Baixe o da introdução do livro 20 Páginas

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Baixe o da introdução do livro 20 Páginas
Ao meu querido pai, Santos Pedroso, com amor.
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Agradecimentos
À minha querida mãe Onizia Vargas que me incentivou e apoiou, e a minha irmã Ariadne Bitencourt Corrêa que sempre acreditou em mim. Amo vocês.
Quero fazer um agradecimento especial aos meus amigos Adriano Nascimento Assunção
(mesmo longe, sempre concedeu seu tempo para me atender), Italo Alexander Cabello Espíndola, Luiz
Fernando Nakasato, Maria Ayslane e Daniela Raffo Scherer.
Gostaria de parabenizar Kelvin Oliveira e Diogo de Barros Carneiro, que produziram ilustrações fantásticas e deram vida ao meu livro. Sou fã desses caras.
Obrigado a todos que tanto me apoiam, acreditam e sempre estão dispostos a ouvir minhas
ideias mirabolantes.
Este livro só foi possível devido à força de todos vocês.
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Uma vez Benny me disse:
“Confie em seus instintos Orlac e sobreviverá.”
Nunca achei que existia algo assim dentro de mim,
mas o destino me ensinou a usá-lo. (O.X.)
ILUSTRAÇÃO: KELVIN OLIVEIRA
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PRÓLOGO
E
m 2.210, antes do chamado “cataclisma”, facções Illuminatis estavam infiltradas
secretamente por todas as regiões do mundo. Durante séculos eles manipulavam e
controlavam o destino do mundo ocultamente.
Neste ano, um evento inexplicável ocasionou o maior desastre que planeta terra já conheceu,
provocando a quase extinção do planeta e tranformando-o em um futuro decadente.
Em 2.314 o planeta ficou dividido em dois lados. Do lado esquerdo o Oceano Pacífico foi
criada a Federação Pacífica do Oeste ( F.P.O ), aliança dos continentes da América do Norte e do Sul
que surgiram para evitar que a Ordem controlasse todo o planeta. Do lado direito a Ordem Secreta dos
Illuminatis (O.S.I) dominando todo o território europeu, asiático e africano.
Agora o planeta terra está tomado por grandes líderes das sociedades secretas e dominado por
elas. A profecia Illuminati foi concretizada mas o planeta está quase inabitável. Orlac Xestley, membro
consanguíneo dos primeiros Illuminatis, queria continuar a seguir o legado de seu tio Benny e o amor
de sua esposa Jane Bihork em encontrar a Gota Divina, um lendário amuleto em formato de lágrima
que possui uma energia misteriosa. Muitos dizem ser o amuleto capaz de regenerar toda a vida na Terra.
Está localizado ao sul da Alemanha em uma caverna desconhecida pelo homem.
Orlac nasceu em Berlim. Não chegou a conhecer muito bem seu pai, que desapareceu misteriosamente, quando Orlac completara seu aniversário de cinco anos de idade.
O planeta está regido pela nova ordem mundial descrita há muito tempo pela sociedade secreta
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Illuminati, que determina a circulação de somente uma moeda e autoriza a prática de apenas uma
religião, com fins de decretar a paz mundial. Mas o que poucos sabiam era a forma como isso seria
implantado no mundo.
Marieen Xestley, a mãe de Orlac, falecera aos sessenta e dois anos, vítima de um acidente,
quando Orlac tinha dezessete anos. Desde então Orlac morou com seu tio Benny o qual dedicou a
maior parte da vida aos estudos dos Neutrinos (partículas mais rápidas que a luz) e a possibilidade de
criar uma “fenda” no tempo em nosso planeta.
Benny ensinou tudo que sabia para Orlac, que crescera desenvolvendo seus estudos. Já na faculdade de Física Quântica, o jovem aprimorara suas experiências em laboratório.
Orlac ganhou reconhecimento ao concluir sua tese do hiper-espaço que fora reprovada pela
Ordem que a considerava um perigo. Segundo a Ordem, criar uma fenda no tempo traria consequências
para a Terra. Sua fórmula, teoria e informações foram imediatamente vetadas e seu projeto, proibido.
Em 2.314 apesar de toda a tecnologia o mundo sofre com a poluição, falta de água e alimentos,
o planeta está sucumbindo e morrendo aos poucos devido as consequências provocadas por um evento
inexplicável chamado de “cataclisma”. Algumas regiões do mundo chamadas de áreas vermelhas, foram
proibidas de serem ultrapassadas devido ao contágio de vírus, radiação e tempestades isoladas.
A partir daí, a Ordem passara a procurar Orlac Xestley, gerando incômodo, violência e conspirações. Uma caçada se iniciou para que Orlac e seu projeto fossem exterminados sem deixar vestígios.
A Ordem secretamente começa a perseguição.
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ÍNICIO
(2.314)
E
ra um dia frio e escuro na antiga Inglaterra, a prisão B-72 era enorme e se situava
ao sul, incomparavelmente asquerosa, escura e fétida, cachorros sarnentos comiam
migalhas e restos de um cadáver apodrecido no desfiladeiro ao lado. A nevasca trazia
consigo um vento com murmúrio inquietante.
O céu estava cinzento e algumas naves passavam rapidamente cortando os ares. No alto de
uma torre de observação, um soldado fez um sinal para o pouso de uma enorme nave negra que se
aproximava.
O capitão Smith Oldren dentro da torre de comando confirmava o sinal de aterrissagem.
- Autorização para pouso da nave SIT 87, confirma Capitão Smith Oldren? – perguntou o
piloto da nave negra.
- Confirmado, aguardando pouso – disse o Capitão.
