faculdade meridional – imed

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faculdade meridional – imed
FACULDADE MERIDIONAL – IMED
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
AS DIFERENTES MÍDIAS MUSICAIS E O SIGNIFICADO QUE ELAS TÊM PARA O
CONSUMIDOR
RICARDO DA FONTOURA MORBINI
PASSO FUNDO
2012
RICARDO DA FONTOURA MORBINI
AS DIFERENTES MÍDIAS MUSICAIS E O SIGNIFICADO QUE ELAS TÊM PARA O
CONSUMIDOR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado pelo
acadêmico Ricardo da Fontoura Morbini, da
Faculdade Meridional IMED, como requisito parcial
para
obtenção
do
grau
de
Bacharel
Administração de Empresas.
Orientado pelo professor Me. Eduardo Rech.
PASSO FUNDO
2012
em
RICARDO DA FONTOURA MORBINI
AS DIFERENTES MÍDIAS MUSICAIS E O SIGNIFICADO QUE ELAS TÊM PARA O
CONSUMIDOR
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Me. Eduardo Rech.
Orientador
Prof. Me. Kenny Basso
Integrante
Prof. Me. Claudionor Guedes Laimer
Integrante
PASSO FUNDO
2012
AGRADECIMENTOS
Primeiramente gostaria de agradecer ao meu orientador, que foi a principal ajuda.
Agradecê-lo por toda paciência, compreensão, métodos de ensino e motivação. Por ser quem
norteou minhas pesquisas, ajudando no direcionamento de todo o trabalho, e sabendo instigar
meu raciocínio, para que eu conseguisse desenvolver certas etapas desta monografia.
Agradeço-o também por sempre acreditar em meu potencial, pois sabia quando o escolhi
como orientador, que seria o único que entenderia minhas razões e meus motivos para realizar
este trabalho científico.
Gostaria de agradecer também pelo auxílio e compreensão dos entrevistados
envolvidos nesta pesquisa, que disponibilizaram do seu tempo de lazer e descanso em suas
residências para fornecer as informações necessárias para o desenvolvimento do trabalho.
Agradecendo à pessoas importantes em minha vida, que, como sempre,
disponibilizaram tempo, cuidado e atenção, foram determinantes em meu trajeto durante o
ano de desenvolvimento deste trabalho.
Gostaria então de agradecer aos meus tios Domingos Sordi e Eliana Sordi, e também à
minha prima Andréia Sordi, pela ajuda em dados momentos, momentos estes envolvidos
desde as primeiras palavras inseridas na introdução, até a pesquisa de dados realizada,
ajudando na busca de fontes, na formatação do trabalho escrito, e relendo e avaliando os
capítulos por mim redigidos.
De grande importância, estão classificados também meus sogros Rogério Goulart e
Soeli Goulart. Agredeço a eles pelo auxílio, pela paciência, pelo carinho e, principalmente,
por me incluirem em seu meio social, me tornando parte da família, com um tratamento de
filho e não de genro. Fizeram com que eu me sentisse como se já vivesse com eles há muitos
anos. Sou muito grato.
Gostaria de agradecer aos meus avós, Armênio da Fontoura e Eléa da Fontoura por
todo o auxílio, e isto envolve tanto minha vida estudantil, quanto minha vida profissional e
pessoal. Desde que cheguei a esta cidade, eles foram os principais intermediadores para que
hoje eu esteja tendo sucesso na conclusão desta pesquisa. Sempre fortalecendo os estudos, o
trabalho, e tantos outros interesses, me apoiaram em todos os momentos necessários, e
quando precisei estavam lá para me ajudar, em cada palavra, e em cada gesto. Atualmente
estão entre as pessoas mais importantes desse mundo, e que não importa o que aconteça,
merecem todo o meu respeito e o meu amor.
4
A estes, eu devo tudo. Não só a conclusão de uma pesquisa ou de um trabalho de um
ano, mas sim ao homem que me tornei, e por estar dando passos para me tornar graduado em
Administração. Estes, os quais eu me refiro, são meus pais, João Fernando Morbini e Elaine
Morbini, e meu irmão, Fernando Morbini, por toda a lembrança, preocupação e tempo
dedicado, fazendo ligações, buscando dar dicas, conversando e trocando experiências para
que eu me mantivesse focado e determinado a terminar este trabalho e a faculdade. Graças aos
meus pais consegui me inserir no ensino superior, e graças a eles me mantive durante os
quatro anos de estudo, e à eles eu dedico este trabalho. Sem eles, não sei quem seria hoje.
Gostaria de agradecer por último, à pessoa mais importante em minha vida. Ela esteve
presente em cada passo dado nos últimos, quase completos, 2 anos da minha vida. Minha
noiva, Caroline Goulart.
Se não fosse por estas pessoas, com certeza minha graduação em Administração de
Empresas na IMED seria muito difícil, ou pudesse até não acontecer.
E como último agradecimento, gostaria de agradecer à Deus. Por ter me dado tantas
oportunidades, como esta, e por ter compreendido cada opção por mim escolhida, e mesmo
assim sempre estar ao meu lado, e assim como na vida, neste trabalho me ajudou a concretizar
tantas etapas que julguei difíceis, ou que me julguei incapaz de fazer.
RESUMO
Este trabalho buscou estudar o significado das mídias e formatos digitais para os
consumidores. Através da reflexão de tentar entender a indústria fonográfica e o consumo
midiático de tantas mídias disponíveis, pois atualmente no mercado, são comercializados o
disco de vinil, o CD e o MP3, buscou-se compreender qual a mídia é a mais consumida? Qual
é a mídia mais comercializada? Como as consomem e por quê? Como reagem à pirataria?
Entre outras. A principal linha de pesquisa foi o Comportamento do consumidor, além de Self,
Cultura, Colecionismo e a história de consumo da música. Portanto uma pesquisa de campo
foi realizada, buscando aprofundar mais o assunto através de entrevistas e observações
filmadas, semi-estruturadas, com a inserção do pesquisador no ambiente dos pesquisados.
Estes pesquisados são consumidores de mídias musicais físicas e formatos digitais, inclusive
alguns destes, têm a musica como meio de subsistência. Os resultados obtidos foram
diversificados, por causa das várias discussões que se sucederam durante as pesquisas, desde
o consumo das mídias por preferência ou por possibilidade, passando pela qualidade, até a
pirataria e o fim das mídias. Além das entrevistas foram estudados o comportamento dos
entrevistados em relação às mídias e seus rituais de consumo. Esta pesquisa se justifica por
ser uma pesquisa diferenciada, que leva o conhecimento obtido no ambiente acadêmico para
assuntos do dia-a-dia.
Palavras-chave: Comportamento do consumidor; Mercado fonográfico; Disco de vinil; CD;
MP3; Ritual de consumo.
ABSTRACT
This academic work aimed to study the significance of media and digital formats for
consumers. Through reflection of trying to understand the music industry and media
consumption of so much media available, because the market phonograph today sell vinyl
records, CD and MP3, we try to understand what media is the most consumed? What is the
most commercialized media? How to consume them and why? How to respond to piracy?
Among other. The main line of research was the behavior of consumer, Self, Culture,
Collecting and history of consumption of music. Therefore a field study was conducted,
looking deeper into the subject through interviews and observations both videotaped, semistructured, with the insertion of the researcher in the environment of those surveyed. These
respondents are consumers of physical music media and digital formats, and some of them
have music as a livelihood. The results were diverse, because of the various discussions that
took place during the research, since the consumption of media by choice or by chance,
through quality, and end up hacking the media. Besides, in interviews, were studied the
behavior of respondents in relation to the media and its rituals of consumption. This research
is justified because it is a different survey, which takes the knowledge gained in the academic
environment for matters of day-to-day.
Keywords: Consumer behavior, Market phonograph; Vinyl, CD, MP3, Ritual consumption.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1………………………………………………………………………69
Figura 2………………………………………………………………………70
Figura 3………………………………………………………………………72
Figura 4………………………………………………………………………73
Figura 5..............................................................................................................73
Figura 6..............................................................................................................74
Figura 7..............................................................................................................75
LISTA DE QUADROS
Quadro 1.............................................................................................................17
Quadro 2.............................................................................................................24
Quadro 3.............................................................................................................24
Quadro 4.............................................................................................................29
SUMÁRIO
1 Introdução ....................................................................................................... 12
1.1 Justificativa e Delimitação do Problema de Pesquisa .............................. 13
1.2 Objetivo ........................................................................................................ 15
1.2.1 Objetivos Geral......................................................................................... 15
1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................... 15
2 Referencial Teórico ........................................................................................ 16
2.1 Música........................................................................................................... 16
2.1.1 As Mídias na Música Moderna ............................................................... 18
2.1.2 A Disseminação da Música na Sociedade de Informação .................... 20
2.2 Comportamento do Consumidor ............................................................... 22
2.3 Self................................................................................................................. 25
2.3.1 Self Estendido ........................................................................................... 26
2.4 Cultura e Consumo ..................................................................................... 28
2.5 Consumo ....................................................................................................... 30
2.5.1 Ritos e Rituais de Consumo ..................................................................... 30
2.5.2 Consumo Simbólico .................................................................................. 31
2.6 Colecionismo ................................................................................................ 31
3 Método ............................................................................................................. 33
3.1 Delineamento da pesquisa .......................................................................... 33
3.2 Procedimento para coleta de dados ........................................................... 33
3.2.1 Público Alvo .............................................................................................. 34
3.2.2 Entrevistas em profundidade filmadas/Vídeografia ............................. 35
10
3.2.3 Etnografia ................................................................................................. 36
3.2.4 Entrevista .................................................................................................. 36
3.2.5 Análise ....................................................................................................... 37
3.2.5.1 Análise de conteúdo............................................................................... 37
3.2.5.2 Análise de discurso ................................................................................ 37
3.2.6 Símbolos e Objetos ................................................................................... 38
4 Resultados ....................................................................................................... 39
4.1 Os Entrevistados .......................................................................................... 39
4.2 Análise das respostas ................................................................................... 41
4.2.1 Frequência de consumo diário ................................................................ 41
4.2.2 Gênero preferido ...................................................................................... 43
4.2.3 Preferência por mídia ou formato para o consumo musical ................ 45
4.2.3.1 Mídia de maior consumo atualmente .................................................. 46
4.2.4 Qualidade das mídias ............................................................................... 47
4.2.5 Colecionismo ............................................................................................. 49
4.2.6 Significado das mídias.............................................................................. 50
4.2.7 Aquisição das mídias ................................................................................ 51
4.2.8 Sensação no(a) consumo/aquisição de mídias........................................ 54
4.2.9 Opinião sobre formato musical MP3 ..................................................... 55
4.2.10 Música disponibilizada na internet ...................................................... 57
4.2.11 Fim das mídias e o futuro do mercado fonográfico ............................ 60
4.2.11.1 Fim do disco de Vinil........................................................................... 60
4.2.11.2 Fim do CD ............................................................................................ 63
4.2.11.3 Futuro das mídias no mercado fonográfico ...................................... 65
11
4.3 Ritual de consumo ....................................................................................... 67
4.3.1 Consumindo música ................................................................................. 67
4.4 Bens e objetos ............................................................................................... 71
5 Conclusão ........................................................................................................ 76
5.1 As mídias e seus consumidores................................................................... 76
5.2 Objetivo Alcançado ..................................................................................... 78
Referencial ......................................................................................................... 80
Apêndice A ......................................................................................................... 83
Anexos................................................................................................................. 85
1 Introdução
A indústria fonográfica sofreu alterações consideráveis com o avanço tecnológico. Os
meios de divulgação musicais usados atualmente e a evolução das mídias no século XXI
transformaram o marketing fonográfico. A pirataria ganhou ênfase com a evolução
tecnológica. O Compact Disc (CD), substituto do LP (Long Play), também chamado de disco
de vinil, deu início ao desenvolvimento da pirataria, que antes era quase nula, através de
aparelhos próprios para copiá-lo. Posteriormente, foi a vez de um segundo substituto, o MP3,
que surgiu trazendo conseqüências positivas e negativas, tornando-se a principal mídia
musical atual, mas possibilitando um aumento notável da pirataria, a pirataria virtual, pois seu
meio de divulgação é a Internet.
As duas principais mídias musicais que estão em atividade no mercado fonográfico,
o disco de vinil e o CD, carregam diferentes valores. O disco de vinil ainda se mantém de
forma escassa, mas é aquele que alcançou maior crescimento em suas vendas, virou alvo de
colecionadores e de formadores de opinião, e músicos estão novamente lançando cópias de
seus álbuns em formato LP (Long Play). O CD está perdendo seu foco, por causa do MP3,
mas ainda é o principal meio de divulgação da indústria fonográfica, pela praticidade e pela
compatibilidade com aparelhos diversos. A internet está ganhando destaque. Produtoras,
gravadoras e selos estão mudando sua estratégia de marketing e se rendendo ao marketing
digital, através do download do MP3.
A música passa por um processo de renovação. Os computadores, que passaram a
substituir muitos aparelhos, possibilitaram a criação de pequenos estúdios musicais em
domicílios, substituindo os velhos equipamentos analógicos por novos softwares e plug-ins.
Cria-se então a liberdade musical, qualquer um pode ter suas músicas gravadas, sem
mais necessitar da indústria em si, dos estúdios, dos produtores e das grandes gravadoras
(Majors). As pequenas gravadoras (Indies) elevaram seus mercados com o avanço da
tecnologia e com a internet. O uso do MP3 e o fácil acesso aos meios de comunicação são
causadores do crescimento dessas gravadoras, que comemoram este avanço mesmo em meio
às dificuldades enfrentadas pela indústria fonográfica.
O mercado fonográfico dificilmente será o mesmo, comparado ao tempo em que a
pirataria ainda não se fazia presente. Números que antes eram bilionários hoje são
milionários. Artistas que antes eram premiados com disco de diamante ao venderem um
13
milhão de cópias, hoje têm este valor dividido pela metade, pela incapacidade das vendas
alcançarem estes números, causa da crise existente no mercado (ABPD, 2004).
Com toda a força que o mp3 está ganhando e toda a possibilidade que este tem de
dominar o mercado, como pode ser que as mídias fonográficas se mantêm tão forte no
mercado. Qual o significado que elas têm para seus consumidores? Quais reações são
causadas nos consumidores ao consumir e obter as mídias tanto físicas quanto digitais? É
importante que os novos profissionais de marketing da indústria fonográfica tenham bem
formulados seus planejamentos, para que possam manter a indústria e talvez reacenderem-na.
O objetivo deste trabalho é, através de pesquisa de campo e análise de dados e
fatos, apresentar diferentes perfis de consumidores, seus comportamentos e suas opiniões
sobre a evolução, a qualidade e os valores que cada um dos diferentes tipos de mídia carrega.
Esta pesquisa será realizada através de métodos quantitativos e qualitativos.
1.1 Justificativa e Delimitação do Problema de Pesquisa
O disco de vinil era julgado por certos problemas como o período curto de duração de
sua qualidade pura, onde chiados eram cada vez mais possíveis de serem notados conforme
seu estado de uso. Com a evolução de estudos e a busca por melhoras de qualidade e
prolongamento desta, o CD apareceu tornando o disco de vinil obsoleto. A indústria e os
consumidores sairiam ganhando, se não fosse a pirataria.
A indústria se mantém através do CD como principal meio de divulgação, mas com
uma atenção dedicada ao MP3. Este é um formato de áudio digital independente de mídia, que
em 2010 atingiu 29% do mercado fonográfico (ESTROMBO, 2011), principalmente das
gravadoras independentes. O MP3 é prático, simples e pode carregar uma qualidade
semelhante ao CD, mas não deixa de ser alvo de críticas, além de que este formato de áudio é
o facilitador da propagação da pirataria pela Internet.
Pode-se imaginar que cada mídia carregue um valor, pois, existem álbuns lançados,
que podem ser obtidos através de downloads de websites, que são adquiridos em CD por
consumidores pelo significado que aquele determinado produto tem em sua forma física.
Existem ainda aqueles consumidores que compram um disco de vinil deste mesmo álbum,
pois este tem um significado maior ainda, pois ouvir um disco de vinil hoje em dia remete o
consumidor à sentimentos de nostalgia.
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O mercado fonográfico decaiu bastante, mas o vinil e o CD ainda dominam-o. Com a
chegada da era digital, criou-se o marketing digital e este vem ganhando força. Mas o
significado que a mídia física tem para os consumidores faz com que ela se mantenha firme
nas vendas.
Os álbuns que são lançamentos, na data de seu lançamento, são disponibilizados para
download pela gravadora, pelo selo, ou pelo próprio músico em seus websites. E quando estes
álbuns não estão disponíveis para comercialização on-line, são logo disponibilizados pela
pirataria sem custo algum. A luta contra a internet é inevitável. Os álbuns antigos, lançados
em vinil e em fita K-7 (Cassete) também são encontrados na internet, mas em sua maioria,
não pela prática da pirataria em si, mas porque admiradores daquele determinado produto
querem a sua disseminação.
E mesmo com todo esse avanço tecnológico e a facilidade dos álbuns de serem
encontrados com um preço baixo e na maioria das vezes sem custo, os discos de vinil vem
alcançando seu maior crescimento nas vendas nos ultimos anos, e é esperado ainda para 2011
um aumento de 25% do seu consumo no mercado (DIGITAL MUSIC, 2011). Mesmo sendo
ele responsavel pela menor parte das vendas físicas da indústria.
Segundo Segalen (2002), rituais são atos presentes em nosso cotidiano, de valor
expressivo que carregam consigo um simbolismo. O vinil, por exemplo, é um nicho de
mercado por vários motivos e o seu consumo é considerado um ritual. O consumo das mídias
físicas carrega um significado diferenciado para o consumidor.
Hogg et al. (2008), define consumo simbólico como uma forma do consumidor se
inserir em determinados grupos. Cada pessoa possui o seu self, que é descrito como a imagem
que esta tem de si mesma. Através de suas metas e aspirações pessoais, a pessoa define seu
possível self, para que em conseqüência possa se inserir em determinado grupo. O consumo
da mídia física, em grande parte, se deve em razões de significados e valores que atendem o
self do indivíduo.
A escolha pela compra de um CD ou de um disco de vinil pode ser determinada
principalmente pela qualidade, pelo respeito e pela consideração e apoio ao trabalho dos
músicos e daqueles inseridos na indústria fonográfica. Mas a escolha pelo consumo de uma
mídia física, ao invés do formato de áudio MP3, também pode ser atribuído ao “ser” do
consumidor e à sua imagem, ao bem-estar do indivíduo, ao ritual que é escutar a música
proveniente desta e manusear sua embalagem, à nostalgia que é possibilitada tanto àqueles
que viveram a época dos discos de vinil quanto àqueles que não viveram.
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Como pode o vinil sobreviver desde o lançamento do CD, que surgiu na década de 80,
quase o aposentando? Como pode o CD se manter tão forte no mercado com a digitalização
da música? Como os diferentes grupos de consumidores analisam o formato de música em
MP3? Se mesmo com toda esta tecnologia e comunicação que nos é possibilitada, como
podem as mídias físicas ainda dominar o mercado e serem responsáveis pelo maior
crescimento das vendas? Através disso, buscam-se identificar os grupos de consumidores das
diferentes mídias musicais, e definir detalhadamente, quais são os significados que estas
mídias têm para o seu consumidor. Este estudo busca responder a seguinte indagação. Qual o
significado que as diferentes mídias e formatos de audio têm para o consumidor?
1.2 Objetivo
Seguem os objetivos Geral e Específicos determinados para o desenvolvimento desta
pesquisa.
1.2.1 Objetivos Geral
Identificar o significado que as diferentes mídias e formatos de áudio tem para os
consumidores.
