, pois não demonstrava
qualquer preocupação com a difícil situação local. Um dos líderes da equipe que
planejava a fuga questionou sua conduta. Foi aí que o rabino explicou: “Todos
vocês foram presos por algum crime
praticado. Esse aí roubava; mas agora
não rouba mais, pois está na prisão.
Aquele outro contrabandeava; mas não
contrabandeia mais. Aquele outro era
sonegador de impostos... E eu? Vocês
sabem por que estou aqui?” Todos ficaram apreensivos para escutar o crime
de Reb Mendel. E ele logo respondeu:
“Fui preso por estudar a Torá e ser fiel
aos seus princípios. Mas mesmo estando
aqui, continuo estudando a mesma Torá
e acreditando em tudo que acreditava
antes! Um yehudi possui uma herança maravilhosa e sagrada, que carrega
consigo independente de seu status ou
lugar. A Torá outorga a todo yehudi o
sentimento de liberdade, independente
de qualquer situação externa. Sinto que
sou livre e, em qualquer lugar, estou sob
a proteção Divina!”.
Em Pêssach recebemos o status de liberdade, em Shavuot recebemos a Torá,
que nos liberta, e em Sucot ganhamos o
sentimento de proteção Divina!
Daniel Grinspan, 2º Ano do
Ensino Médio, baseado na sichá
proferida pelo R. Chaim Vital Passy
na Yeshivá Or Israel
:: E N S I N A M E N T O
Amigos
de Verdade
“Sem amigos ninguém
escolheria viver, mesmo que
tivesse todos os outros bens.”
T
odos nós temos amigos a quem
confiamos nossos segredos, com quem
atravessamos tristezas e alegrias, compartilhamos nossos sofrimentos, divertimo-nos, pedimos conselhos e auxílio.
Analisando o assunto com atenção
notaremos que, para existir, a amizade
depende de determinadas situações.
Normalmente um indivíduo não vê o
próximo com simpatia imediatamente
ao conhecê-lo. Mas existem condições
que propiciam a união entre as pessoas.
Am Yisrael possui, por natureza, valores
e sentimentos em comum que facilitam
e aproximam um indivíduo ao outro.
Certamente o amigo ideal é aquele
que quer o seu bem e não espera nada
em troca.
Essa realidade é mencionada no Pirkê
Avot, a Ética dos Pais (5, 16): “Todo
Sendo que o exemplo perfeito de amizade é a de David com
Yonatan, é necessário entender no que se baseia esta ligação
tão profunda e bela – que nunca termina.
OR ISRAEL CHAI | :: 45
:: E N S I N A M E N T O
amor que depende de algum motivo,
quando este desaparece, o amor também termina. Mas se o amor não depende de algum motivo, ele nunca cessará”.
À primeira vista, a Mishná nos transmite algo óbvio. Por isso o taná (compilador da Mishná) nos traz um exemplo
logo em seguida: “Qual é o amor que
independe de um motivo? O amor entre
David e Yonatan”.
David e Yonatan possuíam uma razão
para serem rivais. David era candidato a
reinar no lugar de Yonatan, que era filho do Rei Shaul (Shemuel 1 16:13-14).
Mas, apesar disto, os dois criaram uma
amizade que não dependia de motivos
– e por isso formam o exemplo ideal de
amizade no Tanach.
Sem ter o que falar
Você se sente bem ao lado de um amigo quando não tem o que falar?
Todos nós sabemos como é encontrar
um amigo quando não temos o que falar.
Quando alguém avista um amigo, mas
não consegue encontrar um assunto
para conversar com ele, é muito comum
que o indivíduo tente disfarçar, fingindo
que não viu o outro ou que está ocupado naquele momento. Este procedimento é tão comum, que o fazemos sem
perceber.
Esta conduta é uma indicação da superficialidade desta amizade. Tentar
evitar a companhia de um amigo apenas
por falta de assunto, por vergonha de
encontrá-lo sem ter sobre o que conversar, demonstra que a amizade não é profunda. Amigos “de verdade” não devem
sentir vergonha de permanecer juntos e
se sentirem bem mesmo sem estar conversando.
Como o exemplo perfeito de amizade
é a aquela entre David e Yonatan, é ne-
46 :: |OR ISRAEL CHAI
cessário entender no que se baseia esta
ligação tão profunda e bela – que nunca
termina.
Adquira um amigo
A importância de ter um bom amigo
íntimo é mencionada em outra Mishná
(Pirkê Avot 1, 6): “Adquira um amigo” –
ou seja, faça o máximo para conseguir
um amigo de verdade.
