Gravado Professores Piracicaba

Transcrição

Gravado Professores Piracicaba
GRAVADO
GRAVADO
Capa e contracapa: detalhe de xilogravura de Maria Bonomi
Apresentação: visitas mediadas no Sesc e a preparação de
estudantes para imersões em processos culturais
Sumário
Apresentação: visitas mediadas no Sesc e a
preparação de estudantes para imersões em
processos culturais p.5
O dia da visita: orientações gerais p.6
GRAVADO - a exposição p.9
Apresentação do material educativo p.13
O que aprendemos com as gravuras dos artistas?
O que os artistas gravadores nos ensinam? p.14
Vocabulário Gravado p.16
Proposições
A Gravura de Maria Bonomi p.20
A paisagem lírica de Renina Katz p.26
A arte conceitual de Paulo Bruscky p.30
Para saber mais: sites de referência p.34
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O Sesc Piracicaba
Inaugurado em novembro de 1979, o Sesc Piracicaba segue a proposta de
cumprir a missão do Sesc – Serviço Social do Comércio, de promoção da
prática de atividades culturais, educativas, esportivas, de lazer e convivência.
O espaço, projetado pelo arquiteto Botin Rubim, conta com uma área
construída de 6 mil m², distribuídos em quatro pavimentos no edifício
sede, além do ginásio de esportes, que abrigam: teatro, comedoria,
espaços destinados à prática de atividades físicas e recreação, consultórios
odontológicos, sala de internet e oficinas, sala de leitura, piscinas, quadra
externa e espaços para exposições.
Desde o início de suas atividades, uma rica programação tem sido elaborada,
com exposições, teatro, dança, música, circo e uma série de atividades de
formação cultural. Para mais informações sobre os espaços e funcionamento
da unidade Sesc Piracicaba e outras unidades do Sesc acesse:
www.sescsp.org.br.
Visitas mediadas em exposições
A cada nova exposição são implementados projetos pedagógicos de mediação
cultural, contemplando os públicos diversos e, em especial, as escolas que
visitam a unidade. Com a exposição Genesis – fotografias de Sebastião
Salgado, a proposta pedagógica se amplia, seguindo em direção a um maior
contato prévio do Sesc Piracicaba com os professores e escolas. Para isso,
um funcionário entra em contato com cada escola agendada para realizar
uma primeira mediação da exposição, enquanto reúne informações mais
detalhadas sobre os estudantes e seu contexto escolar.
Para ampliar as possibilidades de trabalho do professor em sala de aula a
partir de elementos da exposição, é preparado um material de apoio, com
orientações básicas acerca da visita à exposição e também informações
e sugestões de abordagens educativas em torno de temas relacionados às
fotografias em exibição. Com estas ações, o Sesc Piracicaba pretende se
aproximar ainda mais de seus públicos escolares e ampliar as possibilidades
de reflexão e participação cultural dos estudantes.
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O dia da visita: orientações gerais
Para garantir que a visita ao Sesc Piracicaba aconteça de forma planejada,
confortável e proveitosa, reunimos algumas orientações abaixo:
Agendamento e cancelamentos de visitas educativas
• Para visitas educativas é necessário realizar o agendamento pelo email
[email protected] ou pelo telefone (19) 3437-9249,
preferencialmente pelo professor que acompanhará o grupo visitante, de
terça a sexta, das 13h15 às 21h30.
• Participantes por grupo: cada grupo agendado deve ter até 40 estudantes.
• Confirmação de agendamento: a confirmação do agendamento será feita
por e-mail juntamente com o envio de um formulário a ser preenchido. No
dia da visita, o responsável pelo grupo deverá apresentar o formulário e o
e-mail de confirmação de agendamento impressos.
• Cancelamento: caso houver qualquer impossibilidade de realização da visita
por parte da escola, por favor informar à unidade Sesc Piracicaba pelo e-mail:
[email protected] ou pelo telefone (19) 3437-9249, com
antecedência de dois dias úteis.
• Importante: as visitas são gratuitas.
• Acessibilidade e inclusão: solicitamos que seja informada no e‑mail de
agendamento a existência de pessoas com deficiências no grupo.