1.2.2 Objetivos Específicos
1. Apresentar as mídias sonoras consumidas atualmente.
2. Identificar como ocorre o consumo das mídias.
3. Explicar a relação que o consumidor tem com as diferentes mídias fonográficas.
4. Identificar os rituais de consumo das diferentes mídias de áudio.
2 Referencial Teórico
2.1 Música
A música pode usar vários meios de expressão e de linguagem, não há nenhum outro
produto com tantas características culturais tão especiais, e com um modo de adaptação aos
meios de comunicação tão capaz (DE LIMA; SANTINI, 2005).
Os trabalhos historiográficos que apresentam a relação entre história e música, e
também a produção do conhecimento, enfrentam dificuldades, assim como qualquer trabalho
de um historiador. A dispersão de fontes desorganizadas, junto da falta de especialistas sobre
o assunto, e estudos específicos que se unem à escassez de apoio institucional, acabam
resultando apenas em trabalhos de campo individuais, simples, e pouco aprofundado ou
discutido (DE MORAES, 2000).
A música atual advém quase que somente de repertórios medievais, renascentistas e
barrocos, que datam as primeiras décadas do século XVIII (BERNARDES, 2009). Quando se
inicia o século XX, o ritmo de vida se acelera e a música toma novas formas e absorve novas
informações com a mesma rapidez. As pessoas escolhem então viver nas grandes cidades e a
industrialização passa a tomar conta de tudo. Surge então a indústria cultural da música (DE
LIMA; SANTINI, 2005).
A partir da década de 40, com o advento dos alto-falantes e dos meios de reprodução
musical, os músicos puderam experimentar uma experiência nova na composição da música.
Inicia-se um novo passo, onde o músico começa a se auto avaliar, se tornando ouvinte de seus
próprios trabalhos (DE LIMA; SANTINI, 2005).
“A Comunicação, a Cultura e a Arte sofrem profundas mudanças com a emergência
das novas tecnologias digitais” (DE LIMA; SANTINI, 2005, p. 11). A partir da década de 60
e 70 as músicas começaram a ser formadas em computadores (DE LIMA; SANTINI, 2005).
A evolução tecnológica trouxe a possibilidade de gravação e popularização de instrumentos
musicais, fazendo com que surgissem diversos gêneros musicais e que sua difusão se
popularizasse, cada um de seu jeito, modo, com técnicas próprias e com um público alvo,
tendo sua própria concepção de arte (DE LIMA; SANTINI, 2005).
O Rock foi um gênero musical que surgiu graças à “amplificação eletrônica do som”
na década de 60. O volume musical fez com que esse gênero predominasse na Europa e nos
17
EUA, onde se destacaram grupos musicais como Beatles e Rolling Stones (DE LIMA;
SANTINI, 2005).
As apresentações desses grupos e a influência que eles tinham sobre o seu público
trouxeram uma nova ideologia para a indústria musical, mais precisamente das gravadoras,
que obtinham os direitos sobre estes músicos, e que passaram a explorá-los. Apesar da música
produzida no ocidente na década de 60, passar a ter foco na rentabilidade, foi o Rock que
tornou a música uma cultura, onde gostar de um gênero musical é ter uma maneira de viver a
vida. (DE LIMA; SANTINI, 2005).
A música é uma arte em constante mutação, e com o advento da tecnologia a criação
musical se tornou algo simples e comum, e de acesso a milhares de pessoas, com várias
inovações e conseqüentemente a criação de vários estilos musicais (DE LIMA; SANTINI,
2005).
No quadro 1, segue a comparação do ambiente musical entre a modernidade (séc. XX)
e a era da tecnologia (séc. XXI):
Quadro 1 - Modernidade X Sociedade da informação
Fonte: DE LIMA; SANTINI (2005)
Resumidamente, a música moderna são as canções reproduzidas no fonógrafo e
difundidas pelo rádio, onde discos de vinil gravam artistas e estes são reproduzidos em tocadiscos em casas, esta cultura vende milhões em dinheiro. A música da sociedade da
informação é vinculada às tecnologias, onde a forma musical é a música eletrônica e aberta,
que fluem na Internet sob o formato de MP3, e CDs são apenas para armazenamento e
transição de música, quem realmente toca música são os reprodutores de MP3 que são
desejados por milhões de pessoas no mundo todo (DE LIMA; SANTINI, 2005).
De Lima e Santini (2005) definem o seguinte sobre a história da música:
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“A música é uma linguagem feita de sons e, algumas vezes, também de palavras.
Uma Obra-de-arte nunca sai do nada, pois é sempre um elo de uma cadeia. Num
plano imediato, uma música pode nascer de uma reação a uma outra música e dar,
assim, a aparência de uma ruptura da cadeia. Mas isso é apenas aparência. A música
evolui não apenas a partir de suas formas, de sua técnica, do seu estilo e dos seus
modos de expressão, mas, principalmente, a partir das tecnologias e dos novos
modos de experimentação, que modificam sua linguagem. A história da música é
mais uma criação contínua do que uma evolução”. (p. 20, 21)
2.1.1 As Mídias na Música Moderna
O suporte material das mídias fez com que a disseminação da música se expandisse
para além dos limites de onde ela foi gerada, através da comercialização de bens culturais
diversos. A difusão musical mundial hoje existente se dá pelo uso de material físico, gravação
e reprodução (DE LIMA; SANTINI, 2005).
Para Cardoso Filho e Janotti Jr. (2006):
“Em termos midiáticos, pode-se relacionar a configuração da música popular
massiva ao desenvolvimento dos aparelhos de reprodução e gravação musical, o que
envolve as lógicas mercadológicas da indústria fonográfica, os suportes de
circulação das canções e os diferentes modos de execução, audição e circulações
audiovisuais relacionados a essa estrutura”. (p. 1)
O termo “música popular massiva”, segundo Cardoso Filho e Janotti Jr. (2006), se
refere a um repertório musical compartilhado a âmbito mundial e que está ligado à indústria
fonográfica, desde a produção e circulação até o consumo deste.
Antes de haver evolução tecnológica, a produção e o consumo de mídias, a música só
podia ser desfrutada pelo consumidor que se encontrava ao mesmo tempo com o músico para
a realização desta, tanto em rituais tribais, como em salões nobres, palcos e feiras livres.
(LIMA, 2007). “A música era fruto dos corpos que a produziam e era impossível, para o
ouvinte, ficar alheio à presença desses corpos” (DE LIMA; SANTINI, 2005, p. 37).
A presença do ouvinte no encontro presencial com o músico só se tornou dispensável
com o advento das notações musicais, onde começaram a serem comercializadas, pelos
músicos e compositores, partituras musicais impressas por editores. Era o primeiro passo dado
para a disseminação da música, mas para que fosse possível a reprodução desta, o consumidor
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tinha que ter os instrumentos precisos e saber tocá-los, ou pelo menos conhecer alguém que o
pudesse fazer (LIMA, 2007).
O consumo da música por parte daqueles que desconheciam a notação musical se dá
ao surgimento de diversos aparelhos de gravação e reprodução sonora, como o fonógrafo, o
gramofone, o rádio e o toca-discos (CARDOSO FILHO; JANOTTI JR., 2006). Além do
distanciamento entre os músicos e os ouvintes, a possibilidade de registrar a música através de
um processo de produção musical fez com que uma música, antes composta e improvisada,
pudesse ser pensada, analisada e estruturada (DE LIMA; SANTINI, 2005).
As primeiras gravações de áudio surgiram em 1877, com a criação do fonógrafo por
Thomas Alva Edison (CROWL, 2007; DE LIMA; SANTINI, 2005). O fonógrafo era um
aparelho que gravava e reproduzia sons em cilindros de cera e que eram transmitidos através
de um bocal semelhante a certos instrumentos de música clássica (CROWL, 2007). Ainda
segundo Crowl (2007), o fonógrafo era comercializado originalmente pela Edison Speaking
Phonograph Company, empresa de Thomas Edison, e tinha em sua comercialização diversos
usos, como ditar textos para deficientes visuais, gravar vozes e conversas e era usado até
mesmo em conexão com o telefone para serem gravadas as ligações.
O alemão Emile Berliner, um ex-funcionário de Graham Bell, o criador do telefone, é
quem em 1888 patenteia e constrói o gramofone e o disco plano, o sucessor do fonógrafo.
Thomas Edison chegou a patenteá-lo, porém não investiu em sua fabricação devido à
dificuldade de manutenção da rotação ao chegar no centro do disco. (PICCINO, 2003). A
importância que os primeiros sistemas de gravação tiveram para a música foi tanta, que se
tornou possível captar as performances ao vivo dos artistas, e tornar acessível ao público a
emoção de estar presente em uma apresentação musical, pois naquele tempo o que trazia a
sensação de prazer as pessoas era estar presente quando a música fosse reproduzida (DE
LIMA; SANTINI, 2005).
Com o descobrimento da fórmula de Policloreto de Vinila (PVC) e as várias tentativas
de alcançar a longa duração dos discos, é que em 1948 um engenheiro chamado Peter
Goldmark desenvolve o microssulco, cavidades bem mais estreitas por onde passa a agulha do
toca-discos, criando então o formato LP (Long Play). Associado à já existente rotação de 33
1/3 RPM (rotações por minuto), este novo formato permite que se grave de 15 a 20 minutos
de cada lado, ou seja, 4 ou 5 músicas, contra os 4 min dos discos de 78 RPM do gramofone
que possibilitavam no máximo 2 músicas (PICCINO, 2003).
Segundo Piccino (2003) após a segunda guerra, chegam ao mercado também, como
tecnologia de gravação, os meios de reprodução magnéticos que passam a intermediar a
20
captação e o processo do corte do acetato. Esse avanço permite no período inicial do LP
remasterizações de gravações realizadas em 78 RPM. Porém, o LP passa a dominar o
mercado nos anos seguintes, partindo do início da década de 50 até o final da decada de 80.
Piccino (2003) ainda relaciona o fortalecimento da indústria do disco ao movimento de
desenvolvimento tecnológico e de industrialização dos Estados Unidos no pós-guerra.
Após o LP, quem viria se tornar a bola da vez seria o disco compacto digital (Digital
Compact Disc), conhecido como CD. Este foi inventado no final de 1965 por James T.
Russell. Porém, se tornou popular somente nos anos 80 quando começou a ser produzido em
massa pela empresa holandesa Philips (CABELLO et al., 2011). Cabello et al. (2011) relata o
seguinte sobre o criador do CD e sua criação:
“Russel era um viciado em música. Como todos de sua época usavam disco de vinil
e reclamavam da falta de qualidade de som, querendo melhores tecnologias, o
inventor visionou um sistema que poderia gravar e tocar sons sem o contato físico
entre o disco e o player. Acabou chegando à conclusão de que o melhor jeito de se
concretizar essa idéia era usando luz. Ele percebeu que se representasse os números
binários zero e um com claro e escuro, o aparelho poderia tocar sons, ou qualquer
informação, sem ao menos ter uma agulha. Mais ainda, notou que se conseguisse
deixar o código binário pequeno o bastante, guardaria não só sinfonias, mas sim
enciclopédias inteiras em um pequeno pedaço de filme”. (p.1)
Proporcionando qualidade e um som limpo e constante em todas as execuções, esse
meio de armazenamento impressionou também pela longa duração da mídia, que quando
adquirida e manuseada cuidadosamente, poderia durar muitos anos (CABELLO et al., 2011).
Foram criados outros formatos de mídia chamados CD-R e CD-RW, que com uma
camada extra, trazem a possibilidade de gravação e regravação do CD. Surge também, após o
CD, em 1995, um formato de mídia que também viria a ser usado pela indústria fonográfica,
mas que é classificado como multimídia, o DVD. Este se diferencia do CD pelo espaço de
armazenamento muito superior e é usado no mercado fonográfico para reprodução de vídeos,
como shows e videoclipes. (CABELLO et al., 2011).
2.1.2 A Disseminação da Música na Sociedade de Informação
A partir de 1970, o avanço da tecnologia de modo geral fez com que o uso de
hardwares e softwares se intensificasse, e a indústria fonográfica começasse a passar por
21
processos de mudança. Então nos anos 80, houve o barateamento da tecnologia digital, e uma
grande produção de programas eficazes para a produção musical, o que trouxe para a indústria
da música um novo ambiente. Desde então, boa parte das músicas estiveram ligadas a
Informática e seus recursos (DE LIMA; SANTINI, 2005).
As músicas antes gravadas por processos analógicos, agora passavam a serem
gravadas por computadores, onde o som era reproduzido por taxas de bits (DE LIMA;
SANTINI, 2005).
Com a internet, a música teve uma grande reorganização quanto aos seus modos de
produção, e o consumo de música se modificou (DE LIMA; SANTINI, 2005). Atualmente,
quem está se tornando a base para a divulgação, reprodução e comércio da música é a
internet, através de novas plataformas de interação e comunicação social (DE LIMA;
SANTINI, 2005). A música partilhada pelas máquinas de casa em casa, via Internet através de
satélites, é a música da cibercultura (DE LIMA; SANTINI, 2005).
Cibercultura é a cultura da tecnologia e da Internet, que vive sobre novos padrões
culturais, orais e escritos (DE LIMA; SANTINI, 2005). A web vem se tornando um ambiente
indispensável para a vida do ser humano desde a decada de 2000, com espaços para a
circulação de textos, imagens, vídeos e outros, tornando o conhecimento disponível e capaz a
todos. O mesmo ocorre com a música, que circula em ambito mundial graças a internet, e com
isso o marketing musical vem mudando seu foco (DE LIMA; SANTINI, 2005).
Quando a música foi inserida pela primeira vez para dentro de um computador, para
que seu compartilhamento via rede fosse possível, ela foi comprimida, pois era considerada de
grande dimensão aos hardwares e softwares da época. Mas a compressão acabava retirando
alguns detalhes do som, ou seja, quanto maior fosse a compressão, menos qualidade ela teria.
Muitas formas de inserssão da música na internet foram possíveis a partir daí, mas quase
todas tiravam alguma informação da música original. Com a necessidade de se manter a
qualidade, cria-se então o MP3 (DE LIMA; SANTINI, 2005).
O MP3 (Mpeg1-Layer3) se tornou popular em 92 para gravações de CD’s, criando a
possibilidade do público montar suas propias coletaneas musicais, mas foi com a internet que
seu uso se tornou intensificado. Sua qualidade é considerada inferior ao CD, e não possui
proteção contra cópia, qualquer um pode reproduzi-lo em qualquer aparelho ou programa e
eles podem ser enviados via internet, de uns aos outros, como se fosse uma mensagem de email (DE LIMA; SANTINI, 2005).
Com a difusão popular do MP3, criaram-se questionamentos sobre o formato de venda
de música, mas ninguem consegue afirmar se o CD entrará em desuso, ou se o MP3 irá
22
realmente dominar o mercado, o que se sabe é que a emissão, a distribuição e a reprodução de
música sem uma mídia física (Vinil, CD) é uma realidade. Sua nomenclatura é padronizada a
nível mundial, e qualquer um que hoje quiser ter acesso pela internet a uma música, fazendo o
download, ou tendo acesso ao arquivo de forma on-line nos websites, em qualquer parte do
mundo se referirá a uma sigla apenas, MP3 (DE LIMA; SANTINI, 2005).
Hoje existem diversos softwares para reprodução e compartilhamento de MP3. Hoje o
consumidor de música tem uma posição privilegiada graças a internet. Históricamente, mais
precisamente no final da decada de 90, houveram nomes que influeciaram a revolução da
música na internet, dentre eles encontram-se Winamp, Napster e KaZaA. Foi então que
pessoas em seus respectivos lares, começaram a copiar CDs para dentro do computador e
tornando capaz a distribuição para milhares de pessoas (DE LIMA; SANTINI, 2005).
Impor restrições as redes se tornou algo complexo, pois não há um servidor
centralizado por onde passam os arquivos da internet, o arquivo se transfere direto de um
computador a outro sem intermediário, fazendo assim incapaz de ser controlado. Não há, no
presente momento um método de de controle da distribuição ilegal de música via internet (DE
LIMA; SANTINI, 2005).
A internet e o MP3 modificaram conceitos sobre o copyright (direito de cópia),
mudando os conceitos morais e éticos e dando origem a liberdade de informação (DE LIMA;
SANTINI, 2005).
A maioria dos artistas estão aprendendo a reagir ao advento do MP3, e esta tecnologia
faz parte do cotidiano dos jovens, assim como as fitas gravadas pelos jovens da década de 70
e 80 que não podiam pagar pelas mídias da indústria fonografica. O download de músicas na
internet é apoiado por músicos como Madonna, Bono Vox e Lobão, mas existem grupos
como Metallica que acham do download uma “ciberpirataria”. Mas o que motiva os artistas
que apoiam o download livre é o alcance da música a grande massa de pessoas, onde a renda
do artista não se baseia mais na venda de discos e sim em ingressos de shows (DE LIMA;
SANTINI, 2005).
2.2 Comportamento do Consumidor
“A compra de um bem não é normalmente um ato espontâneo e passageiro, mas o
efeito de um processo psicológico de conflitos internos” (RICHERS, 1984, p. 46). Segundo
Schiffman e Kanuk (2007, p. 1), comportamento do consumidor é “o comportamento que os
23
consumidores apresentam na procura, na compra, na utilização, na avaliação e na destinação
dos produtos e serviços que eles esperam que atendam as suas necessidades”.
Blackwell, Miniard e Engel (2008, p. 6) definem comportamendo do consumidor
como “atividades com que as pessoas se ocupam quando obtem, consomem e dispõem de
produtos e serviços”
Para Branco (2005) comportamento do consumidor é o estudo onde o consumidor é
analisado dentro do seu invólucro cultural, sofrendo influência da família, crenças, costumes,
valores, idade, sexo, raça, enfim, tudo aquilo que impacta na formação de sua personalidade.
Schiffman e Kanuk (2007) detalham mais ainda o conceito, complementando que o
comportamento do consumidor visa como os indivíduos tomam decisões para utilizar os
recursos, como tempo, dinheiro e esforço, no consumo de itens relativos, que inclui o que eles
compram, por que compram, quando compram, onde compram, com que frequência compram
e com que frequência usam o que compram, como avaliam o que compram e o impacto dessas
avaliações em compras futuras.
Solomon (2011, p. 27) define que o Comportamento do Consumidor é o “estudo dos
processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou descartam
produtos, serviços, idéias ou experiências para satisfazer necessidades ou desejos”.
Históricamente segundo Richers (1984) os economistas foram os primeiros cientistas a
buscar uma explicação com base psicológica e racional ao comportamento do consumidor,
mas os psicólogos definiram outras variáveis ao comportamento e estipularam um novo
processo de forma padronizada de como era o comportamento do consumidor na compra de
um bem ou serviço. Pelas críticas recebidas a estas teorias por profissionais da área de
comportamento do consumidor, Richers (1984) conclui dizendo que nenhum consumidor age
de forma tão racional quanto explanaram os economistas e nem de forma tão padronizada
quanto explicitaram as teorias psicológicas.
Surge então em definitivo na década de 60, como explanam Schiffman e Kanuk
(2007), o estudo sobre o comportamento do consumidor. Os teóricos do Marketing tomaram
emprestadas teorias científicas da psicologia, da sociologia, da psicologia social, e da
economia para formar a base do comportamento do consumidor. Todos estes fatores se
combinam para formar um modelo abrangente do comportamento do consumidor através de
aspectos cognitivos e emocionais na tomada de decisão (SCHIFFMAN; KANUK, 2007).
Existem três grandes fases na definição do comportamento do consumidor, onde em
cada uma delas podem ser consideradas várias atividades: (1) obtenção, (2) consumo e (3)
eliminação (BLACKWELL, MINIARD E ENGEL, 2008).