O Rambam, no seu comentário sobre
essa Mishná, cita as palavras de Aristóteles:
Há três tipos de pessoas que procuram a amizade do próximo:
a. Aquela que visa vantagens, algum
proveito.
b. A que visa seu próprio bem estar,
conforto ou segurança.
c. A que age por idealismo, por ser
virtuosa.
A amizade daqueles que visam vantagens pode ser exemplificada pela amizade entre dois sócios, ou entre um rei e
seus súditos.
A amizade daqueles que visam seu
bem-estar e conforto pode ser exemplificada pelo caso de alguém que busca
a companhia de pessoas carismáticas,
agradáveis, “boas companhias”.
Porém a “amizade perfeita” é aquela
gerada pelo idealismo, onde ambos –
pelo simples fato de serem bons – desejam e praticam o bem ao próximo. Um
bom exemplo pode ser o da amizade
entre um professor e seu aluno.
Rabi Ovadyá Mibartenura esclarece a
chave para responder onde encontrar
este nível ideal de amizade: o amor que
independe de um motivo é o amor entre
tsadikim e chachamim – justos e eruditos da Torá. Ele cita o exemplo de David
e Yonatan e explica que a amizade entre eles era direcionada exclusivamente
para o cumprimento da vontade de D’us.
Neste mesmo sentido, o Rambam (Demay 2, 3) também explica por que em
vários lugares da Mishná e da Guemará
os chachamim são chamados de “chaverim” – amigos. Ele nos diz que o relacionamento entre os chachamim constitui
a amizade verdadeira, pois ela é leshem
Shamáyim – em nome dos Céus. Ou seja,
é uma amizade com sentimentos puros,
sem outros interesses próprios.
Amigo para quê?
Rabênu Yoná, em seu comentário
sobre o Pirkê Avot, também aborda a
questão dos amigos verdadeiros.
A Mishná (Avot 1, 6) diz: “Yehoshua
ben Perachyá diz... adquire para ti um
amigo”. Sobre isso, Rabênu Yoná cita as
três principais funções de um verdadeiro amigo para ajudar-nos a alcançar um
maior nível espiritual:
1. Estudar Torá:
Em vários lugares os sábios nos transmitem a importância de estudar com
outra pessoa:
Em Avot (3, 2): “Duas pessoas com palavras de Torá entre elas terão a Shechiná (a Presença Divina) presente”.
Em Avot (6, 6): “A Torá é adquirida
por meio de quarenta e oito qualidades”.
Uma delas é um bom vínculo com os colegas. Sobre isso, o Meam Loez explica
que geralmente o indivíduo tem vergonha de perguntar algo para seu rabino,
mas não para seu colega. Por isso é indispensável possuir bons amigos.
Em Taanit 7a: “Disse Rabi Chaniná:
‘Bastante aprendi de meus mestres, [porém] mais ainda de meus colegas’”.
2. Cumprir mitsvot:
Amigos devem estar sempre planejando estratégias para se livrar de processos negativos. Dentro desse contexto,
um amigo deve sempre estar advertindo
o outro a seguir no caminho correto.
Além disso, Rabênu Yoná prossegue explicando por que a advertência de um
amigo é mais eficaz do que a avaliação
da própria pessoa: “Mesmo que seu amigo seja menos rigoroso no cumprimento
das mitsvot e às vezes também tropece,
quando o vir prestes a pecar, ele o advertirá, pois quando o indivíduo não tem
interesse próprio, consegue analisar
melhor a situação”.
Sobre ser repreendido, a Mishná (Avot
6, 6) também cita o seguinte dentre as
quarenta e oito qualidades com as quais
a Torá é adquirida: “ame a repreensão”.
Em Avot Derabi Natan (29, 1) cons-
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:: E N S I N A M E N T O
ta um ensinamento surpreendente sobre o valor da repreensão: “Se um indivíduo tem amigos; uma parte deles
o repreende e a outra parte o louva.
Ele deve amar os que o repreendem
e odiar aqueles que o louvam, porque
os que o repreendem encaminham-no
ao Mundo Vindouro, enquanto que os
que o louvam podem tirá-lo do mundo”.
É tão importante ter alguém que nos
repreenda e advirta, que o Maharshal,
Rabi Shelomô Luria, mesmo quando já
estava na posição de rabino da cidade,
apontou alguém para repreender-lhe
diariamente.
3. Aconselhar:
O indivíduo precisa de alguém para
aconselhar-se e contar seus segredos
sem se preocupar que eles sejam passados adiante.
O Rei Shelomô retrata esse aspecto
do amigo em seu livro Cohêlet (4:9-10):
“Melhor são dois do que um... pois se caírem, um erguerá o outro”.
