caderno ney - Sandra Medeiros

Transcrição

caderno ney - Sandra Medeiros
NEY LATORRACA
Cadernos do Festival
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ney latorraca
Cadernos do Festival
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VITÓRIA
2010
apresentação
Dois mil e 10 será mais um ano inesquecível na
história do Vitória Cine-Vídeo. Mais uma vez nos reunimos para uma festa que já está incorporada ao calendário de eventos nacionais da nossa capital. Uma
festa que acontece sempre em grande estilo e com
muita alegria.
Essa característica determinou a nossa escolha. Não há outra pessoa que incorpore melhor esse
espírito que não seja o maravilhoso ator Ney Latorraca. Ele sempre viveu assim: em grande estilo e
alegremente. Nem mesmo os momentos difíceis – e
foram muitos – conseguiram mudar isso em Ney. Todos aqueles que o cercam, aqueles que trabalham e
convivem com ele, falam sempre da mesma coisa: o
seu talento e a sua alegria. Sentimentos que ele distribui a todo mundo, o tempo inteiro.
E não há lugar melhor para homenagear Ney,
que o ambiente de cinema. Ele já disse: “Cinema é
glamour puro! É quando o ator se sente um Gulliver, um gigante representando para aquelas pessoas
pequenininhas lá embaixo. Digamos que é a consagração maior do ego. É o ego amplificado em som
dolby.”
Alegria e paixão pelo cinema também é a síntese do Vitória Cine-Vídeo.
E aqui vamos roubar parte do que disso um
grande amigo de Ney, o diretor Luiz Carlos Lacer
da. Ele soube expressar com precisão a essência do
nosso homenageado ao definir: “Filho de gente de
teatro, Ney é uma ribalta em pessoa. Exerce a sua
alegria contagiante no palco e na vida, numa permanente atuação onde busca a sua felicidade e a
dos seus amigos ou companheiros de trabalho. Uma
equipe que conta com ele no elenco é a garantia de
um trabalho feliz.”
Nós diríamos que o festival que conta com Ney
é um festival esplendoroso e feliz.
Ney adora os refletores, é vaidoso, espirituoso,
mordaz, irônico, inquieto, vivo. Não aceita padrões e
pré-definições. Quer errar sempre, recomeçar a todo
instante.
E é novamente com as palavras de Luiz Carlos
que voltamos ao Vitória Cine-Vídeo e ao nosso prêmio: “Homenageá-lo é prestar um tributo a um de
nossos maiores atores vivos, do teatro, do cinema e
da televisão, mas é também reverenciar aquilo que
de melhor herdamos como povo – que é a nossa alegria de viver.”
Beatriz Lindenberg
Lúcia Caus
Orlando da Rosa Faria
o homem e o ator
Contornei a Lagoa Rodrigo de Freitas quase toda,
antes de chegar ao endereço certo. O chauffeur não
entendeu porque, saindo do Corte do Cantagalo, eu
preferia dar aquela volta imensa. A chuva fina e insistente não deixava, mas eu teria escolhido ir andando para olhar tudo, respirar aquele ar, antes de
subir para ver e ouvir o homem que mereceu a paixão de Maysa Matarazzo, uma das mais belas, sedutoras e devastadoras mulheres brasileiras. Maysa, a
estrela que brilhou do Blue Angel Night Club de Nova
Iorque, ao Olympia de Paris; em Marrocos, Madri,
Lisboa, todas as capitais da América Latina, e pelo
Brasil inteiro.
O chauffeur argumentou, mas eu insisti. O final de tarde cinza e molhado evocava o clima exato
para uma cantora de fossa fixar seus olhos verdes
no vazio e dizer, entre espirais de fumaça, o perfume
de dry martinis e o respirar tenso de toda a platéia
do Number One: “Meu mundo caiu, e me fez ficar
assim, você conseguiu, e agora diz que tem pena de
mim...”.
Não sei se me explico bem, mas quando o carro parou já estava me recuperando da divagação com
um pensamento oportuno que me dizia que a neta
do Barão de Monjardim – cinco vezes presidente da
Província do Espírito Santo – poderia simplesmente
ter vivido uma arrebatadora, mas ensolarada paixão.
Não exatamente no clima do Number One ou do Urso
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Branco, mas levada pelo ritmo incansável do belo e
alto rapaz moreno que, também como ela, a cada novo
trabalho arrebatava uma legião de admiradores. Algo
mais para dia de sol, festa de luz ou Let the sunshine
in, que para Dindi.
O romance entre o ator Ney Latorraca e a cantora Maysa não vingou, mas o breve flerte terminou em
poema – quase letra de música – escrito por ela.
No hall do sóbrio edifício em que o ator mora – e
é vizinho de gente como a jogadora de vôlei Larissa,
Paulo Goulart e Nicette Bruno – fui recebida pelo porteiro e escolhi uma das poltronas iluminadas à meia
luz para me sentar, enquanto esperava.
Ainda pensava em uma Maysa apaixonada, com
um cigarro e um copo na mão, encostada ao piano,
cantando Ne me quitte pás, e Ney, inquieto, elétrico,
fazendo graça, flanando pelas festas no Rio.
Aos 45 anos, momento que pouco tempo depois ele próprio avaliou como o auge da sua sensualidade, balançou não apenas a melancólica diva da
fossa. Nessa época, de maneira especial, o assédio
das mulheres era grande. Irresistível, ele despertou
no público feminino certo desejo de posse, somado
a instinto maternal, com seu ar de “um cara meio
carente, que a mulher precisa levar pra casa e tomar
conta.”
De cabeça baixa, mal percebi quando, acompanhado do produtor, ele passou em direção ao elevador.
Ainda faltavam 15 minutos para as 5 da tarde, hora
marcada para a entrevista. Subi pontualmente e fui
recebida por um Ney Latorraca impecável, recém-saído do banho.
O jovial e afável senhor de barba esculpida que,
usando uma impecável camisa branca e jeans casual caminha pela espaçosa, requintada e acolhedora
sala, senta-se à mesa para falar de sua carreira, seguro, simpático e atencioso. Quando Ney Latorraca
começa a falar, aos poucos a calma e chuvosa tarde
de início de novembro muda, ganha vivacidade. Estou, enfim, diante do grande ator cuja imagem mais
forte em minha mente sempre fora a do sedutor e
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rebelde personagem de Estúpido Cupido, de casaco
de couro, andando de lambreta e dançando ao som
de Cely Campello: Mederiquis.
Quem está à minha frente não é só o grande
nome do cinema, da televisão e do teatro brasileiro.
Ney, de vez em quando, pontua o que fala com uma
pergunta: “Estranho, não?” Indaga isso inesperadamente, de um jeito cativante, que desarma o interlocutor e que revela a pessoa comum por trás do ator
famoso. Tive a impressão de entender Maysa.
Mas o que o caracteriza é mesmo a alegria irreverente que o leva às vezes a ser mordaz, e sempre
a divertir as pessoas. A impressão é que a seriedade
o incomoda. Repentinamente não se contém e pergunta: “Tá gostando de falar comigo? Eu sou uma
graça, né?”
Bom anfitrião e cavalheiro, ele oferece um café,
dirige-se à máquina para prepará-lo. Fala que aquela
camisa branca, bem cortada e elegante, escolhera
especialmente para conceder a entrevista. Comenta
sobre a caminhada que fez, e faz diariamente, fala
da vista de sua varanda, promete que vai mostrá-la.
Pouco tempo de conversa, sentados ao redor da mesa
quase encostada à janela que dá para uma montanha de pedra coberta de árvores, e ele caminha até o
aparelho de som para mostrar uma macia, aveludada gravação de Singin in the rain que, perfeccionista
e minucioso, fez com a própria voz, dentro de uma
piscina. Um recurso a mais para chegar ao ponto certo da cena que seria gravada duas semanas depois.
Uma cena para um episódio do especial S.O.S. Emergência, que entra no ar sempre depois do Fantástico.
Ele demonstra a paixão com que se dedica ao que faz
mostrando a gravação e explicando o trabalho que o
absorve, no momento.
Próximo ao aparelho de som, sobre outra mesa,
vejo alguns livros. Um deles, especialmente, me chama a atenção: é sobre Francis Bacon. Conversamos
alguns minutos sobre o pintor inglês, nascido na Irlanda (Bacon não gostava de ser chamado de pintor
irlandês) sua obra, a sua presença no cinema, no te13
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atro. Por ali também um pequeno vaso de orquídeas,
presente do elenco da nova montagem de Hair, é
uma demonstração de carinho e de reconhecimento:
Ney estava na primeira montagem do musical.
Pouco antes de encerrarmos nossa conversa trocamos lembranças: enquanto eu lhe estendo o pequeno catálogo de recente exposição coletiva, que
casualmente estava na bolsa, e mostro a obra de um
ilustrador e pintor brasileiro influenciado por Bacon,
ele vai buscar e me entrega o folder da peça DesFigura. Com texto de Pierre Charras, adaptada e dirigida
no Brasil por Regina Miranda, a peça é baseada na
trajetória de Bacon e chegou ao palco ano passado,
produzida por Ney. No elenco o ator Édi Botelho e o
bailarino Charles Fernandes.
Uma pausa para olhar maravilhada a estonteante vista que se abre de sua varanda: a Lagoa Rodrigo
de Freitas, à noite, é deslumbrante. Não poderia ser
menos que isso o lugar escolhido por Ney Latorraca,
um colecionador de sucessos.
Perfeccionista
Sucessos e mais sucessos ao longo de 46 anos
de carreira. Isso oficialmente, porque Ney fez vários
ensaios até começar profissionalmente, em 1969. E
ele não media ações e palavras para chegar onde
queria. Insolente? Impetuoso? Pretensioso? Audacioso e seguro refletem melhor o perfil de Antônio Ney
Latorraca. Aos 66 anos, ele pode dizer que protagonizou muitos momentos dignos de serem representados no cinema. Isso desde criança.
Dois desses momentos são antológicos: desconhecido fora de Santos, procurou a atriz Maria Della
Costa e o diretor Flávio Rangel, à frente da peça Depois da Queda. Pretendia substituir o ator principal,
Paulo Autran. Não foi aceito. Jurou voltar em grande
estilo, não sem antes deixar a sua marca no espelho
do camarim da diva: um dia eu vou ser o seu galã.
Cumpriu a promessa cerca de quatro anos depois.
Em Bodas de Sangue, em 1973, contracenaria com
Della Costa.