Quatro propulsores se desdobraram para baixo, e nas laterais dois trens de pouso que lembravam enormes pernas mecânicas, abriram-se para a estabilização do pouso. Uma porta se abriu na lateral
e formou uma passarela até o chão. Alguns soldados vestidos com nano-uniformes pretos formaram
um corredor em frente à passarela. Um homem com um capuz preto desceu juntamente com mais
alguns tripulantes que o seguiu. Agarrava seu capuz devido ao forte vento gelado.
Uma mulher que vestia um grande casaco branco até os tornozelos, um capuz de pele de urso
dobrado, deixando à mostra os cabelos azuis trançados para trás, uma franja longa tampava parte de
uma viseira vermelha que ela usava nos olhos.
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Eles se encontraram no meio do caminho, o homem de capuz negro a recebeu segurando suas
mãos e abaixando a cabeça em um gesto de reverência.
Ambos andando lado a lado, entraram por uma enorme porta metálica que se abriu automaticamente para os lados dentro da parede provocando um bipe.
Um corredor com paredes de vidros levava até a uma sala de reunião com poltronas azuis e
uma mesa de centro retangular. Um andróide trouxe um relatório sobre o lugar.
- Onde ele está? – disse o homem de capuz negro.
- Aguardando – respondeu um dos guardas que cuidavam o lugar.
- Tragam-no para mim.
O guarda assentiu e desceu o complexo prisonal. As portas se fecharam novamente. A Dama
X retirou a viseira vermelha, se levantou e abriu uma pequena caixa branca em cima da mesa que continham várias seringas com um líquido verde. Pegou uma delas e a injetou em seu pescoço apertando
êmbolo, provocando um frênesi no seu corpo, seus olhos reviraram, mordeu os lábios, e soltou um
som ofegante.
- Ainda precisa disso? – perguntou o homem de capuz.
- Sempre – disse ela retirando a viseira.
Em um dos andares inferiores da prisão B-72, alguns guardas receberam o pedido e se locomoveram até ao complexo de celas.
- Hey! - gritou um prisoneiro – Quando vamos comer? Hey! – gritou novamente. O guarda
com seu equipamento de repressão, não pensou duas vezes ao atirar uma carga ultra-sônica de alto
impacto no detento, que voou para longe e foi parar aos pés de um homem que estava escorado na
parede de cabeça baixa.
O detento olhou para cima com os olhos entreabertos sentindo muita dor e viu um sujeito
meio barbudo, olhos azuis e cabelos castanhos claros, estendendo a mão para ele.
- Olá, segure minha mão, vou ajudá-lo a levantar – disse ele em um tom afável.
O sujeito ergueu a mão e foi puxado para cima ainda meio cambaleante.
- Acho melhor seguir as ordens amigo, aqui você não é prioridade para eles – disse o homem
barbudo.
- Um gemido de uma intensa dor ainda contraía todos os músculos de seu corpo e foi a única
coisa que o homem respondeu.
Ao escorar um pouco na grade, o sujeito de olhos azuis e barbas emaranhadas viu dois guardas
vindo em sua direção.
- Orlac! - disse um dos guardas. É você?
– Sim, sou eu - respondeu Orlac com um voz rouca e um certo temor em seus olhos – Sua
presença é requisitada agora. Sugiro que venha com a gente pacificamente. Orlac temendo por sua vida,
logicamente obedeceu e colocou as mãos para trás para que o catódium de energia travasse suas mãos
com um zunido.
Caminhando pelo corredor com uma tensão preocupante, sua mente disparava “flashes” de
memória, lembrava-se do suave cheiro da roupa de sua mulher ao abraçá-la, sentia o cabelo de sua filha
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fazendo cócegas em seu rosto e lhe dizendo: - Papai eu amo você!
Um leve sorriso de sua esposa lhe parecia o paraíso neste momento de pesadelo em que se
encontrava.
Uma sala escura o aguardava, a porta se abriu e um dos guardas o forçou a sentar bruscamente.
Quando se deu conta, estava sentado sob uma forte luz direcionada em seu rosto, sua pupila
fechou-se e em seguida seus olhos fecharam-se também.
À sua frente, sob um capuz negro, um homem tentava esconder seu rosto entre as sombras. Uma cicatriz ao lado da boca, lhe demonstrava uma história obscura de seu passado. Ele então,
começou a interrogá-lo com uma simples pergunta.
- Seu sobrenome é famoso não é Xestley? - disse o homem de capuz com uma voz grossa.
- Não sei do que você está falando - disse Orlac
- Só quero que me deixem em paz! - resmungou. O homem coçou a cicatriz e simplesmente
o ignorou. – você não tem o direito de dar ordens meu caro, é preciso lembrá-lo que NÓS somos a
Ordem?
Orlac, quase sem enxergar por entre os olhos sensíveis à claridade respondeu:
– O que mais você quer de mim?
O homem de capuz a sua frente colocou na mesa um dispositivo redondo que que se abriu
formando cinco pontas e acendeu uma luz azul, mostrando um holograma de um amuleto em formato
de lágrima. Um dos guardas olhou para o outro com uma sensação de desconhecimento sobre tal artefato. Imediatamente o coração de Orlac disparou, e sem conter o suador que agora escorria em sua
face disse:
– Nunca vi isso em toda a minha vida – O homem de capuz aquiesceu e fez um sinal para que
um dos guardas interviesse e aplicasse um choque em seu pescoço, Orlac sentiu naquele momento a
sensação mil abelhas picando sua pele, seus músculos se contraíram e sua boca se enrijeceu. Mais uma
vez em sua mente um flash e dessa vez era de seu tio Benny lhe dizendo:
– Orlac nunca se esqueça do que te ensinei, prometa para mim? – Prometo Benny e deu-lhe
um abraço.