24
O processo de consumo de um bem segundo Blackwell, Miniard e Engel (2008) passa
por 7 estágios, explanado de forma simplificada no modelo PDC (Processo de decisão do
consumidor) a seguir:
Quadro 2 - Processo de decisão do consumidor
Fonte: Desenvolvido pelo autor
Segundo Richers (1984) a tomada de decisão do consumidor é basicamente afetada
pelas variáveis comportamentais e as influências externas:
Quadro 3 - Processo de decisão do consumidor
Fonte: Richers (1984)
Richers (1984) relata que dentre as variáveis comportamentais que influenciam o
comportamento do consumidor na compra de um certo produto se encontra a personalidade. A
25
personalidade pode ser definida como as “características psicológicas internas que
determinam e refletem como uma pessoa reage a seu ambiente” (SCHIFFMAN; KANUK,
2007, p. 84). Para Blackwell, Miniard e Engel (2008, p. 220) a personalidade se define nas
“respostas consistentes aos estimulos ambientais.” E complementam dizendo que “ela é uma
maquiagem psicológica individual única, que consistentemente influência como a pessoa
responde ao seu ambiente”. A personalidade é definida por vários componentes como valores,
atitudes, crenças, motivos, intenções, preferências, opiniões, interesses, preconceitos e normas
culturais (RICHERS, 1984).
A maneira que o consumidor deve se comportar em frente a uma decisão de compra é
um conflito psicológico, onde a socialização é um dos principais responsáveis (RICHERS,
1984). Segundo Schiffman e Kanuk (2007) o caráter social tem origens psicológicas que
focam na identificação do indivíduo em tipos socioculturais distintos. Secord e Beckman
apud Richers (1984, p. 49), definem a socialização como “o processo interacional que conduz
uma pessoa a modificar o seu comportamento de acordo com as expectativas tidas por
membros dos grupos a que ela pertence”, socialização é um processo de mudanças
provocadas pela aprendizagem de vivência.
2.3 Self
A percepção do self (eu) é muito associada com a personalidade da pessoa, pois os
indivíduos tendem a comprar produtos e serviços que se relacionem com a própria autoimagem. (SCHIFFMAN; KANUK, 2007). Os consumidores buscam escolher marcas que
representem a si mesmos, que possam melhorar seu autoconceito (SCHIFFMAN; KANUK,
2007).
Segundo Schiffman e Kanuk (2007), em estudos antigos imaginava-se que os
consumidores consumiam produtos para satisfazerem um único self. Atualmente os estudos
consideram que o consumidor possui “multiplos selfs”, pois pessoas saudáveis ou normais,
tendem a se comportar conforme o ambiente em que ela se encontra, conforme a situação ou
papel social.
O conceito de auto-imagem incia-se definindo que cada pessoa tem uma imagem de si
mesmo como um certo tipo de pessoa, pelas suas habilidades, hábitos, comportamento, posses
e relacionamentos e ela é formada de forma única, cada pessoa tem a sua auto-imagem em
razão das suas experiências. Essa auto-imagem é desenvolvida pelo meio em que o indivíduo
26
interage, de começo com seus familiares e depois com outros indivíduos ao longo de sua
vivência (SCHIFFMAN; KANUK, 2007).
Segundo Schiffman e Kanuk (2007, p. 99), avaliando a literatura pode-se descrever os
seguintes tipos de auto-imagem: “(1) auto-imagem real (como os consumidores de fato se
vêem), (2) auto-imagem ideal (como os consumidores gostariam de se ver), (3) autoimagem social (como os consumidores acham que os outros os vêem), e (4) auto-imagem
social ideal (como os consumidores gostariam que os outros os vissem)”. Ainda segundo
Schiffman e Kanuk (2007) há também outros dois tipos de auto-imagem convenientes de
serem pensadas, que são o eu esperado (como o consumidor espera ver-se em um futuro) e o
eu obrigatório (traços ou características que o consumidor julga seu dever ou obrigação
possuir).
Cada auto-imagem do indivíduo pode ser selecionada pelos consumidores em
diferentes contextos, para orientar suas atitudes e seu comportamento (SCHIFFMAN;
KANUK, 2007). A alteração do self, em especial na aparência, pode ser feita basicamente
pelo uso de um cosméstico, ou um corte de cabelo, até uma tatuagem ou uma cirurgia plástica
(SCHIFFMAN; KANUK, 2007).
A internet possibilita a criação de selfs virtuais. Através de salas de bate-papo ou de
programas de conversação, pessoas alteram seus eus, como mudança de sexo, idade e classe
social, explorando assim novas identidades ou identidades alternativas (SCHIFFMAN;
KANUK, 2007).
2.3.1 Self Estendido
O self estendido (meu) é a relação da auto-imagem com seus bens (BELK, 1988;
SCHIFFMAN; KANUK, 2007). Os bens de um consumidor podem ser considerados a
extenção de sua auto-imagem, assim determinado bem é uma extensão do self (SCHIFFMAN;
KANUK, 2007). O conceito de self estendido não se limita em objetos e bens pessoais, vai
além, incluindo pessoas, lugares, grupos, partes do corpo e até orgãos vitais (BELK, 1988).
Os produtos comprados por certa pessoa, as atividades por ela realizadas e no que ela acredita
definem quem é esta pessoa e com quem ela se identifica (WATTANASUWAN, 2005).
Segundo Belk (1988) através de estudos comprova-se que, lugares e experiências vivídas
tendem a ser mais claramente parte do self.
27
De fato, atualmente os consumidores não consomem apenas por necessidade, mas
também
para
carregar
consigo
um
projeto
de
seu
auto
desenvolvimento
(WATTANASUWAN, 2005). Os bens são consideradas não somente uma parte do self, mas
também responsáveis pelo desenvolvimento do self (BELK, 1988). As categorias do self
estendido são definidas segundo Belk (1988) em (1) corpo, (2) processos internos, (3) idéias,
(4) experiências, (5) pessoas, (6) lugares e (7) objetos.
Schiffman e Kanuk (2007) classificam em 5 categorias de como os bens podem
estender o self de vários modos, como: (1) realmente, que permiti que a pessoa faça coisas
que de outro modo seriam muito difícil ou impossível de serem feitas, como por exemplo
resolver certos problemas pelo computador; (2) simbolicamente, fazendo a pessoa se sentir
melhor ou maior, como receber um prêmio de melhor de vendedor; (3) conferindo status ou
classificação, como um colecionador que obtem uma certa peça rara; (4) proporcionando
sentimentos de imortalidade, deixando bens valiosos para outros membros da família (às
vezes estendendo também o self dos recebedores; e (5) proporcionando poderes mágicos,
como um par de abotoaduras herdadas de um familiar que pode ser considerado um artefato
que proporciona sorte (SCHIFFMAN; KANUK, 2007).
Os consumidores de vez em quando tem a vontade de mudarem a si mesmo para se
tornar alguém diferente, e com isso se sentir melhor. Através dos produtos de auto-alteração,
ou melhor, roupas diferentes e acessórios, o consumidor muda, mantém, ou estende o seu self.
A alteração do self está estreitamente ligada a vaidade pessoal. Pesquisas apontam que a
vaidade física e a vaidade de realizações são relacionadas ao materialismo, à roupas,
cosmésticos e outros (SCHIFFMAN; KANUK, 2007).
Há pesquisas também sobre o autocontrole, que retrata os baixos autocontroladores e
os alto autocontroladores, onde os primeiros são indivíduos guiados por seus sentimentos
íntimos, enquanto os seguintes, são os que agem diferente em diversas situações. Em resumo
os alto autocontroladores são mais propensos a comprar algo para alterar seu self para atingir
uma auto imagem ideal conforme o momento (SCHIFFMAN; KANUK, 2007).
Se os bens são vistos como parte do self, pode-se concluir que uma perda não
intencional de um certo objeto é considerada uma perda ou diminuição do self. Belk cita
campos de treinamento militar, monastérios, prisões e hospitais mentais, como exemplo de
que pessoas devem se adaptar a estas instituições, e o modo como isso é feito, como cortar o
cabelo, usar roupas padronizadas, ter poucos pertences, mudar seu comportamento, resume-se
em fazer com que as pessoas percam parte de seu self para que possam obter uma nova
identidade (BELK, 1988). Outra área não involuntária da perda do self se enquadra no roubo e
28
no acidente. Tanto a perda de um objeto, como a morte de um pai, como ter um bem roubado,
e até sentimentos de roubo em altos impostos, são encarados como diminuidores do self
segundo Belk (1988).
Cada indivíduo tem uma auto-imagem percebida, ou multiplas imagens, e procura
preservar, melhorar ou estender suas auto-imagens usufruindo de produtos e serviços
(SCHIFFMAN; KANUK, 2007). Todas estas construções compartilham de um forte foco no
modo como as pessoas usam o consumo para manter seu sentido de identidade e se autodefinir em seus relacionamentos (AHUVIA, 2005).
2.4 Cultura e Consumo
“Cultura é a personalidade de uma sociedade” (SCHIFFMAN; KANUK, 2007, p.
280). Os fatores culturais exercem a maior e mais profunda influência no consumo
(KOTLER, 2000).
Para McCracken (2007, p. 101) a cultura é “a “lente” pela qual o indivíduo enxerga os
fenômenos”, determinando como os fenômenos serão apreendidos e assimilados e é também
“a “planta baixa” da atividade humana, determinando as coordenadas de ação social e
atividade produtiva”.
Schiffman e Kanuk (2007) definem cultura como a soma das crenças, valores e
costumes aprendidos que dirigem o comportamendo do consumidor de uma certa sociedade.
Para Blackwell, Miniard e Engel (2008, p. 326) cultura refere-se a um “conjunto de valores,
idéias, artefatos e outros símbolos significativos que ajudam os indivíduos a se comunicar, a
interpretar e avaliar como membros de uma sociedade”.
Quando os teóricos e praticantes do marketing começaram a expandir seus trabalhos a
outros mercados, notaram que o consumo nestas outras culturas era diferente, e que este se
associava às diferenças nos valores sociais e nos costumes que estas culturas tinham
(ROCHA; DA ROCHA, 2007).
A cultura é o principal determinante ao comportamento do indivíduo, quanto aos seus
desejos e seus valores, através das percepções sobre a preferência e o comportamento dos
grupos no qual está inserido (KOTLER, 2000). O impacto da cultura é tão natural e
automática que a sua influência no comportamento de seus indivíduos integrantes é tida como
certa (SCHIFFMAN; KANUK, 2007).
29
A cultura do consumo abrange “imagens, símbolos, valores e atitudes” que foram
sendo desenvolvidas durante o tempo e que foram associados de forma positiva ao consumo
de bens e mercadorias, e que norteiam “pensamentos, sentimentos e comportamentos” da
população (TASCHNER, 2000, p. 39).
Schiffman e Kanuk (2007) relatam que quando os consumidores são perguntados
sobre suas atitudes, eles respondem que tomam atitudes acreditando no que é o certo a se
fazer. Essa resposta parece um tanto superficial, mas ela é influenciada pela cultura que está
no comportamento do consumidor, e que as pessoas só notam isto quando conhecem outras
culturas como países novos, notando assim que a cultura molda os costumes e o
comportamento dos indivíduos.
Assim como a cultura influência no comportamento dos indivíduos, os bens de
consumo desta sociedade carregam o seu significado cultural (MCCRACKEN, 2007).
McCracken (2007) propõe um esquema, apresentado no quadro a seguir, descrevendo
que o significado cultural se localiza em três locais, (1) no mundo culturalmente constituído,
(2) no bem de consumo e (3) no consumidor individual, tendo como movimento dois pontos
exatos para sua transferência, que seria do mundo para o bem e do bem para o consumidor:
Quadro 4 - Origens do significado
Fonte: McCracken (2007)
Esta idéia transitória do significado cultural apresentada nesta idéia por McCracken
(2007) possibilita enxergar fenômenos que participam e influenciam como a publicicade, a
propaganda, a moda e os rituais de consumo. Resumindo essa perspectiva ajuda a demonstrar
30
parte da complexidade do comportamento de consumo de hoje em uma “sociedade de
consumo” (MCCRACKEN, 2007).
Para identificar de forma mais específica os membros de uma cultura temos as
subculturas, que podem se classificar por nacionalidade, religião, grupos racias e regiões
geográficas (KOTLER, 2000).
2.5 Consumo
A noção de consumo engloba a aquisição, a posse e/ou o uso (incluindo a exibição) de
bens ou serviços pelo consumidor (TASCHNER, 2000). O consumo é basicamente o uso do
produto por parte do consumidor que o adquiriu e tende a ser a parte mais importante do
processo de decisão (BLACKWELL, MINIARD e ENGEL, 2008).
O comportamento de consumo pode ser caracterizado, para que haja um estudo mais
abrangente e organizado, em diversas etapas como: (1) Quando é consumido?; (2) Onde é
consumido?; (3) Como é consumido?; (4) Quanto é consumido? A partir daí dão-se vários
estudos que envolvem a experiência do consumo como, por exemplo, as normas e rituais de
consumo, as experiências de consumo e o consumo compulsivo (BLACKWELL, MINIARD
E ENGEL, 2008).
2.5.1 Ritos e Rituais de Consumo
Muitas atividades de consumo tornam-se rituais. Os rituais de consumo são definidos
segundo Blackwell, Miniard e Engel (2008) como:
“Um tipo de atividade expressiva e simbólica baseado em comportamentos
múltiplos que ocorrem em uma seqüência de episódios fixos, e que tendem a se
repetir várias vezes. O ritual de consumo é dramaticamente roteirizado, encenado e
apresentado com formalidade, seriedade e muita intensidade.” (p. 177)
O ritual ou rito é um conjunto de ações, formais ou informais, com sentimento e
expressão que dão uma dimensão simbólica. É caracterizado por um espaço de tempo preciso,
através de vários bens e objetos,havendo linguagens comportamentais especificas, ou sinais
onde o sentido está simbolicamente representado num ato de consumo. (SEGALEN, 2002).
31
O ritual é uma ação social com o objetivo de manipular o significado cultural gerando
através da comunicação a categorização de determinada sociedade de forma coletiva e
individual. “O ritual é uma oportunidade de afirmar, evocar, atribuir ou rever os símbolos e
significados convencionais da ordem cultural”. (MCCRACKEN, 2007, p. 108).
McCracken (2007) explica que ao transferir o significado cultural dos bens de
consumo aos indivíduos, isso se caracteriza como um ritual. Estes rituais são classificados em
quatro tipos como troca, posse, cuidados pessoais e alienação. Cada um destes se classifica
como um estágio de um processo de como o significado se move do bem para o consumidor
(MCCRACKEN, 2007).
2.5.2 Consumo Simbólico
Todo consumo voluntário parece carregar seja de forma voluntária ou de forma
involuntária certos significados simbólicos. Se a pessoa tiver que escolher entre opções, ela
escolherá aquela que carrega um significado simbólico. Para que as pessoas sintam-se mais
“vivas” neste mundo, elas almejam um sentido significativo na busca do seu eu
(WATTANASUWAN, 2005).
A música cumpre tanto o compromisso da linguagem como o de signo, expressando e
simbolizando acontecimentos específicos de cada sociedade (SANTINI, DE LIMA, 2004).
2.6 Colecionismo
“Colecionar é uma forma especial de comportamento do consumidor” (BELK et al.,
1991, p. 3). São poucas as atividades de consumo contemporâneas que carregam consigo a
paixão como o colecionismo, que é considerado talvez o mais puro meio de consumo que ao
mesmo tempo é uma forma de produção (BELK et al., 1991). O colecionismo é considerado
por Belk (1988) um caso especial de self estendido. Os humanos e os animais antigamente
colecionavam bens necessários para sua sobrevivencia futura, atualmente as pessoas
colecionam bens não necessários para distinção e auto definição do self (BELK, 1988).
As coleções são normalmente iniciadas através de presentes ou de produtos adquiridos
sem intenção, mas o colecionismo contínuo é intencional, auto definindo o self (BELK,
1988). Belk et al. (1991) retrata como os colecionadores sentem-se sobre a própria imagem,
como pessoas enganjadas em uma missão considerada por eles de certa forma heróica.
32
Coleções contemporaneas são de ambito mundial e não somente mais alvo da elite social, os
colecionadores são diversos, espalhados pelo mundo de diversas classes sociais (BELK,
1988).
O ato de colecionar, cada vez mais frequente em nossa sociedade, permiti ao
colecionador ter a habilidade de controlar e ter o domínio sobre singularidades. O
colecionador tendo noção de realidade, sabe que nunca terá controle sobre o mundo, então ele
faz de sua coleção o seu pequeno “mundo” onde ele exerce total controle (BELK, 1988), o
colecionador reina de forma absoluta e soberana sobre uma família íntima (BELK et
al.,1991).
Goldberg e Lewis apud Belk (1988) vão mais a fundo sobre a relação de um
colecionador e sua coleção, dizendo que um colecionador que é tímido e que não se sente
confortável em interações sociais, cerca-se de seus objetos favoritos dando a eles qualidades
de um ser humano, e que na maioria das vezes este tipo de colecionador conversa com sua
coleção, porque ele se sente a vontade como se estivesse na presença de amigos.
A intenção e o compromisso de tempo e energia gastos para se desenvolver uma certa
coleção faz com que naturalmente esta se torne uma parte do self, deixando de ser apenas
itens de consumo. Em soma a isso se encontra a vontade de fechar ou completar uma coleção
e de preencher com certos itens que ainda faltam, que vem a ser a forma simbólica de
aprimoramento do self (BELK, 1988).
Pode-se dizer racionalmente que muitos colecionadores agem de forma impulsiva e
que de alguma forma podem ser considerados “viciados” (BELK, 1988). Belk et al. (1988)
cita uma entrevista, onde um colecionador alega ter uma coleção do Mickey Mouse, a qual ele
dá nome e gasta em aluguel e gasolina para que possa, pelo menos uma vez por semana,
adquirir novos exemplares para sua coleção. Segundo Belk (1988) as coleções obsessivas
podem se tornar maléficas, mas apesar disso a coleção é um serviço de aprimoramento do
self.
Quando as adições de uma coleção terminam, ou seja, que a coleção esteja completa, o
colecionador deixa de ser um colecionador, sua atividade agora será a de preservar sua
coleção e a exibí-la, pois a atividade de colecionar em si chegou ao fim (BELK et al., 1991).
3 Método
“Método científico é a lógica usada para aceitar ou rejeitar hipóteses, leis e teorias”,
ter um método de pesquisa é ter regras predefinidas para alcançar um certo objetivo, seguindo
fases e etapas (ACEVEDO, NOHARA, 2009, p. 13). Serão apresentados a seguir, o
delineamento da pesquisa, a população e amostra e a forma de coleta e análise de dados.
3.1 Delineamento da pesquisa
A palavra delineamento é utilizada para traduzir do inglês a palavras design, que neste
caso serve para especificar o planejamento utilizado em uma investigação (ACEVEDO,
NOHARA, 2009). Esta é uma pesquisa de caráter exploratório pois busca identificar e definir
as variáveis de um determinado assunto. Pesquisa exploratória tem por obejtivo proporcionar
maior compreensão de um fenômeno que está sendo investigado, através de uma pesquisa
profunda buscando ganhar mais conhecimento sobre o assunto estudado (ACEVEDO,
NOHARA, 2009). A exploração a ser realizada nesta pesquisa se baseia nas mídias musicais,
no seu consumo, nos seus consumidores e os fatores que envolvem estas etapas.
Esta é uma pesquisa de natureza qualitativa, pois se caracteriza por uma pesquisa em
profundidade, semi-estruturada, buscando respostas às indagações com um grupo selecionado,
formando respostas que não podem ser quantificadas, ou seja, que não podem ser postas em
números. Caracteriza-se por uma pesquisa de campo em corte-transversal, pois ela ocorreu em
um determinado período, e teve como população e amostra um público alvo, um grupo de
pessoas classificadas e selecionadas, para a concessão de dados suficientes para a
concretização da pesquisa.
3.2 Procedimento para coleta de dados
O objetivo da pesquisa consiste em avaliar as necessidades de informação e fornecer
informações relevantes, precisas, confiáveis, válidas e atuais. Ao descrevermos a natureza da
pesquisa de campo, devemos prestar atenção no modo de coleta de dados, e a ênfase dada a
cada estágio, que pode ser diferenciada se usados métodos pessoais, eletrônicos ou telefônicos
(MALHOTRA, 2004).
