Indicadores de qualidade e o processo decisório nos
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Indicadores de qualidade e o processo decisório nos
artigo original Indicadores de qualidade e o processo decisório nos hospitais universitários do Rio de Janeiro Indicators of quality and the decision-making process in university hospitals of Rio de Janeiro Diego de Faria Magalhães Torres1, Ms. Hermes Cupolillo Simões2 RESUMO A utilização de indicadores da qualidade, como ferramentas de informação integrantes no processo de tomada de decisão em instituições hospitalares públicas de ensino, deve ser rotineira. As diversas e inúmeras informações que transitam por este imenso ambiente organizacional necessitam ser selecionadas e analisadas adequadamente, sendo suas interpretações fatores fundamentais no processo decisório. Questionamentos sobre a capacitação dos gestores são frequentes, assim como críticas referentes à falta de recursos e financiamentos para a prestação devida dos serviços públicos de saúde e educação. Este trabalho apresenta um panorama geral das principais informações utilizadas, como elas são organizadas e divulgadas, além de identificar e discutir prováveis oportunidades de melhoria em seus processos; e analisa a utilização de indicadores da qualidade em três instituições hospitalares universitárias públicas no município do Rio de Janeiro, através de entrevistas com os gestores representantes da alta direção. Torna-se evidente a necessidade de mudança coletiva dos órgãos financiadores, passando pelos gestores, funcionários e usuários, de forma que a busca pela qualidade na prestação de serviços resulte em excelência. ABSTRACT Indicators of quality as integral tools of information in decision-making in public hospitals of education should be used routinely. The number and range of information that passes through this immense organizational environment need to be selected and analyzed properly, and their interpretations are key factors in the decision-making process. Claims on the training of managers are frequent, as well as criticism for lack of resources and funding for the provision of adequate public health services and education. This study presents an overview of key information used, how they are organized and disclosed and identify and discuss possible opportunities for improvement in their processes, and examines the use of indicators of quality at three public university hospitals in Rio de Janeiro through interviews with managers of high representatives direction. It is a clear need for collective change, donors of organs through managers, employees and users, so that the quest for quality in service delivery results in excellence. Palavras-chave Indicadores de qualidade. Tomada de decisões. Informação. Hospitais universitários. Keywords Indicators hospital. Decision-making. Information. Teaching hospitals. Conflito de interesse: nenhum declarado. Financiador ou fontes de fomento: nenhum declarado. Data de recebimento do artigo: 29/12/2008. Data da aprovação: 16/2/2009. 1. Fisioterapeuta. Chefe do Serviço de Fisioterapia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ. Especialista em Gestão pela Qualidade Total – UFF. 2. Engenheiro. Mestre em Sistemas de Gestão. Especialista em Gestão de Projetos. Professor do Curso de MBA em Gestão pela Qualidade Total – Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense, RJ. Endereço para correspondência: Diego de Faria Magalhães Torres, Rua Professor Rodolpho Paulo Rocco, 225, Campus do Fundão – 21941-913 – Rio de Janeiro, RJ. Endereço eletrônico: [email protected] / [email protected] 16 indicadores de.pmd RAS _ Vol. 11, No 42 – Jan-Mar, 2009 16 16/06/09, 14:45 INTRODUÇÃO O cenário da saúde pública no Brasil, em especial no município do Rio de Janeiro, está centrado em questões polêmicas, principalmente quando se refere a gestão inteligente dos recursos disponíveis(1). Desta forma, a habilidade e capacidade dos gestores responsáveis por estas unidades é por vezes colocada à prova, numa justificativa política de que os recursos existem, mas são inadequadamente aplicados. Dentre estas instituições, os hospitais universitários têm por missão promover a conexão permanente entre a pesquisa científica, o avanço tecnológico e a prestação de serviços à população, concentrando todos os elementos essenciais à promoção e ao desenvolvimento da saúde pública. Gerenciadores não só dos processos de assistência à saúde, assim