Título: Jardim Boa Vista: sua história, o papel da EMEF Solano

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Título: Jardim Boa Vista: sua história, o papel da EMEF Solano
Título: Jardim Boa Vista: sua história, o papel da EMEF Solano Trindade e do
Memorial Escolar no processo de transformação
Aluno: Augusto Rolim Saraiva
N° USP: 7611943
Programa: PIC/FE – Faculdade de Educação
Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth dos Santos Braga
Resumo: O presente projeto está vinculado ao Projeto de Pesquisa “Memória,
narrativa e a dimensão discursiva da experiência escolar” e ao Projeto de
Extensão “Memórias, histórias, pertencimento: pesquisa colaborativa na escola e
comunidade, formação docente e identidade local”, ambos coordenados pela
Profa. Dra. Elizabeth dos Santos Braga.
Este trabalho de Iniciação Científica
tentará perceber as transformações ocorridas no bairro Jardim Boa Vista, na Zona
Oeste de São Paulo, buscando compreender a participação da EMEF Solano
Trindade e do Memorial nesse processo contínuo. A pesquisa partirá da ideia de
que o lugar não é apenas um produto das relações econômicas, mas é, ao
mesmo tempo, determinado pelos sujeitos desse processo em suas relações:
sociais, políticas, ideológicas, culturais, jurídicas etc.
Palavras-chave: Memorial Escolar, Relação Escola-Bairro, Relação ComunidadeEscola.
1
Sumário
1. Introdução...........................................................................................................3
2. Contextualização do bairro e da escola...........................................................5
2.1 O bairro Jardim Boa Vista............................................................................5
2.2 EMEF Solano Trindade.....................................................................................11
3. Fundamentação Teórica...................................................................................14
4.1 Métodos..............................................................................................................21
5.
Cronograma das atividades.............................................................................22
5.1 Atividades realizadas até o momento.............................................................22
5.2 Cronograma das próximas atividades............................................................24
Referências bibliográficas.....................................................................................25
2
1. Introdução
O presente projeto está vinculado ao Projeto de Pesquisa “Memória,
narrativa e a dimensão discursiva da experiência escolar” e ao Projeto de
Extensão “Memórias, histórias, pertencimento: pesquisa colaborativa na escola e
comunidade, formação docente e identidade local”, ambos coordenados pela
Profa. Dra. Elizabeth dos Santos Braga.
Este trabalho de Iniciação Científica possui o intuito de dar continuidade a
um projeto já consolidado dentro da EMEF Solano Trindade através das práticas
cotidianas na escola, na relação da mesma com o memorial e o bairro. A relação
da escola com o bairro e de que forma a escola, ou seja, a sua comunidade
escolar, participa do processo de construção e ressignificação do espaço é
também tematizada., Em relação ao Memorial Solano Trindade, neste momento,
busca-se uma maior autonomia da comunidade escolar em relação ao
funcionamento regular e às atividades aí desenvolvidas.
Os projetos de iniciação científica anteriores apontaram diversos aspectos
relevantes na relação do Memorial com os alunos, na relação do Memorial com os
professores, na importância do estudo do bairro para o ensino entre outros.
1
Já o trabalho presente tentará perceber as transformações ocorridas no
bairro Jardim Boa Vista, na Zona Oeste de São Paulo, buscando compreender a
participação da EMEF Solano Trindade e do Memorial nesse processo contínuo.
A pesquisa partiu da ideia de que o lugar não é apenas um produto das
relações econômicas ou de que a um bairro periférico seria apenas o lado
desprivilegiado economicamente na relação com os bairros centrais, como se
1
“Relações sociais e seus significados no contexto escolar e seu entorno: um estudo etnográfico” de Thaís
Brando Balázs da Costa Faria, 2010; “Memorial escolar: seus impactos e significados na escola e no bairro”,
2013 e “Memórias na escola: a participação dos alunos na dinâmica do memorial escolar”, 2014, ambos feitos
por Larissa de Magalhães Rosa Andrade; “Prosseguindo o trabalho com o memorial escolar: sua dinâmica e
significados para a comunidade", 2013 de Lia Ikeoka; "Uma proposta pedagógica com o memorial escolar: sua
dinâmica e significados para os alunos", 2014 e “Prosseguindo o trabalho com os alunos no memorial escolar:
uma proposta pedagógica com o Ciclo Autoral do Ensino Fundamental”, 2015, ambos de Camila Rissato
Santos.
3
buscaram
caracterizar
as
diferentes
formações
periféricas.
A
partir
compreensão de que o bairro é um lugar e como tal é, ao mesmo
determinado pelos processos econômicos urbanos e pelos
sujeitos
da
tempo,
desse
processo em suas relações sociais, políticas, ideológicas, culturais, jurídicas etc.
Assim, a pesquisa busca uma compreensão das transformações do bairro
Jardim Boa Vista percebendo a participação da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Solano Trindade e do Memorial Solano Trindade nesse processo.
O trabalho de pesquisa se realiza em diferentes etapas que ocorrem, em
alguns casos, simultaneamente e não em ordem cronológica, tais como:
- Refletir sobre os processos que determinam a reprodução sócio-espacial na
metrópole de São Paulo e que podem ter influenciado na história do bairro Jardim
Boa Vista;
- Analisar as transformações que ocorreram no bairro a partir dos documentos
existentes no memorial, da pesquisa de campo e observação no bairro, da entrevista
de moradores, estudantes e professores, bem como documentos de órgãos
públicos;
- Compreender a importância da EMEF Solano Trindade e do Memorial Escolar nas
relações sócio-espaciais estabelecidas pelos moradores do bairro e nas suas
possibilidades de transformação;
- Auxiliar na organização e no funcionamento do Memorial Escolar, assim como de
exposições temáticas de seu acervo;
- Disponibilizar o conhecimento gerado na pesquisa para a comunidade, no próprio
Memorial e em exposições.