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Outro momento foi aquele, em 1976, que marcou a sua chegada definitiva ao Rio de Janeiro, quando se apresentou à TV Globo, onde está há 36 anos:
“Meu nome é Antônio Ney Latorraca, sou paulista,
tenho 32 anos e quero ser o maior ator do mundo.”
Estou certa de que ele é um dos maiores nomes da dramaturgia nacional. Falo com segurança,
mas com certo receio. Ney foge do que pode ser uma
classificação. A exigência que tem consigo próprio
explica o sucesso e o lugar a que chegou, mas é difícil
de ser mensurada. É um acentuado rigor que impede
que ele aceite ser apresentado como um dos grandes
atores do país. Em relação a isto é inflexível:
“O que eu nunca quero é ser colocado... É dizer
que estou entre os grandes atores do país. Quando
se diz... ele é o primeiro da sua geração... ele ocupa
o lugar tal... Acho assim, meio concurso de miss. Não
estou enquadrado em nenhum deles. Eu sou um ator
que tenho o prazer de ser contemporâneo de Antônio Fagundes, José Wilker, Marco Nanini, Edwin Luisi,
Ewerton de Castro, Tony Ramos...” E completa:
“Coisas como: em comédia eu sou imbatível...
Ou: estou na vanguarda... Aí fica péssimo. Não sou
busto. Aqueles que você compra, de gesso, coloca
em cima do piano. Eu estou em movimento. Quero
errar muito, para me manter vivo... Se achar que eu
estou arrasando... Posso brincar. Mas eu tenho que
ter os pés no chão... A gente sabe do que está fazendo... Então, quando a gente recebe uma homenagem
é para uma geração inteira, tem uma turma inteira.
Minha vida não é um monólogo, tem que ter um contra-regra, um maquiador...”
A vida de ator que brilha no cinema, no teatro,
na televisão, ele preparou obstinada e pacientemente. Queria ser ator e se via como ator, desde muito
cedo. Chegou a fazer álbuns sobre a sua carreira,
ainda criança. Fabricava os seus sonhos a partir da
vida de outros atores. Pensava: “Vou escrever um
livro sobre isso. A capa assim... Só fotos bem grandes... A capa são eles. Dercy, a história da Dercy...
Me lembro que tinha uma época, não sei se eu tenho
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isso guardado, não sei onde foi parar... Uma época
em que... Sabe fichário de colégio? Fichário de História? Eu peguei notícias da Cinelândia, a revista de
cinema, que diziam ‘Frank Sinatra, aplaudidíssimo na
estréia do seu show, foi visto na piscina’. Eu tirava
Frank Sinatra, pegava meu nome e colava lá. O fichário inteirinho, em cima dessas notícias... Durante
o ginásio inteiro eu fiz assim. Eu ia mudando tudo.
Só que nunca ninguém teve acesso. Era uma coisa só
pra mim. As pessoas se acabando lá e eu ali assim,
quietinho... Eu no Festival de Cannes...”
E ele chegou, claro, inclusive aos festivais. A
muitos deles, como me diz: “Já desfilei nos festivais
nacionais e internacionais. Uma de minhas lembranças mais fortes foi a apresentação do filme Anchieta
José do Brasil, direção do Paulo César Saraceni, no
Festival de Veneza, com direito ao hino brasileiro e a
nossa bandeira tremulando. O filme estava concorrendo ao prêmio principal.”
Nesses 46 anos de carreira foram 19 filmes, 23
novelas (42 trabalhos em TV), 23 peças, 6 minisséries, um programa musical e um humorístico na TV.
Nesse tempo todo, paixão, dedicação metódica,
alegria constante fizeram da atuação de Ney uma seqüência de sucessos em personagens tão díspares
quanto Mederiquis e Arandir. O primeiro, o charmoso playboy Antônio Ney Medeiros, líder do conjunto
Personélitis Bóis que, na novela em preto e branco,
Estúpido Cupido, circulava de lambreta na fictícia Albuquerque dos anos 60. E o segundo, o atormentado protagonista de O Beijo no Asfalto, de Nelson
Rodrigues, personificado por Latorraca no cinema. O
jovem, puro, que atende o último desejo de um moribundo: beija-lhe os lábios e desencadeia reações
virulentas. É tocante a atuação de Latorraca no filme
extraído da peça que é um libelo rodrigueano contra
a falsidade, a hipocrisia da sociedade.
Ele já foi padre, gigolô, mulherengo, pai de família, bêbado, neurótico... Se é possível listar peças,
filmes, novelas, somar os personagens já não é tão
fácil. Só em Um Sonho a Mais, em 1985, ele viveu
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seis: quem não se lembra de Volpone, Anabela Freire,
do metaleiro motorista, André, do médico Nilo Peixe,
do milionário Augusto Melo Sampaio? E do moribundo? E o público delirou: soberbo! A revista Amiga
publicou o carinhoso agradecimento de Ney. Em Irma
Vap, foram mais três.
Ney computa sucessos. Muitos. Com o Seu Quequé, da mini-série Rabo de Saia, marco divisor em
sua carreira, ele conseguiu o que poucos conseguem:
parava tudo quando Rabo de Saia entrava no ar. Parava o país. Seu Quequé passou a ser apelido e adjetivo. Vivendo Ezequias Vanderlei Lins, o mascate
que mantinha três famílias em diferentes cidades do
Nordeste dos anos 20, eletrizou os telespectadores.
Impagável, contracenou com Dina Sfat, Lucinha Lins,
Tássia Camargo, enrolou as três e era invejado. O
público se dividia, mas era para escolher com quem
ele deveria ficar, ainda que muita gente condenasse
a trigamia.
Sucessos incontroláveis como o de Barbosa, o
velhinho composto com uma peruca de cabelos brancos encaracolados, barriga postiça, lábio inferior protuberante (só recentemente ele confessou a inspiração: o seu amigo Carlos Alberto Ricelli), personagem
mulherengo, apaixonado por crianças e bichos, que
na novela Fogo no Rabo, quadro da TV Pirata, beijava
a todos. Barbosa morria no final da novela, mas por
exigência do público ressuscitou. Na virada do ano
(1988), ele abria uma cortina e rompia o logotipo da
TV Globo para desejar Feliz 1989. Não ficou nisso:
no TV Pirata mesmo, ele virou garoto-propaganda de
uma linha de lingerie sexy, inspirada em Luíza Brunet
e lançou o refrigerante Diet Barbosa.
E o maior de todos os sucessos, aquele que o
fez “um seqüestrável”: O Mistério de Irma Vap. Resultado de uma insistente busca pela qualidade, Irma
Vap teve uma repercussão tão grande que o fez – assim como a Marco Nanini, com quem contracenava –
quase um refém do público que queria vê-lo e voltar
a vê-lo. Não uma, mas várias vezes. O que levou a
peça ao posto de maior sucesso em toda a história do
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teatro brasileiro. Quase 12 anos em cena, mais de 2
milhões e 500 mil espectadores: chegou ao Guiness,
o livro dos recordes.
Ney não se nega a falar do método, da maneira como se prepara: “Para representar, me cerco de
todas as armas possíveis, como filmes e livros. Faço
uma pesquisa violenta, acho que é o melhor momento para um ator: a criação do personagem. Me considero um fotógrafo da vida, do cotidiano. Esse contato direto com o povo fortalece meu trabalho. Sou
curioso e observador. Leio tudo sobre, por exemplo,
a peça que estou fazendo.”
A preparação para um papel vai ainda além. A
carga de informações e experiências já vividas interfere e contribui para o desempenho do ator. Ney foi
vendedor de jóias, gerente de loja, bancário. Ele se
multiplicava para trabalhar de dia e à noite enfrentar
as rígidas aulas da Escola de Teatro da USP - para
onde foi por sugestão de Cacilda Becker - aprendendo
a dançar, a cantar clássicos, interpretar Shakespeare, Ionesco, e às vezes apanhar “com uma varinha de
marmelo”. E não era parte de uma cena. Era punição
mesmo. Os alunos eram exigidos ao extremo.
Pensei nisso e lembrei alguns papéis ao ouvir
o que ele acabava de revelar: “Na minha vida, vivo
cercado de livros, principalmente os clássicos e biografias. Amo Shakespeare, Cervantes e minha última
paixão é Tchekov. Não que eu o tenha descoberto
agora, mas, reler autores importantes te traz novas
descobertas. Um dos motivos porque gosto tanto de
viajar é para me alimentar da cultura dos outros países. Gosto de visitar os museus, as galerias de arte,
as grandes exposições como as bienais de Artes Plásticas, saber dos lançamentos artísticos de todos os
gêneros. Reciclagem é um termo batido, mas é o que
faço. Quando volto de uma viagem pra Nova York ou
Paris, me sinto melhor como gente e como ator. Volto mais sábio. Mas ainda acho que, o mais forte de
tudo, é o olhar sobre a vida, o ser humano. Isso sim
é o grande barato.”
A busca por fazer o melhor e conquistar um lugar
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entre os melhores leva-o, também, a trabalhar com
os melhores. Ney rememora, por exemplo, grandes
nomes que o dirigiram – Antunes Filho, Marília Pêra,
Gerald Thomas, Walter Avancini – e revela que sempre escolheu o trabalho que quer fazer e com quem
quer trabalhar.
O que não o dispensa de sacrifícios ou, quando
nada, de grande desconforto. Já andou muito de ônibus e kombi sem banco. Hoje compensa não dispensando ocasiões especiais em que viaja de primeira
classe e passeia de limusine com chauffeur. Não dispensa também o sabor de ser reconhecido na rua, de
dar autógrafos, embora nem sempre seja fácil.
Mas nenhuma dificuldade que altere o jeito expansivo, alegre, e autêntico. Ney sempre diz o que
pensa, faz o que deseja. Já posou seminu para uma
revista; já foi casado, já esteve sozinho; já se declarou um pequeno escândalo; já perdeu pessoas queridas; já engordou e emagreceu; já amargou pequenos e relativos fracassos. Sempre mantendo a fina
ironia e o quase onipresente bom-humor.
Exuberante
A vida em família foi marcada pela mãe exigente, extremamente franca, pelo gênio forte do pai,
também muito franco, pelas dificuldades financeiras,
e sobretudo pela alegria de viver de Ney.
Alfredo Simonim Latorraca, o pai, e a mãe, Nena,
eram do showbusiness: um crooner e uma corista.