Informações importantes
• Os horários agendados devem ser rigorosamente respeitados, portanto
sugerimos que o grupo programe sua chegada com antecedência mínima de
15 a 30 minutos em relação ao horário marcado.
• O atraso do grupo acarretará diminuição do tempo da visita.
• O Sesc Piracicaba funciona de terça a domingo. Está fechado às segundas.
Chegada, desembarque e embarque
• O Sesc não dispõe de estacionamento para ônibus.
• O embarque e desembarque dos visitantes é realizado na Rua Ipiranga, 155.
• O Sesc não dispõe de guarda-volumes, portanto as mochilas e outros
pertences devem ficar no ônibus.
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Identificação dos estudantes, mapeamento de necessidades
• Se possível, sugerimos que os estudantes estejam identificados com crachás
em tamanho legível, para que no contato com os mediadores possam ser
chamados pelos seus nomes. Dentre opções mais simples, etiquetas podem
ser o suficiente para uma boa identificação.
• Para estudantes menores de 10 anos é importante que o crachá tenha
também um telefone de contato e o nome da escola.
• É muito importante verificar quais necessidades básicas precisam ser
supridas antes do início da visita, como fome, sede, frio, uso de sanitários,
entre outros.
Durante a visita
• Professor acompanhante: cada grupo de vinte estudantes deverá ser
acompanhado por pelo menos um professor, que será responsável pelo
grupo e deverá permanecer com ele durante toda a visita ao Sesc.
• Regras de convivência durante a visita: lembrar ao grupo, com antecedência,
que por se tratar de um espaço aberto ao público, a exposição terá outros
visitantes. Por isso, é importante não correr, não falar alto nem se afastar
do grupo.
• Regras de conservação das obras: para a segurança e conservação das obras,
não é permitido tocar nos objetos expostos ou consumir alimentos e bebidas
durante a visita.
• Atividades mediadas: durante a visita mediada, o grupo receberá orientações
e participará de atividades propostas pelos mediadores do Sesc.
Encontros de formação
• Sugerimos a participação dos professores no encontro de formação, que
pode ser consultado no portal www.sescsp.org.br ou http://bit.ly.
• Informamos que as visitas mediadas para público espontâneo acontecem
diariamente durante o horário de funcionamento da exposição.
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GRAVADO - a exposição
O surgimento da gravura está ligado ao nascimento da história, pois deu
permanência à presença humana. Gravar é um ato humano primordial além de ações básicas para a garantia de sobrevivência, como correr, pular e
escalar, desenvolvemos hábitos que são, sobretudo simbólicos, como o ato
de deixar marcas nos locais onde habitamos.
Há milênios, desenhos, símbolos, palavras e números são gravados sobre as
matérias mais diversas. Há séculos, aprendeu-se a estampar essas gravuras,
permitindo a reprodutibilidade da imagem. A gravura é cúmplice da civilização.
Mas isso não impediu que ela tivesse um estatuto de inferioridade em relação
a outras linguagens plásticas, como a pintura e a escultura. Entre os séculos
XV e XVIII, a gravura era menos uma forma de expressão autônoma, e mais
um meio de multiplicar a imagem da pintura; ou suporte com destinações
cartográficas e científicas. Entretanto, artistas modernos, nos séculos XIX
e XX, compreenderam o potencial da gravura, em suas variadas técnicas, –
xilogravura, gravura em metal, litografia, entre outras – como plataformas
para a expressão artística. A maior facilidade de acesso a matérias primas,
associada à possibilidade de exploração da madeira, do metal e das técnicas
gráficas, conferiu certo caráter democrático à gravura, atraindo artistas de
todas as vocações.
No Brasil, a gravura é vigorosa. A partir do século XX, ela esteve
relacionada a todas as dinâmicas importantes da arte no país. O potencial
plástico, o potencial poético e o potencial político dessa linguagem foram
profundamente ativados, e a presente exposição é um testemunho disso.
Obras em diversas técnicas de gravura foram reunidas, a partir do Acervo
Sesc de Arte Brasileira, bem como experimentações diretamente inspiradas
pela ideia de gravura.