34
A coleta de dados desta pesquisa foi feita de duas formas, ambas gravadas por um
instrumento de filmagem e realizadas nas cidades de Passo Fundo e Erechim, na residência
dos entrevistados, em momentos de lazer.
Uma das técnicas usadas foi a observação, que ocorrera de forma não-estruturada, pois
não seguiu passo-a-passo um roteiro. Esta é uma pesquisa naturalística, ou seja, da forma mais
natural possível, então para que não houvesse, por parte do entrevistador, alteração no
ambiente e no comportamento do entrevistado, a filmadora foi instalada num devido local,
logo após a apresentação, que filmasse boa parte do ambiente, inclusive o pesquisador e o
pesquisado, e acionada, para que enquanto a pesquisa acontecesse, ela gravasse todas as
informações. Tentou-se fazer esta coleta de uma forma bem natural, pois quando o
pesquisador não se disfarça e nem esconde o instrumento de coleta, resolvendo viver o
ambiente da pesquisa, o pesquisado pode, em dados momentos, mudar seu modo e suas
características, quando lembrar que tudo está sendo gravado.
A outra forma de coleta de dados foi através da comunicação. Esta ocorrera dentro da
observação, fazendo da comunicação, ou seja, da entrevista, mais informal, visando
novamente manter o ambiente da forma mais natural possível. Foram realizadas entrevistas,
diretivas e não-diretivas, com perguntas fechadas e abertas, seguindo como base
questionamentos semi-estruturados, ou seja, seguindo um roteiro de perguntas.
3.2.1 Público Alvo
O Público alvo são os indivíduos, grupos, públicos, específicos ou grupos em geral,
que servem como fonte de informação para determinada pesquisa. O público alvo para o
desenvolvimento desta pesquisa basicamente são aquelas pessoas que consomem bastante
música no seu dia-a-dia, e são consumidores tanto de mídias físicas, aqui focadas no disco de
vinil e no CD, como de formatos digitais, aqui representado pelo MP3.
O contato com o público alvo foi feito pelo pesquisador, através de ligações e contatos
pessoais. Neste primeiro contato, foi esclarecida a pesquisa, como ela ocorreria e porque. Foi
também explanado sobre a filmagem, e a necessidade de que essa pesquisa fosse feita no
ambiente de consumo das mídias por parte dos entrevistados, para que fosse possível chegar
nos resultados pretendidos. Todos os pesquisados concordaram com o método e em fazer
parte desta pesquisa.
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A classificação desse público ficou dividida em dois grupos: (1) Músicos e (2)
Formadores de opinião. Têm-se como músicos, aquelas pessoas que vivem de música, que
fazem da música um meio de subsistência. Mais precisamente, os envolvidos nesta pesquisa
deste ramo são músicos e produtores musicais. São 3 entrevistados, dois músicos, um
residente em Passo Fundo e o outro residente em Erechim. O terceiro entrevistado é produtor
musical e fundador do estúdio Café com Leite de Passo Fundo.
Como formadores de opinião, estão classificados aqueles consumidores que não vivem
da música, mas a consomem com alta frequência, e são fortemente posicionados em suas
opiniões e idéias sobre música em si. Um dos entrevistados trabalha em sua própria
residência, então ouve musica o maior tempo possível, inclusive enquanto trabalha. O outro
entrevistado é aposentado do Banco do Brasil, mas possui uma empresa de consultoria.
Quando em horário de trabalho, ele procura deixar uma música de fundo, e quando em casa,
seu principal lazer é ouvir música e assistir DVDs de shows musicais.
3.2.2 Entrevistas em profundidade filmadas/Vídeografia
“...se nossos trabalhos escritos invocam o manto da ciência, nossas produções
videográficas devem, provavelmente, invocar o manto da arte” (BELK, KOZINETS, 2004, p.
138). Observação é todo procedimento que dá acesso aos fenomenos estudados e é
imprescindível para realização de qualquer tipo de pesquisa (SEVERINO, 2007).
Vídeografia é a forma de coleta de dados classificada como observação onde são
gravadas, por filmagem, as informações necessárias para a interpretação de um certo
ambiente, e neste caso, trazendo uma experiência maior sobre o estudo aos interessados. Toda
a pesquisa foi filmada, tanto a observação quanto a entrevista. O objetivo de escolha desta
técnica foi, além de gravar as informações ditas pelo entrevistado, gravar suas expressões e
seus movimentos. Com isso, a análise dos dados é enriquecida, pois pode se ver melhor a
ênfase das respostas quando se analisando o discurso em um vídeo. Outra causa da escolha da
videografia, é a dinâmica de fazer um vídeo, para que o entendimento da pesquisa seja mais
profundo ao público que tiver contato com este trabalho.
O bom uso de uma mídia de vídeo mostra que o tipo de conhecimento produzido pode
ser mais emocionante e trazer uma experiência mais rica ao visualizador, do que
frequentemente tenta-se fazer com trabalhos escritos (BELK, KOZINETS, 2004).
36
3.2.3 Etnografia
A pesquisa de campo, ou naturalística investiga os indivíduos no seu ambiente natural
(ACEVEDO, NOHARA, 2009). O método de pesquisa naturalística usado nesta pesquisa
baseia-se na Etnografia, que é um exemplo de pesquisa naturalística que visa a observação.
Etnografia, segundo Severino (2007, p. 119) é uma pesquisa que visa compreender o
cotidiano, o dia-a-dia e seus processos em diversas modalidades, como um “mergulho no
microsocial, olhado com uma lente de aumento”.
Segundo Rocha e da Rocha (2007, p. 73), etnografia é um método criado pela
antropologia e significa “estudar as categorias que norteiam o pensamento e as práticas de
grupos sociais concretos historicamente datados, dotados de fronteiras culturais nítidas e
características comuns de experiência”.
Nesta pesquisa, a observação e a análise do material, baseou-se bastante nos preceitos
da etnografia. A etnografia busca interpretar o ambiente de uma forma diferente, pois o
pesquisador deve deixar de lado o seu “eu”, seus costumes, suas preferências, seus credos,
tudo aquilo que acredita ser certo ou errado, para que sua análise possa ser fiel, e para que seu
conhecimento ou sua opinião, não interfira na pesquisa e nem na análise dos resultados.
3.2.4 Entrevista
Entrevisa é uma técnica de coleta de dados com interação entre o entrevistador e os
entrevistados que busca informações diretamente solicitadas, onde o pesquisador busca
aprender o que os entrevistados pensam, sabem, fazem, argumentam sobre determinado
assunto (SEVERINO, 2007).
O método de coleta foi de entrevistas-não diretivas, que busca informações através do
livre discurso do entrevistado, como uma conversa descontraída, para que o informante fique
mais a vontade para expressar o que pensa e dar ênfase aquilo que diz, sem constrangimentos
(SEVERINO, 2007).
As entrevistas foram filmadas. Segundo Belk e Kozinets (2004) entrevistas gravadas
por filmagem oferecem uma forte vantagem sobre os métodos convencionais de gravação de
áudio ou de anotação escrita, pois a linguagem corporal é considerada de suma importância no
significado da comunicação.
37
3.2.5 Análise
Os dados coletados foram analisados para se obter informações relacionadas aos
componentes do problema de pesquisa, oferecendo assim, informações para a resolução
problema (MALHOTRA, 2004). A análise dos dados coletados por ambas as técnicas foram
feitas por análise de conteúdo e análise de discurso. Cada uma destas exerce uma função
importante na obtenção de respostas para o problema de pesquisa.
3.2.5.1 Análise de conteúdo
Análise de conteúdo segundo Severino (2007, p. 121) é uma metodologia de
“tratamento e análise de informações constantes” de um determinado documento, seja ele sob
a forma de discurso pronunciado nas mais diversas linguagens: “escritos, orais, imagens,
gestos”. Análise de conteúdo explica os rumos assumidos pelas práticas linguageiras de
leituras de textos no campo das ciências (ROCHA, DEUSDARÁ, 2005).
A análise da pesquisa aconteceu através dos vídeos gravados. As respostas dos
entrevistados foram digitadas em um documento. Após serem digitadas, na estrutura de
perguntas que foram acontecendo, foi feita a análise nos textos dos pontos mais importantes,
dos pontos mais interessantes, do ambiente de pesquisa e dos pontos onde o pesquisado
demonstrava emoções, sentimentos, frustrações e outros, através de gestos, movimentos e
expressões faciais.
Análise de documento é um conjunto de técnicas de análise de comunicações, tratando
de compreender criticamente o sentido e o significado manifestado ou ocultado pela
comunicação (SEVERINO, 2007).
Foram feitas as análises, e a partir destas análises, produziu-se textos,
que incluem
íalém das análise, as respostas dos entrevistados, danto assim, estrutura ao capitulo dos
resultados deste trabalho.
3.2.5.2 Análise de discurso
“A análise de discurso trabalha com o sentido e não com o conteúdo” (CAREGNATO,
MUTTI, 2005, p. 683). A análise de discurso é somente qualitativa e tem como objetivo
interrogar o significado de diversas formas, sejam elas verbais ou não verbais, bastando que
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produza alguma materialização com sentido para sua interpretação, visando compreender os
sentidos que o sujeito manifesta através do seu discurso (CAREGNATO, MUTTI, 2005).
A partir da análise das respostas, do ambiente, e dos gestos e expressões, buscou-se
então, através da análise de discurso, o significado, a razão, o motivo pelo qual as respostas
são dadas, o porque foram formuladas daquela forma, o que faltou na resposta, por que certas
palavras e expressões foram utilizadas, buscando ver além das respostas.
3.2.6 Símbolos e Objetos
Foram também avaliados o meio em que os entrevistados vivem e seus bens
relacionados à música, buscando analisar o valor e o significado de cada objeto ao seu dono.
Foi analisado, também, o ritual feito pelo consumidor no consumo de seus bens,
principalmente quanto às mídias musicais e foram buscadas respostas sobre a simbologia que
os bens têm, em questionamentos de como determinada posse pode ser usada para classificar
o consumidor em meio à sociedade e como ele se sente frente a estes símbolos.
4 Resultados
Neste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa feita, e as análises destas.
Os sub-capítulos são divididos em 3 etapas presentes na coleta de dados. A primeira parte é a
análise do significado, abordando o significado de cada resposta envolvida na entrevista e na
pesquisa relacionadas ao consumo das mídias digitais. A segunda parte dos resultados é a
análise do ritual, análise feita com base no consumo das mídias pelos entrevistados, conforme
presenciado pelo entrevistador. A terceira e última parte, é onde são analisados os símbolos e
objetos, mais precisamente, a forma como vive o entrevistado, seu estilo de vida e, o mais
importante, suas posses e seus bens.
As pesquisas foram realizadas nas residências dos entrevistados. O processo de
entrevista foi bem simples, com informalidade e um roteiro não-estruturado. No processo de
pesquisa o primeiro passo realizado foi a demonstração de bens, logo após veio a entrevista e
por fim foram presenciados os consumos das mídias e/ou formatos musicais.
4.1 Os Entrevistados
A primeira pesquisa realizada foi com um músico, em sua residência. R.L.P., como
será identificado nesta pesquisa, reside sozinho em Erechim, e sua casa fica num bairro pouco
distante do centro da cidade. Na residência do entrevistado, após a conversa sobre o objetivo
da pesquisa, o entrevistado apresentou suas coleções com um certo orgulho. Abrindo as portas
de um armário que fica em sua sala, retirou de lá CDs, originais, regravados e copiados, fitas
cassete e de vídeo, DVDs, discos de vinil e Revistas. R.L.P. é músico há mais ou menos 10
anos, e hoje além da música, desenvolve um papel de educador social nas escolas, dando
ensinamentos sobre música e principalmente sobre a cultura Hip Hop.
O segundo pesquisado identificado como D.L.C.S. reside em Passo Fundo e exerce a
função de engenheiro elétrico. Em sua residência, o local escolhido pelo entrevistado para ser
feita a pesquisa foi seu escritório, onde podia-se encontrar seu computador de mesa,
notebook, livros, discos de vinil, toca-discos e CDs. Este teve muito a acrescentar para a
discussão desta pesquisa por ter vivído as épocas de sucesso no mercado de cada uma das
mídias, desde o disco de vinil até o MP3, e inclusive, algumas vezes, este inclui a fita cassete
em suas respostas.
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O terceiro pesquisado é músico há mais de 15 anos, guitarrista profissional da banda
General Bonimores e professor de violão e guitarra, particular e em algumas escolas de Passo
Fundo. J.S., como aqui será chamado, atualmente reside em Passo Fundo, mas é natural de
Porto Alegre. A pesquisa foi realizada em seu quarto, ambiente em que passa a maior parte do
seu tempo. Na chegada ao local de pesquisa, o entrevistado tomava um lanche, e durante o
final de sua breve refeição, houve uma conversa de forma resumida sobre o objetivo do
trabalho, o qual ele confessava, e transparecia, estar feliz em participar. Voltando-se aos seus
discos de vinil, começou a demonstração de suas mídias por estes, contando as histórias que
cada um destes reservava.
O quarto entrevistado identificado como E.L., trabalha com música desde 1985, e é
produtor musical há 13 anos. E.L. iniciou suas experiências de gravação e produção musical
em 1992 gravando em um estúdio na cidade de Marau. A partir de 1994 começou a gravar
com Oswaldir e Carlos Magrão em Porto Alegre, e é este período que E.L. considera ter sido
a maior parte de seu aprendizado. Em 1999, montou seu estúdio, e desde lá, tem produzido
grandes nomes da música de Passo Fundo nos mais diversos gêneros. No estúdio Café com
Leite, nome denominado por E.L. em sua fundação, foi presenciado o clima rotineiro do
pesquisado. Na chegada este estava trabalhando, mixando trabalhos de um músico na
companhia de um amigo que tocava guitarra. Após uma breve conversa E.L. apresentou seu
estúdio e dirigiu-se para a máquina de café, preparar um café a ser saboreado durante a
entrevista.
A quinta pesquisa foi realizada com J.A., sigla que o identifica. J.A. é bancário
aposentado do Banco do Brasil, e que atualmente tem uma empresa de consultoria de
empresas. J.A. é natural de Bauru, interior de São Paulo, mas vive no sul há mais de 25 anos.
Sua história com a música começa há 45 anos herdando alguns discos de 78 rpm e alguns
discos de vinil de seus pais. De lá pra cá, J.A. vem colecionando mídias de diversos formatos.
Sua coleção está perto de 30.000 itens, entre CDs, discos de vinil, DVDs, fitas de vídeo
Cassete, fitas Cassete, Discos de 78 rpm e Blu-Ray. O local onde a pesquisa foi feita, é onde
J.A. desfruta de música e é lá que, algumas vezes, ele passa mais tempo do que em sua casa.
No local encontram-se 20% apenas de suas coleções, uma outra pequena fatia, de mais ou
menos 20%, fica em sua residência, e uma terça parte, de maior expressão, está na cidade de
Tapejara.
41
4.2 Análise das respostas
Neste capítulo serão abordados os assuntos discutidos durante as entrevistas. Esta pode
ser dividida basicamente em três etapas referente aos assuntos abordados. A primeira parte da
pesquisa, discute sobre assuntos quanto ao consumo de música realizado pelos pesquisados,
como ele acontece, em que momentos e suas preferências. A segunda etapa da entrevista é
onde determina-se o ato de colecionar, adquirir e consumir as mídias, e as opiniões quanto à
qualidade, sentimento e significado das mídias. A terceira e última etapa engloba o avanço
tecnológico, a internet, a pirataria e o futuro das mídias no mercado fonográfico.
4.2.1 Frequência de consumo diário
Quanto a frequência de consumo diário, as respostas dos entrevistados foram quase
unânimes, todos consumem música frequentemente, e do seu tempo diário consomem sempre
que possível. Um dos entrevistados apenas foi exceção quanto ao consumo nas horas vagas,
disse que consome quase todo o dia, pois trabalha como produtor musical, mas que quando
está em outros momentos, como lazer, fora de sua área de trabalho, prefere dar um tempo para
os ouvidos:
“Ah, todo dia né, todo dia...Mas mais em internet e celular assim. Quase não tenho
tempo pra escutar disco assim. Não tenho tempo e não tenho mais vinil e CD, e
aparelho de CD, ter que colocar pra tocar. Então geralmente eu estou “fuçando” na
internet alí, fazendo meus trabalhos e aí aparece alguma coisa, eu clico alí pra
escutar né. Mas de disco assim, é mais raro daí, tipo assim, uma festa ou um
churrasco, daí eu coloco uns CDs alí e fico escutando, mas no dia-a-dia não né, até
porque meu trabalho é extressante, de som. Então dai eu saio caminhar, tem gente
que sai caminhar, coloca os fones de ouvido e fica escutando música, eu já não, o
cara tem que dar um time pro ouvido senão o cara não aguenta né.” (E.L.)
Para os outros respondentes as respostas são quase unânimes, e todos afirmam em suas
respostas mais de uma vez que consomem música o tempo todo. É comum expressões como:
- 24 horas escutando música;
- sempre que possivel ouço música;
- eu consumo música praticamente o tempo inteiro;
42
- o tempo todo eu consumo música;
- o dia inteiro eu ouço música.
Quando questionados quanto a frequência de consumo musical, todos os respondentes
usaram estas expressões sorrindo, ou balançando a cabeça, demonstrando certeza e confiança
na resposta, como se orgulhassem deste fato. Nota-se que estas expressões dão bastante
ênfase, por mais que a música realmente não seja ouvida nas 24 horas do dia de uma pessoa.
Por estas expressões entende-se que a maior parte do tempo diário disponível para essas
pessoas, de alguma forma elas consomem música.
Nota-se um sentimento muito forte por música em geral de todos os envolvidos na
pesquisa, tanto que alguns deles trabalham no ramo da música. Estes que trabalham com
música, e que consequentemente consomem a música em um período longo do dia, ainda em
momentos de lazer, também consomem música. Pode-se notar bem todo este envolvimento
por parte dos músicos, com a música, em momentos extra profissionais, com a resposta a
seguir de um dos entrevistados:
“Cara, eu consumo música eu posso te dizer que praticamente o tempo
inteiro...Quando eu consumo um filme eu consumo a música também...A trilha
sonora muitas vezes me chama muita atenção...Quando assisto um filme, geralmente
à noite, eu consumo música. Durante os meus afazeres do dia, quando dá né, quando
é possivel, eu estou escutando música. Se eu vou arrumar o meu quarto, limpar
minha casa, eu estou escutando música. Se eu vou viajar eu estou escutando música.
Se eu vou dar uma caminhada até o centro, quando eu posso, eu estou com um mp3
ali no ouvido escutando música. Quando eu estou trabalhando, eu estou trabalhando
com música, ou estou ensaiando, ou eu estou tocando, ou então eu estou dando aula
que nós estamos ali, escutando música. Então o tempo todo eu escuto muito música
né.” (J.S.)
Os que não são músicos, e aqui classificados como formadores de opinião, consomem
música diariamente e inclusive no ambiente de trabalho. Pode-se ver isto na resposta de um
consultor de empresas e bancário aposentado:
“Olha, quase o dia inteiro, sempre que eu posso. Por exemplo assim, quando eu
trabalhava no banco...Eu chegava e colocava um aparelho de som e colocava um
som ambiental...Eu entro no meu carro e como sempre, levo as principais músicas,
aquelas que estou curtindo no momento, naquela semana e coloco lá. Porque a
43
música tem um fator interessante. Pra quem gosta de música, você grava momentos
da tua vida com a música, então quando você ouve a música, ou você retorna àquele
momento, ou então quando você lembra do momento, associa com a música
entende? Então eu procuro ouvir no carro, houve épocas que até no banheiro eu
ouvia música certo? (risos) À noite eu gosto de dormir com rádio...um radinho, ou
um som tocando um CD, uma mídia qualquer, tocando la no fundo né. Música, ela
ocupa quase todo o meu dia, quando eu posso eu estou ouvindo música...” (J.A.)