O Meam Loez traz o seguinte exemplo sobre este conceito: “Uma pessoa
que caminhava na escuridão caiu em
um buraco e não conseguia sair sozinho. Após alguns instantes, outro indivíduo caiu no mesmo buraco. Nenhum
dos dois tinha condições de sair sozinho. Assim, um deles sugeriu para seu
companheiro, que estava praguejando:
‘Um de nós pode erguer o outro, ajudando-o a sair daqui. Depois, o que saiu
poderá jogar uma corda para salvar o
que ficou’”.
Nem sempre temos força para nos
erguermos sozinhos dos problemas –
financeiros, familiares, psicológicos ou
até no estudo da Torá. Muitas vezes ne-
cessitamos da força e do apoio de outra
pessoa para nos levantar!
Escolha seu Amigo Verdadeiro
Como adquirir uma amizade verdadeira?
No tratado de Dêrech Êrets Zutá consta: “Se o indivíduo deseja se conectar
com seu amigo, que faça o possível pelo
bem dele”.
Devemos sempre estar atentos e empenhados em adquirir amigos verdadeiros, pessoas altruístas com metas
espirituais elevadas, para que possamos, juntos, chegar a níveis superiores
e próximos a D’us no maravilhoso caminho da Torá sob a orientação de nossos
sábios.
“A amizade de um único ser humano
inteligente é melhor do que a amizade
de todos os insensatos” (Demócrito).
Novo Lifan X60
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:: E N S I N A M E N T O
Caráter: é Caro e
Quem Tem Não Vende
“No início é difícil, mas
depois a gente acostuma.”
H
oje em dia, nossos jovens olham o noticiário e já estão acostumados com as terríveis notícias que
aparecem diariamente. Assassinatos,
corrupção, terrorismo e tudo o que serve de mau exemplo.
Já nos acostumamos ao “mau cheiro”
do noticiário. Nossa crítica até perde
seu valor devido à notoriedade de tanto
horror.
Já estão virando moda vídeos postados em redes sociais por organizações
terroristas com violência explícita. Não
se assuste se um jovem que assistiu alguns deles faça um comentário do tipo:
“Você viu que legal o que fez aquele terrorista?”.
Para trabalhar o caráter é preciso
Com a má educação pode-se transformar um ser humano em um inseto.
Com a boa educação pode-se transformar um inseto em gente.
Esse é o poder da educação e da influência dos líderes e professores!
OR ISRAEL CHAI | :: 49
:: E N S I N A M E N T O
alertar para o perigo de não nos acostumarmos com os maus exemplos que
a vida nos apresenta. Não podemos nos
acostumar com o “mau cheiro” do cotidiano.
Devemos procurar ser alunos de
Avraham Avínu, e não de Bil’am Harashá.
Bil’am foi um líder dos outros povos, dotado de péssimas características, que tentou de todas as formas amaldiçoar o povo
judeu.
Como consta no Pirkê Avot (Cap. 5,
mishná 19): “Todo aquele que possui
essas três características: olhar positivo, humildade e modéstia é considerado
aluno de Avraham Avínu”. Enquanto que
aquele que possui as três características
opostas é considerado aluno de Bil’am
Harashá.
O Pirkê Avot usa o termo “aluno”, considerando que o indivíduo aprendeu
esse comportamento recebendo influência de seus mestres. Isso é verdadeiro
50 :: |OR ISRAEL CHAI
tanto para os valores positivos quanto
que para as más características.
Pela lei da Torá, uma pessoa que rouba algo escondido deve devolver o produto do roubo em dobro. Caso não tenha
dinheiro suficiente, deve trabalhar como
escravo na casa de uma família estruturada até restituir o valor roubado. Ajudar uma pessoa que cometeu erros a
recuperar-se, deve ser feito implantando a ela bons valores, por meio de bons
exemplos e uma influência positiva.
Para que o indivíduo adquira um bom
caráter desde cedo é necessária uma boa
educação familiar e social. As pessoas
assimilam bons valores em casa, com os
pais; mas esses valores são colocados à
prova a cada minuto, quando estão num
ambiente social, seja na escola, no trabalho ou simplesmente passeando na rua.
Quando, por exemplo, uma criança
aprende que jogar lixo no chão do seu
quarto é algo prejudicial e não educado,
esse mesmo valor é colocado à prova
quando vai à rua e vê um adulto jogando sua latinha de refrigerante no chão e
não na lata do lixo.
É impossível um indivíduo não ser
influenciado pelo meio ambiente. Além
disso, existe uma tendência natural de
termos vontade de fazer o que todos ao
nosso redor fazem, pois achamos que
isso é o correto. Se, ao nosso redor, a sociedade possui valores negativos e pratica-os, é difícil manter-se íntegro.
Estar envolto de bons exemplos é um
grande passo para adquirir-se bons valores e caráter!
Quem são nossos exemplos? Quem
são nossos professores?