como das atividades educativas desenvolvidas em seu ambiente, os hospitais de ensino tornam-se centros ainda mais complexos, necessitando exercer rotineiramente práticas de gestão eficientes numa constante busca pela excelência(2). O gestor e a equipe administrativa, responsáveis pela liderança dessas unidades acadêmicas e assistenciais, devem possuir um arsenal de informações, apresentadas como indicadores devidamente selecionados, que forneçam nos momentos oportunos subsídios para guiar o adequado processo de tomada de decisão(3-4). Este trabalho analisa a utilização de indicadores da qualidade como informação para a tomada de decisão em instituições hospitalares universitárias públicas no município do Rio de Janeiro, centrado na hipótese sobre a qual, indisponibilidade, desconhecimento e/ ou despreparo dos gestores em utilizar esses indicadores possam dificultar a gestão nas instituições em questão. MÉTODOS Considerando o objeto de estudo, os objetivos e as questões norteadoras, a pesquisa descritiva com abordagem qualitativa é a mais adequada para alcançar as dimensões do estudo. O cenário escolhido para o desenvolvimento dessa pesquisa compreende as seguintes instituições classificadas como hospitais universitários públicos do município do Rio de Janeiro, sendo aqui representados pelos seus respectivos diretores ou gestores da alta administração: a) Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, b) Hospital Universitário Gaffreé e Guinle, e c) Hospital Universitário Pedro Ernesto. O universo desta pesquisa compreenderá instituições hospitalares públicas selecionadas por critério regional e comparativo com a similaridade das atividades institucionais. Buscando a discussão acerca das experiências dos atuais responsáveis por estas instituições, foram entrecruzadas as informações obtidas nas entrevistas realizadas. Será utilizado como instrumento para coleta de dados entrevista semiestruturada composta por doze perguntas norteadoras descritas no quadro 1. Triviños(5) define este instrumento como aquele que, embora se utilize um roteiro básico de questões, abre aos informantes a possibilidade de, seguindo sua linha de pensamento e experiências, contribuir com novas visões/ questionamentos, podendo, inclusive, vir a provocar a reformulação do problema da pesquisa. É uma combinação de perguntas fechadas e abertas, em que o sujeito da pesquisa terá total liberdade de falar sobre o tema, também podendo ser captados os gestos, as relações e a fala informal sobre o cotidiano. No processo de interação com o sujeito não existem normas específicas a serem seguidas. Porém, algumas questões específicas serão abordadas em todas as entrevistas; são elas: apresentação do pesquisador, interesse da pesquisa, explicação dos motivos da pesquisa, justificativa de escolha do entrevistado, garantia de anonimato e conversa inicial(6). A coleta de dados foi realizada através de entrevistas com os gestores responsáveis pelas instituições em questão, no período de agosto a setembro de 2008. O material coletado através das entrevistas foi submetido à técnica da análise de conteúdo categorial, conforme os pressupostos de Laurence Bardin. Seguindo esse pensamento, Bardin(7) afirma que “a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Os itens selecionados para o estudo serão aqueles que aparecerem com maior frequência e/ou forem considerados de grande relevância para o estudo. Os sujeitos terão sua privacidade e imagem protegidas através do anonimato em divulgações do projeto de pesquisa. Será mantida a confidencialidade das declarações coletadas durante as entrevistas. Em qualquer fase do estudo haverá a possibilidade de recusa de participação ou retirada de consentimento, sem qualquer prejuízo para o sujeito. As entrevistas, realizadas com auxilio de gravador, foram transcritas na 17 RAS _ Vol. 11, No 42 – Jan-Mar, 2009 indicadores de.pmd 17 16/06/09, 14:45 íntegra para análise e seus principais aspectos estão contidos nos resultados do trabalho. DISCUSSÃO Qualidade na gestão pública em saúde Nos últimos anos, políticas de capacitação de gestores foram desenvolvidas como iniciativa do governo federal, no sentido de minimizar as perdas e desperdícios advindos desta inadequada administração percebida e por vezes constatada até então. Basicamente, os problemas da gestão da saúde referem-se a insuficiência de pessoal, de recursos econômicos e materiais, administração antiquada, locais e equipamentos