Cassino? Latorraca? Nos anos 30 ou 40 a boate-cassino do nosso Clube Vitória, no Parque Moscoso, era capitaneada por um Latorraca. Não sabia
o seu prenome. Uma exaustiva procura me leva ao
seu sócio-capixaba, e ao nome de alguns habitués do
lugar. Mais algum esforço, chego ao discotecário da
boate e ao colunista social da época. E é este quem
me revela: Latorraca era um homem elegante, que
fazia muito sucesso com as mulheres. Mais um ponto
em comum com o pai de Ney (e com Ney). Seriam
a mesma pessoa? Teria que esperar mais uma tarde
inteira até que velhos recortes de jornal jogassem
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por terra uma bela teoria de um Ney Latorraca pelo
menos gestado no Espírito Santo: o nosso Latorraca
se chamava Hector. Quem sabe pelo menos parente?
Por telefone, Ney confirma: é um tio.
Sua mãe foi a primeira a fazer a Nega do Cabelo
Duro com Grande Otelo, no Cassino da Urca. O pai,
trabalhando na boate Oásis, foi quem primeiro apresentou a cantora Maysa em São Paulo. Não poderia
imaginar o futuro do filho, fazendo novelas, cinema,
teatro. Menos ainda imaginar que esta mesma Maysa
um dia iria se deixar arrebatar por Ney, impressionada pelo seu desempenho, e dedicar-lhe os versos que
ele, lamenta, não tem mais: “Infelizmente, não tenho
cópia da poesia que ela escreveu. Falava da minha
primeira aparição na TV Globo, minha primeira cena,
na novela Escalada. Eu dirigindo um carro de época,
numa externa muito bonita, em preto e branco”.
De certo modo, Ney saiu aos pais. Enquanto conversávamos, ele lembrou da certeza que sempre teve
de que seria ator, mesmo que a família preferisse ter
um filho médico, engenheiro, um filho que seguisse
uma profissão menos incerta.
“A gente sempre foi cigano... Na Ronald de Carvalho, em Copacabana, no Lido, eu tinha 10 anos.
Era 54. Eu vivendo em Copacabana era uma coisa...
chic. Eu levei a minha mãe até a porta do Roxy, do
outro lado, e disse assim: Tá vendo aquela vitrine
ali? Um dia você vai ver meu nome ali. E viu. Um dia
ela foi lá e viu. Ela se emocionou, e o papi (padrasto de Ney) também. Porque eles viam uma pessoa
muito determinada. Eu sou uma pessoa muito determinada. Claro, sou exuberante, vaidoso, mas sou
determinado.”
Ele lembra também, com carinho, da avó materna, destemida, determinada: “Minha avó, Maria
Escudero, quando veio da Espanha para o Brasil com
quatro filhos, mamãe no meio, ela vai parar em Ilhéus
e acaba se amigando com um homem – ele era negro – que era o único lá, na época, que falava latim.
E que dizia: A única coisa em que não sou perfeito
é que fui professor de Filinto Müller”. Se hospedava
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no Copacabana Palace. Lá em Campo Grande, Mato
Grosso, a Santa Casa tem o nome dele... José Pereira
Teixeira Filho. Minha avó, Maria Escudero, passou a
assinar Maria Teixeira.”
Ney sempre fala com nostalgia e com emoção
desse tempo. Ele recorda e destaca a grande lição
que recebeu da mãe, para ele “uma mulher batalhadora, que jamais conheceu a palavra medo”: fazer
apenas aquilo de que goste. Sem concessões.
Ney, que seria mineiro, nasceu em Santos, numa
visita dos pais aos seus avós paternos. O ano era
1944. O mês, julho. O dia, 27. Leão, primeiro decanato. Viveu uma infância regrada. Com o fim dos
cassinos, seus pais enfrentaram grandes dificuldades
financeiras. Moraram por um bom tempo em pensões
para casais sem filhos. Ney dormia numa cama de
armar (já era um rapaz quando teve a sua “primeira
cama de verdade”). A situação fez com que aprendesse a ser comedido dentro de casa. Compensava
na escola, onde, ele conta, foi “um demônio”.
Se sua infância foi marcada pelas restrições econômicas, ele nunca fez disso um cavalo de batalha.
Foi à luta. Também não se esforçou para apagá-la
de sua biografia. Pesquisar sobre ele mostra que não
evita falar dos momentos difíceis. Narra isso de maneira natural: “A minha infância foi pobre, miserável,
depois que meus pais perderam o emprego no Cassino da Urca. Roubei para comer e tudo, mas, no fundo
sempre mantivemos o glamour e o humor. Sempre
vivi de forma intensa e debochada desde então. Só
mudei com a morte de minha mãe.”
Figura central em sua vida, a mãe, ao morrer,
provocou uma mudança cujo primeiro reflexo após
a dor foi deixá-lo menos engraçado: “Quando perdi
minha mãe entendi que nada tinha muita importância. Fiquei mais consciente e, principalmente, entendi que eu não era aquilo tudo que achava.”
Dona Nena era sua melhor amiga, sua crítica
mais severa. Era ela também quem organizava a vida
prática, cotidiana e profissional de Ney, e quem orientava os investimentos financeiros. Ela partiria poucos
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meses depois do companheiro, o homem do Globo
da Morte do circo que o adolescente Ney conhecera
em Campo Grande. O temerário Boanerges, que arriscava a vida numa moto girando em dois sentidos
dentro de um globo e que, apresentado por Ney à
mãe, terminou por ser, durante 35 anos, o seu papi,
era um porto seguro para ambos.
A mudança foi grande. Mesmo hoje, mais de 15
anos passados, uma pausa respeitosa e emocionada
que ele disfarça, enquanto fala comigo, revela a dimensão do seu amor por Dona Nena.
Ele próprio ter filhos? Ser pai não é coisa planejada, mas quando pergunto sobre isso, ele diz: “Não é
uma coisa em que eu fico pensando, mas pode acontecer. Se for um processo natural, por que não?”
Incansável
Como uma Penn Taylor perseguindo Vladimir Polansky, retomo o arsenal de informações que reuni
durante quase dois meses e volto a constatar: Ele
põe a vida e os sentimentos no palco. “É um caso de
amor com aquele espaço, aquele chão de madeira.
Mesmo.”
O início foi uma participação em rádio-novela,
na Rádio Record, ainda menino: tinha 6 anos. Os pais
sempre em trânsito e ele junto, claro: Santos – São
Paulo – Rio – Santos de novo, Instituto Canadá. No
Rio, Colégio São Fernando, ele marca presença com
um número de frevo, dançando com sombrinha e
tudo. Mas é no Instituto Canadá que a vida artística
começa a ganhar contornos profissionais: junto com
um grupo de colegas ele monta o Conjunto Eldorado.
Foram dois anos de apresentações, Ney como cantor
e líder. Enquanto isso, no embate com os números
mais uma vez vencia a Matemática: foram duas reprovações, só no Canadá.
No mesmo colégio ele estréia na montagem da
peça Pluft, o Fantasminha, dirigido por Serafim Gonzáles. Foi um sucesso. A imprensa registrou. Ele ganhou destaque. Na televisão o primeiro papel não foi
bem um papel, foi uma ponta na novela A moça que
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veio de longe, na TV Excelsior: era ele quem dava a
mão à atriz Rosa Maria para que ela subisse ao cavalo. Era uma estréia, mas não em grande estilo: ele
aparecia de costas.
Profissionalmente começou na peça O Balcão,
em 1969, ano movimentado, em que também estrearia no cinema, em Audácia, a Fúria dos Trópicos, de
Carlos Reichembar e Antônio Lima. Em 69, ainda, estréia de fato na TV, na novela Super Plá, da TV Tupi,
infanto-juvenil. É também o ano em que foi premiado
como melhor ator infantil com O Cavalinho Azul. Ele,
que apregoava não gostar de fazer teatro infantil.
A partir daí, como que para confirmar a sua
auto-definição – uma pessoa elétrica – ele não parou
mais de acumular dois, três papéis ao mesmo tempo.
Elétrico, inquieto, incansável, mutante. O que não
esperar de um ator filho de um cantor e uma corista,
enteado de um destemido homem de circo, que teve
Grande Otelo como padrinho de batismo?
De qualquer forma, o destempero do pai ele não
herdou. A tranqüilidade da mãe, também não. Mas a
capacidade de improvisar de Grande Otelo, esta, sem
dúvida incorporou. E faz a sua defesa: “Sempre acho
que posso e devo colaborar com o personagem.”
Isto não quer dizer prezar pouco o que faz. Representar, para Ney, é fundamental. Depois, o ator
evolui na medida em que o homem amadurece e hoje
ele já não tenta mais ultrapassar o personagem.
Cerca de 20 anos atrás, 1989, 25 anos de carreira, constataria: “Vi então que tinha que me aprofundar mais dentro de mim mesmo e conhecer mais
a fundo as outras pessoas para criar melhor os meus
personagens.” “Comecei a usar a TV como já usava o
teatro. Em Irma Vap faço três papéis. Como Quequé,
fiz um só que tinha três personalidades. E já com o
Volpone, da novela Um sonho a mais, eu me desdobrei em cinco. (...) Pela própria rapidez do veículo, a
TV tem a tendência de classificar as pessoas pelo físico, dando-lhes o rótulo de mau, de delegado, de galã
etc. Desde que entrei na Globo, há 16 anos, sempre
lutei e consegui espaço para me diversificar.”
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Como ao longo de toda a sua carreira, o final dos
anos 80 foi de trabalho intenso e múltiplo: fazendo
TV Pirata, Irma Vap, participando dos filmes A Bela
Palomera, Festa, A Mulher do atirador de facas (curta-metragem) e dirigindo o show Passando batom,
de Jane de Castro (na boate Casanova, na Lapa, Rio
de Janeiro).
A auto-exigência não é TOC, ele me diz. É profissionalismo que o leva a preparar tudo o que vai
usar no dia seguinte: roupa e calçados cuidadosamente separados que ele vistoria na noite antes de
sair, cedo, para as gravações. Tem medo de esquecer
o texto, acorda de manhã e lê o que precisa gravar.
Ainda de noite, levanta para lê-lo de novo. E o resultado é o sucesso.
Um ator e uma pessoa em constante renovação,
exigente consigo próprio e na escolha dos seus papéis, ele lembra as últimas palavras da mãe: “Ney,
você é um ator que pode se dar ao luxo de fazer o
que quiser.” Mais um conselho materno que ele seguiu e, de fato, hoje só entra em cena, no palco, no
teatro, na televisão, fazendo aquilo que quer.