Certa vez, o Maguid Midubna relatou
que, na sua juventude, teve de ir ao médico por causa de uma dor de garganta.
No consultório, o médico questionou se
ele tinha o hábito de fumar, pois queria
aproveitar a oportunidade para advertir
o jovem sobre os males que o cigarro
provoca. O Maguid, atentamente escutando os conselhos e orientações do
médico, percebeu que na mesa havia
um cinzeiro com um cigarro aceso. Não
conseguindo controlar-se, perguntou ao
doutor se ele fumava. Logo ao ouvir a
pergunta do rapaz, o médico foi incisivo
e disse irritado: “O que você tem a ver
com minha vida particular?”.
Naquela oportunidade o Maguid percebeu que era um disparate o médico
aconselhar algo que ele próprio não
fazia, e aprendeu uma grande lição:
“Quando queremos influenciar alguém,
devemos ser, antes de tudo, um bom
exemplo”.
Durante o processo de ascensão do
regime nazista, seus líderes aos poucos
foram ganhando poder e lugar de destaque na sociedade. Os comícios estavam cada vez mais cheios de seguidores
do regime. A estratégia principal logo
naquela fase inicial era influenciar os
estudantes. Foi na escola que o regime
nazista ganhou fama e espalhou-se. As
crianças absorveram desde pequenas os
princípios nazistas e os valores invertidos para formar uma sociedade racista.
Com a má educação pode-se transformar um ser humano em um inseto. Com
a boa educação pode-se transformar um
inseto em gente. Esse é o poder da educação e da influência dos líderes e professores!
Para não nos influenciarmos, devemos enraizar nossos valores positivos
de forma que se tornem hábitos comuns
– como escovar os dentes todos os dias.
Quem adquiriu tal hábito e entende que
é algo importante, está bem preparado para enfrentar um meio onde esse
comportamento não é comum. Esse indivíduo continuará a escovar os dentes
mesmo que ao seu redor não o façam.
Porém, por quanto tempo conseguimos nos preservar de más influências?
Pensando nisso, outro caminho ainda
mais seguro para evitar a decadência, é
reforçar diariamente o valor e a importância de cada bom hábito que possuímos. Dessa forma nos protegemos ainda
mais das influências do meio ambiente
nocivo.
Com relação a Am Yisrael, temos um
código absoluto de valores dentro da
Torá. Ela deve ser estudada diariamente.
Desta forma, todos os seus valores são
constantemente reforçados. São princípios que provaram-se benéficos e verdadeiros desde sua outorga.
Quando somos educados desde crianças a valorizar a Torá, estamos de certa
forma enraizando todos os seus valores
positivos em nossa personalidade. A
construção do bom caráter de um indivíduo depende desse estudo.
Assim, o melhor conselho para quem
procura aprimorar-se é: Estude a Torá
para ter um bom caráter e boas virtudes!
R. Chaim Vital Passy
OR ISRAEL CHAI | :: 51
:: H I S T Ó R I A
Quando Está Pegando
Fogo é Diferente!
O
Gaon Rav Yitschak
Zeev Soloveitchik zt”l (1886–1959),
conhecido como o “Griz”, foi o líder da
comunidade charedi de Êrets Yisrael na
época do pós-guerra.
Um dos frequentadores da sua casa
também era muito próximo do Rav
Isser Zalman Meltser zt”l (1870–1953),
o famoso rosh yeshivá da Yeshivá Ets
Chayim em Jerusalém. Este yehudi
costumava levar recados do Griz para o
Rav Isser Zalman e vice-versa.
Certa vez, o yehudi presenciou o Griz
declarando sua admiração pelas obras
sagradas do Rabino Naftali Tsvi Yehuda
Berlin (1816–1893). O Rabino Naftali
Tsvi Yehuda, também conhecido como
o “Netsiv”, foi o último rosh yeshivá de
Volojin, a mãe e a primeira de todas as
yeshivot da Lituânia.
O yehudi viu o Griz balançando a cabeça e exclamando com uma fisionomia
de espanto:
– Como um ser humano é capaz de
criar tanto?! Como é capaz de escrever
tantas obras abrangentes e com tamanha
profundidade em seus anos de vida?!
No dia seguinte, quando o yehudi entrou na casa do Rav Isser Zalman, o sábio
perguntou-lhe se tinha ouvido alguma
Ven es vet brenen is es anders!
novidade na casa do Griz. Após contar
em detalhes o questionamento do Gaon
Rav Soloveitchik sobre a grandeza da
obra do Netsiv, o Rabino Isser Zalman
– que foi aluno do Netsiv em Volojin –
ficou pensativo por alguns momentos e
depois contou o seguinte episódio:
– Certa vez houve um incêndio na minha
aldeia na Lituânia e várias casas de madeira foram tomadas por enormes chamas.
