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Laboratório de Psicologia, 6(1): 93-108 (2008)
© 2008, I.S.P.A.
Questionário de Crenças de Controlo face à Saúde (QCCS):
Processo de desenvolvimento e validação de um instrumento
Sónia F. Bernardes
Maria Luísa Lima
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa / Centro de Investigação e Intervenção Social, Lisboa
Resumo
O presente artigo tem como objectivo a apresentação do processo de desenvolvimento e validação do
Questionário de Crenças de Controlo face à Saúde (QCCS). Este é um instrumento que, tendo como
raiz conceptual o modelo tridimensional da percepção de controlo de Skinner (1995), visa a avaliação
de três tipos de crenças: (1) controlo; (2) estratégia e; (3) capacidade. O QCCS foi aplicado a uma
amostra de 91 crianças (Midade=11,92) e 97 adolescentes (Midade=16,86) Portugueses saudáveis.
Análises em componentes principais mostraram que o instrumento reflecte, na generalidade, a estrutura
tridimensional esperada. Os índices de fidelidade interna da maioria das escalas mostraram-se
adequados, particularmente tendo em conta a idade dos participantes. Uma análise do conteúdo dos
itens, efectuada por dois juízes independentes, atesta a validade de conteúdo do QCCS. Este instrumento, ao permitir detectar diferenças etárias nas crenças de controlo, previsíveis de um ponto de vista
desenvolvimentista, demonstra ainda validade de constructo. Em suma, embora as características
psicométricas do QCCS possam ainda ser aperfeiçoadas, este mostra ser um instrumento útil e com
qualidades adequadas.
Palavras-chave: Crenças de controlo, Crianças e adolescentes, Questionário.
Abstract
This paper presents the process of development and validation of the Health Perceptions of Control
Questionnaire (HPCQ). Based on Skinner’s (1995) three-fold model of perceived control, this
instrument assesses three types of control-related beliefs: (1) control; (2) strategy; and (3) capacity.
The HPCQ was administered to 91 healthy Portuguese children (Mage=11,92) and 97 adolescents
(Mage=16,86). A set of principal component analyses showed that, in general, the instrument reflected
A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Sónia F. Bernardes; Instituto Superior das Ciências do Trabalho
e da Empresa, Departamento de Psicologia Social e das Organizações (cacifo 34 AA), Av. das Forças Armadas, 1649-023
Lisboa, Portugal; Tel.: +351 21 790 3215; Fax: + 351 21 790 3002; E-mail: [email protected]
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S. F. Bernardes & M. L. Lima
the expected three-fold structure of beliefs. Most sub-scales showed adequate internal reliability indexes,
especially considering participants’ ages. A content analysis of the items done by two independent
researchers pointed to an adequate content validity of the instrument. Moreover, the HPCQ showed
adequate construct validity, given that it was able to detect age-related differences in control-related
beliefs, which may be understood from a developmental perspective. In sum, although some
psychometric characteristics of the HPCQ may be perfected, this instrument seems valid and useful.
Key words: Adolescents, Children, Control-related beliefs, Questionnaire.
Fundamentação teórica
A noção subjectiva de podermos controlar, produzindo ou evitando, os acontecimentos que nos
rodeiam – Percepção de Controlo – encontra-se consistentemente associada a indicadores de saúde
física e/ou psicológica (ver Walker, 2001). No entanto, a grande maioria dos estudos empíricos que
procuram analisar o papel das crenças de controlo na saúde e doença têm sido efectuados com adultos.
É de referir ainda que grande parte dos conceitos teóricos utilizados (ex., locus de controlo, auto-eficácia, desespero aprendido) e respectivos instrumentos de medida, ao possuírem raízes na tradição
das diferenças inter-individuais, quando são transpostos para o estudo de crianças e adolescentes
dificultam a tarefa de interpretação das mudanças etárias numa perspectiva normativa e
desenvolvimentista (Bernardes & Lima, 2006; Connell, 1985; Skinner & Chapman, 1987).
Efectivamente, alguns autores sugerem que a marcante incongruência dos dados empíricos sobre
trajectórias de desenvolvimento das crenças de controlo na infância e adolescência reflecte, em parte,
a dificuldade de tais constructos em analisar de forma discriminada diferentes dimensões inerentes ao
conceito de Percepção de Controlo (ex., Thompson & Gustafson, 1996; Skinner, Chapman, & Baltes,
1988a). Mais especificamente, duas importantes dimensões da percepção de controlo que, ao não
serem diferenciadas, poderão dificultar a interpretação dos dados empíricos existentes são, de um lado,
a Percepção de Contingência de resultados e, de outro, a Percepção de Competência do Eu (Weisz,
1983; Weisz & Stipek, 1982; Skinner, 1996; Skinner & Connel, 1986). Se é certo que outros autores já
haviam ressaltado a importância desta distinção (ex., Bandura, 1977; Weisz, 1983; Weisz e Stipek,
1982), ela foi retomada por Ellen Skinner que, num esforço de integração de uma literatura divergente,
avançou um modelo integrador dos vários constructos relativos ao controlo (Skinner, 1995, 1996;
Skinner et al., 1988a). Segundo esta autora, todas as teorias que se têm centrado sobre tais constructos
têm surgido como uma tentativa de mapear um sistema mais abrangente a que aquela dá o nome de
Sistema de Competências. Este sistema complexo incluiria um conjunto de sub-sistemas de crenças,
possuindo a função da regulação e/ou interpretação das interacções indivíduo/ambiente que são
orientadas para um objectivo. Neste sentido, é salientada a necessidade de “desempacotar” o conceito
de percepção de controlo, diferenciando três sistemas de crenças distintos (Skinner, 1995, 1996;
Skinner et al., 1988a). Em primeiro lugar, as Crenças de Controlo, que dizem respeito à definição
prototípica de percepção de controlo, estabelecem a relação entre agente-fins reflectindo “(...)
generalized expectancies about the extent the self can produce desired or prevent undesired events”
(Skinner, 1995, p. 30). Em segundo lugar, temos as crenças que estabelecem a relação meiosfins,
Crenças de Estratégia ou de Contingência, isto é, “(...)generalized expectancies about the extent to
which certain means or causes are sufficient conditions for the production of ends or outcomes”
(Skinner, 1995, pp. 30-31). Por último, considera as crenças que estabelecem a relação agente-meios,
Crenças de Capacidade ou Agência, isto é, “(...) generalized expectancies about the extent to which
the self possesses or has access to certain causes” (Skinner, 1995, p. 31).