Mesmo assim, não se cansa de dizer que se comporta como um eterno amador, para quem todo dia é
um dia de surpresa. Um eterno amador que gosta de
fazer comédia, como nos anos 90, em que buscava,
com o seu trabalho, chegar às crianças, para ele um
público exigente que conseguiu tocar, por exemplo,
como o vampiro Vlad, terror dos terrores na novela
Vamp. Ele abrandaria o medo e ganharia a criançada
ao dizer “totooso...”, ao cravar os dentes no pescoço
de Cláudia Ohana.
Fazer rir ou fazer chorar, qualquer que seja o
momento e o lugar de representação este será marcado pelo talento. Ney Latorraca já disse: “Fazer chorar com uma gargalhada e rir de uma tragédia. O trabalho do artista é despertar emoção, qualquer uma”.
“Sou um ator que não tem pudor para representar”.
Inquestionável
No cinema, no teatro, na televisão, ele já experi35
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mentou momentos de glória absoluta, de casa cheia,
de crítica favorável, mas também sucessos relativos,
nenhum sucesso e crítica implacável. Na carreira de
Ney é mais fácil apontar sucessos relativos, que são
bem poucos, que os grandes sucessos, constantes, e,
por isso, difíceis de contabilizar.
E, curiosamente, o sucesso às vezes atrapalha.
E muito. Em Irma Vap contribuiu para que fosse parar no hospital, com uma úlcera duodenal que exigiu
uma cirurgia. Foi difícil aceitar o mega-sucesso dessa
peça. E ele tem uma explicação para isso: “É que aqui
no Brasil a gente está tão acostumado ao fracasso,
a pedir desculpas porque tem casas vazias e porque
as carreiras dificilmente dão certo (...) que quando
você, de repente, se vê fazendo uma peça que lota
todos os dias; fazendo um programa de televisão que
está entre os primeiros do Ibope, sem querer, acho
que o inconsciente começa a falar: Não, não; está
sendo demais”.
“É coisa de ator brasileiro, subdesenvolvido, que
não está acostumado com o sucesso; a gente se sente culpado porque está com a casa boa, porque pode
melhorar um pouco o padrão de vida e se cuidar, ir a
um bom dentista, presentear uma pessoa, ler bons
livros, viajar...”
Se para alguns não é problema, para ele é: “Tem
pessoas que sabem lidar com isso. Eu não soube.”
Mas soube avaliar que na carreira de um ator, um
sucesso como o de Irma Vap acontece de 20 em 20
anos.
Não reconhecimento e público pequeno marcaram Don Juan, em que atuou ao lado de Fernanda
Torres, dirigido por Gerald Thomas; Casa do Terror e
a recente novela Negócio da China.
Se um trabalho explode e outro não ultrapassa
a linha mediana, não é por deliberação do ator, mas
algumas atitudes suas foram decisivas. Em 1984, ele
estava com 40 anos e fez um balanço, como confessaria cinco anos depois: “Ou viro coadjuvante de
luxo, ou me transformo num primeiro ator. E tenho
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coragem de dizer que gostaria de estar no time dos
primeiros atores. Para conseguir isso precisava de
um bom texto e de um bom personagem. Aí veio o
Ernesto Gattai, de Anarquistas Graças a Deus, com
o aval da própria filha, Zélia Gattai e de seu marido,
Jorge Amado; do público e também pelo fato de estar
ao lado de uma das maiores atrizes da televisão brasileira que é a Débora Duarte. Em seguida, gravei o
Quequé. Foi tudo junto. Sem falar que tinha acabado
de fazer Rei Lear, de Shakespeare, no teatro.”
Fez sucesso também com A Festa, que ganhou o
prêmio de melhor filme no Festival de Gramado. Dirigido por Ugo Giorgetti, arrebatou sete Kikitos. Fez
ainda o curta que ganhou três prêmios em Gramado:
A Mulher do Atirador de Facas, dirigido por Carla Camurati.
No cinema ele destaca A Fábula da Bela Palomera, adaptado do romance Amor nos tempos do cólera, de Gabriel Garcia Márquez, uma produção espanhola, direção de Rui Guerra, prêmio de público e da
imprensa no Festival de Nova Iorque. Mas há muitos,
muitos outros sucessos.
Com tudo isso, ele se vê como uma pessoa comum, muito querida: “Sou tratado como um príncipe
por todos: camareiros, jornalistas, cineastas e caixas
de banco. Nem meus sentimentos, nem meu trabalho
são terceirizados. Vou ao banco, à feira, vejo se tem
flores na casa, troco lâmpada. Sou dono de minhas
emoções e tenho as rédeas da minha vida.”
Político
Aqueles que são da geração de Ney Latorraca,
ou pouco mais velhos, acompanharam, de 1964 a
1985, os reflexos do regime de exceção que o país
viveu. Quem é de cinema, teatro ou TV, volta e meia
estave às voltas com a censura. Ele e muitos amigos,
colegas de trabalho, sofreram com isso. Sua posição
é inequívoca: “Eu sou contra qualquer tipo de censura. Eu acredito no talento.”
Busco saber se viveu a experiência de ter trabalhos censurados e ele me diz: “Comecei minha car39
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reira em pleno golpe militar (em 1964). Éramos censurados o tempo todo. Representávamos, às vezes,
com militares no palco. Éramos obrigados a fazer
uma pré-estréia para a censura, que muitas vezes
impedia a temporada ou exigia que fizéssemos cortes
absurdos no espetáculo. Em 1965, fazendo Reportagem de Um Tempo Mau, de Plínio Marcos, fomos
presos e a peça proibida. Mas não desistíamos e estávamos sempre lutando nas ruas, nas passeatas. A
minha classe sempre foi bucha de canhão.”
Acontecesse o que acontecesse, ele não desistia
mesmo. Estava sempre em exposição, dizendo o que
pensava. Final dos anos 80, 14 teatros fechados no
Rio, outros 10 em São Paulo, momento de eleições,
ele ainda não tinha candidato. Esperava a posição,
daqueles que estavam concorrendo às eleições, em
relação à sua classe, a dos artistas. Esperava e pontuava. Dizia, então: “Quero saber o que o Ministério
da Cultura vai fazer pelo teatro; se vai reabrir esses
14 teatros fechados no Rio, mais os 10 em São Paulo;
se vai diversificar os núcleos ou se vai ficar somente
esse pólo Rio-São Paulo.”
E reclamava: “O cinema brasileiro está muito
abandonado; o diretor de cinema trabalha de cinco
em cinco anos. Isso não pode acontecer. Então tem
que ser um presidente que esteja preocupado com
a cultura do país, porque acho que o pulmão de um
país é a cultura.”
Arrebatador
Não poderia ser outra a vida de Ney. E essa vida
corrida ele parece ter aprendido ainda na infância. Os
pais estavam sempre em movimento, ora num lugar,
ora em outro. Tomasa Josephina Palhares Escudero,
Nena, fugiu de casa, aos 14 anos, foi girl em shows
de cassino e só parou quando viu que, deixando o
filho aos cuidados de outra pessoa, este não estava
sendo bem cuidado.
Muito do que ele diz revela porque a sua vida
gira nessa velocidade: “Eu sou muito elétrico. Tudo
que eu faço é uma entrega muito grande, não sei me
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colocar numa redoma. Quero estar a par de tudo, sabendo o que acontece aqui e lá. É o meu jeito de ser,
não vou mudar nunca. Não é justo eu tornar solitário
um trabalho que é feito por uma equipe inteira.”
Parece que um vórtice arrasta você junto com
ele, quando se começa a ler sobre sua vida. De repente, compreendo sua velocidade arrebatadora:
“Tive uma fase em que adorava, e queria mesmo, ser consumido. Entrei numa e minha vida virou
um grande desfile de escola de samba, com várias
alas. Tinha a ala do cara que fazia fotonovelas, que
era eu; tinha a ala do pôster sexy, que era eu; depois
era a ala do cara que estava em todas as festas, que
também era eu; a ala do cara que fazia o ator sério;
a ala dos bailes de debutantes; a ala da escola de
samba de uma artista brasileira. Aí vi que aquilo estava me atrapalhando; estava esquecendo meu lado
de ator para assumir um lado meio mundano. Então
parei e voltei às minhas raízes. Mas foi bom, não me
arrependo.”
O caso de amor de Ney é com o palco, mas experiências fugazes e intensas têm marcado a sua vida
fora dos holofotes. Na sua autobiografia – Muito além
do script, 224 páginas – ele revela passagens rodrigueanas: experiências homossexuais na juventude;
transas com a empregada, que era dividida com amigos; o ‘show’, numa boate, quando despiu em público a atriz Inês Galvão, com quem se casaria mais
tarde e que ele aponta como a grande mulher da sua
vida. Ela é o destaque entre aquelas que ele próprio
já apontou como seus três grandes amores: Maria do
Carmo Feitosa, Inês Galvão e Christiane Torloni.
Ele é mais que um cavalheiro, ao falar das suas
mulheres: “Olha, sou uma pessoa muito feliz, não
posso reclamar. Seria injusto. Todas as mulheres que
passaram na minha vida, eu continuo amando. Elas
fazem parte da minha história. Continuo gostando,
sinto saudades. É claro que muda um pouco, mas
não tem aquela coisa fria de não querer ver mais,
nem por fotografia.”
Quando lançou Muito além do script, Ney tornou
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públicos os fantasmas, muitos segredos, as vaidades e alguns símbolos de status, compensações que
o dinheiro traz: roupões, toalhas felpudas, viajar na
primeira classe dos aviões, não dividir pratos em restaurantes.
Cinema, teatro, novela, série, e música. Ele faz
tudo isso. E bem. Em Saudade não tem idade, na
Ópera do Malandro, em alguns números do Fantástico ressurge o cantor que começou com o conjunto Eldorado. “Eu canto, mas não tenho pretensões
musicais.” Está registrado no LP do filme Ópera do
Malandro, Ney cantando uma composição de Chico
Buarque de Holanda, ao lado de Elba Ramalho, Zizi
Possi, Gal Costa e Ney Matogrosso. Depois gravaria a
trilha sonora de Bela Palomera, de Egberto Gismonti
e Rui Guerra.
Estudou canto no Rio, com Vera Canto e Mello, e
em São Paulo também. É tenor. Ele revela: “E canto
sempre como crooner, bem discreto.”
Mas há coisas que ele não faz. Pergunto e descubro que dirigir é uma delas. Ele me responde: “Eu
não tenho prazer em dirigir, tenho uma relação difícil
com carro. Eu tinha motorista pra não precisar me
preocupar com isso. Tenho carro na garagem, mas
hoje prefiro pegar um táxi. É muito mais prático.”