Neste recorte curatorial, trabalhos realizados a partir da década de
1970 tensionam a gravura de modos variados, salientando como a arte
contemporânea brasileira problematizou as articulações entre forma e
conteúdo. Trata-se de um convite para um diálogo visual, a ser feito entre
espectador e imagem. O Sesc tem a convicção de que, em tais diálogos,
vocações educativas podem se atualizar.
Sesc São Paulo
Hudinilson Jr. Intra-Narciso, 2004(125 x 75 cm. Xerox
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Athos BulcãO. Preto e Branco,(1971) 1999,(70 x 90 cm) Serigrafia
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Apresentação do Material Educativo
Olá professor,
Este é o material educativo da exposição GRAVADO feito especialmente
para você e seus alunos.
Este material traz textos e informações sobre as diversos processos de
gravura e as transformações que esta linguagem sofreu ao longo do tempo.
Traz também alguns tópicos que abarcam informações e temas que podem
ser trabalhados em sala de aula a partir do estudo e da investigação do
contexto e de questões propulsoras das obras de alguns artistas da exposição.
Você vai encontrar ideias de ateliê que podem ser realizadas no ambiente
escolar, permitindo aos alunos uma vivência de práticas e poéticas que
potencializem a experiência frente às obras, intensificando assim o contato
com elas.
Completam o material o Vocabulário Gravado, com alguns termos e verbetes
sobre o universo da gravura, que pode ser útil para você e seus alunos.
Mas, lembre-se, assim como os artistas, os professores são investigadores
e inventores. A partir da escuta atenta de seus alunos e suas questões e da
elaboração de processos e metodologias que criem sentido para eles, você
pode construir nesta parceria um universo de sensibilidade e significação.
Por isso, esperamos que você utilize esse material não como um guia, mas sim
como uma ignição de ideias e um estopim de novas possibilidades criadoras.
Geórgia Kyriakakis. Mesmas e Outras nº3,2003 (207x153 cm) Gravura em metal
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O que aprendemos com as gravuras dos artistas?
O que os artistas gravadores nos ensinam?
Estamos diante de um importante recorte da produção gráfica moderna e
contemporânea do Brasil.
GRAVADO nos apresenta artistas de diversas gerações que, utilizando-se
de técnicas de impressão nos mostram suas poéticas, incômodos e invenções
em iconografias, estampas, cultura de cordel e construções imagéticas.
A utilização da gravura ampliou as possibilidades de circulação da arte, pois
tornou possível que uma mesma imagem pudesse ser copiada diversas vezes,
chegando a um maior número de pessoas.
O artista gravador trabalha numa matriz, que conterá o desenho original
criado geralmente por meio de incisões, talhos e corrosões. Esse processo
é realizado com instrumentos e materiais específicos. Uma vez preparada,
a matriz dará origem a várias impressões, como um carimbo. As matrizes
podem ser feitas na madeira (xilogravura), pedra (litogravura), metal (gravura
em metal ou calcogravura) e outras superfícies.
Em todo o mundo e em várias épocas, a gravura é uma linguagem que
encantou e encanta os artistas.
e trazendo elementos da vida para a arte, como imagens de latas de sopa,
garrafas de Coca-Cola e caixas de sabão em pó. Por meio da seriação, Warhol
também banalizava cenas extraídas da mídia, como fatos trágicos e imagens
de celebridades.
No Brasil, artistas como Osvaldo Goeldi (1895-1961) e Lívio Abramo (19031993) se diferenciaram pela singularidade de suas investigações. A obra desses
artistas é referência para muitos dos gravadores presentes nesta exposição.
Os materiais e as possibilidades técnicas empregadas (*) são, para os
artistas, ferramentas importantes na criação de uma linguagem própria, cuja
manifestação pode nos ensinar sobre seu universo poético e suas escolhas.
As cores podem ser vibrantes ou não, os contrastes entre materiais
podem aparecer por meio de diferentes camadas. Tomamos contato
com paisagens, corpos, abstrações, signos ou cenas do cotidiano, que
traduzem a visão de mundo desses artistas. Isso nos ensina sobre o
contexto e a poética de suas obras.