Questionário de crenças de controlo
95
Este modelo teórico apresenta alguns avanços relativamente aos modelos que já haviam
salientado a distinção entre as percepções de contingência e de competência. Pela primeira vez são
conceptualizados e operacionalizados de forma independente os três sistemas de crenças, o que permite
analisar as relações de interacção entre estes e clarificar as contribuições diferenciais das dimensões
subjacentes à percepção de controlo (ex., Bernardes & Lima, 2006). Esta reconceptualização permite
ainda o estudo de uma grande variedade de factores causais. Este aspecto é particularmente importante
quando existem evidências que apontam para uma progressiva diferenciação nos esquemas causais ao
longo do desenvolvimento, e quando se demonstra que tais causas podem possuir trajectórias
desenvolvimentistas distintas e impactos diferenciais nos comportamentos dos indivíduos (Chapman
& Skinner, 1989; Clemence, Aymard, & Roumagnac, 1996; Skinner, 1990a,b).
Com o intuito da validação conceptual deste modelo teórico, Skinner e colaboradores têm vindo
a desenvolver, aplicar e aperfeiçoar instrumentos de medida, orientados para a área do desempenho
escolar e domínio social da amizade, que visam operacionalizar os diferentes tipos de crenças relativas
ao controlo. Desenvolvem um primeiro instrumento, a ser aplicado a crianças dos 7 aos 12 anos que,
através da sua estrutura permite fazer a distinção entre os três sistemas de crenças teoricamente
postulados. Desta forma nasce um guião de entrevista estruturado – Control, Agency and Means-ends
Interview – que mostra possuir propriedades psicométricas bastante adequadas, permitindo evidenciar
o facto de as respostas das crianças reflectirem o padrão tridimensional hipotetizado (Skinner et al.,
1988a). Mais especificamente, e de um ponto de vista da sua fidelidade, este instrumento apresentou
índices razoáveis de consistência interna (0,61<D<0,90) e de estabilidade temporal num período de 8
semanas (0,39<r<0,61). Ainda, as correlações entre os resultados obtidos neste instrumento com os
resultados dos mesmos participantes em escalas de locus de controlo previamente estudadas foram
teoricamente muito consistentes, o que constitui evidência que suporta a validade de constructo do
instrumento daqueles autores. Posteriormente, Wellborn, Connell, e Skinner (1989) apresentam um
novo instrumento- Student Perceptions of Control Questionnaire – que embora possua um formato
ligeiramente distinto, podendo ser aplicado a uma faixa etária mais abrangente (dos 6 aos 18 anos),
continua a reflectir a mesma estrutura conceptual.
O modelo tridimensional do controlo tem sido assim empiricamente validado por Skinner e
colaboradores (Skinner et al., 1988a,b), nos domínios académico e social, através de repetidas análises
factoriais exploratórias que seguem uma estratégia de análise descrita mais adiante (ver secção
Estrutura Factorial). No entanto, e tanto quanto sabemos, tal demonstração está ainda por ser realizada
no domínio da Saúde, e o desenvolvimento do Questinário de Crenças de Controlo face à Saúde
(QCCS) pretende colmatar este hiato.
Processo de desenvolvimento do QCCS
O processo de construção do QCCS seguiu de perto as linhas orientadoras do processo de
desenvolvimento dos instrumentos elaborados por Skinner e colaboradores (Skinner et al., 1988a;
Wellborn, Connell, & Skinner, 1989), respeitando a estrutura conceptual de tais instrumentos mas
adaptando os conteúdos ao domínio da saúde.
A primeira etapa deste processo resumiu-se à construção de itens que, pelo seu conteúdo,
discriminassem não só os três sistemas de crenças, como os diferentes tipos de factores causais
subjacentes a estados de saúde e doença. Este trabalho esteve assente na análise de conteúdo das
respostas de 137 crianças e adolescentes (dos 6 aos 18 anos) a um pequeno conjunto de perguntas
abertas que visaram explorar quais as suas concepções de saúde e de doença, bem como dos
mecanismos causais a eles associados (ver estudo 1, Bernardes, 2003).
96
S. F. Bernardes & M. L. Lima
De forma a avaliar a simplicidade e clareza dos itens construídos, estes foram aplicados a
crianças, adolescentes e adultos, anotando as suas sugestões e efectuando as alterações pertinentes.
Como resultado deste esforço foi elaborada uma versão-piloto do instrumento (96 itens), tendo sido
aplicada e testada numa amostra de 301 crianças e adolescentes saudáveis, que frequentavam o 4º, 6º
e 11º ano de escolaridade em escolas públicas e colégios privados da Grande Lisboa. A análise das
características psicométricas dos seus itens e respectivas escalas resultou na elaboração da actual
versão de 54 itens do QCCS que aqui se apresenta (ver estudo 2, Bernardes, 2003). Neste artigo
pretendemos assim dar a conhecer as propriedades psicométricas do QCCS numa amostra de crianças
(11/12 anos) e adolescentes (16/17 anos) Portugueses.
A escolha destes dois grupos etários prendeu-se com motivos de natureza teórica/empírica,
metodológica e prática. De um ponto de vista teórico/empírico, os estudos desenvolvimentistas sobre
crenças relativas ao controlo acima referidos têm-se centrado sobretudo na fase inicial da infância, sendo
escassos aqueles que procuram explorar tais mudanças associadas à idade na fase de transição da infância
para a adolescência. A exploração da evolução das crenças relativas ao controlo face à saúde entre a fase
final da infância e adolescência é relevante, de um ponto de vista prático, uma vez que muitos dos
programas escolares de prevenção e intervenção na área da saúde são dirigidos a crianças a frequentar
o 2º ciclo e adolescentes do ensino secundário. Entendemos que a eficácia de tais programas de
prevenção/intervenção poderá beneficiar de uma maior compreensão dos padrões de crenças relativas
ao controlo face à saúde em diferentes fases de desenvolvimento do indivíduo. Aliás, vários estudos
empíricos têm salientado importantes mudanças desenvolvimentistas nas conceptualizações de saúde
e doença entre a fase final da infância e a adolescência (ex., Barrio Martinez, 1990; Perrin & Gerrity,
1981). Neste sentido, seria também de esperar mudanças nas crenças relativas ao controlo face à saúde
entre estas duas fases do desenvolvimento. A capacidade do QCCS de discriminar tais diferenças
etárias seria fundamental de um ponto de vista metodológico, uma vez que tal reflectiria a sua validade
de constructo.
Método
Participantes
Dos 188 participantes, 91 eram crianças (Midade=11,92; DP=0,43) e 97 eram adolescentes (Midade=16,86;
DP=0,41) que frequentavam diversas escolas públicas da Grande Lisboa. Verificou-se uma distribuição
relativamente equilibrada dos indivíduos por sexo tanto entre as crianças (n=41 e 50 para rapazes e
raparigas, respectivamente), como entre os adolescentes (n=50 e 47 para rapazes e raparigas,
respectivamente). A grande maioria dos progenitores possuía pelo menos o 12º ano de escolaridade
(76% e 74.9% para pais e mães, respectivamente). Todos os participantes eram brancos e podiam ser
considerados indivíduos saudáveis, tendo apenas sofrido doenças mais comuns e de duração limitada
no tempo, tais como a gripe ou as doenças típicas de infância.