Uma dor em sua cabeça e uma tontura fez com que Orlac vomitasse sobre a mesa atingindo o
homem de capuz negro a sua frente que se levantou furiosamente.
O homem de capuz agarrou a cabeça de Orlac e jogou contra a mesa.
Ele soltou um som ofegante de dor e um corte se abriu abaixo de seu olho.
- SEU VERME IMUNDO E IMPRESTÁVEL! – gritou ele – LEVEM-NO DAQUI AGORA! Matem-no e jogue seu corpo para os cachorros lá fora! – berrou o homem irritado. Imediatamente
os dois guardas que estavam atrás de Orlac o pegaram pelos braços e o arrastaram pelo corredor.
Ele sentiu sua adrenalina subir, seus sentidos dispararam como uma alerta para a iminência
do perigo de morte – preciso agir! preciso agir! – algo em sua mente falava para si mesmo. Ao abrir
a porta, o vento imperdoável e congelante mostrou sua face mortal, os dois homens colocaram suas
bio-máscaras de filtro e continuavam levando Orlac para o desfiladeiro.
O precipício se aproximava, sua cabeça latejava de dor. Alguns latidos de cachorros ecoavam
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abaixo e o vento rasgava sua face quase entorpecida.
Exatamente a vinte passos do desfiladeiro, Orlac recebeu um sinal de seu cérebro, algo instintivo que lhe permitia sobreviver sobre circunstâncias de morte – era agora a hora de agir!
Olhou para o lado esquerdo e reparou no catódium que desligava sua algema pendurado na
cintura do guarda, era sua única chance de escapar com vida naquele momento. Faltavam somente
cinco passos, e ele teria que arriscar ou morreria. Um dos guardas se virou de repente.
– Deixe ele em pé, quero vê-lo cair no chão igual a um animal abatido – disse com uma voz
sarcástica.
– Tchauzinho Xestley! Vejo você no inferno!
Mirou em seu rosto com a arma e numa velocidade inacreditável, Orlac com suas mãos algemadas para traz, girou seu corpo para detrás do guarda em um movimento de dar inveja a muitos
ilusionistas pegando o catódium da cintura do guarda do lado. No reflexo o guarda da frente disparou
uma rajada mortal em seu companheiro que caiu de costas no chão.
– MERDA! – gritou o guarda.
Orlac em um rápido movimento desativou sua algema, pegou a arma do guarda e disparou um
tiro certeiro acima dos olhos dele que desabou igual a um boneco de pano. Seus sentidos ainda estavam
distorcidos, Orlac se viu sem saída, na sua frente estava o desfiladeiro onde cachorros comiam restos
mortais de gente, e ao seu redor estava cercado por enormes paredes.
Sua chance estava em chegar próximo a uma plataforma do heliponto e com muita sorte roubar um flyon uma espécie de helicóptero para duas pessoas muito rápido e preciso. Sem perder muito
tempo e sabendo da sua mínima chance, ele despiu um dos guardas e vestiu a roupa jogando seus
corpos no desfiladeiro para a alegria dos cães famintos.
Com rápidos passos, desceu uma plataforma estreita que estava ao lado direito, e que terminava
em uma escada ao lado de uma torre de observação.
Dentro da sala de monitoramento da prisão o Capitão dos guardas prisionais Smith Oldren que
estava olhando uma das câmeras naquele momento pela tela holográfica, viu Orlac subindo a escada,
sem hesitar ele disparou o alarme – TEMOS UM FUGITIVO! ALA 57-F Térreo – MANDEM OS
FLYBOTS! MANDEM OS FLYBOTS!.
O alarme foi disparado, era quase ensurdecedor, todos os guardas armados saíram correndo
em direção ao térreo. O homem de capuz negro olhou para outro membro da Ordem que estava ao
seu lado e falou coercitivamente:
– Orlac não pode sair daqui vivo! ESTÁ ME OUVINDO!? - gritou ferozmente.
– Sim senhor, deixe comigo.
Na guarita de segurança da ALA 57-F um guarda avistou Orlac a trezentos metros com a luneta
de sua arma sônica termal e disparou um tiro ultrassônico à longa distância.
A onda sonora atingiu Orlac que sentiu o impacto torcer todo seu corpo e em fração de
segundos. Seu corpo foi de encontro à parede e caiu no chão com uma dor intensa nas costas. Um
zunido se aproximava. Três flybots armados flutuando com seus canhões de plasma paralisador vieram
em sua direção, Orlac sem hesitar sacou o faser que adquiriu quando matou os guardas minutos atrás e
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disparou sem piedade, entretanto com uma tremenda precisão de um pistoleiro. Os flybots caíram no
chão disparando faíscas e fogo ao redor.
Um grupo de guardas começou a correr atrás de Orlac – Heyyy! Pare agora! – gritava um
deles. Orlac correu cambaleante e adentrou em um grande armazém de cargas e suprimentos. Algumas
rajadas sônicas passavam ao seu lado derrubando caixas e despedaçando containers ao seu redor. Uma
corda eletrificada foi disparada entrelaçando as pernas de Orlac fazendo-o cair no chão.
- PEGUEM ELE! – gritou um dos guardas.
Orlac tentou pegou a corda elétrica gemendo de tanta dor e disparou uma rajada quebrando
ela em pedaços. Um tiro disparado por um dos guardas estourou uma caixa de suprimentos expelindo
destroços ao lado dele que continou a correr desesperadamente.
Os guardas perderam ele de vista por um momento e se agruparam no meio do armazém.
- Droga! Smith, onde ele está? – disse um deles pelo monitor holográfico em seu pulso.
- Não estou achando ele, vou verificar novamente – disse Smith Oldren.