inadequados. A origem dessa situação é a escassez de recursos financeiros, gerando falhas no atendimento à saúde, principalmente para a população menos favorecida(3,8). A população, em geral, em consequência das novas tecnologias de informação e dos elevados padrões de vida impostos pelos valores dominantes, tornou-se também mais exigente quanto ao acesso e melhor informada quanto aos serviços que lhe são prestados. Por outro lado, há um descompasso por parecer ainda não existir nas grandes empresas de saúde preocupação com a competitividade e a ocupação de novos mercados, pois sobram clientes, principalmente quando se trata dos economicamente menos favorecidos(9). Gerir bem com base nos princípios da qualidade, criar condições para ter bons e qualificados profissionais, avaliar e corrigir os desvios, orientar as suas ações para os cidadãos e gerir por processos que eliminem gastos desnecessários, são os grandes desafios que se colocam à gestão pública na atual conjuntura nacional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica como componentes dos cuidados de saúde de qualidade: elevado grau de excelência profissional, eficiência na utilização dos recursos, riscos mínimos para os doentes, satisfação para os utilizadores e obtenção de resultados de saúde(2). Indicadores da qualidade como informação Os diversos mecanismos atuais, que tornam o mundo globalizado, giram em torno da informação. Esta é tão importante em certos casos, quanto desnecessária ou inadequada em outros. Processo de filtragem, adequação, verificação e análise dessas informações se tornam cada vez mais necessários. As críticas e considerações por múltiplos pontos de vista, por profissionais experientes, são fundamentais e guiam as decisões vitais em benefício da gestão(10-11). A gestão moderna exige que a tomada de decisão seja feita com o máximo de informação. Se em ambientes mais estáveis a informação assumia um papel de redutora de incerteza, cada vez mais a atualização se apresenta como um fator crítico de sucesso(11). Pesquisadores e profissionais que atuam na área de Administração em Saúde têm sido unânimes em relatar tanto a complexidade envolvida na tarefa de eleger os sistemas de avaliação e os indicadores de desempenho institucional mais adequados para apoiar a gestão dos hospitais, como a necessidade de serem estudadas as características e os fatores determinantes do uso destes instrumentos pelos administradores(4). Para avaliar ciência e tecnologia existe um único método viável: men- suração por indicadores. Desta forma, múltiplos indicadores são necessários para proporcionar uma adequada cobertura de dimensões e aspectos de processos complexos, atividades e resultados. Um indicador é uma medida para a descrição ou representação de um dado evento ou fenômeno, ou seja, é uma ferramenta de mensuração utilizada para levantar aspectos quantitativos e/ ou qualitativos, facilitando a avaliação e auxiliando a tomada de decisão(12). Nesse contexto, os indicadores de qualidade são descritos como: “[...] é o termômetro que permite a alta administração e aos acionistas auscultar o diálogo ambiente externo / empresa, particularmente aquele exercido entre as linhas de negócios e seus clientes/ consumidores.” (Gil, 1992 apud Robles Junior(12)). Muito utilizados na área hospitalar são os indicadores da qualidade relacionados à satisfação do cliente, obtidos através de pesquisas de satisfação. Por avaliar dados subjetivos, os indicadores são obtidos a partir de questionários ou entrevistas constituídos por quesitos básicos que possibilitem a análise dos eventuais problemas apontados e a adoção de medidas que os solucionem, eliminando os motivos de insatisfação dos clientes(14). Dentre outros exemplos de indicadores da qualidade estão os seguintes: índice de satisfação do cidadão/ usuário; percentual de usuários satisfeitos em relação ao total de usuários da organização; percentual da organização com aferição contínua da satisfação de seus usuários(8). Informação e o processo decisório Segundo Chiavegatto (15), um dos problemas críticos de hoje é a falta de informações apropriadas ao processo 18 indicadores de.pmd RAS _ Vol. 11, No 42 – Jan-Mar, 2009 18 16/06/09, 14:45 decisório. A forma de se pensar o problema do gerenciamento da informação passa a ser uma questão fundamental na definição de uma estratégia dinâmica de informação. Uma das características da informação consiste na dificuldade de sua transferência com