Descrição do instrumento
O QCCS é composto por 54 itens, agregados em 12 escalas, que procuram operacionalizar os três
sistemas de crenças acima definidos:
Questionário de crenças de controlo
97
1 Crenças de Controlo (6 itens), i.e., crenças gerais relativas ao grau de controlo que o indivíduo
crê possuir sobre o seu próprio estado de saúde sem ser feita referência ao recurso ou mecanismo
causal através do qual tal controlo é possibilitado.
2 Crenças de Estratégia (25 itens), i.e., crenças relativas aos mecanismos causais que possam estar
subjacentes a estados de saúde ou doença. A maioria destes itens está agregada em cinco escalas
relativas aos seguintes factores causais: (a) Esforço (4 itens), i.e., comportamentos de prevenção
de carácter geral; (b) Atributos (5 itens), i.e., características ou traços estruturais do organismo;
(c) Outros Poderosos (4 itens), i.e., comportamentos de protecção por parte dos progenitores; (d)
Sorte (4 itens), i.e., factores do acaso; (e) Estados emocionais (4 itens), i.e., estados de humor ou
de bem-estar psicológico. Os restantes quatro itens compõem a escala Causas Desconhecidas que
procura avaliar o grau de desconhecimento sobre os mecanismos causais subjacentes aos estados
de saúde e doença.
3 Crenças de Capacidade (23 itens), i.e., crenças relativas à capacidade do próprio para aceder aos
mecanismos causais acima descritos e que podem conduzir a estados de saúde ou evitar estados
de doença. Tais itens estão agregados em cinco escalas relativas aos seguintes factores causais:
(a) Esforço (5 itens); (b) Atributos (5 itens); (c) Outros Poderosos (5 itens); (d) Sorte (4 itens);
(e) Estados emocionais (4 itens).
Os Quadros 1 a 6 permitem ao leitor a análise detalhada de todos os itens que compõem cada uma das
escalas do QCCS.
Procedimento
A aplicação dos questionários teve início apenas após o consentimento informado dos Conselhos
Executivos das respectivas escolas que, de sua vez, se encarregavam de informar todos os
encarregados de educação envolvidos sobre a natureza do estudo.
Para ambos os grupos etários a aplicação do instrumento foi feita em grupo, no entanto, enquanto
que para os mais velhos apenas as instruções eram lidas em voz alta, para os mais novos todo o processo
de preenchimento era acompanhado por tal leitura. Ainda, os grupos das crianças possuíam sensivelmente
metade do tamanho (n|10) que os grupos dos adolescentes. Os indivíduos deveriam responder aos itens
avaliando o grau de veracidade de cada uma das frases numa escala de 1 a 4, sendo o 1 “Quase nunca é
verdade”, 2 “Poucas vezes verdade”, 3 “Muitas vezes verdade” e 4 “Quase sempre verdade”. A escala
era acompanhada visualmente pelo desenho de um termómetro – o termómetro da verdade – cujo nível
de mercúrio marcado representava o grau de veracidade. Este procedimento visou garantir a compreensão
da escala por parte das crianças, tendo sido, no entanto, mantido para os adolescentes.
Após o preenchimento do questionário era recolhida a informação socio-demográfica, bem como
o historial de hospitalizações, operações e doenças sofridas pelo indivíduo. É de referir que a recolha
de informação relativa à raça não foi feita directamente através do questionário mas sim através da
observação das características físicas dos participantes por parte das investigadoras em sala que,
juntamente com a informação sobre a nacionalidade do participante e seus progenitores, permitiram
identificar de grosso modo a pertença a grupos étnicos. O tempo de aplicação do questionário para
ambos os grupos variou entre os 25 e os 40 minutos.
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S. F. Bernardes & M. L. Lima
Resultados
Qualidades psicométricas dos Itens
Nos Quadros 1 a 6 podem ser analisadas as médias e desvios-padrão dos itens para ambas as sub-amostras. Em geral, as respostas abrangeram os diferentes pontos da escala avaliativa, verificando-se
uma amplitude das médias entre 1,61 e 3,92. Parece existir alguma homogeneidade entre as médias dos
itens de cada escala, embora a variabilidade de tais médias entre estas seja aparente. A variabilidade
das respostas para cada item foi considerável, encontrando-se os desvios-padrão entre 0,27 e 1,2.
Embora a distribuição dos itens raramente apresentasse características de normalidade, todas elas
possuíam valores aceitáveis de simetria e curtose.
Estrutura factorial
No sentido de avaliar a estrutura factorial do QCCS, foram realizadas uma série de análises em
componentes principais e com rotação oblíqua, tendo como objectivo o de verificar em que medida as
respostas dos participantes reflectiam a estrutura tridimensional esperada, independentemente do seu grupo
etário. Deste modo, à semelhança de outros autores (Connell, 1985; Skinner et al., 1988a) foram realizadas
para cada grupo etário cinco análises em componentes principais, uma para cada tipo de causas. Em cada
análise foram incluídos os itens referentes às crenças de estratégia e capacidade para uma causa específica
(ex., atributos), juntamente com os itens de controlo (comuns a todas as análises), esperando-se a extracção
de três factores correspondentes aos três tipos de crenças. Para os itens Causas Desconhecidas, dada a
inexistência de itens de capacidade, esperava-se a extracção de uma estrutura bifactorial.
Analisando os quadros 1 a 6, em geral podemos constatar que as respostas dos participantes de
ambos os grupos etários reflectem a estrutura tridimensional esperada relativamente às causas Outros
Poderosos, Emoções, Sorte, Atributos e Esforço. A única diferença encontrada diz respeito às Causas
Desconhecidas, onde as crianças parecem fazer a distinção entre o desconhecimento das causas
subjacentes a acontecimentos comuns (ex., Não percebo porque é que as pessoas adoecem) e a
situações extremas (ex., Não percebo porque é que algumas pessoas estão sempre a apanhar doenças).
Sensibilidade das escalas
Analisando o Quadro 7 podemos constatar que as pontuações para cada escala, independentemente do
grupo etário, apresentam uma amplitude muito razoável. De uma maneira geral, a distribuição das
pontuações da maioria das escalas apresenta valores aceitáveis de simetria e curtose (valores absolutos
dos coeficientes inferiores a 2; Tabachnik & Fidell, 2007). No entanto, a escala de Capacidade–Outros
Poderosos apresenta uma distribuição de respostas assimétrica em ambas as sub-amostras, enquanto a
Capacidade–Emoções apresenta o mesmo comportamento para a sub-amostra dos mais novos.
Todavia, a variabilidade das respostas para a grande maioria das escalas é considerável, encontrandose os desvios-padrão entre 0,33 e 0,71.