Mas nem por isso ele despreza o carro: “Eu amo
viajar e gosto das duas coisas: viajar de carro ou
avião pelo meu país e também conhecer o mundo.”
Vaidoso
Ele gosta de aparecer, já mandou imprimir cinco mil fotos que distribui com autógrafos, quando é
assediado pelo público. Ser capa de revista? Claro.
Afinal, todo artista um dia foi ou será capa de revista. Ney já foi capa e miolo de páginas e páginas de
jornais e revistas. Já teve sua vida revelada em dois
livros: Ney Latorraca - uma Celebração, e a autobiografia Muito além do script, escrita em parceria com
a jornalista Lúcia Rito e lançada quando fez 55 anos,
35 de carreira e 25 de Rede Globo.
Mas posar nu é para poucos: ele posou assim
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para a revista Sétimo Céu, em 1975, e revelaria 20
anos depois: “Adorei fazer. Foi um barulho enorme.
O título dizia ‘O que Vera Fischer tem que eu não tenho?’, uma frase minha na entrevista. Era uma idiotice, eu ali, aquela lombriga nua, dizendo isso. Mas era
a minha cara; ainda é. Sou um pequeno escândalo.
Um vulcãozinho.”
Essas notícias todas repercutem o seu sucesso e
a maneira ansiosa e incansável como é acolhido pelos
fãs. Ney sabe o que é o sentimento de um fã. Afinal,
ele também tem ídolos e me diz quais: “Meus ídolos
são brasileiros, como Sérgio Cardoso, Paulo Autran,
Raul Cortez e Jardel Filho. Mas não fui influenciado
por eles, apenas uma grande admiração.”
Admiração pressupõe diferentes reações do fã:
uma distância respeitosa, o assédio mais comedido,
quando o fã apenas pede uma foto, um autógrafo.
Ou até o avançar de sinal. Mas mesmo quando representou vestido de mulher, Ney foi respeitado. “Eu imponho: ator é ator e fã é o fã. Que gosto, amo, mas
nunca entrando numa coisa mais agressiva.”
Já recebeu muitas cartas, respondeu a todas
elas, mandou fotos. E respondeu pessoalmente. Às
crianças, revelou, dá uma atenção maior. Além de
fazer questão de escrever respondendo, já chegou a
fazer desenho. Mas os tempos mudaram. Se antes o
contato era através de cartas hoje a internet está na
frente. No entanto, o ritual permanece, sem que ele
recorra a secretárias: “Hoje recebo muita mensagem
por e-mail, cartas são raras. Respondo tudo e, se me
pedem, envio foto também.”
Chic
Torcedor do Santos Futebol Clube, não vou querer, no entanto, que ele escale o time. Se você quer
vê-lo sorrir feliz, sugiro que lembre 1972 e cante:
“Que grilo é esse, vou embarcar nessa onda, é a Império Serrano que canta, dando uma de Carmem Miranda.” Sua escola de samba é a agremiação da Serrinha, em Madureira, ponto de resistência do jongo.
Mais segredos? Ele adora óculos escuros (já usou
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muito os espelhados), tem um relógio Rolex, mas não
só esse. No guarda-roupa algumas peças de Gregório
Faganello, um ou outro terno Oggi, cuecas Jóquei e
Zorba, algumas delas vermelhas. Já comprou muito
na Bloomingdale’s e na Tiffany’s.
Ney já lavou os cabelos com xampu Drogaderm,
escovou os dentes com Close-up verde, e tomou banho com sabonetes Phebo, Nívea e Mônica. Desodorante, só Leite de Rosas. Colírio? Lacrima, “ideal para
quem chora muito, dentro e fora de cena”. Fumou
Galaxie, mas parou em 23 de abril de 2003, dia de
São Jorge, como me revelou.
Houve um tempo em que não dispensava a cavaquinha frita do Antiquarius (no Leblon), a banana
frita do Albamar (na Praça 15), a carne da Churrascaria Plataforma (no Leblon).
Praticamente foi garoto-propaganda da Frostfree da Brastemp. Declarou – o Jornal do Brasil publicou – que aquela geladeira “tem vida própria, fala,
responde ao que você pergunta, te consola.”
Antes do Pajero teve um Fusca e um Quantum.
Sua televisão tem lugar para O Gordo e o Magro, mas
especialmente para O Sol por Testemunha e Corpos
Ardentes. No som, entre outros, Plácido Domingo.
Gosta de se hospedar no Plaza de Nova Iorque e no
Copacabana Palace, no Rio.
E já confessou que é tarado por bico de peito
(“os bebês têm razão”), pé e chocolates Kopenhagen
derretendo no céu da boca.
Mimado
Um homem de personalidade forte. Sangue espanhol; quase obsessivo, ele quer viver tudo intensamente; mergulhar fundo; não medir conseqüências no que fala; ignorar a sociedade quando lhe dá
na telha; exigir quando deseja; ser dócil e generoso
quando sua sensibilidade determina; e ser leal aos
amigos.
Eles são muitos, na classe artística: Aracy Balabanian, Glória Menezes e Tarcísio Meira, Carla Camurati, Luiz Carlos Lacerda, Maitê Proença, Fernanda
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Montenegro, Renata Sorrah, Walmor Chagas... entre
outros. Ney alegra a todos e é mimado por todos.
É fácil saber disso. Afinal, se antes ele recortava
de todas as revistas notícias dos seus ídolos, hoje é
a sua vida, cada passo fora de casa, que está não só
nas revistas como nos jornais, na internet, nos noticiários de TV. Assim se fica sabendo da caminhada
pela orla da Lagoa, de calção preto, camiseta, óculos escuros e boné; do final de semana em casa de
Glória Menezes e Tarcísio Meira; do anel de ouro que
ganhou de Fernanda Montenegro; do anel de brilhantes, presente de Tônia Carrero.
Da personalidade forte de Ney Latorraca talvez
quem fale melhor seja o grande amigo e crítico de
cinema Rubens Ewald Filho, no livro-homenagem,
Uma celebração: “Ney odeia injustiças e é capaz de
ir ao presidente da República, ao papa, na tentativa
de corrigi-las. Ainda mais se a vítima for seu amigo.
Pelos amigos ele até mente, acentuando qualidades
que infelizmente não temos.”
Ewald, cuja amizade Ney conquistou no início
dos anos 60, em Santos, retribui a lealdade sendo o
amigo presente, com quem o ator se reúne quase ritualisticamente para um balanço de vida, a cada início de década. Ele confirma a vaidade de Ney: “Digamos que vaidoso, sim, mas sincero também, porque
é difícil achar algum ator que comente – com tanto
humor – seus insucessos. Estrela, com certeza.”
Quando Ewald fala em estrela me ocorre a participação do ator no programa Primeira Pessoa, do
Multishow, final dos anos 90, Sábato Magaldi à frente, quando fez um pequeno balanço de sua vida e
carreira. Implacável, ferino, mordaz, superior. Entre
o que disse, destaco o gosto inequívoco e narcísico
que o leva a ser abusado (“Adoro prêmios, mas prefiro os cheques”), sedutor (“Sou sedutor, gosto de
seduzir 24 horas por dia.”) e a fazer graça (“E se não
vejo ninguém a quem seduzir, fico me olhando no
espelho”). De alguma forma, nesse sangue espanhol
tem uma dose muito boa de Grouxo Marx.
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Generoso
“O dinheiro dá ao ator (brasileiro) um pouco de
tranquilidade. Você fica mais poderoso dentro da sua
profissão porque você pode escolher e fazer apenas
o que gosta, vivendo com dignidade.”
Entre as muitas coisas que o dinheiro permite
fazer estão pequenas loucuras, o que para Ney significa viagens repentinas. “A única loucura é decidir
que vou viajar pra Paris, por exemplo, e embarcar
no mesmo dia, em menos de 24 horas, e de primeira
classe. É ótimo”.
Ao fazer a peça O Mistério de Irma Vap foi que
conseguiu seu momento de grande retorno financeiro. Não ficou rico, mas, “dentro da realidade dos atores brasileiros”, ele diria que se considera bem de
vida. “Não sou, assim, um seqüestrável, mas não tenho preocupações financeiras. Atendia aos pedidos
da minha mãe e atendo às minhas vontades. Meus
bens estão todos deixados para o Grupo de Apoio e
Prevenção à Aids (Gapa) de Santos, que cuida das
crianças aidéticas, e para o Leprosário de Campo
Grande (cidade onde sua mãe nasceu). Acredito na
importância desse tipo de atitude, porque o preconceito ainda é muito grande.”
Irma começou devagar, com pouco dinheiro. À
frente Marília Pêra (que um dia Ney, bombasticamente, apontou como símbolo sexual), ele e Marco Nanini. O começo foi regrado: uma parceria formada entre
os três mais o então marido de Marilia Pêra, Ricardo
Pessoa, e Beth Leporace. Foram eles que compraram
os direitos da peça que iria ultrapassar o sucesso de
Hair, Lágrimas Amargas de Van Petra, Piaf, May Fair
Lady e Doce Deleite.
Teatro lotado todos os dias, temporadas populares pelo país, garantiram prestígio, ótimas críticas e
dinheiro. Talvez para concretizar um outro sonho.
Um teatro para Ney. Ele falou dessa vontade
por muito tempo: ter um teatro ou um espaço seu.
Estaria ainda em seus planos? “Na frente, terá um
nome qualquer, tipo Espaço Cultural da Barra, ou dos
Jardins, em São Paulo. Esse é o meu sonho. Ter um
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lugar onde a gente possa se reunir para fazer leitura
de texto, lançar (...), e penso em transar uma sala
de esgrima, de maquiagem, de interpretação e leitura, um bar para as pessoas se reunirem para um
bate-papo, e um teatro. Mas também será aberto a
exposição de artistas plásticos, a shows de música.
Não quero uma coisa só pra mim. A gente tem que
colocar outras pessoas trabalhando e dar chance para
aqueles que não podem, e seriam bolsistas. (...) Vou
acabar tendo isso.”
Morando hoje num apartamento, Ney parece gostar muito de imóveis. No final dos anos 80,
numa longa entrevista, revelou que tinha dois apartamentos no Rio, outro em São Paulo e duas casas
em Campo Grande, terra de sua mãe. Estava, ainda,
construindo outra em Miguel Pereira: uma casa préfabricada, por sugestão de Bruna Lombardi. Investimentos sugeridos por Dona Nena, que recebia dele
um salário para administrar tudo o que tinha e fazia.