2. Contextualização do bairro e da escola
2.1 O bairro Jardim Boa Vista
4
O bairro Jardim Boa Vista está localizado na Zona Oeste do Município de São
Paulo, pertencente à área de abrangência da Subprefeitura do Butantã, mais
especificamente ao Distrito Raposo Tavares. Para se compreender de maneira
profunda o bairro Jardim Boa Vista é necessário conhecer o processo histórico de
formação geográfica da região.
A partir de informações da Base de Dados da Subprefeitura do Butantã (SP/BT)
2008, a região do Butantã foi rota de passagem para os bandeirantes ao interior
do país. “Foi nessa região que Afonso Sardinha montou o primeiro trapiche de
açúcar da vila de São Paulo, em sesmaria obtida em 1607. As terras da antiga
sesmaria tiveram várias denominações: Ybytatá, Uvatantan, Ubitatá, Butantan e,
finalmente, Butantã. Há duas versões para o significado do nome ‘Butantã’: ‘terra
socada e muito dura’ e ‘lugar de vento forte’”.2 Esta sesmaria foi doada para o
Colégio de São Paulo e em 1759, com a expulsão dos jesuítas, as terras foram
confiscadas e vendidas. As terras tiveram vários donos até que um dos últimos
proprietários, a família Vieira de Medeiros, vendeu em 1915 para a Cia. City
Melhoramentos, companhia responsável pela urbanização das margens do Rio
Pinheiros.
2
Base de Dados Subprefeitura Butantã 2008. Prefeitura da Cidade de São Paulo, Secretaria de
Coordenação das Subprefeituras, Subprefeitura do Butantã, Apresentação, sem número.
5
Antigo Mapa da região do Butantã – 1924.
Fonte: http://vivaobutanta.blogspot.com.br/ Acessado em 22 de Mar. De 2016.
A região do Butantã foi ocupada através de diversos sítios em toda sua
extensão, que depois foram loteados e vendidos como parte do processo de
expansão da malha urbana da cidade de São Paulo. Um grande marco no processo
de urbanização da região foi a instalação do Instituto Butantã em 1898. “O Instituto
Butantã foi oficialmente inaugurado em 1901. Sua origem está associada ao
combate da peste bubônica, que por volta de 1898 causava uma epidemia em
Santos, litoral paulista. Para produzir o soro contra a peste, foi escolhida uma área
fora do perímetro urbano da cidade de São Paulo.”3 Posteriormente, em 1934, foi
construída dentro da área do Instituto Butantã, aquela que veio a se tornar a
principal universidade do Brasil, a Universidade de São Paulo. Tais instituições
3
Idem.
6
tiveram um papel importante no processo de urbanização da região que, até o início
do século XX, ainda possuía características de uma área rural.
Início do loteamento da região do Butantã na década de 1940.
Fonte: http://vivaobutanta.blogspot.com.br/ Acessado em 22 de Mar. De 2016
“A partir dos anos 1920, começaram a surgir os primeiros bairros como Vila
Butantã, Vila Lageado e Cidade Jardim. Nos anos 1930, surgiram os bairros Peri
Peri, Vila Clotilde, Vila Gomes e Caxingui. Nas décadas de 1940 e 1950, foram os
bairros Jardim Guedala, Previdência, Vila Progredior, Vila Hípica, Jardim Ademar,
Jardim Trussardi, Vila Pirajussara. (...) Entre os anos 1950 e 1960, surgiram os
bairros Rolinópolis, Esmeralda, Ferreira, Monte Kemel, Vila Maria Augusta, Jardim
Bonfiglioli, Jardim Pinheiros entre outros.”
Para tentar compreender como se deu a formação dos bairros mais
periféricos da região do Butantã, os quais se localizam principalmente nos distritos
Raposo Tavares e Rio Pequeno, é preciso considerar os aspectos que estão direta
7
ou indiretamente relacionados ao processo de periferização que marcou o
crescimento e a consolidação da cidade de São Paulo.
“A formação dos bairros mais periféricos da região do Butantã, localizados nos
distritos Raposo Tavares e Rio Pequeno, não pode ser compreendida sem
considerar alguns aspectos da formação e expansão urbana do próprio município de
São Paulo, sobretudo no que se refere ao processo de periferização que marcou o
crescimento e consolidação da cidade.
A criação de um sistema de transporte baseado no ônibus facilitou o acesso a
essas áreas mais periféricas e operou no sentido de mudar o padrão de urbanização
da cidade. Inicialmente, as linhas de ônibus cobriam, sobretudo, as áreas centrais,
mais lucrativas. No entanto, esse tipo de transporte não exigia percurso fixo, nem
grandes investimentos iniciais, permitindo, ao contrário do bonde, a constituição de
redes ramificadas de transporte em áreas de baixa densidade demográfica,
favorecendo, assim, a implantação de loteamentos periféricos”.4
Assim, o processo de urbanização da região está relacionado à possibilidade
do uso de meios de transporte de uma região afastada do centro urbano. Já o
surgimento dos meios de transporte motorizado foi um passo adiante na expansão
da malha de transportes, que antes estavam concentrados no centro de São Paulo
através dos chamados “bondinhos” sobre trilhos. A utilização de ônibus está
relacionada não só aos avanços tecnológicos da indústria automobilística norteamericana e europeia, mas também ao processo de industrialização da cidade de
São Paulo. O surgimento de fábricas a partir do capital investido pelos banqueiros e
barões do café exigia não só a existência de trabalhadores, mas de meios para
esses trabalhadores poderem morar e se locomover até o local de trabalho, servindo
assim como mão de obra.