Fidelidade interna das escalas
Analisando o Quadro 7 podemos constatar que, tendo em conta ambos os grupos etários, a maioria das
escalas apresenta alphas de Cronbach razoáveis ou mesmo elevados (entre 0,70 e 0,89), a par de um
pequeno número com índices moderados mas aceitáveis (entre 0,63 e 0,68). Apenas a escala
Estratégia–Esforço, na sub-amostra das crianças, apresenta um índice de consistência interna pouco
aceitável, em parte devido ao facto de este ser constituído apenas por 2 itens.
Questionário de crenças de controlo
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Quadro 1
Itens, Médias, Desvios padrão e Estruturas Factoriais para causa ‘Esforço’ por grupo etário
Itens
M
Crenças de Controlo
06. Consigo manter-me saudável.
10. Se eu quiser consigo manter o meu
00. organismo sem problemas.
3,17
21. Consigo manter o meu corpo em forma
00. sempre que quero.
25. Consigo manter o meu organismo em
00. bom funcionamento.
3,31
39. Consigo controlar o estado de saúde
00. do meu organismo.
3,03
53. Consigo evitar ter problemas de saúde.
3,04
Crennças de Estratégia
17. As pessoas apanham doenças porque
00. não se tratam como deve ser.
38. As pessoas ficam doentes porque têm
00. comportamentos que fazem mal ao
00. funcionamento do seu organismo.
2,82
46. Se as pessoas protegerem bem o seu
00. organismo mantêm-se saudáveis.
3,68
54. Ter uma má alimentação (ex.: comer
00. muitos doces, fritos, gorduras) faz mal à saúde.
Crenças de Capacidade
11. Tenho comportamentos que protegem o
00. meu organismo das doenças.
23. Tenho comportamentos que fazem mal
00. ao funcionamento do meu organismo.
3,03
24. Costumo comer alimentos pouco
00. saudáveis (ex.: doces, fritos, gorduras).
26. Trato bem do meu organismo.
3,30
44. Cuido mal do meu organismo.
3,58
crianças (n=89)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
0,77
0,68
0,70
0,74
0,70
0,81
(0,32)
0,90
0,85
0,51
0,61
0,93
0,71
0,67
(0,51)
-0
0,73
3,11
0,64
2,88
0,67
-0
0,58
2,86
0,75
0,68
-0
(-0,51)
2,99
0,45
-00,66
(-0,37)
2,60
2,76
0,61
0,68
-00,48
-0
0,55
3,11
0,66
0,71
0,67
M
adolescentes (n=95)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
3,15
0,65
(-0,38)
3,29
0,54
-00,75
2,55
0,84
-00,75
-0
0,79
2,29
2,87
3,06
0,81
0,66
0,78
(0,30)
(0,42)
(0,34)
(0,41)
(0,32)
0,73
0,69
(-0,31)
0,80
0,77
(-0,41)
(0,33)
0,73
0,76
0,74
Nota. Todos os índices de saturação inferiores a 0,30 não foram incluídos na tabela.
Quadro 2
Itens, Médias, Desvios padrão e Estruturas Factoriais para causa ‘Sorte’ por grupo etário
crianças (n=91)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
Itens
M
Crenças de Controlo
06. Consigo manter-me saudável.
3,26
0,66
(0,37)
10. Se eu quiser consigo manter o meu
0,59
00. organismo sem problemas.
3,17
0,77
21. Consigo manter o meu corpo em forma
00. sempre que quero.
25. Consigo manter o meu organismo em
0,70
00. bom funcionamento.
3,31
0,66
39. Consigo controlar o estado de saúde
0,77
00. do meu organismo.
3,03
0,69
0,80
53. Consigo evitar ter problemas de saúde.
3,03
0,74
Crenças de Estratégia
01. Uma pessoa precisa de ter sorte para
0,73
00. não ficar doente.
2,16
1,0
14. Algumas pessoas têm o organismo a
0,76
00. funcionar sem problemas porque têm sorte. 1,75
0,90
28. O organismo tem problemas de
0,80
00. funcionamento quando se tem pouca sorte.
1,69
0,81
41. Há pessoas que quase nunca apanham
0,76
00. doenças porque são sortudas.
1,61
0,79
Crenças de Capacidade
08. Tenho azar com as doenças.
22. Em relação ao meu estado de saúde
00. tenho sorte.
3,19
0,88
34. Tenho sorte com o funcionamento do
00. meu organismo.
3,19
0,88
(0,63)
50. Na saúde sou uma pessoa com sorte.
3,25
0,71
(0,60)
Nota. Todos os índices de saturação inferiores a 0,30 não foram incluídos na tabela
M
adolescentes (n=90)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
3,12
0,61
0,76
2,91
0,67
0,54
2,86
0,76
0,66
2,99
0,44
0,72
2,77
0,69
0,57
2,07
0,76
0,69
1,76
0,66
0,85
1,67
0,69
0,82
1,72
0,72
0,80
0,82
3,02
0,72
-0
0,88
0,64
0,68
2,87
2,88
0,72
0,70
-00,86
0,80
-0
0,71
(0,55)
100
S. F. Bernardes & M. L. Lima
Quadro 3
Itens, Médias, Desvios padrão e Estruturas Factoriais para causa ‘Atributos’ por grupo etário
Itens
M
crianças (n=90)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
Crenças de Controlo
06. Consigo manter-me saudável.
10. Se eu quiser consigo manter o meu
0,64
00. organismo sem problemas.
3,18
0,77
21. Consigo manter o meu corpo em forma
00. sempre que quero.
25. Consigo manter o meu organismo em
0,70
00. bom funcionamento.
3,30
0,66
39. Consigo controlar o estado de saúde do
0,74
00. meu organismo.
3,02
0,69
0,80
53. Consigo evitar ter problemas de saúde.
3,03
0,74
Crenças de Estratéégia
04. Há pessoas que não têm saúde porque têm
0,76
00. um organismo pouco resistente às doenças. 3,39
0,83
12. Há pessoas que ficam doentes porque têm
0,84
00. um organismo fraco.
3,29
0,81
27. Há pessoas que apanham doenças porque
0,69
00. são frágeis e sensíveis.
2,98
0,90
35. Há pessoas que são saudáveis porque o
00. seu organismo tem muitas armas para se
00. defender contra as doenças.
52. Há pessoas que têm saúde porque têm
00. uma força natural contra as doenças.
Crenças de Capacidade
07. Sou uma pessoa com um organismo fraco.
3,58
0,67
20. O meu organismo é pouco resistente
00. às doenças.
3,11
0,83
32. O meu organismo é frágil e sensível.
3,31
0,90
43. O meu organismo é forte.
3,24
0,72
(0,52)
47. O meu organismo tem muitas armas para
00. se defender contra as doenças.
Nota. Todos os índices de saturação inferiores a 0,30 não foram incluídos na tabela.