Vi todos os moradores fugindo para longe
daquela região, carregando consigo o que
podiam. De repente, vi o padeiro Yankale,
que era magrinho como um prego, saindo
de um armazém com dois idosos bem gordos nos ombros – cada um pesando pelo
menos 120kg. Yankale os salvou, carregando-os correndo para fora da zona de
perigo. Quem poderia imaginar que o pa-
Quem poderia imaginar que o padeiro Yankale,
magrinho como um prego, tinha força para carregar
dois idosos nos ombros?
52 :: |OR ISRAEL CHAI
deiro Yankale tinha essa força?! Mas quando está pegando fogo é diferente!
Depois de contar este incidente, Rav
Isser Zalman concluiu:
– Quem conheceu o Netsiv e viu o seu
estudo da Torá, entende que, para ele, a
situação era sempre como se estivesse
“pegando fogo”!
Dias depois, o yehudi contou a resposta do Rav Isser Zalman para o Griz, que
disse sorrindo:
– Isser Zalman tem razão! Isser Zalman tem razão! Quando está pegando
fogo é diferente! Ven es vet brenen is
es anders!
Ouvido do Rav Baruch Mordechai
Ezrachi Shelita – Rosh Yeshivat
Ateret Israel
:: E N S I N A M E N T O
Qual é o seu
Passuk?
Qual a origem do costume de recitar, no final da
Amidá, um passuk que começa com a primeira letra
de seu nome e termina com a última?
C
onsta no livro de Michá
(6:9): “vetushiyá yir’ê shemecha – e o homem que é sábio tem consideração por
Seu nome”. Sobre estas palavras, Rashi
comenta o seguinte: “Daqui (aprendemos que) quem fala todo dia um passuk
que começa e termina com as letras do
seu próprio nome, a Torá o salvará do
castigo do Guehinam”.
O Shulchan Aruch (Ôrach Chayim
122) também cita este costume em
nome do livro “Eliyá Rabá”.
Sobre isso, o livro “Zera Côdesh” explica que o nome do yehudi está ligado
com a raiz de sua alma, a faísca Divina
que existe em cada um de nós. Mas, às
vezes, essa essência pode ser dominada
por forças contrárias à santidade. Assim,
por meio da recitação de um passuk da
Torá ligado ao nosso nome, temos o mérito de manter esta faísca Divina livre de
más influências.
Já o Rabi Yeshayá Halevi Horowitz
(Praga, 1565 – Tibérias, 1630) conhecido como “Shelá Hacadosh”, acrescenta a
seguinte explicação sobre este costume:
“Assim que o indivíduo falece, perguntam-lhe qual o seu nome. Mas, por algum motivo, neste momento as pessoas
esquecem do seu próprio nome, o que
causa a elas um desconforto. Existe uma
forma de não esquecer do próprio nome
após o falecimento: todos os dias no final da Amidá, antes do segundo ‘Yihyu
Leratson’, deve-se pronunciar um versículo que começa com a primeira letra
do seu nome e termina com a última letra. E se recitar um passuk que contenha
seu nome já basta.”
o seu ser se torna espiritual”. No mundo
espiritual o que prevalece são os bons
atos e as mitsvot que o indivíduo praticou durante sua vida. Tudo aquilo que
a pessoa fez em prol dos outros é o que
importa, e tudo aquilo que fez para si
torna-se secundário. Sendo assim, “não
se lembrar do próprio nome” significa
esquecer um pouco de si.
Mas a Torá que a pessoa estudou para
si em vida certamente a acompanha no
Mundo Vindouro. Portanto, recitar o
passuk da Torá, ligando seu nome ao
estudo da Torá, faz com que seu nome
seja lembrado mesmo quando a alma
está sendo julgada no Tribunal Celestial.
Por que a pessoa esquece o seu
próprio nome?
Azriel Tzipel, 8°
ano do Ensino
Fundamental
O que significa “esquecer seu nome”
no Dia do Julgamento?
Consta nos livros de mística judaica
que, após o falecimento da pessoa, “todo
Meu passuk é (Tehilim 104:12):
Alehem of hashamáyim yishcon miben
ofaim yitenu col.
Quando o indivíduo falece, perguntam-lhe qual o seu nome.
Por algum motivo, as pessoas esquecem do seu próprio nome,
o que causa-lhes um desconforto.
OR ISRAEL CHAI | :: 53
:: I S R A E L
Imigração Etíope
Uma história escrita com bravura,
determinação e lágrimas.
54 :: |OR ISRAEL CHAI
O
lá, meu nome é Mose.
Moro na cidade de Mevassêret Tzion,
uma cidade muito próxima de Jerusalém.