absoluta fidelidade e, sendo o conhecimento a informação dotada de valor, consequentemente, a transmissão é ainda mais difícil. É árduo o trabalho em avaliar que informação é necessária ao decisor, bem como atribuir o seu valor em termos de contribuição para decisões acertadas. A maneira como a informação é disponibilizada ao decisor pode indicar o que é útil ou não. Muitas informações terão conteúdo trivial, não sendo realmente relevantes às decisões que devem ser tomadas; desta forma, para ser útil, a informação deve ser compreendida e absorvida pelo decisor(1617). A utilização e o impacto das evidências na tomada de decisão dependerão de como elas são selecionadas, interpretadas e valorizadas pelas diversas partes envolvidas, refletindo valores pessoais e interesses dos tomadores de decisão, bem como seus juízos sobre a qualidade das fontes utilizadas(4). Segundo McGee e Prusak (1994), a informação não se limita a coleta de dados; sendo na verdade os dados coletados, organizados e ordenados aos quais são atribuídos significado e contexto. Para que os dados se tornem úteis, ou seja, virem informação, é preciso limitá-los e interpretálos, de forma a participar em processos decisórios. No processo de tomada de decisão, é importante ter disponíveis dados, informações e conhecimento, mas esses normalmente estão dispersos, fragmentados e armazenados na cabeça dos indivíduos e sofrem interferência de seus modelos mentais. O requisito para que os indicadores sejam úteis à gestão implica, necessariamente, que estejam normalizados e que sua produção histórica (temporalidade) se atenha sempre à mesma norma ou forma de medida, a fim de permitir a comparabilidade(18-19). As palavras de Cohen(20) são esclarecedoras: “Uma decisão nunca é apenas uma decisão. Mais que isso, qualquer processo de decisão carrega em si uma contradição: para tomar boas decisões, é preciso ter mais conhecimento”. Neste contexto, identifica-se um entrave, pois o conhecimento está estabelecido como um processo que costuma gerar dúvidas a um ritmo mais rápido do que fornece respostas. Tomar decisões requer clareza, foco e confiança, e localizar o ponto ideal entre o conhecimento e a ação se torna uma gestão do próprio processo de decisão. nas instituições pesquisadas é fundamental. Uma ferramenta adequada deve ser considerada para este fim, por exemplo, um “painel de controle”, onde os gestores terão disponíveis de forma imediata e atualizada as principais e mais importantes informações, que guiarão o processo decisório. Apenas uma das instituições estudadas afirma possuir tal ferramenta, alimentada por software institucional em rede. Nas demais, os mecanismos de controle são feitos setorialmente, por planilhas comuns, mas estão disponíveis e acessíveis quando necessário. A informação disponibilizada poderá ser atualizada diariamente, mensalmente, ou até a cada dois meses, variando de acordo com a necessidade institucional, que julga qualitativamente os dados obtidos. Porém, apesar da frequência de coleta das informações seguirem uma rotina, nem sempre estão acompanhadas de análises e verificações imediatas. RESULTADO De acordo com a metodologia empregada, cria-se a oportunidade de realizar algumas perguntas abrangendo o tema em questão, possibilitando, desta forma, ampliar a discussão através de adequada análise comparativa entre as diferentes respostas obtidas nas três instituições estudadas. A seguir descrevem-se subtítulos contendo trechos pontuais das entrevistas, entrecruzando as informações de maneira a explorar, da melhor forma possível, os questionamentos desenvolvidos para atender aos objetivos do estudo. Controle dos indicadores A necessidade em possuir de forma sistemática o controle de indicadores Seleção e utilização dos indicadores A adequada e criteriosa seleção dos indicadores deve ser estabelecida de forma estratégica, atendendo à demanda de cada instituição, favorecendo objetivamente a sua utilização na tomada de decisões. Todos os sujeitos da pesquisa concordam ao denominar a necessidade institucional como requisito básico para seleção e utilização dos indicadores. Ponderam as preocupações atuais das organizações como critério-chave, além de obrigatoriamente atenderem necessidades outras de apresentação de algumas informações na forma de indicadores, como mecanismos de controle externo vinculados a contratos de gestão, como, por exemplo: no- 19 RAS _ Vol. 11, No 42 – Jan-Mar, 2009 indicadores de.pmd 19 16/06/09, 