Na arte contemporânea, a gravura busca novas possibilidades de
desenvolvimento, expandindo seus conceitos, ultrapassando seus limites
e misturando-se a outras linguagens. Assim o artista, sempre inventor,
amplia cada vez mais o potencial transformador da gravura, cuja origem se
perde no tempo, aproximando-a da atualidade e propiciando novas formas
de se perceber o mundo.
O alemão Albert Dürer (1472-1528), revelou em suas gravuras a busca de
uma beleza idealizada, com equilíbrio e harmonia.
O holandês Rembrandt van Rijn (1606-1669), por exemplo, destacou-se
como um inigualável gravador, explorando os claros e escuros que a gravura
em metal permite. Outro holandês, Maurits Escher (1898-1972), criou seus
mundos ficcionais, de perspectivas improváveis, por meio de diferentes tipos
de gravura. Exemplo mais recente é a série de serigrafias do americano
Andy Warhol (1928-1987), o pai da pop art, que abandona os pincéis e utiliza
a reprodução das imagens para criticar direta e ironicamente o mundo
do consumo e da produção em massa, evidenciando o sonho Americano
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* Em função das técnicas e dos materiais empregados, o processo de gravação possui um
vocabulário específico, que pode ser explorado neste encarte.
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(Vocabulário Gravado)
GR AVUR A EM RELEVO
Xilogravura
A xilogravura utiliza como matriz a
madeira entalhada, semelhante a um
carimbo. Também pode ser chamada
de “gravura em relevo”, pois a imagem
se forma a partir do entalhe na madeira
feito por instrumentos, chamados
de goivas. Depois disso, aplica-se
tinta na matriz que recebe o papel e,
posteriormente, o papel é prensado
transferindo a imagem da matriz. Como
os sulcos da matriz não recebem tinta, a
imagem formada é chamada de negativa,
ou seja, o que se retira da chapa de
madeira torna-se a parte “clara” ou com
ausência de tinta da imagem. Existem
dois tipos de xilogravura, dependendo
da forma como a madeira é cortada. A
xilogravura de fibra é a mais comum e
refere-se a chapas cortadas no sentido
vertical do tronco, ou seja, no sentido
da fibra da madeira. Já na xilogravura
de topo a madeira é cortada no sentido
horizontal, contrário à fibra.
neste método, o
desenho é feito de maneira direta com
instrumento pontiagudo, chamado
ponta-seca, com o qual são feitos sulcos
na placa, deixando rebarbas nas bordas
da incisão. Ao entintar-se a placa, essas
rebarbas retém a tinta que será impressa
no papel com um aspecto aveludado.
Serigrafia
Buril: processo direto, próximo ao de
Serigrafia ou silk-screen é um processo de
impressão no qual a tinta é vazada através
de uma tela preparada, utilizando-se para
isso a pressão de um rodo ou puxador
de tinta. A tela (matriz serigráfica),
normalmente feita de poliéster ou nylon,
é esticada em um bastidor (quadro) de
madeira, alumínio ou aço. A fixação da
imagem na tela se dá por um processo de
fotossensibilidade.
CALCOGR AVUR A
Gravura em metal
Processo de gravura feito numa matriz de
metal, geralmente o cobre. Essa técnica
se dá através de processos variados. No
mais antigo deles, a gravura a buril ou
talho-doce, a gravação é feita diretamente
no metal com um instrumento de
aço chamado buril. Outras técnicas
conhecidas para a gravação do metal são
GR AV U R A PL A NO GR Á FIC A
Litografia
água-forte e água-tinta, que utilizam
ácidos (mordentes), a ponta-seca, de
entalhe direto, a maneira negra e o
verniz mole.
É executada sobre pedra calcária. No
processo, a pedra é limpa com solvente
e, após o seu desengorduramento,
ela é granida, em geral com areia, na
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Ponta-seca:
construção dos grãos da superfície. O
desenho é feito sobre a pedra com lápis
litográfico ou tinta oleosa, baseando-se
o procedimento no fenômeno químico
da repulsão das substâncias gordurosas e
da água. Na impressão, a tinta não adere
às partes que absorveram a umidade e
que funcionam como fundo.
em um ácido que irá atacar as partes
descobertas, criando sulcos nos quais a
tinta será depositada.