Hoje são oito imóveis – todo o seu patrimônio – que
ele já doou em testamento. Ele diz que os atores são
pessoas generosas. A doação começa com a interpretação dos personagens. Mas sobre riqueza, posse,
bens materiais, Ney é definitivo:
“As melhores coisas da vida, as mais ricas, são
as mais simples. Você pode parar e ver a chuva; ver
uma criança sorrindo; ver a gargalhada que você
provoca no público; uma pessoa te pedir autógrafo;
ver que sua vida está indo bem e que você é querido;
respeitado pela imprensa – uma imprensa de nível;
comer pipoca; ir à matinê; namorar de mão dada.”
Sandra Medeiros - Editora da Revista ÍMÃ
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o pensamento
As opiniões de Ney Latorraca foram expressas
diretamente, durante entrevista exclusiva, mas também ao longo de sua carreira, a jornais e revistas
de circulação nacional. As opiniões a seguir também
foram extraídas do livro-homenagem intitulado Ney
Latorraca - Uma Celebração, lançada na Coleção
Aplauso, da Imprensa Oficial de São Paulo, organizada pela jornalista Tânia Carvalho.
Sobre a perfeição como ator
“O dia em que eu achar que estou pronto, vou parar.
Tenho uma insegurança que é um combustível.”
Sobre a idade
“Não sou mais o gato que fez Hair. Todo dia tem
uma novidade. Uma dorzinha aqui, outra ali.”
Sobre o pai
“Meu pai, Alfredo Simonim Latorraca, tinha um gênio
terrível, não fazia média com ninguém, achava tudo
muito chato, um horror, e era de uma sinceridade
quase ferina.”
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Sobre a dedicação da mãe
“Minha mãe fez vários abortos antes de decidir ter um
filho. Quando nasci, não havia ninguém para tomar
conta de mim. Um dia minha mãe me deixou com
uma tia e me encontrou pretinho. Decidiu parar tudo
e se dedicar à casa.”
Sobre a mãe, em outra ocasião
“Como mãe, era uma canastrona. Como amiga, uma
estrela. Extremamente querida. Quando pedi para ver
as cartas de pêsames, elas vieram de caminhão.”
Sobre a infância
“Como não tinha condições de comprar gibis, minha
mãe me deu um só, que devia ler para o resto da vida.
Meu sapato Tanque Colegial durava cinco anos. Meus
brinquedos eram poucos e os tenho até hoje.”
Sobre a infância, ainda
“Não tinha esta história de tênis Nike, video-game e
ter ataque por tudo. Aliás, não havia reclamação. Uma
vez fiz um muxoxo porque havia picadinho de novo
na mesa e minha mãe me avisou - e cumpriu - que
eu ia comer picadinho por um ano para não reclamar.
Meu pai era mais rígido.”
Sobre a Escola de Arte Dramática
“Foi na EAD que descobri o verdadeiro sentido de ser
ator! Nada do que eu faço desde então é gratuito, tudo
tem a ver com meus anos de escola. Por isso ela está
sempre presente na minha vida.”
Sobre o musical Jesus Cristo Superstar
“Fiz o teste para Jesus, mas quem ganhou foi o Eduardo Conde. E era ele que devia fazer mesmo, tinha
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mais figura e mais voz. Fiquei sendo o Pilatos. Em
sua crítica, Sábato Magaldi colocou o seguinte título:
Pilatos Superstar.”
Sobre o seu primeiro encontro com o diretor de
teatro Antunes Filho
“Ele me tratou de uma maneira inacreditável. Avisou
que se eu não quisesse havia gente muito melhor
do que eu para o papel, o Zanoni Ferrite, o Antônio
Fagundes, que na hora iriam aceitar. E ainda: ‘Para
você vou pagar menos. Estou te chamando porque
você é mais barato, é pegar ou largar’. Eu peguei. E
ele continuou me tratando de uma maneira... como
eu gosto de ser tratado... ali... firme... porque sou
muito rebelde e adoro um chicote.”
Sobre Sandra Bréa
“Sandra era uma estrela! O lugar dela nunca foi ocupado! Está para nascer alguém para descer uma escada
como ela, com aquela canela fina, pernas maravilhosas, aquela bunda de crioula, linda, sabendo dançar,
cantar, e ‘segurar’ uma roupa.”
Sobre Cinema
“Cinema é glamour puro! É quando o ator se sente
um Gulliver, um gigante representando para aquelas
pessoas pequenininhas lá embaixo. Digamos que é a
consagração maior do ego. É o ego amplificado em
som dolby. Desde pequenino sonhei com o estrelato
no cinema, tapete vermelho, bandeira do Brasil hasteada, vários Oscars.”
Sobre Cinema, ainda
“Aos 12 anos eu já dizia para a minha mãe: ‘Um dia
você ainda vai ver o meu nome aqui, na fachada do
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Cinema Roxy’, que era um dos maiores cinemas do
Rio de Janeiro. Ela achava que eu era maluco, mas se
não cheguei a Hollywood, estava nos letreiros do Roxy
pouco tempo depois, porque quando a gente quer
realmente uma coisa, consegue. E eu queria o cinema, com todas as suas dificuldades, as intermináveis
esperas, poucos recusos e seu enorme fascínio.”
Sobre Gerald Thomas
“Ele é uma pessoa deliciosa de se conviver. Simpático,
bem-humorado, inteligente, engraçado.”
Sobre Marco Nanini
“Nanini é um ator maravilhoso, tímido, sério, humilde
em relação aos seus personagens - diferente de mim,
que sempre acho que posso e devo colaborar com o
personagem.”
Sobre Marília Pera
“Marília é uma diretora esplêndida, rigorosa, rígida,
que em poucos dias colocou a peça (O Mistério de
Irma Vap) de pé.”
Sobre Marília Pera, ainda
“Qualquer coisa que ela tenha feito, que bateu mal,
fica apagada perante a grandiosidade de seus atos
como mulher e profissional.”
Sobre Juca de Oliveira
“O Juca é daquela turma que come, dorme e respira
teatro. Tipo Paulo José, só que mais espaçoso. Se ele
te convidar para nadar, desista. Ele vai ficar falando
sobre teatro dentro d’água.”
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Sobre os adereços usados em A Mandrágora
“Como vestia uma malha o tempo todo e era muito
magro, achei que precisava realçar alguma coisa. Então enrolava umas duas meias - muita gente faz isso,
mas só eu confesso - e as pessoas diziam: ‘Nossa,
como ele é forte!’, já que não ficava bem dizer outro
adjetivo. Usava logo duas meias bem grandes, pretas,
de jogador de futebol, um ‘kit Pitanga’, digamos assim.
Coisas do teatro.”
Sobre personagens marcantes
“Barbosa virou mania nacional. Até hoje sou obrigado
a responder na rua porque matei Barbosa. (...) A Louise Cardoso brincava que havia estudado tanto para
andar na rua e as pessoas dizerem: ‘Olha a mulher
do Barbosa’.”
Sobre Maitê Proença
“É uma pessoa que sempre me surpreende pelo caráter. Além da beleza e do talento, ela é uma pessoa
solidária, que representa bem a generosidade da
classe artística brasileira.”
Sobre a sexualidade
“Tenho em mim todas as sexualidades. Não gosto das
pessoas que ficam por aí especulando sobre que apito
toca fulano. Ninguém sabe que apito eu toco. Só com
as mulheres que amei, poderia fazer um livro.”
Sobre o uso de celulares pela platéia
“Já aconteceu de me atrapalharem a concentração.
Mas as pessoas não fazem por maldade. De qualquer
forma, o público pode nos distrair.”
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Sobre a estréia de um espetáculo
“Comparo este momento antes da estréia a uma operação sem anestesia. E morro de medo de esquecer o
texto. Acordo de manhã e leio. De noite, levanto para
lê-lo. Sou completamente neurótico e doente.”
Sobre a estréia na TV
“Eu era o rapaz que dava a mão para a atriz Rosa
Maria, para que ela subisse no cavalo. Corri para a
pensão onde morava para mostrar a todos que estava na televisão. As pessoas riram porque se eu não
apontasse na tela quem eu era ninguém descobriria.
Eu estava de costas para a câmera.”
Sobre a peça O Mistério de Irma Vap
“Aquilo era uma ola. Quase um show de rock. Foram 11
anos de estrada e 2 milhões e meio de espectadores.
É o maior sucesso de uma peça em toda a história
do Brasil e a montagem com dois atores com maior
permanência no palco em todo o mundo.”
Sobre o período no hospital, operado de uma úlcera
duodenal (em 1989)
“Fiquei dois meses de cama, usando uma bata azul
que parecia uma mini-saia. Mas com essa roupa eu
andava pelos corredores do hospital, levando o Barbosa a todos os quartos, animando outros doentes.
Foi bom poder levar alegria para tanta gente, como
acontece também através da televisão.”
Sobre seu comportamento (em 2000)
“Assusto as pessoas. Elas me param e me perguntam
se estou bem, porque costumo sair de cuecas, de camisa de mangas compridas e de sandálias havaianas,
velhas, gostosas.”
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Sobre ele próprio, ainda
“Estou enxuto, bem, sou um belíssimo partido e não
está descartada a possibilidade de ter filhos.”
Sobre Muito além do script, sua autobiografia
“Não foi fácil (...), mas foi bom para botar para fora
esses fantasmas.”
Sobre homossexualismo, em sua autobiografia
“É claro que numa época de minha vida tive experiências homossexuais, como quase todos os garotos,
com um primo, um amigo, mas ficou nessa experimentação, não se desenvolveu.”
Sobre Glória Menezes e Tarcísio Meira
“Quando eu dormia na casa deles, não gostava de ficar
no quarto de hóspedes (...). Então, eles colocavam
um colchonete no quarto deles e eu dormia ao lado
da cama.”
Sobre Sônia Braga
“Sônia tem humor, é gostosa em todos os sentidos.
Soninha, em minha vida, sempre se comportou como
La Braga.”
Sobre Vera Fischer
“Vera é muito forte e eu, no auge da minha magreza,
não conseguia derrubá-la. Até inventaram um artifício. Eu dava um remedinho pra ela, o personagem
ficava meio grogue, e aí dava pra gravar a cena do
estupro.”
Sobre Fernanda Montenegro, quando ia fazer Zazá
“Eu é que estou perturbado por trabalhar com a Fer69
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nanda. Ela não é só atriz e amiga: é a grande professora. Vou trazer flores e enchê-la de jóias.”