14:45 tificação de doenças compulsórias, tempo de internação e percentual de ocupação em função da capacidade instalada, etc. O indicador mais utilizado é a taxa de ocupação, preocupação primária dos hospitais estudados. Os gestores citam ainda como informações fundamentais o controle de outros indicadores, como: taxa de utilização do centro cirúrgico, índice de cirurgias suspensas, tempo de permanência internado, número de óbitos, número de atendimentos emergenciais, consultas de primeira vez, reconsultas por paciente, taxa de infecção por unidade, número de procedimentos de investigação diagnóstica. São prioritariamente utilizados e selecionados de forma coletiva, como indicadores da qualidade, a taxa de infecção hospitalar e a taxa de mortalidade institucional. Adicionam-se ainda a esta classificação, de forma restrita entre os hospitais, outros indicadores, como: tempo de permanência, número de queixas à ouvidoria e a satisfação dos usuários (obtidos por questionário). Cita-se também isoladamente, a necessidade da análise de indicadores financeiros envolvidos como critérios de qualidade na gestão, subutilizados pelas organizações. Análise e tomada de decisão baseada nos indicadores Há plena concordância, entre as instituições pesquisadas, que a consulta aos indicadores deve guiar a tomada de decisões. Entretanto, relatam em consonância grandes dificuldades na execução das decisões, justificando a falta de recursos humanos, materiais e de infraestrutura, tanto quanto as divergências presentes nas relações hierárquicas de subordinação estabelecidas nestas instituições em atividades acadêmico-assistenciais, e no acúmulo de situações de difícil resolução, ocupando tempo precioso que poderia ser dedicado ao planejamento de estratégias de gestão. A análise das informações é feita imediatamente pela equipe gerencial do setor de origem, e dependendo do resultado ou interesse institucional poderá ser submetida à apreciação da alta direção para as providências adequadas. Esta análise, através da adequada divulgação e tratamento da informação, deve ser realizada por múltiplos pontos de vista, estando os indicadores disponíveis para os gerentes intermediários e departamentos específicos, considerados essenciais na avaliação da informação e no planejamento de ações futuras. Sugere-se, durante a análise, a comparação dos indicadores não somente no ambiente interno da instituição. A avaliação de sazonalidade e constância são importantes, mas devem-se considerar comparações com outras instituições de características semelhantes. Estas comparações pode ser feitas utilizando a aproximação entre os gestores, por reuniões, simpósios ou conferências, ou consulta à literatura atual e clássica que trata do assunto analisado. A adequada análise e tratamento da informação é vital para que o processo decisório seja devidamente conduzido. As informações devem ser criteriosamente analisadas, filtradas e lapidadas, pois interferem diretamente na decisão final. Divulgação das informações Em se tratando da divulgação dos indicadores, resultados ou informações das empresas, nota-se que alguns gestores não divulgam ao corpo profissional e ratificam que não há institucio- nalmente a cultura da divulgação e nem a devida valorização da informação. Salienta-se também que, quando as informações estão disponíveis, os profissionais envolvidos a subutilizam e não estão capacidados ou dedicados a lidar com o que é fornecido. As formas de divulgação das informações nas instituições ou delas para âmbitos externos se dá comumente através de documentos, denominados ofícios, memorandos, comunicados internos, entre outros. Não é prática comum que todas as informações estejam disponíveis por veículos de ampla divulgação, como jornais, revistas ou boletins, sendo considerado por todas organizações os mecanismos existentes deficientes ou subutilizados. Contudo, todas as instituições declaram ser fundamental o acesso amplo às informações das empresas e reafirmam esta necessidade para o adequado envolvimento do corpo profissional e controle básico no processo de gestão. O quadro 1 resume os resultados apresentados acima, baseado nas questões levantadas na coleta de dados: O entrecruzamento dos dados obtidos das instituições pesquisadas permite analisar de forma crítica o adequado uso dos indicadores da qualidade como norteadores da tomada de decisão. As informações existem nos ambientes estudados, não necessariamente de forma padronizada e bem definida (apenas uma instituição possui um painel de controle estabelecido), mas circulam de formas distintas. Por vezes, são categorizadas como indicadores e realmente não há dúvida, pelos relatos acima, de sua importância e utilidade nos processos decisórios, mesmo quando as decisões não se desdobram de maneira ideal. 