Água-tinta: maneira indireta,
assim como a água-forte, consiste no
borrifamento de resina em pó sobre a
placa. A placa é então aquecida para que
os grãos da resina adiram. A característica
da água-tinta está diretamente ligada às
dimensões e ao espaçamento dos grãos.
ponta-seca, com a diferença que o buril
que não cria rebarbas e sim uma linha
nítida na impressão.
Maneira
FOTOGRAVURA
É a junção de dois meios de reprodução,
a gravura e a fotografia, utilizando
água-tinta para a gravação de imagens
fotográficas. Nesse método, um
negativo é projetado sobre uma placa de
impressão metálica revestida de material
fotossensível. A reação desse material à
luz faz com que as áreas correspondentes
ao negativo sejam dissolvidas na
lavagem, deixando a superfície do metal
livre para o ataque de um ácido, que cria
os sulcos onde a tinta será depositada e
transmitida à gravura.
negra: consiste em
trabalhar a chapa com um instrumento
conhecido como berceau, formando uma
superfície áspera e reticulada capaz de
reter a tinta de impressão e resultar
numa cópia inteiramente negra. Depois
a chapa é trabalhada com o brunidor e o
raspador, que vão rebaixar essa textura
com maior ou menor intensidade,
obtendo assim, as nuances de luz
contrastando com o negro profundo e
aveludado. Trata-se de uma gravação
muito delicada que não permite uma
grande tiragem.
MONOTIPIA
Água-forte: na sua elaboração,
Forma de impressão que resuta em uma
única cópia, já que a matriz não permite
a tiragem de outra cópia idêntica. Em
geral, é produzida pela pressão manual
de desenho ou pintura em um papel
colocado sobre uma superfície entintada,
que pode ser de plástico, metal, vidro,
acrílico, etc…
a matriz é recoberta com um verniz
isolante; logo depois são realizados
cortes com o buril ou outro instrumento
que apresente uma extremidade
metálica,
configurando-se
dessa
forma a imagem desejada. Protegemse com betume o verso e as margens
da placa, mergulhando-a, em seguida,
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Por que a gravura geralmente tem uma numeração?
Na gravura tradicional a numeração é feita por uma fração, onde o numerador
indica o número daquele exemplar e o denominador a tiragem, ou seja, a
quantidade de cópias a partir da matriz. Se esta numeração estiver escrita
em algarismos romanos, significa que esta é um tiragem especial, em papel
diferente, por exemplo.
Se o número escrito na gravura for 3/100, significa que esta é a gravura
número 3 de uma quantidade de 100 cópias iguais a ela.
Existem outros elementos que podem aparecer escritos em uma gravura:
P.A. (prova de artista) - cópias destinadas ao artista, geralmente 6 a 10% da
tiragem.
P.C. (prova de cor) - orienta a aplicação de cor e modificações que precisam
ser feitas antes de iniciar a tiragem.
P.E. (prova de estado) - provas anteriores à impressão que indicam o
desenvolvimento da impressão da matriz.
Antonio Henrique Amaral. Bananas, 1971(35 x 45 cm) Xilogravura
B.P.I (bom para imprimir) - uma autorização do artista para a impressão
.
P.I. (prova do impressor) - destinada ao impressor
.
H.C. (hors comerce) - uma denominação francesa que significa gravuras fora
de comércio.
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A Gravura de Maria Bonomi
Numa xilogravura tudo que é branco representa a parte em que a matriz de
madeira foi cavada.
Observando a obra ao lado, temos a sensação de uma forma em movimento,
causada pela maneira com que a artista constrói essa imagem. Podemos
perceber diferentes direções, superfícies e linhas que estruturam essa
xilogravura.
A artista Maria Bonomi (Meina, 1935) nos diz, sobre o processo de
xilogravura, que “a gravura nasce dentro da madeira e não sobre o papel”.
Comparando sua produção a um estilo musical ela considera seu trabalho
mais próximo de uma ópera.
Bonomi foi precursora na mudança da dimensão física da obra: um formato
maior, uma composição com mais brancos, contrastes e diferentes ritmos.
