Inteligência Artificial e o Cinema
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Inteligência Artificial e o Cinema
Inteligência Artificial e o Cinema Marcello Novaes de Amorim Este texto se refere a uma palestra do roteirista e diretos de cinema Gustavo Moraes. Ele abordou alguns pontos interessantes sobre a IA, como se trata da visão de um artista, a falta de apego aos detalhes técnicos permitiu que ele se concentrasse em temas interessantes e diferentes. Defensores dos humanos e Co-Heróis Nos próximos parágrafos vou fazer referencia a várias historias que retratam de forma diferente a forma com que os seres artificiais providos de inteligência são abordados pelo cinema, fazendo sempre um paralelo entre as obras orientais e ocidentais. Como já havíamos discutido na aula introdutória, o medo de uma guerra contra maquinas revoltadas ou que decidiram que a melhor alternativa seria dizimar ou escravizar a população de humanos está muito presente na cultura ocidental, mas se formos analisar a forma como os orientais enxergam a questão dos seres inteligentes criados pelo homem, veremos vários exemplos positivos. A primeira lembrança que tenho das representações orientais de seres artificiais dotados de inteligência e livre-arbítrio é a dos primeiros Kamen Raiders, cyborgs que tinham como missão proteger a raça humana combatendo monstros. Essa idéia evoluiu conforme foram aparecendo personagens totalmente orgânicos também foram surgindo relacionamentos muito próximos entre eles e as maquinas. O seriado Jaspion mostra muito bem a forma positiva com que os escritores orientais vêem o relacionamento homem-máquina. Os andróides que ajudavam o herói na luta contra o maléfico Satã Goss podiam ser vistos como uma representação de cavaleiros da luz lutando contra forças das trevas, sem distinção entre si quanto a sua origem, seja orgânica ou mecânica. Um paralelo com a cultura ocidental seria a representação do verdadeiro herói de Star Wars, o R2-D2. É justo atribuir a ele a continuidade de toda a trama visto que todos os protagonistas foram de alguma forma salvos por ele. Se não fosse pelo pequeno robô, o Darth Vader não existiria, uma vez que ele foi de crucial importância para que Anakin vencesse a corrida de pods e pudesse deixar seguir seu destino. A questão importante aqui é perceber que em todos os exemplos acima os seres inteligentes foram criados pelo homem, ou por alguma civilização orgânica equivalente ao homem. Porém, mesmo podendo escolher entre fazer apenas suas tarefas normais, eles escolhem assumir posições importantes agindo de forma a ajudar as pessoas, mesmo, em alguns casos, não sendo programados para isso. Consciências oniscientes e/ou controladoras Um outro tema muito abordado é a criação de maquinas com a capacidade de observar de alguma forma o que acontece no mundo real e acabam de alguma forma ficando mais poderosos do que deveriam, e por algumas vezes trazendo problemas. Temos no cinema ocidental alguns exemplos clássicos como o HAL 9000 que acabou por decidir de uma forma própria o que era mais adequado a fazer com os humanos. O HAL 9000 trás mais pontos interessantes, um deles é quando ele consegue entender que pode mentir, e entende os efeitos que podem ser causador por mentiras. É uma tentativa clara de humanificar a consciência artificial da maquina, porem , como ocorre muito em nossa cultura, esse entendimento acabou por prejudicar os criadores “culpados” por criar uma maquina tão inteligente. Existe ainda a questão do Big Brother, porem prefiro citar uma ocorrência interessante numa produção oriental “Ghost in the shell”. É uma historia que se passa no futuro, onde é possível a adaptação de um ser humano a um corpo artificial. Porem o que ocorre de mais interessante é quando uma conciencia humana, que seria vista como um fantasma por nos, fica residente na rede que conecta todos os computadores. Claro que existe muito mais nessa historia, mas eu acho interessante mostrar como essa conciência que vai aparecendo aos poucos durante a trama, pode ser vista como uma figura benigna,ou pelo menos não-maligna. No cinema ocidental, um fantasma preso na Internet é sempre mostrado como uma conciencia assassina e perigosa, como é mostrado em “Fear dot com”. Andróides humanizados Foi discutido na palestra o quanto um andróide pode se tornar próximo de um ser humano, no que diz respeito a suas emoções e escolhas. Foi citada uma cena do filme IA, onde o robozinho decide se matar, ou seja, ele opta pela morte por entender que não quer mais continuar vivendo num mundo com os poucos recursos disponíveis para ele. Porém, eu vejo uma cena, neste mesmo filme, onde a natureza humana é mostrada de uma forma bem mais interessante. Na cena imediatamente após o andróide “lover” salvar o protagonista, ele é preso, e enquanto era levado ele dizia coisas como “Quando encontrar uma mulher, fale de mim, não me deixe ser esquecido”. Isso é uma coisa muito profunda, o andróide tinha consciência do que era não mais existir, e sentia a necessidade de se engrandecer. Imagine, um ser artificial preocupado em satisfazer seu ego, é uma característica totalmente humana, e como não é uma característica ligada a sobrevivência, é muito interessante aparecer em uma maquina. Solidão, medo, felicidade, são sentimentos primários, mas a vaidade, é algo muito mais complexo. Pais e Filhos Outro tema abordado na palestra foi: qual nossa responsabilidade com os seres que criamos? Pode ser que seja possível criar seres que conseguirão sentir, talvez até amar. A questão é entender até que ponto temos responsabilidade sobre eles. Na verdade, acredito que esta questão sai do campo da IA e vai para as relações humanas, ou talvez as relações nem tão humanas. Se você compra um cachorro, passa um tempo com ele, surge um laço qualquer entre vocês, você se torna responsável por esse cachorro? Se um ser ama você, você tem o dever de retribuir? São questões muito complicadas. Pessoas mais racionais diriam que é um monte de besteira, que maquinas são criadas para realizar tarefas e pronto. Porem a muitas pessoas pensariam diferente.