E na resposta de um engenheiro elétrico também:
“Do momento que eu acordo até o momento que eu vou dormir, se a música não
estiver atrapalhando ninguém, eu estou ouvindo. Estou trabalhando, eu estou
ouvindo música. Eu estou descansando, eu gosto de ouvir uma música. Eu só não
escuto música quando alguém está vendo TV, ou eu estou vendo TV, ou quando se
está num bate-papo onde a música acaba atrapalhando, fora isso, é todo o tempo.”
(D.L.C.S.)
4.2.2 Gênero preferido
Quanto ao gênero musical ouvido pelos estrevistados, a predominância nas repostas
foi do Rock n’ Roll, todos os entrevistados o citaram nas repostas. Depois do Rock, o gênero
mais citado foi a MPB. Apenas um dos entrevistados não a citou como gênero preferencial.
Dentre os gêneros citados, além destes, encontram-se Tango, Bolero, Reggae, Pop, Jazz,
Blues entre outros. Pôde-se notar que os gêneros preferidos pelos entrevistados são estilos
musicais muito reproduzidos em épocas do comércio pelo mercado fonográfico do disco de
vinil, podendo-se notar que os gostos musicais são influenciados pelas mídias que estes
consomem. Nota-se também em algumas respostas que esse consumo de gêneros acontece por
influência da cultura que vivem ou viveram, e por influências familiares. Todos os
entrevistados consomem discos de vinil, ou vivenciaram alguma época de seu consumo,
épocas em que a MPB e o Rock n’ Roll eram os gêneros de maior sucesso. E não somente
pelo vinil, mas pelos entrevistados consumirem, ou já terem consumido, as mídias físicas em
si, demonstra também que a grande variedade de estilos musicais que escutam e buscam
escutar vem do consumo midiático.
Um dos entrevistados fala da sua preferência e não a classifica por gênero, e sim por
emoção:
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“Olha, isso é um negócio interessante. Eu gosto de música em que a parte melódica
me toca. Então eu sou um cara que navega desde a música Clássica até o Metal
Pesado...Tem momentos que eu gosto de Música Popular Brasileira, tem momentos
que eu gosto de Tango argentino, tem momentos que eu gosto de uma música
indiana...Assim, eu sempre procurei ouvir música do mundo inteiro, então eu já
escutei de tudo...” (J.A.)
Outro entrevistado explica que sua vasta preferência por gêneros musicais vem por
influência dos pais, e pela cultura e meio ambiente em que vive:
“O RAP na verdade foi o que me abraçou né cara, foi o que me deu a oportunidade
de divulgar minhas idéias né, foi um estilo de música em que eu me encontrei e tipo,
decidi fazer. Mas não é só o que eu escuto...Eu conheci o Reggae muito antes do
RAP com os meus pais, meus pais curtiam muita MPB, eu vim crescendo curtindo
MPB. O RAP sim me fez escutar outros tipos de músicas né, pelos fundos musicais
que eram abordados né, sampleados, cortados e feitos loops em cima. Foi o que foi
me dando curiosidade para conhecer o Jazz, o Blues, o Afrobeat, mais Reggae, Soul
né, Rock. Enfim cara, eu não tenho preconceito nenhum, não tenho rótulo musical,
eu escuto de tudo.” (R.L.P.)
Outro entrevistado foi mais além quanto aos gêneros que gosta de escutar. Após citar
alguns gêneros como exemplo, afirmou: “...Seria mais fácil me perguntar o que eu não gosto”.
Os gêneros preferidos pelos entrevistados são bem semelhantes e cada um deles parece
viver em uma cultura diferente. Dois são músicos, um canta RAP e o outro é guitarrista numa
banda de Rock, um outro entrevistado é engenheiro elétrico, outro é produtor musical, e um
quinto e último é bancário aposentado. A faixa etária também faz-se interessante, pois apenas
dois tem idades semelhantes, quanto aos outros as idades são bem diferenciadas, e mesmo
assim todos estes entrevistados consomem quase os mesmos estilos musicais. O que pode-se
notar como razão para isso, também é o consumo das mídias físicas, principalmente dos
discos de vinil, que perpetuam nos mais diversos estilos e tem influenciado culturalmente
alguns jovens de hoje em dia.
Quanto ao gênero conclui-se também, que normalmente as pessoas que escutam
músicas dos mais diversos estilos, tem um conceito mais aprimorado e opiniões muito bem
posicionadas sobre música. Os entrevistados foram classificados em dois grupos, Músicos e
Formadores de opinião, e em ambos os grupos, os entrevistados tem um posicionamento forte
quanto à classificação de música boa e música ruim, tem embasamento para definir qualidade
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e conhecem o processo de fazer música e as formas de divulgá-la, como será visto nas
próximas questões.
4.2.3 Preferência por mídia ou formato para o consumo musical
Quanto a preferência por mídias para consumir música, quatro dos cinco entrevistados
dizem preferir o disco de Vinil, por tudo o que ele foi e ainda é, rituais de consumo,
romantismo, nostalgia e pela qualidade “superior” segundo alguns. Um dos entrevistados
responde o seguinte quanto à preferência:
“Cara, se eu pudesse consumir música só no formato de vinil, eu consumiria só ela.”
(R.L.P.)
E o mesmo se repete na resposta de um outro entrevistado:
“O que eu prefiro mesmo, se eu tenho, se eu posso ter toda a música que eu quero,
se eu pudesse ter toda ela, é o vinil né.” (J.S.)
Mas pode-se notar que a preferência não quer dizer qual mídia os pesquisados
realmente consomem. Outro entrevistado explica isto, dizendo que a preferência por consumo
de música varia muito da disponibilidade de tempo que se tem para desfrutar da música. Este
conviveu durante o sucesso de todas as mídias aqui discutidas, e sua preferência é o disco de
vinil, mas hoje, como para quase todos os respondentes, o MP3 é o que mais faz parte de sua
rotina.
A maior parte dos entrevistados também citaram o MP3 em suas respostas como
segunda opção na preferência, apenas um dos respondentes não. Mas estes citaram-no por
características que se diferem do Vinil, como praticidade, facilidade no manuseio, facilidade
de encontrar materiais e informações e etc. Um dos entrevistados compara de certa forma,
essas duas mídias, resumindo bem o porquê da preferência pelo vinil por 100% dos
entrevistados:
“...Mas mesmo a qualidade mais alta dele (MP3) é baixa diante quem gosta de ouvir,
por exemplo assim, todas as variações do som. Eu pra mim ainda, o vinil é o melhor,
é a melhor mídia que existe, só que desapareceu, e agora ta voltando novamente.
Mas a gente vai tocando por ai.” (J.A.)
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Este mesmo entrevistado diz que como consumidores de música em si, as pessoas
devem acompanhar a evolução das mídias, mas sem perder o gosto pelas mídias que já
ouviram e aprendendo a gostar das mídias que são criadas constantemente. Inclusive diz que
sua preferência também existe pela qualidade musical das músicas lançadas antigamente em
disco de Vinil:
“Eu acho assim olha, não sou saudosista, pelo amor de Deus...A década de 70...Eu
acho que a riqueza musical era maior, hoje por exemplo assim, há muito mais gente
produzindo e por algum motivo, não se produz mais “peças” tão importantes quanto
àquela época, eu não sei se naquela época...Você tinha menos variedade de coisas
para fazer e a música te ocupava um bom espaço e hoje não, ta? Mas eu acho que
hoje caiu um pouco a qualidade da música.” (J.A.)
Este parágrafo dito por um dos entrevistados, explica também um dos porquês nas
escolhas de gêneros citadas anteriormente, onde a predominância são gêneros que tiveram seu
auge em conjunto com o auge do disco de vinil, quando essa mídia se fazia presente como
líder no mercado fonográfico. Então, resumindo, pode-se dizer que os gêneros preferidos
pelos entrevistados tem ligação com a mídia preferencial, os generos mais ouvidos são os que
podem ser desfrutados pela mídia disco de vinil.
O único respondente que não citou o MP3 em suas respostas quanto as mídias
preferenciais, declara não ter preferência por mídia, e que escuta qualquer uma. Ele não cita o
MP3 como preferência pois já não o consome tanto quanto antigamente e porque acredita que
este está caindo em desuso, pois segundo ele, o MP3 foi criado justamente porque não se
tinha a capacidade de fazer upload de arquivos com 50 MegaBytes, a internet era incapaz
disto. Para ele o consumo de música no formato digital está ente mídias WAV e AIFF.
4.2.3.1 Mídia de maior consumo atualmente
Por mais que se note uma preferência pelo vinil, nem todos os entrevistados tem a
oportunidade e a disponibilidade para desfrutar de um disco. O que pode-se concluir, é que
isto acontece por causa da rotina atualmente vivida pelas pessoas, tão corrida e tão rápida, e
que consequentemente faz com que a facilidade que o MP3 e os formatos de música digital
têm, sejam a primeira opção de consumo hoje em dia. Quando perguntados sobre qual mídia
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ou formato mais consomem atualmente, as resposta foram unânimes, todos responderam que
atualmente consomem mais as mídias digitais. Um dos entrevistados declara o seguinte
quanto ao consumo atual:
“...Depende do tempo, hoje quase já não se tem tempo para manusear um Vinil...o
CD também, apesar de ser mais prático, também se depende de parar uma coisa pra
fazer, pra se escutar. Como tudo está num corre-corre, é mais prático tu escutar o
próprio MP3 em um computador que se trabalha do que outras mídias né. Não que
seja preferência, às vezes é uma situação forçada.” (D.L.C.S.)
Além da falta de tempo e da praticidade do MP3, foram apresentados também como
motivos para o consumo digital a falta de equipamentos bons por 3 dos entrevistados,
principalmente quanto ao disco de Vinil. Um dos entrevistados diz que gostaria de poder
desfrutar mais do Vinil, mas hoje em dia, segundo ele, o mercado não dá mais tantos recursos
para isso, como aparelhos bons e agulhas novas. Com a vinda do CD o mercado esqueceu do
LP e parou sua produção de produtos para a reprodução desta mídia.
4.2.4 Qualidade das mídias
A qualidade das mídias foi a pergunta em que os entrevistados mais se aprofundaram
nas repostas, alguns tiveram um momento pensativo, em silêncio, antes de iniciar sua
resposta. O silencio parece significar a dificuldade de responder a esta pergunta, ou a opinião
formulada, mas ainda não concreta sobre a qualidade das mídias.
Um dos entrevistados após um momento de silêncio, iniciou dizendo: “Essa é uma
guerra, uma guerra bonita.” Este entrevistado se aprofundou bastante em sua resposta
abrangendo informações inclusive do processo de gravação das mídias em estúdio, e
comparando a qualidade das mídias através da evolução destas, em uma visão tecnológica.
Este entrevistado acredita na qualidade superior do CD, quanto ao seu processo de gravação e
quanto a qualidade duradoura, afirmando o seguinte:
“...Ao meu ver a qualidade do CD passou a ser melhor que a do Vinil...Houve uma
evolução eliminando passos de imperfeições das gravações...O processo de gravação
do CD passou a ser totalmente digital. Segundo algumas teorias científicas, seria o
melhor tipo de reprodução, porque elimina chiados, cliques, interferências,
vibrações indesejadas né. Me parece que seria, a de melhor qualidade, o CD...Eu sou
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obrigado a acreditar que o CD tem uma qualidade melhor pelo fato de eliminar
certas imperfeições...E de perpetuar aquele CD, com a qualidade sempre igual à que
ele foi gravado. E o vinil por mais bem que se cuidasse ele acabava riscando,
juntando pó, e acabava inserindo sons que não eram da música...Então eu acho que a
evolução dessas mídias também trouxe uma evolução de qualidade...eu acho que
tecnológicamente o CD é melhor do que os outros.”(D.L.C.S.)
Este entrevistado continua seu relato, falando que a qualidade sonora do Vinil é
também muito boa, e que quanto a este fator, ele diz não ter a capacidade de comparar a
qualidade de um disco de vinil bem preservado em uma aparelhagem boa, com um CD novo,
pois para ele a diferença de qualidade sonora entre as mídias é imperceptível.
Outro entrevistado concorda com a qualidade do CD, classificando-o como uma mídia
de qualidade “excelente”, quando bem conservado, mas a sua opinião de qualidade mantém o
disco de vinil como a mídia de maior qualidade. O porquê dessa afirmação, se resume na
fidelidade do vinil ao momento de gravação, fazendo com que o consumidor se sinta na
“presença” da banda, mas ele continua dizendo, que isso só é possivel se o disco for
reproduzido num equipamento bom, que seja “fiel”, que faça jus à música.
Além deste, outros dois entrevistados disseram acreditar na qualidade superio do disco
de vinil. O primeiro, um dos respondentes que afirmou que se pudesse consumiria apenas
vinil. Este diz sentir por hoje o Vinil não ser mais produzido como antigamente, e por ele ter
se tornado caro. Baseia sua opinião em que o mercado já não disponibiliza mais equipamentos
bons para a reprodução deste, e por isso as pessoas hoje em dia não reconhecem mais a
qualidade superior do Vinil, mas garante que adquirindo bons equipamentos você consegue
desfutar de uma qualidade superior às mídias atuais:
“Cara eu acredito na qualidade superior do Vinil, talvez a gente também não tenha
os melhores aparelhos pra poder escuta ele em casa né. Mas se você tiver um
aparelho de qualidade, um Toca-discos, uma Pick-up, uma MK 2, uma MK 5 enfim,
uma Technics, você iria dicernir uma qualidade muito melhor do que você colocar
em um rádio qualquer, um 3 em 1, ou uma simples vitrola. A qualidade é totalmente
melhor né.” (R.L.P.)
O segundo respondente que diz concordar com a superioridade do Vinil, argumenta
sobre a qualidade do vinil o seguinte:
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“Eu acredito que o Vinil, ele consegue alcançar tons mais baixos e tons mais altos,
que as atuais mídias...Olha, quando você parte pra digitalização, ela equaliza, ela
compacta o som em uma faixa, então você perde parte dos graves e perde parte dos
agudos...Ainda prefiro os Vinis...O Vinil tinha uma qualidade de gravação superior,
tanto é que ta voltando né.”(J.A.)
O quinto respondente diz não perceber muito a diferença de qualidade entre as mídias.
Este entrevistado foi o mesmo que alegou não ter tanta prefêrencia por esta ou aquela mídia,
escutando o que for possivel. Ele complementou sua resposta alegando “tudo é arte”, e
continuou relatando que alguns preferem o disco de vinil, outros preferem CD, ou áudio
digital, mas que isso varia do sentimento da pessoa. Sua conclusão foi assim:
“Eu acho que o importante é ter música de qualidade, eu acho que tudo é arte, sendo
bem feito está valendo.” (E.L.)
4.2.5 Colecionismo
Apesar de todos os participantes dessa pesquisa terem alto envolvimento com mídias
antigas e mídias atuais a ponto de serem chamados colecionadores, nem todos consideram-se
tal. Dos respondentes apenas 2 consideram-se colecionadores.
O primeiro colecionador, tem uma coleção de mais de 1000 itens e 40000 músicas em
formato digital. O segundo tem mais de 30000 itens e 8 TeraBytes de formato digital em HD
externo.
Entre os que possuem mídias, mas não se consideram colecionadores, o primeiro
possui por volta de 100 itens fisicos e uma grande quantia de música digital, onde ele apenas
consome atualmente as mídias digitais. Suas posse de mídias físicas é pelo simples fato de
guardar alguns discos que consumia antigamente. O mesmo ocorre com seus CDs.
O segundo possui perto de 500 itens entre todas as mídias, mas não se considera um
colecionador pois acredita que não age como um. Ele ainda consome e adquiri discos de Vinil
pela preferência e pela qualidade de som, não porquê realmente quer ser um colecionador.
O terceiro não coleciona porque já não consome mais as mídias físicas, pois não tem a
aparelhagem necessária e seu tempo de lazer é curto. Por ser um produtor musical, seu contato
com música é desde a manhã até a noite, o que faz do seu tempo de lazer, o mínimo contato
com a música.
50
Ao serem questionados por que não se consideram colecionadores, eles responderam
que colecionador é aquela pessoa que vive em contato com seus discos, colocandos-os em
ordem, seja alfabética ou por gênero, ou até data. O colecionador tem um contato diferente
com sua coleção, não é simplesmente o consumo, tanto que existem colecionadores que não
consomem suas coleções. Para eles, as mídias são adquiridas para serem consumidas, e não
guardadas.
4.2.6 Significado das mídias
De forma unânime, todas as respostas defenderam a importância das mídias musicais,
mas cada uma de uma forma. Todos os entrevistados admitem que existe um sentimento por
mídias físicas, principalmente o disco de vinil, pela fatos históricos de consumo e aquisição.
Mas mesmo com este alto envolvimento, o que pode-se concluir é que entre os 5 respondentes
desta pesquisa, a paixão na verdade é pela música, e não pelos materiais fisicos em si. Apenas
um dos entrevistados é bastante apegado a sua coleção, e que pretende deixar esta para o filho
mais velho. Este entrevistado, classificado por si próprio como colecionador, demonstra
bastante sentimento e relata o seguinte sobre sua coleção, quando questionado sobre o
significado que esta têm:
“É praticamente uma parte da minha vida né. Eu sei tudo o que eu tenho, está tudo
organizado por setores. Então quando eu ouço alguma coisa que a música mexe
comigo, eu vou lá buscar pra ouvir, entende, e isso não tem valor (preço). Eu sei
que, por exemplo, eu tenho vinil lá que vale 5, 6 mil reais, que eu já vi na internet,
mas eu nunca na vida vou me desfaze daquilo né.” (J.A.)
Dois dos entrevistados julgam-se pessoas que não se apegam muito a coisas materiais,
e que se fossem obrigados a se desfazer de suas mídias físicas, o fariam, mas gostariam de
repassá-las a alguém ou alguma instituição que tivesse o mesmo carinho. Pode-se notar que
este pensamento é bastante ligado à cultura em que estes vivem ou, ou à maneira que foram
criados, o ambiente em que viveram durante seu desenvolvimento pessoal. Este pensamento
pode ser uma idéia adquirida inconscientemente do meio cultural em que viveram ou também
do aprendizado e da influência das pessoas com quem estes tiveram contato no aprendizado.
Durante o depoimento de um destes entrevistados, ele relata um sentimento pelas
mídias, principalmente sobre materiais mais antigos, como o disco de vinil, declarando que a
51
música antigamente envolvia um sentimento maior, era mais trabalhada, e havia dedicação
por parte de todos os envolvidos em cada processo. Ele declara resumindo que a essência da
música antiga é o diferencial e que raramente se encontra nos trabalhos atuais:
“...Eu não me imagino parando de comprar isso, ou parando de procurar isso, porque
cara, eu não sei, eu boto um vinil dos anos 60 cara, parece que eu me realizo bem
mais do que se eu botasse um de agora, atual de 2012. Sabe hoje eu não vejo essa
mesma essência, essa mesma coisa, então eu sinto um certo sentimento totalmente
diferente entre ouvir uma música da atualidade e uma música “da antiga”.” (R.L.P.).
Dos pesquisados, 100% definem que a escolha pelo consumo das mídias físicas ocorre
por qualidade, mas o consumo também é influenciado por um um valor, um valor agregado
que algumas delas carregam, principalmente o disco de vinil:
“Isso aqui é uma obra entendeu?...Ninguém fica indiferente frente à um Vinil cara.
O CD é legal e tudo, ele tem um som limpo, não vou negar...O CD enquanto ele tá
bem, ele é uma mídia excelente, mas o Vinil tem toda essa coisa romântica né cara,
não é só um disco de Vinil, tu tem toda a obra de arte junto, eu acho que isso vale...”
(J.S.)