Orlac encontrou um painel atrás de um guindaste que controlava a plataforma de transporte
que estava acima dos guardas. Ele ligou o painel tentando achar o a função que desprendia as presilhas
da plataforma. O grupo de guardas parou no centro da plataforma observando cuidadosamente ao redor. Um barulho e as presilhas se soltaram da plataforma esmagando os guardas em uma queda mortal.
A comporta do armazém começou a se fechar e Orlac correu para atravessá-la antes que ficasse preso.
Smith Oldren na sala de controle avisou pela tela holográfica no pulso - Ele está perto do
heliponto, rápido, movam-se!
O heliponto ficavam em uma plataforma dez metros abaixo de onde Orlac parou. Ele olhou
para baixo e avistou uma nave, sem pensar muito ele saltou. O impacto fez seus pés formigarem e ele
caiu na asa rolando para para a lado.
Orlac ofegante, abriu a cabine, enquanto escutava os reforços chegarem, quase não acreditando
que conseguiu chegar vivo até ali. Rapidamente ele fechou a cápsula e ligou o motor, os propulsores se
desdobraram e foram direcionados
para o chão liberando uma chama azulada, neste momento rajadas de cargas ultrassônicas trincaram o vidro da cápsula, e os guardas receberam ordem para matá-lo de qualquer forma.
– ATIREM NO PROPULSOR! ATIREM! – gritou um deles.
Mas era tarde demais, o painel da nave focou os alvos em uma luz verde piscante e Orlac disparou rajadas de tiros incendiários contra eles.
O heliponto se viu em chamas, destroços voaram pelos ares, soldados foram lançados para
longe com a onda de calor, uma explosão iluminou os céus em uma bola de fogo. Alguns guardas
saíram correndo, mas alguns deles não tiverem tanta sorte. No alto da torre de comando, o homem de
capuz negro se aproximou das enormes janelas côncavas da base avistando uma fumaça preta causada
pela explosão. A nave de Orlac distanciou-se da prisão rumo ao desconhecido.
A Dama X se levantou e foi até o homem de capuz na sala de comando.
- O que é isso!?
- Desculpe-me, temos um fugitivo...eu...
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Ela o interrompeu – Eu esperava que você soubesse disso, ele sabe demais. Por que o deixou
vivo?
- Ele merecia ficar vivo! O sofrimento dele terminaria com a morte. – disse ele
Ela sorriu com sarcasmo e se aproximou do homem de capuz falando em seu ouvido – Você
parece não saber com quem está brincando, isso vai ser um problema, encontre ele, e acabe com isso
de uma vez por todas.
- Calma, eu tenho tudo sobre controle.
- Não é o que parece...mate-o se ainda quiser continuar vivo – disse ela susurrando em seu
ouvido.
O homem de capuz assentiu e caminhou para a sala de comunicação.
No ar em direção as encostas montanhosas para bem longe de B-72, Orlac sentia muita dor e
náusea, procurando desesperadamente por algum remédio dentro da cabine da aeronave, naquela altura
seria uma milagre se ali se encontrasse algum kit-médico ou remédio que fosse. Outro flash veio em sua
mente, dessa vez era sua esposa deitada ao seu lado sorrindo e lhe dizendo:
– Você é meu herói, minha vida, minha alegria selando suas palavras com um beijo doce e
quente em seus lábios, Orlac voltou a realidade quando sua aeronave foi sacudida ao som de uma
explosão.
Seu propulsor direito explodiu com uma rajada de tiro.
A cabine emitiu um sinal de alerta.
- Perda de energia! Perda de energia!
Uma Falcon X2, nave veloz de combate e extremamente precisa o perseguia, armada com
canhões de plasma, disparos ultrassônicos, desintegrador instântaneo e camuflagem invisível.
- MERDA! – resmungou Orlac - Por que não me deixam em paz?!
Sua nave agora estava em chamas e caindo pelos céus de uma nevasca mortal. Novamente
seu instinto de sobrevivência disparou, seu cérebro se modificou, mandando um sinal de alerta para o
corpo, ficou mais ágil, sua pupila dilatou-se, seu coração palpitou mais forte, seus sentidos ficaram em
estado defensivo de sobrevivência e só lhe restava uma última tentativa instintiva.
Orlac olhou para o compartimento ao lado e pegou uma arma que lhe parecia ser de tiros a
longo alcance, recarregou, pensou na voz de Jane, colocou a bio-máscara e apertou ejetar sem hesitar.
Um pouco de fogo queimou sua perna no disparo da cabine e Orlac gemeu de dor. Neste
momento o homem que o perseguia na Falcon X2 sorriu levemente e disparou o desintegrador em sua
direção. Em questão de segundos sua nave se dissipou no ar antes que pudesse ser atingido, tranformando-se em uma bola de faíscas que mais lembrava um meteoro rasgando os céus.
Distraído e estupefado com o sucesso do seu tiro certeiro, o piloto que o perseguia se deparou
com a cabine da nave de Orlac sendo disparada, e sem acreditar no que estava vendo, o homem recebeu
um zunido mortal.
Sua cara esfaçelou-se em questão de segundos, sangue e pedaços de miolos e sangue foram
jorrados na cabine de comando, e por todo o painel.
Orlac com seu paraquedas ativado olhou a aeronave que o perseguia perdendo o controle e
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rodopiando no ar caindo para a morte. Nos ares Orlac jogou a arma fora para tentar manter-se equilibrado no paraquedas, respirou fundo, mas percebeu que a sua vida ainda estava em risco, e ele tinha se
esquecido disso.
O vento gelado empurrou seu paraquedas, e o levou para as montanhas gélidas e nada convidativas, quase sem fôlego ele aterrisou bruscamente, rolando dois metros da queda.
