CULTURA E INDUMENTÁRIA GAÚCHA

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CULTURA E INDUMENTÁRIA GAÚCHA
CULTURA E INDUMENTÁRIA GAÚCHA
Hediane Kuasne
INTRODUÇÃO
Dentre as diversas culturas brasileiras atuais, a gaúcha é uma das mais presentes e
expressivas. Seus símbolos são o chimarrão e o churrasco, os quais demonstram
hospitalidade. A arte gaúcha não ficou só no Rio Grande do Sul, o que se pode perceber
pela existência de diversos centros de tradição gaúcha espalhados pelo Brasil que surgiram
no final da década de quarenta. Eles dão continuidade à arte gaúcha (Vellinho, 1964; Cesar,
1984). A indumentária possui amplo vocabulário, como por exemplo, a calça masculina de
origem indígena, atualmente chamada de bombacha e antigamente chamada de chiripá
(Fagundes, 1985). Esse traje foi se adaptando às necessidades do homem. Antes parecia
uma saia e não possibilitava uma cavalgada confortável, o que exigiu modificação no seu
formato. Indivíduos de baixa estirpe usavam chapéu de palha, enquanto os de classe alta
usavam chapéu de pança de burro, de preço elevado (Fagundes, 1985). Mulheres de
classes superiores usavam leque, sombrinha e vestido de veludo, as de classes inferiores,
tecidos mais baratos e muitas vezes nem sapatos usavam. A forma como a mulher usava o
cabelo mostrava seu estado civil, as comprometidas usavam cabelo preso, já as solteiras, o
contrário (Zattera, 1996). Nos cursos de moda atuais, que se localizam principalmente na
região norte do Paraná e Sudeste, não há muitos estudos relacionados com as diferentes
linguagens culturais de outros estados, incluindo o Rio Grande do Sul. Muitas vezes as
pessoas têm pouco ou nenhum conhecimento sobre os trajes típicos do gaúcho que são até
hoje utilizados em comemorações festivas, tais trajes, não representam apenas uma moda
ou uma roupa, mas traduzem um valor histórico e representam a forte cultura do Rio Grande
do Sul. O objetivo deste trabalho é mostrar a riqueza da cultura gaúcha, através do estudo e
significado de cada roupa, como os trajes típicos ditavam a condição financeira de um
indivíduo na sociedade e mostrar também que a vestimenta pode falar por um povo, porém,
nem toda se expressa em palavras e beleza como a indumentária gaúcha.
MATERIAIS E MÉTODOS
No presente trabalho, foi realizada uma revisão bibliográfica com diversos artigos
científicos e livros referentes à história, cultura e moda do Rio Grande do Sul desde o
descobrimento do Brasil até os tempos atuais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A cultura tem como alicerce a tradição que está ligada aos elementos históricos e
sociológicos. Sua vestimenta pode sofrer modificações em relação às necessidades do
povo, assim como a cultura, que se modifica de acordo com os acontecimentos históricos.
Os trajes gaúchos sofreram modificações, porém suas raízes foram mantidas.
Na época colonial o homem se vestia baseado nas vestes européias, e quando
chegou aqui, encontrou índios missioneiros que passaram a usar camisa e calções
europeus, e uma peça indígena, o pala- bichará. A mulher usava um vestido longo e na
cintura usava um cordão, já os índios cavaleiros usavam o chiripá que era um retângulo de
pano amarrado na cintura até o joelho e o Cayapi que era um couro de boi que se usava nas
costas, e que servia de cama. A mulher só usava o chiripá e colares (Ornellas, 1964).
Os primeiros militares gaúchos vestiam –se basicamente a européia , pois tinham
dinheiro para se vestirem melhor. Usavam ceroulas de crivo, lenço no pescoço, pala
indígena, chapéu de pança de burro, faixa para amarrar os cabelos, e o cinto- guaiaca. O
traje feminino era bastante fino, usava meia branca e botinhas fechadas, vestidos longos de
seda ou veludo, chale, cabelos presos, sombrinha e leque.