Confirmando a importância das mídias físicas e seu significado para o consumidor,
comparando-as com os formatos digiais, um dos relatos diz o seguinte:
“Tem muita gente que valoriza isso, quer ter a mídia na mão, o físico né...Tem gente
que admira o artista, vai na internet e baixa, escuta o cara dia e noite, mas não
compra o CD. Tem outras pessoas que não, elas querem achar o DVD e compram,
fazem loucuras né, mandam até vir da “gringa”. Muitos amigos meu encomendam
de fora, pagam uma fortuna. Se tu for ver é uma minoria né, mas isso ai não vai
terminar, e vai passar de pai para filho.” (E.L.)
4.2.7 Aquisição das mídias
Quanto ao consumo das mídias relacionado a aquisição, apenas 3 ainda realizam a
compra das mídias físicas com frequência, mas todos adquirem as mídias digitais, como
supõe-se que a maioria das pessoas fazem hoje em dia. Um dos entrevistados explica sua
52
aquisição de mídias relacionando com o consumo atual das pessoas, no qual se faz
predominante pela mídia digital:
“Eu comprava bastante assim sabe, mas agora...Com internet e celular né...Estou
viciado no celular, daí escuto ali mesmo, YouTube também né. Se eu quero escutar
alguma coisa eu boto ali...Pra mim comprar um CD é difícil, prefiro comprar vinil
assim, livro também...O pessoal está relutando muito em comprar, acha tudo na
internet né...Eu dificilmente vou comprar um CD assim.” (E.L.)
Outro dos entrevistados que não adquiri mais mídias físicas e que consome-as com
baixa frequência, relata a sua aquisição de mídias digitais, e o porquê isso vem acontecendo:
“Hoje eu tenho muita coisa em Vinil e em CD, mas tem muita coisa que já não se
acha nessas mídias e que está disponível para download, então é meio que um
corredor que tu não pode dar a volta, tu tem que seguir junto. Hoje a juventude só
“baixa” música e dificilmente compra CD, então não se pode ir na contra-mão. Não
que não se compre mais um CD...Hoje eu já não compro mais vinil...” (D.L.C.S.)
Outro entrevistado relata seu pensamento concordando com as respostas acima, mas
no seu caso continua consumindo mídias físicas pois o sentimento de compra ainda existe e é
bastante influente em seu consumo:
“Hoje eu estou acompanhando, a moda vai indo e eu vou indo atrás. Eu estou
iniciando no Blu-Ray agora né...Mas eu vou continuar sempre comprando porque eu
adoro, e pra mim não importa, se é uma música que me agrada, que a melodia me
toca...Eu vou comprar e eu vou ouvir...Mas se tiver que “baixar” gratuitamente eu
vou “baixar” gratuitamente também, por que não? Eu acho que música é um bem
universal, um bem que deve ser colocado a disposição de todos.” (J.A.)
Um dos entrevistados mesmo não consumindo mais mídias físicas relata não ter
perdido seu fascínio por estas, onde ele relata, o que pode ser considerada, uma forma de
ritual, que ocorre no processo de compra de um bem:
“É difícil, pra quem é viciado nisso, passar numa loja de CD e não dar aquela
“trrrtrrr” (fazendo gestos de quem procura por CDs em lojas), até mesmo o Vinil,
53
quando a gente passa numa loja de sebo, que hoje Vinil é quase tudo sebo, é difícil
tu não entrar e olhar, e dizer “bá, olha esse aqui, e esse aqui”.” (D.L.C.S.)
Mesmo com toda a preferência e facilidade das mídias digitais, os entrevistados que
ainda adquirem mídias físicas são questionados quanto ao por que ainda adquirem e eles
respondem com base no sentimento e emoção pelo bem físico. Um dos entrevistados baseia
suas aquisições em um fato cultural histórico vivido por ele:
“Eu desenvolvi, pode até se chamar de uma patologia (risos), de querer ter pelo
seguinte, antigamente era muito difícil você ter acesso, então eu quero ter
fisicamente...Se bem que hoje já naum é mais tao necessário, porque você vai pra
internet, e tem ai na internet, mas eu cresci naquele negocio então eu quero
comprar.” (J.A.)
Nota-se que não é só a mídia física que envolve sentimento. O consumo da música
digital para alguns dos respondetes envolve uma emoção na procura e no download de música
da internet. Quanto à emoção na aquisição das mídias físicas e do MP3, que se diferem na
busca, um dos respondentes faz o seu relato comparando a forma de adquirir entre ambas:
“Eu sinto quase a mesma emoção nas duas partes...Cara, tem vários amigos meus
que às vezes me chamam de maluco...Eu já cheguei a ficar muitas madrugadas sem
dormir, coletando música da internet...Conseguindo materiais que eu jamais achei
(pensei) que iria achar...Você procura e não acha e tenta aquele ali (link), às vezes
não dá, às vezes não “baixa”. E mesma coisa quando tu encontra um disco né...Eu
quando eu vo compra disco, eu vo comprar sem saber na verdade o que eu quero. Eu
vou buscar coisas que eu gosto, mas sem saber o que eu vo achar né. Já na internet é
uma busca diferente, você já sabe o que você quer e você vai direto atrás, é muito
mais fácil. Na verdade, na internet você consegue muito e muito rápido, você fica
feliz né, mas eu tenho uma felicidade enorme quando eu fico horas dentro de um
sebo e eu trago pra casa um disco só. Eu acho que a sensação é até maior na verdade
sabe, trazer 5 músicas num disco do que baixar 300 músicas digitais num dia.”
(R.L.P.)
Um dos respondentes cita uma pequena frase para resumir o porquê o consumo de
mídias físicas ainda ocorre por parte de colecionadores e que resume também depoimentos de
outros entrevistados em relação à aquisição e ao tempo perdido em sebos, lojas e internet atrás
de música:
54
“É paixão, é paixão pela música né...” (J.A.)
4.2.8 Sensação no(a) consumo/aquisição de mídias
“A sensação é indescritível.” Essa sentença resume a longa relação feita por um dos
entrevistados, que relata todo o seu consumo de música, passando por todas as mídias, e o que
mais impressiona em suas respostas é a sua preferência por uma destas, que é onde começa
todo o seu consumo midiático, na fita cassete. Mas esta preferência segundo ele não é por um
fator racional e sim por um fator emocional. Este respondente declara que a fita cassete era
mágica.
Outros entrevistados fazem relações com a aquisição de música, principalmente das
mídias físicas, fazendo analogias com situações nas quais o homem sente prazer, ou que
exigem uma maior atenção e dedicação naquilo que se faz. Um dos respondentes relaciona a
sensação de aquisição com um orgasmo:
“Sabe como é o orgasmo (risos)...É um orgasmo...Às vezes, eu estou procurando
uma música assim, já vou pra internet. Daí a hora que eu encontro, já é o primeiro
orgasmo certo? ...Quando eu compro é um orgasmo, se eu chego num lugar assim e
encontro...Uma música que eu to procurando me faz bem, um cantor que eu venho
escutando e acompanhando, quando ele lança algo novo, eu corro lá e tenho aquele
prazer imenso de comprar...Esses que é mais difícil de encontrar, esses dá mais
prazer ainda. Quando eu encontro uma música na internet, aquilo te traz
alegria...(J.A.)
E finalizando ele relata que ao ser útil para uma outra pessoa a sensação é muito boa.
Por ter muitos itens em suas coleções, muitas pessoas o procuram para fazerem cópias de seus
artigos, principalmente dos discos de vinil:
“...Quando alguém me pede: Olha estou procurando aquela música, você tem ela?
Tenho. Nossa que prazer imenso de poder gravar pra pessoa, é fantástico o
negócio...” (J.A.)
Quanto ao consumo também houveram relações, este entrevistado faz relação do
consumo com um tratamento à uma mulher, de como uma mulher deve ser tratada:
55
“Eu tenho contato com a música como se eu tivesse com...(pensando) Até vou
brincar agora, como se eu tivesse com uma mulher cara (sorriso) sabe, pra mim
pegar um CD na mão é como se eu tivesse acariciando, como se tivesse beijando,
como se tivesse fazendo amor, pra mim a música é isso sabe.” (R.L.P.)
E este continua seu relato dizendo que uma mídia deve ser bem tratada, e com atenção,
o que envolve até uma relação com um ritual de consumo. Antes de ouvir qualquer artista ele
olha bem, lê toda a ficha técnica, porque segundo ele voce deve maior atenção por estar
consumindo um trabalho de um artista, onde aquele artista dedicou tempo naquele álbum.
De forma resumida, o que se pode notar é que o consumo das mídias nesta pesquisa,
principalmente das mídias físicas como o vinil, é por um sentimento com a música em si, pelo
que a música é capaz de fazer com as pessoas. Um dos pesquisadores relata o seguinte sobre o
seu sentimento com a música.
“A música que voce vai ouvir depende muito do seu estado de espírito, aí voce vai
ouvir aquela música...Então você tem que estar com um estado de espírito
preparadíssimo para receber aquilo, e mexe com você...Você quer ficar louco,
você bota um Rock pesadão lá...Não que seja uma música violenta, mas que te traz
agitação...Você fica louquinho igual, o teu estado de espírito fica igual ao da
música. Você quer calma, você coloca algo com um piano, com um violino ou
alguma coisa com uma flauta doce...Então por exemplo, altera o teu estado de
espírito...” (J.A.)
4.2.9 Opinião sobre formato musical MP3
Todos os entrevistados transpareceram serem a favor do verdadeiro intuito do MP3,
que é o compartilhamento de música pela internet. Reconhecem também uma qualidade
pouco inferior às demais mídias, mas que a melhor qualidade do MP3 (320 kbps) é uma
qualidade muito boa e pode-se compará-la com as mídias físicas. É de senso comum também
a praticidade em seu consumo, onde é fácil levar, trazer, enviar e receber arquivos no formato
de MP3 e também sua facilidade de acesso, pois existe muito material em websites na
internet.
Quanto a sua facilidade de acesso na internet, um dos entrevistados diz o seguinte:
56
“...Ali (internet) tem tudo, o material que o cara tem em vinil o cara tem em MP3
entendeu o acesso é muito maior.” (J.S.)
Outro entrevistado expõe sua opinião sobre consumo e a praticidade do MP3
“O mp3 é o mais prático, você ve o cara caminhando ai, com uma pequena
reprodução de mídia qualquer...Podendo levar pra qualquer lado. No carro por
exemplo, você bota um mp3 é, você coloca um grande número de músicas ou num
Pen Drive ou num CD, a armazenagem se tornou mais fácil também entende...”
(J.A.)
E continua relatando sobre o compartilhamento em massa dizendo o seguinte:
“...Você está divulgando por exemplo, você ta sedendo a música, ta levando a
música ao mundo todo. Eu acho válido, acho que a mídia é boa e tudo, você tem que
aproveitar...” (J.A.)
Históricamente um dos pesquisados, concordando com o pensamento citado acima,
fala do seu conhecimento de por que o MP3 foi criado, e defende o seu verdadeiro objetivo, às
vezes confundido com pirataria:
“...O MP3 foi criado para se divulgar músicas na internet, e isso sempre existiu, o
que às vezes é mal chamado de pirataria. Nós íamos nas casas dos amigos com fita e
gravávamos do vinil as músicas que queríamos. Havia um intercâmbio de músicas a
nível pessoal, hoje esse intercâmbio é impessoal, porque às vezes a intenção não é
fazer a pirataria, e sim buscar uma determinada música com alguém que a tenha.”
(D.L.C.S.)
Um dos entrevistados diz que o MP3 é o inicio da revolução musical e que acredita
que a evolução tecnológica nos guarda algo que possa substituí-lo. Com a mesma idéia, um
outro entrevistado acredita que o MP3 já está no final de sua vida útil, já que este, consome
bastante música na internet. Sua opinião é:
“...Hoje em dia o pessoal nem converte mais né, os aparelhos são tudo de grande
capacidade, com 20, 30 GigaBytes...O MP3 vai cair, até porque o MP3 foi criado
justamente porque não se tinha a capacidade de fazer upload de arquivos com 50
MegaBytes... o pessoal usa mp3 mais pra e-mail só...o MP3 vai acabar.” (E.L.)
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Segundo este último respondente, hoje em dia com velocidades de internet mais rápidas e com
os MP3 players de capacidade muito grande de armazenamento de arquivos, não se precisa mais
transformar arquivos de áudio para MP3, pois já se pode fazer upload e transferência com arquivos
grandes sem problemas.
4.2.10 Música disponibilizada na internet
A música disponibilizada na internet ocorre de várias maneiras e por várias causas,
como já visto anteriormente, segundo os pesquisados, este foi um dos objetivos para o qual o
MP3 foi criado. Dos entrevistados, todos defenderam o avanço tecnológico que trouxe a
internet ao cotidiano das pessoas. Todos defenderam também o compartilhamento de música
pela internet. Apesar de haver a pirataria nos dias de hoje, alguns entrevistados acreditam que
a internet trouxe uma maior visibilidade ao artista, então atualmente a oportunidade de se
tornar um músico é mais branda:
“Hoje ele tem chance, não é a parada do rádio que determina quem está fazendo
sucesso, ajuda, mas não é determinante. Tu consegue atingir públicos alvos através
do computador que o rádio não conseguia...É uma realidade que não se questiona,
ela está aí, tem que trabalhar com ela” (D.L.C.S.)
Em contrapartida faz com que o mercado seja mais concorrido:
“...É uma forma de ficar conhecido né, mas é a faca de dois gumes, por outro lado
tem 300 mil pessoas fazendo isso ao mesmo tempo. Então pra se destacar tu tem que
se bom né, enquanto tu está divulgando tem 299 mil pessoas divulgando da mesma
forma que tu. Então é uma democratização da divulgação né, daí só se destaca os
bons né.” (E.L.)
Alguns deles entraram na discussão sobre a “pirataria” e o compartilhamento livre de
arquivos, e defendem que isso ocorre porque os preços midiáticos atuais são muito caros, e
que o ganho nas vendas não é total para o artista, as gravadoras e selos levam grande parte
nisto:
“...Pelo preço dele né (porquê ocorre a pirataria). A gente sabe que custa um valor
pra fazer ele, e as pessoas “jogam” ele na rua com um valor muito maior né. Hoje
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um CD, pra se produzir ele lá na zona franca de Manaus, eu acredito que deve ficar
em torno de cinco reais, por CD. Aí o artista “joga” ele na rua a quarenta reais. Eu
não sei se é justo isso, é justo é, mas eu sei que o artista não ganha tanto dinheiro
com CD, na verdade ele ganha dinheiro com os shows, o CD na verdade sempre vai
ter, porque o CD é um cartão de visita né.” (R.L.P.)
E este mesmo respondente continua dizendo que as pessoas acabam escolhendo
adquirir as mídias pela internet porque é muito mais barato e fácil:
“...Não se vende tanto disco quanto se pensa também...Hoje um artista lança um CD,
bota lá pra vender e esse CD custa lá um preço “X”. Esse preço aí, às vezes você não
tem pra comprar ele né, é muito mais caro. Às vezes você precisa compra uma
roupa, precisa comer alguma coisa, você não vai tirar do seu bolso aquele dinheiro
para comprar um CD. É muito mais fácil você ir na internet, e ficar ali uma hora ou
duas, numa Lan-House, gastar 10 reais, e voltar para casa com cinco discos que você
gosta dentro de um Pen-Drive.” (R.L.P.)
Outro entrevistado relata o seguinte sobre o compartilhamento e também sobre os
ganhos do mercado fonográfico e taxas de importação que fazem do CD um produto caro:
“Eu acho que o compartilhamento é a melhor coisa que existe no mundo, quando
você compartilha é porque você dividi uma coisa sua com alguém...Agora artista
precisa viver, certo? Eu concordo, só que pra viver eles não precisam tornar os
magnatas da mídia ricos e eles não né. Eu acho que devia te um ganho equilibrado
pra todo mundo...Você comprar um CD nos EUA a 99 centavos de dollar, e aqui ele
custar 40 reais, deve ter alguma coisa errada com isso, impostos e tudo mais” (J.A.)
Segundo outro respondente, em outras culturas, o apoio aos músicos acontece de
forma comum, através da compra de produtos tanto em lojas com na internet. No Brasil isso é
incomum segundo ele por culpa da cultura:
“...Na Europa e EUA é diferente, na Europa, na França, a porcentagem de pessoas
que compram música pela internet é 80% da população. Eles fazem questão de
comprar né, no Brasil não tem essa cultura ai né.” (E.L.)
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Infelizmente a pirataria acontece, e o artista “sofre” com isso segundo um dos
entrevistados. Segundo o mesmo, a partir desses malefícios, os artistas passaram a ver o que a
internet oferecia de bom e usaram ao seu favor:
“...Porque a pirataria disponibiliza o trabalho que é um meio de sobrevivência do
artista, então como pirataria, é extremamente prejudicial. Infelizmente não se tem
como cortar isso aí né. Já que não tem como cortar, o que eu vejo que o artista fez,
ao invés de brigar...Tentou se aliar com o inimigo. Começou a disponibilizar, ou o
próprio álbum, ou flashs da própria música, pra que esse público que vive
garimpando e ouvindo música de internet, conheçam o trabalho dele...(D.L.C.S.)
Confirmando a opinião, outro respondente diz que a única coisa que ainda não
conseguiram plagiar é o show. Então o contrato de shows e eventos é a forma com que os
artistas tem seus ganhos atualmente:
“A questão da mídia...É a única forma hoje em dia, não tem nem concordar ou
descordar, é a única forma. Então “nosso” lance é com a apresentação de show,
quem quiser ver a banda tal, vai te que ir no show, por enquanto isso eles ainda não
conseguiram plagiar.” (J.S.)
Como dizem estas últimas respostas, a internet por mais que tenha trazido a pirataria e
tenha reduzido os ganhos dos músicos e bandas, e inclusive das gravadoras e produtoras,
trouxe um lado bom, que é a divulgação em alta escala, para públicos mais abrangentes,
dando a oportunidade para aqueles que não tem um contrato com grandes gravadoras e selos
fonográficos de conseguirem shows e apresentações em eventos e fazerem seus sonhos se
tornarem realidade. Compravando isto, tem-se os relatos seguintes, já que esta pesquisa
envolve músicos independentes e produtores que usam a internet para divugação de seus
trabalhos:
“...Mas o que que nós vamo fazer? É a única forma de mostrar. Nós mesmo
disponibilizamos nosso primeiro single, Dia Feliz. A gente disponibilizou por site e
foi a forma como a gente conseguiu ficar conhecido, e tocar nas rádios...” (J.S.)
“Eu mesmo quando faço minhas músicas, a primeira coisa que eu faço é colocar na
internet, pro pessoal poder “baixar”, e eu acho “da hora” aqueles artistas que fazem
isso também.” (R.L.P.)
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“Na minha época...Quando eu tinha banda de rock, a gente não tinha como divulgar
né, a não ser que tu entrasse numa grande gravadora né, que era só uma banda que
entrava né, de mil uma entrava. Então tu não tinha como divulgar, tinha que pegar
uma fita de vídeo cassete, ou uma fita cassete, e gravar teu som “mal e porcamente”,
não existia estúdio em lugar nenhum, botar em baixo do braço e pegar o ônibus na
rodoviária e ir viajar, ir pra POA ou pro interior. Era o que eu fazia. (E.L.)
As medidas a serem tomadas então, como artista, segundo um deles é:
“...Eu acho que tu tem que disponibilizar de várias formas né, colocar no ITunes pra
vender e coloca nos outros de graça. O pessoal que tá afim de “baixar”, “baixa”,
quem quer comprar, compra, quem quer comprar o álbum, clica lá e eles te mandam
pelo correio.” (E.L.)
4.2.11 Fim das mídias e o futuro do mercado fonográfico
Os entrevistados foram questionados quanto ao final das mídias físicas, se isso pode
um dia chegar a acontecer, e quanto a quem irá dominar o mercado fonográfico, se é a música
digital, se o CD irá se manter como principal mídia ou se o vinil pode voltar a ser o que já foi
um dia.
4.2.11.1 Fim do disco de Vinil
“Cara eu acho que não, se o vinil acabar um dia é porque eu comprei todos eles
(risadas), se eu tiver muito dinheiro (risos). (R.L.P.)