Hoje posso dizer que moro em um país
que é majoritariamente composto por
pessoas da mesma religião que eu. Hoje
posso dizer que sou um israelense!
Desde pequeno, vivia somente com minha mãe e meus irmãos. Meu pai foi
morto quando eu ainda era muito jovem.
Minha família sempre foi diferente do
que a maioria das pessoas do meu país
de origem costumava ser. Lá, simplesmente éramos iguais e, ao mesmo tempo, diferentes. Iguais porque éramos todos agricultores. Porém, nos chamavam
de “falashas”. Para dizer a verdade, eu
não sabia muito bem o que isso signifi-
cava. Mas, de vez em quando aconteciam
coisas que só na minha tribo sucediam.
Um dia por ano comemorávamos a Saída do Egito – diziam-me que há muito
tempo atrás nós morávamos no Egito.
Além disso, nós sempre ansiávamos a
“volta” para Jerusalém – que diziam ser
o melhor lugar do mundo.
Infelizmente, a vida não era fácil para
nós falashas. Todos ao nosso redor nos
odiavam, queimavam nossas ocas e matavam pessoas de nossa tribo. Não pude
viver muito com meu pai, mas sempre
soube que ele foi um homem de muita
fé. Lembro-me sempre de que, uma vez
por ano, ele se sentava comigo a noite
toda e contava a história de nossos antepassados. Infelizmente, num ataque
a nossa tribo ele foi atingido por uma
flecha e nunca mais voltou. Aos 12 anos
de idade, recebi a notícia de minha mãe
que teríamos que fugir com toda nossa
aldeia até o Nilo Azul – um rio que faz
fronteira com o Sudão – e de lá iríamos
voar até a sonhada Jerusalém.
Voar?! Jerusalém?! Isso tudo, de verdade, nunca tinha passado pela minha
cabeça.
A fuga foi de fato muito complexa. Levamos tudo o que tínhamos – por mais
que não fosse muita coisa. Durante dias
andamos sem saber ao certo que rumo
estávamos tomando. Minha mãe infelizmente não aguentou. Morreu, assim
como várias outras pessoas, abrindo um
buraco em minha vida. Será que valeria
“A coisa grande começou a correr e, depois, voar!
Não sabia se sentia medo ou alegria. Mas finalmente
estávamos indo para Jerusalém!”
OR ISRAEL CHAI | :: 55
:: I S R A E L
A Operação Salomão
A Etiópia virou praticamente
uma “terra de ninguém” naqueles
dias de maio de 1991. O ditador
Mengistu já não estava no poder
quando Israel mobilizou uma
frota de aeronaves militares e
civis para resgatar os judeus
etíopes em Adis Abeba, antes
que a cidade fosse ocupada pelos
rebeldes.
Como era preciso levar o
máximo possível de pessoas,
quase todos os aviões da ElAl tiveram seus assentos
removidos e foram configurados
como cargueiros. Dessa forma,
poderiam levar muito mais gente.
Em um dos Boeing 747 da
El Al, o comandante pretendia
embarcar 760 passageiros. Logo
que verificou o estado em que
estavam os refugiados, magros
e desnutridos, autorizou o
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embarque de mais pessoas, pois
não haveria o risco de excesso
de peso. Em apenas 37 minutos,
um total de 1087 refugiados
embarcou no avião. Muitas
crianças pequenas embarcaram
escondidas embaixo das saias
das mães, elevando o total para
1120 pessoas a bordo. Como
dois bebês nasceram durante
a viagem, o número total de
pessoas transportadas elevouse a 1122, o maior número de
passageiros carregados em um
único voo em toda a história da
aviação.
A operação de resgate foi
concluída em apenas 36 horas,
com grande sucesso. Nada
menos que 14.325 pessoas foram
resgatadas em segurança entre
os dias 23 e 24 de maio de 1991.
Cento e quarenta refugiados
tiveram que ir para o hospital
depois dos voos.
a pena mesmo isso tudo que estávamos
fazendo?
Após atravessarmos o rio Nilo Azul,
deparamo-nos com muitas luzes fortes e
pessoas vestidas com as roupas do exército da Etiópia. Mandaram todos subirem dentro de uma coisa muito grande
– que depois vim a saber ser de fato um
avião.
Assim como todos que estavam ali,
fiquei assustado. Literalmente joguei
minha sorte para o ar. Dez minutos depois, a coisa grande começou a correr e,
depois, voar! Não sabia se sentia medo
ou alegria. Mas estávamos realmente
voando. Quer dizer, finalmente estávamos indo para Jerusalém!