M
adolescentes (n=93)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
2,89
0,67
0,60
2,99
0,45
0,41
2,57
2,75
0,63
0,69
0,77
0,71
3,46
0,60
0,76
3,39
0,59
0,68
3,06
0,75
0,79
3,19
0,68
0,64
0,74
3,46
0,64
0,79
0,,68
0,57
0,41
3,27
3,36
3,08
0,66
0,72
0,56
0,82
0,57
0,66
(0,54)
(0,38)
(0,45)
Quadro 4
Itens, Médias, Desvios padrão e Estruturas Factoriais para causa ‘Emoções’ por grupo etário
crianças (n=86)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
Itens
M
Crenças de Controlo
06. Consigo manter-me saudável.
10. Se eu quiser consigo manter o meu
0,69
00. organismo sem problemas.
3,16
0,78
21. Consigo manter o meu corpo em forma
00. sempre que quero.
25. Consigo manter o meu organismo em
0,71
00. bom funcionamento.
3,30
0,67
39. Consigo controlar o estado de saúde
0,74
00. do meu organismo.
3,02
0,69
0,81
53. Consigo evitar ter problemas de saúde.
3,05
0,75
Crenças de Estratéégia
2. Para se ter saúde é importante estar-se feliz.
13. É importante para a saúde uma pessoa
0,81
00. gostar de si própria.
3,07
0,98
0,72
33. Andar sempre triste faz mal à saúde.
2,65
0,94
49. Estar-se contente com a vida faz
0,79
00. bem à saúde.
3,29
0,76
Crenças de Capacidade
18. Vivo a vida com felicidade.
3,60
0,60
(0,35)
29. Estou contente com a minha vida.
3,57
0,66
37. Estou de mal com a vida.
3,67
0,66
42. Ando sempre cheio de tristeza.
3,59
0,69
Nota. Todos os índices de saturação inferiores a 0,30 não foram incluídos na tabela.
(-0,40)
-00,64
-00,84
-00,779
-0
0,70
M
adolescentes (n=94)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
3,10
0,65
0,75
3,11
0,65
0,58
2,87
0,75
0,69
2,99
0,45
0,73
2,69
0,82
0,82
2,99
2,86
0,86
0,85
0,67
0,76
3,18
0,64
0,75
3,19
3,20
3,45
3,45
0,75
0,82
0,70
0,77
0,85
0,84
0,88
0,86
Questionário de crenças de controlo
101
Quadro 5
Itens, Médias, Desvios padrão e Estruturas Factoriais para causa ‘Outros Poderosos’ por grupo etário
Itens
M
crianças (n=90)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
Crenças de Controlo
0,62
06. Consigo manter-me saudável.
3,27
0,67
10. Se eu quiser consigo manter o meu
.0,62
00. organismo sem problemas.
3,18
0,77
21. Consigo manter o meu corpo em forma
00. sempre que quero.
25. Consigo manter o meu organismo
0,76
00. em bom funcionamento.
3,31
0,66
39. Consigo controlar o estado de saúde
0,73
00. do meu organismo.
3,03
0,69
0,75
53. Consigo evitar ter problemas de saúde.
3,03
0,74
Crençças de Estratégia
3. Um jovem pode ter problemas de
0,73
00. saúde se se der mal com os seus pais.
2,28
0,94
31. A saúde de um jovem depende
0,59
00. dos seus pais.
2,44
0,90
40. Quando os pais protegem um filho,
00. este quase nunca apanha doenças.
48. Um jovem pode ter problemas de saúde
0,74
00. por causa dos seus pais.
2,26
0,92
Crenças de Capacidade
9. Os meus pais preocupam-se comigo.
3,92
0,27
16. Dou-me bem com os meus pais.
3,79
0,53
19. Sou protegido (a) pelos meus pais.
3,64
0,61
36. Os meus pais cuidam da minha saúde
00. sempre que preciso.
3,87
0,34
51. Os meus pais tratam bem da minha saúde.
Nota. Todos os índices de saturação inferiores a 0,30 não foram incluídos na tabela.
M
adolescentes (n=94)
Estrutura Factorial
DP
I
II
III
3,13
0,61
0,77
2,90
0,66
0,55
2,89
0,75
0,60
3,00
0,46
0,70
2,76
0,67
0,61
2,28
0,90
0,75
2,18
0,76
0,60
2,36
0,80
0,76
0,79
0,711
0,74
3,81
3,60
0,45
0,64
0,61
0,68
0,73
3,56
3,59
0,65
0,59
0,80
0,86
Quadro 6
Itens, Médias, Desvios padrão e Estruturas Factoriais para causa ‘Causas Desconhecidas’ por grupo etário
Itens
M
crianças (n=90)
Estrutura Factorial
DP
I
IIa
IIb
Crenças de Controlo
0,62
06. Consigo manter-me saudável.
3,26
0,67
10. Se eu quiser consigo manter o meu organismo
00. sem problemas.
21. Consigo manter o meu corpo em forma sempre
0,62
00. que quero.
3,03
0,87
25. Consigo manter o meu organismo em bom
0,79
00. funcionamento.
3,29
0,66
39. Consigo controlar o estado de saúde do
0,77
00. meu organismo.
3,03
0,70
0,68
53. Consigo evitar ter problemas de saúde.
3,02
0,74
Crenças de Estratégia
5. Não sei explicar porque é que há pessoas que
00. quase nunca ficam doentes.
2,43
1,2
15. Não percebo porque é que algumas pessoas
00. estão sempre a apanhar doenças.
2,51
1,1
30. Não sei explicar porque é que o organismo de
00. muitas pessoas funciona bem.
2,26
0,9
45. Não percebo porque é que as pessoas adoecem.
2,10
1,0
Nota. Todos os índices de saturação inferiores a 0,30 não foram incluídos na tabela.
