pelo mundo - Juventude Fugitiva

Transcrição

pelo mundo - Juventude Fugitiva
PELO MUNDO
PÁ G .
74
O pernambucano Rodrigo Trajano
aproveita a vantagem da terra
que escolheu para viver.
grama por mais ou menos quatro horas por dia, faz-se
dinheiro suficiente para ir à Indonésia seis vezes por mês.
Depois de voltar com a cabeça feita de Uluwatu, no
entanto, Marquinho resolveu aplicar a grana numa
aventura doméstica. Voou de Perth para Gold Coast,
na outra ponta do continente. Lavou mais pratos, surfou
em todos os picos da costa leste e comprou uma perua.
Desta vez no volante, cruzou a grande ilha de volta a
Perth, por meio das estradas que beiram a costa sul.
“Foram 7.500 quilômetros em 40 dias”, diz Marquinho.
“Pude conhecer os mais famosos e também os mais
inexplorados picos de surf da Austrália.”
Uma multidão de brazucas
Guilherme Abreu, o Guico, é um catarinense de 35 anos
que, todas as manhãs, pode escolher a dedo onde
salgar a prancha: Burleigh Heads, Kirra ou Snapper Rocks
– picos distantes 10 minutos de sua casa, na costa leste
da Austrália. Chegou lá há dois anos. Dono de uma
escola de surf em Florianópolis, trabalha hoje lavando
as louças no restaurante de um surf club na Gold Coast.
Demorou três meses para achar o primeiro emprego na
Austrália. “No começo, cheguei a um restaurante italiano
e pedi para trabalhar. Lembro do chef dizendo: ‘You start
tomorrow’ (você começa amanhã).” Guico representa a multidão de brazucas que deslizam
nas ondas australianas. “A maioria dos brasileiros que
conheci trabalha em subempregos em troca de surfar
ondas perfeitas”, diz. “Porque uma coisa tem que ser dita:
as ondas são perfeitas.” O macaense Marquinho, que vive
na outra ponta do continente, concorda. >
© ARQUIVO PESSOAL
horas por dia carregando e descarregando caixas. Está
contente. Não foi fácil descolar o emprego. “Logo na
primeira semana preparei alguns currículos com a ajuda
dos professores do curso de inglês”, conta. “Decorei a
frase que iria usar para procurar emprego: do you have
any position avaiable? (na tradução, você tem alguma
vaga disponível?).” Depois, começou a peregrinação.
“Na semana seguinte, consegui um trampo como lavador
de pratos em um restaurante mexicano. De lá pra cá,
trabalhei como auxiliar de cozinha, jardineiro e motorista.”
Graças ao trabalho pesado, Marquinho consegue encher
o tanque toda semana e percorrer os 267 quilômetros
que separam Perth – uma cidade sem tantas ondas – de
Margaret River – o berço do surf em WA.
Além das ondas perfeitas, outro fator costuma atrair
surfistas estrangeiros para a Austrália. A economia
cresce diariamente. Não falta emprego. Após trabalhar
intensamente durante a semana e reservar o surf apenas
para os dias de folga, Marquinho conseguiu juntar
dinheiro. Em 2012, passou um mês na Indonésia. “Foi a
viagem que mais me marcou. Estava havia quatro meses
na Austrália trabalhando como louco com o intuito de
surfar aquelas ondas da Indonésia que só via em filmes
e acreditava ser um sonho distante”, conta. “Até que
comprei minha passagem para Bali e parti com uma
mochila, meia dúzia de roupas e as pranchas. Antes de
o avião pousar, vi logo de cara as ondas quebrando, era
a até então desconhecida Airports Lefts funcionando.
Depois que aluguei uma moto e vi Uluwatu quebrando, vi
que o sonho era realidade.” Está aí o terceiro fator, que, depois da fartura de ondas
e empregos, seduz milhares de surfistas que vão à
Austrália: a proximidade geográfica das ondas perfeitas
da Indonésia, Fiji, Maldivas e de outros picos um tanto
inexplorados, como Tonga, Sri Lanka e Timor Leste. Para
dar uma ideia, com 300 dólares australianos é possível
pagar uma passagem de ida e volta a Bali, saindo de
Perth. É fácil explicar por que, além das ondas de altíssima
qualidade, a Austrália atrai tantos surfistas: ganhando uma
média de US$ 20 por hora lavando pratos ou cortando