O ar era quase rarefeito a mais ou menos mil e duzentos metros do chão, em uma alta cadeia
montanhosa.
O vento cortava seu rosto como se fosse navalha nova, teria que procurar um abrigo antes que
seu corpo congelasse, não era nada fácil andar em uma neve densa e quase sem forças.
Orlac retirou as fivelas da poltrona ejetada e relutou para se manter em pé, com os braços
abraçando o próprio corpo e o queixo tremendo, caminhou afundando na neve a cada passo que conseguia dar.
Ele viu uma pequena caverna que seria o abrigo perfeito para o momento e se dirigiu até ela.
Tentou se aquecer um pouco mas ao chegar lá se deparou com uma luz que era emitida atrás da montanha, sentiu-se aliviado, como se existisse um certo tipo de vida por ali naquele ponto, talvez poderia
ser uma ilusão.
Ao cair da noite, algumas luzes oscilavam um pouco mais forte, curiosamente Orlac não poderia deixar de ir lá e conferir. Já um pouco mais descansado, ele começou sua caminhada pela impiedosa
neve, o frio trazia seu som que mais parecia um lobo uivando à luz da lua.
Avidamente ao chegar no horizonte do declive, a visão embaçada tornou-se nítida e seus joelhos dobraram-se caindo boquiaberto sem perceber.
Não era muito extensa, todavia era uma cidade linda que se encontrava ali embaixo, templos e
enormes construções, centenas de bandeiras em forma de triângulo de cor vermelha com desenhos do
símbolo de libra se mostravam hasteadas e ondulando, vários guerreiros com suas armaduras de titânio,
cavalos também com armaduras construídas anatomicamente perfeitas para eles. Algumas naves aterrisavam, mais ao fundo algumas torres que possuíam um formato incrível, com pontas que mais pareciam aranhas e muitas luzes pequenas.
Com certeza Orlac não tinha visto nada parecido com aquilo, e ao se arrastar mais um pouco,
viu uma espécie de um robô voador em formato de besouro que estava fazendo sua ronda rotineira
por perto. Orlac tentou se esconder abaixando-se, mas era tarde, a identificação pelo scanner do robô
besouro já tinha sido feita, ele emitiu um som e se aproximou.
- Identifique-se humanóide! - disse o robô inquisitivamente
– Meu nome é Orlac, preciso de abrigo e comida disse com uma voz embargada. O robô inseto
produziu uma varredura em raio-X do corpo de Orlac para identificar alguma nocividade, e logo em
seguida disse:
- Siga meu holograma humanóide. Enquanto o robô continuou sua ronda rotineira, ele criou
um próprio holograma para que escoltasse Orlac até embaixo.
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OS LIBRIDIANOS
C
ansado e quase sem fôlego, Orlac chegou ao final da base da montanha em uma
descida exaustiva, suas pernas estavam tremendo e sua locomoção motora já não
respondia tão bem, seu rosto estava com uma tonalidade vermelha, seus olhos azuis
constrastavam com o vermelho de sua pele. Sua barba sem fazer por dias e seus cabelos estavam brancos de tanto gelo. Talvez se não estivesse com a bio-máscara já teria morrido sem ar. Mal conseguia
enxergar com tanto vento e gelo batendo em seu rosto. Ao encostar sob um piso firme Orlac desmaiou
e despencou, batendo seu rosto contra o chão.
Alguns minutos se passaram, sua consciência foi se retomando aos poucos e uma imagem
ainda embaçada e turva estava aparecendo em seus olhos semi-abertos.
No fundo de sua consciência ele escutava o galopar dos passos de alguns cavalos, percebeu
que estava amarrado e sendo carregado. Aos poucos seus sentidos foram voltando e Orlac abrindo
uma pequena fenda de seu olho, pôde capturar algumas bandeiras vermelhas ondulando sob o frio,
enxergou nas bandeiras um símbolo que lhe era familiar. Nelas havia um desenho que lhe era familiar,
representava o símbolo de Libra. Olhando um pouco mais para esquerda avistou dois cavalos com
lindas armaduras foscas e escuras, tinha quase certeza que era de titânio, além de possuir desenhos de
ornamentos que mais pareciam uma obra de arte nunca antes vista.
Pareciam feitas sob medida para os animais. Havia ainda na armadura alguns leds azuis, o que
até poderia levar a confundir os cavalos com robôs construídos em forma de animal. Mas o ar conden-
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sado que saía de suas narinas negavam tal fato. Com certeza, não eram robôs.
Ao olhar um pouco mais para trás sentiu-se como se estivesse em um sonho. Algumas pessoas
com bio-máscaras, outras pessoas estava sem, alguns andróides dos mais variados tipos e formatos
passeando lentamente, pequenos robôs sentinelas que mais pareciam insetos pitorescos caminhando
pelo chão. Orlac olhou para frente e viu que estava sendo levado para um templo enorme, cuja entrada
fazia-lhe lembrar Roma Antiga, mas digamos “Roma Futura”. Um flash de memória incontrolável
atingiu sua mente.
– Adivinha quem é? Adivinha quem é? Não vale olhar - dizia Jane, com sua doce voz e delicadas mãos
cobrindo os olhos de Orlac.
- Já sabia quem você era no momento em que senti seu perfume, quando a vi pela primeira vez - disse Orlac.
Jane abraçou-o por trás lhe deu um beijo em seu pescoço, depois lhe disse ao pé do ouvido:
- Te amo por toda a eternidade – Orlac, virando o rosto lhe respondeu com um beijo revigorante.
Uma voz estranha e feminina fez com que Orlac voltasse à realidade e vendo-se ainda deitado
em cima dos cavalos.