A partir dos anos 1950, a expansão urbana da cidade de São Paulo foi
caracterizada “pelo padrão periférico de crescimento da cidade, baseado no trinômio
loteamento/periferia/casa própria”.5 O processo acelerado de industrialização da
4
5
Idem.
Idem.
8
década de 50, em especial no governo de Juscelino Kubitschek, com o grande ritmo
de investimento do capital estrangeiro no Brasil, em especial na região metropolitana
de São Paulo com a vinda das grandes montadoras de automóveis, levou a um
aumento considerável do fluxo dos imigrantes, em especial nordestinos, que
chegavam em São Paulo buscando novas oportunidades de trabalho e de moradia.
Apesar do crescimento da cidade e do transporte público ter chegado em
massa a áreas mais periféricas, a expansão urbana segue para regiões ainda mais
distantes. A população que não tinha condições de adquirir lotes nestas áreas, por
ser mais pobre, acaba encontrando a favela como sua única opção de moradia, já
que as favelas formaram-se, em grande parte, nas áreas livres de loteamento: áreas
de uso comum (jardins, praças, etc.), áreas próximas a córregos e, no caso do
Jardim Boa Vista e de grande parte do distrito Raposo Tavares, na Macrozona da
Proteção Ambiental – destinada a preservação e conservação ambiental.
Em 1968, onde se localiza atualmente o bairro Jardim Boa Vista, havia uma
chácara pertencente a uma família de japoneses. Posteriormente, boa parte da
área foi vendida à Samara Empreendimentos e a família ficou apenas com uma
pequena gleba.
O fim da década de 70 e as duas décadas seguintes foram muito importantes
para o crescimento e consolidação do bairro - apenas em 1977 o bairro começou a
contar com linhas de transporte público e a conquista por água encanada e
legalização do loteamento ocorreu somente em 1980. Tais conquistas foram o
resultado da mobilização da comunidade em torno da luta pela garantia das
condições mínimas necessárias para se viver ali. Com uma comunidade formada em
sua quase totalidade por trabalhadores, o bairro viveu um momento de ebulição
política, assim como o Brasil viveu um período de grande turbulência com o final da
ditadura militar. O clima de mobilização e de radicalização dos trabalhadores foi um
elemento importante na conquista das melhorias para o bairro.
Buscando discutir problemas relativos ao bairro, uma equipe de trabalho
edifica-se como União dos Moradores do Jardim Boa Vista em 1979 e, após ser
reconhecida judicialmente, começa a buscar soluções para os problemas
9
encontrados. Infelizmente, por problemas de organização política, a diretoria da
União dos Moradores se divide, criando, assim, uma nova entidade, a Sociedade
dos Amigos de Bairro do Jardim Boa Vista.
Muitos movimentos ocorreram no bairro, entre 1992 e 1996, como, por
exemplo, a construção e ampliação da sede da “Sociedade dos Amigos de Bairro do
Jardim Boa Vista”; construção e ampliação de escolas de primeiro e segundo grau;
canalização do córrego situado ao lado da EMEF Solano Trindade; arborização;
mais linhas de ônibus ligando o bairro a outras localidades de São Paulo;
calçamento das vielas; conscientização da população em relação ao meio ambiente;
construção de um posto de saúde etc.6
Dessa maneira, o bairro Jardim Boa Vista cresceu largamente com o passar
dos anos e, atualmente, abriga mais de 15 mil famílias. Segundo os dados do
Observatório Rede Nossa São Paulo, no Distrito Raposo Tavares moram cerca de
100.743 habitantes.
Existem diversas instituições escolares no bairro Jardim Boa Vista como: a CEI
Roberto Arantes Lenhoso, a EMEF Solano Trindade, a EMEI Deputado Gilberto
Chaves, a E. E. Prof. Oswaldo Walder e o Colégio Waldorf Micael de São Paulo,
este último da rede particular de ensino.
No distrito Raposo Tavares há quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) que
realizam diariamente o atendimento de Atenção Básica (ações de saúde que
trabalham com promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação) e
Integral (ações de saúde que oferecem assistência de diversos profissionais
capacitados como, por exemplo, assistência odontológica), sendo que uma está
localizada no Jardim Boa Vista.
Dos problemas existentes no surgimento do bairro, alguns permanecem até os
dias atuais, como a precariedade do transporte público, falta de segurança e a
6
“Memorial escolar: seus impactos e significados na escola e no bairro”, 2013 de Larissa de Magalhães Rosa
Andrade.
10
pouca iluminação pública. Há uma grande demanda por áreas para prática de
esporte e de lazer, uma vez que há uma enorme carência de equipamentos culturais
públicos e privados na região. Há um movimento de moradores e das associações
de bairro que lutam pela construção do parque linear ao redor do córrego, uma
reivindicação que busca atender não só a utilização da área para lazer, mas também
para garantir uma área verde na região e melhorias no saneamento básico.