Sobre Walter Avancini
“Sinto muita falta do Avancini, que foi o diretor que me
colocou no meu lugar, no espaço que eu merecia, com
Avenida Paulista, Anarquistas, Rabo de Saia, Sertão
Veredas e Memórias de um Gigolô, todas sob a direção
dele. Gostaria muito de trabalhar com Daniel Filho,
que é um diretor com o qual não tive oportunidade
de atuar, ainda.”
Sobre vaidade (em 1994)
“Há dias em que visto minha melhor roupa só para
passear na Oscar Freire. Adoro ser visto e admirado.
Às vezes saio de casa só para isso.”
Sobre Edilson Botelho (em 1997), com quem contracenou em O julgamento de Oscar Wilde, Quartett
e O Martelo
“Para que eu possa brilhar tenho que ter pessoas que
brilhem junto comigo.”
Sobre música
“Gosto da Mart’nália, da Maria Gadú. Tem uma banda
que eu adoro. Descobri no filme Maria Antonieta, de
Sofia Coppola. É o Air. Adoro ouvir enquanto faço a
barba.”
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sobre ele
Carla Camurati, atriz, diretora de cinema, presidente da
Fundação Teatro Municipal
“O Ney é dessas pessoas que Deus trouxe ao mundo para
alegrar a vida. Conviver com ele é uma delícia, sempre.
Um ator daqueles!... Inteligente, agudo, que trabalha de
forma inspirada.”
Aracy Balabanian, atriz
“Ney é o amigo mais fiel que eu conheço; e com certeza
um dos mais divertidos.”
Maitê Proença, atriz e escritora
“Ney é generosidade. A dele grita e acolhe em todas as
horas, sobretudo naquelas em que ninguém mais se lembra
de dar conforto. Quando se está encolhidinho por dentro,
lá vem ele, despejando admiração com suas observações
enaltecedoras. Às vezes eu ligo pro Ney pra falar das coisas dele e quando vejo, Ney já virou os holofotes pra mim.
E olha que ele gosta de aparecer! Gosta e aparece para
todo o Brasil que se deslumbra com seu inspirado talento,
e para toda a legião de amigos que o aplaude com vigor.
Grande ator! Mas se fosse escritor, com a mente imaginativa que tem - pensa e diz coisas inesperadas e deliciosas
- ele desbancaria nós todos que nos atrevemos nas artes
escritas. Meu amigo do coração!”
Renata Sorrah, atriz
“O Ney para mim é como se fosse uma pedra preciosa. Tanto como ator quanto como pessoa. Eu tive o privilégio e a
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sorte de trabalhar com Ney numa peça do Fassbinder, Afinal
uma mulher de negócios, mas eu já era sua fã. Do trabalho
dele, da postura dele diante da vida e profissionalmente.
Nós fizemos esse trabalho – a gente lançou o Fassbinder
no Brasil – e ele fazia quatro papéis brilhantemente. Depois
dessa peça ficamos amigos. Então nós dividimos, no palco
e na vida, uma cumplicidade. Desde que eu me lembre,
desde Hair e em toda a carreira dele, todas as escolhas são
de um homem de teatro. O Ney é um raro homem de teatro
que faz cinema, faz TV. E tudo que ele faz, com o talento
que Deus lhe deu, é primoroso. É uma pessoa de que eu
gosto imensamente. Admiro e tenho o maior orgulho de ter
trabalhado com ele. Desejo pra ele tudo de bom. E que ele
nunca pare de encantar a gente com seu o talento.”
Édi Botelho, ator e diretor
“Falar de Ney Latorraca é falar de inteligência, rapidez de
raciocínio e principalmente senso de humor. Somos todos
seduzidos pela sua maneira única de observar as coisas. É
um comediante, no verdadeiro sentido da palavra. Aquele
ator que vai do drama à comédia, do musical ao teatro de
costumes, com domínio total do ofício de representar. Um
ator sem barreiras que faz da arte de representar seu parque de diversões. Generoso e disciplinado, trata a profissão
como deve ser... com amor e respeito. Sou um privilegiado
por já ter dirigido Ney Latorraca e feliz por tê-lo como um
grande amigo.”
Luiz Carlos Lacerda (Bigode), diretor de cinema
“O nome de Ney Latorraca evoca imediatamente o que há
de melhor na tradição de humor da cultura brasileira. Não o
humor que desperta o riso fácil e gratuito hoje em dia presente na maioria dos palcos e na programação audiovisual
do país, mas na riqueza do humor que nos constitui historicamente; da nossa formação ibérica, que sobrevive no
teatro de revista; desemboca na Semana de Arte Moderna
de 22, e se perpetua através do Tropicalismo e de um novo
humor bisneto do Barão de Itararé (Aparício Torelly).
Esse divisor de águas que significou o Modernismo
foi todo construído sob esse senso de humor que é parte
da nossa identidade cultural. O riso é uma das mais importantes manifestações da inteligência humana e está
cientificamente provado que é também responsável pela
saúde e permanência das civilizações.
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Nos regimes totalitários, ele tem um importantíssimo
papel político e libertário. As ditaduras não toleram o seu
exercício, mas tem sido nesses períodos sombrios onde ele,
subversivamente, se dissemina, faz a catarse do povo, da
dramaturgia e dos artistas no seu ofício de ser arautos do
futuro.
Ney Latorraca é sinônimo do que melhor se produziu
e se produz nessa esfera de criação artística. Apesar de
sua formação acadêmica na Escola de Arte Dramática da
Universidade de São Paulo; apesar de incansável intérprete
dos clássicos e dos autores modernos; como um Rigoleto da
Contemporaneidade, ele tem contribuído, inteligentemente,
para que distintas gerações de público se divirtam.
Filho de gente de teatro, Ney é uma ribalta em pessoa. Exerce a sua alegria contagiante no palco e na vida,
numa permanente atuação onde busca a sua felicidade
pessoal e a dos seus amigos ou companheiros de trabalho.
Uma equipe que conta com ele no elenco é a garantia de
um trabalho feliz.
Há cerca de 20 anos nos conhecemos e incorporamonos, um na vida do outro, como amigos inseparáveis e de
todas as horas. Seja nos filmes que realizamos juntos, ele
como ator ou produtor, eu como diretor; seja no cotidiano
de nossas lutas e de nossas esperanças.
Quem se aproxima desse furacão de criatividade e
afeto não quer nunca mais ficar curado – Ney é quase um
vício. A sua delícia de ser nos torna, aos que o cercamos,
platéia de privilegiados desse espetáculo ininterrupto que
ele é.
Homenageá-lo é prestar um tributo a um de nossos
maiores atores vivos, do teatro, do cinema e da televisão,
mas é também reverenciar aquilo que de melhor herdamos
como povo – que é a nossa alegria de viver.”
Tânia Carvalho, jornalista, autora de Ney Latorraca, uma
celebração
“Ney Latorraca é único. Quem tem o privilégio de ser seu
amigo sabe disso. Seu público, fiel, também. Dono de um
senso de humor inacreditável, é capaz de contar qualquer
história com uma graça jamais imaginada: do velório de
um parente querido a um de seus fracassos. Foram poucos,
mas existiram. E ensinaram-lhe muito.”
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Ney Latorraca, ele próprio
“Uma pessoa vaidosa, regateira como eu, precisa levar
umas chapuletadas de vez em quando.”
Marco Nanini, ator (em 1994, ao jornal O Globo)
“(...) Conhecemos um ao outro pelo silêncio. Tivemos,
é claro, alguns momentos de conflitos. De mal-estar, de
trombas e de saco-cheio. Mas entre nós nunca deixou de
existir respeito, generosidade e compreensão. É por isso
que a nossa amizade existe. Ney tem um arsenal artístico
muito grande. É uma reserva de talento que ele nunca teve
a necessidade de usar, mas um dia usará. Ele nos engana
com seu jeito falador, mas o seu lado reservado - que ele
esconde para os outros - deve ter momentos grandiosos.
Talvez a fonte do artista que ele é.”
Rubens Ewald Filho, crítico de cinema
“Quando o conheci fiquei assustado com aquela vitalidade,
aquele despudoramento, aquele talento tão óbvio e evidente. E que não pedia desculpas. Ao contrário, se assumia.
Dizia que ia ser o maior ator do Brasil. E pronto (...)
Qualquer pessoa que tenha tido a sorte de trabalhar
ou conviver com Ney sabe disso: ele é uma das pessoas
mais engraçadas e divertidas que conheço. Tem expressões
próprias, caretas, gestos, que são tão comunicativos que
em pouco tempo todo o grupo o está imitando, sem se dar
conta. Viramos todos pequenos Neys.”
Maria Padilha, atriz
“Eu sempre fui fã do Ney. Antes de eu virar atriz profissional, eu já era fã dele nas novelas. Eu o achava um ator
incrível e um homem lindo. Um galã de cinema francês ou
italiano. Ele tinha um diferencial. Todo mundo se apaixonou
por ele nos anos 70. Depois eu o conheci como profissional e como pessoa. E ele é uma das pessoas que eu mais
amo nessa vida. Comecei a trabalhar com Ney em 1980,
e ele me surpreende sempre. Continua me fascinando a
cada dia, a cada trabalho. Eu o definiria como um homem
moderno. Ele é o verdadeiro homem moderno. E sempre
conjugando o binômio amor e humor.”