3,12
0,61
0,77
2,90
0,66
0,54
3,00
0,44
0,71
2,78
0,67
0,67
2,33
0,88
0,69
(0,36)
2,12
0,75
0,79
0,81
0,77
2,23
1,75
0,74
0,72
0,83
0,60
(-0,36)
0,88
0,80
M
adolescentes (n=94)
Estrutura Factorial
DP
I
II
102
S. F. Bernardes & M. L. Lima
Quadro 7
Médias, desvios-padrão, mínimo, máximo, alphas de Cronbach e número de itens para cada escala
por grupo etário
Escalas (n itens)
Controlo (n=3)
Estratégia
Esforço (n=2)
Atributos (n=3)
Sorte (n=4)
Outr. Poder. (n=3)
Emoções (n=3)
Caus. Desc. (n=4)
Capacidade
Esforço (n=3)
Atributos (n=4)
Sorte (n=3)
Outr. Poder. (n=4)
Emoções (n=4)
M (DP)
3,13 (0,52)
Crianças
Min-Max
1,50-4,00
D
0,71
M (DP)
2,94 (0,42)
Adolescentes
Min-Max
D
2,00-4,00
0,62
3,26 (0,55)
3,22 (0,65)
1,80 (0,68)
2,33 (0,65)
3,02 (0,71)
2,33 (0,69)
2,00-4,00
1,67-4,00
1,00-3,50
1,00-3,67
1,33-4,00
1,00-4,00
0,30
0,65
0,79
0,50
0,70
0,56
3,17 (0,48)
3,29 (0,47)
1,80 (0,55)
2,27 (0,59)
2,93 (0,59)
2,10 (0,56)
1,67-4,00
2,00-4,00
1,00-3,00
1,00-4,00
1,25-4,00
1,00-3,75
3,30 (0,61)
3,31 (0,49)
3,21 (0,65)
3,81 (0,33)
3,61 (0,49)
1,67-4,00
2,00-4,00
1,00-4,00
2,50-4,00
1,25-4,00
0,67
0,50
0,71
0,68
0,68
2,70 (0,59)
3,30 (0,47)
2,92 (0,61)
3,65 (0,44)
3,34 (0,65)
1,50-4,00
1,25-4,00
1,00-4,00
2,25-4,00
1,25-4,00
t
3,98**
Mtotal
3,03o
0,66
0,69
0,76
0,53
0,74
0,71
ns
ns
ns
ns
ns
ns
3,23a
3,26a
1,80d
2,30c
3,00b
2,21c
0,76
0,69
0,81
0,73
0,89
5,0**0
ns
3,04**
3,64**
3,14**
3,07c
3,30b
3,06c
3,76a
3,47b
Nota. ns=não significativo; Foram efectuadas correcções de Bonferroni de forma a controlar a probabilidade de erro tipo I: crenças de estratégia
(0,05/6=0,008), crenças e capacidade (0,05/5=0,01); **p<0,008; *p< 0,01. Médias na mesma coluna com diferentes subscritos são
significativamente diferentes em testes de Tukey (p<0,003).
Validade de conteúdo e de constructo
De forma a avaliar a validade de conteúdo do QCCS, foi fornecido a dois juízes independentes um
sistema de categorias composto por três grandes categorias, correspondentes aos três tipos de crenças
e respectivas definições, juntamente com as sub-categorias relativas aos vários tipos de causas. A tarefa
dos juízes consistiu na atribuição dos itens às respectivas categorias. Este procedimento mostrou um
índice de fidelidade inter-juízes muito bom (K de Cohen=0,93).
De um ponto de vista desenvolvimentista seria de esperar a presença de diferenças etárias nalguns
tipos de crenças relativas ao controlo. A capacidade do QCCS poder detectar tais diferenças seria
fundamental de um ponto de vista de validade de constructo. Neste sentido, foram realizadas duas
análises de variância com medidas repetidas tendo como factor inter-sujeitos o grupo etário (2) e como
factor intra-sujeitos ora as crenças de estratégia (6) ora as de capacidade (5).
Tal como se pode constatar no quadro 7, no que diz respeito às crenças de estratégia apenas se
verifica um efeito principal do tipo de crença [F(5,875)=194,5, p=0,00], mostrando que de uma
maneira geral os participantes crêem que certos factores causais (ex., esforço e atributos do organismo)
são mais eficazes na manutenção de um estado de saúde que outros (ex., factores do acaso). Todavia,
a ausência de um efeito de interacção salienta a ausência de diferenças etárias em tais percepções de
eficácia das estratégias.
Já no que diz respeito às crenças de capacidade, constata-se novamente o efeito principal do tipo
de crença [F(4,692)=65,2, p=0,00], desta vez a par de um efeito principal do grupo etário
[F(1,173)=23,14, p=0,00], que mostra que as crianças crêem ter maior capacidade para aceder aos
diferentes tipos de estratégias (M=3,42) que os adolescentes (M=3,20). Verifica-se, no entanto, um
efeito de interacção entre as duas variáveis [F(4,692)=4,90, p<0,01]. A realização de uma série de
testes t-student (Quadro 7) permitiu-nos constatar que embora não existam diferenças etárias ao nível
das crenças de capacidade sobre os atributos do organismo, as crianças acham que possuem mais
comportamentos de prevenção, tem mais sorte na saúde, são mais protegidas pelos pais e dizem estar
mais contentes com a própria vida comparativamente com os adolescentes.
Finalmente, as crianças possuem ainda, e como consequência, crenças de controlo sobre a própria
saúde mais intensas que as dos adolescentes (Quadro 7).
Questionário de crenças de controlo
103
Discussão
De uma forma geral, os resultados apontam para qualidades psicométricas bastante aceitáveis do
presente instrumento, quer de um ponto do ponto de vista da sua precisão quer da sua validade.
A estrutura factorial do QCCS aponta para a sua adequação enquanto operacionalização do
modelo tridimensional das crenças de controlo (Skinner, 1995; Skinner et al., 1988) aplicado à saúde,
vindo também reforçar a importância da análise independente de tais tipos de crenças.
O facto de a construção dos itens do QCCS, bem como a escolha das categorias causais relevantes,
ter estado assente numa análise qualitativa das respostas de crianças e adolescentes referentes aos seus
conceitos de saúde e doença e respectivos mecanismos causais, teve como consequência a inclusão de
factores causais que tipicamente não são incluídos em instrumentos derivados de modelos teóricos (ex.,
estados emocionais). Este processo de construção permitiu ainda a formulação de itens de forma clara e
perceptível, possibilitando a sua aplicação a participantes de faixas etárias mais jovens, o que
eventualmente se reflectiu na qualidade psicométrica dos itens e escalas.
De facto, a maioria dos itens e escalas apresenta qualidades psicométricas razoáveis, ora mostrando
distribuições com características aceitáveis ora possuindo, grande parte daquelas últimas, índices de
consistência interna razoáveis. No que diz respeito à sensibilidade das escalas, foi apenas para as
escalas Capacidade–Outros Poderosos e Capacidade–Emoções que se distribuições mais enviesadas e
assimétricas. Pensamos que tal se possa dever sobretudo às características específicas da presente
amostra, composta sobretudo por crianças saudáveis provenientes de uma classe média/alta, onde a
presença de percepções elevadas de bem-estar psicológico ou de protecção parental entre crianças e
adolescentes parece ser mais saliente.