Entretanto, é preciso dialogar com as comunidades do Morumbizinho e Mar
Vermelho, uma vez que eles seriam diretamente afetados pela construção do
parque, podendo inclusive haver remoção de moradias.
Dentre os movimentos coletivos existentes do bairro podemos citar a –
ACOMI (Associação Comunitária Micael), Sociedade dos Amigos de Bairro Jardim
Boa Vista, Associação Vira Lata, União dos Moradores da Favela do Jardim Boa
Vista, Associação de moradores do Morumbizinho e Associação do Mar vermelho.
Cada uma dessas associações realiza um trabalho diferente no bairro.
[A] Associação Comunitária Micael – ACOMI (trabalha a pedagogia
waldorf com as crianças do bairro e também realiza o atendimento
nas áreas de saúde e de arte a crianças e adultos da comunidade),
Associação Vira Lata (trabalha com a coleta e a reciclagem de lixo,
antigamente realizada por pessoas do bairro, e hoje por uma
equipe composta por outras pessoas da Zona Oeste de São
Paulo); a sede localiza-se no bairro, mas o trabalho já não
foca esta população), Sociedade Amigos de Bairro do Jardim Boa
Vista (representa os moradores do bairro, mas está desativada
atualmente) e União de Moradores da Favela do Jardim Boa
Vista (representa os moradores da favela e é hoje uma das mais
ativas no bairro. (FARIA, 2010, p. 13)
11
Algumas instituições do bairro (escolas, UBS e associações) criaram um
movimento denominado Rede Boa Vista. Por meio de reuniões mensais, eles
buscam identificar as possibilidades existentes no bairro.
A Rede Boa Vista é formada por um grupo de profissionais que,
desde 2010, se reúne mensalmente visando unir todos os esforços
existentes no bairro. Procura-se, então, promover a participação
da população em discussões que envolvem os problemas que
afetam a todos os indivíduos do bairro.
As instituições que participam desses encontros, por meio de
representantes, são: PAVS (Projeto Ambientes Verdes e
Saudáveis, da Secretaria Municipal do
Verde e Meio Ambiente); EMEF Solano Trindade, E.E. Oswaldo
Walder, EMEI Deputado Gilberto Chavez, CEI Roberto Lanhoso,
Colégio Waldorf Micael de São Paulo, Associação Comunitária
Micael e a UBS. (ANDRADE, 2013, p. 55)
A Rede Boa Vista passa por um processo de reorganização a partir da entrada
de novas instituições e das novas possibilidades de atuação à margem das ações
oficiais do Estado, mas também se apropriando das possibilidades de parceria com
a prefeitura entre outras esferas de governo.
2.2 EMEF Solano Trindade
A história da Escola Municipal de Ensino Fundamental Solano Trindade se
confunde com a história do próprio bairro Jardim Boa Vista. A rápida urbanização
iniciada na região a partir da década de 60 e 70 levou à demanda por serviços
públicos que atendessem as necessidades mais elementares da população tais
como água encanada, saneamento básico, energia, asfalto, transporte público e
12
escolas. A permanência daquelas famílias naquele espaço, muitas delas formadas
por imigrantes nordestinos, dependia da garantia das condições de estudo para seus
filhos, não só para o benefício intelectual e social destes, mas para eles pudessem
se deslocar até o trabalho podendo deixar suas crias em um ambiente seguro.
Inicialmente, a Escola Municipal de Primeiro Grau (EMPG) Jardim Boa Vista,
conhecida carinhosamente pela comunidade como barracão, começou a funcionar
em 1980 em uma construção de madeira, simples e rústica. Ao seu lado, havia um
prédio de alvenaria que abrigava os sanitários (dos professores e alunos) e também
a cozinha.7
O Decreto n.º 16.529, de março de 1980, marcou a criação da Escola Municipal
de Primeiro Grau (EMPG) Jardim Boa Vista. Em Novembro do mesmo ano, a escola
ganha o seu Patrono, o poeta Solano Trindade, através do Decreto n° 17.014, de
Novembro de 1980. A EMPG Jardim Boa Vista torna-se Escola Municipal de
Primeiro Grau (EMPG) Solano Trindade.
O barracão é desocupado, cedendo lugar à EMEI Deputado Gilberto Chaves –
o novo prédio da EMEF Solano Trindade, local em que se situa até os dias atuais é
inaugurado em 1982. Na ocasião, o prédio da escola foi inaugurado com a
participação especial de Raquel Trindade, a filha do poeta Solano Trindade.
7
Idem.
13
Antiga sede da escola, o “barracão” em 1981
Antiga sede da escola, o “barracão” em 1982.
14
Inauguração do novo prédio da EMEF Solano Trindade, 1982.
Já em Janeiro de 1999 é publicado o Decreto n° 37.796. A EMPG Solano
Trindade torna-se Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Solano
Trindade.