De forma descontraída é que começa a resposta de um dos entrevistados quando
questionado sobre o final do disco de Vinil. A opinião dos respondentes nesse questionamento
é, de certa forma, parecida, alguns acreditam na imortalidade das mídias, e alguns acreditam
que elas até podem acabar algum dia, mas que este futuro é incerto ou muito distante.
Os motivos pelos quais o vinil se mantém vivo, e os entrevistados não acreditam no
seu fim, são:
61
- Qualidade:
“...O vinil é uma coisa que pode ter a tendência de voltar né...É uma forma de
música que tem muita qualidade” (R.L.P.)
“...O vinil tem uma qualidade especial, tanto é que ele está voltando hoje, voltando
bem mais caro, do que o CD e o DVD, e no entanto ele vem crescendo ano a ano.”
(J.A.)
“Essa é uma questão polêmica, isso mexe muito com coisas pessoais, com
sensações...Uma percepção aguda né, de qualidade, de ambiente de gravação, é
difícil te dizer que o vinil vai acabar, eu não posso prognosticar isso.” (D.L.C.S.)
- Arte do álbum:
“...Selecionar o vinil, colocar tocar, observar a capa, detalhes, a única foto que se
tinha do artista era a própria capa do vinil né. Então tinha um sabor muito, muito
bom...” (D.L.C.S.)
- “Mistérios”:
“...Talvez o CD acabe antes do Vinil, porque o vinil ele guarda muitos mistérios,
tanto de fabricação...”(D.L.C.S.)
“...Você ter que tirar aquela “coisa” enorme, do plástico, que voce vira, e que até
hoje a gente não entende a lógica de como a música fica impressa naquilo ali...”
(R.L.P.)
- Romanticismo:
“Eu acho que ela vai estar sempre aí, vai ter os românticos. Já tem de novo produção
e só de Vinis usados já da pra gente ficar consumindo durante muito tempo. Tem
muita música boa que foi gravada em vinil” (J.S.)
“...Se hoje tu perguntar para a juventude, como é que toca um vinil ninguém sabe
como é né, e quando alguém descobre, estuda, se apaixona por aquele processo
produtivo, e consegue captar do som do vinil alguma coisa que ele não conhecia,
não vê no CD, tenho a impressão, que essa mágica do vinil ela prolonga a vida
dele”(D.L.C.S.)
“O vinil tem aquele romantismo, pegar o encarte e abrir...” (E.L.)
62
- “Onda Retrô”:
“Eu acho que não tem como ele se extinguir, eu acho que se ele tivesse que ter
acabado ele já tinha acabado entendeu, sendo que agora é ao contrário, com essa
onda retrô...” (J.S.)
- Objeto de Colecionadores:
“Eu acho que as mídias não vão acabar né...Tem gente que quer ter o vinil, as
bandas fazem o vinil também né, tem muita gente fazendo vinil agora...E os
colecionadores vão comprar né...” (E.L.)
-Essência/Sentimento diferente:
“...Acho que o vinil traz uma essência, traz um sentimento diferente...” (R.L.P.)
- Nostalgia:
“O vinil...Ele te remete a infância, e foi ali que começou o consumo da música em
massa.” (E.L.)
Outro motivo muito importante na sobrevivência do disco de vinil é o seu ritual de
consumo, que faz com que seu envolvimento com o ouvinte seja muito maior. Mas este será
abordado em um capítulo especial deste trabalho na sequência proposta.
O disco de vinil teve sua baixa com o advento do CD, que trouxe muitas vantagens
para o consumidor, e com isso as empresas e o mercado fonográfico deixaram de lado a
produção de Vinil e de aparelhos e seus perifericos para sua reprodução:
“...Eu acredito que se o vinil parou hoje de ser consumido, é porque as empresas que
fazem os rádios, pararam de colocar a peça, uma bandeja, um toca-discos. Hoje a
gente encontra somente rádios com entrada USB e entrada pra CD.” (R.L.P.)
E ele continua garantindo que se hoje fossem feitos rádios, o consumo do disco de
Vinil se popularizaria novamente entre os jovens dessa geração, como, segundo ele, acontece
na Jamaica:
63
“...Se esses caras que lançam um rádio hoje, lançassem um rádio em 2012...Um
toca-discos em cima do rádio, e você ver que um artista que você gosta, hoje lançar
um disco, você vai comprar também. Vai comprar porque você vai admirar isso, vai
ver que tem uma qualidade também e isso iria acabar vendendo, e é uma forma
desse mercado nunca parar de existir...Um lugar que eu admiro muito é a Jamaica. A
Jamaica produz discos até hoje. Os artistas continuam lançando disco até hoje,
porque a cultura do Sound System é muito forte lá, então lá os artista lançam o
CD...Mas lançam o vinil também, e é um lugar que e é exemplo também, porque é
um ilha muito pequena, é um pais de 3º mundo também, e os caras continuam com
essa arte ainda, até hoje...” (R.L.P.)
Finalizando cita-se frases de dois respondentes sobre o fim do vinil, demonstrando-se
forte defensores dessa mídia:
“Eu acho que a música como hoje ela é ouvida, massivamente, em MP3, não tem
retrocesso. Isso me parece que é uma certeza, não tem como retornar o que está aí.
Mas matar o que já existiu, como foi o vinil...Eu acho que é uma coisa que ainda nós
vamos viver muito tempo pra ver essa briga (sorrindo).” (D.L.C.S.)
“Eu acho que o vinil jamais morrerá (sorrindo e apontando para cima).” (J.S.)
4.2.11.2 Fim do CD
O CD é a atual mídia do mercado fonográfico, pelas suas características e pelo seu
baixo custo de produção em relação ao disco de Vinil. O que nota-se é que o CD é uma mídia
de qualidade, mas simples, pois os respondentes não citam nenhuma especialidade que o CD
carregue, apenas argumentam de forma racional que este não irá acabar tão cedo pela sua
praticidade, pelo seu baixo custo e pelo fácil acesso ao processo de gravação e produção dele,
ou enquanto não aparecer um substituto.
Um dos respondentes quando questionado sobre o fim do CD responde o seguinte:
“As mídias são imorredouras, o CD por exemplo pode desaparecer só daqui 1000
anos, ou 100 anos, não posso precisar qual é o tempo. Ele pode desaparecer assim
que aparecer outra coisa que o substitua certo? Mas não que ele vá morrer assim, de
tirar ele do mercado a hora que você quiser, enquanto ele for barato, acessível e fácil
de manusear ele vai estar na mídia aí.” (J.A.)
64
Outro acredita que ele não termine, mas que as pessoas vão acabar deixando de
consumí-lo aos poucos:
“eu não acredito no fim dele, eu acredito que ele vai tipo deixar de ser consumido
cada vez mais. O pessoal vai comprar cada vez menos CD, até porque o MP3 hoje
está na internet. O mesmo disco que eles botam pra vender na loja, está na internet e
o pessoal acaba deixando de lado o CD.” (R.L.P.)
Outro respondente acha que o CD é a mídia que subsiste no mercado pela sua
facilidade de gravação, e baixo custo. Mas ele acredita nessa superioridade somente no
mercado brasileiro, pois ele garante que no mercado fonográfico da Europa o disco de Vinil e
o MP3 predominam:
“A gente está falando em Brasil, porque já na Europa e outros países já não é bem
assim a coisa...Todo mundo grava CD...No tempo do Vinil, era muito mais
caro...Isso acabava selecionando. Hoje em dia um CD é muito barato, tu consegue
uma “barbada” num estúdio, tu vai lá e grava, às vezes uma coisa sem
qualidade...Sem produção...E está lá, o CD vai pra loja, e se “bobear”, esse “troço”
estoura e, se “bobear”, a tua família, os teus filhos, vão estar tocando isso...Mas pela
questão do custo dele ser barato, eu acho que ele ainda subsiste...” (J.S.)
Um dos entrevistados resume o porquê ainda existem pessoas que adquirem e
consomem o CD, um grupo seleto de pessoas que querem ter a mídia física em mãos e vêem
um significado nisso:
“...Existe a venda de CDs pela internet também, mas os caras que são doidos por
música, doentes por música que nem eu, ainda vão lá na loja, e vão comprar, porque
gostam do encarte, e gostam de ler a ficha técnica, gostam de tudo isso que tem por
trás né, da música. Então o CD sempre vai existir, mas o MP3 é uma coisa que vai
ser consumido cada vez mais, e com certeza o CD vai perdendo cada vez mais o
espaço dele.” (R.L.P.)
65
4.2.11.3 Futuro das mídias no mercado fonográfico
Mesmo sendo o CD o mandante no atual mercado fonográfico, os entrevistados
acreditam num futuro próximo de uma mídia diferente das mídias envolvidas nas pesquisas, e
eles se baseiam, quase com certeza, que venha a ser uma mídia digital, pois a internet avançou
muito rapido em sua evolução e tem evoluido a cada dia. E ainda afirmam que não tem
certeza sobre os fins das mídias já que o disco de Vinil já era pra estar extinto.
A opinião do primeiro entrevistado é de que atualmente o CD domina o mercado, mas
que o MP3 veio com intuito de trazer algo novo, e que tem coisa mais avançada pra vir e
talvez venha substituir o MP3. Mas este acredita que, enquanto isso a música digital vá ser
cada vez mais a mídia a ser consumida pelo público.
O segundo acredita que o mercado sobreviver da música digital é “sonhar muito”. Pois
acredita que a rentabilida da música digital atual é pouca e não tende a aumentar. A pequena
renda que os artistas ainda tem de mídias vem das mídias físicas. Resumindo, ele diz ser
difícil precisar o futuro do mercado fonográfico, por causa da internet, e que esta ainda pode
trazer, junto com a evolução tecnológica das mídias e formatos musicais, muitas surpresas:
“A internet começou há uns 15 anos atrás. Eu conheci a internet discada, e em 15
anos a internet evoluiu, uma centena de vez mais rápido do que qualquer outra coisa
no mundo, e se essa evolução continuar nesse ritmo eu não sei como é que vai ser.”
(D.L.C.S.)
O terceiro, não acredita num domínio do MP3 sobre o CD e o disco de Vinil, pois
considera o mundo virtual muito volátil. Este acredita que é cedo para se prever algo, acredita
que alguma mídia digital possa vir a substituir o MP3 antes dele dominar o mercado
fonográfico. Este cita o Orkut como um exemplo para relacionar a volatilidade do mundo
virtual:
“...Sabe, as coisas quando tem valor virtual assim é complicado. Eu acho que as
coisas que são virtuais elas são muito mutáveis né. Por exemplo, a bola da vez da
mídia social era o Orkut, daqui um pouco todo mundo abandonou e só ta meia dúzia
de “fantasmas” lá, e agora é o Facebook. Quem sabe daqui a pouco pinta outra
coisa.” (J.S.)
66
O quarto entrevistado acredita também no futuro do mercado com o domínio das
mídias digitais. Na verdade ele julga a internet como um domínio para todos os consumos, e
cita como exemplos os filmes, que atualmente podem ser assistidos e baixados pela internet.
Por isso, ele acredita que a música em geral passará a ser consumida pela internet. E quanto a
mídia física ele acredita ela não vá terminar tão cedo. Descreve o seguinte:
“...O que vai dominar mesmo é a internet, eu acho que o pessoal vai acabar
escutando só por ali. Agora não vai acabar o CD, todo mundo vai querer comprar
um CD, um DVD, um Vinil né, isso vai continuar. É como os livros né. Não tem o
IPad? O pessoal lê no IPad, mas tem gente que quer ir lá na livraria sentir o cheiro
do livro, do papel, e comprar. Não vai acabar, vai diminuir...Quem vendia 100 mil
livros agora vai vender 10 mil. Quem vendia um milhão de discos agora vende 100
mil e achar que está bom né. Mas acabar não vai, porque se fosse por isso o vinil
tinha acabado também. O vinil deu uma caída e voltou né...Eu acho que as próximas
gerações vão se acostumar a escutar pela internet né. De repente daqui uns 100 anos
(sorrindo) o pessoal não vai mais saber o que é CD né.” (E.L.)
O quinto e último pesquisado acredita em uma evolução das mídias musicais, e
acredita também, na possibilidade do mercado fonográfico sobreviver somente da mídia
digital, pois vem acompanhando durante sua carreira de consumidor midiático muitas lojas
fecharem por causa do avanço da internet. A mídia que possa dominar esse mercado deve
participar de um trinômio, que segundo ele se baseia em “acesso fácil, custo menor, e
qualidade maior”. Mas prum futuro mais recente ele acredita numa superioridade do MP3 e
que as mídias físicas diminuam seu consumo, por causa facilidade de acesso, inclusive
financeiramente. Complementa:
“A gente sabe que um MP3 (Player), um Pen Drive é baratinho, e um Pen-Drive de
4 Giga cabe quase 1000 músicas, e aí? Como é que você vai lutar com isso?” (J.A.)
Este último termina sua entevista debatendo sobre uma justiça de mercado, que isso é
capaz de ser atingido, mas que depende de alguns fatores essenciais que hoje não se vêem
presentes no mercado fonográfico:
“O que precisa, é as gravadoras aí, quem distribui mídia aí, chegar num acordo e
pensar, que eles não podem mais ganhar como no passado. Eles vão ter que ser
inteligentes, aumentando o volume e diminuindo (preço), pra que todo mundo possa
67
ter, porque quando o preço for justo, todo mundo vai comprar e não vai piratear
entende? Enquanto você colocar um disco a 120 reais, por exemplo, um quinto do
salário mínimo, tem gente que vai plagiar, quem não pode vai plagiar, não tem jeito.
Então tem que fazer essa mídia (futura mídia a dominar o mercado) o mais fácil
possível, com fácil acesso e com o menor custo, que daí os caras vão ganhar, e vão
evoluir. E o futuro imediato agora, o MP3 vai dominar, e vai crescer mais ainda, ou
alguma coisa que o substitua com a mesma qualidade. Eu acredito nisso.” (J.A.)
4.3 Ritual de consumo
Durante a pesquisa, pôde-se presenciar o consumo de música por parte dos
entrevistados. Após as entrevistas, ou até mesmo durante, como em alguns casos, os
entrevistados consumiram música de alguma forma, seja em MP3, seja em disco de vinil ou
CD. Pode-se então fazer análises quanto ao consumo de música pelos entrevistados, desde
como consomem até como descrevem o próprio consumo.
4.3.1 Consumindo música
Pode-se notar nas palavras de R.L.P. que o seu ritual de consumo ocorre no consumo
do disco de vinil, mas infelizmente em sua entrevista não pôde-se ter a oportunidade de
desfrutar desse momento, pois sua agulha do toca-discos estava quebrada. Em suas palavras
ele descreve que o ritual de consumo de um vinil é o que faz este ser um destaque dentre as
outras mídias:
“...Acho que o vinil traz uma essência, traz um sentimento diferente. Só de você ter
que tirar aquela “coisa” enorme, do plástico, que voce vira e que até hoje a gente não
entende a lógica de como a música fica impressa naquilo ali, e voce ter todo o
cuidado de pegar a agulha, colocar ali e esperar para vir o som, é uma coisa que faz
a gente amar mesmo a música cada vez mais...” (R.L.P.)
Nestas poucas palavras já pode-se notar um sentimento envolvendo R.L.P. e seu ritual
de consumo, analisando a arte e admirando o disco de vinil. O que pôde ser analisado no dado
momento da pesquisa foi o consumo do MP3, tanto que ao começar a entrevista, este já
perguntou se poderia deixar uma música de fundo, e virando-se ao notebook colocou uma
68
coletânea separada por ele mesmo para tocar durante a entrevista. R.L.P. relata que sua
coleção de MP3 passa das 40.000 músicas dos mais diferente gêneros. Nota-se por parte de
R.L.P., no consumo de um MP3, menos ênfase para um ritual, pois o consumo deste é
massivo por parte do entrevistado, unindo-se a simplicidade que é para se reproduzir um
formato MP3. Durante toda a pesquisa ele consumiu música, e inclusive após a entrevista este
fez uma demonstração de seus projetos pessoais como músico.
Analisando o ritual de consumo do segundo entrevistado, D.L.C.S., após apresentar
seus materiais, este colocou no toca-discos, o primeiro disco da pilha, uma coletânea de Chico
Buarque. Pode-se notar um cuidado muito grande por parte deste, no manuseio do vinil,
pegando-o pelas pontas, sem tocar nas ranhuras e colocando-o levemente no aparelho,
demonstrando um cuidado muito grande e representando o valor que aquele objeto e seus
semelhantes têm para ele. A agulha foi colocada no disco com um movimento leve e suave,
que segundo D.L.C.S. serve de cuidado para não ocorrer o risco de deixá-la cair e acabar
prejudicando não só a agulha como também disco. D.L.C.S. relata sobre o disco de vinil o
seguinte em uma de suas respostas:
“O que deu mais prazer ao longo dessa jornada musical foi provavelmente o vinil,
que é um ritual muito gostoso, muito especial, de selecionar o vinil, colocar tocar,
observar a capa, detalhes, a única foto que se tinha do artista era a própria capa do
vinil né, então tinha um sabor muito, muito bom.” (D.L.C.S.)
Quanto ao consumo de outras mídias, D.L.C.S. fala sobre a sensação de consumir
música em suas respostas usando a palavra “indescritível”, e apresentando historicamente sua
sensação desde a fita cassete até o MP3 atual. Segundo D.L.C.S. a sua juventude foi marcada
pela fita, que segundo ele era “mágica”, pois ali voce podia fazer uma seleção de músicas e
então escutar durante meses sem cansar. Ainda segundo D.L.C.s. o disco de vinil tinha e tem
seu charme, mas por cuidado e preservação ele buscava inteferir o mínimo possível na
execução de um disco, o que fazia ele desfrutar inclusive das músicas que não gostava tanto.
Para ele a evolução das mídias facilitou cada vez mais o consumo das músicas tranzendo mais
foco a personalização do consumo musical. D.L.C.S. explica que em sua opinião é isso que
faz da fita cassete e do vinil os mais importantes segundo ele, pois toda essa personalização
que a gravação de CD e o download de MP3 trouxeram foi terminando cada vez mais com a
importância e com o ritual de consumo que as mídias tinham.
69
Figura 1 - D.L.C.S. reproduzindo um LP com todo cuidado
Fonte: Dados da pesquisa
Analisando o ritual de consumo do terceiro entrevistado, J.S. descreve seu próprio
ritual em relação ao Disco de Vinil da seguinte forma:
“Tem haver com o humor, isto vai refletir na música que vou ouvir...Eu gosto
quando está um dia frio, ou nos dias de chuva assim...vou lá, preparo meu chá, meu
café. Hoje é dia de ouvir “Simon & Garfunkel”. Vou lá e coloco aquela música
exatamente daquele jeito...Eu gosto de escutar a música que tem a ver com o dia, eu
gosto de ficar aqui, tomando meu café e olhando pela janela. É uma “coisa” minha,
uma “coisa” que eu gosto, um momento devocional meu, me faz bem e sinto falta
quando isso não acontece.” (J.S.)
Quanto ao ritual do MP3, ele relata não existir de certa forma um ritual, e faz a
seguinte comparação entre o MP3 e as demais mídias:
“O MP3 é aquela calça jeans do dia-a-dia, não é aquela fatiota que tu deixa separada,
essa aqui é pro dia do show, essa aqui é pra ir pro trabalho segunda-feira, essa aqui é
que eu vou botar sexta-feira pra ir pra faculdade...O mp3 é do dia-a-dia, plugo o
computador, ligo o som e “pá”, deixo tocar...” (J.S.)
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Figura 2 - J.S. e seu consumo de música diário
Fonte: Dados da pesquisa
Pode-se notar um ritual bastante emocional por parte de J.S. Através da combinação
entre o clima, o dia da semana, o humor, a imagem climática do céu e o preparo de um café, o
consumo de J.S. é um ótimo exemplo de ritual. Um momento especial e específico para se
desfrutar somente da música hoje em dia pode-se dizer que é raro.