Se pensarmos no título da obra “Balada do Terror” e no período
em que foi feita (época da ditadura militar), o que nos mostra esta
composição?
O que nos dizem suas cores e formas?
Mari a B on omi
Balada do Terror, 1973
(239 X 97 cm)
xilogravura
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Na década de 90, o poeta Haroldo de Campos (Sao Paulo, 1929-2003)
presenteou Maria Bonomi com o poema O Elogio da Xilo. A partir dele,
Maria Bonomi realizou novas gravuras e o processo de criação em seu ateliê
foi registrado e transformado em um vídeo experimental.
Esse processo pode ser disparador de questões como a interdisciplinaridade
das artes, pois ele inclui diferentes manifestações: poesia, gravura, música,
vídeo arte e interpretação.
A gravura inspirou a poesia que por sua vez inspirou a criação de mais
gravuras. Esse processo de criação se desdobrou em um video chamado Xilo
VT &/OU, que foi gravado em 1994 no atelier de Maria Bonomi em São
Paulo tendo como base sonora o poema de Haroldo de Campos nas vozes
do próprio poeta, da atriz Beth Coelho e do músico e artista visual Arnaldo
Antunes.
Para assistir ao vídeo, acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=THeVQdId-kI
O Elogio da Xilo
a xilo
o isso
da xilo
o aquilo
a eira
a beira
da madeira
a xilo
a arte da
xilo
a feira
o cordel
a bandeira
o corte
a parte da
madeira
o ferro
o norte
o recorte
do ferro
na madeira
a xilo
o elo
da xilo
o vermelho
o ocre
o amarelo
da xilo
a doce
curva do
ferro
a arte chim
da xilo
a vez do
chinês na
xilo
a via do
índio
a voz do
afro
na xilo
a xilo
o solo
da xilo
o fácil-difícil
da xilo
o demo
o pavão
o lampião
a vênus
da xilo
o cristo
da xilo
o isto
a arte
a matéria
a medida
a mestria
a madeira
da xilo
o aquilo
o doce
morder do
ferro
na eira
o aço
na beira
no belo
da madeira
22
23
o osso
o dado
o dedo
o índio
o afro
o chim
o não
o sim
o sem-fim
da xilo
o belo
solo de celo
da xilo
a bela
viola canora
da xilo
a xilo
Você pode assistir ao vídeo com os alunos e numa roda de conversas levantar
algumas questões:
•
•
•
•
•
•
•
Que possíveis perguntas o filme lhes desperta?
Qual das três narrações mais os impressiona?
Quantas manifestações de arte eles identificam?
Como eles percebem o gestual do processo de gravação na madeira?
Quantos instrumentos diferentes a artista utiliza?
Parece difícil fazer uma xilogragura?
O poeta compara o processo da xilo ao som do cello e da viola. Pergunte
aos alunos que sons de outros instrumentos musicais lhes sugerem os
gestos e/ou as imagens?
Você pode colocar os papeis impressos para secarem em um varal feito
com o barbante e os pregadores, permitindo assim que os trabalhos fiquem
expostos.
Seria interessante que os alunos inventassem várias impressões, explorando
a repetição e/ou a justaposição com cores diferentes.
Para finalizar, seria importante incentivá-los a observarem os trabalhos
realizados e discutir vários conceitos como: abstração e figuração, as diversas
linhas e traços obtidos com os diferentes instrumentos de desenho; avaliando
as imagens construídas. Pode ser proposta aos alunos uma curadoria dos
trabalhos, agrupando-os por estilo.
Que tal utilizar bandejas de isopor como matrizes para experimentar o
processo da xilogravura?
Materiais Necessários:
• Bandejas de isopor recicladas
• Tinta guache preta e outras cores
• Rolinhos de espuma
• Palitos, canetas ou lápis
• Diferentes tipos e cores de papeis
• Rolo de barbante e pregadores
Procedimentos:
• Retire as bordas das bandejas de isopor para que elas fiquem
completamente planas.
• Com a ponta escolhida (palitos, canetas ou lapis) peça para que os
alunos desenhem sobre a matriz de isopor, criando sulcos na superfície.