Localizada no bairro Jardim Boa Vista, na divisa com Osasco, a EMEF Solano
Trindade possui ao seu redor o Colégio Waldorf Micael de São Paulo, a favela
do Morumbizinho, a comunidade do Mar Vemelho e um córrego. A escola já
esteve envolvida diretamente em diversas ações com o objetivo de preservar e
manter limpo o córrego que passa ao seu lado e evitar que houvesse novas
enchentes que sempre afetaram de uma maneira trágica a vida de muitos
moradores que perdiam suas casas e/ou seus pertences, quando não perdiam a
vida de moradores. Uma das diversas campanhas desenvolvidas pela escola foi
a passeata “Todo lixo vira arte” em maio de 2010. A atividade foi organizada
pelos funcionários da escola e pelos alunos representados pelo Grêmio, em
parceria com outras instituições (UBS, E.E. Oswaldo Walder, ACOMI, Colégio
Waldorf Micael de São Paulo, etc.). O objetivo da mobilização era chamar a
atenção dos órgãos competentes em relação ao problema do córrego sem
canalização e poluído que passa ao lado da EMEF Solano Trindade. A
passeata foi dividida em alas que representavam o presente (ruas sujas, rio
malcheiroso, etc.) e o futuro do bairro (ruas limpas, parque linear ao longo do
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córrego, árvores, etc.). Tal movimento é um dos exemplos mais marcantes
acerca de que forma a escola intervém no processo de transformação do bairro
e dos próprios moradores.
O início do projeto da Profª. Elizabeth Braga na escola “Memória, narrativa e a
dimensão discursiva da experiência escolar” em 2009 deu um novo impulso na
relação da comunidade escolar consigo mesma e com a comunidade ao redor da
escola. Como consequência deste projeto ocorreu a inauguração do Memorial
Solano Trindade como um espaço físico não só para guardar o acervo de materiais
e registros da escola, do seu bairro e de seu patrono, assim como para abrigar
exposições temáticas diversas organizadas em conjunto com professores e alunos.
O Memorial Solano Trindade se divide em três eixos de atuação. O Eixo
“Escola” visa contar, armazenar, resignificar a história da escola. O eixo “Bairro” que
visa contar, armazenar, resignificar a história do bairro. E o eixo “Patrono” que visa
contar, armazenar, resignificar e divulgar a história do patrono Solano Trindade.
Desde a sua criação, o Memorial Solano Trindade participou de diversas exposições
e atividades envolvendo alunos, professores, direção escolar e moradores do bairro.
Algumas das inúmeras exposições realizadas foram a exposição de materiais
pedagógicos em 2015, a exposição em comemoração aos 35 anos da EMEF Solano
Trindade no mesmo ano, a exposição de materiais permanentes em 2014 sobre os
três eixos do Memorial Solano Trindade (Patrono, bairro e escola), uma exposição
em homenagem ao professor e funcionário da escola Vitório, que recebeu esta
homenagem após o seu falecimento.
3.1 Fundamentação Teórica
Este projeto está vinculado ao Projeto de Pesquisa e Extensão “Memórias,
histórias, pertencimento: pesquisa colaborativa na escola e comunidade, formação
docente e identidade local” coordenado pela Profª. Dra. Elizabeth dos Santos Braga,
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desenvolvido na EMEF Solano Trindade, no bairro Jardim Boa Vista, na Zona Oeste
de São Paulo. Tal projeto busca uma reflexão acerca do processo de composição de
narrativas sobre as práticas sociais que ocorrem na escola e no bairro, procurando
identificar elementos característicos próprios de uma memória coletiva e discursiva.
Para a compreensão do papel da EMEF Solano Trindade no bairro Jardim Boa
Vista é necessário compreender o papel que o bairro desempenha numa metrópole
como São Paulo. Tal dimensão não servirá para minimizar as relações existentes
intrabairro, mas para compreender de que forma o “todo” afeta o “particular” e de
que forma o “particular” afeta o “todo” a partir de diferentes escalas. Todo processo
social possui um tempo histórico e dessa forma, não é possível compreender o
espaço atual sem observar o seu desenvolvimento histórico.
Seria impossível pensar em evolução do espaço se o tempo não
tivesse existência no tempo histórico, (...) a sociedade evolui no
tempo e no espaço. O espaço é o resultado dessa associação que se
desfaz e se renova continuamente, entre uma sociedade em
movimento permanente e uma paisagem em evolução permanente.
(...) Somente a partir da unidade do espaço e do tempo, das formas e
do seu conteúdo, é que se podem interpreta as diversas modalidades
de organização espacial. (SANTOS, 1979, pp. 42-43).
Para compreensão do espaço é preciso investigar a sua história. A região da
subprefeitura do Butantã, onde está localizado o bairro Jardim Boa Vista, foi uma
antiga rota de passagem de bandeirantes e jesuítas para o interior do Brasil em suas
expedições. Na maior parte da existência da cidade de São Paulo, que remonta o
século XVI, esta região se manteve como uma rota de passagem e posteriormente
como uma área rural próxima à cidade, mas distante do seu centro histórico na
região Sé e do Pátio do Colégio.
Entretanto, há historiadores e arqueólogos que contestam a ideia de que a
região foi primeiro foi habitada pelos bandeirantes e jesuítas. Para estes
pesquisadores, antes de se tornar uma rota de passagem para os bandeirantes ela
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já era uma rota de passagem para povos indígenas que faziam a travessia do litoral
do oceano Atlântico até o oceano Pacífico. Tal tese surgiu após a descoberta de
uma fonte escondida em um sítio na região do Morro do Querosene. O local é uma
das nascentes da bacia do Pirajussara, mas alguns pesquisadores vão além e
defendem que a fonte faz parte do Caminho do Peabiru, uma enigmática rota
indígena que já existia antes da chegada dos europeus à América do Sul. “O
caminho cruzava o continente ligando o oceano Atlântico ao Pacífico, estendendo-se
do Peru ao sul do Brasil. Essa rota teria sido apresentada ao português Aleixo
Garcia no começo do século XVI. Posteriormente, bandeirantes e tropeiros seguiram
a mesma trilha.” 8
O acelerado desenvolvimento industrial do Brasil nas décadas de 50 e 60 teve
como uma de suas consequências o aumento da concentração industrial na região
Sudeste, em especial na região metropolitana de São Paulo. O plano de metas do
Governo Federal de Juscelino Kubitschek levou a uma entrada vertiginosa de capital
estrangeiro no país, liderado pelas indústrias montadoras automobilísticas e
indústrias de autopeças, indústria química e petroquímica. O impasse no campo
gerado por uma elevada concentração de terras sob o controle de grandes
latifundiários e empresas agrícolas que iniciavam o processo de mecanização da
produção rural, acelerando ainda mais o processo de êxodo rural.