Após algumas horas de vôo, finalmente descemos. Eu estava muito cansado,
porém com um semblante de felicidade
Alunos da Yeshivá Or Israel em visita ao Centro de Absorção de Etíopes em Mevassêret Tzion
estampado no meu rosto. Todos dentro
da grande coisa falavam que voltamos
para a Terra de Israel. Todos diziam que
tínhamos voltado para a querida Jerusalém.
Logo que cheguei, constatei um país
totalmente diferente do que eu estava
acostumado a ver na Etiópia. Pessoas
com roupas diferentes das minhas, andando dentro de coisas menores que
não voavam – eram “carros”. Havia pessoas de todas as etnias: brancas, negras,
asiáticas.
Quando cheguei em nosso abrigo, estava desnutrido.
Todos pareciam felizes por estarmos
lá. Tratavam-nos como irmãos. Logicamente, foi difícil aceitarem-nos. – e até
hoje em dia lutamos por direitos melhores. Mas, com certeza sabíamos que
estávamos num lugar definitivamente
diferente, especial.
Aos poucos fui aprendendo o alfabeto
hebraico: primeiro o álef, depois o bêt...
e sem sentir, já sabia identificar as palavras.
Aprendi também o que era fazer
“compras” no supermercado. Lá no abrigo ensinaram-me que existem coisas
chamadas “produtos de limpeza” e que
não podíamos comê-los, por mais que
estivessem desenhados neles um limão
ou uma laranja.
Nunca mais tirei leite de uma vaca; ele
já vinha numa caixa difícil de abrir com
a mão. Fui aprendendo... Colocaram-me
numa escola e, após alguns anos, comecei a trabalhar no mercado financeiro.
Agradeço até os dias de hoje pelas
palavras de meu pai quando pequeno
e pela perseverança de minha querida
mãe. Com certeza, hoje eu testemunho
o que vocês sempre sonharam presenciar. Hoje eu moro em Jerusalém; sou
um israelense. Hoje eu estou na terra de
nosso povo, a Terra de Israel!
História contada por um dos chefes do
Centro de Absorção de Etíopes em Mevassêret Tzion, Israel.
Histórico
Beta Israel (Casa de Israel) - Este é o
nome da comunidade judaica de “Kush”
– Etiópia. Eles estavam espalhados por
mais de 500 aldeias, por um imenso território, entre as populações muçulmanas e cristãs.
Os integrantes desta comunidade vêm
seguindo os preceitos da Torá desde
“Passamos a compreender a responsabilidade que devemos
ter em relação a nossos irmãos e a obrigação de agir
socialmente nas comunidades em que vivemos.”
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:: I S R A E L
os tempos antigos, de maneira um tanto curiosa. Tragicamente, muitos deles
pereceram devido a uma insurreição na
Etiópia. Mas os remanescentes emigraram para Israel. Foram transportados
em aviões fretados pelo governo de Israel em 1983 e 1991.
A jornada de resgate dos judeus da
Etiópia de volta a Israel começou na
década de 1950. As ondas imigratórias
dos judeus etíopes são as seguintes:
Abeba (que inclui a operação Salomão).
1953–1965:
Em 1953, a Agência Judaica nomeou
o Rabino Shmuel Beeri como o primeiro
emissário da Agência Judaica para a Etiópia. Ele estabeleceu a primeira Escola
Hebraica para os judeus etíopes na cidade de Asmara.
Entre 1955 e 1965, cerca de 30 adolescentes judeus etíopes, conhecidos
como o “Grupo Kfar Batyá”, foram levados para Israel. Lá eles foram treinados
para serem emissários da Agência Judaica, e voltaram para suas comunidades como professores habilitados e altamente treinados. Enquanto isso, eram
criadas clínicas médicas dentro dessas
comunidades para servir a população judaica – das quais, muitos integrantes estavam aguardando aprovação para aliá.
Depois de discussões haláchicas, as autoridades israelenses decidiram, em 14 de
março de 1977, que a Lei do Retorno se
aplicasse também à comunidade Beta Israel (esta é a opinião do Rav Ovadyá Yossef zt”l e do Rav Mordechai Eliahu zt”l).
O gabinete de Israel, em cooperação
com o governo dos Estados Unidos, montou operações para transportar pessoas
para Israel. Essas atividades incluíram
a “Operação Brothers”, no Sudão, entre
1979 e 1990 (isso inclui as principais
operações: Operação Moisés e Operação
Josué) e, na década de 1990, em Adis
1984–1985
A “Operação Moisés” ajudou a ida de
6.364 judeus dos campos de refugiados
do Sudão para Israel através de países
intermediários – a pé, de aviões e barcos.
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1977–1987
Até 1977, era permitido aos judeus
da Etiópia emigrar para o Estado Judeu.
Quando o ditador Mengistu Haile Mariam chegou ao poder, este direito foi
negado e a imigração se tornou secreta. Os primeiros refugiados percorriam
todo o caminho até Israel a pé, quase
sem qualquer ajuda.