Este desenho pode ser figurativo ou abstrato. É possível criar texturas,
pontinhos com furos e até mesmo escrever, sempre lembrando que tudo
o que for feito na matriz, sairá invertido no papel.
• Entinte as matrizes com os rolinhos de espuma, usando a tinta guache.
• Imprima a matriz pressionando-a sobre o papel.
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A paisagem lírica de Renina Katz
Após dedicar-se muitos anos à pintura de retratos e paisagens e a gravuras
realistas de cunho político e social, a obra de Renina Katz (Rio de Janeiro,
1925) adquire a partir da década de 1950 um caráter não figurativo.
Na década de 1970, utilizando a litografia (gravura em pedra), cria por meio
de transparências, sugestões de paisagens.
A artista evidencia suas memórias, nos mostrando lugares líricos e poéticos.
O que é paisagem para você?
Como seria sua paisagem interior?
RENINA KAT Z
Paisagem, 1979
(90 x 70 cm)
Litografia
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Existem muitas paisagens que nos habitam: as paisagens da nossa memória,
aquelas que não queremos esquecer, as que observamos no nosso dia a dia,
aquelas com as quais sonhamos ou construímos nas nossas esperanças.
Você pode lançar perguntas para seus alunos:
Para finalizar, você pode montar um varal com o barbante e pendurar as
gravuras, de forma que possam secar e serem vistas por todos.
Uma conversa com os alunos sobre o processo de criação e os resultados
obtidos, pode ser uma boa maneira de socializarem as ideias e perceberem
os diferentes tipos de paisagens criadas.
• Que lugares ocupamos no nosso cotidiano?
• Quais são nossos caminhos da memória, nossos territórios de afeto?
• Qual é a paisagem da sua memória?
• É possível criar um desenho com esses caminhos?
Você pode sugerir que os alunos façam desenhos, esboços, criando uma
paisagem que pode ser lírica como esta de Renina Katz ou fruto da observação
dos espaços da escola.
A proposição pode se estender para o campo gráfico através de monotipias.
Que tal experimentar a monotipia, uma técnica gráfica que permite reproduzir
um desenho uma única vez?
Materiais Necessários:
• Placa de acrílico, vidro, ou fórmica
• Tinta guache preta e outras cores
• Folhas de papel de diferentes gramaturas
• Palitos e cotonetes
• Rolinhos de espuma
• Rolo de barbante e pregadores.
Procedimentos:
• O primeiro passo é entintar com as cores desejadas a placa de vidro,
acrílico ou fórmica com o auxílio do rolinho de espuma.
• Desenhe sobre ela com o palito, cotonete ou os dedos.
• Quando terminar o desenho, coloque o papel sobre a superfície com
tinta.
• Deslize a palma da mão sobre o papel uniformemente, fazendo com que
a tinta transfira para o papel.
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A arte conceitual de Paulo Bruscky
Desbravador na utilização de mídias contemporâneas no Brasil, como a arte
postal, audioarte, videoarte e xerografia, Paulo Bruscky (Recife, 1949) é um
dos principais artistas conceituais* na arte brasileira.
As questões de original e cópia, muito presentes na arte contemporânea,
também são constantes em seus trabalhos.
A série Ferrogravura é resultado de uma performance feita pelo artista
utilizando um ferro de engomar.
Com quantos meios se pode fazer arte?
Por que essa obra pode ser considerada uma gravura?
* Para saber mais sobre arte conceitual acesse o link:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3187/arte-conceitual
Paulo Br us ck y
Ferrogravura, 1974
(43 x 33 cm)
Ferro de engomar sobre papel
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Na década de 1960 Paulo Bruscky iniciou sua pesquisa no campo da arte
conceitual e a partir de 1973 atuou no Movimento Internacional de Arte
Postal, sendo um dos pioneiros no Brasil nessa arte.
Para a ação Ferrogravura, apresentada por Bruscky no II Salão Global de
Pernambuco em 1975, “gravuras” foram criadas usando um ferro de passar
sobre folhas de papel oferecidas ao público, devidamente assinadas, até que
o ferro quente as queimasse. Estas ferrogravuras também foram enviadas
como obras de arte postal.