O forte desenvolvimento industrial na cidade de São Paulo verificado na cidade
de São Paulo nos anos 50 e 60 coincide com o aumento do número de imigrantes
vindos de todas as partes do país, em especial o Nordeste, em busca de
oportunidades para uma vida melhor com trabalho e moradia. É justamente neste
período que se intensifica o processo de urbanização da região do Butantã. Uma
região naquele momento ainda afastada do centro urbano de São Paulo, mas uma
possibilidade de vida para aqueles que chegaram à cidade sem um local para morar.
A região do Butantã já vivia um processo desenvolvimento a partir da fundação do
Instituto Butantã em 1858 e posteriormente, em 1934 com a fundação da
Universidade de São Paulo.
8
Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/noticias/vestigios_pre-colombianos_em_sao_paulo.html
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Desde o seu surgimento, o bairro Jardim Boa Vista passou por diversas
transformações evidentes tais como: a regularização de áreas de loteamento, o
fechamento da pedreira, o fim das enchentes no córrego que “corta” o bairro, a
formação de novas comunidades e condomínios fechados, o aumento do problema
da violência, entre muitas outras. Tais transformações ocorridas no bairro serão
melhor detalhadas no relatório final. Entretanto, “por detrás” das mudanças
aparentes, há diversas perguntas pertinentes que podem ser feitas tais como: Como
a comunidade participou deste processo? Como o bairro conquistou a instalação de
equipamentos públicos e se relacionou com eles? Quais são as demandas atuais da
comunidade?
Já a história da EMEF Solano Trindade parece se confundir com a história do
bairro Jardim Boa Vista. A construção dessa, que antes funcionava em uma casa de
madeira, pode ter sido uma das conquistas da comunidade no começo da abertura
política, após tantos anos de Ditadura Militar, na sua luta para garantir as condições
básicas para moradia e de vida. Não por acaso, naquele momento havia uma
grande efervescência política e cultural no Brasil, que pode ter sido sentida e vivida
de forma singular naquele lugar.
Mas, para se compreender o papel de uma escola no processo de
transformação do bairro é preciso compreender o que é o espaço e como ele se
transforma. Para o geógrafo Ruy Moreira,
“O espaço é um produto da história. Um ato de sujeitos. Sua matéria-prima é a
relação homem- meio” (MOREIRA, 2012, p. 30). Assim, a partir do conceito de
reprodução social do espaço, o espaço é o produto do intercâmbio do homem com a
natureza e nessa relação, ele extrai as suas condições de sobrevivência; ao mudar a
natureza, o homem ao mesmo tempo muda a si mesmo. Assim, a noção de espaço
perde um caráter meramente físico ou material, para ganhar uma dimensão humana.
Já para Milton Santos “O espaço é um verdadeiro campo de forças cuja
formação é desigual. Eis a razão pela qual a evolução espacial não se apresenta de
igual forma em todos os lugares”. (SANTOS. 1979 p.122). Assim, a ideia de um
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espaço homogêneo, assim como de um cidade homogênea se desfaz a partir de
suas contradições.
(...) O espaço por suas características e por seu funcionamento, pelo
que ele oferece a alguns e recusa a outros, pela seleção de
localização feita entre as atividades e entre os homens, é o resultado
de uma práxis coletiva que reproduz as relações sociais, (...) o
espaço
evolui
pelo
movimento
da
sociedade
total.
(SANTOS, 1978, p. 171).
Para Milton Santos, o espaço precisa ser considerado como totalidade:
conjunto de relações realizadas através de funções e formas apresentadas
historicamente por processos tanto do passado como do presente. O espaço é
resultado e condição dos processos sociais, elaboração amplamente difusa na
geografia dos anos 1970-80 em países como a França, EUA e Brasil, pois era
compreendido como uma categoria fundamental quando predominava a utilização
de princípios do materialismo histórico e dialético. Desse modo, o espaço, além de
instância social que tende a reproduzir-se, tem uma estrutura que corresponde à
organização feita pelo homem. É também uma instância subordinada à lei da
totalidade, que dispõe de certa autonomia, manifestando-se por meio de leis
próprias. Assim, o espaço organizado é também uma forma resultante da interação
de diferentes variáveis. O espaço social corresponde ao espaço humano, lugar de
vida e trabalho: morada do homem, sem definições fixas. O espaço geográfico é
organizado pelo homem vivendo em sociedade e, cada sociedade, historicamente,
produz seu espaço como lugar de sua própria reprodução.
Desta forma, estudar o bairro é estudar a relação estabelecida pela
comunidade com o meio.
Para Ana Fani Alessandri Carlos (2011, p. 69):
[...] a reprodução continuada do espaço se realiza enquanto aspecto
fundamental da reprodução ininterrupta da vida. Esse processo entre sociedade e
natureza segunda implica o entendimento de várias relações: sociais, políticas,
20
ideológicas, jurídicas, culturais etc., compondo os níveis da realidade e dominando
um modo de produzir, pensar e existir, e, por extensão, também, um modo de vida.
