Maqueta 15_8 (arq).qxp

Transcrição

Maqueta 15_8 (arq).qxp
breve informação sobre
Duas Marcas em Terra Sigillata Hispânica Alto-Imperial
recolhidas em Braga
terra sigillata recolhida em Braga
quantidade e relação percentual
Rui Morais [[email protected]]
TSG
801 - 10,21 %
TSI
290 - 3,70 %
outras produções
estudadas
3093 - 39,43 %
Contextualização
estudo da terra sigillata
alto-imperial até à data
recolhida em Braga permitiu constatar o predomínio das produções hispânicas relativamente às produções de tipo itálico e do Sul da Gália
(Fig. 1). Como seria de esperar de uma
cidade situada no Noroeste da península, são mais abundantes as produções
hispânicas da região de La Rioja (Tricio), sendo minoritárias as produções de
Andújar ou Granada, respectivamente,
com 8 e 12 fragmentos (MORAIS 2005).
Associada a esta lógica de consumo predominam na cidade as marcas
de origem hispânica, com 95 fragmentos. Com excepção de duas marcas de
Andújar, as restantes são de oleiros que
laboraram na região de La Rioja. Deste
conjunto podem, inclusivamente, atribuir-se 33 marcas a determinados centros de produção: é o caso de Tricio (14
marcas = 7 oleiros), Tricio / El Quemao
(13 marcas de um só oleiro), Tricio / Prado Alto (uma marca) e, possivelmente,
Bezares ou Arenzana de Arriba (duas
marcas de um só oleiro).
Com excepção de seis marcas intradecorativas posicionadas na parede
externa e de uma marca anepígrafa que
iremos abordar, todas as outras se encontram no fundo interno e impressas
em caixilhos de forma variada, desde o
rectângulo de ângulos rectos até ao de
ângulos arredondados e bífidos.
Neste conjunto sobressai ainda o
facto de apenas ser possível atribuir tipologia a 22 fragmentos, devido ao estado de fragmentação característico de
materiais recolhidos em contexto de
escavações urbanas. Com excepção de
duas marcas intradecorativas em exemplares Dragendorff 37, as restantes
provêm de formas lisas: Dragendorff
15-17 (onze marcas), 18-31 (duas marcas), 27 (quatro marcas), 24-25 (duas
marcas) e Hispânica 4 (uma marca).
Deste conjunto destacam-se dois
fragmentos de perfil completo da forma
Drag. 15-17, recolhidos em escavações
realizadas nos terrenos do actual Museu
O
da Arqueologia D. Diogo de Sousa
(Braga, na zona das cavalariças), e um
fragmento de fundo e base de forma
indeterminada com uma marca anepígrafa, proveniente das escavações realizadas na “insula das Carvalheiras”.
TSH
3660 - 46,66 %
Fig. 1
As marcas N·PROTAE
Produção
Como se vê na Fig. 2 (n.ºs 1a e b;
2a e b), os dois primeiros fragmentos
possuem no fundo interno as marcas
N·PROTAE; estas − assinaladas em
letras capitais, com bom relevo e bem
definidas − não colocam quaisquer dúvidas de leitura. Adificuldade reside no
próprio nome.
Sem paralelo em marcas de terra
sigillata hispânica, apenas encontrámos o nome PROTIS associado a vasos
fabricados nos centros produtores do
Sul da Gália, caso de Bram e de La
Graufesenque. No entanto, a existência
dos antropónimos PROTAEIDIVS,
PROTAEIDVS, PROTO e PROTVS
(vd. ABASCAL PALAZÓN 1994), encontrados na península, sugere que o nome
PROTAE registado nestas marcas recolhidas em Braga possa corresponder
a uma abreviatura de PROTAE[IDIVS]
ou PROTAE[IDVS] (MORAIS 2005).
Aproveniência na mesma unidade
estratigráfica de um prato igualmente da
forma Dragendorff 15-17 (n.º 3a e b) e
com o mesmo tipo de fabrico, apresentando a marca AE[MILIVS]·FRO[NTO],
um oleiro oriundo de La Rioja, é fortemente sugestiva da contemporaneidade
destes oleiros, que laboraram entre os finais do século I e os inícios do século II.
A marca anepígrafa
O terceiro fragmento (n.º 4a e b)
corresponde a uma marca interior anepígrafa representada por uma roseta de
cerca de 14 pétalas, situada no fundo
interno de um prato de forma indeterminada e que não encontra paralelo na
produção de terra sigillata hispânica.
Trata-se de uma marca que, com algu-
Quantidade
Total Sigillatas
Terra sigillata itálica (TSI)
290
6,10 %
Total Produções
3,70 %
Terra sigillata gálica (TSG)
801
16,86 %
10,21 %
Terra sigillata hispânica (TSH)
3660
77,04 %
46,66 %
subtotal sigillatas
4751
100 %
60,57 %
outras produções estudadas
3093
39,43 %
total
7844
100 %
ma probabilidade, assinala a oficina de
um oleiro, como parece sugerirem as