Ainda no que diz respeito às qualidades psicométricas das escalas e, mais especificadamente, aos
seus valores de consistência interna, verifica-se que estas são perfeitamente comparáveis, ou mesmo por
vezes superiores, aos índices encontrados não só nalgumas das escalas mais conhecidas de locus de
controlo para crianças (Connell, 1985; Halpin & Ottinger, 1983), mas também em relação ao instrumento
desenvolvido por Skinner e colaboradores (1988a) e sua adaptação mais recente para a população
portuguesa (Lemos & Gonçalves, 1998). Por exemplo, os estudos efectuados por Connell (1985) de
desenvolvimento de uma escala de percepção de controlo com crianças entre os 8 e os 14 anos mostraram
índices de consistência interna entre 0,52 e 0,75. Ainda, e embora Skinner e colaboradores (1988a) não
apresentem índices de consistência interna para cada grupo etário separadamente, verifica-se que é
também para as escalas relativas às crenças de capacidade que tais valores são mais reduzidos, estando a
maioria abaixo dos 0,70. O mesmo padrão se verificou no estudo de adaptação deste instrumento para
uma amostra de crianças Portuguesas a frequentar o 6º ano (Lemos & Gonçalves, 1998), em que os
valores das escalas relativas às crenças de capacidade foram ligeiramente inferiores (0,59<D<0,65) aos
da maioria das escalas relativas às crenças de estratégia ou de controlo (0,63<D<0,75).
Os níveis conservadores de consistência interna nos estudos apresentados, bem como o facto de
a sub-amostra das crianças no nosso estudo ter apresentado índices de consistência interna mais
reduzidos que os dos adolescentes, poderá prender-se precisamente com a tenra idade dos participantes
e a natural e consequente inconsistência de respostas (Halpin & Ottinger, 1983; Skinner et al., 1988a).
Aliás, já Halpin e Ottinger (1983) ao analisarem o efeito da idade nos índices de consistência interna
de escalas de locus de controlo para crianças mostraram que estes tendem a aumentar ao longo do
desenvolvimento, sendo que valores mais baixos em crianças mais novas devem ser esperados.
No que diz respeito à validade do instrumento, este parece ter características adequadas não só do
ponto de vista da sua validade facial e de conteúdo, mas também de constructo. Mais especificamente,
no que diz respeito a esta última podemos observar que as diferenças etárias encontradas ao nível das
104
S. F. Bernardes & M. L. Lima
crenças relativas ao controlo se mostraram congruentes com certas previsões teóricas e/ou dados
empíricos desenvolvimentistas.
Não se constataram diferenças etárias ao nível das crenças de estratégia, o que em parte poderá
ser justificado pelo facto de as crenças de estratégia corresponderem a teorias implícitas gerais sobre
os factores causais da saúde e doença que não fazem referência directa ao próprio indivíduo. De uma
forma geral, os comportamentos de prevenção e os atributos do organismo foram as causas mais
fortemente associadas a estados de saúde e doença, ao contrário da sorte e da protecção parental. Este
resultado vem de encontro a alguns dados que mostram, em domínios como o académico ou social, que
embora exista com o avançar da idade uma tendência para diminuição nas percepções de eficácia dos
diferentes tipos de causas, esta diminuição é mais acentuada para as causas de natureza externa, como
a sorte ou a recorrência à protecção de outros (ex., Skinner, 1990b; Skinner & Chapman, 1987). Ainda,
e de acordo com Clemence, Aymard, e Roumagnac (1996), o papel central que é atribuído às causas
internas (esforço e atributos) poderá resultar de uma exposição sistemática, desde tenra idade, a
contextos sociais que reforçam as atribuições causais a tais factores internos.
Já no que diz respeito às crenças de capacidade e controlo, as diferenças etárias foram mais
evidentes. Todavia, é de salientar que os resultados relativos às crenças de capacidade devem ser
interpretados com cerimónia, dado que os níveis de consistência interna de tais escalas entre as
crianças foram bastante mais reduzidos que entre os adolescentes. Ainda assim, as crianças pareceram
perceber-se como mais felizes, mais protegidas pelos pais, afirmaram possuir mais comportamentos de
prevenção e mais sorte na saúde que os adolescentes e, consequentemente, mostraram ter maior
percepção de controlo sobre o próprio estado de saúde que estes últimos. Este declínio nas percepções
de capacidade e controlo também se tem constatado no domínio académico (ex., Stipek & McIver,
1989), embora a comparação entre os resultados deva ser feita com reservas dada a diferença na
natureza dos domínios em estudo. A crescente complexidade das significações de saúde e doença
desenvolvidas ao longo da adolescência (ex., Barrio-Martinez, 1990) poderão em parte justificar a
perda de uma visão tão optimista sobre o próprio controlo ou capacidade para controlar os diferentes
factores subjacentes a estados de saúde/doença.
Para além da constatação de tais diferenças, Bernardes e Lima (2006) aprofundaram a exploração
das potencialidades do QCCS na identificação de diferenças etárias nas crenças de controlo,
nomeadamente ao nível dos seus preditores. Enquanto que o principal preditor das crenças de controlo
entre as crianças parece ser a crença sobre “ser uma pessoa com sorte na saúde”, entre os adolescentes
foram os comportamentos de prevenção e os atributos do organismo que mais se encontraram
associados a tais crenças. Bernardes e Lima (2006) argumentam que tal panorama pode em parte ser
justificado tanto pelo desenvolvimento do conceito de acaso como o das significações de saúde e
doença da infância à adolescência. Por um lado, a centralidade dos factores do acaso na determinação
das crenças de controlo entre as crianças poderá estar relacionada com o facto de estas ainda não
dominarem tal conceito na perfeição, tendo como consequência a dificuldade em diferenciar os
conceitos de sorte, esforço ou capacidade (Piaget & Inhelder, 1975). Simultaneamente, a capacidade
para compreender a variabilidade de factores externos associados à doença, juntamente com a
dificuldade em entender os processos de internalização ou o papel activo do organismo na
produção/combate à doença (Barrio-Martinez, 1990; Perrin & Gerrity, 1981), poderá facilmente
contribuir para a percepção de se estar erraticamente à mercê dos factores agressores externos face aos
quais a sorte poderá desempenhar um papel protector. O esbatimento da centralidade dos factores do
acaso com a entrada na adolescência poderá, em parte, estar associado a uma maturação completa do
conceito de acaso. A construção de um conceito de saúde e doença progressivamente mais complexo
e multi-determinado, onde existe um entendimento sobre os processos internos de produção e combate
Questionário de crenças de controlo
105
à doença bem como do indivíduo enquanto agente activo, poderá ainda reflectir-se na crescente
importância que os adolescentes conferem não só aos atributos do organismo, mas também, aos
comportamentos de prevenção. Da mesma forma, e tal como referido, a aquisição de um conceito de
saúde e doença mais complexo poderá em parte justificar o facto de os adolescentes se mostrarem mais
conservadores quer ao nível das crenças de capacidade quer das de controlo.