Assim, pesquisar sobre o bairro é pesquisar a história dos sujeitos que se
relacionam com esse lugar, as relações que esses sujeitos produzem entre si e ao
mesmo tempo com suas dinâmicas próprias de suas vidas.
Logo, se o espaço é produto das relações sociais estabelecidas com o meio
em que vivem, como uma instituição de ensino local pode participar desse
processo?
A perspectiva histórico-cultural, criada por Lev Vygotsky, pode contribuir no
sentido de nos ajudar a compreender os diferentes fatores que envolvem o
desenvolvimento do individuo. De acordo com o modelo histórico-cultural, os traços
de cada ser humano estão intimamente relacionados
ao
aprendizado,
à
apropriação do legado do seu grupo cultural. O comportamento e a capacidade
cognitiva de um determinado indivíduo dependerão de suas experiências, de sua
história educativa, que, por sua vez, sempre terão relações com as características
do grupo social e da época em que ele se insere (REGO, 2002, p. 50).
Assim, a escola, como um espaço de vivência importante na vida da criança e
do adolescente, possui um papel significativo no processo de aprendizagem e de
formação dos sujeitos que constituem a história do bairro. Além disso, qual a
importância da memória do bairro e da escola para os estudantes, que são sujeitos
do lugar onde moram?
Os bairros urbanos, conceituados pelos urbanistas como uma área
de características físicas e sócioeconômicas bem definidas e sendo
assim lugares, não são percebidos dessa maneira pela população
que lá reside. Já rua onde moram, é parte da experiência íntima de
cada um. O sentimento que se tem pela esquina da rua local não se
expande automaticamente com o passar do tempo até atingir o
bairro.
(TUAN, Yi-Fu. 1983, p.11)
21
A compreensão do conceito de lugar é uma possibilidade para se interpretar a
importância da cada espaço a partir da importância que ele tem para aqueles que se
relacionam com o próprio espaço, assim, não há uma definição genérica que possa
compreender o significado de um lugar, mas significações a partir das diferentes
relações estabelecidas.
Para Vygotsky (2001, p. 70), “Na educação [...] não existe nada de passivo, de
inativo. Até as coisas mortas, quando se incorporam ao círculo da educação,
quando se lhes atribui papel educativo, adquirem caráter ativo e se tornam
participantes ativos desse processo”.
O espaço, considerado como um mosaico de elementos de
diferentes eras, sintetiza, de um lado a evolução da sociedade e
explica, de outro lado, situações que se apresentam na atualidade.
(...) a noção de espaço é assim inseparável da ideia de sistemas de
tempo.
(SANTOS, 1985, pp. 21-22)
Assim, a criação do Memorial na EMEF Solano Trindade em 2010 pode ter sido
um passo no sentido de ressignificar a história da escola, do bairro, de seu patrono
para toda comunidade local e escolar. Mas de que forma o Memorial pode ter
contribuído, ou poderá contribuir, para a transformação da escola, de sua relação
com a comunidade e o bairro?
A memória só conta realmente para os indivíduos, as coletividades, as
civilizações, se mantiver junto a marca do passado e o projeto do futuro, se permitir
fazer sem esquecer aquilo que se pretende fazer, tornar-se sem deixar de ser, ser
sem deixar de tornar-se (LEFEBVRE, 2006, p. 19).
Em um momento em que se discute o papel da escola pública na sociedade
brasileira a partir da constatação de uma crise, em que se percebe um
distanciamento dos estudantes em relação à escola, a resposta para tais perguntas
podem ajudar na compreensão dos desafios colocados para a educação no século
XXI. Assim, tal pesquisa tem o objetivo de contribuir para o desenvolvimento social e
humano da comunidade local e escolar, que mora em um lugar onde são sujeitos
ativos de sua transformação.
22
4.1 Métodos
O trabalho desenvolvido tem como método básico a pesquisa qualitativa e
como procedimentos para a realização do mesmo: observação participante,
entrevistas e análise documental.
Na pesquisa qualitativa ou naturalística, o ambiente natural é sua fonte direta
de dados e o pesquisador é o seu principal instrumento, os dados coletados são
predominantemente descritivos, a preocupação com o processo é maior do
que o produto, o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos
de atenção especial do pesquisador e a análise dos dados tende a seguir um
processo indutivo (LUDKE E ANDRÉ, 1986).
A observação participante é combinada simultaneamente à análise documental
e à entrevista. Trata-se de um tipo de estratégia que pressupõe um grande
envolvimento do pesquisador na situação estudada.
A análise documental busca identificar informações factuais nos documentos a
partir de questões ou hipóteses de interesse. O Memorial já possui um grande
acervo de documentos a serem analisados, assim como é possível pesquisar
documentos em órgãos públicos, jornais, revistas sobre o bairro e a escola,
associações de bairro, etc.
Já uma das grandes vantagens da entrevista é que se estabelece uma
interação entre pesquisador e pesquisado, ao contrário de outros métodos, como a
observação unidirecional, por exemplo, onde se estabelece uma relação hierárquica
entre ambos.
5.