1988–1991
Entre novembro de 1988 e maio de
1991, dezenas de milhares de “falashas”
se aproximaram de Adis Abeba, o centro
de atividades para aliá na Etiópia.
A “Operação Salomão” foi uma manobra aérea para o resgate dos judeus da
Etiópia. Em maio de 1991, 14.325 judeus etíopes chegaram a Israel a bordo
de aeronaves do Exército de Defesa de
Israel, da El-Al, e da Ethiopian Airlines.
Durante a operação, o IDF, a Agência Judaica, o Joint Distribution Committee e
o Mossad uniram forças. Com ajuda da
mediação norte-americana, o governo
de Israel chegou a um acordo com Mengistu e com os rebeldes, permitindo que
o resgate ocorresse dentro de 36 horas.
1992–1997
De 1992 até 1997, o governo de Israel, juntamente com a Agência Judaica,
assistia judeus etíopes da Província de
Qwara para chegarem ao Estado Judeu.
Desde junho de 2008, a Agência Judaica,
a pedido do Governo de Israel, continua a
tornar a aliá da Etiópia possível, de acordo
com a Lei do Retorno de 1970, emenda
“Zera Yisrael” sobre os judeus da Etiópia.
2010–2013
Por decisão do governo, a imigração
de “Zera Yisrael” continuou com a “Operação Asas de Pomba”, que iniciou em
29 de outubro de 2012. Esta foi a última
onda de aliyá da Etiópia e do “Chifre da
África”.
Guilherme Rabinovitsch,
3º Ano do Ensino Médio
Depoimento
Meu pai, Alberto Rabinovitsch,
esteve presente em um dos últimos
vôos de imigração dos etíopes a Israel. Segue um depoimento dele:
“Em 2014 tive a oportunidade
de ir a Israel em uma promoção
da Ethiopian Airlines. Ao embarcar
em Adis Abeba, Etiópia, rumo a Tel
Aviv, percebi um grupo enorme de
pessoas desnutridas, carentes e
muito necessitadas indo para Israel.
“Tempos depois levei meus filhos,
em visita organizada pelo Keren
Hayessod, ao Merkaz Klitá de Mevassêret. Para minha surpresa, naquela oportunidade fiquei sabendo
que aquele vôo havia sido um dos
últimos organizados por Medinat
Yisrael para a imigração de yehudim etíopes. Sentimos naquele momento a enorme importância que
cada yehudi no mundo possui –
onde quer que esteja. Também compreendemos a responsabilidade e o
compromisso que devemos ter em
relação a todos os nossos irmãos,
bem como a obrigação de pensar e
agir socialmente nas comunidades
em que vivemos e ao redor de todo
o mundo.”
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Agradecimento
Obrigado a todos os doadores mensais,
doadores anuais, apoiadores do “Or Israel
Chai”, da viagem “Educando Para a Vida”
e participantes do Dinner comemorativo de
25 anos do Or Israel College.
Que o mérito do estudo da Torá traga a
todos saúde, berachot e muitas alegrias!
A Ezrat Nashim (ala feminina da sinagoga) da
Yeshivá está disponível para dedicação
em honra a um ente querido.
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Ouro
Família Safra
Advance Têxtil
Banco Daycoval S/A
Anônimo
Prata
David B. Cohen e Família
Lenoxx Sound
Salim e Ariela Mansur
Anônimo
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Bronze
Alexandre e Claudia Diament
Edmond Karaguilla e Filhos
Isaac Sutton e Família
Programa de Bolsas
Ieladim - Unibes (Gabriel Zitune)
Rina Hamoui, Filhos e Netos
Sion Diwan e Família
Vitacon
Anônimo
Amigos do Fundo de Apoio
Família Benchimol
Família Katz
Família Kummer
Família Landau
Família Skall
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Família Weinberg
Maya e Joseph Nigri e Família
Rojemac e Família
Anônimo
Anônimo
Anônimo
HÁ 53 ANOS CONSTRUÍMOS O BEM
E TRANSFORMAMOS EM REALIDADE
O QUE AINDA NÃO SE VÊ.
Nossa história se fortalece a cada obra realizada. Hoje, mais de 200
mil famílias vivem em nossos empreendimentos. Afinal, mais do que
prédios, fazemos o lugar onde muitos sonhos se realizarão.
Com coragem, ética e inovação. Esse é o jeito de ser Cyrela.
Foto do banco de imagens da Cyrela
cyrela.com.br
Cyrela Brazil Realty: Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 1.455 – 3º andar – Itaim Bibi – CEP 04543-011 – São Paulo/SP – Secovi 878 – Creci J-17.592.

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