- Levem-no para Chrístopher – disse a voz da bela mulher de olhos azuis, cabelos longos e
ruivos que o carregava nos cavalos. Duas grandes portas de aço que contínham o símbolo de libra
abriram-se, revelando uma gigantesca sala em formato oval, com janelas redondas, tapetes de um vermelho quase vinho, pilares brancos, o que lembrava a sala de um certo Rei. No final dela, via-se uma
mesa que possivelmente acomodaria oitenta pessoas. Orlac foi colocado em uma poltrona confortável,
sua exaustão já não o deixava pensar.
Um dos cavaleiros que o estava escoltando, retirou sua bio-máscara.
Orlac gemeu e sua respiração se tornou mais difícil. Deparou-se com um homem de armadura
à sua frente.
- Olá, forasteiro, quem é você? Orlac reparou no homem que vestia uma armadura preta fosca,
desenhada com ornamentos, pequeninas luzes de leds azuis, tatuagens em forma de tribal pelos braços
e rostos, cabelos negros pelos ombros e uma capa preta pelo lado de fora e de um vermelho quase
vinho pelo lado de dentro.
Por um momento Orlac hesitou em se apresentar.
- O dróide inseto reportou seu encontro no alto das montanhas e o escoltou até aqui – Interrompeu um dos cavaleiros que tinha ajudado a escoltar e que agora estava do seu lado de braços
cruzados para trás demonstrando respeito ao superior. Logo Orlac notou que estava novamente em
uma enrascada sem saída.
Sua única chance - ele sabia disso - era neste momento ganhar a confiança dessas pessoas, para
que o mantivessem vivo e, piedosamente, lhe oferecessem água, alguma pasta de nutrientes e abrigo.
- Meu nome é Orlac Xestley, vim em paz, refugiado da prisão B-72, suplico a ajuda de vocês.
Orlac tossiu e sentiu novamente a náusea atormentando sua cabeça. Quando sua visão
começou a ficar escura, um dos cavaleiros segurou seus ombros para que não despencasse novamente.
- Devolva para ele a bio-máscara, rápido! – disse Chrístopher.
Com os sentidos agora recuperados, Orlac podia exergar claramente à sua volta.
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- Como nos encontrou? – perguntou Chrístopher
- Eu sobrevivi à queda de uma aeronave.
- Não, forasteiro, quero saber como achou nossa cidade? – perguntou ele novamente.
- Por que motivo não deveria encontrá-la?
- Porque nossa cidade não está no mapa. Usamos o holograma posicionado nos topos das
montanhas. A cidade está camuflada sob uma ilusão.
- Eu caí perto de um desses sistemas holográficos. Avistei uma luz um pouco brilhante no lugar
em que eu estava. Talvez por isso a tenha encontrado, eu estava abaixo da camada holográfica. Quem
é você e onde estou? – perguntou.
- Meu nome é Chrístopher Trivowi, somos consanguíneos dos templários, acredito que você
nunca ouviu falar de nós.
- Realmente nunca ouvi falar – aquiesceu Orlac.
- Bem-vindo a Líbris, somos os libridianos. E você? De onde você é?
Indagou Chrístopher.
- Sou Orlac Xestley, descendentes dos antigos Illuminatis da Baviera.
- O QUE!? – exclamou Chrístopher, com um certo ódio em sua voz. Imediatamente sacou sua
arma ultrasônica que emitiu um ruído ao ser carregada.
Ao mesmo tempo, todos sacaram as suas armas e apontaram para Orlac.
- Calma, não sou seu inimigo, vocês estão cometendo um erro! – suplicou Orlac com as mãos
para cima.
- Sou membro consanguíneo da Ordem, mas não luto a favor deles. Eu estava preso na prisão
B-57, perto daqui, consegui escapar porque iriam me matar. A amazona de cabelos ruivos e olhos azuis
ergueu a sobrancelha, como uma expressão de “Não entendi”.
Chrístopher Trivowi olhou para todos ao redor e fez um sinal para que baixassem as armas.
Todos assentiram.
- Quem garante que você não seja uma espião da Ordem? – perguntou Chrístopher.
- Acredite, eu não sou um espião, sou um sobrevivente, assim como vocês.
- Se não é da Ordem, por que luta contra ela? – indagou Chrístopher Trivowi.
- Estou sendo perseguido pela Ordem, devido ao meu projeto científico sobre os neutrinos –
respondeu calmamente.
- O que esse seu projeto representa para a Ordem? – questionou Chrístopher andando devagar
em sua direção.
- Digamos que eu descobri uma forma de voltar no tempo.
- Você está zombando de nossa cara, forasteiro? É ISSO!? – falou Chrístopher raivosamente.
- Eu não seria tão louco, senhor – respondeu Orlac franzindo o cenho - estudava partículas
atômicas e física quântica no laboratórios de Phoenix Arizona - Orlac respondeu firmemente.
- Ainda não entendi – disse Chrístopher duvidosamente.
- Você já ouviu falar na Gota Divina? – indagou Orlac. Todos na sala se entreolharam, captando assim dois segundos de absoluto silêncio.
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Chrístopher Trivowi explodiu em uma risada alta e irônica.
- Não me venha com essa lenda, forasteiro, isso nunca existiu. Seria tolice acreditar em uma
lenda que praticamente foi esquecida por muitos durante milênios. Todos deram um leve sorriso, menos Zarina Trivowi cuja expressão estava séria.
Chrístopher Trivowi se aproximou devagar de Orlac, encarando-o bem nos olhos, tirou seu
faser do coldre, encostou na cabeça dele:
– Dê-me um motivo, forasteiro, para eu não explodir seu cérebro agora.