20 indicadores de.pmd RAS _ Vol. 11, No 42 – Jan-Mar, 2009 20 16/06/09, 14:45 QUADRO 1 Comparativo da gestão da informação na Saúde Pública Perguntas Resumo das Respostas por Instituição HU A HU B HU C Possui disponível um painel de controle com indicadores? Sim Não Não Com qual frequência as informações são atualizadas? Diária Diária e/ ou mensal Mensal e bimestral Qual o processo de seleção para os indicadores hoje utilizados? Atender aos contratos Necessidades da instituição Necessidades da instituição Quais os indicadores mais utilizados? a) % colonização e infecção, no de consultas/ paciente, b) no de procedimentos de investigação diagnóstica, c) tempo para marcação de procedimentos de investigação diagnóstica. a) % ocupação hospitalar, b) % uso do centro cirúrgico c) % cirurgias suspensas. a) no de internações, b) tempo de permanência, c) óbitos maternos e gerais, d) no total de atendimentos emergência. Quais dos indicadores utilizados são considerados indicadores de qualidades? Infecção hospitalar e mortalidade institucional Infecção hospitalar e mortalidade institucional Tempo de permanência e custo A consulta aos indicadores guia a tomada de decisão? Sim, na maioria das vezes Sim, mas não da forma ideal Não guia as decisões estratégicas São feitas comparações com indicadores de outras instituições? Esporadicamente Sim Não Quem analisa as informações? Setores específicos e gerentes intermediários Depende da informação Depende da informação Todos os dados são divulgados na empresa? Não Não Não Qual a forma de divulgação? On line e por ofício Ofício Ofício e reuniões Considera importante que todos tenham acesso às informações? Sim Sim Sim Considera deficiente o sistema de informação utilizado? Sim, por subutilização Sim, arcaico Sim, totalmente Poucas são as formas e disposições de divulgação, ou o interesse dos profissionais em refletir sobre as informações disponíveis, o que deixa a margem das interpretações individuais e sem embasamento do corpo social de cada instituição, questionamentos sobre as assertivas ou equívocos nas decisões tomadas rotineiramente pelos gestores responsáveis pelo processo. CONCLUSÃO Torna-se evidente que alguns gestores não desenvolveram, de forma adequada, ferramentas que podem ajudar a aglutinar as informações perti- 21 RAS _ Vol. 11, No 42 – Jan-Mar, 2009 indicadores de.pmd 21 16/06/09, 14:45 nentes para um processo decisório ideal. Várias são as causas percebidas: falta de recursos gerais, falta de planejamento estratégico, falta de capacitação e valorização das atividades. Usar indicadores específicos, como os de qualidade, pode ser o primeiro passo para conhecer melhor a instituição, suas características gerais e as necessidades dos usuários. Para isso, planejamento, organização, coordenação e empenho são fundamentais, assim como a reciclagem frequente das informações adquiridas. Contudo, deve-se atentar a missão, que se transforma em responsabilidade de cada instituição pesquisada neste trabalho. Prestam-se serviços à sociedade, e esta não os obtêm de forma gratuita. Impostos são cobrados, mas e a qualidade do serviço? Há cobrança ou controle da sociedade? Os funcionários são capacitados e estão atentos à isso? Apesar dos serviços serem públicos, não são gratuitos, e o compromisso com a qualidade em busca da excelência deve ser constante. Esse assunto não se esgota no trabalho presente. Recomenda-se, certa- mente, novas pesquisas abordando esta temática, considerando sua importância e relevância para a sociedade, aprofundando as questões apontadas, visto que são fundamentais no engajamento do raciocínio científico procurado, adequando e propondo soluções exequíveis. REFERÊNCIAS 1. MEC – Ministério da Educação. O Acompanhamento das IFES e HU’s: relatório de atividades 2006. Disponível em: www.portalmec.gov.br/sesu. Acessado em: 30 de junho de 2008. 2. Ayala Calvo JC, Grupo FEDRA. Aplicabilidade dos sistemas de qualidade na gestão hospitalar. Conocimiento, innovación y empreendedores: camino al futuro, 2000. 3. Seixas MAS, Melo HT. Desafios do administrador hospitalar. 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