Apesar de o QCCS ter apresentado qualidades psicométricas bastante aceitáveis, não deve ser
ignorada a necessidade de um investimento futuro no seu aperfeiçoamento. Não só é importante o
apuramento de algumas das escalas que mostraram índices de consistência interna mais reduzidos,
como também é fundamental a análise da validade convergente e discriminante deste instrumento, bem
como o seu valor preditivo. Para além disso, a raiz teórica do instrumento bem como a robustez do
padrão tridimensional esperado sugerem que esforços futuros de investigação passem a centrar-se mais
na confirmação do modelo através de metodologias mais adequadas para este efeito, como por
exemplo, a utilizações de modelos de equações estruturais.
É ainda de salientar a necessidade de validação do instrumento com amostras mais representativas
da população Portuguesa. De facto, a grande maioria das crianças e adolescentes da presente amostra era
branca e proveniente de níveis sócio-económicos relativamente elevados. Tais enviesamentos de
amostragem deverão ser corrigidos futuramente. Aliás, o facto de a presente amostra não ser
representativa dos referidos grupos etários na população portuguesa não nos permite facultar informação
sobre normas ou parâmetros.
Em nota de conclusão, apesar da necessidade de aperfeiçoamento de algumas das suas
características psicométricas, o QCCS mostra-se um instrumento útil e com qualidades aceitáveis. A
consideração de diferentes factores causais contribui para o enriquecimento da análise
desenvolvimentista das crenças associadas ao controlo. Esta possibilidade permite entender quais os
diferentes tipos de crenças que em diferentes fases do desenvolvimento mais contribuem para uma
noção subjectiva de controlo sobre o próprio estado de saúde. Este conhecimento poderá tornar-se
extremamente útil para os profissionais que procurem desenvolver programas de prevenção face à
saúde adequados às especificidades dos diferentes grupos etários.
Apêndice
QCCS
Lê com atenção cada uma das seguintes frases. Diz-nos em que medida é que, para ti, cada uma das frases é verdadeira. Para isso utiliza a seguinte escala
ou Termómetro da Verdade: quanto mais alto estiver o risco negro significa que “é mais vezes verdade”. Ou seja, quando o risco está no 1 é porque a
frase “Quase nunca é verdade”; se o risco sobe um bocadinho até ao 2, é porque a frase é “Poucas vezes verdade”; se o risco sobe até ao 3 é porque a
frase já é “Muitas vezes verdade” e, por fim, se o risco sobe até ao 4 é porque a frase “É quase sempre verdade”.
1
Quase nunca é verdade
2
É poucas vezes verdade
3
É muitas vezes verdade
4
É quase sempre verdade
4
4
4
4
3
3
3
3
1
2
2
2
1
1
1
Para cada frase coloca um círculo em redor do número que melhor corresponde à tua resposta. Vê os seguintes exemplos:
Leio livros nos meus tempos livres
1
2
3
4
Não gosto de vegetais
1
2
3
4
Procura não deixar nenhuma frase sem resposta.
(cont. o
106
S. F. Bernardes & M. L. Lima
(m cont.)
1
Quase nunca é verdade
2
É poucas vezes verdade
3
É muitas vezes verdade
4
É quase sempre verdade
4
4
4
4
3
3
3
3
1
2
2
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01. Uma pessoa precisa de ter sorte para não ficar doente.
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02. Para se ter saúde é importante estar-se feliz.
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03. Um jovem pode ter problemas de saúde se se der mal com os seus pais.
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04. Há pessoas que não têm saúde porque têm um organismo pouco resistente às doenças.
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05. Não sei explicar porque é que há pessoas que quase nunca ficam doentes.
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06. Consigo manter-me saudável.
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07. Sou uma pessoa com um organismo fraco.
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08. Tenho azar com as doenças.
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09. Os meus pais preocupam-se comigo.
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10. Se eu quiser consigo manter o meu organismo sem problemas.
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11. Tenho comportamentos que protegem o meu organismo das doenças.
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12. Há pessoas que ficam doentes porque têm um organismo fraco.
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13. É importante para a saúde uma pessoa gostar de si própria.
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14. Algumas pessoas têm o organismo a funcionar sem problemas porque têm sorte.
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15. Não percebo porque é que algumas pessoas estão sempre a apanhar doenças.
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16. Dou-me bem com os meus pais.
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17. As pessoas apanham doenças porque não se tratam como deve ser.
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18. Vivo a vida com felicidade.
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19. Sou protegido(a) pelos meus pais.
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20. O meu organismo é pouco resistente às doenças.
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21. Consigo manter o meu corpo em forma sempre que quero.
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22. Em relação ao meu estado de saúde tenho sorte.
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23. Tenho comportamentos que fazem mal ao funcionamento do meu organismo.
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24. Costumo comer alimentos pouco saudáveis (ex.: doces, fritos, gorduras).
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25. Consigo manter o meu organismo em bom funcionamento.
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26. Trato bem do meu organismo.
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27. Há pessoas que apanham doenças porque são frágeis e sensíveis.
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28. O organismo tem problemas de funcionamento quando se tem pouca sorte.
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29. Estou contente com a minha vida.
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30. Não sei explicar porque é que o organismo de muitas pessoas funciona bem.
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31. A saúde de um jovem depende dos seus pais.
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32. O meu organismo é frágil e sensível.
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33. Andar sempre triste faz mal à saúde.
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34. Tenho sorte com o funcionamento do meu organismo.
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35. Há pessoas que são saudáveis porque o seu organismo tem muitas armas para se defender contra as doenças.
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36. Os meus pais cuidam da minha saúde sempre que preciso.
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37. Estou de mal com a vida.
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38. As pessoas ficam doentes porque têm comportamentos que fazem mal ao funcionamento do seu organismo.
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4
39. Consigo controlar o estado de saúde do meu organismo.
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(cont. o
Questionário de crenças de controlo
107
(m cont.)
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Quase nunca é verdade
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É poucas vezes verdade
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É muitas vezes verdade
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É quase sempre verdade
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40. Quando os pais protegem um filho, este quase nunca apanha doenças.
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41. Há pessoas que quase nunca apanham doenças porque são sortudas.
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42. Ando sempre cheio(a) de tristeza.
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43. O meu organismo é forte.
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44. Cuido mal do meu organismo.
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45. Não percebo porque é que as pessoas adoecem.
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46. Se as pessoas protegerem bem o seu organismo mantêm-se saudáveis.
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47. O meu organismo tem muitas armas para se defender contra as doenças.
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48. Um jovem pode ter problemas de saúde por causa dos seus pais.
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49. Estar-se contente com a vida faz bem à saúde.
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50. Na saúde sou uma pessoa com sorte.
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51. Os meus pais tratam bem da minha saúde.
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52. Há pessoas que têm saúde porque têm uma força natural contra as doenças.
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53. Consigo evitar ter problemas de saúde.
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54. Ter uma má alimentação (ex.: comer muitos doces, fritos, gorduras) faz mal à saúde.
1
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4
Referências
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(SPCOQ): Academic domain. Technical report, University of Rochester, NY.
Submissão: 20/08/2007
Aceitação: 13/05/2008

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