- Eu posso acabar com a Ordem, acredite em mim. Posso salvar nosso planeta desse caos.
Pense bem Trivowi, por que eles estariam atrás de mim?
Todos ficaram pensativos em um breve silêncio.
- Besteira! – disse Packlos e cuspiu no chão.
Os olhos azuis de Orlac encontraram os olhos azuis daquela linda amazona de cabelos cor
de fogo, como se aquele olhar sereno, praticamente transmitisse a real sensação de que ela também
acreditava na Gota Divina.
Lá fora, um trovão ecoou fazendo a sala inteira brilhar com o reflexo de seu relâmpago.
- Xestley, se o que diz é verdade, por que não nos prove? – provocou Chrístopher.
- Porque não tive o tempo necessário para finalizá-lo e neste momento não tenho os equipamentos para trabalhar com os neutrinos. Preciso que acredite em mim e me dê a chance de salvar nosso
planeta deste caos - disse Orlac com uma entonação confiante.
Chrístopher não pareceu acreditar muito, franziu a sobrancelha, olhou ao redor e coçou o
queixo pensativo.
- Vamos dizer que eu confiasse em você, do que tipo de ajuda precisaria?
- Primeiramente? Preciso de comer algo – um leve sorriso se elevou no canto da boca.
Chrístopher Trivowi sorriu levemente também.
- E depois?
- Preciso dos equipamentos necessários para realizar o choque de partículas. Pequenos canhões
de prótons.
- Desculpe minha ignorância, mas aonde encontraríamos isso? – perguntou Chrístopher.
- Esse é o problema. Precisamos achar o que sobrou do laboratório de CERN em Genebra.
Tenho outra chance também, se caso eu conseguir chegar nos Estados Unidos. Posso finalizar o projeto no laboratório de Phoenix.
- Por que Phoenix?
- Somente lá é que vou conseguir achar a ploomy e o laboratório.
Chrístopher interrompeu – Ei! Por que acha que seu laboratório está preservado? Como sabe
se ainda terá tudo que precisa por lá?
- Por que, como Líbris, este laboratório não está no mapa. Ele fica mantido em segredo no
subsolo. Agora somente eu consigo encontrá-lo.
- Essa tal ploomy, o que seria?
- Uma pulseira capaz de concentrar os pulsos dos neutrinos. Eu não consigo recriá-la sem os
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canhões de prótons...
Repentinamente um flash de memória atingiu Orlac.
Jane estava vestida com uma roupa azul e um óculos holográfico transparente. Ela se aproximava de Orlac
segurando uma peça metálica quase acabada.
- Terminamos ? – perguntava ele.
- Sim meu amor, o mundo está prestes a conhecer o impossível – disse ela sorrindo.
Orlac a beijou e ela o abraçou em seguida.
Um zunido fez com que Orlac voltasse à realidade.
– Ok, forasteiro, receberá os tratamentos da casa. Porém será mantido em observação, não faça
besteira por aqui ou eu mesmo acabo com você. Estamos entendidos?
Orlac balançou afirmativamente a cabeça.
Uma sensação de alívio agora tomava conta de sua mente, afinal um pouco de paz era fundamental para pensar neste momento conturbado e cheio de dores.
Escutou alguns passos vindo em sua direção, tirou um pouco sua bio-máscara por uns instantes e sentiu um cheiro estranho, um cheiro familiar, era o perfume de rosas e jasmins que há muito
tempo não sentia, fazendo seus pulmões inflarem para capturar aquela essência que não mais se encontrava neste mundo.
- Por favor, me acompanhe – disse seriamente a linda amazona de cabelos cor de fogo.
Orlac aquiesceu. A bela moça lhe deu um casaco preto molecular auto-ajustável, chamado do
nano-roupa. Ao colocar o casaco, simplesmente esse se moldara em seu corpo acendendo pequenas
luzinhas de led vermelhas. As luzes indicavam a temperatura no pulso direito: 38º Celsius. Sua tremedeira cessou em questão de minutos.
Curiosamente, andando pela cidade de Líbris, fascinava-se com tamanha grandeza escondida
no meio dessas montanhas gélidas. Pequenos andróides ajudavam algumas pessoas, hologramas de
sinalização indicavam direções aos transeuntes. O som dos motores das naves chamavam a atenção lá
no alto, cavalos relinchando era quase uma dádiva de se ouvir. Ao ouvir pessoas conversando, Orlac
sentia-se confortável, talvez por estar em um mundo quase totalmente robotizado, sentir humanos em
diálogos reais o aproximava de se sentir também real.
Era um momento quase que único.
- Posso lhe fazer uma pergunta? - disse Orlac.
A mulher de cabelos vermelhos e armadura simplesmente o ignorou.
- Ei! Qual o seu nome? Ok, não quer conversar?
Ela permanecia calada e indiferente.
- Por acaso você não é um andróide é? - provocou Orlac ironicamente.
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- Não ficará tempo suficiente para me conhecer, forasteiro. Portanto não faz diferença saber
meu nome - disse a mulher, em um tom frio.
- Posso saber ao menos onde conseguiu esse perfume que está usando? – insistiu Orlac.
A linda ruiva parou de caminhar, virou-se, aproximou-se de Orlac e olhou em seus olhos de
uma forma inquietante. Mais um relâmpago. Dessa vez iluminou o rosto da linda amazona, revelando
uma pele clara, sedosa, olhos grandes, de um azul da cor do oceano em que daria para se perder facilmente durante horas... Ela simplesmente abaixou a cabeça e logo em seguida olhou reluzente de novo
para Orlac, dizendo:
– A propósito, meu nome é Zarina Trivowi, sou filha do Lorde e Chanceler Chrístopher Trivowi. É melhor não perder muito tempo tentando me conhecer, forasteiro.