Você pode lançar as questões:
•
•
•
•
O que desperta em vocês a série Ferrogravura de Paulo Bruscky?
Por que ela é considerada gravura?
Que elementos ela possui que a aproxima da gravura tradicional e que
elementos a afasta dessa linguagem?
Como podemos fazer gavuras alternativas?
Paulo Bruscky inventa a partir dessa série uma nova gravura, extrapolando
suas tradições e alargando seus limites.
Que tal experimentar com os alunos processos alternativos de gravura?
Assim como o artista usa a superfície de um ferro de engomar para imprimir
suas “gravuras”, podemos pedir aos alunos uma pesquisa de superficies
inusitadas que possam ser entintadas e gravadas: objetos tridimensionais, mãos,
pés, folhas de árvore, etc… Esses objetos podem ser encontradas na escola ou
em casa. Tudo pode virar um carimbo e se aproximar do universo da gravura.
Outra possibilidade interessante de exploração de gravuras alterativas é o
processo de frotagem. A palavra “frotagem” vem do francês frotter, que
significa “esfregar”. A técnica da frotagem consiste em colocar uma folha
de papel sobre uma superfície e esfregar com lápis macio ou giz de cera,
pressionando até que apareça o relevo ou a textura. A técnica da frotagem é
um processo direto, diferente da gravura, que é um processo invertido, com
o espelhamento da imagem.
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Materiais Necessários:
• papel sulfite A4
• papel A4 180 gr cortado ao meio no sentido do comprimento
• lápis macio
• giz de cera
• cola e tesoura
Procedimentos:
• Você pode pedir aos alunos que posicionem o papel sulfite sobre
superfícies rugosas ou que possuam algum tipo de emendas ou fendas e
passem o giz de cera “deitado” sobre o papel até surgir a imagem.
• Essa impressão pode ser feita com cores variadas e sobrepostas. Pode
ser interessante pensar na coleta de texturas no espaço escolar ou no
caminho de casa até a escola.
• Os alunos podem recortar esses papeis com as texturas e fazer uma
composição, colando-os em um papel A4 de gramatura maior (que pode
ser cortado ao meio como um grande postal) e acresentando outros
tipos de interferências como palavras e desenhos.
Você pode propor um intercâmbio desse material entre os colegas, com o
propósito de engajá-los na discussão de ideias, fazeres e produções plásticas.
Os alunos podem criar um espaço no verso do papel “postal” para desenhar
um selo e escrever uma mensagem ao destinatário. A troca de trabalhos
artísticos dos alunos pode ocorrer entre classes diferentes, com a coordenação
do professor, que pode propor um sorteio entre eles.
Esse intercâmbio os aproxima da prática de arte postal, tão utilizada por
Paulo Bruscky (uma tendência artística originada e formalmente estabelecida
nos anos 60 e 70 por Ray Johnson (EUA, 1927-1995), que consistiu em trocar
mensagens criativas utilizando o sistema de correios para a veiculação).
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Desenvolvimento de conteúdo Ana Helena Grimaldi Projeto Gráfico Marilda Donatelli e cÉcile gautier
Para saber mais - sites de referência
Biografia e texto crítico sobre os artistas citados
Enciclopedia Itau Cultural
Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8447/maria-bonomi
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa5505/renina-katz
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7783/paulo-bruscky
http://enciclopedia.itaucultural.org.br
(acesso em 17/02/2016)
Instituto Arte na Escola
Disponível em:
http://artenaescola.org.br
(acesso em 17/02/2016)
Site da artista Maria Bonomi
Disponível em:
http://www.mariabonomi.com.br
(acesso em 17/02/2016)
Galeria Nara Roesler
Disponível em:
http://www.nararoesler.com.br/artists/56-paulo-bruscky/
(acesso em 17/02/2016)
Arte Conceitual
Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3187/arte-conceitual
(acesso em 17/02/2016)
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Gravado
Abertura 11 de março, sexta, às 20h
Visitação até 26 de junho
De terça a sexta, das 13h15 às 21h30.
Sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h
Sesc Piracicaba
Rua Ipiranga, 155
Tel.: + 55 19 3437-9292
sescsp.org.br
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