Cronograma das atividades (Período: 01/10/2015 a 30/09/2016)
5.1 Atividades realizadas até o momento
Outubro, Novembro e Dezembro de 2015
23
Nas atividades do projeto de pesquisa do primeiro trimestre do projeto
(Outubro, Novembro e Dezembro de 2015) foi feito o trabalho de reorganização do
Memorial Solano Trindade, uma vez que o mesmo passou por uma reforma. Foram
feitas diversas visitas ao espaço para a continuidade da organização do mesmo.
Foram feitas diversas reuniões para organização e escrita de um livro com
diversos artigos escritos pelos professores da EMEF Solano Trindade, pela Profa.
Elizabeth Braga, pelo bolsista atual (por mim) e ex-bolsistas. Esse livro abordará em
seus diferentes artigos e a partir de diferentes ângulos os trabalhos realizados pelos
professores em associação com o Memorial Solano Trindade nos últimos anos
desde a inauguração do próprio Memorial. O livro relatará a história recente da
escola e os impactos dos projetos desenvolvidos desde o início das atividades do
Memorial Solano Trindade. Participo de forma mais direta na escrita de um artigo
sobre a história do patrono, o poeta e ator Solano Trindade, e a sua importância na
história da escola e da comunidade, assim como e quando mudou a relação da
escola com o seu patrono.
Após a reforma do Memorial foi feito um trabalho de preparação e organização
da exposição em comemoração aos 35 anos da EMEF Solano Trindade. Essa
exposição foi preparada a partir da coleta de depoimentos de professores ativos e
aposentados, funcionários ativos e aposentados, alunos e ex-alunos, funcionários da
coordenação e da direção, assim como aposentados da escola. A comemoração dos
35 anos da escola contou ainda com a apresentação da peça de teatro “Se tem
gente com fome, daí de comer” uma homenagem a Solano Trindade, encenada
pelos grupos “Ô de casa” e “Casillêoca”, tendo como participação o filho do Solano
Trindade, o ator Liberto Trindade.
Janeiro, Fevereiro e Março de 2016
No segundo trimestre (Janeiro, Fevereiro e Março/2016) foi realizado o estudo
de obras que possam contribuir na realização do projeto e na compreensão do
problema proposto na elaboração do projeto de iniciação científica, a partir do
estudo do bairro Jardim Boa Vista e da participação da escola na transformação do
mesmo.
24
Foi dada continuidade às reuniões de escrita do livro em conjunto com os
professores sobre a escola.
Foi dada continuidade à reorganização do espaço do Solano Trindade.
Foi feito o registro de atividades escolares, tais como o “Dia de combate à
dengue”, quando ocorreu uma passeata dos alunos e professores pela comunidade
com o objetivo de alertar para a prevenção dos riscos para a proliferação do
mosquito Aedes Aegypti e das doenças transmitidas pelo mesmo. Após esta
atividade, foi realizada uma exposição no Memorial Solano Trindade com o objetivo
de divulgar as atividades realizadas pelos alunos no “Dia de combate à dengue” e
também divulgar os vídeos de TCC’s (Trabalhos de Conclusão de Curso) realizados
pelos alunos que se formaram no Ensino Fundamental em 2015.
Desde o ano passado também tenho participado das reuniões mensais da
Rede Boa Vista, que é uma organização formada por membros de diferentes
entidades provenientes dos bairros nos arredores da rodovia Raposo Tavares, no
qual faz parte o Bairro Jardim Boa Vista. Entre as entidades estão escolas públicas e
uma privada, a Unidade Básica de Saúde do Jardim Boa Vista, associações culturais
como o grupo “Vielada Cultural”, organizações não governamentais que realizam
projetos na região, além da participação eventual de órgãos públicos como o
conselho tutelar. A Rede Boa Vista visa avaliar os problemas vividos pelas
comunidades
representadas pelas entidades
e
discutir
projetos
a
serem
implementados de forma conjunta tais como atividades culturais, esportivas,
educativas, de saúde pública, etc. Participo da Rede Boa Vista representando o
Memorial Solano Trindade e procuro propor e apoiar ações que visem uma
potencialização das atividades das entidades no sentido de contribuir para os
moradores dos bairros e estudantes se apropriarem dos espaços públicos de
diferentes formas, contribuindo assim também para o desenvolvimento das diversas
potencialidades da comunidade.
Além dessas atividades foi realizado o trabalho de coleta de dados e
organização deste relatório parcial de pesquisa.
25
5.2 Cronograma das próximas atividades
Abril, Maio e Junho de 2016
No terceiro trimestre (Abril, Maio e Junho/2016), o trabalho com a
reorganização
do
memorial
continuará
acontecendo
a
partir
de
projetos
desenvolvidos pelos professores em conjunto com os alunos e o bolsista do projeto.
Será dada continuidade à leitura de bibliografia, à pesquisa de documentos de
órgãos do governo, à continuidade da escrita do livro. Além disso, serão analisadas
entrevistas já realizadas e materiais coletados no bairro e na escola. Também serão
realizadas novas entrevistas com membros do bairro e integrantes da Rede Boa
Vista e representantes das diversas entidades.
Julho, Agosto e Setembro de 2016
No último trimestre, os relatos, entrevistas e documentos continuarão a ser
interpretados; a organização do memorial continuará a ser realizada; e haverá uma
reflexão teórica para que seja possível a elaboração do relatório final no último mês.
Além dessas atividades haverá o engajamento na organização de exposições
no Memorial Solano Trindade que ocorrem ao longo do ano em conjunto com os
professores, coordenação e direção da escola.
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escola e no bairro. Trabalho de Iniciação Científica, Faculdade de Educação,
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Científica, Faculdade de Educação, USP, 2010.
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