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peças
Reportagem de um Tempo Mau
Autor: Plínio Marcos
Direção: Plínio Marcos
Data: 1964
A Crônica
Autor: Carlos Alberto Sofredini
Direção: Carlos Alberto Sofredini
Data: 1965
O Cristo Nu
Autor: Carlos Alberto Sofredini
Direção: Carlos Alberto Sofredini
Data: 1965
A Falecida
Autor: Nelson Rodrigues
Direção: Celso Nunes - supervisão A. Filho
Data: 1966
O Balcão
Autor: Jean Genet
Direção: Victor Garcia
Data: 1969
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Hair
Autor: Gerome Ragni Gal MacDermott e J Rado
Direção: Ademar Guerra
Data: 1970
Quanto mais Louco Melhor
Autor: Joe Orton
Direção: Walmor Chagas
Data: 1972
Jesus Cristo Superstar
Autor: Andrew Lloyd Weber e Tim Rice
Direção: Altair Lima
Data: 1972
Jogo do Crime
Autor: Antony Schaffer
Direção: Antunes Filho
Data: 1973
Bodas de Sangue
Autor: Garcia Lorca
Direção: Antunes Filho
Data: 1973
O Que Você Vai Ser Quando Crescer
Autor: Criação Coletiva
Direção: Silnei Siqueira
Data: 1974
Orquestra de Senhoritas
Autor: Jean Louis
Direção: Luiz Sérgio Person
Data: 1974
A Mandrágora
Autor: Maquiavel
Direção: Paulo José
Data: 1975
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Lola Moreno
Autor: Bráulio Pedroso
Direção: Antônio Pedro
Data: 1976
Afinal, uma Mulher de Negócios
Autor: Fassbinder
Direção: Walter Scholiers - Sérgio Brito
Data: 1979
Othello
Autor: Shakespeare
Direção: Coletiva
Data: 1980
O Rei Lear
Autor: Shakespeare
Direção: Celso Nunes
Data: 1983
O Mistério de Irma Vap
Autor: Charles Ludlan
Direção: Marília Pera
Data: 1986/97
O Médico e o Monstro
Autor: George Ostermann
Direção: Marco Nanini
Data: 1994
Don Juan
Autor: Otávio Frias Filho
Direção: Gerald Thomas
Data: 1995
Quartett
Autor: Heiner Müller
Direção: Gerald Thomas
Data: 1996
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O Martelo
Autor: Renato Modeso
Direção: Aderbal Freire Filho
Data: 1999
3 x Teatro
Autor:Tchekov, Pirandello, Cocteau
Direção: Édi Botelho
Data: 2000
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filmes
Audácia - A Fúria dos Desejos
Direção: Carlos Reichembar e A. Lima
Data: 1969
A Noite do Desejo
Direção: Fauzi Mansur
Data: 1973
Sedução
Direção: Fauzi Mansur
Data: 1974
Deixa, Amorzinho... Deixa
Direção: Saul Lachermaster
Data: 1976
Anchieta, José do Brasil
Direção: Paulo César Saraceni
Data: 1976
Uma Estranha História de Amor
Direção: John Doo
Data: 1979
Das Tripas Coração
Direção: Ana Carolina
Data: 1979
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O Beijo no Asfalto
Direção: Bruno Barreto
Data: 1981
O Grande Desbum
Direção: Braz Chediak e Antônio Pedro
Data: 1982
A Mulher do Atirador de Facas
Direção: Nilson Villas-Boas
Data: 1984
Ópera do Malandro
Direção: Rui Guerra e Chico Buarque
Data: 1985
Ele, o Boto
Direção: Walter Lima Júnior
Data: 1986
A Fábula da Bela Palomera
Direção: Rui Guerra
Data: 1987
Dente por Dente
Direção: Alice de Andrade
Data: 1994
Brevíssimas Histórias da Gente de Santos
Direção: André Klotzel
Data: 1995
Carlota Joaquina - Princesa do Brazil
Direção: Carla Camurati
Data: 1995
Festa
Direção: Ugo Giorgetti
Data: 1998
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For All - O Trampolim da Vitória
Direção: Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz
Data: 1998
Minha Vida em Suas Mãos
Direção: José Antônio Garcia
Data: 2001
Viva Sapato!
Direção: Luiz Carlos Lacerda
Data: 2002
O Diabo a Quatro
Direção: Alice de Andrade
Data: 2004
Irma Vap - O Retorno
Direção: Carla Camurati
Data: 2006
Vida Vertiginosa
Direção: Luiz Carlos Lacerda
Data: 2009
Topografia de um Desnudo
Direção: Tereza Aguiar
Data: 2009
O Gerente
Direção: Paulo Cesar Saraceni
Data: 2009
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televisão
TUPI
Alô Doçura - seriado
TV Tupi – 1953
Beto Rockfeller - novela
TV Tupi – 1968
Super Plá - novela
TV Tupi - 1969
Dom Camilo e Seus Cabeludos - série
TV Tupi- 1972
RECORD
O Tempo Não Apaga - novela
TV Record – 1972
Vidas Marcadas - novela
TV Record - 1972
Eu e a Moto - novela
TV Record - 1973
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Venha Ver o Sol na Estrada - novela
TV Record - 1974
SBT
Brasileiros e Brasileiras - novela
TV SBT - 1990
Éramos Seis - novela
TV SBT - 1994
GLOBO
Escalada - novela
TV Globo – 1974
O Grito - novela
TV Globo – 1975
Estúpido Cúpido - novela
TV Globo – 1976
Sem Lenço, Sem Documento - novela
TV Globo - 1977
Saudade Não Tem Idade - musical
TV Globo - 1978
Malu Mulher - série
TV Globo - 1979
Coração Alado - novela
TV Globo – 1976
Vida de Sto Antoninho Rocha Marmo - caso verdade
TV Globo – 1982
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Anarquistas, Graças a Deus - série
TV Globo - 1983
Eu Prometo - novela
TV Globo - 1983
Rabo de Saia - série
TV Globo - 1984
Partido Alto - novela
TV Globo - 1984
Um Sonho a Mais - novela
TV Globo - 1984
Avenida Paulista - série
TV Globo - 1985
Memórias de um Gigolô - série
TV Globo - 1986
Grande Sertão - Veredas - série
TV Globo – 1986
TV Pirata - humorístico
TV Globo- 1987
Vamp - novela
TV Globo - 1991
Casa do Terror - série
TV Globo - 1995
Zazá - novela
TV Globo - 1997
Você Decide - programa interativo
TV Globo - 1999
O Cravo e a Rosa - novela
TV Globo - 2000
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Brava Gente - O Automóvel - série
TV Globo - 2001
O Beijo do Vampiro - novela
TV Globo - 2002
A Casa das Sete Mulheres - minissérie
TV Globo - 2003
Da Cor do Pecado - novela
TV Globo - 2004
Bang Bang - novela
TV Globo - 2005
O Sistema - série
TV Globo - 2007
Faça Sua História - série
TV Globo - 2007
Casos e Acasos - série
TV Globo – 2008
Negócio da China - novela
TV Globo - 2008
S.O.S. Emergência - série
TV Globo - 2010
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prêmios
Prêmio Contigo
Prêmio: Melhor Vilão
Novela: Zazá
Personagem: Silas Vadan
Data: 1997
Associação Paulista de Críticos - APCA
Prêmio: Melhor ator de TV
Série: Rabo de Saia
Personagem: Quequé
Data: 1984
Troféu Imprensa - APC-SP
Prêmio: Melhor Ator de TV
Séries: Rabo de Saia - Anarquistas Graças a
Deus
Personagem: Quequé e Ernesto Gattai
Data: 1984
Festival de Guarujá
Prêmio: Melhor ator em Sedução
Filme: Sedução
Personagem: Tomazino
Data: 1974
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Coruja de Ouro - Prêmio Air France
Prêmio: Melhor Ator
Filme: Sedução
Personagem: Tomazino
Data: 1975
CineCeará - Festival de Cinema em Fortaleza
Prêmio: Melhor Ator
Filme (Curta): Brevíssimas Histórias
dessa Gente de Santos
Direção: André Klotzel
Data: 2000
Curta Santos - Festival de Cinema
Curta-Metragem de Santos / SP
Ator Homenageado
Data: 2003
Paulínia Festival de Cinema
Ator Homenageado
Troféu Menina de Ouro
Data: 2006
13º Brazilien Film Festival of Miami
Ator Homenageado
Troféu Crystal Lens Award
Data: 2007
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CAPA: Como Mederiquis, na novela Estúpido Cupido
Folha de rosto: Como Hamlet, na Escola de Arte Dramática
Página 4: Foto de divulgação - Arquivo Rede Gazeta
Página 6: No filme A Noite do Desejo
Página 8: No filme Anchieta José do Brasil
Página 10: Em foto para divulgação
Página 12: Na novela Estúpido Cupido
Página 14: Na peça Bodas de Sangue, contracenando com Maria Della Costa
Página 16: Em Memórias de um Gigolô
Página 18: Em Saudade Não tem Idade, ao lado de Djenane Machado
Página 20: Como Barbosa, na novela Fogo no Rabo – TV Pirata
Página 22: No filme Anchieta José do Brasil
Página 24: Acervo Ney Latorraca
Página 26: Com o pai e a mãe, na praia, em Santos
Página 28: Em Orquestra de Senhoritas
Página 30: Na novela Estúpido Cupido
Página 32: Em Malu Mulher
Página 34: Na novela Vamp, como o vampiro Vlad
Página 36: Em Quartett, ao lado de Édi Botelho
Página 38: No filme A Bela Palomera
Página 40: Na novela Escalada, na TV Tupi
Página 42: Acervo Ney Latorraca
Página 44: Em Vida Vertiginosa – foto de Alisson Prodlik
Página 46: Na novela O Grito
Página 48: Na novela O Tempo Não Apaga, na TV Record
Página 50: Com Walter Avancini, Sônia Braga e Guta
Página 52: Nos bastidores de O Mistério de Irma Vap, com Nanini e Marília Pera
Página 54: Na novela Sem Lenço Sem Documento
Página 56: Acervo Ney Latorraca
Página 58: Em Coração Alado
Página 60: No filme Sedução, contracenando com Sandra Bréa
Página 62: Em Othelo, ao lado de Juca de Oliveira
Página 64: No filme Das Tripas Coração
Página 66: Em Anarquistas Graças a Deus
Página 68: Na novela Partido Alto
Página 70: Na novela Vamp
Página 72: Acervo Ney Latorraca
Página 74: Com Renata Sorrah em Chega Mais
Página 76: No musical Saudade Não tem Idade
Página 78: No musical Saudade Não tem Idade, ao lado de Djenane Machado
Página 80: Em O Martelo, dirigido por Aderbal Freire Filho
Página 82: Na peça Hair
Página 84: Na peça A Mandrágora
Página 86: Em O Estranho Caso de Mr. Morgan
Página 88: Em Saudade Não tem Idade
Página 90: No filme A Bela Palomera, ao lado de Cláudia Ohana
Página 92: Em Vida Vertiginosa – foto de Alisson Prodlik
Página 94: Com Bruna Lombardi em Memórias de um Gigolô
Página 96: Em Estúpido Cupido
Página 98: Em Anarquistas Graças a Deus
Página 100: Em Capitanias Hereditárias
Página 102: Acervo Ney Latorraca
Página 104: Foto de divulgação – Arquivo Rede Gazeta
Contra-capa: Em Vida Vertiginosa – foto de Alisson Prodlik
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Todas as fotos que não possuem crédito fazem parte do acervo de Ney Latorraca.
FOTOS DO CADERNO
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CADERNOS DO FESTIVAL
Uma publicação do Vitória Cine-Vídeo
Criação e Edição
Sandra Medeiros
Design e Edição Gráfica
Shan / Studio S
Revisão
Stephania Vieira - Caio Martins
Impressão
Gráfica Jep
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