Quanto aos rituais de consumo do produtor E.L., este relata não ter muito tempo para
escutar músicas vindas de mídias físicas. O seu consumo de música é quase todo através das
mídias digitais. De vez em quando acessa a internet através de seu IPhone ou de seu
computador, e ouve algumas músicas ou faz downloads. As unicas formas de consumo das
mídias físicas, são através de visitas à amigos e em eventos específicos, onde o entrevistado
cita churrascos como exemplo, que ele coloca um CD para tocar ou então um DVD. Mas
mesmo consumindo quase somente música digital, E.L. quando questionado sobre o
sentimento que as mídias físicas carregam, comparando com as mídias digitais, relata o
seguinte:
“O vinil tem aquele romantismo, pegar o encarte e abrir, ele te remete a infancia, e
foi ali que começou o consumo da música em massa...Mas para mim é indiferente,
tudo é arte, não sendo música ruim eu escuto em qualquer formato...” (E.L.)
Por ser um produtor e trabalhar com música o dia inteiro, E.L. relata que quando não
está trabalhando com as gravações, evita o consumo de música, pois segundo ele, os ouvidos
precisam de um descanso.
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J.A. consome música diariamente e num determinado local, um apartamento onde só
ficam suas mídias, aparelhos reprodutores dessas mídias e TVs. Após a chegada ao
apartamento e uma breve conversa, J.A. apresentou suas mídias e logo começou a consumir
um Blu-Ray, apresentando várias partes e demonstrando excitação ao assisitir a mídia.
Quando questionado se existe algum ritual no consumo das mídias ele responde falando que o
ritual para ele não é conforme a mídia e sim a emoção da música. J.A. usa as seguintes
palavras para descrever seu ritual de consumo:
“...Se é uma música que vai mexer comigo, principalmente Blues, eu vou lá, coloco
um copinho de whiskey, uma água do lado e às vezes um gelo de coco, isolo o
ambiente, às vezes também diminuo a luz, e boto pra ouvir...Na calada da noite,
quando esta tudo em silêncio, e voce diminui a luz, rapaz, não há jeito melhor de
ouvir música.” (J.A.)
Para J.A. a música tem muito haver com o estado de espírito em que voce se encontra,
ele relata que voce tem que estar preparado para receber a música quando for ouví-la, para
então poder apreciar e compreender o sentimento que ela traz. E ele relata que se uma pessoa
realmente aprecia a música que ouve, ela pode mudar o seu estado de espírito dependendo do
gênero musical que escutar, como por exemplo ele cita um Rock pesado, com bastante ênfase
da bateria, a pessoa naquele momento fica agitada, ou então um Jazz, ou músicas com piano,
violino ou flauta, essas músicas deixam a pessoa com estado de espírito calmo.
4.4 Bens e objetos
Apresentando suas coleções, R.L.P. começou por suas revistas, apresentando clássicos
de revista de Rap e cultura Hip Hop, inclusive a primeira edição de uma delas, o que é um
clássico segundo ele e algumas edições de revista de Rap importadas que não são muito
comum de serem encontradas.
Depois da coleção de revistas. Foi a vez das fitas cassete, a maioria gravada pelo
próprio entrevistado, ao ouvir programas de rádio e CDs. A maior parte da coleção faz parte
do gênero musical Rap. Junto das fitas cassete estavam guardados alguns filmes em fitas de
vídeo, filmes também sobre Rap e principalmente sobre a cultura de rua, filmes que datam
final da década de 80 e década de 90. Junto das fitas de vídeo, alguns filmes também em DVD
e também alguns shows de artistas renomados da Cultura Hip Hop.
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Abrindo outra porta do seu armário R.L.P., retira mais 900 CDs segundo ele, entre
originais, dois ou três ainda lacrados, copiados, regravados e alguns gravados do computador.
Seus CDs são grande parte de Rap e uma boa parte de MPB, Reggae e outros gêneros de
gosto do entrevistado, que servem tanto como objeto de estudo até objeto de inspiração para
sua carreira musical.
Por último, em cima do armário, escorada na parede, numerada em pouco mais de 150
exemplares, e uma das mais importantes das coleções, segundo o entrevistado, vem a coleção
de LPs. Sua coleção fica dividida em duas colunas, uma de MPB e outra de gêneros variados,
mas predominantemente de música Soul, Funk e Rhythm n’ Blues.
Figura 3 – Coleção de CD’s e LPs de R.L.P.
Fonte: Dados da pesquisa
Ao entrarmos no escritório do segundo pesquisado, D.L.C.S., pode-se notar muitas
fontes de informação, como quadros, livros e claro, as mídias musicais. Seu computador é um
desktop, mas encontrava-se desligado, seu toca-discos fica ao lado do computador, e uma
pilha de CDs também. Mostrou rapidamente seus CDs, mas seus discos de vinil, ele foi
buscando um a um. Sua coleção de discos hoje é pequena segundo ele, mais ou menos 80
discos ele tem guardados, predominando a Música Popular Brasileira. Alguns discos ele
retratou um carinho enorme. Haviam naquela coleção discos novos, que segundo ele foram
reproduzidos poucas vezes. Todos os discos de sua coleção tinham um plástico envolto, para
melhor proteger as artes, e a maioria deles tinham aquele plastico interno também, para
proteger o disco do pó e de outras sujeiras.
73
Figura 4 - LPs em ótimo estado de D.L.C.S.
Fonte: Dados da pesquisa
Na chegada ao apartamento de J.S., para realizar a terceira entrevista, este estava
tomando um lanche, e consumindo música em seu computador. Houve uma pequena conversa
e logo J.S. começou a apresentar suas coleções. J.S. não se considera um colecionador, pois
para ele colecionar é algo mais romântico, algo que é praticado, comprando discos específicos
e os guardando de forma organizada, ou por data ou em ordem alfabetica. Ele não pratica o
ato de colecionar, e explica que consome as mídias físicas por preferência e por gosto. Mesmo
não se considerando um colecionador, J.S. tem todos os tipos de mídias abordadas neste
trabalho e as manuseia com muito cuidado. A maior parte de sua coleção encontra-se em
Porto Alegre, sua antiga residência. Em Passo fundo, J.S. tem mais ou menos uns 50 discos,
entre Rock, MPB e gospel, sem contar a quantia aproximada de 20 singles. Quanto a CDs, sua
coleção ultrapassa os 250 discos, destes, apenas 30 estão em Passo Fundo. E ainda guardado
entre os livros, Jei apresentou duas fitas cassete, herdadas de seu pai.
Figura 5 - LP’s e CDs de J.S.
Fonte: Dados da pesquisa
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E.L. possui mídias musicais físicas mas já não as consome tanto hoje em dia. Ele
relatou em sua entrevista que tem alguns discos de vinil, e que alguns destes encontram-se nas
casas de amigos, pois, por não ter mais toca-discos, e seu lazer diariamente ser escasso, a
única forma de consumo destes é quando ele visita seus amigos e leva seus discos para
ouvirem juntos. E.L. fala que o seu consumo do CD é raro também, mas é a mídia com a qual
mais trabalha. Relatou que todo o trabalho desenvolvido pelo seu selo Café com Leite em
mídia CD, passa pelo seu aval e que ele mesmo se encarrega de todo o procedimento. Ele
apresentou algumas de suas produções:
Figura 6: Trabalhos em que E.L. se encarregou da produção
Fonte: Dados da pesquisa
J.A. tem uma coleção de quase 30.000 itens colecionados durante seus 45 anos de
colecionismo. No local da entrevista havia uma pequena parte de sua coleção, e J.A.
apresentou todas as mídias que ali possuia, começando pelos DVDs e Blu-Rays. Após
apresentar seus filmes e shows, apresentou seus CDs, que são a maior parte de toda sua
coleção física, um número que ultrapassa 14.000 itens, mas ali no local haviam apenas,
aproximadamente, 2.000 itens. Esta coleção segundo ele é guardada por gênero musical e
também por ordem alfabetica. J.A. relata que consegue achar seus CDs por saber bem os
locais onde eles se encontram, e isso segundo ele não é uma tarefa fácil, mas que ele sabe bem
como realizá-la. J.A. fala da quantidade de discos de Vinil que chegam perto de uma
numeração de 14.000 itens, mas ali no apartamento haviam mais ou menos 30 apenas, que ele
havia ganhado e que estavam ali para serem copiados para um amigo. J.A. apresentou por
ultimo seus formatos digitais no computador, que também são de números significativos. 8
TeraBytes de música digital, mas estes ele não considera tanto como parte de sua coleção por
75
não serem mídias físicas. O restante da coleção de J.A. estavam em sua residência e em seu
apartamento em Tapejara. Dentre estas mídias encontram-se os 80% restantes de sua coleção
de CDs, LPs, DVDs e Blu-Rays, e ainda mais ou menos 1000 fitas cassete e
aproximadamente 100 discos de vinil de 78 rpm.
Figura 7 - Coleção de CDs de J.A.
Fonte: Dados da Pesquisa
5 Conclusão
Este trabalho procurou tentar responder alguns questionamentos, mas não apresentou
soluções ou afirmou algo de forma concreta. Seu objetivo foi acrescentar mais conhecimento
a uma área pouco trabalhada dentro de trabalhos acadêmicos. Através da idéia principal do
trabalho, estudou-se áreas do Marketing como o comportamento do consumidor, e áreas
diversas como ritos e rituais, e colecionismo. Este trabalho pode agregar informações para
trabalhos futuros, que possam vir a ser mais aprofundados e mais conclusivos.
É importante salientar que fontes de informação e exemplos da forma de
desenvolvimento para este tipo de trabalho são difíceis de serem encontradas, pois é um tipo
de assunto não muito estudado em trabalhos acadêmicos. As principais fontes para
desenvolvimento desta pesquisa vieram de artigos coletados da internet.
A metodologia deste trabalho envolve bases psicológicas e antropológicas que vêm
sendo fortemente trabalhadas nas pesquisas de Marketing. A Etnografia trabalha diretamente
com fatores psicológicos inserindo o pesquisador no ambiente do pesquisado. Com base em
informações buscou-se desenvolver as bases metodológicas da Etnografia nas pesquisas,
observações e entrevistas realizadas neste trabalho. Em conjunto à Etnografia, as pesquisas
foram filmadas. Com isso, junto deste trabalho escrito, foi desenvolvido um trabalho em
vídeo, que o acompanha, dando assim a oportunidade daqueles que estiverem em contato com
este trabalho, poderem saber um pouco mais sobre as entrevistas e compreender um pouco
mais como a pesquisa foi realizada, podendo assim gerar suas próprias conclusões sobre a
realização deste trabalho.
5.1 As mídias e seus consumidores
Quanto ao conteúdo do trabalho pôde-se entender um pouco mais sobre as mídias e
formatos musicais, como foram criados, com qual objetivo, como ocorre seu consumo e o
porquê cada uma ainda se mantém forte entre os consumidores.
Quanto ao disco de vinil pôde-se concluir o mais forte dos sentimentos. Foram
unânimes as respostas quanto a sua preferência por exemplo, e em todas as perguntas como
qualidade, significado, ritual de consumo, as quais ele não foi unânime, no mínimo três dos
cinco entrevistados o citavam como primeira escolha ou como mídia superior. No disco de
vinil nota-se uma atribuição de significado e valor por parte dos consumidores, tanto que das
77
mídias presentes nesta pesquisa, que envolvem o consumo consideravelmente massivo, o vinil
é a mídia de maior alvo dos colecionadores. Outra das características importantes do vinil é a
nostalgia, lembrança de tempos passados, graças a possibilidade de se assimilar a música aos
momentos que você viveu, muito frequente à esta mídia. Mesmo não sendo comum o
comércio e consumo de discos de vinil, pode-se entender também neste trabalho que, entre o
público que trabalha com música e desfruta de música como sua principal atividade de lazer,
o vinil é o mais escolhido como preferência para consumo.
Pode-se com isso deduzir, com base nas informações aqui obtidas, que talvez o seu
consumo hoje não seja mais comum pois o mercado fonográfico o fez enfraquecer, dando
ênfase para as facilidades no consumo do CD e parando de produzir os seus aparelhos
reprodutores, ou toca-discos como são conhecidos, do mercado. Quase formando um ciclo, o
mercado fonográfico voltou a produzí-lo. O consumo do vinil é o que mais cresce dentre as
mídias, e artistas de renome vem produzindo seus álbuns em LPs. O mercado deve “abrir os
olhos” quanto à este tipo de consumidor. O que pode-se concluir é que falta para o mercado
fonográfico, o estudo direcionado aos consumidores das mídias musicais, principalmente os
consumidores de disco de vinil, que são fiéis e apaixonados por este consumo.
Quanto ao CD, pode-se ver que esta é a atual mídia do mercado fonográfico, pelo qual
são distribuídos os álbuns dos artistas atualmente, tanto os de gravadoras quanto os
independentes. Além disso suas características são o que fazem dele hoje a mídia que
subsiste, como seu fácil manuseio e sua praticidade, seu baixo custo de produção, seu
consumo fácil, sua qualidade sonora, e também porque é muito comum encontrar seus meios
de reprodução, tanto em residências como em carros por exemplo. O que pode ser classificado
como seu maior viés, é o seu alto preço no mercado, e parece ser esse um dos principais
motivos para o desencadear da pirataria.
Através da internet e do avanço digital surgiu o então MP3, um arquivo de áudio
digital que permite a reprodução da forma mais fácil que já se teve experiência. A sua
qualidade, por causa da compactação, é um pouco menor, mas este foi criado com o objetivo
de haver compartilhamento de música pela internet, então para isso ela deveria ser
compactada em um arquivo pequeno para que a internet e os computadores pudessem
transferí-lo e armazená-lo. Com isso surgiram diversos fatos polêmicos, já que o MP3 reduziu
então os ganhos do mercado fonográfico consideravelmente, pois as pessoas começaram a
consumir música digital e não mais adquirir álbuns musicais, e os álbuns passaram a ser
copiados e vendidos como CDs piratas ou colocados na internet. Pode-se notar que o MP3,
com toda a sua facilidade e com a evolução dos seus meios de reprodução, é a mídia mais
78
forte atualmente no consumo, mas o mercado fonográfico ainda não conseguiu basear seus
ganhos em cima da música digital.
Nota-se que o que ainda faz com que a indústria musical no Brasil tenha ganhos e se
mantenha viva é o CD, pois os ganhos com o comércio de MP3 parece ser pouco. Mas
baseando-se em prol dos músicos e bandas, e não da indústria em si, a internet e os formatos
de áudio digital trouxeram uma maior visibilidade, fazendo com que os músicos tenham
ganhos em cima de shows e eventos. Essa maior visibilidade, em conjunto com o avanço da
tecnologia de gravação, também possibilitou mais pessoas a terem chance de serem músicos.
O que pode-se concluir com este trabalho é que a atual situação presente aos
consumidores, aos músicos e à indústria se deu sem um direcionamento, e não há muito como
fugir disto. Cada mídia tem um ponto forte. O que deve ocorrer a partir disto, é um melhor
posicionamento do mercado fonográfico perante as situações atuais, sabendo reconhecer este
novo ambiente em que as pessoas vivem na era da comunicação, da informação e do
conhecimento, e então quem sabe, consequentemente, tornar o mercado fonográfico
futuramente, mais justo.
5.2 Objetivo Alcançado
Mesmo com algumas limitações, acredita-se que o trabalho atingiu uma parte de seu
objetivo. Há pontos que poderiam ter sido melhor trabalhados e mais aprofundados como a
entrevista, que poderia ter sido mais intervida pelo entrevistador com mais indagações. A
simbologia dos objetos, a valorização deles por parte dos pesquisados e a motivação para a
aquisição destes, poderiam ter sido mais trabalhadas também.
Quanto ao teórico, poderiam ter sido mais trabalhados matérias como o
comportamento do consumidor e as subculturas, e a influência que esta segunda tem na
tomada de decisão. No metodológico, a vídeo-etnografia, que vem sendo estudada
profundamente no Marketing, deixou de ser usada por falta de referencial, sendo subistituida
pela vídeografia comum, mas aqui realizada em profundidade. A vídeografia, pode ter gerado
bons resultados, mas poderia ter sido melhor aproveitada se houvesse mais experiencia ou
preparação por parte do pesquisador.
Este trabalho pode servir como base para outras pesquisas a serem desenvolvidas no
meio acadêmico. Através deste, os acadêmicos que queiram trabalhar com o assunto aqui
abordado, ou que tenha alguma relação, seja com a metodologia empregada ou com o
79
referencial teórico, possam ter um “norte” e portanto aprofundem mais ainda o assunto. Outro
ponto, que pode-se considerar como um objetivo alcançado neste trabalho é o encorajamento
à novas pesquisas, que levem o conhecimento acadêmico para fora do ambiente de graduação
e que procurem relacionar os ensinamentos aprendidos na faculdade à atividades e fatos
constantes em nossas rotinas.
Outro fator presente neste trabalho é o interesse demonstrado pelas pessoas que não
vivem o cotidiano acadêmico, trazendo assim a possibilidade de um maior público se
interessar em saber os resultados da pesquisa, e consequentemente estarem em contato com o
trabalho. A metodologia de pesquisa filmada, apesar de dar um trabalho maior também
acrescenta muito, tanto nas análises dos resultados, quanto na questão do interesse de um
público não-acadêmico.
A sugestão e o aprendizado que fica para trabalhos posteriores é o comprometimento
por parte dos acadêmicos e o fortalecimento por parte dos instrutores de mais estudos assim,
que ultrapassem outras fronteiras de conhecimento além das instituições de ensino, como foi o
caso aqui, pois pode-se ligar alguma coisa do conhecimento aprendido na faculdade ao nosso
cotidiano.
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83
Apêndice A
Roteiro de entrevistas semi-estruturado:
Músicos
1. Há quantos anos trabalha com música?
2. Com que frequência você consome música?
3. Qual o seu gênero preferido?
4. Tem preferência por alguma mídia/formato para consumir música? Por Quê
5. Mas quais as mídia/formato que mais escuta, ou tem mais contato?
6. A mídia tem alguma importância para o consumo de música?
7. Qual mídia/formato você acredita ter qualidade superior? Por Quê?
8. Você coleciona mídias?
9. O que lhe motiva a adquirir essas mídias?
10. Como você descreve a sua sensação na compra de uma mídia musical?
11. Qual o significado que essa coleção tem para você?
12. Qual sua opinião sobre os álbuns de artistas que também são disponibilizados na Internet?
13. Qual sua opinião sobre o formato musical MP3?
14. Você concorda com o download gratuito de músicas na Internet?
15. Você não acredita que o download desvaloriza o músico, os produtores e as gravadoras?
16. Você acredita no fim do Vinil? E no fim do CD?
Formadores de opinião
1. Com que frequência você consome música?
2. Qual o seu gênero preferido?
3. Tem preferência por alguma mídia/formato para consumir música? Por Quê?
4. Mas quais as mídia/formato que mais escuta, ou tem mais contato?
5. A mídia tem alguma importância para o consumo de música?
6. Qual mídia/formato você acredita ter qualidade superior? Por Quê?
7. O que lhe motiva a adquirir essas mídias?
8. Como você descreve a sua sensação na compra/download de uma mídia/formato musical?
9. Qual sua opinião sobre os álbuns de artistas que também são disponibilizados na Internet?
10. Qual sua opinião sobre o formato musical MP3?
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11. Você concorda com o download gratuito de músicas na Internet?
12. Você não acredita que o download desvaloriza o músico, os produtores e as gravadoras?
13. Você acredita no fim do Vinil? E no fim do CD?
Anexos
Figura 1 – Coleção de CDs originais e fitas cassete e a coleção de revistas de R.L.P.
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 2 - Toca-discos de D.L.C.S.
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 3 - Singles e fitas cassete de J.S.
Fonte: Dados da pesquisa
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Figura 4 - Quarto de J.S.
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 5 - Estúdio Café com Leite e E.L. tocando violão
Fonte: Dados da pesquisa

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