produções de terra sigillata itálica (directamente inspirados pela cerâmica
campaniense e suas imitações) (vd.
OXÉ e COMFORT 1968: Est. X, n.º 139;
HOFMANN 1986: 83) e gálica.
Como se sabe, na produção hispânica as marcas anepígrafas são residuais, para não dizer praticamente inexistentes. De facto, nesta produção,
apenas se conhecem duas marcas com
fabrico atribuível às produções de La
Rioja, recolhidas em Numância 1
(MAYET 1978: Est. 256, n.º 3; 1983: 96,
n.º 782, Est. CCXX; ROMERO CARNICERO 1985: 188, n.º 793, e 406) e Peñaforua (MEZQUÍRIZ 1985: 119) − para não
falar de certo tipo de entalhes conhecidos na produção de Andújar (vd. ROCA
ROUMENS 1976: 30-31, Est. 2, n.ºs 1-13;
ROMERO CARNICERO 1985: 188, 190).
Acentue-se, no entanto, que a marca de Braga, com um fabrico relativamente precoce 2, atribuível ao 2º quartel do século I, e um tipo de decoração
bem presente nos produtos decorados
produzidos na região de La Rioja no
século I (vd. MAYET 1983: Est. CXLII;
ROMERO CARNICERO 1985: 188 e 190),
diferencia-se daquelas marcas.
Amarca anepígrafa recolhida em
Braga está assim mais próxima das
marcas anepígrafas oriundas dos centros
produtores gálicos, prematuramente
representados pelos centros produtores
de Bram, cuja produção se inicia a partir
do último quartel do século I a.C. (VERNHET 1986: 33; PASSELAC 1986: 48), seguidos dos de Montans (MARTIN 1986a:
60, Fig. 2b; MARTIN 1986b: 72-73, Fig.
12; PASSELAC 1986: 87, Fig. 21), La
Graufesenque (HOFMANN 1986: 109,
Fig. 11; THUAULT e VERNHET 1986: 111-112, Fig. 13; LAUBENHEIMER e AL-
1 A marca de Braga diferencia-se claramente
da de Numância (ROMERO CARNICERO 1985:
188 e 190), dado que esta última apresenta
um tipo de decoração em palmetas
directamente influênciado pelas decorações
estampadas que se difundem a partir do
século IV com a terra sigillata africana D
(HAYES 1972: 217-218) e a terra sigillata gálica
tardia (RIGOIR 1968: 192).
2 A peça de Braga possui uma pasta
vermelha-acastanhada com desengordurante
abundante, homogéneo e de pequenas
dimensões. A superfície da pasta é ondulada,
com abundantes vacúolos redondos de
pequenas dimensões e alguns alongados de
maiores dimensões. O engobe, também
vermelho-acastanhado, bem aderente e
conservado, possui um brilho homogéneo
no fundo externo e menos homogéneo
no fundo interno.
153
n
actividade arqueológica
NOTÍCIAS
BAGNAC 1986: 118, Fig. 16, n.ºs 21 a 26),
Lezoux (VAUTHEY e VAUTHEY 1986:
156, Fig. 12, 157, Fig. 13) e de determinados centros do Leste (KAHN 1986:
243, Fig. 3, n.ºs 4 e 5). De entre estes,
destaquem-se os centros produtores do
grupo de Montans, cuja frequência das
marcas anepígrafas atinge os cerca de
45 a 50 % do total de peças com marca (MARTIN 1986a: 60, 71).
A nítida inspiração gálica está
também presente na morfologia do fundo interno que, apesar de possuir a típica carena da produção hispânica, se
apresenta alteado como nas suas congéneres de produção gálica.
1b
1a
Considerações finais
2b
Com esta breve informação pretendemos dar a conhecer duas marcas,
uma relativa a um novo oleiro e outra
representativa de uma produção “precoce” fortemente influenciada pelas
produções gálicas. Advirta-se, no entanto, que o termo “precoce” aqui utilizado deve ser entendido como critério de
antiguidade no contexto da produção da
terra sigillata hispânica e não directamente relacionado com as designadas
produções “precoces” (vd. SERRANO RAMOS 1999: 231-233; AMORES e KEAY
1999) ou “singulares” (ROMERO CARNICERO 1999: 235-258), encontradas em
níveis datados entre os finais do século
I a.C. e a primeira metade do século I.
Foi também nosso propósito contribuir para que nos estudos sobre a
terra sigillata hispânica alto-imperial se
tenha em consideração a utilidade de
perscrutar a onomástica presente na
epigrafia peninsular e contextualizar
determinadas produções (tipo de fabrico e tipologia).
Bibliografia
2a
3b
3a
0
3 cm
4b
4a
Fig. 2 − Desenhos 1a, 2a, 3a e 4a - ver escala gráfica; desenhos 1b, 2b, 3b e 4b - escala 1:1.
25
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1982-2007
154
CENTRO DE ARQUEOLOGIA DE ALMADA
ANOS al-madan ISSN 0871-066X | IIª Série (15) | Dezembro 2007

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