Orlac fez um gesto de cumprimento.
- Sei que não é muito da minha conta, mas por que ainda usam cavalos?
– indagou Orlac temeroso por uma resposta que o fizesse se sentir idiota.
Zarina sorriu e olhou para baixo timidamente:
– Segundo meu pai, somos uma civilização que ainda temos coração, amor, paixão, garra, coragem, compaixão, e por isso os cavalos são nossos aliados nessa guerra, apesar de toda nossa tecnologia,
acreditamos mais nos instintos do coração de um animal do que de um robô guerreiro.
- Confesso que até acho meio estúpida a ideia – desabafou Orlac.
- Eu também cheguei a achar essa ideia bem estúpida, mas acho que não queremos perder nossos vínculos com os animais que restaram pelo mundo. Fazê-los sucumbir na guerra seria uma forma
até bonita de morrer, se comparar com o ambiente desprezível que nosso planeta deixou para eles.
Orlac, assentiu encarando o chão. Após mais alguns minutos, chegaram a um prédio com uma
arquitetura incrivelmente linda e moderna, de um formato que lembrava uma ferradura de cavalo.
Havia luzes amarelas redondas piscando em toda sua borda, com a mesma uniformidade de uma pista
de aeroporto. O elevador era uma cápsula semelhante a um ovo branco grande, com luzes azuis nas
laterais.
- Bom, forasteiro, temos um quarto no andar L130, lá dentro encontrará tudo de que precisa
para descansar e curar seus ferimentos - disse Zarina.
- Obrigado.
Orlac entrou e subiu até o andar indicado pela bela moça ruiva dos olhos azuis. Maravilhado
ao deixar o solo em uma altitude aterrorizante, seus pensamentos agora eram voltados para uma bela
noite de descanso.
Ao chegar no andar, ele abriu a porta do quarto e um flash atingiu novamente sua memória:
– Papai chegou! - disse Lylia, correndo para lhe dar um abraço apertado.
– Cheguei, sim, minha florzinha – disse Orlac, levantando-a para o alto e sorrindo.
Novamente, um relâmpago iluminou as janelas do quarto em que se encontrava trazendo-o de
volta. Percebeu que estava de joelhos abraçando o vazio. Piscou os olhos e suspirou profundamente.
Enquanto aguardava pela recuperação de Orlac, Chrístopher Trivowi reuniu os líderes do seu
exército libridiano no templo. Zarina Trivowi que estava no hangar de treinamento, recebeu um aviso
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sobre uma reunião pelo relógio holográfico e em seguida se dirigiu ao templo.
- Obrigado a todos os que estão aqui reunidos ao redor desta mesa – disse Chrístopher firmemente. Todos inclinaram a cabeça em direção ao peito e nele colocaram seus braços em forma de X,
um sinal muito antigo, porém que ainda encontrava seu legado naquele mundo.
- Como acabamos de ver, temos um novo hóspede, que nos contou uma história interessante.
O problema é que ainda não conhecemos a veracidade do fato relatado por ele. Presumo que ele esteja
falando a verdade, mas preciso da ajuda de vocês.
Um murmúrio se instalou pela sala, alguns entreolharam-se, outros cochicharam com o parceiro ao lado.
- Senhor Chrístopher, peço a palavra por um momento – disse o líder da infantaria Libridiana,
conhecido como Packlos Alford. Era um sujeito alto, forte, de barba cheia e olhos negros, sobrancelhas
espessas e uma pequena cicatriz entre elas.
Chrístopher assentiu.
- Não podemos acreditar neste forasteiro. E se ele for um espião da Ordem Illuminati? Se por
acaso isso for uma cilada? Não podemos confiar em alguém assim e deixar que se infiltrem – advertiu
o líder.
Lorde Vanyos Max, líder da cavalaria, um homem de olhos claros, cabelos claros pelos ombros,
nariz fino e cavanhaque levantou-se repentinamente.
– Com licença! Só temos um jeito de saber se este tal Orlac diz a verdade. É dar uma chance a
ele de demonstrar seu projeto e ajudá-lo a terminá-lo.
- Isso é loucura! - exclamou Packlos – Estamos abrindo a porta para o inimigo!
Vanyos encarou Chrístopher.
- Eu concordo com o Lorde Vanyos. Temos que dar uma chance a ele, afinal, se o projeto for
exitoso, podemos ter uma chance de reconstituir este planeta – disse Zarina Trivowi.
- Não podemos esquecer da esperança, Trivowi – disse Vanyos em seguida voltou a se sentar.
Chrístopher assentiu e levantou-se.
- Senhores, como Chanceler da câmara dos Lordes Libridianos, eu gostaria de tentar. Se for
comprovada a sinceridade do forasteiro, nossa guerra pode ter um fim e nossos corações poderão
encontrar a paz. Todos silenciaram.
- Para ser sincero, Chanceler, acho que já estamos condenados. A Ordem virá procurá-lo nessas
regiões em breve e encontrará nossa cidade – alertou Packlos.
Por um momento os olhares voltaram a se cruzar novamente.
- Ninguém sabe deste lugar Packlos, provavelmente pensarão que Orlac está morto. Ele só
achou este lugar porque caiu abaixo da camada holográfica. Você sabe disso – disse Chrístopher.
- Sim senhor eu entendo, mas e se por acaso eles encontrarem estaremos condenados.
- Talvez não seja condenação, mas sim destino. Vamos descansar esta noite, para que a esperança se renove pela manhã – aconselhou Chrístopher.
Todos começaram sua retirada da grande sala do templo. Packlos balançava a cabeça inconformadamente.
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