O traje do peão era versátil para não atrapalhar seu trabalho, antigamente só usava
o chiripá primitivo, na cintura um cinto guaiaca para carregar pertences. A camisa era de
algodão branco ou riscado e não tinha botão, com golão, mangas largas e com cadarços no
pescoço e podia ser acompanhada de casaco ou colete. Também usava o pala de lã
chamado bichará de origem indígena, neste período surge o poncho redondo de origem
gauchesca . As botas eram as de garrão de potro gauchescas, porém o potro mesmo só
deu origem ao nome, pois eram feitas do couro de vacas, burros e éguas e perdiam o pêlo
com o uso. A parte traseira da perna do animal dava botas maiores, já as feitas com a parte
dianteira do animal tinham a ponta e o calcanhar cortadas. As esporas usadas eram as
chilenas ( americanas) ou nazarenas (européias).
O peão só usava ceroulas e colete quando ia à cidade, usava chapéu de palha,
raramente usava o de feltro , mais caro, ou o de couro cru. Os chapéus eram presos pelo
barbicacho feito de couro cru ou seda torcida.
A roupa feminina, era uma saia comprida e rodada de cor escura e blusa clara, por baixo da
saia usava a bombachinha, peça íntima feminina da época.
Neste período o chiripá é substituído, e seu formato modificado, se parece com uma
fralda passado por entre as pernas, e adaptou- se ao cavalgar, diferente do anterior que era
excelente só para caminhar, isso explica o fato de o chiripá primitivo ser de origem indígena
e o chiripá farroupilha ser tipicamente gauchesco. As ceroulas podiam ser enfiadas no cano
da bota, ou a mostra. Usavam lenço de seda no pescoço, podendo ser branco ou vermelho,
com oito maneiras diferentes de nó , usava- se lenço preto em caso de luto, e luto aliviado
apareciam lenços nas cores preto e branco em xadrez ou outras estampas. As mulheres
usavam saia e casaco bastante discretos, e meias. Usavam camafeu ou broche, e fichú,
triangulo de seda ou crochê com pontas fechadas por um broche. Este traje era usado tanto
pelas mulheres de classe elevada como as de classe baixa.
A bombacha foi usada na guerra do Paraguai e é de origem turca, são abotoadas
nos tornozelos , de cós largo sem alças para cinta, com dois bolsos grandes nas laterais de
cores escuras e sóbrias para viagens e trabalho e de cores claras para datas festivas. O
chapéu de copa baixa e aba larga é o mais utilizado e não deve ser usado em lugares
cobertos por não impor respeito. As botas devem ser pretas ou marrons .
A roupa da mulher gaúcha foi regulamentada por Luiz Celso Gomes Yarup, aprovada
pelo Congresso Tradicionalista Gaúcho ( FAGUNDES, 1985).
Nota- se que o gaúcho virou mito em meados do século dezenove, a indumentária do
gaúcho atual definiu- se a partir de 1965.
Notou-se através deste estudo que a vestimenta se expressa, como nos trajes
gaúchos que foram se ajustando e se adaptando ao seu usuário, de acordo com seu papel
na sociedade e a sua necessidade. É notável também que a vestimenta acompanha a
história e se posiciona diante dela, traduzindo toda riqueza histórica que a indumentária
gaúcha representa.
AGRADECIMENTO
À Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela estrutura e pela bolsa monitoria; às
professoras do curso de tecnologia em Design de Moda pela instrução e à Universidade
Estadual de Londrina, pelo auxílio literário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CÉSAR, G. Raízes históricas do Rio grande do sul. In.Rio Grande do Sul- Terra e povo.
Porto Alegre, Editora Globo, 1964
FAGUNDES A. A. Indumentária Gaúcha. Editor Martins Livreiro, 2ª edição, Porto Alegre1985
ORNELLAS, Manoelito de. As origens remotas do gaúcho. In: Rio Grande do sul – Terra e
povo, Porto Alegre: Globo, 1964
TEIXEIRA, Múcio. Os gaúchos. Rio de janeiro: Leite Ribeiro & Maurílio, 1920.
VELLINHO, Moisés. Formação histórica do gaúcho rio- grandense. In Rio grande do SulTerra e povo. Porto Alegre: Globo, 1964
ZATTERA V. S. Gaúcho: Vestuário Tradicionalista e Costumes. 2ª edição, 1996